JORGE LUIS SANTOS CARLOS O ENSINO DE FARMÁCIA NO BRASIL E SUAS PERSPECTIVAS Monografia apresentada ao curso de graduação em Farmácia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Farmácia. Orientadora: Profa. Jerusa Martins Carvalho Brasília 2011 Monografia de autoria de Jorge Luis Santos Carlos, intitulada intitulad O ENSINO DE FARMÁCIA NO BRASIL E SUAS PERSPECTIVAS, apresentada apresentad como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Farmácia pela Universidade Católica de Brasília, em ___/____/ __ 2011, aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ___________________________________________ Professora Msc. Jerusa Martins Carvalho Orientadora Farmácia – UCB __________________________________________ _________________________________________ Professor Emmanuel de Oliveira Carneiro Farmácia – UCB __________________________________________ Professor Adriano José Hertzog Vieira Pedagogia – UCB Brasília 2011 Dedico este trabalho a minha família, minha namorada, aos grandiosos companheiros do Movimento Estudantil de Farmácia (MEF) e a todos que defendem a Farmácia enquanto ciência e profissão. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por me oportunizar tal iluminação para escrever e por me oportunizar a vida, agradeço a minha família pela dedicação e apoio que sempre me foi dado, a minha namorada por toda compreensão, carinho e auxilio durante a elaboração deste trabalho, a professora, amiga e segunda mãe Msc. Jerusa Martins Carvalho por se dedicar a me auxiliar e a me acompanhar nessa caminhada, a Ana Cristina Simonini por me apoiar durante a elaboração deste trabalho com seu espírito amigo e sempre pronta a ajudar, e por fim agradeço aos amigos do Movimento Estudantil de Farmácia que fortaleceram junto a mim o debate que levou à elaboração deste trabalho e à paixão pela ARTE farmacêutica. RESUMO A história da Farmácia enquanto ciência e profissão é certamente complexa, e o estabelecimento da Farmácia enquanto profissão recai sobre vários eventos que a cercam. No Brasil, durante o período colonial se estabelecem as boticas, estabelecimentos que comercializavam drogas e medicamentos elaborados. A partir de certo momento o Brasil vê a necessidade de formar os seus próprios farmacêuticos, e dessa forma, passa a travar um longo caminho na construção do ensino de Farmácia que está intimamente relacionada à sua história, principalmente no que tange à organização nacional da profissão e a qualidade da educação superior. Ao longo das transformações do ensino de Farmácia no Brasil e no mundo, novos apontamentos foram feitos e a transformação da profissão se dá de forma a dialogar com essas novas perspectivas apontadas com a vivência da profissão e suas necessidades. Com o intuito de discutir a nova realidade do ensino de Farmácia no Brasil, o trabalho, busca discutir o foco da formação do farmacêutico e uma mudança na própria profissão, abrangendo inclusive a questão das metodologias de ensino. A fragilidade da formação acadêmica do profissional farmacêutico é demonstrada no não reconhecimento social e na necessidade de reprofissionalização, com isso pode ser afirmada a necessidade de reorientação na formação destes profissionais. Palavras chave: Ensino Farmacêutico; História da Farmácia; Farmácia no Brasil. ABSTRACT The history of pharmacy as a science and profession is certainly complex, and the establishment of pharmacy as a profession rests on several other things that encircled it. During the colonial period in Brazil are established, the “boticas”, which were establishments which traded drugs and medicines prepared. From a certain moment for Brazil to see the need to train their own pharmacists, and thus becomes a way to catch the school of pharmacy that is closely related to its history, especially regarding the national organization of the profession and education higher. Throughout the transformation of the teaching of pharmacy in Brazil and the world if new appointments put in effect the transformation of Pharmacy takes the form of dialogue with these new perspectives pointed to the experience of the profession and its needs. In order to discuss the new reality of Pharmacy teaching in Brazil, this monograph, discusses the focus of pharmacists education and a change in their own profession, including covering the issue of teaching methodologies. The fragility of academic education of the pharmacist is demonstrated on no social recognition and the need to restructuring the profession, it can be affirmed with this the need of reorientation in these professionals academic education. Keywords: Pharmaceutical Education, History of Pharmacy, Pharmacy in Brazil LISTA DE SIGLAS Aprendizagem Baseada em Problemas (APB) Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico e Bioquímico (ABENFARBIO) Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico (ABENFAR) Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Conselho Federal de Educação (CFE) Conselho Federal de Farmácia (CFF) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Conselho Nacional de Educação (CNE) Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia (DCNF) Encontro Nacional dos