A biblioteca pública como parceira na educação continuada e aprendizagem vitalícia Palestrante: Bárbara Lison, Bremen Tradução: Ana Teresa Vianna de Figueiredo Sannazzaro 1 - Oferta pública de informação como contribuição fundamental para a sociedade civil 2 - Aprendizagem vitalícia como premissa de qualificação para o futuro 3 - A biblioteca atuando na moderna sociedade do conhecimento 4 - Considerações do moderador Prof. Dr. Fernando Modesto Seminário: Sociedade da informação – Um novo paradigma para bibliotecas 1 - Oferta pública de informação como contribuição fundamental sociedade para a civil Os cidadãos de uma nação têm sua existência assegurada por meio da administração pública e autoridades bem como da força política da nação. Ao lado da salvaguarda da existência meramente física e das necessidades básicas materiais das pessoas, o Estado é obrigado a prover a educação e a formação dos cidadãos. Na moderna sociedade de informação, na qual informação tornou-se um bem importante e valioso, ou até mesmo uma mercadoria, o Estado deve sentir-se igualmente responsável por promover o livre acesso à informação para seus cidadãos. O direito ao conhecimento é parte fundamental da dignidade humana e constitui a base da cidadania na sociedade de informação. Sem o livre acesso às informações e ao conhecimento não há desenvolvimento de uma ordem social democrática e de uma sociedade civil responsável. Neste contexto, em uma democracia estável, que pressupõe a possibilidade de independência pessoal, os seguintes aspectos devem estar garantidos: • Prestadores de serviços de informação neutros, organizados pela sociedade civil e entidades públicas • Disponibilização de informações públicas indispensáveis para o exercício da cidadania • Acesso às fontes informacionais – comprovação da confiabilidade das informações. Deve ser levado em conta, também, que um alto grau de informação e conhecimento é um dos mais importantes fatores do desenvolvimento de uma nação. O livre acesso à informação é um dos fatores fundamentais para se atingir o mais alto grau possível de educação formal da população, que por sua vez é decisivo no mundo competitivo e no bem-estar de uma nação. Deve ser especialmente levado em consideração, o conteúdo do artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que diz: " Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras“. Neste contexto, o Estado tem a obrigação de assegurar a prestação de serviços civis e culturais, de forma que cada cidadão possa participar da sociedade de informação e do conhecimento com base neste princípio fundamental. Os princípios fundamentais compreendem os seguintes direitos: • o direito e a capacidade de transformar informação em conhecimento • o direito e a capacidade de conhecer seus direitos como cidadãos • o direito e a capacidade de manifestação e criatividade • o direito ao livre acesso à informação • o direito ao sigilo de dados pessoais • o direito à proteção da propriedade intelectual (direito autoral). Para a concretização destes direitos fundamentais, o Estado se serve de vários prestadores de serviços, instituições e também de bibliotecas. Bibliotecas têm, por um lado, a missão pública da segurança e da guarda da herança cultural, por outro, têm a tarefa de prestar serviços adequados aos cidadãos. Estes serviços de informação devem ser prestados através da oferta igualitária de mídias impressas e fontes digitais. A exclusão de cidadãos e também de regiões pode ser evitada, já que os serviços relevantes para a sociedade de informação devem estar disponíveis a todos indistintamente. 