JUSTIÇA APAZIGUA TIRO PARA O PAN 13 de junho de 2007 Folha de São Paulo Decisão depõe Durval Guimarães da presidência e coloca Frederico Costa como interino da CBTE Cartola reassume com apoio de federações e de atiradores que irão aos Jogos e ficará até agosto, quando ocorrerá eleição para a confederação MARIANA BASTOS DA REPORTAGEM LOCAL A CBTE (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo) sofreu pela terceira vez em dois anos uma intervenção judicial. Desta vez, o presidente interino Durval Guimarães foi deposto. Para seu lugar, foi indicado Frederico Costa, apoiado pelos atiradores de elite que representarão o país no Pan. O desembargador Jorge Luiz Habib determinou em 29 de maio que Costa assuma interinamente e se mantenha no cargo até 15 dias após o encerramento do evento no Rio, quando nova eleição será marcada. A decisão judicial levou em consideração uma carta de apoio a Costa assinada por 17 federações filiadas à CBTE. O novo interino, entretanto, só começou a exercer o cargo na terça da semana passada. "Só queria entrar na confederação acompanhado do oficial de Justiça, para não ter problemas", disse o dirigente, dando o tom da disputa pela cadeira. Na última quarta, quando foram informados da substituição no comando, alguns dos principais atiradores do país, que estão na Itália participando da Copa do Mundo de Tiro, mostraram-se satisfeitos. A Folha teve acesso a uma fotografia em que os atletas parabenizam Costa segurando um cartaz no qual está escrito: "Valeu, Fredão. CBTE é nossa. Agora vamos". Aparecem na foto os classificados para o Pan Daniela Carraro, Wilson Zocolotte e Renato Portela (skeet), Roberto Schmits e Janice Teixeira (fossa olímpica) e o técnico italiano Carlos Danna. O revezamento entre Costa e Guimarães no comando da entidade é antigo. A disputa se estende desde março de 2005, quando foi realizada a última disputa eleitoral. Na ocasião, Costa venceu o pleito, superando Guimarães, que era o então presidente e se perpetuava no comando havia 12 anos. Inconformado, Guimarães entrou com uma ação para anular a assembléia, justificando que duas federações que não estavam em conformidade com o estatuto tinham votado. Decretou-se, então, que o recém-eleito presidente assumiria o cargo interinamente até convocação de novo pleito. Um ano depois, nova manobra judicial pôs Guimarães de novo no comando. Ele acusou Costa de fazer uso indevido do dinheiro da CBTE. Segundo ele, o rival, por ser interino, não poderia usar verba da entidade para custear passagens, alimentação e hospedagem em eventos. Costa entrou com novo recurso, que lhe garantiu o recente retorno à presidência. A reportagem tentou entrar em contato com Guimarães. Carlos Occhipint, seu braço direito na confederação durante os seus 12 anos de gestão, foi indicado para falar em seu lugar. "Ele foi pego de surpresa. Provavelmente, entrará com recurso. Mas essa mudança na direção é ruim principalmente para os atletas do Pan." Costa rebateu, prometendo não modificar a comissão técnica do Pan. Manterá inclusive Marcos Olsen, treinador de Rodrigo Bastos, que havia sido contratado pelo ex-gestor. "Não muda nada no Pan. Vamos manter tanto o [técnico Carlos] Danna quanto o Olsen. Estamos tentando, inclusive, trazer novamente o ucraniano Anatolii Piddubnyi, que foi demitido pelo Durval." CARTOLA DEPOSTO TEM RECORDE DE PARTICIPAÇÕES DA REPORTAGEM LOCAL Se, no comando da CBTE, Durval Guimarães apresenta uma trajetória conturbada, o expresidente tem um currículo invejável como atleta, especialmente em Pans. Guimarães detém um recorde quase insuperável: o maior número de participações nos Jogos. De São Paulo-1963 a Mar Del Plata-1995, ele competiu em nove Pans e obteve nove pódios. Aos 28 anos, fez sua estréia em Pans e conquistou um bronze por equipes na pistola livre. Após longo jejum, obteve outro bronze em Cali-71. Voltou ao pódio na Cidade do México, em 1975, com uma prata e um bronze. Depois, ampliou a coleção com três bronzes: um em San Juan-79, outro em Caracas-83 e mais um em Indianápolis-87. De Havana-91, trouxe uma prata e um bronze. Aos 60 anos, encerrou sua participação em Mar Del Plata-95, sem medalha. Guimarães competiu também em cinco Olimpíadas -uma a menos do que o recordista Torben Grael, da vela-, mas jamais conseguiu subir ao pódio. (MB)