Vol. 37, n.º 3 Maio / Junho 2006 EDITORIAL Daniel Virella XLI NOTAS EDITORIAIS INTERNACIONALIZAÇÃO DA ACTA EM PORTUGUÊS: UMA NOVA PÁGINA Luis Pereira da Silva XLII IN MEMORIAM A. Martins Roque XLIII DIRECÇÃO DA SPP ALARGAR A INTERVENÇÃO DA SPP Discurso de Abertura do Presidente da SPP nas XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria Gonçalo Cordeiro Ferreira ARTIGOS DE OPINIÃO CIÊNCIAS METABÓLICAS. PROGRESSO E SUCESSO João Gomes-Pedro, Aguinaldo Cabral, Teresa Tasso, Filomena Eusébio, Ana Gaspar FEBRE REUMÁTICA Laudicéa Furtado Fiorito ARTIGOS ORIGINAIS STAPHYLOCOCCUS AUREUS ADQUIRIDO NA COMUNIDADE: IMPORTÂNCIA DA MONITORIZAÇÃO DAS RESISTÊNCIAS AOS ANTIBIÓTICOS Fernanda Rodrigues, Ana Florinda Alves, Luís Lemos XLIV XLVI XLIX 83 SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS DOS AGENTES DE PIELONEFRITE AGUDA Susana Pissarra, J Correia Fonseca, Helena Jardim 87 DIARREIA AGUDA POR CAMPYLOBACTER JEJUNI Fernanda Rodrigues, Juan Calvino, Ana Florinda Alves, Luís Lemos 91 ANÁLISE DE REFERENCIAÇÃO AO SERVIÇO DE URGÊNCIA PEDIÁTRICO Isabel Carvalho, Graça Ferreira, António Vilarinho 95 CASOS CLÍNICOS MEGACALICOSE CONGÉNITA. UM RARO CASO CLÍNICO Carla Pereira Cifuentes, Leonor Real Mendes, Sandra Lobo, Carla Santos, Lígia Domingues INFECCIÓN POR NEISSERIA MENINGITIDIS: PRESENTACIÓN CLÍNICA ATÍPICA Miguel Fajardo Olivares, Yolanda Marañón Prat, María Teresa Muñoz Lozano, Luis Zarallo Cortés, María José Fernández Reyes 101 104 EDUCAÇÃO MÉDICA ESTÁGIO DE ONCOLOGIA PEDIÁTRICA: PILAR FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DO PEDIATRA Nuno Farinha 107 COMENTÁRIO AS NOVAS CURVAS DA OMS PARA A AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO DO LACTENTE E DA CRIANÇA António Guerra 109 CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA POLICITEMIA E HIPERVISCOSIDADE NO RECÉM-NASCIDO Secção de Neonatologia 113 NOTÍCIAS NORMAS DE PUBLICAÇÃO LI LIII ISSN 0873-9781 ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA Vol 37 Nº 3 Maio – Junho 2006 Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Pediatria www.spp.pt [email protected] Fundador Carlos Salazar de Sousa Presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria Gonçalo Cordeiro Ferreira Conselho Editorial CORPO EDITORIAL Eulália Calado (Neuropediatria) Eunice Trindade (Gastrenterologia e Nutrição) Graça Rocha (Infecciologia) Helena Fonseca (Medicina do Adolescente) Helena Jardim (Nefrologia) Helena Porfírio (Ambulatório) Hercília Guimarães (Neonatologia) João Gomes-Pedro (Educação Médica) Libério Ribeiro (Imuno-Alergologia) Lucília Norton (Hematologia e Oncologia) Luísa Guedes Vaz (Pneumologia) Manuel Fontoura (Endocrinologia) Maria do Carmo Vale (Cuidados Intensivos) Paolo Casella (Cirurgia) Rosa Gouveia (Desenvolvimento) Sílvia Álvares (Cardiologia) (triénio 2005-2007) Director João M. Videira Amaral - Lisboa Director Adjunto Álvaro de Aguiar - Porto Editores Associados Jorge Amil Dias - Porto Jorge Saraiva - Coimbra Luis Pereira da Silva - Lisboa Coordenador de Edição Daniel Virella - Lisboa Editores Correspondentes Secretariado (Países de Língua Oficial Portuguesa) Luís Bernardino - Angola Paula Vaz - Moçambique Renato Procianoy - Brasil Maria Júlia Tibúrcio Directores/Editores ex-officio (Revista Portuguesa de Pediatria e Acta Pediátrica Portuguesa) Carlos Salazar de Sousa Mário Cordeiro Maria de Lourdes Levy Nuno Cordeiro Ferreira Jaime Salazar de Sousa Norberto Teixeira Santos João Gomes-Pedro Missão da APP: A APP, sucessora da Revista Portuguesa de Pediatria, é uma revista científica funcionando na modalidade de revisão prévia dos textos submetidos ao corpo editorial por colegas peritos em anonimato mútuo (peer review). É dirigida essencialmente a pediatras (vertentes médico-cirúrgica) e a médicos em formação pós-graduada para obtenção das respectivas especialidades no pressuposto de que os conteúdos interessam a outros médicos e profissionais interessados na saúde da criança e adolescente inseridos no respectivo meio familiar e social. A APP pretende abarcar um vasto leque de questões sobre investigação, educação médica, pediatria social, prática clínica, temas controversos, debate de opiniões, normas de actuação, actualização de temas, etc. São adoptadas diversas modalidades de divulgação: editoriais, espaços de discussão, artigos originais, artigos sobre avanços em pediatria, resumos de estudos divulgados em eventos científicos, notícias sobre eventos científicos e organismos estatais e não estatais devotados à criança e adolescente. A revista científica Acta Pediátrica Portuguesa (APP) (ISSN 0873-9781) é propriedade da Sociedade Portuguesa de Pediatria, com responsabilidade administrativa da respectiva Direcção. A publicação é bimestral com todos os direitos reservados. A coordenação dos conteúdos científicos é da responsabilidade do corpo editorial da APP (Director e Director Adjunto, Editores Associados, Coordenador de Edição e Conselho Editorial). A responsabilidade dos textos científicos publicados pertence aos respectivos autores, não reflectindo necessariamente a política da SPP. 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Rua Comandante Oliveira e Carmo, 18-C, Cova da Piedade, 2805-212 Almada – Telef.: 212 744 607 – Fax: 212 743 190 – e-mail: [email protected] • Tiragem: 3000 Exemplares • Correspondência: Sociedade Portuguesa de Pediatria – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa Parcerias: Danone • Merck Sharp & Dohme • Milupa Portuguesa • Nestlé Portugal • Schering-Plough XXXVII ÍNDICE A Direcção da Sociedade recomenda a utilização do espaço virtual da S.P.P. na Internet, que poderá ser acedido através do endereço www.spp.pt Este projecto existente on-line desde 1997, foi desenvolvido com o intuito de tornar acessível a todos os membros da comunidade pediátrica um conjunto de informações detalhadas e permanentemente actualizadas. As áreas de consulta actualmente defenidas são: www.spp.pt Apresentação institucional da SPP www.spp.pt/ app Edição virtual da Acta Pediátrica Portuguesa com total renovação bimestral www.spp.pt/ www.spp.pt/ base Base de dados de resumos de trabalhos na área pediátrica desde 1998, organizada de forma acessível e pesquisável através de Motor de Busca, biblioteca Levantamento e listagem dos títulos existente na Biblioteca tradicional da S.P.P. e que poderão ser consultados na sua Sede. www.spp.pt/ seccoes Informação detalhada sobre cada uma das Secções da S.P.P., já referenciadas na área institucional. Comporta informação específica para profissionais e distinta para não-profissionais. www.spp.pt/ tecnoped Área de informação geral, técnica para pediatras, com a inclusão de legislação, formatos de candidaturas, estatutos e muito mais, que complementará a já fornecida por cada uma das Secções da S.P.P. www.spp.pt/ pais Área de informação mais específica para os pais, com referências a legislação contactos úteis e informações práticas, idealizada de modo a fornecer informação mais apropriada e certificada, muito frequentemente solicitada. www.spp.pt/ associa Disponibilização de espaço e meios para representação virtual de cada uma das associações "amigas da criança" existentes no nosso país. www.spp.pt/ uvp Área da Unidade de Vigilância Pediátrica da S.P.P., onde pode consultar tudo sobre a Unidade e os estudos específicos em curso. www.spp.pt/ EDITORIAL Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . NOTAS EDITORIAIS Internacionalização da Acta em Português: uma nova página Luis Pereira da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . In memoriam A. Martins Roque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLI XLII XLIII DIRECÇÃO DA SPP Alargar a Intervenção da SPP Discurso de Abertura do Presidente da SPP nas XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria Gonçalo Cordeiro Ferreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLIV ARTIGOS DE OPINIÃO Ciências metabólicas. Progresso e sucesso João Gomes-Pedro, Aguinaldo Cabral, Teresa Tasso, Filomena Eusébio, Ana Gaspar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Febre reumática Laudicéa Furtado Fiorito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLVI agenda Agenda de todos os eventos pediátricos, nacionais e internacionais, para os próximos 12 meses de que a S.P.P. tem conhecimento. Referência ainda aos eventos dos últimos 3 meses e aos posteriores ao ano calendarizado. www.spp.pt/ ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA socios Novas inscrições e actualização da inscrição na S.P.P. ou assinatura da APP ARTIGOS ORIGINAIS Staphylococcus aureus adquirido na comunidade: importância da monitorização das resistências aos antibióticos Fernanda Rodrigues, Ana Florinda Alves, Luís Lemos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sensibilidade aos antimicrobianos dos agentes de pielonefrite aguda Susana Pissarra, J Correia Fonseca, Helena Jardim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Diarreia Aguda por Campylobacter Jejuni Fernanda Rodrigues, Juan Calvino, Ana Florinda Alves, Luís Lemos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Análise de referenciação ao Serviço de Urgência Pediátrico Isabel Carvalho, Graça Ferreira, António Vilarinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CASOS CLÍNICOS Megacalicose Congénita. Um raro caso clínico Carla Pereira Cifuentes, Leonor Real Mendes, Sandra Lobo, Carla Santos, Lígia Domingues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Infección por Neisseria meningitidis: Presentación clínica atípica Miguel Fajardo Olivares, Yolanda Marañón Prat, María Teresa Muñoz Lozano, Luis Zarallo Cortés, María José Fernández Reyes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLIX 83 87 91 95 101 104 EDUCAÇÃO MÉDICA Estágio de Oncologia Pediátrica: pilar fundamental para a formação do Pediatra Nuno Farinha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 COMENTÁRIO As novas curvas da OMS para a avaliação do crescimento do lactente e da criança António Guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA Policitemia e hiperviscosidade no recém-nascido Secção de Neonatologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 NOTÍCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LI NORMAS DE PUBLICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LIII Ficamos a aguardar a vossa visita, esperando que possam usufruir de todo o investimento feito de um modo rápido e confortável, esperando fazer deste espaço um ponto de encontro e referência para todos os Pediatras. À vossa disposição… sempre! XXXIX CONTENTS 0873-9781/06/37-3/XLI Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA EDITORIAL Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXI EDITORIAL NOTES Acta internationalizes in Portuguese: a new page Luis Pereira da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXII In memoriam A. Martins Roque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXVIII DIRECTION OF SPP Widening the intervention scope of SPP Opening speech of the XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria Gonçalo Cordeiro Ferreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLIV OPINION Metabolic sciences. Progress and success João Gomes-Pedro, Aguinaldo Cabral, Teresa Tasso, Filomena Eusébio, Ana Gaspar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Rheumatic fever Laudicéa Furtado Fiorito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLVI ORIGINAL ARTICLES Community-acquired Staphylococcus aureus: importance of surveillance of resistance to antibiotics Fernanda Rodrigues, Ana Florinda Alves, Luís Lemos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Antimicrobial susceptibility on a population of children with acute pyelonephritis Susana Pissarra, J Correia Fonseca, Helena Jardim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Campylobacter Jejuni Acute Diarrhoea Fernanda Rodrigues, Juan Calvino, Ana Florinda Alves, Luís Lemos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Analysis of Pediatric emergency department’s referral Isabel Carvalho, Graça Ferreira, António Vilarinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CASE REPORTS Congenital Megacalycosis Carla Pereira Cifuentes, Leonor Real Mendes, Sandra Lobo, Carla Santos, Lígia Domingues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Infection due to Neisseria meningitidis: atypical clinical presentation Miguel Fajardo Olivares, Yolanda Marañón Prat, María Teresa Muñoz Lozano, Luis Zarallo Cortés, María José Fernández Reyes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . EDITORIAL XLIX 83 87 91 95 101 104 MEDICAL EDUCATION Paediatric Oncology: a cornerstone for the training of the Paediatrician Nuno Farinha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 COMMENT The new WHO Child Growth Standards António Guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 PORTUGUESE PAEDIATRIC SOCIETY: GUIDELINES AND CONSENSUS Polycythaemia and hyperviscosity in the newborn Neonatology Section. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 NEWS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LI GUIDELINES FOR THE AUTHORS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LIII Manter um nível de qualidade constante em cada número da Acta Pediátrica Portuguesa é um desafio permanente para o Conselho Editorial. Os pediatras portugueses (e alguns estrangeiros) facilitam esta missão, contribuindo com o envio de manuscritos de opinião e textos científicos que permitem alimentar as rubricas da revista com material de interesse para os leitores. O processo de revisão de manuscritos, agora com padrões de exigência mais elevados (quer para os autores, quer para os revisores), ainda padece de alguma morosidade, que afecta o cumprimento da periodicidade prevista para a Acta. No entanto, o nosso empenhamento na qualidade do conteúdo sobrepõe-se à tentação de “cumprir calendário”. ríamos ainda de chamar a atenção para um caso clínico que alerta para o possível efeito protector da colonização por estirpes não patogénicas de Neisseria face à infecção sistémica por Neisseria meningitidis, e para um interessante artigo de opinião que recorda a frequência ainda elevada da febre reumática no Brasil e o seu peso nos cuidados de saúde; com uma população imigrante cada vez mais numerosa, entre a qual se destacam os imigrantes brasileiros, devemos estar cada vez mais conscientes de patologias raras ou relativamente pouco frequentes entre nós, mas que atingem mais frequentemente as populações dos países dos quais recebemos emigrantes. Nas Notas Editoriais, uma boa notícia, a maior abertura da Acta aos Países de Língua Oficial Portuguesa, através da institucionalização da figura de Editor Correspondente, e o pesar pelo falecimento do Dr. Fernando Sabido (agradecemos ao Dr. A. Martins Roque ter acedido a escrever um texto em sua memória). Destaque ainda para os artigos do Dr. Gonçalo Cordeiro Ferreira, Presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), e do Professor José António Guerra. No primeiro, é possível conhecer a linha de pensamento sobre Saúde Infantil e as prioridades da Direcção da SPP, quando passa metade do seu mandato. No segundo, é apresentada uma interessantíssima revisão dos fundamentos e utilidade das curvas de avaliação do crescimento infantil actualmente recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e das adoptadas pela Direcção Geral de Saúde no novo Boletim Individual de Saúde português. De leitura “obrigatória”. Neste número, a Infecciologia Pediátrica domina os textos clínicos. Destacamos dois artigos originais, provenientes da equipa do Serviço de Urgência do Hospital Pediátrico de Coimbra, com dados pouco comuns nas publicações portuguesas sobre a sensibilidade antibiótica de dois agentes relativamente frequentes na patologia das urgências pediátricas: o Staphylococcus aureus e o Campylobacter. A sua leitura poderá ajudar à tomada de decisão sobre as opções de antibioterapia quando se suspeita de infecção estafilocócica ou de gastroenterite por Campylobacter adquiridas na comunidade. Embora versando um tema mais frequentemente tratado na nossa literatura, não deixa de ser útil e actual a análise dos agentes causais de pielonefrite aguda identificados no Departamento de Pediatria do Hospital de São João, reforçando a efectividade da utilização como primeira escolha da associação amoxicilina-ácido clavulânico. Nesta área, gosta- Uma última palavra para a publicação de um novo Consenso da Sociedade Portuguesa de Pediatria, desta vez emanado pela Secção de Neonatologia, sobre policitémia e hiperviscosidade no recém-nascido. Esperamos que, mais uma vez, este número da Acta Pediátrica Portuguesa capte a atenção dos leitores, pois estamos certos de que não lhe faltam motivos de interesse. Daniel Virella Coordenador de Edição Correspondência: Daniel Virella Acta Pediátrica Portuguesa Coordenador de Edição E-mail: [email protected] XL XLI 0873-9781/06/37-3/XLII Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria NOTA EDITORIAL Internacionalização da Acta em Português: uma nova página Uma comunidade espalhada pelo mundo, com 235 milhões de cidadãos e 71 milhões de crianças com menos de 15 anos (www.who.int/en/), é a constelação constituída pelos povos de expressão oficial portuguesa, unidos por laços culturais e históricos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor. Os profissionais dedicados à saúde infantil, deste universo, não podem desperdiçar a oportunidade de usufruírem uma língua comum. Cabe-lhes saber tirar partido desta mais-valia, usandoa para intercâmbio científico e troca de experiências, colocando-a ao serviço das crianças e adolescentes dos seus países. Do berço da língua de Camões, a Acta Pediátrica Portuguesa (APP) decidiu avançar. Convidou pediatras de países lusófonos para ocuparem o cargo de Editores Correspondentes. Nada tem de original. Similar atitude pró-activa foi desde há muito assumida por revistas inglesas, francesas e espanholas em relação a países de África, Ásia e América Latina que se expressam nos respectivos idiomas. Neste âmbito, a APP inicia a caminhada com passos pequenos mas sólidos, começando por convidar representantes de países com maior capacidade de produção científica. Num futuro próximo, pela sua dimensão e dinamismo, adivinha-se um importante crescimento científico em Angola e Moçambique, 0873-9781/06/37-3/XLIII Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria NOTA EDITORIAL In memoriam para o qual a APP deseja estar receptiva. Do Brasil, com créditos firmados em produção científica pediátrica e respectiva divulgação internacional, espera-se um intercâmbio desde já profícuo. Aceitaram o convite para assumirem a função de Editores Correspondentes, desde o presente número, o Prof. Luís Bernardino (Angola), a Drª Paula Vaz (Moçambique) e o Prof. Renato Procianoy (Brasil). Não serão cargos simbólicos. Nos respectivos países, a estes novos Editores cabe-lhes a missão de: – Promover o envio de artigos para a APP, os quais serão naturalmente submetidos às normas de publicação vigentes; – Veicular os principais eventos e preocupações locais relativamente à saúde materno-infantil e do adolescente; – Divulgar a APP junto dos principais organismos científicos e clínicos. Precisamente, viramos uma nova página, em branco, para se ir escrevendo. Luis Pereira da Silva Editor Associado Faleceu recentemente o Dr. Fernando Sabido, Pediatra notável e uma das referências do Hospital de Dona Estefânia. Durante 43 anos serviu os Hospitais Civis de Lisboa. Em 1938 iniciou o Internato Geral e em 1940 foi colocado no Serviço de Pediatria do Hospital de Dona Estefânia, onde fez toda sua carreira hospitalar. Atingiu o lugar de Director de Serviço em 1965 e veio a aposentar-se em 1981. Foram 41 anos ao serviço da Pediatria e do Hospital de Dona Estefânia. O seu contributo para a História da Pediatria Portuguesa não deve ser ignorado. A alimentação infantil foi uma das áreas que mais estudou, procurando adaptar os conceitos teóricos à nossa cultura, à nossa realidade nacional. Nos anos 70, era então interno graduado de Pediatria Médica, tive o privilégio de conviver com o Dr. Fernando Sabido. Trabalhei sob a sua orientação directa quando tinha a meu cargo a Sala 3 do Serviço 1 e fiquei agradavelmente surpreendido ao apreciar uma das características notáveis desse grande Pediatra: “manter com a criança doente um relacionamento excelente que permite uma observação clínica minuciosa, fundamental na época, mesmo para a Pediatria Hospitalar”. Diariamente demonstrava aos pediatras que dirigia como lidar com as crianças, como deviam ser alimentadas, e como deviam ser assistidas na doença aguda. No fundo, participava activamente no ensino pós-graduado dos médicos na área da Puericultura e refira-se que actualmente os futuros pediatras, mais preocupados com a pediatria hospitalar, estão menos disponíveis para esta área de formação. Logo no inicio da sua carreira pediátrica, o Dr. Fernando Sabido dedica parte do seu tempo ao Hospital Infantil de S. Roque onde, impressionado pelos problemas sociais de então, começa a dedicar-se à alimentação da criança, sobretudo mal nutrida, e publica um Formulário de regimes alimentares para crianças doentes. Mais tarde, publica diversos trabalhos sobre o tema e finalmente um livro sobre Alimentação Infantil. Perante a sua influência marcante nesta área, atrevo-me a apontar o Dr. Fernando Sabido como um líder deste sector na sua época. A doença aguda da criança era outra das suas preocupações, embora nessa época o Hospital já tivesse como um dos seus objectivos a assistência à criança com doença crónica. Na Consulta Externa do Hospital de Dona Estefânia, onde apesar de Director não deixava de colaborar, não se limitava a entregar a prescrição médica às mães mas complementava-a com diversos conselhos sobre a alimentação, repouso, medidas preventivas, nomeadamente vacinação, e terminava com a informação clara sobre o prognóstico da situação clínica. Preocupado com a criança normal, a grande ignorada da assistência médica actual, estava atento à evolução da morbilidade pediátrica em que começavam a avultar os problemas comportamentais, sociais e do desenvolvimento, trocava impressões com os internos que dirigia sobre estas entidades que começavam a ser prevalentes no ambulatório pediátrico. Quando teve a seu cargo a Direcção do Serviço de Urgência do Hospital de Dona Estefânia tentou minorar o problema das falsas urgências ao criar o Serviço de Assistência Pediátrica Permanente: beneficiou as crianças com doença aguda e aos médicos, exigiu-lhes uma menor carga horária… mas a experiência foi abandonada quando cessou as suas funções de Director da Urgência. Mais tarde, o Serviço 1 do Hospital de Dona Estefânia, que já então dirigia, teve a responsabilidade de apoiar a Maternidade Magalhães Coutinho. São dessa altura os seus esforços para adaptar a Sala 3 do Serviço 1 a enfermaria exclusivamente dedicada ao recém-nascido. Finalmente, é de referir a frontalidade das suas atitudes e a sua coragem em assumir decisões, mesmo quando estas eram impopulares. Recordar a memória do Dr. Fernando Sabido e testemunhar o seu empenhamento e a sua dedicação ao bem-estar da criança, é recordar uma das referências do Hospital de Dona Estefânia. A. Martins Roque Correspondência: Luis Pereira da Silva Acta Pediátrica Portuguesa Editor Associado E-mail: [email protected] XLII Correspondência: A. Martins Roque XLIII Acta Pediatr Port 2006:3(37):XLIV-V 0873-9781/06/37-3/XLIV Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria DIRECÇÃO DA SPP Alargar a Intervenção da SPP Discurso de Abertura do Presidente da SPP nas XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria Gonçalo Cordeiro Ferreira Presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria É com enorme alegria que a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) está de regresso ao Funchal, agora para a realização das XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria. Diria que este contentamento reside em dois motivos: pelas suas gentes e pelas suas belezas naturais. O entusiasmo e a simpatia com que aqui somos sempre recebidos, a resposta pronta às nossas propostas de que é testemunho o sucesso, medido em termos de assistência, e da qualidade do programa científico e social, destas Jornadas, testemunham bem o acerto da escolha, quando decidimos voltar à Madeira para organizar mais uma das nossas Jornadas Nacionais. E como as pessoas têm nomes, gostaria de destacar a alma desta organização, a quem a SPP confiou sem reservas o labor da realização da reunião e que pelo seu empenho e capacidade mobilizadora e organizativa levantou do chão, num curtíssimo tempo, o complexo edifício das Jornadas: a minha querida amiga e colega de Direcção da SPP, a Directora do Serviço de Pediatria do Hospital do Funchal, Dra. Amélia Cavaco, a quem todos estamos em débito, bem como a toda a sua dedicada equipa de organização local. Gostaria também de agradecer, pelos apoios recebidos, ao Presidente do Governo Regional da Madeira, à Secretaria Regional do Turismo, às diversas empresas da indústria farmacêutica, bem como aos palestrantes nacionais e estrangeiros e, obviamente, a todos os participantes para quem a reunião se destina. E sem os quais não faria sentido. A actual Direcção da SPP está a meio do seu mandato, e talvez seja a hora de fazer um balanço provisório da sua actividade. Uma das palavras-chave do nosso programa foi o investimento na formação no contexto da educação médica contínua. Procurámos nomeadamente apoiar os internos, alargando para dois os cursos anuais de formação a eles destinados, e, através de uma parceria com a Wyeth, criámos uma bolsa para estágios no estrangeiro e um prémio anual para o melhor trabalho científico cujo primeiro autor seja um interno. Acabámos agora de assinar com a Pierre Fabre Dermocosmetique um protocolo para uma bolsa que apoia os sócios da SPP que se desloquem a congressos estrangeiros para apresentar trabalhos de investigação. Aliás, no apoio a esta vertente, desenvolvemos um protocolo com a Milupa para que um jovem sócio da SPP se integre pelo menos durante um ano num projecto de investigação na área da Nutrição, realizado no centro de investigação da empresa na Holanda. Também nesta área concluimos uma parceria com a Reckitt Benckiser que prevê o financiamento de uma bolsa anual de 5.000 euros para investigação na área da infecciologia. Mas a SPP quer ir mais além na sua reivindicação de ser a voz dos pediatras portugueses, e, portanto, tomando como sua uma postura interveniente de advocacia da criança. Para tal, e à semelhança do que acontece com outras Sociedades Pediátricas internacionais, estamos em fase adiantada de garantir o financiamento para a constituição de comissões permanentes de aconselhamento técnico da Direcção nas áreas da Formação Médica, Nutrição, Vacinação e Risco Socio-ambiental. A SPP preocupa-se com as condições do atendimento à criança no todo nacional. Houve progressos notáveis neste campo na última década, mensuráveis através de índices como a taxa de vacinação ou a redução da mortalidade infantil, que passou de 10,9 /mil em 1990 para 3,8/mil em 2004. Ferreira GC – Discurso de Abertura XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria trabalho, índices esses ainda insuficientemente quantificados. Os recursos humanos e financeiros do sistema de saúde são escassos e muitas vezes mal distribuídos, com uma demasiada porosidade entre os vários escalões de cuidados em que hospitais ditos de referência prestam cuidados primários, secundários e terciários. A discussão pública destes aspectos atinge contornos inaceitáveis de emotividade e demagogia, alimentada pelos media e por políticos e responsáveis locais que só olham para o seu umbigo. Veja-se o caso presente da proposta do encerramento de algumas maternidades, em que o nível demagógico da argumentação ultrapassa os patamares da serenidade necessária para aceitar recomendações técnicas inquestionáveis. Aliás, os princípios de segurança, eficácia e eficiência do sistema invocados para estas reformas deviam, por uma questão de coerência, ser estendidos para outros níveis de organização dos cuidados pediátricos, sem esquecer que estas considerações devem ser temperadas com princípios de equidade e solidariedade no todo nacional. Assim, deve ser bem definido o campo de intervenção público ou privado dos cuidados primários e dos hospitalares (e estes em secundários e terciários) e da sua relação através de redes de referenciação. Apoiar a vertente ambulatória, criando estruturas de formação para internos de Pediatria e Medicina Geral e Familiar através, da criação de Institutos de Pediatria Ambulatória, reunindo o melhor do saber de Pediatras e Médicos de Família com muita experiência neste campo. Apoiar os Médicos de Família, com a presença de Pediatras consultores ou comunitários em Centros de Saúde ou grupos de Centros de Saúde. A nível dos hospitais, concentrar os recursos