VOLUME 41 – NÚMERO 3 JUL / AGO / SETEMBRO – 2012 • Concomitância de carcinoma papilífero e tireoidite de hashimoto em pacientes submetidos a tireoidectomia total: Análise da casuística e revisão da literatura • Estudo epidemiológico de pneumonia nosocomial em pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia • Carcinoma medular da tireoide: Evolução com evidências clínicas da doença e tentativa de determinação de seus preditores • Avaliação videofluoroscópica no pós-operatório tardio de pacientes submetidos à laringectomia supracricoidea com cricohioidoepiglotopexia • Laringoceles: Estudo retrospectivo em uma única instituição • Uma nova realidade no câncer de laringe: Seguimento de 26 meses com linfonodo sentinela • Seguimento de 30 meses e recorrência no câncer de cavidade oral com linfonodo sentinela • Angina de Ludwig complicada com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse • Oncocitomas de glândulas salivares • Trauma traqueal associado à fratura mandibular - relato de caso • Câncer de Tireoide de Difícil Controle XXIV Congresso Brasileiro de Cirurgia de Cabeça e Pescoço IX Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia em Cirurgia de Cabeça e Pescoço 18 a 21 de setembro de 2013 Brasília - DF A MULTIDISCIPLINARIDADE DO TRATAMENTO DOS TUMORES DE CABEÇA E PESCOÇO NO SÉCULO XXI MAIORES INFORMAÇÕES: (61) 3322-2626 REALIZAÇÃO: SECRETARIA EXECUTIVA: AGÊNCIA DE TURISMO OFICIAL: HOTEL OFICIAL: APOIO: Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço ISSN 0100-2171 para a Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (impressa). ISSN 1981-951X para a Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (online). Registrada sob o nº 2080 P 209/73 na Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal Órgão oficial da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Federação Sul-Americana de Sociedades de Cirurgia de Cabeça e Pescoço EDITOR-CHEFE Geraldo Pereira Jotz - Porto Alegre / RS UFRGS e UFCSPA EDITOR ADJUNTO André Lopes Carvalho - Barretos / SP Hospital do Cancer EDITORES ASSOCIADOS Abrão Rapoport - São Paulo / SP Hospital Heliópolis Fabio Roberto Pinto – São Paulo / SP Hospital das Clinicas – USP Fernando Luiz Dias – Rio de Janeiro / RJ Hospital do Cancer - INCA Luiz Paulo Kowalski - São Paulo / SP Hospital A.C. Camargo Onivaldo Cervantes- São Paulo / SP Hospital São Paulo - UNIFESP CORPO EDITORIAL / EDITORIAL BOARD BRAZIL Agrício Nubiato Crespo – UNICAMP – Campinas / SP, Alfio José Tincani – UNICAMP – Campinas / SP, Alvaro Nagib Attalah – UNIFESP – São Paulo / SP, Ana Paula Brandão Barros – Hospital Heliópolis – São Paulo / SP, Antônio José Gonçalves – FCMSCSP - São Paulo / SP, Antônio Santos Martins – UNICAMP - Campinas / SP, Antônio Sérgio Fava – H.S.P.E. - São Paulo / SP, Carlos Neutzling Lehn – H.S.P.E. - São Paulo / SP, Cláudio Eduardo de Oliveira Cavalcanti – UFAL – Maceió - AL, Cláudio Roberto Cernea – USP - São Paulo / SP, Elisabete Carrara de Angelis – Hospital A.C. Camargo – São Paulo / SP, Fábio Luiz de Menezes Montenegro – USP - São Paulo / SP, Fátima Cristina Mendes de Matos – UFPe – Recife / PE, Flávio Carneiro Hojaij – UNIFESP - São Paulo / SP, Francisco Monteiro de Castro Júnior – UFC – Fortaleza / CE, Gerson Schullz Maahs – PUCRS - Porto Alegre / RS, Gilberto Vaz Teixeira - CECON - Florianópolis / SC, Gyl Henrique Albrecht Ramos – Hospital Erasto Gaertner - Curitiba / PR, Jacob Kligerman – INCA - Rio de Janeiro / RJ, Jorge Pinho Filho – Hospital Memorial São José - Recife / PE, José Antônio Pinto - Núcleo de Otorrinolaringologia São Paulo / SP, José Carlos de Oliveira - Hospital Araujo Jorge - Goiânia / GO, José Francisco de Góis Filho – IAVC - São Paulo / SP, José Francisco de Sales Chagas – PUCCAMP – Campinas / SP, José Luiz Braga de Aquino – PUCCAMP – Campinas / SP, José Magrin – Hospital A.C. Camargo - São Paulo / SP, José Maria Porcaro Salles - UFMG - Belo Horizonte / MG, Jossi Ledo Kanda - Fundação ABC - São Paulo / SP, Julio Morais Besteiro – USP – São Paulo / SP, Lenine Garcia Brandão – USP - São Paulo / SP, Leonardo Haddad – UNIFESP - São Paulo / SP, Luiz Augusto do Nascimento – UNB – Brasília / DF, Marcelo Doria Durazzo – USP - São Paulo / SP, Marcílio Ferreira Marques Filho – U.E. Ilhéus – Itabuna / BA, Márcio Abrahão – UNIFESP - São Paulo / SP, Marcos Brasilino de Carvalho – Hospital Heliópolis - São Paulo / SP, Marcos Roberto Tavares – USP - São Paulo / SP, Mauro Becker Martins Vieira – Hospital Felício Rocho - Belo Horizonte / MG, Marcelo Miguel Hueb – UFTM – Uberaba / MG, Marcus Lessa – UFBA – Salvador / BA, Maria Beatriz Nogueira Pascoal – PUCCAMP – Campi- SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO (DIRETORIA DO BIÊNIO 2009-2011) Presidente .......................................... José Roberto Vasconcelos Podestá (ES) 1º Vice-Presidente ............................. Rogério Aparecido Dedvitis (SP) 2º Vice-Presidente ............................. Claudio Netto Estrella (DF) 3º Vice-Presidente ............................. Nilton Tabajara Herter (RS) 4º Vice-Presidente ............................. Luiz Roberto de Oliveira (CE) 5º Vice-Presidente ............................. Leônidas Alves da Silva (AM) 1º Secretário ...................................... Fernando Walder (SP) 2º Secretário ...................................... Marco Aurélio Valmondes Kulcsar (SP) 3º Secretário ...................................... José Gulherme Vartanian (SP) 1º Tesoureiro ...................................... Sérgio Samir Arap (SP) 2º Tesoureiro ...................................... Alfio José Tincani (SP) 3º Tesoureiro ...................................... Luis Eduardo Barbalho de Mello (RN) Diretor de Defesa Profissional ........... Antonio José Gonçalves (SP) Diretor Científico ................................ Flavio Carneiro Hojaij (SP) nas / SP, Mauro Marques Barbosa - INCA - Rio de Janeiro / RJ, Nédio Steffen – PUCRS – Porto Alegre / RS, Orlando Parise Jr. – Hospital Sírio Libanês São Paulo / SP, Paola Andrea Galbiatti Pedruzzi - Hospital Erasto Gaertner Curitiba / PR, Pedro Michaluart Junior – USP - São Paulo / SP, Roberto de Araújo Lima – INCA - Rio de Janeiro / RJ, Rui Maciel – UNIFESP – São Paulo / SP, Rui Celso Martins Mamede – USP/RP - Ribeirão Preto / SP, Sérgio Luis de Miranda – UNISA – São Paulo / SP, Silvia Dornelles – UFRGS - Porto Alegre / RS, Silvia Regina Rogatto – UNESP – Botucatu / SP, Sylvio de Vasconcellos e Silva Neto - UFPe - Recife / PE. CORPO EDITORIAL INTERNACIONAL / INTERNATIONAL EDITORIAL BOARD Abél González – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Ashok Shaha – Memorial Sloan Kettering Cancer Center, New York (Estados Unidos); Eugene N. Myers – Pittsburgh University, Pittsburgh (Estados Unidos); François Eschwege - Institut Gustave-Roussy, Villejuif (França); Jatin P. Shah - Memorial Sloan Kettering Cancer Center, New York (Estados Unidos); Jean Louis Lefebvre - Centre Oscar Lambret, Lille (França); Jonas T. Johnson – Pittsburgh University, Pittsburgh (Estados Unidos); Jose Luis Novelli, Centro de Tiroides - Rosário (Argentina); Jose Saavedra – Soc. Peruana de Cirurgia, Lima (Peru); Juan Postigo Díaz - Cirugia de Cabeza y Cuello – Oncologia, Lima (Peru); Luis Soto Díaz - CEAT, Santiago (Chile); Manuel Montesinos – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Marcelo Figari – Hospital Italiano de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Maria Paula Curado – IARC – Lyon / França, Osvaldo Gonzalez Aguilar – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Paul J. Donald – University of California - Davis Health System, Sacramento (Estados Unidos); Pedro Sanchez e Ingunza - INEN, Lima (Peru). **** Indexada na Base de Dados Lilacs***** CONSELHO CIENTÍFICO DA SBCCP (EX-PRESIDENTES) Abrão Rapoport (São Paulo), Alberto Rossetti Ferraz (São Paulo), Anói Castro Cordeiro (São Paulo), Cláudio Roberto Cernea (São Paulo), Emílson de Queiroz Freitas (Rio de Janeiro), Fernando Luiz Dias (Rio de Janeiro), Francisco Monteiro de Castro Jr. (Fortaleza), Jacob Kligerman (Rio de Janeiro), Josias de Andrade Sobrinho (São Paulo), Lenine Garcia Brandão (São Paulo), Luiz Paulo Kowalski (São Paulo), Marcos Brasilino de Carvalho (São Paulo), Marcos Roberto Tavares (São Paulo), Maria Paula Curado (Goiânia), Mário Jorge Rosa de Noronha (Rio de Janeiro), Mauro Marques Barbosa (Rio de Janeiro), Onivaldo Cervantes (São Paulo), Ricardo Curioso (Natal), Roberto Araújo Lima (Rio de Janeiro). EX-EDITORES DA RBCCP Abrão Rapoport (1974-1986), Marcos Brasilino de Carvalho (1987-1989), Lenine Garcia Brandão (1989-1993), Fernando Luiz Dias (1994-1997), Fábio Luiz de Menezes Montenegro e Marcelo Doria Durazzo (1997-2001), Luiz Paulo Kowalski (2001-2003), Onivaldo Cervantes (2003-2005), Rogério Dedivitis (20052009), Geraldo Pereira Jotz e Rogério Dedivitis (2009-2011). Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço www.revistabrasccp.org.br / www.sbccp.org.br Redação, assinaturas e administração: Av. Brigadeiro Luís Antonio, 278 6º andar - Sala 5 - Bela Vista - CEP 01318-901 - São Paulo - SP - Brasil Tel./Fax: (11) 3107-9529 e-mail: [email protected] Projeto Gráfico: Vagner Bertaco Severino Impressão: H. Máxima Produtora Editora e Gráfica - (11) 3277-3314 A RBCCP é Distribuida gratuitamente aos sócios da SBCCP ou mediante assinatura anual de R$ 100,00; número avulso: R$ 35,00 Periodicidade: Trimestral - Tiragem: 1.000 exemplares É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 2, julho / agosto / setembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Normas para publicação Orientação aos autores A Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (ISSN 0100-2171), órgão científico oficial da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Federação Sul-Americana de Sociedades de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, é um veículo multidisciplinar de publicação trimestral, em um único volume anual, com o objetivo de divulgar artigos originais de autores nacionais e estrangeiros, aprovados por pareceristas do Conselho Editorial, contendo informações clínicas e experimentais relacionadas com o segmento anatômico da cabeça e pescoço, interessando não só à Especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço como também às de Cirurgia Geral, Otorrinolaringologia, Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial, Neurocirurgia e Ciências Básicas afins. O endereço editorial é: Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 – 6º andar 01318-901 São Paulo SP. Telefax (11) 3107-9529. Todos os manuscritos e comunicações editoriais devem ser enviados on-line. Veja a Submissão de Manuscritos, abaixo. Visite o site: http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/ e http://www.sbccp.org.br Política editorial Todos os artigos são revisados por dois revisores. O Conselho Editorial é composto por especialistas, com publicações nas bases de dados, que recebem os textos de forma anônima e decidem por sua publicação. A aceitação é baseada na originalidade e significância do material apresentado. Somente serão submetidos à avaliação os trabalhos que estiverem dentro das normas para publicação na Revista. A responsabilidade de conceitos ou asserções emitidos em trabalhos na Revista, bem como a exatidão das referências cabem inteiramente ao(s) autor(es). Não serão aceitos trabalhos já publicados ou simultaneamente enviados para avaliação em outros periódicos. Autoria Todas as pessoas designadas como autores devem responder pela autoria do manuscrito e ter participado suficientemente do trabalho para assumir responsabilidade pública pelo seu conteúdo. O crédito de autoria deve ser baseado apenas por contribuições substanciais durante: (a) concepção, planejamento, execução, análise e interpretação dos resultados; (b) redação e elaboração do artigo ou revisão de forma intelectualmente importante; (c) aprovação final da versão a ser publicada. A participação limitada somente à obtenção de fundos, coleta de dados, supervisão geral ou chefia de um grupo de pesquisa não justifica autoria do manuscrito. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. Categorias dos artigos Os seguintes tipos de artigos são publicados: – Artigos Originais: a) introdução com objetivo; b) método; c) resultados; d) discussão; e) conclusões; f) referências bibliográficas. As informações contidas em tabelas e figuras não devem ser repetidas no texto. Estudos envolvendo seres humanos e animais devem fazer referência ao número do protocolo de aprovação pelo respectivo Comitês de Ética em Pesquisa da instituição à qual está vinculada a pesquisa. Artigos originais são definidos como relatórios de trabalho original com contribuições significativas e válidas. Os leitores devem extrair de um artigo geral conclusões objetivas que vão ao encontro dos objetivos propostos. – Artigos de Revisão da Literatura: a) introdução; b) revisão de literatura; c) discussão; d) comentários finais; e) referências bibliográficas. Artigos de revisão devem abranger a literatura existente e atual sobre um tópico específico. A revisão deve identificar, confrontar e discutir as diferenças de interpretação ou opinião. – Artigos de Atualização: a) introdução; b) revisão de um determinado tema; c) discussão; d) comentários finais; e) referências bibliográficas. O artigo de atualização é uma produção científica que explora um determinado tema, desenvolvido a partir de dados atuais disponíveis pelos autores. Tem por finalidade organizar um discurso explorando um assunto específico, com base em obras publicadas recentemente. – Artigos de Relato de Caso: a) introdução; b) revisão de literatura com diagnóstico diferencial c) apresentação de caso clínico; d) discussão; e) comentários finais; f) referências bibliográficas. Relatos de caso deverão apresentar características inusitadas ou cientificamente relevantes. Será dada prioridade a relatos de cunho multidisciplinar, interdisciplinar e/ou prático. – Artigos de Opinião e Carta ao Editor: deverão ser feitos sob convite do Editor. Preparação do manuscrito A Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço adota as recomendações do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, conforme o site www.icmje.org (de outubro de 2007). A Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço apoia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Assim, somente serão aceitos para publicação os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE. Os endereços estão disponíveis no site do ICMJE http://www.icmje.org. O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo. Abreviações devem ser apresentadas por extenso na primeira vez em que aparecem no texto, sendo indicadas imediatamente depois entre parênteses. Devem ser consistentemente utilizadas no corpo do manuscrito. Serão aceitos trabalhos em português e espanhol. Página do título. A página do título deve conter: (1) título em português e em inglês, devendo ser conciso e explicativo e representando o conteúdo do trabalho; (2) nome completo de todos os autores, com o mais elevado título acadêmico e afiliação institucional de cada um; (3) instituição(ões) onde o artigo foi desenvolvido; (4) nome, endereço completo, números de telefone/fax e endereço eletrônico (e-mail) do autor correspondente; o autor correspondente receberá toda correspondência relativa ao manuscrito, bem como a prova do artigo e solicitação de separatas; (5) congresso ou encontro onde o trabalho foi apresentado, se aplicável; e (6) patrocínios, assistência recebida e conflito de interesse, se aplicável. Resumo e Abstract. Artigos originais devem ter um resumo em português e um abstract em inglês, cada um com 200 a 250 palavras. Devem ser apresentados em páginas separadas, em um parágrafo único e estruturados nas seguintes partes: Introdução; Objetivo; Casuística (ou Material) e Método; Resultados; e Conclusão. Três ou mais descritores em português e key words em inglês, em seguida, respectivamente, ao resumo e ao abstract devem ser apresentados, conforme padronização nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) (http:// www.bireme.br) e Medical Subject Headings do Index Medicus (MeSH). Texto. Consulte “Categorias dos Artigos” para orientação sobre o tamanho do manuscrito. O texto deve ser claro e conciso. Recomenda-se subdividir os artigos originais em: Introdução; Métodos; Resultados; Discussão; e Conclusão. Use os nomes genéricos de drogas e equipamentos quando possível; cite os nomes do proprietário após a primeira menção. Identifique equipamentos pelo nome e local do fabricante. Aspectos éticos. Todos os artigos devem mencionar claramente a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do local onde o trabalho foi realizado ou equivalente, contendo o Consentimento Informado e com observação da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196, de 10 de outubro de 1996 (http://www.datasus.gov.br/conselho/resolucoes.htm ou http://www.resodic.org. br/rede8119.html); da Declaração de Helsinki, revisada em 2000 - WMA (World Medical Association), 2000. Declaration of Helsinki. Edinburgh, Scotland: 52nd General Assembly-WMA. 13 October 2000 (http://www.wma.net); e das Normas Internacionais de Proteção aos Animais. Agradecimentos. Registre agradecimento ao estatístico e qualquer outra pessoa que tenha contribuído para o trabalho e que não sejam co-autores, indicando os nomes e respectivas titulações acadêmicas e vínculo institucional. Referências. Os autores são responsáveis pela exatidão, acurácia e formato das referências. Comece a listagem das referências em uma página separada, logo após os Agradecimentos. As referências são identificadas no texto, nas tabelas e legendas através de algarismos arábicos colocados na mesma linha do período, na forma sobrescrita. As referências devem ser numeradas de forma consecutiva na ordem em que são citadas pela primeira vez no trabalho, não na ordem alfabética nem na cronológica. Siga o formato detalhado no Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (JAMA. 1997;277:927-34). Mencionar todos os autores. Cite dados não publicados, comunicações pessoais e manuscritos submetidos (mas ainda não aceitos) como notas de rodapé, no texto. Serão aceitas no máximo 30 referências para artigos originais, 50 para artigos de revisão ou de atualização e 15 para relatos de casos. Exemplos de formas de referências: - em Revista: Alkureishi LW, Ross GL, MacDonald DG, Shoaib T, Gray H, ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 2, julho / agosto / setembro 2012 Normas para publicação Robertson G, Soutar DS. Sentinel node in head and neck cancer: use of size criterion to upstage the no neck in head and neck squamous cell carcinoma. Head Neck. 2007;29(2):95-103. - livro: Carvalho MB. Tratado de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001. - capítulo de livro: Barroso FL, Souza JAG. Perfurações pépticas gástricas e duodenais. In: Barroso FL, Vieira OM, editores. Abdome agudo não traumático - Novas propostas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Robe Editora; 1995. p. 201-220. - tese e monografia: Barros APB. Efetividade da comunicação oral, qualidade de vida e depressão pós-faringolaringectomia e laringectomia total. [Dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2002. - Material Eletrônico: Artigo: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial on the Internet]. 1995 jan/mar [cited 1996 jun 5]; 1(1):[24 telas]. Available from: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Arquivo de Computador: Hemodynamics III: The ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version 2.2 Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993. Monografia em formato eletrônico: CDI, Clinical dermatology illustrated [CD-ROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0 San Diego: CMEA; 1965. Tabelas. As tabelas devem ser numeradas de forma consecutiva na ordem em que são citadas no texto. Devem ser colocadas em páginas separadas, logo após as Referências e numeradas na ordem em que elas são mencionadas no texto. Cada tabela deve ter um título conciso na parte superior e suas abreviações devem ser colocadas como notas de rodapé, escritas como Times New Roman 10. Figuras. As figuras devem ser numeradas de modo consecutivo de acordo com a primeira citação no texto. A lista de legendas das figuras deve ser remetida em folha separada logo após as tabelas. Cada figura deve ter uma legenda na sua parte inferior. Cada figura será impressa em preto e branco, a não ser que seja selecionada pelo Editor ou haja uma solicitação por parte dos autores para reprodução a cores. Figuras a cores são estimuladas, porém, os autores serão responsáveis pelas despesas para reprodução a cores, caso sejam os solicitantes. As figuras podem aparecer no website da Revista sem custo adicional. Para reprodução de figuras já publicadas deve ser reconhecida a fonte e os autores devem encaminhar cópia da autorização escrita do proprietário para reprodução. Fotos envolvendo seres humanos devem observar os cuidados de privacidade do indivíduo. Caso contrário, os autores devem providenciar uma autorização por escrito do paciente ou de seu responsável. As figuras devem ser submetidas no formato eletrônico, em formato TIF ou JPEG. As figuras devem ser enviadas separadamente na submissão eletrônica. Todas as figuras devem ser referidas no texto, sendo numeradas consecutivamente por algarismo arábico. Cada figura deve ser acompanhada de uma legenda descritiva colocada após as referências. Instruções para submissão on-line de manuscritos usando o sistema de gestão de publicações (sgp) Todo o processo de submissão deverá ser feito através do endereço de internet http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/, que dá acesso ao nosso Sistema de Gestão de Publicações (SGP), onde é feita a submissão do artigo pelos autores e a avaliação por revisores do corpo editorial, em um processo onde os nomes dos autores do artigo em questão não são demonstrados em nenhuma instância. Quando acessar este link, o sistema irá pedir seu nome de usuário e senha, caso já esteja cadastrado. Caso contrário clique no botão “Quero me cadastrar” e faça seu cadastro. Ou ainda, caso tenha esquecido sua senha, use o mecanismo para lembrar sua senha, que gerará automaticamente um e-mail contendo a mesma. O (s) autor (es) deve (m) manter uma cópia de todo o material enviado para publicação, pois os editores não se responsabilizam pelo extravio do material. O processo de submissão é composto de oito passos, listados abaixo: 1º - Informar Classificação (Original, Revisão, Atualização, Relato de Caso) 2º - Envio de Imagens para o seu Artigo 3º - Cadastrar Co-autor (es) 4º - Informar Título e Descritores 5º - Informar Resumo e Comentários 6º - Montar Manuscrito 7º - Transferência de Copyright (Cessão de Direitos) e Declaração de Conflitos de Interesse 8º - Aprovação do (s) Autor (es) nuscritos preparados em WordPerfect ou Microsoft Word, pois no passo “Montar Manuscrito”, será exibida uma tela que simula o Word, onde é possível “copiar e colar” de qualquer editor de texto, inclusive as tabelas. O texto deverá ser digitado em espaço duplo, sendo que as margens não devem ser definidas, pois o sistema SGP as definirá automaticamente. Regras para imagens e gráficos estão descritas abaixo. Submissão on-line passo a passo 1º Passo: Informar Classificação Escolha uma das quatro opções: Artigo Original, Artigo de Revisão, Artigo de Atualização ou Relato de Caso. 2º Passo: Envio de imagens para o seu artigo: As imagens deverão obrigatoriamente estar em formato JPG. Caso necessite alterar o formato de suas imagens entre na seção DOWNLOADS no SGP em: http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/naveg/downloads.asp e faça o download de algum dos programas freeware oferecidos para edição de imagens (requer senha de acesso). O sistema envia grupos de até cinco imagens por vez. Para submeter mais de cinco imagens, basta clicar no botão “Enviar mais imagens”. Logo após serão exibidas miniaturas das imagens, onde há um ícone (), que deverá ser clicado para editar o título e a legenda de cada imagem submetida. 3º Passo: Cadastrar Co-autor (es) Cadastre cada co-autor, informando nome completo, cargo e titulação obrigatoriamente. O CPF poderá ser informado posteriormente. A ordem dos co-autores pode ser alterada facilmente usando as “setas” exibidas na tela. 4º Passo: Informar Título e Descritore Informe o título do trabalho, em português e inglês, e as Descritore (Português) e Key words (Inglês), que deverão ter aproximadamente 2 a 6 palavras chaves pertinentes (ESTAS PALAVRAS DEVERÃO ESTAR CONTIDAS NO DECS E NO MESH que podem encontrados no SGP em todas as telas). 5º Passo: Informar Resumo e Comentários O Resumo/Abstract deverá obrigatoriamente conter no máximo 250 palavras cada. O autor deverá preencher os campos: Instituição, Nome e endereço para correspondência, suporte financeiro (deverá ser provida qualquer informação sobre concessões ou outro apoio financeiro) e a carta ao editor (opcional). Importante: o limite máximo aceito pelo sistema de submissão on-line para os resumos em português e inglês é de 250 palavras cada. O excedente será cortado automaticamente pelo sistema. 6º Passo: Montar Manuscrito Nesta tela é exibido um simulador do Word com todas as funcionalidades de formatação de texto necessárias. Para inserir seu texto neste campo, simplesmente selecione todo seu trabalho e copie e cole no campo de montagem do manuscrito (artigo). Somente selecione textos e tabelas, pois as imagens já deverão ter sido enviadas no 1º passo e serão inseridas no final do trabalho automaticamente. Importante: Nunca coloque neste campo os nomes de autores, co-autores, ou qualquer outra informação que possa identificar onde o trabalho foi realizado. Tal exigência se deve ao fato de o processo de revisão transcorrer sem o conhecimento destes dados pelo (s) revisor (es). A não observância deste detalhe fará com que seu trabalho seja devolvido como FORA DE PADRÃO para correções. 7º Passo: Copyright (Cessão de Direitos) e Declaração de Conflitos de Interesse Neste passo é exibida a tela com o termo de Copyright e outra com a Declaração de conflitos de Interesse, onde os autores deverão clicar nos boxes apropriados. 8º Passo (Último passo): Aprovação do Autor Este é o último passo para completar a submissão do artigo. Nesta tela o autor terá a opção de visualizar seu trabalho no sistema e também pode salvar uma versão em PDF de seu trabalho recém submetido. Importante: O autor deverá clicar no link “APROVAR MANUSCRITO” para que seu trabalho seja encaminhado à Secretaria da Revista da SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO para conferência e confirmação. Distribuição A Revista é distribuída gratuitamente a todos os membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, a bibliotecas da área de Saúde e mediante assinatura. Após a submissão, o sistema oferece a opção de salvar uma cópia de seu manuscrito em formato PDF para seu controle. A Revista encoraja fortemente que os autores submetam eletronicamente ma- Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 2, julho / agosto / setembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Instructions for authors Instructions for authors The Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (Brazilian Journal of Head and Neck Surgery), ISSN 0100-2171 is the official scientific journal of the Brazilian Society for Head and Neck Surgery and the South American Federation of Societies for Head and Neck Surgery. It is a multidisciplinary journal published quarterly, forming a single volume per year, with the aim of disseminating original articles by Brazilian and foreign authors that have been approved for publication by the Editorial Board’s specialist reviewers. The articles published contain clinical and experimental information relating to the anatomical segment of the head and neck and are of interest not only to the specialty of Head and Neck Surgery but also to the specialties of General Surgery, Otorhinolaryngology, Cranio-maxillofacial Surgery and Neurosurgery and similar Basic Sciences. The editorial address is: Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278, 6º andar, 01318-901 São Paulo SP. Tel/fax: (55 11) 3107-9529. All manuscripts and communications with the Editorial Board must be sent online. See Submission of Manuscripts, below. Visit the website: http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/ and http://www.sbccp.org.br Editorial policy All articles are appraised by two reviewers. The Editorial Board is composed of specialists with published work in indexed journals who receive submissions anonymously and decide whether these texts should be published. Acceptance is based on the originality and significance of the material presented. Only studies that conform to the Journal’s publication standards will be submitted for appraisal. The responsibility for concepts or assertions put forward in studies in the Journal, and for the accuracy of references, lies entirely with the author(s). Studies that have already been published or that have simultaneously been sent for appraisal by other periodicals will not be accepted. Authorship All persons named as authors are responsible for the authorship of the manuscript and need to have participated in the study sufficiently for them to assume public responsibility for its content. Authorship credit must be based only on substantial contributions during the stages of (a) conceptualization, planning, execution and results analysis and interpretation; (b) compilation and writing of the article or review in an intellectually meaningful manner; (c) final approval of the version to be published. Participation that is limited only to fund-raising, data collection, general supervision or being the head of a research group does not justify authorship of the manuscript. The Editors may request justification for author inclusion, during the manuscript review process, especially if the total number of authors exceeds six. Article categories The following types of article are published: – Original articles: a) introduction with objective; b) method; c) results; d) discussion; e) conclusions; f)references. The information described in tables and graphs should not be repeated in the text. Studies involving human beings and animals should include the approval protocol number of the respective Ethics Committee on Research of the institution to which the research is affiliated. Original articles are defined as reports of an original work with valid and significative results. The readers should extract from it objective conclusions that are related to the proposed objectives. – Literature review articles: a) introduction; b) review of literature; c) discussion; d) final comments; e) bibliographical references. Literature review articles should include the updated literature regarding an specific topic. The revision should identify and compare and discuss the different opinions and interpretations. – Update articles: a) introduction; b) review of a particular topic, c) discussion; d) final comments, e) references. The article is an update of scientific production that explores a particular theme, developed from current data available by the authors. Aims to organize a speech exploring a particular