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Sumário
4
N.º 184 - Julho/Agosto 2007 - 2,00 euros
EDITORIAL
7
CARTAS E COLUNA
DO PROVEDOR
8
NA CAPA
CONCURSO DE
32
FOTOGRAFIA
TERMAS EM
10
16
NOTÍCIAS
PORTUGAL NA EUROPA
Por ocasião de nova presidência
portuguesa da União Europeia, a
“TL” inicia uma série de crónicas de
João Aguiar dedicadas a vários
países europeus que, ao longo dos
séculos, mantiveram relações com
Portugal e de que resultaram
vestígios físicos e patrimoniais. E é
justo, como assinala o cronista,
começar pela Bélgica, em cuja capital
está a sede da EU.
34
açoriana, a Fundação
Medeiros e Almeida
tem, no seu espólio,
raras e notáveis
colecções de arte
decorativa que
atravessam os séculos.
PORTUGAL (4)
Alcafache: os encantos
da vinoterapia
resiste, com 165 anos
de idade e 60 metros
de altura, uma das
primeiras araucárias
plantadas ao ar livre,
na Europa.
46
PORTUGAL E A
LUSOFONIA
47
O TEMPO E O
MUNDO
22
34
VIAGENS
TERRA NOSSA
48
ESTRASBURGO:
ALVOR: UMA
VIAGENS NA
A OUTRA CAPITAL
EUROPEIA
Embora mais
conhecida por acolher
a sede do Parlamento
Europeu, Estrasburgo
é uma cidade que
merece a atenção dos
viajantes por muitas
outras razões. Pólo
importante de difusão
das ideias humanistas,
nela mergulham
algumas das raízes da
condição europeia.
ALDEIA JUNTO AO
MAR
Mesmo com as ruas
centrais salpicadas de
restaurantes, bares e
casas de artesanato,
sinais inequívocos da
forte presença do
turismo, o Alvor
contínua a parecer
uma aldeia.
HISTÓRIA
26
FUNDAÇÃO
MEDEIROS E ALMEIDA
Criada em 1973 com o
objectivo do estudo,
conservação e
divulgação do acervo
de um grande
empresário
português, de origem
41
HISTÓRIAS
DO TRINDADE:
o marido de Palmira
Bastos
42
49
BOA VIDA
68
CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos, Novos
Livros e Roteiro
77
O CHEFE SUGERE
Inatel Fornos de
Algodres: Bacalhau com
leite à moda da Beira
81
O TEMPO E AS
OLHO VIVO
PALAVRAS
44
Maria Alice Vila
Fabião
A CASA NA ÁRVORE
No parque do
Monteiro-Mor, ao
Lumiar (Lisboa),
82
CRÓNICA
Joaquim Letria
Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva:
500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria,
Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge
Letria, Lurdes Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro..
Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel
Pereira, Pedro Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Préimpressão e impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo
de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 152.342 exemplares
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Editorial
JOSÉ ALARCÃO TRONI
Presidência Portuguesa
da União Europeia
Síntese da agenda do INATEL no segundo semestre de 2007
o editorial de Julho/Agosto da nossa Tempo
Livre, os meses, por excelência, das férias dos
portugueses, pouco mais deveria fazer do que
formular aos 250 mil associados, aos 300 mil
associados dos CCD’S – Centros de Cultura e Desporto,
aos 500 mil seniores, beneficiários dos Programas Seniores,
à nossa comunidade de trabalho e às famílias de todos os
meus sinceros votos de um bem merecido repouso, justo
prémio de mais um ano de trabalho e de preocupações e
pausa necessária e prévia de novo ano e alguns meses de
rotina diária no contexto de dificuldades e restrições que o
país vem atravessando.
N
UNIÃO EUROPEIA
Não quero, no entanto, deixar de saudar a terceira
Presidência Portuguesa da União Europeia – que se inicia a
1 de Julho – a qual, certamente, será a última, pois o previsto Tratado Reformador substituirá as presidências rotativas
pela presidência uninominal eleita do Conselho Europeu.
Revestiram-se de grande dignidade e eficácia as duas
anteriores presidências de Portugal, em 1992 e 2000, protagonizados pelos anteriores Primeiros-Ministros, Aníbal
Cavaco Silva e António Guterres, actuais Presidente da
República e Alto Comissário das Nações Unidas para os
Refugiados.
Constituindo a consensualização final e a redacção do
Tratado Reformador da União Europeia a 27 membros –
em vésperas de inevitáveis novos alargamentos aos países
balcânicos e de leste e, talvez, á Turquia – o principal
mandato da Presidência de Portugal, formulo ao Primeiro
Ministro, José Sócrates, no segundo semestre Presidente
do Conselho Europeu, ao seu Governo e colaboradores, ao
Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão
Barroso, ao seu Colégio de Comissários e às altas tecnoestruturas da União Europeia e da República
Portuguesa, as maiores felicidades na obtenção de um
desejável Tratado de Lisboa, que, no ano do cinquentenário do início da vigência do histórico Tratado de
Roma – aprovado em 1956 e em vigor desde 1957 – garanta á Grande Europa a continuação e aprofundamento das
conquistas sonhadas, no pós-guerra, pelos pais fun4 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
dadores da então Pequena Europa – a Europa dos Seis,
União Aduaneira e Mercado Comum – que passam pela
paz no Velho Continente, pela liberdade, estabilidade
democrática, desenvolvimento, solidariedade social, combate á pobreza, defesa do ambiente, do património cultural, do contribuinte, do consumidor e das minorias étnicas
e sociais, no respeito pelo legado humanista da tradição
judaico-cristã e greco-romana.
O novo Tratado Reformador, se vier a denominar-se
Tratado de Lisboa, marcará, ao longo de várias décadas, a
visibilidade e protagonismo da quase milenar Nação
Portuguesa na construção duma Grande Europa, aberta ao
Mundo e ao diálogo das Civilizações, o que constituiu,
sempre, a vocação do velho Portugal, a que Fernando
Pessoa chamou o rosto da Europa que fita o Mar.
A União Europeia, se quiser falar, de igual para igual, com
as grandes potências emergentes – Rússia, Índia, China e
Países Árabes e Islâmicos – tem de se preocupar não só com
os seus desenvolvimento económico e social e alargamento
da actual moeda única – o euro - de 13 para 27 países-membros, mas também com o reforço da supranacionalidade e
sua expressão internacional e com a problemática dos orçamentos e tecnologias da Defesa e Segurança.
A progressiva acentuação da supra nacionalidade da União
Europeia – no respeito pela soberania dos países membros – e
a redobrada atenção com os orçamentos e tecnologias da
Segurança e Defesa – sem fundamentalismos securitários que
reduzam ou anulem os direitos do Homem e do Cidadão –
têm de constituir presença constante na agenda dos 27 na
primeira metade deste século XXI, que, praticamente se iniciou, com o ataque, quase sem rosto, aos Estados Unidos, nos
símbolos dos seus poder económico – as Torres Gémeas –
poder militar – o Pentágono – e falhando, milagrosamente, o
poder político – o Capitólio e a Casa Branca.
Os atentados do metro de Londres e da estação de
Atocha, em Madrid, devem representar sérios avisos á
União Europeia, no domínio das suas preocupações com a
Defesa e a Segurança.
Desejo, sinceramente, que o Tratado de Lisboa suceda a
50 anos do Tratado de Roma e das convenções comunitárias ulteriores e complementares, definindo, com sen-
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satez, uma estrutura institucional para a União Europeia a
27 – União Aduaneira, Mercado Único, União Económica e
Monetária e Fórum de Concertação Política e Social – que
permita a sua governabilidade e sucesso nestes anos de
aceleração histórica do novo século e milénio.
Parece-me feliz a iniciativa da Presidência Portuguesa de
protagonizar as Cimeiras da União Europeia com o Brasil
– dando grande visibilidade á Língua Portuguesa – e com
África, país e continente que Portugal conhece e percorre
há mais de quinhentos anos.
INATEL 72 ANOS
No passado Domingo – 19 de Junho – no tradicional
almoço de confraternização, na Caparica, da comunidade
de trabalho, no activo e na reforma, encerrámos as agendas da Cultura e do Desporto, relativas a 2006/2007.
No mesmo dia, ao fim da tarde, na Aula Magna da Reitoria
da Universidade de Lisboa e no Estádio do INATEL – Parque
de Jogos 1º de Maio – tiveram lugar as finais nacionais dos
Concursos Teatrália, Festimúsica e Etnográfico Henrique
Rabaço e dos Campeonatos Nacionais de Futebol, Voleibol e
Futsal, bem como a entrega dos respectivos prémios.
No dia 25 de Junho, no Salão Nobre do Teatro da Trindade,
decorreu, com grande dignidade, a sessão cultural, evocativa
do centenário do nascimento do poeta Carlos Queiroz, cuja
reedição da antologia da obra poética constitui responsabilidade cultural da Universidade Portuguesa.
PROGRAMAS SENIORES
Estão em curso, com toda a normalidade, os Programas
Seniores 2007, cujas comissões de acompanhamento integram o associativismo empresarial nos mesmos envolvido
– Confederação do Turismo de Portugal no Programa
Turismo Sénior e Associação das Termas de Portugal no
Programa Saúde e Termalismo Sénior - permitindo aos
operadores hoteleiros e termais participarem na elaboração, avaliação da qualidade e aprovação dos relatórios de
execução e respectivos balanços, numa experiência de participação, que vem decorrendo com grande cordialidade e
construtivismo.
Os Programas Seniores 2006 atingiram o maior número
de participantes de sempre – 54.888 beneficiários, dos
quais 49.887 no Turismo Sénior, 4.956 no Saúde e
Termalismo Sénior e 45 no Portugal no Coração.
No Brasil, na cidade Vitória, capital do Estado do
Espírito Santo, decorreu, de 25 a 31 de Maio, o X
Congresso Brasileiro dos Clubes da Melhor Idade e o IX
Encontro Luso-Brasileiro da Melhor Idade / Turismo
Sénior, que contou com a participação de cerca de 100 con-
gressistas portugueses e 500 brasileiros.
Se possível, no âmbito da Presidência Portuguesa da
União Europeia, o INATEL celebrará com o seu homólogo
IMSERSO – Instituto de Maiores e Serviços Sociais um
novo Protocolo de Cooperação e Intercâmbio, criando,
anualmente, os Encontros Luso-Espanhóis de Turismo
Sénior e o intercâmbio inicial de mil termalistas portugueses e espanhóis.
No ano em curso, a Gala Sénior do próximo mês de
Outubro evocará o décimo aniversário do Programa
Saúde e Termalismo Sénior, iniciado em 1997, o qual movimentou quase 40 000 termalistas.
No próximo ano, provavelmente em Albufeira, cidade
anfitriã, em 1998, do I Encontro Luso Brasileiro de Turismo
Sénior, realizar-se-á o X Encontro Luso Brasileiro, cuja
organização competirá ao INATEL, encerrando-se a
primeira década deste saudável intercâmbio sénior entre o
Brasil e Portugal.
FEIRA DO LIVRO
O INATEL participou, pela primeira vez, com stand
próprio, na Feira do Livro de Lisboa, o que lhe permitiu
divulgar e vender os seus mais de setenta títulos, bem
como de inscrever cerca de 300 novos associados.
Esta experiência merece ser integrada no calendário cultural e editorial, com a participação anual do INATEL, pelo
menos, nas Feiras do Livro de Lisboa e Porto.
No dia 30 de Junho, em Leiria, o Inatel lançará um novo
título seu – “Os Coretos do Distrito de Leiria”, de Delmar
Domingos de Carvalho e Carlos Manuel Maximiano
Baptista, como mais uma contribuição para a divulgação e
preservação da Cultura Tradicional Portuguesa.
INATEL - NET PARA TODOS
A União Europeia acaba de aprovar o co-financiamento do
Programa INATEL-NET para Todos, destinado, na
primeira fase, a dotar as Delegações, Centros de Férias e
demais infra-estruturas turísticas, culturais, desportivas e
administrativas, com cyber-espaços de Internet, ligando os
nossos associados entre si e ao mundo, como meio de
combate ao isolamento e à info-exclusão.
Numa segunda fase, e no âmbito do QREN – Quadro de
Referência Estratégico Nacional – pretende o Inatel
alargar o Programa Inatel-Net para Todos aos seus 4200
CCD’s em Portugal, às mais de 1800 associações da
Diáspora, sedeadas em cerca de 120 países.
DESFILE DO TRAJE DE ENTRE DOURO E MINHO
Como colaboração do INATEL para a animação cultural da
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Editorial
inauguração da Presidência Portuguesa da União
Europeia, este organiza, em colaboração com o Município
do Porto e o Corte Inglês, na véspera do primeiro dia da
Presidência, o Grande Desfile do Traje de Entre Douro e
Minho. Trata-se do maior desfile etnográfico realizada em
Portugal, contando com mais de 6 000 figurantes, de 140
CCD dos distritos de Braga, Porto e Viana, que desfilarão,
pelas 21 horas, de sábado, 30 de Junho, pela Avenida dos
Aliados, no Porto.
SÍNTESE DA AGENDA DO SEGUNDO SEMESTRE
As questões institucionais dominarão a agenda do 2º
semestre no INATEL.
O processo legislativo da Fundação INATEL decorrerá
durante a Presidência Portuguesa da União Europeia.
Espero que em clima de grande consenso com as
Confederações Sindicais, que vêm honrando a Direcção, a
que tenho a honra de presidir, com a aprovação, por unanimidade, dos Plano e Orçamento de 2007 e do Relatório e
Contas de 2006.
A sinopse do Relatório e Contas de 2006 será publicada
na Tempo Livre de Setembro, porquanto, no momento em
que escrevo estas linhas, ainda não tive conhecimento do
despacho de homologação de S. Exa. o Ministro do
Trabalho e da Solidariedade Social.
Na sequência da externalização do INATEL da
Administração Central do Estado – determinada pelo
PRACE – Programa de Reestruturação da Administração
Central do Estado – acabo de ter conhecimento de que a
IGF – Inspecção Geral de Finanças - pretende, com toda
a pertinência, auditar a administração financeira e social
do INATEL, assim como os Programas Seniores, nos
anos de 2005 e 2006 – e desejaria que, a posteriori, também, a de 2007, em curso, último ano da existência do
INATEL, IP – o que me parece mais uma oportuna iniciativa de avaliação e certificação da transparência, confiabilidade e rigor dos orçamentos e balanços do INATEL e dos Programas Seniores que gere, aliás, todos
aprovadas pelos órgãos estatutários – Conselho Geral e
Comissão de Fiscalização – pelo Ministério da Tutela e
pelo Tribunal de Contas nas vésperas da publicação do
diploma legal que criará a Fundação INATEL –
Investimentos e Actividades dos Tempos Livres dos
Trabalhadores.
Na verdade, com a prevista extinção do Inatel IP, a 31 de
Dezembro de 2007, cessarão as comissões de serviço dos
titulares dos órgãos sociais, do secretário-geral e directores,
dos delegados regionais e distritais e dos chefes de divisão
e equiparados, dando lugar, a 1 de Janeiro de 2008, às
futuras gestão e tecnoestrutura do Inatel-fundação.
6 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
COMISSÃO PARA A QUALIFICAÇÃO E FORMAÇÃO
Presidida pelo engº. José Alves de Paula – nome, aliás, sugerido pelas Confederações Sindicais, que muito apreciaram
o seu Relatório de Inventário de Carências das Infra-estruturas e Segurança – está constituída, entrando em funções
no mês de Julho, a Comissão de Inventário das Carências de
Qualificação e Formação da nossa comunidade de trabalho,
cujo relatório será o documento-base da política plurianual
de formação dos colaboradores, designadamente, como
sugerido ao Governo, com aproveitamento da colaboração
do INA – Instituto Nacional de Administração e do
Programa Novas Oportunidades.
140 º ANIVERSÁRIO DO TEATRO DA TRINDADE
No decurso da Presidência Portuguesa da União Europeia,
o Teatro da Trindade comemora, a 29 de Novembro próximo, 140 anos de actividade cultural, em Lisboa, dos quais,
40 anos, na propriedade e gestão do INATEL.
Sem prejuízo da sessão institucional de 29 de Novembro
e do Festinatel de 1 de Dezembro, o INATEL – Trindade
realizará uma época especial, evocativa da Presidência
Portuguesa da União Europeia e dos 140 anos do prestigiado espaço cultural do Chiado e do Bairro Alto – candidatos,
com a Baixa Pombalina, a Património da Unesco – levando á
cena a peça, quase inédita, de Luís Francisco Rebello, “A
Desobediência”, recordando os últimos dias de Aristides
Sousa Mendes, no Consulado de Portugal, em Bordéus, na
França ocupada, no já longínquo ano de 1940.
Pensamos, ainda, reactivar a Companhia Portuguesa de
Ópera, sedeada no Teatro da Trindade e extinta nos idos de
1975, provavelmente com a ópera portuguesa, A Serrana, de
Alfredo Keil, autor da música do Hino Nacional, cujo centenário da morte ocorre neste ano de 2007.
IN MEMORIAM – JOSÉ CARLOS FERREIRA
Deixou o nosso convívio, com 94 anos, há poucas semanas,
o dr. José Carlos Ferreira, antigo director-geral do Trabalho
e presidente do Conselho Superior de Acção Social.
O dr. José Carlos Ferreira fez da Função Pública uma
missão e um testemunho de dignidade, competência,
humanidade e respeito pela liberdade de pensamento dos
seus colaboradores.
Constituiu para mim honra inesquecível o haver tido como
superior hierárquico, na Direcção-Geral do Trabalho e no
Conselho Superior de Acção Social, este grande humanista e
alto funcionário, por quem senti sempre a maior admiração e
amizade e que elegi como exemplo de vida profissional, nos
quase quarenta anos que levo de carreira no sector público
administrativo e empresarial do Estado.
Nunca esquecerei este querido dirigente e Amigo. I
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Cartas
O pedido de Lara
[ Kalidás Barreto ]
Chama-se Lara e é a minha cadela Grand Danois…
Porque não se consegue exprimir de forma a fazer-se entender
pelos estranhos seres erectos a que se convencionou chamar animais racionais - excepção apenas para os seus donos, com quem
dialoga de forma fluente - sente-se amiudadas vezes inferiorizada e complexada por esse facto.
Não chegou ainda ao extremo de ficar deprimida ou ao ponto de
tomar medicamentos ou fazer psicanálise - luxos que estão para
lá das suas possibilidades - mas que às vezes anda desanimada, é
um facto!
Numa das nossas últimas conversas, conseguiu arranjar coragem
para me fazer uma confidência e ao mesmo tempo, formular um
pedido:
A confidência: Fica triste (mas ao mesmo tempo feliz) quando
chega a altura dos donos irem de férias e verifica que estes hesitam, adiam e quase sempre desistem de grandes ausências, por
sua causa - para que não fique sozinha e privada dos mimos e
atenções a que desde sempre a habituaram...
O pedido: Que os homens que mandam numa Organização que
se chama INATEL - ela ouviu o dono dizer que era sócio há vários
anos e que gostaria de passar férias num dos seus Centros - criem
condições para que os donos de animais de companhia como ela
não se vejam, na altura em que procuram descansar de um ano
de trabalho e canseiras, perante o dilema de terem que optar
entre ficar por casa ou ir, abandonando-os à sua sorte...
Claro que eu aceitei imediatamente ser o portador deste pedido,
que a mim me deixa muito sensibilizado e que sinceramente,
espero, sensibilize de igual modo os responsáveis do INATEL...
Confirmo que sou sócio há muitos anos, sem nunca ter utilizado
em altura de férias qualquer dos muitos Centros de que dispõe nem sempre pelo motivo indicado pela minha Lara, mas nos últimos anos, seguramente!
Julgo também, que num ou noutro Centro, nem sempre será fácil
atender esta pretensão, mas se tal for conseguido em parte deles,
já todos ficaremos a ganhar - os irracionais de companhia e os
racionais acompanhados sócios do INATEL
Celestino Neves, Alfena
COLUNA DO PROVEDOR
O INATEL é, por natureza, uma associação cuja maior parte dos utentes
dos seus serviços são trabalhadores e suas famílias.
É pois natural que no meio da reclamação ou da sugestão, surjam alguns
desabafos sobre a sociedade em geral e as suas preocupações, que o
Provedor ouve com respeito que é devido a um universo de associados com
as mais diversas posturas perante a política ou a religião. E porque, naturalmente, somos uma associação plural, ainda há pouco tempo nos
chegaram preocupações contra a rotina como que datas significativas
como o 25 de Abril e o 1º de Maio, são comemoradas.
O profundo significado histórico que representam estas datas vão lentamente deixando de ser vividas para serem comemoradas, como se de um
ritual se tratasse. Eu sei que a sociedade portuguesa vive num clima de
dificuldades e de desencanto, mas não é com apatia que as coisas se
resolvem. Não comemorem rotineiramente as datas históricas; Vivam-nas!
Para isso porém é preciso que o façam todos os dias! Porque a Liberdade
também se alimenta. Acho que se devem mudar os rituais, mas que não
se apague a memória e gratidão.
Comentários também surgiram a propósito da capa da nossa revista de
Maio e da fotografia da peça escultórica dos pastorinhos que ornamenta
uma das rotundas de Fátima. Claramente a maioria dos associados que se
nos dirigiram haviam compreendido que a capa e a notícia nas páginas
interiores enquadravam-se na efeméride dos noventa anos do santuário e
num dos objectivos do INATEL, o turismo nas suas vertentes; também no
religioso. Como aliás é explicado na página 14 da “Tempo Livre”:
“Na comemoração dos 90 anos das aparições de Fátima, todos os caminhos vão dar ao santuário mariano da Cova de Iria, transformado pelo factor religioso num dos centros de peregrinação mais visitados por católicos
de todo o mundo. Há mais vida, todavia, para além do santuário e do ritual mensal, de Maio a Outubro, na jovem cidade e seus arredores. O factor
turístico está cada vez mais presente num fenómeno que mobiliza grandes
multidões e Fátima e a vizinha Ourém merecem, para além dos mistérios
da fé, uma enriquecedora visita histórico-cultural”
Estamos em tempo de férias e de turismo. Gozem-no como puderem, mas
sem excessos, com alegria ainda que conscientes que há ainda muita
Sócios há 50 anos
Completaram, este mês, 50 anos de ligação ao Inatel, os associados: Aulanio Carmo Marques, Alfragide; Fernando
Antunes Pinto Macedo, Lisboa; Artur Caetano Martins,
Amadora; José António Guedes Santos e Fernando
Rodrigues Silva, Vila Nova de Gaia
gente que não as pode gozar.
E entretanto dito-vos este princípio: Aos que estão de férias que não se
esqueçam da compreensão por quem está a trabalhar para os servir; a
estes, em contrapartida, que não se esqueçam do zelo, profissionalismo e
atenção sem servilismo que é devido a quem quer estar tranquilo e a
reparar energias. São duas faces da mesma moeda; Sejam livres, plurais e
solidários para que o mundo seja melhor!I
A correspondência para estas secções deve ser enviada para
a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: [email protected]
Tel: 210027197 Fax: 210027179
e-mail: [email protected]
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Fotos Premiadas
[ 1 ] Fernando Ledo, Viana do
Castelo – Sócio n.º 349141
[ 2 ] António Pedro, Almada –
Sócio n.º 383506
[ 3 ] Maria António, Porto –
Sócio n.º 457699
[ a ] António Espirito Santo,
Évora – Sócio n.º 134272
[ b ] Fernando Dias, Vila Nova de
Gaia – Sócio n.º 82530
[ c ] Francisco Casqueiro, Cova
da Piedade
–
Sócio n.º 235079
[1]
Menções Honrosas
[a]
[b]
[c]
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REGULAMENTO
1. Concurso Nacional de Fotografia da
revista Tempo Livre. Periodicidade
mensal. Podem participar todos os
sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e
colaboradores da revista Tempo Livre.
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo
Livre - Concurso de Fotografia, Calçada
de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.
3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.
4. O tema é livre e cada concorrente
pode enviar, mensalmente, um máximo
de 3 fotografias de formato mínimo de
10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em
papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte.
5. Não são aceites diapositivos e as
fotos concorrentes não serão devolvidas.
6. O concurso é limitado aos sócios do
Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor,
direcção, telefone e número de associado do Inatel.
[2]
7. A Tempo Livre publicará, em cada
mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo
previsto.
8. Não serão seleccionadas, no mesmo
ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano
9. Prémios: cada uma das três fotos
seleccionadas terá como prémio um fim
de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do
Inatel, durante a época baixa, em
regime APA (alojamento e pequeno
almoço). O premiado(a) deve contactar
a redacção da «TL»
10. Grande Prémio Anual: uma viagem
a escolher na Brochura Inatel Turismo
Social até ao montante de 1750 Euros. A
este prémio, a publicar na revista
Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o
concurso.
[3]
11. O júri será composto por dois
responsáveis da revista Tempo Livre e
por um fotógrafo de reconhecido
prestígio.
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Notícias
Festa do Trabalhador na Caparica
Cerca de oito centenas de trabalhadores
do Inatel, no activo e na reforma e
respectivas famílias, comemoraram o
72º Aniversário da Instituição, no passado dia 17 de Junho, no Inatel “Um Lugar
ao Sol” na Costa de Caparica.
As comemorações iniciaram-se com
uma celebração religiosa pelo Reverendo
João Aires Lobato, com a participação do
Coro Gregoriano de Lisboa e a presença
dos dirigentes do Instituto, José Alarcão
Troni e Vitor Ventura, Presidente e vicePresidente, e Armando Couto, SecretárioGeral, e individualidades locais, entre outros, Joaquim Monteiro, representante do
Governo Civil de Setúbal, António Neves,
Pormenor do almoço de confraternização
Presidente da Junta de Freguesia da
Costa de Caparica e o Comandante dos
Bombeiros Voluntários da Caparica.
Após o almoço, José Alarcão Troni,
saudou os trabalhadores e respectivas
famílias e sublinhou que a passagem do
Inatel a Fundação, já no próximo ano, terá
em conta o desempenho e dedicação dos
funcionários e as suas perspectivas de
carreira. Deu ainda conta dos objectivos
para o primeiro ano de actividade da
Fundação Inatel e homenageou os trabalhadores que atingiram a antiguidade de
25, 30, 35 e 40 anos de serviço.
Joaquim Borrelfo, há 35 anos no Inatel, foi homenageado na festa do 72º aniversário
Com 40 anos de de serviço foram homenageados José Sozinho (Lisboa), José
drigues (Braga), João Pereira (Bragança),
António Monteiro (Vila Real) e Hortênsia
Carlos Barbosa (Luso) e José Pereira (S.