humanos, fechando serviços de reduzida expressão, desde que haja alternativas viáveis a curta distância, reorganizar esses colossais monumentos de gastos e ineficiência de cuidados que são as urgências, revalorizar o papel de charneira fundamental do Pediatra Geral hospitalar, quer em hospitais para cuidados secundários ou terciários (torná-lo o advogado do doente complexo, orientando-o na malha dos recursos de saúde que consome e em que tantas vezes se perde) e definir bem os centros que devem prestar cuidados muito diferenciados de subespecialidade, limitando os recursos humanos nessas áreas mas criando a possibilidade de apenas se dedicarem a esse campo, aumentando os recursos técnicos e promovendo a investigação. Mais do que nunca é necessária a definição rigorosa de competências e redes de referenciação. Por último, como Pediatras não abdicaremos de proclamar e exigir o direito das crianças serem atendidas em meio pediátrico, mas sem esquecer que esse meio varia com a idade e que portanto é necessário proporcionar, por exemplo, aos adolescentes um meio e um método próprio para o seu atendimento e eventual internamento. A natalidade está em baixa, a pirâmide etária inverte-se, mas porque em menor número as crianças devem ser consideradas um bem mais precioso pela sociedade, até em termos estritamente económicos, já que uma boa assistência perinatal e ao longo da infância reduz o aparecimento de patologia no adulto (vide a relação entre o peso ao nascer e risco cardiovascular ou a obesidade infantil e comorbilidades). O que nos move na SPP não é a vontade de protagonimo ou qualquer tropismo mediático. O que nos move na SPP não são interesses corporativos ou politico-partidários. O que nos move é que, em nome do bom senso, da equidade social e da solidariedade para com os desprotegidos, possamos dar a todas as crianças portuguesas a possibilidade de serem como aquelas cujas fotografias tão enternecedoramente a organização colocou nas paredes desta sala: sorridentes e confiantes porque se sentem cuidadas e amadas. Aliás, este efeito também se fez sentir na Região Autónoma da Madeira, com a redução nos últimos cico anos de 8,2 a 3,7 /mil nados vivos ou na taxa da mortalidade neonatal que, desde 2000, passou de 3,3 a 2,6 mil nados vivos no total nacional ou de 5,3 a 2,4 aqui na Madeira. Estes resultados conseguiram-se com o empenho de todos os que cuidam das crianças, mas também com o reforço das medidas de organização e interacção dos cuidados. Mas permanecem muitos pontos sombrios neste quadro. Entre 10-18% das crianças apresentam algum grau de doença crónica ou incapacidade. Os seus cuidados estão muitas vezes fragmentados entre vários níveis e instituições, criando nos pais uma sensação de orfandade e reduzindo a qualidade de vida dessas famílias e levando a consideráveis perdas em horas de Correspondência: Gonçalo Cordeiro Ferreira Sociedade Portuguesa de Pediatria Presidente E-mail: [email protected] XLIV XLV Acta Pediatr Port 2006:3(37):XLVI-VIII 0873-9781/06/37-3/XLVI Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO DE OPINIÃO Ciências metabólicas. Progresso e sucesso (*) João Gomes-Pedro, Aguinaldo Cabral, Teresa Tasso, Filomena Eusébio, Ana Gaspar Clínica Universitária de Pediatria - Hospital de Santa Maria Não existe melhor paradigma da evolução científica com a projecção clínica inerente que o das Ciências Metabólicas Pediátricas. Associadamente, nesta multifactorialidade, existem os determinantes biológicos e os determinantes ambientais, que se combinam numa permeabilidade quase infinita. Em 2006 ousamos apelidar, assim, esta tão importante Disciplina das Doenças Metabólicas, dado que não são só hoje os bioquímicos e geneticistas, conjuntamente com os clínicos, os profissionais envolvidos na infinita complexidade das Doenças hereditárias de base metabólica ou molecular. É expressão desta interacção a aterosclerose que, como sabemos, é responsável por 35% da mortalidade adulta. Associam-se hoje àqueles os filósofos, os peritos da Ética, os juristas, os sociólogos, os gestores dos seguros, os farmacêuticos, os educadores, entre outros. A investigação em Ciências Metabólicas é hoje um imperativo, designadamente na convergência entre as Ciências Básicas e a Clínica. É também paradigma do espectro adicional necessário para uma boa Educação Médica Pediátrica a formação na área das Ciências Metabólicas, numa abrangência que vai da Bioquímica à Genética e da Ética à educação de atitudes, de que é expressão significativa a intervenção familiar. O ensino-aprendizagem das Ciências Metabólicas tem evoluído extraordinariamente, a par da investigação. A expressão numérica da galopante evolução científica é bem patente. As doenças genéticas com uma base molecular precisa não passavam de 100 em 1970 enquanto hoje são cerca de 2000. Enquanto em 1980 só 500 genes tinham localização conhecida nos vários cromossomas, vinte anos depois era anunciado o primeiro mapa cromossómico, onde se contavam já 32000 genes. A análise do ADN permite hoje identificar mais de 1500 doenças de transmissão mendeliana. Num quarto de século, passámos da fórmula “Dá-me as tuas células (fibroblastos, células do líquido amniótico ou do tecido coriónico) e dir-te-ei o que tens” para a de “Dá-me o teu ADN e eu digo-te o que vais ter”. A complexidade aumenta numa proporção incomensurável quando a etiologia da doença é multifactorial. Recebido: Aceite: XLVI 25.06.2006 27.06.2006 A patogénese biológica envolve a função endotelial, a coagulação, a trombólise, as citocinas, os radicais livres, as moléculas de adesão, os factores de crescimento, a mioproliferação, etc. Conhecemos, por outro lado, os factores ambientais ligados à alimentação, ao estilo de vida, ao álcool e ao fumo. Como gerir, em termos psicossociais, uma predição cada vez melhor conhecida? Como apoiar cada doente que pode conhecer as suas probabilidades de adoecer e de morrer na sua vida relacional, na sua vida laboral, na sua resiliência? Os oncogenes, tal como no cancro do cólon, podem fazer subir as probabilidades de risco 90% ou mesmo mais. Nesta situação, porém, a prevenção é possível realizando colonoscospias sucessivamente atempadas. O fenoma, afinal, representa o conjunto das diferentes expressões fenotípicas antecipatórias do quem é quem, globalizado enquanto indivíduo depois de assumidas as sucessivas cargas compartimentais desde a molécula à organela, da organela à célula, da célula ao tecido, do tecido ao órgão, do órgão ao sistema ou ao aparelho, do aparelho à pessoa. Os denominados “erros inatos do metabolismo” foram o grande desafio que nos proporcionou descobrir melhor a ordem maravilhosa da natureza viva. Sabemos hoje bem que o organismo humano é um produto de uma longa história de consertos genómicos, de interacções biológicas, de evoluções adaptativas, de expressões fenómicas. De Mendel a Darwin, de Darwin a Garrod, de Garrod a Scriver, de Scriver a cada um de nós, investigador ou clínico, a evidência científica confronta, cada vez mais, a coerência no desafio de explicar as fronteiras entre a ordem e o caos. Tudo isto poderá explicar, afinal, onde pode residir, cada vez mais, a sabedoria clínica representada pelo velho aforismo de há pelo menos três séculos: “é muito mais importante saber que espécie de doente tem uma certa doença do que saber que espécie de doença tem um certo doente”. O conhecimento bioclínico é o que permite hoje saber cumprir o velho ditado de que “se queres matar a fome a alguém não lhe dês um peixe mas ensina-o a pescar”. É este o desafio para todos nós que temos responsabilidades docentes. Situação distinta, porém, é a de quem é portador, por exemplo, de um gene ApoE no cromossoma 19, determinante de uma doença de Alzheimer, para a qual não existe prevenção remedial. Estamos a celebrar, neste ano de 2006, os trinta anos da criação do “Centro de Metabolismos e Genética”, agora chamado de “Centro de Patogénese Molecular”, sito na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. O dogma central de patologia humana ou animal poderá ser assim definido: o ADN gera o ARN, o ARN gera a proteína, a proteína pode gerar o defeito, o defeito interage com o ambiente e a disfunção pode surgir. Deste aniversário faz necessariamente parte a justa homenagem a três grandes figuras nacionais que engrandeceram e engrandecem a história das Ciências Metabólicas em Portugal. É neste contexto que Scriver, personalidade impar das “Doenças Metabólicas”, intitula assim o seu artigo escrito em 2004 “Depois do genoma – o fenoma”? Maria de Lourdes Levy, Carlos Silveira e Regina Portela representam, exemplarmente, esta história. Esta questão envolve o grande mistério do Homo sapiens, porventura ainda longe de estar desvendado pelas ciências metabólicas que tanto têm contribuído para clarificar a cascata biológica que envolve o “metaboloma”, o “proteoma” e o “transcriptoma”. É esta cascata que transforma o Homo sapiens em Homo modificans e lhe garante uma individualidade fenotípica. Correspondência: Clínica Universitária de Pediatria Hospital de Santa Maria Av. Prof. Egas Moniz 1649-035 Lisboa E-mail: [email protected] Descreveremos, sumariamente, os passos da História que tão significativamente são, também, história de cerca de 40 anos da Clínica Universitária de Pediatria do Hospital de Santa Maria. 1965 – Primeira criança diagnosticada com fenilcetonúria. Gomes-Pedro J et al – Ciências metabólicas proporcionou o início do Diagnóstico Precoce – PKU e hipotiroidismo. 1984 – A Unidade de Doenças Metabólicas da Clínica Universitária de Pediatria do Hospital de Santa Maria passou a ser referência para a Zona Sul e Ilhas, designadamente para o diagnóstico e tratamento da PKU e hiperfenilalaninémias. 1990 – O Centro de Metabolismos e Genética passa a Centro de Patogénese Molecular, Unidade Plurianual da FCT com edifício próprio, graças ao programa Ciência e Praxis XXI. 1997 – Criação na Clínica Universitária da Consulta de Prevenção de Doenças Cardiovasculares, com a participação da Unidade de Doenças Metabólicas. 2001 – Criada a Sociedade Portuguesa de Doenças Metabólicas (SPDM). Em toda esta história é patente o papel do pediatra no diagnóstico das doenças hereditárias do metabolismo. A suspeita clínica de uma doença metabólica é hoje uma das maiores responsabilidades da Pediatria, representando esta responsabilidade um desafio à formação pediátrica e, sobretudo, à política de saúde face ao quadro da assistência infantil em Portugal em que, naturalmente, a prevenção é um imperativo, designadamente no quadro das Ciências Metabólicas. Precisamos de mais pediatras que, naturalmente, estejam vocacionados para esta competência, a ser exercida nos Centros de Excelência inseridos em Hospitais Centrais Universitários, inequivocamente fins de linha no Sistema de Saúde (com o pressuposto de uma formação pediátrica continuada que se sabe demorada e complexa). A Unidade de Doenças Metabólicas da Clínica Universitária de Pediatria do Hospital de Santa Maria é, de tudo isto, testemunho. Já foram seguidas mais de 2600 crianças e entre elas mais de seis centenas de crianças com diagnóstico expresso de Doença Metabólica, abarcando todo o tipo de patologias metabólicas, sendo de realçar a grande experiência no tratamento dietético e medicamentoso, designadamente nas aminoacidopatias, acidúrias orgânicas, glicogenoses, dislipidémias e outras, e a experiência também na área das doenças de sobrecarga. 1968 – Criação da Consulta de Encefalopatias. Esta realidade é expressão do peso da história e da evidência científica e é imparável. 1975 – Criação da Unidade de Doenças Metabólicas no Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria. O desafio pediátrico tem sido por nós assumido, designadamente na formação tanto pré como pós graduada. Primeiro curso intensivo para detecção de aminoacidopatias, realizado no Instituto Ricardo Jorge. A formação contínua está hoje bem documentada na participação tão significativa de outros profissionais proporcionada pela Sociedade Portuguesa de Doenças Metabólicas. 1976 – Criação do Centro de Metabolismos e Genética da Universidade de Lisboa (iniciativa do Laboratório de Bioquímica da Faculdade de Farmácia e da Unidade de Doenças Metabólicas do Serviço de Pediatria). 1979 – Criação do Instituto de Genética Médica no Porto que Iniciámos esta reflexão evocando, como paradigma científico, as Ciências Metabólicas. Pelo exposto, as Ciências Metabólicas são, também, em Portugal, um paradigma da criatividade, da devoção e do exemplo. XLVII Acta Pediatr Port 2006:3(37):XLVI-VIII Da cascata biológica à evolução das espécies, do genoma ao fenoma, do erro metabólico à expressão patológica, ressalta o doente, sobressai a Criança e em particular o bebé, enfim, reassume-se a Pessoa no seu mistério e no seu destino. O progresso e o sucesso entrecruzam-se na intenção. Gomes-Pedro J et al – Ciências metabólicas 1994 (40 anos). Lisboa. Associação Para as Crianças de Santa Maria. 1994. 3. Sanjurjo P, Baldellou A, Aldámiz–Echevarría L. 1. Generalidades. In: Sanjurjo P, Baldellou A, Aldámiz – Echevarría L, eds. Enfermedades Congénitas del Metabolismo: Bases Diagnósticas para el Pediatra. ERGON 2003; p 7-20. 4. Scriver CR. After de genome – the phenone? J Inherit Metab Dis 2004;27:305-17. Febre reumática Laudicéa Furtado Fiorito Conferência proferida no XXX Aniversário do Centro de Metabolismos e Genética da Faculdade de Farmácia de Universidade de Lisboa, a 27 de Abril de 2006. (*) Falar sobre febre reumática é como repetir um sempre novo tema. Dizemos isso porque mesmo sendo uma doença conhecida de longa data, antes até da elaboração do “critério de Jones” em 1944 1, surgem novos casos a cada ano, e também ocorre a recaída naqueles pacientes já diagnosticados e orientados corretamente. Fatores sócio-econômico-culturais influenciam sua prevalência e incidência, e neste aspecto destacam-se os países em desenvolvimento, muito embora a doença não seja exclusividade deles 2. A febre reumática é uma complicação tardia, não supurativa, de uma infecção do trato respiratório superior pelo Streptococcus beta-hemolítico do grupo A de Lancefield. É uma doença multisistêmica, caracterizada pelo envolvimento do coração, articulações, sistema nervoso central, tecido celular subcutâneo e pele. O coração é o único órgão que não é atingido de forma transitória 3. O conhecimento médico sobre a importância do tratamento adequado da infecção estreptocócica de vias aéreas superiores deveria bastar para impedir a instalação do quadro; no entanto, não é o que acontece. O processo infeccioso não é debelado e, aproximadamente três semanas depois surgem as manifestações de febre reumática 4. Aonde ocorreu a falha? Na falta de segurança para o diagnóstico? Na ausência de tratamento adequado com penicilina? Na desobediência do paciente à prescrição? Na dificuldade do paciente em chegar aos serviços de atendimento médico? Na falta de condições para adquirir o medicamento? Tantos elementos podem estar aqui implicados e é tão simples evitar a doença! Em nossa experiência, durante o acompanhamento ambulatorial de pacientes portadores de lesão reumática de válvula cardíaca, observamos que a soma de vários fatores se torna responsável pelo insucesso da profilaxia secundária, possibilitando a ocorrência de novos surtos e consequentemente a piora da lesão existente ou o acometimento de nova válvula, o que, nas duas situações, torna o prognóstico mais sombrio. Entre esses fatores destaca-se a não aderência do paciente ao tratamento, seja em decorrência da dor causada pela medicação injetável, seja pela negligência do responsável, ou do próprio paciente que já vai desacompanhado à consulta (adolescentes e adultos jovens). Recebido: Aceite: XLVIII ARTIGO DE OPINIÃO Pediatra da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Brasil Referências 1. Galjaard H. New names for old disciplines. J Inherit Metab Dis 2002;25:139-56. 2. Levy ML, Portela R. História Breve do Serviço de Pediatria – 1954- 0873-9781/06/37-3/XLIX Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria 12.06.2006 20.06.2006 Optamos, naqueles casos com queixa freqüente de pouca tolerância à medicação injetável, pela prescrição de medicação oral diária como medida alternativa (ampicilina ou eritromicina), o que implicará na necessidade de maior observância do paciente ou seu responsável, já que um dia de esquecimento poderá representar o risco de um novo surto. Lidamos, portanto, com poucas alternativas confortáveis para o paciente, e que favoreçam uma adesão completa ao tratamento. Um outro grave problema existente em nosso meio, relaciona-se aos contactantes de um paciente com infecção estreptocócica de vias aéreas superiores. Habitualmente não verificamos a adoção de medidas profiláticas para esses contactantes, e o risco de desenvolver-se a febre reumática depende, entre outras coisas, de fatores genéticos que tornam um indivíduo mais susceptível do que outro. Torna-se imperioso quebrar o ciclo da doença, inclusive naqueles que não foram levados à consulta médica. Um outro elemento de grande importância na incidência da febre reumática entre nós é a falta de informação, tantos dos responsáveis e pacientes, quanto do corpo clínico, que atua na área de pediatria, sobre a forma de intervir para impedir que a doença ocorra. Muitas vezes nos deparamos com falhas diagnósticas decorrentes da não observância do “critério de Jones”, outras vezes percebemos uma precipitação em admitir a existência de febre reumática com base simplesmente na elevação dos títulos de antiestreptolisina O, o que demonstra claramente o desconhecimento de alguns sobre as características do quadro. Se dimensionarmos todos esses dados para um território extenso como o do Brasil, poderemos entender o que eles significam em termos estatísticos; temos, certamente, um número mais elevado de crianças e adolescentes com a doença do quem aquele que é informado. As manifestações de febre reumática variam, em um primeiro episódio, da forma articular que se resolve em pouco tempo de tratamento sem deixar seqüelas, aos quadros de cardite reumática com lesão valvular grave. Estes últimos implicam em riscos ou deixam danos irreversíveis, diminuindo a qualidade de vida e tornando necessário o acompanhamento assíduo, a antibioticoterapia profilática de novos surtos e, em Correspondência: Laudicéa Furtado Fiorito Ambulatório de Cardiologia Pediátrica do Hospital Universitário Antonio Pedro Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro, Brasil E-mail: [email protected] XLIX Acta Pediatr Port 2006:3(37):XLIX-L muitos casos , a intervenção cirúrgica para reparo ou troca da válvula cardíaca comprometida. Essa evolução desencadeará um desequilíbrio na economia familiar, pois implica em gastos extras com idas ao médico, o responsável falta ao trabalho para acompanhar as consultas do paciente, a aquisição de medicamentos poderá não ser gratuita, e, se ocorrer cirurgia, a necessidade da permanência do responsável com o paciente hospitalizado, ocasionando maior tempo de ausência ao serviço, poderá gerar a demissão com a perda do emprego. Dados sobre febre reumática do Ministério da Saúde, coletados em diversos estados brasileiros durante 1998, referem que ocorreram 10.691 internações cirúrgicas com gastos equivalentes a R$ 89.854.577,90 (quase 90 milhões de reais) e, 9.909 internações clínicas representaram o gasto de R$ 19.625.753,10 (aproximadamente 20 milhões de reais),talvez em cifras subestimadas em decorrência das dificuldades diagnósticas e de notificação 5. Os gastos dirigidos para as seqüelas de febre reumática não atingem apenas os pacientes e seus responsáveis, mas toda a sociedade de um país. A literatura nos informa, com dados assustadores, a prevalência da cirurgia cardíaca para reparo ou troca de válvulas com seqüela de febre reumática; só no Brasil são realizadas 8.000 a 10.000 cirurgias em hospitais da rede pública, anualmente, para esse fim 6. Assim, a febre reumática ocorre em populações menos favorecidas e as torna ainda mais pobres! A atenção médica voltada para a importância da profilaxia primária, que significa Fiorito LF– Febre reumática tratar oportunamente a infecção de vias aéreas superiores, poderia mudar o perfil da doença. Não se justifica, no século XXI, a existência no mundo de um quadro que para ser evitado bastaria uma injeção de penicilina. Referências 0873-9781/06/37-3/83 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Staphylococcus aureus adquirido na comunidade: importância da monitorização das resistências aos antibióticos 1. Jones TD. The diagnosis of rheumatic fever. JAMA 1944;126:481-4. Fernanda Rodrigues1, Ana Florinda Alves2, Luís Lemos1 2. Kadir IS, Barker TA, Clarke B, Denley H, Grotte GJ. Recurrent Acute Rheumatic Fever: A Forgotten Diagnosis? Ann Thorac Surg 2004;78:699-701. 1 - Serviço de Urgência, Hospital Pediátrico de Coimbra 2 - Serviço de Patologia Clínica, Centro Hospitalar de Coimbra 3. Hilário MO, Terreri MT. Rheumatic fever and post-streptococcal arthritis. Best Practice and Research Cli Rheumatology 2002;16:481-94. Resumo 4. George C, Emmanouilides GC, Allen HD, Riemenschneider TA, Gutgesell HP. Emmanouilides GC. Moss e Adams – Doenças do Coração na Criança e no Adolescente. 5ª ed. Rio de Janeiro. Medsi Ed. Médica e Científica, 2000. p 537-56. 5. Kiss MHB. Febre Reumática. In: Marcondes E (ed). Pediatria Básica. 9ª Ed. São Paulo: Sarvier, 2003. p791-8. 6. Gonçalves HAT. O programa de prevenção da febre reumática no Brasil. In: Oliveira SK, Azevedo EC (ed). Reumatologia pediátrica. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Revinter, 2001. p 392-9. Nota do Editor: A Acta Pediátrica Portuguesa aceita, por razões óbvias, as normas ortográficas portuguesa e brasileira, pelo que todos os manuscritos de autores brasileiros são publicados na sua grafia original. Contexto. O Staphylococcus aureus é responsável por um grande número de infecções hospitalares e não hospitalares. A resistência das estirpes do ambulatório à meticilina tem-se acentuado dramaticamente nalguns países. Métodos. Análise retrospectiva das culturas positivas para S. aureus. Análise dos dados clínicos referentes a 7 crianças em que foram isolados S. aureus resistentes à meticilina, entre 1998 e 2004. Resultados. No conjunto do Hospital, entre 1998 e 2004, verificou-se uma tendência para o decréscimo das estirpes resistentes à meticilina em relação ao total de S. aureus isolados (22% em 2002 e 9% em 2003 e em 2004). Não se registaram evoluções desfavoráveis. Conclusões. Dos S. aureus adquiridos na comunidade, recolhidos no Serviço de Urgência entre 1998 e 2004, os números absolutos de estirpes resistentes à meticilina têm sido baixos e com tendência a diminuir, tendo sido de 0 em 2004. Palavras-chave: S. aureus, S. aureus resistente à meticilina, S. aureus adquirido na comunidade. Acta Pediatr Port 2006;3(37):83-6 Community-acquired Staphylococcus aureus: importance of surveillance of resistance to antibiotics Abstract Context. Staphylococcus aureus is responsible for a great number of nosocomial and community-acquired infections. Resistances of community-acquired strains to methicillin have been dramatically increasing in some countries. Methods. Retrospective analysis of S. aureus positive cultures. Clinical data from 7 children in which methicillinresistant S. aureus were isolated between 1998-2004, were analysed. Recebido: Aceite: L ARTIGO ORIGINAL 21.02.2005 21.06.2006 Results. Overall in our Hospital, between 1998 and 2004 there was a decrease in the methicillin-resistant S. aureus isolates (22% in 2002 and 9% in 2003 and 2004). There were not unfavourable outcomes. Conclusions. Of the total strains of S. aureus isolates from the Emergency Service, between 1998-2004, the absolute number of methicillin-resistant S. aureus has progressively decreased. Key-words: S. aureus, methicillin-resistant S. aureus, community-acquired S. aureus. Acta Pediatr Port 2006;3(37):83-6 Introdução O S. aureus é responsável por grande número de infecções contraídas quer em meio hospitalar quer no sector extra-hospitalar. No ambulatório pediátrico, é o agente causal mais frequente de infecções muito comuns dos tecidos moles – celulites, adenites, abcessos, feridas infectadas, furúnculos - mas pode também estar na origem de infecções graves e menos frequentes - sindroma da pele escaldada, sindroma de choque tóxico, piomiosites, fasceítes necrosantes, pneumonias necrosantes, abcessos e empiemas pulmonares. As primeiras estirpes de S. aureus resistentes à penicilina foram isoladas pouco após a comercialização deste antibiótico1 e esta diminuição da susceptibilidade estendeu-se progressivamente a muitos outros países, entre os quais Portugal. A penicilina tornou-se assim ineficaz, mesmo para as estirpes adquiridas na comunidade. As novas penicilinas resistentes às penicilinases, de que a meticilina é o padrão, permitiram ultrapassar temporariamente estas resistências mas nos EUA desenvolveram-se progressivamente estirpes hospitalares de S. aureus resistentes à meticilina2. Também nos EUA, no ambulatório, se verificou um aumento de resistências dos S. aureus à meticilina e foram identificados alguns factores de risco, que se associam a estas estirpes: hospitalizações recentes, procedimentos cirúrgicos, cateteres intravasculares ou Correspondência: Fernanda Rodrigues Serviço de Urgência Hospital Pediátrico de Coimbra Av. Bissaya Barreto 3000-075 Coimbra E-mail: [email protected] 83 Acta Pediatr Port 2006:3(37):83-6 Rodrigues F et al – Staphylococcus aureus da comunidade urinários, intubação endotraqueal, doença crónica subjacente, utilização recente de antibióticos, contactos em casa com trabalhadores de instituições de saúde e consumidores de drogas injectáveis3. Ainda nos EUA está bem documentado o aumento progressivo e preocupante, no ambulatório, de estirpes de S. aureus resistentes à meticilina (SaMR) mesmo em crianças sem factores de risco2-5. Neste contexto estudou-se a susceptibilidade aos antibióticos das estirpes de S. aureus isoladas ao longo dos últimos anos no nosso Hospital e particularmente das adquiridas na comunidade. Material e Métodos Através do Serviço de Microbiologia, foram identificadas retrospectivamente todas as culturas com isolamento de S. aureus e respectivos antibiogramas, efectuadas no conjunto dos Serviços de internamento e de ambulatório do Hospital, nos anos de 1998, 1999 e desde 2002 a 2004 (5 anos). Por alterações nos programas informáticos não foi possível obter dados, de todos os Serviços, referentes aos anos de 2000 e 2001. Em relação ao Serviço de Urgência (SU) fizemos uma análise mais detalhada de todas as estirpes adquiridas na comunidade, isto é, em que o isolamento ocorreu em doentes não hospitalizados ou nas primeiras 72 h após a admissão hospitalar. Esta análise incidiu sobre os anos de 1998 a 2004. Foram revistos os processos clínicos ou fichas de admissão no SU de 7 crianças nas quais, neste período, foi isolado um SaMR. Avaliou-se informação sobre a idade, o tipo de infecção, a existência de eventuais factores de risco, a terapêutica, os dados microbiológicos e a evolução final. Para a determinação das susceptibilidades foi utilizado um aparelho automático MICROSCAN,® Dade-Behring, seguindo as normas do National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS). Resultados No período em estudo, no conjunto do Hospital, foram isoladas 486 estirpes de S. aureus. Verificamos que a percentagem máxima anual de SaMR foi de 22% em 2002, sendo de 9% em 2003 e 2004 (Quadro I). Quadro I – Número total de S. aureus, S. aureus meticilina-susceptíveis (SaMS) e meticilina-resistentes (SaMR), isolados no Hospital (1998-2004). Ano Nº total de estripes SaMS SaMR (%) 1998 115 94 21 (18) 1999 83 69 14 (17) 2002 97 76 21 (22) 2003 80 73 7 (9) 2004 111 101 10 (9) Entre 1998 e 2004 foram isoladas 106 estirpes de S. aureus no SU, tendo a relação total de estirpes SaMR/S. aureus mais ele84 vada ocorrido em 2000 (3/19). Em 2002 esta relação foi de 1/18, em 2003 de 1/21 e em 2004 não houve estirpes SaMR (Quadro II). Acta Pediatr Port 2006:3(37):83-6 Quadro III – Casos clínicos com isolamento de S. aureus resistentes à meticilina no Serviço de Urgência (1998-2004). Idade 3 anos Clínica Lesões cutâneas Furúnculo bolhosas/crostosas dispersas, evolução de 15 dias. Sem febre. Irmão com lesões semelhantes em cicatrização Quadro II – Número admissões no Serviço de Urgência, número total de S. aureus isolados e número de estirpes resistentes à meticilina (SaMR) (1998 a 2004). Ano Nº total de estripes Nº SaMR Nº admissões S.U. 1998 10 1 51.777 1999 8 0 52.362 2000 19 3 48.181 2001 ? 