subject, based on recently published works. – Case report articles: a) introduction; b) review of literature with differential diagnosis; c) case report; d) discussion; e) final comments; f) references. Case report articles should present unusual characteristics or scientific relevant ones. Priority will be given to reports of multidisciplinary or interdisciplinary or practical approaches. – Opinion articles: Only by invitation from the Editorial Board. Preparation of the manuscript The Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço adopts the recommendations of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), as laid out on the ICMJE website: www.icmje.org (October 2007). The Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço supports the policies of the World Health Organization (WHO) and ICMJE regarding the registration of clinical trials and it recognizes the importance of these initiatives for registering and internationally disseminating information on clinical studies, with open access. Thus, clinical research articles will only be accepted for publication if they have received an identification number from one of the Clinical Trial Registers that have been validated in accordance with the criteria established by WHO and ICMJE. The addresses of these registers are available on the ICMJE website: http://www.icmje.org. The identification number should be stated at the end of the Abstract and abstract. Abbreviations must be written out in full on the first occasion when they appear in the text, such that the term is followed immediately by the abbreviation in parentheses. They must be used consistently in the body of the manuscript. Studies will be accepted in Portuguese and Spanish. Title page. The title page must contain: (1) the title in Portuguese and English, which must be concise and explicative, representing the content of the study; (2) full names of all the authors, with their highest academic titles and institutional affiliations; (3) institution(s) where the article was developed; (4) name, full address, telephone/fax numbers and electronic address (e-mail) of the author for correspondence; this author will receive all correspondence relating to the manuscript, as well as the proof for the article and requests for reprints; (5) congress or meeting at which the study was presented, if applicable; and (6) sponsorship, assistance received and conflicts of interest, if applicable. Abstract and Abstract. Original articles must have a Abstract in Portuguese and an abstract in English, which should each consist of 200 to 250 words. They must be presented on separate pages, each as a single paragraph and structured into the following parts: Introduction; Objective; Sample (or Material) and Method; Results; and Conclusion. Three or more descriptors in Portuguese must be presented following the Abstract, and three or more key words in English following the abstract, as standardized in the Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) (http://www.bireme.br) and Medical Subject Headings of the Index Medicus (MeSH). Text. Consult “Article Categories” for instructions regarding the manuscript size. The text must be clear and concise. It is recommended that original articles should be subdivided into: Introduction; Methods; Results; Discussion; and Conclusion. Use generic names for drugs and equipment whenever possible; cite the proprietary names after the first mention. Identify equipment by the name and the place of manufacture. Ethical matters. All articles must clearly mention that approval was obtained from the Research Ethics Committee at the place where the study was developed, or its equivalent; that informed consent procedures were adopted; and that due regard was given to Resolution no. 196 of the National Health Board (Conselho Nacional de Saúde), dated October 10, 1996 (http://www.datasus.gov. br/conselho/resolucoes.htm or http://www.resodic.org.br/rede8119.html); to the Declaration of Helsinki, as revised in 2000: World Medical Association (WMA), 2000. Declaration of Helsinki. Edinburgh, Scotland: 52nd General Assembly-WMA. October 13, 2000 (http://www.wma.net); and to the International Animal Protection Standards. Acknowledgements. Register acknowledgements to the statistician and any other persons who may have contributed towards the study but who are not co-authors, indicating the names and respective academic titles and institutional links. References. The authors are responsible for the exactness, accuracy and format of the references. Start to list the references on a separate page, just after the Acknowledgements. References are identified in the text, tables and legends by means of Arabic numerals placed on the same line of the sentence, in superscript form. The references must be numbered consecutively in the order in which they are cited for the first time in the study, and not in alphabetical or chronological order. Follow the format detailed in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (JAMA. 1997;277:927-34). Mention all authors. Cite unpublished data, personal communications and manuscripts submitted (but not yet accepted), as footnotes in the text. There should be no more than 30 references for Original articles, 50 for Literature review ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 2, julho / agosto / setembro 2012 Instructions for authors or update articles and 15 for Case report articles. Examples of forms of references: - Journal: Alkureishi LW, Ross GL, MacDonald DG, Shoaib T, Gray H, Robertson G, Soutar DS. Sentinel node in head and neck cancer: use of size criterion to upstage the no neck in head and neck squamous cell carcinoma. Head Neck. 2007;29(2):95-103. - Book: Carvalho MB. Tratado de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001. - Chapter of a book: Barroso FL, Souza JAG. Perfurações pépticas gástricas e duodenais. In: Barroso FL, Vieira OM, editores. Abdome agudo não traumático - Novas propostas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Robe Editora; 1995. p. 201-220. - Thesis and monograph: Barros APB. Efetividade da comunicação oral, qualidade de vida e depressão pós-faringolaringectomia e laringectomia total. [Dissertation]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2002. - Electronic material: Article: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial on the Internet]. 1995 Jan/Mar [cited 1996, Jun 5]; 1(1):[24 screens]. Available from: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Computer file: Hemodynamics III: The ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version 2.2 Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993. Monograph in electronic format: CDI, Clinical dermatology illustrated [CDROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0 San Diego: CMEA; 1965. Tables. Tables must be placed on separate pages, just after the References, and must be numbered consecutively in the order in which they are cited in the text. Each table must have a concise title placed above it, and abbreviations used in the table must be defined as footnotes. Figures. Figures must be numbered consecutively starting with the first citation in the text. A list of figure legends must be placed on a separate page just after the tables. Each figure must have a legend appearing below it. All figures will be printed in black and white, unless selected for color reproduction by the Editor or there is a request for this from the authors. Figures in color are encouraged, but the authors will be responsible for the expenses relating to color reproduction if they are the party requesting this. The figures may appear on the Journal’s website without additional cost. If it is desired to reproduce figures that have already been published, the source must be acknowledged and the authors must forward a copy of the owner’s written authorization of this reproduction. Photographs involving human beings must give due regard to the individual’s privacy. Otherwise, the authors must provide written authorization from the patient or from the person responsible for this patient. Figures must be submitted in electronic format, as TIF or JPEG files. The figures must be sent separately in the electronic submission. All figures must be referred to in the text and be numbered consecutively in Arabic numerals. Each figure must be accompanied by a descriptive legend that is placed after the references. General instructions for on-line submission of manuscripts using the Manager Publication System (MPS) All the submission process should be done through the internet address http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/which gives access to our Manager Publication System (MPS), where the submission of the article is done by the authors and the evaluation process is done by the reviewers of our editorial board in a process where the names of the authors are not displayed in any instance. When linked the system will ask for your user name and password in case you have already registered. On the contrary click on the link “Want to Register” and make your registration. In case you have forgotten your password, click on the appropriate link and the system will generate an automatic e-mail with the information. The author or authors should keep a copy of all submitted material for publication as the editor can not be held responsible for any lost material. The submission is an eight steps process as listed bellow: 1st Informing article classification (Original articles, Literature review articles, Update articles, Case report articles) 2nd Sending images for your article 3rd Registering co-authors 4th Informing title and key-words 5th Informing Abstract and comments 6th Preparing Manuscript 7th Filling, signing and sending Copyright and Conflicts of Interest forms 8th Author approval After submission, the system offers the option of saving a copy of your manuscript in PDF format for your control. The journal strongly recommends that the authors submit their electronic manuscripts written in Microsoft Word or Word Perfect. In the “Preparing Manuscript” step a screen that simulates the word processor will be displayed, where it is possible to “copy and paste”, including tables. Rules for images and graphs are descried below. Step-by-step on-line submission 1st Step: Informing article classification Chose one from the three options: Original Article, Revision Article, Update Article or Case Report. 2nd step: Sending images for your article Images must be in JPG format. If your images need format changing access the section DOWNLOADS in SGP (Manager Publication System) on http://www. sgponline.com.br/rbccp/sgp/naveg/downloads.asp and download some freeware programs offered for image edition (password is required). The system accepts groups of five images at a time. In order to submit more than five images, click on “Send more images”. Soon after that it will be displayed miniatures of the images where there is an icon which must be clicked to edit the title and legend of each submitted image. 3rd Step: Registering co-authors Register each author informing his/her full name, function and position; CPF number (for Brazilians) or any ID (in case of a foreigner) could be send later on. Co-authors sequence can be easily changed using the “arrows” displayed on the screen. 4th Step: Informing title and key-words Inform the manuscript title and keyword in your native language and in English, using from 2 to 6 related words. (THESE WORDS MUST BE PART OF DECS AND MESH), which can be found on MPS (Manager Publication System)on all of the screens. 5th Step: Informing Abstract and comments Abstract/Abstract must have 250 words at its maximum. The author should fill the following fields: Institution, Name and Mail Address, Financial Support (any other information on concessions or other type of financial support), and Letter to the Editor (optional). Important: The limit accepted by the on-line submission system for the summaries in native language and English is 250 words. The exceeding words will be automatically cut off by the system. 6th Step: Preparing manuscript In this screen a Word simulator is displayed having all format text function needed. In order to insert your text in this field, select your text and tables and copy and paste it on “Preparing Manuscript” field; Images should have already been sent on the 2nd step and they will be inserted automatically at the end of the work. Important: never fill these fields with the names of the authors, co-authors or any other information that can identify where the work was done. This is because the reviewer should not have access to this information. If this instruction is not followed your work will return to you as OUT OF STANDARD in order to be correct. 7th Step: Filling, signing and sending Copyright and Conflicts of Interest forms In this step the Copyright and Conflict of Interest terms are displayed, clicking on the appropriate boxes. 8th Step: Author approval This is the last step to complete your manuscript submission. In this step the author will have an option to visualize his work in the system and will also be able to save a PDF version of the newly submitted work. Important: author should click on “ APPROVE MANUSCRIPT” to have it send to the office of the BRAZILIAN HEAD AND NECK SOCIETY Journal for control and confirmation. Distribution The Journal is distributed free of charge to all members of the Brazilian Society for Head and Neck Surgery and to libraries within the field of healthcare, and is available on subscription. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 2, julho / agosto / setembro 2012 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Editorial Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço Editorial - Volume 41 (3) – Julho/Agosto/Setembro – 2012 Prezados Colegas, ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 2, julho / agosto / setembro 2012 Artigo Original Índice Concomitância de carcinoma papilífero e tireoidite de hashimoto em pacientes submetidos a tireoidectomia total: Análise da casuística e revisão da literatura.................................................................... 109 Coexistence of papillary thyroid carcinoma and hashimoto’s thyroiditis in patients submitted to total thyroidectomy: Retrospective case series and literature review Verglius José Furtado de Araujo Filho, Vergilius José Furtado de Araujo Neto, Erivelto Martinho Volpi, Renata R G Lorencetti Mahmoud, Daniel Marin Ramos, Daniella Karassawa Zanoni, Rubens Kenji Aisawa, Joamara Nogueira Ramos, Claudio Roberto Cernea, Lenine Garcia Brandão. Estudo epidemiológico de pneumonia nosocomial em pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia ............................................................................................................................... 113 Epidemiological study of hospitalar pneumonia in patients submitted to pelveglossomandibulectomia surgery Doris Naoko Suzumura, Juliana Carvalho Schleder, Mariana de Souza Topanotti, Ivan Santos de Lima, Woldir Wosiacki Filho, Cesar Costa, Benedito Valdecir de Oliveira Carcinoma medular da tireoide: Evolução com evidências clínicas da doença e tentativa de determinação de seus preditores......................................................................................................................... 118 Medullary thyroid carcinoma: Evolution with macroscopic evidence of the disease and attempt to determine its predictors Beatriz G. Cavalheiro, Fábio Roberto Pinto, Marco Aurélio Valmondes Kulcsar, Cláudio Roberto Cernea, Lenine Garcia Brandão. Avaliação videofluoroscópica no pós-operatório tardio de pacientes submetidos à laringectomia supracricoidea com cricohioidoepiglotopexia.................................................................................................... 124 Videofluoroscopic evaluation in the late postoperative period of patients undergoing supracricoid laryngectomy with cricohyiodopexy Priscila Rodrigues Prado Prado, Priscila Rodrigues Prado Prado, Fernando Luiz Dias, Izabella Costa Santos, Emilson Freitas, Leslie Piccolotto Ferreira. Laringoceles: Estudo retrospectivo em uma única instituição......................................................................... 128 Laryngoceles: Retrospective study in a single institution Giulianno Molina de Melo, Danilo Anunciatto Sguillar, Rogério Ramos Caiado, Climério Pereira Nascimento Junior, Ricardo A. Souza e Souza. Uma nova realidade no câncer de laringe: Seguimento de 26 meses com linfonodo sentinela.................... 133 A new reality in laryngeal cancer: Follow-up of 26 months with Sentinel Lymph Node Ouvir Guilherme Machado de Carvalho, Carlos Takahiro Chone, Vanessa Gonçalves Dias, Hugo Fontana Kohler, Flávio Mignone Gripp, Agrício Nubiato Crespo, Elba Etchehebere, Celso Dario Ramos, Albina M. A. Altemani, Juliana Alves Souza Caixeta, Leandro L. Freitas. Seguimento de 30 meses e recorrência no câncer de cavidade oral com linfonodo sentinela..................... 138 Follow-up (30 months) and recurrence in the oral cavity cancer with lymph nodes sentinel Guilherme Machado de Carvalho, Carlos Takahiro Chone, Vanessa Gonçalves Dias, Hugo Fontana Kohler, Flávio Mignone Gripp, Agrício Nubiato Crespo, Juliana Alves Souza Caixeta, Elba Etchehebere, Celso Dario Ramos, Albina M. A. Altemani, Leandro L. Freitas. Relato de Caso Angina de Ludwig complicada com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse.......................... 144 Ludwig’s angina complicated with systemic inflammatory response syndrome and sepsis Andre Figueiredo Accetta, Meg de Carvalho Soares, Tariza Gallicchio Moreira, Italo Accetta. Oncocitomas de glândulas salivares................................................................................................................... 147 Salivary glands oncocytoma Thais Gomes Casali, José Maria Porcaro Salles, João Marcos Arantes Soares, Alexandre de Andrade Souza, Gustavo Meyer de Moraes. Trauma traqueal associado à fratura mandibular - relato de caso.................................................................... 150 Tracheal trauma associated with mandibular fracture - case report Ellen Cristina Gaetti Jardim, Cassiano Costa Silva Pereira, Heloísa Fonseca Marão, Leonardo Perez Faverani, Gustavo Rodrigues Manrique, Gileade Pereira Freitas, Elio Hitoshi Shinohara, Idelmo Rangel Garcia Junior. Artigo Especial Câncer de Tireoide de Difícil Controle................................................................................................................. 153 Laura Sterian Ward1 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 2, julho / agosto / setembro 2012 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Artigo Original Concomitância de carcinoma papilífero e tireoidite de hashimoto em pacientes submetidos a tireoidectomia total: Análise da casuística e revisão da literatura Coexistence of papillary thyroid carcinoma and hashimoto’s thyroiditis in patients submitted to total thyroidectomy: Retrospective case series and literature review Resumo Introdução: A Tireoidite de Hashimoto (TH) é a causa mais comum de hipotireoidismo e é caracterizada pela insuficiência tireoidiana progressiva de causa autoimune. O carcinoma papilífero de tireoide (CPT) é a forma mais prevalente de câncer da tireoide correspondendo a 70 - 80% de todos os casos. Estudos atuais demonstram coexistência entre 11 e 38% entre TH e CPT e que as doenças compartilham muitas características morfológicas e moleculares, mas a importância clínica desta correlação permanece indefinida. Objetivo: Avaliar a concomitância de TH em doenças benignas e malignas em tireoidectomias totais. Método: No presente estudo comparamos a concomitância de TH em doenças benignas e malignas no anatomopatológico de 100 tireoidectomias consecutivas realizadas entre os meses de junho a setembro de 2009, por um mesmo cirurgião. Resultados: A presença de TH em casos malignos foi de 47,7% e em doenças benignas de 26,7% (p<0,05). Conclusão: A coexistência de TH e CPT é maior do que em doenças benignas, o que dá suporte à teoria de que a TH seja um fator de risco para o desenvolvimento do CPT. Nódulos em pacientes com TH devem ser avaliados precocemente e seguidos com cautela. Verglius José Furtado de Araujo Filho 1 Vergilius José Furtado de Araujo Neto 2 Erivelto Martinho Volpi 3 Renata R G Lorencetti Mahmoud 4 Daniel Marin Ramos 5 Daniella Karassawa Zanoni 4 Rubens Kenji Aisawa 6 Joamara Nogueira Ramos 6 Claudio Roberto Cernea 7 Lenine Garcia Brandão 8 Abstract Introduction: Hashimoto’s thyroiditis (HT) is the most usual cause of thyroid insufficiency and is related to autoimmunity. Papillary thyroid carcinoma (PTC) is the most prevalent type of malignancy in this gland, about 70 - 80% of all cases. Some papers show a coexistence of both diseases in 11 - 38% and they share several morphological and molecular aspects, but the importance of this fact is not well defined yet. Methods: We studied the coexistence of HT in benign and malignant diseases in a 100 thyroidectomies performed consecutively. Results: The coexistence of HT was 47.7% and 26.7% (p<0.05) in malignant and benign diseases respectively. Conclusions: The coexistence of HT and PTC is higher than in benign diseases. This supports the theory that HT is a risk factor for the development of PTC. Thyroid nodules in patients with HT must be evaluated soon and followed carefully. Key words: Thyroidectomy. Hashimoto Disease; Thyroid Neoplasms; Descritores: Doença de Hashimoto; Neoplasias da Glândula Tireoide; Tireoidectomia. 1)Professor Livre Docente Faculdade de Medicina da USP. Médico Assistente Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 2)Acadêmico da Faculdade de Medicina da USP. Acadêmico de Medicina. 3)Doutor em Medicina Faculdade de Medicina da USP. Médico Assistente Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 4)Cirurgiã de Cabeça e Pescoço. Médica Assistente Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 5)Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Médico Assistente Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. 6)Cirurgião (ã) de Cabeça e Pescoço. Médico (a) Colaborador (a) Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 7)Professor Adjunto Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médico Assistente Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 8)Professor Titular Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Chefe da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Instituição: Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo / SP – Brasil. Correspondência: Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço HC FMUSP – Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255 - Sala 8014 - Cerqueira César - São Paulo /SP – Brasil – CEP: 05403-000 - Telefone: (+55 11) 2661-6425 - E-mail: [email protected] Recebido em 11/11/2011; aceito para publicação em 08/07/2012; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 109-112, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 109 Concomitância de carcinoma papilífero e tireoidite de hashimoto em pacientes submetidos a tireoidectomia total: Análise da casuística e revisão da literatura. Araújo Filho et al. INTRODUÇÃO A Tireoidite de Hashimoto (TH) é a causa mais comum de hipotireoidismo e é caracterizada pela insuficiência tireoidiana progressiva de causa autoimune. Sua prevalência é de cerca de 22 casos em 100.000 indivíduos e é mais comum em mulheres, na proporção de 5-10:11,2,3,4. O carcinoma papilífero de tireoide (CPT) é a forma mais prevalente de câncer da tireoide correspondendo a 70 - 80% de todos os casos5,6. Também é mais comum em mulheres na proporção de 2,5-4:14. Dailey et al.7 há mais de 50 anos foi o primeiro a levantar a suspeita da correlação entre as duas doenças. O CPT teria uma incidência maior em pacientes com TH. No entanto, essa associação permanece controversa, apesar de muito debatida na literatura8,9,10,11. Estudos atuais demonstram coexistência entre TH e CPT varia entre 11 e 38%2,12,13,14,15. Há indícios que alterações decorrentes da inflamação crônica levem à transformação neoplásica16. Sabe-se que a TH e o CPT compartilham muitas características morfológicas e moleculares, mas a importância clínica desta correlação permanece indefinida11. O presente estudo objetiva revisar a literatura e analisar nossa casuística, no sentido de verificar se há uma prevalência maior de TH associada a casos malignos em relação aos benignos. PACIENTES E MÉTODOS Gráfico 1. Distribuição dos pacientes por faixas etárias. Gráfico 2. Distribuição dos pacientes por sexo. Foram analisadas de forma retrospectiva 100 tireoidectomias consecutivas realizadas entre os meses de junho a setembro de 2009, por um mesmo cirurgião, em sua clínica privada. As principais indicações cirúrgicas foram bócio com compressão ou de aumento progressivo, suspeita de malignidade ou malignidade confirmada. Dados referentes ao diagnóstico anatomopatológico foram cruzados para verificar a coexistência de TH com doenças benignas e malignas. Casos em que o diagnóstico final foi apenas TH foram excluídos. O estudo estatístico foi feito pelo teste do χ² e o valor de α = 0,05 foi estabelecido como significativo. RESULTADOS O Gráfico 1 apresenta a distribuição dos pacientes por faixa etária, o Gráfico 2 por sexo e o Gráfico 3 a distribuição por diagnóstico anatomopatológico principal, independentemente da coexistência de TH. A Tabela 1 apresenta a correlação de TH com casos benignos e malignos. Gráfico 3. Distribuição dos pacientes por diagnóstico anatomopatológico. DISCUSSÃO Tabela 1. Associação de TH com casos benignos e malignos. A transformação de tecido normal em câncer é um processo multifatorial e escalonado em que vários fatores estão implicados como exposição ambiental, perda de genes supressores de tumor e inflamação crônica17. A Tireoidite Sem tireoidite Malignos (44 casos) Benignos (56 casos) 21 casos (47,7%) 23 (52,3%) 15 casos (26,7%) 41 (73,3%) 110 e�������������������������������������������� p < 0,05 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 109-112, julho / agosto / setembro 2012 Concomitância de carcinoma papilífero e tireoidite de hashimoto em pacientes submetidos a tireoidectomia total: Análise da casuística e revisão da literatura. Araújo Filho et al. inflamação crônica levando à transformação neoplásica é um fenômeno já conhecido16. A resposta imune à inflamação produz ativação de citoquinas e fatores de crescimento que culminam com o dano celular de células estromais18. Este ciclo de dano e reparação subsequente contribui para alterações genéticas, proliferação celular inapropriada e transformação neoplásica17. A TH é uma doença autoimune inflamatória caracterizada por infiltração linfocitária generalizada, fibrose e atrofia parenquimatosa. Ela afeta aproximadamente 5% da população, é geralmente diagnosticada entre a 4a e a 6a décadas de vida e é cerca de 15 vezes mais frequente em mulheres18,13. Historicamente a TH foi associada a uma maior incidência de linfoma. Foi Dailey et al7, em 1955 quem publicou uma maior associação de TH com CPT e não com linfoma. Desde este artigo inicial, a associação causal das duas doenças permanece controversa e vários outros autores mostraram desde a não associação até uma coexistência tão alta como 38%2,13,18,19,20,21,22. Nasr et al23 estudaram a mutação do BRAF em 59 casos de TH em locais com marcação para os anticorpos HBME1 e (CK) 19+ que ocorreram em 12 dos 59 casos (20%). Estes sítios foram negativos para mutação do BRAF em todos os casos. Concluiu que estes locais não são pré-neoplásicos e que se deve ter cuidado na interpretação destes marcadores na TH. Larson et al11 estudaram a via P13K em 812 tireoidectomias totais por TH. A via celular do P13K tem papel no equilíbrio celular de apoptose e resposta inflamatória, com atividade aumentada no câncer de tireoide e outros. Os resultados mostraram que a via P13K é altamente expressa em zonas celulares da TH, em câncer de tireoide isolado e em associação com TH, mas não em células foliculares normais. Isso sugere uma possível via molecular comum entre as duas doenças. Outra via comum da TH e do CPT, sugerindo que as duas doenças estão correlacionadas é a via do RET/ PTC. Wirtschafter et al 24 mostraram expressão dos oncogenes RET/PTC1 e RET/PTC3 em pacientes com TH. Arif et al25 deram suporte a essa hipótese demonstrando que ambas as doenças tinham expressão imunohistoquímica e características morfológicas e moleculares semelhantes com relação aos rearranjos do gene RET/ PTC. Unger et al26 e Burstein et al27 demonstraram expressão de p63 em ambas as doenças. Kang et al9 estudaram a via do RET/CPT-RAS-BRAF e concluíram que está associada com o CPT. Encontraram uma alta taxa de alteração desta via em células oxifílicas da TH, sugerindo uma via molecular comum das duas doenças. Cipolla et al13 estudaram 89 pacientes submetidos a cirurgia por carcinomas de tireoide e compararam a 89 pacientes operados por bócio e a 47 pacientes submetidos a tireoidectomia total por TH. Encontraram coexistência de TH e CPT em 27% dos casos e de TH e bócio em 9%, diferença estatisticamente significativa. Repplinger et al8 estudaram 217 tireoidectomias por TH. Observaram que mulheres com TH submetidas a ti- reoidectomia tem um risco 30% maior de CPT. Sugerem que um seguimento mais cuidadoso deva ser feito em pacientes com TH, principalmente mulheres. Kurukahvecioglu et al10 encontraram uma associação significativa entre CPT e TH em 922 tireoidectomias. Pacientes com TH e CPT eram mais jovens e a proporção de mulheres foi maior. Sugere tireoidectomia total em pacientes com TH com indicação cirúrgica. Kim et al28 estudaram 1441 pacientes operados de CPT seguidos por 70 meses e 214 (14,9%) tinham TH. A proporção de mulheres foi maior quando havia TH associada. O tamanho médio dos tumores foi menor quando havia concomitância das duas doenças e as recidivas ocorreram em 12,3% dos casos de CPT sem TH e em 7,1% nos casos com TH (diferença significativa). A ocorrência de metástases linfonodais também foi maior no grupo sem TH (p = 0,012), mas isso não se confirmou na análise multivariada. Concluíram que a TH está comumente associada ao CPT e que os tumores nestes casos são menores. A TH também está associada a um menor risco de recidivas, apesar disso não se confirmar na análise multivariada. No presente estudo a coexistência das duas doenças ocorreu de forma significativa e maior que a porcentagem descrita na literatura estudada. Nossos dados dão suporte à suposição de que a TH representa um risco maior de desenvolvimento de CPT. Por este motivo pacientes com TH em acompanhamento clínico devem ser seguidos com muita cautela e, na presença de nódulos, a PAAF deve ser indicada precocemente. Quando operados, a melhor cirurgia é a tireoidectomia total. Del Rio et al29 estudando fatores prognósticos de 189 pacientes com CPT associados ou não a TH concluíram que não há agressividade diferente do CPT com relação à presença de TH. Conclusão A TH é uma doença autoimune inflamatória e afeta 5% da população. Na casuística estuda observamos a coexistência de tireoidite de Hashimoto e carcinoma papilífero de tireoide significativamente maior em relação aos pacientes sem tireoidite de Hashimoto. REFERÊNCIAS 1. Lal G, Clark OH. Textbook of endocrine surgery. Philadelphia: Saunders; 2005. Chronic Thyroiditis; pp. 38–40. 