Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial ESTUDO RELATÓRIO DE CONCLUSÕES DE DIAGNÓSTICO “PROGRAMA PI PROTEGER INOVAÇÃO” Índice I. II. III. Preâmbulo Enquadramento Caraterização socioeconómica Enquadramento geográfico, demográfico e social Dinâmica empresarial Principais áreas de atividade territorial Oferta científica e tecnológica Projetos estruturantes e investimento em I&D Inovação empresarial Importância da Propriedade Industrial neste contexto IV. Estudo Âmbito territorial de incidência Objetivos da análise efetuada Metodologia adotada Caraterização da amostra Apuramento de dados Análise e avaliação de resultados Conclusão V. VI. Áreas de intervenção e linhas de orientação do projeto “PI PROTEGER INOVAÇÃO” Epílogo Bibliografia 1 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial I. PREÂMBULO Portugal ao longo dos séculos sempre foi um país Inovador. Vários são os exemplos conhecidos por todos nós. Num Mundo cada vez mais global, com fronteiras mais esbatidas, onde a velocidade que flúi a informação é astronómica, a Inovação, na vertente da propriedade industrial, terá que ser acautelada, sob pena de ser copiada, perdendo-se assim, todas as vantagens competitivas que ela nos pode trazer. A propriedade industrial visa a protecção de invenções (Patentes e Modelos Industriais), de criações estéticas (Desenhos ou Modelos) e dos sinais distintivos do comércio (Marcas e Logótipos) sendo que se trata de proteger importantes activos intangíveis. Este tipo de direitos são concedidos para determinados territórios, ou seja, são válidos em determinados países ou zonas geográficas. Desde sempre as empresas portuguesas, de uma forma geral, aderiram pouco a estes conceitos, dando reduzida importância à propriedade industrial, uma vez que a nossa economia esteve pouco exposta à concorrência, não sentindo necessidade deste tipo de protecção. Honrosas excepções existiam. O sistema da propriedade industrial português era alimentado basicamente por empresas internacionais estrangeiras, que operavam num sem número de países, onde queriam que os seus direitos fossem protegidos. Com as alterações drásticas e rápidas que temos vindo a sofrer na nossa economia, as empresas começaram a sentir uma necessidade premente de colocar os seus produtos ou serviços nos mercados internacionais. Esta opção tem-se consolidado, tendo as nossas exportações crescido a taxas raramente vistas. A competitividade passou a ser determinante no dia a dia das empresas. Para além disso, as empresas portuguesas estão mais especializadas, com uma componente técnica ou tecnológica mais acentuada, sendo a capacidade inovadora a sua diferenciação, face à concorrência globalizada mais directa. Pelos motivos acima expostos, existe cada vez mais uma forte necessidade de o tecido empresarial aderir à propriedade industrial, em que esta deve ser considerada não um custo, mas sim uma rubrica de investimento. No tocante aos centros de conhecimento, onde incluímos as Universidades, estes começam a estar cada vez mais sensibilizados à necessidade de defenderem melhor o seu trabalho inventivo e inovador. Pena é que, em muitos casos, a necessidade de mostrarem resultados, leve a que os seus projectos sejam extemporaneamente divulgados, perdendo-se, assim, a possibilidade de os proteger. O próprio Estado, tanto a nível central, como regional ou municipal, tem começado a dar sinais positivos, tornando-se um utilizador deste sistema da propriedade industrial. 2 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Os indicadores estatísticos nacionais corroboram esta análise. No entanto, há que fazer uma avaliação concreta. Com esse objectivo, no âmbito do SIAC INOVEMPREENDE, a Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI) está a desenvolver um projecto intitulado “PI PROTEGER INOVAÇÃO” e que visa fazer uma análise sobre a importância da utilização do sistema da propriedade industrial nas regiões especificas do Centro (Castelo Branco) e do Alentejo (Évora e Portalegre). Caem ainda dentro dos propósitos deste programa, a promoção de acções de sensibilização necessárias para colmatar as lacunas detectadas, bem como, a elaboração de ferramentas de apoio aos potenciais utilizadores deste domínio, nas áreas geográficas definidas, envolvendo as entidades de natureza associativa empresarial, bem como os sistemas científico e tecnológico aí sedeados. O tecido empresarial dos Concelhos eleitos para o referido projecto, é caracterizado por ter um número esmagador de micro ou pequenas empresas dos sectores considerados tradicionais, onde cerca de 97% empregam menos de 10 trabalhadores, em linha com resto do país. Existem, também nesta zona, alguns pólos de conhecimento (estabelecimentos de ensino superior) e empresas das tecnologias da informação e comunicação (TIC), locais onde há um maior número de direitos de incidência tecnológica. Estamos a referir-nos fundamentalmente a Évora e à Covilhã, locais de investigação e desenvolvimento por excelência. Como base para este projecto, foi executado um diagnóstico da actividade empresarial no domínio da propriedade industrial, tendo sido inquiridas 4502 empresas. Destas, apenas 141 responderam validamente ao inquérito proposto, ficando demonstrado, de uma forma indelével, o pouco interesse e desconhecimento que esta matéria tem para as empresas da região eleita. Analisando os resultados às respostas válidas do inquérito, constata-se que 56% dos auscultados são detentores de direitos de propriedade industrial. Fruto da tentativa de internacionalização das empresas, verifica-se que 21% dos direitos de propriedade identificados já possuem um âmbito de protecção supranacional. Em termos do tipo de direitos protegidos, as respostas são esmagadoras: 98% são referentes aos sinais distintivos de comércio (marcas e logótipos). Outra das ilações importantes a tirar desde estudo prende-se com o facto apenas de cerca de 47% dos empresários inquiridos consideram a propriedade industrial como importante. Dos restantes, 38% não têm opinião formada sobre esta matéria e cerca de 15% dos empresários consideram-na “não relevante”. O estudo salienta, ainda, que alguma falta de conhecimento sobre a legislação e o sistema da Propriedade Industrial parecem estar na origem do panorama encontrado. Para colmatar esta lacuna, o presente estudo aponta várias pistas nesse sentido. 3 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial II. ENQUADRAMENTO O presente estudo constitui a resultante de uma das atividades do projeto “PI PTOTEGER INOVAÇÃO”, inserido no âmbito do SIAC INOVEMPREENDE, com um período de vigência entre 2013-2014 e coordenado pela Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI). Incidindo nas regiões Centro (Castelo Branco) e Alentejo (Évora e Portalegre), em parceria com entidades de natureza associativa empresarial, bem como dos sistemas científico e tecnológico aí sedeadas, poder-se-á afirmar que o projeto em apreço se desagrega em duas vertentes essenciais: em primeiro lugar, o levantamento e aferição do nível de importância e grau de utilização do sistema da propriedade industrial nesse âmbito geográfico; em segundo e com base nos dados coligidos, ações de sensibilização incidentes nas vertentes que apresentam maiores fragilidades e produção de ferramentas de apoio às empresas neste domínio. Tendo em consideração a importância das empresas de micro, média e pequena dimensão no cômputo global da economia portuguesa, enquanto fontes geradoras de emprego e precursoras de projetos inovadores, interessante se torna avaliar a proteção conferida aos resultados destes últimos e, consequentemente, aos ativos intangíveis que configuram, inseridos em estratégias de mercado competitivas. No que concerne à propriedade industrial e em traços globais, é sobejamente conhecida a pouca relevância que as empresas portuguesas lhe atribuem e consequentes danos para si próprias, bem como para a economia do país no seu todo. Quando enveredam por processos de internacionalização, opção crescentemente presente no seu horizonte, tais riscos acentuam-se consideravelmente. Indicadores estatísticos nacionais, referentes a 2012 (últimos disponibilizados pelo INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial) demonstram que e não obstante o contexto económico-financeiro adverso, esse foi um dos melhores anos em termos de pedidos de proteção de invenções em Portugal, registando um aumento de 4% face a 2011. No que concerne ao design, a tendência de crescimento persistiu, verificando-se um acréscimo de 5% no número de pedidos e de 30% em termos de objetos protegidos. A vertente de marcas, logotipos e outros sinais distintivos do comércio, por seu turno, acompanhou as caraterísticas da conjuntura económica, apresentando uma quebra na ordem dos 9%. Face aos dados ora explanados, ainda que de forma sintetizada e no âmbito do projeto PI PROTEGER INOVAÇÃO, importava conhecer o estado da arte nas já oportunamente mencionadas regiões de incidência do mesmo, tendo-se para o efeito concebido um diagnóstico da atividade empresarial neste domínio, enquanto importante ferramenta para a demonstração do seu posicionamento face ao sistema da propriedade industrial, para a perceção e avaliação do contributo que os direitos por essa via adquiridos trazem ou poderão vir a trazer às suas ambições de mercado, para a aquisição de competências que permitam equacionar estratégias nesta área e para a obtenção de informações respeitantes aos progressos realizados ou não pela respetiva concorrência. 