2 - Aprendizagem vitalícia como premissa para o futuro O livre acesso à informação é fundamental para a participação no desenvolvimento moderno e na sociedade do conhecimento. A qualificação para o futuro dos indivíduos e também de uma nação, depende diretamente da capacidade de aprendizagem dos cidadãos e das ofertas disponíveis. O livre acesso à informação é, naturalmente, essencial quando o cidadão quiser ampliar e desenvolver seu próprio padrão de conhecimento – hoje, fala-se na União Européia sobre o fenômeno de aprendizagem vitalícia. É importante que pessoas que queiram adquirir novos conhecimentos que o possam fazê-lo não apenas nos canais institucionais formais como escolas, faculdades ou outras instituições educacionais, mas que outras oportunidades sejam oferecidas. Bibliotecas públicas são estes locais, onde é possível o aprendizado sem que se tenha de freqüentar um curso ou inscrever-se para um treinamento. Bibliotecas públicas oferecem um variado espectro de materiais didáticos para utilização local ou domiciliar. A utilização da Internet em uma biblioteca pública é um fator essencial no incentivo aprendizagem vitalícia. Não apenas disponibilizar aparelhos e conexões, mas o apoio ativo da utilização efetiva da WorldWideWeb através da equipe de bibliotecários representa um enorme auxílio à pesquisa através da Net e na localização do conteúdo desejado. Bibliotecas com seus acervos e com especialistas treinados em informação e pesquisa têm aqui um papel essencial. 3 - A biblioteca pública atuando na moderna sociedade do conhecimento Como está o acesso à informação e as possibilidades de aprendizagem vitalícia na Alemanha? Vamos dar uma olhada especial em uma instituição que tem uma atuação importante neste contexto: a biblioteca pública. Bibliotecas públicas são instituições da esfera municipal de uma cidade. São quase que totalmente financiadas pelas verbas municipais. O Conselho de uma cidade decide os objetivos estratégicos das bibliotecas públicas e controla a execução. As bibliotecas públicas celebram um contrato com as comunidades, que deriva do artigo 5 da Constituição alemã sobre a liberdade de informação e conhecimento: „Liberdade de expressão, de informação, de imprensa, de criação artística e científica. (1) Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente a sua opinião pela palavra, pelo escrito e pela imagem, bem como o direito de se informar, sem impedimentos, por meio de fontes acessíveis a todos. São garantidas a liberdade de imprensa e a liberdade de informação por radiodifusão e filme. Não haverá censura. „ Além disso, cumprem uma função na obrigatoriedade das comunidades pelo bem estar social, aqui se trata especialmente de bem estar cultural. Apenas poucas comunidades fixaram os objetivos das bibliotecas públicas em estatutos. Em Bremen isto ocorreu, tendo a Câmara Municipal promulgado uma lei municipal na qual os objetivos e as tarefas da biblioteca municipal de Bremen estão explicitamente descritos. Na lei está fixado que a biblioteca municipal é uma instituição prestadora de serviços que deve assegurar o acesso público à cultura e informação para toda a população e mediar a geração de conhecimento para a vida diária. Ela é importante fator de geração de capital humano ao lado das instituições de ensino formal qualificadas – na Inglaterra as bibliotecas públicas também são chamadas de „Streetcorner Universities“ – universidades da esquina. A moderna biblioteca pública alemã presta serviços integrados, isto é, não há mais uma grande fronteira entre as classificações dos assuntos específicos. Até mesmo a separação tradicional entre acervos infantis e adultos está sendo paulatinamente suprimida. Cada vez mais há limites fluidos, também no que concerne à forma física das mídias. A forma física da mídia – livro impresso, dvd ou internet não é mais uma característica – a tendência é de um acervo que se caracteriza pela palavra "seamless" – sem costura, como se diz em um neologismo alemão e que permeia também o trabalho nas bibliotecas públicas. Decisivo é o conteúdo, isto significa ir de encontro às necessidades, exigências e interesses dos clientes. Os bibliotecários alemães chamam este conceito de "biblioteca voltada ao cliente". Uma comprovação de que este procedimento e esta concepção é um sucesso, é a reação extremamente positiva dos clientes. Como os produtos das bibliotecas públicas na Alemanha são realmente aceitos, pode ser comprovado por números expressivos: Nas bibliotecas públicas da Alemanha foram emprestadas um total de 330 milhões de mídias no ano de 2003. Com cerca de 4,6 milhões de horas de abertura ao público, isto resulta em 72 empréstimos por hora – quer dizer – mais de um empréstimo por minuto. Cada alemão empresta em média 4 mídias por ano. O número de visitantes está em cerca de 102 milhões, segundo as