Quinta-feira _7 de Abril de 2011. Diário de Notícias 12 Debate SEDES/DN/CGD “ Temosumaculturadefacilitismo edeimediatismo, umaculturade herdeirosricos sem o serem. Durante20anos, desbaratámos o quetínhamos e desbaratámos o futuro” “Pelaprimeira vez, umagrande partedosportuguesestem algumacoisanacabeçamaisperto da realidade. Dasoutrasvezesquerecorremosao FMI, fomosiludidosde queerapossível recuperarsem esforço” FOTOS RODRIGO CABRITA/GLOBAL IMAGENS João Salgueiro, o convidado da conferência DN/SEDES de ontem, falou da situação actual, apontando caminhos a seguir. A intervenção do economista teve como comentadores Luís Palha (à direita) e Pedro Fontes Falcão (à esquerda). André Macedo moderou o debate João Salgueiro ƒoi o orador da segunda conferência organizada pelo DNe pela SEDES, com o apoio da CGD. Num clima de grande agitação política e económica, o economista fez questão de transmitir uma mensagem positiva aos portugueses, voltada para o futuro, não deixando, contudo, de apontar os problemas principais a resolver. Confiança foi a palavra-chave da sua intervenção. Na mesma linha de optimismo moderado, os dois comentadores convidados acentuaram a necessidade de a sociedade ter vontade de mudar Restabelecer a confiança com medidas para valer PAULA CORDEIRO Restabelecer a confiança entre os portugueses, incentivar novos comportamentos e tomar medidas para valer. Foi esta a receita deixada por João Salgueiro para Portugal enfrentar o desafio que tem pela frente, na segunda conferência DN/SEDES, como apoio daCGD, umciclo de seis encontros subordinado ao tema“Mudarnumageração”. Para o economista e ex-ministro das Finanças, “a recuperação pode ser mais rápida do que imaginamos se houver os tais elementos que façam retomar a confiança”. Este optimismo resulta, segundo o orador, de “pelaprimeiravez, umagrande parte dos portugueses ter alguma coisa na cabeça, mais perto darealidade”. João Salgueiro defende aresolução urgente de dois problemas, que chamou de“buracos”. Primeiro, anecessidade de se criar um quadro de investimento que atraiainvestidores es- trangeiros. E deu vários exemplos: criar um terceiro tipo de contrato de trabalho, definitivo, mas que pode cessaraqualquermomento, com indemnização; criar tribunais económicos, comprazo fixo paraadecisão; ou uma fiscalidade única, do género de uma licença de exercício, para várias actividades. O segundo problema diz respeito ao controlo dadespesapública.“Gastamos mais do que é preciso para ter a qualidade dos serviços que temos”, considera o ex-presidente da CGD e daAssociação Portuguesade Bancos. “É indispensável ter a noção da realidade”, argumenta, e dizer“quais são as alternativas possíveis”. João Salgueiro defende igualmente autilização de“umbenchmarketrigoroso emvários domínios”, paraque o País deixe de se comparar com os piores exemplos. O desemprego é, parao economista, “o problema central”, existindo aindainúmeras situações de“subemprego, com pessoas a produzir o que não devem”. “Não háalmoços grátis. Sepedimos maissubsídios ao Estado, vamos pagá-los:com maisimpostos, com maistaxas sobreaeducação esobreasaúde. Maiscedo ou maistarde, chegaaconta” “Deve-seincentivaraesperança dequequem tiver comportamentos favoráveisàsociedadevaiteruma vidamelhor. Sehouverconfiança, o dinheiro volta, osportuguesesregressam eosestrangeiros investem” “Oinvestimento estrangeiro vai serdecisivo” JOÃO SALGUEIRO ECONOMISTA Quinta-feira _7 de Abril de 2011. Diário de Notícias 1 13 3 4 CALENDÁRIO 28 DE ABRIL › Vítor Bento é o próximo orador e vai falar sobre “Como transformar uma sociedade dependente num país empreendedor e competitivo?” 2 1. João Salgueiro trocou impressões, antes da conferência, com João Marcelino (centro), director do DN, Filomena Martins, directora adjunta, Luís Barata, secretário-geral da SEDES, e Pedro Fontes Falcão (esquerda), director dos MBA do ISCTE 2. A sala estava cheia, vendo-se na primeira fila o presidente da Controlinveste, Joaquim Oliveira, e outros directores do grupo 3. Atentos às palavras de João Salgueiro estiveram Joaquim Oliveira, João Marcelino, Luís Campos e Cunha, Luís Barata e Paulo Sande 4. O orador apontou os erros de percurso do País Plateia suspensa da comunicação de Sócrates CONVIDADOS Após asessão, muitos ficaram no Auditório do DN paraassistir àdeclaração do primeiro-ministro sobre o pedido de ajudaexterna Ontem, o Auditório do edifício Diário de Notícias, naAvenidadaLiberdade, em Lisboa, foi de novo pequeno para ouvirJoão Salgueiro, nasegundases- são do ciclo deconferências organizado pelaSEDES e pelo DN. Jáasessão ia longa quando uma agitação silenciosatomoucontadaplateia, àmedidaque iamcaindo as sms nos telemóveis dos presentes (mantidos respeitosamente em silêncio) com a nova: “Teixeirados Santos assumiuquePortugal precisade ajudaexterna”. Anotíciaeraminutos depois confirmada por André Macedo, director da nova área de Conteúdos Económicos da Controlinveste, que anunciou que o primeiro-ministro ia falar ao País às 20.00. Apartir daí, e durante o coffee break, o assunto dominou as conversas, como empresário Henrique Neto aafirmarao DN:“É evidente que não é bom, mas deveríamos ter pedido logo aseguiràIrlanda, porque se previaqueíamospedir,agoraemcircunstâncias de maiorfragilidade, numcli- IDEIAS-CHAVE HISTÓRIA DO PAÍS › João Salgueiro recorreu várias vezes à história de Portugal para explicar a situação difícil a que o País chegou de novo. CRISE › A situação financeira e política foi analisada quanto às suas origens, consequências e soluções, sendo ideia unânime de que é necessário e urgente mudar a cultura de exigência e de disciplina do País, na qual se incluem também as políticas e os políticos. “Bons nos diagnósticos mas não nas soluções” OPTIMISMO I “Fazemos bons diagnósticos, defi- DÍVIDA E FMI › Apontadas várias razões, nomeadamente o descontrolo da despesa pública. Foi também defendido que, porque foi feita uma “diabolização do FMI”, os portugueses vão resistir ao que vier a ser imposto como sacrifício, que unanimemente foi defendido que terá de ser para todos. INVESTIMENTO › É preciso cativar investimento de fora, de dentro, sendo condição fundamental a confiança do empresário, bem como a premiação do seu talento e não a sua perseguição. nimos objectivos, mas concretizá-los é que não”, defendeu Luís Palha, acrescentando que esta é a base do comportamento atávico dos portugueses perante a crise. Frisando que há sempre alguémque aparece comumasolução de último recurso –“vendade activos nacionais no estrangeiro”, por exemplo –, o administradordaJerónimo Martins defende que isso agora torna-se mais difícil, pelo que não pode estar 100% de acordo com o optimismo de João Salgueiro. Apesarde“aindanão termos chegado ao limite dadescredibilização, estamos quase numponto semretorno, que vailevarmuito tempo pararecuperar”, disse o empresário, defendendo que neste novo ciclo político“vamos precisarde medias de três, quatro acinco anos” pararecuperar.“Às vezes bastaliberalizar, libertar capacidade criativa e de iniciativa das pessoas”, com menos Estado.P.B. mamais pessimista”. E porque“andaramtodos estes meses adizer-nos pararesistir, agorasentimo-nos de novo enganados”, disse o empresário, que defendeaurgênciaemcriar“umaculturade exigênciae disciplinano País, porque vivemos esta última década num clima de facilidade, ao nível do ensino, da justiça, do Governo, que deuos sinais errados àsociedade”. 19 DE MAIO › Rui Vilar O presidente da Fundação Calouste Gulbenkian falará sobre “A importância da cultura para o futuro de Portugal”. 8 DE JUNHO › João Cravinho O ex-ministro do PS abordará “Estado social: o que mudar, como mudar, quando mudar”. 29 DE JUNHO › Oliveira Martins O presidente do Tribunal de Contas encerra o ciclo, analisando “A identidade portuguesa no mundo: fazer das fraquezas forças”. PAULABRITO Luís Palha Pedro Fontes Falcão › Administrador da Jerónimo Martins › Ex-secretário de Estado do Comércio de 1992 a 1995 no último Governo de Cavaco Silva, de quem foi director de campanha › Consultor de empresas com mais de 15 anos de experiência › Director dos MBA da ISCTE Business School. ‘Managing Partner’ na Atena Capital Assessores “ Estatização também tem em si partedo problema, quevem desdeD. João I” “Aindanão chegámosao limite dadescredibilização, masestamos quaseno ponto sem retorno, quevailevar muito tempo arecuperar” “Rezamos paraque haja um piordo que nós” OPTIMISMO II Partindo daregulação –onde“não existe fiscalização nem preocupação das pessoas em cumprir a lei” – Pedro Fontes Falcão defendeuque o País padece deste mesmo facilitismo ouaté de umacertacrençaemque surja“umpiordo que nós” pararecuperarde uma crise tão profunda como a que Portugal vive neste momento. Associadaaestaposturaestá, acrescentao gestor,“afaltade liderança, que se traduz nafaltade transparênciaemexplicaràs pessoas os sacríficios pararecuperar”. Alémde que“não se vê umaestratégiaparao País”, apenas“incentivos ao longo dos tempos”, que não são mais do que “pastilhas de doping”, com consequências graves aprazo. Apesardisto, Pedro Fontes Falcão revelou algum optimismo, sobretudo se houver uma maior intervenção cívica, apesar de poder surgir também uma maior resistência em fazer sacrifícios, agora que o FMI vem aí e que foi“diabolizado”.P.B. “ O‘benchmarking’ tem disto –rezamossemprepara quehajaum pior do quenóspara não mudar” Afaltadeliderançatraduz-sena faltadetransparênciaparaexplicaràspessoas ossacrifícios” “Tenho algum optimismo. Aintervenção cívicaéumavia”