4 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial III. CARATERIZAÇÃO SOCIOECONÓMICA ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO, DEMOGRÁFICO E SOCIAL Distrito de Castelo Branco Do ponto de vista da organização territorial, a região da Beira Interior inclui quatro NUT III (Serra da Estrela, Cova da Beira, Beira Interior Norte e Beira Interior Sul) coincidindo, em termos administrativos, com os distritos da Guarda e de Castelo Branco. Rica em contrastes físicos, a região possui como elemento fortemente distintivo um pólo territorial de continuidade fundamental, constituído pelo corredor urbano e socioeconómico de Castelo Branco, Fundão e Covilhã, designado por “Arco Urbano do Centro Interior”, centros urbanos que cedo se converteram em pontos nodais de estruturação territorial, concentrando funções de nível superior, como por exemplo Castelo Branco, um dos distritos de incidência do Projeto PI PROTEGER INOVAÇÃO. Do ponto de vista das acessibilidades inter e intrarregionais, os últimos anos têm sido palco de um considerável reforço, do qual cumprem destacar o IC8 (Sertã / Proença-a-Nova / Castelo Branco / Idanha-a-Nova / Monfortinho) e oIP2 (Mação / Vila Velha de Ródão / Castelo Branco / Covilhã/ Belmonte / Guarda / Celorico da Beira / Trancoso / Mêda / Vila Nova de Foz Côa), que propiciaram a ligação de importantes centros urbanos, prestando um inquestionável contributo para o desenvolvimento do interior do país. Em termos de infraestruturas aeroportuárias, Castelo Branco possui uma pista de aviação. No que concerne a recursos naturais e patrimoniais, cumpre referir, na vertente geológica, a faixa tectónica que atravessa a zona sul de Castelo Branco (solos de xisto e granito, com recursos minerais como o estanho, volfrâmio, tungsténio e urânio) cuja extração tem um significativo impacto na construção civil, bem como a riqueza dos de cunho hídrico, que promovem o desenvolvimento de atividades como sejam a produção de energia elétrica, o engarrafamento de água de mesa e o benefício de águas termais, como por exemplo as das termas de Monfortinho. 5 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Em matéria de recursos patrimoniais, históricos e arquitetónicos salienta-se a presença de vestígios de civilizações pré-históricas, de construções do período romano, bem como características manifestações da presença medieval patentes, entre outros distritos, no de Castelo Branco. A região concentra apenas 13% da população do centro do país, sendo Castelo Branco o distrito com mais elevado número de população residente (cerca de cinquenta e três mil indivíduos), não obstante e à semelhança dos demais, na senda de uma tendência de contornos nacionais, registe uma quebra efetiva na taxa de crescimento e inerente envelhecimento da sua população, ainda que se possa classificar como o distrito mais jovem de todo o interior centro português, fruto da sua capacidade de captação. DINÂMICA EMPRESARIAL O produto interno bruto da região equivale a cerca de 2,1% do total nacional, sendo de cerca de 1,4% a sua percentagem dos fluxos do comércio internacional em Portugal e de cerca 1,6% a taxa de emprego igualmente aferida no cômputo global. A atividade económica mais representativa desta região em termos de emprego é a agricultura, produção animal e silvicultura (36,7% do emprego total), seguindo-se a longa distância a construção civil (7,6%) e o comércio a retalho (6,1%). As atividades industriais, por seu turno, representam cerca de 23% do emprego total regional, com particular destaque para as seguintes: fabricação de têxteis (26,1%), indústria do vestuário (21,1%), indústria alimentar, bebidas e tabaco (19,3%), produção de produtos metálicos, maquinaria, equipamentos e aparelhos elétricos (10%). Das cerca de vinte e seis mil empresas sedeadas nos distritos da Beira Interior, 20% situam-se em Castelo Branco, sendo os setores de atividade económica mais representativos em termos empresariais, por ordem decrescente de importância, o comércio por grosso e a retalho, a construção civil, o alojamento e restauração, a agricultura, produção animal e silvicultura. A nível da indústria, o destaque vai para as indústrias alimentares, bebidas e tabaco, indústrias metalúrgicas de base e produtos metálicos, indústria têxtil e vestuário e indústria da madeira, cortiça e suas obras. PRINCIPAIS ÁREAS DE ATIVIDADE TERRITORIAL Até há cerca de três décadas, a atividade económica preponderante na Beira Interior era a de cariz primário, pautada por uma debilíssima ruralidade devida à pobreza dos solos e a ausência de movimentação em torno de outras, capaz de prender a população residente, deu origem a um acentuado movimento de emigração, de que Castelo Branco foi exceção, devido ao fato de ter tido a capacidade de incrementar uma dinâmica própria na indústria têxtil, alicerçada em reduzidos custos salariais. 6 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Paralelamente observou-se neste distrito o desenvolvimento do setor terciário, fruto da crescente urbanização verificada e da descentralização de alguns serviços públicos. A nível de especializações regionais, destacam-se os vinhos, os frutos, o azeite, os laticínios, os ovinos e os caprinos. As dinâmicas industriais desenvolveram-se sobretudo no eixo Guarda / Covilhã / Castelo Branco, com enfoque no setor têxtil, apresentando este último um importante concentração destas atividades. No que respeita à indústria de material elétrico e produtos metálicos, constata-se que em Castelo Branco a mesma se encontra intrinsecamente ligada à indústria automóvel e que a do frio se concentra neste distrito. OFERTA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA A região da Beira Interior apresenta, em termos de distribuição da população residente por nível de ensino, baixos índices de escolaridade. Em termos de educação básica e secundária, existe nesta região um conjunto de escolas profissionais e tecnológicas, como sejam a AFTEBI – Associação para a Formação Tecnológica e Profissional da Beira Interior, que visa a promoção e cooperação em ações de desenvolvimento regional e setorial, nomeadamente a formação tecnológica específica de jovens e profissionais integrados em empresas; o CILAN – Centro de Formação Profissional de Lanifícios, vocacionado para a dinamização e desenvolvimento de áreas técnicas ligadas ao sector têxtil e envolvendo, entre outras a componente de gestão informatizada e o design; o CIVEC – Centro de Formação Profissional para a Indústria do Vestuário e Confeções, onde e entre outras, a vertente de design e de tecnologias de informação e comunicação, se encontram patentes em diversos cursos. O patamar do ensino superior abarca apenas cerca de 7% da população, sendo de sublinhar o dinamismo e potencialidades conferidos pela UBI – Universidade da Beira Interior, enquanto propulsora de iniciativas empresariais, atendendo a que e através dos seus vários departamentos, injetam especialização tecnológica no território, dando especial atenção às necessidades e vertentes de oportunidade que a região vai manifestando. Para além desta instituição, impõe-se também uma referência para o não despiciendo papel desempenhado pelos Institutos Politécnicos de Castelo Branco e da Guarda, sobretudo em tecnologia e gestão. Neste enquadramento, a UBI destaca-se por apresentar o maior número de licenciados (cerca de 31% do total regional), seguida pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão da Guarda (13%), Escola Superior de Educação da Guarda (12%), Escola Superior de Saúde (10%) e Escola Superior Agrária de Castelo Branco (7%). Projetos estruturantes e investimento em I&D Ainda no que à UBI – Universidade da Beira Interior concerne, importa aqui referir o seu envolvimento em diversas atividades de investigação, com particular relevo para as que seguidamente se indicam. 