2. Singh B, Shaha AR, Trivedi H, Carew JF, Poluri A, Shah JP. Coexistent Hashimotos thyroiditis with papillary thyroid carcinoma: impact on presentation, management, and outcome. Surgery. 1999;126:1070– 1076. 3. Kumar V, Robbins SL. Robbins basic pathology. Philadelphia, PA: Saunders/Elsevier; 2007. The endocrine system; pp. 731–732. pp. 735–736. 4. 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Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 109-112, julho / agosto / setembro 2012 Artigo Original Estudo epidemiológico de pneumonia nosocomial em pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia Epidemiological study of hospitalar pneumonia in patients submitted to pelveglossomandibulectomia surgery Resumo Introdução: A pelviglossomandibulectomia (PGM) frequentemente é realizada em portadores de câncer de cabeça e pescoço, e por se tratar de uma cirurgia de grande porte, pode acarretar em complicações pós-operatórias, dentre elas a pneumonia (PNM). Objetivo: Determinar a incidência de PNM hospitalar em pacientes no pós-operatório de PGM do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Erasto Gaertner. Método: Foram levantados 237 prontuários e analisadas variáveis que incluíram dados pessoais; fatores de risco para desenvolvimento do câncer oral; comorbidades; dados referentes à neoplasia e ao(s) tratamento(s) realizado(s); presença de PNM secundária a cirurgia; tempo de internamento na unidade de terapia intensiva (UTI) e total de dias de internamento. Resultados: A amostra foi composta por 83,2% de homens com idade média de 54,9 (±12,71) anos, 84,6% eram tabagistas e 66,4% etilistas. O estadio clínico IV foi o mais frequente diagnosticado (35,5% dos casos) e a radioterapia foi o tratamento adjuvante de escolha em 70,3% dos pacientes. A taxa de incidência encontrada para PNM foi de 12,1% apresentando correlação com dias de internamento na UTI (p=0,047), total de dias de internamento (p=0,012) e esvaziamento cervical (p=0,03). Conclusão: Os resultados do estudo demonstram que a PNM têm uma baixa incidência nos pacientes submetidos a PGM e que a sua incidência está relacionada com pacientes que foram submetidos a esvaziamento cervical e permaneceram maior período em internação hospitalar. Descritores: Neoplasias de Cabeça e Pescoço; Complicações Pós-Operatórias; Pneumonia. INTRODUÇÃO O câncer de cabeça e pescoço é considerado um problema de saúde em todo o mundo. É o oitavo câncer mais comum, com 300.000 novos casos notificados Doris Naoko Suzumura 1 Juliana Carvalho Schleder 2 Mariana de Souza Topanotti 3 Ivan Santos de Lima 3 Woldir Wosiacki Filho 4 Cesar Costa 5 Benedito Valdecir de Oliveira 6 Abstract Introduction: Pelveglossomandibulectomia (PGM) is often performed in patients with head and neck cancer, because it is a bigger surgery, can lead to postoperative complications, among them pneumonia (PNM). Objective: Determine the incidence of pneumonia in patients in the postoperative period of PGM and analyze the clinical and epidemiological characteristics of patients undergoing PGM in the Service of Head and Neck Surgery of Hospital Erasto Gaertner. Method: We surveyed 237 medical records and analyzed variables included personal data, risk factors for oral cancer development, comorbidities, data on cancer and (s) treatment (s) held (s), presence of pneumonia secondary to surgery, length of stay in intensive care unit (ICU) and total hospital days. Results: The sample comprised 83.2% of men with a mean age of 54.9 (±12.71) years, 84.6% were smokers and 66.4% were alcoholics. The clinical stage IV was the most frequently diagnosed (35.5% of cases) and radiotherapy was the adjuvant treatment of choice in 70.3% of patients. The incidence rate of pneumonia was correlated with 12.1% days of ICU stay (p = 0.047), total hospital days (p = 0.012) and neck dissection (p = 0.03). Conclusions: The results show that the PNM has a low incidence in patients undergoing PGM and that incidence is related to patients who underwent neck dissection and remained in hospital longer period. Key words: Head and Complications; Pneumonia. Neck Neoplasms; Postoperative anualmente1. Os sítios primários mais frequentes são os de cavidade oral, língua e assoalho da boca2. As taxas de incidência de câncer oral em homens podem variar de 1 a 10 casos por 100.000 habitantes, sendo que em países em desenvolvimento as taxas de 1)Especialista em Oncologia. Fisioterapeuta. 2)Mestre em Tecnologia em Saúde. Vice presidente da SBFC - Regional do Paraná. Responsável pelo Ensino e Pesquisa do Hospital Erasto Gaertner (HEG). Docente do Curso de Fisioterapia do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. 3)Especialista em Fisioterapia em Oncologia. Fisioterapeuta. 4)Mestre em Engenharia (Presidente da SBFC. Preceptor da Residência em Fisioterapia em Oncologia – HEG. 5)Especialista em Fisioterapia em Oncologia (Chefe do Serviço de Fisioterapia do HEG. Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. 6)Especialista em Cirurgia Oncológica e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HEG. Instituição: Setor de Fisioterapia do Hospital Erasto Gaertner - Liga Paranaense de Combate ao Câncer do Paraná. Curitiba / PR – Brasil. Correspondência: Doris Naoko Suzumura - Rua Nunes Machado, 1932 - Apto 11B - Jd. Rebouças – Curitiba / PR – Brasil - CEP: 80220-070 - Telefone: (+55 41) 9644-0697 - E-mail: [email protected] Recebido em 14/02/2012; aceito para publicação em 08/07/2012; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 113-117, julho / agosto / setembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 113 Estudo epidemiológico de pneumonia nosocomial em pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia. incidência são maiores em relação aos países desenvolvidos3. Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA4 os principais fatores de risco para o câncer de cavidade oral são: idade superior a 40 anos, o tabagismo, o etilismo, as infecções pelo papiloma vírus humano e o uso de próteses dentárias mal-ajustadas. Para agravar, o hábito de fumar e beber estabelece um sinergismo que aumenta em 30 vezes o risco para o desenvolvimento desse tipo de câncer. Existem várias opções de tratamento do câncer oral que incluem: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e as modalidades de tratamento combinado. Dentre eles, a principal é a ressecção cirúrgica, seguida ou não de radioterapia. No presente estudo, destaca-se a pelviglossomandibulectomia, um procedimento que envolve a ressecção associada do assoalho da boca, da língua e da mandíbula2, com a realização conjunta de traqueostomia para promover a perviedade da via aérea durante o procedimento cirúrgico e também no pós-operatório imediato, momentos em que a alteração anatômica e o edema pós-cirúrgico podem promover dificuldade respiratória5. Além de alterações anatômicas, os pacientes com câncer de cabeça e pescoço apresentam um elevado risco de aspiração6, principalmente aqueles que apresentam grandes tumores que comprometem a deglutição7. A disfagia pode levar a macro e microaspirações que podem ser, em muitos casos, silenciosas8, e resultar em quadro de infecção, pois a cavidade oral pode ser considerada um reservatório de patógenos respiratórios, uma vez que a higienização bucal é precária em pacientes internados, principalmente em unidades de terapia intensiva9. Esse fator associado ao histórico tabágico e à hipersecretividade crônica5, podem aumentar o risco de uma das complicações mais frequentes apresentadas no pós-operatório da pelviglossomandibulectomia, a pneumonia. Pneumonia é um processo inflamatório/infeccioso do pulmão e é frequente em pacientes hospitalizados10, é uma causa importante de mortalidade entre os pacientes internados, com uma taxa estimada de 30%9,10. Nesse tipo de doença, o patógeno supostamente é adquirido no ambiente hospitalar. Com isso, o objetivo do estudo foi determinar a incidência de pneumonia hospitalar em pacientes no pósoperatório de pelviglossomandibulectomia e, analisar os aspectos clínicos e epidemiológicos dos pacientes submetidos à pelviglossomandibulectomia no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Erasto Gaertner. MÉTODO Tratou-se de um estudo retrospectivo descritivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Erasto Gaertner sob o número de registro 2098. Foram levantados 237 prontuários de pacientes que estiveram internados no hospital submetidos à cirurgia 114 e�������������������������������������������� Suzumura et al. de pelviglossomandibulectomia no período de janeiro de 2004 a junho de 2011. Foram excluídos 23 pacientes, por não apresentar registros suficientes nos prontuários. Por fim, a amostra ficou constituída por 214 pacientes. As variáveis analisadas incluíram dados pessoais; fatores de risco para desenvolvimento do câncer oral; comorbidades; dados referentes à neoplasia e ao(s) tratamento(s) realizado(s); presença de pneumonia secundária a cirurgia; tempo de internamento na unidade de terapia intensiva e total de dias de internamento. Os dados foram coletados nos prontuários, eletrônico (Tasy®) e físico, tabulados e analisados por estatística descritiva exploratória. Foram verificadas as presenças de correlações entre a presença de pneumonia e as demais variáveis com o auxílio coeficiente de Spermann, o valor de significância adotado para todos os testes foi quando p<0,05. RESULTADOS A amostra foi constituída por 178 homens e 36 mulheres, em sua maioria, pacientes de meia idade com hábitos tabágicos e etílicos presentes. As características dos pacientes incluídos neste estudo estão apresentadas na Tabela 1. O resultado do exame anatomo-patológico realizado em todos os pacientes apresentou resultado positivo para carcinoma de células escamosas (CEC) em 91,6% dos casos e 8,4% para outros diagnósticos como: ameloblastoma, osteossarcoma, fibrossarcoma e rabdomiossarcoma. Conforme mostra a Figura 1, uma significativa porcentagem dos pacientes apresentava estadio clínico avançado ao diagnóstico. Quanto a topografia, o assoalho da boca foi o local mais acometido com 63 pacientes (29,4%), seguido da boca (41 pacientes, 19,2%), língua (26 pacientes, 12,2%), orofaringe (21 pacientes, 9,8%), trígono retromolar (14 pacientes, 6,5%), lábio inferior (14 pacientes, 6,5%), mandíbula (9 pacientes, 4,2%), glândula submandibular (5 pacientes, 2,3%), e outros (21 pacientes, 9,9%) tinham diagnostico de rabdomiossarcoma, sarcoma de Ewing, schwannoma e ameloblastoma. Em relação ao tratamento, a Figura 2 ilustra a baixa incidência de tratamento neoadjuvante, apenas 10,7% dos pacientes. Destes, 43,5% foram submetidos à radioterapia, 26,1% à quimioterapia e 30,4% à associado Tabela 1. Características da amostra. Idade Sexo Tabagismo Tempo (tabagismo) Carga tabágica Etilismo Trauma quente Hipertensão arterial 54,9 (±12,7) anos 83,2% homens 83,2% 33,5 (±11,4) anos 21,9 (±12,9) cigarros/dia 66,4% 38,3% 17,3% Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 113-117, julho / agosto / setembro 2012 Estudo epidemiológico de pneumonia nosocomial em pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia. Suzumura et al. Figura 1. Classificação quanto ao Estadiamento Clinico - X= Frequência (%); Y= Estadio Clínico. Figura 2. Classificação quanto ao tratamento realizado - X= Frequência (%); Y= Tratamento. à quimioterapia. Já o tratamento adjuvante foi realizado por 69,2% dos pacientes, sendo que 70,3% realizaram apenas radioterapia, 6,1% quimioterapia e 23,6% radioterapia associado à quimioterapia. Em relação ao esvaziamento cervical, foi realizado por 84,6% dos pacientes, sendo a ressecção supra-homo-hióidea ou esvaziamento cervical seletivo dos níveis linfáticos de I a III com preservação do nervo acessório, músculo esternocleidomastoideo e veia jugular interna, a realizada com maior frequência (45,6% dos casos). O lado esvaziado com maior frequência foi a direita, 36,2% dos pacientes, enquanto 35,1% à esquerda, e 28,7% realizaram bilateralmente. O tempo médio de internação na unidade de terapia intensiva que foi de 2,6 (±2) dias e o de total de dias de internamento que foi de 6,7 (±4,7). A taxa de incidência encontrada para pneumonia foi de 12,1% e, conforme mostra a Tabela 2, apresentou uma correlação com p=0, 047 com dias de internamento na unidade de terapia intensiva e p=0, 012 com total de dias de internamento hospitalar. Ainda, apresentou correlação com realização de linfadenectomia cervical com p=0,03. Tabela 2. Correlação entre a complicação pneumonia com outras variáveis. DISCUSSÃO No presente estudo, observou-se morfologia e estadio clínico ao diagnóstico semelhante ao encontrado na literatura5,11,12. A maioria dos pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço apresenta carcinoma epidermoide, com doença avançada ao diagnóstico em aproximadamente 60% dos casos13. Verificou-se que o tratamento de escolha foi a cirurgia, seguido de tratamento radioterápico adjuvante em mais de 70% dos casos. Estudos14,15 têm demonstrado que a principal modalidade terapêutica é a ressecção cirúrgica, pois permite a análise anatomopatológica da peça operatória com o estadiamento real da extensão da doença, indicação se houve ressecção completa Variáveis Coeficiente Valor de p* Dias de internamento na unidade de terapia intensiva 0, 139 0, 047 Total de dias de internamento 0, 184 0, 012 Esvaziamento cervical 0, 144 0, 030 * Adotado valor de significância estatística quando p < 0,05. do tumor primário com margens livres, além de definir parâmetros de diagnóstico. Quando a cirurgia é contraindicada, ou ainda, para uma complementação do tratamento, pode ser empregada a radioterapia exclusiva ou associada à quimioterapia, utilizada como tratamento adjuvante ou paliativo16. Em relação ao esvaziamento cervical, foi realizado por aproximadamente 85% dos pacientes. A linfadenectomia é o procedimento mais adotado para pacientes com evidências clínicas de nódulos metastáticos, e atualmente é combinado com a radioterapia17. A ressecção supra-homo-hióidea do pescoço, foi a modalidade realizada com maior frequência, assim como relatado na literatura18. Com a linfadenectomia, as possibilidades de controle do câncer de pescoço permanecem ótimas e o paciente experimenta dor e outras complicações pósoperatórias principalmente a nível funcional com menor frequência. Ainda, sobre a alta porcentagem de pacientes que realizaram tratamento adjuvante radioterápico, segundo Stenson et al.19 a extensão do esvaziamento cervical não pode ser compensada pela radioterapia pós-operatória, mas quando ambas modalidades terapêuticas são empregadas, parece que o tratamento complementar pode ter sua extensão reduzida. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 113-117, julho / agosto / setembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 115 Estudo epidemiológico de pneumonia nosocomial em pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia. Quanto ao perfil dos pacientes, a análise dos resultados na presente pesquisa reforçou afirmações anteriormente apresentadas na literatura11,12, predominância de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, do sexo masculino, com média de idade acima de 50 anos e, tabagistas. A incidência de pneumonia foi semelhante à encontrada em um estudo realizado em 2010 nos Estados Unidos20 em que os autores avaliaram a disfagia relacionada com sequelas comuns após o tratamento do câncer de cabeça e pescoço. Os autores observaram que de 8.002 doentes, 40% apresentaram disfagia, 7% estenose e 10% pneumonia sendo que, os pacientes tratados com quimioterapia e radioterapia tinham maior chance de desenvolverem disfagia e pneumonia, enquanto os pacientes tratados com qualquer terapia combinada mais comumente apresentaram estenose. Os autores concluíram que, as probabilidades de pneumonia foram aumentadas em doentes tratados com radiação com ou sem quimioterapia e que disfagia, estenose e pneumonia são sequelas que representam as principais fontes de morbidade e mortalidade nessa população. Em nossas buscas literárias encontramos poucos estudos no que se refere à incidência de pneumonia no período pós-operatório, em que esses pacientes ainda estão internados. Esse período é importante para adaptação do paciente à sua nova situação e crítico na avaliação da eficácia do tratamento realizado. A grande maioria dos estudos8-10, 26, 27 avalia a incidência de pneumonia no período de tratamento adjuvante com quimioterapia e/ou radioterapia. De acordo com Francis et al.20 pacientes que foram submetidos à tratamento combinado de quimioterapia e radioterapia são 44% mais propensos a desenvolver pneumonia em relação àqueles que se submeteram apenas à cirurgia. Esses pacientes apresentam um benefício em relação à sobrevivência com terapia combinada, porém podem apresentar significativas sequelas funcionais. A disfagia, comum complicação do tratamento é frequentemente associada à má nutrição e à aspiração. A aspiração, por sua vez, especialmente quando combinada com a neutropenia causada pelo tratamento quimio e radioterápico pode ser considerada um fator predisponente a pneumonia, pois ela pode causar aspirações e consequentemente aparecimento de infecções6, 21. Segundo alguns estudos22, 23, as taxas de aspiração podem variar de 30% a 62% nesses pacientes. Graner et al.24 observaram que 73% dos pacientes relataram uma queda na função de deglutição após o tratamento e as taxas de aspiração chegaram a 64%. Ainda, Chen et al.6 observaram que, 32 de 41 pacientes desenvolveram pneumonia aspirativa no primeiro trimestre após o tratamento quimio e radioterápico sendo que todos tiveram que ser internados no hospital e 19 encaminhados à unidade de terapia intensiva. Avaliações das alterações de deglutição e respiração são fundamentais para uma boa evolução dos pacientes. Uma das limitações deste estudo foi falta de 116 e�������������������������������������������� Suzumura et al. avaliação da deglutição dos pacientes, o que nos impossibilita determinar com precisão a verdadeira etiologia das pneumonias relatadas. A presença da correlação entre pneumonia e os dias de internamento na unidade de terapia intensiva, pode ser explicada pelo fato da pelviglossomandibulectomia tratar-se de uma cirurgia extensa, o que demanda um maior tempo cirúrgico e requer anestesia prolongada. Esses fatores podem causar hipoventilação alveolar, acúmulo de secreção e provável crescimento bacteriano, com aumento no tempo de internação na unidade de terapia intensiva para monitoramento do paciente25. Além disso, de acordo com a Diretriz de Prevenção da Infecção Hospitalar da Sociedade Brasileira de Infectologia26, os pacientes mais predispostos a pneumonia hospitalar são aqueles com extremos de idade, doenças graves, imunodepressão, doença cardiopulmonar, aqueles que necessitam de terapia respiratória desde nebulizações, oxigenioterapia, até presença de tubo endotraqueal e ventilação mecânica e, finalmente, aqueles submetidos a procedimentos que envolvam manipulação respiratória, ou seja, semelhante ao perfil dos pacientes do presente estudo. A correlação entre pneumonia e total de dias de internamento hospitalar pode ser explicada devido ao tempo de exposição a agentes infecciosos nosocomiais. A maioria das infecções hospitalares manifesta-se como complicações de pacientes gravemente enfermos durante o período de internamento, em consequência da hospitalização e da realização de procedimentos imunossupressores ou invasivos para diagnóstico e terapêutico, que podem veicular agentes infecciosos no momento de sua realização ou durante a sua permanência27. No presente estudo não foi observada diferença estatisticamente significante na média dos dias de internamento entre os pacientes que infectaram e os que não infectaram (10 dias para os que infectaram e 6 para os que não infectaram). Em contrapartida, estudos anteriores13, 28 , realizados com pacientes oncológicos, mostraram que os pacientes infectados permaneciam, em média, mais tempo internados em relação aos não infectados. Finalmente, a presença de correlação encontrada entre pneumonia e o esvaziamento cervical, pode ser explicada pela necessidade da manipulação da musculatura cervical, principalmente do músculo esternocleidomestoideo durante a cirurgia de esvaziamento cervical. De acordo com De Troyer e Estenne29 o esternocleidomestoideo é um dos músculos acessórios da inspiração junto com os músculos trapézio superior e escalenos, podendo, portanto, influenciar para o maior desenvolvimento de complicações pulmonares. CONCLUSÃO Os pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia são, em sua maioria, pacientes acima de 50 anos, do sexo masculino e, tabagistas e/ou etilistas de longa data. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 113-117, julho / agosto / setembro 2012 Estudo epidemiológico de pneumonia nosocomial em pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia. São pacientes com estadio clínico avançado ao diagnóstico e submetidos a cirurgia de esvaziamento cervical concomitante a pelviglossomandibulectomia, com posterior tratamento radioterápico adjuvante. Os resultados do estudo demonstram que a pneumonia têm uma baixa incidência nos pacientes submetidos a pelviglossomandibulectomia e que a sua incidência está relacionada com pacientes que foram submetidos a esvaziamento cervical e permaneceram maior período em internação hospitalar. Ainda, estudos futuros são necessários visando à prevenção das complicações pulmonares através de protocolos de fisioterapia no período pré e pós-operatórios. REFERÊNCIAS 1. Shah JP. Head and Neck 2nd. London: Mosby-Wolfe; 1996. p.167175. 2. Parkin DM, Bray F, Ferlay J, Pisani P: Global cancer statistics, 2002. CA Cancer J Clin 2005, 55(2):74-108. 3. Petersen PE. The world oral health report 2003: Continuous improvement of oral health in the 21st century? the approach of the WHO global oral health programme. 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Cavalheiro 1 Fábio Roberto Pinto 2 Marco Aurélio Valmondes Kulcsar 3 Cláudio Roberto Cernea 4 Lenine Garcia Brandão 5 Abstract Introdução: Pacientes não curados após o tratamento do carcinoma medular da tireoide podem evoluir com doença somente bioquímica (títulos séricos elevados de calcitonina) ou com evidências anatômicas do tumor. Maior possibilidade de óbito pela doença está entre aqueles com tais evidências anatômicas. Objetivo: Tentou-se identificar variáveis clínicas e anatomopatológicas que pudessem predizer o tipo de evolução do paciente não curado. Método: Foram estudados trinta pacientes que evoluíram com doença ativa após tratamento cirúrgico para carcinoma medular da tireoide. Doze evoluíram com evidências anatômicas e, 18, somente com doença bioquímica (88,5 meses de seguimento médio). Estudo retrospectivo por revisão de prontuários médicos. Significância estatística se p < 0,05. Resultados: Nenhuma variável estudada (idade, sexo, exame físico inicial, sintomas sistêmicos, extensão e diâmetro tumorais, estágio TNM, metástases linfonodais, forma clínica, calcitonina sérica e persistência ou recidiva) foi correlacionada com significância estatística à forma de evolução clínica, inclusive variável (metástase linfonodal) associada ao prognóstico em estudo multivariado prévio. Conclusão: Estudos complementares deverão amparar a observação inicial. Introduction: Patients not cured after receiving treatment for medullary thyroid cancer can develop the biochemical disease alone (increased serum levels of calcitonin) or anatomical evidence of a tumor. Those presenting anatomical evidence of tumor were found to be at higher risk of death. Objective: This study sought to identify clinical and pathological variables that could predict the evolution of the disease in uncured patients. Method: Thirty patients that developed the active disease after surgical treatment for medullary thyroid cancer were included in the study. Twelve developed the disease with anatomical evidence of neoplasia and 18 developed only the biochemical disease (88.5 months of average follow-up). It is a retrospective review of medical records. A value of p < 0.05 was considered statistically significant. Results: None of the variables studied (age, sex, initial physical exam, systemic symptoms, tumor size and diameter, TNM stage, lymph node metastasis, clinical form, serum calcitonin and persistence or recurrence) correlated, with statistical significance, with the type of clinical evolution, including the variable lymph node metastasis, which was associated with the prognosis in a previous multivariate study. Conclusion: Complementary studies should be conducted to support the initial observation. Descritores: Carcinoma Medular; Neoplasia Endócrina Múltipla; Neoplasias da Glândula Tireoide; Prognóstico. Key words: Thyroid Neoplasms; Multiple Endocrine Neoplasia; Prognosis. INTRODUÇÃO O carcinoma medular da tireoide (CMT) é uma entidade peculiar. Diferentes apresentações clínicas são observadas e avanços na compreensão de sua etiologia genética têm possibilitado o diagnóstico preciso de seus subtipos1. Correlações genótipo-fenótipo têm sido observadas2-6 e condutas terapêuticas sido propostas em função do comportamento clínico do CMT familiar previsto por mutações em códons específicos do RET-protooncogene7. Os casos esporádicos, ou não familiares, são mais frequentes, mas não são associados a mutações germinativas no RET-protooncogene. A sobrevida dos indivíduos acometidos também é variável, já tendo sido calculada entre 65% e 100% em cinco anos8,9. Essa depende especialmente do tratamento inicialmente realizado, sendo o CMT um tumor pouco ou não responsivo a armas terapêuticas que não a cirúr- 1)Doutorado. Assistente Doutor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Supervisora do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer. 2)Doutorado. Assistente Doutor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. 3)Doutorado. Assistente Doutor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo / Supervisor e da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 4)Livre-Docência. Professor Associado da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 5)Livre-Docência. Professor Titular da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Instituição: Estudo desenvolvido na Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo / SP – Brasil. Correspondência: Beatriz G. Cavalheiro - Rua Periquito, 160 - 153 - São Paulo / SP – Brasil – CEP: 04514-050 - Telefone: (+55 11) 5535-0830 - E-mail: [email protected] Recebido em 22/06/2012; aceito para publicação em 22/07/2012; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 118 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 118-123, julho / agosto / setembro 2012 Carcinoma medular da tireoide: Evolução com evidências clínicas da doença e tentativa de determinação de seus preditores. gica. Metástases linfonodais regionais são frequentes,1 especialmente quando o tumor primário já é palpável10. As taxas de metástases a distância ao diagnóstico também não são desprezíveis e ocorrem em cerca de 10% dos casos11. É um desafio, por sua vez, a predição da cura cirúrgica do CMT. Realizado o tratamento operatório, os títulos séricos de calcitonina, marcador bioquímico sensível e específico para o CMT12, devem negativar-se e o paciente é considerado curado na ausência de outras evidências da doença. Na presença de hipercalcitonemia, porém sem evidências clínicas e/ou imagenológicas de doença loco-regional e/ou a distância, o indivíduo é considerado portador de doença bioquímica. Anos podem decorrer do aumento dos títulos de calcitonina para que metástases sejam diagnosticadas através de exames de imagem13, embora autores atribuam à presença de metástases a distância níveis marcadamente elevados de calcitonina sérica, após o tratamento cirúrgico cervical14,15. Naqueles com doença somente bioquímica nota-se que a evolução em longo prazo pode ser muito satisfatória, situação não incomum11,14,16-18. Em estudo com 53 pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico para o CMT19, quatro pacientes faleceram pela doença, sempre com evidências clínicas e imagenológicas de neoplasia loco-regional e/ou a distância. A presença destas evidências anatômicas representou uma variável de impacto na sobrevida dos pacientes não curados (p = 0.011). Através do presente estudo, tentamos determinar quais fatores clínicos ou anatomopatológicos pudessem predizer a apresentação da doença entre os pacientes não curados, ou seja, doença bioquímica ou com evidências anatômicas entre os pacientes desse grupo. MÉTODO Pacientes Este estudo foi aprovado por Comitê de Ética para Estudos em Humanos (CAPPESQ – número 16.416/02 – 12 de junho de 2002). Cinquenta e três pacientes acompanhados pelo Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo foram selecionados para análise retrospectiva. Todos tinham o diagnóstico de carcinoma medular da tireoide e haviam sido submetidos ao tratamento cirúrgico como terapia inicial: tireoidectomia total e esvaziamento cervical na maioria dos casos. Seis pacientes não foram submetidos ao tratamento das cadeias linfáticas cervicais, três por seus diagnósticos serem pós-operatórios e outros três submetidos a tireoidectomias a princípio profiláticas em se tratando de pacientes diagnosticados através de rastreamentos familiares. Não houve também padronização quanto aos níveis cervicais englobados nos esvaziamentos, sendo pacientes tratados em períodos diferentes, quando a padronização para o tratamento do carcinoma medular ainda não era vigente. A forma de Cavalheiro et al. tratamento, portanto, não foi analisada como variável neste estudo. Após a operação, cura foi definida através da redução dos títulos séricos de calcitonina para níveis inferiores ou iguais ao máximo limite laboratorial e, recorrência, por elevação nos níveis de calcitonina sérica passados no mínimo seis meses da determinação de cura. Tanto a manutenção dos títulos séricos de calcitonina acima dos limites de referência laboratorial, como sua elevação para além de tais limites em período inferior a seis meses de sua redução inicial, caracterizaram persistências da neoplasia. Doença bioquímica foi definida pela presença de títulos séricos de calcitonina superiores aos limites laboratoriais na ausência de evidências clínicas e/ou imagenológicas de neoplasia cervical e/ou a distância20. Os valores relativos de calcitonina basal e CEA (antígeno carcinoembrionário) séricos foram analisados em função do número de vezes de aumento em relação às máximas referências laboratoriais. O maior valor observado durante as evoluções de cada paciente foi utilizado na análise. Visitas ambulatoriais, acompanhadas por exame físico e medidas de calcitonina e CEA séricos, foram realizadas a cada seis meses. Entretanto, as dosagens desses marcadores tumorais nem sempre estiveram disponíveis nos laboratórios de nossa instituição, tão como a assiduidade dos nossos pacientes às visitas ambulatoriais e controles laboratoriais nem sempre foram constantes. Na elevação dos marcadores tumorais séricos e/ou em vigência da positividade do exame físico, indicava-se a investigação imagenológica da região cervical, tórax e