1 54.651 2002 18 1 57.104 2003 21 1 51.705 2004 30 0 46.958 Rodrigues F et al – Staphylococcus aureus da comunidade Hemograma e Proteína C Reactiva 16 anos - - Legenda: Nº - número; S.U. - Serviço de Urgência. Os dados clínicos referentes aos sete casos em que foram isolados SaMR são apresentados no Quadro III. As idades variaram entre os 26 dias de vida e os 16 anos. Cinco casos referem-se a infecções dos tecidos moles, um a infecção respiratória em doente com fibrose quística e o outro isolamento foi numa amostra de urina. Em três casos havia factores de risco associados, confirmados ou suspeitos. Em dois casos foi utilizada a teicoplanina, num a flucloxacilina, noutro a ofloxacina e em três não há registo da terapêutica prescrita. A evolução está descrita como favorável em três casos e nos restantes as crianças não voltaram ao SU, não tendo sido possível localizar os familiares para obtenção de informações complementares. Em todos os casos estava registada indicação para regressarem se a evolução não fosse boa. Em relação às estirpes adquiridas na comunidade e isoladas no nosso SU, verificamos que os números absolutos totais anuais são reduzidos mas, também aqui, o número de SaMR situa-se em valores muito baixos nos três últimos anos e em 2004 não houve nenhum isolamento. A análise mais detalhada dos processos clínicos dos sete casos de SaMR isolados no SU entre 1998 e 2004, revela, em alguns casos, falta de registos de informação. Tratando-se de um estudo retrospectivo não foi possível colmatar esta deficiência. Os casos referem-se maioritariamente a infecções dos tecidos moles e sabe-se que a evolução foi registada como favorável em três. A utilização da teicoplanina em dois casos parece justificada: no primeiro pelo agravamento clínico sob flucloxacilina numa criança com suspeita de deficiente função dos neutrófilos e múltiplos tratamentos antibióticos anteriores e no segundo por se tratar de doente com fibrose quística com várias agudizações respiratórias nos meses anteriores. O facto 3 anos 1 mês Vesícula com pus na coxa direita e nádega direita. Tumefacção coxa direita 2 pápulas antebraço direito. Sem febre. Agudização de infecção respiratória em criança com fibrose quística. Sem referência Sem referência Sem referência a dados clínicos. a dados clínicos. a dados clínicos. Leucócitos 26.100/ml (50% neutrófilos). Proteína C reactiva: 1,8 mg/dl - - - - ? ? ? Factores de risco Não S. Drown. Múltiplos tratamentos prévios por furúnculos. Défice imunitário em estudo Défice imunitário Fibrose em estudo. quística Local de isolamento Exsudado da pele/tecidos moles. Exsudado da pele/tecidos moles. Exsudado da pele/tecidos moles. Secreções respiratórias. Terapêutica flucloxacilina, oral ofloxacina + teicoplanina drenagem cirúrgica flucloxacilina oral teicoplanina Antibiograma R: eritromicina S: CTX R: eritromicina R: eritromicina S: vancomicina teicoplanina clindamicina CTX Evolução Não regressou ao SU. Boa Abcesso com necessidade de drenagem cirúrgica + Teicoplanina. Boa evolução. Discussão Os dados colhidos no Hospital revelam um número absoluto de estirpes de SaMR relativamente estável entre 1998 a 2002 e constata-se um número mais baixo em 2003 e 2004, embora o número anual de estirpes não seja elevado. 26 dias 1 ano Exsudado da pele/tecidos moles. 7 anos Urina Exsudado da pele/tecidos moles. ? ? ? R: gentamicina ciprofloxacina S: eritromicina clindamicina CTX acido fusídico R: gentamicina eritromicina rifampicina acido fusídico R: tobramicinae eritromicina R: eritromicina Boa Não regressou ao SU. Não regressou ao SU. Não regressou ao SU. Legenda: CTX - Cotrimoxazol; R - resistente; S - susceptível; S.U. - Serviço de Urgência de não haver registo de regresso ao Serviço nas outras situações (sendo essa a indicação dada se a evolução não fosse favorável), e de se tratar de situações aparentemente benignas, leva-nos a supor que a evolução final deverá ter sido boa. Sabe-se que os SaMR da comunidade, mesmo adquiridos por crianças sem factores de risco, podem ocasionar situações clínicas fatais (sob forma de pneumonias necrosantes ou septicemias) ou graves, mas as manifestações mais frequentes atingem a pele e os tecidos moles (celulites, abcessos, furúnculos) e têm uma evolução semelhante à das estirpes meticilina-susceptiveis, nalguns casos sem terapêutica ou com terapêutica antibiótica inadequada2-7. A evolução da resistência do S. aureus aos antibióticos está a ser preocupante noutros países. Após a crescente resistência à penicilina, os primeiros casos de resistência à meticilina (equiparada, para este efeito, à cloxacilina ou à flucloxacilina) apareceram nos EUA e na Europa na década de 1960. Nos EUA, em 1974, 2% das estirpes nosocomiais eram resistentes à meticilina e esse valor passou para 50% em 19972. No que diz respeito às estirpes resistentes à meticilina adquiridas na comunidade, a situação tem-se tornado progressivamente muito preocupante, sobretudo desde 1993. Assim, por exemplo, num hospital pediátrico de Chicago, entre 1988-90, estas estirpes correspondiam a 10:105 admissões, tendo este 85 Acta Pediatr Port 2006:3(37):83-6 número passado para 259:105 em 1993-953. Em dois outros hospitais pediátricos dos EUA, os SaMR adquiridos na comunidade representam na actualidade, respectivamente 59% e 63% da totalidade dos SaMR isolados nessas instituições4. As estirpes adquiridas na comunidade distinguem-se geneticamente e do ponto de vista das resistências aos antibióticos, conforme sejam colhidas em pacientes anteriormente saudáveis ou naqueles em que tenha havido contactos anteriores com estruturas hospitalares ou com pessoal de saúde. Neste último caso – um grupo considerado de risco - as estirpes de S. aureus isoladas têm um padrão de multirresistências semelhantes ao das bactérias nosocomiais ao passo que as estirpes de SaMR adquiridas na comunidade, sem factores de risco, são resistentes aos beta-lactâmicos mas podem ser susceptíveis a múltiplos outros anti-microbianos tais como ao cotrimoxazol, gentamicina, clindamicina, eritromicina, rifampicina3,5. Na Europa não há dados tão aprofundados sobre as estirpes de S. aureus do ambulatório. Estudos britânicos relativos aos anos de 1990-2001 referem que as bacteriémias por S. aureus, em idade pediátrica, se verificaram maioritariamente (53%) em idade inferiores ao ano de idade, mas os dados não permitem distinguir entre infecções nosocomiais e do ambulatório. De qualquer modo a incidência de bacteriémias por SaMR em relação ao total de hemoculturas positivas para esta bactéria, passou de menos de 5% (1991) para 43% (2002)8. Neste contexto, é particularmente importante conhecer a evolução da susceptibilidade dos S. aureus no nosso País. Os últimos dados colhidos num estudo colaborativo inter-hospitalar, de âmbito nacional, indicavam já uma resistência de 100% à penicilina e de cerca de 50% à meticilina, mas não foi possível separar as estirpes adquiridas nos hospitais e as da comunidade9. Os dados do nosso Hospital dos últimos anos têm permitido continuar a defender a utilização da flucloxacilina, sempre que suspeitamos de uma infecção a S. aureus, não grave, adquirida na comunidade. Face ao conjunto dos dados atrás enunciados, parece-nos muito importante iniciar uma monitorização, a nível da pedia- Rodrigues F et al – Staphylococcus aureus da comunidade 0873-9781/06/37-3/87 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria tria nacional, dos dados clínicos e microbiológicos mais relevantes, referentes aos S. aureus adquiridos na comunidade. Agradecimentos: Aos Técnicos do Serviço de Patologia Clínica do Centro Hospitalar, Trindade Marques e Jorge Marques, pela grande disponibilidade e colaboração na pesquisa dos dados solicitados. Referências 1. Flemimg A. In-vitro tests of penicillin potency. Lancet 1942:732-3. 2. MMWR. Four pediatric deaths from community-acquired methicillinresistant S. aureus- Minnesota and North Dakota, 1997-99. JAMA 1999;282:1123-5. 3. Hussain FM, Boyle-Vavra S, Bethel CD, Daum RS. Current trends in community-acquired methicillin-resistant S. aureus at a tertiary care pediatric facility. Pediatr Infect Dis J 2000;19:1163-6. 4. Fergie JE, Purcell K. Community-acquired methicillin-resistant S. aureus infections in South Texas children. Pediatr Infect Dis J 2001;20:860-3. 5. Said-Salim B, Mathema B, Kreiswirth BN. Community-acquired methicillin-resistant S. aureus: an emerging pathogen. Infect Control Hosp Epidem 2003;24:451-5. 6. Dufour P, Gillet Y, Bes M, Lina G, Vandenesch F, Floret, Etienne J, Richet H. Community-acquired methicillin-resistant Staphylococcus aureus infections in France: emergence of a single clone that produces Panton-valentine leukocidin. Clin Infect Dis 2002;35:819-24. 7. Lee MC, Rios AM, Aten FM, Mejias A, Cavuoti D, McCracken GH, Ardí D. Management and outcome of children with skin and soft tissue abscesses caused by community-acquired methicillin-resistant Staphylococcus aureus. Ped Infect Dis J 2004;23:123-7. 8. Khairulddin N, Bishop L, Lamagni TL, Sharland M, Duckworth G. Emergence of methicillin resistant S. aureus (MRSA) bacteriemia among children in England and Wales, 1990-2001. Arch Dis Child 2004;89:378-9. 9. Melo-Cristino J, Alves AF, Calado E, Costa D, Costa MN, Ferro L et al. Microorganismos isolados em laboratórios hospitalares portugueses. Experiência de sete hospitais centrais. Rev Port Doenças Infec 1994;3:147-54. Sensibilidade aos antimicrobianos dos agentes de pielonefrite aguda Susana Pissarra1, J Correia Fonseca2, Helena Jardim1 1 - Departamento de Pediatria, Hospital de São João, Porto 2 - Serviço de Microbiologia, Hospital de São João, Porto Resumo Introdução. O conhecimento do perfil de sensibilidade aos antibióticos das estirpes responsáveis pelas infecções do tracto urinário constitui uma preocupação crescente dos clínicos, com o objectivo de racionalizar a sua utilização empírica. Objectivos. Caracterizar o perfil de resistência aos antimicrobianos dos agentes infecciosos envolvidos na pielonefrite aguda diagnosticada em crianças e testar a efectividade do protocolo de terapêutica antibiótica empírica em curso no Departamento. Metodologia. Revisão retrospectiva dos antibiogramas dos agentes responsáveis por pielonefrite aguda diagnosticada em crianças internadas no Departamento de Pediatria de um Hospital Universitário de Nível III, durante o ano de 2002. Resultados e Conclusões. Os resultados encontrados são sobreponíveis aos descritos 10 anos antes e sugerem que, atendendo aos agentes identificados e sua sensibilidade aos antimicrobianos testados, o esquema de antibioticoterapia empírica em curso, com a associação amoxicilina e ácido clavulânico como fármaco de primeira linha, se mantém efectivo e permite preservar o uso de antibióticos de mais amplo espectro de acção. Palavras-chave: pielonefrite aguda; sensibilidade; antimicrobianos. Acta Pediatr Port 2006;3(37):87-90 Antimicrobial susceptibility on a population of children with acute pyelonephritis Abstract Background. The knowledge of the antibiotic susceptibility profile of bacterial agents involved in urinary tract infection in children has been a major concern of clinicians, as it allows tailoring empirical antibiotic therapy to the specific characteristics of identified local strains. Objectives. To characterize the antimicrobial susceptibility profile of bacterial agents responsible for urinary tract infec- Recebido: Aceite: 86 ARTIGO ORIGINAL 22.07.2005 07.06.2006 tion in children and evaluate current empirical antimicrobial therapy regimen. Methods. Review of the antibiotic susceptibility patterns of agents identified as responsible for urinary tract infection in children admitted to the Paediatrics Department of a Level III University Hospital, during the year of 2002. Results and Conclusions. Results suggest that, given the preponderance of E. coli as the most frequent agent of upper urinary tract infection in this population and its antibiotic susceptibility pattern, the empirical antibiotic therapy instituted in our Department seems adequate and allows the preservation of wider spectrum antibiotics. Key words: acute pyelonephritis; antimicrobial susceptibility Acta Pediatr Port 2006;3(37):87-90 Introdução Ao longo dos últimos anos, tem-se assistido a uma preocupação crescente com a infecção do tracto urinário na idade pediátrica, em particular no que respeita ao seu contributo para a génese da lesão renal definitiva, isoladamente ou em associação com refluxo vesico-ureteral. Esta preocupação justifica uma maior sensibilidade e índice de suspeição dos clínicos e o aumento do número de diagnósticos de pielonefrite naquele grupo etário nas últimas décadas. As contingências de tempo inerentes à dependência de estudos culturais para identificação e estabelecimento de perfil de sensibilidade aos antimicrobianos dos agentes bacterianos etiologicamente envolvidos tem implicado a necessidade da criação de regimes de antibioticoterapia empírica ajustada às susceptibilidades microbianas específicas, assunto que assume tanta mais importância quanto se sabe que a instituição precoce de tratamento antibiótico adequado constitui o único meio documentadamente eficaz de prevenir o estabelecimento da lesão renal definitiva. É consensual que o regime antibiótico empírico deve basear-se no conhecimento detalhado do perfil de sensibilidades específico dos agentes habitualmente isolados em cada instituição e, neste sentido, o conhecimento do perfil de suscepti- Correspondência: Susana Pissarra Departamento de Pediatria Hospital de São João Alameda Prof Hernani Monteiro 4200 Porto E-mail: [email protected] 87 Acta Pediatr Port 2006:3(37):87-90 Pissarra S et al – Antibioticoterapia na ITU bilidade aos antimicrobianos dos agentes bacterianos envolvidos na infecção do tracto urinário permite adequar a escolha empírica da terapêutica às características locais específicas das estirpes identificadas 1-6. No Departamento de Pediatria de um Hospital Universitário de Nível III, o protocolo de tratamento empírico de crianças com diagnóstico de pielonefrite aguda depende da idade da criança. Em crianças com idade superior a três meses, como primeira escolha, é utilizada a associação amoxicilina e ácido clavulânico (A/AcC) ou cefalosporina de terceira geração, no caso de existirem antecedentes conhecidos de infecção recidivante do tracto urinário ou malformação nefro-urológica importante. No período neonatal, e frequentemente até aos três meses de idade, o regime antibiótico empírico inclui a utilização da associação de aminoglicosídeo com ampicilina ou cefalosporina de terceira geração. Quando a evolução clínica o justifica o regime antibiótico inicial é alterado de acordo com o perfil de susceptibilidades antibióticas do agente isolado. Pretende-se determinar a efectividade do protocolo de antibioticoterapia empírica em curso e avaliar a evolução do perfil de sensibilidade aos antibióticos ao longo da última década. Material e Métodos Procedeu-se à avaliação retrospectiva dos registos clínicos de doentes hospitalizados no Departamento de Pediatria de um Hospital Universitário de Nível III, durante o período compreendido entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2002, com o diagnóstico de pielonefrite aguda na admissão ou na alta. Foi obtida informação referente a dados demográficos (sexo, idade), clínicos (antecedentes de patologia nefro-urológica conhecida ou infecção do tracto urinário, terapêutica antibiótica profiláctica em curso, terapêutica instituída e sua eficácia) e microbiológicos (agente identificado e antibiograma). O diagnóstico de pielonefrite aguda foi considerado perante O Enterococcus faecalis foi identificado em 10 uroculturas, sendo coinfectante em 9. Registou-se uma elevada sensibilidade deste agente à penicilina G e à ampicilina (89% dos casos) e à gentamicina (87,5% dos casos), bem como à nitrofurantoína e à vancomicina (100% dos casos). Foi considerada falência da terapêutica antibiótica instituída em caso de persistência de febre ou cultura de urina positiva às 48 a 72 horas de antibioticoterapia. Na maioria das crianças com idade inferior a 3 meses (26/32; 81%), foi instituída antibioticoterapia empírica de acordo com o protocolo em vigor, com a associação de ampicilina e gentamicina (11) ou com cefalosporinas de terceira geração (15) associadas ou não a ampicilina. Não se registou nenhum caso de falência terapêutica. Para avaliar a evolução do perfil de sensibilidade aos antibióticos ao longo da última década, compararam-se os resultados com achados anteriores provenientes de estudo semelhante da mesma instituição abrangendo o período compreendido entre 1994 e 1999, período em que o actual protocolo estava já em uso 7. Resultados Foram obtidos e analisados dados referentes a 131 crianças (F/M: 75/56), com mediana de idade de 11,2 meses (17 dias 12,9 anos), nas quais ocorreram 140 episódios de pielonefrite aguda. Trinta e dois doentes (23%) apresentavam idade inferior a 3 meses à data de diagnóstico da infecção. Em 23 dos 140 episódios não foi possível a identificação do agente envolvido. Nos restantes 117, obtiveram-se 131 uroculturas positivas, que permitiram a identificação de 146 estirpes bacterianas. As bactérias Gram negativas foram os agentes mais frequentemente isolados, destacando-se a Escherichia coli como principal microorganismo envolvido (104; 71,2%). Outros agentes Gram negativos identificados foram Klebsiella pneumoniae (19), Enterococcus faecalis (10), Proteus mirabilis (4), Enterobacter cloacae (3), Morganella morganii (2), Acinectobacter calcoaceticus (1), Proteus vulgaris (1) e Pseudomonas aeruginosa (1). No Quadro I resumem-se os perfis de sensibilidade dos agentes mais frequentemente identificados. 88 Em 14 das 108 crianças com idade superior a 3 meses, não foi possível obter registos acerca do antibiótico utilizado. Das 94 restantes, 79 (84%) cumpriram o protocolo vigente (terapêutica empírica com a associação A/AcC em 65 casos e com cefalosporinas de terceira geração em 14 casos com antecedentes conhecidos de patologia malformativa nefro-urológica). As cefalosporinas de terceira geração foram o antibiótico de primeira escolha em 14 outros casos, nos quais se desconheciam antecedentes de doença renal. Um doente foi medicado com cefalosporina de primeira geração. Registaram-se três casos de falência terapêutica. Em dois doentes infectados K. pneumoniae (n=19) P. mirabilis (n=4) Amoxicilina + ác. clavulânico S I R 77 (74,7%) 17 (16,5%) 9 (8,7%) 10 (55,6%) 5 (27,8%) 3 (16,7%) 4 0 0 Cefalosporinas 1ª Geração S I R 50 (48,5%) 38 (36,9%) 15 (14,6%) 11 (61,1%) 2 (11,1%) 5 (27,8%) 1 2 1 Cefalosporinas 2ª Geração S I R 94 (91,3%) 3 (2,9%) 6 (5,8%) 13 (72,2%) 2 (11,1%) 3 (16,7%) 3 0 0 Cefalosporinas 3ª Geração S I R 102 (99%) 1 0 19 0 0 4 0 0 Cotrimoxazol S I R 80 (77,7%) 0 23 (22,3%) 11 (61,1%) 0 7 (31,9%) 2 0 2 Nitrofurantoína S I R 103 0 0 18 0 0 0 0 4 por Proteus mirabilis sensível in vitro à associação A/AcC registou-se falência terapêutica da antibioticoterapia empírica com esta associação, pelo que se instituiu uma cefalosporina de terceira geração. Um dos doentes medicados com a associação A/AcC revelou-se infectado por estirpe de E. coli resistente in vitro a esta associação (assim como às cefalosporinas de primeira e segunda gerações). Este doente veio a responder a cefalosporina de terceira geração. Vinte e dois doentes encontravam-se à data do presente episódio infeccioso, sob profilaxia antibiótica (16 com trimetroprim, cinco com cotrimoxazol e três com cefalosporinas). Foi possível identificar o agente infectante em 16 destes doentes (12 E. coli, quatro K. pneumoniae, um P. mirabilis e um S. warneri) que em 12 casos se revelou resistente ao antibiótico profiláctico em curso. No Quadro II apresenta-se a comparação entre as proporções de sensibilidade a diferentes antimicrobianos das estirpes de agentes mais frequentemente identificados nos períodos de 1994-1997 e 2002. Ressalta a diminuição significativa da sensibilidade da E. coli às cefalosporinas de primeira geração; não verificamos alteração do padrão de sensibilidade do agente mais prevalente, a E. coli. Quadro II – Sensibilidade a antimicrobianos das estripes bacterianas mais frequentemente identificadas nos períodos 1994-97 e 2002. E. coli K. pneumoniae P. mirabilis Amoxicilina + ác. clavulânico Antibiótico 1994-97 2002 71% 74,7% 66,7% 55,6% 50% 100% Cefalosporinas 1ª Geração 1994-97 2002 79,7% 48,5% 50% 61,1% 50% 25% Cefalosporinas 3ª Geração 1994-97 2002 100% 99% 100% 100% 100% 100% Cotrimoxazol 1994-97 2002 89,8% 77,7% 33,3% 61,1% 0 50% Nitrofurantoína 1994-97 2002 98,6% 100% 100% 94,7% 50% 0 Discussão E. coli (n=103) Legenda: S - sensível; I - sensibilidade intermédia in vitro; R - resistente. Pissarra S et al – Antibioticoterapia na ITU criança geralmente febril, sem foco reconhecido ao exame objectivo, na qual foi possível pôr em evidência marcadores analíticos de infecção (leucocitose com neutrofilia; elevação da PCR), bem como leucocitúria ou crescimento de mais de 105 colónias no exame bacteriológico de urina. Quadro I – Perfis de sensibilidade aos antimicrobianos dos agentes mais frequentes de pielonefrite. Antibiótico Acta Pediatr Port 2006:3(37):87-90 As infecções do tracto urinário na idade pediátrica permanecem um assunto controverso em relação ao qual, apesar do interesse crescente verificado ao longo das últimas décadas, não existem consensos, tanto no que respeita a critérios diagnósticos como a metodologia de investigação e a antibioticoterapia empírica. É conhecida a diversidade de atitudes nas várias escolas, baseadas mais na experiência e opinião do que na evidência. No presente estudo verificou-se que a E. coli continua a ser o agente predominante de pielonefrite, o que está de acordo com resultados prévios nacionais 8 e internacionais. Cerca de 75% das estirpes de E. coli mostraram-se sensíveis in vitro à associação A/AcC, sendo de registar menos de 50% de estirpes sensíveis às cefalosporinas de primeira geração. De realçar que, de todos os casos de resistência ou sensibilidade intermédia da in vitro da E. coli à associação A/AcC em que aquela associação foi utilizada (11), apenas em um ocorreu resistência in vivo com falência terapêutica. Não foi possível obter dados quanto à sensibilidade das E. coli às cefalospo- rinas de segunda geração (que não fazem parte do antibiograma testado para a E. coli na nossa instituição) mas verificamos sensibilidade universal às cefalosporinas de terceira geração, o que sugere um uso criterioso e parcimonioso daqueles fármacos. De assinalar a considerável prevalência de estirpes de E. coli resistentes ao cotrimoxazol, possivelmente na dependência do seu uso frequente na quimioprofilaxia. Das crianças sob profilaxia à data do episódio infeccioso (16,8% da amostra), foi possível constatar uma elevada prevalência (12/16) de infecção por agentes resistentes à antibioticoterapia profiláctica em curso que, contudo, apenas se modificou em dois casos. Verificamos um significativo cumprimento do protocolo de antibioticoterapia empírica recomendado no departamento (83% dos casos). Só em três casos do total de 140 episódios infecciosos houve falência terapêutica, o que traduz uma considerável efectividade do protocolo em vigor. Em 2002 foram publicados os resultados de estudo multicêntrico, envolvendo 18 instituições hospitalares do Norte do 89 Acta Pediatr Port 2006:3(37):87-90 País, que versou aspectos referentes à metodologia diagnóstica e de investigação das pielonefrites, bem como aos agentes bacterianos envolvidos e suas sensibilidades aos antimicrobianos que habitualmente fazem parte dos protocolos de antibioticoterapia empírica 8. Este estudo multicêntrico constatou que, embora no primeiro mês de vida a atitude terapêutica perante o doente com quadro de pielonefrite aguda é relativamente consensual, já nos escalões etários superiores as práticas das diferentes instituições divergem entre as associações A/AcC, ampicilina e aminoglicosídeo, e as cefalosporinas de segunda e terceira geração. Este estudo mostrou também que a taxa de resistências dos agentes mais frequentemente envolvidos varia de instituição para instituição, com valores de resistência à associação A/AcC a variar entre 3 e 42%, às cefalosporinas de primeira geração entre 12 e 40% e às cefalosporinas de terceira geração entre 0 e 14%, provavelmente traduzindo o reflexo de diferentes atitudes terapêuticas empíricas 9. De particular importância é a observação de aumento das resistências às cefalosporinas (de primeira e terceira geração) quando comparados os escalões etários inferior e superior a três meses, possivelmente reflectindo o uso frequente destes antibióticos em ambulatório e o seu impacto no perfil de sensibilidade bacteriana aos antimicrobianos 9. Esta constatação sublinha a importância de políticas antibióticas rigorosas e “poupadoras” dos agentes antimicrobianos de mais largo espectro para as situações cuja gravidade clínica o justifique sob pena de, pelo seu uso indiscriminado, induzir a ocorrência de resistências dos agentes bacterianos envolvidos. Da análise comparativa dos períodos 1994-97 e 2002 ressalta a diminuição significativa da sensibilidade da E. coli às cefalosporinas de primeira geração, reflectindo o possível uso alargado e algo indiscriminado destes fármacos no ambulatório. De salientar também que, apesar do uso prolongado da associação A/AcC como antibiótico de primeira escolha no tratamento da pielonefrite em criança acima dos três meses sem patologia nefro-urológica conhecida, não verificamos alteração, ao longo da última década, do padrão de sensibilidade do agente mais prevalente, a E. coli, que se Pissarra S et al – Antibioticoterapia na ITU 0873-9781/06/37-3/91 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria mantém, também, universalmente sensível às cefalosporinas de terceira geração. Conclusão O protocolo de antibioticoterapia empírica da infecção do tracto urinário em vigor no Departamento de Pediatria revela manter a efectividade e a capacidade de preservar fármacos de mais largo espectro de acção, tais como as cefalosporinas de terceira geração, para uso em situações clínicas cuja gravidade o justifique. Referências 1. Gupta K, Hooton TM, Stamm WE. Increasing antimicrobial resistance and the management of uncomplicated community-acquired urinary tract infections. Ann Inter Med 2001;135:41-50. 2. Ronald A. The aetiology of urinary tract infection: traditional and emerging pathogens. Am J Med 2002;113 (Suppl 1A):14S-9S. 3. Ghiro L, Cracco AT, Sartor M, Comacchio S, Zacchelo G, Dall´Amico R. Retrospective study of children with acute pyelonephritis. Evaluation of bacterial etiology, antimicrobial susceptibility, drug management and imaging studies. Nephron 2002;90:8-15. 4. Mazzulli T. Resistance trends in urinary tract pathogens and impact on management. J Urol 2002;1680:1720-2. 5. Ronald A. The aetiology of urinary tract infection: traditional and emerging pathogens. Dis Mon 2003;49:71-82. 6. Farrell DJ, Morrissey I, De Rubeis D, Robbins M, Felmingham D. A UK multicentre study of the antimicrobial susceptibility of bacterial pathogens causing urinary tract infection. J Infect 2003;46:94-100. 7. F Carvalho, A Oliveira, C Afonso, H Jardim. Análise dos agentes etiológicos de Pielonefrite aguda e sua sensibilidade aos antimicrobianos. Acta Pediatr Port 2000;31:359-62. 8. C Mota, P Matos, L Soares, P Teixeira, C Tavares, A Trindade. Infecções do tracto urinário – diagnóstico, terapêutica e investigação. Nascer e Crescer 2002;11:S192-3 9. C Mota, P Matos, L Soares, P Teixeira, C Tavares, A Trindade. XIV Reunião do Hospital de Crianças Maria Pia. Grupo de Estudos Hospitalares. 