7 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial É sobejamente conhecida e reconhecida a sua envolvência no domínio das TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação, na área das Ciências da Saúde, a sua integração numa rede de competências em Biónica sobre Ciências do Mar, a sua estreita ligação ao CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário, o crescente e relevante papel que vem sendo desempenhado pela sua OTIC – Oficina de Transferência de Tecnologia e de Conhecimento, a par do seu CAST - Centro de Ciência e Tecnologias Aeroespaciais, que se dedica à investigação e ao desenvolvimento tecnológico no domínio da aeronáutica e espaço. Não obstante a UBI seja a principal instituição da região da Beira Interior a desenvolver atividades de I&D, impõe-se salientar a importante presença do CITEVE nesta matéria, que tendo como missão o apoio ao desenvolvimento das capacidades técnicas e tecnológicas dos já recorrentemente mencionados setores têxtil e do vestuário, através do fomento e da difusão da inovação, constitui um aglutinador de estratégias de eficiência coletiva e como tal formalmente reconhecido. INOVAÇÃO EMPRESARIAL A crescente globalização das economias e a intensificação da concorrência, implicam o reforço da capacidade competitiva, utilizando como meio mais eficaz o conhecimento científico, permitindo incorporar no tecido produtivo fortes índices de desenvolvimento tecnológico. A criação e o desenvolvimento do empreendedorismo devem ser fomentados nas escolas secundárias e nas universidades, mediante a implementação de programas de promoção do espírito empresarial, tanto entre a comunidade docente, como entre a comunidade educanda, a par da eliminação de obstáculos burocráticos inerentes à criação de empresas, da facilitação no acesso a financiamento, do fomento à partilha de riscos entre o sector público e o privado, com o objetivo de desmistificar o persistente estigma da complexidade e do insucesso e valorizar o engenho empresarial. Nesta ótica, foi criado em 2001 o Parkurbis – Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã, S.A., envolvendo um conjunto de entidades que congregaram esforços no sentido de concretizar um projeto de dinamização da inovação e do empreendedorismo, conducente à transformação de apostas no domínio da investigação em realidades empresariais. Abriu-se, deste modo, a possibilidade de se desenvolverem novas indústrias na região, atraindo investidores nacionais e estrangeiros, proporcionando à indústria tradicional a aquisição de capacidade inovadora, diversificando e incrementando os equipamentos e tecnologias de fabrico, através da incorporação de novos avanços tecnológicos. Este parque, onde se encontram presentemente instaladas mais de três dezenas de empresas, representa um instrumento por excelência em matéria de promoção de um clima de inovação permanente, potenciando a transposição dos processos de conhecimento científico e tecnológico gerados nas instituições de investigação para o universo dos negócios. Os principais objetivos do Parkurbis passam por alimentar as condições para o desenvolvimento de novas atividades de base tecnológica, assegurando uma interligação dinâmica entre a UBI e o tecido empresarial, na perspetiva de aproximação da oferta de I&D das necessidades por aquele expressas. 8 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial As principais áreas empresariais presentes neste parque são a biotecnologia, as tecnologias da informação e comunicação, as energias renováveis, as comunicações, os novos materiais e a domótica. Pelo exposto, conclui-se que a Beira Interior é atualmente uma região do país onde, a par da presença de já referidos setores de atividades tradicionais, se vem assistindo nos últimos anos ao desenvolvimento de outras de cariz inovador, impulsionadas pela incorporação de qualidade e tecnologia. Centrando-nos concretamente no distrito de Castelo Branco, constata-se que este tem sofrido uma acentuada modificação, tendo passado de um centro urbano dotado essencialmente de equipamento e funções administrativas, com pouca atratividade ao nível de fixação de pessoas e emprego, para um centro urbano polarizador de indivíduos e de atividade económica, traduzido na dinâmica de criação de emprego, localização de novos serviços, desenvolvimento de zonas industriais, instalação de instituições de ensino superior, implantação de grandes unidades fabris no sector de produtos metálicos e maquinaria. IMPORTÂNCIA DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL NESTE CONTEXTO Traçada a caracterização ainda que sumária da região em análise sob vários prismas e tendo em consideração o pendor evolucional pelo qual se vem pautando o seu desenvolvimento, a forte aposta em inovação, I&D e tecnologia, é inquestionável a importância que o sistema da propriedade industrial, aferido na sua globalidade, assume neste contexto. A identidade de estabelecimentos conferida pelo logotipo, a distintividade que a marca atribui a produtos e serviços onde é aposta face a outros similares oferecidos pela concorrência, a diferenciação incutida pela incorporação de design protegido por modelos e desenhos, a capacidade inventiva protegida por patente ou modelo de utilidade, ou seja, estas modalidades que integram o denominado sistema da propriedade industrial, adequadamente aferidas caso a caso, deveriam ser parte integrante de estratégias de mercado, independentemente da aposta que as empresas, das mais variadas dimensões, façam do âmbito territorial deste (nacional ou internacional). A resposta referente ao grau de importância e de recurso efetivo ao sistema da propriedade industrial por parte das empresas do distrito de Castelo Branco alvo do presente estudo e que para o efeito prestaram a sua colaboração, será apurado, analisado e avaliado no final deste relatório. 9 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO, DEMOGRÁFICO E SOCIAL Distrito de Évora O Alentejo Interior é composto por três sub-regiões NUT III – Alto Alentejo, Alentejo Central (onde o distrito de Évora se encontra enquadrado) e Baixo Alentejo, que em termos de área representam 24% do território de Portugal continental. Neste contexto, é atribuída especial relevância à função estratégica e estruturante de quatro centros urbanos e económicos de âmbito regional (Évora, Portalegre, Beja e Elvas), importantes na constituição de uma rede de centros de desenvolvimento de dimensão regional e na afirmação da sua função polarizadora aos níveis sub-regional, nacional e transfronteiriço. O subsistema urbano do Alentejo Central é composto por Évora, Vendas Novas, Montemor-o-Novo, Estremoz e Reguengos de Monsaraz, inserindo-se no corredor central de ligação a Espanha, o que lhe confere o estatuto de nó estruturante a nível de relações de comunicação, transportes e logística, entre a AML e a região vizinha da Extremadura espanhola, na medida em que constitui um corredor urbano-logístico estruturado por Lisboa, Vendas Novas, Montemor-o-Novo, Évora, Estremoz, Elvas e Badajoz, o que lhe confere potencialidades em matéria de atratividade empresarial. Como do exposto se infere, a região no seu global apresenta boas acessibilidades rodoviárias, beneficiando de um razoável conjunto de autoestradas, itinerários principais e complementares, que cruzam os principais centros urbanos. Em termos de ligações ferroviárias, constata-se algum grau de qualidade, cumprindo a propósito mencionar a ligação do serviço Intercidades à capital de distrito de Évora, bem como e no que respeita ao sistema aeroportuário, o seu aeródromo. A questão demográfica representa um dos principais problemas do território, em virtude do persistente decréscimo e envelhecimento populacionais e da inerente tendência de despovoamento, sendo Évora o distrito mais populoso. A tendência de recessão nesta vertente tem sido vincada, como referido, pelo fator etário, tendência que, se começou por ser um reflexo de movimentos migratórios, é atualmente fruto da combinação de diversos fatores endógenos, tais como o crescimento natural negativo e a incapacidade de atração de indivíduos, com naturais e evidentes consequências no mercado de trabalho, caracterizado genericamente não apenas por um fraco crescimento de população ativa, como igualmente pela existência de uma população ativa envelhecida e pouco qualificada. 10 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial DINÂMICA EMPRESARIAL Os sectores de atividade económica mais representativos são, por ordem decrescente de importância, o comércio por grosso e a retalho (31% do total de empresas sediadas no Alentejo Interior), as atividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas (15%) e o alojamento e restauração (12%). As atividades industriais representam cerca de 8% do total de empresas com sede nos municípios do Alentejo Interior, com destaque para os sectores das indústrias alimentares, bebidas e tabaco (32% do total de empresas com sede neste território), indústrias metalúrgicas de base e produtos metálicos (20%), indústria da madeira, cortiça e suas obras (11%) e fabricação de outros produtos não metálicos (10%). Em termos de volume de negócios, os setores mais representativos apresentam-se, por ordem decrescente de importância, o comércio a retalho, exceto veículos automóveis e motociclos (cerca de 30% do volume de negócios total), comércio por grosso, exceto veículos automóveis e motociclos (28%), comércio, manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos (10%), atividades de saúde humana (10%, promoção imobiliária e construção (5%). PRINCIPAIS ÁREAS DE ATIVIDADE TERRITORIAL A fraca dimensão económica da região traduz-se numa baixa representatividade em termos de PIB – Produto Interno Bruto, VAB – Valor Acrescentado Bruto e de emprego no cômputo global da economia nacional. Não obstante, em algumas atividades o território como no sector da agricultura, caça e silvicultura, detém um peso significativo. De referir ainda que o Alentejo Interior apresenta especialização em atividades transacionáveis e em atividades não mercantis, sendo que estes últimos se revestem de grande importância para o território, sobretudo os relacionados com a administração pública, o que se encontra na génese do fraco desenvolvimento registado no sector privado e da respetiva capacidade de geração de emprego. Neste cenário, cumpre sublinhar que Évora se destaca claramente em termos de presença de empresas aí sediadas. Não obstante o mencionado no parágrafo anterior, a sub-região do Alentejo Central apresenta a mais elevada taxa de dissolução de empresas e uma baixa taxa de constituição, o que indicia que e embora possua um tecido empresarial mais forte e constituído por um maior número de empresas, se encontra num processo de aumento e renovação pautado por maior lentidão. Em termos da sua estrutura dimensional, importa salientar a fortíssima presença de micro empresas no território (cerca de 90%). OFERTA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA O Alentejo Interior apresenta, nos contextos nacional e regional, um posicionamento desfavorável no que respeita aos indicadores de qualificação dos recursos humanos. Em termos de ensino secundário, destacam-se em Évora a EPRAL – Escola Profissional da Região Alentejo, vocacionada para uma formação diversificada, do turismo às tecnologias de informação e comunicação, passando pela proteção civil; o INETESE – Instituto de Educação Técnica de Seguros que e como a própria designação indica, se focaliza exclusivamente no sector segurador. 