Novas linhas de crédito envolvem partilha de riscos Garantia mútua já apoia 30 mil empresas As novas linhas de fi nanciamento às PME estão a determinar a rápida expansão da garantia mútua – afi rma José Fernando Figueiredo. Na semana em que decorre em Lisboa o IV Fórum Ibero-americano de Sistemas de Garantia e Financiamento para as Micro e PME, o presidente da SPGM revela que o sistema já contratou 30 mil operações, proporcionando um fi nanciamento de quatro mil milhões de euros às PME. Para Luís Filipe Costa, presidente do IAPMEI, a garantia mútua tornou-se o principal instrumento de apoio às PME. A presença em Portugal dos especialistas europeus e sul-americanos em sistemas de garantia favorecem a utilização deste instrumento na internacionalização das PME. Fundo público cobre parte do risco das operações Especialistas divulgam as inovações, estratégias e metodologias para o acesso ao crédito O XIV Fórum Ibero-americano decorre até amanhã, no Hotel Sheraton, em Lisboa. O encontro reúne, anualmente, quase 300 participantes, provenientes de cerca de 20 países ibero-americanos, de empresários e membros da banca, responsáveis por entidades de garantia e de organismos de desenvolvimento multilaterais, agências públicas e consultores. Como refere o comunicado de imprensa, este fórum tem como objectivo “a partilha de experiên- cias e o intercâmbio de ideias, estratégias e soluções que contribuam para o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas, tornando-as mais habilitadas para enfrentar os desafos dos mercados, bem como estudar soluções que viabilizem o acesso ao crédito em condições mais vantajosas”. Este ano, o tema central do debate é o papel dos sistemas de garantia mútua face à crise, dando especial relevância à medidas estratégias e de emergência adoptadas pelos governos, com vista ao fortalecimentos das empresas e à redução dos impactos negativos da crise. Este encontro será “a oportunidade para os especialistas divulgarem as inovações, estratégias e metodologias para o acesso ao crédito. Ao mesmo tempo, “O tema central do debate é o papel dos sistemas de garantia mútua face à crise, dando especial relevância à medidas estratégias e de emergência adoptadas pelos governos, com vista ao fortalecimentos das empresas e à redução dos impactos negativos da crise”. procurará discutir-se que estratégias adoptar para as entidades de garantia no apoio ao fnanciamento das micro e pequenas e médias empresas depois de passada a crise”, salienta o documento. Para além das presenças dos responsáveis das entidades organizadoras, SPGM e secretaria técnica da REGAR, e das demais entidades promotoras desta última, além da SPGM, Iberaval, ALIDE e SELA, o encontro conta com a participação de administradores de Bancos, do presidente do IAPMEI, de reputados académicos e vários presidentes de Fundos de Garantia Ibero-Americanos, além de responsáveis de agências de micro e pequenas e médias empresas da América Latina. Novas linhas de crédito envolvem partilha de riscos “Garantia mútua já apoia 30 mil empresas” O sistema nacional de garantia mútua já emitiu garantias no valor de 2100 milhões de euros, sendo o principal instrumento de apoio às PME – afrma José Fernando Figueiredo. Em declarações à “Vida Económica”, o presidente da SPGM e da AECM (a associação europeia do sector) afrma que a garantia mútua apoiou a concessão de Vida Económica – O sistema de garantia mútua está a registar um forte crescimento em Portugal. Acha que é possível continuar a crescer ao mesmo ritmo ou vais ser necessário corrigir a trajectória, ajustando-a à actual conjuntura? José Fernando Figueiredo – O sistema português de garantia mútua foi criado há 15 anos como uma experiência piloto de iniciativa pública. Essa sociedade piloto, entre 1994 e 2002, foi a única actuar na prática como se fosse uma sociedade de Garantia Mútua mas era de facto uma instituição pública. Essa sociedade teve ritmos de crescimento muito elevados. Em 2003 lançámos as sociedades de garantia mútua de iniciativa privada. Assim, o sistema ficou distribuído no seu formato final, que são as sociedades de garantia mútua maioritariamente privadas. Por cima delas, está um fundo de contra-garantia, que é um fundo 100% público, onde o Estado doseia a politica pública. Esse fundo, dotado pelo Estado é em maior ou menor escala que permite que o sistema cresça mais depressa ou mais devagar, em função desta parceria público-privada. O crescimento, mesmo antes das linhas PME Investe, já era significativo, embora com uma base menor. O que aconteceu no último ano foi que com o lançamento da linha PME INVESTE, da iniciativa do