2002. Porto, Portugal. Diarreia Aguda por Campylobacter Jejuni Fernanda Rodrigues1, Juan Calvino1, Ana Florinda Alves2, Luís Lemos1 1 - Serviço de Urgência, Hospital Pediátrico de Coimbra 2 - Serviço de Patologia Clínica, Centro Hospitalar de Coimbra Resumo Introdução. As diarreias agudas constituem ainda um motivo muito frequente de atendimento nos Serviços de Urgência, sendo em geral benignas e auto-limitadas. Objectivo. Conhecer a frequência de isolamento de Campylobacter jejuni e as características clínicas desta infecção. Material e métodos. Foi efectuada uma análise retrospectiva dos dados clínicos e epidemiológicos contidos nos processos das crianças com coproculturas positivas para este gérmen, admitidas no Serviço de Urgência (SU), nos anos de 2003 e 2004. Resultados. No período do estudo foram admitidas no SU 7.183 crianças com diarreia aguda e foram feitas 503 coproculturas (7%). Destas, 181 (36%) foram positivas. As bactérias mais frequentemente isoladas foram Salmonella enteritidis e Salmonella typhimurium (54%) seguidas de Campylobacter jejuni (23%). As infecções por Campylobacter jejuni ocorreram sobretudo em crianças no primeiro ano de vida (53%), de meio rural (60%) e apenas 18% dos casos necessitaram de admissão em Unidade de Internamento de Curta Duração. A eritromicina foi utilizada em 3 casos. A evolução foi boa. Conclusão. Também em Portugal o Campylobacter jejuni é um agente etiológico importante de diarreia bacteriana aguda. Está por fazer entre nós a investigação que permita esclarecer as fontes de infecção. Embora a maior parte destas situações tenham uma evolução espontânea favorável, a frequência desta bactéria nas diarreias agudas do ambulatório, pode ter implicações na escolha do antibiótico, nos casos seleccionados em que for decidida a sua prescrição. Palavras-chave: Campylobacter jejuni, diarreia aguda, criança. Acta Pediatr Port 2006;3(37):91-4 Campylobacter Jejuni Acute Diarrhoea Abstract Background. Acute diarrhoea, although usually benign and self-limited, is still a frequent reason for admission at Emergency Departments (ED). Recebido: Aceite: 90 ARTIGO ORIGINAL 25.07.2005 08.06.2006 Aim: To analyse the frequency of Campylobacter jejuni infection and its clinical and epidemiological features. Material and Methods: Retrospective review of the medical records of children with positive stool cultures, from our ED, during 2003 and 2004. Results: During this period, 7.183 children with acute diarrhoea were admitted to our ED. Stool cultures were performed in 503 (7%) and were positive in 181 (36%). The bacteria most frequently isolated were Salmonella enteritidis and Salmonella typhimurium (54%) followed by Campylobacter jejuni (23%). Campylobacter jejuni infections occurred mainly during the first year of life (53%), in the rural area (60%). Only 18% were admitted to the Short Stay Unit being the others discharged home immediately. Erythromycin was prescribed in 3 cases. The outcome was good. Conclusion: In Portugal, Campylobacter jejuni is also an important etiologic agent of acute diarrhoea. Investigation on source of infection among us remains to be done. Despite the outcome being good in most of the cases, the frequency of these bacteria in ambulatory acute diarrhoeas may have implications in the antibiotic choice, for the selected cases in which prescription is decided. Key-Words: Campylobacter jejuni, acute diarrhoea, children. Acta Pediatr Port 2006;3(37):91-4 Introdução O Campylobacter jejuni, isolado pela primeira vez em 1972 nas fezes de doentes com diarreia, é reconhecido actualmente como um importante agente patogénico intestinal 1,2. Nos EUA e nalguns países do norte da Europa é a causa mais frequente de diarreia bacteriana e não tem sido identificado no intestino de indivíduos saudáveis 2. Estudos em diversos países revelaram isolamento frequente desta bactéria nas fezes de gado bovino, porcos, frangos, aves e alguns animais domésticos. Pode também estar presente em fontes de água não tratada com cloro (minas, poços, lagos) ou em leite não pasteurizado. Tem sido também frequentemente Correspondência: Fernanda Rodrigues Serviço de Urgência Hospital Pediátrico de Coimbra Av. Bissaya Barreto 3000-075 Coimbra E-mail: [email protected] 91 Acta Pediatr Port 2006:3(37):91-4 isolado em carne crua ou mal cozinhada (churrascos) de frango, porco ou vaca. A transmissão aos humanos pode ainda fazer-se por contacto com cães e gatos particularmente com os animais jovens ou que apresentam diarreia 1-7. Estão descritos surtos relacionados com a ingestão de água ou leite contaminados e, maioritariamente, com a ingestão de carne de frango inadequadamente cozinhada 1-8. Os mecanismos patogénicos da infecção não são ainda bem conhecidos mas pensa-se que o C. jejuni produz uma toxina que pode provocar a diarreia, podendo também ser invasivo da mucosa intestinal 2. O C. jejuni causa diarreia aquosa ou, em cerca de metade dos casos, com muco e/ou sangue e presença de leucócitos 1-3. Outros sintomas relativamente frequentes são a febre, dor abdominal, náusea ou vómito, cefaleias, mialgias. A doença ocorre habitualmente 2-5 dias após a ingestão de alimentos ou água contaminada e tem uma duração média de 7-10 dias mas as recidivas não são raras (25% dos casos). É referido que os grupos etários mais frequentemente atingidos são as crianças nos primeiros anos de vida e os adultos jovens 1-3. Muitas destas infecções são auto-limitadas mas alguns casos necessitam de terapêutica antibiótica, sendo o C. jejuni habitualmente susceptível à eritromicina 1-3. As complicações desta infecção são relativamente raras ou excepcionais: artrite reactiva, sindroma hemolítico-urémico, septicemia (em doentes imunodeprimidos), meningite, síndrome de Guillain-Barré ou colite recorrente 1-3. Não conhecemos informação epidemiológica recente sobre esta infecção em Portugal. Num estudo referente aos anos de 1984 a 1989, as salmonelas eram ainda as bactérias predominantes mas o C. jejuni era o segundo gérmen mais frequente 9. O presente estudo foi concebido para melhor conhecer a frequência desta bactéria na etiologia dos casos de diarreia aguda observados no nosso Serviço de Urgência (SU). Material e Métodos As bactérias isoladas em coproculturas, referentes a casos de diarreia aguda diagnosticados no Serviço de Urgência e nas Unidades de Internamento de Curta Duração (UICD) do nosso Hospital, nos anos de 2003 e 2004, foram identificadas através do Serviço de Microbiologia. Foi efectuada uma análise retrospectiva dos processos das crianças nas quais foi isolado C. jejuni. A escolha deste período deve-se ao facto de ter sido a partir desta data que a pesquisa de deste gérmen passou a ser feita de modo sistemático, pois até então era apenas efectuada após pedido específico. As fezes foram colhidas por enfermeira para frasco esterilizado e enviadas rapidamente para o Serviço de Microbiologia. Foram cultivadas em meio específico (Campylogel®) a 36ºC. Embora os critérios de realização de coprocultura possam ter alguma variabilidade individual, são orientações gerais do SU, efectua-las nos casos em que estão presentes um ou mais 92 Rodrigues F et al – Diarreia Aguda por Campylobacter Jejuni Acta Pediatr Port 2006:3(37):91-4 dos seguintes sinais/sintomas: diarreia prolongada, presença de muco e/ou sangue, febre elevada ou cólicas abdominais frequentes/intensas. A presença de dejecções com muco e/ou sangue não é habitualmente considerada, só por si, razão para a investigação microbiológica das fezes. No entanto, nalguns casos em que a perda de sangue é mais significativa a coprocultura tem sido pedida mesmo sem outros dos critérios clínicos acima mencionados. Outubro e Novembro mas em todos os meses do ano foram feitos diagnósticos. A maioria das crianças provinha de meio rural mas não há dados que permitam atribuir alguma relação causal a esta constatação. Sendo um estudo retrospectivo, não foi possível averiguar, por falta de registos, qual a possível fonte de infecção. Só excepcionalmente, com efeito, há referência a contactos com animais domésticos ou à proveniência da água ou leite ingeridos ou a hábitos de confecção de alimentos. Não foi efectuada hemocultura em nenhuma destas crianças. Em cada caso foi registado: idade, sexo, data da vinda ao SU, proveniência de ambiente rural ou urbano (foi considerado ambiente urbano a sede de concelho), existência de outros casos na família, presença de muco e sangue, existência de febre, ocorrência de convulsão febril, tratamento efectuado, necessidade de internamento e evolução. Não foi programado, de modo sistemático, um controlo clínico. No entanto, não havendo outro SU hospitalar com atendimento pediátrico urgente em Coimbra (o mais próximo fica a cerca de 50 km), tendo ficado uma coprocultura em curso após a alta e sendo dada indicação para regressar se persistência da clínica, nos casos em que não houve nova vinda ao serviço nos oito dias seguintes, presume-se evolução favorável. Não foi possível analisar a ocorrência de complicações tardias destas diarreias agudas por C. jejuni. Resultados Nos anos de 2003 e 2004 foram observadas no SU 7.183 crianças com diarreia aguda e internadas em UICD 720 (10%), tendo sido efectuadas 503 coproculturas (7%). Foram positivas 181 (36%) e destas crianças, 140 não necessitaram de hospitalização. Foi isolada Salmonella enteritidis em 44 casos (31%), Salmonella typhimurium em 21 (15%), Campylobacter jejuni em 34 (24%), Yersinia eneterocolitica em onze (8%) e outras salmonelas em seis casos. Dos internados em UICD (41) isolou-se Salmonella enteritidis em 29 casos (70%), Salmonella typhimurium em quatro (10%), Campylobacter jejuni em sete (17%) e Yersinia enterocolitica em dois casos. Embora pesquisada sistematicamente, em nenhum caso foi isolada Escherichia coli O157. Foi possível consultar os processos clínicos de 38 das 41 crianças com culturas positivas para C. jejuni. Vinte tinham até 12 meses, 11 tinham entre 13 e 24 meses e 7 tinham 3 anos ou mais. A clínica das crianças até 12 meses não se distinguia das crianças mais velhas no que diz respeito à presença de sangue nas fezes, vómitos e febre. Nenhuma criança teve convulsões febris. A distribuição sazonal está representada na Figura, revelando um número maior de casos em Outubro e Novembro. Vinte e cinco crianças (66%) eram provenientes de ambiente rural. Nos processos de duas crianças havia registo de outros casos concomitantes de diarreia aguda na família. Em 30 casos (79%) havia referência a presença de muco e em 34 (89%) de sangue, nas fezes. A diarreia acompanhava-se de febre (≤39.5ºC) em 24 casos (63%). Foi prescrito antibiótico em dez casos (26%): eritromicina em três; cotrimoxazol em sete. Em treze crianças a evolução foi Rodrigues F et al – Diarreia Aguda por Campylobacter Jejuni Figura 1 – Distribuição sazonal das coproculturas positivas para Campylobacter jejuni (2003-2004). conhecida e boa. Nas restantes não há registo de nova vinda ao SU-HPC nos oito dias seguintes. Dos sete casos internados com C. jejuni, seis tinham menos de um ano, todos tinham sangue, muco e vómitos e 6 tinham febre. Discussão As diarreias agudas constituem ainda um motivo muito frequente de inscrição no nosso SU, pelo que esta patologia continua a ter, do ponto de vista epidemiológico, económico e social, um impacto muito importante em Pediatria. Estas diarreias agudas são de um modo geral benignas e isto é bem ilustrado pelo reduzido número que necessitou de hospitalização em UICD. A proporção de casos em que foram realizadas coproculturas (7%) revela uma grande selectividade na solicitação deste exame, embora os critérios de pedido do mesmo não sejam rígidos e tenham muito em conta a análise de cada caso. Verificamos que apenas 23 % das crianças com coproculturas positivas estiveram internadas em UICD. A maioria tinha situações clínicas benignas que permitiram o regresso ao domicílio após a observação médica. Actualmente, no nosso SU, as S. enteritidis e S. typhimurium constituem as bactérias mais frequentemente isoladas (54%), seguindo-se o C. jejuni (23%). Estes dados não diferem, genericamente, dos referidos no último estudo epidemiológico nacional publicado no início dos anos 90, embora os estudos sejam metodologicamente diferentes 9. Desconhecemos, por falta de dados anteriores, a evolução da frequência da infecção intestinal por C. jejuni em Pediatria, na nossa região e em Portugal. No nosso estudo, tal como no outro publicado em Portugal, em que os autores investigam a etiologia de diarreias agudas 9, a maioria (53%) das crianças com infecção intestinal por C. jejuni estava no primeiro ano de vida. No entanto, dados de países desenvolvidos revelam que a infecção tende a atingir crianças mais velhas 2. A clínica de apresentação não se distinguia dos outros grupos etários. A distribuição sazonal revelou um maior número de casos em Em apenas dois processos clínicos havia registo de outros casos concomitantes de diarreia aguda em membros da família, o que poderia configurar uma fonte de infecção comum. Não temos registo de nenhum surto em que o C. jejuni tivesse sido identificado. A presença de sangue ou muco num número relativamente elevado de casos (89% e 79% respectivamente) constitui certamente um enviesamento de dados, já que as coproculturas são pedidas com muito mais frequência na presença deste tipo de dejecções. A este propósito é bom relembrar que, segundo a literatura, cerca de 50% das infecções intestinais agudas por C. jejuni cursam com diarreia aquosa 1-3, pelo que podemos concluir que, entre nós e também por esta razão, está ainda por quantificar a verdadeira incidência desta infecção em Pediatria. Apenas sete dos 38 casos (18%) de infecção por C. jejuni necessitaram de internamento em UICD. Sendo a clínica desta enterite inespecífica e a evolução das diarreias bacterianas em geral autolimitada, compreende-se que a prescrição de antibióticos seja muito reduzida. A escolha do fármaco foi feita de modo empírico, tendo em conta os germens mais frequentemente isolados e respectivas susceptibilidades 10. Compreende-se que entre nós, na suspeita de uma diarreia de origem bacteriana, seja prescrito inicialmente o cotrimoxazol, ao qual uma grande proporção de Salmonelas, na nossa experiência, é susceptível 10. A utilização inicial da eritromicina, em três casos, foi justificada em dois pelo conhecimento prévio da coprocultura. Apesar de se tratar de um estudo retrospectivo, temos bons motivos para presumir, pelas razões já referidas, que, tal como a literatura aponta, a evolução final dos 28 casos que não regressaram ao SU-HP foi, no conjunto, favorável. Conclusão Tal como já era referido nos EUA e alguns países da Europa, também em Portugal o C. jejuni é um agente etiológico importante de diarreia bacteriana aguda. Está por fazer entre nós a investigação de saúde pública que permita esclarecer as fontes de infecção. Embora a maior parte destas situações tenha uma evolução espontânea favorável, a frequência desta bactéria nas diarreias agudas do ambulatório, pode ter implicações na escolha empírica do antibiótico, se este for indicado, pelas razões acima explicitadas. Agradecimento: Aos técnicos do Serviço de Patologia Clínica do Centro Hospitalar de Coimbra, Trindade Marques 93 Acta Pediatr Port 2006:3(37):91-4 e Jorge Marques, pela grande disponibilidade e colaboração na informação microbiológica solicitada. Referências 1. Altekruse SF, Stern NJ, Fields PI, Swerdlow DL. Campylobacter jejuni – an emerging foodborne pathogen. Emerg Infect Dis 1999;5:28-35. 2. Crushell E, Harty S, Sharif F, Bourke B. Enteric Campylobacter: purging its secrets? Pediatr Res 2004;55:3-12. 3. Carrique-Mas J, Andersson Y, Hjertgvist M, Svensson A, Torner A, Giesecke J. Risk factors for domestic sporadic campylobacteriosis among young children in Sweden. Scand J Infect Dis 2005;37:101-10. 4. 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Potential virulence and antimicrobial susceptibility of Campylobacter jejuni isolates from food and companion animals. Foodborne Pathog Dis 2004;1:223-30. Isabel Carvalho, Graça Ferreira, António Vilarinho 8. Kuusi M, Klemets P, Miettinen I, Laaksonen I, Sarkkinen H, Hanninen ML et al. An outbreak of gastroenteritis from a non-chlorinated community water supply. J Epidemiol Community Health 2004;58:273-7. Resumo 9. Cabrita J, Pires I, Vlaes L, Coignau H, Levy J, Goossens H et al. Campylobacter enteritis in Portugal: epidemiological features and biological markers. Europ J Epidemiol 1992;8: 22-6. 10. Lemos L. Germes do ambulatório: susceptibilidade aos antibióticos e implicações na terapêutica (síntese dos dados nacionais e do serviço de Urgência do Hospital Pediátrico 1991-2002). Saúde Infantil 2003;25(3):5-14. Serviço de Pediatria – Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia Contexto. Nos Serviços de Urgência Pediátricos, os doentes referenciados por outros profissionais de saúde representam uma proporção importante dos atendimentos diários. A actuação coordenada entre os cuidados de saúde primários e secundários permitiria uma melhor assistência à população e racionalização dos recursos de saúde. Objectivos. Identificar os motivos e a adequação da referenciação de crianças ao Serviço de Urgência, quais as atitudes em meio hospitalar após a sua observação clínica. Metodologia. Estudo descritivo transversal, com componente analítico, das crianças referenciadas à Urgência de Pediatria, nos dias úteis das 08:00 às 24:00, no período de Fevereiro a Julho de 2003. A referenciação foi considerada adequada caso se verificasse algum dos seguintes critérios: necessidade de realização de exames, necessidade de observação por outra especialidade, terapêutica no Serviço de Urgência ou necessidade de internamento. Resultados. A amostra obtida foi de 132 crianças, das quais 25% foram referenciadas por falta de capacidade de atendimento no Centro de Saúde. A referenciação pelos Centros de Saúde (65%) ocorreu principalmente no período das 12:00 às 20:00 (60%). O principal motivo de envio foi a sintomatologia respiratória (28,3%). No Serviço de Urgência, em 58,6% dos doentes foram realizados exames complementares de diagnóstico e foi necessária a observação por outra especialidade em 18,2% dos casos. Em 53,5% das crianças o diagnóstico definitivo foi infecção respiratória. A maioria (53%) necessitou de terapêutica no Serviço de Urgência e a necessidade de internamento verificou-se em 15% dos casos. A referenciação foi considerada adequada em 82% da amostra. Conclusões. É fundamental o reforço de médicos nos Centros de Saúde, nomeadamente a existência do Pediatra Comunitário, a realização de alguns exames complementares, bem como alguns tipos de terapêutica. A melhoria da ligação comunidade/serviços de saúde e a adequação do recurso às urgências hospitalares reduziria o número de crianças observadas no Serviço de Urgência Pediátrico. Palavras-chave: Urgência pediátrica, referenciação, adequação. Acta Pediatr Port 2006;3(37):95-100 Recebido: Aceite: 94 ARTIGO ORIGINAL 20.12.2005 07.06.2006 Analysis of Pediatric emergency department’s referral Abstract Background. In Paediatric Emergency Departments, the patient’s referral by other health professionals represents an important proportion of the daily attendance. Coordinated action between primary and secondary health care systems would allow a better assistance to the population and the rationalization of health resources. Objective. To identify the causes and adequacy of referral of children to the Paediatric Emergency Department and the attitudes taken at the hospital after their clinical observation. Methods. A cross-sectional study with analytic component was performed during workdays from 08:00 to 24:00, from February to July 2003, focussing infants referred to the Paediatric Emergency Department by other health care units. The referral was considered as adequate if some of the following was verified: need for complementary exams, observation by another specialty, therapy in the Emergency Department or admission required. Results. A sample of 132 children was obtained. 25% were referred due to the absence of attending capacity at Primary Care Centres. The majority was referred by Primary Care Centres (65%), in the period of 12:00 to 20:00 (60%). The main motive for referral was related to respiratory symptoms (28.3%). In the Emergency Department, complementary exams were carried out in 58.6% of the patients and the observation by another specialty was necessary in 18.2% of the cases. The majority (53%) needed therapy in the Emergency Department. Respiratory infection was the definite diagnosis in 53,5% of the children. Admission was required in 15% of the cases. Referral was considered as adequate in 82% of the sample. Conclusions. Increasing the number of Primary Care Health physicians and the existence of Community Paediatricians, as well as the possibility of performing some complementary exams and therapies, should contribute for the reduction of the number of infants referred to Emergency’s departments and to a better adequacy of referral, resulting in an improvement in health care services. Correspondência: Isabel Carvalho Serviço de Pediatria Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia – Unidade 2 Rua Dr. Francisco Sá Carneiro 4400 Vila Nova de Gaia E-mail: [email protected] 95 Acta Pediatr Port 2006:3(37):95-100 Key-words: Paediatric emergency, referral, adequacy. Acta Pediatr Port 2006;3(37):95-100 Introdução A população residente na Região Norte era em 2001 de 3.727.300 residentes, dos quais 255.680 com idades compreendidas entre os 0-14 anos. Vila Nova de Gaia (VNG) é o Concelho mais populoso da Região Norte, com 287.749 indivíduos (Censos 2001), sendo aquele com maior ganho na população residente entre 1991 e 2001 (mais 39.000 habitantes)1. Em VNG existem seis Centros de Saúde (CS): Arcozelo, Barão do Corvo, Boa Nova, Oliveira do Douro, Carvalhos e Soares dos Reis, e dois Serviços de Atendimento de Situações Urgentes (SASU): Soares dos Reis e Carvalhos. O Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia é a única entidade prestadora de cuidados de saúde secundários. De acordo com um protocolo de actuação estabelecido com os vários centros de saúde em Julho de 1998, as crianças devem, em situação de doença aguda, dirigir-se ao centro de saúde em que estão inscritos. Caso este não disponha de capacidade de atendimento, devem ser encaminhados para o SASU, que funciona nos dias úteis das 20:00 às 24:00 e aos fins-de-semana e feriados das 08:00 às 24:00. Nos dias úteis, no período das 08:00 às 20:00, o doente é referenciado ao Serviço de Urgência de Pediatria (SU) sempre que o profissional do centro de saúde considere necessário. Outros locais que referenciam crianças para o SU de Pediatria são as clínicas, consultórios privados e hospitais. Os objectivos deste estudo foram identificar os motivos de referenciação ao SU de Pediatria, quais as atitudes seguidas em meio hospitalar e determinar qual a proporção de adequação da referida referenciação. Metodologia Realizou-se um estudo transversal com componente analítico no período de Fevereiro a Julho de 2003. Seleccionou-se uma amostra por etapas sucessivas. Do total de dias de urgência foram aleatoriamente seleccionados quinze dias úteis (segunda e terça feiras) das 08:00 às 24:00, nos quais se recolheram os dados das crianças referenciadas ao SU. Carvalho I et al – Referenciação à Urgência Pediátrica As respostas obtidas foram codificadas e registadas em suporte informático (Microsoft Excel®). Para a análise dos dados utilizou-se o programa informático SPSS for Windows 13.0‚. Na análise estatística utilizaram-se os testes de quiquadrado e exacto de Fisher. Considerou-se estatisticamente significativo um p<0,05. Resultados A amostra obtida foi de 132 crianças. Destas, 25% foram enviadas pelo administrativo do CS referindo incapacidade de atendimento do mesmo, reduzindo a amostra total para 99 crianças. A proporção de crianças referenciadas variou entre 7-16% do total de crianças observadas no SU nos dias analisados. A mediana da idade foi de 2,5 anos, com uma idade mínima de 5 dias e máxima de 14 anos. Quarenta e um por cento tinham idades compreendidas entre 1 e 5 anos. O período de tempo de maior referenciação ao SU de Pediatria foi entre as 12:00 e as 20:00 (60%), sendo apenas 17% da amostra referenciada no período da manhã (08:00 às 12:00). Os locais de referenciação foram: CS (65%), SASU (12%), hospitais (9%), pediatra assistente (2%) e outros (12%). A referenciação pelo CS ocorreu maioritariamente no período da tarde (72%) e pela consulta de reforço (53%). Apenas 30% foram observadas pelo seu próprio médico assistente. A referenciação por hospitais correspondeu na maioria (66%) a crianças observadas no nosso próprio hospital e que necessitaram de reavaliação 24 a 48 horas após o primeiro recurso ao SU. Analisando as crianças referenciadas por um médico no centro de saúde, num hospital, no SASU ou clínica privada, verificamos que o principal motivo de envio foi a sintomatologia respiratória (28,3%). Doze por cento foram enviadas unicamente pela necessidade de realização de exames complementares de diagnóstico (EAD) e 12% pela necessidade de observação por outra especialidade que não a Pediatria (Figura1). Relacionando o motivo com o local de envio verificou-se que o principal motivo de envio de todos eles foi a sintomatologia respiratória. O CS referenciou também crianças com sintomatologia gastrointestinal (19%) e pela necessidade de realização de EAD (17%), enquanto que do SASU, Consideraram-se como critérios de inclusão: crianças enviadas pelos centros de saúde, pediatra assistente, clínicas privadas e outros hospitais e crianças enviadas do seu centro de saúde pela incapacidade de capacidade de atendimento do mesmo. 96 Carvalho I et al – Referenciação à Urgência Pediátrica exame de eleição, efectuada em 94% das crianças enviadas por sintomatologia respiratória. Em 18 referenciações (31%) efectuou-se mais do que um tipo de exame complementar. O “rastreio séptico” foi realizado em 22% das crianças, sendo mais frequente em crianças com menos de um ano de idade (41%) e nas referenciadas pela necessidade de EAD (27%). Menos de metade das crianças com febre sem foco (40%) realizaram “rastreio séptico”. outros motivos importantes de referenciação foram a febre sem foco (17%) e sintomatologia neurológica (17%), nomeadamente convulsões e meningismo. No grupo etário de um a cinco anos a referenciação ocorreu principalmente por sintomas respiratórios (34%) e febre sem foco (19,5%). A maior proporção de referenciação pela necessidade de realização de EAD ocorreu nas crianças com menos de 1 ano de idade (Quadro I). No SU, a maioria das crianças referenciadas foi observada apenas pelo pediatra (80,8%). As outras especialidades mais solicitadas foram otorrinolaringologia (61%) e cirurgia pediátrica (33%). Cinquenta e oito por cento das referenciações pela “necessidade de observação por outra especialidade” necessitaram de facto dessa observação, sendo também esta relação estatisticamente significativa (p = 0,02). A atitude no SU dividiu-se em simples observação clínica (40,4%) e observação com realização de exames complementares (58,6%). Em todas as referenciações ocorridas unicamente pela necessidade de realização de algum exame complementar, este foi necessário, sendo esta relação estatisticamente significativa (p = 0,03). Cerca de metade (54,5%) das referenciações por febre sem foco não necessitaram de exames complementares (Quadro II). Em 53% das crianças referenciadas foi necessária a realização de alguma terapêutica no SU. A aerossolterapia foi a mais frequente (27%), tendo sido prescrita em 78,6% das referenciações por sintomatologia respiratória. Os exames complementares foram agrupados em cinco categorias: analíticos (hemograma, bioquímica, PCR), fita teste urinária, microbiológicos (hemocultura, Uricult‚, coprocultura, cultura de liquor), imagiológicos (radiografia, tomografia computorizada, ecografia, ressonância nuclear) e outros (serologias e estudo imunológico). O diagnóstico de saída foi patologia respiratória em 53,5% dos casos, sendo este o principal diagnóstico entre as referenciações por febre sem foco (73%). Analisando o total de crianças enviadas nas quais foi diagnosticada patologia respiratória verificamos que a maioria (55%) Os exames complementares realizados corresponderam em 72% a exames imagiológicos, sendo a radiografia pulmonar o Quadro I – Distribuição do motivo de referenciação por idade. Idade (anos) Motivo de Referenciação <1 ≥1<5 ≥ 5 < 10 ≥ 10 < 14 Total Patologia respiratória 6 14 8 0 28 Patologia gastrointestinal 5 6 3 1 15 Febre sem foco 3 8 0 0 11 Patologia neurológica 0 3 4 1 8 Doença dermatológica 1 3 3 0 7 Traumatismos 2 3 0 0 5 Realização de exames complementares 6 2 2 2 12 Observação por outra especialidade 1 2 6 3 12 Outros 0 0 0 1 1 Total 24 41 26 8 99 Quadro II – Distribuição do motivo de referenciação por atitude no Serviço de Urgência. Atitude no SU Observação clínica Realização de exames complementares Desconhecida Total Patologia respiratória 12 16 0 28 Patologia gastrointestinal 9 6 0 15 Febre sem foco 6 5 0 11 Patologia neurológica 4 3 1 8 Doença dermatológica 3 4 0 7 Motivo de Referenciação A recolha de dados foi efectuada através do preenchimento de um formulário pelo médico do SU após a observação da criança (Anexo). A referenciação foi considerada adequada quando cumpria algum dos seguintes critérios: realização de exames complementares de diagnóstico, necessidade de internamento, necessidade de observação por outra especialidade (que não a Pediatria), necessidade de tratamento em meio hospitalar. Acta Pediatr Port 2006:3(37):95-100 Figura 1 – Motivo de referenciação ao Serviço de Urgência de Pediatria. (alt. – alterações; obs. – observação; sint. – sintomas). Traumatismos 0 5 0 5 Realização de exames complementares 0 12 0 12 Observação por outra especialidade 6 6 0 12 Outros 0 1 0 1 Total 48 58 1 99 97 Acta Pediatr Port 2006:3(37):95-100 Carvalho I et al – Referenciação à Urgência Pediátrica correspondeu a bronquiolite / infecção das vias aéreas inferiores. Outras patologias respiratórias foram a otite média aguda (17%), infecção das vias aéreas superiores (amigdalite, laringite aguda, rinofaringite aguda) (23%), crise de asma (9%) e suspeita de aspiração de corpo estranho (2%). As restantes tiveram como diagnósticos de saída: doença gastrointestinal (gastroenterite aguda, vómitos) (16%), infecção urinária (1%), patologia cirúrgica (6%), exantemas (6%), síndrome virusal (2%), traumatismos (5%) e doença neurológica (4%). Sessenta e oito por cento das crianças referenciadas foram orientadas para o seu médico assistente e 16% para a consulta externa. O internamento verificou-se em 15% e predominou nos casos de patologia respiratória (26,7%) e gastrointestinal (20%). Das crianças com necessidade de terapêutica para o domicílio (84%), 36% foram medicadas com antibiótico e destas, 97% corresponderam a patologia respiratória (p = 0,00). Outras terapêuticas prescritas foram: hidratação oral fraccionada (11%) e broncodilatadores / desobstrução nasal com soro fisiológico (19%). A maioria (41%) das crianças referenciadas permaneceu no SU 1 a 3 horas. O período de tempo relacionou-se principalmente com a necessidade de realização de EAD, uma vez que a maioria das crianças que não os necessitaram (51%) permaneceu no SU menos de 1 horas e que as que necessitaram permaneceram 1 a 3 horas (54,5%). De acordo com os critérios estabelecidos, a referenciação foi considerada inadequada em 18% dos casos, correspondendo em 28% a crianças enviadas por febre sem foco (Quadro III). A referenciação foi adequada em 100% dos casos referenciados pela necessidade de realização de EAD e por traumatismos. Não foram encontradas associações estatisticamente significativas entre a adequação da referenciação e a idade da criança, a proximidade do Centro de Saúde e a hora de envio. Acta Pediatr Port 2006:3(37):95-100 (18% vs. 65%-69%)5,7,8. No entanto, a variabilidade percentual relaciona-se com os critérios de adequação utilizados, muitas vezes subjectivos, e com o tipo de amostra estudada. Em Portugal existem poucos estudos publicados relativamente a este tema. Num estudo realizado na área de Lisboa, em que se pretendeu determinar os principais motivos de recurso à urgência de Pediatria, verificou-se que 48% das crianças referenciadas necessitaram de cuidados hospitalares, o que se aproxima da proporção obtida no nosso estudo 9. Motivo de Referenciação Adequada Total Patologia respiratória 25 3 28 Patologia gastrointestinal 13 2 15 Febre sem foco 6 5 11 Patologia neurológica 5 3 8 Doença dermatológica 5 2 7 Traumatismos 5 0 5 Realização de exames complementares 12 0 12 Observação por outra especialidade 9 3 12 Outros 1 0 1 Total 81 18 99 Discussão O recurso a um Serviço de Urgência Pediátrico relaciona-se com vários factores: a falha na capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários, a residência a menos de 10 quilómetros do hospital da área, idade da criança inferior a 7 anos e o tempo de evolução doença (1 a 4 dias) 2-5. Estes factores conduzem à designação de “hiperfrequentadores” de urgências: crianças trazidas repetidamente ao SU, na sua maioria por situações clínicas não urgentes 3. Verifica-se que os pais destas crianças correspondem também a “hiperfrequentadores” 6. Este conceito justifica provavelmente o facto das crianças analisadas neste estudo corresponderem a uma proporção pequena do número total de crianças observadas no SU. Ou seja, as crianças que recorrem repetidamente ao SU sem serem observadas inicialmente por outro médico, logo, sem serem referenciadas, são as que contribuem para o elevado número de atendimentos diários nos serviços de Urgência Pediátricos. No estudo apresentado, e de acordo com a época em que foi realizado (Fevereiro a Julho), a maior percentagem de refe98 Inadequada mentares de diagnóstico (radiografia de tórax, análises), poderá também ser relevante para a melhoria da ligação comunidade/hospital e adequação do recurso às urgências hospitalares. Referências 1. Censos 2001 – Instituto Nacional de Estatística. Acessível em http://www.ine.pt A elevada proporção de adequação na referenciação de crianças ao SU resulta dos critérios estabelecidos na metodologia deste estudo e, consequentemente, do facto de uma proporção significativa da amostra ter necessitado de algum tipo de terapêutica em meio hospitalar. Ou seja, os doentes são, na sua maioria, correctamente referenciados uma vez que os CS não dispõem de EAD, alguns tipos de terapêutica, nomeadamente aerossolterapia, e de pediatra. 