Jorge Torrão Nunes (Covilhã), Natércia
Simões (Viseu);
Pedro Moel); 35 anos - Luis Almeida
Palma e Mª Perpétua Sequeira (Faro),
(Coimbra), António José Constantino,
Arlindo Parreira, José Figueiras Carlos,
(Aveiro),
Emília Rosa Pires, Maria José Diogo e
José Baptista, Manuel Fonseca, Lucinda
Fernando Fernandes (Bragança), José
Joana Cardadeiro (Costa de Caparica),
Otero, Adelino Coelho e José António
Ferreira (Covilhã), José Lopes (Guarda),
Augusto Borges, Inês Ramos e Lúzia
Santos (Lisboa), Ermecinda Sousa (Porto),
Mª Teresa Galapito, Isabel Galapito, Ana
25 anos - Mª Cristina Salgueiro
Valentim
Ribeiro
(Braga),
Azevedo (Entre-os-Rios), Mª Cristina Go-
Paula
mes, Hermenegildo Alho, Joaquim Bor-
Francisco Damião, (Lisboa), Ermelinda
relfo e Carlos Pinto (Lisboa), Júlio Teixeira
Oliveira, Mª Fátima Monteiro, António
(Porto), Manuel Silva Hercília Santos,
Esteves e Rosa Sousa (Stª Mª da Feira).
Gonçalves,
Irene
Pereira
e
Manuel Correia, Mª Fátima Rodrigues e
A festa prosseguiu com um momento
Mª Lurdes Paula (S. Pedro do Sul), José
musical de José Cid que interpretou
Reis Duarte, Maria Rocha Rodrigues e
“Baladas da minha Vida”, seguindo-se a
Filipa Machado (Reformados); 30 anos -
merenda ao ar livre, animada com um
Fernando Neto (Albufeira), António Ro-
baile popular ao som de Zé da Viola.
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Desporto Inatel: finais nacionais
O Parque de Jogos 1º de
Maio, em Lisboa, foi
palco, em Junho, das
Finais Nacionais
2006/2007 das modalidades de Andebol,
Basquetebol, Futebol,
Futsal e Voleibol, com a
participação de 24
equipas de várias regiões
do país.
CCD «Os Mochos», vencedor no voleibol
Alarcão Troni entrega medalhas aos campeões de futebol
Entrega de medalhas ao CCD «Banda Naice» (futsal)
CCD Millennium BCP vencedor de andebol
Classificações:
Andebol: 1º - CCD
Millennium BCP (Porto),
2º - S.M.D. Caneças
(Lisboa), 3º - CCD Caselas
F.C. (Lisboa) e 4º - CCD
São Mamede (Porto).
Basquetebol: 1º - CCD
Portugal Telecom
(Lisboa), 2º - CCD Banco
BPI (Lisboa), 3º - CCD
Caixa Geral de Depósitos
Naice C.S. (Lisboa), 2º -
CCD Serviços IVA (B),
(Porto) e 4º - CCD
CCD Melrinho (Açores),
(Lisboa) e 4º - CCD Praia
Millennium BCP (Porto).
3º - CCD Quinta Grande
de Esmoriz (Aveiro)
Futebol de 11: 1º - CCD
(Madeira) e 4º- CCD
Voleibol Feminino: 1º
Paços Negros (Santarém),
Gessirela/Bila Biker’S
CCD Portugal Telecom
2º - CCD Casa do Povo do
(Vila Real)
(Lisboa), 2º CCD
Caniçal (Madeira), 3º -
Voleibol Masculino: 1º -
Millennium BCP (Porto),
CCD Lavandeira (Aveiro) e
CCD Os Mochos (Aveiro),
3º - CCD Perre (Viana do
4º - CCD Salão (Açores)
2º - CCD Portugal
Castelo) e 4º - CCD
Telecom (Lisboa), 3º -
CDCR/CTT (Lisboa).
Futsal: 1º - CCD Banda
CCD da PT, campeão de basquetebol
Seis records no atletismo
Ainda no Parque de Jogos 1º de Maio, teve
(vet. G); Paula Martinho, no Disco, (vet.D) e
lugar, em Junho, o Campeonato Nacional
Ivone Lobo nos 100m e Disco, (vet.H).
de Pista, com a participação de 180 atletas,
Por equipas, na categoria masculina, o
em representação de 25 CCD’s dos distri-
vencedor foi o CCD de Ponterrolense
tos de Angra do Heroísmo, Braga, Coim-
(Lisboa) com 270 pontos, seguido pelos
bra, Funchal, Porto, Lisboa, Santarém,
CCD’s Cluve de Coimbra, Portugal Telecom
Setúbal, Covilhã.
(Lisboa), Petrogal (Porto), Millennium BCP
Destaque para os seis records nacionais
(Porto e Clube Montanha (Funchal).
do Inatel, alcançados por Elisabete Águas
Na categoria feminina, o primeiro lugar
(CCD O Alvitejo), nos 5000 metros; Rui
foi para o CCD Cluve com 119 pontos segui-
Costa (CCD Cluve) nos 100 e 200 metros
do do CCD ACM de Angra do Heroísmo.
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Notícias
Évora, Guarda e Castelo Branco
vencedores do ENCONTRÃO 2007
Filarmónica da Casa do Povo de Lavre-Évora, vencedora da Festimúsica
Rancho Folclório da Boidobra: 1º lugar na etnografia
Associação Desportiva e Cultural de Subportel (V.Castelo)
vencedora da Teatrália
Vice-presidente, Vítor Ventura, entrega primeiro prémio
ao Rancho Folclório da Boidobra
A Banda Filarmónica da Casa do Povo de
hida, com o CCD da Câmara do Porto e
Clássica de Lisboa, perante diferentes
Lavre (Évora), a Associação Desportiva
a Capricho Bejense (Beja) classificados
júris, numa intensa e salutar com-
Cultural
logo a seguir ao CCD de SubPortela.
petição, promovida pelo Inatel, aposta-
Castelo) e o Rancho Folclórico da
Finalmente,
do, há décadas, na preservação da cul-
Boidobra (Castelo Branco) foram os
Cantadeiras do Vale do Neiva (V. do
grandes vencedores da 3ª edição do
Castelo), com uma notável represen-
De salientar, ainda, neste terceiro
Encontrão – Encontro Nacional de
tação das “carpideiras”, e o Rancho de
Encontrão, a massiva participação de
Centros de Cultura e Desporto do Inatel,
Stº Amaro de Azurara (Viseu), com as
jovens nas três vertentes de música,
respectivamente, nas modalidades de
romarias populares, ficaram apenas a
teatro e folclore, um sinal revelador da
Música, Teatro e Etnografia.
um ponto do grupo vencedor.
crescente vitalidade e dinâmica associa-
de
SubPortela
(Viana
do
na
Etnografia,
as
tura popular portuguesa.
Na Festimúsica destacaram-se, ainda,
Numa participação representativa de
tiva da nossa cultura popular, que –
a jovem Filarmónica do Entroncamento
quase todo o território nacional, foram
como salientou Vítor Ventura, vice-presi-
(Santarém) e o Grupo de Cantares de
cerca de 1200 os elementos dos 47
dente do Direcção, na cerimónia de
Vila Chã de Sá (Viseu), classificados em
CCD’s finalistas que se exibiram,
entrega dos prémios aos vencedores –
2º e 3º lugares, respectivamente. No
durante dois dias, no palco da Aula
tem, no Inatel, um antigo e sólido apoio
Teatro, a competição foi igualmente ren-
Magna da Reitoria da Universidade
material e institucional.
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Poeta Carlos Queiroz
evocado no Trindade
França condecora
Joaquim Benite
O Salão Nobre do Teatro da Trindade foi
do Teatro Municipal de Almada e do
palco, no final de Junho, de um sarau
Festival de Almada, foi distinguido
comemorativo do centenário do nasci-
pelo Governo francês com o grau de
mento do poeta Carlos Queiroz.
Cavaleiro da Ordem das Artes e das
Perante dezenas de convidados, o Prof.
Letras. A decisão da atribuição do grau
Fernando Martinho lembrou, de forma
de Chevalier de l’Ordre des Arts et des
sugestiva e documentada, a qualidade
Lettres foi tomada pelo anterior
humana e literária do grande poeta da
Ministro da Cultura de França, Renaud
Presença. Seguiu-se a leitura de poe-
Donnedieu de Vavres, e por ele
mas por Vítor de Sousa e Cármen
comunicada ao encenador, distinguido
Filomena e um momento musical com
Manuela Telles da Gama, que interpre-
O encenador Joaquim Benite ,director
pelas suas criações artísticas e pela
Carmen Filomena e Vítor de Sousa
tou alguns fados com letras do poeta.
sua contribuição para a difusão da
cultura.
Alarcão Troni, presidente do Inatel,
Feira Nacional
de Artesanato
reafirmou, no início da sessão, a
decisão do Instituto em associar-se às
comemorações do centenário com a
reedição do famoso, e há muito esgo-
Organizada em parceria pela Câmara
tado, elogio fúnebre de Fernando
de Vila do Conde e pela Associação
Pessoa por Carlos Queiroz. O sarau
para Defesa do Artesanato e
finalizou com emotivas palavras de
Património vila-condense, a 30ª Feira
Nacional de Artesanato irá decorrer
agradecimento da filha do poeta, a
escritora Graça Queiroz.
Graça Queiroz
entre 21 de Julho e 6 de Agosto, nos
Jardins da Av. Júlio Graça, com a
presença de duas centenas de
Inatel
Montalegre
Informam-se todos os
artesãos de todo o País, grande parte
interessados que as reservas de
dos quais demonstrará ao vivo o seu
alojamento para o INATEL
saber nas mais diversas expressões do
Montalegre (Turismo Rural)
artesanato. Este ano, a FNA dedica
deverão ser efectuadas através
particular destaque às Rendas de
do Inatel Cerveira,
Bilros, ex-libris do artesanato local e
Telef: 251 708 360/1
primeiro pretexto impulsionador para a
Fax: 251 195 050
criação do certame.
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Notícias
Feira do Livro
Festa do Circo
O pavilhão do Inatel na Feira do Livro de Lisboa mereceu a atenção de numerosos visitantes, atraídos pela
qualidade e diversidade das edições do Instituto nas
áreas de turismo (Aldeias Históricas), etnografia,
teatro, desporto e lazer.
O Inatel assinalou o Dia Mundial da Criança com uma
divertida Festa do Circo no Parque 1º de Maio. Pepe
Nunez, Circulino Pico Bello, Circo Chen, os Trupilariante
e os Mirakulaicos proporcionaram uma tarde inesquecível, de humor e fantasia, a centenas de crianças.
«Portugal e o Mundo
nos séculos XVI e XVII»
Chapitô
no Festival
de Mérida
O Presidente da República, Cavaco Silva,
principais responsáveis pela exposição
Na famosa Alcazaba de Mérida,
condecorou, em Junho último, com o
“Abraçando o Globo, Portugal e o
construção árabe de defesa da
grau de Grande Oficial da Ordem do
Mundo nos séculos XVI e XVII”, patente
cidade espanhola a poucos quiló-
Infante D. Henrique, os norte-ameri-
na Freer Gallery of Art / Arthur M. Sackler
metros de Portugal, a Companhia
canos Julian Raby e o Prof. Jay Levenson,
Gallery, em Washington.
Teatral do Chapitô irá apresentar a
peça “O Grande Criador”, inserida
no famoso Festival de Teatro
Clássico de Mérida.
O Grande Criador é uma sátira
dirigida por John Mowat, em que o
principal tema será a religião tal
como a conhecemos ou tal como a
mesma nos foi transmitida. Perguntas como “Terá sido Moisés o
maior alpinista da sua geração?” ou
“Foi a falta de espaço na Arca de
Noé, a verdadeira causa da extinção
dos dinossauros?” levam a crer que
esta será um comédia extrema, que
tanto pode levar às lágrimas, como
ferir as crenças das pessoas com
mais fé, mas sempre com muito
humor.
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Porto, história e lenda
Nascida da necessidade de dar a conhecer
aos portuenses o melhor da história, dos costumes e das tradições da sua cidade, a popular crónica semanal de Germano Silva no JN,
“À descoberta do Porto”, foi agora reunida em
livro (Ed. Casa das Letras),
com prefácio de Geraldo
José Amadeu Coelho Dias.
Trata-se de um novo livro de
história do Porto, a juntar a
uma panóplia de cinco
anteriormente publicados e
com os quais se pretende
proporcionar uma visão panorâmica bastante
dilatada de importantes aspectos históricos
da cidade do Porto, quer no tipo tradicional da
historiografia, quer na história dos costumes
e das tradições tipicamente portuenses
Peter Brook
no Festival de Almada
MTSS premeia
reportagem da SIC
O Ministro Vieira da
Silva e a Secretária
de Estado, Idália
Moniz, presentes na
entrega dos prémios
A reportagem da SIC, “O Triunfo da
«pensar nos filhos dos outros». O
Vontade”,
Daniel
Centro de Reabilitação da Associação
Cruzeiro, Franco Santos e Rui Rocha,
de Paralisia Cerebral de Coimbra, cria-
Com 23 produções, 11 das quais estrangeiras
com grafismo de Paulo Alves, exibida
do há 32 anos pelo médico José
(da Lituânia, Vietname, Noruega, França,
no dia 3 de Dezembro de 2006, foi dis-
Barros, assiste hoje 2000 utentes e é
Itália, Espanha, Chile, Colômbia, Bélgica e
tinguida com o Prémio da Família na
um exemplo relevante de como a
Argentina), o Festival de Almada 2007, a
Comunicação Social, da responsabili-
experiência de uma família ajudou a
decorrer até 18 de Julho, reparte-se, uma vez
dade do Ministério do Trabalho e da
construir soluções para as dificul-
mais pela cidade de origem e por vários
Solidariedade Social em colaboração
dades de milhares de famílias.
espaços de Lisboa - Teatro Nacional, CCB,
com o Instituto de Comunicação
Culturgest, S. Luiz, Instituto Franco-Português
Social.
da
autoria
de
À reportagem «Gente com raça» (o
problema de inserção social de uma
e Cornucópia. A participação de figuras con-
O júri valorizou o mérito do trabalho
família cigana) da autoria da jornalista
sagradas, como o inglês Peter Brook (com a
jornalístico e a qualidade do retrato de
Amélia Moura Ramos, do repórter de
peça “Sizwe Banzi morreu”) e o francês
uma instituição que nasceu da ousa-
imagem Filipe Ferreira e do editor de
Bernard Sobel, é acompanhada, neste festival
dia e solidariedade de um pai que, con-
imagem Marco Neiva, exibida na SIC
pela apresentação de trabalhos de um con-
frontado com a paralisia cerebral do
no dia 25 de Novembro de 2006, foi
junto de jovens criadores contemporâneos.
seu filho, decidiu tornar-se médico e
atribuída uma menção honrosa..
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PORTUGAL NA EUROPA
Portugal-Bélgica
Além do Futebol
Neste início de uma pequena série de crónicas
dedicadas a vários países europeus, tendo como
pretexto e razão a presidência portuguesa da União
Europeia, é justo começar pela Bélgica, em cuja
capital está a sede da UE.
Ora, dado que nos interessam particularmente as relações entre Portugal e os diversos países escolhidos
como tema, e também os vestígios
físicos e patrimoniais eventualmente
deixados por essas relações ao longo
da História, convirá começar por
recordar aos mais distraídos que, no
caso específico do Reino da Bélgica,
as nossas relações vão, felizmente,
muito além dos jogos (eu ia escrever
«recontros»…) de futebol que nos
últimos tempos tanto inflamaram os
adeptos mais ferrenhos e os simples
patriotas-da-bola.
Comecemos com uma curiosidade: o actual rei dos belgas, Alberto II, tem sangue Bragança, por
via da sua avó, a rainha Elizabeth,
cuja mãe era a infanta D. Maria
José, filha de D. Miguel I.
É, como afirmei, uma curiosidade
interessante, mas não muito original,
pois que praticamente todas as
dinastias reais europeias estão relacionadas entre si. Menos vulgar será,
para um viajante português que visite Bruxelas, encontrar uma marca
portuguesa, bem visível, mesmo
quase gritante, numa das principais
peças do património arquitectónico
da cidade. No entanto, por invulgar
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que seja, essa marca não é difícil de
encontrar: bastará entrar na catedral.
A catedral de Bruxelas, consagrada
a São Miguel e Santa Gúdula, erguese no centro da cidade, bem perto da
célebre Grand’Place. Ora, quem
entrar no templo e avançar pela
nave central, olhando para a sua
esquerda, acabará por ver um
enorme vitral que mostra, ao alto, o
brasão português, quinas e castelos,
enquadrado pela cruz da Ordem de
Cristo. Em baixo, ajoelhados, estão as
figuras de um rei e duma rainha — e
não custa adivinhar a origem do rei,
porque as suas vestes ostentam as
quinas. Se a isto juntarmos uma data
Quem entrar no
templo e avançar pela
nave central acabará
por ver um enorme
vitral que mostra o
brasão português,
quinas e castelos,
enquadrado pela cruz
da Ordem de Cristo
que também se vê no vitral, 1542, e
uma legenda em latim na qual
podemos ler os nomes «João» e
«Catarina», teremos todos os elementos necessários para conhecer a
identidade do par real: o rei de
Portugal D. João III e a sua mulher,
Catarina de Áustria. Será então a
altura de o visitante português se
perguntar: «o que fazem estes dois
aqui, na catedral de Bruxelas, rodeados de quinas e cruzes de Cristo?»
A resposta a esta pergunta não é
muito complicada. O vitral em
questão faz parte da capela do
Santíssimo Sacramento, perfeitamente integrada no corpo da igreja
e que, actualmente, contém o
tesouro da catedral. Ora, esta capela
foi mandada fazer pelo imperador
Carlos V, o mesmo que fez de
Bruxelas a capital dos Países Baixos.
Há ali quatro grandes vitrais e cada
um deles é dedicado e terá sido
pago pelas casas reais directamente
ligadas aos Habsburgo. O que era o
caso da dinastia portuguesa, porque
a rainha D. Catarina, mulher de D.
João III, era irmã de Carlos V.
Este vitral será talvez, hoje em dia,
a «marca portuguesa» mais visível na
Bélgica moderna. No entanto, é pre-
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PORTUGAL NA EUROPA
Lusa
ciso mencionar uma outra, não na
capital mas em Lovaina, mais precisamente na universidade. Trata-se
de uma pintura de George de
Geetere, um quadro de grandes
dimensões mostrando um renhido
combate sobre uma ponte levadiça.
Em posição destacada, vê-se, lutando energicamente, um homem de
bicórneo, com uma gola de arminho.
Pois bem: essa personagem é Damião de Góis. No texto que lhe é consagrado, publicado neste mesmo
número de Tempo Livre, são dadas
explicações para a sua presença neste
quadro: as tropas de Francisco I de
França tinham atacado Lovaina e
Góis acorreu a tomar parte na defesa
da cidade universitária onde estudara. E foi à frente dos estudantes,
como seu comandante, que ele lutou.
A pintura de de Geetere fixou para a
posteridade a sua intervenção.
Já no tempo de Damião de Góis as
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Julho/Agosto 2007
relações entre Portugal e a Flandres
tinham história. A infanta D. Isabel,
filha de D. João I, casara com Filipe
III o Bom, duque de Borgonha, que
era também conde de Flandres…
aliás, se quisermos ir mais longe no
tempo, iremos parar ao reinado de
D. Afonso Henriques, pois uma das
filhas do nosso primeiro rei foi
igualmente, por casamento, condessa de Flandres, e no reinado de
D. Sancho I muitos flamengos se
estabeleceram em Portugal. É,
porém, nos séculos XV – XVI que as
relações luso-flamengas se desenvolvem a um nível nunca antes
visto. D. Isabel duquesa de
Borgonha, a quem o seu sobrinho,
D. Afonso V, dera os Açores, enviou
para o arquipélago numerosos
colonos flamengos; e, por outro
lado, os portugueses estabeleceram
uma feitoria em Bruges. Essa feitoria foi, mais tarde (em 1499), trans-
ferida para Antuérpia e ganhou
uma enorme importância; aliás, a
«nação» portuguesa de Antuérpia
era, segundo rezam as crónicas, a
que tinha melhor organização entre
todas as comunidades estrangeiras.
O que resta, hoje, dessa presença?
Resta, pelo menos, uma bela casa
que, em 1511, foi concedida à feitoria: é o Nº 8 da Rua Kipdorp.
Actualmente, está lá instalado um
quartel de bombeiros, mas, à casa,
ainda lhe chamam Huis van Portugaal, a Casa de Portugal.
E que mais há de «nosso» na
Bélgica? Ah, sim: inúmeros túmulos
de soldados. Os cemitérios de
Antuérpia, de Ninove, de Tournai
têm-nos em abundância. São os
rapazes portugueses que, na I
Grande Guerra, tombaram na Flandres em defesa do solo belga. Não é
turístico, mas é significativo. I
João Aguiar
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Damião de Góis
A Europa no sangue
Dos méritos de Damião de Góis (1502 – 1574) como historiador, humanista, homem de
cultura e guarda-mor da Torre do Tombo, muito se tem escrito.
E o que ele sofreu às mãos da
Inquisição — se é que não foi
mesmo discretamente assassinado
a seu mando —, é matéria que
também tem sido abordada várias
vezes e por diversas formas,
tendo em conta o seu valor
dramático. Nesta crónica, tudo
isso se toma como dados
adquiridos. Não pretendemos,
aqui, narrar a toda vida deste
homem, mas sim evocar a sua
dupla qualidade de português
muito português e de europeu
muito europeu…
Que Góis foi muito português,
prova-o o facto de ter acabado
por vir fixar-se em Portugal a
convite do seu rei e de ter
consumido o seu tempo e as suas
energias não só a dirigir o arquivo
real como a escrever uma Crónica
do Felicíssimo Rei D. Manuel e
uma Crónica do Príncipe D. João.
Podia, afinal, ter ficado a viver na
Flandres, ou na Itália, ou na
Alemanha — enfim, em qualquer
um dos muitos países onde tinha
amigos e apoios. Mas veio para
Portugal.
Ao mesmo tempo, não
abundam, ao longo da nossa
história, homens que, como ele, se
tenham integrado mais
perfeitamente e mais
completamente na vida e no
pulsar intelectual da Europa, e
que a tenham conhecido melhor,
fisicamente e sobretudo
espiritualmente.
É certo que, em Damião de
Góis, esse «europeísmo» estavalhe, literalmente, no sangue, pela
parte da mãe, Isabel Gomes de
Limi, descendente de um
flamengo que veio estabelecer-se
em Portugal. Assim, a sua ligação
com a Flandres é, digamos, inata.
Mas viria a desenvolver-se, a
tornar-se muito forte — por
destino ou acaso, não importa.
De facto, em 1523, Damião de
Góis, que vivia então na corte,
pois desempenhara as funções de
moço da câmara de D. Manuel I,
foi nomeado por D. João III
escrivão da feitoria portuguesa da
Flandres, que então já tinha sido
transferida de Bruges para
Antuérpia. E em Antuérpia viveu
Não abundam, ao
longo da nossa
história, homens que,
como ele, se tenham
integrado mais
perfeitamente e mais
completamente na
vida e no pulsar
intelectual da Europa
durante seis anos, entregue ao
seu trabalho mas também criando
amizades, estudando,
coleccionando obras de arte,
desenvolvendo as suas múltiplas
aptidões — convém não esquecer
que este escritor erudito era
também compositor musical e
cantor.
Seis anos após a sua instalação
em Antuérpia, Damião de Góis
começou a viajar. Nem sempre
por sua iniciativa e para seu
prazer; aliás, a primeira dessas
viagens fê-la no âmbito de uma
missão oficial: D. João III fizera
dele escrivão da feitoria, agora ia
fazer dele diplomata.
AO SERVIÇO DO REI
Em 1529, Góis recebeu instruções
de Lisboa: devia ir à Polónia, para
negociar o casamento do infante
D. Luís, irmão de D. João III, com
Edviges, filha do rei polaco
Segismundo I. Como o monarca
se encontrava então na Lituânia,
o enviado português partiu de
Antuérpia para Dantzig e de lá
para Vilna. Depois, regressou a
Dantzig e seguiu para Cracóvia.
Desta cidade, voltou a Antuérpia.
Era uma primeira experiência
em matéria de viagens europeias.
Mas, logo em 1531, recebeu outra
missão, que o levou à Dinamarca
e novamente à Polónia. É de crer
que, entretanto, Góis tivesse
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PORTUGAL NA EUROPA
tomado o gosto destas
deslocações, porque, desta vez,
durante o percurso da Dinamarca
para a Polónia, fez um desvio por
conta própria e foi a Wittenberg,
na Alemanha. Havia uma razão
especial para isso: era lá que
estavam Lutero e Melanchton, os
dois grandes reformistas
protestantes. Era com eles que o
viajante queria falar.
Tanto quanto se sabe, Damião
de Góis nunca abandonou a fé
católica — se o tivesse feito, seria
loucura instalar-se, mais tarde, em
Portugal. Mas não há dúvida de
que o seu espírito aberto,
tolerante e curioso o levou a
estabelecer «contactos
heterodoxos» que, mais tarde, lhe
sairiam caros, quando, após a
morte de D. João III, a Inquisição
pôde enfim atacá-lo seriamente.
Ao voltar à Flandres, Góis
frequentou a universidade de
Lovaina (cidade onde, anos mais
tarde, ele combateria, ao lado dos
estudantes, contra as tropas
francesas). De Lovaina, foi a Paris
e depois a Friburgo (Alemanha),
para se encontrar com o célebre
Erasmo, e a Basileia, para
conhecer Sebastian Münster, o
não menos célebre cartógrafo,
cosmógrafo, teólogo protestante,
matemático e especialista em
língua hebraica.
DIGRESSÃO ITALIANA
Igualmente importante foi a
longa vilegiatura de Damião de
Góis na Itália, onde contactou
com alguns dos homens mais
brilhantes do seu tempo — entre
eles Inácio de Loyola —, além do
que frequentou a universidade de
Pádua. Mas visitou também
Roma, Veneza, Ferrara, Génova,
Milão, Nápoles.
20 TempoLivre
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Em 1538, Góis encontrava-se na
Haia. E aí reforçou os seus «laços
neerlandeses» ao casar com Joana
van Hargen, filha de um homem
de Utrecht. Quatro anos mais
tarde, em 1542, foi quando, por
ocasião de um dos muitos
conflitos entre Francisco I de
França e Carlos V, as tropas
francesas atacaram Lovaina.
Damião de Góis estava então de
Em 1538, Góis
encontrava-se
na Haia. E aí
reforçou os seus
«laços neerlandeses»
ao casar com Joana
van Hargen, filha de
um homem de
Utrecht
viagem para a Holanda, com a
mulher, mas dirigiu-se
imediatamente Lovaina para
tomar parte na defesa da cidade.
