01_capa 184.qxp 04-07-2007 14:56 Page 1 N.º 184 - Julho/Agosto 2007 - 2,00 euros Pag02.qxp 29-06-2007 12:43 Page 1 Sumario_184.qxp 02-07-2007 18:10 Page 3 Sumário 4 N.º 184 - Julho/Agosto 2007 - 2,00 euros EDITORIAL 7 CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR 8 NA CAPA CONCURSO DE 32 FOTOGRAFIA TERMAS EM 10 16 NOTÍCIAS PORTUGAL NA EUROPA Por ocasião de nova presidência portuguesa da União Europeia, a “TL” inicia uma série de crónicas de João Aguiar dedicadas a vários países europeus que, ao longo dos séculos, mantiveram relações com Portugal e de que resultaram vestígios físicos e patrimoniais. E é justo, como assinala o cronista, começar pela Bélgica, em cuja capital está a sede da EU. 34 açoriana, a Fundação Medeiros e Almeida tem, no seu espólio, raras e notáveis colecções de arte decorativa que atravessam os séculos. PORTUGAL (4) Alcafache: os encantos da vinoterapia resiste, com 165 anos de idade e 60 metros de altura, uma das primeiras araucárias plantadas ao ar livre, na Europa. 46 PORTUGAL E A LUSOFONIA 47 O TEMPO E O MUNDO 22 34 VIAGENS TERRA NOSSA 48 ESTRASBURGO: ALVOR: UMA VIAGENS NA A OUTRA CAPITAL EUROPEIA Embora mais conhecida por acolher a sede do Parlamento Europeu, Estrasburgo é uma cidade que merece a atenção dos viajantes por muitas outras razões. Pólo importante de difusão das ideias humanistas, nela mergulham algumas das raízes da condição europeia. ALDEIA JUNTO AO MAR Mesmo com as ruas centrais salpicadas de restaurantes, bares e casas de artesanato, sinais inequívocos da forte presença do turismo, o Alvor contínua a parecer uma aldeia. HISTÓRIA 26 FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA Criada em 1973 com o objectivo do estudo, conservação e divulgação do acervo de um grande empresário português, de origem 41 HISTÓRIAS DO TRINDADE: o marido de Palmira Bastos 42 49 BOA VIDA 68 CLUBE TEMPO LIVRE Passatempos, Novos Livros e Roteiro 77 O CHEFE SUGERE Inatel Fornos de Algodres: Bacalhau com leite à moda da Beira 81 O TEMPO E AS OLHO VIVO PALAVRAS 44 Maria Alice Vila Fabião A CASA NA ÁRVORE No parque do Monteiro-Mor, ao Lumiar (Lisboa), 82 CRÓNICA Joaquim Letria Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Lurdes Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro.. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Pedro Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Préimpressão e impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 152.342 exemplares editorial 184.qxp 04-07-2007 14:42 Page 4 Editorial JOSÉ ALARCÃO TRONI Presidência Portuguesa da União Europeia Síntese da agenda do INATEL no segundo semestre de 2007 o editorial de Julho/Agosto da nossa Tempo Livre, os meses, por excelência, das férias dos portugueses, pouco mais deveria fazer do que formular aos 250 mil associados, aos 300 mil associados dos CCD’S – Centros de Cultura e Desporto, aos 500 mil seniores, beneficiários dos Programas Seniores, à nossa comunidade de trabalho e às famílias de todos os meus sinceros votos de um bem merecido repouso, justo prémio de mais um ano de trabalho e de preocupações e pausa necessária e prévia de novo ano e alguns meses de rotina diária no contexto de dificuldades e restrições que o país vem atravessando. N UNIÃO EUROPEIA Não quero, no entanto, deixar de saudar a terceira Presidência Portuguesa da União Europeia – que se inicia a 1 de Julho – a qual, certamente, será a última, pois o previsto Tratado Reformador substituirá as presidências rotativas pela presidência uninominal eleita do Conselho Europeu. Revestiram-se de grande dignidade e eficácia as duas anteriores presidências de Portugal, em 1992 e 2000, protagonizados pelos anteriores Primeiros-Ministros, Aníbal Cavaco Silva e António Guterres, actuais Presidente da República e Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. Constituindo a consensualização final e a redacção do Tratado Reformador da União Europeia a 27 membros – em vésperas de inevitáveis novos alargamentos aos países balcânicos e de leste e, talvez, á Turquia – o principal mandato da Presidência de Portugal, formulo ao Primeiro Ministro, José Sócrates, no segundo semestre Presidente do Conselho Europeu, ao seu Governo e colaboradores, ao Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, ao seu Colégio de Comissários e às altas tecnoestruturas da União Europeia e da República Portuguesa, as maiores felicidades na obtenção de um desejável Tratado de Lisboa, que, no ano do cinquentenário do início da vigência do histórico Tratado de Roma – aprovado em 1956 e em vigor desde 1957 – garanta á Grande Europa a continuação e aprofundamento das conquistas sonhadas, no pós-guerra, pelos pais fun4 TempoLivre Julho/Agosto 2007 dadores da então Pequena Europa – a Europa dos Seis, União Aduaneira e Mercado Comum – que passam pela paz no Velho Continente, pela liberdade, estabilidade democrática, desenvolvimento, solidariedade social, combate á pobreza, defesa do ambiente, do património cultural, do contribuinte, do consumidor e das minorias étnicas e sociais, no respeito pelo legado humanista da tradição judaico-cristã e greco-romana. O novo Tratado Reformador, se vier a denominar-se Tratado de Lisboa, marcará, ao longo de várias décadas, a visibilidade e protagonismo da quase milenar Nação Portuguesa na construção duma Grande Europa, aberta ao Mundo e ao diálogo das Civilizações, o que constituiu, sempre, a vocação do velho Portugal, a que Fernando Pessoa chamou o rosto da Europa que fita o Mar. A União Europeia, se quiser falar, de igual para igual, com as grandes potências emergentes – Rússia, Índia, China e Países Árabes e Islâmicos – tem de se preocupar não só com os seus desenvolvimento económico e social e alargamento da actual moeda única – o euro - de 13 para 27 países-membros, mas também com o reforço da supranacionalidade e sua expressão internacional e com a problemática dos orçamentos e tecnologias da Defesa e Segurança. A progressiva acentuação da supra nacionalidade da União Europeia – no respeito pela soberania dos países membros – e a redobrada atenção com os orçamentos e tecnologias da Segurança e Defesa – sem fundamentalismos securitários que reduzam ou anulem os direitos do Homem e do Cidadão – têm de constituir presença constante na agenda dos 27 na primeira metade deste século XXI, que, praticamente se iniciou, com o ataque, quase sem rosto, aos Estados Unidos, nos símbolos dos seus poder económico – as Torres Gémeas – poder militar – o Pentágono – e falhando, milagrosamente, o poder político – o Capitólio e a Casa Branca. Os atentados do metro de Londres e da estação de Atocha, em Madrid, devem representar sérios avisos á União Europeia, no domínio das suas preocupações com a Defesa e a Segurança. Desejo, sinceramente, que o Tratado de Lisboa suceda a 50 anos do Tratado de Roma e das convenções comunitárias ulteriores e complementares, definindo, com sen- editorial 184.qxp 04-07-2007 14:42 Page 5 satez, uma estrutura institucional para a União Europeia a 27 – União Aduaneira, Mercado Único, União Económica e Monetária e Fórum de Concertação Política e Social – que permita a sua governabilidade e sucesso nestes anos de aceleração histórica do novo século e milénio. Parece-me feliz a iniciativa da Presidência Portuguesa de protagonizar as Cimeiras da União Europeia com o Brasil – dando grande visibilidade á Língua Portuguesa – e com África, país e continente que Portugal conhece e percorre há mais de quinhentos anos. INATEL 72 ANOS No passado Domingo – 19 de Junho – no tradicional almoço de confraternização, na Caparica, da comunidade de trabalho, no activo e na reforma, encerrámos as agendas da Cultura e do Desporto, relativas a 2006/2007. No mesmo dia, ao fim da tarde, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa e no Estádio do INATEL – Parque de Jogos 1º de Maio – tiveram lugar as finais nacionais dos Concursos Teatrália, Festimúsica e Etnográfico Henrique Rabaço e dos Campeonatos Nacionais de Futebol, Voleibol e Futsal, bem como a entrega dos respectivos prémios. No dia 25 de Junho, no Salão Nobre do Teatro da Trindade, decorreu, com grande dignidade, a sessão cultural, evocativa do centenário do nascimento do poeta Carlos Queiroz, cuja reedição da antologia da obra poética constitui responsabilidade cultural da Universidade Portuguesa. PROGRAMAS SENIORES Estão em curso, com toda a normalidade, os Programas Seniores 2007, cujas comissões de acompanhamento integram o associativismo empresarial nos mesmos envolvido – Confederação do Turismo de Portugal no Programa Turismo Sénior e Associação das Termas de Portugal no Programa Saúde e Termalismo Sénior - permitindo aos operadores hoteleiros e termais participarem na elaboração, avaliação da qualidade e aprovação dos relatórios de execução e respectivos balanços, numa experiência de participação, que vem decorrendo com grande cordialidade e construtivismo. Os Programas Seniores 2006 atingiram o maior número de participantes de sempre – 54.888 beneficiários, dos quais 49.887 no Turismo Sénior, 4.956 no Saúde e Termalismo Sénior e 45 no Portugal no Coração. No Brasil, na cidade Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, decorreu, de 25 a 31 de Maio, o X Congresso Brasileiro dos Clubes da Melhor Idade e o IX Encontro Luso-Brasileiro da Melhor Idade / Turismo Sénior, que contou com a participação de cerca de 100 con- gressistas portugueses e 500 brasileiros. Se possível, no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia, o INATEL celebrará com o seu homólogo IMSERSO – Instituto de Maiores e Serviços Sociais um novo Protocolo de Cooperação e Intercâmbio, criando, anualmente, os Encontros Luso-Espanhóis de Turismo Sénior e o intercâmbio inicial de mil termalistas portugueses e espanhóis. No ano em curso, a Gala Sénior do próximo mês de Outubro evocará o décimo aniversário do Programa Saúde e Termalismo Sénior, iniciado em 1997, o qual movimentou quase 40 000 termalistas. No próximo ano, provavelmente em Albufeira, cidade anfitriã, em 1998, do I Encontro Luso Brasileiro de Turismo Sénior, realizar-se-á o X Encontro Luso Brasileiro, cuja organização competirá ao INATEL, encerrando-se a primeira década deste saudável intercâmbio sénior entre o Brasil e Portugal. FEIRA DO LIVRO O INATEL participou, pela primeira vez, com stand próprio, na Feira do Livro de Lisboa, o que lhe permitiu divulgar e vender os seus mais de setenta títulos, bem como de inscrever cerca de 300 novos associados. Esta experiência merece ser integrada no calendário cultural e editorial, com a participação anual do INATEL, pelo menos, nas Feiras do Livro de Lisboa e Porto. No dia 30 de Junho, em Leiria, o Inatel lançará um novo título seu – “Os Coretos do Distrito de Leiria”, de Delmar Domingos de Carvalho e Carlos Manuel Maximiano Baptista, como mais uma contribuição para a divulgação e preservação da Cultura Tradicional Portuguesa. INATEL - NET PARA TODOS A União Europeia acaba de aprovar o co-financiamento do Programa INATEL-NET para Todos, destinado, na primeira fase, a dotar as Delegações, Centros de Férias e demais infra-estruturas turísticas, culturais, desportivas e administrativas, com cyber-espaços de Internet, ligando os nossos associados entre si e ao mundo, como meio de combate ao isolamento e à info-exclusão. Numa segunda fase, e no âmbito do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional – pretende o Inatel alargar o Programa Inatel-Net para Todos aos seus 4200 CCD’s em Portugal, às mais de 1800 associações da Diáspora, sedeadas em cerca de 120 países. DESFILE DO TRAJE DE ENTRE DOURO E MINHO Como colaboração do INATEL para a animação cultural da Julho/Agosto 2007 TempoLivre 5 editorial 184.qxp >>> 04-07-2007 14:42 Page 6 Editorial inauguração da Presidência Portuguesa da União Europeia, este organiza, em colaboração com o Município do Porto e o Corte Inglês, na véspera do primeiro dia da Presidência, o Grande Desfile do Traje de Entre Douro e Minho. Trata-se do maior desfile etnográfico realizada em Portugal, contando com mais de 6 000 figurantes, de 140 CCD dos distritos de Braga, Porto e Viana, que desfilarão, pelas 21 horas, de sábado, 30 de Junho, pela Avenida dos Aliados, no Porto. SÍNTESE DA AGENDA DO SEGUNDO SEMESTRE As questões institucionais dominarão a agenda do 2º semestre no INATEL. O processo legislativo da Fundação INATEL decorrerá durante a Presidência Portuguesa da União Europeia. Espero que em clima de grande consenso com as Confederações Sindicais, que vêm honrando a Direcção, a que tenho a honra de presidir, com a aprovação, por unanimidade, dos Plano e Orçamento de 2007 e do Relatório e Contas de 2006. A sinopse do Relatório e Contas de 2006 será publicada na Tempo Livre de Setembro, porquanto, no momento em que escrevo estas linhas, ainda não tive conhecimento do despacho de homologação de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social. Na sequência da externalização do INATEL da Administração Central do Estado – determinada pelo PRACE – Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado – acabo de ter conhecimento de que a IGF – Inspecção Geral de Finanças - pretende, com toda a pertinência, auditar a administração financeira e social do INATEL, assim como os Programas Seniores, nos anos de 2005 e 2006 – e desejaria que, a posteriori, também, a de 2007, em curso, último ano da existência do INATEL, IP – o que me parece mais uma oportuna iniciativa de avaliação e certificação da transparência, confiabilidade e rigor dos orçamentos e balanços do INATEL e dos Programas Seniores que gere, aliás, todos aprovadas pelos órgãos estatutários – Conselho Geral e Comissão de Fiscalização – pelo Ministério da Tutela e pelo Tribunal de Contas nas vésperas da publicação do diploma legal que criará a Fundação INATEL – Investimentos e Actividades dos Tempos Livres dos Trabalhadores. Na verdade, com a prevista extinção do Inatel IP, a 31 de Dezembro de 2007, cessarão as comissões de serviço dos titulares dos órgãos sociais, do secretário-geral e directores, dos delegados regionais e distritais e dos chefes de divisão e equiparados, dando lugar, a 1 de Janeiro de 2008, às futuras gestão e tecnoestrutura do Inatel-fundação. 6 TempoLivre Julho/Agosto 2007 COMISSÃO PARA A QUALIFICAÇÃO E FORMAÇÃO Presidida pelo engº. José Alves de Paula – nome, aliás, sugerido pelas Confederações Sindicais, que muito apreciaram o seu Relatório de Inventário de Carências das Infra-estruturas e Segurança – está constituída, entrando em funções no mês de Julho, a Comissão de Inventário das Carências de Qualificação e Formação da nossa comunidade de trabalho, cujo relatório será o documento-base da política plurianual de formação dos colaboradores, designadamente, como sugerido ao Governo, com aproveitamento da colaboração do INA – Instituto Nacional de Administração e do Programa Novas Oportunidades. 140 º ANIVERSÁRIO DO TEATRO DA TRINDADE No decurso da Presidência Portuguesa da União Europeia, o Teatro da Trindade comemora, a 29 de Novembro próximo, 140 anos de actividade cultural, em Lisboa, dos quais, 40 anos, na propriedade e gestão do INATEL. Sem prejuízo da sessão institucional de 29 de Novembro e do Festinatel de 1 de Dezembro, o INATEL – Trindade realizará uma época especial, evocativa da Presidência Portuguesa da União Europeia e dos 140 anos do prestigiado espaço cultural do Chiado e do Bairro Alto – candidatos, com a Baixa Pombalina, a Património da Unesco – levando á cena a peça, quase inédita, de Luís Francisco Rebello, “A Desobediência”, recordando os últimos dias de Aristides Sousa Mendes, no Consulado de Portugal, em Bordéus, na França ocupada, no já longínquo ano de 1940. Pensamos, ainda, reactivar a Companhia Portuguesa de Ópera, sedeada no Teatro da Trindade e extinta nos idos de 1975, provavelmente com a ópera portuguesa, A Serrana, de Alfredo Keil, autor da música do Hino Nacional, cujo centenário da morte ocorre neste ano de 2007. IN MEMORIAM – JOSÉ CARLOS FERREIRA Deixou o nosso convívio, com 94 anos, há poucas semanas, o dr. José Carlos Ferreira, antigo director-geral do Trabalho e presidente do Conselho Superior de Acção Social. O dr. José Carlos Ferreira fez da Função Pública uma missão e um testemunho de dignidade, competência, humanidade e respeito pela liberdade de pensamento dos seus colaboradores. Constituiu para mim honra inesquecível o haver tido como superior hierárquico, na Direcção-Geral do Trabalho e no Conselho Superior de Acção Social, este grande humanista e alto funcionário, por quem senti sempre a maior admiração e amizade e que elegi como exemplo de vida profissional, nos quase quarenta anos que levo de carreira no sector público administrativo e empresarial do Estado. Nunca esquecerei este querido dirigente e Amigo. I cartas_184_segunda via.qxp 04-07-2007 14:42 Page 7 Cartas O pedido de Lara [ Kalidás Barreto ] Chama-se Lara e é a minha cadela Grand Danois… Porque não se consegue exprimir de forma a fazer-se entender pelos estranhos seres erectos a que se convencionou chamar animais racionais - excepção apenas para os seus donos, com quem dialoga de forma fluente - sente-se amiudadas vezes inferiorizada e complexada por esse facto. Não chegou ainda ao extremo de ficar deprimida ou ao ponto de tomar medicamentos ou fazer psicanálise - luxos que estão para lá das suas possibilidades - mas que às vezes anda desanimada, é um facto! Numa das nossas últimas conversas, conseguiu arranjar coragem para me fazer uma confidência e ao mesmo tempo, formular um pedido: A confidência: Fica triste (mas ao mesmo tempo feliz) quando chega a altura dos donos irem de férias e verifica que estes hesitam, adiam e quase sempre desistem de grandes ausências, por sua causa - para que não fique sozinha e privada dos mimos e atenções a que desde sempre a habituaram... O pedido: Que os homens que mandam numa Organização que se chama INATEL - ela ouviu o dono dizer que era sócio há vários anos e que gostaria de passar férias num dos seus Centros - criem condições para que os donos de animais de companhia como ela não se vejam, na altura em que procuram descansar de um ano de trabalho e canseiras, perante o dilema de terem que optar entre ficar por casa ou ir, abandonando-os à sua sorte... Claro que eu aceitei imediatamente ser o portador deste pedido, que a mim me deixa muito sensibilizado e que sinceramente, espero, sensibilize de igual modo os responsáveis do INATEL... Confirmo que sou sócio há muitos anos, sem nunca ter utilizado em altura de férias qualquer dos muitos Centros de que dispõe nem sempre pelo motivo indicado pela minha Lara, mas nos últimos anos, seguramente! Julgo também, que num ou noutro Centro, nem sempre será fácil atender esta pretensão, mas se tal for conseguido em parte deles, já todos ficaremos a ganhar - os irracionais de companhia e os racionais acompanhados sócios do INATEL Celestino Neves, Alfena COLUNA DO PROVEDOR O INATEL é, por natureza, uma associação cuja maior parte dos utentes dos seus serviços são trabalhadores e suas famílias. É pois natural que no meio da reclamação ou da sugestão, surjam alguns desabafos sobre a sociedade em geral e as suas preocupações, que o Provedor ouve com respeito que é devido a um universo de associados com as mais diversas posturas perante a política ou a religião. E porque, naturalmente, somos uma associação plural, ainda há pouco tempo nos chegaram preocupações contra a rotina como que datas significativas como o 25 de Abril e o 1º de Maio, são comemoradas. O profundo significado histórico que representam estas datas vão lentamente deixando de ser vividas para serem comemoradas, como se de um ritual se tratasse. Eu sei que a sociedade portuguesa vive num clima de dificuldades e de desencanto, mas não é com apatia que as coisas se resolvem. Não comemorem rotineiramente as datas históricas; Vivam-nas! Para isso porém é preciso que o façam todos os dias! Porque a Liberdade também se alimenta. Acho que se devem mudar os rituais, mas que não se apague a memória e gratidão. Comentários também surgiram a propósito da capa da nossa revista de Maio e da fotografia da peça escultórica dos pastorinhos que ornamenta uma das rotundas de Fátima. Claramente a maioria dos associados que se nos dirigiram haviam compreendido que a capa e a notícia nas páginas interiores enquadravam-se na efeméride dos noventa anos do santuário e num dos objectivos do INATEL, o turismo nas suas vertentes; também no religioso. Como aliás é explicado na página 14 da “Tempo Livre”: “Na comemoração dos 90 anos das aparições de Fátima, todos os caminhos vão dar ao santuário mariano da Cova de Iria, transformado pelo factor religioso num dos centros de peregrinação mais visitados por católicos de todo o mundo. Há mais vida, todavia, para além do santuário e do ritual mensal, de Maio a Outubro, na jovem cidade e seus arredores. O factor turístico está cada vez mais presente num fenómeno que mobiliza grandes multidões e Fátima e a vizinha Ourém merecem, para além dos mistérios da fé, uma enriquecedora visita histórico-cultural” Estamos em tempo de férias e de turismo. Gozem-no como puderem, mas sem excessos, com alegria ainda que conscientes que há ainda muita Sócios há 50 anos Completaram, este mês, 50 anos de ligação ao Inatel, os associados: Aulanio Carmo Marques, Alfragide; Fernando Antunes Pinto Macedo, Lisboa; Artur Caetano Martins, Amadora; José António Guedes Santos e Fernando Rodrigues Silva, Vila Nova de Gaia gente que não as pode gozar. E entretanto dito-vos este princípio: Aos que estão de férias que não se esqueçam da compreensão por quem está a trabalhar para os servir; a estes, em contrapartida, que não se esqueçam do zelo, profissionalismo e atenção sem servilismo que é devido a quem quer estar tranquilo e a reparar energias. São duas faces da mesma moeda; Sejam livres, plurais e solidários para que o mundo seja melhor!I A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: [email protected] Tel: 210027197 Fax: 210027179 e-mail: [email protected] Julho/Agosto 2007 TempoLivre 7 conc_fotos_184.qxp 04-07-2007 14:43 Page 8 Fotos Premiadas [ 1 ] Fernando Ledo, Viana do Castelo – Sócio n.º 349141 [ 2 ] António Pedro, Almada – Sócio n.º 383506 [ 3 ] Maria António, Porto – Sócio n.º 457699 [ a ] António Espirito Santo, Évora – Sócio n.º 134272 [ b ] Fernando Dias, Vila Nova de Gaia – Sócio n.º 82530 [ c ] Francisco Casqueiro, Cova da Piedade – Sócio n.º 235079 [1] Menções Honrosas [a] [b] [c] conc_fotos_184.qxp 04-07-2007 14:43 Page 9 REGULAMENTO 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos sócios do Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado do Inatel. [2] 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio um fim de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL» 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. [3] 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista Tempo Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio. noticias_184.qxp 04-07-2007 14:44 Page 10 Notícias Festa do Trabalhador na Caparica Cerca de oito centenas de trabalhadores do Inatel, no activo e na reforma e respectivas famílias, comemoraram o 72º Aniversário da Instituição, no passado dia 17 de Junho, no Inatel “Um Lugar ao Sol” na Costa de Caparica. As comemorações iniciaram-se com uma celebração religiosa pelo Reverendo João Aires Lobato, com a participação do Coro Gregoriano de Lisboa e a presença dos dirigentes do Instituto, José Alarcão Troni e Vitor Ventura, Presidente e vicePresidente, e Armando Couto, SecretárioGeral, e individualidades locais, entre outros, Joaquim Monteiro, representante do Governo Civil de Setúbal, António Neves, Pormenor do almoço de confraternização Presidente da Junta de Freguesia da Costa de Caparica e o Comandante dos Bombeiros Voluntários da Caparica. Após o almoço, José Alarcão Troni, saudou os trabalhadores e respectivas famílias e sublinhou que a passagem do Inatel a Fundação, já no próximo ano, terá em conta o desempenho e dedicação dos funcionários e as suas perspectivas de carreira. Deu ainda conta dos objectivos para o primeiro ano de actividade da Fundação Inatel e homenageou os trabalhadores que atingiram a antiguidade de 25, 30, 35 e 40 anos de serviço. Joaquim Borrelfo, há 35 anos no Inatel, foi homenageado na festa do 72º aniversário Com 40 anos de de serviço foram homenageados José Sozinho (Lisboa), José drigues (Braga), João Pereira (Bragança), António Monteiro (Vila Real) e Hortênsia Carlos Barbosa (Luso) e José Pereira (S. Jorge Torrão Nunes (Covilhã), Natércia Simões (Viseu); Pedro Moel); 35 anos - Luis Almeida Palma e Mª Perpétua Sequeira (Faro), (Coimbra), António José Constantino, Arlindo Parreira, José Figueiras Carlos, (Aveiro), Emília Rosa Pires, Maria José Diogo e José Baptista, Manuel Fonseca, Lucinda Fernando Fernandes (Bragança), José Joana Cardadeiro (Costa de Caparica), Otero, Adelino Coelho e José António Ferreira (Covilhã), José Lopes (Guarda), Augusto Borges, Inês Ramos e Lúzia Santos (Lisboa), Ermecinda Sousa (Porto), Mª Teresa Galapito, Isabel Galapito, Ana 25 anos - Mª Cristina Salgueiro Valentim Ribeiro (Braga), Azevedo (Entre-os-Rios), Mª Cristina Go- Paula mes, Hermenegildo Alho, Joaquim Bor- Francisco Damião, (Lisboa), Ermelinda relfo e Carlos Pinto (Lisboa), Júlio Teixeira Oliveira, Mª Fátima Monteiro, António (Porto), Manuel Silva Hercília Santos, Esteves e Rosa Sousa (Stª Mª da Feira). Gonçalves, Irene Pereira e Manuel Correia, Mª Fátima Rodrigues e A festa prosseguiu com um momento Mª Lurdes Paula (S. Pedro do Sul), José musical de José Cid que interpretou Reis Duarte, Maria Rocha Rodrigues e “Baladas da minha Vida”, seguindo-se a Filipa Machado (Reformados); 30 anos - merenda ao ar livre, animada com um Fernando Neto (Albufeira), António Ro- baile popular ao som de Zé da Viola. 