2. Armentina SLL, Celada SR, Rabanal MG, Fernández MG, Abdallah I, Aparício HG. Estudio epidemiológico de las urgências en un hospital general. Factores implicados en una demanda inadecuada. An Esp Pediatr 1996;44:121-5. Conclusões 5. Antón MD, Pena JC, Santos R, Sempere E, Martínez J, Perula LA. Demanda inadecuada a un servicio de urgências pediátrico hospitalario: factores implicados. Med Clin (Barc) 1992;99:743-6. Quadro III – Distribuição do motivo de envio e adequação da referenciação. Referenciação Carvalho I et al – Referenciação à Urgência Pediátrica O reforço dos Cuidados de Saúde Primários é prioritário, uma vez que 25% dos doentes desta amostra foram referenciados sem observação médica. Deste modo, a existência de mais médicos nos CS, assim como a criação do Pediatra Comunitário, permitirá aumentar a sua capacidade de resposta, assim como o grau de confiança da população nos Cuidados de Saúde Primários. Tal reduziria o afluxo de crianças ao SU de Pediatria e contribuiria para a criação de normas de articulação entre os Cuidados de Saúde Primários e as urgências hospitalares de Pediatria. A possibilidade de realizar algumas terapêuticas nestas unidades, em particular aerossolterapia e exames comple- 3. Fuente DO, Moreno SP. Utilización de los servicios de urgências hospitalarios por niños menores de dos años. An Pediatr 2003;58:23-8. 4. Marco GMT, Rodriguez FM, Gobierno HJ, Gonzalez GT, Cabrera LA, Perez ML. Accesibilidad a las urgências pediátricas hospitalarias: distancia y médios diagnósticos. Aten Primaria 1994;14:873-6. 6. Mistry RD, Hoffmann RG, Yauck JS, Brousseau DC. Association between parentral and childhood emergency department utilization. Pediatrics 2005;115:147-51. 7. Lapeña S, Reguero S, García M, Gutiérrez M, Abdallah I, González H. Estudio epidemiológico de las urgencias en un hospital general. Factores implicados en una demanda inadecuada. An Esp Pediatr 1996;44:121-5. 8. Marco MT, Rodríguez M, Gobierno J, González T, Cabrera A, Pérez L. Accesibilidad a las urgencias pediátricas hospitalarias: distancia y medios diagnósticos. Aten Primaria 1994;7:873-6. 9. Barroso MJ, Ferreira GC, Machado MC, Lemos PS. Referenciação Pediátrica – Que relidade? Acta Pediatr Port 2003;34(2):89-93 renciações ocorreu por patologia respiratória, nomeadamente por bronquiolites / infecções respiratórias. No entanto, questionamo-nos acerca da elevada percentagem de crianças que realizaram exames radiológicos e que foram medicadas com antibiótico. Tal poderá ser justificado pela incapacidade em reavaliar a grande maioria das crianças observadas no SU, quer pela ausência de pediatras nos centros de saúde, quer pelo número insuficiente de clínicos gerais, uma vez que a reavaliação clínica da criança às 24 a 48h permitiria uma melhor adequação da terapêutica prescrita. É de salientar a existência de uma proporção significativa de crianças (25%) referenciada pelo administrativo do CS, não sendo correctamente avaliados o tipo de patologia e a sua gravidade. A diminuição do número de médicos no período da tarde, assim como o número insuficiente dos mesmos impedindo o funcionamento regular da consulta de reforço, poderá justificar a maior proporção de referenciação no período das 12:00 às 20:00 horas. Quando comparamos os resultados obtidos com outros estudos, nomeadamente em Espanha, verificamos que a proporção de inadequação do nosso estudo é bastante inferior 99 Acta Pediatr Port 2006:3(37):95-100 Carvalho I et al – Referenciação à Urgência Pediátrica 0873-9781/06/37-3/101 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Anexo – Questionário utilizado. 1. Sexo: 1) Masculino / 2) Feminino 2. Idade: 1) ≤ 1 ano / 2) > 1 ≤ 5 anos / 3) > 5 ≤ 10 anos / 4) > 10 ≤ 14 anos Megacalicose Congénita. Um raro caso clínico 3. Período de chegada ao SU: 1) 8 - 11.59 H / 2) 12 - 19.59 H / 3) 20 - 24 H Carla Pereira Cifuentes, Leonor Real Mendes, Sandra Lobo, Carla Santos, Lígia Domingues 4. Local de envio: 1) Centro de Saúde / 2) SASU / 3) Hospital / 4) Pediatra assistente / 5) Outros Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de Cascais 5. CS de envio: 1) Soares do Reis / 2) Carvalhos / 3) Boa Nova / 4) Arcozelo / 5) Barão do Corvo / 6) Oliveira do Douro / 7) Outros 6. Profissional do CS: 1) Médico assistente / 2) Consulta de reforço 7. Qual o SASU: 1) Soares do Reis / 2) Carvalhos 8. Qual o Hospital: _________________________________ 9. Motivo de envio: 1) Sem capacidade de atendimento / 2) Necessidade de realização de exames complementares de diagnóstico / 3) Necessidade de observação por outra especialidade (que não a Pediatria) / 4) Febre sem foco / 5) Sintomas respiratórios / 6) Sintomas gastrointestinais / 7) Alterações cutâneas / 8) Sintomas neurológicos / 9) Traumatismos / 10) Outros 10. Atitude no SU: 1) Apenas observação clínica / 2) Observação clínica e realização de exames complementares 11. Qual ou quais os exames realizados? 1) Estudo analítico (Hemograma, Bioquímica, PCR) / 2) Fita teste urinária / 3) Estudos microbiológicos (Uricult, Hemocultura,…) / 4) Imagiológicos (Radiografia, TAC, Ecografia, RMN) / 5) Outros (serologias, imunologia,…) 12. Qual ou quais as especialidades? 1) ORL / 2) Cirurgia / 3) Ortopedia / 4) Outras 13. Terapêutica no SU: 1) Nenhuma / 2) Aerossoloterapia / 3) Antipirético, analgésico / 4) Hidratação oral fraccionada / 5) Outra 14. Diagnóstico definitivo: 1) Doença respiratória (passa a 16) / 2) Doença gastrointestinal / 3) Patologia genitourinária / 4) Patologia cirúrgica / 5) Doença dermatológica / 6) Febre de provável etiologia vírica / 7) Traumatismos / 8) Doença neurológica / 9) Outros 15. Qual a doença respiratória? 1) Otite / 2) Bronquiolite / Infecção das Vias Aéreas Inferiores / 3) Infecção das Vias Aéreas Superiores / 4) Crise de asma / 5) Outra 16. Orientação: 1) Médico Assistente / 2) Consulta externa / 3) Internamento 17. Terapêutica para o domicílio: 1) Nenhuma / 2) Antipirético / 3) Broncodilatador / 4) Antibiótico / 5) Reforço hídrico oral / 6) Outra 18. Tempo de permanência no SU: 1) ≤ 1 H / 2) > 1 ≤ 3 H / 3) > 3 ≥ 6 H / 4) > 6 H Resumo A megacalicose é uma malformação renal congénita rara, caracterizada pela dilatação homogénea dos cálices renais, de natureza não obstrutiva e não evolutiva. Esta entidade é frequentemente um achado ocasional em exames imagiológicos efectuados, no contexto de infecção urinária ou de litíase renal, podendo também ser diagnosticada no estudo pós-natal de hidronefrose detectada numa ecografia fetal. Apresenta-se o caso clínico de uma criança do sexo feminino, com o diagnóstico pré-natal de hidronefrose, internada na primeira semana de vida com o diagnóstico de pielonefrite aguda por Escherichia coli. No estudo ecográfico subsequente, com um mês de vida, detectou-se ectasia de múltiplos cálices no rim direito, sem dilatação do bacinete ou uréter homolaterais, sugerindo o diagnóstico de megacalicose. Palavras-Chave: megacalicose, malformação renal, hidronefrose, ecografia fetal. Acta Pediatr Port 2006;3(37):100-3 Congenital Megacalycosis Abstract Megacalycosis is a rare renal congenital malformation, characterized by homogenous dilatation of the renal calyces, with a nonobstructive and non-evolutionary nature. This entity is usually an occasional finding in imagiologic studies, in the context of urinary infection or renal lithiasis, and may also be diagnosed during a post-natal study of hydronephrosis detected in fetal ultrasound. A female child, with prenatal diagnosis of hydronephrosis, was admitted during the first week of life with the diagnosis of acute pyelonephritis caused by Escherichia coli. The sonography performed at one month of life, detected dilatation of multiple calyces on the right with no distension of the renal pelvis or ureter, suggesting the diagnosis of megacalycosis. Key Words: megacalycosis, renal malformation, hydronephrosis, fetal ultrasound. Acta Pediatr Port 2006;3(37):100-3 Recebido: Aceite: 100 CASO CLÍNICO 28.06.2005 11.05.2006 Introdução A megacalicose congénita é uma entidade clínica caracterizada pela dilatação homogénea e frequente aumento do número de cálices renais, de natureza não obstrutiva nem evolutiva. O uretero, o bacinete e o parênquima renal são normais e apenas a medula renal se encontra reduzida 1. Trata-se de uma malformação congénita renal, rara, descrita pela primeira vez em 1963 por Puigvert 1-3. A etiopatogenia da megacalicose não está ainda claramente definida, sendo a teoria mais consensual a de que se trate de uma alteração da embriogénese com ausência do desenvolvimento das últimas dicotomizações tubulares que deveriam formar a pirâmide de Malpighi, o que condiciona a hipoplasia medular e dilatação calicial subsequente 4. Alguns autores descrevem casos de transmissão autossómica recessiva 5, mas na generalidade não existe hereditariedade. Pode ainda surgir associada a síndromes polimalformativos 6,7. Em 80% dos casos, esta patologia é unilateral e tem uma maior prevalência no sexo masculino (10:1) 1. Esta entidade carece de sintomas específicos, sendo frequentemente um achado ocasional em exames imagiológicos efectuados em crianças com infecção urinária ou litíase renal 1,8, assim como em estudos pós-natais de hidronefrose fetal 2. Por se tratar de uma situação clínica não evolutiva, existe consenso quanto ao tratamento conservador da megacalicose 8. Apresenta-se este caso, dada a raridade da patologia, salientando a importância da suspeição clínica na abordagem diagnóstica. Caso Clínico Lactente de 10 meses, sexo feminino, caucasiana. Primeira filha de pais jovens, não consanguíneos, sem doenças de carácter heredo-familiar. Na ecografia pré-natal realizada às 21 semanas, observou-se o bacinete direito com 6 mm, medindo às 28 semanas 4,8 mm. O parto, às 38 semanas, foi eutócico. O recém-nascido teve um índice de Apgar: 9 (1º minuto), 10 (5º minuto) e parâmetros somatométricos no percentil 25 para a idade gestacional. Correspondência: Lígia Domingues Serviço de Pediatia Centro Hospitalar de Cascais Rua Dr. Francisco Avilez 2750-349 Cascais 101 Acta Pediatr Port 2006:3(37):100-3 Cifuentes CP et al – Megacalicose Congénita Ao segundo dia de vida foi efectuada ecografia renal que mostrou rim direito com 51 mm de diâmetro bipolar, com discreta redução da espessura do parênquima, dilatação do grupo calicial superior e inferior e do uréter proximal; rim esquerdo de 47 mm, sem ectasia da árvore excretora. sem intercorrências, mantendo quimioprofilaxia com trimetoprim. Com uma semana de vida foi realizada cistografia retrógrada, que não revelou refluxo vesico-ureteral. No presente caso, o diagnóstico de megacalicose foi sugerido pelo estudo ecográfico pós-natal de hidronefrose detectada numa ecografia fetal. Ao nono dia de vida, foi internada na Unidade de Neonatologia, com o diagnóstico de pielonefrite aguda por Escherichia coli, tendo sido medicada com ampicilina e gentamicina endovenosas durante dez dias. A função renal e o ionograma não apresentavam alterações. Teve alta medicada com trimetoprim em dose profiláctica e indicação para acompanhamento numa consulta de apoio uro-nefrológico. No estudo ecográfico subsequente, com um mês de vida, detectou-se ectasia de múltiplos cálices do rim direito, sem dilatação do bacinete ou uretero homolaterais, sugerindo o diagnóstico de megacalicose (Figura 1). Nesta altura foi realizado renograma com DTPA, com prova de furosemida, cujas curvas funcionais tinham um perfil de acumulação contínua, de forma simétrica e resposta eficaz bilateralmente após o estímulo diurético, apesar de mais lenta à direita; comportamento renográfico a favor de dilatação, mais acentuada à direita, sem evidência de obstáculo significativo à drenagem. Acta Pediatr Port 2006:3(37):100-3 3. Puigvert A. Megacaliosis: Diagnóstico diferencial con la hidrocaliectasia. Med Clin 1963;41:294-302. 4. Arias JGP, Arrieta IG, Tamayo VE, Gonzalez JGI, Catalina AJ, Malfaz CB. Megacalycosis and lithiasis. Arch Esp Urol 1995; 48:310-4. Discussão 5. Lam AH. Familial megacalyces with autossomal recessive inheritance. Report of 3 affected siblings. Pediatr Radiol 1988;19:28-30. Cifuentes CP et al – Megacalicose Congénita 6. Herman TE, Sweetser DA, McAlister WH, Dowton SB. SchinzelGiedion syndrome and congenital megacalyces. Pediatr Radiol.1993;23:111-2. 7. Briner V, Thiel G. Hereditary Poland syndrome with Megacalycosis of the right kidney. Schweiz med Wochenschr 1988;118:898-903. 8. Arambasic J, Puseljic S, Angebrandt S, Puseljic I. Rare renal anomalies in childhood. Acta Med Croatica 2003;57:83-5. As imagens ecográficas estabelecem um diagnóstico de forte presunção ao revelar uma marcada ectasia calicial sem dilatação do bacinete, contrariamente ao que se observa na hidronefrose obstrutiva onde o bacinete está muito dilatado e adopta uma forma esférica. A ecografia também permite identificar hipoplasia medular com córtex renal normal, característica da megacalicose, com alteração da razão córtex/medula para valores próximo a 1:1 (sendo o normal 1:3) 1. O diagnóstico definitivo é feito pela urografia de eliminação, onde se observa um rim ligeiramente aumentado, com boa captação e sem sinais de obstrução. Há uma dilatação de todos os cálices cujo número pode estar aumentado. Tendo em conta esta forte presunção diagnóstica dada pela ecografia, optou-se pela não realização da urografia da eliminação, dados os potenciais riscos deste exame para a criança. Tal como descrito na literatura, no caso relatado a malformação é unilateral e não se verificou até à data alteração da função renal. O renograma dos doentes com megacalicose normalmente não mostra alterações. A curva renográfica de drenagem na criança apresentada era mais lenta no rim com malformação, no entanto, tal como suposto, a função renal é normal e simétrica. Embora raras, estão descritas complicações em doentes com formas bilaterais de megacalicose, nomeadamente deterioração da função renal secundária a defeitos de concentração e acidificação da urina 1. Figura 1 – Ectasia de múltiplos cálices à direita sem dilatação do bacinete ou uréter homolaterais. Repetiu-se a ecografia renal aos dois e aos seis meses de vida, mantendo ectasia de múltiplos cálices do rim direito, sem dilatação do bacinete ou do uréter homolaterais, com crescimento harmonioso de ambos os rins, diferenciação corti co-medular e espessura cortical normais, sugerindo estabilização ecográfica. As uroculturas mensais foram negativas e a função renal e ionograma efectuados com um, dois e seis meses de vida não mostraram alterações. Aos dez meses, foi efectuada cintigrafia renal com DMSA, que evidenciou rins sem assimetrias de dimensões, com contornos regulares e sem evidência de lesões focais; função renal relativa sem assimetrias significativas. Esta criança continua a ser acompanhada na Consulta de Apoio Uro-Nefrológico, encontrando-se clinicamente bem, 102 Por haver uma maior incidência de infecção urinária, urolitíase e hematúria 8, a criança apresentada mantém seguimento periódico em consulta de apoio uro-nefrológico, sendo preconizada a avaliação analítica e gamagráfica periódicas da função renal. A quimioprofilaxia com trimetoprim nesta patologia não é consensual. A apresentação deste caso, apesar da sua raridade, pretende salientar que a megacalicose deve fazer parte do diagnóstico diferencial da hidronefrose diagnosticada numa ecografia pré-natal. Referências 1. Company AV, Piñera JG, Cano RR, Junquera CG, Lillo ML. Megacaliosis diagnosticada en el estudio de una hidronefrosis prenatal. An Esp Pediatr 2001;54:74-7. 2. Hill LM, Macpherson T, Romano L, Gahagan S. Prenatal Sonographic Findings of Fetal Megacalycosis. J Ultrasound Med 2002;21:1179-81. 103 Acta Pediatr Port 2006:3(37):104-6 0873-9781/06/37-3/104 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria CASO CLÍNICO Infección por Neisseria meningitidis: Presentación clínica atípica Miguel Fajardo Olivares1, Yolanda Marañon Prat2, María Teresa Muñoz Lozano1, Luis Zarallo Cortés3, María José Fernández Reyes3 1 - Sección de Microbiología. Hospital Universitario Maternal e Infantil. Badajoz. Spain 2 - Servicio de Análisis Clínicos. Hospital Universitario Infanta Cristina. Badajoz. Spain 3 - Unidad de Enfermedades Infecciosas. Servicio de Pediatría. Hospital Universitario Maternal e Infantil. Badajoz. Spain Resumen Neisseria meningitidis es el principal agente productor de meningitis y septicemia en la infancia. Desde la aparición de la vacuna conjugada antimeningocócica frente a los serogrupos A y C, el meningococo B es el más frecuentemente aislado en muestras clínicas. Todas las especies de Neisseria presentan antígenos comunes no capsulados de superficie, que podrían dar lugar a reacciones inmunes cruzadas entre ellas. Este hecho es bien conocido entre Neisseria lactamica y Neisseria meningitidis. Aunque la clínica de la infección es generalmente grave, con alta morbi-mortalidad, la formación de anticuerpos anti Neisseria lactamica en pacientes colonizados tendría un efecto protector frente a la infección por meningococo, y sería responsables de la variabilidad de los síntomas. Presentamos el caso de una bacteriemia por meningococo B, cuya clínica fue de trombopenia transitoria, en un paciente sano y correctamente vacunado según el calendario vacunal de su Comunidad Autónoma. Era portador faríngeo de Neisseria lactamica pero no de Neisseria meningitidis. Palabras clave: Neisseria meningitidis, serogrupo B, bacteriemia, trombopenia, Neisseria lactamica. Acta Pediatr Port 2006;3(37):104-6 Infection due to Neisseria meningitidis Abstract Neisseria meningitidis is the main agent causing meningitis and septicaemia in childhood. From the appearance of the conjugate vaccine against A and C serogroups, B meningococcus is the most frequently serogroup causing invasive disease. All Neisseria species present a common non capsular surface antigen that could create some crossed immunity reaction among them. This fact is well known between Neisseria lactamica and Neisseria meningitidis. Although the clinic of the infection is usually serious, with high morbidity and mortality, the production of antibodies against Neisseria lactamica in colonized patients should give them some Recebido: Aceite: 104 27.10.2005 03.05.2006 protection against meningococcus infection, that could explain the variability of symptoms. We present a case of transitory thrombopenia with B meningococcal bacteremia in a healthy and correctly vaccinated patient. He carries Neisseria lactamica but not Neisseria meningitidis in his pharynx. Key words: Neisseria meningitidis, B serogroup, bacteremia, thrombopenia, Neisseria lactamica. Acta Pediatr Port 2006;3(37):104-6 Introdução Neisseria meningitidis es el principal agente etiológico de la meningitis bacteriana en la infancia y un importante patógeno productor de septicemia 1. Desde la implantación de la vacuna conjugada de forma sistemática a partir del año 2000 frente al serogrupo C, es el serogrupo B el más frecuentemente implicado en la producción de infecciones 2. Desde entonces, no se ha descrito ningún caso de infección meningocócica por serotipo C en niños vacunados, siendo además, la incidencia mucho menor que frente al serotipo B en pacientes no vacunados. La septicemia puede cursar con un grado variable de morbilidad, aunque generalmente presenta gran afectación general, y además, una elevada mortalidad 3. Otoscopia, auscultación cardiopulmonar y abdomen sin alteraciones. No presentaba vómitos ni signos de hipertensión intracraneal, petequias ni rash cutáneo, por lo que no se realizó punción lumbar. En las pruebas complementarias destacaron 12300 leucocitos/ml con 72% de polimorfonucleares, 43000 plaquetas/ml y proteína C reactiva de 36 mg/dl. El estudio de la coagulación (tiempo de protrombina, tromboplastina parcial activado, fibrinógeno y degradación de la fibrina) fueron normales. Ac anti antiplaquetarios y antinucleares negativos. No se detectaron alteraciones en IgG: 348 mg/ dl, IgA: 53 mg/dl y IgM: 80 mg/dl. No se detectaron anticuerpos IgG mediante ELISA frente a citomegalovirus ni virus de Epstein-Barr. Anticuerpos anti antígeno Australia: 438 mUI/ml. Se extrajo sangre para hemocultivo y se instauró tratamiento con suero glucohiposalino, acetato potásico, gluconato cálcico, paracetamol y dieta absoluta. A las 24 horas de incubación del hemocultivo crecieron colonias que, mediante tinción de Gram, aparecieron como diplococos Gram negativos, y fueron identificadas mediante el sistema Api NH (bioMèrieux) como Neisseria meningitidis con un 99.9% de fiabilidad. Se realizó aglutinación mediante partículas de látex (bioMèrieux), perteneciendo al serogrupo B. Se instauró terapia antibiótica con ceftriaxona 100 mg por kg de peso y día durante diez días. A las 48 horas, el niño se encontraba afebril y se inició tolerancia líquida. Presentaba 10500 leucocitos/ml con 60% de polimorfonucleares y 82000 plaquetas/ml. Cuatro días después de finalizado el tratamiento antibiótico, presentó 8920 leucocitos/ml con 57% de polimorfonucleares, 481000 plaquetas/ml, proteína C reactiva de 7 y hemocultivo negativo, siendo dado de alta. Tres meses después, se tomaron muestras faringeas del paciente y sus padres. En el niño y su padre se aisló Neisseria lactamica. Ninguno de los tres fue portador de Neisseria meningitidis. Relato Presentamos un caso de trombopenia transitoria como síntoma principal de una infección por meningococo B, en un paciente sano que había recibido tres dosis de vacuna a los dos, cuatro y seis meses de vida. Se trataba de un lactante de nueve meses de edad, que acudió al Servicio de Urgencias del Hospital, por presentar fiebre de 38.5ºC que cedía parcialmente con antitérmicos, vómitos y diarrea de 24 horas de evolución. No presentaba enfermedades previas de interés y se encontraba correctamente vacunado. En la exploración física se apreció buen estado general, con ligera hiperemia faringoamigdalar. Correspondência: Miguel Fajardo Olivares Sección de Microbiología Hospital Universitario Maternal e Infantil C/ Damián Téllez Lafuente s/n 06010 Badajoz. España E-mail: [email protected] Discusión Diversas especies de Neisseria colonizan la mucosa nasofaríngea en las primeras semanas de vida, sobre todo Neisseria lactamica, que alcanza una prevalencia del 59% a los cuatro años de edad 4. Neisseria meningitidis alcanza el 25% en la infancia y adolescencia y el 10% en los adultos, pudiendo llegar al 100% durante épocas de epidemias en comunidades cerradas. En los niños menores de cinco años la prevalencia es del 2% aproximadamente 1,5. Es un diplococo Gram negativo productor de dos importantes procesos infecciosos: meningeo y sanguíneo, este último en forma de bacteriemia oculta o de septicemia. La presentación clínica de la infección sanguínea es variable. Generalmente, se caracteriza por la aparición súbita de fiebre, exantema purpúrico o petequial, a veces maculopapular, no pruriginoso, y de aproximadamente 48 horas de duración. Además, puede producir sepsis fulminante, con hipotensión, hemorragia adrenal aguda y fallo multiorgánico 6. El hombre es el único huésped natural del microorganismo y adquiere inmunización frente al meningococo desde la infancia. Olivares MF et al – Trombopenia por Neisseria meningitidis Numerosos investigadores aceptan hoy día que la colonización nasofaríngea y entérica por diferentes especies de Neisseria estimulan la producción de anticuerpos frente a antígenos no capsulares de la superficie bacteriana, que son compartidos entre todas las especies de Neisseria. Especialmente los niños portadores de Neisseria lactamica desarrollan anticuerpos con actividad bactericida que se unen a los serogrupos A, B y C de Neisseria meningitidis. Esto podría explicar la adquisición de inmunidad cruzada entre las diferentes especies de Neisseria, al estar colonizado por alguna de ellas, y que daría cierto grado de inmunidad frente al meningococo 4,7,8. De hecho, tanto la población colonizada como la no colonizada presentan anticuerpos homólogos y heterólogos frente a Neisseria meningitidis 10. En este caso, Neisseria meningitidis produjo una clínica con poca afectación general, siendo lo más llamativo el bajo número de plaquetas. No se encontraron otros procesos infecciosos ni enfermedades que pudieran dar lugar a la trombopenia. Además, el niño mejoró de su sintomatología con el tratamiento antibiótico específico. La identificación del microorganismo se realizó mediante pruebas bioquímicas estandarizadas, de uso común en los laboratorios de microbiología clínica hospitalarios. Alrededor de un 20% de las cepas de Neisseria lactamica aglutinan con algún serogrupo del meningococo, siendo aquellas de tipo autoaglutinables o poliaglutinables 9. Esta cepa aglutinó únicamente al serogrupo B. La sensibilidad de la prueba es superior al 80% cuando se realiza directamente sobre muestra, aumentando al ser sobre colonias bacterianas, y además presenta una especificidad superior al 99% en todos los casos, por lo que al resultar también negativa las aglutinaciones con sueros anti A y C, no está indicado en el protocolo de nuestro hospital realizar pruebas diagnósticas mediante técnicas de biología molecular, para confirmar que se trataba de un meningococo 11. Dado que existe un alto porcentaje de personas colonizadas por Neisseria meningitidis a nivel nasofaríngeo 4, para descartar un posible efecto inmune protector frente al meningococo en este paciente, se realizaron tomas de muestras nasofaríngeas a los padres y al niño, tres meses después de la suspensión del antibiótico. Tanto el paciente como su padre eran portadores de Neisseria lactamica, pero no de Neisseria meningitidis. Finalmente, presentamos un caso de septicemia por Neisseria meningitidis serogrupo B con poca afectación general del paciente, y donde lo más llamativo es la trombopenia aislada producida, sin que hallamos encontrado en la literatura médica (hasta Junio de 2005) otros casos similares. Serán necesarios futuros estudios que pongan de manifiesto cuáles son los antígenos que comparten estas dos especies de Neisseria, tanto para poder correlacionar el efecto protector que puedan tener los pacientes colonizadas por Neisseria lactamica, frente a la intensidad de las manifestaciones clínicas producidas por Neisseria meningitidis, como para desarrollar vacunas frente al serotipo B a partir de cepas de Neisseria lactamica. 