Diga-se, aliás, que combateu bem
e que foi feito prisioneiro. Os
franceses viriam a libertá-lo com
resgate, por diligência de D. João
III e de Carlos V.
E chegamos a 1545. Então, vem
o convite do rei de Portugal para
regressar ao país e assumir o
cargo de mestre do infante D.
João. Góis aceita e regressa. É o
início dos ataques da Inquisição,
mas também de um dos seus
períodos mais criativos, em que
escreve as crónicas de D. Manuel
e de D. João. Não voltará para o
estrangeiro, mas conservará
muitas das amizades feitas pela
Europa. Que, infelizmente, de
nada lhe valerão quando,
finalmente a «santa» Inquisição se
apoderar dele. I João Aguiar
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VIAGENS
Estrasburgo
A outra capital europeia
Embora mais conhecida por acolher a sede do Parlamento
Europeu, Estrasburgo é uma cidade que merece a atenção
dos viajantes por muitas outras razões. Pólo importante
de difusão das ideias humanistas, nela mergulham também
algumas das raízes da condição europeia. É Património
Mundial desde 1988.
Poucas cidades da dimensão de
Estrasburgo poderão ser evocadas
pelas mesmas tantas razões que a
urbe alsaciana nascida nas margens
do Reno: relicário exemplar de diferentes arquitecturas e urbanismos, burgo regido nos idos medievos por uma constituição que mereceu elogio de Erasmo, cidade universitária, sede de várias instituições europeias, etc., etc. Gaulesa e
germânica a um tempo, Estrasburgo tem, ainda, mais uns quantos
motivos de orgulho: Goethe foi
aluno de uma das suas universidades, Gutenberg terá inventado a
imprensa durante a sua permanência ali, a cidade foi, enfim, um dos
22 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
mais importantes pólos europeus
de desenvolvimento e difusão das
ideias humanistas e da Reforma.
Estrasburgo é uma metrópole
tranquila, com todo o ar de capital
de província, que se agita substancialmente, todavia, uma vez por
mês, na semana em que o Parlamento Europeu se reúne. Quem
deseje aproveitar o facto de Portugal assumir a presidência europeia até ao final do ano e planeie
conhecer por dentro nesse período
o Parlamento, essa semana será a
mais indicada; mas vale a pena permanecer uns dias mais na cidade,
demora justificada pela oferta
museológica, a atmosfera distendida dos cafés e esplanadas da Petite
France, os passeios pelos canais, o
roteiro monumental revelador de
uma arquitectura dual que testemunha uma história dividida entre
a Alemanha e a França. E, evidentemente, também por uma diversificada vida cultural para a qual contribuem reconhecidas “instituições”
como a Orquestra Filarmónica, o
Ensemble des Percussions de Strasbourg e a Ópera Nacional do Reno.
UM PASSEIO COM HISTÓRIA
Até à instalação do Parlamento Europeu em 1992, longa e rica foi a jornada de Estrasburgo, fundamentando a inscrição na lista de Património
Mundial da UNESCO em 1988. As
margens do Reno estiveram na rota
dos romanos e pela Rue du Dôme
passaram as legiões de César. A
Argentoratum desse tempo teve os
seus momentos áureos dispersos
por várias idades, desde os tempos
medievais até ao final do século
XIX, quando a cidade fez parte do
Reich e o espaço urbano se avolumou com uma arquitectura cénica,
ecléctica. Esse “período alemão”
está representado pelo Palácio do
Reno ou na arquitectura e urbanismo das praças da Universidade ou
da República.
Uma boa parte da arquitectura
mais interessante de Estrasburgo
vem do século XVIII, do tempo que
se seguiu à incorporação da cidade
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VISITAR O PARLAMENTO EUROPEU
Estrasburgo acolhe várias instituições
para a energia.
Até ao final do ano realizar-se-ão,
da União Europeia, entre as quais o
Outubro - 22 a 28 Outubro –
ainda, plenários entre 12 e 18 de
Parlamento Europeu, Conselho da
Agendado um debate sobre a política
Novembro e entre 10 e 16 de
Europa e o Tribunal Europeu dos
europeia de concessão de vistos.
Dezembro.
Direitos do Homem. O Parlamento
reúne uma vez por mês durante uma
semana e é divulgada
antecipadamente a agenda das
sessões, sempre actualizada com
temas de última hora. A instituição
disponibiliza visitas guiadas e é
possível assistir ao plenário.
As próximas datas das sessões
parlamentares são indicadas a seguir,
com informação breve sobre alguns
dos temas já agendados para
discussão:
Julho - 9 a 15. No dia 9 será
apresentado o programa da
presidência portuguesa e debatida a
questão da imigração ilegal.
Setembro - 3 a 9 e 24 a 30 – Entre
outros temas, estão agendados
debates sobre a política europeia
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VIAGENS
Em cima: A Catedral de Estrasburgo, a Place du Chateau e as torres medievais das velhas pontes cobertas
Em baixo: Três pormenores da Petit-France, um dos ex-libris da capital alsaciana
no território francês – o magnífico
Palácio Rohan, que acolhe três
museus (Artes Decorativas, Arqueológico e Belas Artes), e cujo traço
tem a assinatura do “autor ” de
Versalhes, é o mais expressivo. Mas
é da Renascença, e dos séculos XVI
e XVII, que data o “visual” arquitectónico mais emblemático de
Estrasburgo, ou pelo menos mais
explorado pela promoção turística:
edifícios como a Câmara do Co24 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
mércio, na Praça Gutenberg, as casas burguesas da Praça St. Etienne e
as típicas construções em tabique
do quarteirão da Petite France.
No capítulo das manifestações
arquitectónicas mais interessantes,
não se poderá esquecer a casa Kammerzel, mesmo ao lado da catedral,
com a sua fachada de madeira,
repleta de figuras (e outros motivos
esculpidos em madeira) e de frisos
de vitrais. É, com a catedral, a Petite
France e as torres medievais das velhas pontes cobertas, um dos ex-libris
mais repetidos da capital alsaciana.
Esta sugestão de um breve roteiro
por Estrasburgo termina com uma
referência à catedral, um prodígio
que combina gigantismo e delicadeza
– disse-o Victor Hugo. A torre, com
142 metros de altura, ergue-se de
forma impressionante sobre os telhados da cidade: este templo foi até ao
século XIX o edifício cristão mais alto,
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GUIA
Quando ir
O INATEL tem programas que
incluem Estrasburgo e a
Alsácia. Para quem organize a
viagem de forma autónoma,
convém fazer reserva de
alojamento, sobretudo se o
período da estadia coincidir
com a semana do plenário, já
que os estabelecimentos
hoteleiros esgotam a sua
capacidade com os deputados
e os funcionários do
Parlamento.
Entre Maio e Setembro é o
período mais agradável para a
viagem, descontando o facto de
durante o Verão a afluência
turística ser maior.
Visitar
A Petite France, antigo
quarteirão de ofícios medievais
agora transfigurado em cenário
turístico, é visita óbvia. Entre
os museus, o destaque vai para
o Museu Alsaciano, uma
colecção etnográfica de arte
popular, mobiliário tradicional,
brinquedos, etc., o Museu da
Obra de Notre-Dame (acervo de
obras-primas de estatuária
medieval), o Museu de Belas
Artes (Giotto, Boticcelli,
uma manifestação superlativa da que
é, afinal, uma das marcas centrais do
gótico. Iniciada a sua construção em
1176, só trezentos anos depois foi
dada como concluída. O trabalho de
um grupo de artistas que chegou em
1225, vindo de Chartres, foi decisivo
para a riqueza escultórica que a distingue. A nave principal, inspirada na
de Saint-Denis, na capital francesa,
conserva parte dos vitrais originais.
Singular é também o relógio as-
tronómico, testemunho e herança
do movimento da Reforma. Inactivo desde 1789, foi reabilitado em
meados do século XIX e o planetário de Copérnico adicionado é
bem um símbolo, afinal, de uma
parte das raízes em que mergulha a
condição europeia e que em Estrasburgo, como se pode constatar neste passeio com história, têm significativa representação. I
Raphael, El Greco, Rubens,
Canaletto e Delacroix, entre
outros) e o Museu de Arte
Moderna e Contemporânea
(Monet, Picasso, Arp, etc.). Um
museu dedicado ao chocolate,
um mercado de livros (na Praça
de Gutenberg) e outros
mercados semanais podem
preencher diferentes
interesses.
Humberto Lopes [texto e fotos]
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FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [5]
Fundação Medeiros e Almeida
Um tesouro em Lisboa
Trocou aos vinte anos o curso de Medicina pelos negócios e, outros
tantos anos volvidos, batia-se com grandes museus na compra
de peças de arte. Hoje, vinte anos depois da sua morte e ultrapassadas
as tradicionais burocracias lusas e algumas incompreensões familiares,
o Museu que António Medeiros e Almeida (1895-1986) sonhou legar
ao País e à sua cidade está – graças à Fundação que ostenta o seu nome
– vivo e disponível para os amantes e curiosos da Arte.
Criada em 1973 com o objectivo do
estudo, conservação e divulgação
do acervo desse grande empresário
português, de origem açoriana, a
Fundação Medeiros e Almeida tem,
no seu espólio, raras e notáveis
colecções de Relógios, Porcelanas
da China, Pintura, Mobiliário, Ourivesaria/Joalharia, Arte Sacra, Escultura e Têxteis, num total de cerca de
9.000 peças que atravessam os séculos, 2.000 das quais estão já patentes
ao público em 26 salas da antiga
residência do seu patrono, num
belo palacete situado no centro de
Lisboa.
Nesta vivenda de estilo parisiense,
oitocentista, localizada no gaveto
das ruas Rosa Araújo e Mouzinho da
Silveira e adquirida, em 1943, à
Nunciatura Apostólica, viveu António Medeiros e Almeida com a sua
mulher, Margarida Pinto Basto (da
família dos fundadores da Vista
Alegre), até meados dos anos 80.
Filho de pais açorianos, mas
nascido em Lisboa (1895), Medeiros
e Almeida trocou, aos 20 anos, o
curso de Medicina, que frequentava
26 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
em Coimbra, por uma bem sucedida carreira nos negócios - além da
exploração dos sectores têxtil, açucareiro e do álcool, foi também representante em Portugal da British
Leyland, fabricante dos automóveis
Morris e MG - e, cedo também, ganhou fama de coleccionador a nível
europeu percorrendo salas de leilões de numerosos países, disputando, muitas vezes, valiosas peças
de arte com alguns dos maiores
museus mundiais.
Com o objectivo de decorar os
vários espaços da sua casa, totalmente remodelada pelo grande
mestre da arquitectura nacional,
Carlos Ramos, mas também movido pelo intuito de deixar um legado
para o país, António Medeiros e
Almeida foi-se tornando mais selectivo nas aquisições, ao reunir na sua
valiosa colecção particular obras de
alguns dos grandes mestres da
história da arte.
Expostos num ambiente de casa
familiar da alta burguesia lisboeta,
podem admirar-se quadros de
grandes mestres ingleses, flamen-
gos e holandeses (de Brueghel e de
Jan van Goyen, entre outros), esculturas raras (um precioso Bernini),
grandes painéis da melhor azulejaria portuguesa, arte sacra, terracota e porcelana chinesa (onde avultam peças Ming do século XVI de
encomenda nacional), joalharia,
mobiliário francês e inglês de autor,
e, em grande destaque, uma fabulosa colecção de relojoaria de mais
de 200 peças, representativas de
quatro séculos de produção. Nesta
incrível e rara colecção sobressaem
o histórico relógio de noite de Catarina de Bragança, mulher de
Carlos II de Inglaterra, e um belíssimo relógio de mesa em cristal de
quartzo e lápis-lazúli, prenda de
Luís de Baviera à célebre imperatriz
austríaca Sissi.
Sem filhos e interessado, tal como
a sua mulher, Margarida Pinto Basto, na preservação da sua vasta e
invulgar colecção, Medeiros e Almeida decidiu, no início da década
de 70 – como nos recorda o dr. João
Oliveira e Silva, presidente da
Fundação – ampliar a casa, destru-
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A sala do Lago, forrada com painéis de azulejos,
representando as quatro estações e os quatro continentes.
Em baixo, imagem exterior da Fundação
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FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [5] FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA
Retratos de António
de Medeiros e
Almeida e de sua
mulher Margarida
Pinto Basto de
Medeiros e Almeida.
Pormenor do interior
do edifício e algumas
peças da vasta e
valiosa colecção em
exposição
indo para isso parte do jardim,
transformando-a em Museu, tal
como hoje se mantém.
Anos antes, adquirira uma vivenda contígua, do início do século,
com a assinatura do arquitecto
Ventura Terra, para residência, mantendo o recheio do futuro museu na
anterior moradia. A Fundação nasce, assim, em Fevereiro de 1973, com
a doação, pelo instituidor, de todos
os seus bens imobiliários e colecções
de arte, bem como outros meios
indispensáveis à autonomia financeira da Casa Museu.
As dificuldades surgem um ano
depois. A queda da Bolsa, logo a
seguir ao 25 de Abril, vai impedir a
utilização imediata dos meios financeiros necessários à abertura e fun28 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
cionamento do Museu. A situação
arrasta-se durante alguns anos e,
após a morte de Medeiros e Almeida
(1986), a sua última residência dará
lugar à construção de um moderno
imóvel de rendimento, o Edifício
Fundação, que, a par de outros
investimentos imobiliários em perspectiva e alguns depósitos bancários, vai garantir a autonomia
financeira. “Não beneficiamos de
qualquer subsídio estatal ou privado. A Fundação vive exclusivamente
dos seus meios…”, assinala João
PARCERIA COM O INATEL
Com o objectivo de divulgar este
suas publicações e de cino por
raro e valioso património, a
cento nas réplicas das peças.
Fundação tem projectada uma
A parceria prevê, ainda, um preço
parceria com o Inatel que
especial para grupos até 20
permitirá aos associados do
pessoas, com a mais valia
Instituto condições especiais de
de uma visita guiada
ingresso com o preço único de
personalizada ao preço de três
dois euros e desconto de 25% nas
euros cada.
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Retrato de D. Catarina de
Bragança e, ao lado, o seu
histórico relógio de noite.
O mobiliário francês, e inglês de
autor e indo-europeu, assim como
as porcelanas, são outras das
vertentes da coleccão.
À direita, um jarro da Dinastia
Ming, encomenda para
homenagear D. Manuel I
Oliveira e Silva, o homem de confiança do culto empresário e responsável pela concretização da obra
sonhada, agora patente ao público.
BOLSAS DE ESTUDO
Aspecto igualmente importante da
actividade da Fundação respeita à
concessão de bolsas de estudo para
estudantes açorianos. “É uma das
cláusulas dos estatutos da Fundação – explica João Oliveira e Silva
- e corresponde aos objectivos do
patrono, cujos pais, naturais dos
Açores, tiveram influência decisiva
no seu gosto pela Arte e Cultura.”
Destinadas a estudantes açorianos
que frequentem cursos de ensino
superior ou que tenham sido admitidos em Arqueologia e História de
Arte e Património, Arquitectura,
Artes Decorativas e Design, Artes
Plásticas e Escultura, Artes Plásticas
e Pintura, Conservação e Restauro,
Dança, Música, Teatro e Fotografia,
as bolsas abrangem, actualmente
duas dezenas de jovens que tenham
nascido ou residam há mais de cinco
anos nos Açores ou descendam de
pais (ou pai ou mãe) açorianos e são
atribuídas prioritariamente aos estudantes que tenham obtido aproveitamento escolar com média de 14
valores ou superior.
O processo de candidatura é
apresentado de 1 a 15 de Setembro
de cada ano, na Universidade dos
Açores e a sua atribuição é da
responsabilidade de um conselho
integrado pelo presidente da Fun-
dação, um representante da Secretaria Regional de Educação, um dos
vice-reitores da Universidade dos
Açores e pelo seu presidente do
Conselho Científico.
A Fundação estuda, actualmente,
a possibilidade de uma parceira
com uma entidade estrangeira que
permita a formação de técnicos de
relojoaria. Trata-se – diz João Oliveira e Silva – da reparação e
manutenção de um espólio único,
com centenas de relógios que percorrem os últimos quatro séculos.
São raros os artesãos, capazes de
lidar com peças tão invulgares.
Conta, ainda, que o Ministro Mariano Gago visitou, recentemente, o
Museu no âmbito de uma exposição
de relógios de sol e deixou em aberJulho/Agosto 2007
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FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [5] FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA
Relógio de mesa, presente
de Luís da Baviera à
imperatriz austríaca Sissi.
Podem admirar-se
também pinturas de
grandes mestres:
em cima, ‘O cobrador
de impostos’ de Brueghel.
Em baixo, à direita, João
Oliveira e Silva, presidente
da Fundação
to a possibilidade de um intercâmbio com o ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior
Um prémio anual no domínio da
Arte, no valor de 25 mil euros, em
cooperação com a Universidade
dos Açores, é outro dos projectos
em estudo pela Fundação.
VISITAS
Aberto ao público em Junho de
2001, o Museu tem registado um
crescente número de visitantes,
uma média de seis mil por ano. Nos
primeiros cinco meses deste ano,
registaram-se mais de dois mil visitantes, quase o dobro de igual período de 2006, cerca de 20 por cento
dos quais estrangeiros. As visitas
aos sábados para escolas, promovi30 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
das pela Câmara de Lisboa, são gratuitas. Ainda em parceria com a
autarquia da capital, há o programa
“Ida e Volta”, destinado a seniores.
“Os serviços da câmara encarregam-se do transporte. É um programa muito interessante, com
numerosos visitantes, muito atentos e fascinados com o nosso espólio”, conta Teresa Vilaça, Directora
do Museu.
A entrada do Museu faz-se através do opaco portão de ferro com o
número 41 da rua Rosa Araújo.
Segue-se um pequeno pátio partilhado pela esplanada coberta do
restaurante-cafetaria da Casa-Museu (aberto para almoços das 12h30
às 14h30; aos sábados, só mediante
marcação).
Na loja, junto à recepção que
antecede o percurso pelas 26 salas
do Museu, estão disponíveis
postais, catálogos e réplicas únicas
de alguns originais expostos e que
dão ao visitante a oportunidade de
imaginar e recriar o requintado
ambiente vivido, ao longo de 40
anos, pelo casal Medeiros na sua
bela moradia
A Casa-Museu abre diariamente,
das 13h. às 17h.30m; aos Sábados
das 10h. às 17.30m. Encerra aos Domingos e feriados de 1 de Janeiro,
Sexta-feira Santa, 1 de Maio e 24 e
25 de Dezembro.
As visitas guiadas obrigam a marcação prévia pelo telefone: 21 354 78
92 ou pelo mail: [email protected] I EA
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TERMAS EM PORTUGAL [4]
Alcafache
Os encantos da vinoterapia
Origens árabes, uma estrada romana próxima e uma pedra
lavrada que atesta a existência de uma albergaria no século VI
testemunham um conhecimento antigo destas nascentes,
localizadas na margem direita do rio Dão, no concelho de
Viseu, mas defronte da freguesia de Alcafache, já pertencente
ao concelho de Mangualde.
A Câmara Municipal de Viseu foi
responsável pelo registo inicial e
pela exploração das águas, sempre
com dificuldades causadas pela
proximidade do leito do rio. Daí ter
transmitido a concessão ao médico
Manuel Cardoso Pessoa, que por
sua vez a passou a Eduardo Leal
Loureiro. Foi este último médico
que organizou a actual sociedade
concessionária e mandou construir
o balneário, dotado de dois pisos e
banhos de imersão. Só com a instalação da luz eléctrica foi possível
uma maior diversidade de tratamentos.
Aberto desde 1962, o balneário de
Alcafache tem crescido e melhorado as condições de funcionamento,
designadamente com a ampliação
de um piso. Longe vai o hábito do
banho se realizar nas casas particulares, com água transportada em
cântaros a partir da nascente.
Presentemente, é grande a exigência para receber bem os utentes,
associando o termalismo clássico a
programas de bem-estar. A aposta
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tem sido acompanhada por uma
modernização visível das instalações, para a qual tem contribuído
o empenho por parte dos responsáveis, que se desdobram em
atenções diárias para com os seus
clientes, bem como na presença
habitual em eventos promocionais.
Das novidades deste balneário,
para além da modernização das
condições de tratamento no termalismo clássico para doenças reumatismais e do aparelho respiratório,
sublinhe-se a vinoterapia, que consiste na aplicação dos produtos
extraídos da uva em associação com
a água termal. Esses produtos têm
propriedades únicas para o corpo e
para a pele, pela sua função antioxidante. A massagem com grainhas de uva é uma novidade em
Portugal: a técnica de calorificação
consiste na aplicação de toalhas
quentes sobre os pontos de tensão
de forma a proporcionar ao utente
bem-estar e relaxação, bem como a
aplicação de pequenas bolsas de
algodão recheadas com grainhas e
aquecidas em vapor que deslizam
suavemente pelo corpo embebidas
em óleo. Um tratamento que deixa
a pele limpa, macia e aveludada,
como o melhor dos néctares que
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esta região produz. O efeito é um
relaxamento total, um sentimento
único.
Esta é uma região ancestral, tanto
no seu ciclo das águas, como nos
saberes tradicionais do artesanato e
do bem-comer.
As águas de Alcafache são das
mais antigas do país. As últimas
análises falam da chuva que caiu há
cerca de 14.000 anos e que hoje vem
à superfície rica de minerais e de
benefícios para a saúde. Também os
valores artesanais remontam ao
passado longínquo, estando frequentemente expostos para venda
junto ao balneário: é a prova de
como a pedra, a argila, as varas dos
castanheiros, os juncos, as canas, o
metal, a madeira, a lã e o linho são
transformados em peças de artesanato que mantêm ou recriam
saberes.
É que a escolha destas termas
para um período de tratamentos ou
de procura do bem-estar termal
deve ser associada também ao
encontro das coisas boas da região,
até porque as opções de alojamento
se localizam também fora da pequena localidade. Este facto pode ser
visto como uma oportunidade para
melhor se conhecer as cidades mais
próximas, Viseu e Mangualde, e os
seus patrimónios de importância
nacional, na arqueologia e na arquitectura militar, civil e religiosa.
Na cidade de Viseu, o destaque
vai necessariamente para a Sé, mas
também para o Edifício do Antigo
Seminário, para as Muralhas e
Portas Antigas da Cidade e para o
Paço da Torre. Todo o seu centro
urbano merece um passeio à
descoberta das suas pedras com
história. Em Mangualde, por seu
turno, há um importantíssimo
património arqueológico classificado, como o Castro do Bom Sucesso
e a Anta de Cunha Baixa, mas também o Mosteiro de Santa Maria de
Maceira Dão.
E há que não esquecer a rica gastronomia, onde o vinho se associa
aos pratos típicos regionais, como o
arroz de entrecosto em vinha de
alhos, o cabrito assado em forno de
lenha, o cordeiro, os rolões à Beirão
e as febras à moda de Mangualde. A
terminar, as sobremesas são sempre
saborosas: arroz doce, papas doces
à moda da Beira, pastéis de feijão e
variados tipos de queijo.
Respeite ou não a dieta por uns
dias, deve voltar às Termas de
Alcafache, ao poder das suas águas,
aos bons serviços e à simpatia de
quem o recebe, e de certeza que se
sentirá muito melhor. I
Helena Gonçalves Pinto
e Jorge Mangorrinha
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TERRA NOSSA
Alvor
Uma aldeia junto ao mar
A vila de Alvor, um punhado de ruas estreitas de traçado incerto
acantonadas sobre uma colina sobranceira ao oceano, é uma bênção
para o espírito: em metade de um campo de futebol, espaço ocupado
pelo núcleo histórico, permanece intocável muito do encanto da
genuína vila piscatória algarvia, com as suas casas brancas listadas de
barras azuis e a azáfama dos pescadores nas águas calmas da ria.
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Mesmo com as ruas centrais salpicadas de restaurantes, bares e casas
de artesanato, sinais inequívocos da
forte presença do turismo, o Alvor
contínua a parecer uma aldeia.
A manhã é o momento ideal para
respirar a atmosfera do Alvor: nas
ruas estreitas cruzam-se habitantes
locais munidos de sacos com provisões alimentares para o dia e turistas estrangeiros envergando o ar
mais feliz do mundo, e nas esplanadas assiste-se a cenas tão inesperadas como os mais velhos da
terra discutirem os problemas da
vida, lado-a-lado com turistas inebriados com o clima acolhedor e a
tranquilidade da povoação. As conversas à porta de casa, típicas da
vizinhança nas aldeias, continuam
a fazer parte do dia-a-dia, sinal de
que o quotidiano mantém o seu ritmo normal apesar da presença cada
vez maior de turistas.
O triângulo formado pelas ruas
Marquês de Pombal, que atravessa a
povoação a meio, Frederico Ramos
Mendes, que desemboca na margem
ribeirinha da Ria, e 25 de Abril, que
bordeja a Igreja Matriz, concentra o
núcleo histórico do Alvor: é uma
zona marcada por casas brancas listadas de azul, ruas empedradas com
paralelepípedos, escadinhas salpicadas de vasos de flores, bares, restaurantes, pizzarias, cafés e casas de
artesanato instaladas por tudo quanto é sítio. Em torno deste pequeno
triângulo urbano, predomina a vida
pacata de uma terra de pescadores e
na periferia, já fora da área de
influência da vila histórica, concentram-se os aldeamentos, as villas e as
villages para os turistas.
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TERRA NOSSA
GUIA
A região de Alvor é um
que resulta da
uma extensão de 6 Km.
neolítico (2000/1600 a. C),
pequeno paraíso para os
confluência de quatro
Deve ser feito durante a
com sepulcros de variada
amantes das caminhadas
linhas de água, de que se
manhã, por forma a poder
tipologia, desde câmaras
na natureza. Com a ria
destacam o Rio de Alvor e
observar-se o ritual da
megalíticas até falsas
como atracção principal e
a Ribeira de Odeáxere. A
apanha do marisco
cúpulas com nichos
a costa rochosa entre a
ria á protegida do oceano
durante a maré baixa e
laterais.