10 TempoLivre Julho/Agosto 2007 noticias_184.qxp 04-07-2007 14:44 Page 11 Desporto Inatel: finais nacionais O Parque de Jogos 1º de Maio, em Lisboa, foi palco, em Junho, das Finais Nacionais 2006/2007 das modalidades de Andebol, Basquetebol, Futebol, Futsal e Voleibol, com a participação de 24 equipas de várias regiões do país. CCD «Os Mochos», vencedor no voleibol Alarcão Troni entrega medalhas aos campeões de futebol Entrega de medalhas ao CCD «Banda Naice» (futsal) CCD Millennium BCP vencedor de andebol Classificações: Andebol: 1º - CCD Millennium BCP (Porto), 2º - S.M.D. Caneças (Lisboa), 3º - CCD Caselas F.C. (Lisboa) e 4º - CCD São Mamede (Porto). Basquetebol: 1º - CCD Portugal Telecom (Lisboa), 2º - CCD Banco BPI (Lisboa), 3º - CCD Caixa Geral de Depósitos Naice C.S. (Lisboa), 2º - CCD Serviços IVA (B), (Porto) e 4º - CCD CCD Melrinho (Açores), (Lisboa) e 4º - CCD Praia Millennium BCP (Porto). 3º - CCD Quinta Grande de Esmoriz (Aveiro) Futebol de 11: 1º - CCD (Madeira) e 4º- CCD Voleibol Feminino: 1º Paços Negros (Santarém), Gessirela/Bila Biker’S CCD Portugal Telecom 2º - CCD Casa do Povo do (Vila Real) (Lisboa), 2º CCD Caniçal (Madeira), 3º - Voleibol Masculino: 1º - Millennium BCP (Porto), CCD Lavandeira (Aveiro) e CCD Os Mochos (Aveiro), 3º - CCD Perre (Viana do 4º - CCD Salão (Açores) 2º - CCD Portugal Castelo) e 4º - CCD Telecom (Lisboa), 3º - CDCR/CTT (Lisboa). Futsal: 1º - CCD Banda CCD da PT, campeão de basquetebol Seis records no atletismo Ainda no Parque de Jogos 1º de Maio, teve (vet. G); Paula Martinho, no Disco, (vet.D) e lugar, em Junho, o Campeonato Nacional Ivone Lobo nos 100m e Disco, (vet.H). de Pista, com a participação de 180 atletas, Por equipas, na categoria masculina, o em representação de 25 CCD’s dos distri- vencedor foi o CCD de Ponterrolense tos de Angra do Heroísmo, Braga, Coim- (Lisboa) com 270 pontos, seguido pelos bra, Funchal, Porto, Lisboa, Santarém, CCD’s Cluve de Coimbra, Portugal Telecom Setúbal, Covilhã. (Lisboa), Petrogal (Porto), Millennium BCP Destaque para os seis records nacionais (Porto e Clube Montanha (Funchal). do Inatel, alcançados por Elisabete Águas Na categoria feminina, o primeiro lugar (CCD O Alvitejo), nos 5000 metros; Rui foi para o CCD Cluve com 119 pontos segui- Costa (CCD Cluve) nos 100 e 200 metros do do CCD ACM de Angra do Heroísmo. Julho/Agosto 2007 TempoLivre 11 noticias_184.qxp 04-07-2007 14:45 Page 12 Notícias Évora, Guarda e Castelo Branco vencedores do ENCONTRÃO 2007 Filarmónica da Casa do Povo de Lavre-Évora, vencedora da Festimúsica Rancho Folclório da Boidobra: 1º lugar na etnografia Associação Desportiva e Cultural de Subportel (V.Castelo) vencedora da Teatrália Vice-presidente, Vítor Ventura, entrega primeiro prémio ao Rancho Folclório da Boidobra A Banda Filarmónica da Casa do Povo de hida, com o CCD da Câmara do Porto e Clássica de Lisboa, perante diferentes Lavre (Évora), a Associação Desportiva a Capricho Bejense (Beja) classificados júris, numa intensa e salutar com- Cultural logo a seguir ao CCD de SubPortela. petição, promovida pelo Inatel, aposta- Castelo) e o Rancho Folclórico da Finalmente, do, há décadas, na preservação da cul- Boidobra (Castelo Branco) foram os Cantadeiras do Vale do Neiva (V. do grandes vencedores da 3ª edição do Castelo), com uma notável represen- De salientar, ainda, neste terceiro Encontrão – Encontro Nacional de tação das “carpideiras”, e o Rancho de Encontrão, a massiva participação de Centros de Cultura e Desporto do Inatel, Stº Amaro de Azurara (Viseu), com as jovens nas três vertentes de música, respectivamente, nas modalidades de romarias populares, ficaram apenas a teatro e folclore, um sinal revelador da Música, Teatro e Etnografia. um ponto do grupo vencedor. crescente vitalidade e dinâmica associa- de SubPortela (Viana do na Etnografia, as tura popular portuguesa. Na Festimúsica destacaram-se, ainda, Numa participação representativa de tiva da nossa cultura popular, que – a jovem Filarmónica do Entroncamento quase todo o território nacional, foram como salientou Vítor Ventura, vice-presi- (Santarém) e o Grupo de Cantares de cerca de 1200 os elementos dos 47 dente do Direcção, na cerimónia de Vila Chã de Sá (Viseu), classificados em CCD’s finalistas que se exibiram, entrega dos prémios aos vencedores – 2º e 3º lugares, respectivamente. No durante dois dias, no palco da Aula tem, no Inatel, um antigo e sólido apoio Teatro, a competição foi igualmente ren- Magna da Reitoria da Universidade material e institucional. 12 TempoLivre Julho/Agosto 2007 noticias_184.qxp 04-07-2007 14:45 Page 13 Poeta Carlos Queiroz evocado no Trindade França condecora Joaquim Benite O Salão Nobre do Teatro da Trindade foi do Teatro Municipal de Almada e do palco, no final de Junho, de um sarau Festival de Almada, foi distinguido comemorativo do centenário do nasci- pelo Governo francês com o grau de mento do poeta Carlos Queiroz. Cavaleiro da Ordem das Artes e das Perante dezenas de convidados, o Prof. Letras. A decisão da atribuição do grau Fernando Martinho lembrou, de forma de Chevalier de l’Ordre des Arts et des sugestiva e documentada, a qualidade Lettres foi tomada pelo anterior humana e literária do grande poeta da Ministro da Cultura de França, Renaud Presença. Seguiu-se a leitura de poe- Donnedieu de Vavres, e por ele mas por Vítor de Sousa e Cármen comunicada ao encenador, distinguido Filomena e um momento musical com Manuela Telles da Gama, que interpre- O encenador Joaquim Benite ,director pelas suas criações artísticas e pela Carmen Filomena e Vítor de Sousa tou alguns fados com letras do poeta. sua contribuição para a difusão da cultura. Alarcão Troni, presidente do Inatel, Feira Nacional de Artesanato reafirmou, no início da sessão, a decisão do Instituto em associar-se às comemorações do centenário com a reedição do famoso, e há muito esgo- Organizada em parceria pela Câmara tado, elogio fúnebre de Fernando de Vila do Conde e pela Associação Pessoa por Carlos Queiroz. O sarau para Defesa do Artesanato e finalizou com emotivas palavras de Património vila-condense, a 30ª Feira Nacional de Artesanato irá decorrer agradecimento da filha do poeta, a escritora Graça Queiroz. Graça Queiroz entre 21 de Julho e 6 de Agosto, nos Jardins da Av. Júlio Graça, com a presença de duas centenas de Inatel Montalegre Informam-se todos os artesãos de todo o País, grande parte interessados que as reservas de dos quais demonstrará ao vivo o seu alojamento para o INATEL saber nas mais diversas expressões do Montalegre (Turismo Rural) artesanato. Este ano, a FNA dedica deverão ser efectuadas através particular destaque às Rendas de do Inatel Cerveira, Bilros, ex-libris do artesanato local e Telef: 251 708 360/1 primeiro pretexto impulsionador para a Fax: 251 195 050 criação do certame. noticias_184.qxp 04-07-2007 14:46 Page 14 Notícias Feira do Livro Festa do Circo O pavilhão do Inatel na Feira do Livro de Lisboa mereceu a atenção de numerosos visitantes, atraídos pela qualidade e diversidade das edições do Instituto nas áreas de turismo (Aldeias Históricas), etnografia, teatro, desporto e lazer. O Inatel assinalou o Dia Mundial da Criança com uma divertida Festa do Circo no Parque 1º de Maio. Pepe Nunez, Circulino Pico Bello, Circo Chen, os Trupilariante e os Mirakulaicos proporcionaram uma tarde inesquecível, de humor e fantasia, a centenas de crianças. «Portugal e o Mundo nos séculos XVI e XVII» Chapitô no Festival de Mérida O Presidente da República, Cavaco Silva, principais responsáveis pela exposição Na famosa Alcazaba de Mérida, condecorou, em Junho último, com o “Abraçando o Globo, Portugal e o construção árabe de defesa da grau de Grande Oficial da Ordem do Mundo nos séculos XVI e XVII”, patente cidade espanhola a poucos quiló- Infante D. Henrique, os norte-ameri- na Freer Gallery of Art / Arthur M. Sackler metros de Portugal, a Companhia canos Julian Raby e o Prof. Jay Levenson, Gallery, em Washington. Teatral do Chapitô irá apresentar a peça “O Grande Criador”, inserida no famoso Festival de Teatro Clássico de Mérida. O Grande Criador é uma sátira dirigida por John Mowat, em que o principal tema será a religião tal como a conhecemos ou tal como a mesma nos foi transmitida. Perguntas como “Terá sido Moisés o maior alpinista da sua geração?” ou “Foi a falta de espaço na Arca de Noé, a verdadeira causa da extinção dos dinossauros?” levam a crer que esta será um comédia extrema, que tanto pode levar às lágrimas, como ferir as crenças das pessoas com mais fé, mas sempre com muito humor. 14 TempoLivre Julho/Agosto 2007 noticias_184.qxp 04-07-2007 14:46 Page 15 Porto, história e lenda Nascida da necessidade de dar a conhecer aos portuenses o melhor da história, dos costumes e das tradições da sua cidade, a popular crónica semanal de Germano Silva no JN, “À descoberta do Porto”, foi agora reunida em livro (Ed. Casa das Letras), com prefácio de Geraldo José Amadeu Coelho Dias. Trata-se de um novo livro de história do Porto, a juntar a uma panóplia de cinco anteriormente publicados e com os quais se pretende proporcionar uma visão panorâmica bastante dilatada de importantes aspectos históricos da cidade do Porto, quer no tipo tradicional da historiografia, quer na história dos costumes e das tradições tipicamente portuenses Peter Brook no Festival de Almada MTSS premeia reportagem da SIC O Ministro Vieira da Silva e a Secretária de Estado, Idália Moniz, presentes na entrega dos prémios A reportagem da SIC, “O Triunfo da «pensar nos filhos dos outros». O Vontade”, Daniel Centro de Reabilitação da Associação Cruzeiro, Franco Santos e Rui Rocha, de Paralisia Cerebral de Coimbra, cria- Com 23 produções, 11 das quais estrangeiras com grafismo de Paulo Alves, exibida do há 32 anos pelo médico José (da Lituânia, Vietname, Noruega, França, no dia 3 de Dezembro de 2006, foi dis- Barros, assiste hoje 2000 utentes e é Itália, Espanha, Chile, Colômbia, Bélgica e tinguida com o Prémio da Família na um exemplo relevante de como a Argentina), o Festival de Almada 2007, a Comunicação Social, da responsabili- experiência de uma família ajudou a decorrer até 18 de Julho, reparte-se, uma vez dade do Ministério do Trabalho e da construir soluções para as dificul- mais pela cidade de origem e por vários Solidariedade Social em colaboração dades de milhares de famílias. espaços de Lisboa - Teatro Nacional, CCB, com o Instituto de Comunicação Culturgest, S. Luiz, Instituto Franco-Português Social. da autoria de À reportagem «Gente com raça» (o problema de inserção social de uma e Cornucópia. A participação de figuras con- O júri valorizou o mérito do trabalho família cigana) da autoria da jornalista sagradas, como o inglês Peter Brook (com a jornalístico e a qualidade do retrato de Amélia Moura Ramos, do repórter de peça “Sizwe Banzi morreu”) e o francês uma instituição que nasceu da ousa- imagem Filipe Ferreira e do editor de Bernard Sobel, é acompanhada, neste festival dia e solidariedade de um pai que, con- imagem Marco Neiva, exibida na SIC pela apresentação de trabalhos de um con- frontado com a paralisia cerebral do no dia 25 de Novembro de 2006, foi junto de jovens criadores contemporâneos. seu filho, decidiu tornar-se médico e atribuída uma menção honrosa.. Portugal na Europa.qxp 29-06-2007 12:05 Page 16 PORTUGAL NA EUROPA Portugal-Bélgica Além do Futebol Neste início de uma pequena série de crónicas dedicadas a vários países europeus, tendo como pretexto e razão a presidência portuguesa da União Europeia, é justo começar pela Bélgica, em cuja capital está a sede da UE. Ora, dado que nos interessam particularmente as relações entre Portugal e os diversos países escolhidos como tema, e também os vestígios físicos e patrimoniais eventualmente deixados por essas relações ao longo da História, convirá começar por recordar aos mais distraídos que, no caso específico do Reino da Bélgica, as nossas relações vão, felizmente, muito além dos jogos (eu ia escrever «recontros»…) de futebol que nos últimos tempos tanto inflamaram os adeptos mais ferrenhos e os simples patriotas-da-bola. Comecemos com uma curiosidade: o actual rei dos belgas, Alberto II, tem sangue Bragança, por via da sua avó, a rainha Elizabeth, cuja mãe era a infanta D. Maria José, filha de D. Miguel I. É, como afirmei, uma curiosidade interessante, mas não muito original, pois que praticamente todas as dinastias reais europeias estão relacionadas entre si. Menos vulgar será, para um viajante português que visite Bruxelas, encontrar uma marca portuguesa, bem visível, mesmo quase gritante, numa das principais peças do património arquitectónico da cidade. No entanto, por invulgar 16 TempoLivre Julho/Agosto 2007 que seja, essa marca não é difícil de encontrar: bastará entrar na catedral. A catedral de Bruxelas, consagrada a São Miguel e Santa Gúdula, erguese no centro da cidade, bem perto da célebre Grand’Place. Ora, quem entrar no templo e avançar pela nave central, olhando para a sua esquerda, acabará por ver um enorme vitral que mostra, ao alto, o brasão português, quinas e castelos, enquadrado pela cruz da Ordem de Cristo. Em baixo, ajoelhados, estão as figuras de um rei e duma rainha — e não custa adivinhar a origem do rei, porque as suas vestes ostentam as quinas. Se a isto juntarmos uma data Quem entrar no templo e avançar pela nave central acabará por ver um enorme vitral que mostra o brasão português, quinas e castelos, enquadrado pela cruz da Ordem de Cristo que também se vê no vitral, 1542, e uma legenda em latim na qual podemos ler os nomes «João» e «Catarina», teremos todos os elementos necessários para conhecer a identidade do par real: o rei de Portugal D. João III e a sua mulher, Catarina de Áustria. Será então a altura de o visitante português se perguntar: «o que fazem estes dois aqui, na catedral de Bruxelas, rodeados de quinas e cruzes de Cristo?» A resposta a esta pergunta não é muito complicada. O vitral em questão faz parte da capela do Santíssimo Sacramento, perfeitamente integrada no corpo da igreja e que, actualmente, contém o tesouro da catedral. Ora, esta capela foi mandada fazer pelo imperador Carlos V, o mesmo que fez de Bruxelas a capital dos Países Baixos. Há ali quatro grandes vitrais e cada um deles é dedicado e terá sido pago pelas casas reais directamente ligadas aos Habsburgo. O que era o caso da dinastia portuguesa, porque a rainha D. Catarina, mulher de D. João III, era irmã de Carlos V. Este vitral será talvez, hoje em dia, a «marca portuguesa» mais visível na Bélgica moderna. No entanto, é pre- Portugal na Europa.qxp 29-06-2007 12:06 Page 17 Julho/Agosto 2007 TempoLivre 17 Portugal na Europa.qxp 29-06-2007 12:06 Page 18 PORTUGAL NA EUROPA Lusa ciso mencionar uma outra, não na capital mas em Lovaina, mais precisamente na universidade. Trata-se de uma pintura de George de Geetere, um quadro de grandes dimensões mostrando um renhido combate sobre uma ponte levadiça. Em posição destacada, vê-se, lutando energicamente, um homem de bicórneo, com uma gola de arminho. Pois bem: essa personagem é Damião de Góis. No texto que lhe é consagrado, publicado neste mesmo número de Tempo Livre, são dadas explicações para a sua presença neste quadro: as tropas de Francisco I de França tinham atacado Lovaina e Góis acorreu a tomar parte na defesa da cidade universitária onde estudara. E foi à frente dos estudantes, como seu comandante, que ele lutou. A pintura de de Geetere fixou para a posteridade a sua intervenção. Já no tempo de Damião de Góis as 18 TempoLivre Julho/Agosto 2007 relações entre Portugal e a Flandres tinham história. A infanta D. Isabel, filha de D. João I, casara com Filipe III o Bom, duque de Borgonha, que era também conde de Flandres… aliás, se quisermos ir mais longe no tempo, iremos parar ao reinado de D. Afonso Henriques, pois uma das filhas do nosso primeiro rei foi igualmente, por casamento, condessa de Flandres, e no reinado de D. Sancho I muitos flamengos se estabeleceram em Portugal. É, porém, nos séculos XV – XVI que as relações luso-flamengas se desenvolvem a um nível nunca antes visto. D. Isabel duquesa de Borgonha, a quem o seu sobrinho, D. Afonso V, dera os Açores, enviou para o arquipélago numerosos colonos flamengos; e, por outro lado, os portugueses estabeleceram uma feitoria em Bruges. Essa feitoria foi, mais tarde (em 1499), trans- ferida para Antuérpia e ganhou uma enorme importância; aliás, a «nação» portuguesa de Antuérpia era, segundo rezam as crónicas, a que tinha melhor organização entre todas as comunidades estrangeiras. O que resta, hoje, dessa presença? Resta, pelo menos, uma bela casa que, em 1511, foi concedida à feitoria: é o Nº 8 da Rua Kipdorp. Actualmente, está lá instalado um quartel de bombeiros, mas, à casa, ainda lhe chamam Huis van Portugaal, a Casa de Portugal. E que mais há de «nosso» na Bélgica? Ah, sim: inúmeros túmulos de soldados. Os cemitérios de Antuérpia, de Ninove, de Tournai têm-nos em abundância. São os rapazes portugueses que, na I Grande Guerra, tombaram na Flandres em defesa do solo belga. Não é turístico, mas é significativo. I João Aguiar Portugal na Europa.qxp 29-06-2007 12:06 Page 19 Damião de Góis A Europa no sangue Dos méritos de Damião de Góis (1502 – 1574) como historiador, humanista, homem de cultura e guarda-mor da Torre do Tombo, muito se tem escrito. E o que ele sofreu às mãos da Inquisição — se é que não foi mesmo discretamente assassinado a seu mando —, é matéria que também tem sido abordada várias vezes e por diversas formas, tendo em conta o seu valor dramático. Nesta crónica, tudo isso se toma como dados adquiridos. Não pretendemos, aqui, narrar a toda vida deste homem, mas sim evocar a sua dupla qualidade de português muito português e de europeu muito europeu… Que Góis foi muito português, prova-o o facto de ter acabado por vir fixar-se em Portugal a convite do seu rei e de ter consumido o seu tempo e as suas energias não só a dirigir o arquivo real como a escrever uma Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel e uma Crónica do Príncipe D. João. Podia, afinal, ter ficado a viver na Flandres, ou na Itália, ou na Alemanha — enfim, em qualquer um dos muitos países onde tinha amigos e apoios. Mas veio para Portugal. Ao mesmo tempo, não abundam, ao longo da nossa história, homens que, como ele, se tenham integrado mais perfeitamente e mais completamente na vida e no pulsar intelectual da Europa, e que a tenham conhecido melhor, fisicamente e sobretudo espiritualmente. É certo que, em Damião de Góis, esse «europeísmo» estavalhe, literalmente, no sangue, pela parte da mãe, Isabel Gomes de Limi, descendente de um flamengo que veio estabelecer-se em Portugal. Assim, a sua ligação com a Flandres é, digamos, inata. Mas viria a desenvolver-se, a tornar-se muito forte — por destino ou acaso, não importa. De facto, em 1523, Damião de Góis, que vivia então na corte, pois desempenhara as funções de moço da câmara de D. Manuel I, foi nomeado por D. João III escrivão da feitoria portuguesa da Flandres, que então já tinha sido transferida de Bruges para Antuérpia. E em Antuérpia viveu Não abundam, ao longo da nossa história, homens que, como ele, se tenham integrado mais perfeitamente e mais completamente na vida e no pulsar intelectual da Europa durante seis anos, entregue ao seu trabalho mas também criando amizades, estudando, coleccionando obras de arte, desenvolvendo as suas múltiplas aptidões — convém não esquecer que este escritor erudito era também compositor musical e cantor. Seis anos após a sua instalação em Antuérpia, Damião de Góis começou a viajar. Nem sempre por sua iniciativa e para seu prazer; aliás, a primeira dessas viagens fê-la no âmbito de uma missão oficial: D. João III fizera dele escrivão da feitoria, agora ia fazer dele diplomata. AO SERVIÇO DO REI Em 1529, Góis recebeu instruções de Lisboa: devia ir à Polónia, para negociar o casamento do infante D. Luís, irmão de D. João III, com Edviges, filha do rei polaco Segismundo I. Como o monarca se encontrava então na Lituânia, o enviado português partiu de Antuérpia para Dantzig e de lá para Vilna. Depois, regressou a Dantzig e seguiu para Cracóvia. Desta cidade, voltou a Antuérpia. Era uma primeira experiência em matéria de viagens europeias. Mas, logo em 1531, recebeu outra missão, que o levou à Dinamarca e novamente à Polónia. É de crer que, entretanto, Góis tivesse Julho/Agosto 2007 TempoLivre 19 Portugal na Europa.qxp 29-06-2007 12:06 Page 20 PORTUGAL NA EUROPA tomado o gosto destas deslocações, porque, desta vez, durante o percurso da Dinamarca para a Polónia, fez um desvio por conta própria e foi a Wittenberg, na Alemanha. Havia uma razão especial para isso: era lá que estavam Lutero e Melanchton, os dois grandes reformistas protestantes. Era com eles que o viajante queria falar. Tanto quanto se sabe, Damião de Góis nunca abandonou a fé católica — se o tivesse feito, seria loucura instalar-se, mais tarde, em Portugal. Mas não há dúvida de que o seu espírito aberto, tolerante e curioso o levou a estabelecer «contactos heterodoxos» que, mais tarde, lhe sairiam caros, quando, após a morte de D. João III, a Inquisição pôde enfim atacá-lo seriamente. Ao voltar à Flandres, Góis frequentou a universidade de Lovaina (cidade onde, anos mais tarde, ele combateria, ao lado dos estudantes, contra as tropas francesas). De Lovaina, foi a Paris e depois a Friburgo (Alemanha), para se encontrar com o célebre Erasmo, e a Basileia, para conhecer Sebastian Münster, o não menos célebre cartógrafo, cosmógrafo, teólogo protestante, matemático e especialista em língua hebraica. DIGRESSÃO ITALIANA Igualmente importante foi a longa vilegiatura de Damião de Góis na Itália, onde contactou com alguns dos homens mais brilhantes do seu tempo — entre eles Inácio de Loyola —, além do que frequentou a universidade de Pádua. Mas visitou também Roma, Veneza, Ferrara, Génova, Milão, Nápoles. 