105 Acta Pediatr Port 2006:3(37):104-6 Referências 1. Swartley JS, Marfin AA, Edupuganti S, Liu LJ, Cieslak P, Perkins B, et al. Capsule switching of Neisseria meningitidis. Proc Natl Acad Sci 1997;94:271-6. 2. Vermont CL, Dijken HH, Limpt CJ, Groot R, Alphen L, Dobbelsteen GP. Antibody abidity and immunoglobulin G isotype distribution following immunization with a monovalent meningococcal B outer membrane vesicle vaccine. Infect Immun 2002;70:584-90. 3. Apicella MA. Cocos Gramnegativos. In Mandell GL, Douglas RG, Bennett JE, editors Principles and Practice of Infectious Diseases. 4th ed. New York: Churchill Livingstone; 1995. p1896-909. 4. Trotter CL, Gay NJ, Edmunds WJ. The natural history of meningococcal carriage and disease. Epidemiol Infect 2005;20:1-11. 5. Control of meningococcal disease: guidance for consultants in communicable disease control. Comm Dis Rep 1995;5:189-90. 6. Rosenstein NE, Perkins BA, Stephens DS, Popovic T, Hughes JM. Meningococcal disease. N Eng J Med 2003;344:1378-88. Olivares MF et al – Trombopenia por Neisseria meningitidis 0873-9781/06/37-3/107 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria 7. Gorringe AR. Can Neisseria lactamica antigens provide an effective vaccine to prevent meningococcal disease? Expert Rev Vaccines 2005;4:373-9. 8. Gorringe AR, Halliwell D, Matheson M, Reddik K, Finney M, Hudson M. The development of a meningococcal disease vaccine based on Neisseria lactamica outer membrane vesicles. Vaccine 2005;18:22103. 9. Saenz-Nieto JA, Dominguez JR, Monton JL, Cristobal P, Fenoll A, Vazquez J, et al. Carriage of Neisseria meningitidis and Neisseria lactamica in a school population during an epidemic period in Spain. J Hyg 1985;94:279-88. 10. Kim JJ, Mandrell RE, Griffiss JM. Neisseria lactamica and Neisseria meningitidis share lipooligosaccharide epitopes but lack common capsular and class 1, 2 and 3 protein epitopes. Infect Immun 1989;57:602-8. 11. Kaldor J, Asznowicz R, Buist D. Latex agglutination in diagnosis of bacterial infections with special references to patient with meningitis and septicaemia. Ann J Clin Pathol 1977;68:284-9. Estágio de Oncologia Pediátrica: pilar fundamental para a formação do Pediatra Nuno Farinha Unidade de Hematologia e Oncologia Pediátrica do Hospital de S. João, Porto Resumo A importância da formação em Oncologia Pediátrica durante o Internato Complementar é indiscutível. O cancro é actualmente a segunda causa de morte após os dois anos de vida. A referenciação atempada permite a melhoria do prognóstico, tanto vital como funcional. No entanto, numerosos doentes são ainda referenciados tardiamente em muitas áreas oncológicas. A formação em Oncologia Pediátrica, por razões estruturais e organizativas, é dificilmente realizada em Portugal durante a frequência de outros estágios, tais como de Pediatria Geral. È igualmente de referir que a Oncologia Pediátrica tem áreas específicas que contribuem para melhorar a abordagem global do Pediatra Geral tais como o contacto com doentes terminais, a pesquisa incessante de medicina baseada na evidência, a polifarmacologia, a infecção no doente imunocomprometido, a nutrição, os distúrbios electrolíticos, a abordagem da dor, a gestão do doente complexo fora do contexto de cuidados intensivos, os efeitos a longo prazo da terapêutica e a qualidade de vida da criança. Se no Internato for dada prioridade absoluta à vertente de formação tendo os estágios objectivos claros e a serem respeitados, é indiscutível que a Oncologia Pediátrica é um estágio fundamental para a formação no Interno Complementar, não só para evitar um retrocesso na Saúde Pública mas também para complementar e aprofundar a formação de Pediatria Geral. Acta Pediatr Port 2006;3(37):107-8 Paediatric Oncology: a cornerstone for the training of the Paediatrician Summary A training period in Paediatric Oncology is fundamental in the paediatric residency. After the age of two years, cancer is currently the second cause of death. An early referral improves the vital and functional prognosis of cancer. However, delayed referrals are still frequent in many areas of Paediatric Oncology. Recebido: Aceite: 106 EDUCAÇÃO MÉDICA 03.05.2006 13.05.2006 In Portugal, because of the structure and organization of the health system and residency programs, training in Paediatric Oncology is not usually feasible during other periods of training like the rotations in the general paediatric wards. It must also be stressed that Paediatric Oncology has specific areas that contribute to improve the holistic knowledge and child assessment of the General Paediatrician such as the contact with dying patients, permanent search of evidence based medicine, polypharmacology, infection, nutrition, electrolytic disorders, pain control, management of complex patients outside the intensive care setting, long term effects of chemotherapy and quality of life of the child. If during the residency in Paediatrics we can assure that training is the priority, and the objectives of each training period are respected the specificity of Paediatric Oncology makes it clear that a training period in this subspeciality during the residency is fundamental not only to prevent a retrogression in Public Health but also to improve the training in General Paediatrics of the Resident. Acta Pediatr Port 2006;3(37):107-8 A Oncologia Pediátrica foi das áreas que mais se desenvolveu nos últimos 50 anos graças, entre outros, à existência de grupos cooperativos e à melhoria dos cuidados de suporte, que permitiram terapêuticas cada vez mais complexas e agressivas. A importância da formação em Oncologia Pediátrica é indiscutível. O cancro é actualmente a segunda causa de mortalidade após os dois anos de idade, e em países que melhoraram a prevenção dos acidentes, tal como em Inglaterra, tornou-se na primeira causa de mortalidade após os quatro anos de vida, o que deve tornar esta patologia uma prioridade em Saúde Pública. A referenciação atempada permite a melhoria do prognóstico, tanto vital como funcional. A passagem dos internos pelo Serviço de Hematologia e Oncologia Pediátrica foi acompanhada de uma melhoria na precocidade e qualidade da transferência destes doentes para os centros diferenciados. No Correspondência: Nuno Farinha Unidade de Hematologia e Oncologia Pediátrica Hospital de S. João, Porto Alameda Prof. Hernâni Monteiro 4200-319 Porto E-mail: [email protected] 107 Acta Pediatr Port 2006:3(37):107-8 Farinha N – Estágio de Oncologia Pediátrica entanto, não só tal deveria continuar como também melhorar. Numerosos doentes são ainda hoje referenciados tardiamente em muitas áreas oncológicas. Como exemplo paradigmático refiro os doentes com retinoblastoma, cuja sintomatologia não é valorizada em consultas de pediatria, o que leva a terapêuticas mais agressivas, incluindo a enucleação, e a um prognóstico mais reservado. Tal poderia ser evitado se o doente tivesse sido enviado antes. sivos, trata-se da área onde os distúrbios electrolíticos são mais complexos. A formação em Oncologia Pediátrica, quer por razões estruturais quer organizativas, é dificilmente realizada durante a frequência de outros estágios, ao contrário do que se pode passar noutras valências. Na maioria das subespecialidades, aquando da abordagem global da criança, o Interno adquire conhecimentos em áreas fora da subespecialidade em questão, como conhecimentos de Desenvolvimento, Neurologia, Pneumologia ou Gastrenterologia, mas só excepcionalmente de Oncologia Pediátrica. 10 - A Oncologia Pediátrica permite aprofundar a gestão do doente complexo fora do contexto de cuidados intensivos, com grandes implicações psicossociais e necessidade imperiosa de uma abordagem holística continua. Para além da formação oncológica em si, considero que um estágio de Oncologia Pediátrica melhora significativamente a formação do Interno em Pediatria. A Oncologia Pediátrica tem áreas específicas que vêm melhorar a abordagem global do Pediatra Geral: b. Integração funcional no Serviço. O Interno, como médico, integra a equipa assistencial, oferecendo ao Serviço os seus conhecimentos anteriores na observação dos doentes, tomando assim contacto com as patologias existentes e participando nas discussões. 1 – O contacto com doentes terminais após doença prolongada, com a presença do espectro da morte, muitas vezes desde o início da doença, permite uma maior sensibilização do interno para o conceito de humanização. c. Formação Individualizada. Para além da vertente anterior, é oferecido quase diariamente um programa de ensino individualizado, permitindo ao Interno beneficiar profunda e plenamente do estágio e cumprir os objectivos de formação. Esta formação individualizada é condição sine qua non para que o interno se torne autónomo. 2 - Os efeitos a longo prazo. Mais do que em qualquer outra área, a Oncologia Pediátrica permita ao Interno aperceber-se das consequências de terapêuticas que podem comprometer a vida adulta e estar atento a tais problemas, que também existem, embora com menor intensidade, noutras subespecialidades. 3 - Estudos multicêntricos. Os progressos da Oncologia Pediátrica devem-se a ensaios de grupos cooperativos e pesquisa incessante de medicina baseada na evidência. Hoje é impensável trabalhar em Oncologia sem uma integração em grupos cooperativos internacionais. Os esquemas terapêuticos em Oncologia Pediátrica são pensados ao abrigo de medicina baseada na evidência ou inseridos em ensaios que posteriormente nos permitam obter tal evidência. Tal abordagem é igualmente fundamental para toda a patologia pediátrica sobretudo no que diz respeito a entidades nosológicas mais raras. 4 - Farmacologia. Dada a grande toxicidade dos esquemas terapêuticos utilizados nesta subespecialidade, a discussão sobre polifarmacologia atinge níveis excepcionais em Pediatria. 5 - Infecciologia: a Infecciologia Oncológica Pediátrica é considerada a caixa de ressonância da Pediatria. Para além das entidades específicas, também na Oncologia existem infecções da comunidade, que tomam aqui outras proporções devido ao estado imunológico da criança. A reflexão sobre a infecção e sobre a gestão de antibióticos tem uma importância primordial nesta área, com relevante interesse formativo. 6 - A Nutrição. É uma preocupação constante e com impacto particular nessa área. 7 - Distúrbios electrolíticos. Para além dos cuidados inten108 8 – A abordagem da dor é uma preocupação constante, tanto no que diz respeito à dor provocada pela doença e tratamento como na dor provocada por exames complementares. 9 - A noção de Qualidade de Vida da criança nesta subespecialidade atinge uma importância única. 0873-9781/06/37-3/109 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria As novas curvas da OMS para a avaliação do crescimento do lactente e da criança António Guerra Departamento de Pediatria, Hospital de São João. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto se construírem novas curvas preferencialmente prescritivas, ou seja, que traduzissem o perfil de crescimento de crianças em ambiente favorável. Estou, no entanto, consciente de algumas limitações formativas. Considero poder haver quatro vertentes nos estágios: As principais preocupações com as curvas do NCHS centravam-se na utilização de dados do Fels Research Institute 3. O criticismo suscitado pelas curvas do NCHS incidia particularmente em quatro aspectos. O primeiro relacionava-se com o facto de a amostra utilizada não ser representativa do país. Na realidade, os dados do Fels Institute (1929 a 1975) reportavam-se apenas a indivíduos caucasianos, da classe média e oriundos da mesma região (sudoeste de Ohio). Em segundo lugar, a maioria dos lactentes incluídos foi alimentada com fórmulas lácteas. Em terceiro lugar, o peso ao nascer dos indivíduos incluídos divergia dos observados a nível nacional. Finalmente, era muito marcada a disjunção registada entre a faixa etária dos 24 aos 36 meses no que se refere ao comprimento/estatura 4,5. a. Estágio de Observação. O Interno observa e discute o que se passe, sem grande envolvimento. d. Autonomia. Com supervisão mais à distância. As vertentes b e d podem ser mal interpretadas e rapidamente subvertidas, transformando-se em trabalho para colmatar as carências do Serviço. A formação individualizada necessita da disponibilidade de numerosas horas diárias de especialistas para formar e acompanhar o Interno. Infelizmente, penso que na maioria dos casos, dada a sobrecarga assistencial, a formação da Oncologia Pediátrica se faz mais na vertente b, o que não permite um benefício pleno do estágio. No entanto, o essencial num programa formativo é assegurar que seja exactamente isso: formativo. Se a prioridade da vertente de formação for assegurada, tendo em conta as especificidades desta valência, não tenho qualquer dúvida de que a Oncologia Pediátrica é um estágio fundamental para a formação da Pediatria Geral, sobretudo em Pediatria Hospitalar. Metaforicamente, diria que a Oncologia Pediátrica pode ser vista como um modelo quase experimental, onde a gravidade da patologia e a intensidade do tratamento levam a situações paradigmáticas para a formação em Pediatria Geral. Num espaço de tempo curto pode ser oferecida ao interno formação sobre problemas complexos que se aplicam em Pediatria Geral e são extremamente úteis na prática diária. Em conclusão, como Pediatra considero fundamental que haja um estágio obrigatório de Oncologia Pediátrica no Internato Complementar, com objectivos claros e a serem respeitados, não só para evitar aquilo que se poderia chamar um retrocesso na Saúde Pública mas também para complementar e aprofundar a formação de Pediatria Geral do Interno. COMENTÁRIO A avaliação antropométrica permite avaliar o crescimento e o estado de nutrição individual e populacional, e assim identificar os desvios da normalidade. Os parâmetros antropométricos sistematicamente avaliados incluem o peso, o comprimento/estatura e o perímetro cefálico. Outros parâmetros com utilidade na caracterização nutricional são os perímetros do braço, coxa e perna, bem como diferentes pregas cutâneas (tricipital, bicipital, subescapular e supra-ilíaca). Os dados da avaliação individual ou populacional devem ser apresentados sob a forma de percentis ou serem expressos em percentagens para o percentil 50 ou ainda, preferencialmente, em Z-scores. Isto significa que os valores resultantes das avaliações antropométricas devem ser confrontados com valores relativos a curvas de referência. A OMS adoptou na década de 1970 as curvas de crescimento de 1977 do National Center for Health Statistics (NCHS) 1, que foram até recentemente amplamente utilizadas na prática clínica pediátrica com o objectivo de avaliar o estado de nutrição e de monitorizar o crescimento individual 2. Desde o final da década de 1980 que a OMS vinha reconhecendo a inadequação das curvas, particularmente as referentes aos primeiros anos de vida, apelando à necessidade de Recebido: Aceite: 06.05.2006 99.99.9999 Em 2000, o Center for Disease Control and Prevention (CDC) concluiu a construção de novas curvas de crescimento 6. Para tal foram revistas as curvas de 1977 do NCHS quer para os lactentes (0 a 36 meses) quer para as crianças mais velhas (2 aos 20 anos) e foram criadas as curvas respeitantes ao índice de massa corporal para a idade. Estas curvas constituem um instrumento de avaliação do crescimento e do estado de nutrição mais representativo da diversidade rácicoétnica e do perfil de aleitamento registados nos Estados Unidos 6. Estas novas curvas, com resultados expressos quer em percentis, quer em Z-scores, vieram substituir as curvas do NCHS de 1977 7. Foram estas as curvas que recentemente a Direcção Geral de Saúde adoptou, e bem, para o nosso país, depois de há cerca de três décadas ter adoptado as curvas do NCHS de 1977, seguindo aliás as recomendações da OMS. Uma das principais limitações das curvas de 1977 relacionava-se com a reduzida expressão de lactentes alimentados ao peito, ao contrário do que ocorre com os lactentes das amostras incluídas nas curvas de 2000 do CDC. Não será demais relembrar as recomendações no sentido da prática do aleitamento materno exclusivo no primeiro semestre de vida e sua manutenção durante todo o período de diversificação ali- Correspondência: António Guerra E-mail: [email protected] 109 Acta Pediatr Port 2006:3(37):109-12 mentar até pelo menos ao ano de vida 8-10. Esta atitude reflectese no perfil de crescimento, que é diferente nos lactentes exclusivamente amamentados nos primeiros meses de vida, como é consensualmente registado em múltiplos estudos que registam, particularmente para o peso, valores superiores nos primeiros meses de vida nos alimentados exclusivamente com leite materno 11-17. Alguns investigadores verificaram que, apesar de uma prevalência e duração de aleitamento materno claramente superior nos indivíduos incluídos no trabalho do CDC relativamente aos englobados no estudo do NCHS, as curvas de 2000 do CDC referentes ao peso ainda não correspondiam exactamente ao peso de lactentes alimentados ao peito pelo menos até aos 12 meses 18,19. Na realidade, o peso médio dos amamentados é superior ao valor correspondente ao percentil 50 das curvas do CDC em lactentes abaixo dos 6 meses e inferior ao percentil 50 acima dos 6 meses 18,19. Na sequência das preocupações então expressas pela OMS relativamente à inadequação das curvas de 1977, novas curvas têm vindo a ser construídas desde o início da década de 1990, utilizando dados de lactentes e crianças saudáveis 11, 20, 21. Foi também perseguindo o mesmo objectivo que, desde meados da década de 1990, a OMS, em colaboração com a United Nations University’s Food and Nutrition Program, United Nations Children’s Fund, CDC e vários governos, deu início ao processo tendente à construção de novas curvas de crescimento. Estas curvas seriam elaboradas com base num estudo misto multi-continental incidindo em lactentes e crianças dos 0 aos 71 meses, com amostras altamente selectivas de indivíduos oriundos das cidades de Davis (Estados Unidos), Muscat (Oman), Oslo (Noruega), Pelotas (Brasil), Accra (Gana) e da região sul de Deli (Índia), e de acordo com critérios de inclusão que garantissem o crescimento em ambiente favorável e por isso de acordo com o seu potencial genético 22. Este estudo, denominado de Multicenter Group Reference Study (MGRS), foi planeado e concretizado, sendo para tal seleccionados lactentes e crianças saudáveis de famílias privilegiadas, reduzindo-se o impacto negativo de factores ambientais adversos. Pretendeu-se assim reunir amostras populacionais de diferentes regiões e continentes, tendo em conta o reconhecimento de que as crianças têm um perfil de crescimento semelhante em todas as regiões do Mundo, desde que crescendo em ambiente favorável e com adequados cuidados de saúde. A recolha de dados decorreu entre 1997 e 2003, tendo o estudo incluído uma vertente longitudinal (lactentes dos 0 aos 24 meses) e uma vertente transversal, englobando amostras de crianças dos 18 aos 71 meses. Para a componente longitudinal do estudo foram seleccionados apenas recém-nascidos (RN) de termo de famílias com uma situação ambiental e económica favorável e com uma postura positiva relativamente às recomendações alimentares dos lactentes (leite materno exclusivo ou predominante nos primeiros 4 meses, início de diversificação alimentar entre os 4 e os 6 meses e manutenção do aleitamento materno até pelo menos aos 12 meses). A atitude relativa a estes critérios de inclusão foi reconfirmada aos 15 dias de vida. Foram incluídos nesta componente do estudo 1743 lactentes dos quais 903 110 Guerra A – Novas curvas da OMS (51,8%) cumpriram integralmente as três recomendações alimentares referidas nos critérios de inclusão. Os critérios de exclusão incluíram os nados de pretermo ou de partos múltiplos, bem como os RN com problemas de saúde ao nascer. Foram ainda seleccionados alguns RN de termo, mas leves para a idade gestacional (peso ao nascer < 2.500 g) correspondentes a 2,3 % do total da amostra global. Para a componente transversal do estudo, a selecção das crianças seguiu os mesmos critérios de inclusão/exclusão do estudo longitudinal, com a excepção do regime de aleitamento, tendo sido aceites lactentes com um mínimo de duração de 3 meses de aleitamento materno (exclusivo ou não). A amostra total avaliada nesta componente do estudo foi de 6697 crianças. Refira-se que a duração do aleitamento materno foi para a globalidade da amostra de 14,3 ± 7,9 meses. A totalidade das crianças estudadas correspondentes aos seis centros foi assim de 8440. Os parâmetros antropométricos avaliados foram o peso, o comprimento/estatura, os perímetros cefálico e do braço e ainda as pregas cutâneas tricipital e subescapular. Foram agora publicados apenas os resultados referentes aos primeiros dois parâmetros 23. Refira-se que o estudo incluíu na sua componente longitudinal uma avaliação do desenvolvimento motor (seis pontoschave) cujos resultados foram também agora publicados 23. Os autores justificam a análise conjunta dos dados obtidos nos seis países pela grande similaridade, relativamente aos valores antropométricos, observada nas crianças dos seis países, o que permitiu assim a construção de curvas padrão internacionais para os primeiros cinco anos de vida. Estes resultados vêm confirmar os obtidos por outros investigadores, que observaram idênticos resultados em populações de diferentes continentes, confirmando-se assim que factores ambientais favoráveis permitem um adequado crescimento de acordo com o potencial genético, independentemente da região geográfica e da raça 12. Na realidade, o WHO Multinational Study of Breastfeeding and Lactational Amenorrhoea publicou em 2000 dados de sete países de diferentes continentes referentes a lactentes alimentados com leite materno e de famílias de boa condição socio-económica, concluindo que o crescimento é muito similar independentemente do país de origem 12. As curvas de crescimento da OMS traduzem assim o crescimento de crianças em óptimas condições ambientais e podem ser usadas como referência em qualquer parte, independentemente de diferenças étnicas, sócio-económicas e de diferentes tipos de alimentação. São assim curvas padrão que nos indicam como devem as crianças desejavelmente crescer e não como crescem as crianças de uma determinada região ou país 22. Também em 2000, o Multicenter European Longitudinal Study (Euro-Growth Study) publicou resultados relativos aos parâmetros antropométricos avaliados no MGRS e ainda outros parâmetros como os perímetros da coxa e da perna 21. O objectivo principal deste estudo, realizado em 22 centros dis- Acta Pediatr Port 2006:3(37):109-12 tribuídos por 11 países europeus, foi o de construir curvas de crescimento da criança europeia no tocante a todos os parâmetros antropométricos e ainda a curva referente ao índice de massa corporal, bem como conhecer os hábitos alimentares do lactente e criança, em estudo longitudinal dos 0 aos 5 anos. A análise dos resultados da OMS agora publicados referentes aos principais parâmetros antropométricos (peso e comprimento) nos primeiros 36 meses de vida permite verificar uma curva referente ao peso, nos dois sexos, ligeiramente superior nos primeiros 3-4 meses de vida e posteriormente inferior até ao terceiro ano de vida, comparativamente às curvas do CDC. Relativamente ao comprimento, observa-se uma grande sobreposição dos resultados obtidos ao longo dos primeiros três anos de vida. Os resultados do Euro-Growth Study, que preenche genericamente os critérios definidos pela OMS, mostram valores referentes ao peso ligeiramente inferiores nos primeiros meses e superiores a partir do primeiro ano de vida, sendo os valores referentes ao comprimento muito semelhantes nos dois sexos relativamente aos valores da OMS. Em resumo, dispomos agora de curvas padrão construídas com base na avaliação de crianças que cresceram em ambiente favorável e portanto de acordo com o seu potencial genético. Irão seguramente surgir a curto prazo estudos visando particularmente a comparação dos resultados da OMS com os do CDC. Os resultados da OMS aplicam-se apenas até aos cinco anos, devendo o crescimento ser monitorizado pelas curvas do CDC a partir desta idade e até à idade adulta. Será então neste caso necessário examinar a potencial disjunção entre as curvas da OMS e do CDC (que aliás também ocorria com as curvas do NCHS entre os grupos dos 0 aos 36 meses e dos 2 aos 20 anos). As curvas do CDC em vigor no nosso país podem e devem continuar a ser utilizadas, importando no entanto lembrar que a principal diferença, relativa às novas curvas da OMS, se centra na evolução ponderal nos primeiros meses de vida, com valores superiores nos lactentes exclusivamente alimentados ao peito, seguida de uma ligeira desaceleração relativamente às curvas do CDC, que por isso deve ser entendida como fisiológica e que não deve, por si só, levar à suplementação ou ao início da diversificação alimentar, que se deseja não ocorra antes dos 5-6 meses de vida. Aliás, o mesmo raciocínio podia já ser seguido tendo por base as curvas do Euro-Growth Study, disponíveis desde 2000 para a monitorização do crescimento e do estado de nutrição de lactentes e crianças desde o nascimento e até aos cinco anos de vida. Referências Guerra A – Novas curvas da OMS 3. Roche AF. Growth, Maturation and Body Composition: The Fels Longitudinal Study 1929– 1991. 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Acta Paediatr 2006;95(Suppl 450). Guerra A – Novas curvas da OMS 0873-9781/06/37-3/113 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Nota do Editor: As curvas às que se refere este comentário e a metodologia que levou à sua elaboração podem ser consultadas nas páginas electrónicas da OMS/WHO em http://www.who.int/childgrowth/mgrs/en/ e em http://www.who.int/childgrowth/en/. CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA Policitemia e hiperviscosidade no recém-nascido Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria Resumo A policitemia é relativamente comum no período neonatal. A avaliação hematológica ao nascimento ou no primeiro dia de vida revela muitos casos, mas apenas uma fracção dos que desenvolvem sinais clínicos associados a hiperviscosidade sanguínea. Existe controvérsia em relação à necessidade de rastrear todos os recém-nascidos nas primeiras horas de vida e se medidas profilácticas em recém-nascidos de risco assintomáticos têm algum efeito na incidência de manifestações tardias, como alterações motoras e intelectuais. É feita uma revisão teórica de policitemia e hiperviscosidade no recém-nascido e relembram-se alguns aspectos importantes no diagnóstico e tratamento desta síndrome. Introdução A síndrome policitemia e hiperviscosidade (SPH) apesar de muito estudada e referida na literatura nas últimas décadas, permanece um “velho problema”, colocando frequentemente incertezas no diagnóstico e atitude terapêutica. Geralmente cursa com sintomatologia heterogénea e não específica, no entanto, nalguns casos, podem ocorrer consequências clínicas graves quer imediatas quer a longo prazo. O feto adapta-se ao ambiente intra-uterino relativamente hipóxico aumentando a eritropoiese 1,2. Define-se policitemia (ou eritrocitose) como um aumento da massa eritrocitária superior a dois desvios padrão acima do valor normal para a idade 2. Assim, para o recém-nascido de termo, os limites superiores do normal são hemoglobina de 20 g/dl e hematócrito de 65% 3. Palavras-chave: hiperviscosidade, policitemia, recém-nascido. Acta Pediatr Port 2006;3(37):113-7 Polycythaemia and hyperviscosity in the newborn Abstract Polycythaemia in the neonatal period is a relatively common occurrence. Blood counts at birth or on the first day of life reveal many cases, only a fraction of whom develops overt clinical signs attributed to hyperviscosity. Controversy centres on the need to screen all neonates within hours after birth and whether or not prophylaxis of symptomless babies considered as to be at risk has any effect on the incidence of late manifestations, such as cerebral defects affecting motor coordination and intellectual performance. A theoretical review of polycythaemia and hyperviscosity in the newborn is presented and some important aspects for the diagnosis and treatment of this syndrome are also reminded. Key-words: hyperviscosity; polycythaemia; newborn. Acta Pediatr Port 2006;3(37):113-7 Recebido: Aceite: 112 24.06.2006 99.99.9999 Policitemia e hiperviscosidade Policitemia e hiperviscosidade não são sinónimos, mas existe relação entre o valor do hematócrito e a viscosidade sanguínea. Nem todos os recém-nascidos com policitemia apresentam cinética anormal do fluxo sanguíneo, isto é, hiperviscosidade. Por outro lado, cerca de 23% dos RN com hematócrito venoso entre os 60% e os 64% mostraram hiperviscosidade in vitro, devido a outros factores 4. Devido à forte associação entre policitemia e hiperviscosidade, o diagnóstico da SPH é feito quando se combinam sinais clínicos com hematócrito venoso superior a 65%. 