Praia da Rocha e a ponta
por duas restingas de
contemplar a beleza desta
de João Arens como
areia, que limitam uma
zona.
complemento, esta zona
vasta área de estuário
Morabitos de São João
e de São Pedro
concentra uma
com bancos de vasa e
Igreja Matriz
Construções de forma
impressionante
areia, sapais salgados,
Edificada no século XVI e
cúbica, com cúpula esférica
diversidade natural. A
pisciculturas. Na zona
reconstruída no século
de influência árabe, estas
estas preciosidades
mais a montante, onde a
XVIII, a Igreja Matriz do
ermidas evocam os
naturais, o Alvor junta um
influência das marés é
Alvor exibe dois pórticos
morabitos muçulmanos
areal com cerca de três
menor, ocorre vegetação
em estilo manuelino.
usados como locais de
quilómetros de extensão e
ripícola, pequenas áreas
Profusamente lavrado, o
enterramento de ascetas.
uma riqueza gastronómica
de pinhal e áreas
pórtico principal é um dos
centrada no peixe fresco
incultas.
mais belos do Algarve. No
ÚTEIS
interior destacam-se o
Posto de Turismo: Rua Dr.
grelhado, nas caldeiradas
e nas cataplanas de peixe
Percurso Natural
retábulo de talha do altar-
Afonso Costa, 51, Tel.: 282
e marisco, na feijoada de
Há um percurso natural
mor e os azulejos
457 540
búzios.
que é absolutamente
policromos com painéis
imperdível: parte da vila
figurativos.
A NÃO PERDER
COMER
de Alvor, bordeja a ria,
Taberna do Guedes, Rua
sobe a enorme duna que
Alcalar
A Ria
separa o mar da ria e
Poucos quilómetros a norte
258 500 015;
A Ria de Alvor é um
percorre toda a praia,
do Alvor, vale a pena
amplo complexo estuarino
terminando na via. Tem
visitar esta necrópole do
Francisco Bívar, Mexilhoeira
dos Pescadores, 65, Telef.:
Adega Vila Lisa, Rua
Grande, Tel.: 288 968 478
Ababuja, Rua da Ribeira
11, Tel.: 282 458 979
DORMIR
Pestana Alvor Atlântico
Beach Aparthotel & Villas,
Praia de Alvor,
Tel.: 282 400 000,
Reservas:
www.hotelclub.net;
Dunas do Alvor, Rua da
Barca, Central de Reservas:
aportugal.com;
Apartamentos Maralvor:
Central de Reservas:
aportugal.com
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Alvor, do árabe albur, ou seja,
“campo inculto”, terá sido fundada
por Aníbal, o célebre general cartaginês, e foi, durante o domínio
árabe no Algarve, um próspero
porto marítimo. As suas muralhas
foram palco de violentos combates
quando o exército português, comandado por D. Sancho I, com a
ajuda de cruzados, a conquistou
em 1189. A importância histórica do
Alvor, que seria recuperada pelos
muçulmanos em 1191 e só voltaria
ao domínio cristão em 1250, é visível na sua promoção a vila por D.
Manuel I, logo após a morte de D.
João II, o Princípe Perfeito, no
Alvor, em 25 de Outubro de 1495.
Ao longo dos séculos XV e XVI, o
Alvor beneficiou da prosperidade
gerada pelos Descobrimentos marítimos em África, na Índia e no Brasil, mas, após os grandes estragos
causados pelo terramoto de 1755,
nunca mais recuperou o esplendor
do passado. E até o estatuto de vila,
que fora retirado pelo Marquês de
Pombal, só seria recuperado em
1938. É com a instalação da Torralta
nos anos 60, a escassos 100 metros
da extensa praia de areias brancas e
macias, que o Alvor começa a dar
sinais de um novo dinamismo
económico.
Vistas do cimo da larga e extensa
duna que separa as águas tranquilas da ria da ondulação suave do
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TERRA NOSSA
mar, as quatro torres da Torralta,
símbolos emblemáticos dos primeiros passos do desenvolvimento
do turismo no Algarve, impressionam ainda hoje pelo impacto da
sua dimensão no horizonte. É também do alto desta duna gigante,
um tapete de vegetação semiarbustiva de granza-da-praia e
joina-dos-matos, que a paisagem
revela toda a sua beleza: a poente,
espraiam-se o casario branco de
Lagos e a recortada costa rochosa
até à Ponta da Piedade; a norte,
emerge o espelho líquido do vasto
estuário da ria penetrando terra
dentro, salpicado de barcos coloridos e bordejada pela vila entalada
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entre a falésia. No meio do sapal,
mesmo frente à povoação, sobressai uma antiga casa de pescadores,
já abandonada.
Diz a tradição que os pescadores
do Alvor terão vindo de Monte
Gordo, uns para tentar embarcar
para o Novo Mundo, outros fugindo do Marquês de Pombal, que
mandou arrasar as suas cabanas na
praia para os obrigar a viver em Vila
Real de Santo António. Hoje, a ria é
ainda palco de uma importante
actividade de pesca artesanal. Os
pescadores mantêm intactas as
artes de pesca e mariscagem. E
todas as manhãs, quando a maré
baixa, os mariscadores cumprem o
ritual da apanha da amêijoa nos terrenos arenosos da ria e na margem
da vila, mesmo junto à antiga lota
do peixe, os pescadores preparam o
robalo, o pargo, o sargo para os
restaurantes locais.
Nas traseiras da antiga lota, continua a resistir um dos sinais mais
emblemáticos da tradição marítima
portuguesa: a Casa do Salvavidas.
Inscritas a vermelho sobre um fundo branco, as palavras Instituto de
Socorro a Náufragos, evocam o
tempo ainda não muito longínquo
em que só havia um barco para
acudir aos naufrágios nas águas
traiçoeiras da costa portuguesa.
António Sérgio Azenha [texto e fotos]
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TRINDADE 140 ANOS
O marido de Palmira Bastos
Ainda estão felizmente por aí, muitos espectadores
que se lembram da grande Palmira Bastos
Pessoalmente recordamo-la já
octogenária, a enfrentar com
galhardia e expressão vocal "As
Arvores Morrem de Pé" de Casona,
dramalhão que fez imenso sucesso
e que a RTP há pouco tempo ainda
repunha. Ou, antes, uma das três
"Meninas da Fonte da Bica", de
Ramada Curto, ou ainda, uma
velhinha do "Processo de Jesus" de
Diego Fabri... já lá vão dezenas de
anos. Mas fica, de facto, a memória
de uma grande actriz, que o publico
acarinhava e respeitava, mas que
não perdia o ensejo, decorrente
desse carinho, para valorizar os
espectáculos no plano emocional - e
bem sabemos como esse plano é
importante no teatro...
E isto porque, durante anos, noite
após noite, a cena repetia-se:
Palmira surgia no palco e logo
estalava uma sincera salva de
palmas. E Palmira, noite após noite,
chorava de comoção!... As palmas
redobravam.
De quem já é obviamente
impossível lembrar com
conhecimento directo é do marido
da Palmira, o grande empresário
Sousa Bastos, que morreu em
1911. A ele se deve, não só a
memória de anos e anos de
grandes espectáculos em Portugal
e no Brasil, como a pesquisa e
publicação de obras certamente
datadas mas ainda hoje preciosas
para a História do Teatro
Português: "Carteira do Artista",
"Dicionário do Teatro Português e
"Recordações de Teatro" esta
póstuma.
Sousa Bastos dirigiu o Teatro da
Trindade de 1894 a 1898. Contratou
uma jovem actriz de 19 anos, a
Palmira, com quem logo casaria. E
juntos, de facto, deram ao Trindade
e ao teatro em geral, em Portugal e
no Brasil bons momentos de
qualidade, tanto no repertório
dramático como na comédia, no
musical e na revista. Vem daí,
também, a grande tradição do
Trindade na linha e na produção de
espectáculos musicais, sejam
eruditos, sejam populares, o que
não significa menor qualidade.
E precisamente: as revistas que
Sousa Bastos e Palmira levaram à
cena no Trindade são de grandes
autores dramáticos e de grandes
compositores da época, e entre eles,
Eduardo Schwalbach, com "Os
Retalhos de Lisboa" ou "Os Filhos
do Capitão Mor", esta última com
musica de Auguisto Machado e Del
Negro. Mas também operetas (que
são verdadeiras óperas) de
Offenbach, na altura grandes
revelações para o publico
português.
E não só. No teatro declamado
Sousa Bastos, e Palmira Bastos nos
quatro anos de direcção do
Trindade, trouxeram um repertório
exigente e de grande qualidade Moliere, Alexandre Dumas, o então
moderno Herman Sudermann, um
dos grandes inovadores da estética
naturalista e outros.
No final da vida, Sousa Bastos
queixava-se de que estava "velho,
gasto, falto de recursos, aleijado e
ainda com necessidade absoluta de
trabalhar"! Quem o recorda é
Schwalbach, nas Memórias,
acrescentando porém que o seu
grande amigo e colaborador era
"bondoso e tão perdulário de
algibeira como de coração"... (in À
Lareira do Passado, Lx 1944,
pag.187).
Mas em 1902, Rafael Bordalo
Pinheiro dá uma ideia diferente de
Sousa Bastos: ."Contava as peças
que punha em cena pelos triunfos.
E chegou a contar os triunfos pelas
peças que punha em cena". (cit por
Maria V. Cambraia Lopes, in O
Teatro na Paródia de Rafael Bordalo
Pinheiro ed INCM , Lx 2005,
pag.135)
Assim seria o marido da grande
Palmira Bastos! I DIC
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OlhoVivo
A organização ambientalista Friends of
the Earth Canada processou o governo
daquele país por falhar os compromissos assumidos em relação ao Protocolo
de Kyoto. Segundo a lei ambiental
canadiana, o país é obrigado a cumprir
os
compromissos
internacionais,
Padrões
de consumo
nomeadamente na prevenção da
poluição. Em Abril deste ano, o gover-
Um estudo realizado pelo Fraunhofer
no anunciou uma estratégia sobre este
Institute for Systems and Innovation
tema que, se cumprida, deixaria o país
Research (Alemanha) revelou curiosos
39% abaixo do previsto no Protocolo de
e variados padrões de consumo de
Kyoto em relação à redução de emis-
água em casa. O estudo analisou o
sões de gases com efeito de estufa. A
consumo de quase metade dos lares
organização alega que o governo está a
germânicos e relacionou os dados com
tentar fugir aos compromissos assumi-
o rendimento, o preço da água, o
dos, negando apoio e encerrando
número de pessoas por habitação e
importantes programas de prevenção
dados climáticos. As conclusões
ambiental ao contrário do que assumiu
demonstraram, por exemplo, que a
internacionalmente e, como tal, deverá
reunificação do país e o consequente
ser responsabilizado pelas suas acções.
aumento dos preços na ex-Alemanha
de Leste provocaram uma rápida
diminuição no consumo; análises
mostraram que, se o preço da água
subir 10%, o consumo baixa em média
três litros por pessoa por dia; nas
regiões de menores rendimentos o consumo é também menor. Além disso, o
estudo demonstrou que o consumo per
capita é menor em casas com mais
pessoas e maior em populações com
idade média mais elevada – esta
relação com a estrutura demográfica
será analisada mais profundamente, a
fim de se adaptarem as infra-estruturas
de fornecimento de água e saneamento a alterações previsíveis em cada
região. Já a relação com as condições
climáticas não ficou definida e será
provavelmente alvo de novos estudos
no futuro.
42 TempoLivre
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Aftershave
mortal
Um estudo realizado por
investigadores ingleses e
apresentado no jornal
The Lancet sugere que
há muitos homens
russos que arriscam a
morte ao beber
regularmente produtos
não alimentares com
elevado teor de álcool –
águas de colónia,
aftershave ou tinturas
herbais. O estudo
analisou a causa de
morte de 1750 homens
com idades entre os 25 e
os 54 anos em 2003 e
2005 na cidade de
Izhevsk, nos Montes
Urais. Dessas mortes,
43% foram atribuídas à
ingestão excessiva de
álcool sob várias formas,
mas os homens que
bebiam álcool não
destinado ao consumo
apresentaram nove vezes
mais probabilidades de
morrer do que os que
não o faziam. Segundo
os investigadores, os
produtos “não bebíveis”
não matam pelo tipo de
ingredientes, já que
muitas vezes são feitos
com pouco mais do que
etanol e água, mas sim
pelo elevadíssimo teor
de álcool combinado
com o baixo preço e fácil
acesso.
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Governo
processado
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Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ]
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Tequilha
monopolizadora
Da próxima vez que pedir uma tequilha
pense bem se é mesmo isso que quer. É
que pode estar a contribuir para um
problema insuspeito por aqui: o desaparecimento de inúmeras espécies de
plantas tradicionalmente cultivadas no
México. Pois é, graças à sede de milhares de pessoas no mundo todo, que
não passam sem a sua bebida preferida, a Agave tequilana é cada vez mais
cultivada no México, de forma intensiva. O problema é que esta planta não
partilha o terreno com mais nenhuma e
requer o uso de pesticidas. Resultado: a
área disponível para cultivo das
restantes variedades está a diminuir e
o cultivo intensivo da tequilana está a
provocar a erosão dos solos. Segundo
Patricia Colunga, do Centro de
Investigación Científica de Yucatán
(México), o país tem de agir já para proteger os produtos tradicionalmente cultivados, parte da sua herança cultural.
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Pau-brasil
regulado
A proposta foi feita, mas
recusada – os violinistas
não vão precisar de
licenças para transportar
os seus arcos de um país
para o outro. É frequente
os violinistas profissionais
usarem arcos feitos da
árvore do pau-brasil e a
questão surgiu na última
reunião da CITES
(Convention on
International Trade in
Endangered Species Convenção sobre
Comércio Internacional de
Espécies Ameaçadas),
onde se discutiu o
comércio desta madeira.
O pau-brasil está
ameaçado de extinção,
restando apenas cerca de
5% de seu habitat
original. Segundo o acordo
alcançado na CITES, o
comércio da madeira em
estado natural passa a ser
monitorizado e
regulamentado – a partir
de agora só poderá ser
vendido com
documentação apropriada.
Os produtos acabados
feitos de pau-brasil, no
entanto, não serão
abrangidos por estas
restrições, permitindo, por
exemplo, que os
violinistas possam viajar
com seus arcos de paubrasil sem precisar de
autorizações especiais
para viajar.
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Voos arriscados
Os médicos reunidos no 12º Congresso
da Associação Europeia de Hematologia (EHA) deixaram um aviso: um
estudo da Organização Mundial de
Saúde revelou que as viagens de avião
são responsáveis por um aumento de
duas a três vezes no risco de alguém
desenvolver tromboses. E, com 2.000
milhões de pessoas a viajar de avião
por ano, isto pode ser um caso sério.
Ressalvando que os riscos são maiores
em pessoas com certas características,
como serem muito altas, muito baixas,
obesas ou que tomem a pílula, a EHA
adverte que o maior problema é sem
dúvida a imobilidade prolongada, pelo
que
recomenda
algum
exercício
durante os voos, especialmente nos de
longa duração. Já no campo das medidas preventivas que gostariam de ver
aplicadas no futuro e para as quais
pedem o apoio da União Europeia, sugerem por exemplo mais espaço entre os
bancos e lugares especiais para os
muito altos, muito baixos ou obesos.
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A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES
As antenas do vulcão
Árvore-rainha, star de jardim, símbolo de bom gosto e status quo, progenitora fecunda, a mais
antiga Araucaria Heterophylla, do Parque do Monteiro-Mor, ao Lumiar, foi salva há trinta anos
numa operação que envolveu a Força-Aérea Portuguesa. Relato das origens desta espécie nativa do Pacífico paradisíaco e infernal.
A
10 de Outubro de 1774, o controverso, mítico e
colonialista capitão James Cook descobre uma
pequena Ilha no Pacífico que assenta sobre uma
das maiores montanhas vulcânicas submersas.
Solidificada em lava, escarpada, basáltica, escondendo nas
suas águas transparentes uma profundidade abissal, uma
negrura maior do que o Everest, é nesta Ilha que o navegador britânico encontra pela primeira vez uma árvore
gigante posteriormente designada de Araucaria Excelsa,
depois Heterophylla (Salisb.) Franco.
Ao olhar para estas coníferas majestosas, vindas dos fundos da Pré-história, o aventuroso e sistemático servidor da
Royal Navy confunde-as com simples pinheiros, e gulosamente imagina transformá-las em milhares de mastros de
navios de guerra, ao serviço do predador e devorador
Império Britânico. Mas o empreendimento fracassa
porque a madeira da Araucaria Heterophylla - verdadeira
antena desse descomunal e profundíssimo vulcão submarino - não se revela suficientemente forte.
Entretanto, por si baptizada de “Pinheiro de Norfolk” –
o mesmo nome dado por James Cook à ilha inabitada,
homenagem à nona duquesa de Norfolk, sua mecenas –
esta árvore resinosa será rentabilizada na Inglaterra, onde
passam a ser produzidos espécimes em viveiros.
A comercialização destinava-se a aristocratas de bom
gosto e à burguesia emergente, para quem a aquisição de
espécimes botânicos raros, altamente exóticos e ainda por
cima gigantes, lhes poderia apimentar o status quo, embora não fosse de excluir um real interesse científico, muito
na moda neste período de coleccionismos
classificatórios.
É num desses viveiros ingleses que a
Araucaria Heterophylla do Parque do
Monteiro-Mor, junto ao Museu Nacional
do Traje, ao Lumiar, é adquirida, sendo
plantada em 1842. Possivelmente uma das
primeiras Araucárias plantadas ao ar livre,
na Europa, esta magnífica árvore ainda
hoje sobrevive com a notável idade de 165
anos e 60 metros de altura.
A introdução deste espécime exótico, na
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Uma das primeiras Araucárias plantadas ao ar livre, na Europa tem
165 anos e 60 metros de altura. Em baixo, pormenor da folhagem
Quinta do Lumiar, foi sugerida pelo médico e botânico
austríaco, Friedrich Welwitsch (1806-1872). Este fora contratado pelo primeiro Duque de Palmela, D. Pedro de
Sousa Holstein. O famoso diplomata português, conselheiro dos monarcas na muito sofrida transição para o
Liberalismo, apreciador de poesia, amigo intimo de
Madame de Stäel e conhecedor dos jardins europeus
podia assim dar continuidade ao projecto de construção
de um Jardim Botânico e de prazer, iniciado pelo antigo proprietário da Quinta do
Monteiro-Mor, o dissimulado Marquês de
Angeja, substituto de Pombal, contra quem
conspirou, tendo contribuindo para a sua
queda.
A Araucária plantada no Parque, junto ao
Lago do Leão, na vizinhança de alguns plátanos gigantes, adquiridos na mesma
época, teria alguma vez sentido sob as suas
raízes os resíduos da rúbida lava vulcânica
de Norfolk? Ouvira nem que fosse ao longe
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Imagem da operação
de salvamento da
araucaria heterophylla
mais antiga pela Força
Aérea Portuguesa 1977
o pássaro Puffinus Pacificus gemer como alma
penada sob a linha de
corais que circunda a
costa da Ilha do Pacífico?
Provavelmente nunca o
saberemos.
Certo é que em 1842, a sobrevivência
da Araucaria Heterophylla, na Ilha de
Norfolk, já se encontrava ameaçada. Os
poucos exemplares não abatidos para
libertar os terrenos agrícolas (outros
serviram de matéria-prima na carpintaria e arquitectura) puderam presenciar a transformação do distante Paraíso
do Pacífico num verdadeiro Inferno.
Depois da primeira colonização (1788 a
1814), cujo objectivo era o de produzir
alimentos para a Colónia inglesa de
Sidney, a segunda colonização (1825 a 1855) instala uma
sinistra colónia penal, em que os maus tratos infligidos aos
condenados, na sua maioria irlandeses católicos, os faziam
ardentemente desejar a morte.
Longe das suas compatriotas, a nossa Araucaria
Heterophylla do Lumiar, bem como outras espalhadas
pelo País (de Caminha ao Porto passando por Lisboa,
Loulé, Monchique, Angra do Heroísmo, etc) não viu o
sangue dos chicoteados escorrer até ao mar, nem ouviu
gemer de fome, enlouquecidos, os prisioneiros dos miseráveis cárceres e calabouços.
Em Portugal, encontrou um Paraíso domesticado.
Bastião da elegância da numerosa família Palmela, foi star
de jardim, juntou à sua roda inúmeros curiosos e teve
descendência, da qual dá notícia o artigo do Diário de
Notícias, 27 de Maio de 1913: “A Magnífica Araucária
Excelsa que tanto atrai as atenções das pessoas que visitam
a Quinta do Lumiar, pertencente à Casa Palmela, produziu
finalmente sementes fecundas que deram origem a noventa pequenas araucárias. (...) A Araucária Mãe tem trinta e
cinco a quarenta anos de idade, e se continuar assim a
reproduzir-se, terão grande baixa no mercado estas
árvores, que até agora têm tido elevadas
cotações”.
Apesar da celebrada e temida fecundidade da Araucária, rainha anfitriã deste
Parque onde desfilaram botânicos e jardineiros célebres, da sua vasta descendência só resta um outro exemplar, que se encontra logo à
entrada, percorrido o curto caminho ladeado de Palmeiras.
Segundo Rui Costa, arquitecto paisagista, responsável
pelo Parque, a filha da Araucária foi “plantada a 16 de
Fevereiro de 1864, pelo nascimento da bisneta do primeiro
Duque de Palmela”. Rui Costa recorda também as duas
únicas vezes em que a primeira Araucária adoeceu
perigosamente, exigindo uma verdadeira e aparatosa
operação de salvamento. “Em 1976 [um ano depois da
Quinta do Monteiro-Mor ter sido adquirida pelo Estado
Português], começou a observar-se que a parte terminal da
copa estava seca. Era o ataque de um fungo que já dizimara os ulmeiros mais antigos de Lisboa. A intervenção
de 24 de Junho 1977, fora pensada pelo Eng. Sousa Lara, e
implicou a utilização da maior escada dos bombeiros.
Como só tinha 30 metros, os restante 20 metros foram
subidos até à parte doente da árvore. Cortou-se no verde,
aplicou-se fungicida na ferida e uma argamassa de gesso.
Os cinco a sete metros de copa, correspondentes à parte
afectada, foram transportados por um cabo preso a um
helicóptero da Força Aérea Portuguesa”.
A Araucária voltou a renascer mesmo depois de nova
intervenção na Primavera de 1996, e continua a desenvolver-se. “Qual a largura do tronco?”, pergunto. E Rui
Costa responde: “Uma vez foram precisas 21 crianças para
a abraçarem”.
Na Ilha de Norfolk, a Araucaria Heterophylla também
voltou a renascer. Talvez se tenha esquecido do tempo em
que os prisioneiros iam à missa acorrentados.
Quem caminha em direcção ao Parque do Monteiro-Mor
vê da rua três grandes araucárias (a terceira pertence a uma
espécie oriunda da Nova Caledónia). A encruzilhada de
estradas em seu redor e o viaduto em construção tornamnas distantes. Elas vivem, dentro de muros, no seu Paraíso
ameaçado, cá fora a liberdade parece uma prisão. I
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PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID
«…Em toda a parte»
Junho é o mês de Camões e de todas as evocações da afirmação portuguesa. Rezam as crónicas
e dizem fontes histórica que o mais genial poeta de língua portuguesa morreu a 10 de Junho e
há mais de um século que esse dia se converteu no Dia de Portugal.
ouve algumas derivações, ao longo do
tempo, na formulação, mas sempre se destaca nesta efeméride a capacidade que os portugueses têm de se espalhar pelo mundo.
Quase sempre porque a Pátria lhes foi madrasta, e em
quase todas as ocasiões tal não impediu que esmorecesse o seu amor por ela nas terras de acolhimento e são
tantas que não têm conta. Razão tem o Presidente da
República quando na mensagem que este ano dirigiu às
Comunidades Portuguesas, disse que graças aos emigrantes “Portugal está em toda a parte” E disse outras
coisas que não fica mal registar aqui, quase como um
verdadeiro código de conduta neste tempo difícil e con-
H
países de acolhimento, mas com direito absoluto à
nacionalidade portuguesa.
Neste contexto da celebração de uma sã portugalidade – a realidade é dinâmica e a emigração assumiu,
nas últimas décadas contornos bem diferentes – alguém
disse, sem modéstia, que os portugueses são um grande
povo, pois só essa grandeza podia determinar que a língua de Camões perdure, hoje, como idioma oficial de
cinco países africanos, da maior nação sul americana e
do primeiro país do século XXI que se tornou independente depois de uma abusiva ocupação indonésia de
quase cinco lustros. Em Timor, aliás, se escreveu a seguir
à última guerra mundial, uma dos mais comoventes
hinos de amor de que Portugal se pode orgulhar:
Derrotados os japoneses, os timorenses agitaram
inúmeras bandeiras verde rubras, que tinham sido
enterradas durante guerra.
rovavelmente, devem ser incrementados
mecanismos adequados para que a comunidade portuguesa, a interior e a exterior, não
percam laços de contacto permanente. Nem
sempre flúem harmoniosamente os circuitos globais de
comunicação...
Hue se corrija o que se mostrar errado. Mas que se
atente nas sábias palavras do Presidente da República:
“as Comunidades Portuguesas não só se encontram plenamente integradas nas respectivas sociedades de acolhimento, como constituem um exemplo para todos . Os
emigrantes mostram-nos que não existem destinos
inevitáveis, nem fatalidades irreversíveis e que é sempre possível mudar o rumo da nossa vida. Abundam no
estrangeiro casos de sucessos de portugueses e de luso
descendentes que se afirmam nos mais diversos
domínios, desde a actividade empresarial ao mundo
académico, da investigação científica à cultura, das
profissões liberais à vida cívica”.
Não é preciso mais para alimentar a nossa auto estima, o que bem necessário se torna em face da persistência com que alguns profetas dos maus agoiros se
deleitam a ensombrar este orgulho colectivo de sermos
portugueses. I
P
traditório que é dominado pela globalização: “A cultura
portuguesa muito deve aos nossos emigrantes. São eles
os guardiães da nossa língua em vários pontos do
Planeta. São eles que transmitem aos outros povos os
valores, as tradições os saberes que constituem o núcleo
essencial da singular identidade portuguesa”.
Nas estatísticas recentes, fica a saber-se que no rectângulo europeu, que é umas fronteiras da União
Europeia, entre o Atlântico e a Espanha, com quem
mantemos a única fronteira terrestre, seremos 10 milhões de pessoas, mas, pelos cinco continentes somos
mais cinco milhões, nascidos em Portugal ou já nos
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O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ
Uma outra União
Estamos demasiadamente concentrados na CPLP, ou, mais especificamente
ainda, nos cinco PALOPS?
programa de real União politica e de soberanias – conem obviamente questionar a prioridade inquesvenhamos que essas metas e essas instituições são tão
tionável, passe a redundância, sempre diremos
adiantadas que se tornam utópicas. Nem a UE nem
que de facto há mais África que não fala porainda menos, os Organismos de Integração Latinotuguês, mas que tem um potencial de relaAmericanos foram tão longe.
cionamento politico e económico com Portugal, que
E, no entanto, graças possivelmente
vem da História antiga e recente, num
ao voluntarismo do Presidente da
trajecto sem problemas bilaterais ainda
Comissão, Alpha O. Konaré, ex-Prereforçado por uma presença não tão
sidente do Mali, a União Africana
pouco significativa como possa parecer,
actuou e até tomou posições corajosas
de imigração tradicional de PMEs. Vejano que respeita a intervenções mise por exemplo a Republica Demolitares de interposição e a atropelos
crática do Congo: no grande e agreste
políticos e golpes de Estado. O que
interior pelo menos até aos anos 90,
não se fez sem problemas internos,
eram os comerciantes portugueses
agravados pela autonomia que os 10
quem garantia o abastecimento.
membros da Comissão se arrogam.