abdômen, através ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e punção aspirativa com agulha fina de adenomegalias cervicais suspeitas, para exame citológico. Trinta e dois pacientes evoluíram com doença ativa após o tratamento. Dois pacientes - falecidos pela doença inclusive - haviam sido submetidos a operações somente paliativas e foram desconsiderados para o presente estudo, totalizando 30 pacientes. Esses foram acompanhados por 88,5 meses em média (mediana de 69 meses; de 9 a 199 meses) entre agosto de 1984 e maio de 2008. Vinte e dois pacientes (73%) evoluíram com persistências e em oito foram caracterizadas recidivas neoplásicas. Dezoito pacientes (60%) evoluíram somente com doença bioquímica enquanto que os demais apresentaram evidências clínicas e/ou imagenológicas da doença (10 casos de persistências e dois de recidivas), sendo seis com doença loco-regional (pescoço e mediastino), cinco com doenças loco-regional e a distância e apenas um com evidências de doença somente a distância. Dois pacientes faleceram no decorrer dos seguimentos clínicos em decorrência de metástases a distância e de doenças loco-regional e a distância após 14 e 91 meses de seguimento, respectivamente. Contavam com 44 e 65 anos ao diagnóstico, um homem e uma mulher e ambos haviam sido estadiados como Estágio IV após suas operações (TNM - tumor, node, metastasis Cancer Stage)21[*], contando com metástases linfonodais Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 118-123, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 119 Carcinoma medular da tireoide: Evolução com evidências clínicas da doença e tentativa de determinação de seus preditores. cervicais. Evoluíram com doença persistente. Durante seus seguimentos, foram caracterizados focos de CMT em linfonodos cervicais, mediastino, pulmões e ossos. Compostos por 21 mulheres e nove homens, contavam com idades entre 10 anos e 69 anos ao diagnóstico (média de idade de 34,3 anos). Vinte pacientes foram considerados casos esporádicos e, entre os familiares, nove foram caracterizados como pertencentes à Síndrome das Neoplasias Endócrinas Múltiplas tipo 2A e, um paciente, como 2B. Métodos Através da análise retrospectiva de prontuários médicos foram comparadas à evolução com doença bioquímica ou com evidências anatômicas de neoplasia as variáveis: idade ao diagnóstico (até 20 anos, entre 21 e 40 anos e 41 anos ou mais); sexo; exame físico inicial para nódulos tireóideos e/ou adenomegalias cervicais; presença de sintomas sistêmicos (diarreia e/ou emagrecimento); extensão tumoral para a cápsula tireóidea; extensão tumoral para tecidos adjacentes à glândula; maior diâmetro tumoral (menor que 15 mm ou maior ou igual a 15 mm); Estágio TNM; presença de metástases linfonodais cervicais; forma clínica (esporádico ou familiar); faixa de calcitonina sérica e evolução com persistência ou recidiva. Um paciente não contava com as medidas tumorais em seu laudo anatomopatológico e não foi submetido à classificação TNM. Não contava com metástases linfonodais cervicais, evoluindo com persistência bioquímica. Em nove pacientes dosagens séricas de calcitonina também não foram realizadas antes do tratamento operatório. Os níveis séricos iniciais de CEA não foram confrontados com o tipo de evidência de doença pelo pequeno número de pacientes que contaram com tais dosagens ao diagnóstico. Análise Estatística As variáveis nominais foram analisadas quanto às suas distribuições absolutas e percentuais. Para as variáveis numéricas, medidas estatísticas inferenciais foram realizadas através dos testes Qui-quadrado de independência e Exato de Fisher. Valores de p < 0.05 foram considerados estatisticamente significantes. O software SPSS, versão 13.0 (Statistical Package for the Social Sciences, Chicago, Il, EUA) foi utilizado para a análise estatística. RESULTADOS Das variáveis analisadas, apenas as faixas etárias ao diagnóstico (até 20 anos, entre 21 e 40 anos e 41 anos ou mais) apresentaram tendência à significância estatística (p = 0,088), quando comparadas às evoluções com doença bioquímica ou com evidências clínicas e/ou imagenológicas de carcinoma medular persistente ou recidivado. (Tabela 1) Os seis pacientes com até 20 anos de idade que evoluíram com doença ativa o fizeram em vigência de 120 e�������������������������������������������� Cavalheiro et al. somente doença bioquímica (16 a 122 meses de seguimento). Já, a proporção de pacientes mais velhos entre os dois grupos foi muito semelhante.Entre os pacientes dos dois grupos, as proporções entre as demais variáveis analisadas foram semelhantes, mas favorecendo pacientes do sexo feminino, com exame físico inicial negativo, sem sintomas sistêmicos ao diagnóstico, portadores de casos familiares, com tumores menores que 15 mm em seu maior diâmetro, estágios I ou II e com recidiva em oposição à persistência. Entretanto, não foi observada nem mesmo tendência à significância estatística nessa análise. DISCUSSÃO Ao constatarmos que a forma de evolução dos pacientes com carcinoma medular tratados com intenção curativa, mas que evoluíram com doença ativa, correlacionava-se com o prognóstico quanto à possibilidade de sobrevida ou óbito pela doença19, surpreendeu-nos a ausência de identificação, em nossa amostra, de variável que pudesse predizer a evolução somente com doença bioquímica ou com evidências anatômicas do CMT. No atual estudo, faixas etárias ao diagnóstico da neoplasia primária apresentaram tendência à significância estatística quanto à forma de evolução em vigência de doença, enquanto que em estudo prévio já citado19, então com 53 pacientes, sobreponíveis aos pacientes do presente estudo, não se observou nem mesmo tendência de correlação entre idade e possibilidade de cura. Como citado, todos os pacientes com até 20 anos de idade e que evoluíram com doença ativa o fizeram em vigência somente de doença bioquímica. Quatro pacientes pertenciam à Síndrome das Neoplasias Endócrinas Múltiplas 2A, sendo três diagnosticados através de rastreamentos familiares. Os demais foram caracterizados como casos esporádicos. Dois pacientes contaram com tumores primários pequenos, mas três já apresentavam metástases linfonodais cervicais ao diagnóstico. Em três observou-se persistências e, nos outros três, recorrências. Dos sete pacientes com tumores primários com até 15 mm em seu maior diâmetro, seis evoluíram sem evidências anatômicas de doença. No entanto, entre esses pacientes foram observados quatro com exames físicos positivos à admissão, dois com sintomas sistêmicos, três com extensões neoplásicas para a cápsula cirúrgica tireóidea, quatro com metástases linfonodais cervicais, sendo dois já com extensões extralinfonodais. Três pacientes foram estadiados como Estágio IVA, um como Estágio III e dois como Estágio I. Em quatro pacientes o CMT foi persistente. Observa-se assim que em quatro casos a doença já era extensa ao diagnóstico e seus portadores evoluíram somente com doença bioquímica (seguimentos entre 25 e 147 meses). Suas idades variaram de 20 a 42 anos ao diagnóstico. O diâmetro tumoral também fora relacionado com tendência à significância estatística quanto à possibilidade de cura, anteriormente19 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 118-123, julho / agosto / setembro 2012 Carcinoma medular da tireoide: Evolução com evidências clínicas da doença e tentativa de determinação de seus preditores. Cavalheiro et al. Tabela 1. Distribuição dos pacientes não curados segundo variáveis clínicas e anatomopatológicas. Evidência da doença Variável Sim Não TOTAL N % N % N % Valor de p (teste Exato de Fisher) • Faixa etária Até 20 anos 21 a 40 anos 41 anos ou mais - 6 6 - 54,5 46,1 6 5 7 100,0 45,5 53,9 6 11 13 100,0 100,0 100,0 • Sexo Masculino Feminino 4 8 50,0 36,4 4 14 50,0 63,6 8 22 100,0 100,0 0,678 • Exame físico inicial Sim Não 12 - 44,4 - 15 3 55,6 100,0 27 3 100,0 100,0 0,255 • Sintomas sistêmicos (emagrecimento e/ou diarreia) Sim Não 2 10 50,0 38,5 2 16 50,0 61,5 4 26 100,0 100,0 1,000 • Extensão tumoral capsular Sim Não 5 7 38,5 41,2 8 10 61,5 58,8 13 17 100,0 100,0 0,880 • Extensão adjacente Sim Não 2 10 40,0 40,0 3 15 60,0 60,0 5 25 100,0 100,0 1,000 • Diâmetro tumoral (29 pacientes) < 15 mm > 15 mm 1 11 14,3 50,0 6 11 85,7 50,0 7 22 100,0 100,0 0,187 • Estágio TNM (29 pacientes) I e II III IVA e IVC 1 4 7 20,0 66,7 38,9 4 2 11 80,0 33,3 61,1 5 6 18 100,0 100,0 100,0 • Metástase linfonodais cervicais Sim Não 9 3 40,9 37,5 13 5 59,1 62,5 22 8 100,0 100,0 1,000 • Forma clínica Familiar Esporádico 3 9 30,0 45,0 7 11 70,0 55,5 10 20 100,0 100,0 0,694 • Faixa de calcitonina (21 pacientes)* Até 10x Até 30x Até 100x > 100x 2 3 2 3 40,0 60,0 50,0 42,9 3 2 2 4 60,0 40,0 50,0 57,1 5 5 4 7 100,0 100,0 100,0 100,0 • Evolução Clínica Persistência Recidiva 10 2 45,5 25,0 12 6 54,5 75,0 22 8 100,0 100,0 0,088 0,272 1,000 0,419 Notas: N: número de pacientes. * Valores relativos de calcitonina sérica determinados pelo número de vezes de aumento em relação ao limite superior da referência laboratorial vigente no momento e local do exame. [*] Diâmetro tumoral - T1: < 2 cm; T2: > 2 cm e < 4 cm; T3: > 4 cm ou mínima extensão extratireóidea; T4a: extensão extratireóidea (ressecável); T4b: extensão irressecável. Linfonodos - N0: ausência de metástases linfonodais cervicais; N1a: metástases para nível VI; N1b: metástases para linfonodos unilaterais, bilaterais ou contralaterais ou em mediastino superior. Metástases distantes - M0: ausente; M1: presente. Estágios - I: T1N0M0; II: T2N0M0; III: T3N0M0, T1-2-3N1aM0; IVA: T4a qualquer N M0, T1-2-3N1bM0; IVB: T4b qualquer N M0; IVC: qualquer T qualquer N M1. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 118-123, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 121 Carcinoma medular da tireoide: Evolução com evidências clínicas da doença e tentativa de determinação de seus preditores. Estágio TNM e a presença de metástases linfonodais cervicais já foram observados como os principais fatores prognósticos associados à possibilidade de cura79,14,17,19,22,23. Sendo variáveis interdependentes, somente a presença de metástases linfonodais cervicais foi caracterizada como variável independente à regressão logística em nosso estudo anterior19. Sabe-se que mesmo esvaziamentos cervicais extensos dificilmente levarão à cura bioquímica daqueles pacientes com metástases linfonodais7. No atual estudo, entretanto, cerca de 60% dos pacientes com metástases linfonodais cervicais evoluíram sem evidências anatômicas da doença. Apenas 23% destes contavam com extensões neoplásicas extralinfonodais, enquanto que 44% o fizeram entre aqueles que evoluíram com doença macroscópica. Daqueles sem metástases cervicais cujas evoluções foram acompanhadas por evidências outras que não só a elevação sérica de calcitonina, todos contavam com 41 anos ou mais ao diagnóstico e seus tumores primários ultrapassavam 3 cm em seu maior diâmetro. A mesma ausência de correlação estatisticamente significante foi observada em relação ao Estágio TNM, apesar de a maioria dos pacientes Estágios I ou II terem evoluído sem evidências anatômicas da doença. Metástases a distância para ossos, fígado e pulmões são as mais comumente observadas24. Sua detecção imagenológica, por sua vez, nem sempre é possível quando os títulos séricos de calcitonina são inferiores a 250 pg/mL,11 o que daria cerca de 50 vezes a máxima referência laboratorial considerando-se o limite atual determinado pela maioria dos laboratórios de 5 pg/mL (desconsiderando diferenças etárias e sexuais possíveis). Machens et al.25 também observaram que 38% dos pacientes sem metástases linfonodais cervicais e submetidos a dissecções cervicais extensas não alcançavam a cura bioquímica, sugerindo a presença de metástases ocultas a distância. As possibilidades de cura também decresceram em vigência de títulos séricos elevados de calcitonina no pré-operatório. Dos pacientes com doença macroscópica do atual estudo, apenas dois evoluíram com títulos séricos de calcitonina relativamente baixos, ou com aumentos de até dez vezes a máxima referência laboratorial. Considerados pacientes com persistências neoplásicas, contavam com títulos também não tão elevados ao diagnóstico e evoluíram com doença local. Embora os níveis de calcitonina possam correlaciona-se com o volume da doença residual7, autores já atribuíram à não ou discreta elevação deste marcador sérico, na presença de outros indícios de doença, à desdiferenciação tumoral26. Cálculos relacionados ao tempo de duplicação dos títulos de calcitonina e CEA (doubling time) também estão em voga quanto à determinação da progressão da doença7 (em http: //www.thyroid.org: link para tais cálculos). Através de outros estudos já se observou taxas de persistência superiores às taxas de recidiva verdadeira, como por nós constatado. Modigliani et al.9, em análise de 863 portadores de CMT, observaram 57% de persis122 e�������������������������������������������� Cavalheiro et al. tências após o tratamento operatório inicial e taxa de recidiva de 2,1%. Desses pacientes não curados, 50,6% mantiveram os títulos séricos de calcitonina elevados como único indício de doença ativa. Kebebew et al.14 relataram 38,3% de persistências em grupo de 104 pacientes, com sobrevidas entre um mês e 23,7 anos. Idade 5,8,9,14,17,22,23,27 já foi associada ao prognóstico de portadores de CMT, com benefício de pacientes mais jovens, assim como a presença de evidências clínicas e/ ou imagenológicas de CMT local e/ou a distância já foi correlacionada ao comprometimento prognóstico por outros autores28. Como em nossa análise, a taxa de desenvolvimento de doença clínica e/ou imagenológica entre indivíduos não curados é de cerca de 40% ao longo de seus seguimentos16. Van Heerden et al. 16 estudaram 31 pacientes com hipercalcitonemias persistentes após tratamento cirúrgico considerado adequado. Dois pacientes faleceram pela doença no decorrer dos seguimentos clínicos, ambos com doença inicial avançada. Idade e porcentagem de células na fase S do ciclo celular foram associadas à tendência à significância estatística quanto ao desenvolvimento de doença macroscópica, enquanto que a presença de mais de três linfonodos cervicais acometidos apresentou correlação estatisticamente significante. Em estudo de Pellegriti et al,28 33 (52,4%) pacientes evoluíram com doença bioquímica após tratamento cirúrgico. Vinte e nove por cento dos pacientes desenvolveram evidências macroscópicas de doença no decorrer de seus seguimentos (média de 6,9 anos), sendo 54% entre aqueles com persistências bioquímicas. Cinco pacientes faleceram, todos com evidências imagenológicas de CMT. À análise univariada, estágio TNM, estágio T, estágio N, extensão tumoral, porcentagem de linfonodos metastáticos e níveis séricos pós-operatórios de calcitonina puderam ser relacionados à doença com evidências imagenológicas. Como variáveis independentes permaneceram os níveis de calcitonina e a extensão tumoral. Devemos apontar que o ideal seria que considerássemos como curados aqueles pacientes com níveis indetectáveis de calcitonina sérica, e não com dosagens dentro dos limites das referências laboratoriais, como geralmente preconizado. Talvez assim, aumentássemos nossa amostra de pacientes não curados, pois não podemos excluir completamente a presença de doença residual associada à detecção deste marcador13. CONCLUSÃO A atual análise foi certamente prejudicada pelo pequeno número de pacientes em cada categoria. O carcinoma medular acomete indivíduos muito heterogêneos em situações clínicas também diversas, dificultando estudos prognósticos especialmente quando retrospectivos. Como já comentado, os exames imagenológicos disponíveis nem sempre são suficientemente sensíveis para a detecção de metástases de pequeno volume e nem sempre os níveis séricos de calcitonina, apesar Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 118-123, julho / agosto / setembro 2012 Carcinoma medular da tireoide: Evolução com evidências clínicas da doença e tentativa de determinação de seus preditores. de ser um marcador sensível e específico para o CMT, acompanham a progressão da doença. Novos estudos deverão amparar nossa teoria inicial, inclusive para que possamos adaptar a terapia ao prognóstico e possibilidades de evolução com doença anatômica evidente. REFERÊNCIAS 1. Randolph GW, Maniar D. Medullary carcinoma of the thyroid. Cancer Control. 2000;7:253-61. 2. Eng C, Clayton D, Schuffenecker I, Lenoir G, Cote G, Gagel RF, et al. The relationship between specific RET proto-oncogene mutations and disease phenotype in multiple endocrine neoplasia type 2. International RET mutation consortium analysis. JAMA. 1996;276:1575-9. 3. Frank-Raue K, Hoppner W, Frilling A, Kotzerke J, Dralle H, Haase R, et al. Mutations of the ret proto-oncogene in German multiple endocrine neoplasia families: relation between genotype and phenotaype. German Medullary Thyroid Carcinoma Study Group. J Clin Endocrinol Metab. 1996;81:1780-3. 4. Machens A, Hans-Jürgen H, Phuong NT, Dralle H. 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Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 118-123, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 123 Artigo Original Avaliação videofluoroscópica no pós-operatório tardio de pacientes submetidos à laringectomia supracricoidea com cricohioidoepiglotopexia Videofluoroscopic evaluation in the late postoperative period of patients undergoing supracricoid laryngectomy with cricohyiodopexy Resumo Abstract Introdução: A laringectomia parcial supracricóidea com cricohioidoepiglotopexia (CHEP) é uma alternativa no tratamento de lesões malignas da laringe para evitar a laringectomia total e a presença definitiva da traqueostomia e consequente perda da voz laríngea. Objetivo: O objetivo deste trabalho é avaliar os distúrbios de deglutição em pacientes submetidos à laringectomia supracricóide com cricohióidoepiglotopexia, por meio da videofluoroscopia Método: Foram avaliados 58 pacientes da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer (INCA), com idade entre 45 e 70 anos, com carcinoma epidermóide primário de laringe glótica e supraglótica, e submetido à laringectomia supracricóide com cricohióoidoepiglotopexia (LSC-CHEP). Resultados: Observouse que em 19 (42%) pacientes que não apresentavam queixa prévia relacionada à disfagia foram registradas aspirações durante a deglutição, e em 6 (31%), pneumonia de repetição. Cinco (83%) deles necessitaram intervenção imediata com introdução de dieta enteral e fonoterapia, e um foi submetido à laringectomia total. Conclusão: Constatou-se presença de distúrbios importantes de deglutição em pacientes assintomáticos, com laringectomia parcial supracricóidea com cricohioidoepiglotopexia, fato que aponta para a necessidade da inclusão da videofluoroscopia na rotina de atendimento desses pacientes. Descritores: Laringectomia; Neoplasias Laríngeas. Priscila Rodrigues Prado Prado 1 Fernando Luiz Dias 2 Izabella Costa Santos 3 Emilson Freitas 4 Leslie Piccolotto Ferreira 5 Transtornos de Introduction: Supracricoid laryngectomy with cricohyoidopexy is an alternative in the treatment of malignant lesions of the larynx to avoid total laryngectomy and the presence of permanent tracheostomy and consequent loss of laryngeal voice. Objective: The objective of this study is to evaluate swallowing disorders in patients undergoing supracricoid laryngectomy with cricohyoidopexy by videofluoroscopy. Method: 58 patients were evaluated in Section of Head and Neck from Nacional Cancer Institute, aged between 45 and 70 years, with primary squamous cell carcinoma of the larynx glottic and supraglottic, and undergoing supracricoid laryngectomy with cricohyoidopexy. Results: We found that in 19 (42%) patients who had no prior complaints dysphagia-related aspiration were recorded during swallowing, and in 6 (31%), recurrent pneumonia. Five (26%) of them needed immediate intervention with the introduction of enteral feeding and speech therapy, and one underwent a total laryngectomy. Conclusion: We found the presence of swallowing disorders in asymptomatic patients, with supracricoid laryngectomy with cricohyoidopexy, fact that points to the need for inclusion of videofluoroscopy in the routine care of these. Key words: Deglutition Disorders; Laryngectomy; Laryngeal Neoplasms. Deglutição; Introdução O câncer de laringe representa em todo o mundo 1 a 2% dos tumores malignos e está associado ao tabagismo, etilismo, exposição profissional, agentes químicos e história familiar de câncer. Sendo assim, a cirurgia geralmente indicada para esse tipo de neoplasia é a laringectomia que pode ser parcial, total ou subtotal1. Descrita por Majer e Rieder em 19593 e posteriormente por Labayle e Bismuth em 19724 a laringectomia parcial supracricóidea com cricohioidoepiglotopexia (CHEP) é uma alternativa no tratamento de lesões malignas da laringe para evitar a laringectomia total evitando a presença definitiva da traqueostomia e a perda da voz laríngea. A indicação da laringectomia supracricóide é para tu- 1)Mestranda em Fonoaudiologia pela PUC-SP. Fonoaudióloga do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA. 2)Doutor em Medicina pela USP; Mestre em Cirurgia Geral pela UFRJ. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA; Titular do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA. 3)Doutora em Clínica Cirúrgica pela USP. Titular do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA. 4)Titular do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA. 5)Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP-EPM; Mestre em Lingüística Aplicada pela PUC-SP. Professora Titular do Departamento de Fundamentos da Fonoaudiologia e da Fisioterapia da PUC-SP. Professora da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia. Instituição: Instituto Nacional do Câncer. São Paulo / SP – Brasil. Correspondência: Priscila Rodrigues Prado Prado Zagari - Rua Valson Lopes, 70 apto 145 Torre 1 - Vila Butanta - São Paulo / SP - CEP: 05360-020. Recebido em 12/12/2011; aceito para publicação em 19/08/2012; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 124 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 124-127, julho / agosto / setembro 2012 Avaliação videofluoroscópica no pós-operatório tardio de pacientes submetidos à laringectomia supracricoidea com cricohioidoepiglotopexia. mores transglóticos com acometimento glótico e supraglótico, com mínima extensão à subglote, quando quase toda a laringe é removida, mantendo o osso hióide, a cartilagem cricóide e, pelo menos, uma aritenóide, possibilitando a reconstrução funcional do órgão. A reconstrução da laringe pode ser realizada por duas formas: a cricohioidopexia (CHP), que consiste na aproximação da cartilagem cricóide ao osso hióide, e a cricohioidoepiglotopexia (CHEP) em que é mantida a epiglote e inclui-se seu pecíolo na sutura de aproximação da cricóide ao osso hióide5,6. Com a preservação da epiglote, os resultados funcionais geralmente são melhores1. Essas cirurgias ainda são pouco descritas na literatura em relação aos aspectos funcionais, e observa-se que com fonoterapia há adequação da alimentação com o retorno da ingesta via oral e melhora da qualidade vocal. Entretanto, podem ocorrer sequelas tardias como distúrbios de deglutição. O objetivo deste trabalho é avaliar os distúrbios de deglutição em pacientes submetidos à LSC-CHEP por meio da videofluoroscopia (VF) independente da queixa apresentada. Método Este estudo, de natureza transversal e prospectivo, foi realizado num instituto que atende pacientes com câncer de cabeça e pescoço, na cidade do Rio de Janeiro. Foram selecionados todos os pacientes que compareceram no período que compreendeu o mês de agosto de 2006 a abril de 2009. Como critérios de inclusão foram estabelecidos: paciente apresentar carcinoma epidermóide primário de laringe glótica e supraglótica, e ter sido submetido à laringectomia supracricóide com cricohióoidoepiglotopexia (LSC-CHEP). Todos os pacientes receberam orientações sobre os procedimentos da pesquisa e em seguida assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nessas condições, ao final foram computados 58 pacientes, todos com preservação de ambas aritenóides, que foram submetidos à videofluoroscopia após 90 dias de pós-operatório independente da queixa apresentada. Para a caracterização da deglutição, foi utilizado o equipamento radiológico da marca GE Medical Systems modelo 1600. Ao exame, foi solicitado a cada sujeito que ingerisse 5 a 20ml (bário líquido) na proporção 1:1 para as consistências liquido, pastoso e sólidos (misturado com bário). O registro dos achados considerou as visões lateral e ântero-posterior nas três situações. Os exames foram apresentados a três fonoaudiólogos especialistas da instituição. Esses puderam assistir três vezes o material dos 58 sujeitos e ao final julgar. Para a análise foram consideradas as fases preparatória-oral, oral e faríngea da deglutição, tendo como base a escala de O’Neil et. al (1999)17 (Quadro 1), para registro da gravidade da disfagia, e a escala de Robbins et. al (1999) para avaliar penetração e aspiração laríngea. O Prado et al. Quadro 1. Grau de severidade de disfagia. O’Neil et al 1999. Grau de severidade da disfagia Via Oral (dieta normal) Nível 7 - normal em todas as situações Nível 6 - dentro dos limites funcionais Via Oral Modificada Nível 5 – Disfagia Discreta Nível 4 – Disfagia Discreta/Moderada Nível 3 – Disfagia Moderada Via Oral Suspensa Nível 2 – Disfagia Moderada Grave Nível 1 – Disfagia Grave Tabela 1. Resultados da análise da deglutição através da vidofluoroscopia (VF) – quanto ao grau de severidade de disfagia segundo proposta de O’Neil et al. (1999). Grau de severidade Pacientes n (%) Deglutição Funcional Disfagia Faríngea discreta Disfagia faríngea discreta/moderada Disfagia faríngea moderada Disfagia faríngea grave Disfagia faríngea moderada/grave Disfagia orofaríngea moderada Disfagia orofaríngea grave 35 (60%) 8 (14%) 2 (3%) 6 (10%) 1 (2%) 4 (7%) 1 (2%) 1 (2%) Total 58 (100%) resultado final contou com a resposta dada pela maioria dos juízes. Resultados Os 58 pacientes participantes deste estudo apresentavam idade entre 45 e 70 anos todos submetidos à laringectomia supracricóide com cricohióidoepiglotopexia conforme critério de inclusão estabelecido. O tempo médio decorrido do tratamento cirúrgico até o momento da avaliação da deglutição foi de 90 dias. A média em relação ao tempo de decanulização foi de 30 dias (mínimo 15 – máximo 30), Dentre os 58 participantes, 4 (7%) foram submetidos à radioterapia adjuvante, 40 (67%) eram assintomáticos, 17 (30%) apresentavam queixas de tosse e/ou engasgos e 2 (3%), odinofagia. Por meio da análise da deglutição com videofluoroscopia, 35 (60%) pacientes apresentavam deglutição funcional) 8 (14%) apresentavam disfagia faríngea discreta, 2 (3%) disfagia faríngea discreta/moderada, 6 (10%) disfagia faríngea moderada, 1 (2%) disfagia faríngea grave, 4 (7%) disfagia faríngea moderada/grave, 1 (2%) disfagia orofaríngea moderada, e 1 (2%) disfagia orofaríngea grave (Tabela 1). Dezenove (42%) pacientes apresentaram aspiração durante a deglutição, todos sem queixas prévias relacionadas, porém 6 (31%) com história de pneumonia de repetição: 1 (16%) com aspiração nível 2 (determinada quando o Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 124-127, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 125 Avaliação videofluoroscópica no pós-operatório tardio de pacientes submetidos à laringectomia supracricoidea com cricohioidoepiglotopexia. Prado et al. Figura 1. Deglutição funcional. Figura 2. Disfagia grave - Aspiração nível 1. contraste passa do nível glótico com resíduo na subglote com tosse não efetiva) e 5 (83%) com aspiração nível 1 (determinada quando o contraste passa do nível glótico com resíduo na subglote sem reflexo de tosse). Cinco (26%) pacientes necessitaram intervenção imediata com introdução de dieta enteral e fonoterapia, e um paciente foi submetido à laringectomia total. Em relação ao tempo de traqueostomia, a média encontrada nesta pesquisa foi de 30 dias. Deve-se considerar que, além da traqueostomia interferir negativamente na melhora vocal, a permanência da traqueostomia aberta nos casos de laringectomia supracricóide, exceto na presença de estenose da neolaringe se dá em função da disfagia e dos riscos de aspiração traqueal1. Deve-se considerar também que a traqueostomia aberta e a presença da cânula dificultam a elevação laríngea no processo de deglutição15. Estudos relatam que o período de normalização da respiração pode variar de 18 dias até um ano2,7. Observou-se que a maioria dos pacientes avaliados neste estudo apresentou evolução funcional da deglutição satisfatória, fato que vai na mesma direção da literatura, que explicita que a maioria dos pacientes submetidos à laringectomia supracricóide apresenta evolução funcional satisfatória1, 5, 8, 9, 16. Por ser uma cirurgia de indicação restrita, a laringectomia supracricóide com cricohióidoepiglotopexia deve ser mais pesquisada para proporcionar aos pacientes que se submetem a ela melhora funcional da deglutição. A avaliação videofluoroscópica mostrou-se eficaz nos pacientes assintomáticos que foram submetidos à laringectomia supracricóide com cricohióidoepiglotopexia, pois foi possível avaliar a presença de aspiração silente, permitindo a reavaliação da estratégia de reabilitação fonoaudiológica. Discussão A presença de disfagia, especialmente para consistência líquida, é relatada na maioria dos casos de laringectomia supracricóide, sendo possível adequação funcional da deglutição com a intervenção fonoaudiológica9,10. Neste estudo 15% (12% com disfagia moderada e 3% com disfagia grave) apresentaram distúrbios de deglutição, sendo que um paciente teve que ser encaminhado a laringectomia total e outro apresentava com recidiva da doença em base de língua, ambos com a função da deglutição comprometida. Observou-se disfagia moderada nos casos em que a epiglote foi preservada apontando para o seu papel na deglutição e para necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema, uma vez que há referência de permanência de disfagia severa nos casos de CHEP em que não ocorre a compensação da dinâmica funcional da epiglote11. O tempo de retirada da sonda naso enteral (SNE), conforme descrito na literatura, varia de 9 a 90 dias após a cirurgia, sendo que em alguns estudos há referência de normalização e/ou melhora significativa na deglutição e na voz até um ano após a cirurgia12-14. Neste estudo a média de retirada de sonda foi de 30 dias após a cirurgia, corroborando estudo que considera o período de até um mês para a retirada da SNE10. Conclusão A videofluoroscopia é um exame importante na avaliação funcional da deglutição em pacientes no pós-operatório de LSC-CHEP, pois avalia o grau de disfagia e a 126 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 124-127, julho / agosto / setembro 2012 Avaliação videofluoroscópica no pós-operatório tardio de pacientes submetidos à laringectomia supracricoidea com cricohioidoepiglotopexia. presença de aspiração silente, permitindo a reavaliação da estratégia de reabilitação fonoaudiológica. Referências 1. 