20 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Em 1538, Góis encontrava-se na Haia. E aí reforçou os seus «laços neerlandeses» ao casar com Joana van Hargen, filha de um homem de Utrecht. Quatro anos mais tarde, em 1542, foi quando, por ocasião de um dos muitos conflitos entre Francisco I de França e Carlos V, as tropas francesas atacaram Lovaina. Damião de Góis estava então de Em 1538, Góis encontrava-se na Haia. E aí reforçou os seus «laços neerlandeses» ao casar com Joana van Hargen, filha de um homem de Utrecht viagem para a Holanda, com a mulher, mas dirigiu-se imediatamente Lovaina para tomar parte na defesa da cidade. Diga-se, aliás, que combateu bem e que foi feito prisioneiro. Os franceses viriam a libertá-lo com resgate, por diligência de D. João III e de Carlos V. E chegamos a 1545. Então, vem o convite do rei de Portugal para regressar ao país e assumir o cargo de mestre do infante D. João. Góis aceita e regressa. É o início dos ataques da Inquisição, mas também de um dos seus períodos mais criativos, em que escreve as crónicas de D. Manuel e de D. João. Não voltará para o estrangeiro, mas conservará muitas das amizades feitas pela Europa. Que, infelizmente, de nada lhe valerão quando, finalmente a «santa» Inquisição se apoderar dele. I João Aguiar Pag83.qxp 02-07-2007 18:12 Page 1 estrasburgo.qxp 29-06-2007 12:08 Page 22 VIAGENS Estrasburgo A outra capital europeia Embora mais conhecida por acolher a sede do Parlamento Europeu, Estrasburgo é uma cidade que merece a atenção dos viajantes por muitas outras razões. Pólo importante de difusão das ideias humanistas, nela mergulham também algumas das raízes da condição europeia. É Património Mundial desde 1988. Poucas cidades da dimensão de Estrasburgo poderão ser evocadas pelas mesmas tantas razões que a urbe alsaciana nascida nas margens do Reno: relicário exemplar de diferentes arquitecturas e urbanismos, burgo regido nos idos medievos por uma constituição que mereceu elogio de Erasmo, cidade universitária, sede de várias instituições europeias, etc., etc. Gaulesa e germânica a um tempo, Estrasburgo tem, ainda, mais uns quantos motivos de orgulho: Goethe foi aluno de uma das suas universidades, Gutenberg terá inventado a imprensa durante a sua permanência ali, a cidade foi, enfim, um dos 22 TempoLivre Julho/Agosto 2007 mais importantes pólos europeus de desenvolvimento e difusão das ideias humanistas e da Reforma. Estrasburgo é uma metrópole tranquila, com todo o ar de capital de província, que se agita substancialmente, todavia, uma vez por mês, na semana em que o Parlamento Europeu se reúne. Quem deseje aproveitar o facto de Portugal assumir a presidência europeia até ao final do ano e planeie conhecer por dentro nesse período o Parlamento, essa semana será a mais indicada; mas vale a pena permanecer uns dias mais na cidade, demora justificada pela oferta museológica, a atmosfera distendida dos cafés e esplanadas da Petite France, os passeios pelos canais, o roteiro monumental revelador de uma arquitectura dual que testemunha uma história dividida entre a Alemanha e a França. E, evidentemente, também por uma diversificada vida cultural para a qual contribuem reconhecidas “instituições” como a Orquestra Filarmónica, o Ensemble des Percussions de Strasbourg e a Ópera Nacional do Reno. UM PASSEIO COM HISTÓRIA Até à instalação do Parlamento Europeu em 1992, longa e rica foi a jornada de Estrasburgo, fundamentando a inscrição na lista de Património Mundial da UNESCO em 1988. As margens do Reno estiveram na rota dos romanos e pela Rue du Dôme passaram as legiões de César. A Argentoratum desse tempo teve os seus momentos áureos dispersos por várias idades, desde os tempos medievais até ao final do século XIX, quando a cidade fez parte do Reich e o espaço urbano se avolumou com uma arquitectura cénica, ecléctica. Esse “período alemão” está representado pelo Palácio do Reno ou na arquitectura e urbanismo das praças da Universidade ou da República. Uma boa parte da arquitectura mais interessante de Estrasburgo vem do século XVIII, do tempo que se seguiu à incorporação da cidade estrasburgo.qxp 29-06-2007 12:08 Page 23 VISITAR O PARLAMENTO EUROPEU Estrasburgo acolhe várias instituições para a energia. Até ao final do ano realizar-se-ão, da União Europeia, entre as quais o Outubro - 22 a 28 Outubro – ainda, plenários entre 12 e 18 de Parlamento Europeu, Conselho da Agendado um debate sobre a política Novembro e entre 10 e 16 de Europa e o Tribunal Europeu dos europeia de concessão de vistos. Dezembro. Direitos do Homem. O Parlamento reúne uma vez por mês durante uma semana e é divulgada antecipadamente a agenda das sessões, sempre actualizada com temas de última hora. A instituição disponibiliza visitas guiadas e é possível assistir ao plenário. As próximas datas das sessões parlamentares são indicadas a seguir, com informação breve sobre alguns dos temas já agendados para discussão: Julho - 9 a 15. No dia 9 será apresentado o programa da presidência portuguesa e debatida a questão da imigração ilegal. Setembro - 3 a 9 e 24 a 30 – Entre outros temas, estão agendados debates sobre a política europeia Julho/Agosto 2007 TempoLivre 23 estrasburgo.qxp 29-06-2007 12:08 Page 24 VIAGENS Em cima: A Catedral de Estrasburgo, a Place du Chateau e as torres medievais das velhas pontes cobertas Em baixo: Três pormenores da Petit-France, um dos ex-libris da capital alsaciana no território francês – o magnífico Palácio Rohan, que acolhe três museus (Artes Decorativas, Arqueológico e Belas Artes), e cujo traço tem a assinatura do “autor ” de Versalhes, é o mais expressivo. Mas é da Renascença, e dos séculos XVI e XVII, que data o “visual” arquitectónico mais emblemático de Estrasburgo, ou pelo menos mais explorado pela promoção turística: edifícios como a Câmara do Co24 TempoLivre Julho/Agosto 2007 mércio, na Praça Gutenberg, as casas burguesas da Praça St. Etienne e as típicas construções em tabique do quarteirão da Petite France. No capítulo das manifestações arquitectónicas mais interessantes, não se poderá esquecer a casa Kammerzel, mesmo ao lado da catedral, com a sua fachada de madeira, repleta de figuras (e outros motivos esculpidos em madeira) e de frisos de vitrais. É, com a catedral, a Petite France e as torres medievais das velhas pontes cobertas, um dos ex-libris mais repetidos da capital alsaciana. Esta sugestão de um breve roteiro por Estrasburgo termina com uma referência à catedral, um prodígio que combina gigantismo e delicadeza – disse-o Victor Hugo. A torre, com 142 metros de altura, ergue-se de forma impressionante sobre os telhados da cidade: este templo foi até ao século XIX o edifício cristão mais alto, estrasburgo.qxp 29-06-2007 12:08 Page 25 GUIA Quando ir O INATEL tem programas que incluem Estrasburgo e a Alsácia. Para quem organize a viagem de forma autónoma, convém fazer reserva de alojamento, sobretudo se o período da estadia coincidir com a semana do plenário, já que os estabelecimentos hoteleiros esgotam a sua capacidade com os deputados e os funcionários do Parlamento. Entre Maio e Setembro é o período mais agradável para a viagem, descontando o facto de durante o Verão a afluência turística ser maior. Visitar A Petite France, antigo quarteirão de ofícios medievais agora transfigurado em cenário turístico, é visita óbvia. Entre os museus, o destaque vai para o Museu Alsaciano, uma colecção etnográfica de arte popular, mobiliário tradicional, brinquedos, etc., o Museu da Obra de Notre-Dame (acervo de obras-primas de estatuária medieval), o Museu de Belas Artes (Giotto, Boticcelli, uma manifestação superlativa da que é, afinal, uma das marcas centrais do gótico. Iniciada a sua construção em 1176, só trezentos anos depois foi dada como concluída. O trabalho de um grupo de artistas que chegou em 1225, vindo de Chartres, foi decisivo para a riqueza escultórica que a distingue. A nave principal, inspirada na de Saint-Denis, na capital francesa, conserva parte dos vitrais originais. Singular é também o relógio as- tronómico, testemunho e herança do movimento da Reforma. Inactivo desde 1789, foi reabilitado em meados do século XIX e o planetário de Copérnico adicionado é bem um símbolo, afinal, de uma parte das raízes em que mergulha a condição europeia e que em Estrasburgo, como se pode constatar neste passeio com história, têm significativa representação. I Raphael, El Greco, Rubens, Canaletto e Delacroix, entre outros) e o Museu de Arte Moderna e Contemporânea (Monet, Picasso, Arp, etc.). Um museu dedicado ao chocolate, um mercado de livros (na Praça de Gutenberg) e outros mercados semanais podem preencher diferentes interesses. Humberto Lopes [texto e fotos] Julho/Agosto 2007 TempoLivre 25 FUND_medeiros.qxp 29-06-2007 12:11 Page 26 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [5] Fundação Medeiros e Almeida Um tesouro em Lisboa Trocou aos vinte anos o curso de Medicina pelos negócios e, outros tantos anos volvidos, batia-se com grandes museus na compra de peças de arte. Hoje, vinte anos depois da sua morte e ultrapassadas as tradicionais burocracias lusas e algumas incompreensões familiares, o Museu que António Medeiros e Almeida (1895-1986) sonhou legar ao País e à sua cidade está – graças à Fundação que ostenta o seu nome – vivo e disponível para os amantes e curiosos da Arte. Criada em 1973 com o objectivo do estudo, conservação e divulgação do acervo desse grande empresário português, de origem açoriana, a Fundação Medeiros e Almeida tem, no seu espólio, raras e notáveis colecções de Relógios, Porcelanas da China, Pintura, Mobiliário, Ourivesaria/Joalharia, Arte Sacra, Escultura e Têxteis, num total de cerca de 9.000 peças que atravessam os séculos, 2.000 das quais estão já patentes ao público em 26 salas da antiga residência do seu patrono, num belo palacete situado no centro de Lisboa. Nesta vivenda de estilo parisiense, oitocentista, localizada no gaveto das ruas Rosa Araújo e Mouzinho da Silveira e adquirida, em 1943, à Nunciatura Apostólica, viveu António Medeiros e Almeida com a sua mulher, Margarida Pinto Basto (da família dos fundadores da Vista Alegre), até meados dos anos 80. Filho de pais açorianos, mas nascido em Lisboa (1895), Medeiros e Almeida trocou, aos 20 anos, o curso de Medicina, que frequentava 26 TempoLivre Julho/Agosto 2007 em Coimbra, por uma bem sucedida carreira nos negócios - além da exploração dos sectores têxtil, açucareiro e do álcool, foi também representante em Portugal da British Leyland, fabricante dos automóveis Morris e MG - e, cedo também, ganhou fama de coleccionador a nível europeu percorrendo salas de leilões de numerosos países, disputando, muitas vezes, valiosas peças de arte com alguns dos maiores museus mundiais. Com o objectivo de decorar os vários espaços da sua casa, totalmente remodelada pelo grande mestre da arquitectura nacional, Carlos Ramos, mas também movido pelo intuito de deixar um legado para o país, António Medeiros e Almeida foi-se tornando mais selectivo nas aquisições, ao reunir na sua valiosa colecção particular obras de alguns dos grandes mestres da história da arte. Expostos num ambiente de casa familiar da alta burguesia lisboeta, podem admirar-se quadros de grandes mestres ingleses, flamen- gos e holandeses (de Brueghel e de Jan van Goyen, entre outros), esculturas raras (um precioso Bernini), grandes painéis da melhor azulejaria portuguesa, arte sacra, terracota e porcelana chinesa (onde avultam peças Ming do século XVI de encomenda nacional), joalharia, mobiliário francês e inglês de autor, e, em grande destaque, uma fabulosa colecção de relojoaria de mais de 200 peças, representativas de quatro séculos de produção. Nesta incrível e rara colecção sobressaem o histórico relógio de noite de Catarina de Bragança, mulher de Carlos II de Inglaterra, e um belíssimo relógio de mesa em cristal de quartzo e lápis-lazúli, prenda de Luís de Baviera à célebre imperatriz austríaca Sissi. Sem filhos e interessado, tal como a sua mulher, Margarida Pinto Basto, na preservação da sua vasta e invulgar colecção, Medeiros e Almeida decidiu, no início da década de 70 – como nos recorda o dr. João Oliveira e Silva, presidente da Fundação – ampliar a casa, destru- FUND_medeiros.qxp 29-06-2007 12:11 Page 27 A sala do Lago, forrada com painéis de azulejos, representando as quatro estações e os quatro continentes. Em baixo, imagem exterior da Fundação Julho/Agosto 2007 TempoLivre 27 FUND_medeiros.qxp 29-06-2007 12:11 Page 28 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [5] FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA Retratos de António de Medeiros e Almeida e de sua mulher Margarida Pinto Basto de Medeiros e Almeida. Pormenor do interior do edifício e algumas peças da vasta e valiosa colecção em exposição indo para isso parte do jardim, transformando-a em Museu, tal como hoje se mantém. Anos antes, adquirira uma vivenda contígua, do início do século, com a assinatura do arquitecto Ventura Terra, para residência, mantendo o recheio do futuro museu na anterior moradia. A Fundação nasce, assim, em Fevereiro de 1973, com a doação, pelo instituidor, de todos os seus bens imobiliários e colecções de arte, bem como outros meios indispensáveis à autonomia financeira da Casa Museu. As dificuldades surgem um ano depois. A queda da Bolsa, logo a seguir ao 25 de Abril, vai impedir a utilização imediata dos meios financeiros necessários à abertura e fun28 TempoLivre Julho/Agosto 2007 cionamento do Museu. A situação arrasta-se durante alguns anos e, após a morte de Medeiros e Almeida (1986), a sua última residência dará lugar à construção de um moderno imóvel de rendimento, o Edifício Fundação, que, a par de outros investimentos imobiliários em perspectiva e alguns depósitos bancários, vai garantir a autonomia financeira. “Não beneficiamos de qualquer subsídio estatal ou privado. A Fundação vive exclusivamente dos seus meios…”, assinala João PARCERIA COM O INATEL Com o objectivo de divulgar este suas publicações e de cino por raro e valioso património, a cento nas réplicas das peças. Fundação tem projectada uma A parceria prevê, ainda, um preço parceria com o Inatel que especial para grupos até 20 permitirá aos associados do pessoas, com a mais valia Instituto condições especiais de de uma visita guiada ingresso com o preço único de personalizada ao preço de três dois euros e desconto de 25% nas euros cada. FUND_medeiros.qxp 29-06-2007 12:12 Page 29 Retrato de D. Catarina de Bragança e, ao lado, o seu histórico relógio de noite. O mobiliário francês, e inglês de autor e indo-europeu, assim como as porcelanas, são outras das vertentes da coleccão. À direita, um jarro da Dinastia Ming, encomenda para homenagear D. Manuel I Oliveira e Silva, o homem de confiança do culto empresário e responsável pela concretização da obra sonhada, agora patente ao público. BOLSAS DE ESTUDO Aspecto igualmente importante da actividade da Fundação respeita à concessão de bolsas de estudo para estudantes açorianos. “É uma das cláusulas dos estatutos da Fundação – explica João Oliveira e Silva - e corresponde aos objectivos do patrono, cujos pais, naturais dos Açores, tiveram influência decisiva no seu gosto pela Arte e Cultura.” Destinadas a estudantes açorianos que frequentem cursos de ensino superior ou que tenham sido admitidos em Arqueologia e História de Arte e Património, Arquitectura, Artes Decorativas e Design, Artes Plásticas e Escultura, Artes Plásticas e Pintura, Conservação e Restauro, Dança, Música, Teatro e Fotografia, as bolsas abrangem, actualmente duas dezenas de jovens que tenham nascido ou residam há mais de cinco anos nos Açores ou descendam de pais (ou pai ou mãe) açorianos e são atribuídas prioritariamente aos estudantes que tenham obtido aproveitamento escolar com média de 14 valores ou superior. O processo de candidatura é apresentado de 1 a 15 de Setembro de cada ano, na Universidade dos Açores e a sua atribuição é da responsabilidade de um conselho integrado pelo presidente da Fun- dação, um representante da Secretaria Regional de Educação, um dos vice-reitores da Universidade dos Açores e pelo seu presidente do Conselho Científico. A Fundação estuda, actualmente, a possibilidade de uma parceira com uma entidade estrangeira que permita a formação de técnicos de relojoaria. Trata-se – diz João Oliveira e Silva – da reparação e manutenção de um espólio único, com centenas de relógios que percorrem os últimos quatro séculos. São raros os artesãos, capazes de lidar com peças tão invulgares. Conta, ainda, que o Ministro Mariano Gago visitou, recentemente, o Museu no âmbito de uma exposição de relógios de sol e deixou em aberJulho/Agosto 2007 TempoLivre 29 FUND_medeiros.qxp 29-06-2007 12:12 Page 30 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [5] FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA Relógio de mesa, presente de Luís da Baviera à imperatriz austríaca Sissi. Podem admirar-se também pinturas de grandes mestres: em cima, ‘O cobrador de impostos’ de Brueghel. Em baixo, à direita, João Oliveira e Silva, presidente da Fundação to a possibilidade de um intercâmbio com o ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Um prémio anual no domínio da Arte, no valor de 25 mil euros, em cooperação com a Universidade dos Açores, é outro dos projectos em estudo pela Fundação. VISITAS Aberto ao público em Junho de 2001, o Museu tem registado um crescente número de visitantes, uma média de seis mil por ano. Nos primeiros cinco meses deste ano, registaram-se mais de dois mil visitantes, quase o dobro de igual período de 2006, cerca de 20 por cento dos quais estrangeiros. As visitas aos sábados para escolas, promovi30 TempoLivre Julho/Agosto 2007 das pela Câmara de Lisboa, são gratuitas. Ainda em parceria com a autarquia da capital, há o programa “Ida e Volta”, destinado a seniores. “Os serviços da câmara encarregam-se do transporte. É um programa muito interessante, com numerosos visitantes, muito atentos e fascinados com o nosso espólio”, conta Teresa Vilaça, Directora do Museu. A entrada do Museu faz-se através do opaco portão de ferro com o número 41 da rua Rosa Araújo. Segue-se um pequeno pátio partilhado pela esplanada coberta do restaurante-cafetaria da Casa-Museu (aberto para almoços das 12h30 às 14h30; aos sábados, só mediante marcação). Na loja, junto à recepção que antecede o percurso pelas 26 salas do Museu, estão disponíveis postais, catálogos e réplicas únicas de alguns originais expostos e que dão ao visitante a oportunidade de imaginar e recriar o requintado ambiente vivido, ao longo de 40 anos, pelo casal Medeiros na sua bela moradia A Casa-Museu abre diariamente, das 13h. às 17h.30m; aos Sábados das 10h. às 17.30m. Encerra aos Domingos e feriados de 1 de Janeiro, Sexta-feira Santa, 1 de Maio e 24 e 25 de Dezembro. As visitas guiadas obrigam a marcação prévia pelo telefone: 21 354 78 92 ou pelo mail: [email protected] I EA Pag31.qxp 29-06-2007 12:46 Page 1 Termas_184.qxp 29-06-2007 12:13 Page 32 TERMAS EM PORTUGAL [4] Alcafache Os encantos da vinoterapia Origens árabes, uma estrada romana próxima e uma pedra lavrada que atesta a existência de uma albergaria no século VI testemunham um conhecimento antigo destas nascentes, localizadas na margem direita do rio Dão, no concelho de Viseu, mas defronte da freguesia de Alcafache, já pertencente ao concelho de Mangualde. A Câmara Municipal de Viseu foi responsável pelo registo inicial e pela exploração das águas, sempre com dificuldades causadas pela proximidade do leito do rio. Daí ter transmitido a concessão ao médico Manuel Cardoso Pessoa, que por sua vez a passou a Eduardo Leal Loureiro. Foi este último médico que organizou a actual sociedade concessionária e mandou construir o balneário, dotado de dois pisos e banhos de imersão. Só com a instalação da luz eléctrica foi possível uma maior diversidade de tratamentos. Aberto desde 1962, o balneário de Alcafache tem crescido e melhorado as condições de funcionamento, designadamente com a ampliação de um piso. Longe vai o hábito do banho se realizar nas casas particulares, com água transportada em cântaros a partir da nascente. Presentemente, é grande a exigência para receber bem os utentes, associando o termalismo clássico a programas de bem-estar. A aposta 32 TempoLivre Julho/Agosto 2007 tem sido acompanhada por uma modernização visível das instalações, para a qual tem contribuído o empenho por parte dos responsáveis, que se desdobram em atenções diárias para com os seus clientes, bem como na presença habitual em eventos promocionais. Das novidades deste balneário, para além da modernização das condições de tratamento no termalismo clássico para doenças reumatismais e do aparelho respiratório, sublinhe-se a vinoterapia, que consiste na aplicação dos produtos extraídos da uva em associação com a água termal. Esses produtos têm propriedades únicas para o corpo e para a pele, pela sua função antioxidante. A massagem com grainhas de uva é uma novidade em Portugal: a técnica de calorificação consiste na aplicação de toalhas quentes sobre os pontos de tensão de forma a proporcionar ao utente bem-estar e relaxação, bem como a aplicação de pequenas bolsas de algodão recheadas com grainhas e aquecidas em vapor que deslizam suavemente pelo corpo embebidas em óleo. Um tratamento que deixa a pele limpa, macia e aveludada, como o melhor dos néctares que Termas_184.qxp 29-06-2007 12:13 Page 33 esta região produz. O efeito é um relaxamento total, um sentimento único. Esta é uma região ancestral, tanto no seu ciclo das águas, como nos saberes tradicionais do artesanato e do bem-comer. As águas de Alcafache são das mais antigas do país. As últimas análises falam da chuva que caiu há cerca de 14.000 anos e que hoje vem à superfície rica de minerais e de benefícios para a saúde. Também os valores artesanais remontam ao passado longínquo, estando frequentemente expostos para venda junto ao balneário: é a prova de como a pedra, a argila, as varas dos castanheiros, os juncos, as canas, o metal, a madeira, a lã e o linho são transformados em peças de artesanato que mantêm ou recriam saberes. É que a escolha destas termas para um período de tratamentos ou de procura do bem-estar termal deve ser associada também ao encontro das coisas boas da região, até porque as opções de alojamento se localizam também fora da pequena localidade. Este facto pode ser visto como uma oportunidade para melhor se conhecer as cidades mais próximas, Viseu e Mangualde, e os seus patrimónios de importância nacional, na arqueologia e na arquitectura militar, civil e religiosa. Na cidade de Viseu, o destaque vai necessariamente para a Sé, mas também para o Edifício do Antigo Seminário, para as Muralhas e Portas Antigas da Cidade e para o Paço da Torre. Todo o seu centro urbano merece um passeio à descoberta das suas pedras com história. Em Mangualde, por seu turno, há um importantíssimo património arqueológico classificado, como o Castro do Bom Sucesso e a Anta de Cunha Baixa, mas também o Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão. E há que não esquecer a rica gastronomia, onde o vinho se associa aos pratos típicos regionais, como o arroz de entrecosto em vinha de alhos, o cabrito assado em forno de lenha, o cordeiro, os rolões à Beirão e as febras à moda de Mangualde. A terminar, as sobremesas são sempre saborosas: arroz doce, papas doces à moda da Beira, pastéis de feijão e variados tipos de queijo. Respeite ou não a dieta por uns dias, deve voltar às Termas de Alcafache, ao poder das suas águas, aos bons serviços e à simpatia de quem o recebe, e de certeza que se sentirá muito melhor. I Helena Gonçalves Pinto e Jorge Mangorrinha Julho/Agosto 2007 TempoLivre 33 34a38_Alvor.qxp 29-06-2007 12:17 Page 34 TERRA NOSSA Alvor Uma aldeia junto ao mar A vila de Alvor, um punhado de ruas estreitas de traçado incerto acantonadas sobre uma colina sobranceira ao oceano, é uma bênção para o espírito: em metade de um campo de futebol, espaço ocupado pelo núcleo histórico, permanece intocável muito do encanto da genuína vila piscatória algarvia, com as suas casas brancas listadas de barras azuis e a azáfama dos pescadores nas águas calmas da ria. 34 TempoLivre Julho/Agosto 2007 34a38_Alvor.qxp 29-06-2007 12:17 Page 35 Mesmo com as ruas centrais salpicadas de restaurantes, bares e casas de artesanato, sinais inequívocos da forte presença do turismo, o Alvor contínua a parecer uma aldeia. A manhã é o momento ideal para respirar a atmosfera do Alvor: nas ruas estreitas cruzam-se habitantes locais munidos de sacos com provisões alimentares para o dia e turistas estrangeiros envergando o ar mais feliz do mundo, e nas esplanadas assiste-se a cenas tão inesperadas como os mais velhos da terra discutirem os problemas da vida, lado-a-lado com turistas inebriados com o clima acolhedor e a tranquilidade da povoação. As conversas à porta