Veja-se o Senegal: Casamansa esteve
Konaré não se candidata a novo manligada à então colónia da Guiné
dato, em Julho próximo. Vamos ver
Portuguesa até 1906 e deixou tão boas
quem será eleito.
recordações, que nos anos 90, a Câmara
Quem for eleito herda uma situação
de Comércio Internacional de Dakar
politica, institucional e financeira difírecomendava aos empresários porAlpha Kanaré
cil, para não falar ainda nos conflitos
tugueses a realização de missões na
militares, na violação dos direitos humanos, nos holoregião, precisamente porque Portugal era lá estimado e
caustos mais ou menos conhecidos e no desaparecirespeitado. Vejam-se os pequenos Países encravados na
mento de alguns Estados. Dir-se-à que tudo é recuRepública da África do Sul que tanto conviveram
perável e está aí a Libéria e mesmo, mais ou menos a
connosco via Moçambique. E os exemplos podem mulSerra Leoa e o Ruanda para o demonstrar . E dir-se-à
tiplicar-se para lá dos prioritários – insista-se – PALOPs.
que o boicote à candidatura do Presidente do Sudão ao
Ora vem isto a propósito do último grande Relatório
cargo de Presidente em exercício da UA constituem
divulgado pelo União Africana, organismo que, em
bons sinais.
Julho de 2002, na sequência de uma cimeira constitutiva de 2000, sucedeu à “velha” Organização de Unidade Africana. O grande problema da UA que teoricaas as tragédias do Darfour ou o desamente congrega os 53 Estados do continente, reside
parecimento do Estado na Somália, além
claramente no irrealismo com que procurou criar instida agitação politica em numerosos dos 53
tuições semelhantes na forma e na competência jurídimembros; as guerras e destabilizações
ca, às da União Europeia. Convenhamos que, para 53
internas e/ou fronteiriças; ou o irrisório orçamento de
países tão diversos e tão diversificados, a existência efi133 milhões de dólares suportados praticamente pela
caz de um Parlamento, uma Comissão, um Tribunal de
África do Sul, pela Nigéria e pela Etiópia, o que é sinJustiça, um Conselho Económico e Social, um Conselho
gular num país pobre e em guerras regionais, mostra
de Paz e Segurança, que teoricamente gere as forças de
bem as limitações práticas e politicas desta outra União
intervenção, um esboço de Conselho de Ministros
– na qual, queiramos ou não, estamos indirectamente
autónomo de uma Presidência rotativa e sobretudo, um
implicados. I
S
M
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TempoLivre 47
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VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR
Os fundadores
No correr destas viagens pela História voltamos, agora, às origens, ao tempo
em que «tudo começou». O que nos leva a considerar uma noção que não está
muito divulgada entre nós: a noção dos Fundadores.
D
e facto, tendemos a considerar o primeiro rei, D.
Afonso Henriques, como o
quase-único artesão da independência e, quando muito, os seus
pais, D. Henrique e D. Teresa, figuram
como precursores, ponto final. Mas a verdade é que houve todo um grupo de
homens que, pela sua importância social e
militar, bem como pelas suas opções
políticas, merecem amplamente partilhar
da categoria de Fundadores de Portugal.
Nesta crónica, ocupar-me-ei de um só desses fundadores, um dos mais esquecidos e ausentes da
memória popular: trata-se de Paio (isto é: Pelágio ou
Pelayo…) Mendes, que foi arcebispo de Braga entre 1118
e 1137.
Segundo uma tradição histórica muito aceite, embora
não totalmente comprovada, D. Paio Mendes pertencia
à poderosa casa da Maia e era irmão de dois outros fundadores: Soeiro Mendes da Maia e Gonçalo Mendes da
Maia, que ficou conhecido como «o Lidador». Para o
caso que nos ocupa, não é importante saber se pertencia
à casa da Maia ou à casa de Sousa; o que importa é o
apoio que deu a D. Afonso Henriques e a provável
influência que exerceu junto do infante — aliás, o Prof.
Torcato Sousa Soares defendeu como hipótese quase
certa que foi Paio Mendes, e não Egas Moniz, o aio de
Afonso Henriques, hipótese que justificou com argumentos bastante convincentes.
De qualquer modo, o certo é que a acção deste homem
se revelou decisiva em dois aspectos, sendo que o
primeiro foi a sua luta constante contra Diogo Gelmires,
arcebispo de Compostela. De facto, pode-se dizer que a
luta pela emancipação da terra portucalense, foi (não só
mas também) o verdadeiro duelo travado entre
Compostela e Braga no campo da organização eclesiástica, da disputa pelas sés sufragâneas de cada arquidiocese. Dada a importância da Igreja, um tal conflito não
podia deixar de ter reflexos políticos, mesmo porque os
arcebispos também eram potentados militares. Ora, a
48 TempoLivre
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Reprodução fac-similada da
Confirmação do Couto de
Braga por Dom Afonso
Henriques, primeiro Rei de
Portugal, ao Arcebispo Paio
Mendes, em 1128, com
tradução em portugês no
verso. Este documento é
também conhecido por
“Acta de Fundação de
Portugal”.
verdade é que D. Paio Mendes mostrou-se particularmente dinâmico na defesa de Braga contra as investidas
de Compostela.
O segundo aspecto foi, como referido acima, a adesão
do arcebispo ao movimento autonomista de Afonso
Henriques — e talvez mesmo que, em lugar de
«adesão», se deva dizer «inspiração». Note-se que, quando D. Teresa, que se travou de razões com Paio Mendes,
o exilou, este foi para Zamora — e levou consigo o
jovem infante portucalense. Pois bem: como é sabido, foi
justamente nessa ocasião, em Zamora, que Afonso
Henriques se armou a si próprio cavaleiro, o que correspondia a dar um passo simbólico na direcção de uma
coroa real, pois só os reis se armavam cavaleiros a si
mesmos. E D. Paio Mendes estava presente; é difícil não
pensar que aquele acto político se deve à sua influência,
mais até do que à única iniciativa do então muito jovem
infante.
F
oi isto em 1122 ou 1125. E em 1128 travava-se a
batalha de São Mamede, que deu o poder a
Afonso Henriques. Ao lado do infante, estavam
Egas Moniz, estavam os Sousas, estavam os da
Maia — estava D. Paio Mendes, muito possivelmente,
um dos grandes promotores da revolta contra D. Teresa
e a «facção galega».
Sem dúvida que, na nossa Galeria dos Fundadores,
temos de incluir este quase esquecido arcebispo de
Braga.I
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BOAVIDA
CONSUMO
LIVRO ABERTO
ARTES
Conselhos para férias,
desde as precauções
antes de partir, às
novas regras do
transporte aéreo, e
cuidados a ter na
compra de um Guia
de Viagens
O primeiro destaque
para a colectânea
poética “As Uvas e o
Vento”, de Pablo
Neruda, um dos
Nobel que vieram
para ficar.
O Museu do Chiado e
a Fundação
Gulbenkian
apresentam os
principais momentos
transformadores da
arte portuguesa.
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MÚSICAS
NO PALCO
Lena d`Água regressa
ao mercado
discográfico com o
CD/DVD “Sempre”,
uma bem sucedida
incursão ao jazz
cantado em
português.
Em destaque a sátira
musical, inspirada no
Marquês de Pombal e
concebida por Moita
Flores, numa parceira
com João Gil e Rui
Veloso.
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CINEMA EM CASA
“Ainda há
Pastores?”,um
notável documentário
de Jorge Pelicano
sobre uma dura e
solitária profissão, é
uma das sugestões do
mês.
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FILMES MEMÓRIA
À MESA
SAÚDE
Um apaixonante
regresso do cinema
português ao género
fantástico através do
perturbador filme
“Atrás das Nuvens”.
Escolher um alimento
para a nossa mesa é
tomar uma decisão
que afectará o nosso
organismo e a nossa
saúde a curto ou
longo prazo.
Só os parceiros que
dormem com os
doentes com apneia
do sono podem
testemunhar a
maneira como eles
ressonam.
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INFORMÁTICA
AO VOLANTE
PALAVRAS DA LEI
Imagine um monitor
sobre o qual se
escreva e pinte com
os dedos, rodem ou
dimensionem
fotografias e se
corram ficheiros e
pastas com as mãos?
Baseado no conceito
“X-Over Revolution”,
o novo Suzuki
SX4 é o terceiro
modelo inserido
na nova estratégia
mundial da marca.
Quem entrega uma
coisa, móvel ou
imóvel, a outrem,
para que a guarde e a
restitua quando for
exigida, constitui um
contrato de depósito.
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consumo184.qxp
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BOAVIDA
C O N S U M O
POSTAIS DE FÉRIAS
Em escrita de postal ilustrado, aqui ficam alguns conselhos para as suas férias. Das precauções antes de partir, às novas regras do transporte aéreo, passando pelos cuidados a ter na compra de um Guia de Viagens. E
também lhe falamos de animais. Dos que lhe fazem companhia ao longo do ano e dos que se fazem convidados durante as férias, mas cuja presença o leitor não deve apreciar...
I
Carlos Barbosa de Oliveira
I
nformações úteis antes de
partir: se antes de escolher o
seu destino quer obter informações preciosas sobre as
condições existentes em cada um
dos países que estão na lista das
suas preferências para as férias,
consulte o site da Secretaria de
Estado das Comunidades (www.se
comunidades.pt) .
Aí pode encontrar a lista de todos
os países, com informação sobre as
condições de segurança, regime de
vistos, condições climáticas, rede
sanitária e cuidados de saúde ( vacinas necessárias e alguns conselhos
sobre situações a evitar, no âmbito
da alimentação e dos hábitos diários de um europeu). Encontrará
também informações sobre a rede
de comunicações, a moeda local, os
transportes e sobre a necessidade
de fazer alguns seguros.
No caso de viajar para destinos
exóticos ou menos familiarizados
com o turismo, aconselhamo-lo a
fazer uma visita prévia ao site da
Organização Mundial de Saúde,
(www.who.int) que fornece informações muito úteis que lhe permitem preparar com cuidado as
suas férias.
GUIA DE VIAGENS
Para conhecer bem o país onde está
a passar férias, saber um pouco da
sua história, das suas tradições, dos
seus monumentos e da sua gas-
50 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
tronomia, é essencial um Guia de
Viagens. (Desaconselha-se, para o
efeito, a compra da revista brasileira
FATOS, para evitar encontrar descrições como a referente a Lisboa,
apresentada aos leitores como uma
cidade plana, cujos habitantes falam
fluentemente o espanhol, desapareceu quase totalmente após a II
Guerra Mundial e foi reconstruída
graças ao Marquês de Pombal, Primeiro Ministro da época! Incrível,
mas é verdade).
Se viajar por conta própria, sem
marcação prévia de hotéis e sem
destinos previamente definidos,
então aconselhamos-lhe mesmo a
compra de um bom guia. Para destinos exóticos, o “Survival Kit” temse mostrado uma opção acertada.
Boa informação, actualizada, quer a
nível dos locais indicados, quer dos
preços praticados. Também aí pode
encontrar alguns roteiros para fazer
nos mais diversos meios de transporte, inclusive a pé.
O “Guia Michelin” é outra opção,
melhor do que as que se encontram
normalmente nos países de destino.
SE VIAJAR DE AVIÃO
Não esqueça que a bagagem de
mão está sujeita, desde Novembro
de 2006, a medidas mais restritivas:
Limite de 100 ml de líquidos e por
embalagem; a bagagem de mão não
poderá ultrapassar as medidas de
56x45x25 cm, excepto quando se
trate de instrumentos musicais; os
computadores portáteis e outros
equipamentos de maior dimensão
terão de ser retirados das bolsas de
protecção e examinados ao raioX;
agasalhos (gabardines, sobretudos,
etc) terão igualmente que ser
examinados ao raio X.
CUIDADO COM AS ALFORRECAS
A cooperativa de consumidores
Eroski (com sede no País basco)
lançou o alerta: alforrecas atacam
no Mediterrâneo.
As alforrecas são, de há muito,
uma presença habitual nas costas
do Mediterrâneo, mas o que levou
a Eroski a lançar o alerta, foi o facto
de se prever que, durante o Verão
deste ano, o seu número triplique
na costa espanhola, aumentando
igualmente os efeitos dolorosos
das suas picadas.
Esta imigração em massa das
alforrecas para o Mediterrâneo
deve-se, segundo os especialistas,
ao aquecimento das águas, provocado pelas alterações climáticas.
Portanto, já sabe se quer voltar a
mergulhar nas belas águas mediterrânicas sem a companhia desagradável desses pegajosos seres, o
melhor é mesmo pensar em alterar
os seus hábitos de consumo para
padrões mais sustentáveis.
Entretanto, face à invasão de
alforrecas, o Instituto de Ciências
do Mar de Barcelona recomenda o
seguinte procedimento às vítimas
das suas picadas:
Lave a zona afectada com água
salgada (nunca use água doce);
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André Letria
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coloque um saco de gelo durante
15 minutos sobre a zona afectada
(nunca aplique o gelo directamente) e renove a operação
durante igual período de tempo se
a dor persistir; retire os restos do
tentáculo que tenham ficado na
pele; não limpe a zona afectada
com a toalha; evite o contacto da
zona afectada com a areia; no caso
de sentir alterações respiratórias,
convulsões ou alteração do ritmo
cardíaco, vá ao hospital ou chame
um médico.
QUE FAZER AOS ANIMAIS?
Se tem cães ou gatos e não sabe
que destino lhes dar durante as
férias, damos-lhe algumas pistas.
Se não quiser levá-lo consigo e
pensa deixá-lo num canil ou gatil, o
melhor talvez seja desistir da ideia,
porque a maioria destes estabelecimentos estão superlotados nesta
época do ano. O melhor é mesmo
optar por deixá-lo num hotel para
animais. Contudo, o melhor é verificar as condições em que vai deixar
o seu animal, pois enquanto alguns
destes estabelecimentos procuram
manter as rotinas a que os bichos
estão habituados em suas casas,
organizando actividades específicas para cada caso, outros há que
são meros depósitos de animais
onde os bichos ficam fechados em
contentores durante a estadia.
Se pertence ao grupo dos que
nem em férias dispensa a companhia do seu animal e vai viajar de
comboio, saiba que se o bicho pesar
mais de cinco quilos terá que pagar
meio bilhete.
Se a viagem for de avião e pretender levá-lo consigo, terá que o
acondicionar num contentor próprio. Mas atenção, porque o peso
não pode ultrapassar normalmente
os sete quilos! Em relação a tarifas,
há companhias aéreas que têm
“pacotes” para cães, pelo que deve
informar-se junto da transportadora.
E não se esqueça, no caso de viajar
para o estrangeiro, de se informar
acerca das exigências do país de destino em relação à entrada de animais. Para qualquer destino será
sempre necessário ter o boletim de
vacinas actualizado.
Finalmente, não caia na tentação
de preparar o seu cão para a viagem, dando-lhe calmantes (a não
ser por prescrição do veterinário),
pois normalmente afectam o comportamento dos animais.
Boa viagem e boas férias! I
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BOAVIDA
L I V R O
A B E R T O
DA POESIA DE NERUDA
À AVENTURA DO “MAYFLOWER”
Houve quem dissesse, quando o mundo descobriu o horror do Holocausto, que depois de Auschwitz
nuncas mais haveria lugar para a poesia.
I José
Jorge Letria
P
orém, neste mundo globalizado, apressado, em
permanente estado de
ansiedade e emergência,
com o terrorismo e o medo a globalizarem-se também, nunca a poesia foi tão necessária e balsâmica,
exactamente porque convida à interiorização, à espiritualidade e ao
encontro com o que em nós existe
de mais human, tolerante e sensível. Vai, assim, o primeiro destaque
desta crónica, para a colectânea
poética “As Uvas e o Vento”, de
Pablo Neruda, um dos Nobel que
vieram para ficar, com tradução do
excelente poeta e tradutor Albano
Martins.
Os poemas deste livro foram
escritos no início dos anos cinquenta,
quando o poeta e diplomata se
encontrava exilado. Neles se mistura
e entrelaça, como sempre, a estética
do mais puro dizer poético com a
ética de uma cidadania que nunca
recusou o compromisso político.
Ainda do Campo das Letras é “Os
Peregrinos Sem Fé”, de Sérgio Luís
de Carvalho, ficcionista com uma
obra consistente e digna da maior
atenção, que desempenha as funções de director do Museu do Pão,
na Guarda, com um trabalho museológico de reconhecida qualidade.
Ainda no domínio da ficção narrativa, merecido destaque para “A
Casa dos Encontros” (Teorema), do
inglês Martin Amis, filho de Kingsley Amis, e uma das vozes mais
52 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
marcantes e originais da ficção
britânica actual. Depois de “Koba”,
sobre Staline e o seu universo de
poder e de terror, Amis regressa ao
mundo concentracionário do Gulag,
narrando a história de uma relação
triangular entre dois irmãos e uma
jovem judia no conturbado período
que mediou entre o fim da guerra e
a morte do ditador, em 1953. Amis
na sua melhor forma.
Também da Teorema é “Insensatez”, de Horácio Castellanos Moya,
apontado como uma das mais
interessantes e inovadoras vozes da
ficção narrativa norte-americana
contemporânea.
Da mesma editora é “Peso”, na
colecção Mitos, obra de Jeanette
Winterson sobre o mito de Atlas e
Hércules. Mais um título de uma
colecção de grande qualidade e de
cuidado grafismo.
Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira voltaram a trabalhar juntos,
unindo texto e ilustração, em “Cinco Balas Contra a América”, da Oficina do Livro. Este é um livro sobre
o romantismo que anima o espírito
revolucionário, mas também sobre
a margem de desilusão e desencanto que acompanha as utopias.
Ao longo de décadas de história,
desde Março de 1921, não faltaram,
no PCP, rupturas, dissidências,
silenciamentos e também histórias
de verdadeiro heroísmo. “Álvaro
Cunhal e a Dissidência da Terceira
Via”, de Raimundo Narciso, com a
chancela da Âmbar, é o testemunho
sentido e vivido de um homem que
conheceu a duríssima experiência
da clandestinidade, que foi um
quadro destacado do braço armado
do PCP, a ARA, sobre a qual já publicou um livro, e que, depois do 25
de Abril, teve responsabilidades de
vulto no sector militar que o PCP
influenciava. Este livro ajuda a conhecer melhor a personalidade e a
liderança de Álvaro Cunhal e o
modo como o PCP lidava, implacavelmente, com a dissidência em
democracia.
Para quem gosta de literatura de
viagens, vai uma sugestão de leitura: a do livro “África Acima” (Oficina do Livro), de Gonçalo Cadilhe,
um olhar único sobre um continente fascinante, onde a pobreza, a
morte a guerra frequentemente
fazem esquecer a beleza paisagística e humana e a diversidade cultu-
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ral. Da mesma editora é o romance
“À Noite Logo se Vê”, de Mário
Zambujal, sempre com o seu estilo
inconfundível, que a marca do humor e de um imenso poder de
observação que o jornalismo apurou durante décadas.
Distinguido com o Prémio de
Poesia Marias Amália Vaz de Carvalho, o livro “Dois Corpos Tombando na Água” representa uma
auspiciosa incursão de Alice Vieira
nos domínios da poesia. Estamos
em presença de uma escrita madura, pujante e inspirada que traz a
marca da melhor poesia que actualmente se escreve em Portugal.
Foi em Plymouth que algumas
dezenas de puritanos criaram, no
século XVIII, a colónia que viria a
ser o berço da América inspirada
pelos valores morais e civilizacionais da Europa a expandir-se
para outras paragens. Nathaniel
Philbrick narra, em “Mayflower”,
de Publicações Europa-América o
que foi essa gesta de homens e mulheres que enfrentaram a doença, a
guerra, o medo do desconhecido e
que lançaram as bases de um puritanismo ainda hoje identificável nas
crenças e nas práticas de uma boa
parte da população norte-americana.
“Todo-o-Mundo” (Dom Quixote)
é, sem dúvida, um dos mais notáveis textos de ficção de Philip Roth,
um dos grandes mundiais contemporâneos. No centro desta narrativa
está uma singular visão do Homem,
da vida e da morte, da saúde e da
doença e também do conceito de
finitude da existência humana.
Destaque para quatro títulos de
ficção narrativa portuguesa recentemente editados: “O Pescador de
Girassóis”, do jornalista António
Santos, ex-assessor de comunicação
social do Primeiro-Ministro António
Guterres,”A Mulher de Mármore”,
Page 53
novo romance de Ana Miranda,
“Estranha Forma de Vida”, (Oficina
do Livro) de Carlos Ademar, sobre o
tráfico de mulheres, drogas e armas
no Portugal de hoje, e ainda “O Que
Entra nos Livros”, de António Manuel Venda, um nome de créditos já
confirmados na literatura portuguesa de ficção dos últimos anos. A
estes destaques, um outro se acrescenta, pela importância da obra e do
seu autor. Trata-se, com a chancela
da Dom Quixote, do primeiro volume das Obras Completas de
Urbano Tavares Rodrigues, nome
incontornável da literatura portuguesa contemporânea. Neste volume incluem-se os livros “A Porta
dos Limites”, “Vida Perigosa” e “A
Noite Roxa”, títulos obrigatórios
numa obra que se impõe pela sua
originalidade, diversidade temática
e invulgar qualidade literária.
Por seu turno, a Campo das Letras
acaba de lançar o livro que assinala
a estreia poética de Fernando Tordo,
com o título “Quando Não Souberes
Copia” e “Sermão de Nossa Senhora
do Rosário”, do Padre António Vieira, com introdução e desenhos de
Severino.
“A Abertura das Palavras” é o título de uma recolha de ensaios de literatura portuguesa de Álvaro Manuel Machado, docente universitário, ficcionista e grande ensaísta.
Nesta edição da Presença encontram-se textos sobre as obras de
grandes escritores portugueses, de
Teixeira de Pascoaes a José Cardoso
Pires. A não perder.
Com a chancela da Assírio &
Alvim e o apoio da Câmara de Vila
Franca de Xira acaba de ser editado
o álbum “Cartoons do Ano de 2006”,
de António, Cid e Maia, com a qualidade que aos três é reconhecida, a
nível nacional e internacional. Humor certeiro e aguda crítica política
e social. I
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T
E
S
MOMENTOS TRANSFORMADORES:
DO MUSEU DO CHIADO À GULBENKIAN
Quase simultaneamente, no Museu do Chiado e na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, são-nos
dados a ver os principais momentos transformadores da arte portuguesa.
I Rodrigues
Vaz
N
o primeiro, obras de artistas portugueses da década de 60 de dois séculos
diferentes – XIX e XX –
tendo em comum o facto de serem
duas épocas em que se registaram
mudanças artísticas. Na segunda,
uma selecção de obras do Centro de
Arte Moderna escolhidas em articulação com a documentação de arquivo sobre os artistas apoiados
pela Fundação, desde 1957 até à
actualidade, igualmente protagonistas de muitas mudanças.
“Anos 60 – Momentos transformadores, sec. XIX e XX” é o tema
proposto para a nova exposição
temporária que vai estar no Museu
do Chiado - Museu de Arte Contemporânea, até 23 de Setembro
próximo. A mostra, que tem como
curador Pedro Lapa, que também é
o director do museu, parte da
colecção existente na instituição e
reúne dois períodos afastados por
um século e que poucas relações
estéticas têm entre si.
Ocupando dois pisos do museu, a
exposição não mistura os dois séculos, apresentando os artistas de cada
uma das décadas em separado,
deixando para o visitante as possíveis
interpretações e paralelismos de cada
uma das épocas artísticas. De meados
do século XIX, que regista o aparecimento do Romantismo, estarão representados artistas como Soares dos
Reis, Alfredo Andrade, Tomaz de
Anunciação e Miguel Ângelo Lupi.
54 TempoLivre
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Uma manhã em Creys, de Alfredo de Andrade (1863), no Museu do Chiado
Pintura de António Areal, um dos integrantes da exposição “50 anos de Arte Portuguesa”
Já dos anos 60 do século XX, marcados pela guerra colonial, pelos
últimos anos do Estado Novo, pela
pop art ou pela cultura de massas, a
mostra apresenta, por exemplo,
Helena Almeida, Nikias Skapinakis,
Ana Hatherly e Eduardo Nery. René
Bértholo e Lourdes Castro, fundadores do grupo artístico KWY,
também integram a exposição.
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Por sua vez, a exposição “50 Anos
de Arte Portuguesa”, que vai poder
ser visitada até 9 de Setembro, na
Fundação Gulbenkian, foi concebida pela investigadora Raquel
Henriques da Silva, centrando-se
no cruzamento entre colecção e
documentação, o que permite ao
público percorrer o processo criativo dos artistas, dos relatórios de trabalho às obras, elas mesmas lugar
de novos questionamentos.
SÉRGIO POMBO NA VALBOM
De invenções líricas se pode falar,
entretanto, acerca da actual exposição que Sérgio Pombo - um dos 120
artistas que integra a exposição da
Gulbenkian - tem patente até 22 de
Setembro na Galeria Valbom, Lisboa,
em registos que têm tanto de ousado
como de propostas originais, apesar
de serem o prolongamento do percurso iniciado, com algum furor, nos
idos de 70.
Vigoroso criador de âmbitos oníricos submetidos a uma trama pictórica urdida com eficácia, Sérgio Pombo
joga sobretudo com textura, desenho, cor, luz, espaço, geometria, técnica e composição, os quais convivem de forma harmónica, sem deixar
nunca que o rigor na sua utilização
afogue o sentimento de uma obra
cálida e profundamente emocional.
Como realça, aliás, Nuno Nabais,
«…a um nível profundo, ao explorar
as formas, não é senão a memória
que Sérgio Pombo pinta. Não tanto
memórias particulares mas a memória ela mesma, esse fundo primordial,
espaço que tudo absorve e confunde
e por onde apenas o real pode ser
convocado, provado, pelo modo
próprio e único que a memória tem
de trabalhar o tempo e de nele deixar
o tempo temporalizar-se.»