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Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 124-127, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 127 Artigo Original Laringoceles: Estudo retrospectivo em uma única instituição Laryngoceles: Retrospective study in a single institution Resumo Introdução: A laringocele é uma rara dilatação benigna do saco laríngeo. Os sintomas são rouquidão, dispnéia e abaulamento cervical. A incidência anual é de 1 para 2,5 milhões de pessoas por ano. A videolaringocopia e exames de imagem são necessários para diagnóstico e tratamento. As complicações incluem pneumonia, abscesso cervical e obstrução aguda de vias aéreas. O tratamento preferencial é cirúrgico, com abordagem endoscópica para pequeno volume e aberta para as laringoceles volumosas. Objetivo: Descrever os resultados do tratamento das laringoceles no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo no período de nove anos. Método: Estudo retrospectivo em nove anos de todos os pacientes portadores de laringoceles operados no Hospital. Dados clínicos, cirúrgicos e patológicos foram examinados. Resultados: No período de 2000 a 2009 foram identificados apenas dois casos de laringoceles. Caso 1: Feminino com rouquidão e dispnéia. Na laringoscopia visualiza-se lesão globosa em ventrículo direito. Operado via cervicotomia e incisão paralaríngea direita. O anátomo revelou epitélio com metaplasia escamosa, sem malignidade. Caso 2: Masculino com rouquidão e dispnéia. A laringoscopia evidenciou lesão volumosa cística direita de 4,0x3,2x3,0 cm. Operado via cervicotomia e tirotomia lateral direita com ressecção após identificação do nervo laríngeo inferior. O anátomo evidenciou lesão com metaplasia escamosa, sem malignidade. Ambos pós-operatórios sem intercorrências. Conclusões: A incidência no serviço está compatível com a literatura, o tratamento cirúrgico é o preferencial. A suspeita diagnóstica e o tratamento devem ser realizados de maneira rápida, visando evitar a obstrução respiratória aguda pela complicação da laringocele. Descritores: Laringe; Doenças da Laringe; Glote; Distúrbios da Voz. Giulianno Molina de Melo 1 Danilo Anunciatto Sguillar 2 Rogério Ramos Caiado 3 Climério Pereira Nascimento Junior 4 Ricardo A. Souza e Souza 5 Abstract Introduction: The laryngocele is a rare benign dilation of the laryngeal saccule with estimated incidence is one per year per 2,500,000 population. The common symptoms are dysphonia, dyspneia and neck mass and radiologic exams and videolaryngoscopy are necessary to the diagnosis and treatment. Potential complications are pneumonia, neck abscess and acute airway obstruction, being surgery the preferred treatment through endoscopic approach for small lesions and external approach for medium and volumous laryngoceles. Objective: Describe the results of patients with laryngocele treated at the Head and Neck Service in the Beneficência Portuguesa de São Paulo Hospital over a nine year period. Method: Retrospective review of charts, clinical and surgical data of laryngocele patients treated in a nine year period. Results: Two patients only were treated for laryngocele in the period of 2000 to 2009. Case 1: Female with dysphonia and dyspneia. Laryngoscopy shows the round lesion at the right ventricule. Surgery was done by external approach and right paralaryngeal incision. The pathology showed squamous metaplasia in the epithelium, with no malignancy. Case 2: Male with dysphonia and dyspneia. The laryngoscopy showed right cystic lesion measuring 4.0x3.2x3.0 cm. Operated by external approach and right lateral thyrotomy with preservation of the right inferior laryngeal nerve. The pathology showed a squamous metaplasia in the epithelium, with no malignancy. Both patients postoperative stay were uneventful. Conclusion: The incidence at the service is literature compatible. The surgical treatment is preferred. The clinical suspicion and the treatment must be promptly done to avoid the acute airway obstruction, a laryngocele complication. Key words: Larynx; Glottis; Voice Disorders; Laryngeal Diseases. 1)Doutorando UNIFESP. Cirurgião de Cabeça e Pescoço; Médico Assistente da Clínica e Cirurgia de Cabeça e Pescoço “Jorge Fairbanks Barbosa” do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. 2)Otorrinolaringologia. Otorrinolaringologista membro da Clínica de Otorrinolaringologia “Ivan Fairbanks Barbosa”do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. 3)Residente em Otorrinolaringologia da Clínica de Otorrinolaringologia “Ivan Fairbanks Barbosa”do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. 4)Doutorado em Medicina pela FMUSP. Cirurgião de Cabeça e Pescoço, Médico Assistente da Clínica e Cirurgia de Cabeça e Pescoço “Jorge Fairbanks Barbosa” do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. 5)Patologista pela SBP. Patologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Instituição: Serviço de Clínica e Cirurgia de Cabeça e Pescoço “Jorge Fairbanks Barbosa” do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. São Paulo / SP – Brasil. Correspondência: Giulianno Molina de Melo - Rua Maestro Cardim, 818 - Liberdade - São Paulo / SP – Brasil Recebido em 08/07/2012; aceito para publicação em 19/08/2012; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 128 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 128-132, julho / agosto / setembro 2012 Laringoceles: Estudo retrospectivo em uma única instituição. Introdução A laringocele é uma rara dilatação benigna do saco laríngeo, este por sua vez é uma bolsa formada na porção anterior do ventrículo laríngeo, também chamada de bolsa laríngea, saco de Hilton, sacculus laryngis ou appendix ventriculi laryngis1-4. A dilatação pode se estender internamente entre a falsa prega e a lâmina da cartilagem tireóide comprimindo a via aérea, através da membrana cricotireóidea, determinando abaulamento cervical ou ter a forma mista de ambos. A maioria das laringoceles é assintomática, no entanto os pacientes que apresentam sintomas o fazem com rouquidão, tosse, estridor, sensação de corpo estranho na laringe e abaulamento cervical. A incidência anual é de cerca 1 para 2,5 milhões de pessoas por ano, citando-se atualmente na literatura inglesa pouco mais de cem casos publicados. Descrevemse associações da laringocele com carcinoma, abscesso cervical, amiloidose e doença ocupacional2,3,5,6. O exame clínico e endoscópico apurado, exame de imagem com tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética ou ultrasonografia são premissas básicas para o diagnóstico correto e indicação de tratamento preciso7. Como complicações de laringocele não tratadas incluem-se infecções (formação de piocele), broncoaspiração de patógenos com pneumonia, infecção do espaço lateral da faringe (abscesso cervical) e obstrução de vias aéreas superiores. O tratamento preferencial é cirúrgico, com abordagem interna endoscópica para os casos de pequeno volume e pouca repercussão clínica e, abordagem externa via cervicotomia e laringofissura para as laringoceles volumosas ou mistas4,8. O objetivo deste estudo retrospectivo é descrever os resultados do tratamento, complicações e evolução das laringoceles atendidos pelo Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço em uma única instituição (Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo) no período de nove anos. Melo et al. O instrumento para coleta de dados foi o programa Excel, com planilha devidamente organizada para obter dados demográficos, do quadro clínico, data e procedimento cirúrgico, complicações pré, trans e pós-operatórias, data de alta hospitalar, resultado AP, estado clínico e duração do seguimento. O estudo foi cadastrado e aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de acordo com a Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sob número 483-09. Resultados O estudo retrospectivo de nove anos no serviço evidenciou apenas dois pacientes portadores de laringoceles, que preencheram os requisitos de inclusão no estudo. Devido ao pequeno número de pacientes a avaliação estatística não apresentará significado. A apresentação clínica será descrita a seguir: Caso 1: Paciente feminino de 38 anos com quadro de rouquidão há dois meses, evoluindo com dispnéia discreta. Negava tabagismo ou outras morbidades. Na laringoscopia visualizava-se lesão globosa em ventrículo laríngeo direito, de aspecto cístico, ocupando cerca de 60% da luz glótica, com pregas vocais móveis (Figura 1). A Tomografia computadorizada (TC) pescoço foi realizada constatando-se laringocele interna á direita, restrita à laringe. Operado em 24/12/08 via cervicotomia e acesso paralaríngeo direito para a ressecção completa, drenado com drenos tubulares. A evolução pós-operatória foi sem intercorrências, com alta hospitalar em dois dias. O anátomo-patológico revelou cavidade cística de 2,0x1,0x0,7 cm, com epitélio evidenciando metaplasia escamosa, sem malignidade. No retorno ambulatorial o paciente não apresentou disfonias, com remissão do quadro de dispnéia. Com três anos de seguimento os Método Estudo retrospectivo no período de nove anos com análise dos prontuários de todos os pacientes portadores de laringoceles submetidos à ressecção no Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Os dados referentes às indicações cirúrgicas, técnica cirúrgica, resultados anátomo-patológico (AP), complicações, seguimento, morbidades e mortalidade foram coletados e examinados. Os critérios de inclusão foram: laringocele interna ou externa com sintomas compressivos, apresentando dispnéia ou disfonia, em pacientes capazes de serem submetidos à anestesia geral. Foram excluídos os pacientes já operados em outro serviço ou incapazes de serem submetidos à anestesia geral e pacientes cujo exame anátomo-patológico resultou em câncer de laringe. Figura 1. Laringocele Interna Direita - Laringocele Interna Direita. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 128-132, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 129 Laringoceles: Estudo retrospectivo em uma única instituição. exames de videoestrobolaringoscopia e TC de controle não demonstraram recidiva e a função glótica é mantida normal. Caso 2: Paciente masculino de 26 anos, com quadro de rouquidão há dois meses evoluindo com dispnéia progressiva, roncos noturnos que estavam ausentes previamente. Ao exame físico apresentava-se dispnéico ++/4+, com Laringoscopia direta evidenciando lesão de grande volume cística, á direita, exercendo efeito de massa com deslocamento da laringe contralateralmente e diminuição da luz glótica. A TC pescoço demonstrava lesão expansiva, endolaríngea de 4,0x3,2x3,0 cm, circunscrevendo a prega vocal e banda ventricular direita, com extensão cranial até o bordo da epiglote pelo espaço paraglótico e extensão caudal até 0,5 cm abaixo da cartilagem cricóide, deslocando a glândula tireóide e diminuindo a luz glótica (Figura 2 e Figura 3). Operado em 13/02/09 via cervicotomia e tirotomia lateral direita com ressecção completa da lesão após ressecção de aderência em mucosa de seio piriforme cranialmente e identificação da entrada do nervo laríngeo inferior direito no músculo cricotireóideo para a ressecção da extensão inferior de 3,0 cm da laringocele mista (Figura 4). Foi necessária a traqueostomia e passagem de SNE. O paciente apresentou boa evolução, sem fístulas, com alta hospitalar em 27/02/09. O exame anátomo-patológico evidenciou lesão cística de 4,5x2,8x1,5cm com metaplasia escamosa, sem malignidade. No retorno evoluiu com paresia de prega vocal direita, sem aspiração, com retorno gradual da função após a realização de fonoterapia dentro de seis meses de pós-operatório, documentado em videoestrobolaringocopia. Nos exames de controle (clínico, TC de Pescoço e videoestrobolaringocopia), após três anos, não apresentou recidiva da laringocele. Melo et al. Figura 2. Laringocele Mista - Laringocele Mista no Espaço Paraglótico Direito. Discussão Figura 3. Laringocele Mista e Redução da Luz da Glote - Laringocele Mista ocupando o espaço paraglótico direito e diminuindo a luz da glote. A primeira descrição de laringocele foi realizada por Larrey em 1829, cirurgião do exército de Napoleão que observou esta alteração no Egito, a seguir foi descrita também por Virchow em 1867 ao relatar uma alteração sacular na laringe6-10. Constitui-se em dilatação benigna do saco laríngeo, bolsa formada na porção anterior do ventrículo laríngeo, de rara apresentação, também chamada de bolsa laríngea, saco de Hilton, sacculus laryngis ou appendix ventriculi laryngis1-4,6. A classificação é baseada na localização: interna, quando se localiza medialmente à lâmina da cartilagem tireóide, externa, quando lateral a esta estrutura e combinada quando identificada em ambas as regiões, comunicando-se habitualmente através da membrana tireo-hiódea (Quadro 1)2-9. No levantamento bibliográfico, na base de dados PubMed, digitando-se laryngocele apenas, encontramos 358 artigos no período de 1921 a 2012. Ao digitar-se internal laryngocele e fazendo o mesmo para external laryngocele encontramos no mesmo período 63 e 62 ar- Figura 4. Exposição da Laringe via Tirotomia Lateral - Exposição da laringe via tirotomia lateral para ressecção da laringocele mista: EPG-Espaço Paraglótico Direito; SaCL-Saco Cístico da Laringocele; LCT-Lâmina direita da Cartilagem Tireóide; LG-Luz da Glote. 130 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 128-132, julho / agosto / setembro 2012 Laringoceles: Estudo retrospectivo em uma única instituição. Melo et al. Figura 5. Tipos de Laringoceles - A-Anatomia normal da Laringe; B-Laringocele Interna e Externa; C-Laringocele Mista. From: Glazer et al. Computed Tomography of Laryngoceles. AJR 1983;140:549-552. tigos relacionados respectivamente para cada pesquisa; e, finalmente, ao digitar-se mixed laryngocele encontram-se apenas 28 artigos no período de 2011 a 1952. Excluindo-se os artigos repetidos e de outros temas, obtivemos o total de 142 artigos objetos da revisão deste estudo. Na procura bibliográfica na base de dados LILACS, digitando-se Laringocele encontramos no período de 2008 a 1988 apenas 10 trabalhos relacionados que ajudaram na revisão bibliográfica deste artigo. A incidência das laringoceles estimada por Stell11 é de um paciente por 2.500.000/ano, onde em 85% dos casos a apresentação é unilateral e apenas 15% bilateral e, em relação ao tipo, cerca de 50% das laringoceles são do tipo misto. Esta raridade explica a baixa incidência de apresentação neste serviço de referência. As laringoceles são encontradas mais comumente em homens numa relação de 5:1, na quinta ou sexta década4,10. A etiopatogenia das laringoceles permanece incerta, encontrando-se na literatura relatos com predisposição congênita, amiloidose, papilomatose em crianças, artrite reumatóide, carcinoma de laringe, cirurgia prévia em cabeça e pescoço e adquirida. A etiologia adquirida parece se desenvolver a partir da manobra de Valsava, com obstrução funcional do ventrículo e aumento da pressão subglótica, situação encontrada na tosse persistente, músicos de instrumentos de sopro, sopradores de vidro e fonadores com voz ventricular2,6,12. Os sintomas podem ser divididos de acordo com o tipo de laringocele. Nas internas, podem interferir na fonação e levar à rouquidão, ronco ou até obstrução de vias aéreas como nos casos apresentados. Outros sintomas são: sensação de corpo estranho, dor de garganta e tosse. No caso das laringoceles externas, comumente a apresentação se faz como abaulamento cervical indolor, associado ou não com sintomas laríngeos. A apresentação do tipo misto varia conforme o tamanho e a predominância de um tipo sobre o outro. Nesta casuística, todos os casos tiveram dispnéia e disfonia concordando com a literatura4,13,14. Os exames de imagem têm papel fundamental para o diagnóstico das laringoceles sendo a tomografia computadorizada (TC) o padrão-ouro, embora a ressonância nuclear magnética e mesmo a ultrassonografia tenham papel definidos7. A TC pode distinguir entre cistos preenchidos com ar ou preenchidos com líquido; detectar uma laringocele mista onde apenas um dos componentes, interno ou externo, foi clinicamente suspeito; determinar a extensão de ambos os componentes e a relação espacial com as estruturas internas da laringe e de partes moles cervicais e, afastar o carcinoma de laringe2,4,15. O exame endoscópico da laringe é obrigatório, podendo ser feito simplesmente com espelho de Garcia ou com ótica rígida, através da videoestrobolaringocopia, para documentação anatômica e funcional, obtendo-se parâmetros para controle da evolução no pós-operatório, realizado para os casos deste estudo. A análise acústica da voz pode ser feita, no entanto não apresentou diferenças estatísticas entre pré e pós-operatório quando avaliado por Dursun et al4. O diagnóstico diferencial se faz com o cisto sacular, cisto branquial, divertículo de Zencker, abscesso cervical, carcinoma de laringe, hipofaringe, linfangiomas, hemangiomas e linfadenopatias (inflamatórias e neoplásicas). As complicações da laringocele incluem infecção (formação de piocele), broncoaspiração de patógenos e subseqüente bronquite e pneumonia, infecção do espaço lateral da faringe (depois de ruptura), abscesso cervical e obstrução de vias aéreas superiores, fato presente nos casos do estudo e na literatura2-4,7,10,14,16,17. As opções de tratamento, que dependem do tamanho da laringocele e da experiência do cirurgião, incluem o acompanhamento, realizado quando a laringocele é pequena e assintomática e o tratamento cirúrgico, reservado para a ocorrência de sintomas. A ressecção endoscópica é opção de tratamento para laringoceles internas pequenas e cistos saculares, podendo ser da forma convencional ou com laser de CO2 e costumam evoluir com menor formação de edema e de fibrose pós-operatória4. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 128-132, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 131 Laringoceles: Estudo retrospectivo em uma única instituição. As laringoceles internas pequenas (porém recorrentes) que podem ter associação com malignidade e as laringoceles externas e internas grandes são preferencialmente removidas por via externa através da cervicotomia com laringotomia (tirotomia) acompanhado ou não de traqueostomia2,6,8,9,10,14,17,18. No presente estudo as opções de tratamento realizadas e recomendadas foram a cervicotomia com laringotomia, apresentando mínima morbidade após o período de recuperação no pós-operatório, sendo a opção deste serviço para a ressecção completa da laringocele. Conclusão A incidência da doença no serviço está compatível com a da literatura, o tratamento cirúrgico é o preferencial, com os dois casos tratados via tirotomia lateral e paralaríngea com boa evolução. A suspeita diagnóstica e o tratamento devem ser realizados de maneira rápida, visando evitar a obstrução respiratória aguda pela complicação da laringocele. O futuro acréscimo da experiência deste serviço na literatura pode contribuir para o melhor entendimento e tratamento desta rara doença. Referências 1. Sorensen HB, Brofeldt S. Two cases of laryngocele. Ugeskr Laeger. 2008 Sep 29;170(40):3141-2. 2. Lancella A, Abbate G, Dosdegani R. Mixed laryngocele: a case report and review of the literature. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2007 Oct;27(5):255-7. 3. Zribi S, M’barek C, Hariga I, Ben Gamra O, Gassab I, Shili S, El Khedim A. The laryngopyocele. Tunis Med. 2007 Dec;85(12):1068-71. Melo et al. 4. Dursun G, Ozgursoy OB, Beton S, Batikhan H. Current diagnosis and treatment of laryngocele in adults. Otolaryngol Head Neck Surgery 2007;136:211-215. 5. Ayden O, Unstundag E, Iseri M. Laryngeal amyloidosis with laryngocele. J Laryngol Otol 1999;113(4):361-363. 6. 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Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 128-132, julho / agosto / setembro 2012 Artigo Original Uma nova realidade no câncer de laringe: Seguimento de 26 meses com linfonodo sentinela A new reality in laryngeal cancer: Follow-up of 26 months with sentinel lymph node biopsy Resumo Introdução: A conduta de um pescoço negativo em pacientes com CEC da cabeça e pescoço é controversa. Como em vários outros tumores sólidos, a biópsia do linfonodo sentinela (LNS) tem sido utilizada como um método potencial para a detecção metástase linfática em CECP. Tem sido demonstrado que o estado do linfonodo sentinela prediz o estadiamento cervical de forma correta. Objetivo: Avaliar acurácia e valor preditivo negativo da pesquisa de LNS em CEC de laringe e comparar a taxa de recorrência cervical entre pacientes submetidos à LNS e esvaziamento cervical eletivo (ECELT) e aqueles submetidos à LNS apenas. Metodologia: Estudo clínico, prospectivo Resultados: Dezesseis pacientes foram avaliados, 10 na glote e 6 na supraglote, com idade média de 61 anos. Grupo 1, com cinco pacientes, foi submetido à LNS e ECELT com um seguimento médio de 15 meses. Linfonodos sentinelas foram identificados em todos os pacientes e foram negativos para metástases, com valor preditivo negativo de 100% e acurácia de 100%. O Grupo 2, com onze pacientes, foi submetido à LNS sem ECELT com seguimento médio de 26 meses. Linfonodo sentinela foi positivo para metástases em dois pacientes (18%). Sete pacientes (64%) necessitaram de radioterapia pósoperatória (fatores histopatológicos adversos). Cinco destes sete, também receberam quimioterapia pósoperatória por margens comprometidas. Até o momento nenhum dos pacientes de ambos os grupos tiveram recorrência no pescoço. Conclusão: LNS em câncer de laringe apresenta VPN de 100%, acurácia de 100% e recidiva de 0%. Os estudos preliminares mostram uma nova perspectiva no CECP. Guilherme Machado de Carvalho 1 Carlos Takahiro Chone 2 Vanessa Gonçalves Dias 3 Hugo Fontana Kohler 4 Flávio Mignone Gripp 4 Agrício Nubiato Crespo 5 Elba Etchehebere 6 Celso Dario Ramos 7 Albina M. A. Altemani 8 Juliana Alves Souza Caixeta 9 Leandro L. Freitas 10 Abstract The management of the clinically and radiologically negative neck in patients with early squamous cell carcinoma of head and neck (HNSCC) is still controversial. As only approximately 30% of patients harbor occult disease in the neck, most of the patients have to undergo elective neck dissection with no benefit1. As in several other solid tumors, sentinel lymph node biopsy (SLB) is emerging as a potential method for staging of lymphatic metastasis in HNSCC2,3. It has been demonstrated that the status of the sentinel node predicts the presence of metastasis in the remainder of the nodes within the nodal basin4. Multiple validation studies revealed sentinel node detection rates in HNSCC above 95% and negative predictive values for negative sentinel nodes of 95% 5. Objective: Evaluate the accuracy of method in Squamous cell carcinoma of larynx and compare neck status between SNB followed by elective neck dissection (END) and SNB alone. Subjects: Patients with SCC of larynx without neck metastasis Results: Conclusion: SNB in larynx cancer shows negative predictive value of 100%, accuracy of 100% and recurrence rate of 0%. It is important to note that no randomized study of sufficient sample size and power exists in the literature, but preliminary studies shows a new perspective in head and neck cancer. Key words: Sentinel Lymph Node Biopsy; Carcinoma, Squamous Cell; Laryngeal Neoplasms; Follow-Up Studies. Palavras-chave: Biópsia de Linfonodo Sentinela; Neoplasias Laríngeas; Carcinoma de Células Escamosas; Seguimentos. 1)Médico Otorrinolaringologista, M.D., UNICAMP. 2)Doutor. Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia Cabeça e Pescoço da UNICAMP. 3)Médica Especializando em Otorrinolaringologia. Residente de Otorrinolaringologia da UNICAMP. 4)Médico Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Médico Assistente da Disciplina de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço da UNICAMP. 5)Doutor. Chefe da Disciplina de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço da UNICAMP, Livre Docente. 6)Médica Medicina Nuclear. Médica Assistente da Medicina Nuclear da UNICAMP. 7)Doutor. Docente da Medicina Nuclear da UNICAMP. 8)Doutor. Professora Doutora da Anatomia Patológica da UNICAMP. 9)Médica Otorrinolaringologista. 10) Doutor. Médico Assistente da Anatomia Patológica da UNICAMP. Instituição: Disciplina de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço UNICAMP. Campina / SP - Brasil. Correspondência: Guilherme Machado de Carvalho - Disciplina de Otorrinolaringologia – UNICAMP - Faculdade de Ciências Médicas, PO Box 6111 - Universidade de Campinas – UNICAMP – Campinas / SP - Brasil – CEP: 13083-970 - E-mail: [email protected] Recebido em 14/06/2011; aceito para publicação em 20/09/2011; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 123-137, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 133 Uma nova realidade no câncer de laringe: Seguimento de 26 meses com linfonodo sentinela. Carvalho et al. Introdução Método A conduta num pescoço clínica e radiologicamente negativo em pacientes com carcinoma epidermóide inicial da cabeça e pescoço (CECP) ainda é controversa. Entretanto a maioria dos pacientes são submetidos a esvaziamento cervical eletivo quando o risco de metástases ocultas é superior a 20%. Assim como em vários outros tumores sólidos, a biópsia do linfonodos sentinela (LNS) está emergindo como um método potencial para a detecção de metástase linfática em CECP. Tem sido demonstrado que o estado histopatológico do linfonodo sentinela prediz o estadiamento correto do pescoço negativo. Vários estudos de validação revelaram taxas de detecção do linfonodo sentinela em carcinoma epidermóide acima de 95% e o valor preditivo negativo de linfonodo sentinela de 95%. CECP tem um elevado potencial metastático, porque há uma rica rede linfática na mucosa de via aerodigestiva superior. A presença de metástase cervical é o principal fator prognóstico no CECP. Avaliação do pescoço ainda é amplamente baseada no exame físico, a palpação, no entanto, a sensibilidade da palpação é geralmente de cerca de 75% e a especificidade varia entre 73% a 97%. O ultrasom (US) pode detectar um número elevado de linfonodos não palpáveis, mas alguns estudos mostram que a sensibilidade é de cerca de 90%%, e a especificidade é tão baixa quanto 30%. Outros estudos mostram que a palpação com avaliação combinada com exames de imagem (US e CT), tem média de 30% de falsos negativos e falsos positivos. Mesmo em pacientes sem evidências clínicas de metástases linfáticas (N0), há uma alta incidência de metástases ocultas. Isso varia de 10 a 50% em função das características do tumor primário, que incluem localizações de tumor na cabeça e pescoço, o estádio T e a profundidade da invasão. Portanto, uma estratégia para identificar pacientes com metástases ocultas no pescoço clinicamente negativo permite estadiamento preciso e execução do tratamento adjuvante adequado, evitando se esvaziamentos cervicais eletivos desnecessários (ECE) em até 7080% dos pacientes e, portanto, minimiza a morbidade associada com ao tratamento. O conceito da biópsia do linfonodo sentinela (LNS) foi adotado a partir do tratamento do melanoma maligno e câncer de mama precoce. É utilizado para o carcinoma epidermóide de boca e orofaringe, com grande sucesso, durante a última década. Vários estudos de validação no âmbito de esvaziamentos eletivos revelaram taxas de detecção do linfonodo sentinela acima de 95% e o valor preditivo negativo de linfonodo sentinela de 95%. O objetivo deste estudo é avaliar os pacientes com carcinoma epidermóide de laringe, sem evidência de metástases linfáticas, submetidos à LNS com e sem esvaziamento cervical eletivo. Também foi estudado o valor preditivo negativo e acurácia do método e foi comparado a taxa de recidiva no pescoço entre pacientes submetidos à LNS com ECE e pacientes submetidos à LNS, exclusivamente. Pacientes consecutivos seguidos no período entre junho de 2006 a novembro de 2009 com carcinoma epidermóide de laringe que precisariam de ECE como parte de seu tratamento cirúrgico, sem metástases linfáticas clínica ou radiológica e sem tratamento prévio, foram incluídos no estudo. Todos os pacientes foram classificados de acordo com o estadiamento AJCC 2002. O comitê de ética médica local aprovou o protocolo do estudo. O consentimento informado foi obtido de todos os pacientes inclusos neste estudo. Todos os pacientes tiveram confirmação histopatológica do CECP. Todos os pacientes foram classificados no pescoço e sítio primário, com tomografia computadorizada antes do tratamento. Cada lado do pescoço foi considerado separadamente quando ECE foi indicado bilateralmente, devido à drenagem linfática bilateral de lesão. Os pacientes foram divididos em dois grupos: • Grupo 1: submetidos à LNS seguido por ECE • Grupo 2: submetido a apenas LNS Todos os pacientes foram submetidos à laringoscopia direta e injeção de colóide radioativo na periferia do tumor, com agulhas especiais para cirurgia microlaringoscópica no espaço paraglótico ou “butterfly” número 23 (Figuras 1 e 2). A substância radioativa (99mTc dextran) transita para o linfonodo num tempo inferior à 1 hora, e pode ser observado por até 3 a 6 horas. A dose do radiofármaco foi de 0,2 mCi. Figura 1. Agulha “butterfly número 23” acoplado a seringa de 1 ml para injeção de radiofármaco através do laringoscópio. Figura 2. Imagem laringoscópica do tumor laríngeo. 134 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 133-137, julho / agosto / setembro 2012 Uma nova realidade no câncer de laringe: Seguimento de 26 meses com linfonodo sentinela. A detecção intraoperatória do linfonodo sentinela foi realizada com gama probe portátil (Figura 3) após ressecção do tumor da laringe submetidos por via externa ou endoscópica via transoral. Em caso de abordagem externa para laringectomia parcial (Figura 4), a mesma incisão é usada para detecção e remoção dos linfonodos sentinelas (Figura 5). Caso contrário, em caso de abordagem endoscópica transoral, a incisão é feita nas regiões com maiores níveis de radiações de fundo e assim os linfonodos são removidos. A ressecção do tumor primário é sempre primeiramente realizada para facilitar a detecção dos linfonodos sentinelas, sem a alta energia de radiação no local do tumor primário, que muitas vezes ultrapassa a energia nas cadeias linfonodais e que assim dificulta a detecção do linfonodo sentinela e impossibilita sua correta identificação. Após a remoção do linfonodo sentinela, este também é verificado para a radiatividade exvivo, fora do campo cirúrgico. Os pacientes do Grupo 1 foram submetidos a ECE e à laringectomia parcial. A avaliação patológica padrão ouro consistiu em analisar três secções longitudinais do linfonodo corado por Hematoxilina Eosina (HE), a fim de encontrar depósitos metastáticos. Se HE foi negativa para metástase, foi solicitada a avaliação imunohistoquímica (IHQ) e em cortes seriado com HE. O paciente foi encaminhado à radioterapia pósoperatória na presença de margens positivas, invasão perineural, presença de embolia vascular ou linfática, presença de extensão extracapsular ou múltiplas metástases linfáticas. Quando apenas uma única metástase sem extensão extracapsular foi detectada, nenhum tratamento adjuvante foi indicado. Em caso de margens positivas ou invasão extracapsular detectada, além da radioterapia, quimioterapia concomitante pósoperatória foi realizada com cisplatina associada ou não a 5fluorouracil. O seguimento pósoperatória com exame clínico foi realizada mensalmente nos primeiros seis meses, bimensalmente até o primeiro ano e a cada três meses após o primeiro ano. A avaliação radiográfica foi realizada a cada seis meses com tomografia computadorizada. Carvalho et al. Figura 3. Gamma probe para localização intraoperatório de linfonodo sentinela. Figura 4. Produto de laringectomia parcial frontolateral realizada no paciente. Resultados Foram avaliados 16 pacientes, sendo dez na glóticos e seis na supraglóticos, com idade média de 61 anos (5080 anos). O grupo 1 teve cinco pacientes e onze pacientes têm o grupo 2. Grupo 1 Cinco pacientes foram avaliados, com um seguimento médio de 26 meses (1-51). O linfonodo sentinela foi identificado em todos os pacientes e todos os linfonodos sentinelas foram negativos para metástases no HE convencional e na IHC em cortes seriados. O ECE confirmou ausência de metástases Figura 5. Linfonodo sentinela dissecado. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 123-137, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 135 Uma nova realidade no câncer de laringe: Seguimento de 26 meses com linfonodo sentinela. Figura 6. Imagem comparando um produto de esvaziamento cervical supraomohióideo (a) com o produto de uma peça do linfonodo sentinela (b).. no espécime cirúrgico da dissecção do pescoço, com um valor preditivo negativo de 100% e acurácia de 100%. Durante o período de seguimento nenhum dos pacientes apresentou recidiva local ou regional (taxa de recidiva no pescoço de 0%). Grupo 2 Onze pacientes foram avaliados com LNS sem esvaziamento cervical eletivo, com um seguimento médio de 27 meses (1142). O linfonodo sentinela foi positivo em dois pacientes (18%). Sete pacientes (64%) necessitaram de radioterapia pósoperatória por fatores locais: margem positiva, invasão vascular, invasão perineural ou disseminação extracapsular. Destes, cinco, também, foram submetidos a quimioterapia pósoperatória com cisplatina por margens comprometidas ou extensão extracapsular no linfonodo sentinela. Na última avaliação nenhum dos pacientes de ambos os grupos tiveram recorrência no pescoço e um paciente apresentou recidiva local. Discussão A metástase para o linfonodo cervical é o fator prognóstico isolado mais importante em CECP. A rede linfática peritumoral fornece o acesso primário para as células tumorais entrarem no sistema linfático. A mobilidade celular tumoral e a rica rede de vasos linfáticos ricos são os principais fatores que determinam importante disseminação linfática tumoral. A capacidade diagnóstica do US, tomografia computadorizada e ressonância magnética é baseada principalmente em critérios de morfologia e tamanho dos linfonodos, sendo considerados nódulos menores que 10 mm não suspeitos de abrigar metástases, assim, as características radiológicas apresentam até 30% de falsonegativos e falsopositivos. Tem sido demonstrado que o estado do linfonodo sentinela prediz a presença de metástase no restante das cadeias linfonodais. O conceito de LNS para CECP atraiu grande interesse nos últimos anos pelo simples fato de que não há métodos confiáveis para detectar metástases ocultas em pacientes com pescoço clinica- Carvalho et al. mente N0. A revisão da literatura mostra as taxas de detecção LS acima de 95% e o valor preditivo negativo de linfonodo sentinela de 95%. Há um ponto crítico quando o linfonodo é totalmente ocupado por células carcinomatosas em que o marcador não pode fluir para a cadeia linfonodal e, portanto, que não apresentam acúmulo de radiofármaco. Outra consideração é sobre “metástases saltatótias” relatada em até 16% dos pacientes com carcinoma epidermóide de língua. A técnica da LNS foi descrita inicialmente com injeção de corante azul patente em torno do tumor. Como a técnica necessita de visualização, é necessário expor toda a cadeia linfonodal, aumentando assim a invasão do procedimento. Além disso, a tintura azul patente tem menor confiabilidade do que a localização com radiofármaco utilizando o gama probe para a localização do linfonodo sentinela. Diferentes materiais radioativos têm sido desenvolvidos para linfocintilografia, e atualmente, 99mTc é o material mais utilizado para linfocintilografia com detecção intraoperatória do linfonodo sentinela. As vantagens principais de colóides 99mTc são: emissão de raios gama e pequena exposição de radiação para os pacientes e médicos com meia vida de seis horas e alto pico de energia. A dose de radiofármaco utilizado também varia entre 0,50,8 mCi. Estes tumores são tradicionalmente consideradas de difícil acesso para a injeção dos marcadores, mas um cirurgião experiente pode facilmente fazer o procedimento. A avaliação patológica padrão ouro consiste em examinar três cortes longitudinais por HE, a fim de encontrar depósitos metastáticos. Estudos têm demonstrado que a avaliação rotineira falha na detecção de metástases linfonodais em até 21%. Sugere-se que cortes seriados com HE e IHC, e outros métodos moleculares podem ajudar a identificar células metastáticas nos linfonodos não identificadas tradicionalmente. Nossos resultados observados são semelhantes sobre a recorrência no pescoço em ambos os grupos e, apesar das dificuldades de acesso ao tumor na laringe, o procedimento dispensa a linfocintilografia préoperatória, uma vez que a injeção do radiofármaco de 99mTc dextran é realizada no intraoperatório, pois tem uma maior taxa de fluxo através dos vasos linfáticos devido ao menor tamanho das partículas e permite avaliação intraoperatória após a realização de laringectomia parcial através de uma abordagem externa ou endoscópica. Com a seringas pequenas de 1 mL e agulhas microlaringoscópicas de 1 ml é fácil injetar radiofármaco em torno do tumor na laringe, tanto na área da glote ou supraglote . O número de pacientes do nosso estudo não é grande e isso pode ser um viés, inclusive o acompanhamento poderia ser maior, mas até agora nenhum paciente teve recidiva cervical. A técnica da BLS pode ser promissor no estadiamento do pescoço para carcinoma epidermóide de laringe com alta precisão para a seleção do tratamento adjuvante. 136 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 133-137, julho / agosto / setembro 2012 Uma nova realidade no câncer de laringe: Seguimento de 26 meses com linfonodo sentinela. Conclusão Este estudo dá apoio para continuar a avaliação de pacientes comprometidos por câncer de laringe com LNS sem esvaziamento cervical eletivo. O objetivo da LNS é diminuir a morbidade do tratamento cirúrgico do câncer de laringe com adequado estadiamento patológico do pescoço. Uma melhoria da qualidade de vida dos pacientes submetidos à LNS precisa ser demonstrada. Estudos prospectivos randomizados são necessários para padronizar o método e assim evitar algumas controvérsias em torno da técnica. A última questão a ser respondida é se este técnica pode melhorar a sobrevida e reduzir a mortalidade a longo prazo. REFERENCIAS 1. Stoeckli SJ, Steinert H, Pfaltz M, Schmid S. Sentinel lymph node evaluation in squamous cell carcinoma of the head and neck. Otolaryngol Head Neck Surg 2001; 125:221–226 2. Luk SC, Nopajaroonsri C, Simon GT. The architecture of the normal lymph node and hemolymph node. A scanning and transmission electron microscopic study. Lab Invest 1973; 29:258–265. 3. Shah JP, Candela FC, Poddar AK. The patterns of cervical lymph node metastases from squamous carcinoma of the oral cavity. Cancer 1990; 66:109–113. 4. 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A literatura mostra que o procedimento tem altas taxas de sensibilidade e valor preditivo negativo. Assim, pretende se evitar o tratamento desnecessário no pescoço clinicamente negativo, identificando os pacientes com doença oculta. Objetivo: Avaliar a LNS em pacientes com carcinoma espinocelular (CEC) da cavidade oral com o pescoço negativos candidatos a esvaziamento cervical eletivo (ECEL). Resultados: Foram estudados 28 pacientes, 87% do sexo masculino, idade média de 58 anos e média de seguimento de 31 meses. Houve 22,5% de T1, 62% de T2, 15,5% de T3 e o,o3% T4. Nove paciente tiveram positividade na LNS, e 50% foram submetidos a radioterapia adjuvante. Nos pacientes com LNS negativos (19 pacientes), houve um paciente com recidiva local e nenhuma recidiva cervical (0%). Até o presente momento quatro pacientes foram a óbito, dois do grupo de pacientes com LNS (+) dos quais um morreu de recidiva local, outro secundário a tratamento adjuvante (RTX e QTX) com pneumonia. No grupo LNS negativos houve dois óbitos de causa clínica, nenhum deles relacionado ao câncer, onde apenas um apresentava recidiva local e teve complicações da quimioterapia. Conclusão: A LNS parece ser segura e eficaz para o CEC de cabeça e pescoço, com taxas semelhantes de recidiva no pescoço, se comparado com o procedimento padrão (END) até agora. Guilherme Machado de Carvalho 1 Carlos Takahiro Chone 2 Vanessa Gonçalves Dias 3 Hugo Fontana Kohler 4 Flávio Mignone Gripp 4 Agrício Nubiato Crespo 5 Juliana Alves Souza Caixeta 6 Elba Etchehebere 7 Celso Dario Ramos 8 Albina M. A. Altemani 9 Leandro L. Freitas 10 Abstract Introduction: Sentinel lymph node biopsy (SLNB) in head and neck is a procedure recently gained prominence in the early stage tumors. The literature shows that the procedure has high sensitivity and negative predictive value. Thus, it is intended to prevent unnecessary treatment in the clinically negative neck by identifying patients with occult disease. To evaluate the SLNB in patients with squamous cell carcinoma (SCC) of the oral cavity with the candidates neck negative neck dissection (END). Results: We studied 28 patients, 87% male, mean age 58 years and mean and follow up of 31 months. There were 22.5% of T1, T2 62%, T3 15.5% , T4 0.03%. Nine patients had positive in LNS, and 50% underwent adjuvant radiotherapy. In patients with negative SLNB (19), there was one patient with local recurrence and no neck recurrence. So far four patients died, two of the group of patients with SLNB (+) of whom one died of local recurrence, a secondary adjuvant treatment (RTX and QTX) with pneumonia. In SLN negative group there were two deaths for clinical, none of them related to cancer, where only one had local recurrence and had complications from chemotherapy. Conclusion: SLNB appears to be safe and effective for head and neck SCC, with similar rates of neck recurrence, compared with the standard procedure (END) so far. Key words: Sentinel Lymph Node Biopsy; Follow-Up Studies; Mouth Neoplasms; Carcinoma, Squamous Cell; Recurrence. Descritories: Neoplasias Bucais; Carcinoma de Células Escamosas; Biópsia de Linfonodo Sentinela; Seguimentos; Recidiva. 1)Médico Otorrinolaringologista, M. D., UNICAMP. 2)Doutor. Chefe do serviço de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço da UNICAMP, Docente. 3)Médica Especializanda em Otorrinolaringologia. Residente de Otorrinolaringologia da UNICAMP. 4)Médico Cirurgião de Cabeça e Pescoço (Médico Assistente de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço da UNICAMP. 5)Doutor. Chefe da Disciplina de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço da UNICAMP, Livre Docente. 6)Médica Otorrinolaringologista. 7)Médica Medicina Nuclear. Médica Assistente da Medicina Nuclear da UNICAMP. 8)Doutor. Docente da Medicina Nuclear da UNICAMP. 9) Doutor. Docente da Anatomia Patológica da UNICAMP. 10) Doutor. Médico assistente da Anatomia patológica da UNICAMP. Instituição: Disciplina de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço UNICAMP. Campinas / SP - Brasil. Correspondência: Guilherme Machado de Carvalho - Disciplina de Otorrinolaringologia – UNICAMP - Faculdade de Ciências Médicas, PO Box 6111 - Universidade de Campinas – UNICAMP – Campinas / SP - Brasil – CEP: 13083-970 - E-mail: [email protected] Recebido em 14/06/2011; aceito para publicação em 21/09/2011; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 138 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 138-143, julho / agosto / setembro 2012 Seguimento de 30 meses e recorrência no câncer de cavidade oral com linfonodo sentinela. INTRODUÇÃO O carcinoma espinocelular (CEC) da cabeça e pescoço dissemina-se preferencialmente por via linfática para os linfonodos cervicais1 e a controvérsia permanece sobre as melhores técnicas para determinar quais pacientes realmente têm metástases linfáticas cervicais. Exame clínico e técnicas radiológicas são relativamente inexatos, com aproximadamente 30% de falsos negativos e falsos positivos na determinação da presença de metástases linfáticas cervicais2-10. O único método preciso para o estadiamento do pescoço ainda é o exame histopatológico do espécime cirúrgico após um esvaziamento cervical11. No câncer da via aerodigestiva superior, o tratamento cirúrgico para o pescoço do paciente é determinado de acordo com o seu risco de metástases ocultas. Nos pacientes cujos tumores apresentem possibilidade de metastatização linfática maior que 20% é necessário esvaziamento cervical, mesmo não havendo metástase linfática palpável, devido aos benefícios na sobrevida do paciente em 11% a 14%. Essa probabilidade varia de acordo com o estágio clínico do tumor. Porém, se o risco de metástase linfática de pelo menos 20% justifica o esvaziamento cervical em todos pacientes com este risco, muitas das peças cirúrgicas, até 80%, serão histopatologicamente negativas. No campo do melanoma maligno cutâneo, um debate semelhante foi centralizado na investigação e tratamento de linfonodos regionais e, nesse respeito, a técnica de pesquisa e biópsia de linfonodo sentinela (LS) está consagrada12. Nessa técnica, um radiocolóide é injetado ao redor de um tumor ou no local de excisão prévia. Esse radiofármaco é drenado para a primeira cadeia de linfonodos, essa denominada LS. O uso de linfocintilografia pré-operatória e “gamma probe” (GP) intra-operatório ajudam na localização dos LS radioativos que podem conter depósitos microscópicos de tumor13. Com a utilização dessa técnica em pacientes com melanoma maligno, encontrou-se que é altamente improvável que os pacientes sem doença linfonodal palpável e com LS livre de doença metastática tenham doença metastática em outros grupos de linfonodos14. Pacientes com CEC de cavidade oral (CO) em estágios iniciais, quando apresentam infiltração maior que dois milímetros, já podem apresentar risco considerável para metástase linfática cervical, com indicação de esvaziamento cervical15-17. A realização desta cirurgia cervical, além da ressecção do tumor primário, acarreta em aumento do tempo cirúrgico e maior morbidade cirúrgica ao paciente, com aumento do tempo de hospitalização e exposição a riscos cirúrgicos como sangramento intra-operatório e necessidade de transfusão sanguínea, lesões de nervos cervicais como acessório, vago, hipoglosso e lesões vasculares, como da veia jugular interna e artérias carótidas, além dos riscos anestésicos do procedimento. O esvaziamento cervical pode adicionar os riscos descritos anteriormente aos próprios da ressecção do tumor primário no paciente e pode ser desnecessário em muitas ocasiões, quando sua indica- Carvalho et al. ção cirúrgica está baseada em critérios clínicos do tumor primário, como é realizada atualmente. A ausência de uma metodologia pela qual se possa determinar qual paciente realmente apresenta metástase linfática ainda não nos permite deixar de realizar o esvaziamento cervical quando há alto risco de metástase linfática. Estudos prévios mostraram que a taxa de falso negativo para a pesquisa e biópsia de linfonodo sentinela para CEC de cabeça e pescoço, ou seja, presença de metástase linfática em outros linfonodos não sentinelas, em casos com LS sem metástase, variou de 0% a 21%18-37, com uma média de 3%. Estudo prévio prospectivo realizado na Disciplina de Otorrinolaringologia e Cabeça e Pescoço, em conjunto com a Disciplina de Medicina Nuclear e com o Departamento de Anatomia Patológica da UNICAMP, mostrou excelentes resultados, com taxa de falso negativo da pesquisa e biópsia de LS de 5,0%. A acurácia para detecção de linfonodos positivos e negativos comparada ao exame histopatológico, nesse estudo, foi de 96%. A sensibilidade e especificidade da técnica para detecção de linfonodos com metástases ocultas foi de 82% (9/11) e 100% (39/39), respectivamente. Baseado em estudos prévios18-37, com taxas de falsos negativos menores que 20% (valor definido como risco máximo aceitável para não realizar esvaziamento cervical), poder-se-ia realizar a ressecção do tumor primário, especialmente nos tumores iniciais de boca, com remoção dos LS para estadiamento, e proceder ao esvaziamento cervical apenas quando estes LS forem histopatologicamente comprometidos por CEC. Dessa forma, pode-se poupar da realização de ELET os pescoços com LS negativos ao exame, com diminuição considerável da morbidade cirúrgica e dos custos, com economia de quase $1.220,00 dólares por paciente38. Baseado em dados prévios realizados em estudo da UNICAMP, com uma taxa de falso negativo de 5,0% (significa que quando o LS é negativo histopatologicamente, há ainda risco de 5,0% de metástases cervicais ocultas) acredita-se que este risco seja aceitável para apenas acompanhar este pescoço e não submetê-lo a esvaziamento cervical, já que se indicase esta cirurgia quando o risco de metástases ocultas é maior que 20%. Um ponto interessante, porém, tem-se levantado na literatura e também observado no estudo da UNICAMP. Aparentemente o método da pesquisa de LS detecta praticamente todos os linfonodos metastáticos33,34 e, dessa forma, a realização apenas da pesquisa e remoção dos LS, mesmo quando são positivos, parece ser segura. Esta metodologia seria adequada para não necessitar reoperar o paciente com esvaziamento cervical, caso o LS seja positivo histopatologicamente para metástase. Os estudos comparativos, nos quais também foi realizado esvaziamento cervical eletivo subseqüente à pesquisa de LS, apontam que apenas 3% a 5% dos linfonodos metastáticos poderiam ser deixados no paciente quando realizado apenas a técnica do LS33,34,39 e esses provavelmente recorreriam. Baseado no conceito de se operar um pescoço clinicamente negativo apenas quando o risco de metástases ocultas for maior que Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 138-143, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 139 Seguimento de 30 meses e recorrência no câncer de cavidade oral com linfonodo sentinela. 20%, talvez a técnica em questão, com remoção apenas dos LS, mesmo que esses sejam histopatologicamente positivos se justifique, já que, após o procedimento, esse risco é de apenas 3% a 5%33,34,39, taxa essa menor que a observada na recorrência após esvaziamento cervical supraomohióideo, de até 10%40-41. Mesmo porque, após esvaziamento cervical radical em pescoços clinicamente e histopatologicamente negativos, observa-se taxa de recorrência cervical de 6,7% numa grande série de pacientes42. Caso o LS apresente extensão extra-capsular, a utilização de radioterapia pós-operatória seria suficiente para tratar este pescoço, quando comparada a esvaziamento cervical e radioterapia pós-operatória associada43. O objetivo deste estudo é avaliar a taxa de recorrência cervical após biópsia de LS, sem esvaziamento cervical adicional, em pacientes com carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, de cavidade oral com pescoços clinicamente negativos e com indicação de esvaziamento cervical eletivo. Carvalho et al. Figura 1. Tumor em borda lateral de língua a esquerda. Circunferência elíptica demarcando área tumoral. Setas indicando injeções de radiofármaco Tc. OBJETIVO Avaliar pacientes com CECP, com localização específica na cavidade oral, com pescoço clinicamente negativos que são candidatos a esvaziamento cervical eletivo tratados com LNS sem esvaziamento cervical eletivo. METODOLOgIA Estudo clínico, prospectivo, não randomizado. Pacientes com CEC de cavidade oral (CO), que necessitariam de esvaziamento cervical como parte do tratamento cirúrgico, sem metástase linfática palpável e sem tratamento prévio no pescoço, foram convidados a entrar no estudo. A partir de maio de 2007 até março de 2010, 28 pacientes foram incluídos no estudo. O termo de consentimento informado foi obtido de todos os pacientes deste estudo e a pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética da FCM-Unicamp. Todos tiveram confirmação histopatológica de CEC. Foram incluídos pacientes com estádio clínico T1 a T3 de CO. Todos pacientes foram submetidos a exames tomográficos prévios do pescoço para ser considerado elegível para o estudo como pescoço negativo. Todos foram submetidos a duas injeções peri-tumorais de 0,2 MCI de fitato99m-TC, duas horas antes da cirurgia e linfocintilografia duas horas após a injeção. Uma atividade de 25.6 MBq foi injetada ao longo da mucosa normal que cerca o tumor e da submucosa, no aspecto profundo do tumor, em um volume de aproximadamente 0.2 ml (Figura 1). Tomou-se o cuidado de prevenir extravasamento inadvertido de colóide na boca. Foram realizadas imagens estáticas em projeções laterais e ântero-posteriores e SPECT (Figura 2) e os linfonodos radioativos foram marcados na pele com tinta (Figura 3). A seguir, o tumor primário foi ressecado. Com utilização de GP manual Neoprobe-1500® (Neoprobe Corp, Dublin, OH) (Figura 4) foi localizado e dissecado o LS. A Figura 5 compara a Figura 2. Projeção de linfocintilografia e SPECT com seta mostrando linfonodo sentinela para eventual auxílio no intraoperatório. Figura 3. Linfonodo sentinela demarcado em pele. 140 �������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 138-143, julho / agosto / setembro 2012 Seguimento de 30 meses e recorrência no câncer de cavidade oral com linfonodo sentinela. Carvalho et al. resultados Figura 4. Gamma probe para localização intraoperatório de linfonodo sentinela. Figura 5. Imagem comparando um produto de esvaziamento cervical supraomohióideo (a) com o produto de uma peça do linfonodo sentinela (b).. Este grupo é composto por 28 pacientes, sendo composto por 87% de homens, idade média de 58,25 anos (3879 anos), com média de seguimento de 31 meses (765 meses). Como T1 foram classificados 22,5% dos casos, 62% foram classificados como estádio T2, aproximadamente 15,5% como estádio T3, e 0,03% como estádio T4. O linfonodo sentinela foi positivo em 9 pacientes (32%), e 44% destes foram submetidos a radioterapia adjuvante para o controle da doença (perineural, invasão tumoral vascular e marginal), dos quais um apresentou recidiva cervical (7%) sem recidiva local. Destes pacientes com LNS positivo, dois apresentaram recidiva local, sem recidiva cervical. Nos pacientes com LNS negativos (19 pacientes), houve um paciente com recidiva local e nenhuma recidiva cervical (0%). Até o presente momento quatro pacientes foram a óbito, dois do grupo de pacientes com LNS (+) dos quais um morreu de recidiva local, outro secundário a tratamento adjuvan- te (RTX e QTX) com pneumonia. No grupo LNS negativos houve dois óbitos de causa clínica, nenhum deles relacionado ao câncer, onde apenas um apresentava recidiva local e teve complicações da quimioterapia. Discussão imagem de um esvaziamento cervical com uma biópsia de linfonodo sentinela. Após, o restante do pescoço foi reavaliado quanto à presença de radioatividade e confirmada radioatividade no linfonodo dissecado. O LNS foi encaminhado para exame histopatológico (HISTO) com hematoxilina-eosina com cortes seriados do LS e foi realizado exame de imunohistoquímica nos LNS que não apresentaram CEC ao exame HISTO com hematoxilina-eosina. A seguir, os pacientes foram acompanhados ambulatorialmente, com exame clínico mensal e realização de tomografia computadorizada cervical semestral. Pacientes com linfonodo sentinela com extensão extra-capsular ou múltiplos positivos ou cujo tumor primário apresentasse fatores adversos (margens comprometidas, invasão peri-neural, êmbolos vasculares ou linfáticos) foram submetidos à radioterapia pós-operatória entre quatro a oito semanas de cirurgia. Se apenas o tumor primário apresentou fatores adversos, a radioterapia pós-operatória foi realizada apenas no leito do tumor primário. Se apenas o linfonodo sentinela apresentou extensão extra-capsular ou houve múltiplos linfonodos sentinelas positivos, a radioterapia pós-operatória foi apenas no pescoço. Se o tumor primário apresentou fator adverso e o linfonodo sentinela apresentou extensão extra-capsular ou múltiplos linfonodos sentinelas positivos, a radioterapia pós-operatória foi no primário e no pescoço. A técnica de biópsia de LS em pacientes com CEC de cabeça e pescoço foi inicialmente utilizada para CEC de supraglote13. Ao usar uma combinação de linfocintilografia pré-operatória com identificação intra-operatória de linfonodos radioativos com o GP, os resultados deste estudo sugerem que o método proposto de biópsia de LS no pescoço clinicamente negativo é promissor na identificação de metástases ocultas. As taxas de recorrência cervical global de 4% e em estádio IV de 25% estão dentro do esperado quando comparadas às taxas de recorrência em pacientes submetidos ao tratamento convencional, no caso o esvaziamento cervical eletivo. Byers e Medina encontraram uma taxa de recorrência cervical global de 9% e em estádio IV de 18%, em 234 pacientes com tumores de cavidade oral e orofaringe, com pescoço clinicamente negativo, submetidos ao esvaziamento supra-omo-hióideo eletivo45. As taxas de recorrência cervical do presente estudo devem-se à recorrência observada em um paciente que apresentou cinco linfonodos sentinela comprometidos por neoplasia. Esse paciente foi encaminhado para realizar radioterapia adjuvante mas iniciou o procedimento quatro meses após a cirurgia. Diversos estudos verificaram que um atraso no início da radioterapia pós-operatória está relacionado a um aumento na taxa de recidiva tumoral e, quando indicada, a radioterapia deve ser iniciada dentro de seis semanas após a cirurgia46-49. De acordo com um estudo onde foi realizado metaanálise sobre LS em cabeça e pescoço, sua utilização seria segura como método de estadiamento44. Devido Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 138-143, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 141 Seguimento de 30 meses e recorrência no câncer de cavidade oral com linfonodo sentinela. à pequena taxa de falso negativo poder-se-ia realizar a ressecção do tumor primário, especialmente nos tumores iniciais de boca, com remoção dos LS para estadiamento e proceder ao ELET apenas quando estes LS forem histopatologicamente comprometidos por CEC. Dessa forma, pode-se poupar da realização de ELET os pacientes com LS negativos ao exame, com diminuição considerável da morbidade cirúrgica e dos custos. Estudos mais recentes apontam que o método da pesquisa e biópsia de linfonodo sentinela detecta praticamente todos os linfonodos metastáticos, quando todos os linfonodos captantes são removidos e, dessa forma, a realização apenas da pesquisa e remoção dos linfonodos sentinelas, mesmo quando eles são positivos, parece ser segura33,34. Esta metodologia seria adequada para não necessitar reoperar o paciente com esvaziamento cervical caso o linfonodo sentinela seja positivo histopatologicamente para metástase. Assim, baseado no conceito de se operar um pescoço clinicamente negativo apenas quando o risco de metástases ocultas for maior que 20%, talvez a remoção apenas dos linfonodos sentinelas, mesmo que eles sejam histopatologicamente positivos, se justifique, já que até agora, após o procedimento, o risco de recorrência cervical seria de apenas 3% a 5%33,34,39, taxa essa menor que a observada na recorrência pós esvaziamento cervical supraomohióideo e radical40,41,42. Foi observado neste estudo, apesar do seguimento pequeno, que a técnica de remoção apenas do LS parece ser segura. Os pacientes serão seguidos rigorosamente dentro de protocolo padronizado descrito anteriormente e dados serão reavaliados de forma prospectiva. Em estudo anterior com 35 pacientes em nossa instituição, foi observado que houve nove pacientes com LS histopatologicamente positivos, e nesses pacientes, todas as metástases foram removidas com a técnica do LS, após a remoção de todos LS captantes e os esvaziamentos cervicais eletivos subseqüentes, realizados após a remoção do LS, também foram todos sem metástases, semelhantemente a estudos anteriores33,34. Este estudo propõe uma nova abordagem no tratamento do pescoço clinicamente negativo, em pacientes portadores de câncer de cabeça e pescoço. A biópsia do LS não acrescenta riscos ou prejuízos para os sujeitos da pesquisa quando comparadados aos riscos que estariam expostos se fossem submetidos ao tratamento convencional, no caso o esvaziamento cervical. Além disso, é um estudo de grande impacto social, devido a alta prevalência do câncer de cabeça e pescoço na população. Somente o CEC de cavidade oral, o mais prevalente em cabeça e pescoço, ocupa o quinto lugar entre as neoplasias mais prevalentes na população masculina brasileira. conclusão LNS em câncer de cabeça e pescoço apresenta alto valor preditivo negativo, alta precisão e baixa taxa de re- Carvalho et al. cidiva, mesmo aplicado sem esvaziamento cervical eletivo. É importante notar que nenhum estudo randomizado de tamanho amostral suficiente existe na literatura, mas os estudos preliminares mostram uma nova perspectiva no câncer de cabeça e pescoço. Referências Bibliográficas 1. Shah JP, Andersen PE. The impact of patterns of nodal metastasis on modifications of neck dissection. Ann Surg OncoI1994;1:521-532. 2. Byers RM. Modified neck dissection: a study of 967 cases from 1970 to 1980. Am J Surg 1985, 150:414-21. 3. Shah JP. Patterns of cervical lymph node metastasis from squamous cell carcinoma of the upper aerodigestive tract. Am J Surg 1990, 160:405-9. 4. O’brien CJ. 