estatísticas. O real volume de utilização da prestação de serviços digitais nas bibliotecas públicas alemãs é difícil avaliar em nível federal atualmente, mas algumas bibliotecas registram o acesso externo à sua página em centenas de milhares por ano. No total, estes números impressionantes atestam que bibliotecas públicas são prestadores de serviços altamente freqüentados. Como se desenvolveu o papel das bibliotecas públicas desde que surgiu o fenômeno sociedade da informação com a disseminação da Internet e de outros meios eletrônicos de informação? Aqui são nomeados alguns pontos principais: Primeiramente, é lógico que houve uma considerável mudança na política dos acervos das bibliotecas. Enquanto que até os anos 80 as bibliotecas públicas colecionavam apenas material impresso, hoje as mídias eletrônicas são até 20% do total. A oferta de bancos de dados em rede e acesso à internet aumenta continuamente – na biblioteca municipal de Bremen há 79 terminais públicos para internet, que estão à disposição dos clientes durante 23 mil horas de abertura da biblioteca. Isto é apenas o começo em comparação com os países vizinhos desenvolvidos. Nas bibliotecas públicas inglesas a relação de no mínimo 6 acessos públicos à Internet por 10.000 habitantes em 2004 deve se tornar padrão – isto seria, por exemplo, 300 terminais na biblioteca de Bremen. Entretanto, também a Grã-bretanha ainda não atingiu esta meta tão ambiciosa quanto perspicaz. Ao lado de informações esparsas, estão disponíveis aos clientes textos integrais de livros. Os direitos autorais têm um papel importante nestes acervos digitais, sendo que apenas obras que não mais possuem direitos de copyright se encontram nas bibliotecas digitais. A mistura de mídias, acima descrita, é uma característica típica de uma biblioteca moderna – fala-se sobre o conceito de biblioteca híbrida, que tenha acervo físico e eletrônico. Hoje em dia a discussão se a internet irá substituir o livro impresso já está desatualizada pois chegou-se à conclusão que cada forma de suporte informacional têm sua utilização. O papel das bibliotecas sempre foi de tratamento da informação – antigamente apenas de material impresso: • colecionar, • processar tecnicamente, • mediar Hoje, utiliza-se a competência em processamento técnico e mediação da informação também para tratamento e mediação da informação oriunda de fontes informacionais digitais, que impede a sobrecarga pelo elevado volume de dados disponíveis. A selva informacional é um fenômeno da sociedade de informação, que faz com que pessoas inexperientes afundem neste oceano de dados. As bibliotecas oferecem sua competência para a gerência do conhecimento e da informação desordenada. Elas oferecem auxílio e apoio na navegação através da avalanche de dados. As bibliotecas públicas também desenvolvem produtos eletrônicos próprios e serviços que podem ser utilizados no local ou remotamente online aos clientes. Em resumo, alguns pontos essenciais das funções das bibliotecas públicas como parceiras para a educação continuada e aprendizagem vitalícia: 1º - As bibliotecas públicas têm a tarefa de cobrir as necessidades informacionais – também em forma digital - de todos os cidadãos, independente de sua situação financeira, da situação pessoal ou de sua escolaridade. 2º - As bibliotecas públicas contribuem para a competência informacional da população, na medida em que mediam o correto manuseio das modernas tecnologias da informação. Por outro lado, é seu papel mediar a utilização dos variados métodos e tipos de mídias e mostrar o caminho mais lógico de busca da informação. Também este método de „ Learning by doing “- aprender fazendo – é uma oportunidade de transmitir a competência mediática e demonstrar sua utilidade. 3º - Visto de modo geral, as bibliotecas públicas têm a função de local público de acesso às novas tecnologias e informações eletrônicas, nas quais os usuários podem acessar a internet. Neste contexto, equipamentos e periféricos modernos, bem como conexões de banda larga de alta velocidade são condições indispensáveis. 