de casa, típicas da vizinhança nas aldeias, continuam a fazer parte do dia-a-dia, sinal de que o quotidiano mantém o seu ritmo normal apesar da presença cada vez maior de turistas. O triângulo formado pelas ruas Marquês de Pombal, que atravessa a povoação a meio, Frederico Ramos Mendes, que desemboca na margem ribeirinha da Ria, e 25 de Abril, que bordeja a Igreja Matriz, concentra o núcleo histórico do Alvor: é uma zona marcada por casas brancas listadas de azul, ruas empedradas com paralelepípedos, escadinhas salpicadas de vasos de flores, bares, restaurantes, pizzarias, cafés e casas de artesanato instaladas por tudo quanto é sítio. Em torno deste pequeno triângulo urbano, predomina a vida pacata de uma terra de pescadores e na periferia, já fora da área de influência da vila histórica, concentram-se os aldeamentos, as villas e as villages para os turistas. Julho/Agosto 2007 TempoLivre 35 34a38_Alvor.qxp 29-06-2007 12:17 Page 36 TERRA NOSSA GUIA A região de Alvor é um que resulta da uma extensão de 6 Km. neolítico (2000/1600 a. C), pequeno paraíso para os confluência de quatro Deve ser feito durante a com sepulcros de variada amantes das caminhadas linhas de água, de que se manhã, por forma a poder tipologia, desde câmaras na natureza. Com a ria destacam o Rio de Alvor e observar-se o ritual da megalíticas até falsas como atracção principal e a Ribeira de Odeáxere. A apanha do marisco cúpulas com nichos a costa rochosa entre a ria á protegida do oceano durante a maré baixa e laterais. Praia da Rocha e a ponta por duas restingas de contemplar a beleza desta de João Arens como areia, que limitam uma zona. complemento, esta zona vasta área de estuário Morabitos de São João e de São Pedro concentra uma com bancos de vasa e Igreja Matriz Construções de forma impressionante areia, sapais salgados, Edificada no século XVI e cúbica, com cúpula esférica diversidade natural. A pisciculturas. Na zona reconstruída no século de influência árabe, estas estas preciosidades mais a montante, onde a XVIII, a Igreja Matriz do ermidas evocam os naturais, o Alvor junta um influência das marés é Alvor exibe dois pórticos morabitos muçulmanos areal com cerca de três menor, ocorre vegetação em estilo manuelino. usados como locais de quilómetros de extensão e ripícola, pequenas áreas Profusamente lavrado, o enterramento de ascetas. uma riqueza gastronómica de pinhal e áreas pórtico principal é um dos centrada no peixe fresco incultas. mais belos do Algarve. No ÚTEIS interior destacam-se o Posto de Turismo: Rua Dr. grelhado, nas caldeiradas e nas cataplanas de peixe Percurso Natural retábulo de talha do altar- Afonso Costa, 51, Tel.: 282 e marisco, na feijoada de Há um percurso natural mor e os azulejos 457 540 búzios. que é absolutamente policromos com painéis imperdível: parte da vila figurativos. A NÃO PERDER COMER de Alvor, bordeja a ria, Taberna do Guedes, Rua sobe a enorme duna que Alcalar A Ria separa o mar da ria e Poucos quilómetros a norte 258 500 015; A Ria de Alvor é um percorre toda a praia, do Alvor, vale a pena amplo complexo estuarino terminando na via. Tem visitar esta necrópole do Francisco Bívar, Mexilhoeira dos Pescadores, 65, Telef.: Adega Vila Lisa, Rua Grande, Tel.: 288 968 478 Ababuja, Rua da Ribeira 11, Tel.: 282 458 979 DORMIR Pestana Alvor Atlântico Beach Aparthotel & Villas, Praia de Alvor, Tel.: 282 400 000, Reservas: www.hotelclub.net; Dunas do Alvor, Rua da Barca, Central de Reservas: aportugal.com; Apartamentos Maralvor: Central de Reservas: aportugal.com 36 TempoLivre Julho/Agosto 2007 34a38_Alvor.qxp 29-06-2007 12:17 Page 37 Alvor, do árabe albur, ou seja, “campo inculto”, terá sido fundada por Aníbal, o célebre general cartaginês, e foi, durante o domínio árabe no Algarve, um próspero porto marítimo. As suas muralhas foram palco de violentos combates quando o exército português, comandado por D. Sancho I, com a ajuda de cruzados, a conquistou em 1189. A importância histórica do Alvor, que seria recuperada pelos muçulmanos em 1191 e só voltaria ao domínio cristão em 1250, é visível na sua promoção a vila por D. Manuel I, logo após a morte de D. João II, o Princípe Perfeito, no Alvor, em 25 de Outubro de 1495. Ao longo dos séculos XV e XVI, o Alvor beneficiou da prosperidade gerada pelos Descobrimentos marítimos em África, na Índia e no Brasil, mas, após os grandes estragos causados pelo terramoto de 1755, nunca mais recuperou o esplendor do passado. E até o estatuto de vila, que fora retirado pelo Marquês de Pombal, só seria recuperado em 1938. É com a instalação da Torralta nos anos 60, a escassos 100 metros da extensa praia de areias brancas e macias, que o Alvor começa a dar sinais de um novo dinamismo económico. Vistas do cimo da larga e extensa duna que separa as águas tranquilas da ria da ondulação suave do Julho/Agosto 2007 TempoLivre 37 34a38_Alvor.qxp 29-06-2007 12:17 Page 38 TERRA NOSSA mar, as quatro torres da Torralta, símbolos emblemáticos dos primeiros passos do desenvolvimento do turismo no Algarve, impressionam ainda hoje pelo impacto da sua dimensão no horizonte. É também do alto desta duna gigante, um tapete de vegetação semiarbustiva de granza-da-praia e joina-dos-matos, que a paisagem revela toda a sua beleza: a poente, espraiam-se o casario branco de Lagos e a recortada costa rochosa até à Ponta da Piedade; a norte, emerge o espelho líquido do vasto estuário da ria penetrando terra dentro, salpicado de barcos coloridos e bordejada pela vila entalada 38 TempoLivre Julho/Agosto 2007 entre a falésia. No meio do sapal, mesmo frente à povoação, sobressai uma antiga casa de pescadores, já abandonada. Diz a tradição que os pescadores do Alvor terão vindo de Monte Gordo, uns para tentar embarcar para o Novo Mundo, outros fugindo do Marquês de Pombal, que mandou arrasar as suas cabanas na praia para os obrigar a viver em Vila Real de Santo António. Hoje, a ria é ainda palco de uma importante actividade de pesca artesanal. Os pescadores mantêm intactas as artes de pesca e mariscagem. E todas as manhãs, quando a maré baixa, os mariscadores cumprem o ritual da apanha da amêijoa nos terrenos arenosos da ria e na margem da vila, mesmo junto à antiga lota do peixe, os pescadores preparam o robalo, o pargo, o sargo para os restaurantes locais. Nas traseiras da antiga lota, continua a resistir um dos sinais mais emblemáticos da tradição marítima portuguesa: a Casa do Salvavidas. Inscritas a vermelho sobre um fundo branco, as palavras Instituto de Socorro a Náufragos, evocam o tempo ainda não muito longínquo em que só havia um barco para acudir aos naufrágios nas águas traiçoeiras da costa portuguesa. António Sérgio Azenha [texto e fotos] Pag39.qxp 29-06-2007 12:47 Page 1 Pag40.qxp 29-06-2007 12:48 Page 1 trindade 184.qxp 29-06-2007 12:18 Page 41 TRINDADE 140 ANOS O marido de Palmira Bastos Ainda estão felizmente por aí, muitos espectadores que se lembram da grande Palmira Bastos Pessoalmente recordamo-la já octogenária, a enfrentar com galhardia e expressão vocal "As Arvores Morrem de Pé" de Casona, dramalhão que fez imenso sucesso e que a RTP há pouco tempo ainda repunha. Ou, antes, uma das três "Meninas da Fonte da Bica", de Ramada Curto, ou ainda, uma velhinha do "Processo de Jesus" de Diego Fabri... já lá vão dezenas de anos. Mas fica, de facto, a memória de uma grande actriz, que o publico acarinhava e respeitava, mas que não perdia o ensejo, decorrente desse carinho, para valorizar os espectáculos no plano emocional - e bem sabemos como esse plano é importante no teatro... E isto porque, durante anos, noite após noite, a cena repetia-se: Palmira surgia no palco e logo estalava uma sincera salva de palmas. E Palmira, noite após noite, chorava de comoção!... As palmas redobravam. De quem já é obviamente impossível lembrar com conhecimento directo é do marido da Palmira, o grande empresário Sousa Bastos, que morreu em 1911. A ele se deve, não só a memória de anos e anos de grandes espectáculos em Portugal e no Brasil, como a pesquisa e publicação de obras certamente datadas mas ainda hoje preciosas para a História do Teatro Português: "Carteira do Artista", "Dicionário do Teatro Português e "Recordações de Teatro" esta póstuma. Sousa Bastos dirigiu o Teatro da Trindade de 1894 a 1898. Contratou uma jovem actriz de 19 anos, a Palmira, com quem logo casaria. E juntos, de facto, deram ao Trindade e ao teatro em geral, em Portugal e no Brasil bons momentos de qualidade, tanto no repertório dramático como na comédia, no musical e na revista. Vem daí, também, a grande tradição do Trindade na linha e na produção de espectáculos musicais, sejam eruditos, sejam populares, o que não significa menor qualidade. E precisamente: as revistas que Sousa Bastos e Palmira levaram à cena no Trindade são de grandes autores dramáticos e de grandes compositores da época, e entre eles, Eduardo Schwalbach, com "Os Retalhos de Lisboa" ou "Os Filhos do Capitão Mor", esta última com musica de Auguisto Machado e Del Negro. Mas também operetas (que são verdadeiras óperas) de Offenbach, na altura grandes revelações para o publico português. E não só. No teatro declamado Sousa Bastos, e Palmira Bastos nos quatro anos de direcção do Trindade, trouxeram um repertório exigente e de grande qualidade Moliere, Alexandre Dumas, o então moderno Herman Sudermann, um dos grandes inovadores da estética naturalista e outros. No final da vida, Sousa Bastos queixava-se de que estava "velho, gasto, falto de recursos, aleijado e ainda com necessidade absoluta de trabalhar"! Quem o recorda é Schwalbach, nas Memórias, acrescentando porém que o seu grande amigo e colaborador era "bondoso e tão perdulário de algibeira como de coração"... (in À Lareira do Passado, Lx 1944, pag.187). Mas em 1902, Rafael Bordalo Pinheiro dá uma ideia diferente de Sousa Bastos: ."Contava as peças que punha em cena pelos triunfos. E chegou a contar os triunfos pelas peças que punha em cena". (cit por Maria V. Cambraia Lopes, in O Teatro na Paródia de Rafael Bordalo Pinheiro ed INCM , Lx 2005, pag.135) Assim seria o marido da grande Palmira Bastos! I DIC Julho/Agosto 2007 TempoLivre 41 olho_vivo184.qxp 29-06-2007 12:19 Page 42 OlhoVivo A organização ambientalista Friends of the Earth Canada processou o governo daquele país por falhar os compromissos assumidos em relação ao Protocolo de Kyoto. Segundo a lei ambiental canadiana, o país é obrigado a cumprir os compromissos internacionais, Padrões de consumo nomeadamente na prevenção da poluição. Em Abril deste ano, o gover- Um estudo realizado pelo Fraunhofer no anunciou uma estratégia sobre este Institute for Systems and Innovation tema que, se cumprida, deixaria o país Research (Alemanha) revelou curiosos 39% abaixo do previsto no Protocolo de e variados padrões de consumo de Kyoto em relação à redução de emis- água em casa. O estudo analisou o sões de gases com efeito de estufa. A consumo de quase metade dos lares organização alega que o governo está a germânicos e relacionou os dados com tentar fugir aos compromissos assumi- o rendimento, o preço da água, o dos, negando apoio e encerrando número de pessoas por habitação e importantes programas de prevenção dados climáticos. As conclusões ambiental ao contrário do que assumiu demonstraram, por exemplo, que a internacionalmente e, como tal, deverá reunificação do país e o consequente ser responsabilizado pelas suas acções. aumento dos preços na ex-Alemanha de Leste provocaram uma rápida diminuição no consumo; análises mostraram que, se o preço da água subir 10%, o consumo baixa em média três litros por pessoa por dia; nas regiões de menores rendimentos o consumo é também menor. Além disso, o estudo demonstrou que o consumo per capita é menor em casas com mais pessoas e maior em populações com idade média mais elevada – esta relação com a estrutura demográfica será analisada mais profundamente, a fim de se adaptarem as infra-estruturas de fornecimento de água e saneamento a alterações previsíveis em cada região. Já a relação com as condições climáticas não ficou definida e será provavelmente alvo de novos estudos no futuro. 42 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Aftershave mortal Um estudo realizado por investigadores ingleses e apresentado no jornal The Lancet sugere que há muitos homens russos que arriscam a morte ao beber regularmente produtos não alimentares com elevado teor de álcool – águas de colónia, aftershave ou tinturas herbais. O estudo analisou a causa de morte de 1750 homens com idades entre os 25 e os 54 anos em 2003 e 2005 na cidade de Izhevsk, nos Montes Urais. Dessas mortes, 43% foram atribuídas à ingestão excessiva de álcool sob várias formas, mas os homens que bebiam álcool não destinado ao consumo apresentaram nove vezes mais probabilidades de morrer do que os que não o faziam. Segundo os investigadores, os produtos “não bebíveis” não matam pelo tipo de ingredientes, já que muitas vezes são feitos com pouco mais do que etanol e água, mas sim pelo elevadíssimo teor de álcool combinado com o baixo preço e fácil acesso. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Governo processado ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ] 12:19 Tequilha monopolizadora Da próxima vez que pedir uma tequilha pense bem se é mesmo isso que quer. É que pode estar a contribuir para um problema insuspeito por aqui: o desaparecimento de inúmeras espécies de plantas tradicionalmente cultivadas no México. Pois é, graças à sede de milhares de pessoas no mundo todo, que não passam sem a sua bebida preferida, a Agave tequilana é cada vez mais cultivada no México, de forma intensiva. O problema é que esta planta não partilha o terreno com mais nenhuma e requer o uso de pesticidas. Resultado: a área disponível para cultivo das restantes variedades está a diminuir e o cultivo intensivo da tequilana está a provocar a erosão dos solos. Segundo Patricia Colunga, do Centro de Investigación Científica de Yucatán (México), o país tem de agir já para proteger os produtos tradicionalmente cultivados, parte da sua herança cultural. Page 43 Pau-brasil regulado A proposta foi feita, mas recusada – os violinistas não vão precisar de licenças para transportar os seus arcos de um país para o outro. É frequente os violinistas profissionais usarem arcos feitos da árvore do pau-brasil e a questão surgiu na última reunião da CITES (Convention on International Trade in Endangered Species Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas), onde se discutiu o comércio desta madeira. O pau-brasil está ameaçado de extinção, restando apenas cerca de 5% de seu habitat original. Segundo o acordo alcançado na CITES, o comércio da madeira em estado natural passa a ser monitorizado e regulamentado – a partir de agora só poderá ser vendido com documentação apropriada. Os produtos acabados feitos de pau-brasil, no entanto, não serão abrangidos por estas restrições, permitindo, por exemplo, que os violinistas possam viajar com seus arcos de paubrasil sem precisar de autorizações especiais para viajar. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 29-06-2007 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ olho_vivo184.qxp Voos arriscados Os médicos reunidos no 12º Congresso da Associação Europeia de Hematologia (EHA) deixaram um aviso: um estudo da Organização Mundial de Saúde revelou que as viagens de avião são responsáveis por um aumento de duas a três vezes no risco de alguém desenvolver tromboses. E, com 2.000 milhões de pessoas a viajar de avião por ano, isto pode ser um caso sério. Ressalvando que os riscos são maiores em pessoas com certas características, como serem muito altas, muito baixas, obesas ou que tomem a pílula, a EHA adverte que o maior problema é sem dúvida a imobilidade prolongada, pelo que recomenda algum exercício durante os voos, especialmente nos de longa duração. Já no campo das medidas preventivas que gostariam de ver aplicadas no futuro e para as quais pedem o apoio da União Europeia, sugerem por exemplo mais espaço entre os bancos e lugares especiais para os muito altos, muito baixos ou obesos. Julho/Agosto 2007 TempoLivre 43 casa_arvore_184.qxp 29-06-2007 12:20 Page 44 A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES As antenas do vulcão Árvore-rainha, star de jardim, símbolo de bom gosto e status quo, progenitora fecunda, a mais antiga Araucaria Heterophylla, do Parque do Monteiro-Mor, ao Lumiar, foi salva há trinta anos numa operação que envolveu a Força-Aérea Portuguesa. Relato das origens desta espécie nativa do Pacífico paradisíaco e infernal. A 10 de Outubro de 1774, o controverso, mítico e colonialista capitão James Cook descobre uma pequena Ilha no Pacífico que assenta sobre uma das maiores montanhas vulcânicas submersas. Solidificada em lava, escarpada, basáltica, escondendo nas suas águas transparentes uma profundidade abissal, uma negrura maior do que o Everest, é nesta Ilha que o navegador britânico encontra pela primeira vez uma árvore gigante posteriormente designada de Araucaria Excelsa, depois Heterophylla (Salisb.) Franco. Ao olhar para estas coníferas majestosas, vindas dos fundos da Pré-história, o aventuroso e sistemático servidor da Royal Navy confunde-as com simples pinheiros, e gulosamente imagina transformá-las em milhares de mastros de navios de guerra, ao serviço do predador e devorador Império Britânico. Mas o empreendimento fracassa porque a madeira da Araucaria Heterophylla - verdadeira antena desse descomunal e profundíssimo vulcão submarino - não se revela suficientemente forte. Entretanto, por si baptizada de “Pinheiro de Norfolk” – o mesmo nome dado por James Cook à ilha inabitada, homenagem à nona duquesa de Norfolk, sua mecenas – esta árvore resinosa será rentabilizada na Inglaterra, onde passam a ser produzidos espécimes em viveiros. A comercialização destinava-se a aristocratas de bom gosto e à burguesia emergente, para quem a aquisição de espécimes botânicos raros, altamente exóticos e ainda por cima gigantes, lhes poderia apimentar o status quo, embora não fosse de excluir um real interesse científico, muito na moda neste período de coleccionismos classificatórios. É num desses viveiros ingleses que a Araucaria Heterophylla do Parque do Monteiro-Mor, junto ao Museu Nacional do Traje, ao Lumiar, é adquirida, sendo plantada em 1842. Possivelmente uma das primeiras Araucárias plantadas ao ar livre, na Europa, esta magnífica árvore ainda hoje sobrevive com a notável idade de 165 anos e 60 metros de altura. A introdução deste espécime exótico, na 44 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Uma das primeiras Araucárias plantadas ao ar livre, na Europa tem 165 anos e 60 metros de altura. Em baixo, pormenor da folhagem Quinta do Lumiar, foi sugerida pelo médico e botânico austríaco, Friedrich Welwitsch (1806-1872). Este fora contratado pelo primeiro Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein. O famoso diplomata português, conselheiro dos monarcas na muito sofrida transição para o Liberalismo, apreciador de poesia, amigo intimo de Madame de Stäel e conhecedor dos jardins europeus podia assim dar continuidade ao projecto de construção de um Jardim Botânico e de prazer, iniciado pelo antigo proprietário da Quinta do Monteiro-Mor, o dissimulado Marquês de Angeja, substituto de Pombal, contra quem conspirou, tendo contribuindo para a sua queda. A Araucária plantada no Parque, junto ao Lago do Leão, na vizinhança de alguns plátanos gigantes, adquiridos na mesma época, teria alguma vez sentido sob as suas raízes os resíduos da rúbida lava vulcânica de Norfolk? Ouvira nem que fosse ao longe casa_arvore_184.qxp 29-06-2007 12:20 Page 45 Imagem da operação de salvamento da araucaria heterophylla mais antiga pela Força Aérea Portuguesa 1977 o pássaro Puffinus Pacificus gemer como alma penada sob a linha de corais que circunda a costa da Ilha do Pacífico? Provavelmente nunca o saberemos. Certo é que em 1842, a sobrevivência da Araucaria Heterophylla, na Ilha de Norfolk, já se encontrava ameaçada. Os poucos exemplares não abatidos para libertar os terrenos agrícolas (outros serviram de matéria-prima na carpintaria e arquitectura) puderam presenciar a transformação do distante Paraíso do Pacífico num verdadeiro Inferno. Depois da primeira colonização (1788 a 1814), cujo objectivo era o de produzir alimentos para a Colónia inglesa de Sidney, a segunda colonização (1825 a 1855) instala uma sinistra colónia penal, em que os maus tratos infligidos aos condenados, na sua maioria irlandeses católicos, os faziam ardentemente desejar a morte. Longe das suas compatriotas, a nossa Araucaria Heterophylla do Lumiar, bem como outras espalhadas pelo País (de Caminha ao Porto passando por Lisboa, Loulé, Monchique, Angra do Heroísmo, etc) não viu o sangue dos chicoteados escorrer até ao mar, nem ouviu gemer de fome, enlouquecidos, os prisioneiros dos miseráveis cárceres e calabouços. Em Portugal, encontrou um Paraíso domesticado. Bastião da elegância da numerosa família Palmela, foi star de jardim, juntou à sua roda inúmeros curiosos e teve descendência, da qual dá notícia o artigo do Diário de Notícias, 27 de Maio de 1913: “A Magnífica Araucária Excelsa que tanto atrai as atenções das pessoas que visitam a Quinta do Lumiar, pertencente à Casa Palmela, produziu finalmente sementes fecundas que deram origem a noventa pequenas araucárias. (...) A Araucária Mãe tem trinta e cinco a quarenta anos de idade, e se continuar assim a reproduzir-se, terão grande baixa no mercado estas árvores, que até agora têm tido elevadas cotações”. Apesar da celebrada e temida fecundidade da Araucária, rainha anfitriã deste Parque onde desfilaram botânicos e jardineiros célebres, da sua vasta descendência só resta um outro exemplar, que se encontra logo à entrada, percorrido o curto caminho ladeado de Palmeiras. Segundo Rui Costa, arquitecto paisagista, responsável pelo Parque, a filha da Araucária foi “plantada a 16 de Fevereiro de 1864, pelo nascimento da bisneta do primeiro Duque de Palmela”. Rui Costa recorda também as duas únicas vezes em que a primeira Araucária adoeceu perigosamente, exigindo uma verdadeira e aparatosa operação de salvamento. “Em 1976 [um ano depois da Quinta do Monteiro-Mor ter sido adquirida pelo Estado Português], começou a observar-se que a parte terminal da copa estava seca. Era o ataque de um fungo que já dizimara os ulmeiros mais antigos de Lisboa. A intervenção de 24 de Junho 1977, fora pensada pelo Eng. Sousa Lara, e implicou a utilização da maior escada dos bombeiros. Como só tinha 30 metros, os restante 20 metros foram subidos até à parte doente da árvore. Cortou-se no verde, aplicou-se fungicida na ferida e uma argamassa de gesso. Os cinco a sete metros de copa, correspondentes à parte afectada, foram transportados por um cabo preso a um helicóptero da Força Aérea Portuguesa”. A Araucária voltou a renascer mesmo depois de nova intervenção na Primavera de 1996, e continua a desenvolver-se. “Qual a largura do tronco?”, pergunto. E Rui Costa responde: “Uma vez foram precisas 21 crianças para a abraçarem”. Na Ilha de Norfolk, a Araucaria Heterophylla também voltou a renascer. Talvez se tenha esquecido do tempo em que os prisioneiros iam à missa acorrentados. Quem caminha em direcção ao Parque do Monteiro-Mor vê da rua três grandes araucárias (a terceira pertence a uma espécie oriunda da Nova Caledónia). A encruzilhada de estradas em seu redor e o viaduto em construção tornamnas distantes. Elas vivem, dentro de muros, no seu Paraíso ameaçado, cá fora a liberdade parece uma prisão. I Julho/Agosto 2007 TempoLivre 45 Cid_mais Ivo cruz 184.qxp 29-06-2007 12:21 Page 46 PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID «…Em toda a parte» Junho é o mês de Camões e de todas as evocações da afirmação portuguesa. Rezam as crónicas e dizem fontes histórica que o mais genial poeta de língua portuguesa morreu a 10 de Junho e há mais de um século que esse dia se converteu no Dia de Portugal. ouve algumas derivações, ao longo do tempo, na formulação, mas sempre se destaca nesta efeméride a capacidade que os portugueses têm de se espalhar pelo mundo. Quase sempre porque a Pátria lhes foi madrasta, e em quase