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Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 138-143, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 143 Relato de Caso Angina de Ludwig complicada com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse Ludwig’s angina complicated with systemic inflammatory response syndrome and sepsis Resumo Introdução: Angina de Ludwig é uma infecção de rápida progressão envolvendo o assoalho da boca, os espaços submandibulares, sublinguais e submentonianos, com potencial de obstrução das vias aéreas. Objetivo: Descrever um caso de angina de Ludwig complicada com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse e fazer uma revisão bibliográfica sobre o assunto. Relato do caso: Apresenta-se um caso de um paciente de 49 anos, gênero masculino, com quadro de infecção orofaríngea que rapidamente progrediu com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse. Foi realizada ampla drenagem cirúrgica e pós operatório na unidade de tratamento intensivo, com boa resposta ao tratamento. Considerações finais: Trata-se de uma apresentação incomum, com comprometimento sistêmico progressivo. Nessa situação é fundamental uma rápida decisão de drenagem cirúrgica com remoção do foco primário, além de um suporte clínico intensivo e antibioticoterapia. Andre Figueiredo Accetta 1 Meg de Carvalho Soares 2 Tariza Gallicchio Moreira 3 Italo Accetta 4 Abstract Introduction: Ludwig’s angina is caused by rapidly expanding cellulitis involving the floor of mouth, submandibular, submental and sublingual spaces, with potential for airway obstruction. Objective: Describe a case of Ludwig´s angina complicated with systemic inflammatory response syndrome and sepsis. Case report: Patient 49 years old, male, with a oropharyngeal infection that rapidly progressed to systemic inflammatory response syndrome and sepsis, which required surgical and intensive care treatment. Conclusion: That´s an unsual presentation, with progressive systemic involvement. This situation needs a surgical drainage, antibiotics and intensive care support. Keywords: Ludwig’s Angina; Systemic Inflammatory Response Syndrome; Sepsis; Periodontal Abscess. Palavras-chave: Angina de Ludwig; Infecção Focal Dentária; Abscesso Periodontal; Sepse. INTRODUÇÃO RELATO DO CASO Angina de Ludwig é uma infecção de rápida progressão envolvendo o assoalho da boca, os espaços submandibulares, sublinguais e submentonianos, com potencial de obstrução das vias aéreas. Sua origem mais comum é a dentária, e condições como imunodepressão predispõe a evolução do processo, podendo ocorrer comprometimento sistêmico. O principal objetivo desse trabalho é relatar um caso de angina de Ludwig complicada com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse, e fazer uma revisão sobre o assunto. Todas as informações apresentadas neste relato foram obtidas após consentimento informado e assinado do paciente, seguindo as orientações do Código de Ética Médica do Conselho Federal de Medicina do Brasil e observando os princípios éticos para pesquisa médica envolvendo indivíduos humanos. A.R.M., 49 anos, pardo, deu entrada no serviço de emergência com quadro de infecção oro facial, associado à disfagia. Realizado internação e início de antibioticoterapia com Penicilina G e Metronidazol. No dia seguinte, evoluiu com piora clínica, taquicardia, taquip- 1)Mestrado. Professor de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense. 2)Especialização. Médica Intensivista do Hospital Universitário Antonio Pedro, da Universidade Federal Fluminense. 3)Mestrado. Cirurgiã Bucomaxilofacial da Força Aérea Brasileira. 4)Doutorado. Professor Titular de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense e Professor Assistente da Universidade Gama Filho. Instituição: Hospital Universitário Antonio Pedro, Universidade Federal Fluminense. Niterói / RJ – Brasil. Correspondência: André F. Accetta - Rua Mariz e Barros nº 51 Apto. 302 - Icaraí - Niterói / RJ – Brasil – CEP: 24220-120 - Telefone: (+55 21) 2629-9000 - E-mail: [email protected] Recebido em 16/09/2011; aceito para publicação em 04/12/2011; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 144 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 144-146, julho / agosto / setembro 2012 Angina de Ludwig complicada com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse. neia e hipotensão. Externamente, apresentava edema de face com expansão para região cérvico torácica, com pouca movimentação lateral do pescoço. O exame intraoral foi realizado com dificuldade técnica, pela pouca abertura da boca. Entretanto, conseguia-se visualizar saída de secreção purulenta entre os pré molares. Os dentes estavam em mau estado de conservação, e não havia história de manipulação dentária prévia ao quadro infeccioso. Realizado tomografia computadorizada de face, pescoço e tórax, que evidenciou abscesso faríngeo e cervical esquerdo, de provável origem dentária, com desvio contralateral da traqueia. Não havia sinais de mediastinite (Figura 1). Com diagnóstico de Angina de Ludwig complicada foi levado com urgência para o centro cirúrgico onde foi realizado drenagem do abscesso via oral e cervical, desbridamento e extração dentária. Encaminhado ao CTI em pós operatório imediato, onde chegou com intubação oro traqueal, ainda sob efeito anestésico. Ao exame inicial encontrava-se desidratado, febril, hipotenso e taquicárdico. Instalado cateter venoso profundo para hidratação venosa generosa, cateter de pressão arterial média e a sedação foi mantida. Acrescentamos Gentamicina ao esquema antibiótico. Os exames laboratoriais de admissão mostravam discreta anemia, leucocitose com desvio até mielócitos, discrasia sanguínea, insuficiência renal aguda, proteína C reativa elevada e anti-HIV negativo. No CTI manteve-se a instabilidade hemodinâmica, necessitando de amina e corticoterapia. Diariamente recebia cuidados locais na cavidade oral, o que fez com que a sedação fosse mantida por um tempo mais prolongado. Após sete dias, realizou nova tomografia que ainda mostrou coleção cervical e desvio da traqueia. Retornou ao centro cirúrgico para nova abordagem sob anestesia. Nesse pós operatório, evoluiu com pneumonia associada à ventilação mecânica, quando foi trocado o esquema antibiótico para carbapenêmico. A hemocultura da internação revelou crescimento de Streptococcus alfa hemolítico e a cultura da secreção finalizou como microbiota normal da orofaringe. Após 14 dias de terapia intensiva, o antibiótico e a sedação foram suspensos e o paciente extubado. Iniciou tratamento fonoaudiólogo, o que possibilitou uma alimentação oral precoce. No 17º dia de pós operatório, recebeu alta do CTI para a enfermaria, onde ainda permaneceu por mais dois dias, sendo encaminhado para acompanhamento ambulatorial. DISCUSSÃO Descrita inicialmente em 1836 por Wilhelm Friedrich von Ludwig1,2,3,4, a angina de Ludwig consiste em uma infecção de rápida progressão envolvendo o assoalho da boca, os espaços submandibulares, sublinguais e submentonianos, e frequentemente compromete as vias aéreas4,5,6,7,8. Accetta et al. Figura 1. Sequência tomográfica mostrando abscesso faríngeo e cervical esquerdo, com desvio contralateral da traqueia. Séries antigas mostravam que essa infecção era frequentemente fatal, com mortalidade excedendo a 50%2,7. Atualmente, devido ao surgimento de antibióticos efetivos e melhora dos hábitos de higiene bucal, sua mortalidade é aproximadamente 10%2,7,8. Sua incidência é 2 vezes maior em homens do que em mulheres7. Sua origem mais comum é a dentária12, principalmente os 2º e 3º molares7. Entretanto, outras causas também são descritas como, por exemplo, piercing lingual, contatos com animais1, fratura de mandíbula, laceração oral6, trauma de intubação e broncoscopia8. Em crianças, a amigdalite é uma causa possível2. Pelaz7, ainda descreve angina de Ludwig como complicação de cirurgias laringológicas. Diabetes mellitus, SIDA, desnutrição, alcoolismo, neutropenia e transplantes de órgãos são fatores de risco para a evolução do processo7,8. Entretanto, pessoas sem comprometimento do sistema imunológico também podem desenvolver a infecção5. No paciente descrito, não havia nenhuma dessas condições. A sintomas comuns são febre, dor, aumento do volume cervical, linfadenopatia disfagia, odinofagia5. Também podem ocorrer trismo3 e dificuldade para laterizar o pescoço, que são critérios de gravidade6. O comprometimento das vias aéreas é possível e exige rápida intervenção pela equipe médica2,3. O diagnóstico da angina de Ludwig é essencialmente clínico6,7, e o subdiagnóstico com simples celulite pode ser fatal3. A tomografia computadorizada de face e pescoço é um excelente exame para determinar a extensão da infecção, auxiliando num possível tratamento cirúrgico. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 144-146, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 145 Angina de Ludwig complicada com síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse. De acordo com a Conferência de Consenso do American College of Chest Phisician e Society of Critical Care Medicine, SIRS consiste na resposta inflamatória sistêmica a uma variedade de insultos clínicos graves, infecciosos ou não, manifestada por duas ou mais das seguintes condições: 1 - Temperatura > 38° C ou < 36° C; 2 - Frequência cardíaca > 90 batimentos/min; 3 - Frequência respiratória > 20 movimentos/min; 4 - Leucócitos > 12.000 células/mm3, ou < 4.000 células/mm3 ou > 10% de formas jovens9,10. SIRS associada à infecção documentada caracteriza sepse. Na presença de disfunção orgânica (hipoperfusão ou hipotensão arterial), sepse grave. Choque séptico consiste em sepse grave com hipotensão arterial associada à hipoperfusão, a despeito de reposição volêmica adequada. Síndrome de disfunção de múltiplos órgãos compreende a disfunção orgânica na qual a homeostase não se mantém sem intervenção9,10. Nosso paciente estava caracterizado como SIRS associado a choque séptico, quadro incomum na angina de Ludwig. CONCLUSÃO A angina de Ludwig é uma infecção grave envolvendo a região orofacial. Diante da revisão realizada podese dizer que tem potencial de letalidade, pela possibilidade de obstrução das vias aéreas. Seu tratamento requer drenagens cirúrgicas amplas, remoção do foco primário Accetta et al. e antibioticoterapia. Quando houver comprometimento sistêmico com instabilidade hemodinâmica ou necessidade de via aérea definitiva, o suporte clínico intensivo torna-se necessário para coadjuvar com o tratamento cirúrgico. REFERÊNCIAS 1- Brommelstroet M, Rosa JFT, Boscardim PCB, Schmidln CA, Shibata S. Mediastinite descendente necrosante pós angina de Ludwig. J Pneumol 2001; 27(5): 269-71. 2- Kurien M, Mathew J, Job A, Zachariah N. Ludwig’s angina. Clin Otolaryngol, 1997; 22: 263-5. 3- Greenberg SLL, Huang J, Chang RSK, Ananda SN. Surgical Management of Ludwig’s Angina. ANZ J Surg. 2007; 77:540-3. 4- Boscolo-Rizzo P, Mosto MC. Submandibular space infection: a potentially lethal infection. Internat J Infec Dis. 2009; 13:327-33. 5- Segundo AVL, Pinheiro RTA, Inaoka SD, Rocha Neto A, Lago CAP. Angina de Ludiwig decorrente de exodontias de molares inferiores: Relato de caso clínico. Rev Cir Traumatol. Buco-Maxilo-Fac. 2006; 6(4):23-8. 6- Srirompotong S, Art-smart T. Ludwig’s angina: a clinical review. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2003; 260:401-3. 7- Pelaz AC, Pendás JLL, Suárez Nieto C. Ludwig’s angina as an extremely unsual complication for direct microlaryngoscopy. Am J Otolaryngol. 2009; 31(2):117-9. 8- Busch RF, Shah D. Ludwig’s angina: Improved treatment. Otolaryngol Head Neck Surg.1997; 117:172-5. 9- Barbosa AP, Pinheiro C, Rigato O, Lobo S, Friedman G. Critérios para monitorização e diagnostico da resposta inflamatória. RBTI, 2004; 16 (2):105-8. 10- Salles, MJC, Sprovieri R, Bedrikow AC, Pereira SL, Cardenuto PRC, Azevedo TM, Silva V. Síndrome da resposta inflamatória sistêmica/sepse – revisão e estudo da terminologia e fisiopatologia. Rev Ass Med Brasil. 1999; 45(1): 86-92. 146 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 144-146, julho / agosto / setembro 2012 Relato de Caso Oncocitomas de glândulas salivares Salivary glands oncocytoma Resumo Introdução: Oncocitoma de glândulas salivares (OGS) é tumor benigno raro das glândulas salivares, correspondendo a 1% dessas neoplasias. Aparece em geral após a sexta década de vida, sem preferência entre os sexos. Em 80% dos casos, localiza-se na glândula parótida. Material e Método: Apresentamos análise retrospectiva de cinco pacientes com diagnóstico de OGS, sendo quatro em parótida e um em glândula submandibular, operados nos últimos 13 anos em nosso serviço. Resultados: Todos foram submetidos à ressecção total da glândula. Há três pacientes com cinco a treze anos de seguimento, um operado há 10 meses, e um operado há quatro meses. Nenhum deles apresentou recidiva até o momento. Conclusão: O tratamento dos OGS é cirúrgico e consiste na retirada do tumor com margens cirúrgicas livres. A recidiva atinge índices de 30%, devido à excisão incompleta do tumor ou à multifocalidade, o que demonstra a importância do acompanhamento periódico dos pacientes. Palavras-chave: Neoplasias das Glândulas Salivares; Neoplasias Parotídeas; Glândula Parótida. Introdução Oncocitoma de glândulas salivares (OGS) é tumor benigno raro das glândulas salivares, correspondendo a 1% dessas neoplasias. Aparece em geral após a sexta década de vida, sem preferência entre os sexos. 1,2 Apresentam crescimento lento, raramente excedendo cinco centímetros de diâmetro ao diagnóstico. Estudos mostram localização predominante na parótida, variando de 80% até 95% dos casos.2,3 Em aproximadamente 75% dos casos, há sintomas de dor local. 4 O OGS ainda é patologia pouco diagnosticada na Thais Gomes Casali 1 José Maria Porcaro Salles 2 João Marcos Arantes Soares 3 Alexandre de Andrade Souza 4 Gustavo Meyer de Moraes 5 Abstract Introduction: Salivary glands oncocytoma (SGO) is a rare benign tumor of the salivary glands, accounting for 1% of all neoplasms. It occurs most commonly after the sixth decade of life, without sex predominance. It is located in the parotid gland in 80% of cases. Patients and Methods: We present a case series of five patients with the diagnosis of salivary glands oncocytoma, four of which located in the parotid gland and one in the submandibular gland. All were operated on in the last 13 years in our tertiary hospitalbased center. Results: All were submitted to total gland resection. Three patients were followed-up for 5 to 13 years, one patient was operated on 10 months ago and the other, 4 months ago. There was no recurrence in our series until now. Conclusion: Surgery is the treatment of choice and implies the tumor withdrawal with clear surgical margins. Recurrence rate reaches up to 30% of cases due to the incomplete excision of the tumor or its multiple locations. The regular follow-up of patients is mandatory for the recurrence screening. Keywords: Salivary Gland Neoplasms; Parotid Neoplasms; Parotid Gland. prática clínica diária e consequentemente, pouco discutida na literatura latino-americana. Dessa forma, esse estudo tem como objetivo a discussão sobre os métodos diagnósticos que podem conduzir o examinador à suspeição do OGS, assim como a melhor orientação terapêutica. Método Apresentamos análise retrospectiva de cinco pacientes com diagnóstico de OGS, operados nos últimos 13 anos em nosso serviço, identificando os sintomas 1)Residência de Cirurgia Geral do HC - UFMG. Médica Residente de Cirurgia Geral do HC – UFMG. 2)Mestre. Coordenador do Grupo de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG. Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. 3)Mestre e Doutor em Cirurgia. Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São João Del-Rey. 4)Mestre em Cirurgia pela UFMG. Membro do Grupo de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG. Coordenador do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital da Baleia. 5)Mestre em Cirurgia pela UFMG. Membro da Equipe de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG. Médico Especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela SBCCP. Instituição: Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Alfa de Gastroenterologia - Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte / MG – Brasil. Correspondência: Thaís Gomes Casali - Rua Buenos Aires 213 / 312 - Sion - Belo Horizonte / MG – Brasil – CEP: 30315-570 – Telefone: (+55 32) 3211-0490 - E-mail: [email protected] Recebido em 18/09/2011; aceito para publicação em 19/11/2011; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 147-149, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 147 Oncocitomas de glândulas salivares. Casali et al. apresentados ao diagnóstico, orientação propedêutica, características ultrassonográficas e histopatológicas e a evolução dos pacientes no pós – operatório. Resultados Caso 1: JRA, 62 anos, masculino, apresentava nódulo parotídeo esquerdo com oito meses de evolução, sem sintomas associados. À ultrassonografia (USG), possuía bordas regulares e limites bem definidos, medindo 2,8 x 1,6 cm. Em 24/08/1998 foi realizada parotidectomia parcial com conservação do nervo facial, e o exame anatomopatológico (EAP) da peça operatória evidenciou o diagnóstico de Oncocitoma de Parótida (OP), retirado com margens livres. Sem sinais de recidiva em treze anos de seguimento. Caso 2: MHVT, 67 anos, feminino, atendida em 17/02/2000, relatava nódulo indolor em parótida esquerda há cinco anos. Foi realizada parotidectomia parcial com preservação do nervo facial, e o EAP mostrou OP de 4 x 3 x 1 cm, retirado com margens livres. Evoluiu com síndrome de Frey notada no décimo mês pós-operatório. Sem sinais de recidiva em 11 anos de seguimento. Caso 3: ASN, 44 anos, masculino, foi atendido em nosso ambulatório em 05/04/2006 com aumento de volume e desconforto em parótida direita com três semanas de evolução. A USG revelou nódulo sólido, hipoecoico de 3,5 x 2,5 cm em seu polo inferior. O tumor foi retirado com margens livres, em parotidectomia parcial com preservação do nervo facial. O EAP revelou o diagnóstico de OP. Sem sinais de recidiva em cinco anos de seguimento. Caso 4: JRPM , 62 anos, masculino, foi atendido no ambulatório de nosso serviço queixando-se de nódulo e dor em nódulo na parótida esquerda com oito meses de evolução. À USG foi demonstrada massa hipoecoica de 4,5 cm em seu maior diâmetro, com limites bem definidos. Em 10/09/2010 foi realizada parotidectomia total com preservação do nervo facial, e o EAP da peça operatória revelou o diagnóstico de OP. Em julho de 2011 não havia sinais de recidiva. Caso 5: AAJ, 74 anos, masculino, em janeiro de 2011 notou nódulo doloroso em glândula submandibular direita. À ultrassonografia foi confirmado nódulo de 7 mm por 6 mm. Foi submetido à PAAF cuja citologia foi compatível com oncocitoma. Em 11/04/2011 foi submetido à submandibulectomia direita e o EAP confirmou o diagnóstico da citologia. Discussão A Organização Mundial de Saúde define três categorias de alterações oncocíticas: oncocitose, oncocitoma e carcinoma oncocítico, sendo os OGS benignos e malignos resultado de mutação do DNA mitocondrial. 2 Existem evidências de progressão entre estas três formas, ou seja, malignização, e de tumores com origem multifocal5,6. Embora a oncocitose seja extremamente comum nos indivíduos com idade acima de 60 anos, a incidência de OGS é de apenas 1% de todos os tumores salivares, e a do carcinoma oncocítico de 0,005% destes7. O carcinoma oncocítico possui apenas 59 casos relatados na literatura médica, em língua inglesa, até 20088. O diagnóstico pré-operatório dos OGS é desafiador posto que suas características clínicas e ultrassonográficas são semelhantes às de outros tumores salivares benignos1. A dor poderia ser um diferencial entre estes, entretanto este sintoma não ocorre em todos os pacientes. (Quadro 1). Na nossa casuística a dor esteve presente em 2 casos, sendo que em outro havia queixa de desconforto local. Habitualmente, os tumores benignos de glândulas salivares não trazem qualquer sintomatologia local além da percepção do nódulo. Embora Capone et al.6 tenha demonstrado baixa sensibilidade da punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para o diagnóstico de oncocitoma (29%), outros trabalhos demonstraram que esta seria ferramenta útil, com sensibilidade de até 92%9,10. No presente estudo, a PAAF contribuiu para o diagnóstico pré-operatório no único paciente em que foi utilizada, visto não ser procedimento realizado de rotina em nosso serviço. O diagnóstico, em geral é feito ao exame anatomopatológico, e em caso de dúvida a confirmação é feita pelo exame imuno-histoquímico. Zhou et all demonstraram imunorreatividade dos OGS aos marcadores CK5/6, CK8/18, CK10/13, CK 19 e EMA. Os anticorpos monoclonais MIB-1 também são utilizados na imuno-histoquímica, uma vez que identificam Quadro 1. Blanck et al. 11(1970) Herrera et al. (2008) Zhou et al. (2009) Nossos resultados (2011) Amostra (n) Recidiva (%) Tempo até recidiva Malignização (%) Dor (%) Parótida (%) Idade média (anos) 13 30 6 a 60m 0 NE 100* 54 4 25 10m 0 75 100* 50 21 0 NE 0 20 95 60,1 5 0 0 0 40 80 61,8 *Os estudos em questão limitaram-se ao estudo dos oncocitomas exclusivos de parótida NE – Variável não estudada / m - meses. 148 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 147-149, julho / agosto / setembro 2012 Oncocitomas de glândulas salivares. células em divisão encontrados no citoplasma dos OGS, ao contrário do tecido parotídeo normal e demais tumores de glândulas salivares, que não expressam esses anticorpos1. Nos casos apresentados, não houve necessidade de exame imuno-histoquímico para confirmação diagnóstica. O oncócito é caracterizado como grande célula poligonal de citoplasma fortemente eosinofílico, núcleo arredondado e uniforme. À microscopia eletrônica, o citoplasma é descrito como granular e eosinofílico devido ao acúmulo de mitocôndrias, que são responsáveis por até 60% do volume celular. Embora sejam células incomuns em indivíduos com idade abaixo de 50 anos, são encontrados em quase todas as pessoas após a sexta década de vida. Possivelmente, por esse motivo os pacientes com OGS se encontram acima dessa faixa etária como demonstrado em nossa casuística e na literatura consultada (Quadro 1). O tratamento é cirúrgico e consiste na retirada do tumor com margens cirúrgicas livres. Parotidectomia total é obrigatória nos casos de tumor volumoso ou localizado no lobo profundo da parótida (12% dos casos)6. Na glândula submandibular faz-se exérese da glândula, e na glândula sublingual e glândulas salivares menores a margem de segurança será feita, se necessário, a custa dos tecidos vizinhos. O acompanhamento periódico dos pacientes é obrigatório para o rastreamento de recidivas. A recidiva atinge índices de 30%, devido à excisão incompleta do tumor ou à multifocalidade, esta última relatada em até 7% dos oncocitomas7. Em nosso estudo, há três pacientes com cinco a treze anos de seguimento, um operado há 10 meses, e um operado há quatro meses. Nenhum deles apresentou recidiva até o momento (Quadro 1). Tal fato leva ao questionamento sobre a opção pela parotidectomia total, em vez da parcial, visando abranger focos microscópicos da doença5. Esse questionamento se refere aos tumores de lobo superficial de parótida, em que a literatura tradicionalmente recomenda a parotidectomia parcial, visto que nos demais a ressecção da glândula será sempre total. A principal complicação cirúrgica em ressecções de tumores das glândulas parótida e submandibular é a disfunção temporária ou definitiva do nervo facial ou de algum de seus ramos5. Casali et al. Conclusão O oncocitoma das glândulas salivares é de difícil diagnóstico pré-operatório. Assim como a maioria dos tumores benignos dessas glândulas, é primordial o exame anatomopatológico para a correta orientação terapêutica. O seu tratamento é cirúrgico, e consiste na retirada completa do tumor com ampla margem de segurança. Deve ser questionada a opção pela parotidectomia parcial, defendida na literatura, devido ao alto potencial de recidiva desses tumores. A ressecção total da glândula torna-se, portanto, uma opção atrativa devido aos baixos índices de complicação e recidiva, como evidenciada em nosso estudo. Referências 1. Zhou CX, Gao Y. Oncocytoma of the salivary glands: A clinicopathologic and immunohistochemical study. Oral Oncology 2009; 45: 232– 238 2. Herrera AA, Paola; Valderrama PA, Díaz JA et al. Características clínicas y patológicas de los oncocitomas de la glândula parótida en Bucaramanga, Colombia. Acta de Otorrinolaringología e Cirugía de Cabeza y Cuello 2008; 36(1) 17-24. 3. Zhou C, Shi D, Yu G, Gao Y. A clinicopathologic study on oncocytoma and oncocytic carcinoma of the salivary glands. Beijing Da Xue Xue Bao.2011;43(1):52-7. 4. Stomeo F, Meloni F, Bozzo C et al. Bilateral oncocytoma of the parotid gland. Acta Oto-Laryngologica, 2006; 126: 324-326 5. Shellenberger TD, Williams MD, Clayman GL et al. Parotid Gland Oncocytosis: CT Findings with Histopathologic Correlation Am J Neuroradiol 2008; 29: 734 –36 6. Capone RB, Ha PK, Westra WH et al. Oncocytic neoplasms of the parotid gland: a 16-year institutional review. Otolaryngol Head Neck Surg 2002; 126: 657–62 7. Stafford RE, Ray M, Schubert W. Benign oncocytoma of the deep lobe of the parotid gland. J Oral Maxillofac Surg. 1999; 57 (3): 346-350. 8. Zhou CX, Chi DY, Ma DQ et al. Primary oncocytic carcinoma of the salivary glands: A clinicopathologic and immunohistochemical study of 12 cases. Oral Oncology, 2010; 773–778. 9. Wong DS, Li GK. The role of fine-needle aspiration cytology in the management of parotid tumors: a critical clinical appraisal. Head Neck 2000;22:469-73. 10. Stewart CJ, MacKenzie K, McGarry GW, et al. Fine-needle aspiration cytology of salivary gland: a review of 341 cases. Diagn Cytopathol, 2000;22:139-46. 11. Blanck L, Erothm, CM, Jakobson PA. Oncocytoma of the Parotid Gland: Neoplasm or nodular hyperplasia? Cancer, 1970; 25:919 – 925. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 147-149, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 149 Relato de Caso Trauma traqueal associado à fratura mandibular relato de caso Tracheal trauma associated with mandibular fracture case report Resumo Introdução: As injúrias mandibulares correspondem a cerca de 20% a 50% dos casos de fraturas faciais. Alguns consideram a mandíbula o segundo osso do crânio mais fraturado, além de ser o único osso móvel do arcabouço facial, o que resulta na diminuição da estabilidade frente ao trauma. Quando se leva em consideração a obstrução de vias aéreas em pacientes com fraturas faciais, a problemática torna-se muito mais grave já que se trata de uma das mais preocupantes complicações em traumatologia. Objetivo: Diante da relevância do tema é objetivo relatar um caso clínico de paciente vítima de fratura mandibular associada a trauma de traqueia. Relato de caso: Paciente de 24 anos de idade portador de trauma traqueal concomitante a fratura mandibular por coice animal tratado cirurgicamente em conjunto ao cirurgião torácico. Após 5 meses de pós-operatório, o paciente encontra-se em bom estado geral, sem queixas. Comentários finais: Desta forma é observado que a chave para o correto tratamento de trauma traqueal associado a fraturas faciais é o conhecimento do tipo de injúria, além de um acurado diagnóstico multidisciplinar. Descritores: Traqueia; Diagnóstico; Fraturas Mandibulares; Fixação Interna de Fraturas. INTRODUÇÃO Os primeiros cuidados conferidos pelo profissional da saúde ao politraumatizado exercem caráter decisivo em relação ao prognóstico do caso. O atendimento é dado de forma sequencial, de modo que muitas etapas são realizadas concomitantemente. Assim sendo, a atenção está voltada às lesões graves e a busca pelo tratamento imediato sendo que, muitas vezes, erros grosseiros resultam em sequelas graves ou mesmo em óbito1. Ellen Cristina Gaetti Jardim 1 Cassiano Costa Silva Pereira 2 Heloísa Fonseca Marão 2 Leonardo Perez Faverani 3 Gustavo Rodrigues Manrique 4 Gileade Pereira Freitas 4 Elio Hitoshi Shinohara 5 Idelmo Rangel Garcia Junior 6 Abstract Introduction: The mandibular injuries account for about 20% to 50% of cases of facial fractures. Some consider the jaw the second most commonly fractured bone of the skull, and is the only mobile bone of the facial framework, which results in decreased stability compared to the trauma. When one takes into account the degree of airway obstruction in patients with facial fractures, the problem becomes much more serious since it is one of the most troubling complications of trauma. Objective: the relevance of the topic is aimed to report a case of a patient victim of mandibular fracture associated with trauma to the trachea. Case report: Case report: Patient 24 years old patient with tracheal trauma concomitant mandibular fracture surgically treated in conjunction with the thoracic surgeon. After 5 months postoperatively, the patient is in good condition general, no complaints. Final Comments: This form is observed that the key to proper treatment of tracheal trauma associated with facial fractures is the knowledge of the type of injury, and an accurate diagnosis multidisciplinary. Key words: Trachea; Diagnosis; Mandibular Fractures; Fracture Fixation, Internal. Neste contexto, as lesões traumáticas da via aérea superior são pouco frequentes, no entanto, acredita-se que especialmente nos grandes centros urbanos, um aumento da incidência das lesões traumáticas da laringe, traqueia e dos grandes brônquios2,3. Alguns fatores têm contribuído para este fato: o aumento do número de veículos, acarretando índices mais elevados de acidentes de trânsito; as altas velocidades desses veículos, tornando as colisões mais graves e o agravamento dos problemas sociais dos grandes centros urbanos, conduzindo a uma violência crescente4,5. 1)Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial UFMS - MS. 2)Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Doutorando (a) em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial UNESP - Araçatuba. 3)Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Mestrando em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial UNESP - Araçatuba. 4)Cirurgião-Dentista. Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial UFMS - MS. 5)Doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Professor Doutor da Pós-graduação em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial UNESP - Araçatuba. 6)Doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial UNESP - Araçatuba. Professor Adjunto em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial UNESP - Araçatuba. Instituição: Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP Departamento de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Araçatuba / SP – Brasil. Correspondência: Ellen Cristina Gaetti Jardim - Rua José Bonifácio, 1193 - Vila Mendonça - Araçatuba / SP – Brasil - CEP: 16015-050 – Telefone: (+55 18) - E-mail: [email protected] Recebido em 20/09/2011; aceito para publicação em 13/02/2012; publicado online em 15/09/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 150 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 150-152, julho / agosto / setembro 2012 Trauma traqueal associado à fratura mandibular - relato de caso. Neste tocante, vale ressaltar o envolvimento concomitante dos traumas faciais, sobretudo as fraturas mandibulares. Lembrando que, as condições fisiopatológicas que se instalam são rapidamente progressivas, podendo em algumas situações levar a morte em questão de minutos. Desta feita, nestes pacientes o conhecimento desta fisiopatologia e o uso de manobras na maioria das vezes simples, podem determinar uma mudança radical em sua evolução. Diante disso, o propósito deste relato é apresentar o caso de um paciente, vítima de coice de animal, resultando em fratura de mandíbula associado à trauma traqueal. Jardim et al. Figura 1. RELATO DE CASO Paciente do gênero masculino, 24 anos de idade, apresentou-se ao Serviço Hospitalar de Araçatuba com trauma em face em virtude de acidente animal (coice de boi). Ao exame físico extra-oral, apresentava edema importante em região de ângulo mandibular direito, assimetria facial as custas do edema e ferimentos dermoabrasivos a direita. Ao exame físico intrabucal, má oclusão por deslocamento de cotos ósseos fraturados, limitação de abertura bucal assim como dos movimentos excursivos mandibulares. Após avaliação clínica e radiográfica constatou-se fratura de ângulo mandibular direito. Após 2 dias de internação o paciente evoluiu para pneumotórax e enfisema cervical e sendo assim, foi realizada uma cirurgia de drenagem do pneumotórax pelo cirurgião torácico. Após 3 dias, houve regressão do enfisema cervical, com melhora do quadro clínico e optou-se por parte do cirurgião torácico a realização de traqueotomia. Decorridos 10 dias da entrada do paciente no hospital e após evolução favorável do quadro clínico, o paciente foi submetido ao procedimento de redução e fixação da fratura mandibular pela equipe de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial da UNESP. O procedimento foi realizado sob anestesia geral e entubação naso-traqueal. O acesso cirúrgico utilizado foi o acesso vestibular intrabucal em região de linha oblíqua externa para acesso ao traço de fratura. Após realização do descolamento e redução dos cotos fraturados, foi observada a estabilidade transoperatória procedeu-se a colocação dos dispositivos de fixação interna rígida que consistiu em uma placa em linha oblíqua externa a direita de acordo com a Técnica de Champy. Não houve quaisquer intercorrências sendo que após 24 horas do procedimento o paciente recebeu alta da Equipe. Após 5 meses de pós-operatório, o paciente encontra-se em bom estado geral, sem queixas álgicas, estéticas e funcionais. DISCUSSÃO O arcabouço laringotraqueal é um ponto vulnerável da região cervical por colocar-se anteriormente, princi- Figura 2. palmente no gênero masculino. Entretanto, apresenta peculiaridades que lhe conferem alguma proteção a agentes agressores externos. A proximidade com estruturas ósseas, tais como o mento superiormente e o esterno inferiormente constituem um mecanismo de defesa às agressões dirigidas à região cervical4. Além disso, a mobilidade da laringe e o arcabouço cartilaginoso oferecem maior resistência aos traumas provenientes de instrumentos contundentes. Assim, o principal mecanismo da lesão laringotraqueal decorrente de trauma fechado consiste na compressão da estrutura laríngea e/ou traqueal sobre a superfície anterior da coluna vertebral, fatos este que pode ser explicado pela pouca incidência desses traumas em associação a fraturas faciais, sobretudo mandibulares1,5. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 150-152, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 151 Trauma traqueal associado à fratura mandibular - relato de caso. Jardim et al. enfisema a instalação de pneumotórax o que corrobora com o fato de que lesões da traqueia torácica ou grandes brônquios, quase sempre evoluem com enfisema mediastinal, que costuma estender-se para o tecido celular subcutâneo localizado nas regiões torácica, cervical e facial2,3. O diagnóstico e o tratamento dos traumatismos torácicos envolvem procedimentos relativamente simples, na maioria dos casos. Assim, o exame clínico e uma radiografia simples do tórax são, geralmente, os métodos empregados para diagnosticar estes traumatismos. Em raros casos, é necessário recorrer-se a exames de imagem ou à endoscopia. Tal fato mostra que o diagnóstico não é complexo mas não pode ser negligenciado de forma que dependendo das condições gerais do paciente e das condições anatômicas locais procedimentos mais invasivos como a traqueostomia também está indicada no caso relatado, foi realizada a drenagem torácica como forma de tratamento provisório, já que uma vez realizada a drenagem da cavidade pleural, a reversão dos sinais e sintomas é quase que imediata.E, logo após, o diagnóstico de fratura de traqueia, foi realizada a traqueostomia1-3. Conclusão Fiugra 3. Haja vista, a traqueia pode ser lesada por traumatismo direto ou indireto. As feridas penetrantes e transfixantes se enquadram no primeiro tipo de lesão, sendo que é mais frequente que seja lesada a laringe; enquanto no segundo tipo, trauma fechado, é mais atingida a traqueia intratorácica, e é resultante das compressões ou esmagamentos do tórax, como ocorreu ao paciente do caso relatado. Neste caso, o agente traumático esmaga a laringe e/ou traqueia de encontro à coluna provocando fratura das estruturas cartilaginosas. Pode ou não haver lesão da mucosa com consequente fuga aérea para os tecidos vizinhos. O rompimento da traqueia cervical induz a formação de enfisema subcutâneo, mais intenso nas regiões cervical e facial. Raramente ocorre enfisema mediastinal e pneumotórax, o que diferencia da consequência ao trauma encontrado no caso apresentado que evolui de A chave para a conduta dos traumas traqueais associados a fraturas de face é o reconhecimento precoce deste tipo de lesão. O tratamento deve incluir estado geral do paciente assim como a extensão do dano gerado associando o adequado cuidado as vias aéreas seja por traqueostomia como pela adequada reparação dos tecidos adjacentes além dos cuidados para com a fratura madibular que deve ser reduzida e fixada de acordo com os princípios de fixação funcionalmente estável. REFERÊNCIAS 1. 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Introdução O câncer diferenciado de tireoide (CDT) é a neoplasia endócrina mais comum e a sua incidência continua a aumentar no Brasil, assim como em quase todo o mundo, tendo mais do que dobrado nas últimas três décadas. No entanto, a maior parte dos pacientes evolui de forma relativamente branda em comparação com outros tipos de cânceres. A tireoidectomia total seguida de ablação actínica com 131I (radioiodoterapia) oferece ao paciente um prognóstico muito bom em mais de 80% dos casos. Após a cirurgia e a radioiodoterapia, os pacientes são tratados com levotiroxina, visando reduzir os níveis séricos de TSH para minimizar o crescimento de qualquer tumor residual. Pesquisa de Corpo Inteiro (PCI) e medidas de Tiroglobulina (Tg) sérica são usadas para monitorar os pacientes. Essa abordagem terapêutica proporciona uma sobrevida que atinge 93% a 98% e 85% a 92% dos carcinomas papilífero e folicular, respectivamente. No entanto, o índice de recorrências é relativamente elevado e parte dos pacientes acaba morrendo por causa do CDT. Estima-se que tenhamos no Brasil 10.590 novos casos de câncer da tireoide em 2012, e esse tumor deverá ser responsável por 1.740 mortes nos Estados Unidos. Por que alguns pacientes com CDT evoluem mal? O que podemos fazer nesses casos? Caso Clínico Paciente do sexo feminino, de 65 anos de idade, procurou o consultório para pedir uma segunda opinião sobre seu caso. Ela relata que recebeu diagnóstico de CDT há quatro anos. Na época, apresentava um nódulo de tireoide de 4 cm de diâmetro que foi detectado em consulta de rotina e que se mostrou maligno à citologia obtida por punção aspirativa realizada com agulha fina (PAAF). A paciente foi encaminhada à cirurgia para remoção total da glândula, recebendo anatomopatológico de car- cinoma diferenciado de tireoide de tipo papilífero, variante folicular. O laudo descreveu tumor de 3,9 cm de diâmetro, localizado em região superior do lobo direito, com infiltração de cápsula, porém sem acometimento de estruturas cervicais adjacentes, além de oito linfonodos de cadeia ipsi-lateral direita, dos quais quatro mostravam infiltração tumoral. Após a cirurgia, a paciente recebeu dose de 50 mcg/dia de levotiroxina, que foi progressivamente aumentada pelo cirurgião até 100 mcg, dose mantida por duas semanas. No entanto, ela parou de fazer uso da levotiroxina após esse período, permanecendo sem medicação por cerca de três meses, tempo em que ficou aguardando a realização de PCI. A paciente foi submetida à dose de 100 mCi de iodo radioativo, e a PCI pós-dose mostrou pequenos restos captantes em leito tireoidiano e uma imagem suspeita em região cervical direita. Na época da PCI seu TSH era de 85 mU/L e a Tg 22 ng/dL. Foi então introduzida novamente levotiroxina em dose de 100 mcg/dia, com o que a paciente obteve valores séricos de TSH indetectáveis, mas os níveis de Tg continuaram positivos. A paciente mudou-se para região rural, o que dificultou seu acompanhamento regular, além de ter se descuidado do controle laboratorial. Durante os primeiros anos de seguimento, a paciente usou a levotiroxina de forma irregular, pois ela relata que tinha muita dificuldade de se lembrar de tomar o comprimido em jejum. A paciente voltou a procurar seu endocrinologista, que indicou cirurgia em julho de 2010 para retirada de linfonodos à direita, seguida de radioiodoterapia. Ela foi novamente submetida a uma cirurgia, em junho 2011, que mostrou linfonodos acometidos, dessa vez em cadeia cervical esquerda. Em todas as ocasiões foi detectada infiltração metastática em linfonodos, e o cirurgião já esvaziou as cadeias cervicais esquerda e direita. CRM SP: 37194-0. Presidente do Departamento de Tireoide da SBEM Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 153-157, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 153 Câncer de Tireoide de Difícil Controle. Ward LS. A Tabela 1 mostra que a paciente tomou radioiodo em todas as ocasiões, totalizando dose total de 370 mCi. Na última cirurgia, além do acometimento de dois linfonodos em nível 5 da cadeia cervical esquerda, também havia presença de células malignas em 3 linfonodos dos 18 retirados da cadeia cervical esquerda. O laudo anatomopatológico mostrava que se tratava novamente de metástase de carcinoma papilífero, variante folicular. Na sua última consulta, foram detectados novamente nódulos em região cervical e a paciente foi mais uma vez submetida à PAAF e dosagem de Tg em material de punção aspirativa, que confirmaram a presença de neoplasia. Como o cirurgião não recomendou nova cirurgia, a paciente procurou endocrinologista para saber qual seria a melhor conduta. Seu endocrinologista sugeriu nova dose de 131I. A Tabela 1 resume os eventos clínicos, os exames laboratoriais e a terapêutica dessa paciente. Comentário Fatores de prognóstico A paciente acima faz parte do pequeno grupo de pacientes que evoluiu mal apesar de serem portadores de CDT. Como reconhecer logo esses pacientes para eventualmente oferecer-lhes um seguimento mais próximo ou um tratamento mais agressivo? Entre os fatores que poderiam ter prognosticado essa evolução conturbada, estão a idade de diagnóstico acima de 45 anos, o fato de se tratar de tumor grande, o tipo histológico (embora haja controvérsias a respeito, considera-se que a variante folicular evolui pior do que o carcinoma papilífero clássico) e um fator muito importante, que é a adesão à terapêutica com levotiroxina. O acometimento linfonodal, embora apareça como fator de pior prognóstico em grandes séries, em geral tem um impacto relativamente pequeno. Os valores séricos de Tg após a cirurgia também são fatores de risco para uma pior evolução, mas talvez um tratamento mais rígido, mantendo a paciente sempre com TSH suprimido, pudesse ter evitado a elevação subsequente desses níveis. Não há realmente necessidade de se elevar progressivamente a dose de levotiroxina após a tireoidectomia total. Além de prolongar o período de exposição ao TSH, essa conduta só dificulta a plena recuperação do paciente que deveria ter recebido alta após a tireoidectomia, com dose supressiva de levotiroxina. A demora em suprimir o TSH durante os três meses em que a paciente aguardou pelo exame de PCI também deve ser evitada. Infelizmente é comum em nosso meio Tabela 1. Tabela de evolução do caso de câncer de difícil controle. junho de 2007 Cirurgia A novembro de 2007 janeiro de 2008 junho de 2008 setembro de 2008 dezembro de 2008 março de 2009 julho de 2009 dezembro de 2009 fevereiro de 2010 Carcinoma papilifero de 3,9 cm e 4+/8 linfonodos à dir. levotiroxina (mcg/dia) sem usar sem usar pré PCI 100 100 100 100 100 100 100 100 TSH (mU/L) 4,5 85 indetectável 5,4 7,8 indetectável 2,5 0,2 1,2 0,1 22 1,8 5,3 7 3,4 11 5,6 6,1 4,1 Tg (ng/dL) US cervical US pré-cirurgia: Nódulo com caracteristicas malignas; 4 linfonodos suspeitos à direita Linfonodo suspeito à direita PAAF de linfonodo Tg de linfonodo (ng/dL) 131I (mCi) PCI pós-dose negativa Não realizada Não realizada 100 Restos em leito tireoidiano + imagem suspeita cervical dir. Elaborado pelo autor. 154 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 150-152, julho / agosto / setembro 2012 Câncer de Tireoide de Difícil Controle. Ward LS. Tabela 1 cont. Tabela de evolução do caso de câncer de difícil controle. abril de 2010 maio de 2010 agosto de 2010 fevereiro de 2011 abril de 2011 junho de 2011 agosto de 2011 100 100 100 100 sem usarpré PCI novembro de 2011 5+/12 linfonodos à dir. Feito esvaziamento cervical dir. e explorado lado esq. Cirurgia levotiroxina (mcg/dia) TSH (mU/L) julho de 2010 B 100 100 indetectável indetectável Tg (ng/dL) indetectável indetectável indetectável indetectável 9 3 US cervical 2 Linfonodo suspeitos à dir sem lesões PAAF de linfonodo Incoclusiva Ca papilifero 120 260 Tg de linfonodo (ng/dL) 131I (mCi) PCI pós-dose 8 sem usarpré PCI 5 7 18 48 6 Linfonodos suspeitos à esq. e à dir. 11 sem lesões 120 150 Imagem suspeita na região cervical esq Imagem suspeita na região cervical dir. Imagens positivas micronodulares em pulmão Elaborado pelo autor. o paciente enfrentar longos períodos de espera para receber a dose ablativa de radioiodo após a cirurgia. Tais períodos devem ser previstos evitando-se a retirada demasiadamente precoce da levotiroxina ou simplesmente aplicando-se o TSH recombinante humano (alfatirotropina). Assim, evita-se a exposição aos efeitos estimuladores do TSH sobre as células neoplásicas residuais, por mais que a tireoidectomia total tenha sido cuidadosa e completa, sem mencionar os efeitos sistêmicos do hipotireoidismo. Existem vários sistemas de estadiamento que podem ajudar a definir os pacientes de pior prognóstico, indicar a necessidade ou não de terapia adjuvante como radioiodoterapia e o grau de supressão hormonal que eles requerem e ajudar a estabelecer a frequência e tipo de exames de seguimento. A grande maioria utiliza fatores como o sexo, a idade, o tamanho da neoplasia, a presença de metástases à distância e a extensão do tumor, mas, na prática, nenhum desses sistemas de estratificação de risco se mostra superior ao outro, além de nenhum deles levar em conta o efeito da terapêutica. Por isso, a estratificação de risco deve ser reavaliada a cada consulta. Infelizmente, a paciente apresentada já podia ser considerada de alto risco desde o início do quadro e, portanto, deveria ter sido mantida com dose de levotiroxina suficiente para apresentar níveis séricos de TSH supressos. A presença de pequenas lesões residuais em leito tireoidiano não deve ser considerada fator de pior evolução. Recente revisão de 1.531 pacientes portadores de CDT tratados no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center de New York-USA entre 1998 e 2009, mostrou que 521 (34%) apresentavam pequenos nódulos em leito cervical identificados no primeiro exame ultrassonográfico de seguimento. No entanto, apenas 9% dos nódulos aumentaram de tamanho em cinco anos, sugerindo que a maior parte desses remanescentes tumorais não tem maior significado clínico, especialmente quando os valores de Tg são baixos. A dosagem sérica de Tg é um excelente indicador de evolução e também é de grande valor prognóstico em pacientes que não apresentam anticorpos anti-Tg. Com os ensaios atuais, em que a sensibilidade funcional de 1 ng/mL a 2 ng/mL baixou para 0,1 ng/mL a 0,2 ng/mL, espera-se que possamos detectar recidivas mais precocemente, e até mesmo prescindir da dosagem de Tg estimulada que os consensos recomendam para os casos de baixo risco, entre 6 e 12 meses após a tireoidectomia. Tal dosagem é válida desde que esses pacientes mantenham níveis séricos indetectáveis e US cervicais normais. Infelizmente, não era o caso da paciente em Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 153-157, julho / agosto / setembro 2012 – ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 155 Câncer de Tireoide de Difícil Controle. questão, que se beneficiaria muito provavelmente de uma PCI com dosagem de Tg estimulada pela retirada da supressão hormonal com levotiroxina ou, melhor ainda, do estímulo com alfatirotropina. Tal conduta, recomendada por todos os consensos, aumenta a sensibilidade de detecção de recidivas da dosagem da Tg em uso de levotiroxina. É possível que tais exames já revelassem a presença de metástases linfonodais em pescoço, pois os valores de Tg em uso de levotiroxina em dose supressiva indicavam que ainda havia células produtoras de Tg, principalmente quando esses valores se mantiveram em 3,4 ng/dL na vigência de TSH indetectável. Os próprios níveis séricos de Tg guardam relação com a localização das células produtoras e, portanto, da recidiva. Níveis baixos de Tg, entre 3 ng/dL e 9 ng/dL, sugerem a presença de metástases cervicais, enquanto que níveis mais elevados indicam, sucessivamente, metástases mediastinais, pulmonares e ósseas, como representado na Figura 1. O estímulo com TSH, seja endógeno seja exógeno (alfatirotropina), ajuda a diferenciar essas localizações. Se tais recidivas cervicais tivessem sido detectadas, como sugerem os consensos, na reavaliação de 6-12 meses após a cirurgia, a paciente provavelmente teria sido submetida a esvaziamento ganglionar e teria recebido radioiodo mais cedo, talvez alterando o curso de sua doença. Infelizmente, ela só foi submetida a estímulo com TSH para localização das metástases que seus níveis séricos crescentes de Tg indicavam três anos após a cirurgia inicial, ou seja, essas células tumorais tiveram três anos para crescer, e ainda com o estímulo de TSH endógeno. Marcadores moleculares de prognóstico vêm sendo ativamente investigados. Apesar de vários desses marcadores serem muito promissores, a demonstração da presença da mutação do gene BRAF é atualmente o mais utilizado. Pacientes cujos tumores apresentam tal mutação evoluem com metástases mais recorrentes e sucumbem ao câncer com maior frequência do que os portadores de tumores BRAF negativos. A demonstração da mutação é relativamente simples e factível na prática de grande parte dos laboratórios de patologia do país. Tratamento do paciente com CDT de má-evolução O paciente que recidiva de seu CDT geralmente o faz nos primeiros anos de seguimento, à semelhança do que ocorreu com a paciente apresentada. Pacientes com metástases à distância do câncer diferenciado da tireoide apresentam aumento da morbidade e de mortalidade. No entanto, o impacto da presença das metástases depende da idade do paciente, assim como da quantidade, localização e tamanho das metástases. Pacientes com metástases por CDT têm taxas de sobrevivência relativamente elevadas em comparação com outros tipos de câncer: de 41% e 15% em cinco e dez anos, respectivamente. Ward LS. Figura 1. O procedimento de escolha é a ressecção cirúrgica, sempre que possível, da lesão metastática. No entanto, é importante que o cirurgião tenha experiência nesse tipo de procedimento, particularmente quando ele tem de operar pacientes que já sofreram cirurgias anteriores. Metástases pulmonares micronodulares como as que a paciente agora apresenta, podem ser tratadas com doses empíricas de 100 mCi a 150 mCi de 131I após suspensão da levotiroxina. O tratamento deve ser repetido a cada 6 a 12 meses, desde que as lesões continuem comprovadamente captando o iodo. A PCI pós-dose terapêutica e os níveis séricos de Tg são importantes para avaliação da resposta ao tratamento e rastreamento de possíveis outros locais de metástases. O benefício da radioiodoterapia deve ser questionado após a utilização de doses cumulativas superiores a 600 mCi em pacientes de mais de 45 anos de idade. Essa preocupação não é necessária em relação aos mais jovens, pois estes suportam até 800 mCi. A paciente apresentada tem boa chance de responder à terapia com radioiodo, apesar do aparecimento de lesões pulmonares em sua última avaliação. Preocupa o fato dos níveis séricos de Tg não estarem, como geralmente se apresentam, tão elevados em pacientes com metástases pulmonares, o que poderia indicar que tais lesões estão perdendo a capacidade de produzir Tg e, portanto, progredindo no processo de desdiferenciação neoplásica. Por outro lado, o fato de tais metástases estarem captando iodo sugere que elas podem ser eliminadas por tal terapia. Em pacientes em que não há possibilidade de intervenção cirúrgica para remoção de metástase ou em que já existem evidências de baixa captação de 131I, ou ainda quando já se atingiu a dose terapêutica efetiva máxima, resta a perspectiva da terapia alvo-dirigida. Uma série de inibidores de moléculas-chave para o crescimento tumoral, como os fatores angiogênicos, vem sendo investigados e alguns foram testados em CDT refratário 156 e�������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 3, p. 150-152, julho / agosto / setembro 2012 Câncer de Tireoide de Difícil Controle. Ward LS. às terapias convencionais. Respostas parciais em até 30% dos casos são obtidas com alguns desses agentes, mas estabilização prolongada da doença ocorre em até 80% dos casos tratados com agentes que visam os receptores de fatores de crescimento vascular endotelial (VEGF) e as kinases mutantes, como resume a figura 2. Duas drogas aprovadas para o uso em outras malignidades, o sorafenibe e o sunitinibe, apresentam resultados preliminares promissores em CDT. Conclusão O paciente com câncer diferenciado de tireoide tem um prognóstico relativamente bom em relação aos demais tipos de tumores, mas o tratamento adequado é essencial para assegurar uma boa evolução. O uso de levotiroxina para suprimir o estímulo do TSH sobre eventuais células remanescentes é essencial, particularmente em pacientes de alto risco. Deve-se estimular a adesão do paciente à terapia e explicar-lhe os riscos do seguimento inadequado. Referências • Bernier MO, et al. Survival and therapeutic modalities in patients with bone metastases of differentiated thyroid carcinomas. J Clin Endocrinol Metab. 2001 Apr;86:1568-73. • Burgess JR, et al. Incidence trends for papillary thyroid carcinoma and their correlation with thyroid surgery and thyroid fine-needle aspirate cytology. 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Na supressão do TSH hipofisário no tratamento ou prevenção dos vários tipos de bócios eutireoidianos, inclusive nódulos tireoidianos, tireoidite linfocítica subaguda ou crônica (tireoidite de Hashimoto) e carcinomas foliculares e papilares, tireotropino-dependentes da tireóide. Como agente diagnóstico nos testes de supressão, auxiliando no diagnóstico da suspeita de hipertireoidismo leve ou de glândula tireóide autônoma. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade aos componentes da fórmula, infarto do miocárdio recente, tireotoxicose não tratada, insuficiência supra-renal descompensada e hipertireoidismo não tratado. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: A levotiroxina deve ser usada com extremo cuidado em pacientes com distúrbios cardiovasculares, incluindo angina pectoris, falha cardíaca, infarto do miocárdio e hipotensão; se necessário, devem ser utilizadas doses iniciais menores, aumentos pequenos e intervalos maiores entre os intervalos. Cuidados especiais devem ser tomados em pacientes idosos com bócio com função tireoideana normal, que já sofreram infarto do miocárdio ou que apresentam angina pectoris, falha cardíaca ou arritmia com taquicardia. Pacientes com insuficiência adrenal sem o adequado amparo de corticosteróides, contudo em terapia de reposição da tireóide, podem desencadear crise adrenal aguda. A levotiroxina deve ser introduzida muito gradualmente em pacientes idosos e naqueles com hipotireoidismo de longa data a fim de evitar qualquer aumento repentino das necessidades metabólicas. Hormônios da tireóide não devem ser usados para a redução de peso. São necessários cuidados adicionais quando a levotiroxina é administrada a pacientes com diabetes mellitus ou com diabetes insipidus. A posologia deve ser adaptada de acordo com os testes da função tireoideana (TSH +/- L-T4). A monitoração dos pacientes deve ser realizada de acordo com sintomas pré-clínicos, assim como com os testes da função da tireóide. Uso durante a gravidez e lactação: A levotiroxina atravessa a barreira placentária em quantidade limitada, mas seu uso não mostrou efeitos adversos no feto. A manutenção dos níveis dos hormônios tireoideanos dentro da faixa normal é vital para as gestantes assegurarem a saúde materna e do feto. Assim, o tratamento com PURAN T4 não precisa ser modificado durante a gravidez. Tanto os níveis de TSH quanto os do hormônio tireoideano devem ser monitorados periodicamente e, se necessário, o tratamento deve ser ajustado. Durante a gestação, contraindica-se a levotiroxina sódica como tratamento adjuvante do hipertireoidismo tratado com drogas antitireóide. A ingestão adicional de levotiroxina pode aumentar as dosagens requeridas das drogas antitireóide. As drogas antitireóide, diferentemente da levotiroxina, atravessam a barreira placentária nas dosagens eficazes, o que pode resultar em hipotireoidismo no feto. Assim, o hipertireoidismo durante a gravidez deve ser tratado com baixas dosagens de um único agente antitireoideano. A amamentação pode continuar durante o tratamento com levotiroxina. A quantidade de levotiroxina excretada pelo leite materno é mínima e não está associada a nenhum efeito colateral ou potencial tumorogênico. Quantidades adequadas de levotiroxina são necessárias para manter a lactação normal. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: 1-anticoagulantes orais: pacientes em terapia com anticoagulantes requerem monitoração cuidadosa quando o tratamento com agentes tireoideanos inicia-se ou é alterado conforme a necessidade de ajuste da dosagem do anticoagulante oral (redução da dose). 2- resinas de troca-iônica (ex colestiramina ou sulfato cálcico de poliestireno e sais de sódio): há redução da absorção da levotiroxina ingerida devido à ligação aos hormônios tireoideanos no trato gastro-intestinal; deve-se separar a administração de resinas de troca iônica da administração da levotiroxina tanto quanto possível. 3- medicamentos para o trato gastro-intestinal (ex: sucralfato, antiácidos e carbonato de cálcio): ocorre redução da absorção de levotiroxina no trato gastro-intestinal; deve-se separar a administração de medicamentos para o trato gastro-intestinal da administração da levotiroxina tanto quanto possível. 4- medicamentos indutores enzimáticos (ex: rifampicina, carbamazepina ou fenitoína, barbitúricos): aumentos no metabolismo tireoideano resultando em redução das concentrações séricas plasmáticas dos hormônios tireoideanos; em terapia de reposição hormonal devem necessitar de aumento nas dosagens do hormônio tireoideano se essas drogas forem administradas concomitantemente. 5- inibidores da protease: Houve relatos de perda de efeito terapêutico da levotiroxina quando usado concomitantemente com lopinavir / ritonavir; os sintomas clínicos e os testes de função da tiróide deverão ser cuidadosamente monitorados em pacientes em tratamento com levotiroxina e lopinavir / ritonavir concomitantemente. 6- sais de ferro: o sulfato ferroso reduz a absorção da levotiroxina do trato gastro-intestinal; deve-se separar a administração de sais de ferro da administração da levotiroxina tanto quanto possível. 7- Estrógenos (ex: contraceptivos orais): aumentam a ligação da tiroxina, levando a erros de diagnósticos e tratamentos. Os alimentos podem interferir com a absorção da levotiroxina. Assim recomenda-se a administração de PURAN T4 com estômago vazio (1 hora antes ou 2 horas após o café da manhã ou ingestão de alimento), a fim de aumentar sua absorção. REAÇÕES ADVERSAS: Em geral, as reações adversas da levotiroxina estão associadas a uma dosagem excessiva e correspondem aos sintomas do hipertireoidismo. Podem ocorrer: taquicardia, palpitações, arritmias cardíacas, dor de angina, dor de cabeça, nervosismo, excitabilidade, insônia, tremores, fraqueza muscular, cãibras, intolerância ao calor, sudorese, fogachos, febre, perda de peso, irregularidades menstruais, diarréia e vômito. Tais efeitos geralmente desaparecem com a redução da dosagem ou suspensão temporária do tratamento. Ocorrem também reações alérgicas, tais como rash e urticária. POSOLOGIA E MODO DE USAR: Os comprimidos de PURAN T4 devem ser ingeridos com estômago vazio (1 hora antes ou 2 horas após o café da manhã ou ingestão de alimento), a fim de aumentar sua absorção.As doses administradas de PURAN T4 (levotiroxina sódica) variam de acordo com o grau de hipotireoidismo, a idade do paciente e a tolerabilidade individual. A fim de se adaptar a posologia, é recomendável antes de iniciar o tratamento efetuar as dosagens radioimunológicas do (T3), (T4) e do TSH. Hipotireoidismo: PURAN T4 (levotiroxina sódica) deve ser administrado em doses baixas (50mcg/dia) que serão aumentadas de acordo com as condições cardiovasculares do paciente. Dose inicial: 50 mcg/dia, aumentando-se 25mcg a cada 2 ou 3 semanas até que o efeito desejado seja alcançado. Em pacientes com hipotireoidismo de longa data, particularmente com suspeita de alterações cardiovasculares, a dose inicial deverá ser ainda mais baixa (25mcg/dia). Manutenção: recomenda-se 75 a 125mcg diários sendo que alguns pacientes, com má absorção, podem necessitar de até 200mcg/dia. A maioria dos pacientes não exige doses superiores a 150mcg/dia. A falta de resposta às doses de 200 mcg/dia, sugere má absorção, não obediência ao tratamento ou erro diagnóstico. Supressão do TSH (câncer de tireoíde) / nódulos / bócios eutireoidianos em adultos: dose supressiva média de levotiroxina (T4):2,6 mcg/kg/dia, durante 7 a 10 dias. Essa dose geralmente é suficiente para obter normalização dos níveis séricos de T3 e T4 e falta de resposta à ação do TSH. A levotiroxina sódica deve ser empregada com cautela em pacientes com suspeita de glândula tireóide autônoma, considerando que a ação dos hormônios exógenos pode somar-se aos hormônios de fonte endógena. Posologia para crianças: No recém-nascido, a posologia inicial deverá ser de 5 a 6 mcg/kg/dia em função da dosagem dos hormônios circulantes. Na criança a posologia deve ser estabelecida em função dos resultados das dosagens hormonais e em geral é de 3mcg/kg/dia. Para as crianças com dificuldades de ingerir os comprimidos, estes devem ser triturados e dissolvidos em pequena quantidade de água e administrada em colher ou conta-gotas. Os comprimidos triturados podem também ser administrados com pequenas quantidades de alimentos. A suspensão preparada não pode ser guardada para uso posterior. Pacientes Idosos: No idoso a integridade do sistema cardiovascular pode estar comprometida. Por isso, neste paciente a terapia com PURAN T4 (levotiroxina sódica) deve ser iniciada com doses baixas, como por exemplo: 25-50 mcg/dia. APRESENTAÇÕES: Caixas com 28 ou 30 comprimidos com 25, 50, 75, 88, 100, 112, 125, 150, 175, 200 microgramas. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. M.S.; 1.1300.1023. Farm. Resp.: Antônia A. Oliveira CRF-SP 5854 Data de revisão: 23/01/2012.“Para maiores informações antes de sua prescrição, favor ler bula completa do produto. PURAN T4® não deve ser administrado em casos de hipertireoidismo não-tratado. O uso concomitante de carbonato de cálcio reduz a absorção da levotiroxina. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO Um produto. A Referência. BR-LET-12.03.06 Março/2012 1 1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lista de medicamentos de referência: atualizada em 27/03/2009. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. [acesso em 2012 Jan 19]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/referencia/lista.pdf