4º - Com sua oferta, as bibliotecas públicas permitem a realização do conceito aprendizagem vitalícia, fora das instituições educacionais clássicas. Elas criam uma atmosfera de aprendizagem estimulante, criativa e livre. Com esta função e bem aparelhadas, as bibliotecas públicas são importantes „stepping stones“ trampolins na sociedade de informação, contribuem para reduzir a exclusão digital e possibilitam a aprendizagem vitalícia 4 – Considerações do Prof. Dr. Fernando Modesto Colóquio Internacional “Sociedade da Informação: novo paradigma para as bibliotecas” São Paulo: 16 e 17 de Maio de 2005 Resumo final Fernando Modesto (moderador) Preâmbulo: Inicialmente, parabenizo os organizadores deste colóquio Aliança Francesa, Instituto Goethe, e Conselho Regional de Biblioteconomia 8ª região/SP), pela qualidade do programa apresentado e pela organização e o acolhimento oferecido. Congratulo, também, os palestrantes pelo elóquio de conhecimento e de idéias ofertadas aos presentes, despertando novos olhares à questão da informação e das bibliotecas. Na oportunidade, felicito o mais importante elemento deste evento, os participantes pela qualidade e o interesse demonstrado nas intervenções, riqueza de idéias e sugestões manifestadas. Neste sentido, a tarefa de elaborar um relato final do evento tornou-se especialmente difícil, uma pálida descrição de tudo que foi comentado, nestes dois dias. Além disto, o relato não deixa de ser subjetivo, por quanto se baseia em uma seleção de idéias expostas que se mostraram mais atrativas segundo minha interpretação pessoal. Introdução A sociedade da informação é o novo ambiente global estruturado sobre as tecnologias de comunicação e informação e cujos modus operandi está a se construir, desde meados dos anos oitenta do século passado, em todo o mundo. As apropriações das oportunidades ou dos benefícios desse ambiente estão sendo conduzidas e planejadas por diversos países observando-se questões industriais, econômicas, sociais, culturais, científicas e tecnológicas entre outras. Fato demonstrado pelo prof. Rainer Kuhlen ao abordar a questão da informação e conhecimento como um bem público ou privado, onde destacou as medidas jurídicas que regulam o acesso e uso da informação e a expansão dos controles de proteção da propriedade intelectual. Ademais, o conceito de sociedade da informação suscita interesses e discussões em diversos ambientes (acadêmicos e de mercado), envolvendo todos aqueles profissionais normalmente considerados como agentes e atores principais nesta sociedade; incluem-se aqui, portanto, nós bibliotecários, entre outros. As apresentações As palestras apresentadas teceram um panorama da construção da sociedade da informação européia, por meio de modelos de serviços de informação. Ao fragmentar os relatos apresentados, procedo a uma descrição linear de cada exposição por dia de apresentação. A programação do dia 16 de maio apresentou duas palestras no período da manhã e uma no período da tarde, assim expostas: Informação: bem público ou privado? - uma perspectiva global Na parte da manhã, a exposição inicial foi proferida pelo professor Rainer Kulhen. Bacharel em Filosofia, Ciência da Literatura e Sociologia. Professor-Doutor do Departamento de Ciências da Informação da Universidade de Konstanz. Suas pesquisas enfatizam a ética informacional, gestão do conhecimento e políticas da sociedade de informação. È titular na UNESCO-ORBICOM da cadeira de Comunicação para a Alemanha, além de membro da comissão alemã da UNESCO. Sua palestra teve como título: Informação: bem público ou privado? - uma perspectiva global, onde destacou que o conhecimento é base do novo paradigma tecnológico e conseqüente efeito sobre o setor econômico e industrial. Nesta nova matriz tecnológica, industrial e econômica se concentram a maioria dos produtos e serviços que atraem os investimentos capitalistas. Sobre o tema apresentado pelo professor, fica clara a necessidade de conhecermos mais sobre a Organização de Comércio Mundial (WTO), o Acordo Geral de Comércio de Serviços (GATS) e o Comércio relacionado aos aspectos de direitos da propriedade intelectual (TRIPS) é cada vez mais uma preocupação para as bibliotecas, na medida em que enquanto entidades vinculadas ao serviço público, têm afetadas suas provisões financeiras. Uma leitura atenta do texto do Prof. Kuhlen, faz pensar quanto aos