governo, coordenada pelo IAPMEI, fomos chamados a participar nesta linha de acesso ao financiamento na altura da crise. Com isso o nosso crescimento, que já era muito grande, passou a ser exponenciado. Hoje existem 2 mil e 100 milhões de euros de garantia, o que equivale a crédito de quatro mil milhões de euros. crédito a 30 mil empresas e tenderá a consolidar o seu papel, após o actual período de crescimento acelerado. Sobre o IV Fórum Ibero-americano de Sistemas de Garantia e Financiamento para as Micro e PME, que decorreu esta semana em Lisboa, José Fernando Figueiredo afrma que “o intercâmbio é de benefício comum. “Avaliamos os problemas com que se debatem as pequenas e micro-empresas no acesso ao fnanciamento, sendo depois analisadas caso a caso em cada um dos seus espaços geo-estratégicos”, afrma José Fernando Figueiredo, presidente da SPGM. ra das garantias que está associada a essa carteira de crédito haja uma substituição para manter o nível de volume. Isso vai ser feito com a presença da minha equiVE – Quantas empresas já estão pa num contacto mais directo com os abrangidas pela garantia mútua? clientes, empresas e bancos, no sentido JFF – Cerca de 30 mil. Para Portugal, de conseguirmos colmatar e manter este que tem cerca de 350 volume de crédito. A mil PME, é uma pertaxa de crescimento centagem significativa vai ser necessariamenda massa empresarial. Hoje existem te mais baixa. 2 mil e 100 milhões VE – Como vê o fuVE – A selectivituro? dade nas operações de euros de garantia, JFF – Estas linhas manteve-se ou auPME Investe induzio que equivale mentou? ram no sistema de gaJFF – Diria que se a crédito de quatro rantia portuguesa um adaptou às necessidacrescimento mais acemil milhões de euros des do país. Tentamos lerado. Estamos naturesponder, também ralmente à espera que conscientes que estapassada a dificuldade mos num momento de da crise possa haver algum abrandamencrise, em que o sector fnanceiro tinha auto nesta necessidade de recorrer ao crédimentado muito fortemente a sua aversão to. Achamos que vamos, eventualmente, ao risco. De repente, os bancos não queser capazes de ter uma taxa de substituiriam arriscar. Ao alargar a nossa capacidade ção, porque os empréstimos que foram de intervenção, procuramos que os bancos feitos ao abrigo da linha PME Investe pelo menos não deixem de emprestar. têm todos um período de carência que vai entre os seis e os 24 meses. Quando VE – Em termos de expectativas esse período acabar, os empréstimos vão ser amortizados a um ritmo acelerado, o que resultam deste Fórum Iberoque me obriga a ter uma estratégia para Americano, considera necessário que quando começar a reduzir a cartei- haver uma maior cooperação a nível internacional no sistema de garantias? JFF – Considero que ganhamos todos com isso, não só a nível ibero-americano, mas também ao nível internacional em geral. Avaliamos os problemas com que se debatem as pequenas e micro-empresas no acesso ao fnanciamento, sendo depois analisadas caso a caso em cada um dos seus espaços geo-estratégicos. Em cada um dos implica tratamento especifco. Mas em grandes linhas eles são muito semelhantes. Portanto a cooperação e a capacidade que tenhamos de fazer intercâmbio de formação e de experiências penso que é muito positiva para todos. E a intenção da REGAR - Rede Ibérico-americana de Garantias, além de existir enquanto rede de partilha de informação, é também ter estes fóruns regulares, que este ano são organizados em Portugal pela SPGM e têm como objectivo promover esta troca de informação. Até na minha qualidade de presidente da associação europeia vi na América Latina e, em particular, no Brasil, sistemas de tratamento dos micro-empresários, seja ao nível do acesso ao crédito, seja ao nível da capacitação muitíssimos melhores do que os de cá na Europa. Mesmo em termos tecnológicos há soluções mais avançadas. Este intercâmbio é de benefício comum. João Luís de sousa Luís Filipe Costa, presidente do IAPMEI, a f r m a Grande parte dos obstáculos ao empreendedorismo foram removidos de empreendedorismo nos níveis mais baixos da escolaridade. Seria útil que houvesse cadeiras de empreendedorismo no secundário e até na primária. “Aquilo que já é normal haver nas universidades, não é normal haver no secundário e no primário” - considera. Licenciamento industrial deve ser agilizado “Há cada vez mais facilidades e incentivos para que os jovens queiram criar a sua própria empresa e portanto não estejam à espera do emprego para a vida inteira” – afrmou à Vida Económica, Luís Filipe Costa. Para o presidente do IAPMEI, com a criação da Empresa na Hora tornou-se muito mais fácil ser