todas as ocasiões tal não impediu que esmorecesse o seu amor por ela nas terras de acolhimento e são tantas que não têm conta. Razão tem o Presidente da República quando na mensagem que este ano dirigiu às Comunidades Portuguesas, disse que graças aos emigrantes “Portugal está em toda a parte” E disse outras coisas que não fica mal registar aqui, quase como um verdadeiro código de conduta neste tempo difícil e con- H países de acolhimento, mas com direito absoluto à nacionalidade portuguesa. Neste contexto da celebração de uma sã portugalidade – a realidade é dinâmica e a emigração assumiu, nas últimas décadas contornos bem diferentes – alguém disse, sem modéstia, que os portugueses são um grande povo, pois só essa grandeza podia determinar que a língua de Camões perdure, hoje, como idioma oficial de cinco países africanos, da maior nação sul americana e do primeiro país do século XXI que se tornou independente depois de uma abusiva ocupação indonésia de quase cinco lustros. Em Timor, aliás, se escreveu a seguir à última guerra mundial, uma dos mais comoventes hinos de amor de que Portugal se pode orgulhar: Derrotados os japoneses, os timorenses agitaram inúmeras bandeiras verde rubras, que tinham sido enterradas durante guerra. rovavelmente, devem ser incrementados mecanismos adequados para que a comunidade portuguesa, a interior e a exterior, não percam laços de contacto permanente. Nem sempre flúem harmoniosamente os circuitos globais de comunicação... Hue se corrija o que se mostrar errado. Mas que se atente nas sábias palavras do Presidente da República: “as Comunidades Portuguesas não só se encontram plenamente integradas nas respectivas sociedades de acolhimento, como constituem um exemplo para todos . Os emigrantes mostram-nos que não existem destinos inevitáveis, nem fatalidades irreversíveis e que é sempre possível mudar o rumo da nossa vida. Abundam no estrangeiro casos de sucessos de portugueses e de luso descendentes que se afirmam nos mais diversos domínios, desde a actividade empresarial ao mundo académico, da investigação científica à cultura, das profissões liberais à vida cívica”. Não é preciso mais para alimentar a nossa auto estima, o que bem necessário se torna em face da persistência com que alguns profetas dos maus agoiros se deleitam a ensombrar este orgulho colectivo de sermos portugueses. I P traditório que é dominado pela globalização: “A cultura portuguesa muito deve aos nossos emigrantes. São eles os guardiães da nossa língua em vários pontos do Planeta. São eles que transmitem aos outros povos os valores, as tradições os saberes que constituem o núcleo essencial da singular identidade portuguesa”. Nas estatísticas recentes, fica a saber-se que no rectângulo europeu, que é umas fronteiras da União Europeia, entre o Atlântico e a Espanha, com quem mantemos a única fronteira terrestre, seremos 10 milhões de pessoas, mas, pelos cinco continentes somos mais cinco milhões, nascidos em Portugal ou já nos 46 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Cid_mais Ivo cruz 184.qxp 29-06-2007 12:22 Page 47 O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ Uma outra União Estamos demasiadamente concentrados na CPLP, ou, mais especificamente ainda, nos cinco PALOPS? programa de real União politica e de soberanias – conem obviamente questionar a prioridade inquesvenhamos que essas metas e essas instituições são tão tionável, passe a redundância, sempre diremos adiantadas que se tornam utópicas. Nem a UE nem que de facto há mais África que não fala porainda menos, os Organismos de Integração Latinotuguês, mas que tem um potencial de relaAmericanos foram tão longe. cionamento politico e económico com Portugal, que E, no entanto, graças possivelmente vem da História antiga e recente, num ao voluntarismo do Presidente da trajecto sem problemas bilaterais ainda Comissão, Alpha O. Konaré, ex-Prereforçado por uma presença não tão sidente do Mali, a União Africana pouco significativa como possa parecer, actuou e até tomou posições corajosas de imigração tradicional de PMEs. Vejano que respeita a intervenções mise por exemplo a Republica Demolitares de interposição e a atropelos crática do Congo: no grande e agreste políticos e golpes de Estado. O que interior pelo menos até aos anos 90, não se fez sem problemas internos, eram os comerciantes portugueses agravados pela autonomia que os 10 quem garantia o abastecimento. membros da Comissão se arrogam. Veja-se o Senegal: Casamansa esteve Konaré não se candidata a novo manligada à então colónia da Guiné dato, em Julho próximo. Vamos ver Portuguesa até 1906 e deixou tão boas quem será eleito. recordações, que nos anos 90, a Câmara Quem for eleito herda uma situação de Comércio Internacional de Dakar politica, institucional e financeira difírecomendava aos empresários porAlpha Kanaré cil, para não falar ainda nos conflitos tugueses a realização de missões na militares, na violação dos direitos humanos, nos holoregião, precisamente porque Portugal era lá estimado e caustos mais ou menos conhecidos e no desaparecirespeitado. Vejam-se os pequenos Países encravados na mento de alguns Estados. Dir-se-à que tudo é recuRepública da África do Sul que tanto conviveram perável e está aí a Libéria e mesmo, mais ou menos a connosco via Moçambique. E os exemplos podem mulSerra Leoa e o Ruanda para o demonstrar . E dir-se-à tiplicar-se para lá dos prioritários – insista-se – PALOPs. que o boicote à candidatura do Presidente do Sudão ao Ora vem isto a propósito do último grande Relatório cargo de Presidente em exercício da UA constituem divulgado pelo União Africana, organismo que, em bons sinais. Julho de 2002, na sequência de uma cimeira constitutiva de 2000, sucedeu à “velha” Organização de Unidade Africana. O grande problema da UA que teoricaas as tragédias do Darfour ou o desamente congrega os 53 Estados do continente, reside parecimento do Estado na Somália, além claramente no irrealismo com que procurou criar instida agitação politica em numerosos dos 53 tuições semelhantes na forma e na competência jurídimembros; as guerras e destabilizações ca, às da União Europeia. Convenhamos que, para 53 internas e/ou fronteiriças; ou o irrisório orçamento de países tão diversos e tão diversificados, a existência efi133 milhões de dólares suportados praticamente pela caz de um Parlamento, uma Comissão, um Tribunal de África do Sul, pela Nigéria e pela Etiópia, o que é sinJustiça, um Conselho Económico e Social, um Conselho gular num país pobre e em guerras regionais, mostra de Paz e Segurança, que teoricamente gere as forças de bem as limitações práticas e politicas desta outra União intervenção, um esboço de Conselho de Ministros – na qual, queiramos ou não, estamos indirectamente autónomo de uma Presidência rotativa e sobretudo, um implicados. I S M Julho/Agosto 2007 TempoLivre 47 viagens_na_historia_184.qxp 29-06-2007 12:22 Page 48 VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR Os fundadores No correr destas viagens pela História voltamos, agora, às origens, ao tempo em que «tudo começou». O que nos leva a considerar uma noção que não está muito divulgada entre nós: a noção dos Fundadores. D e facto, tendemos a considerar o primeiro rei, D. Afonso Henriques, como o quase-único artesão da independência e, quando muito, os seus pais, D. Henrique e D. Teresa, figuram como precursores, ponto final. Mas a verdade é que houve todo um grupo de homens que, pela sua importância social e militar, bem como pelas suas opções políticas, merecem amplamente partilhar da categoria de Fundadores de Portugal. Nesta crónica, ocupar-me-ei de um só desses fundadores, um dos mais esquecidos e ausentes da memória popular: trata-se de Paio (isto é: Pelágio ou Pelayo…) Mendes, que foi arcebispo de Braga entre 1118 e 1137. Segundo uma tradição histórica muito aceite, embora não totalmente comprovada, D. Paio Mendes pertencia à poderosa casa da Maia e era irmão de dois outros fundadores: Soeiro Mendes da Maia e Gonçalo Mendes da Maia, que ficou conhecido como «o Lidador». Para o caso que nos ocupa, não é importante saber se pertencia à casa da Maia ou à casa de Sousa; o que importa é o apoio que deu a D. Afonso Henriques e a provável influência que exerceu junto do infante — aliás, o Prof. Torcato Sousa Soares defendeu como hipótese quase certa que foi Paio Mendes, e não Egas Moniz, o aio de Afonso Henriques, hipótese que justificou com argumentos bastante convincentes. De qualquer modo, o certo é que a acção deste homem se revelou decisiva em dois aspectos, sendo que o primeiro foi a sua luta constante contra Diogo Gelmires, arcebispo de Compostela. De facto, pode-se dizer que a luta pela emancipação da terra portucalense, foi (não só mas também) o verdadeiro duelo travado entre Compostela e Braga no campo da organização eclesiástica, da disputa pelas sés sufragâneas de cada arquidiocese. Dada a importância da Igreja, um tal conflito não podia deixar de ter reflexos políticos, mesmo porque os arcebispos também eram potentados militares. Ora, a 48 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Reprodução fac-similada da Confirmação do Couto de Braga por Dom Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, ao Arcebispo Paio Mendes, em 1128, com tradução em portugês no verso. Este documento é também conhecido por “Acta de Fundação de Portugal”. verdade é que D. Paio Mendes mostrou-se particularmente dinâmico na defesa de Braga contra as investidas de Compostela. O segundo aspecto foi, como referido acima, a adesão do arcebispo ao movimento autonomista de Afonso Henriques — e talvez mesmo que, em lugar de «adesão», se deva dizer «inspiração». Note-se que, quando D. Teresa, que se travou de razões com Paio Mendes, o exilou, este foi para Zamora — e levou consigo o jovem infante portucalense. Pois bem: como é sabido, foi justamente nessa ocasião, em Zamora, que Afonso Henriques se armou a si próprio cavaleiro, o que correspondia a dar um passo simbólico na direcção de uma coroa real, pois só os reis se armavam cavaleiros a si mesmos. E D. Paio Mendes estava presente; é difícil não pensar que aquele acto político se deve à sua influência, mais até do que à única iniciativa do então muito jovem infante. F oi isto em 1122 ou 1125. E em 1128 travava-se a batalha de São Mamede, que deu o poder a Afonso Henriques. Ao lado do infante, estavam Egas Moniz, estavam os Sousas, estavam os da Maia — estava D. Paio Mendes, muito possivelmente, um dos grandes promotores da revolta contra D. Teresa e a «facção galega». Sem dúvida que, na nossa Galeria dos Fundadores, temos de incluir este quase esquecido arcebispo de Braga.I indice_boavida_184.qxp 29-06-2007 12:24 Page 49 BOAVIDA CONSUMO LIVRO ABERTO ARTES Conselhos para férias, desde as precauções antes de partir, às novas regras do transporte aéreo, e cuidados a ter na compra de um Guia de Viagens O primeiro destaque para a colectânea poética “As Uvas e o Vento”, de Pablo Neruda, um dos Nobel que vieram para ficar. O Museu do Chiado e a Fundação Gulbenkian apresentam os principais momentos transformadores da arte portuguesa. Página 50 Página 52 MÚSICAS NO PALCO Lena d`Água regressa ao mercado discográfico com o CD/DVD “Sempre”, uma bem sucedida incursão ao jazz cantado em português. Em destaque a sátira musical, inspirada no Marquês de Pombal e concebida por Moita Flores, numa parceira com João Gil e Rui Veloso. Página 56 Página 58 Página 54 CINEMA EM CASA “Ainda há Pastores?”,um notável documentário de Jorge Pelicano sobre uma dura e solitária profissão, é uma das sugestões do mês. Página 60 FILMES MEMÓRIA À MESA SAÚDE Um apaixonante regresso do cinema português ao género fantástico através do perturbador filme “Atrás das Nuvens”. Escolher um alimento para a nossa mesa é tomar uma decisão que afectará o nosso organismo e a nossa saúde a curto ou longo prazo. Só os parceiros que dormem com os doentes com apneia do sono podem testemunhar a maneira como eles ressonam. Página 61 Página 62 Página 63 INFORMÁTICA AO VOLANTE PALAVRAS DA LEI Imagine um monitor sobre o qual se escreva e pinte com os dedos, rodem ou dimensionem fotografias e se corram ficheiros e pastas com as mãos? Baseado no conceito “X-Over Revolution”, o novo Suzuki SX4 é o terceiro modelo inserido na nova estratégia mundial da marca. Quem entrega uma coisa, móvel ou imóvel, a outrem, para que a guarde e a restitua quando for exigida, constitui um contrato de depósito. Página 64 Página 65 Página 66 Julho/Agosto 2007 TempoLivre 49 consumo184.qxp 29-06-2007 12:26 Page 50 BOAVIDA C O N S U M O POSTAIS DE FÉRIAS Em escrita de postal ilustrado, aqui ficam alguns conselhos para as suas férias. Das precauções antes de partir, às novas regras do transporte aéreo, passando pelos cuidados a ter na compra de um Guia de Viagens. E também lhe falamos de animais. Dos que lhe fazem companhia ao longo do ano e dos que se fazem convidados durante as férias, mas cuja presença o leitor não deve apreciar... I Carlos Barbosa de Oliveira I nformações úteis antes de partir: se antes de escolher o seu destino quer obter informações preciosas sobre as condições existentes em cada um dos países que estão na lista das suas preferências para as férias, consulte o site da Secretaria de Estado das Comunidades (www.se comunidades.pt) . Aí pode encontrar a lista de todos os países, com informação sobre as condições de segurança, regime de vistos, condições climáticas, rede sanitária e cuidados de saúde ( vacinas necessárias e alguns conselhos sobre situações a evitar, no âmbito da alimentação e dos hábitos diários de um europeu). Encontrará também informações sobre a rede de comunicações, a moeda local, os transportes e sobre a necessidade de fazer alguns seguros. No caso de viajar para destinos exóticos ou menos familiarizados com o turismo, aconselhamo-lo a fazer uma visita prévia ao site da Organização Mundial de Saúde, (www.who.int) que fornece informações muito úteis que lhe permitem preparar com cuidado as suas férias. GUIA DE VIAGENS Para conhecer bem o país onde está a passar férias, saber um pouco da sua história, das suas tradições, dos seus monumentos e da sua gas- 50 TempoLivre Julho/Agosto 2007 tronomia, é essencial um Guia de Viagens. (Desaconselha-se, para o efeito, a compra da revista brasileira FATOS, para evitar encontrar descrições como a referente a Lisboa, apresentada aos leitores como uma cidade plana, cujos habitantes falam fluentemente o espanhol, desapareceu quase totalmente após a II Guerra Mundial e foi reconstruída graças ao Marquês de Pombal, Primeiro Ministro da época! Incrível, mas é verdade). Se viajar por conta própria, sem marcação prévia de hotéis e sem destinos previamente definidos, então aconselhamos-lhe mesmo a compra de um bom guia. Para destinos exóticos, o “Survival Kit” temse mostrado uma opção acertada. Boa informação, actualizada, quer a nível dos locais indicados, quer dos preços praticados. Também aí pode encontrar alguns roteiros para fazer nos mais diversos meios de transporte, inclusive a pé. O “Guia Michelin” é outra opção, melhor do que as que se encontram normalmente nos países de destino. SE VIAJAR DE AVIÃO Não esqueça que a bagagem de mão está sujeita, desde Novembro de 2006, a medidas mais restritivas: Limite de 100 ml de líquidos e por embalagem; a bagagem de mão não poderá ultrapassar as medidas de 56x45x25 cm, excepto quando se trate de instrumentos musicais; os computadores portáteis e outros equipamentos de maior dimensão terão de ser retirados das bolsas de protecção e examinados ao raioX; agasalhos (gabardines, sobretudos, etc) terão igualmente que ser examinados ao raio X. CUIDADO COM AS ALFORRECAS A cooperativa de consumidores Eroski (com sede no País basco) lançou o alerta: alforrecas atacam no Mediterrâneo. As alforrecas são, de há muito, uma presença habitual nas costas do Mediterrâneo, mas o que levou a Eroski a lançar o alerta, foi o facto de se prever que, durante o Verão deste ano, o seu número triplique na costa espanhola, aumentando igualmente os efeitos dolorosos das suas picadas. Esta imigração em massa das alforrecas para o Mediterrâneo deve-se, segundo os especialistas, ao aquecimento das águas, provocado pelas alterações climáticas. Portanto, já sabe se quer voltar a mergulhar nas belas águas mediterrânicas sem a companhia desagradável desses pegajosos seres, o melhor é mesmo pensar em alterar os seus hábitos de consumo para padrões mais sustentáveis. Entretanto, face à invasão de alforrecas, o Instituto de Ciências do Mar de Barcelona recomenda o seguinte procedimento às vítimas das suas picadas: Lave a zona afectada com água salgada (nunca use água doce); 29-06-2007 12:26 Page 51 André Letria consumo184.qxp coloque um saco de gelo durante 15 minutos sobre a zona afectada (nunca aplique o gelo directamente) e renove a operação durante igual período de tempo se a dor persistir; retire os restos do tentáculo que tenham ficado na pele; não limpe a zona afectada com a toalha; evite o contacto da zona afectada com a areia; no caso de sentir alterações respiratórias, convulsões ou alteração do ritmo cardíaco, vá ao hospital ou chame um médico. QUE FAZER AOS ANIMAIS? Se tem cães ou gatos e não sabe que destino lhes dar durante as férias, damos-lhe algumas pistas. Se não quiser levá-lo consigo e pensa deixá-lo num canil ou gatil, o melhor talvez seja desistir da ideia, porque a maioria destes estabelecimentos estão superlotados nesta época do ano. O melhor é mesmo optar por deixá-lo num hotel para animais. Contudo, o melhor é verificar as condições em que vai deixar o seu animal, pois enquanto alguns destes estabelecimentos procuram manter as rotinas a que os bichos estão habituados em suas casas, organizando actividades específicas para cada caso, outros há que são meros depósitos de animais onde os bichos ficam fechados em contentores durante a estadia. Se pertence ao grupo dos que nem em férias dispensa a companhia do seu animal e vai viajar de comboio, saiba que se o bicho pesar mais de cinco quilos terá que pagar meio bilhete. Se a viagem for de avião e pretender levá-lo consigo, terá que o acondicionar num contentor próprio. Mas atenção, porque o peso não pode ultrapassar normalmente os sete quilos! Em relação a tarifas, há companhias aéreas que têm “pacotes” para cães, pelo que deve informar-se junto da transportadora. E não se esqueça, no caso de viajar para o estrangeiro, de se informar acerca das exigências do país de destino em relação à entrada de animais. Para qualquer destino será sempre necessário ter o boletim de vacinas actualizado. Finalmente, não caia na tentação de preparar o seu cão para a viagem, dando-lhe calmantes (a não ser por prescrição do veterinário), pois normalmente afectam o comportamento dos animais. Boa viagem e boas férias! I livro_aberto_184.qxp 29-06-2007 12:26 Page 52 BOAVIDA L I V R O A B E R T O DA POESIA DE NERUDA À AVENTURA DO “MAYFLOWER” Houve quem dissesse, quando o mundo descobriu o horror do Holocausto, que depois de Auschwitz nuncas mais haveria lugar para a poesia. I José Jorge Letria P orém, neste mundo globalizado, apressado, em permanente estado de ansiedade e emergência, com o terrorismo e o medo a globalizarem-se também, nunca a poesia foi tão necessária e balsâmica, exactamente porque convida à interiorização, à espiritualidade e ao encontro com o que em nós existe de mais human, tolerante e sensível. Vai, assim, o primeiro destaque desta crónica, para a colectânea poética “As Uvas e o Vento”, de Pablo Neruda, um dos Nobel que vieram para ficar, com tradução do excelente poeta e tradutor Albano Martins. Os poemas deste livro foram escritos no início dos anos cinquenta, quando o poeta e diplomata se encontrava exilado. Neles se mistura e entrelaça, como sempre, a estética do mais puro dizer poético com a ética de uma cidadania que nunca recusou o compromisso político. Ainda do Campo das Letras é “Os Peregrinos Sem Fé”, de Sérgio Luís de Carvalho, ficcionista com uma obra consistente e digna da maior atenção, que desempenha as funções de director do Museu do Pão, na Guarda, com um trabalho museológico de reconhecida qualidade. Ainda no domínio da ficção narrativa, merecido destaque para “A Casa dos Encontros” (Teorema), do inglês Martin Amis, filho de Kingsley Amis, e uma das vozes mais 52 TempoLivre Julho/Agosto 2007 marcantes e originais da ficção britânica actual. Depois de “Koba”, sobre Staline e o seu universo de poder e de terror, Amis regressa ao mundo concentracionário do Gulag, narrando a história de uma relação triangular entre dois irmãos e uma jovem judia no conturbado período que mediou entre o fim da guerra e a morte do ditador, em 1953. Amis na sua melhor forma. Também da Teorema é “Insensatez”, de Horácio Castellanos Moya, apontado como uma das mais interessantes e inovadoras vozes da ficção narrativa norte-americana contemporânea. Da mesma editora é “Peso”, na colecção Mitos, obra de Jeanette Winterson sobre o mito de Atlas e Hércules. Mais um título de uma colecção de grande qualidade e de cuidado grafismo. Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira voltaram a trabalhar juntos, unindo texto e ilustração, em “Cinco Balas Contra a América”, da Oficina do Livro. Este é um livro sobre o romantismo que anima o espírito revolucionário, mas também sobre a margem de desilusão e desencanto que acompanha as utopias. Ao longo de décadas de história, desde Março de 1921, não faltaram, no PCP, rupturas, dissidências, silenciamentos e também histórias de verdadeiro heroísmo. “Álvaro Cunhal e a Dissidência da Terceira Via”, de Raimundo Narciso, com a chancela da Âmbar, é o testemunho sentido e vivido de um homem que conheceu a duríssima experiência da clandestinidade, que foi um quadro destacado do braço armado do PCP, a ARA, sobre a qual já publicou um livro, e que, depois do 25 de Abril, teve responsabilidades de vulto no sector militar que o PCP influenciava. Este livro ajuda a conhecer melhor a personalidade e a liderança de Álvaro Cunhal e o modo como o PCP lidava, implacavelmente, com a dissidência em democracia. Para quem gosta de literatura de viagens, vai uma sugestão de leitura: a do livro “África Acima” (Oficina do Livro), de Gonçalo Cadilhe, um olhar único sobre um continente fascinante, onde a pobreza, a morte a guerra frequentemente fazem esquecer a beleza paisagística e humana e a diversidade cultu- livro_aberto_184.qxp 29-06-2007 12:27 ral. Da mesma editora é o romance “À Noite Logo se Vê”, de Mário Zambujal, sempre com o seu estilo inconfundível, que a marca do humor e de um imenso poder de observação que o jornalismo apurou durante décadas. Distinguido com o Prémio de Poesia Marias Amália Vaz de Carvalho, o livro “Dois Corpos Tombando na Água” representa uma auspiciosa incursão de Alice Vieira nos domínios da poesia. Estamos em presença de uma escrita madura, pujante e inspirada que traz a marca da melhor poesia que actualmente se escreve em Portugal. Foi em Plymouth que algumas dezenas de puritanos criaram, no século XVIII, a colónia que viria a ser o berço da América inspirada pelos valores morais e civilizacionais da Europa a expandir-se para outras paragens. Nathaniel Philbrick narra, em “Mayflower”, de Publicações Europa-América o que foi essa gesta de homens e mulheres que enfrentaram a doença, a guerra, o medo do desconhecido e que lançaram as bases de um puritanismo ainda hoje identificável nas crenças e nas práticas de uma boa parte da população norte-americana. “Todo-o-Mundo” (Dom Quixote) é, sem dúvida, um dos mais notáveis textos de ficção de Philip Roth, um dos grandes mundiais contemporâneos. No centro desta narrativa está uma singular visão do Homem, da vida e da morte, da saúde e da doença e também do conceito de finitude da existência humana. Destaque para quatro títulos de ficção narrativa portuguesa recentemente editados: “O Pescador de Girassóis”, do jornalista António Santos, ex-assessor de comunicação social do Primeiro-Ministro António Guterres,”A Mulher de Mármore”, Page 53 novo romance de Ana Miranda, “Estranha Forma de Vida”, (Oficina do Livro) de Carlos Ademar, sobre o tráfico de mulheres, drogas e armas no Portugal de hoje, e ainda “O Que Entra nos Livros”, de António Manuel Venda, um nome de créditos já confirmados na literatura portuguesa de ficção dos últimos anos. A estes destaques, um outro se acrescenta, pela importância da obra e do seu autor. Trata-se, com a chancela da Dom Quixote, do primeiro volume das Obras Completas de Urbano Tavares Rodrigues, nome incontornável da literatura portuguesa contemporânea. Neste volume incluem-se os livros “A Porta dos Limites”, “Vida Perigosa” e “A Noite Roxa”, títulos obrigatórios numa obra que se impõe pela sua originalidade, diversidade temática e invulgar qualidade literária. Por seu turno, a Campo das Letras acaba de lançar o livro que assinala a estreia poética de Fernando Tordo, com o título “Quando Não Souberes Copia” e “Sermão de Nossa Senhora do Rosário”, do Padre António Vieira, com introdução e desenhos de Severino. “A Abertura das Palavras” é o título de uma recolha de ensaios de literatura portuguesa de Álvaro Manuel Machado, docente universitário, ficcionista e grande ensaísta. Nesta edição da Presença encontram-se textos sobre as obras de grandes escritores portugueses, de Teixeira de Pascoaes a José Cardoso Pires. A não perder. Com a chancela da Assírio & Alvim e o apoio da Câmara de Vila Franca de Xira acaba de ser editado o álbum “Cartoons do Ano de 2006”, de António, Cid e Maia, com a qualidade que aos três é reconhecida, a nível nacional e internacional. Humor certeiro e aguda crítica política e social. I Julho/Agosto 2007 TempoLivre 53 artes_184.qxp 29-06-2007 12:28 Page 54 BOAVIDA A R T E S MOMENTOS TRANSFORMADORES: DO MUSEU DO CHIADO À GULBENKIAN Quase simultaneamente, no Museu do Chiado e na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, são-nos dados a ver os principais momentos transformadores da arte portuguesa. I Rodrigues Vaz N o primeiro, obras de artistas portugueses da década de 60 de dois séculos diferentes – XIX e XX – tendo em comum o facto de serem duas épocas em que se registaram mudanças artísticas. Na segunda, uma selecção de obras do Centro de Arte Moderna escolhidas em articulação com a documentação de arquivo sobre os artistas apoiados pela Fundação, desde 1957 até à actualidade, igualmente protagonistas de muitas mudanças. “Anos 60 – Momentos transformadores, sec. XIX e XX” é o tema proposto para a nova exposição temporária que vai estar no Museu do Chiado - Museu de Arte Contemporânea, até 23 de Setembro próximo. A mostra, que tem como curador Pedro Lapa, que também é o director do museu, parte da colecção existente na instituição e reúne dois períodos afastados por um século e que poucas relações estéticas têm entre si. Ocupando dois pisos do museu, a exposição não mistura os dois séculos, apresentando os artistas de cada uma das décadas em separado, deixando para o visitante as possíveis interpretações e paralelismos de cada uma das épocas artísticas. De meados do século XIX, que regista o aparecimento do Romantismo, estarão representados artistas como Soares dos Reis, Alfredo Andrade, Tomaz de Anunciação e Miguel Ângelo Lupi. 54 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Uma manhã em Creys, de Alfredo de Andrade (1863), no Museu do Chiado Pintura de António Areal, um dos integrantes da exposição “50 anos de Arte Portuguesa” Já dos anos 60 do século XX, marcados pela guerra colonial, pelos últimos anos do Estado Novo, pela pop art ou pela cultura de massas, a mostra apresenta, por exemplo, Helena Almeida, Nikias Skapinakis, Ana Hatherly e Eduardo Nery. René Bértholo e Lourdes Castro, fundadores do grupo artístico KWY, também integram a exposição. artes_184.qxp 29-06-2007 12:28 Page 55 Por sua vez, a exposição “50 Anos de Arte Portuguesa”, que vai poder ser visitada até 9 de Setembro, na Fundação Gulbenkian, foi concebida pela investigadora Raquel Henriques da Silva, centrando-se no cruzamento entre colecção e documentação, o que permite ao público percorrer o processo criativo dos artistas, dos relatórios de trabalho às obras, elas mesmas lugar de novos questionamentos. SÉRGIO POMBO NA VALBOM De invenções líricas se pode falar, entretanto, acerca da actual exposição que Sérgio Pombo - um dos 120 artistas que integra a exposição da Gulbenkian - tem patente até 22 de Setembro na Galeria Valbom, Lisboa, em registos que têm tanto de ousado como de propostas originais, apesar de serem o prolongamento do percurso iniciado, com algum furor, nos idos de 70. Vigoroso criador de âmbitos oníricos submetidos a uma trama pictórica urdida com eficácia, Sérgio Pombo joga sobretudo com textura, desenho, cor, luz, espaço, geometria, técnica e composição, os quais convivem de forma harmónica, sem deixar nunca que o rigor na sua utilização afogue o sentimento de uma obra cálida e profundamente emocional. Como realça, aliás, Nuno Nabais, «…a um nível profundo, ao explorar as formas, não é senão a memória que Sérgio Pombo pinta. Não tanto memórias particulares mas a memória ela mesma, esse fundo primordial, espaço que tudo absorve e confunde e por onde apenas o real pode ser convocado, provado, pelo modo próprio e único que a memória tem de trabalhar o tempo e de nele deixar o tempo temporalizar-se.» Noutra direcção, porque fundamentada sobre realidades étnicas que recusam a matriz urbana, por contra- Composição de Sérgio Pombo Óleo de Alcínio Vicente reacção, se inscreve a exposição “Respigos da memória”, de Alcínio Vicente, na Galeria Artela, Lisboa, até 31 de Julho. Como diz o pintor: «Os tempos mudaram. Hoje a aldeia está agonizante, mergulhada num silêncio profundo e ensurdecedor, apenas o vento com suas caprichosas curvas se faz ouvir. Envolto em seus misteriosos pensamentos, o venerando ancião caminha vergado pelo peso das suas muitas recordações por certo questionando-se sobre que maldição assombrou a sua aldeia.» I Julho/Agosto 2007 TempoLivre 55 musicas_184.qxp 29-06-2007 12:30 Page 56 BOAVIDA M Ú S I C A S «PÉROLAS» DE LENA D’ÁGUA Lena d`Água acaba de regressar ao mercado discográfico com o CD/DVD “Sempre”, numa bem sucedida incursão ao jazz cantado em português. I Victor Ribeiro « P érolas encontradas no baú da minha memória afectiva», é assim que Lena d`Água classifica as dez canções agora apresentadas, surpreendentemente recriadas e gravadas ao vivo, em Dezembro de 2005, no Hot Clube de Portugal, em Lisboa. O CD, que integra 10 temas de outros tantos autores portugueses, abre com as canções “No Fundo dos Teus Olhos de Água” e “Labirinto”, de Luís Pedro Fonseca, músico fundador do “Salada de Frutas”, em Setembro de 1980, com Zé da Ponte e a própria Lena d`Água. Significativamente (estamos, afinal, perante quase trinta anos de cumplicidade criativa), o tema de fecho é também da autoria de Luís Pedro: ”Sempre que o Amor Me Quiser”. As restantes canções foram seleccionadas entre os principais sucessos de José Mário Branco, Jorge Palma, Sérgio Godinho e António Variações. No que se refere aos músicos, Lena fez-se acompanhar por quatro dos mais competentes executantes do jazz nacional da actualidade: Bernardo Moreira, João Moreira, André Fernandes e Marco Franco. “Sempre” surpreende, sobretudo, pela serenidade da interpretação de Lena d Àgua, que fez da sobriedade a sua principal “arma”, 56 TempoLivre Julho/Agosto 2007 evitando a tentação fácil de produzir estridentes efeitos guturais de grande espectacularidade, mas de retinto mau gosto. Recordemo-nos, enfim, que, atrás deste trabalho, estão mais de 30 anos de uma carreira nem sempre devidamente valorizada pela crítica “especializada”, ou por alguns sectores menos esclarecidos do chamado grande público. Em abono da verdade (valor cada vez menos perseguido), saliente-se que Lena d´Água, com invulgar generosidade e peculiar coragem, sempre nos tem dado o melhor de si, tanto quanto tem conseguido, em cada momento da sua vida. Lena d`Água “Sempre”! «MUJERES» SEGUNDO ESTRELLA MORENTE Do sul de Espanha, da Andaluzia profunda, chega-nos o CD/DVD “Mujeres”, da cantora Estrella Morente, de audição obrigatória. Nascida em Granada, há 26 anos, filha do maestro Enrique Morente e da bailarina Aurora Carbonell e neta do guitarrista Montoyita (todos eles intervêm no CD), Estrella tornou-se mais conhecida do grande público ao dobrar a voz da actriz Penélope Cruz, na interpretação do clássico “Volver”, de Carlos Gardel, no filme de Pedro Almodôvar, com o mesmo título. Estrella encontra-se na vanguarda dos novos intérpretes de flamenco, género musical que se transformou numa das principais referências da cultura popular da Andaluzia. Com este novo trabalho discográfico, Estrella Morente presta uma homenagem à mulher, designadamente ao interpretar canções dedicadas a Nina Simone ou a Penélope Cruz. De entre os autores escolhidos pela cantora, destacam-se Dolores Durán, Astor Piazzola, Federico Garcia Lorca... Estrella Morente é já parte integrante do futuro do flamenco. I musicas_184.qxp 29-06-2007 12:30 Page 57 Ao Vivo JULHO dia 15 > Nouvelle Vague e Aimee Mann General Levy + Robbo Ranx, Steve Vai Patrícia Vasconcelos Coliseu dos Recreios, Lisboa Steel Pulse, Soldiers of Jah Porto, Casa da Musica > dia 9 Jardim do Casino Estoril > dia 25 Army e Manif3stos Lisboa, Aula Magna > dia 10 dia 19 > Horace Andy & Dub Asante Band + Incógnito Dance Station Dia 4 > Groove Armada, The AGOSTO Streets, Sam the Kid, Sérgio Festival Sudoeste TMN Godinho, Air Traffic, Australian Lisboa >dia 12 Festival Delta Tejo Zambujeira do Mar Pink Floyd (after-hours), Koop, >Estacão do Rossio Polo Universitário – Alto da Dia 2 > Damian Marley, Patrick Wolf, Sondre Lerche, Tiga (DJ Set), The Chemical Ajuda, Lisboa Editors, Gilberto Gil, Mayra Sonic Junior, Vanessa da Mata, Brothers, Justin Robertson (DJ dia 20 > Filarmónica Gil, Andrade, I’m from Barcelona Tiago Bettencourt, Eta Carinae, Set), Erol Alkan (DJ Set), TerraKota e Loto Cassius (after – hours), Rui Sounds Portugueses, Saian D.I.M., Proxy e Jori Hulkonnen dia 21 > Tito Paris, Mesa e Vargas, The Noissetes, Camera Supa Crew, Martin Jondo e (DJ Set) Pedro khima Obscura e Ojos de Brujo Stepacide. >Coliseu dos Recreios dia 22 > Mundo Secreto, Cool Dia 3 > Cypress Hill, The Dia 5 > James, Mika, Phoenix, Simian Mobile Disco, Hipnoise e Souls of Fire Cinematics, Just jack, Razorlight, Babylon Circus, The Outlandish, Armandinho National, Of Montreal, Trail of Faro, Vale das Almas Buraka som sistema (after- Dead, Tara Perdida 2008, Rui Orishas> dia 20 hours), Mary Ann Hobbs, Vargas, Stereo Addiction, Pow Joe Cocker> dia 21 Bonde do Rolé, Data Rock, Pow Movement, Tiken Jah Balla, Os Lambas, Nastio, Fakoly, Yellowman e Alioune K Fischerspooner, Junior Boys, Air, Digitalism Cool Jazz Fest Casa da Pesca, Oeiras > palco_184.qxp 02-07-2007 18:14 Page 58 BOAVIDA N O PA L C O A RECUSA DO MARQUÊS De um país cheio de pulgas trata esta sátira musical, inspirada no Marquês de Pombal e concebida por Moita Flores, numa parceira com João Gil e Rui Veloso, em cena até meados de Agosto no novo espaço do Teatro Independente de Oeiras. I Maria Mesquita « A história hesita entre a farsa e a comédia. É uma crítica mordaz sublinha o autarca e escritor - à nossa classe política, às ligações ao futebol, à falta de ideias e ideais, ao populismo. Um tipo chega a primeiro-ministro por ter sido um militante dedicado do partido. Durante anos serviu cervejas no bar da sede do partido. Grande colador de cartazes e rapaz de grandes talentos para organizar sardinhadas e comícios ao ar livre, em zonas campestres. Tal qualidade entregou-lhe a fama de ambientalista. Chegou a primeiro-ministro por desistência. Mais ninguém queria ser e o homem decide transformar radicalmente o país. Na escola onde andou, e diga-se desde já que Marquês de Pombal, entre a farsa e a comédia 58 TempoLivre Julho/Agosto 2007 não chegou a terminar, a professora falara do Marquês de Pombal com grande reverência. Admirava, pois, o homem que reconstruíra Lisboa embora pouco soubesse sobre a sua acção política. Ah, também sabia de cor a cantiga “Sebastião come tudo, come tudo/ Sebastião come tudo sem colher/ Sebastião fica todo barrigudo/ Chega a casa dá porrada na mulher”, coisa que atribuía directamente à grande fama de Sebastião Carvalho e Melo. Rijo na política, rijo em casa. Um Homem a sério. Tudo parece correr bem mas uma praga de pulgas ataca o país. É preciso tomar medidas. Há pulgas por todo o lado. Recorre-se ao ministério da agricultura para ‘despulgar’ mas não dá resultado. O ministério do Ambiente criou várias comissões. A luta para saber quem entra nas comissões leva tempo e as pulgas multiplicam-se. A Assembleia da República foi desinfestada, sem resultado. Os deputados dão sopapos no pescoço uns dos outros para matar o bicho. Nunca viu unidade assim. O país coça-se de alto a baixo. O governo coça-se, o primeiro-ministro coça-se. O ministério da Saúde não dá para as encomendas e o do Comércio lançou campanhas de publicidade para venda de coçadores eléctricos…. Só no final o Marquês dá a solução. Tomar banho, lavar as orelhas, limpar ruas e fossas. As pulgas não gostam de higiene e o país está porco como nos tempos do “Ancien Regime”. Lixeiras a céu aberto, rios contaminados, hospitais infectados. O primeiro-ministro, farto de se coçar, pede ao Marquês que o substitua. Este hesita. Acaba por não aceitar. Já aturara noutra vida a palco_184.qxp 02-07-2007 18:14 Page 59 Queres fazer amor comigo?a Nove personagens interpretadas por cinco actrizes mesma porcaria que agora lhe pediam para governar.» Ficção ou realidade? A decisão caberá a cada espectador… QUERES FAZER AMOR COMIGO? Será que o papel tradicional da mulher, no relacionamento sexual, resulta de factores exclusivos do ser feminino e/ou de valores morais e culturais? Esta peça, encenada e dirigida por Henrique Félix, em cena na sala Estúdio do Trindade, pretende lançar o debate e reflexão sobre questões habitualmente tratadas em privado. As nove personagens, todas mulheres e de profissões diversas, para além de confessarem segredos ou histórias “inconfessáveis”, interrogam-se sobre o significado da frase: fazer amor. Em que contexto é que ter relações sexuais é ou não fazer amor? A que nos referimos nós quando dizemos que fazemos amor? Nove mulheres para outras tantas respostas… Com uma duração de cerca de uma hora e meia o espectáculo tem uma atractiva componente musical: dezassete músicas instrumentais e cantadas ao vivo. As nove personagens são interpretadas por cinco actrizes. As nove personagens são: Teresa – chefe de cozinha de um restaurante erótico; Elsa – ex-cantora lírica; Helena – médica; Filomena – secretária; Marta – advogada; Patrícia – professora de alemão; Umbelina – dona de casa; Soraya – prostituta e Felícia – escritora. PIRATAS! O MISTÉRIO DE MARIA DE LA MUERTE Para ver, também até finais do mês de Julho, a peça encenada pela Companhia de Teatro das Beiras, “Piratas! O mistério de Maria de la Muerte”, viajará até à Covilhã, Lousada, Braga, Serpa e Lisboa (CCB), passando por Castelo Branco e terminando em Meda. Dedicada à pirataria dos mares, contada por uma aprendiz da pilhagem marinha, numa época de filmes dedicados a este tema, será um bom serão veraneio, com sabor a mar. Com um ritmo alucinante e hilariante o Capitão conta e revive as suas grandes conquistas, com a ajuda dos novos tripulantes, enquanto estes se sujeitam aos espantosos testes de acesso ao mundo da pirataria. I FICHAS TÉCNICAS MARQUÊS DE POMBAL (edifício espelhado mesmo em frente à praia gráfico: Leonor Oliveira; Maquilhagem: Autor: Francisco Moita Flores; Música: Rui de Sto. Amaro de Oeiras). Raquel Frazão; Produção: Henrique Félix. Veloso e João Gil; Encenação e cenografia: Horário dos espectáculos: 5ª, 6ª e Sábados: Teatro da Trindade, Sala Estúdio; Até 29 Carlos d’Almeida Ribeiro; Coreografia: 21h30; Domingos: 16h Julho; 4ª-feira a sábado às 22h00 e domin- Eduardo Ramos; Figurinos: Ana Saraiva go às 17h00; Duração 75 min, M/16 Interpretação: Carlos d`Almeida Ribeiro; QUERES FAZER AMOR COMIGO? Vitor Coelho; Carlos Neves; Lourenço Autoria/Encenação: Henrique Félix; Direcção PIRATAS! O MISTÉRIO Henriques; Filipe d`Aviz; Rita Ribeiro; Plástica: Bruno Guerra; Direcção Musical: DE MARIA DE LA MUERTE Eduardo Viana; Igor Sampaio; Daniela António Neves da Silva; Movimento: Encenação: Graeme Pulleyn; Cenografia e Ruah; Rita Viegas; Pedro Ramos e Margarida Pimenta; Apoio vocal: Sara Belo; figurinos: Helen Ainsworth; Interpretação: Frederico Pires Interpretação: Ana Videira, Cátia Ribeiro, João Nuno Costa, Filipa Teixeira, Teresa Até 15 de Agosto no Novo Espaço - Edifício Jeny Romero, Rita Frazão e Sílvia Baguinho, Sara Silva, Rafael Freire, Paulo Parque Oceano, Sto. Amaro de Oeiras Balancho; Fotografia: Diogo Gama; Design Miranda. Julho/Agosto 2007 TempoLivre 59 DVD_Cinema_184.qxp 29-06-2007 12:32 Page 60 BOAVIDA CINEMA EM CASA REGRESSOS I Sérgio Alves E ara um tranquilo e cálido tempo de veraneio, as nossas sugestões começam no regresso do pugilista mais famoso do mundo, Rocky Balboa, em nova e intensa interpretação de Sylvester Stalone. Segue-se uma fascinante viagem, “Dreamgirls” à ROCKY BALBOA DREAMGIRLS Rocky já não combate, dirige um restaurante onde partilha com os clientes histórias de todos os combates travados dentro do ringue. Com a morte da mulher e um filho para criar tem uma tarefa árdua: conquistar o amor de um filho que não o aceita. Um bom filme e um retrato interessante desta nova América, bem diferente da dos anos Reagan, durante a qual Rocky o actor, e o Lutador se afirmaram. A mensagem do filme é clara: nunca desistam de lutar... A história de um novo género músical R&B, as Supremes e o aparecimento de Diana Ross. Um filme conseguido quer pela beleza plástica quer pela música mas sobretudo pelas excelentes interpretações de Beyoncé Knowles, Eddie Murphy, Jamie Foxx e da estreante Jennifer Hudson que, após vencer o concurso televisivo Operação Triunfo, arrebatou o Óscar para melhor Actriz secundária. Uma adaptação eficiente de um musical de sucesso da Broadway ao Cinema com uma banda sonora inesquecível, ritmo alucinante, cor e emoção para a descoberta (ou matar saudades) dos anos 50, 60 e 70. TÍTULO ORIGINAL: Rocky Balboa REALIZAÇÃO: Sylvester Stallone; COM: Sylvester Stallone, Burt Young, Milo Ventimiglia, Antonio Tarver; EUA, 103m, cor, 2006; EDIÇÃO: Lusomundo 60 TempoLivre Julho/Agosto 2007 DreamGirls; Bill Condon; COM: Beyoncé Knowles, Jamie Fox, Eddie Murphy, Danny Glover, Jennifer Hudson; EUA, 131m, cor, 2006; EDIÇÃO: Lusomundo TÍTULO ORIGINAL: REALIZAÇÃO: música negra norte-americana dos anos 50 e 60. Para a década de 70, um convite à descoberta da tenebrosa época do Uganda de Idi Amin. Finalmente, uma sugestão nacional: o notável documentário de Jorge Pelicano sobre uma dura e solitária profissão. “Ainda há Pastores?”, realizado nas agrestes montanhas da serra da Estrela, é um retrato singular de um Portugal quase desconhecido. I O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA O médico de origem escocesa Nicolas Garrigan vai de férias para o Uganda à procura de animais selvagens e aventura. Um acidente de carro no meio da savana, leva-o a conhecer o grande Ditador do Uganda Idi Amin que, mais tarde, o contrata como seu médico particular e conselheiro. Amin Chega ao poder no Uganda em 1971 e depois de prometer muito ao seu povo transforma-se num ditador temível. O filme, basado no romance de Giles Foden, teve enorme repercussão junto do público, em parte graças ao papel interpretado por Forest Whitaker, notável na construção desta figura histórica tão complexa e contraditória que lhe valeu o Óscar para Melhor Actor. TÍTULO ORIGINAL: The Last King of Scotland; REALIZAÇÃO: Kevin Macdonald; COM: Forest Whitaker, James McAvoy, Kerry Washington; EUA/GB, 121m, cor, 2006; EDIÇÃO: Castello Lopes AINDA HÁ PASTORES? Casais de Folgosinho não é um lugar. Não tem luz nem água canalizada.Tem caminhos por entre as montanhas da Serra da Estrela.Dantes era um santuário de pastores. Hermínio, 27 anos, contraria o fim. Dizem que é o pastor mais novo, mas também o mais doido. Sozinho, rádio na mão, rasga montanhas ao som das cassetes do popular cantor Quim Barreiros, que sonha, um dia, conhecer. TÍTULO ORIGINAL: Ainda Há Pastores?; Documentário; REALIZAÇÃO: Jorge Pelicano; Portugal, 72m, cor, 2006; EDIÇÃO: Costa do Castelo DVD_Cinema_184.qxp 29-06-2007 12:32 Page 61 BOAVIDA FILMES COM MEMÓRIA NO CÉU DO ALENTEJO Um apaixonante regresso do cinema português ao género fantástico através do perturbador filme Atrás das Nuvens I Fernando Dacosta E m certas horas do Verão, a planura do Alentejo cria com frequência reverberações que decompõem a paisagem e dilatam o tempo. Quando a imaginação se solta, os mais sensíveis sentem-nas, vêemnas emergidas de mundos iniciáticos que se lhes desocultam para melhor se lhes ocultar. As páginas de um Manuel da Fonseca, de um Urbano Tavares Rodrigues, de um Fernando Namora captam essa dimensão surreal (que eles afirmam verídica) coada de sons e imagens, de melancolias e apaziguamentos únicos. Não é, porém, o neo-realismo que vulcaniza, ali, a terra, os sentimentos, os sonhos, as renúncias, as sufocações, mas o pulsar onírico que orvalha de sagrados e mistérios o território à volta. Captando-o com rara subtileza, José Queiroga, jovem realizador (filho do inesquecível Perdigão Queiroga) incrusta-lhe, através de uma história fabulosa, um filme nota- bilíssimo, belíssimo, jóia ímpar no actual colar cinematográfico nacional. Sensível, discreta, a sua câmara torna-se um olhar afectuoso, como poucas vezes temos recebido, sobre as pessoas e as paisagens que apetece rever, reter, guardando-lhe para sempre a respiração do (elipticamente) não dito. Formatada pela indiferenciação vigente, a crítica convencional não comungou, não assinalou, porém, como devia a sua existência, numa preconceituosa reacção que já nos habituámos, aliás, a ver-lhe. Esperemos que a RTP, por exemplo, o não deixe esquecido, proporcionando-lhe a urgente, merecida visibilidade. Excepcional director de actores (e de técnicos), Jorge Queiroga pega num (maravilhoso) garoto de 10 anos, Ruben Leonardo, num genial Nicolau Breyner e numa dolorida Sofia Grillo, entre outros intérpretes, e dá-nos uma obra verdadeiramente luminosa. Através de situações muito simples narra, nela, a procura, e o encontro, e a cumplicidade de um neto com o avô, que até aí se desconheciam, a viverem em Lisboa, o primeiro, e num monte de próspera herdade alentejana, o segundo. Homem de pacatos delírios, este entrega-se (depois da morte do filho num acidente de automóvel conduzido por si quando se dirigiam para a maternidade onde o neto estava a nascer) a simular viagens pelo espaço e pelo tempo, pela memória e pela evasão, dentro de um «Boca da Sapo» impecável de funcionamento, apesar de há anos imobilizado em cima de sólidos barrotes de madeira. O garotinho entra, fascinado, e nós com ele, nas suas viagens mágicas sobre as nuvens, sobre a realidade, sobre o passado, sobre o pressentido. Todos os que rodeiam o avô (engenheiro cimentado à terra), governanta, criados, feitores, amigos, aceitam-lhe e compartilham-lhe as fantasias – sobretudo as que se passam muito no alto, atrás das nuvens visíveis para lá do párabrisas do emblemático Citroën adornado num Alentejo veementemente voador. I Julho/Agosto 2007 TempoLivre 61 mesa_saœde184.qxp 29-06-2007 12:33 Page 62 BOAVIDA À M E S A ÉTICA À MESA Ao escolhermos um alimento para a nossa mesa estamos a tomar uma decisão que afectará o funcionamento do nosso organismo e a nossa saúde a curto ou longo prazo. Mas estamos também a tomar uma decisão, de certa maneira, ética, política e económica. I Pedro Soares O u seja, ao optar por comprar uma banana proveniente da Madeira ou do Equador estamos a escolher alimentos produzidos a distâncias muito diferentes das nossas mesas, as quais implicarão custos ambientais distintos. Assim, os produtos provenientes da produção local e da época, permitem de um modo geral, reduções significativas na utilização de energia e, provavelmente, nas emissões de gases com efeito de estufa. Sabemos hoje que o transporte de alimentos por via rodoviária é um dos factores determinantes para a poluição atmosférica, resultante da emissão de partículas pelos camiões de grande tonelagem e também pelos