fatos tratados em tais organismos e que podem conduzir à privatização das bibliotecas, com os usuários tendo que pagar cada vez mais pelos serviços de informação. Certamente a globalização está contra o bem público e aos valores da gratuidade e liberdade dos serviços da biblioteca. A finalidade da Organização de Comércio Mundial é o de atuar na melhoria do comércio. Mas suas ações podem resultar na retirada de subsídios de governo para serviços públicos com reflexos na erosão dos padrões de serviços e de qualificações profissionais. Sobre o tema, uma boa indicação de leitura para aprofundar a questão apresentada na palestra é o livro Globalisation, Information and Libraries: The Implications of the World Trade Organisation's GATS and TRIPS Agreements (Chandos Series for Information Professionals) . As bibliotecas e o acesso ao público dentro do PNLL A segunda palestra focou a política de leitura do governo federal. Foi apresentada pelo Sr.Galeno Amorim, jornalista, com pós-graduação em Educação e Marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Ex-secretário da Cultura da cidade de Ribeirão Preto – SP, onde implantou o Programa “Ribeirão das Letras”. Foi vice-presidente do Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e Caribe – CERLALC, vinculado a UNESCO. Atualmente é Coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura do Ministério da Cultura. Sua palestra teve como título: “As bibliotecas e o acesso ao público dentro do PNLL”. Na oportunidade expos a política nacional do livro e da leitura que visa implementar estratégias para o desenvolvimento nacional e da cidadania. Destacou o atual cenário do país no qual se observa: baixo índice de leitura, analfabetismo funcional, grande número de municípios sem bibliotecas afetando 14 milhões de brasileiros, existência de uma rede de bibliotecas em situação precária, descontinuidade de ações políticas. Embora, o programa apresente o esforço do atual governo em minimizar uma triste realidade educacional e cultural, também demonstra o nível de atraso em termos de desenvolvimento das bibliotecas públicas e das bibliotecas escolares se comparado com as experiências apresentadas pelos modelos de bibliotecas europeus. No cenário brasileiro, os desafios para a comunidade bibliotecária são enormes, a começar por assumir um papel mais ativo na apresentação de propostas e alternativas que superem a contínua falta de recursos ou de exclusão das prioridades dos gestores públicos. Utopia informacional No período da tarde, o tema tratado pelo professor Armand Mattelart, teve o por título “Utopia informacional”, um alerta à comunidade da informação sobre a necessita de resgatar sua utopia para este ambiente da Sociedade da Informação. O professor Mattelart é bacharel em Sociologia, professor doutor de Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Paris VIII. É presidente do "Observatório Francês das Mídias", autor de vários livros, sendo alguns traduzidos para o português, como: "História das Teorias da Comunicação"; “História da Sociedade da Informação” (Ed. Loyola); “Para ler o Pato Donald” (Ed. Paz e Terra); "A Globalização da Comunicação" (Ed. EDUSC). Em sua palestra, refletiu sobre a noção de sociedade global da informação na sua gênese e fazendo emergir os projetos contrastantes de sociedade que se confrontam nos debates internacionais a esse respeito. Lembrou-nos da necessidade de se adotar uma postura mais critica ao se olhar este momento de mudança. Destacou a importância de outros ângulos de visão ou opinião que não se baseie apenas no otimismo fácil que normalmente retrata o ambiente da sociedade da informação, gerando a euforia da tecnofobia. Salientou que é necessário questionar a promessa do mundo novo de solidariedade e de democracia. Assim como, o professor Reiner Kulen destacou a estrutura econômica que se fundamenta na apropriação do conhecimento, o professor Mattelart enfatizou que a ideologia que envolve esta sociedade de informação é a lógica de mercado; um capitalismo digital e neoliberal. Na sua análise ficou a observação de que a propalada liberdade de informação ou a liberdade de expressão dos cidadãos é substituída pela liberdade de expressão comercial. Palestras do dia 17 