11 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial No Alentejo Interior, duas instituições de ensino profissional e todas as instituições de ensino superior lecionam cursos de especialização tecnológica nas mais variadas áreas de conhecimento, sobretudo nas que se encontram intimamente relacionadas com o perfil deste território, ou seja, ligadas à produção agrícola, pecuária, silvicultura e agro-indústria. A Universidade de Évora é a única instituição de ensino superior público universitário no Alentejo, disponibilizando diversas das áreas cientifico-tecnológicas e criativas ao nível de licenciaturas, sendo de salientar que a percentagem de diplomados representa 5% do total nacional e 6% dos diplomados nas áreas científicotecnológicas e criativas PROJETOS ESTRUTURANTES E INVESTIMENTO EM I&D No Alentejo Central existe um claro predomínio da investigação desenvolvida a nível do ensino superior (70,2% das despesas de I&D na região), tendo igualmente as empresas uma representatividade significativa (cerca de 26,4%), enquanto a atividade do estado se apresenta muito baixa e a das instituições privadas sem fins lucrativos inexistente. A Universidade de Évora apresenta atividades de investigação em domínios como arte, biotecnologia, ciências biológicas, ciências da terra e do ambiente, ciências agrárias e veterinárias, ciências da saúde, engenharia civil, engenharia eletrotécnica, eletrónica e informática, engenharia mecânica, engenharia química, física, matemática e química. O ICAAM – Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas, unidade de I&D da Universidade de Évora, criado em 1991 no âmbito do programa “Ciência”, encontra-se localizado no Campus da Mitra, a 10km da cidade de Évora, desenvolvendo as suas atividades com base em equipas multidisciplinares, que integram investigadores das áreas da engenharia rural, zootecnia, biologia, agronomia, física, química, ecologia, paisagem e território, ciências do solo e medicina veterinária. A sua missão visa promover e atingir a excelência em I&D na vertente das ciências agrárias e ambientais das regiões mediterrânicas e contribuir para a aplicação do conhecimento na melhoria da competitividade e sustentabilidade dos sistemas agro-silvo-pastoris e dos sistemas culturais específicos. Através da cooperação com outras instituições de I&D nacionais e internacionais, o trabalho desenvolvido pelo ICAAM tem vindo a cumprir os seus principais objetivos, referentes à compreensão do complexo agroecossistema mediterrânico e à promoção da inovação tecnológica, como resposta integrada às necessidades sociais, económicas e técnicas no campo da agricultura, preservando simultaneamente os recursos naturais e a qualidade ambiental. Profundamente envolvido em programas de formação pós-graduada aposta numa estreita ligação com a comunidade, promovendo de forma ativa a disseminação do conhecimento científico. 12 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial INOVAÇÃO EMPRESARIAL O potencial de desenvolvimento de novas atividades económicas com impacto no mercado nacional e internacional é inquestionável, umas de importante pendor tradicional e outras baseadas na exploração de ativos endógenos subaproveitados. Neste contexto, destacam-se o turismo, baseado no valioso património arquitetónico, paisagístico e cultural do território, que conduziu a que a denominada “cidade-museu” de Évora, que conserva vestígios de diversas civilizações (romana, árabe, judaica e cristã), fosse classificada como Património Mundial da UNESCO; a aeronáutica, como vetor de potencialização das já existentes competências desenvolvidas em torno da indústria automóvel, que com aquela apresentam similitudes e que inclusivamente conduziram à instalação em Évora de unidades empresariais de fabrico de componentes de aeronaves; a energia solar fotovoltaica, beneficiando do elevado número de horas de luz solar; a agricultura, de fundamental importância a nível da região, que se já detentora de reconhecida especialização em produtos de qualidade como o vinho, o azeite e os queijos, vem assistindo ao reforço de competências em nichos específicos, como a agricultura e investigação biológicas e o desenvolvimento de organismos geneticamente modificados; a cortiça, nas suas várias aplicações industriais, que requerem permanente investigação (revestimentos acústicos, aeronáutica, automóvel, saúde, entre outras); as rochas ornamentais e as rochas industriais, apostando na diferenciação nacional através da especialização em produtos não e inovadores, aumentando de forma concertada e sustentada o nível de penetração nos mercados interno e externo. IMPORTÂNCIA DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL NESTE CONTEXTO Tendo em consideração a dinamização da estrutura produtiva do Alentejo Interior, através do reforço da competitividade de atividades de especialização produtiva, às quais se pretende conferir um cariz distinto e no que a atividades emergentes concerne, o estímulo a iniciativas empresariais inovadoras, é indiscutível a importância que o sistema da propriedade industrial assume, traduzido nas diferentes modalidades que o estruturam, as quais foram já caraterizadas aquando da abordagem socioeconómica do distrito de Castelo Branco, pelo que se considera dispensável nova referenciação às mesmas. A resposta referente ao grau de importância e de recurso efetivo ao sistema da propriedade industrial por parte das empresas do distrito de Évora alvo do presente estudo e que para o efeito prestaram a sua colaboração, será apurado, analisado e avaliado no final do mesmo. 13 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO, DEMOGRÁFICO E SOCIAL Distrito de Portalegre Pertencendo, tal como Évora ao Alentejo Interior, Portalegre integra o subsistema urbano do Alto Alentejo, de que fazem ainda parte Elvas, Campo Maior e Ponte de Sôr. O eixo Elvas / Campo Maior tem vindo a afirmar o seu posicionamento estratégico e transfronteiriço, enquanto Ponte de Sôr tem desenvolvido uma dinâmica industrial que o fortalece enquanto espaço de relacionamento privilegiado com o Vale do Tejo. Cumpre a propósito mencionar ainda que este subsistema se insere em redes de relacionamento não apenas nacionais, constituídas por outros subsistemas territoriais, um dos quais tem Portalegre como ponto de partida, como também transfronteiriços. Se dotado de aspetos próprios, possui nesta vertente um enquadramento mais generalizado, relativamente ao qual já foram tecidas as devidas considerações na abordagem efetuada ao distrito de Évora, não parecendo curial proceder aqui a repetições desnecessárias. DINÂMICA EMPRESARIAL Integrando a região do Alentejo Interior, a dinâmica empresarial é equivalente à apresentada relativamente ao distrito de Évora, pelo que não será novamente integrada neste ponto. PRINCIPAIS ÁREAS DE ATIVIDADE TERRITORIAL Umas das principais áreas neste domínio é a silvicultura, mais exatamente a extração de cortiça, sendo a propósito de sublinhar que as superfícies de montado e sobro ocupam uma parcela significativa do solo e representam um importante papel na produção de pastagens sob coberto, no fornecimento de alimentos de elevado valor nutritivo, na produção marcante de recursos silvestres e na sustentação de habitats cinegéticos. 