Ainda um fio, um outro horizonte A propósito de Portugal in ARTE IN TEMPO DI CRISI, Triennale di Milano 28.2 – 23.3.2014 curadoria de Roberto Cremascoli com Teolinda Gersão, José Adrião, José Barrias Clássico, uma invenção do mediterrâneo. Helénico, romano, greco-romano, bizantino, românico, gótico, renascentista, barroco, iluminista, moderno, pós moderno, contemporâneo futuro inunda desde sempre a Europa. Apesar da complexa orografia, geografia, geopolítica, o mediterrâneo, nunca mudou, tem o perfume de Homero, Virgílio, Dante, Petrarca, Bocaccio, Cervantes, Kavafis, Federico García Lorca. Entorpecido, distante, lacónico, Portugal partia à descoberta de novos mares, novas estrelas, come hoje se encontram planetas e novas luas: o poeta Luís de Camões, declamou nos Lusíadas novas paisagens e outros horizontes. Harold Bloom coloca o Portugal de Fernando Pessoa, como poesia que define o século XX, representando-o. É também a herança clássica na literatura ocidental, onde os clássicos se dizem come europeus. Um outro mar banha as terras lusitanas, O Atlântico confunde-se com o perfume do Mediterrâneo e vice-versa, Portugal nos confins do novo mar, onde acaba a Europa do ocidente e começa o novo ocidente, aquele da pós idade media, da idade moderna. Teolinda Gersão recorda-nos in Cidade de Ulisses, que Lisboa deve o seu nome à cultura helénica. Desde à pelo menos dois mil anos a lenda narra que precisamente Ulisses fundou a cidade branca, de Ulisseum, passando por Olisipo, chegando definitivamente ao nome de Lisboa. Os rastros de Ulisses de Homero são a pegada genética da cultura ocidental, fazem parte do nosso imaginário: à mais de vinte e nove séculos inundam a Europa. José Barrias em Lisboa transcreve a Ode Marítima de Fernando Pessoa compondo a instalação um quarto de pagina no quarto do poeta, uma das inúmeras camera picta, técnica expressiva à qual Barrias recorre com frequência para escrever as palavras dos seus poetas, palavras escritas com giz inundam desde sempre os seus espaços. No prefácio de Il volto dell’Occidente, Flavio Caroli descreve uma nova avanguardia del dubbio (vanguarda da duvida) como a vanguarda praticada num segundo tempo, pelos artistas das vanguardas do século XX e, re-meditada, à procura criativa da tradição. Á mais de quatro décadas José Barrias português europeu italiano viaja através das zonas latinas do continente Mediterrâneo em processo de re-meditação com a mesma ávida curiosidade dos célebres navegadores de Camões. Com os achados de viagem, reconstrói o percurso come um arqueólogo; enche a bagagem que transporta no carro, num barco, no comboio, num avião. Os achados misturam-se no interior da bagagem como as culturas dos países de origem. Barrias reabre as malas, encontrando um novo diálogo, o futuro, a sombra das coisas futuras. A mistura das coisas passadas é o tesouro que em Lisboa José Adrião utiliza nas suas intervenções arquitectónicas, praticando a arte de cozinhar com os restos à pelo menos duas décadas. Pratica a profissão de arquitecto qual terapeuta de grupo, utilizando a participação daqueles que habitarão a sua arquitectura, como contributo para a análise projectual. O material que encontra nos lugares que transforma integra-se com o novo a ser colocado. Trabalha com poucos recursos, em alguns casos até de forma deliberada. Com sabedoria e sensibilidade prepara os cenários quotidianos fazendo tudo com nada. Como tantos italianos, conheci Portugal através das páginas de Antonio Tabucchi. Ajudaram-me a sentir-me português. A conhecer interpretes originais originários como Teolinda Gersão, José Adrião, José Barrias. Na publicação póstuma de Tabucchi Per Isabel - uma mandala, o narrador encontra uma astrofísica: “ sabe quantas estrelas existem na nossa galáxia? Cerca de quatrocentos biliões, mas no nosso universo conhecido existem centenas de biliões de galáxias, o universo não tem limites.”