de março Nas exposições de Bárbara Lison, Gérald Grunberg e Patrick Bazin, somos indiretamente lembrados que em nosso país, as bibliotecas públicas é, ainda, uma realidade frágil e vivendo uma busca contínua de afirmação. Isto, apesar dos programas públicos existentes de valoração da leitura e do livro, mas que dão real valor a necessidade de haver profissional capacitado e/ou especializado: bibliotecário. Os recursos disponíveis em nossas bibliotecas se comparados com os recursos dos colegas europeus, são muito reduzidos para não dizer inexistente. As exposições apresentadas neste dia estão assim resumidas: A biblioteca pública como parceira na educação continuada e aprendizagem vitalícia A exposição inicial foi realizada pela Sra. Bárbara Lison, bacharel em história, filologia eslava e pedagogia. Membro do grupo de especialistas do Projeto 2007, que apoiado pela Fundação Bertelsmann desenvolveu conceitos e diretrizes para a biblioteca do futuro. È, atualmente, diretora da Biblioteca Pública de Bremen, que participa no desenvolvimento de projetos inovadores, entre eles, "Mulheres na Rede", a "Biblioteca Virtual Alemã" e "Rede de aprendizagem em Bremen", em cooperação com outras instituições locais e regionais para a educação continuada, apóiam a mediação do conhecimento e o desenvolvimento de uma nova cultura do aprendizado. Sua palestra “A biblioteca pública como parceira na educação continuada e aprendizagem vitalícia”, enfocou a questão da oferta de informação como contribuição fundamental para a sociedade civil. Neste sentido, salientou que: “o Estado é obrigado a prover a educação e a formação dos cidadãos. Na moderna sociedade de informação, na qual informação tornou-se um bem importante e valioso, ou até mesmo mercadoria, o Estado deve sentir-se igualmente responsável por promover o livre acesso à informação para os cidadãos”. Salientou, ainda, “o direito ao conhecimento é parte fundamental da dignidade humana e constitui a base da cidadania na sociedade de informação”. Seus comentários deveriam ser gravados e remetidos aos nossos líderes políticos que teimam olhar o cidadão como um índice de superavitis econômicos em detrimento aos superavitis sociais. Em sua exposição, apresentou o conceito de aprendizagem vitalícia aplicada nos serviços da sua biblioteca. Aspecto útil ás pessoas que queiram adquirir conhecimentos novos independentemente do uso de canais formais (escolas, faculdades ou outras instituições educacionais) e as bibliotecas são estes locais de aprendizado não formal. Destacou que a Internet desempenha um papel importante nesta nova dinâmica formativa. Neste sentido, quem sabe, quando as nossas bibliotecas públicas em sua maioria, possam contar com gestores políticos sensíveis e preocupados em prover com infra-estrutura básica que permitam o cumprimento da missão de promover o acesso pleno a informação à sociedade paulista. Bem aparelhadas, as bibliotecas tornam-se importantes trampolins para a sociedade de informação, contribuindo para reduzir a exclusão digital e atuando como efetivo espaço de aprendizagem vitalícia. TIC e bibliotecas : o exemplo da Bpi do Centro Georges Pompidou A segunda palestra da manhã foi proferida pelo Sr. Gérald Grunberg. Bacharel em Filosofia pela Universidade de Paris-Sorbonne e em Biblioteconomia pela Escola Nacional Superior de Ciências da Informação e de Bibliotecas. É diretor da Biblioteca Pública de Informação (Bpi), do Centro Georges Pompidou. A biblioteca é reconhecida por seu papel pioneiro quanto ao acesso à Internet e dotada de um serviço eletrônico de informação à distância. Sua palestra teve por título “TIC e bibliotecas: o exemplo da Bpi do Centro Georges Pompidou”. Procurou fornecer uma visão sobre o papel dos grandes estabelecimentos públicos na sociedade da informação. Apresentou um breve histórico da criação da biblioteca, instituída em 1977. Discorreu sobre a estrutura de serviços e de acervo, salientando a sua missão de facilitar o acesso e o uso da informação. Neste aspecto, destacou alguns dados (compilados resumidamente): A freqüência diária é de 6000 usuários/dia (representando 2 milhões de entradas por ano); O volume de consultas diárias representa 8.500 livros e periódicos, 