14 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Se o montado se encontra disseminado em grandes manchas um pouco por todo o território alentejano, estas assumem, no Alto Alentejo, particular relevância em Mora, Ponte de Sôr, Avis e Arronches. Pelo exposto, a fileira da cortiça assume uma grande importância estratégica para o Alentejo Interior, líder nacional e mundial na matéria, sendo esta atividade significativa, no que respeita à sub-região, em Ponte de Sôr e Portalegre. Outra área de atividade que importa mencionar relativamente ao Alto Alentejo, é o das agroindústrias, onde a par da torrefação de café, uma das principais fontes geradoras de emprego em Campo Maior, merece também destaque o vinho, fileira com impacto no ordenamento territorial e na paisagem, marcando o uso do solo, no Alto Alentejo, em municípios com Castelo de Vide, Crato, Marvão, Sousel e Portalegre, fazendo este último parte do conjunto de vinha e vinhos DOC – Denominação de Origem Controlada. OFERTA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA É conhecida a posição desfavorável que o Alentejo Interior, no cômputo global, apresenta no que respeita aos indicadores de qualificação dos recursos humanos. Em termos de ensino secundário e a nível de cursos de especialização tecnológica, destacam-se no território objeto de referência o IPP - Instituto Politécnico de Portalegre, que integra quatro Escolas: a ESE - Escola Superior de Educação, a ESTG - Escola Superior de Tecnologia e Gestão (automação, robótica e controlo industrial; condução de obra; contabilidade; desenvolvimento de produtos multimédia; instalação e manutenção de redes e sistemas informáticos; manutenção industrial; qualidade alimentar; tecnologia eletromecânica, a ESSE – Escola Superior de Saúde e a ESAE - Escola Superior Agrária de Elvas (guia de turismo equestre; instalação e manutenção de espaços verdes; mecanização e tecnologia agrária; produção enológica). O IPP tem como uma das suas linhas de força o desenvolvimento regional, apostando para o efeito numa forte relação com a comunidade envolvente, preocupando-se com a inserção profissional dos seus alunos, de molde a promover a sua fixação na região, ao mesmo tempo que dedica particular importância ao intercâmbio e às relações externas, quer nacionais, quer internacionais. Neste sentido, projetos como o C3i – Centro Interdisciplinar de Investigação e Inovação, o CLIC – Centro de Línguas e Culturas, bem como os Gabinetes de Empreendedorismo, as Relações Externas e Cooperação e o Gabinete Europe Direct, constituem apostas fortes e consolidadas de unidades de intervenção do Instituto Politécnico de Portalegre. De referir ainda que a preocupação social tem sido desde sempre uma das bandeiras do IPP, traduzida na criação e incremento dos SAS – Serviços de Ação Social, a par de outras, como sejam o desenvolvimento de ensino de qualidade e excelência, o auxílio à comunidade escolar, o apoio aos diplomados no que respeita à inserção na vida ativa. Em matéria de oferta, o IPP apresenta atualmente os níveis e cursos agregados que se passam seguidamente a elencar. 15 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial No que aos de especialização tecnológica concerne, já sumariamente mencionados, cumpre referir a condução de obra, a contabilidade, os cuidados veterinários, o desenvolvimento de produtos multimédia, a instalação e manutenção de redes e sistemas informáticos, a instalação e manutenção de espaços verdes, a manutenção industrial, o maneio e utilização do cavalo, a produção enológica, o serviço social e desenvolvimento comunitário. Ao nível de licenciaturas, constata-se que estas incidem sobre administração de publicidade e marketing, agronomia e espaços verdes, animação sociocultural, bioengenharia, design de comunicação, design e animação multimédia, educação artística, educação básica, enfermagem, enfermagem veterinária, engenharia civil, engenharia das energias renováveis e ambiente, engenharia e gestão industrial, engenharia informática, equinicultura, gestão, higiene oral, jornalismo, comunicação empresarial, publicidade e relações públicas e secretariado, serviço social, tecnologias de produção de biocombustíveis, tecnologias e gestão da gestão da informação e turismo. Na vertente de pós-graduações, a oferta vai para bibliotecas e promoção da literatura, design dos media interativos, educação para a saúde, bibliotecas e promoção da leitura, design dos media interativos, educação para a saúde, eficiência energética de edifícios, estratégias e intervenções em situações de crise e emergência, fiscalidade, gerontologia, gestão em saúde, intervenção psicossocial na adolescência, investigação em saúde, recuperação do património histórico e regeneração urbana e económica, saúde infantil e pediatria, segurança e higiene no trabalho, supervisão clínica e supervisão pedagógica. Em termos de mestrados, destacam-se a agricultura sustentável, contabilidade e finanças, educação e proteção de crianças e jovens em risco, educação pré-escolar, gestão de pequenas e médias empresas, enfermagem especializada na vertente comunitária, enfermagem veterinária em animais de companhia, ensino do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico, formação de adultos e desenvolvimento local, gerontologia no ramo da saúde, gerontologia no ramo social, jornalismo, comunicação e cultura, planeamento, auditoria e fiscalização de espaços verdes, meios complementares de diagnóstico em enfermagem veterinária, reabilitação urbana, tecnologias de valorização ambiental e produção de energia. 16 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial IV. ESTUDO ÂMBITO TERRITORIAL DE INCIDÊNCIA Conforme oportunamente referido, o presente estudo incidiu nos distritos de Castelo Branco, Évora e Portalegre, precedentemente alvo de caraterização geográfica no seio das regiões onde se inserem (Beira Interior, Alentejo Central e Alto Alentejo). Sintetizando este aspeto, para efeitos de melhor perceção global e no que à incidência deste estudo diz respeito, apresenta-se o quadro que se segue: Quadro I Definição da área geográfica Castelo Branco Distrito Concelho NUT II NUT III Região Sub-região Castelo Branco Centro Beira Interior Sul Idanha-a-Nova Centro Beira Interior Sul Penamacor Centro Beira Interior Sul Vila Velha de Ródão Centro Beira Interior Sul Sub total Castelo Branco Belmonte Centro Cova da Beira Covilhã Centro Cova da Beira Fundão Centro Cova da Beira Sub total Oleiros Centro Pinhal Interior Sul Proença-A-Nova Centro Pinhal Interior Sul Sertã Centro Pinhal Interior Sul Vila de Rei Centro Pinhal Interior Sul Sub total Total População residente Census 2011 INE 75.028 87.869 40.705 162.897 Fonte: INE 17 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Quadro II Definição da área geográfica Portalegre Distrito Portalegre Concelho NUT II NUT III População residente Região Sub-região Census 2011 INE Alter do Chão Alentejo Alto Alentejo Arronches Alentejo Alto Alentejo Avis Alentejo Alto Alentejo Campo Maior Alentejo Alto Alentejo Castelo de Vide Alentejo Alto Alentejo Crato Alentejo Alto Alentejo Elvas Alentejo Alto Alentejo Fronteira Alentejo Alto Alentejo Gavião Alentejo Alto Alentejo Marvão Alentejo Alto Alentejo Monforte Alentejo Alto Alentejo Nisa Alentejo Alto Alentejo Ponte de Sôr Alentejo Alto Alentejo Portalegre Alentejo Alto Alentejo Sousel Alentejo Alto Alentejo Total 118.410 Fonte: INE 18 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Quadro III Definição da área geográfica Évora Distrito Évora Concelho NUT II NUT III População residente Região Sub-região Census 2011 INE Alandroal Alentejo Alentejo Central Arraiolos Alentejo Alentejo Central Borba Alentejo Alentejo Central Estremoz Alentejo Alentejo Central Évora Alentejo Alentejo Central Montemor-o-Novo Alentejo Alentejo Central Mora Alentejo Alentejo Central Mourão Alentejo Alentejo Central Portel Alentejo Alentejo Central Redondo Alentejo Alentejo Central Reguengos de Monsaraz Alentejo Alentejo Central Vendas Novas Alentejo Alentejo Central Viana do Alentejo Alentejo Alentejo Central Vila Viçosa Alentejo Alentejo Central Total 166.822 Fonte: INE OBJETIVOS DA ANÁLISE EFETUADA 19 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial No âmbito deste projeto e na sua fase inicial, este diagnóstico foi aplicado às empresas para o efeito selecionadas, com o propósito cimeiro de, com base nas informações por esta via coligidas, desenvolver todo um conjunto de ações de sensibilização e divulgação junto do tecido empresarial e da comunidade científica e tecnológica onde e mediante os resultados obtidos a análise dos mesmos permitiu identificar as áreas da Propriedade Industrial que apresentam maiores fragilidades e produzir ferramentas de apoio aos potenciais utilizadores do sistema, de modo a que possam mais fácil e eficazmente, valorizar os seus ativos neste domínio, a nível nacional e internacional. Pretendeu-se, em última instância, identificar o grau de: Competitividade das empresas; Conhecimento dos mecanismos de proteção de Propriedade Industrial; Utilização dos mecanismos de proteção e divulgação da Propriedade Industrial; Atividade de Propriedade Industrial implícita nos negócios das empresas locais e nos sistemas científico e tecnológico. METODOLOGIA ADOTADA A metodologia aplicada para a elaboração do diagnóstico de propriedade industrial, como oportunamente referido, consistiu na realização de inquéritos presenciais, por email e telefone em empresas situadas nos distritos de Castelo Branco, Portalegre e Évora. Os supra mencionados inquéritos assentaram nas seguintes diretrizes principais: Informação de base relacionada com a empresa e respectivo sector, tentando percecionar o seu posicionamento de mercado. Nível de conhecimento e importância que atribui ou não à Propriedade Industrial. Recurso efetivo ao sistema de Propriedade Industrial. Modalidades do sistema de Propriedade Industrial mais utilizadas. Vigilância de direitos de Propriedade Industrial. CARATERIZAÇÃO DA AMOSTRA O tecido empresarial dos distritos em análise caracteriza-se por uma grande diversidade. 