empreendedor. O novo sistema permite a qualquer empresário criar a empresa num dia. Há uma maior simplifcação no acesso à segurança social e ao fsco. “É uma condição necessária para se facilitar o acesso à criação de novas empresas” - afrma. Segundo refere, grande parte dos obstáculos foram removidos, nomeadamente os burocráticos. Há talvez alguma falta de empreendedorismo ou de ensino A nível industrial, ainda se nota uma difculdade de licenciamento, principalmente nas actividades industriais dado que há muitas entidades envolvidas nos licenciamentos. “Os maiores obstáculos foram removidos e, talvez, mais importante, o obstáculo cultural foi removido. Em Portugal, em 2009, ao contrário do que acontecia há 50 anos atrás, o empresário é reconhecido pela sociedade. Toda a gente sabe que tem um papel fundamental na sociedade, enquanto que há 50 anos atrás era visto como aventureiro. Portanto, se alguma coisa falhava, a sociedade apontava o dedo e perseguia-o para o resto da vida. Agora, a sociedade já reconhece o mérito de ser empresário. Nos últimos anos, houve sobretudo uma mudança cultural. Ser-se empresário já corresponde a uma carreira de topo” – garante Luís Filipe Costa. Brasil tem oportunidades para as PME “As relações económicas entre Portugal e o Brasil talvez estejam um pouco abaixo do seu potencial, face ao enorme intercâmbio cultural que existe entre os dois países. Há muito a fazer ao nível de potenciar o relacionamento económico” – destacou Luís Filipe Costa no encontro que teve com Carlos Alberto Santos, director do Sebrae, organismo homólogo ao IAPMEI no Brasil. Para Luís Filipe Costa, eventos como este Fórum Ibero-Americano são excelentes ocasiões para se estreitarem relações e também incentivar para que do lado português acha mais visitas ao mercado brasileiro, de maneira a que não só as grandes empresas brasileiras e portuguesas mas que também as PME se sintam mais à vontade para investir num e noutro país com o serviço de assistência e de informação, neste caso do IAPMEI em relação ao Brasil. “Acho que há muito a fazer, nomeadamente, ao nível das PME entre os dois países, fomentando um maior intercâmbio económico” -afrma. Carlos Alberto Santos, director do Sebrae, revela Quase 400 mil empresas são criadas anualmente no Brasil “Ao contrário do que acontece em Portugal, a garantia mútua não é o principal instrumento de apoio às PME” – disse Carlos Alberto Santos, administrador do Sebrae, o serviço que apoia as PME no Brasil. Enquanto em Portugal, o sistema já tem 30 mil empresas apoiadas, no Brasil existem 70 mil, o que é relativamente pouco, tendo em conta a diferença de dimensão entre os dois mercados. No Brasil são criadas anualmente quase 400 mil novas empresas, enquanto que em Portugal se criam 40 mil empresas. Para Carlos Alberto Santos, além do número das empresas criadas, são importantes aquelas que sobrevivem. A taxa de mortalidade situava-se nos 50% ao fm de dois anos de vida, e tem vindo a aumentar progressivamente para os 70%, melhoria que o director do Sebrae atribui às políticas do Governo Federal de apoio ao empreendedorismo. Entre as vertentes mais relevantes das políticas públicas de incentivo às PME há a destacar os apoios directos, a política de compras do Estado, e a redução de encargos fscais e administrativos. Carlos Alberto Santos salienta a importância das compras públicas a pequenas empresas. De acordo com as normas que vigoram no Brasil os fornecimentos ao Estado até um determinado montante só podem ser feitos por pequenas empresas. Nos grandes contratos, existem também exigências mínimas em termos de participação das PME, nomeadamente, em termos de subcontratação. Em Portugal, ao contrário do que acontece no Brasil não existem normas que assegurem a participação das PME nos fornecimentos ao Estado. O esquema previsto no Brasil é semelhante ao que existe nos Estados Unidos, onde também é obrigatória a participação de pequenas empresas nas compras do Estado. O director do Sebrae atribui uma especial relevância à redução dos encargos fscais e administrativos como medida de incentivo às pequenas empresas e apresentou como exemplo um novo regime fscal para os pequenos negócios. Para as empresas que têm um empregado, além do dono, foi criado um regime com um valor fxo e muito reduzido que abrange o imposto sobre os lucros, o equivalente ao IVA e a Segurança Social do empresário e do seu empregado. No Brasil existem 10 milhões de negócios de pequena dimensão que trabalham na informalidade. Através da redução dos encargos, uma parte signifcativa destes operadores tem vindo a entrar na legalidade, abandonando a economia paralela.