500 filmes e discos; 2.600 recursos eletrônicos; 600 acessos livres à internet. O acervo da biblioteca é composto de: 350.000 livros; 2.400 periódicos; 1.200 documentos eletrônicos; 200 filmes; 1.4000 discos. Além do acervo e da freqüência, a biblioteca oferece prestação de serviços: locais e à distância. É justamente, neste aspecto, que ela cria uma diferença. Em seus espaços são oferecidos serviços de: catálogo em linha, programa de eventos, colóquios virtuais, atendimento de pergunta e respostas à distância. Entre os serviços oferecidos foram citados: Pesquisa-emprego: ofertas de oportunidades, guias práticos; anuários profissionais; Autoformação: treinamento, aprendizagem de línguas; iniciação; aperfeiçoamento; Musical e de documentos falados (especializado em música): discos compactos; filmes sobre música, livros, periódicos, partituras; Artigos de Imprensa (mundo artístico e cultural); Serviços para deficientes visuais; Internet livre e gratuita (40 minutos p.p.). Dos serviços oferecidos, o atrativo maior é o da auto-aprendizagem em línguas com predominância para o francês. O público usuário é heterogêneo, muitos estrangeiros o que motiva o interesse. Após realçar as características da biblioteca, o palestrante destacou que a tecnologia de comunicação e informação é uma complementação das atividades realizadas. Deve atuar como um recurso de atração ao ambiente da biblioteca. Observou que a biblioteca não deve competir com a tecnologia, leia-se Internet. Comentou a existência de uma crise nas bibliotecas públicas, decorrente da diminuição de usuários e conseqüente perda de espaço social. A alternativa é buscar uma mudança de paradigma com a biblioteca transformando-se em um espaço de validação de conteúdos. A situação apesar de delicada, tem seu lado positivo, obriga a uma ação contra o imobilismo. Ainda em relação à Biblioteca, destacou questões financeiras. Apesar de apresentar custos menores de manutenção que outras atividades como: Museus, Teatro e Ópera, ela não se encontra, entretanto, em situação confortável. Aspectos que decorrem, entre outros motivos dos custos da informação; custos da infra-estrutura; a individualização da oferta e a lógica de proteção da propriedade, gastos com a informática, tecnologia, superando gastos com o acervo. A biblioteca mutante A exposição no período da tarde foi iniciada pelo Sr. Patrick Bazin, bacharel em Filosofia, diretor da Biblioteca Municipal de Lyon, onde inaugurou, recentemente, um “balcão do saber” (serviço eletrônico de informação), por ocasião da realização de um seminário europeu sobre “A informação à distância personalizada e os serviços online que propõem aos usuários uma resposta direta às suas necessidades de informação”. O serviço oferece atendimento a qualquer questão, atendidas em um prazo de 72hs. O palestrante é autor de inúmeros artigos sobre o futuro das bibliotecas na era digital. Em sua exposição que teve como título “A biblioteca mutante”, assinalou como o papel essencial da biblioteca pública a constituição de um “espaço público de saber”, e destacando como um dos seus principais desafios na era digital, continuar a fazer ouvir “a voz do interesse geral”. Neste sentido, o serviço citado anteriormente é um exemplo. Comentou a experiência da Biblioteca de Lyon que se insere dentro de um contexto histórico e de significado da cidade de Lyon. A Biblioteca remonta ao século IX, sendo uma das primeiras da Europa a reunir manuscritos dos "copistas" da Idade Média. Salientou que "Lyon está para a Sociedade da Informação (num determinado momento) assim como o Vale do Silício está para a Informática". Justificou o fato, citando que Rabelais publicou suas obras em Lyon; os irmãos Lumiére desenvolveram os avanços na técnica da fotografia e, depois, a invenção do cinema; a fotocomposição foi inventada em Lyon. Destacou que o livro não é mais o centro da cultura. As bibliotecas estão confrontadas a um movimento de “bibliotecarização do mundo (Internet)”. Indagou como elas podem continuar a existir neste contexto. O processo atual é de mutação digital, a intertextualidade da escrita. O que se escreve na Internet é fonte de interação permanente e de dinâmica textual. A memória cultural baseada em