20 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial A dimensão média das empresas insere-se, na sua esmagadora maioria na definição de microempresa, empregando menos de dez trabalhadores, acompanhando em tudo a composição do tecido empresarial do país. Não obstante, a média nestes territórios posiciona-se acima da nacional, o que implica um maior número de unidades produtivas desta tipologia, conforme se passa a demonstrar. Quadro IV Indicadores de empresas por município (2011) N.º Empresas por Km2 <250 Trabalhadores (%) <10 Trabalhadores (%) Beira Interior Sul 1,9 99,9 97,3 Cova da Beira 5,8 99,9 96,5 Pinhal Interior Sul 1,8 100,0 96,2 Alto Alentejo 1,8 100,0 97,4 Alentejo Central 3 100,0 97,1 Portugal 12 99,9 95,9 Fonte: INE Como se pode observar, o número de empresas presentes nestes territórios é baixíssimo por comparação com a média nacional, evidenciando como é aliás do conhecimento geral, a existência de uma grande discrepância entre a fixação das mesmas, bem como das respetivas populações, no interior e no litoral do país, o que conduz a que o mesmo se ressinta de tal facto, na medida em que se defronta com acréscimos em gastos com a deslocalização face à origem das matérias-primas e destino dos produtos acabados. Analisando as atividades exercidas por CAE, constata-se que existe uma certa proporcionalidade quanto às atividades nos três distritos, conforme dados presentes no quadro infra. 21 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Quadro V Atividades exercidas por CAE CAE (Ver. 3) Castelo Branco Portalegre Évora A 327 555 825 Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca B 13 7 C 645 299 D 10 5 E 27 5 F 742 241 G 1.451 783 H 359 162 262 Transporte e armazenagem I 420 299 474 Alojamento, restauração e similares J 77 32 76 Atividades de informação e de comunicação K 61 31 53 Atividades financeiras e de seguros L 193 94 M 389 250 N 148 58 O 5 2 P 54 27 Q 265 153 R 102 56 S 236 106 5.524 3.165 54 Indústrias extrativas 528 Indústrias transformadoras 1 Eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio 16 Captação, tratamento e distribuição de água; saneamento, gestão de resíduos e despoluição 451 Construção 1.304 Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos 244 Atividades imobiliárias 407 Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares 135 Atividades administrativas e dos serviços de apoio 7 Administração Pública e Defesa; Segurança Social Obrigatória 43 Educação 271 Atividades de saúde humana e apoio social 109 Atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas 195 Outras atividades de serviços 5.455 Fonte: CIP 22 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Para melhor perceção traduz-se seguidamente em gráfico os dados presentes no quadro Gráfico I Atividades exercidas por CAE 1600 Nr. Empresas 1400 1200 1000 Castelo Branco 800 Portalegre 600 Évora 400 200 0 A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S Actividades Como se pode facilmente constatar, verifica-se uma maior predominância de empresas cujas atividades se encontram dentro dos seguintes sectores: Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca. Indústrias transformadoras. Comércio por grosso e a retalho. Reparação de veículos automóveis e motociclos. Alojamento, restauração e similares. Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares. Não obstante o ora mencionado, considera-se importante referenciar o enquadramento regional das empresas das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), bem como a percentagem do VAB nos sectores de alta e média tecnologia e pessoal ao seu serviço, sector com fortes potencialidades de desenvolvimento e, como tal de propulsor regional, conforme referido no ponto II do presente estudo onde, recorde-se se traçou a caraterização socioeconómica dos territórios onde foi focalizado. Servirá esta informação para constatar que os números apresentados ficam muito aquém da média nacional, aparte dois distritos, Castelo Branco e Évora, consequência de projetos âncora aí implantados e igualmente mencionados no referido ponto. Atendendo à dimensão dos universos em estudo, esses projetos são de uma importância estratégica para as regiões alterando per si os dados das mesmas, que seguidamente se apresentam de forma estruturada. 23 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Quadro VI Enquadramento das TIC N.º empresas do sector das %VAB dos sectores de % de pessoal ao serviço alta e média tecnologia das TIC Beira Interior Sul 3,88 2,03 Cova da Beira 2,67 0,62 Pinhal Interior Sul 1,42 --- TIC % Castelo Branco 103 0,86 Portalegre 44 0,37 0,88 0,24 Évora 104 0,87 15,85 0,50 Portugal 12.004 100 10,93 2,12 Fonte: INE Importa ainda, no âmbito do presente estudo, recordar de forma sintetizada que nas regiões alvo do mesmo existem estabelecimentos de ensino superior ao nível dos seus congéneres nacionais, estabelecimentos esses que funcionam como veículos privilegiados de políticas de informação e de I&D, conformes dados constantes do quadro que seguidamente se apresenta. Quadro VII Enquadramento das TIC N.º estabelecimentos % N.º alunos inscritos % N.º docentes % Castelo Branco 7 2,35 10.747 2,89 1.088 3,06 Portalegre 4 1,34 1.989 0,54 209 0,59 Évora 5 1,68 6.667 1,80 649 1,83 Portugal 298 100 370.587 100 35.471 100 Fonte: INE 24 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Atendendo aos objetivos do projeto, a amostra selecionada privilegiou, na fase inicial de abordagem, as empresas das três (3) regiões de forma transversal, sem atender às suas características intrínsecas. Após o terminus do período dedicado à recolha de respostas ao questionário, os dados foram objeto de tratamento e análise, respeitando as regiões em estudo, as características das empresas e as informações específicas relacionadas com o tema da propriedade industrial. APURAMENTO DOS DADOS DAS EMPRESAS Foram efetuados contatos com quatro mil quinhentas e duas (4502) empresas, das quais quatro mil cento e vinte (4120) não se manifestaram disponíveis para responder ao inquérito (cerca de 92%), conforme ilustrado no gráfico abaixo. Gráfico II Resposta global ao inquérito Respondidos 8% Sem resposta 92% Das que inicialmente manifestaram disponibilidade para o efeito, num total de trezentas e oitenta e duas (382), duzentas e quarenta e uma (241) empresas optaram posteriormente por não responder ao inquérito, por desconhecimento ou falta de interesse no tema, distribuindo-se estas da forma que seguidamente se apresenta por distrito. 25 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Gráfico III Ausência de respostas válidas ao inquérito por distrito As cento e quarenta e uma (141) empresas, que responderam validamente ao inquérito, encontram-se distribuídas pelas seguintes áreas de atividade. Quadro IX Respostas válidas ao inquérito por áreas de atividade Agricultura Indústria Comércio Serviços Castelo Branco 88 14 34 51 35 Portalegre 11 2 3 6 4 Évora 42 10 19 17 10 TOTAL 141 26 56 74 49 (10,29%) (23,87%) (30,45%) (35,39%) 26 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Gráfico III Respostas válidas ao inquérito por áreas de atividade em Castelo Branco Gráfico IV Respostas válidas ao inquérito por áreas de atividade em Portalegre 27 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Gráfico V Respostas válidas ao inquérito por áreas de atividade em Évora Gráfico VI Respostas válidas ao inquérito por áreas de atividade nos três distritos Observando os dados coligidos das respostas válidas obtidas nos três distritos em termos de sector de atividade, poder-se-ão retirar de imediato, duas conclusões deste gráfico. No cômputo global, o distrito de Castelo Branco apresenta um índice de empresas que acederam responder ao inquérito bastante mais elevado que os restantes, seguido de Évora e, por último, de Portalegre, constatando-se que neste último a adesão a esta iniciativa foi bastante fraca. 28 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial De todos os sectores, o do comércio foi o que inquestionavelmente maior participação registou e o da agricultura o menor, o que e face à caraterização socioeconómica dos distritos alvo, constitui um dado relevante. Do ponto de vista intermédio, encontra-se o segmento de outros serviços e a indústria. As inerentes ilações remetem-se para uma fase posterior do presente estudo. ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE RESULTADOS Apresentam-se, de seguida, os resultados obtidos para as várias questões presentes no inquérito, cuja estrutura se anexará como parte integrante deste estudo, mediante um conjunto de gráficos, correspondente aos items em apreço. Gráfico VII Empresas com e sem registos de propriedade industrial Primeira conclusão a retirar do supra apresentado gráfico é a fraca diferença entre os que optam por proteger a sua propriedade industrial e os que não o fazem e que, conforme se pode constatar, se cifra nos meros 12%. Questão óbvia a equacionar face ao exposto, prender-se-á com o facto de desconhecerem o sistema da propriedade industrial e suas inerentes vantagens, de não o considerarem importante no âmbito das suas estratégias de mercado, de o rejeitarem à priori optando por outros instrumentos tais como, por exemplo, o segredo de negócio, de o ignorarem face a outras prioridades que a conjuntura económica em primeira instância parece impor? 