RESENHA CRÍTICA
Maria da Conceição Lima Santos
ADE Psicologia. Pesquisas desvendam os mecanismos do prazer e da
felicidade. Como esse novo conhecimento pode melhorar sua vida?:Revista Viver,
Mente e Cérebro. Ed abril 2005. 45/52 p.
A ADE Psicologia é um consultório de psicologia, composto por profissionais da
área que buscam uma renovação das vias de trabalho da Psicologia, fortalecendo os
alicerces da criação e transformando as visões desgastadas dessa ciência.
A Revista Viver Mente & Cérebro é uma publicação mensal que apresenta as mais
recentes descobertas de pesquisas de ponta nos diversos ramos das neurociências, da
psicologia, da psicanálise e da psiquiatria. Suas reportagens e artigos são assinados por
cientistas, escritores e jornalistas de vários países e abordam em profundidade temas
como inteligência, consciência, emoções, motivação, cognição, percepção, personalidade
e criatividade.
O artigo é constituído de duas partes, sendo uma o texto propriamente dito e a
outra de dicas e curiosidades sobre felicidade.
Na primeira parte, o periódico discute, em seis capítulos, conceitos básicos com
fundamentação científica em abordagens que se complementam.
No capítulo inicial há uma visão geral sobre a busca incessante da felicidade onde
esta é definida como um truque da natureza com a finalidade de nos enganar e que, em
decorrência disto vem a ilusão. É comparada a uma cenoura pendurada em uma vara de
pescar amarrada ao nosso corpo, que vez por outra conseguimos mordiscar. Dentro
dessa visão, a busca pela felicidade nos é imposta como um peso, uma fonte de
ansiedade e, consequentemente, de depressão, surgindo assim, a necessidade de teorias
e métodos científicos que nos levem a entender o que nos torna mais ou menos felizes e
qual a forma ideal para lidar com a ansiedade que essa busca causa.
O segundo capítulo trata das pesquisas científicas do psicólogo americano Martin
Seligman, segundo o qual a felicidade é na verdade a soma de três coisas diferentes:
prazer, engajamento e significado. Seligman alerta sobre a tendência de que haja
concentração de esforços em apenas um dos três pilares, normalmente o do prazer,
esquecendo-se de que “Engajamento e significado são muito mais importantes”.
Seguindo essa linha de raciocínio Mihaly Csikszentmihalyi, pesquisador da
Universidade de Chicago desenvolve estudos sobre um fenômeno cerebral chamado
“fluxo” e Richard Davidson da Universidade de Wisconsin desenvolve pesquisas de
laboratório no sentido de provar que o estado de fluxo ativa uma série de efeitos no
organismo. O estudioso da religião Michael McCullough, da Universidade de Miami
desenvolve pesquisas sobre o terceiro pilar da felicidade, o significado, que é via religião.
É o conforto, uma garantia de que no final Deus corrigirá as injustiças e nossos esforços
serão reconhecidos.
O terceiro capítulo busca estimular uma reflexão sobre a natureza dos
procedimentos utilizados na pesquisa cientifica. Destaca que a felicidade é breve, é um
estado onde não sentimos vontade de mudar nada, enquanto que a busca pela felicidade
é o que nos empurra para frente e que um pouco de ansiedade e insatisfação são
sentimentos saudáveis, deflagram o raciocínio, levando-nos a procura de algo, entretanto,
isto não basta: Robert Wright e Dalai-lama definem que “felicidade é projetada para
evaporar” e que quando as coisas estiverem mal você respire fundo e tente descobrir o
porquê da situação em vez de entregar-se a tristeza. Ser infeliz é preciso e Seligman
defende o autoconhecimento como peça fundamental para a própria realização e
conhecimento de quais são nossos objetivos.
O quarto capítulo aborda a individualidade, não existindo assim uma fórmula da
felicidade. Cada um reage de modo diferente ante determinados fatos. A ciência e outras
formas de conhecimento mostram que nem mesmo grandes acontecimentos parecem
afetar o nível de felicidade que tendemos manter ao longo de nossas vidas.
O quinto capítulo trata da questão do desejo, na maioria das vezes, o senso
comum, formado pelo conjunto de crenças e opiniões, limita-se a tentar resolver os
problemas satisfazendo as necessidades materiais e o consumismo, entretanto deve-se
entender que precisamos das coisas a partir do momento em que elas estão disponíveis
tanto no âmbito material quanto para as ideias. Quanto maior a oferta maior a dificuldade
de escolha e a insegurança em relação a melhor escolha. Tudo depende e tem a ver com
nossa capacidade de adaptação a novos fatos, de nos acostumarmos com quase tudo o
que acontece. Assim, ser feliz é simples: basta colocar limites nos nossos desejos.