3 Hiperviscosidade – Três factores principais determinam a viscosidade do sangue: hematócrito; deformabilidade dos glóbulos rubros e viscosidade plasmática (este último determinado por factores endoteliais, plaquetas, lipídeos e proteínas plasmáticas, das quais, o fibrinogénio e os principais dímeros resultantes do seu metabolismo são de maior importância) 5. A policitemia é a principal causa de hiperviscosidade. A viscosidade sanguínea aumenta com o valor do hematócrito, registando-se uma relação quase linear até ao valor de 65%, e, exponencial acima desse valor 6. A viscosidade do sangue traduz uma relação entre as forças de atrito existentes entre as partículas circulantes e a velocidade do fluxo sanguíneo num determinado raio. Correspondência: Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria Serviço de Neonatologia / Unidade Autónoma de Gestão da Mulher e da Criança Hospital de São João, Piso 2 Alameda Prof. Hernâni Monteiro, 4202-451 Porto E-mail: [email protected] 113 Acta Pediatr Port 2006:3(37):113-7 Secção de Neonatologia da SPP – Policitemia e hiperviscosidade A viscosidade aumenta à medida que diminui o raio. Na microcirculação, o fluxo pode mesmo cessar quando o hematócrito ultrapassa os 65%. Quando a circulação diminui a ponto de originar disfunção orgânica com sinais clínicos, surge a SPH 4. Policitemia – Define-se pelo hematócrito venoso periférico superior a 65%, apesar de sinais raramente ocorrerem com valores de hematócrito inferior a 70% 4. Pode ocorrer como resultado de um aumento do número de eritrócitos, diminuição do volume plasmático, ou ambos. Nas primeiras horas e dias de vida ocorrem alterações significativas no hematócrito, bem como na concentração de hemoglobina e número de eritrócitos (Quadro I) 7. O hematócrito atinge o pico pelas duas horas de vida (com limite superior normal de 65%), por transudação de líquido para fora do espaço intravascular, diminuindo depois progressivamente 8, 9. Quadro I – Valores hematológicos médios no recém-nascido de termo 7. Sangue do cordão D1 D3 D7 D14 53 58 55 54 52 Htc (%) GR (106/µl) 5,2 5,8 5,6 5,2 5,1 Hemoglobina (g/dl) 16,8 18,4 17,8 17,0 16,8 MCV (fl) 108 108 99 98 96 MCH (pg) 34 35 33 33 32 31,7 32,5 33,0 33,0 33,0 MCHC (g/dl) Legenda: D - dia de vida; GR - glóbulos rubros; Htc – hematócrito; MCV – volume globular médio; MCH – hemoglobina globular média; MCHC – concentração de hemoglobina globular média; RN — recém-nascido. Não dispondo as unidades de Neonatologia de instrumentos destinados à medição da viscosidade sanguínea (viscosímetro), o diagnóstico de hiperviscosidade é efectuado pela combinação de sinais clínicos sugestivos e um valor de hematócrito anormalmente elevado 4. O hematócrito capilar obtido por microcentrifugação, habitualmente efectuado nas enfermarias ou unidades de Neonatologia, não permite fazer o diagnóstico de policitemia. O seu valor varia com a espessura do tecido subcutâneo, com alterações do fluxo sanguíneo periférico (no RN doente e/ou com vasoconstrição periférica o valor do hematócrito capilar diminui) e com a retenção de plasma no centrifugado. No entanto, a sua determinação utiliza pequenas amostras de sangue e é de fácil execução, constituindo um bom método de rastreio de policitemia 10, 11. Existe correlação entre o hematócrito venoso periférico e o hematócrito capilar. O valor do hematócrito venoso periférico é inferior ao capilar 7, 10, 11 com diferenças que oscilam entre 5% e 15% 12 . Quando o valor do hematócrito capilar é igual ou superior a 70%, deve ser efectuado um hematócrito venoso periférico. O hematócrito venoso periférico determinado em analisador hematológico automatizado (método de Coulter), habitualmente existente no laboratório hospitalar, apresenta valores significativamente inferiores aos encontrados por microcentrifugação. Este método calcula electronicamente o volume da massa eritrocitária a partir do volume globular médio e número de eritrócitos por microlitro 7. Devido à menor deformabilidade do eritrócito fetal, o cálculo do volume globular médio torna-se incorrecto 13. No entanto, a evolução dos autoanalisadores, 114 desde 1987, permitiu a melhoria do diagnóstico de policitemia, sendo este o método mais utilizado na prática. Segundo os estudos de Villalta e colaboradores, verificou-se uma melhor correlação entre o hematócrito venoso periférico superior a 65% determinado por microcentrifugação e hiperviscosidade sanguínea, do que quando determinado em analisador hematológico automatizado 10,14. Nas Unidades equipadas com aparelho de centrifugação, o diagnóstico de policitemia deve ser feito por avaliação do hematócrito venoso periférico por microcentrifugação. Acta Pediatr Port 2006:3(37):113-7 Há um aumento do hematócrito de cerca de 30% na laqueação tardia do cordão umbilical (entre 30 segundos e os três minutos, sendo recomendada aos 30-40 segundos colocando o recém-nascido ao nível do canal do parto) 4. Na transfusão feto-fetal existe diferença de mais de 5g/dl no valor da hemoglobina entre os dois recém-nascidos. Existe SPH em cerca de 75% dos receptores 12. A desidratação é, na maioria das vezes, iatrogénica, por baixo suprimento hídrico e/ou perda excessiva de líquidos, geralmente após as primeiras 48 horas de vida, em crianças com perda de peso superior a 10% do peso à nascença, diminuição do débito urinário, densidade urinária elevada (>1015) e frequentemente com hipernatremia. Incidência A policitemia é rara antes das 34 semanas de gestação e não se encontra hiperviscosidade sanguínea (existem diferenças nas proteínas plasmáticas, nomeadamente no fibrinogénio), pelo que não tem indicação o tratamento, mesmo com hematócritos superiores a 65% 15. A policitemia tem uma incidência que varia de 0,4% (no recém-nascido de termo) a 12% (no recém-nascido de risco) 16. Crianças com atraso de crescimento intra-uterino, macrossomáticas, que sofreram hipóxia intra-uterina ou asfixia perinatal e filhos de mães com diabetes gestacional são mais efectados, provavelmente porque a hipóxia intra-uterina estimula a produção de eritropoietina. As crianças com crescimento adequado e sem hipoxia perinatal apresentam policitemia provavelmente secundária a excessiva transfusão placentária durante o trabalho de parto, habitualmente por atraso na laqueação do cordão umbilical 16. Etiologia A eritropoietina não atravessa a placenta humana 4. A policitemia primária é causada pela produção aumentada de eritropoietina e glóbulos rubros. A policitemia secundária indica transferência de glóbulos rubros para o feto (in utero ou durante o nascimento), ou diminuição do volume de plasma. No Quadro II são apresentadas as principais causas de policitemia primária e secundária. Quadro II – Principais causas de policitemia neonatal 4. CAUSAS DE POLICITEMIA PRIMÁRIA 1. hipoxia intra-uterina; insuficiência placentária; atraso de crescimento intra-uterino; pré-eclampsia; hipertensão arterial materna; cardiopatia materna; tabagismo materno; diabetes materna insulinodependente 2. tireotoxicose neonatal 3. hipotiróidismo congénito 4. hiperplasia suprarrenal congénita 5. elevada altitude 6. anomalias cromossómicas (ex: trissomias 21, 18 e 13) 7. hiperplasia visceral (S. Beckwith Wiedemann) CAUSAS DE POLICITEMIA SECUNDÁRIA Clínica A policitemia pode ser assintomática ou cursar com sinais agudos e/ou sequelas tardias. Os sinais clínicos surgem habitualmente pelas seis horas de vida. Correlacionam-se mais com a hiperviscosidade que com o valor do hematócrito e por vezes são secundários a alterações metabólicas como a hipoglicemia e hipocalcemia 17. Os sinais clínicos mais frequentes são os cardio-respiratórios e os neurológicos. Sinais clínicos subtis (como letargia e ligeira taquipneia) ocorrem em mais de 50% dos doentes 18. 5. desidratação A policitemia assintomática no período neonatal parece não estar associada a sequelas neurológicas. Por esse motivo, a maioria dos autores não considera indicada a exsanguíneotransfusão parcial preventiva, reservando-a para os casos sintomáticos. É de salientar também o facto de a execução de exsanguíneo-transfusão parcial por catéter venoso umbilical não ser isenta de riscos, nomeadamente a ocorrência de enterocolite necrosante 3. Quadro IV – Complicações e sequelas descritas na síndrome policitemia hiperviscosidade 4. Sequelas neurológicas. – Insuficiência cardíaca congestiva. – Enfarte testicular. Mais de 20% dos recém-nascidos apresentam alterações laboratoriais como hiperbilirrubinemia (por aumento da destruição eritrocitária), hipoglicemia (por maior consumo no metabolismo eritrocitário) e hipocalcemia (por maior consumo no processo de coagulação na microcirculação) 19. – Priapismo. – Retinopatia. – Enterocolite necrosante. – Íleus. – Insuficiência renal aguda. Nos casos graves (hematócrito ≥ 75%), a criança apresenta rubeose (vermelha e não cianótica). Nos recém-nascidos de mãe diabética coexistem policitemia e diminuição dos factores antagonistas da coagulação, aumentando o risco de trombose nos grandes vasos. – Trombose da veia renal. Quadro III – Sinais clínicos e alterações laboratoriais associados à síndrome policitemia hiperviscosidade 4. Sistema Nervoso Central: letargia, hipotonia, alterações da sucção, irritabilidade, trémulo, convulsões, hemorragia intracraniana, alterações neurológicas permanentes e tardias. Cardio-respiratórios: taquipneia, acrocianose, taquicardia, hipertensão arterial, cardiomegalia (50% dos casos), congestão vascular pulmonar, derrame pleural. Renais: alterações da taxa de filtração glomerular, alterações do sedimento urinário (hematúria, proteinúria). Gastrintestinais: intolerância alimentar (61% dos casos), enterocolite necrosante. Hematológicos e coagulação: trombocitopenia (20 a 30% dos casos), aumento do consumo de fibrinogénio, alteração da síntese de prostaglandinas, trombose. Alterações metabólicas: hiperbilirrubinemia, hipoglicemia (12 a 40%), hipocalcemia (1 a 11%), hipomagnesemia. 2. transfusão feto-fetal 4. asfixia perinatal espástica, hemiparésia e atraso no desenvolvimento psicomotor ocorreram em 38% dos afectados, contra 11% no grupo controlo 20. Outros factores perinatais poderão contribuir para o aparecimento de sequelas neurológicas. É importante ter em atenção que em grande número de casos de recém-nascidos com SPH existem outros factores de risco, como os associados a atraso de crescimento intra-uterino, macrossomia, hipoxia perinatal, entre outros, que podem ser os responsáveis pelas consequências observadas a longo prazo nalgumas crianças, tornando-se difícil saber qual o contributo da SPH. – 1. atraso na laqueação do cordão umbilical 3. transfusão materno-fetal Secção de Neonatologia da SPP – Policitemia e hiperviscosidade Complicações e sequelas O aspecto mais importante é a possibilidade de ocorrerem lesões irreversíveis do sistema nervoso central. Diplegia Abordagem do doente – Exame clínico É importante excluir a existência de sinais de desidratação, que surge habitualmente após as primeiras 48 horas de vida, enquanto a SPH surge no primeiro dia de vida. É importante detectar os sinais de “verdadeira” policitemia, como plétora, sinais cardiopulmonares e neurológicos. Torna-se difícil poder atribuir com certeza os sinais clínicos encontrados à SPH, uma vez que a maioria dos recém-nascidos apresenta frequentemente outros factores de risco, como atraso de crescimento intra-uterino, macrossomia, hipóxia perinatal, hipoglicemia, hipocalcemia ou outros factores perinatais aparentemente não relacionados, como prematuridade, taquipneia transitória, parto traumático, entre outros. – Avaliação laboratorial Deve ser feita uma avaliação do hematócrito capilar no recém-nascido de risco (Quadro II) nas primeiras seis a oito horas de vida, se não houver hemograma prévio, e em qualquer recém-nascido com sinais clínicos sugestivos de policitemia. Se o hematócrito capilar for ≥ 70%, deve ser efectuado um hematócrito venoso periférico (se possível, por microcentrifugação). 115 Acta Pediatr Port 2006:3(37):113-7 No recém-nascido com policitemia, deve ser feita uma avaliação laboratorial, incluindo: glicose, bilirrubina total, cálcio, ureia e sódio séricos (aumentam na desidratação), gases do sangue, contagem de plaquetas e densidade urinária. Na presença de alterações neurológicas, deve ser efectuada uma ecografia transfontanelar. Na presença de sinais cardio-respiratórios, deve ser efectuada uma radiografia de tórax. Tratamento 1. Medidas gerais de suporte - hidratação adequada, aumentando o suprimento hídrico, oral ou endovenoso, em 20 a 40 ml/Kg/dia (mais importante no recém-nascido com atraso de crescimento intra-uterino e desidratação). Controlar o hematócrito após 6 horas. - correcção de alterações metabólicas. Secção de Neonatologia da SPP – Policitemia e hiperviscosidade intersticial e pulmonar (devem ser evitados nos recém-nascidos com asfixia, que apresentam maior permeabilidade capilar). A albumina a 5% é considerada um derivado seguro, sendo o preço o seu principal inconveniente. Por outro lado, o plasma fresco congelado, devido ao seu alto conteúdo em fibrinogénio, não apresenta vantagens quando se pretende diminuir a viscosidade sanguínea (sendo contra-indicado por alguns autores) 21. Por estes motivos, actualmente, a maioria dos autores prefere os solutos cristalóides 21, nomeadamente o soro fisiológico, que é também o mais barato. A albumina a 5%, por apresentar efeito hemodiluidor mais sustentado, é também uma boa opção. O recém-nascido sintomático devido ao risco de sequelas neurológicas deve ter seguimento e avaliação seriada do desenvolvimento psicomotor. - correcção de hipoxia. - fototerapia “precoce”. Consenso aprovado nas XXXI Jornadas de Neonatologia da Secção de Neonatologia da SPP - Consensos Nacionais de Neonatologia - Guimarães, 27 a 29 de Novembro de 2003. 2. Exsanguíneo-transfusão parcial Relatores: a) Efectuar se: Gustavo Rocha - Serviço de Neonatologia, Unidade Autónoma de Gestão da Mulher e da Criança, Hospital de São João, Porto. - hematócrito venoso > 75% em RN assintomático. Se o recém-nascido está assintomático, mas apresenta um hematócrito venoso entre 70% e 75%, ponderar caso a caso, valorizando também outros factores de risco para complicações, sobretudo neurológicas. b) Objectivos: - diminuir o valor do hematócrito para cerca de 55% - 60%. - diminuir a congestão pulmonar. - normalizar a taxa de filtração glomerular. 7. Christensen RD. Expected Hematologic Values for Term and Preterm Neonates. In: Christensen RD, editor. Hematologic Problems of the Neonate. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p117-35. 8. Shoart M, Merlob P, Reisner SH. Neonatal polycythemia. 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Acta Pediatr Port 2006:3(37):113-7 14. Letsky EA. Polycythaemia in the newborn. In: Rennie JM, Roberton Secção de Neonatologia da SPP – Policitemia e hiperviscosidade NRC, editors. Textbook of neonatology. 3rd ed. London: Churchill Livingstone; 2000; pp834–8. 15. Wirth FH, Goldberg KE, Lubchenco LO: Neonatal hyperviscosity.I. Incidence. Pediatrics 1979;63:833-6. 16. Ramamurthy RS, Brans YW. Neonatal Polycythemia: I. Criteria for Diagnosis and Treatment. Pediatrics 1981;68:168-74. 17. Gross GP, Hataway WE, Mc Gaughey HR: Hyperviscosity in the neonate. J Pediatr 1973;82:1004-12. 18. Wiswell TE, Cornish MJD, Northam RS. Neonatal polycythemia: frequency of clinical manifestations and other associated findings. Pediatrics 1986;78:26-30. 19. Black VD, Lubchenco LO, Luckey DW. Developmental and neurologic sequelae of neonatal hyperviscosity syndrome. Pediatrics 1982;69:426-9. 20. Host A, Ulrich M. Late prognosis in untreated neonatal polycythemia with minor or no symptoms. 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Os fluidos utilizados na exsanguíneo-transfusão parcial têm sido solutos colóides, como o plasma fresco congelado ou a albumina a 5%, e produtos cristalóides, como o soro fisiológico e o Lactato de Ringer, com resultados sobreponíveis 4. As soluções colóides apresentam um efeito de hemodiluição mais sustentado do que os cristalóides, por se manterem mais tempo no espaço intravascular, uma vez que possuem maior pressão oncótica. No entanto, apresentam risco potencial de transmissão de infecções e, na criança doente, a sua extravasão para o espaço extravascular pode resultar em edema 116 Referências 1. Yoder MC. Embryonic Hematopoiesis. In: Christensen RD, editor. Hematologic Problems of the Neonate. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000; p3-19. 2. Brugnara C, Platt OS. The neonatal erythrocyte and its disorders: the neonatal erythrocyte. In: Nathan DG, Oski FA, editors. Nathan and Oski`s Hematology of Infancy and Childhood. 5th ed. Philadelphia: WB Saunders; 1998; p19-41. 3. Luchman-Jones L, Schwartz AL, Wilson DB. Hematologic problems in the fetus and neonate. In: Fanaroff AA, Martin RJ, editors. Neonatal-Perinatal Medicine: Diseases of the fetus and Infant. St Louis: Mosby; 2002; p1183-249. 4. Lindermann R, Haga P. Evaluation and Treatment of Polycythemia in the Neonate. In: Christensen RD, editor. Hematologic Problems of the Neonate. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000; p171-83. 5. Linderkamp O, Versmold HT, Riegel KP. Contribution of red blood cells and plasma to blood viscosity in pre-term and full-term infants and adults. Pediatrics 1984;74:45-51. 6. Macintosh TF, Walker CHM. Blood viscosity in the newborn. Arch Dis Child 1973;48:537-41. 117 0873-9781/06/37-3/LI Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria NOTÍCIAS Calendário de Eventos Nacionais e Internacionais MAIO 2006 • VII Reunião Pediátrica do Hospital de S. Francisco Xavier. Reunião de Epileptologia Pediátrica e Curso Satélite “O recém-nascido doente”. Oeiras, 3-6/5/06 (Secretariado – Milupa Comercial SA, tel. 214246880, fax 214188955. • Reunião da Secção de Pneumologia da SPP: Novas Terapêuticas em Pneumologia Pediátrica. Porto, 4-5/5/06 (Secretariado: tel. 934892105, e-mail: [email protected]) • Perturbações do Desenvolvimento Sensorial “Vozes, Luzes, … Sensações”. Albufeira, 12/5/06 (Secretariado: Cristina Adanjo - Secção de Pediatria do Desenvolvimento da SPP, tel. 289891160, fax: 289891161) • VI Jornadas do Serviço de Pediatria do Hospital de S. Pedro e VIII Jornadas da Secção de Pediatria Ambulatória da SPP. Vila Real, 12-13/5/06 • O brincar - Sua Importância no Desenvolvimento da Criança 2ª Jornada. Lisboa, 13/5/06 (Secretariado: Oficina Didáctica, tel. 213872458, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.oficinadidactica.pt) • 3ª Conferência Meninos de Oiro “Mais Tempo para o Futuro”. Lisboa, 15/5/06 (Secretariado: Associação Meninos de Oiro, tel. 212180703 ou 965671738, endereço na internet: http://www.meninosdeoiro.org) • XIII Anuário do Hospital de Dona Estefânia. Lisboa, 17/5/06 (Secretariado – anuá[email protected]) • XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria. Funchal, 18-20/5/06 (Secretariado – Muris Design - tel. 229476845/8, fax 229476846, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://spp-funchal.muris.pt) • VII Jornadas Internacionais de Diagnóstico Pré-Natal. Coimbra, 19-29/5/06 (Secretariado – Marta Diniz e Vitória Diniz, tel./fax 239482525, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.apdpn.org.pt) • II Seminário de Neonatologia: Nefro-urologia do Recém-Nascido. Viana do Castelo, 25-26/5/06 (Secretariado – Milupa Comercial SA, tel. 214246880, fax 214188955, endereço na internet: www.lusoneonatologia.net) • Curso de Displasias Ósseas. Lisboa, 24-27/5/06 (Secretariado – Serviço de Genética Médica do Hospital de Santa Maria) 707200747, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.apsi.org.pt) • Reunião Anual da Secção de Hematologia e Oncologia da SPP. Coimbra, 23/6/06 (Secretariado: Nuno Farinha, tel. 968707616, fax 225096093, e-mail: [email protected]) • XXIII Curso de Pediatria Ambulatória e 17º Congresso da Sociedade Europeia de Pediatria Ambulatória. Coimbra, 23-24/6/06 (Acrópole – tel. 226199680, fax 226199689, e-mail: [email protected]) JULHO 2006 • XXVIII Simpósio Minhoto-Galaico de Pediatria Extra-Hospitalar. Esposende, 1/7/06 (Secretariado: Paula Coelho, tel. 253209069, e-mail: [email protected]) • Curso de Pós-Graduação Mental Retardation: from clinic to gene and back. Braga, 3-7/7/06 (Secretariado: Sónia Cruz, tel. 253604859, fax 253604841, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.ecsaude.uminho.pt/postgrad) • CIPP VII - 7th International Congress on Pediatric Pulmonology. Montreal, Canadá, 8-11/7/06 (Secretariado - endereço na internet: http://www.cipp-meeting.com) SETEMBRO 2006 • 12º Congresso Europeu de Adolescência “Obesity and eating disorders in young people: bio-psycho-social approaches”. Atenas, Grécia 21-23/9/06 (Secretariado: PRC Congress & Travel, tel. +302107711673, fax +302107711289, e-mail: [email protected]) • Curso de Verão para Internos de Pediatria: Patologia nefrourológica. Peniche, 22-24/9/06 (Secretariado: SPP, tel./fax: 217574680; e-mail: [email protected]) • 17º Congresso da Sociedade Europeia de Pediatria Ambulatória e 9ª Reunião da Secção de Pediatria Ambulatória da SPP. Coimbra, 29-30/9/06 (Secretariado: Acrópole, tel. 226199680, fax 226199689) OUTUBRO 2006 JUNHO 2006 • 4º Encontro de Infecciologia Pediátrica. 2/6/06 • Workshop: Dislexia - teoria, diagnóstico e intervenção. Lisboa, 3/6/06 (Secretariado: Oficina Didáctica - tel. 213872458, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.oficinadidactica.pt) • Jornadas de Estudo da Ortopedia Infantil. Caminha, 7-9/6/06 (Secretariado: http://www.spot.pt/...) • 3º Congresso Nacional de Medicina do Adolescente. Braga, 8-9/6/06 (Secretariado – MURIS, tel. 229476845, fax 229476846, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://medicina-do-adolescente.muris.pt) • 3º Congresso sobre Espaços de Jogo e Recreio: Lei, Inovação e Boas Práticas. Lisboa, 22-24/6/06 (Secretariado: SGS – tel. • Europaediatrics. Barcelona, 7-10/10/06 (Secretariado – e-mail: [email protected], endereço na internet: www.kenes.com/europaediatrics) • XIII Jornadas de Pediatria de Évora “Neuropediatria”. Évora, 12-13/10/06 (Secretariado – Serviço de Pediatria do Hospital Espírito Santo de Évora, tel. 266740100, fax 266707912, e-mail: [email protected]) • Workshop “Dislexia: teoria, diagnóstico e intervenção”. Lisboa, 14/10/06 (Secretariado – Oficina Didáctica, tel. 213872458, e-mail:[email protected], endereço na internet: http://www.oficinadidactica.pt) • Jornadas de Endocrinologia Pediátrica do Hospital Dona Estefânia: Criança e Adolescente com Diabetes. Lisboa, 19-20/10/06 (Secretariado – Carla Pereira, Rosa Pina, Unidade de Endocrinologia LI Acta Pediatr Port 2006:3(37):LI-II do Hospital Dona Estefânia) • XXXIV Jornadas Nacionais de Pediatria. Aveiro, 19-21/10/06 (Secretariado – SPP: e-mail: [email protected]) Notícias Prémio Milte de Pediatria Ambulatória Dr. Nicolau da Fonseca e Bolsas de Participação NOVEMBRO 2006 • II Simpósio sobre Obesidade Pediátrica Prevenção e Tratamento Multidisciplinar. Porto, 2-4/11/06. • XIII Jornadas de Pediatria do Hospital de Santa Maria “Caminhar para o Futuro sem esqueçer o Passado – Da Pediatria básica à Pediatria avançada”. Lisboa, 8-11/11/06 (Secretariado – Margarida Vales, tel. 217805202) • XXI Jornadas da Secção de Nefrologia da SPP e XII Reunião do Serviço de Pediatria do Hospital de São Teotónio. Viseu, 16-17/11/06 (Secretariado: Secção de Nefrologia da SPP) • XVIII Reunião do Hospital de Crianças Maria Pia: “Desafios e Controvérsias em Pediatria”. Porto, 16-17/11/06 (Secretariado – Hospital de Crianças Maria Pia,tel. 226089988, fax 226089910, e-mail: [email protected]) • II International Meeting on Neonatology: “The Better Practices in Neonatology - 20 years of the Neonatal Branch of the Portuguese Society of Paediatrics”. Lisboa, 16-17/11/06 (Secretariado: Skyros Congressos, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.lusoneonatologia.net) • 14ª Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha. Leiria, 24-25/11/05 (Secretariado: Serviço de Pediatria do Hospital St.º André, tel. 244817053, e-mail: [email protected]) DEZEMBRO 2006 • 5º Encontro de Infecciologia Pediátrica. 15/12/06 (Secretariado: Secção de Infecciologia da SPP) • Reunião Temática da SPP “A Criança e o Dia”. Lisboa, 16/12/06 (Secretariado: SPP, tel./fax 217574680; e-mail: [email protected]) Na 9ª Reunião da Secção de Pediatria Ambulatória da Sociedade Portuguesa de Pediatria, reunião conjunta com o 17º Congresso da Sociedade Europeia de Pediatria Ambulatória (SEPA) que se realizará em Coimbra a 29 e 30 de Setembro de 2006, será entregue um Primeiro Prémio de 1250 € e 2 Menções Honrosas. O Primeiro Prémio, patrocinado pela Milte, será atribuído ao melhor trabalho apresentado na Reunião sobre um tema de pediatria ambulatória ou com projecção na actividade pediátrica ambulatória. Os resumos dos trabalhos deverão ser enviados até 20 de Julho, preferencialmente por e-mail ([email protected]), para o Secretariado do Congresso: Acrópole – R. de Gondarém, 956, r/c, 4150-375 Porto, tel. 226199680, fax 226199689. A Secção de Pediatria Ambulatória da Sociedade Portuguesa de Pediatria também atribui 20 bolsas a Médicos do Internato de Pediatria, para assistirem ao 17º Congresso da SEPA. Mais informações em http://www.spp.pt/conteu/spp_cont/age_eventos/ev_set_06_29c.html 0873-9781/06/37-3/LIII Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria I - Indicações Gerais aos Autores A Acta Pediátrica Portuguesa (APP) aceita artigos sobre qualquer tema pediátrico e materno-fetal, nas múltiplas dimensões científicas, sociais e culturais relacionadas com a saúde e educação da criança e do adolescente. Aceita também estudos experimentais no animal que contribuam para o melhor conhecimento da fisiologia e fisiopatologia infantil e fetal na espécie humana. São bem-vindos artigos provenientes de todos os Países de Língua Oficial Portuguesa. Podem ser aceites, pela sua relevância, textos escritos noutras línguas, de reconhecida divulgação internacional. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. Esta restrição não se aplica a notas de imprensa ou a resumos publicados no âmbito de reuniões científicas. Quando existem publicações semelhantes à que é submetida ou quando existirem dúvidas relativamente ao cumprimento dos critérios acima mencionados estas devem ser anexadas ao manuscrito em submissão. a 1200 palavras, excluindo referências e tabelas, com um máximo de duas tabelas e/ou figuras (total) e até dez referências. Os casos clínicos devem incluir resumos em português e em inglês, com um limite de 120 palavras cada um, estruturados em introdução, relato dos casos e discussão (eventualmente conclusão). Os manuscritos submetidos devem estar de acordo com os requisitos de submissão de manuscritos a revistas biomédicas, elaborados pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, disponível em URL: www.icmje.org e em N Engl J Med 1997; 336: 309-15). Os manuscritos são inicialmente avaliados por membros da equipa editorial e os considerados adequados são submetidos ao parecer técnico de pelo menos dois revisores externos. A revisão é feita anonimamente, podendo os revisores rejeitar, aceitar sem modificações ou propor alterações de conteúdo ou de forma, condicionando a publicação do artigo às mesmas. Os pareceres da equipa editorial e dos revisores são comunicados ao(s) autor(es). A propriedade editorial dos artigos publicados é da APP. Uma vez aceites, os manuscritos não podem ser publicados textualmente ou em forma semelhante noutros locais, mesmo noutro idioma, sem o consentimento da APP. O(s) autor(es) mantêm os direitos de autor da sua obra, o que lhes permite: – publicar em parte ou na sua totalidade este artigo em livro escrito ou editado pelo(s) autor(es), com a necessária referência à presente publicação; – utilizar selecções de figuras, tabelas e textos deste artigo em outros trabalhos escritos pelo(s) autor(es), com a necessária referência à presente publicação; – incluir este artigo em compilações de textos para ensino, sempre que sejam distribuídos gratuitamente pelos estudantes ou disponibilizados em suporte informático de acesso livre, com intuito de ensino ou formação. Apesar dos editores e dos revisores envidarem esforços para assegurar a qualidade técnica e científica dos manuscritos, a responsabilidade final do conteúdo é dos autores, aos quais pertence a propriedade intelectual dos artigos. 