29 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Gráfico VIII Comparação entre o n.º de empresários com e sem formação de base em PI e o n.º de registos de que são titulares Outro aspeto curioso que este estudo apresenta e a ser alvo de análise em sede de conclusões finais, é elevado o n.º de empresários sem conhecimentos / formação no domínio da propriedade industrial e, não obstante, são estes os detentores de maior número de direitos nesta área. Eis um elemento que e salvo melhor opinião, é profundamente incoerente. Os empresários que conhecem o sistema da propriedade industrial ao mesmo não recorrem de forma efetiva, contrariamente aos seus pares, que o desconhecendo e segundo os dados apresentados, indiciam um maior grau de preocupação relativamente ao mesmo, expresso no n.º de registos que efetuam. Provavelmente esta será a resultante do estudo que merecerá ser objeto de maior reflexão. Poder-se-á estabelecer algum paralelismo com as considerações tecidas relativamente ao gráfico precedente? Para quem o conhece, o sistema da propriedade industrial não representa uma mais-valia? E porque ao mesmo recorre quem o desconhece? Gráfico IX Distribuição dos registos por tipo de direito 30 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Dados, por um lado não surpreendentes face aos dados patentes no gráfico VI, mas questionáveis se se tiver em consideração as instituições do sistema científico e tecnológico com maior ou menor peso nos distritos em questão, a vertente de I&D e a atividade económica que estes supostamente alavancam nos respetivos territórios. Face ao exposto parece pertinente inquirir se também estas últimas descuram a proteção dos resultados que geram, se não encontram formas de a transpor para o mercado e, como tal, não equacionam a sua proteção, ou se ainda estamos perante as já conhecidas fracas bases de ligação entre estas e as empresas que e a confirmar-se, traz uma vez mais à colação aquele que parece ser o eterno dilema nacional “a ponte universidades / empresas”. Gráfico X Distribuição dos registos por indicados por âmbito territorial de proteção Eis a manifesta aposta na vertente nacional, preocupante quando o cenário económico indicia que a sobrevivência do tecido empresarial português passa pela sua crescente internacionalização, ou seja, pela penetração em mercados externos. Perante as percentagens supra apresentadas, é inevitável questionar se esta aposta não foi ainda devidamente apreendida pelas nossas empresas, se não possuem capacidade para o efeito ou se operam em territórios estrangeiros sem a devida proteção dos seus ativos intangíveis, por via da utilização do sistema da propriedade industrial ao nível adequado. Recorde-se que se está perante uma pequena amostragem nacional, cingida aos distritos de Castelo Branco, Évora e Portalegre e que o recurso a níveis de proteção de direitos de propriedade industrial a nível comunitário ou internacional pressupõe estratégias de mercado com outro grau de solidez e, quiçá, de ambição e capacidade para as implementar. Não obstante o país tenha efetuado progressos na matéria, sobretudo na última década e com especial enfoque nos sinais distintivos do comércio, verifica-se que persiste em conferir, ao contrário de outros, pouca importância à sua propriedade industrial, que continua a constituir mera “nota de rodapé” em termos de estratégia empresarial. Resultado? A perda de importantes ativos intangíveis em prol de terceiros. 31 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Gráfico XI Relevância atribuída aos serviços dos AOPI – Agentes Oficiais da Propriedade Industrial Uma vez mais, a indiscutível fraca importância atribuída pelas empresas à sua propriedade industrial e a evidência do desconhecimento do sistema e suas implicações. Não é suposto que aquelas o conheçam e dominem os seus meandros, pelo que os profissionais da área detêm aqui um papel fundamental, quer a nível da identificação de ativos passíveis de proteção, quer em termos de processo de registo e seu acompanhamento, seja e sobretudo, no âmbito da vigilância de direitos e reações face a violações de terceiros. Gráfico XII Opinião sobre a importância dos mecanismos de proteção da propriedade industrial No cômputo global e sem surpresas, tendo em conta o conjunto de dados que o presente estudo espelha e que vêm sendo paulatinamente analisados, constata-se ser mais elevado o n.º de empresas que consideram a propriedade industrial irrelevante e o das que não têm opinião sobre o sistema, o que também e uma vez mais constitui um dado preocupante e ilustrador de falta de conhecimento e / ou de despreendimento do mesmo. Até ao momento, temo-nos pronunciado relativamente ao tecido empresarial dos distritos em questão, mas existem outros atores a ter em linha de conta, isto é, instituições presentes nos territórios sob análise e seu posicionamento face ao sistema da propriedade industrial. Seguidamente apresentar-se-ão os dados relativamente aos mesmos apurados. 32 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Quadro X Outros atores regionais Direitos requeridos por Municípios Direitos requeridos por Est. Ens. Superior Município Sub-região Marcas, Log. Insígnias Marcas, Log. Insígnias Patentes Castelo Branco Beira Interior Sul 0 10 0 Idanha a Nova Beira Interior Sul 3 13 26 30 20 Penamacor Beira Interior Sul 0 Vila Velha de Ródão Beira Interior Sul 6 Belmonte Cova da Beira 0 Covilhã Cova da Beira 7 Fundão Cova da Beira 11 Oleiros Pinhal Interior Sul 0 Proença a Nova Pinhal Interior Sul 1 Sertã Pinhal Interior Sul 5 Vila de Rei Pinhal Interior Sul 0 Alter do Chão Alto Alentejo 0 Arronches Alto Alentejo 0 Avis Alto Alentejo 0 Campo Maior Alto Alentejo 1 Castelo de Vide Alto Alentejo 1 Crato Alto Alentejo 0 Elvas Alto Alentejo 8 Fronteira Alto Alentejo 0 Gavião Alto Alentejo 0 Marvão Alto Alentejo 0 Monforte Alto Alentejo 0 Nisa Alto Alentejo 0 Ponte de Sôr Alto Alentejo 0 Sousel Alto Alentejo 1 Alandroal Alentejo Central 1 Arraiolos Alentejo Central 1 Borba Alentejo Central 1 Estremoz Alentejo Central 17 Évora Alentejo Central 0 Montemor-o-Novo Alentejo Central 0 Mora Alentejo Central 0 Mourão Alentejo Central 0 Portel Alentejo Central 0 Redondo Alentejo Central 0 Reguengos de Monsaraz Alentejo Central 7 Vendas Novas Alentejo Central 2 Viana do Alentejo Alentejo Central 0 Vila Viçosa Alentejo Central 0 Fonte: INPI 33 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Os dados constantes do quadro acima, são igualmente elucidativos quanto ao número de registos de propriedade industrial nos distritos em análise, por parte de municípios e de instituições de ensino superior e, no que a estes especialmente respeita, com preponderância, tal como vem sendo recorrentemente referido ao longo deste estudo, para os sinais distintivos do comércio, em detrimento das patentes, como seria à priori expetável. CONCLUSÃO Para além das muitas que de algum modo foram sendo tecidas ao longo deste documento, a primeira conclusão a retirar é a de que o número de respostas à solicitação apresentada, ficou muito aquém do que era expectável, justificando-se pelo desconhecimento que o tecido empresarial denota, quando confrontado com a temática da propriedade industrial, permitindo-nos aqui recordar as 141 respostas elegíveis num universo de 4502 solicitações. A segunda conclusão a retirar, prende-se com o fato de a esmagadora maioria dos empresários dos distritos estudados não se encontrarem sensibilizados para o tema da proteção por direitos de propriedade industrial, podendo retirar-se a mesma ilação no que ao sistema científico e tecnológico concerne. Pelo exposto, as entidades para as quais o sistema da propriedade industrial foi naturalmente concebido, desconhecem-no ou ignoram-no, razão que se encontra e por motivos óbvios no cerne da sua não utilização, com todos os riscos que tal opção comporta em primeira instância para os destinatários do mesmo individualmente considerados e para um país na sua globalidade onde e contrariamente ao que se possa pensar, existe muita inovação e de elevado grau de excelência que e no pressuposto de que seja de conhecimento geral, nos abstemos de mencionar como exemplos à escala mundial. Da análise dos inquéritos considerados como correspondentes ao padrão de elegibilidade para os objetivos que norteiam o presente estudo, constata-se, no universo empresarial, que menos de metade das empresas que demonstraram interesse em responder ao mesmo (44%) não possui qualquer direito de propriedade industrial, o que diminui ainda mais o número das que são detentoras de algum tipo de proteção da sua inovação. Não obstante e em termos de valor absoluto, cumpre sublinhar uma vez mais, que os empresários que acederam responder ao inquérito em que o presente estudo se alicerça e que afirmaram não deter conhecimentos / formação em propriedade industrial, serem detentores de maior número de direitos neste domínio, o que é preocupante e passível de diferentes conclusões. Se quem não o conhece ao mesmo mais recorre, quem afirma conhecê-lo não o faz, tendo-se escusado a apresentar os motivos, o que permite algumas interrogações. Conhece-o de fato? Não lhe reconhece a função para a qual foi concebido? Considera-o demasiado complexo? Não