No sexto capítulo o periódico chama a atenção para o fato de que existe a
diferença entre “ser feliz” e “estar feliz”. Não há aborrecimento que dure a vida inteira nem
felicidade que não se acabe, tudo é uma questão de equilíbrio. A felicidade é
consequência da maneira de se encarar a vida: descomplicando, simplificando, agindo
com sabedoria e se preocupando menos em ser feliz.
Na segunda parte do artigo a revista aborda dicas e curiosidades sobre a tão
almejada felicidade. Coloca que não há um modelo único para se construir a felicidade, e
sim modelos adequados ou inadequados de receitas de felicidade e infelicidade através
de métodos testados em laboratórios e que funcionam.
De um modo geral, o artigo apoia-se em diversos estudiosos para emitir suas
conclusões. Alerta-nos que determinadas escolhas geram consequências que poderão
ser consideradas indesejáveis pelo sujeito ou pela comunidade. Usa de argumentos e
possibilidades de corrigirem-se os próprios erros com a experiência.
Com esse discurso, mostra a nossa responsabilidade em tudo que fazemos e
criamos, pois daí depende a nossa felicidade. A decisão final será sempre um ato de
valor.
Destaca que na busca da felicidade não há mudanças radicais, ou seja, tanto o
ganhador da loteria quanto a vítima de um acidente que ficou paraplégica passam por um
período de felicidade ou infelicidade, mas dois meses depois recuperam o estado anterior.
Tais dados levaram alguns especialistas a afirmarem que felicidade é algo imutável.
O mesmo ocorre no caso dos países ricos, segundo o filósofo Eduardo Giannetti,
“há uma sensação de desapontamento, pois se percebe que há um limite para a
satisfação que a sociedade e os bens materiais trazem”, após a Segunda Guerra Mundial,
nos Estados Unidos, os indicadores econômicos e sociais melhoraram, o poder aquisitivo
aumentou, a renda triplicou e, no entanto o índice nacional de felicidade não cresceu. O
estudioso também chama a atenção para a diferença entre ‘ser feliz’ e ‘estar feliz’.
Assim, os estudos concluem que ser feliz é muito mais simples do que se pensa,
talvez o melhor caminho seja o equilíbrio entre ‘ser feliz’ e ‘estar feliz’. Felicidade não é
um fim e sim a consequência da maneira como se leva a vida, ainda segundo Giannetti,
“Existem pessoas que levam uma vida cheia de momentos de prazer, mas que não têm
um caminho ou um significado. No extremo contrário estão aqueles que abrem mão do
estar feliz por só pensar no futuro e viver com prudência demais”.
Finalmente fica claro que felicidade é essencialmente preocupar-se menos em ser
feliz.
Os autores empenham-se em apresentar clara e detalhadamente as
circunstâncias e características da pesquisa cientifica, levando-nos a compreender as
ideias
básicas
das
várias
linhas
filosóficas
contemporâneas.
A leitura não exige conhecimentos prévios para ser entendida, uma vez que as
conclusões emergem a partir de esclarecimentos e posições de diversos estudiosos da
filosofia e psicologia humana.
Com estilo claro e objetivo, os estudiosos dão esclarecimentos sobre a
metodologia utilizada, exemplificando, impulsionando à reflexão crítica e discussão teórica
sobre fundamentos filosóficos. Os exemplos citados amplamente nos auxiliam na
compreensão da atividade e nos possibilitam analisar e confrontar várias posições, a fim
de chegarmos à nossa própria fundamentação. Mostram-nos a imensa possibilidade de
trabalhos que existe no campo da ciência, além de nos encaminhar para exposições mais
detalhadas a respeito de determinados tópicos abordados, relacionando autores e
bibliografia específica.
Finalmente, com o estudo dessa obra, podemos amadurecer mais, inclusive para
aceitar e até solicitar crítica rigorosa, que em muito pode enriquecer nosso trabalho.
O artigo tem por objetivo discutir alternativas e oferecer sugestões para que se
consiga chegar a um limiar próximo do que chamamos felicidade.
Não se trata de um simples manual, com passos a serem seguidos, mas um texto
que apresenta os fundamentos necessários à compreensão da essência da felicidade que
contribui para o desenvolvimento e progresso do indivíduo.
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