Noutra direcção, porque fundamentada sobre realidades étnicas que
recusam a matriz urbana, por contra-
Composição de Sérgio Pombo
Óleo de Alcínio Vicente
reacção, se inscreve a exposição “Respigos da memória”, de Alcínio Vicente, na Galeria Artela, Lisboa, até 31
de Julho. Como diz o pintor: «Os tempos mudaram. Hoje a aldeia está agonizante, mergulhada num silêncio
profundo e ensurdecedor, apenas o
vento com suas caprichosas curvas se
faz ouvir. Envolto em seus misteriosos
pensamentos, o venerando ancião
caminha vergado pelo peso das suas
muitas recordações por certo questionando-se sobre que maldição assombrou a sua aldeia.» I
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«PÉROLAS»
DE LENA D’ÁGUA
Lena d`Água acaba de regressar ao mercado discográfico
com o CD/DVD “Sempre”, numa bem sucedida incursão
ao jazz cantado em português.
I
Victor Ribeiro
«
P
érolas encontradas no
baú da minha memória
afectiva», é assim que
Lena d`Água classifica
as dez canções agora apresentadas,
surpreendentemente recriadas e
gravadas ao vivo, em Dezembro de
2005, no Hot Clube de Portugal, em
Lisboa.
O CD, que integra 10 temas de
outros tantos autores portugueses,
abre com as canções “No Fundo dos
Teus Olhos de Água” e “Labirinto”,
de Luís Pedro Fonseca, músico fundador do “Salada de Frutas”, em
Setembro de 1980, com Zé da Ponte
e a própria Lena d`Água.
Significativamente (estamos, afinal, perante quase trinta anos de
cumplicidade criativa), o tema de
fecho é também da autoria de Luís
Pedro: ”Sempre que o Amor Me
Quiser”. As restantes canções foram seleccionadas entre os principais sucessos de José Mário Branco,
Jorge Palma, Sérgio Godinho e
António Variações.
No que se refere aos músicos,
Lena fez-se acompanhar por quatro
dos mais competentes executantes
do jazz nacional da actualidade:
Bernardo Moreira, João Moreira,
André Fernandes e Marco Franco.
“Sempre” surpreende, sobretudo,
pela serenidade da interpretação
de Lena d Àgua, que fez da sobriedade a sua principal “arma”,
56 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
evitando a tentação fácil de produzir estridentes efeitos guturais
de grande espectacularidade, mas
de retinto mau gosto.
Recordemo-nos, enfim, que, atrás
deste trabalho, estão mais de 30
anos de uma carreira nem sempre
devidamente valorizada pela crítica
“especializada”, ou por alguns sectores menos esclarecidos do chamado grande público.
Em abono da verdade (valor cada
vez menos perseguido), saliente-se
que Lena d´Água, com invulgar
generosidade e peculiar coragem,
sempre nos tem dado o melhor de
si, tanto quanto tem conseguido,
em cada momento da sua vida.
Lena d`Água “Sempre”!
«MUJERES» SEGUNDO
ESTRELLA MORENTE
Do sul de Espanha, da Andaluzia
profunda, chega-nos o CD/DVD
“Mujeres”, da cantora Estrella Morente, de audição obrigatória.
Nascida em Granada, há 26 anos,
filha do maestro Enrique Morente e
da bailarina Aurora Carbonell e
neta do guitarrista Montoyita (todos eles intervêm no CD), Estrella
tornou-se mais conhecida do grande público ao dobrar a voz da actriz
Penélope Cruz, na interpretação do
clássico “Volver”, de Carlos Gardel,
no filme de Pedro Almodôvar, com
o mesmo título.
Estrella encontra-se na vanguarda dos novos intérpretes de flamenco, género musical que se transformou numa das principais referências da cultura popular da
Andaluzia.
Com este novo trabalho discográfico, Estrella Morente presta uma
homenagem à mulher, designadamente ao interpretar canções dedicadas a Nina Simone ou a Penélope
Cruz. De entre os autores escolhidos pela cantora, destacam-se Dolores Durán, Astor Piazzola, Federico Garcia Lorca...
Estrella Morente é já parte integrante do futuro do flamenco. I
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Ao Vivo
JULHO
dia 15 > Nouvelle Vague e
Aimee Mann
General Levy + Robbo Ranx,
Steve Vai
Patrícia Vasconcelos
Coliseu dos Recreios, Lisboa
Steel Pulse, Soldiers of Jah
Porto, Casa da Musica > dia 9
Jardim do Casino Estoril
> dia 25
Army e Manif3stos
Lisboa, Aula Magna > dia 10
dia 19 > Horace Andy & Dub
Asante Band + Incógnito
Dance Station
Dia 4 > Groove Armada, The
AGOSTO
Streets, Sam the Kid, Sérgio
Festival Sudoeste TMN
Godinho, Air Traffic, Australian
Lisboa >dia 12
Festival Delta Tejo
Zambujeira do Mar
Pink Floyd (after-hours), Koop,
>Estacão do Rossio
Polo Universitário – Alto da
Dia 2 > Damian Marley,
Patrick Wolf, Sondre Lerche,
Tiga (DJ Set), The Chemical
Ajuda, Lisboa
Editors, Gilberto Gil, Mayra
Sonic Junior, Vanessa da Mata,
Brothers, Justin Robertson (DJ
dia 20 > Filarmónica Gil,
Andrade, I’m from Barcelona
Tiago Bettencourt, Eta Carinae,
Set), Erol Alkan (DJ Set),
TerraKota e Loto
Cassius (after – hours), Rui
Sounds Portugueses, Saian
D.I.M., Proxy e Jori Hulkonnen
dia 21 > Tito Paris, Mesa e
Vargas, The Noissetes, Camera
Supa Crew, Martin Jondo e
(DJ Set)
Pedro khima
Obscura e Ojos de Brujo
Stepacide.
>Coliseu dos Recreios
dia 22 > Mundo Secreto, Cool
Dia 3 > Cypress Hill, The
Dia 5 > James, Mika, Phoenix,
Simian Mobile Disco,
Hipnoise e Souls of Fire
Cinematics, Just jack,
Razorlight, Babylon Circus, The
Outlandish, Armandinho
National, Of Montreal, Trail of
Faro, Vale das Almas
Buraka som sistema (after-
Dead, Tara Perdida 2008, Rui
Orishas> dia 20
hours), Mary Ann Hobbs,
Vargas, Stereo Addiction, Pow
Joe Cocker> dia 21
Bonde do Rolé, Data Rock,
Pow Movement, Tiken Jah
Balla, Os Lambas, Nastio,
Fakoly, Yellowman e Alioune K
Fischerspooner, Junior Boys,
Air, Digitalism
Cool Jazz Fest
Casa da Pesca, Oeiras >
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BOAVIDA
N O PA L C O
A RECUSA DO MARQUÊS
De um país cheio de pulgas trata esta sátira musical, inspirada no Marquês de Pombal
e concebida por Moita Flores, numa parceira com João Gil e Rui Veloso,
em cena até meados de Agosto no novo espaço do Teatro Independente de Oeiras.
I
Maria Mesquita
«
A
história hesita entre a
farsa e a comédia. É
uma crítica mordaz sublinha o autarca e
escritor - à nossa classe política, às
ligações ao futebol, à falta de ideias
e ideais, ao populismo. Um tipo
chega a primeiro-ministro por ter
sido um militante dedicado do partido. Durante anos serviu cervejas
no bar da sede do partido. Grande
colador de cartazes e rapaz de
grandes talentos para organizar
sardinhadas e comícios ao ar livre,
em zonas campestres. Tal qualidade
entregou-lhe a fama de ambientalista. Chegou a primeiro-ministro
por desistência. Mais ninguém queria ser e o homem decide transformar radicalmente o país. Na escola
onde andou, e diga-se desde já que
Marquês de Pombal,
entre a farsa e a
comédia
58 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
não chegou a terminar, a professora
falara do Marquês de Pombal com
grande reverência. Admirava, pois,
o homem que reconstruíra Lisboa
embora pouco soubesse sobre a sua
acção política. Ah, também sabia de
cor a cantiga “Sebastião come tudo,
come tudo/ Sebastião come tudo
sem colher/ Sebastião fica todo barrigudo/ Chega a casa dá porrada na
mulher”, coisa que atribuía directamente à grande fama de Sebastião
Carvalho e Melo. Rijo na política,
rijo em casa. Um Homem a sério.
Tudo parece correr bem mas uma
praga de pulgas ataca o país. É preciso tomar medidas. Há pulgas por
todo o lado. Recorre-se ao ministério da agricultura para ‘despulgar’ mas não dá resultado. O ministério do Ambiente criou várias
comissões. A luta para saber quem
entra nas comissões leva tempo e as
pulgas multiplicam-se. A Assembleia da República foi desinfestada,
sem resultado. Os deputados dão
sopapos no pescoço uns dos outros
para matar o bicho. Nunca viu unidade assim. O país coça-se de alto a
baixo. O governo coça-se, o primeiro-ministro coça-se. O ministério da Saúde não dá para as encomendas e o do Comércio lançou
campanhas de publicidade para
venda de coçadores eléctricos….
Só no final o Marquês dá a solução. Tomar banho, lavar as orelhas, limpar ruas e fossas. As pulgas
não gostam de higiene e o país está
porco como nos tempos do “Ancien
Regime”. Lixeiras a céu aberto, rios
contaminados, hospitais infectados.
O primeiro-ministro, farto de se
coçar, pede ao Marquês que o substitua. Este hesita. Acaba por não
aceitar. Já aturara noutra vida a
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Queres fazer amor
comigo?a
Nove personagens
interpretadas por
cinco actrizes
mesma porcaria que agora lhe pediam para governar.»
Ficção ou realidade? A decisão
caberá a cada espectador…
QUERES FAZER
AMOR COMIGO?
Será que o papel tradicional da mulher, no relacionamento sexual, resulta de factores exclusivos do ser
feminino e/ou de valores morais e
culturais? Esta peça, encenada e dirigida por Henrique Félix, em cena
na sala Estúdio do Trindade, pretende lançar o debate e reflexão sobre questões habitualmente tratadas
em privado. As nove personagens,
todas mulheres e de profissões diversas, para além de confessarem
segredos ou histórias “inconfessáveis”, interrogam-se sobre o significado da frase: fazer amor. Em que
contexto é que ter relações sexuais é
ou não fazer amor? A que nos referimos nós quando dizemos que fazemos amor? Nove mulheres para
outras tantas respostas…
Com uma duração de cerca de
uma hora e meia o espectáculo tem
uma atractiva componente musical:
dezassete músicas instrumentais e
cantadas ao vivo. As nove personagens são interpretadas por cinco
actrizes. As nove personagens são:
Teresa – chefe de cozinha de um
restaurante erótico; Elsa – ex-cantora lírica; Helena – médica; Filomena
– secretária; Marta – advogada;
Patrícia – professora de alemão;
Umbelina – dona de casa; Soraya –
prostituta e Felícia – escritora.
PIRATAS! O MISTÉRIO
DE MARIA DE LA MUERTE
Para ver, também até finais do mês
de Julho, a peça encenada pela
Companhia de Teatro das Beiras,
“Piratas! O mistério de Maria de la
Muerte”, viajará até à Covilhã, Lousada, Braga, Serpa e Lisboa (CCB),
passando por Castelo Branco e terminando em Meda. Dedicada à
pirataria dos mares, contada por
uma aprendiz da pilhagem marinha, numa época de filmes dedicados a este tema, será um bom serão
veraneio, com sabor a mar.
Com um ritmo alucinante e
hilariante o Capitão conta e revive
as suas grandes conquistas, com a
ajuda dos novos tripulantes, enquanto estes se sujeitam aos espantosos testes de acesso ao mundo da
pirataria. I
FICHAS TÉCNICAS
MARQUÊS DE POMBAL
(edifício espelhado mesmo em frente à praia
gráfico: Leonor Oliveira; Maquilhagem:
Autor: Francisco Moita Flores; Música: Rui
de Sto. Amaro de Oeiras).
Raquel Frazão; Produção: Henrique Félix.
Veloso e João Gil; Encenação e cenografia:
Horário dos espectáculos: 5ª, 6ª e Sábados:
Teatro da Trindade, Sala Estúdio; Até 29
Carlos d’Almeida Ribeiro; Coreografia:
21h30; Domingos: 16h
Julho; 4ª-feira a sábado às 22h00 e domin-
Eduardo Ramos; Figurinos: Ana Saraiva
go às 17h00; Duração 75 min, M/16
Interpretação: Carlos d`Almeida Ribeiro;
QUERES FAZER AMOR COMIGO?
Vitor Coelho; Carlos Neves; Lourenço
Autoria/Encenação: Henrique Félix; Direcção
PIRATAS! O MISTÉRIO
Henriques; Filipe d`Aviz; Rita Ribeiro;
Plástica: Bruno Guerra; Direcção Musical:
DE MARIA DE LA MUERTE
Eduardo Viana; Igor Sampaio; Daniela
António Neves da Silva; Movimento:
Encenação: Graeme Pulleyn; Cenografia e
Ruah; Rita Viegas; Pedro Ramos e
Margarida Pimenta; Apoio vocal: Sara Belo;
figurinos: Helen Ainsworth; Interpretação:
Frederico Pires
Interpretação: Ana Videira, Cátia Ribeiro,
João Nuno Costa, Filipa Teixeira, Teresa
Até 15 de Agosto no Novo Espaço - Edifício
Jeny Romero, Rita Frazão e Sílvia
Baguinho, Sara Silva, Rafael Freire, Paulo
Parque Oceano, Sto. Amaro de Oeiras
Balancho; Fotografia: Diogo Gama; Design
Miranda.
Julho/Agosto 2007
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BOAVIDA
CINEMA EM CASA
REGRESSOS
I
Sérgio Alves
E
ara um tranquilo e cálido tempo de veraneio, as
nossas sugestões começam no regresso do
pugilista mais famoso do mundo, Rocky Balboa,
em nova e intensa interpretação de Sylvester
Stalone. Segue-se uma fascinante viagem, “Dreamgirls” à
ROCKY BALBOA
DREAMGIRLS
Rocky já não combate,
dirige um restaurante
onde partilha com os
clientes histórias de todos
os
combates
travados
dentro do
ringue.
Com a
morte da
mulher e um filho para
criar tem uma tarefa
árdua: conquistar o amor
de um filho que não o
aceita. Um bom filme e
um retrato interessante
desta nova América, bem
diferente da dos anos
Reagan, durante a qual
Rocky o actor, e o Lutador
se afirmaram. A
mensagem do filme é
clara: nunca desistam de
lutar...
A história de um novo
género músical R&B, as
Supremes e o
aparecimento de Diana
Ross. Um filme conseguido
quer pela beleza plástica
quer pela música mas
sobretudo pelas excelentes
interpretações de Beyoncé
Knowles, Eddie Murphy,
Jamie Foxx e da estreante
Jennifer
Hudson
que, após
vencer o
concurso
televisivo
Operação
Triunfo, arrebatou o Óscar
para melhor Actriz
secundária. Uma
adaptação eficiente de um
musical de sucesso da
Broadway ao Cinema com
uma banda sonora
inesquecível, ritmo
alucinante, cor e emoção
para a descoberta (ou
matar saudades) dos anos
50, 60 e 70.
TÍTULO ORIGINAL:
Rocky Balboa
REALIZAÇÃO: Sylvester
Stallone; COM: Sylvester
Stallone, Burt Young, Milo
Ventimiglia, Antonio Tarver;
EUA, 103m, cor, 2006;
EDIÇÃO: Lusomundo
60 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
DreamGirls;
Bill Condon;
COM: Beyoncé Knowles,
Jamie Fox, Eddie Murphy,
Danny Glover, Jennifer
Hudson; EUA, 131m, cor,
2006; EDIÇÃO: Lusomundo
TÍTULO ORIGINAL:
REALIZAÇÃO:
música negra norte-americana dos anos 50 e 60. Para a
década de 70, um convite à descoberta da tenebrosa época
do Uganda de Idi Amin. Finalmente, uma sugestão
nacional: o notável documentário de Jorge Pelicano sobre
uma dura e solitária profissão. “Ainda há Pastores?”, realizado nas agrestes montanhas da serra da Estrela, é um
retrato singular de um Portugal quase desconhecido. I
O ÚLTIMO
REI DA ESCÓCIA
O médico de origem
escocesa Nicolas Garrigan
vai de
férias para
o Uganda
à procura
de animais
selvagens
e
aventura. Um acidente de
carro no meio da savana,
leva-o a conhecer o
grande Ditador do
Uganda Idi Amin que,
mais tarde, o contrata
como seu médico
particular e conselheiro.
Amin Chega ao poder no
Uganda em 1971 e depois
de prometer muito ao seu
povo transforma-se num
ditador temível. O filme,
basado no romance de
Giles Foden, teve enorme
repercussão junto do
público, em parte graças
ao papel interpretado por
Forest Whitaker, notável
na construção desta
figura histórica tão
complexa e contraditória
que lhe valeu o Óscar
para Melhor Actor.
TÍTULO ORIGINAL:
The Last
King of Scotland;
REALIZAÇÃO: Kevin
Macdonald; COM: Forest
Whitaker, James McAvoy,
Kerry Washington; EUA/GB,
121m, cor, 2006;
EDIÇÃO: Castello Lopes
AINDA HÁ PASTORES?
Casais de Folgosinho não
é um lugar. Não tem luz
nem água canalizada.Tem
caminhos por entre as
montanhas da Serra da
Estrela.Dantes era um
santuário de pastores.
Hermínio,
27 anos,
contraria
o fim.
Dizem
que é o
pastor
mais
novo, mas também o mais
doido. Sozinho, rádio na
mão, rasga montanhas ao
som das cassetes do
popular cantor Quim
Barreiros, que sonha, um
dia, conhecer.
TÍTULO ORIGINAL:
Ainda Há
Pastores?; Documentário;
REALIZAÇÃO: Jorge Pelicano;
Portugal, 72m, cor, 2006;
EDIÇÃO: Costa do Castelo
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BOAVIDA
FILMES COM MEMÓRIA
NO CÉU DO ALENTEJO
Um apaixonante regresso do cinema português ao género fantástico
através do perturbador filme Atrás das Nuvens
I
Fernando Dacosta
E
m certas horas do Verão, a
planura do Alentejo cria
com frequência reverberações que decompõem a
paisagem e dilatam o tempo.
Quando a imaginação se solta, os
mais sensíveis sentem-nas, vêemnas emergidas de mundos iniciáticos que se lhes desocultam para
melhor se lhes ocultar.
As páginas de um Manuel da
Fonseca, de um Urbano Tavares Rodrigues, de um Fernando Namora
captam essa dimensão surreal (que
eles afirmam verídica) coada de
sons e imagens, de melancolias e
apaziguamentos únicos.
Não é, porém, o neo-realismo que
vulcaniza, ali, a terra, os sentimentos, os sonhos, as renúncias, as sufocações, mas o pulsar onírico que orvalha de sagrados e mistérios o território à volta.
Captando-o com rara subtileza,
José Queiroga, jovem realizador (filho do inesquecível Perdigão Queiroga) incrusta-lhe, através de uma
história fabulosa, um filme nota-
bilíssimo, belíssimo, jóia ímpar no
actual colar cinematográfico nacional. Sensível, discreta, a sua câmara
torna-se um olhar afectuoso, como
poucas vezes temos recebido, sobre
as pessoas e as paisagens que apetece rever, reter, guardando-lhe para sempre a respiração do (elipticamente) não dito.
Formatada pela indiferenciação
vigente, a crítica convencional não
comungou, não assinalou, porém,
como devia a sua existência, numa
preconceituosa reacção que já nos
habituámos, aliás, a ver-lhe. Esperemos que a RTP, por exemplo, o
não deixe esquecido, proporcionando-lhe a urgente, merecida visibilidade.
Excepcional director de actores (e
de técnicos), Jorge Queiroga pega
num (maravilhoso) garoto de 10
anos, Ruben Leonardo, num genial
Nicolau Breyner e numa dolorida
Sofia Grillo, entre outros intérpretes, e dá-nos uma obra verdadeiramente luminosa.
Através de situações muito simples narra, nela, a procura, e o encontro, e a cumplicidade de um
neto com o avô, que até aí se
desconheciam, a viverem em Lisboa, o primeiro, e num monte de
próspera herdade alentejana, o
segundo. Homem de pacatos delírios, este entrega-se (depois da
morte do filho num acidente de automóvel conduzido por si quando
se dirigiam para a maternidade onde o neto estava a nascer) a simular
viagens pelo espaço e pelo tempo,
pela memória e pela evasão, dentro
de um «Boca da Sapo» impecável
de funcionamento, apesar de há
anos imobilizado em cima de sólidos barrotes de madeira.
O garotinho entra, fascinado, e
nós com ele, nas suas viagens mágicas sobre as nuvens, sobre a realidade, sobre o passado, sobre o
pressentido. Todos os que rodeiam
o avô (engenheiro cimentado à
terra), governanta, criados, feitores,
amigos, aceitam-lhe e compartilham-lhe as fantasias – sobretudo as
que se passam muito no alto, atrás
das nuvens visíveis para lá do párabrisas do emblemático Citroën adornado num Alentejo veementemente voador. I
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BOAVIDA
À
M E S A
ÉTICA À MESA
Ao escolhermos um alimento para a nossa mesa estamos a tomar uma
decisão que afectará o funcionamento do nosso organismo e a nossa
saúde a curto ou longo prazo. Mas estamos também a tomar uma
decisão, de certa maneira, ética, política e económica.
I Pedro
Soares
O
u seja, ao optar por comprar uma banana proveniente da Madeira ou do
Equador estamos a escolher alimentos produzidos a distâncias muito diferentes das nossas
mesas, as quais implicarão custos
ambientais distintos. Assim, os produtos provenientes da produção
local e da época, permitem de um
modo geral, reduções significativas
na utilização de energia e, provavelmente, nas emissões de gases com
efeito de estufa. Sabemos hoje que o
transporte de alimentos por via
rodoviária é um dos factores determinantes para a poluição atmosférica, resultante da emissão de partículas pelos camiões de grande tonelagem e também pelos gastos de
combustível. Também a forma como
nos fazemos transportar para comprar alimentos é outro factor importante para o consumo de energia e
emissão de gases com efeito de estufa. Recentemente, foram publicados
diversos trabalhos científicos onde
se comparam diferentes formas de
aceder às lojas de produtos alimentares. A utilização de automóvel particular é uma das mais
poluentes e também aquela que
muita gente usa para aceder aos
supermercados, cada vez mais
longe das nossas casas. Em Inglaterra, o transporte de alimentos
através do automóvel e entre a
habitação e as lojas alimentares,
representa já, 48 % do total dos km
realizados por um alimento até
chegar aos nossos pratos. Uma
opção poderá passar por escolher
lojas alimentares que vendam frescos perto de nossa casa e onde possamos ir a pé regularmente, por
exemplo, e deixar os produtos mais
pesados para o transporte de automóvel. Que poderá ser utilizado
mais esporadicamente.
Mas estas opções amigas do
ambiente poderão ter custos económicos, implicarem na utilização
do nosso tempo livre e até na nossa
organização diária. Serão opções
éticas com as quais somos confrontados se quisermos deixar um
planeta habitável para os nossos filhos e netos.
Outra questão alimentar mas que
se tem vindo a transformar numa
questão de ordem ética é o desperdício calórico. Existindo tantas crianças
e adultos mal nutridos nos países do
sul como é possível continuarmos a
consumir tantas calorias em excesso,
e que ainda por cima são fonte de
peso excessivo, perturbador da nossa
saúde? Em Portugal, apesar de não
existirem dados precisos sobre o
aumento de energia consumida
através dos alimentos, estima-se que
possa ter aumentado de 2780 calorias
nos finais dos anos 70 para 3750 calorias em 2001-2003. Nos Estados
Unidos, esse aumento cifrou-se entre
1983 e 2000, em mais 600 calorias.
Para fornecer essa energia são necessários utilizar mais 100.6 milhões
de hectares por ano, com a correspondente utilização de substâncias
químicas, produção de energia,
emissões de gases com efeito de estufa etc. Tudo isto para aumentar a
ingestão diária de produtos alimentares, a maior parte deles fornecedores de calorias proveniente da
gordura e açúcar com reduzido valor
nutricional mas de grande valor
energético contribuindo ainda mais
para a pandemia de obesidade que
grassa nas sociedades modernas. São
assuntos, sobre os quais vale a pena
meditar, nesta época de excesso
calórico e globalização alimentar. I
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BOAVIDA
S A Ú D E
APNEIA DO SONO…
OU A HISTÓRIA QUE SÓ
O OUTRO PODE CONTAR
Na verdade só os parceiros que dormem com os doentes com apneia do sono podem
testemunhar, e quase sempre com desagrado, a maneira como eles ressonam…
I
M. Augusta Drago
R
essonar é o ruído causado
pela vibração das mucosas,
quando o ar passa por um
percurso apertado, nas
vias aéreas superiores que vão desde
o nariz até à laringe. Na apneia do
sono, ao ressonar, segue-se um curto
período em que o doente não respira
e que é interrompido por um despertar agitado e angustiado.
A apneia do sono consiste na suspensão temporária da respiração
durante um ou dois ciclos respiratórios. Depois desta pausa involuntária, o doente acorda agitado e com a
sensação de falta de ar. Esta situação
repete-se ao longo da noite e faz com
que o doente se sinta no dia seguinte
cansado e sonolento.
Se o doente não se queixa e se a
apneia do sono não é identificada e
tratada, a longo prazo pode contribuir
para o aparecimento de hipertensão
arterial, insuficiência cardíaca e até
morte súbita.
A sonolência e a falta de atenção,
causadas pela privação do sono
repousante durante a noite, fazem
com que estes doentes tenham um
risco acrescido – entre duas a sete
vezes mais – de acidentes rodoviários,
em comparação com pessoas
saudáveis.
O Sr. J. L. é motorista profissional de
pesados. Faz longas viagens para
entregar mercadorias no país e no
estrangeiro. Tem de cumprir prazos
André Letria
de entrega, o que nem sempre é fácil.
Tem noites em que mal dorme e
noutras noites, em que podia descansar, queixa-se de que acorda de
manhã, com a sensação de não ter
dormido. Durante a consulta constatei que a mulher já se tinha queixado que ele ressonava durante o sono e
acordava momentaneamente agitado
várias vezes durante a noite.
Para além desta história, muito sugestiva de apneia do sono, o Sr. J.L.
tinha engordado e à data pesava mais
20 Kg do que era desejável para a sua
estatura e idade. As refeições eram
acompanhadas sempre com uma
bebida com álcool e para dormir à
noite tomava sedativos.
Enquanto aguardava fazer a polissonografia para confirmar ou não o
diagnóstico de apneia do sono, combinámos iniciar um programa alimentar e de exercício físico para perder
peso. Acordámos ainda que não voltava a beber álcool durante a semana e
ao fim de semana reduzia a quantidade para metade do habitual.
Também não tomaria sedativos para
dormir, porque estas duas substâncias
podem por si sós induzir a apneia.