avalia positivamente a relação custo / benefício? Quanto aos primeiros, que explicações se encontram no cerne da sua postura face ao sistema da propriedade industrial? Não seguramente o desconhecimento total pois, caso contrário, ao mesmo não recorreriam. Será antes a consciência, ainda que pálida, da sua valia e o recurso aos serviços de profissionais neste domínio? Face ao ora exposto, cabe a pertinente seguinte interrogação, com todas as dúvidas que a mesma comporta: vale a pena insistir na divulgação do sistema da propriedade industrial junto dos seus potenciais utilizadores, ou não? 34 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Outra conclusão a retirar do presente estudo e que à semelhança do global se encontra eivada de interrogações, prende-se com a primazia ao recurso ao sistema da propriedade, através da utilização de sinais distintivos do comércio (marcas, logótipos, …), não existindo praticamente direitos de incidência tecnológica (patentes, modelos de utilidade, …). Se por um lado e dados que os setores de atividade preponderantes nos três distritos em apreço se centram essencialmente no comércio e outros serviços, o que e mais uma vez dizer do sistema científico e tecnológico presente nas mesmas e que tão grande contributo pode trazer ao seu desenvolvimento? A falta de entrosamento com o meio empresarial? O desconhecimento do sistema da propriedade industrial? O fato de não lhe reconhecer valia? Quanto ao âmbito territorial de proteção dos direitos de propriedade industrial identificados, conclui-se que 21 % dos mesmos possui um âmbito de proteção supranacional. Tais números são bons indicadores de que os empresários que detêm tais direitos nestes distritos demonstram já uma preocupação de proteção em países estrangeiros, o que significa que são empresas exportadoras e que se encontram em fase preparativa ou, pelo menos, a considerar seriamente a vertente da internacionalização. O recurso a Agentes Oficiais de Propriedade Industrial (AOPI) por parte destes empresários é muito reduzido, o que indicia não compreenderem corretamente ou não reconhecerem a importância de determinados serviços especializados que estes profissionais oferecem. Este facto é também resultado das políticas postas em prática nos últimos anos, que simplificaram o acesso ao pedido de determinados tipos de direitos diretamente e entre outros, ao nosso Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), mas não só, via forma eletrónica. Curiosamente, a percentagem obtida nas respostas em que este estudo se baseia, é semelhante às percentagens nacionais de pedidos realizados diretamente no INPI. Recorda-se porque parece pertinente, que cerca de 47% dos empresários que responderam a esta solicitação consideram a propriedade industrial como importante, 38% não têm opinião formada sobre esta matéria e cerca de 15% dos empresários a consideram como não relevante para as suas empresas. Como estudo complementar à solicitação colocada aos empresários, foi também analisada a utilização da PI através do número de registos de propriedade industrial nos distritos em análise, por parte de municípios e instituições de ensino superior, sendo de realçar que, no que respeita a direitos de incidência tecnológica, estes estão concentrados em Évora e na Covilhã, locais de investigação e desenvolvimento por excelência, sendo de mencionar que e no que respeita a sinais distintivos do comércio, a sua distribuição é mais uniforme, embora em número bastante reduzido. Já em termos de municípios envolvidos, denota-se uma grande discrepância quanto ao número de direitos de propriedade industrial de que são detentores, fruto do diferente grau de sensibilização para o tema presente. Numa época em que os empresários tentam conquistar novos mercados no exterior através de mecanismos de internacionalização, nomeadamente as exportações, é de primordial importância adquirirem os conhecimentos necessários para que possam proteger a sua inovação, com o objetivo da salvaguarda dos seus direitos de propriedade industrial, aquém e além-fronteiras. 35 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial As empresas exportadoras devem equacionar o registo dos seus direitos nos países para os quais encaminham os seus produtos ou nos quais prestam os seus serviços, quer através da via local, da internacional ou da comunitária, com a consciência de que os custos com os registos são substancialmente inferiores aos riscos e valores associados à impossibilidade de proceder ou manter a exportação e internacionalização para os mercados potenciais. Termina-se salientando que a falta de conhecimento sobre a legislação e o sistema da propriedade industrial, a rejeição e/ou o afastamento dos profissionais que poderiam informar e prestar aconselhamento na matéria, parecem ser a origem da situação encontrada, na medida em que criam barreiras intransponíveis que urge ultrapassar, mediante um profundo trabalho assente, sobretudo, na vertente de sensibilização do tecido empresarial dos distritos alvo desta atividade de diagnóstico, passível de induzir o recurso efetivo ao sistema da propriedade industrial. V. ÁREAS DE INTERVENÇÃO E LINHAS DE ORIENTAÇÃO DO PROJETO “PI PROTEGER INOVAÇÃO” As conclusões deste estudo não surpreendem seguramente a Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI), que há mais de uma década ou para se ser exato, há 12 anos, trabalha este domínio, com especial enfoque na vertente de informação / sensibilização. Esforço inglório? Crê-se que não, atendendo ao muito que, nacional e internacionalmente reconhecido, realizou nesta área. Persistência? O abraçar deste projeto demonstra-a à saciedade, fruto da convicção de que, mais do que aos distritos alvo de intervenção e análise no âmbito deste estudo, tem um forte contributo a prestar ao país. Há que persistir na componente de informação / sensibilização nestes três distritos e a AIP-CCI e a RCF, consultora eleita para o projeto “PI PROTEGER INOVAÇÃO”, sabem como o fazer e fá-lo-ão seguramente. Este trabalho representa o concluir da primeira e essencial fase do supra mencionado projeto. Ainda que por mera amostragem, importava para as duas entidades analisar o “estado da arte” nestes distritos, de molde a adequar intervenções futuras de acordo com as necessidades / fragilidades aqui demonstradas. Como é do conhecimento geral, o projeto “PI PROTEGER INOVAÇÃO” possui três fases subsequentes e de acordo com a que vem sendo alvo de menção, a enunciar: a produção de ferramentas de apoio às empresas e sua envolvente científica e tecnológica, de acordo com as necessidades expressas; a realização de seminários e sequentes workshops adequados às realidades territorialmente constatadas, com o intuito de colmatar as lacunas verificadas; a construção de uma rede de agentes intervenientes na cadeia da propriedade industrial, com o objetivo último de desmistificar o sistema da propriedade industrial face aos seus potenciais utilizadores, clarificar o papel que e em cada elo da mesma deverá ser desempenhado, transmitir competências essenciais na matéria e propiciar o contato com os players aos mais diversos níveis, numa óptica de aquisição e permuta de conhecimento. Objetivo final? 36 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial O fortalecimento dos distritos de Castelo Branco, Évora e Portalegre, o cabal desenvolvimento das suas potencialidades, a quebra dos constrangimentos geográficos, em suma, o concretizar do muito que em todos está latente, mas por explorar.O desígnio final? Conduzir o país ao patamar da inovação de que é um exímio produtor. Dificuldades pelo caminho? Muitas, mas a vontade de vencer sobrepõe-se! VI. EPÍLOGO Tendo em conta o enquadramento empresarial regional (Concelhos de Castelo Branco, Évora e Portalegre), bem como o tipo de empresas abordadas (micro e pequenas, de sectores tradicionais) no inquérito que serviu de base à elaboração do presente estudo, a grande ilação a retirar é, sem dúvida, a pouca apetência pelo assunto. Supomos que tal postura é o resultado da muito reduzida divulgação do sistema da propriedade industrial. Para além disso, os empresários nunca foram confrontados ou surpreendidos no mercado por uma concorrência que imita os seus produtos ou as suas designações. Ou talvez não tenham sido informados do facto ou o tenham ignorado. Os seus produtos ou serviços são simples “commodities”, sem qualquer tipo distintividade. Mas os tempos estão a mudar. O que fazemos tem que ser diferente do que o mercado já tem e por isso temos que proteger o que inovamos. Temos que ser utilizadores do sistema da propriedade industrial e das suas ferramentas. Para tal, temos que explicar e difundir, pelos meios apontados neste projecto e outros que se acharem adequados, este mundo da propriedade industrial! 37 Estudo sobre a importância e utilização da Propriedade Industrial Bibliografia Cartas Regionais de Competitividade da AIP-CCI, Volume V, a cuja equipa de produção aqui se rende a devida homenagem: Coordenação Científica Professor Doutor José Veiga Simão Execução Dr. José Félix Ribeiro e Mestre Joana Chorincas Ficha Técnica Execução para a AIP-CCI: Raúl César Ferreira (Herd.), S.A. Coordenação Dr. António Trigueiros de Aragão Execução Dra. Elsa Canhão | Dra. Elsa Marcelo 38