gastos de combustível. Também a forma como nos fazemos transportar para comprar alimentos é outro factor importante para o consumo de energia e emissão de gases com efeito de estufa. Recentemente, foram publicados diversos trabalhos científicos onde se comparam diferentes formas de aceder às lojas de produtos alimentares. A utilização de automóvel particular é uma das mais poluentes e também aquela que muita gente usa para aceder aos supermercados, cada vez mais longe das nossas casas. Em Inglaterra, o transporte de alimentos através do automóvel e entre a habitação e as lojas alimentares, representa já, 48 % do total dos km realizados por um alimento até chegar aos nossos pratos. Uma opção poderá passar por escolher lojas alimentares que vendam frescos perto de nossa casa e onde possamos ir a pé regularmente, por exemplo, e deixar os produtos mais pesados para o transporte de automóvel. Que poderá ser utilizado mais esporadicamente. Mas estas opções amigas do ambiente poderão ter custos económicos, implicarem na utilização do nosso tempo livre e até na nossa organização diária. Serão opções éticas com as quais somos confrontados se quisermos deixar um planeta habitável para os nossos filhos e netos. Outra questão alimentar mas que se tem vindo a transformar numa questão de ordem ética é o desperdício calórico. Existindo tantas crianças e adultos mal nutridos nos países do sul como é possível continuarmos a consumir tantas calorias em excesso, e que ainda por cima são fonte de peso excessivo, perturbador da nossa saúde? Em Portugal, apesar de não existirem dados precisos sobre o aumento de energia consumida através dos alimentos, estima-se que possa ter aumentado de 2780 calorias nos finais dos anos 70 para 3750 calorias em 2001-2003. Nos Estados Unidos, esse aumento cifrou-se entre 1983 e 2000, em mais 600 calorias. Para fornecer essa energia são necessários utilizar mais 100.6 milhões de hectares por ano, com a correspondente utilização de substâncias químicas, produção de energia, emissões de gases com efeito de estufa etc. Tudo isto para aumentar a ingestão diária de produtos alimentares, a maior parte deles fornecedores de calorias proveniente da gordura e açúcar com reduzido valor nutricional mas de grande valor energético contribuindo ainda mais para a pandemia de obesidade que grassa nas sociedades modernas. São assuntos, sobre os quais vale a pena meditar, nesta época de excesso calórico e globalização alimentar. I mesa_saœde184.qxp 29-06-2007 12:33 Page 63 BOAVIDA S A Ú D E APNEIA DO SONO… OU A HISTÓRIA QUE SÓ O OUTRO PODE CONTAR Na verdade só os parceiros que dormem com os doentes com apneia do sono podem testemunhar, e quase sempre com desagrado, a maneira como eles ressonam… I M. Augusta Drago R essonar é o ruído causado pela vibração das mucosas, quando o ar passa por um percurso apertado, nas vias aéreas superiores que vão desde o nariz até à laringe. Na apneia do sono, ao ressonar, segue-se um curto período em que o doente não respira e que é interrompido por um despertar agitado e angustiado. A apneia do sono consiste na suspensão temporária da respiração durante um ou dois ciclos respiratórios. Depois desta pausa involuntária, o doente acorda agitado e com a sensação de falta de ar. Esta situação repete-se ao longo da noite e faz com que o doente se sinta no dia seguinte cansado e sonolento. Se o doente não se queixa e se a apneia do sono não é identificada e tratada, a longo prazo pode contribuir para o aparecimento de hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e até morte súbita. A sonolência e a falta de atenção, causadas pela privação do sono repousante durante a noite, fazem com que estes doentes tenham um risco acrescido – entre duas a sete vezes mais – de acidentes rodoviários, em comparação com pessoas saudáveis. O Sr. J. L. é motorista profissional de pesados. Faz longas viagens para entregar mercadorias no país e no estrangeiro. Tem de cumprir prazos André Letria de entrega, o que nem sempre é fácil. Tem noites em que mal dorme e noutras noites, em que podia descansar, queixa-se de que acorda de manhã, com a sensação de não ter dormido. Durante a consulta constatei que a mulher já se tinha queixado que ele ressonava durante o sono e acordava momentaneamente agitado várias vezes durante a noite. Para além desta história, muito sugestiva de apneia do sono, o Sr. J.L. tinha engordado e à data pesava mais 20 Kg do que era desejável para a sua estatura e idade. As refeições eram acompanhadas sempre com uma bebida com álcool e para dormir à noite tomava sedativos. Enquanto aguardava fazer a polissonografia para confirmar ou não o diagnóstico de apneia do sono, combinámos iniciar um programa alimentar e de exercício físico para perder peso. Acordámos ainda que não voltava a beber álcool durante a semana e ao fim de semana reduzia a quantidade para metade do habitual. Também não tomaria sedativos para dormir, porque estas duas substâncias podem por si sós induzir a apneia. Efectivamente o Sr. J.L. sofre de apneia do sono, do tipo obstrutivo, a qual, felizmente no seu caso, tem tratamento definitivo mediante correcção cirúrgica da nasofaringe. O doente porém recusou a cirurgia e optou por um tratamento conservador, não cirúrgico, a terapia com CPAP, mais algumas medidas para uma boa higiene do sono - evitar dormir de barriga para o ar, tratar a obstrução nasal e continuar com o programa para perder peso. A terapia CPAP é considerada de primeira linha e eficaz no tratamento da apneia do sono do tipo obstrutivo. Trata-se de um equipamento que fica colocado ao lado da cama do doente e ao qual ele se liga durante a noite, colocando uma máscara nasal ou facial através da qual lhe é fornecido ar sob pressão positiva. Nos estudos que têm sido feitos para avaliar este tratamento, verificou-se que diminui a sonolência e melhora consideravelmente a qualidade de vida dos doentes. Porém, muitos doentes abandonam o tratamento porque não conseguem adaptar-se a dormir ligados à máquina. No entanto, existem vários tipos de máscaras e estudam-se novas soluções para diminuir os inconvenientes sentidos pelos doentes. O tratamento cirúrgico destina-se a doentes que não se adaptam ou não sentem melhoria adequada com CPAP. É normalmente um tratamento individualizado, que inclui cirurgia facial e da orofaringe para corrigir eventuais malformações congénitas, que constituam obstruções ao fluxo do ar. Os tratamentos que hoje dispomos para a apneia do sono são eficazes e pensados para dar resposta individual a cada doente de acordo com as dificuldades sentidas. I [email protected] Julho/Agosto 2007 TempoLivre 63 informatico_volante184.qxp 02-07-2007 18:16 Page 64 BOAVIDA TEMPO INFORMÁTICO TECNOLOGIAS EM PROGRESSO As novidades em computadores e outros equipamentos com eles relacionados não param de nos espantar, dando-nos uma visão maravilhosa que contrasta com certos desequilíbrios deste mundo global em que vivemos. Talvez para não perder de todo a esperança de que o homem mudará alguns dos rumos que desumanamente tem percorrido. I Gil Montalverne P odem imaginar um monitor que pareça a superfície do tampo de uma mesa, colocado na horizontal e sobre o qual se escreva e pinte com os dedos, rodem ou dimensionem fotografias e se corram ficheiros e pastas com as mãos? Pois esse computador já existe. Com a nova tecnologia chamada “domino tagging”, a Microsoft apresentou um computador gigante, chamado precisamente “Surface”. Com ecrã táctil, tudo funciona apenas com os nossos dedos e mãos tocando em menus, botões, etc. O objectivo foi melhorar a interacção entre pessoas e computadores, através do reconhecimento de toques, gestos e diversos objectos. Transforma o real em virtual. Coloca-se um objecto sobre o ecrã e este identifica-o, reproduz a sua imagem e a partir daí interagimos com ele. Podemos modificá-lo, colori-lo, redimensioná-lo, etc. Tocamos com os dedos na paleta de tintas e 64 TempoLivre Julho/Agosto 2007 escreve-se uma mensagem sobre uma fotografia, move-se para outra pasta, envia-se a um amigo, fazendo drag and drup, tudo com o Windows Vista instalado. Fazer uma lista de músicas e ordená-las é com os dedos. Encomendar uma bebida num restaurante, fazer compras, etc. O preço não para é para qualquer. Varia entre 3.700 e 7400 Euros pois está vocacionado para hotéis e restaurantes. Já existem encomendas. No entanto promete baixar o preço e desenvolver uma versão para o utilizador comum. É para breve. E MAIS… O reconhecimento de voz por computadores já existe. Mas agora vamos poder controlar computadores através da fala. O projecto TECNOVOZ elabo- rado entre outros por INESC, Universidade do Minho, Promosoft, Priberam, etc. vai permitir tornar realidade o sonho de comunicar com as máquinas através da fala tal como o fazemos com as outras pessoas. Recuperar peças jornalísticas em áudio ou vídeo utilizando a sua transcrição em texto mas também a aplicação às cirurgias em oftalmologia com possibilidade do médico controlar e inserir dados no sistema em situação de mãos ocupadas, são apenas exemplos. E que dizer do novo brinquedo PLEO, um pequeno dinossáurio que entristece se o dono o tratar mal mas abana a cauda e dá umas leves cabeçadas nas nossas pernas se lhe fizermos uma festa. O brinquedo aparece em substituição do cão Aibo da Sony, que custava 1.500 euros, mas o Pleo custa apenas 200. Mas importante também… Aproximam-se as férias, usa-se mais o computador para jogos on-line, Internet, emails. E tudo isso traz menos segurança. O “Norton 360” é a solução “Tudo em Um”. Anti-vírus, Anti-spyware, Antiphishing, Firewall, Protecção de Dados, melhor desempenho do PC. Tranquilidade para as actividades on-line. 3 licenças para a família por 79 Euros. I [email protected] informatico_volante184.qxp 02-07-2007 18:16 Page 65 BOAVIDA A O SUZUKI SX4 PARA TODAS AS OCASIÕES Baseado no conceito “X-Over Revolution”, o novo Suzuki SX4 é o terceiro modelo inserido na nova estratégia mundial da marca. Este automóvel multifacetado cruza a forma compacta e desportiva do modelo Swift com a tradição SUV revelada no Grand Vitara. I Carlos Blanco O SX4 apresenta-se na variante “outdoor line” que transmite um conceito de evasão e uma maneira descomprimida de encarar a vida. Por isso mesmo, as imponentes jantes de liga leve de 16” E as protecções do exterior são de séria. Tal como os restantes veículos da Suzuki o SX4 materializa a filosofia “Way of life” da Suzuki e a visão da marca de um veículo de condução. O SX4 incorpora um convincente equipamento de série: Ar condicionado, fecho centralizado de portas com comando, leitor de cd com mp3, barras de tejadilho integradas e múltiplos espaços que elevam a sua versatilidade. O raio de acção e dinamismo são segurados por um motor 1.5 a gasolina com 100cv ou V O L A N T E pelo novíssimo 1.6DDIS turbodiesel com injecção common-rail e com 90cv. Apostando na qualidade e nível de equipamento o valor da comercialização do SX4 diferenciase dentro do seu segmento. A versão GL com motorização diesel está disponível por 21.990 euros não incluindo despesas administrativas. O 1.6DDIS permite levar o SX4 dos 0 aos 100 km/h em apenas 12,2 seg. e atingir uma velocidade máxima 175 km/h. No exterior o SX4 1.6 DDIS apresenta um visual atraente e desportivo e que não nos deixa indiferente. A linha de cintura baixa e os grandes vidros triangulares das portas dianteiras reflectem o espírito dinâmico do veículo sugerindo de imediato um bom potencial desportivo. A forma fluida elegante do SX4 está assente num chassi resistente que oferece uma condução estável e segura e uma resposta imediata aos comandos do condutor. A suspensão deste compacto foi optimizado de maneira a adaptar-se a uma carroçaria com elevados níveis de rigidez torcional para suportar a excelente capacidade de resposta do veículo. Em suma, o SX4 é sem dúvida bem concebido para o seu segmento. I Julho/Agosto 2007 TempoLivre 65 Palavras_lei 184.qxp 29-06-2007 12:37 Page 66 BOAVIDA PA L AV RA S D A L E I André Letria FURTO DE EMBARCAÇÃO Adquiri uma pequena embarcação. Guardava-a nas instalações fabris da empresa vendedora. Nunca me quiseram cobrar a guarda da embarcação, embora tivesse insistido com os representantes da empresa nesse sentido. Tomei conhecimento do furto da embarcação. Esse furto foi muito suspeito. O proprietário fez denúncia contra desconhecidos, mas o Ministério Público arquivou-a, por falta de provas. Nessa denúncia, especificou que tinha a revisão, manutenção e guarda da embarcação. O que posso fazer, dado que não tenho contrato escrito? Sócio ? n.º 58329 I Pedro Baptista-Bastos Q uem entrega uma coisa, móvel ou imóvel, a outrem, para que a guarde e a restitua quando for exigida, constitui um contrato de depósito, nos termos do artigo 1185º e seguintes do Código Civil. 66 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Mesmo que não tenha um contrato escrito, ou não possua facturas que comprovem o pagamento de uma qualquer retribuição, ainda assim estamos diante de um contrato de depósito. A lei não exige um contrato escrito, nem o pagamento de uma quantia como requisitos do depósito, mas sim a entrega, guarda e restituição de uma coisa como factos constitutivos do contrato. E, por aquilo que o nosso sócio nos descreve, esta situação enquadra-se num depósito, sem qualquer dúvida. O depositário está obrigado a guardar a coisa depositada, de acordo com a alínea a) do artigo 1187º do Código Civil. Se algum dano ocorrer a essa coisa, o depositário é responsável, devendo indemnizar o depositante. Em princípio, o proprietário da empresa que lhe guardava a embarcação é responsável pelo furto. O nosso leitor não nos diz se a embar- cação estava segurada ou não, e se o proprietário tem um seguro contra furtos nos seus armazéns. Vamos admitir que não há seguro constituído sobre a embarcação. Se não houver nem seguro da embarcação, nem seguro contra furtos nos armazéns, na data do furto, há responsabilidade do depositário, nos termos conjuntos dos artigos 483º e 486º do C. Civil. Se alguém guardava um bem, e não tinha um seguro constituído, há uma omissão de um acto que devia ter realizado, para guardar convenientemente o bem. Os seguros garantem o ressarcimento dos danos causados a bens, e a falta de seguro num depósito é omissão de um dever que recai sobre o depositário. O nosso leitor tem que averiguar se não há seguro constituído nestes termos. Se não houver, intente o mais rápido possível uma acção de condenação em processo civil. Aconselho-o a contactar um Advogado. I Pag67.qxp 29-06-2007 12:49 Page 1 passatempos184.qxp 29-06-2007 12:38 Page 68 CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas Horizontais: 1-Quartetos; Caixilhos. 2-Marido da tia; Regra; Suspiros. 3-Rim; Ligue; Conclusão.4-Amarres com nó; Encontro; Doença nos cascos do cavalo. 5-Imposto Sobre Rendimento de Pessoas Singulares (Sigla); ... (TséTung), político e filósofo chinês (1893-1976); Cólera. 6-Isolado; Naquele lugar; Fúria; Prep. de “lugar”. 7-Vareira; Ameigas.8-Vate; Peso indiano (de 141 a 330 quilogramas); Em excesso. 9-Demora; ímpeto; Acrescentar. 10-Desgaste; Molestamos; Aia. 11-”Cromio” (s.q.); Nome da letra grega correspondente ao “P” latino; Agora; Palavra havaiana que designa lavas ásperas e escoriáceas; Palavra que no dialecto provençal significava “sim”. 12-Deslumbrado (fig.); Prejudica. 13-Vertera; Remendara. 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Verticais: 11 12 13 SOLUÇÕES 1-Surgis em público; Qualquer embarcação. 2-Nome antigo da nota musical “dó”; Poeta lírico. 3-Serra de Portugal (Portalegre): Donaire (reg.); Aqui. 4-Segundo; Espécie de esquilo lanoso; Breu. 5-Junto; Mistura. 6-Parecença; Pref. de “negação”; Confiança; Suf. de “profissão”. 7-Estampilham; Mau uso. 8-Lidas; Sulcara. 9-Projecto; Fragrância. 10-Uma (ant.); Pequena; Ilha do Mediterrâneo, perto de Marselha; Nome da décima sétima letra do alfabeto grego; Lado do navio voltado para o vento. 11. Rezam; Brotais. 12-Pagais; Suor; Ferimento ou dor, nas crianças. 13-Concordai; Ópera em 4 actos, de Verdi; Sopro. 14-Aqueles; Serventia, 15-Filtram; Chícharo espontâneo em Portugal. 1-QUADRAS; QUADROS. 2-TIO; RÉGUA; AIS. 3-S; RIL; LIE; FIM; C. 4ATES; MARRO; SAPO. 5-IRS; A; MÃO; 0; IRA. 6-SO; ALI; S; IRA; EM. 7-VARINA; AFAGAS. 8-BARDO; BAR; MUITA. 9-ADIA; FUROR; ADIR. 10-ROA; LESAMOS; AMA. 11-CR; PI; ORA; AÃ; OC.12-0; CEGO; A; LIXA; A. 13-VAZARA; COSERA. Xadrez > por Joaquim Durão A uma partida inglesa de 1977 corresponde o diagrama de hoje. Os jogadores nunca alcançaram notoriedade, mas o que nos interessa é a posição, em que o leitor deverá, num golpe de vista, vislumbrar a rápida solução. A disputa foi entre Farley e Marsh, e o primeiro não deixou escapar a oportunidade. ameaças “semi-invisiveis”) 15….exf4? (Caindo com certa ingenuidade, no remate espectacular) 16. Cxg6!! Rxg6 17.Dxh5+! Rxh5 (Havia que voltar para trás 17….Rh7, apenas para resistir mais). 18. Cxf4+ Rg5 19. h4+ Rg4 20. Rh2 e as pretas rendem-se perante o mate com o bispo, no próximo lance, em f3 ou h3. AS PRETAS JOGAM E DÃO MATE RAPIDAMENTE 68 TempoLivre Julho/Agosto 2007 SOLUÇÕES Um xeque na diagonal h5-e8 é mate. Logo 1. Dh5+ Cxh5 2. Bg6 mate ou 1…., g6 2. D ou Bxg6+ Cxg6 e 3. D ou BxCg6 mate. Na Olimpíada de Dubai, 1986, conheceram-se a portuguesa Aida Ferreira e o canadiano Kevin Spraggett. Faz agora 20 anos que deram o nó. Os meus parabéns ao casal. A nossa brilhante xadrezista foi deixando de aparecer nas competições – sucede muito entre as mulheres, quando se casam. Kevin, porém, incrementou a sua actividade profissional de GM ganhando inúmeros torneios internacionais e chegando a competir na prova de candidatos ao título mundial. Fixou-se na Guarda, terra da esposa, e desde o primeiro momento depressa grangeou respeito e amigos. Hoje é quase mais xadrezista português que canadiano. Sinceramente, espero vê-lo, em breve, a representar as nossas cores nas Olimpíadas. A lei da Federação internacional permite-o. Seria um reforço considerável. Recentemente produziu mais uma boa partida com remate brilhante, a 4 de Abril, em San Sebastian. Spraggett – Patrícia Llaneza. Abertura Nimzowitch (Duplo Fianqueto). 1. Cf3 Cf6 2.g3 g6 3.b3 Bg7 4.Bb20-0 5.Bg2 d6 6.c4 e5 7.d3 Cc6 8. 0-0 h6 9.Cc3 Ch5 (Para jogar f5 – o contra-ataque habitual no flanco, mas talvez mais forte seja 9…. Be6 com vista a seguir com Dd7 e Bh3, uma vez que o salto Cf3-g5 já não é possível) 10.e3 f5 11.a3 a5 12.Tb1 Be6 13.Cd5 Dd7 14.Ch4 Rh7 15.f4 (Travando a expansão temática e conjecturando, por sua vez, Pag69.qxp 29-06-2007 12:50 Page 1 Pag70.qxp 29-06-2007 12:51 Page 1 cupoes_184.qxp 29-06-2007 12:39 Page 71 CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 Remeter para Clube Tempo Livre – LIVROS, Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado. novos_livros184.qxp 29-06-2007 12:40 Page 72 CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS AMBAR MOZART E AS MULHERES Enrik Lauer e Regine Müller 320 pg. | 20 (PVP) A vida de Wolfgang Amadeus Mozart foi marcada pelas mulheres que o rodearam e que foram as suas fontes de inspiração: a mãe, a irmã, a prima, a mulher, as amantes… O livro dá a conhecer as histórias das várias relações de Mozart. Histórias que são reflexos de alegrias e tragédias sempre presentes na curta vida do compositor. DIÁRIOS DE HAVANA Wendy Guerra 192 pg. | 19 (PVP) Romance sob a forma de diário pessoal, onde a autora faz o retrato duro da realidade cubana, ao mesmo tempo que conta de forma crua e autêntica a sua infância e adolescência, marcada pelo abandono e solidão. CUIDAR E AMAMENTAR O SEU BEBÉ Karen Pryor e Gale Pryor 456 pg. | 25 (PVP) Um guia clássico, revisto e actualizado, sobre os benefícios da amamentação. Com base na ciência e na investigação, apresenta informação e conselhos preciosos para uma nova geração de mulheres, que quer viver em pleno a sua maternidade. CAMPO DAS LETRAS MEU PRIMEIRO LAROUSSE DO MAR 72 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Benoît Delalandre 160 pg. | 16,80 (PVP) Para que todos os pequenos veraneantes, banhistas ou pescadores de camarões aprendam, com os pés confortavelmente na água, a amar e respeitar esses lugares frágeis e maravilhosos. Contém ilustrações divertidas e explicações simples e claras. AMOR NO FIO DA NAVALHA Janet Tashjian 228 pg. | 12,96 (PVP) Becky Martin tem 17 anos é inteligente, divertida e ambiciosa – quer ser humorista. Enquanto se esforça para tornar esse sonho realidade, conhece Kip Costello, uma estrela ascendente nos clubes de comédia. Imersa na adoração de Kip, um namorado atraente e apaixonado, Becky rapidamente descobre uma face oculta de Kip, onde a violência física e emocional andam lado a lado. EDITORA ULISSEIA ANDAR FELIZ EM LISBOA Francisco Ribeiro Soares, José Pedro Barreto e Nuno Markl 256 pg. | 15,49 (PVP) Fala-se de Lisboa e dos lisboetas. O lisboeta é um pouco de todo o país, e no falar alfacinha existem todos os sotaques. Lisboeta é o galego da tasca, o beirão que chefia o pessoal da repartição, o alentejano que carrega gerúndios, o transmontano que guia táxis…, o tripeiro que dirige a agência bancária. São eles quem manda em Lisboa e governa a cidade, capital de um país que raramente foi governado por lisboetas – mas por políticos “da província”. FORTE E FEIO António Feio e Eduardo Madeira 106 pg. | 12,99 (PVP) Bate forte e feio em várias personalidades nacionais e mundiais. São cerca de duzentos textos humorísticos de diferentes tamanhos e estilos interpretados por António Feio nalguns dos seus programas e espectáculos. Uma compilação da dupla de autores que pretende dar a conhecer, de forma despretensiosa, momentos engraçados do trabalho em conjunto. EDITORIAL PRESENÇA A LINGUAGEM DE DEUS Francis S. Collins 224 pg. |15 (PVP) Como surgiu o universo e qual o significado da existência humana, são algumas questões que inquietam a nossa mente. O autor, na perspectiva de cientista altamente rigoroso e de crente honesto, defende a complementaridade das concepções científica e espiritual como sendo a via mais equilibrada para desvendar o mistério da vida e do universo. ENIGMA DA ESFINGE Charlie Fletcher 320 pg. | 17,50 (PVP) Quando George quebrou a cabeça da estátua do dragão no Museu de História Natural de Londres estava longe de imaginar que esse acto viria a ter consequências catastróficas para a sua vida e para a própria cidade. Uma força poderosíssima, adormecida desde tempos imemoriais, aguardava pela oportunidade de voltar à vida, e esse momento tinha finalmente chegado. Uma aventura épica de cortar a respiração, que dá a conhecer uma outra Londres, absolutamente fascinante. COMO TRATAR A CELULITE Agnelo Martins 64 pg. | 10 (PVP) Inestética e indesejada, a celulite é já vista como uma epidemia social. Nesta obra o autor explica, com o rigor de um profissional de saúde, o que é a celulite, como evolui e se manifesta. Sugere formas de tratamento, entre as quais métodos como a mesoterapia. Livre-se do aspecto «casca de laranja» e desfrute de um corpo mais saudável e equilibrado! EUROPA-AMÉRICA FUGA PARA O PARAÍSO Anne Rice sob o pseudónimo de Anne Rampling 308 pg. | 19,90 (PVP) O Clube, uma estância de luxo paradisíaca onde as fantasias proibidas se tornam realidade. Um local onde os clientes dão asas à sua imaginação e escolhem ser dominadores ou escravos numa relação sadomasoquista. SANGUE REAL Harold Robbins e Junius Podrug 368 pg. | 21,50 (PVP) novos_livros184.qxp 29-06-2007 Nesta ficção, o casamento da princesa de Gales que fez sensação mundial depressa se transformou de conto de fadas em história de horror. Enganada e traída antes do fim da lua-de-mel e, depois de sofrer todas as humilhações possíveis, a Princesa decide vingar-se e, num baile de máscaras, perante oitocentos convidados, mata o marido, Sua Alteza Real, o príncipe de Gales… EM MARROCOS Edith Wharton 164 pg. | 14,90 (PVP) Um clássico da literatura 12:40 Page 73 de viagens, onde a autora faz um notável relato de uma viagem ao país durante a I Grande Guerra. Com um característico sentido de aventura, Wharton parte à exploração de Marrocos e do seu povo, registando as suas impressões e encontros. O FASCÍNIO DO ISLÃO Martine Gozlan 108 pg. | 13,50 (PVP) Analisa os factores que tornaram o Islão uma religião tão apelativa para os ocidentais e em que moldes se exerce este fascínio. «O Islão não se limita a avançar, galopa.» Com 500 milhões de fiéis em 1973, actualmente o número ascende a 1,2 mil milhões e é a única religião monoteísta que continua a conquistar crentes diariamente. GRADIVA O DEDO DE GALILEU? Peter Atkins 516 pg. | 29,50 (PVP) Dez ideias centrais da ciência contemporânea para o autor celebrar o poder do método científico na revelação da natureza do nosso universo, do nosso mundo e de nós próprios, contrapondo-o à mera especulação pseudocientífica e às imposturas relativistas. A APOLOGIA DE UM MATEMÁTICO G. H. Hardy 124 pg. | 11 (PVP) Um dos mais brilhantes matemáticos do século XX conta o prazer e a magia da invenção matemática. Um manifesto apaixonado e contagiante: viva a matemática! Para ser lido e comentado nas nossas escolas. roteiro184.qxp 29-06-2007 12:41 Page 74 CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas Póvoa de Lanhoso. BRAGA VOLEIBOL DE PRAIA: dia 7 - Torneio de Praia em Braga. JULHO AGOSTO Cultura Cultura ESPECTÁCULOS: dia 4 às ESPECTÁCULOS: dia 38 às 21h30 – Gr. de Cavaquinhos no Centro de Anim.das Caldas do Gerês; dia 6 às 21h - Ilusionista Karter Mendes no Estúdio Galécia em Braga; dia 7 às 21h30 - Conjunto Típico Estrelas de S. Vicente na Qta da Aramada em Braga, Festival de Folclore em Lordelo, Nine, S. Torcato, Mogege e Adaúfe; dia 8 às 18h – Gr. de Cavaquinhos Flores da Primavera no Terreiro de S. Torcato; dia 11 às 21h30 – Gr. de Cavaquinhos da Casa do Povo de Tadim em Caldas do Gerês; dia 14 às 21h Festival de Folcl. em Joane; dia 21 às 21h - Festival de Folcl. em Vila Nova das Infantas, Moure, Sequeira, Vermil e Cantelão; dia 22 às 16h30 – Gr. Folcl. de Danças e Cantares de Joane em Mogege, dia 28 às 21h30 - Festival de Folcl. em Cabreiros e Barcelinhos e Gr. Musical Água Viva em Lousado. CANTO: dia 7 - Audição dos alunos do Curso de Canto na Delegação. CINEMA: Filme “O Pai da Noiva” dia 11 às 21h na Assoc. Cult. e Rec. de Valdosende; dia 13 às 15h na Casa do Povo de Fermentões; dia 20 às 21h no Centro Social de Campelos; dia 27 às 21h – C.C. de Moreira de Cónegos. 