suportes de memória, esta em constante transformação. Há um déficit de memória por conta da supersaturação de textos, tudo é descentralizado. O processo de ler se faz em metaleitura, sem profundidade, aprendendo a saltar seqüência ou seguir caminhos independentes. Dispositivos informacionais dialógicos e a participação na sociedade da informação A última exposição do evento foi apresentada pela Sra. Ivete Pieruccini Faria, bacharel em Biblioteconomia e Documentação, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Mestre e Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Pesquisadora vinculada ao PROESI – Programa serviços de Informação e Educação e ao Fórum de Infoeducação da ECA/USP. Foi diretora geral da Rede de Bibliotecas Infanto-Juvenis, da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Sua exposição teve como título “Dispositivos informacionais dialógicos e a participação na sociedade da informação”, enfocou a questão da apropriação da memória social, universal e local, que não depende somente do acesso a conteúdos, mas, sobretudo, da apropriação dos dispositivos de informação. Na sua apresentação a conferencista buscou apresentar os elementos constitutivos de uma ordem informacional dialógica em dispositivos de informação constituído numa escola da cidade de São Bernardo do Campo, objeto de seu trabalho de pesquisa acadêmica. Na oportunidade, demonstrou o ambiente de informação inserido na infra-estrutura escolar, destacando os equipamentos, os mobiliários, os recursos e os serviços colocados à disposição da comunidade estudantil e docente. Além de destacar a formação de um ambiente de atração do público para apropriação do espaço como citado em sua análise. Sua proposta estimular a existência de um ambiente de informação construtivo no espaço de ensino. Conclusão O evento não se finalizou, ao contrário, gerou um novo espaço de reflexão para a comunidade bibliotecária paulista e brasileira a ser mantida pelo Conselho Regional de Biblioteconomia e as instituições consulares promotoras. Cria-se um ambiente de intercâmbio proveitoso de experiências reais, em especial européias que sinalizam tendências da atividade bibliotecária. Embora, questões conceituais fossem enfocadas como jus à própria nomenclatura do colóquio “Sociedade da Informação”, evidenciou-se a preocupação de construir uma biblioteca que seja atrativa para uma sociedade muito mais estimulada para o uso das tecnologias de comunicação e informação (Internet). Este foi um destaque nas exposições dos palestrantes Grumberg e Lison ao comentarem as características que de certa forma as bibliotecas precisam desenvolver para se manterem atrativas a uma diversidade de público. Ao olharmos, no Brasil, para a maioria das nossas bibliotecas, observa-se que precisam reformar-se. Precisam buscar uma maneira de serem mais atrativas para uma comunidade que não dispondo de uma cultura livresca ou de leitura, da um salto direto para o ambiente digital. Neste aspecto, a biblioteca precisa ser mais sexy ao olhar do público, ampliando a noção de que não só a leitura deva ser prazerosa, mas também a busca da informação nos ambientes de informação. Em relação às recomendações, o grande interesse despertado junto à comunidade profissional indica a necessidade de manutenção desta parceria institucional e a continuidade da temática para reflexão e absorção das idéias. Nota sobre o moderador Fernando Modesto: Bacharel em Biblioteconomia e Documentação e Mestre em Biblioteconomia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUCAMP/SP. Doutor em Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Professor-doutor do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP. Presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia de São Paulo (1991 -1993); Presidente do CFB (2000 - 2002). Autor das monografias: "Microinformática em bibliotecas das universidades públicas do Estado de São Paulo: um estudo exploratório", (Campinas, PUCCAMP, 1989); "A ambientação da microinformática nos serviços bibliotecários", (Osasco, FIEO, 1997); "Internet - Biblioteca - Comunidade Acadêmica: conhecimentos, usos e impactos; pesquisa com três universidades paulistas (UNESP - UNICAMP USP)”, (São Paulo, USP, 2002).