Efectivamente o Sr. J.L. sofre de
apneia do sono, do tipo obstrutivo, a
qual, felizmente no seu caso, tem
tratamento definitivo mediante correcção cirúrgica da nasofaringe. O
doente porém recusou a cirurgia e
optou por um tratamento conservador, não cirúrgico, a terapia com
CPAP, mais algumas medidas para
uma boa higiene do sono - evitar
dormir de barriga para o ar, tratar a
obstrução nasal e continuar com o
programa para perder peso.
A terapia CPAP é considerada de
primeira linha e eficaz no tratamento
da apneia do sono do tipo obstrutivo.
Trata-se de um equipamento que fica
colocado ao lado da cama do doente e
ao qual ele se liga durante a noite,
colocando uma máscara nasal ou
facial através da qual lhe é fornecido
ar sob pressão positiva.
Nos estudos que têm sido feitos
para avaliar este tratamento, verificou-se que diminui a sonolência e
melhora consideravelmente a qualidade de vida dos doentes. Porém,
muitos doentes abandonam o tratamento porque não conseguem adaptar-se a dormir ligados à máquina. No
entanto, existem vários tipos de máscaras e estudam-se novas soluções
para diminuir os inconvenientes sentidos pelos doentes.
O tratamento cirúrgico destina-se a
doentes que não se adaptam ou não
sentem melhoria adequada com CPAP.
É normalmente um tratamento individualizado, que inclui cirurgia facial e
da orofaringe para corrigir eventuais
malformações congénitas, que constituam obstruções ao fluxo do ar.
Os tratamentos que hoje dispomos
para a apneia do sono são eficazes e
pensados para dar resposta individual a cada doente de acordo com as
dificuldades sentidas. I
[email protected]
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BOAVIDA
TEMPO INFORMÁTICO
TECNOLOGIAS
EM PROGRESSO
As novidades em computadores e outros equipamentos com eles relacionados não param de nos espantar, dando-nos uma visão maravilhosa
que contrasta com certos desequilíbrios deste mundo global em que vivemos. Talvez para não perder de todo a esperança de que o homem mudará
alguns dos rumos que desumanamente tem percorrido.
I
Gil Montalverne
P
odem imaginar um monitor que pareça a superfície
do tampo de uma mesa,
colocado na horizontal e
sobre o qual se escreva e pinte com
os dedos, rodem ou dimensionem
fotografias e se corram ficheiros e
pastas com as mãos? Pois esse computador já existe. Com a nova tecnologia chamada “domino tagging”,
a Microsoft apresentou um computador gigante, chamado precisamente “Surface”. Com ecrã táctil,
tudo funciona apenas com os nossos
dedos e mãos tocando em menus,
botões, etc. O objectivo foi melhorar
a interacção entre pessoas e computadores, através do reconhecimento de toques, gestos e diversos
objectos. Transforma o real em virtual. Coloca-se um objecto sobre o ecrã
e este identifica-o, reproduz a sua
imagem e a partir daí interagimos
com ele. Podemos modificá-lo, colori-lo, redimensioná-lo, etc. Tocamos
com os dedos na paleta de tintas e
64 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
escreve-se uma mensagem sobre
uma fotografia, move-se para outra
pasta, envia-se a um amigo, fazendo
drag and drup, tudo com o
Windows Vista instalado. Fazer uma
lista de músicas e ordená-las é com
os dedos. Encomendar uma
bebida num restaurante,
fazer compras, etc. O preço
não para é para qualquer.
Varia entre 3.700 e 7400
Euros pois está vocacionado
para hotéis e restaurantes.
Já existem encomendas. No
entanto promete baixar o
preço e desenvolver uma
versão para o utilizador comum. É
para breve.
E MAIS…
O reconhecimento de voz por computadores já existe. Mas agora vamos
poder controlar computadores através
da fala. O projecto TECNOVOZ elabo-
rado entre outros por INESC, Universidade do Minho, Promosoft, Priberam, etc. vai permitir tornar realidade o sonho de comunicar com as
máquinas através da fala tal como o
fazemos com as outras pessoas. Recuperar peças jornalísticas em áudio ou
vídeo utilizando a sua transcrição em
texto mas também a aplicação às cirurgias em oftalmologia com possibilidade do médico controlar e inserir
dados no sistema em situação de mãos
ocupadas, são apenas exemplos. E que
dizer do novo brinquedo PLEO, um
pequeno dinossáurio que entristece se
o dono o tratar mal mas abana a cauda
e dá umas leves cabeçadas nas nossas
pernas se lhe fizermos uma festa. O
brinquedo aparece em substituição do
cão Aibo da Sony, que
custava 1.500 euros,
mas o Pleo custa apenas 200. Mas importante também…
Aproximam-se as
férias, usa-se mais o
computador para jogos on-line, Internet,
emails. E tudo isso
traz menos segurança. O “Norton
360” é a solução “Tudo em Um”.
Anti-vírus, Anti-spyware, Antiphishing, Firewall, Protecção de
Dados, melhor desempenho do PC.
Tranquilidade para as actividades
on-line. 3 licenças para a família por
79 Euros. I
[email protected]
informatico_volante184.qxp
02-07-2007
18:16
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BOAVIDA
A O
SUZUKI SX4 PARA
TODAS AS OCASIÕES
Baseado no conceito “X-Over Revolution”, o novo Suzuki SX4 é o terceiro modelo inserido na nova estratégia mundial da marca. Este
automóvel multifacetado cruza a forma compacta e desportiva do
modelo Swift com a tradição SUV revelada no Grand Vitara.
I
Carlos Blanco
O
SX4 apresenta-se na
variante “outdoor line”
que transmite um conceito de evasão e uma
maneira descomprimida de encarar
a vida. Por isso mesmo, as imponentes jantes de liga leve de 16” E as
protecções do exterior são de séria.
Tal como os restantes veículos da
Suzuki o SX4 materializa a filosofia
“Way of life” da Suzuki e a visão da
marca de um veículo de condução.
O SX4 incorpora um convincente
equipamento de série: Ar condicionado, fecho centralizado de portas com comando, leitor de cd com
mp3, barras de tejadilho integradas
e múltiplos espaços que elevam a
sua versatilidade. O raio de acção e
dinamismo são segurados por um
motor 1.5 a gasolina com 100cv ou
V O L A N T E
pelo novíssimo 1.6DDIS turbodiesel
com injecção common-rail e com
90cv. Apostando na qualidade e
nível de equipamento o valor da
comercialização do SX4 diferenciase dentro do seu segmento. A versão GL com motorização diesel está
disponível por 21.990 euros não
incluindo despesas administrativas.
O 1.6DDIS permite levar o SX4
dos 0 aos 100 km/h em apenas 12,2
seg. e atingir uma velocidade máxima 175 km/h.
No exterior o SX4 1.6 DDIS apresenta um visual atraente e desportivo e que não nos deixa indiferente.
A linha de cintura baixa e os grandes vidros triangulares das portas
dianteiras reflectem o espírito dinâmico do veículo sugerindo de
imediato um bom potencial desportivo.
A forma fluida elegante do SX4
está assente num chassi resistente
que oferece uma condução estável e
segura e uma resposta imediata aos
comandos do condutor. A suspensão deste compacto foi optimizado
de maneira a adaptar-se a uma carroçaria com elevados níveis de
rigidez torcional para suportar a
excelente capacidade de resposta do
veículo. Em suma, o SX4 é sem
dúvida bem concebido para o seu
segmento. I
Julho/Agosto 2007
TempoLivre 65
Palavras_lei 184.qxp
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BOAVIDA
PA L AV RA S D A L E I
André Letria
FURTO DE EMBARCAÇÃO
Adquiri uma pequena embarcação.
Guardava-a nas instalações fabris
da empresa vendedora. Nunca me quiseram cobrar a guarda da embarcação,
embora tivesse insistido com os representantes da empresa nesse sentido.
Tomei conhecimento do furto da embarcação. Esse furto foi muito suspeito. O
proprietário fez denúncia contra desconhecidos, mas o Ministério Público
arquivou-a, por falta de provas. Nessa
denúncia, especificou que tinha a
revisão, manutenção e guarda da
embarcação. O que posso fazer, dado
que não tenho contrato escrito? Sócio
?
n.º 58329
I
Pedro Baptista-Bastos
Q
uem entrega uma coisa,
móvel ou imóvel, a outrem, para que a guarde e
a restitua quando for
exigida, constitui um contrato de depósito, nos termos do
artigo 1185º e seguintes do Código
Civil.
66 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
Mesmo que não tenha um contrato escrito, ou não possua facturas
que comprovem o pagamento de
uma qualquer retribuição, ainda
assim estamos diante de um contrato de depósito.
A lei não exige um contrato escrito,
nem o pagamento de uma quantia
como requisitos do depósito, mas
sim a entrega, guarda e restituição de
uma coisa como factos constitutivos
do contrato. E, por aquilo que o
nosso sócio nos descreve, esta situação enquadra-se num depósito,
sem qualquer dúvida.
O depositário está obrigado a
guardar a coisa depositada, de acordo com a alínea a) do artigo 1187º
do Código Civil. Se algum dano
ocorrer a essa coisa, o depositário é
responsável, devendo indemnizar o
depositante.
Em princípio, o proprietário da
empresa que lhe guardava a embarcação é responsável pelo furto. O
nosso leitor não nos diz se a embar-
cação estava segurada ou não, e se o
proprietário tem um seguro contra
furtos nos seus armazéns. Vamos
admitir que não há seguro constituído sobre a embarcação.
Se não houver nem seguro da
embarcação, nem seguro contra furtos nos armazéns, na data do furto,
há responsabilidade do depositário,
nos termos conjuntos dos artigos
483º e 486º do C. Civil. Se alguém
guardava um bem, e não tinha um
seguro constituído, há uma omissão
de um acto que devia ter realizado,
para guardar convenientemente o
bem. Os seguros garantem o ressarcimento dos danos causados a bens,
e a falta de seguro num depósito é
omissão de um dever que recai sobre o depositário.
O nosso leitor tem que averiguar se
não há seguro constituído nestes termos. Se não houver, intente o mais
rápido possível uma acção de condenação em processo civil. Aconselho-o
a contactar um Advogado. I
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CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS
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Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas
Horizontais:
1-Quartetos; Caixilhos. 2-Marido da tia; Regra; Suspiros. 3-Rim; Ligue;
Conclusão.4-Amarres com nó; Encontro; Doença nos cascos do cavalo.
5-Imposto Sobre Rendimento de Pessoas Singulares (Sigla); ... (TséTung), político e filósofo chinês (1893-1976); Cólera. 6-Isolado; Naquele
lugar; Fúria; Prep. de “lugar”. 7-Vareira; Ameigas.8-Vate; Peso indiano
(de 141 a 330 quilogramas); Em excesso. 9-Demora; ímpeto; Acrescentar.
10-Desgaste; Molestamos; Aia. 11-”Cromio” (s.q.); Nome da letra grega
correspondente ao “P” latino; Agora; Palavra havaiana que designa
lavas ásperas e escoriáceas; Palavra que no dialecto provençal significava “sim”. 12-Deslumbrado (fig.); Prejudica. 13-Vertera; Remendara.
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Verticais:
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SOLUÇÕES
1-Surgis em público; Qualquer embarcação. 2-Nome antigo da nota
musical “dó”; Poeta lírico. 3-Serra de Portugal (Portalegre): Donaire
(reg.); Aqui. 4-Segundo; Espécie de esquilo lanoso; Breu. 5-Junto;
Mistura. 6-Parecença; Pref. de “negação”; Confiança; Suf. de “profissão”. 7-Estampilham; Mau uso. 8-Lidas; Sulcara. 9-Projecto; Fragrância. 10-Uma (ant.); Pequena; Ilha do Mediterrâneo, perto de
Marselha; Nome da décima sétima letra do alfabeto grego; Lado do
navio voltado para o vento. 11. Rezam; Brotais. 12-Pagais; Suor;
Ferimento ou dor, nas crianças. 13-Concordai; Ópera em 4 actos, de
Verdi; Sopro. 14-Aqueles; Serventia, 15-Filtram; Chícharo espontâneo em Portugal.
1-QUADRAS; QUADROS. 2-TIO; RÉGUA; AIS. 3-S; RIL; LIE; FIM; C. 4ATES; MARRO; SAPO. 5-IRS; A; MÃO; 0; IRA. 6-SO; ALI; S; IRA; EM.
7-VARINA; AFAGAS. 8-BARDO; BAR; MUITA. 9-ADIA; FUROR; ADIR.
10-ROA; LESAMOS; AMA. 11-CR; PI; ORA; AÃ; OC.12-0; CEGO; A;
LIXA; A. 13-VAZARA; COSERA.
Xadrez > por Joaquim Durão
A uma partida inglesa de 1977 corresponde o diagrama de hoje.
Os jogadores nunca alcançaram notoriedade, mas o que nos
interessa é a posição, em que o leitor deverá, num golpe de vista,
vislumbrar a rápida solução. A disputa foi entre Farley e Marsh,
e o primeiro não deixou escapar a oportunidade.
ameaças “semi-invisiveis”) 15….exf4? (Caindo com certa
ingenuidade, no remate espectacular) 16. Cxg6!! Rxg6
17.Dxh5+! Rxh5 (Havia que voltar para trás 17….Rh7,
apenas para resistir mais). 18. Cxf4+ Rg5 19. h4+ Rg4 20.
Rh2 e as pretas rendem-se perante o mate com o bispo,
no próximo lance, em f3 ou h3.
AS PRETAS JOGAM E DÃO MATE RAPIDAMENTE
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Julho/Agosto 2007
SOLUÇÕES
Um xeque na diagonal h5-e8 é mate. Logo 1. Dh5+ Cxh5 2. Bg6 mate
ou 1…., g6 2. D ou Bxg6+ Cxg6 e 3. D ou BxCg6 mate.
Na Olimpíada de Dubai, 1986, conheceram-se a portuguesa Aida
Ferreira e o canadiano Kevin Spraggett. Faz agora 20 anos que
deram o nó. Os meus parabéns ao casal. A nossa brilhante
xadrezista foi deixando de aparecer nas competições – sucede
muito entre as mulheres, quando se casam. Kevin, porém, incrementou a sua actividade profissional de GM ganhando inúmeros
torneios internacionais e chegando a competir na prova de candidatos ao título mundial. Fixou-se na Guarda, terra da esposa, e
desde o primeiro momento depressa grangeou respeito e amigos.
Hoje é quase mais xadrezista português que canadiano.
Sinceramente, espero vê-lo, em breve, a representar as nossas
cores nas Olimpíadas. A lei da Federação internacional permite-o.
Seria um reforço considerável. Recentemente produziu mais uma
boa partida com remate brilhante, a 4 de Abril, em San Sebastian.
Spraggett – Patrícia Llaneza. Abertura Nimzowitch (Duplo
Fianqueto). 1. Cf3 Cf6 2.g3 g6 3.b3 Bg7 4.Bb20-0 5.Bg2 d6 6.c4 e5
7.d3 Cc6 8. 0-0 h6 9.Cc3 Ch5 (Para jogar f5 – o contra-ataque
habitual no flanco, mas talvez mais forte seja 9…. Be6 com vista
a seguir com Dd7 e Bh3, uma vez que o salto Cf3-g5 já não é possível) 10.e3 f5 11.a3 a5 12.Tb1 Be6 13.Cd5 Dd7 14.Ch4 Rh7 15.f4
(Travando a expansão temática e conjecturando, por sua vez,
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CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE
NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2007
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube
TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2007
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
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de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
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31de Dezembro/2007
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DESCONTO
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de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube
TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2007
Remeter para
Clube Tempo Livre –
LIVROS, Calçada de
Sant’Ana nº 180 –
1169-062 Lisboa, o
seguinte:
G Pedido, referenciando a editora e o título
da obra pretendida;
G Cheque ou Vale dos
Correios, correspondente ao valor (PVP)
do livro, deduzindo
2,74 euros de desconto do cupão.
G Portes dos Correios
referente ao envio da
encomenda, com
excepção do
estrangeiro, serão
suportados pelo Clube
Tempo Livre. Em caso
de devolução da
encomenda, os custos
de reenvio deverão ser
suportados pelo
associado.
novos_livros184.qxp
29-06-2007
12:40
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CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS
AMBAR
MOZART E AS MULHERES
Enrik Lauer e Regine
Müller
320 pg. | 20 (PVP)
A vida de Wolfgang
Amadeus Mozart foi
marcada pelas mulheres
que o rodearam e que foram
as suas fontes de
inspiração: a mãe, a irmã, a
prima, a mulher, as
amantes…
O livro dá a conhecer as
histórias das várias
relações de Mozart.
Histórias que são reflexos
de alegrias e tragédias
sempre presentes na curta
vida do compositor.
DIÁRIOS DE HAVANA
Wendy Guerra
192 pg. | 19 (PVP)
Romance sob a forma de
diário pessoal, onde a
autora faz o retrato duro da
realidade cubana, ao
mesmo tempo que conta de
forma crua e autêntica a
sua infância e adolescência,
marcada pelo abandono e
solidão.
CUIDAR E AMAMENTAR O
SEU BEBÉ
Karen Pryor e Gale Pryor
456 pg. | 25 (PVP)
Um guia clássico, revisto e
actualizado, sobre os
benefícios da
amamentação. Com base na
ciência e na investigação,
apresenta informação e
conselhos preciosos para
uma nova geração de
mulheres, que quer viver
em pleno a sua
maternidade.
CAMPO
DAS LETRAS
MEU PRIMEIRO LAROUSSE
DO MAR
72 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
Benoît Delalandre
160 pg. | 16,80 (PVP)
Para que todos os pequenos
veraneantes, banhistas ou
pescadores de camarões
aprendam, com os pés
confortavelmente na água,
a amar e respeitar esses
lugares frágeis e
maravilhosos.
Contém ilustrações
divertidas e explicações
simples e claras.
AMOR NO FIO DA
NAVALHA
Janet Tashjian
228 pg. | 12,96 (PVP)
Becky Martin tem 17 anos é
inteligente, divertida e
ambiciosa – quer ser
humorista.
Enquanto se esforça para
tornar esse sonho realidade,
conhece Kip Costello, uma
estrela ascendente nos
clubes de comédia.
Imersa na adoração de Kip,
um namorado atraente e
apaixonado, Becky
rapidamente descobre uma
face oculta de Kip, onde a
violência física e emocional
andam lado a lado.
EDITORA ULISSEIA
ANDAR FELIZ EM LISBOA
Francisco Ribeiro Soares,
José Pedro Barreto e
Nuno Markl
256 pg. | 15,49 (PVP)
Fala-se de Lisboa e dos
lisboetas. O lisboeta é um
pouco de todo o país, e no
falar alfacinha existem
todos os sotaques. Lisboeta
é o galego da tasca, o
beirão que chefia o pessoal
da repartição, o alentejano
que carrega gerúndios, o
transmontano que guia
táxis…, o tripeiro que dirige
a agência bancária. São
eles quem manda em
Lisboa e governa a cidade,
capital de um país que
raramente foi governado
por lisboetas – mas por
políticos “da província”.
FORTE E FEIO
António Feio e Eduardo
Madeira
106 pg. | 12,99 (PVP)
Bate forte e feio em várias
personalidades nacionais e
mundiais. São cerca de
duzentos textos
humorísticos de diferentes
tamanhos e estilos
interpretados por António
Feio nalguns dos seus
programas e espectáculos.
Uma compilação da dupla
de autores que pretende
dar a conhecer, de forma
despretensiosa, momentos
engraçados do trabalho em
conjunto.
EDITORIAL
PRESENÇA
A LINGUAGEM DE DEUS
Francis S. Collins
224 pg. |15 (PVP)
Como surgiu o universo e
qual o significado da
existência humana, são
algumas questões que
inquietam a nossa mente.
O autor, na perspectiva de
cientista altamente rigoroso
e de crente honesto,
defende a
complementaridade das
concepções científica e
espiritual como sendo a via
mais equilibrada para
desvendar o mistério da
vida e do universo.
ENIGMA DA ESFINGE
Charlie Fletcher
320 pg. | 17,50 (PVP)
Quando George quebrou a
cabeça da estátua do
dragão no Museu de
História Natural de Londres
estava longe de imaginar
que esse acto viria a ter
consequências catastróficas
para a sua vida e para a
própria cidade. Uma força
poderosíssima, adormecida
desde tempos imemoriais,
aguardava pela
oportunidade de voltar à
vida, e esse momento tinha
finalmente chegado.
Uma aventura épica de
cortar a respiração, que dá
a conhecer uma outra
Londres, absolutamente
fascinante.
COMO TRATAR A
CELULITE
Agnelo Martins
64 pg. | 10 (PVP)
Inestética e indesejada, a
celulite é já vista como uma
epidemia social. Nesta obra
o autor explica, com o rigor
de um profissional de
saúde, o que é a celulite,
como evolui e se manifesta.
Sugere formas de
tratamento, entre as quais
métodos como a
mesoterapia.
Livre-se do aspecto «casca
de laranja» e desfrute de
um corpo mais saudável e
equilibrado!
EUROPA-AMÉRICA
FUGA PARA O PARAÍSO
Anne Rice sob o
pseudónimo de Anne
Rampling
308 pg. | 19,90 (PVP)
O Clube, uma estância de
luxo paradisíaca onde as
fantasias proibidas se
tornam realidade. Um local
onde os clientes dão asas à
sua imaginação e escolhem
ser dominadores ou
escravos numa relação
sadomasoquista.
SANGUE REAL
Harold Robbins e Junius
Podrug
368 pg. | 21,50 (PVP)
novos_livros184.qxp
29-06-2007
Nesta ficção, o casamento
da princesa de Gales que
fez sensação mundial
depressa se transformou de
conto de fadas em história
de horror.
Enganada e traída antes do
fim da lua-de-mel e, depois
de sofrer todas as
humilhações possíveis, a
Princesa decide vingar-se e,
num baile de máscaras,
perante oitocentos
convidados, mata o marido,
Sua Alteza Real, o príncipe
de Gales…
EM MARROCOS
Edith Wharton
164 pg. | 14,90 (PVP)
Um clássico da literatura
12:40
Page 73
de viagens, onde a autora
faz um notável relato de
uma viagem ao país
durante a I Grande Guerra.
Com um característico
sentido de aventura,
Wharton parte à
exploração de Marrocos e
do seu povo, registando as
suas impressões e
encontros.
O FASCÍNIO DO ISLÃO
Martine Gozlan
108 pg. | 13,50 (PVP)
Analisa os factores que
tornaram o Islão uma
religião tão apelativa para
os ocidentais e em que
moldes se exerce este
fascínio.
«O Islão não se limita a
avançar, galopa.» Com
500 milhões de fiéis em
1973, actualmente o
número ascende a 1,2 mil
milhões e é a única
religião monoteísta que
continua a conquistar
crentes diariamente.
GRADIVA
O DEDO DE GALILEU?
Peter Atkins
516 pg. | 29,50 (PVP)
Dez ideias centrais da
ciência contemporânea para
o autor celebrar o poder do
método científico na
revelação da natureza do
nosso universo, do nosso
mundo e de nós próprios,
contrapondo-o à mera
especulação
pseudocientífica e às
imposturas relativistas.
A APOLOGIA DE UM
MATEMÁTICO
G. H. Hardy
124 pg. | 11 (PVP)
Um dos mais brilhantes
matemáticos do século XX
conta o prazer e a
magia da invenção
matemática.
Um manifesto apaixonado
e contagiante: viva a
matemática!
Para ser lido e comentado
nas nossas escolas.
roteiro184.qxp
29-06-2007
12:41
Page 74
CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO
Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas
Póvoa de Lanhoso.
BRAGA
VOLEIBOL DE PRAIA: dia 7 -
Torneio de Praia em Braga.
JULHO
AGOSTO
Cultura
Cultura
ESPECTÁCULOS: dia 4 às
ESPECTÁCULOS: dia 38 às
21h30 – Gr. de
Cavaquinhos no Centro de
Anim.das Caldas do Gerês;
dia 6 às 21h - Ilusionista
Karter Mendes no Estúdio
Galécia em Braga; dia 7 às
21h30 - Conjunto Típico
Estrelas de S. Vicente na
Qta da Aramada em Braga,
Festival de Folclore em
Lordelo, Nine, S. Torcato,
Mogege e Adaúfe; dia 8 às
18h – Gr. de Cavaquinhos
Flores da Primavera no
Terreiro de S. Torcato; dia
11 às 21h30 – Gr. de
Cavaquinhos da Casa do
Povo de Tadim em Caldas
do Gerês; dia 14 às 21h Festival de Folcl. em Joane;
dia 21 às 21h - Festival de
Folcl. em Vila Nova das
Infantas, Moure, Sequeira,
Vermil e Cantelão; dia 22
às 16h30 – Gr. Folcl. de
Danças e Cantares de
Joane em Mogege, dia 28
às 21h30 - Festival de
Folcl. em Cabreiros e
Barcelinhos e Gr. Musical
Água Viva em Lousado.
CANTO: dia 7 - Audição dos
alunos do Curso de Canto
na Delegação.
CINEMA: Filme “O Pai da
Noiva” dia 11 às 21h na
Assoc. Cult. e Rec. de
Valdosende; dia 13 às 15h
na Casa do Povo de
Fermentões; dia 20 às 21h
no Centro Social de
Campelos; dia 27 às 21h –
C.C. de Moreira de
Cónegos.
21h – Gr. Cult. Ramo de
Oliveira em Ruivães; dia 3
às 22h - Pic Band em
Ardegão; dia 4 às 21h Festival de Folcl. em
Calendário; dia 5 às 21h30
- A banda do Galo no
Escadório de Guadalupe
em Braga; dia 15 às 15h Gr. Musical Estrelas de S.
Vicente em Ribas e às 21h
Gr. de Cavaquinhos da
Casa do Povo de Tadim no
Bairro das Enguardas; dia
23 às 21h - Gr. Musical
Castiços de Regadas em
Caldelas; dia 31 às 21h30 Gr. Musical Origens de
Fradelos em Joane.
Desporto
ATLETISMO: dia 8 às 9h30 11º G.P. de Covelas em
74 TempoLivre
Julho/Agosto 2007
COIMBRA
JULHO
Cultura
MÚSICA: dia 4 às 21h30
–Assoc. Cult. Bucovia,
Roménia e Dixie Gringos
Jazz Band no Bairro
Norton de Matos em
Coimbra; dia 7 às 16h –
Orq. Musical Sta Cecília de
Covões em Miranda do
Corvo e às 21h30 - Gr. Sax
Ensemble em Côja; dia 8
às 21h30 h – Gr.Univ.
Resovia Saltan, Polónia, no
Bairro Norton de Matos em
Coimbra; dia 14 às 21h30 –
Gr. Palhas e Moinhos no
Bairro Norton de Matos em
Coimbra e às 22h - Dixie
Gringos Jazz Band na Pça
do Comércio em Coimbra;
dia 20 às 21h30 - Tuna
Mouronhense no Bairro
Norton de Matos em
Coimbra; dia 24 às 22h –
Dixie Gringos Jazz Band
na Praia da Tocha, Mira;
dia 26 às 21h30 – Orq.