5) Artigos de revisão ou actualização. Artigos de revisão sobre temas das diferentes áreas da Pediatria, com interesse prático para profissionais de saúde dedicados a crianças e adolescentes. Este tipo de artigos de revisão é geralmente solicitado pelos editores. Contudo, serão avaliados artigos de revisão submetidos sem solicitação prévia. O texto deve ser limitado a 3000 palavras, excluindo referências e tabelas, incluir um máximo de cinco tabelas e/ou figuras (total) e até 40 referências. As revisões quantitativas (metanálises) devem ser organizadas em introdução, métodos, resultados e discussão (incluindo conclusões). Os artigos devem incluir resumos em português e em inglês, com um limite de 250 palavras cada um, devendo ser estruturados no caso de serem revisões quantitativas. II - Tipos de artigos publicados na Acta Pediátrica Portuguesa A APP prevê a publicação de vários tipos de artigos: 1) Artigos de investigação original. Contendo o resultado de investigação original, qualitativa ou quantitativa. O texto, organizado em introdução, métodos, resultados, discussão (e eventualmente conclusão), deve ser limitado a 3000 palavras, excluindo referências e tabelas, com um máximo de seis tabelas e/ou figuras (total) e até 30 referências. Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, com um limite de 300 palavras cada um. 2) Publicações breves. Contendo resultados preliminares ou achados novos. O texto, organizado em introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão, deve ser limitado a 1500 palavras, excluindo referências e tabelas, com um máximo de duas tabelas e/ou figuras (total) e até quinze referências. Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, respectivamente com um limite de 250 palavras cada um. 3) Casos clínicos. Casos clínicos de facto exemplares, devidamente estudados e discutidos. O texto deve incluir uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s), a discussão sucinta que incluirá uma conclusão sumária. O texto deve limitar-se LII NORMAS DE PUBLICAÇÃO 4) Séries de casos (Casuísticas). Contendo a descrição de séries de casos, numa perspectiva de reflexão sobre uma experiência particular de diagnóstico, tratamento ou prognóstico. O texto, incluindo uma breve introdução, a descrição dos casos, a discussão sucinta contendo uma conclusão, deve ser limitado a 1200 palavras, excluindo referências e tabelas. O texto deve estar organizado em introdução, métodos, resultados e discussão (eventualmente conclusão), com um máximo de duas tabelas e/ou figuras (total) e até quinze referências. As séries de casos devem apresentar resumos estruturados em português e em inglês, com um limite de 250 palavras cada um. 6) Artigos sobre Educação Médica. Artigos de revisão ou opinião sobre a formação médica contínua, geral ou pediátrica, dirigidos a profissionais de saúde que se dedicam a crianças e adolescentes, particularmente a responsáveis pela formação pré e pós-graduada. Estes tipos de artigos são submetidos sem solicitação prévia. O texto deve ser limitado a 3000 palavras, excluindo referências e tabelas, incluir um máximo de três tabelas e/ou figuras (total) e até 20 referências. Os artigos devem incluir resumos em português e em inglês, com um limite de 250 palavras cada um, devendo ser estruturados no caso de serem estudos originais. 7) Críticas de livros ou software. Críticas de livros, software ou sítios da internet. O texto deve ser limitado a 600 palavras, excluindo tabelas e figuras, e incluir no máximo uma tabela ou figura e até quatro referências bibliográficas, incluindo a referência bibliográfica completa do objecto da revisão. As revisões de livros ou software não devem conter resumos. 8) Artigos de opinião. Incidem em comentários, ensaios, análises críticas ou enunciados de posição acerca de tópicos de interesse nas áreas da Pediatria e Saúde Infantil, políticas de saúde e educação médica. O texto deve ser limitado a 900 palavras, excluindo referências e tabelas, e incluir no máximo uma tabela ou figura e até cinco referências. Os comentários e enunciados de posição não devem conter resumos. 9) Cartas ao Director. Comentários sucintos a artigos publicados na APP ou relatando de forma muito breve e objectiva os resultados de observação clínica ou investigação original que não justifiquem publicação mais extensa. O texto deve ser limitado a 400 palavras, excluindo referências e tabelas, e incluir no máximo uma tabela ou figura e até seis referências. As cartas ao director não devem apresentar resumos. III – Submissão de Manuscritos. Os manuscritos submetidos à APP devem ser preparados de acordo com as recomendações abaixo indicadas e acompanhados de uma carta de apresentação. A carta de apresentação deve incluir a seguinte informação: LIII Acta Pediatr Port 2006:3(37):LIII-VI 1) Título completo do manuscrito; 2) Nomes dos autores com especificação do contributo de cada um para o manuscrito; justificação de número elevado de autores (mais de seis), se tal ocorrer; 3) Especificação do tipo de artigo, de acordo com a classificação da APP; 4) Fontes de financiamento, incluindo bolsas e patrocínios comerciais; 5) Explicitação de conflitos de interesse ou da sua ausência; 6) Declaração de que o manuscrito não foi ainda publicado, na íntegra ou em parte, e de que nenhuma versão do manuscrito está a ser avaliada por outra revista; 7) Declaração de que todos os autores aprovaram a versão do manuscrito que está a ser submetida; 8) Assinatura de todos os autores. É dada preferência à submissão dos manuscritos por e-mail ([email protected]). O manuscrito e a carta de apresentação devem ser enviados em ficheiros separados. Deve ser enviada por correio ou por fax (217 577 617) uma cópia da carta de apresentação assinada por todos os autores. Se não for possível efectuar a submissão por e-mail, esta pode ser efectuada por correio, com o envio do suporte digital (CD ou disquete), para o endereço: Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15, R/C I 1750-018 Lisboa, PORTUGAL Os manuscritos rejeitados ou o material que os acompanha não serão devolvidos, excepto quando expressamente solicitado no momento da submissão. IV – Formatação dos Manuscritos. A formatação dos artigos submetidos para publicação deve seguir os “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”. Todo o manuscrito, incluindo referências, tabelas e legendas de figuras, deve ser redigido em coluna única, a dois espaços, com letra de dimensão 11, e tabelado à esquerda. Aconselha-se a utilização dos formatos de letra Times, Times New Roman, Courier, Helvetica e Arial; Symbol, para caracteres especiais. Em todo o manuscrito as quatro margens devem ser de 2,5 cm. Todas as páginas devem ser numeradas, incluindo a página do título. Devem ser inseridas quebras de página entre cada secção do manuscrito. Não conter cabeçalhos nem rodapés. Apenas serão publicadas citações, tabelas ou ilustrações cuja origem esteja sujeita a direitos de autor, com citação completa da fonte e/ou com autorização do detentor dos direitos de autor. Unidades de medida - Devem ser utilizadas as unidades de medida do Sistema Internacional (SI), mas os editores podem solicitar a apresentação de outras unidades não pertencentes ao SI. Abreviaturas - Devem ser evitados acrónimos e abreviaturas, especialmente no título e nos resumos. Quando for necessária a sua utilização, devem ser definidos na primeira vez que são mencionados no texto. O seu significado deve também ficar explícito no resumo, nas tabelas e figuras, excepto no caso das unidades de medida. Quando usados mais do que seis acrónimos ou abreviaturas, recomenda-se a inclusão de um quadro com a lista completa dos mesmos. Nomes de medicamentos - Deve ser utilizada a Designação Comum Internacional (DCI) de fármacos em vez de nomes comerciais de medicamentos. Quando forem utilizadas marcas registadas na investigação, pode ser mencionado o nome do medicamento e o nome do laboratório entre parêntesis. Local do estudo – A filiação institucional dos autores deve ser referida na página do título. Não deve ficar explícita, no texto ou no resumo, a identificação da instituição onde decorreu o estudo, de modo a manter o duplo anonimato da revisão. Se essa referência for necessária, deve ser feita em termos de caracterização genérica do nível de diferenciação e local geográfico da instituição (exº: “hospital universitário de nível III” ou “centro de saúde em área rural”). Secções do manuscrito - O manuscrito deve ser apresentado na seguinte ordem: 1 – Título (em português e inglês), autores, instituições, agradecimentos, autor e endereço para correspondência; 2 - Resumos e Palavras-chave (em português e inglês); 3 - Texto; 4 - Referências; 5 - Legendas; 6 - Figuras; 7 - Tabelas. LIV Normas de Publicação 1 - PÁGINA DO TÍTULO. Na primeira página do manuscrito devem constar: 1) O título (conciso e descritivo, em português e inglês); 2) Um título abreviado (com um máximo de 40 caracteres, incluindo espaços); 3) Os nomes dos autores, incluindo o primeiro nome (não incluir graus académicos ou títulos honoríficos); 4) A filiação institucional de cada autor no momento em que o trabalho foi realizado (deve figurar apenas na página do título; casos excepcionais devem ser justificados); 5) A contribuição de cada autor para o trabalho; 6) O nome e contactos do autor que deverá receber a correspondência, incluindo endereço postal e telefone, fax ou e-mail; 7) Os agradecimentos, incluindo fontes de financiamento, bolsas de estudo e colaboradores que não cumpram critérios para autoria; 8) Contagem de palavras, respectivamente para cada resumo e para o texto principal (não incluindo referências, tabelas ou figuras) Autoria - Como referido nos “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, a autoria requer uma contribuição substancial para: 1) Concepção e desenho do estudo, ou obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; 2) Redacção do manuscrito ou revisão crítica do seu conteúdo intelectual; 3) Aprovação final da versão submetida para publicação. A obtenção de financiamento, a recolha de dados ou a supervisão geral do grupo de trabalho, por si só, não justificam autoria. É necessário especificar a contribuição de cada autor para o trabalho. Sugere-se a seguinte discriminação: (a) Desenho do estudo. (b) Recolha de dados. (c) Análise estatística. (d) Interpretação dos dados. (e) Preparação do manuscrito. (f) Pesquisa bibliográfica. (g) Recolha de fundos. Nos manuscritos assinados por mais de seis autores (três autores no caso das cartas ao editor), tem que ser explicitada a razão de uma autoria tão alargada. É necessária a aprovação de todos os autores, por escrito, de quaisquer modificações da autoria do artigo após a sua submissão. Agradecimentos - Devem ser mencionados na secção de agradecimentos os colaboradores que contribuíram substancialmente para o trabalho mas que não cumpram os critérios para autoria, especificando o seu contributo, bem como as fontes de financiamento, incluindo bolsas de estudo. 2 - RESUMO E PALAVRAS-CHAVE. Resumo - Deverá ser redigido em português e inglês, não ultrapassando as 300 palavras para os trabalhos originais e 120 para os casos clínicos, mas suficientemente informativo e elaborado segundo um formato estruturado contendo os seguintes itens: a) Os resumos de artigos de investigação original, publicações breves e revisões quantitativas devem ser estruturados (introdução, métodos, resultados, discussão e conclusões) e apresentar conteúdo semelhante ao do manuscrito. b) Nos casos clínicos e séries de casos, devem ser estruturados em introdução, relato do(s) caso(s), discussão (incluindo a conclusão); a conclusão deve destacar os aspectos que justificam a publicação do caso ou serie de casos. c) Os resumos de manuscritos referentes a revisões não sistemáticas e artigos de opinião não são estruturados segundo as secções referidas na alínea anterior. Nos resumos não devem ser utilizadas referências e as abreviaturas devem limitar-se ao mínimo. Palavras-chave - Devem ser indicadas logo a seguir ao resumo até seis palavras-chave, em português e em inglês, preferencialmente em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH) utilizado no Index Medicus. Nos manuscritos que não incluem resumos, as palavras-chave devem ser apresentadas no final do manuscrito. 3 - TEXTO. O texto poderá ser apresentado em português ou inglês (poderá ser excepcionalmente considerada a submissão de textos noutras línguas, de reconhecida divulgação internacional). Acta Pediatr Port 2006:3(37):LIII-VI Os números de um a quinze devem ser escritos por extenso, excepto quando têm decimais ou se usam para unidades de medida. Números superiores a quinze são escritos em algarismos, salvo no início de uma frase. Introdução - Deve conter essencialmente os argumentos científicos que fundamentam o objectivo. Deve por fim explicitar os objectivos do trabalho e a justificação para a sua realização. Esta secção deve apenas conter as referências bibliográficas indispensáveis para justificar os objectivos do estudo. Métodos – Esta secção poderá denominar-se, consoante a natureza do estudo, como “Métodos”, “Material e Métodos”, “Amostra e Métodos”, “População e Métodos”, ou simplesmente “Metodologia”. Nesta secção devem descrever-se: 1) A amostra ou a população em estudo; 2) A localização do estudo no tempo e no espaço; 3) Os métodos de recolha de dados; 4) Os métodos de análise dos dados: Os métodos estatísticos devem ser descritos com o detalhe suficiente de modo a possibilitar a reprodução dos resultados apresentados. Sempre que possível deve ser quantificada a imprecisão das estimativas apresentadas, designadamente através da apresentação de intervalos de confiança. Deve evitar-se uma utilização excessiva de testes de hipóteses, com o uso de valores de p, que não fornecem informação quantitativa importante. Deve ser mencionado o software utilizado na análise dos dados. As considerações éticas devem figurar no final desta secção. Os autores devem assegurar que todas as investigações envolvendo seres humanos foram aprovadas por comissões de ética das instituições em que a investigação foi realizada, de acordo com a Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial (www.wma.net). Nesta secção deve ser mencionada esta aprovação e a obtenção de consentimento informado, se aplicável. Resultados - Os resultados devem ser apresentados no texto, assim como em tabelas e figuras, seguindo uma sequência lógica. Não deve ser fornecida informação redundante, aparecendo em duplicado no texto e nas tabelas ou figuras, bastando descrever a principais observações referidas nas tabelas ou figuras. (vide infra as recomendações sobre tabelas e figuras). Discussão - Na discussão não deve ser repetida detalhadamente a informação fornecida na secção de Resultados. A discussão deve incidir nas limitações do estudo, na relação dos resultados obtidos com o observado noutras investigações, devem ser evidenciados os aspectos inovadores do estudo e as conclusões que deles resultam. Nesta secção apenas devem ser incluídas as referências indispensáveis para discutir os resultados do estudo. Conclusão – Esta secção pode surgir separada da Discussão ou incluída no final da mesma. É importante que as conclusões estejam de acordo com os objectivos do estudo, mas devem evitar-se afirmações e conclusões que não sejam completamente apoiadas pelos resultados da investigação realizada. 4 - ILUSTRAÇÕES. As Ilustrações devem ser anexadas após as referências bibliográficas. As Figuras devem ser anexas após os Quadros. Cada Quadro ou Figura deve ser apresentada em páginas separadas, juntamente com os respectivos título e as notas explicativas. Os Quadros e Figuras devem ser numeradas separadamente (numeração romana para Quadros e numeração árabe para Figuras) de acordo com a ordem com que são apresentadas no texto. Devem ser mencionadas no texto todos os Quadros e Figuras. Cada Quadro ou Figura deve ser acompanhado de um título e notas explicativas (ex. definições de abreviaturas) de modo a serem compreendidas e interpretadas sem recurso ao texto do manuscrito. Se a ilustração possui uma tabela ou gráfico que inclúa o resultado da análise estatística, devem ser referidos o teste estatístico usado e o seu nível de significância (no caso do cálculo do risco relativo ou do odds ratio, devem ser incluídos os seus intervalos de confiança). Nos Quadros, o título e notas explicativas encimam a tabela; nas Figuras, o título e notas explicativas colocam-se por baixo da ilustração. Para as notas explicativas dos Quadros ou Figuras devem ser utilizados os seguintes símbolos, nesta mesma sequência: *, †, ‡, §, ||, ¶, **, ††, ‡‡ . Nas tabelas devem ser utilizadas apenas linhas horizontais. As Figuras, incluindo gráficos, mapas, ilustrações, fotografias ou outros materiais, devem ser formatadas em computador ou digitalizadas. Nos gráficos, as legendas dos eixos devem ser preferencialmente escritas paralelamente aos eixos das ordenadas e das abcissas, indicando as unidades de medida. Esses eixos devem ter marcas correspondentes aos valores. Quando digitalizadas, as legendas, símbolos, setas ou letras devem ser inseridas no ficheiro da imagem das fotografias ou ilustrações correspondentes. Os símbolos, setas ou letras devem contrastar suficientemente com o fundo de fotografias ou ilustrações. Normas de Publicação As ilustrações que incluam fotografias de doentes, deverão ser acompanhadas pela autorização do doente, ou seu responsável legal, permitindo a sua publicação, devendo ter os olhos tapados ou desfocados digitalmente, de modo a impedir a sua identificação. A dimensão das ilustrações é habitualmente reduzida à largura de uma coluna, pelo que as mesmas e o texto que as acompanha devem ser facilmente legíveis após redução. A resolução de imagens a preto e branco deve ser de pelo menos 1200 dpi e a de imagens com tons de cinzento ou a cores deve ser de pelo menos 300 dpi. Uma vez que a impressão final da Acta é maioritariamente a preto e branco ou em tons de cinzento, os gráficos não deverão conter cores. A submissão de imagens a cores deve ser reduzida ao mínimo necessário, dado o número limitado de páginas a cores possível em cada número da Acta. O excesso de imagens a cores poderá atrasar a data de publicação até haver disponibilidade editorial. Na primeira submissão do manuscrito não devem ser enviados originais de fotografias, ilustrações ou outros materiais, como películas de raios-X. As figuras criadas em computador ou convertidas em formato electrónico após digitalização devem ser preferencialmente inseridas no ficheiro do manuscrito. Em caso de aceitação do manuscrito, serão solicitadas as Ilustrações nos formatos mais adequados para a sua reprodução na revista. 5 - REFERÊNCIAS. As referências devem ser listadas após o texto principal, numeradas sequencialmente, pela ordem de citação no texto e com o mesmo formato de letra com que figura no texto. No texto, os números das referências devem ser apresentados em expoente, antes de vírgulas ou pontos finais (ex.: “segundo alguns autores 3,5,7, (...)”). Não deve ser utilizado software para numeração automática das referências. Deve evitar-se a citação de referências secundárias (textos que fazem referência às publicações originais), resumos e comunicações pessoais (estas serão referidas no texto como tal). Os autores devem verificar se todas as referências estão de acordo com os documentos originais. Devem ser utilizados os nomes abreviados das publicações, de acordo com o adoptado pelo Index Medicus. Uma lista de publicações pode ser obtida em http://www.nlm.nih.gov. Uma descrição pormenorizada do formato dos diferentes tipos de referências, “ICMJE - Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, pode ser encontrada em http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html ou em http://www.icmje.org. Citamos apenas alguns tipos de referenciação: a) Artigo de revista: Relação de todos os autores - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes (se mais de seis, constarão os seis primeiros seguidos de “et al”). Título do artigo. Nome da revista (abreviada e em itálico), ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, e primeira e última páginas (exemplo 1). Em muitas revistas, os artigos que não têm estricta natureza científica têm numeração romana (exemplo 2). Se a paginação se inicia em cada número dentro do mesmo volume, o número deve figurar entre parêntesis logo a seguir ao volume (exemplo 3); na maioria das revistas médicas a paginação é contínua ao longo de todo o volume e neste caso o número deve ser omitido. Quando se trata de um suplemento deve figurar logo a seguir ao volume, com indicação da numeração do suplemento se este for o caso (exemplo 4). No caso de carta ao editor ou resumo, deve ser assinalado em parêntesis recto logo a seguir ao título do artigo (exemplo 5). Exemplos: 1. Levy ML. Adolescência e adolescentes. Acta Pediatr Port. 1995;5:255-8. 2. Chadwick R, Schuklenk U. The politics of ethical consensus finding. Bioethics. 2002;16:iii-v. 3. Diabetes Prevention Program Research Group. Hypertension, insulin, and proinsulin in participants with impaired glucose tolerance. Hypertension. 2002;40:679-86. 4. Geraud G, Spierings EL, Keywood C. Tolerability and safety of frovatriptan with short- and long-term use for treatment of migraine and in comparison with sumatriptan. Headache. 2002;42 Suppl 2:S93-9. 5. Tor M, Turker H. International approaches to the prescription of long-term oxygen therapy [letter]. Eur Respir J. 2002;20:242. Artigo em publicação electrónica: 1. Yu WM, Hawley TS, Hawley RG, Qu CK. Immortalization of yolk sac-derived precursor cells. Blood. 2002 Nov 15;100(10):3828-31. Epub 2002 Jul 5. LV Acta Pediatr Port 2006:3(37):LIII-VI 2. Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];102(6):[about 3p.]. Acessível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm b) Livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es). Título do livro em itálico e iniciais maiúsculas. Edição. Cidade: nome da casa editora; ano de publicação. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical Microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002. c) Capítulo de livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es) do capítulo. Título do capítulo. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) editor(es) médico(s), eds. Título do livro em itálico e iniciais maiúsculas. Número da edição. Cidade: nome da casa editora; ano de publicação. Número da primeira e última páginas. Arvin AN. Infection control. In: Beharman RE, Kliegman RM, Arvin AM, editors. Nelson Textbook of Pediatrics. 15th ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 1996. p1027-8. d) Comunicação em jornadas, congressos e similares: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es) da comunicação. Título da comunicação. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) editor(es), eds. Livro de publicação das comunicações; data e local da reunião. Cidade e nome da casa editora; ano de publicação. Número da primeira e última páginas. Christensen S, Oppacher F. An analysis of Koza’s computational effort statistic for genetic programming. In: Foster JA, Lutton E, Miller J, Ryan C, Tettamanzi AG, eds. Genetic programming. EuroGP 2002: Proceedings of the 5th European Conference on Genetic Programming; 2002 Apr 3-5; Kinsdale, Ireland. Berlin: Springer; 2002. p. 182-91. e) Página web: Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New York: Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01 [updated 2002 May 16; cited 2002 Normas de Publicação PROPOSTA DE NOVO SÓCIO Jul 9]. Acessível em: http://www.cancer-pain.org/. V – Autorizações. Antes de submeter um manuscrito à APP, os autores devem ter em sua posse os seguintes documentos que poderão ser solicitados pelo corpo editorial: - consentimento informado de cada participante; - consentimento informado relativamente a cada indivíduo presente em fotografias, mesmo após tentativa de ocultar a respectiva identidade; - transferência de direitos de autor de imagens ou ilustrações; - autorizações para utilização de material previamente publicado; - autorização dos colaboradores mencionados na secção de agradecimentos. ACTUALIZAÇÃO DE MORADA Sociedade Portuguesa de Pediatria VI – Revisão de Manuscritos Aceites. No caso do artigo ser aceite após modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo indicado pela APP. No momento da aceitação, os autores serão informados acerca do formato em que devem ser enviadas as figuras. As provas tipográficas serão enviadas aos autores, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da APP. A revisão deve ser aprovada por todos os autores. Nesta fase apenas aceitam-se modificações que decorram da correcção de gralhas. A correcção deve ser efectuada em documento à parte, referindo a página, coluna, parágrafo e linha na qual se pretende que se proceda às correcções. O não respeito do prazo desobriga aceitar a revisão pelos autores, podendo a mesma ser efectuada exclusivamente pelos serviços da APP. Juntamente com a correcção das provas tipográficas, deve ser enviada uma declaração de transferência de direitos de autor para APP, assinada por todos os autores (documento fornecido pela APP). Nome: Morada: Cód. Postal VII – Separatas. Após publicação de cada número da APP, os artigos publicados serão enviados em formato PDF pelo Secretariado da APP ao primeiro autor. Poderá ser solicitado ao Secretariado da APP o envio em formato PDF de artigos publicados recentemente, enquanto não estiverem disponíveis na página electrónica da Sociedade Portuguesa de Pediatria (www.spp.pt). - Telef.: Instituição: Telef.: e-mail: @ Enviar a: Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 e-mail: [email protected] Notas: • Esta proposta de novo sócio deverá ser acompanhada por um cheque de € 7,50 que se destinará ao pagamento da primeira anualidade. LVI ✄ • Em caso de pretender mudança de morada deverá indicar-nos qual a antiga para que se processe a actualização da mesma. Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria - Portuguese Paediatric Surveillance Unit INSCRIÇÃO DE NOVO NOTIFICADOR OU ACTUALIZAÇÃO DE CONTACTOS Nome: Morada: - , Instituição: Especialidade: Telefone: e-mail: @ Enviar para: Unidade de Vigilância Pediátrica / Portuguese Paediatric Surveillance Unit. Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 – e-mail: [email protected] ✄ Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 e-mail: [email protected] NOVO Enfalac Premium com DHA e ARA Os DHA e ARA são Ácidos Gordos Polinsaturados de Cadeia Longa, importantes no desenvolvimento dos tecidos do sistema nervoso central e desempenham um papel importante tanto no desenvolvimento neurológico como no da acuidade visual.1,2 Começar bem … … Continuar melhor! “As mulheres grávidas ou mães de recém-nascidos devem ser informadas das vantagens do aleitamento materno. As mães devem ser orientadas sobre como amamentar e saberem que a decisão de evitar ou interromper a amamentação pode ser irreversível. A introdução parcial de um leite dietético por biberão pode ter efeitos negativos sobre o aleitamento materno.” Código Internacional dos Substitutos do Leite Materno Edifício Fernão de Magalhães • Quinta da Fonte • 2780-730 Paço de Arcos Tel: 21 440 70 89 • Fax: 21 440 70 97 • www.meadjohnson.com 1. Birch, E., Uauy, R., et al. A Randomized Controlled Trial of Early Dietary Supply of Long-Chain Polyunsaturated Fatty Acids and Mental Development in Term Infants. Developmental Medicine & Child Neurology 2000, 42: 174-81. 2. Birch, E., Uauy, R., et al. Visual Acuity and the Essentiality of Docosahexaenoic Acid and Arachidonic Acid in the Diet of Term Infants. Pediatric Research 1998, 44: 201-209.