21h – Gr. Cult. Ramo de Oliveira em Ruivães; dia 3 às 22h - Pic Band em Ardegão; dia 4 às 21h Festival de Folcl. em Calendário; dia 5 às 21h30 - A banda do Galo no Escadório de Guadalupe em Braga; dia 15 às 15h Gr. Musical Estrelas de S. Vicente em Ribas e às 21h Gr. de Cavaquinhos da Casa do Povo de Tadim no Bairro das Enguardas; dia 23 às 21h - Gr. Musical Castiços de Regadas em Caldelas; dia 31 às 21h30 Gr. Musical Origens de Fradelos em Joane. Desporto ATLETISMO: dia 8 às 9h30 11º G.P. de Covelas em 74 TempoLivre Julho/Agosto 2007 COIMBRA JULHO Cultura MÚSICA: dia 4 às 21h30 –Assoc. Cult. Bucovia, Roménia e Dixie Gringos Jazz Band no Bairro Norton de Matos em Coimbra; dia 7 às 16h – Orq. Musical Sta Cecília de Covões em Miranda do Corvo e às 21h30 - Gr. Sax Ensemble em Côja; dia 8 às 21h30 h – Gr.Univ. Resovia Saltan, Polónia, no Bairro Norton de Matos em Coimbra; dia 14 às 21h30 – Gr. Palhas e Moinhos no Bairro Norton de Matos em Coimbra e às 22h - Dixie Gringos Jazz Band na Pça do Comércio em Coimbra; dia 20 às 21h30 - Tuna Mouronhense no Bairro Norton de Matos em Coimbra; dia 24 às 22h – Dixie Gringos Jazz Band na Praia da Tocha, Mira; dia 26 às 21h30 – Orq. Clássica do Centro na Igreja de S. José em Coimbra; dia 27 às 21h30 – Gr. OLS Big Band de Santana no Bairro Norton de Matos em Coimbra. FOLCLORE: dia 14 às 14h Etnoxisto, 1ª Mostra Etnog. da Lousã; dias 7 a 14 às 21h30 – Folk Cantanhede; dias 7 e 8 às 16h – Festival Intern. em Miranda do Corvo; dia 8 às 12h – Festifolca 2007 em Carapinheira; dia 14 às 16h – Festival em Casconha e às 21h30 – Festival “Festimaiorca” em Eiras; dia 17 às 16h – Festival do Gr. Etnog. do Zagalho e Vale do Conde em Penacova. CONCURSO: Fotografia do de Monsenhor Nunes Pereira, informações na Delegação. EXPOSIÇÃO: dia 27 a 15 Agosto - Fotografia de José Maria Pimentel “Monsenhor Nunes Pereira – Percurso de uma Vida” em Pampilhosa da Serra. Desporto ATLETISMO: dia 8 – GP de S. Pedro; dia16 às 9h30 – Convívio da Praia da Leirosa (estrada). PESCA RIO: dia 15 – prova na Barragem das Fronhas. AGOSTO FOLCLORE: dia 4 às 21h30 – 36º Festival em Vila de Pereira; dia 11 às 16h – Festival em Andorinha; dia 12 às 17h – Festival em Alhadas. EXPOSIÇÃO: dias 1 a 31 Xilogravura de Monsenhor Nunes Pereira na Galeria do Edif. da Cultura em Fajão; dias 15 a 28 Agosto - Bio-bliográfica e iconográfica de Monsenhor Nunes Pereira na Casa do Povo de Côja. COVILHÃ JULHO Desporto CANOAGEM: Circuito Inatel na Albufeira do rio Zêzere, informações na Delegação ÉVORA JULHO Cultura ESPECTÁCULOS: dia 5 às 21h30 - Banda da Soc. Filarm. Harmonia Reguenguense na Delegação; dia 12 às 21h30 – Banda Filarm. da Soc. Filarm. 1º de Abril Vimieirense na Delegação; dia 26 às 21h30 – R. Etnog. “Os Camponeses de Arraiolos na Delegação. Desporto MALHA: dia 14 às 15h – Cultura MÚSICA: dia 16 às 21h30 – Encontro de Filarmónicas em Santana; dia 25 às 21h30 –Gr. Somusica na C.M. de Arganil. Prova em Rosário; dia 15 às 10h – Torneio em Matriz; dia 28 às 15h –Prova em Matriz, dia 29 às 10h – Torneio “Vila de Borba” em Borba. roteiro184.qxp 29-06-2007 12:41 AGOSTO Page 75 Desporto FOLCLORE: dia 7 às 21h30 – Cultura ESPECTÁCULOS: dias 2, 9, 23 e 30 às 21h30 – Gr. Coral da Granja, R. Folcl. de Cabrela, R. Folcl. de Landeira e Banda Filarm. da Soc. União Alcaçovense na Delegação. Festival em Fortios; dia 13 às 22h – Encontro de Harmónios, Concertinas e Acordeões na Casa do Povo de Montargil; dia 14 às 21h30 – Encontro de Gr. de Música Pop. em Sousel. SANTARÉM GUARDA JULHO 14 às 21h30 – Gr. Musical Costa Pereira em Viana do Castelo; dia 20 às 21h30 – Gr. Folcl. das Lavradeiras da Meadela; dia 21 às 21h30 – Gr. Musical João Sá; dia 27 de Julho – 21h30 – Gr. Folcl. de Paredes de Coura; dia 28 de Julho às 21h30 – Gr. Musical Domingos Ribeiro. JULHO PASSEIO: dia 7 às 7h30 – Passeio Cultural a Abrantes e Tomar LISBOA T E AT R O DA TRINDADE Sala Principal MISS DAISY – dias 5 a 29 Jul. | 4ªa Sáb. às 21h30 e Dom. às 16h Sala Estúdio QUERES FAZER AMOR COMIGO? – até 22 Jul. | 4ª a Sáb. às 22h e Dom. às 17h Cultura MÚSICA: 13 às 22h – Gr. “Prata da Casa” na festa em Mouriscas; dia 14 às16h - Gr. Música Pop. em Vale de Figueira; dia 15 às 17h – Soc. Filarm. de São Sebastião na Ribeira de São João; dia 27 às 23h – Gr. de Cantares Reg. de Sta Maria dos Olivais em Água Travessa. FOLCLORE: dia 11 às 19h – R. folcl. da Soc. R.E. da Romeira em Linhaceira; dia 14 – R. Folcl. da Casa do Povo de Rio de Moinhos em Arreciadas e R. Folcl. da Fajarda em Fátima; dia 22 – R. Folcl. da Assoc. Desp. e Cult. de Arreciadas em Rio Moinhos. Desporto BTT: dia 28 – Maratona em Água Travesssa. Teatro-Bar VIANA DO CASTELO PERVERSÕES LUSAS - até 14 Jul. | 5ª a Sáb. às 23h PORTALEGRE Parque Campismo Cabedelo JULHO JULHO Cultura dia 13 às 21h30 – Gr. Etnog. de Areosa; dia AGOSTO dia 10 às 21h30 – R. Folcl. da Casa do Povo de Barbeita; dia 11 às 21h30 – Gr. Musical Nuno Salgueiro; dia 20 às 21h30 – Gr. de Danças e Cantares de Perre; dia 25 às 21h30 – Gr. Musical Álvaro Viana. ATLETISMO: dia 8 às 9h30 – G.P. de Vila de Punhe CICLOTURISMO: dia 13 às 21h – Passeio “Viana à Noite”; dia 29 à 9h30 – 26º Passeio da Assoc. de Subportela e Circuito de Perre. AGOSTO Cultura FOLCLORE: dia 3 às 21h30 – Festival em Arcos de Valdevez; dia 18 às 21h30 – Festival de S. Martinho da Gandra MÚSICA: dia 10 às 22h – Agrup. Musical “Associmusic” no Festival da Juventude da Casa do Povo de Fontão; Desporto CICLOTURISMO: dia 12 às 9h30 – Passeio a Ponte de Lima. VISEU JULHO Cultura JULHO FOLCLORE: dia 21 às 21h30 – Festival Luso/Espanhol na Correlhã; dia 21 às 21h30 – Festival em Ponte de Lima. MÚSICA: dia 8 às 21h30 – Assoc. Amigos das Concertinas de Lima em Bragança; dia 15 às 15h – Gr. Passo Latino em S. Pedro de Arcos. TEATRO: dia 7 às 21h30 – “Zé Mokuna e António Gomes” na Assoc. de Perre e “Em Casa do Mestre Pethelim” em Vila Nova de Anha; dia 21 às 21h30 – “Em Casa do Mestre Pethelim” em Sta Marta Portuzelo; dia 29 às 15h30 – “Em Casa do Mestre Pethelim” na Paroquia de Deão. Cultura FOLCLORE: dia 14 às 21h - Festival em Stº Amaro Azurara Santo; dia 21 às 21h30 Festival de Penalva Castelo; dia 22 às 16h - Festival de Leomil; dia 29 às 16h Festival de Molelos; dia 29 às 17h - Festival de Orgens. AGOSTO Cultura FOLCLORE: dia 12 às 16h - Festival de Cabril; dia 26 Festival Intern. em Arcozelo da Torre FEIRA: dia 19 - Feira de Saberes e Sabores de São João do Monte Julho/Agosto 2007 TempoLivre 75 moradas_Novas Novas_2007.qxp 29-06-2007 14:23 Page 76 moradas Sede Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 LISBOA Telf: 210 027 000 Fax: 210 027 027 e.mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt Delegações e Subdelegações ANGRA DO HEROISMO Beco do Pereira, 4 9701-868 ANGRA DO HEROISMO Tel. 295 213 407 /215 038 Fax. 295 212 233 [email protected] AVEIRO Av. Dr. Lourenço Peixinho,144/146 Edificio Oita - 4º E 3800-160 AVEIRO Tel. 234 405 200 / 207 Fax.234 405 208 [email protected] BEJA Rua do Vale, 14, 7800 - 490 BEJA Tel. 284 318 070 Fax. 284 323 163 [email protected] BRAGA Av. Central, 77, 4710-228 BRAGA Tel. 253 613 320 Fax.253 214 202 [email protected] BRAGANÇA R. Alexandre Herculano, 111 - 1º, 5300-075 BRAGANÇA Tel. 273 331 653 Fax. 273 326 947 [email protected] COIMBRA R. Dr. António Granjo, 6 3000 - 034 COIMBRA Tel. 239 853 380 Fax.239 853 384 [email protected] COVILHÃ “Casa de Agostinho Roseta” Av. Frei Heitor Pinto, 16-B 6200-113 COVILHÃ Tel. 275 335 893 Fax.275 327 276 [email protected] ÉVORA “Palácio Barrocal” Rua Serpa Pinto, 6 7000-537 ÉVORA Tel. 266 730 520 Fax. 266 730 521 [email protected] FARO “Casa Emílio Campos Coroa” Rua do Bocage, 54 8004 - 020 FARO Tel. 289 898 940 Fax. 289 823 521 [email protected] FUNCHAL Rua Alferes Veiga Pestana, 1 L, sala 25 9050-079 FUNCHAL Tel. 291 221 614 Fax.291 228 147 [email protected] GUARDA R. Mouzinho da Silveira, 1 6300-735 GUARDA Tel. 271 212 730 Fax.271 215 779 [email protected] HORTA R. Comendador Ernesto Rebelo, 10 9900 - 112 HORTA Tel. 292 292 812 Fax.292 293 147 [email protected] LEIRIA “Casa Miguel Franco” R. João XXI, 3-A r/c - Loja D 2410-114 LEIRIA Tel. 244 832 319/834 017 Fax. 244 834 735 [email protected] PONTA DELGADA Rua do Contador, 73-A 9500 - 050 PONTA DELGADA Tel. 296 284 684 Fax. 296 283 166 [email protected] PORTALEGRE Praça do Outeiro nº 17 7300-010 PORTALEGRE Tel. 245 203 675/207 593 Fax. 245 207 569 [email protected] PORTO Casa “Jorge de Sena” Rua do Bonjardim, 495 4000-126 Porto Tel. 220 007 950 Fax. 220 007 999 [email protected] SANTARÉM Prta. Pedro Escuro, 10-2º D 2000-183 SANTARÉM Tel. 243 309 010 Fax. 243 309 014 [email protected] SETÚBAL Praça da República 2900-587 SETÚBAL Tel. 265 543 800 Fax. 265 543 819 [email protected] VIANA DO CASTELO Rua de Stº António, 117 4900 - 492 VIANA DO CASTELO Tel. 258 823 357 Fax. 258 811 644 [email protected] VILA REAL Av. 1º de Maio, 70-1º D 5000-651 VILA REAL Tel. 259 324 117 Fax. 259 372 592 [email protected] VISEU Rua do Inatel Urb. Quinta do Bosque 3510 - 018 VISEU Tel. 232 423 762/428 727 Fax. 232 423 781 [email protected] Centros de Férias INATEL ALBUFEIRA Av Infante D. Henrique, 8200-862 ALBUFEIRA Tel. 289 599 300 Fax. 289 599 340 [email protected] INATEL CASTELO DE VIDE Rua Sequeira Sameiro, 6 7320 - 138 CASTELO DE VIDE Tel. 245 900 200 Fax. 245 900 240 [email protected] INATEL “UM LUGAR AO SOL” Av. Afonso Albuquerque - S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 918 420 Fax. 212 900 051 [email protected] INATEL ENTRE-OS-RIOS Torre 4575-416 PORTELA PNF Tel. 255 616 059 Fax. 255 615 170 [email protected] INATEL FOZ DO ARELHO R Francisco Almeida Grandela, 17 2500-487 FOZ DO ARELHO Tel. 262 975 100 Fax. 262 975 140 [email protected] INATEL LUSO Rua Dr. Costa Simões 3050 - 226 LUSO Tel. 231 930 358 Fax. 231 930 038 [email protected] (Inatel Cerveira) [email protected] INATEL MADEIRA Madeira - Santo da Serra 9100-267 SANTA CRUZ Tel. 291 550 150 Fax. 291 552 227 [email protected] INATEL GAVIÃO 6040-999 GAVIÃO Reservas: 245 900 243 (Inatel Castelo de Vide) [email protected] INATEL SERRA DA ESTRELA Manteigas, 6260-012 MANTEIGAS Tel. 275 980 300 Fax. 275 980 340 [email protected] INATEL OEIRAS Alto da Barra - Estrada Marginal, 2780-267 OEIRAS Tel. 210 029 800 Fax. 210 029 840 [email protected] INATEL SANTA MARIA DA FEIRA Santa Maria da Feira 4520-306 SANTA MARIA DA FEIRA Tel. 256 372 048 Fax. 256 372 583 [email protected] INATEL PALACE Termas - São Pedro do Sul 3660-692 VÁRZEA SPS Tel. 232 720 200 Fax. 232 720 240 [email protected] INATEL CERVEIRA Lovelhe 4920-236 VILA NOVA DE CERVEIRA Tel. 251 708 360 a 62 Fax. 251 795 050 [email protected] INATEL PORTO SANTO Cabeço da Ponta 9400 PORTO SANTO Tel. 291 980 300 Fax. 291 980 340 [email protected] INATEL PIODÃO 6285-018 PIODÃO Tel. 235 730 100/1 Fax. 235 730 104 [email protected] INATEL FORNOS DE ALGODRES 6370-401 VILA RUIVA Tel. 271 776 016 Fax. 271 776 034 [email protected] INATEL MONTALEGRE Lugar de Penedones 5470-069 CHÃ/PENEDONES Reservas: 251 708 360/01 Parques de Campismo INATEL CABEDELO Av. dos Trabalhadores Cabedelo 4900-056 VIANA DO CASTELO Tel. 258 322 042 Fax. 258 331 502 [email protected] INATEL CAPARICA Av. Afonso Albuquerque - S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 900 306 Fax. 212 911 553 [email protected] INATEL SÃO PEDRO DE MOEL Av. do Farol, 2430-502 MARINHA GRANDE Tel. 244 599 289 Fax. 244 599 550 [email protected] INATEL Bragança Estrada de Rabal, 5300-791 BRAGANÇA Tel. 273 329 399 Fax. 273 329 409 Teatro da Trindade R. Nova da Trindade 1200-301 LISBOA Tel. 213 423 200 Fax. 213 432 955 [email protected] Parque de Jogos 1º de Maio Av. Rio de Janeiro 1700-330 LISBOA Tel. 218 453 470 Fax. 218 473 193 [email protected] Parque de Jogos de Ramalde Rua Dr. Aarão de Lacerda 4100-015 PORTO Tel. 226 184 684 Fax. 226 109 721 Escola de Parapente Linhares da Beira Tel. 271 776 590 chefe sugere184.qxp 29-06-2007 14:25 Page 77 A CHEFE SUGERE MARIA EMÍLIA MARTINS| INATEL FORNOS DE ALGODRES Bacalhau com leite à moda da Beira Da gastronomia beirã surge uma grande diversidade de iguarias bem confeccionadas, saborosas, recorrendo aos produtos que facilmente serão associados a tipicamente Portugueses. A receita aqui apresentada resulta num bacalhau suave, suculento, muito agradável e ao mesmo tempo de fácil preparação. Acrescendo às virtudes deste prato, é de salientar o seu baixo valor calórico e lipídico, podendo ser facilmente considerado mais uma preparação saudável da nossa gastronomia tradicional Portuguesa. bacalhau bem demolhado e em lascas. Mexe-se, regase com leite e deixa-se cozer o bacalhau. Se necessário, acrescentar um pouco mais de leite para a cozedura. Quando o bacalhau estiver cozido, juntase o pão cortado em fatias e deixa-se amolecer. Prova-se, tempera-se com sal e pimenta e salpica-se com vinho branco. Num tabuleiro de forno, deita-se a mistura e rega-se com os ovos previamente batidos. Leva-se ao forno até alourar. COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA: INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 2 postas de bacalhau, 1 cebola pequena, 2 colheres de sopa de azeite, 1 l de leite, 150 g de pão (poderá ser seco ou até torrado), 1 colher de sopa de vinho branco, 3 ovos, sal q.b., pimenta q.b.. PREPARA-SE ASSIM: Faz-se um refogado com a cebola picada e o azeite. Logo que a cebola comece a estalar, junta-se o • 26,1 g de proteínas; • 7,7 g de gordura; • 30,1 g de hidratos de carbono; • 1,7 g de fibra; • 287,3 kcal INFORMAÇÕES E RESERVAS: INATEL Fornos de Algodres Fornos de Algodres, 6370-401 Vila Ruiva Tel.: 271 776 016/17 - Fax: 271 776 034 E.mail: [email protected] Julho/Agosto 2007 TempoLivre 77 Pag78a80.qxp 29-06-2007 14:06 Page 1 Pag78a80.qxp 29-06-2007 14:06 Page 2 Pag78a80.qxp 29-06-2007 14:06 Page 3 A_fabiao_184.qxp 02-07-2007 18:18 Page 81 O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO Dançar é escrever com o corpo Olho-a / dança / ramo de ulmo* florido nas mãos, / dança / os pequenos pés cheios de terra / dança, / flores de ulmo e mel nos cabelos / ri e dança / bebe o seu muday** / Eu olho-a/ não danço / e o pó levantado pela dança / oculta-me/ aos seus olhos. Jaime Luís Huenún***, Purrún ****, in: Cerimonias, Chile, 1999 Trad. MAVF inda de um tempo remoto, do extremo oposto da vida, chega com uma hora de atraso sobre o combinado telefonicamente no dia anterior. Não lhe digo que está na mesma, porque não está; ela não me diz que estou na mesma, porque não estou. Inalterado, porém, o brilho dos olhos verdes, que agora me fitam por detrás de uns óculos Cartier de última geração; inalterado o riso em cascata que inunda todo o espaço ainda vazio na sala; inalterados os movimentos suaves de bambu no vento primaveral. Há quanto tempo? A memória anula os anos de ausência, transporta-nos a um tempo que não é mais. Chegou até mim pelos meus escritos, diz. Não que os leia muito. Na verdade, continua a não ler. Mantém-se fiel ao seu dogma de que, na vida, a única atitude saudável é não pensar. Logo, também não escreve. Agora, que há os cartões e a caixa directa, até já só esporadicamente assina cheques. Para o resto, há os telefones. Arrepia-a, prossegue, pensar no tempo que “gasto” com “escrevinhações”, quando há yoga, há Tai Shi, […], há a DANÇA! Falamos da DANÇA, do tico-tico, da Cumparsita, do baião… O chá arrefece nas chávenas. - Afinal de contas – arremata –, DANÇAR é escrever com o corpo. Assim, também eu escrevo: todas as quintas-feiras. Ainda uma chávena de chá, uma lembrança, um riso, e parte. Acompanho-a com o olhar até ao Mercedes prateado. “DANÇAR é escrever com o corpo”. Para Paul Valéry, “a relação do poema com a dança, é a mesma da prosa com a marcha militar”. Pura poesia, o que ela escreve, dançando. No Dicionário de Linguística da Larousse, define-se linguagem como “a capacidade específica da espécie humana de comunicar por meio de um sistema de signos vocais”. Tal como a música, a que quase sempre se encontra associada, a DANÇA é uma linguagem universal, não oral, que está para além das palavras, mas que tem o seu léxico próprio, constituído por gestos, movimentos corporais, por vezes simbólicos, desenhados de acordo com um ritmo, e que, à função de comunicação, une aspectos estéticos, sensoriais e expressivos. Tal como acontece com a linguagem oral, também a origem da DANÇA está envolta em mistério, e como V mistério subsistirá, para todo o sempre, creio eu, que sou incré. (O mesmo acontece com a origem do vocábulo francês DANSER, adoptado em português, como DANÇAR, donde, depois DANÇA; em espanhol, como DANZAR; em italiano, como DANZARE; em alemão, como TANTZEN; em inglês, como DANCE; e em neerlandês como DANSEN, e cuja origem poderia ser o hipotético frâncico *dintjan, “mexer-se”). Gravuras em cavernas francesas da época do Paleolítico – aí há uns 14.000 anos! – levam a crer aos historiadores modernos (quem mais teria imaginação suficiente para crer em conclusões tiradas a esta distância de tempo?) que a DANÇA já existia então como acto ritual. No Neolítico, quando o homem começa a fixar-se, a DANÇA adquire um carácter de cerimonial religioso. Na cultura grega, a DANÇA faz parte da educação das crianças. Sócrates, através de Platão, o primeiro filósofo grego a fazer referência à DANÇA, considera-a a actividade por excelência para a formação integral do cidadão: segundo ele, a DANÇA favorece o desenvolvimento bem proporcionado do corpo, é uma fonte de boa saúde, além de favorecer a reflexão filosófica e estética. Usando de mais fantasia, a mitologia greco-romana atribui à DANÇA da CRIAÇÃO executada sobre o mar por Eurínome, a grande deusa criadora, deusa de Todas as Coisas, nascida do Caos, a origem do mundo, com todas os seus animais e plantas. Mais para oriente, também a mitologia hindu atribui à DANÇA de Shiva a criação do mundo que a exegese bíblica atribui ao Verbo. Com o passar do tempo, a DANÇA perde o seu carácter primitivo e mais genuíno de manifestação, por vezes explosiva, de instinto vital, capaz de levar o ser humano ao êxtase ou ao frenesim, para adquirir, paralelamente, o estatuto de arte ou de fonte de prazer estético: emoções traduzidas em movimento. Votos de boas férias, Senhores Leitores! I * Eucryphia cordifolia. Planta melífera do Chile. ** Muday- bebida destilada da maçã ou das uvas. *** Poeta chileno de origem mapuche. 1967. **** Purrún – dança cerimonial mapuche. Julho/Agosto 2007 TempoLivre 81 cronica184.qxp 29-06-2007 14:26 Page 82 CRÓNICA |JOAQUIM LETRIA Gaza Sem futuro nem esperança 49 anos de idade para mil crianças de menos de 4 s imagens dominantes da Palestina são as anos. Em Gaza, para cada grupo de mil homens com de milhares de jovens a correrem e a atiessa idade, há 6200 crianças com idade inferior aos 4 rarem pedras a militares, famílias chorosas anos. e centenas de amigos correndo com uma Se a população americana sofresse a mesma taxa urna transportada acima das suas cabeças, com os de crescimento demográfico de Gaza, os Estados restos mortais de alguém que perdeu a vida a lutar Unidos teriam passado duma população de 152 pela causa comum ou por ter sido um pobre circunsmilhões de habitantes em 1950 para 945 milhões no tante numa situação de violência que o transformou corrente ano de 2007, ou seja, o triplo da sua actual numa vítima inocente que estava no sítio errado na população de 301 milhões. Nesse caso, os americanos hora errada. entre os 15 anos e os 29 anos, portanto em idade de Mas se este é o cenário dominante dum povo e combater, não seriam os 31 milhões de agora, mas 130 duma luta – tal como há anos, na África do Sul, a milhões. cenografia era a de multidões a manifestarem-se em Uma pergunta pertinente que responde a muitas passo de corrida, por entre pneus a arder – Gaza é críticas injustas dirigidas aos palestinos: com uma hoje o olho do furacão, o centro da maior concenexplosão demográfica de tais proporções, conseguitração de gente sem presente e de jovens sem futuro. riam as instituições e os políticos americanos controDe 1950 a 2007, a população de Gaza cresceu de lar os homens nas ruas?! 240 mil habitantes para os actuais milhão e meio, segundo documentos oficiais da United Nations Relief and Works Agency (UNRWA) para os refugiaos próximos 15 anos, um número cresdos da Palestina no Próximo Oriente. cente de jovens em fúria vai enxamear as Como terá sido possível um crescimento demográruas da Palestina onde estão confinados fico desta ordem, numa exiguidade territorial clause são maltratados. Esta demografia trofóbica e sem uma economia que proporcione, galopante continuará a produzir dramas individuais sequer, os piores e mais precários dos empregos?! As que, juntos, fazem uma tragédia colectiva de que a condições em Gaza são tais que a UNRWA considera humanidade tem de se ocupar a fim de resolver, micada um e todos dos habitantes de nimamente. Ou todos nós, depois de Gaza um refugiado. Um mínimo de Israel, Palestina e Estados Unidos, não escolaridade e de serviços de saúde Com uma temos nada a ver com milhões de seres estão garantidos a todos os habitantes explosão humanos sem perspectivas de trabalho naturais da estreita faixa de terra. Mas demográfica de nem de nenhum lugar na nossa socienem os seus pais nem a comunidade tais proporções, dade!? Se continuarmos a fingir que internacional, através das Nações Uniconseguiriam as acreditamos que nada disto tem a ver das, lhes podem prometer um lugar connosco, o mínimo que podemos fazer instituições e os decente na vida. é não nos espantarmos, nem criticarmos, políticos Nos Estados Unidos, para mil hoquando virmos estes jovens nas ruas a mens com idades compreendidas entre americanos matarem e a morrerem para terem ainda os 45 e os 49 anos, há 945 crianças até os controlar os uma réstia de esperança que lhes diga homens nas 4 anos de idade. Em Israel, esta relação que podem aspirar a um emprego e a é de para 1500 adultos entre os 45 e os ruas?! serem alguém na humanidade. I A N 82 TempoLivre Julho/Agosto 2007 Pag83.qxp 29-06-2007 14:08 Page 1 Pag84.qxp 29-06-2007 14:22 Page 1