Clássica do Centro na
Igreja de S. José em
Coimbra; dia 27 às 21h30 –
Gr. OLS Big Band de
Santana no Bairro Norton
de Matos em Coimbra.
FOLCLORE: dia 14 às 14h Etnoxisto, 1ª Mostra
Etnog. da Lousã; dias 7 a
14 às 21h30 – Folk
Cantanhede; dias 7 e 8 às
16h – Festival Intern. em
Miranda do Corvo; dia 8 às
12h – Festifolca 2007 em
Carapinheira; dia 14 às 16h
– Festival em Casconha e
às 21h30 – Festival
“Festimaiorca” em Eiras;
dia 17 às 16h – Festival do
Gr. Etnog. do Zagalho e
Vale do Conde em
Penacova.
CONCURSO: Fotografia do
de Monsenhor Nunes
Pereira, informações na
Delegação.
EXPOSIÇÃO: dia 27 a 15
Agosto - Fotografia de José
Maria Pimentel
“Monsenhor Nunes Pereira
– Percurso de uma Vida”
em Pampilhosa da Serra.
Desporto
ATLETISMO: dia 8 – GP de
S. Pedro; dia16 às 9h30 –
Convívio da Praia da
Leirosa (estrada).
PESCA RIO: dia 15 – prova
na Barragem das Fronhas.
AGOSTO
FOLCLORE: dia 4 às 21h30
– 36º Festival em Vila de
Pereira; dia 11 às 16h –
Festival em Andorinha; dia
12 às 17h – Festival em
Alhadas.
EXPOSIÇÃO: dias 1 a 31 Xilogravura de Monsenhor
Nunes Pereira na Galeria
do Edif. da Cultura em
Fajão; dias 15 a 28 Agosto
- Bio-bliográfica e
iconográfica de Monsenhor
Nunes Pereira na Casa do
Povo de Côja.
COVILHÃ
JULHO
Desporto
CANOAGEM: Circuito Inatel
na Albufeira do rio Zêzere,
informações na Delegação
ÉVORA
JULHO
Cultura
ESPECTÁCULOS: dia 5 às
21h30 - Banda da Soc.
Filarm. Harmonia
Reguenguense na
Delegação; dia 12 às 21h30
– Banda Filarm. da Soc.
Filarm. 1º de Abril
Vimieirense na Delegação;
dia 26 às 21h30 – R. Etnog.
“Os Camponeses de
Arraiolos na Delegação.
Desporto
MALHA: dia 14 às 15h –
Cultura
MÚSICA: dia 16 às 21h30 –
Encontro de Filarmónicas
em Santana; dia 25 às
21h30 –Gr. Somusica na
C.M. de Arganil.
Prova em Rosário; dia 15
às 10h – Torneio em
Matriz; dia 28 às 15h
–Prova em Matriz, dia 29
às 10h – Torneio “Vila de
Borba” em Borba.
roteiro184.qxp
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AGOSTO
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Desporto
FOLCLORE: dia 7 às 21h30 –
Cultura
ESPECTÁCULOS: dias 2, 9, 23
e 30 às 21h30 – Gr. Coral da
Granja, R. Folcl. de Cabrela,
R. Folcl. de Landeira e
Banda Filarm. da Soc. União
Alcaçovense na Delegação.
Festival em Fortios; dia 13
às 22h – Encontro de
Harmónios, Concertinas e
Acordeões na Casa do Povo
de Montargil; dia 14 às
21h30 – Encontro de Gr. de
Música Pop. em Sousel.
SANTARÉM
GUARDA
JULHO
14 às 21h30 – Gr.
Musical Costa Pereira
em Viana do Castelo;
dia 20 às 21h30 – Gr.
Folcl. das Lavradeiras
da Meadela; dia 21 às
21h30 – Gr. Musical
João Sá; dia 27 de
Julho – 21h30 – Gr.
Folcl. de Paredes de
Coura; dia 28 de
Julho às 21h30 – Gr.
Musical Domingos
Ribeiro.
JULHO
PASSEIO: dia 7 às 7h30 –
Passeio Cultural a Abrantes
e Tomar
LISBOA
T E AT R O
DA
TRINDADE
Sala Principal
MISS DAISY – dias 5 a 29
Jul. | 4ªa Sáb. às 21h30 e
Dom. às 16h
Sala Estúdio
QUERES FAZER AMOR
COMIGO? – até 22 Jul. | 4ª
a Sáb. às 22h e Dom. às 17h
Cultura
MÚSICA: 13 às 22h – Gr.
“Prata da Casa” na festa
em Mouriscas; dia 14 às16h
- Gr. Música Pop. em Vale
de Figueira; dia 15 às 17h –
Soc. Filarm. de São
Sebastião na Ribeira de São
João; dia 27 às 23h – Gr. de
Cantares Reg. de Sta Maria
dos Olivais em Água
Travessa.
FOLCLORE: dia 11 às 19h –
R. folcl. da Soc. R.E. da
Romeira em Linhaceira; dia
14 – R. Folcl. da Casa do
Povo de Rio de Moinhos em
Arreciadas e R. Folcl. da
Fajarda em Fátima; dia 22 –
R. Folcl. da Assoc. Desp. e
Cult. de Arreciadas em Rio
Moinhos.
Desporto
BTT: dia 28 – Maratona em
Água Travesssa.
Teatro-Bar
VIANA DO CASTELO
PERVERSÕES LUSAS - até 14
Jul. | 5ª a Sáb. às 23h
PORTALEGRE
Parque Campismo
Cabedelo
JULHO
JULHO
Cultura
dia 13 às 21h30 – Gr.
Etnog. de Areosa; dia
AGOSTO
dia 10 às 21h30 – R.
Folcl. da Casa do
Povo de Barbeita; dia
11 às 21h30 – Gr.
Musical Nuno
Salgueiro; dia 20 às
21h30 – Gr. de
Danças e Cantares de
Perre; dia 25 às 21h30
– Gr. Musical Álvaro
Viana.
ATLETISMO: dia 8 às 9h30 –
G.P. de Vila de Punhe
CICLOTURISMO: dia 13 às
21h – Passeio “Viana à
Noite”; dia 29 à 9h30 – 26º
Passeio da Assoc. de
Subportela e Circuito de
Perre.
AGOSTO
Cultura
FOLCLORE: dia 3 às 21h30 –
Festival em Arcos de
Valdevez; dia 18 às 21h30 –
Festival de S. Martinho da
Gandra
MÚSICA: dia 10 às 22h –
Agrup. Musical
“Associmusic” no Festival
da Juventude da Casa do
Povo de Fontão;
Desporto
CICLOTURISMO: dia 12 às
9h30 – Passeio a Ponte de
Lima.
VISEU
JULHO
Cultura
JULHO
FOLCLORE: dia 21 às 21h30
– Festival Luso/Espanhol na
Correlhã; dia 21 às 21h30 –
Festival em Ponte de Lima.
MÚSICA: dia 8 às 21h30 –
Assoc. Amigos das
Concertinas de Lima em
Bragança; dia 15 às 15h –
Gr. Passo Latino em S.
Pedro de Arcos.
TEATRO: dia 7 às 21h30 –
“Zé Mokuna e António
Gomes” na Assoc. de Perre
e “Em Casa do Mestre
Pethelim” em Vila Nova de
Anha; dia 21 às 21h30 –
“Em Casa do Mestre
Pethelim” em Sta Marta
Portuzelo; dia 29 às 15h30 –
“Em Casa do Mestre
Pethelim” na Paroquia de
Deão.
Cultura
FOLCLORE: dia 14 às 21h -
Festival em Stº Amaro
Azurara Santo; dia 21 às
21h30 Festival de Penalva Castelo;
dia 22 às 16h - Festival de
Leomil; dia 29 às 16h Festival de Molelos; dia 29
às 17h - Festival de Orgens.
AGOSTO
Cultura
FOLCLORE: dia 12 às 16h -
Festival de Cabril; dia 26
Festival Intern. em Arcozelo
da Torre
FEIRA: dia 19 - Feira de
Saberes e Sabores de São
João do Monte
Julho/Agosto 2007
TempoLivre 75
moradas_Novas Novas_2007.qxp
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moradas
Sede
Calçada de Sant’Ana, 180
1169-062 LISBOA
Telf: 210 027 000
Fax: 210 027 027
e.mail: [email protected]
endereço: www.inatel.pt
Delegações e
Subdelegações
ANGRA DO HEROISMO
Beco do Pereira, 4
9701-868
ANGRA DO HEROISMO
Tel. 295 213 407 /215 038
Fax. 295 212 233
[email protected]
AVEIRO
Av. Dr. Lourenço
Peixinho,144/146
Edificio Oita - 4º E
3800-160 AVEIRO
Tel. 234 405 200 / 207
Fax.234 405 208
[email protected]
BEJA
Rua do Vale, 14,
7800 - 490 BEJA
Tel. 284 318 070
Fax. 284 323 163
[email protected]
BRAGA
Av. Central, 77,
4710-228 BRAGA
Tel. 253 613 320
Fax.253 214 202
[email protected]
BRAGANÇA
R. Alexandre Herculano,
111 - 1º,
5300-075 BRAGANÇA
Tel. 273 331 653
Fax. 273 326 947
[email protected]
COIMBRA
R. Dr. António Granjo, 6
3000 - 034 COIMBRA
Tel. 239 853 380
Fax.239 853 384
[email protected]
COVILHÃ
“Casa de Agostinho
Roseta”
Av. Frei Heitor Pinto, 16-B
6200-113 COVILHÃ
Tel. 275 335 893
Fax.275 327 276
[email protected]
ÉVORA
“Palácio Barrocal”
Rua Serpa Pinto, 6
7000-537 ÉVORA
Tel. 266 730 520
Fax. 266 730 521
[email protected]
FARO
“Casa Emílio Campos
Coroa”
Rua do Bocage, 54
8004 - 020 FARO
Tel. 289 898 940
Fax. 289 823 521
[email protected]
FUNCHAL
Rua Alferes Veiga Pestana,
1 L, sala 25
9050-079 FUNCHAL
Tel. 291 221 614
Fax.291 228 147
[email protected]
GUARDA
R. Mouzinho da Silveira, 1
6300-735 GUARDA
Tel. 271 212 730
Fax.271 215 779
[email protected]
HORTA
R. Comendador Ernesto
Rebelo, 10
9900 - 112 HORTA
Tel. 292 292 812
Fax.292 293 147
[email protected]
LEIRIA
“Casa Miguel Franco”
R. João XXI, 3-A r/c - Loja D
2410-114 LEIRIA
Tel. 244 832 319/834 017
Fax. 244 834 735
[email protected]
PONTA DELGADA
Rua do Contador, 73-A
9500 - 050 PONTA
DELGADA
Tel. 296 284 684
Fax. 296 283 166
[email protected]
PORTALEGRE
Praça do Outeiro
nº 17
7300-010 PORTALEGRE
Tel. 245 203 675/207 593
Fax. 245 207 569
[email protected]
PORTO
Casa “Jorge de Sena”
Rua do Bonjardim, 495
4000-126 Porto
Tel. 220 007 950
Fax. 220 007 999
[email protected]
SANTARÉM
Prta. Pedro Escuro, 10-2º D
2000-183 SANTARÉM
Tel. 243 309 010
Fax. 243 309 014
[email protected]
SETÚBAL
Praça da República
2900-587 SETÚBAL
Tel. 265 543 800
Fax. 265 543 819
[email protected]
VIANA DO CASTELO
Rua de Stº António, 117
4900 - 492
VIANA DO CASTELO
Tel. 258 823 357
Fax. 258 811 644
[email protected]
VILA REAL
Av. 1º de Maio, 70-1º D
5000-651 VILA REAL
Tel. 259 324 117
Fax. 259 372 592
[email protected]
VISEU
Rua do Inatel
Urb. Quinta do Bosque
3510 - 018 VISEU
Tel. 232 423 762/428 727
Fax. 232 423 781
[email protected]
Centros de Férias
INATEL ALBUFEIRA
Av Infante D. Henrique,
8200-862 ALBUFEIRA
Tel. 289 599 300
Fax. 289 599 340
[email protected]
INATEL CASTELO
DE VIDE
Rua Sequeira Sameiro, 6
7320 - 138
CASTELO DE VIDE
Tel. 245 900 200
Fax. 245 900 240
[email protected]
INATEL
“UM LUGAR AO SOL”
Av. Afonso Albuquerque
- S. João de Caparica
2825-450 COSTA
DE CAPARICA
Tel. 212 918 420
Fax. 212 900 051
[email protected]
INATEL ENTRE-OS-RIOS
Torre
4575-416 PORTELA PNF
Tel. 255 616 059
Fax. 255 615 170
[email protected]
INATEL FOZ DO ARELHO
R Francisco Almeida
Grandela, 17
2500-487 FOZ DO ARELHO
Tel. 262 975 100
Fax. 262 975 140
[email protected]
INATEL LUSO
Rua Dr. Costa Simões
3050 - 226 LUSO
Tel. 231 930 358
Fax. 231 930 038
[email protected]
(Inatel Cerveira)
[email protected]
INATEL MADEIRA
Madeira - Santo da Serra
9100-267 SANTA CRUZ
Tel. 291 550 150
Fax. 291 552 227
[email protected]
INATEL GAVIÃO
6040-999 GAVIÃO
Reservas: 245 900 243
(Inatel Castelo de Vide)
[email protected]
INATEL
SERRA DA ESTRELA
Manteigas,
6260-012 MANTEIGAS
Tel. 275 980 300
Fax. 275 980 340
[email protected]
INATEL OEIRAS
Alto da Barra - Estrada
Marginal,
2780-267 OEIRAS
Tel. 210 029 800
Fax. 210 029 840
[email protected]
INATEL
SANTA MARIA DA FEIRA
Santa Maria da Feira
4520-306 SANTA MARIA
DA FEIRA
Tel. 256 372 048
Fax. 256 372 583
[email protected]
INATEL PALACE
Termas - São Pedro do Sul
3660-692 VÁRZEA SPS
Tel. 232 720 200
Fax. 232 720 240
[email protected]
INATEL CERVEIRA
Lovelhe
4920-236 VILA NOVA DE
CERVEIRA
Tel. 251 708 360 a 62
Fax. 251 795 050
[email protected]
INATEL PORTO SANTO
Cabeço da Ponta
9400 PORTO SANTO
Tel. 291 980 300
Fax. 291 980 340
[email protected]
INATEL PIODÃO
6285-018 PIODÃO
Tel. 235 730 100/1
Fax. 235 730 104
[email protected]
INATEL FORNOS
DE ALGODRES
6370-401 VILA RUIVA
Tel. 271 776 016
Fax. 271 776 034
[email protected]
INATEL MONTALEGRE
Lugar de Penedones
5470-069 CHÃ/PENEDONES
Reservas: 251 708 360/01
Parques
de Campismo
INATEL CABEDELO
Av. dos Trabalhadores Cabedelo
4900-056 VIANA DO
CASTELO
Tel. 258 322 042
Fax. 258 331 502
[email protected]
INATEL CAPARICA
Av. Afonso Albuquerque
- S. João de Caparica
2825-450 COSTA DE
CAPARICA
Tel. 212 900 306
Fax. 212 911 553
[email protected]
INATEL
SÃO PEDRO DE MOEL
Av. do Farol, 2430-502
MARINHA GRANDE
Tel. 244 599 289
Fax. 244 599 550
[email protected]
INATEL
Bragança
Estrada de Rabal,
5300-791 BRAGANÇA
Tel. 273 329 399
Fax. 273 329 409
Teatro
da Trindade
R. Nova da Trindade
1200-301 LISBOA
Tel. 213 423 200
Fax. 213 432 955
[email protected]
Parque de Jogos
1º de Maio
Av. Rio de Janeiro
1700-330 LISBOA
Tel. 218 453 470
Fax. 218 473 193
[email protected]
Parque de Jogos
de Ramalde
Rua Dr. Aarão de Lacerda
4100-015 PORTO
Tel. 226 184 684
Fax. 226 109 721
Escola
de Parapente
Linhares da Beira
Tel. 271 776 590
chefe sugere184.qxp
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A CHEFE SUGERE
MARIA EMÍLIA MARTINS| INATEL FORNOS DE ALGODRES
Bacalhau com leite à moda da Beira
Da gastronomia beirã surge uma grande diversidade
de iguarias bem confeccionadas, saborosas,
recorrendo aos produtos que facilmente serão
associados a tipicamente Portugueses. A receita aqui
apresentada resulta num bacalhau suave, suculento,
muito agradável e ao mesmo tempo de fácil
preparação. Acrescendo às virtudes deste prato, é de
salientar o seu baixo valor calórico e lipídico,
podendo ser facilmente considerado mais uma
preparação saudável da nossa gastronomia
tradicional Portuguesa.
bacalhau bem demolhado e em lascas. Mexe-se, regase com leite e deixa-se cozer o bacalhau. Se
necessário, acrescentar um pouco mais de leite para a
cozedura. Quando o bacalhau estiver cozido, juntase o pão cortado em fatias e deixa-se amolecer.
Prova-se, tempera-se com sal e pimenta e salpica-se
com vinho branco.
Num tabuleiro de forno, deita-se a mistura e rega-se
com os ovos previamente batidos. Leva-se ao forno
até alourar.
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA:
INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS:
2 postas de bacalhau, 1 cebola pequena, 2 colheres de
sopa de azeite, 1 l de leite, 150 g de pão (poderá ser
seco ou até torrado), 1 colher de sopa de vinho
branco, 3 ovos, sal q.b., pimenta q.b..
PREPARA-SE ASSIM:
Faz-se um refogado com a cebola picada e o azeite.
Logo que a cebola comece a estalar, junta-se o
• 26,1 g de proteínas; • 7,7 g de gordura; • 30,1 g de
hidratos de carbono; • 1,7 g de fibra; • 287,3 kcal
INFORMAÇÕES E RESERVAS:
INATEL Fornos de Algodres
Fornos de Algodres, 6370-401 Vila Ruiva
Tel.: 271 776 016/17 - Fax: 271 776 034
E.mail: [email protected]
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O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO
Dançar é escrever com o corpo
Olho-a / dança / ramo de ulmo* florido nas mãos, / dança / os pequenos pés cheios de terra / dança, / flores de ulmo e mel nos
cabelos / ri e dança / bebe o seu muday** / Eu olho-a/ não danço / e o pó levantado pela dança / oculta-me/ aos seus olhos.
Jaime Luís Huenún***, Purrún ****, in: Cerimonias, Chile, 1999 Trad. MAVF
inda de um tempo remoto, do extremo oposto
da vida, chega com uma hora de atraso sobre o
combinado telefonicamente no dia anterior. Não
lhe digo que está na mesma, porque não está; ela
não me diz que estou na mesma, porque não estou.
Inalterado, porém, o brilho dos olhos verdes, que agora me
fitam por detrás de uns óculos Cartier de última geração;
inalterado o riso em cascata que inunda todo o espaço ainda
vazio na sala; inalterados os movimentos suaves de bambu
no vento primaveral.
Há quanto tempo? A memória anula os anos de
ausência, transporta-nos a um tempo que não é mais.
Chegou até mim pelos meus escritos, diz. Não que os leia
muito. Na verdade, continua a não ler. Mantém-se fiel ao
seu dogma de que, na vida, a única atitude saudável é não
pensar. Logo, também não escreve. Agora, que há os cartões
e a caixa directa, até já só esporadicamente assina cheques.
Para o resto, há os telefones. Arrepia-a, prossegue, pensar
no tempo que “gasto” com “escrevinhações”, quando há
yoga, há Tai Shi, […], há a DANÇA! Falamos da DANÇA, do
tico-tico, da Cumparsita, do baião… O chá arrefece nas
chávenas.
- Afinal de contas – arremata –, DANÇAR é escrever com
o corpo. Assim, também eu escrevo: todas as quintas-feiras.
Ainda uma chávena de chá, uma lembrança, um riso, e
parte. Acompanho-a com o olhar até ao Mercedes prateado.
“DANÇAR é escrever com o corpo”. Para Paul Valéry, “a
relação do poema com a dança, é a mesma da prosa com a
marcha militar”. Pura poesia, o que ela escreve, dançando.
No Dicionário de Linguística da Larousse, define-se
linguagem como “a capacidade específica da espécie
humana de comunicar por meio de um sistema de signos
vocais”.
Tal como a música, a que quase sempre se encontra
associada, a DANÇA é uma linguagem universal, não oral,
que está para além das palavras, mas que tem o seu léxico
próprio, constituído por gestos, movimentos corporais, por
vezes simbólicos, desenhados de acordo com um ritmo, e
que, à função de comunicação, une aspectos estéticos,
sensoriais e expressivos.
Tal como acontece com a linguagem oral, também a
origem da DANÇA está envolta em mistério, e como
V
mistério subsistirá, para todo o sempre, creio eu, que sou
incré. (O mesmo acontece com a origem do vocábulo
francês DANSER, adoptado em português, como
DANÇAR, donde, depois DANÇA; em espanhol, como
DANZAR; em italiano, como DANZARE; em alemão, como
TANTZEN; em inglês, como DANCE; e em neerlandês
como DANSEN, e cuja origem poderia ser o hipotético
frâncico *dintjan, “mexer-se”).
Gravuras em cavernas francesas da época do Paleolítico
– aí há uns 14.000 anos! – levam a crer aos historiadores
modernos (quem mais teria imaginação suficiente para crer
em conclusões tiradas a esta distância de tempo?) que a
DANÇA já existia então como acto ritual. No Neolítico,
quando o homem começa a fixar-se, a DANÇA adquire um
carácter de cerimonial religioso.
Na cultura grega, a DANÇA faz parte da educação das
crianças. Sócrates, através de Platão, o primeiro filósofo
grego a fazer referência à DANÇA, considera-a a actividade
por excelência para a formação integral do cidadão:
segundo ele, a DANÇA favorece o desenvolvimento bem
proporcionado do corpo, é uma fonte de boa saúde, além
de favorecer a reflexão filosófica e estética.
Usando de mais fantasia, a mitologia greco-romana
atribui à DANÇA da CRIAÇÃO executada sobre o mar por
Eurínome, a grande deusa criadora, deusa de Todas as
Coisas, nascida do Caos, a origem do mundo, com todas os
seus animais e plantas.
Mais para oriente, também a mitologia hindu atribui à
DANÇA de Shiva a criação do mundo que a exegese bíblica
atribui ao Verbo.
Com o passar do tempo, a DANÇA perde o seu carácter
primitivo e mais genuíno de manifestação, por vezes
explosiva, de instinto vital, capaz de levar o ser humano ao
êxtase ou ao frenesim, para adquirir, paralelamente, o
estatuto de arte ou de fonte de prazer estético: emoções
traduzidas em movimento.
Votos de boas férias, Senhores Leitores! I
* Eucryphia cordifolia. Planta melífera do Chile.
** Muday- bebida destilada da maçã ou das uvas.
*** Poeta chileno de origem mapuche. 1967.
**** Purrún – dança cerimonial mapuche.
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CRÓNICA |JOAQUIM LETRIA
Gaza
Sem futuro nem esperança
49 anos de idade para mil crianças de menos de 4
s imagens dominantes da Palestina são as
anos. Em Gaza, para cada grupo de mil homens com
de milhares de jovens a correrem e a atiessa idade, há 6200 crianças com idade inferior aos 4
rarem pedras a militares, famílias chorosas
anos.
e centenas de amigos correndo com uma
Se a população americana sofresse a mesma taxa
urna transportada acima das suas cabeças, com os
de crescimento demográfico de Gaza, os Estados
restos mortais de alguém que perdeu a vida a lutar
Unidos teriam passado duma população de 152
pela causa comum ou por ter sido um pobre circunsmilhões de habitantes em 1950 para 945 milhões no
tante numa situação de violência que o transformou
corrente ano de 2007, ou seja, o triplo da sua actual
numa vítima inocente que estava no sítio errado na
população de 301 milhões. Nesse caso, os americanos
hora errada.
entre os 15 anos e os 29 anos, portanto em idade de
Mas se este é o cenário dominante dum povo e
combater, não seriam os 31 milhões de agora, mas 130
duma luta – tal como há anos, na África do Sul, a
milhões.
cenografia era a de multidões a manifestarem-se em
Uma pergunta pertinente que responde a muitas
passo de corrida, por entre pneus a arder – Gaza é
críticas injustas dirigidas aos palestinos: com uma
hoje o olho do furacão, o centro da maior concenexplosão demográfica de tais proporções, conseguitração de gente sem presente e de jovens sem futuro.
riam as instituições e os políticos americanos controDe 1950 a 2007, a população de Gaza cresceu de
lar os homens nas ruas?!
240 mil habitantes para os actuais milhão e meio,
segundo documentos oficiais da United Nations
Relief and Works Agency (UNRWA) para os refugiaos próximos 15 anos, um número cresdos da Palestina no Próximo Oriente.
cente de jovens em fúria vai enxamear as
Como terá sido possível um crescimento demográruas da Palestina onde estão confinados
fico desta ordem, numa exiguidade territorial clause são maltratados. Esta demografia
trofóbica e sem uma economia que proporcione,
galopante continuará a produzir dramas individuais
sequer, os piores e mais precários dos empregos?! As
que, juntos, fazem uma tragédia colectiva de que a
condições em Gaza são tais que a UNRWA considera
humanidade tem de se ocupar a fim de resolver, micada um e todos dos habitantes de
nimamente. Ou todos nós, depois de
Gaza um refugiado. Um mínimo de
Israel, Palestina e Estados Unidos, não
escolaridade e de serviços de saúde Com uma
temos nada a ver com milhões de seres
estão garantidos a todos os habitantes explosão
humanos sem perspectivas de trabalho
naturais da estreita faixa de terra. Mas demográfica de
nem de nenhum lugar na nossa socienem os seus pais nem a comunidade tais proporções,
dade!? Se continuarmos a fingir que
internacional, através das Nações Uniconseguiriam as acreditamos que nada disto tem a ver
das, lhes podem prometer um lugar
connosco, o mínimo que podemos fazer
instituições
e
os
decente na vida.
é não nos espantarmos, nem criticarmos,
políticos
Nos Estados Unidos, para mil hoquando virmos estes jovens nas ruas a
mens com idades compreendidas entre americanos
matarem e a morrerem para terem ainda
os 45 e os 49 anos, há 945 crianças até os controlar os
uma réstia de esperança que lhes diga
homens
nas
4 anos de idade. Em Israel, esta relação
que podem aspirar a um emprego e a
é de para 1500 adultos entre os 45 e os ruas?!
serem alguém na humanidade. I
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