Estudantes de Farmácia (ENEF) Encontro Nacional de Reforma Curricular (ENRC) Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia (ENEFAR) Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR) Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) Instituições de Ensino Superior (IES) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Ministério da Educação e Cultura (MEC) Movimento Estudantil de Farmácia (MEF) Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) Programa Universidade para Todos (PROUNI) Seminário Nacional de Currículo de Farmácia (SNCF) Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) Sistema Único de Saúde (SUS) União Nacional dos Estudantes (UNE) Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9 1.1 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 12 1.2 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 13 1.2.1 Objetivos específicos .......................................................................................... 13 1.3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 14 2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 15 2.1 CAPITULO I.............................................................................................................. 15 2.1.1 História da Farmácia ......................................................................................... 15 2.1.2 A Farmácia no Brasil ......................................................................................... 19 2.1.3 A organização do ensino superior no Brasil ...................................................... 21 2.1.4 O ensino de Farmácia no Brasil ........................................................................ 25 2.1.5 Perspectivas para o ensino de Farmácia no Brasil ........................................... 27 2.1.6 A formação do docente e as metodologias ativas de ensino no ensino das ciências da saúde .............................................................................................................. 28 3 DESENVOLVIMENTO ................................................................................................. 31 3.1. CAPÍTULO II – O CAMINHO ATÉ AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA CURSOS DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA E AS PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO DE FARMACÊUTICOS NO BRASIL ................................................................................................. 31 3.1.1 O histórico da estruturação das diretrizes curriculares nacionais para o curso de Farmácia no Brasil....................................................................................................... 31 3.1.2 Uma breve análise sobre as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em Farmácia e sua implementação ................................................................ 33 3.1.3 Um breve diálogo com o censo da educação superior do MEC (2009) nas perspectivas da Farmácia ................................................................................................. 37 3.1.4 Das demandas sociais brasileiras ao reconhecimento social: uma abordagem focada na formação do farmacêutico no Brasil ................................................................ 40 3.2 CAPÍTULO III - AS PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO EM FARMÁCIA NO BRASIL E UMA BREVE INTERFACE COM A PÓS-GRADUAÇÃO .......................................................................... 43 3.2.1 A educação continuada e a pós-graduação ....................................................... 43 3.2.2 A pós-graduação frente à formação de docentes em educação superior para a Farmácia ........................................................................................................................... 44 4 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 47 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 48 1 INTRODUÇÃO A ruptura entre Farmácia e Medicina enquanto uma só profissão se dá baseada em uma lógica epistemológica, profissional e institucional, com isso, tem-se agora um profissional que advêm da necessidade social, que se vê diante de um indivíduo que ao mesmo tempo prescreve, vende e dispensa os medicamentos, visto isso, mudanças se fizeram necessárias e observa-se então a divisão da profissão em duas com o intuito de evitar o conflito de interesses. (ROCHA, 1998). Por volta do século XII, encontra-se bem estabelecida a separação entre o médico (profissional dotado da capacidade de fazer o diagnóstico e a prescrição terapêutica) e o farmacêutico (habilitado a preparação e dispensação de medicamentos). A formação do profissional farmacêutico estava localizada nas oficinas farmacêuticas (boticas) e era de constituição informal, ainda não dotada de estruturação da forma de passagem do conhecimento acadêmico, desenvolveu-se com o tempo de forma mais prática do que científica, enquanto o médico já possuía sua formação institucionalizada, ou seja, o saber científico já era organizado e a passagem do conhecimento estruturado e planejado. Apesar de algumas mudanças a Farmácia permaneceu nesse ponto até o início do século XX. (ROCHA, 1998). A partir do século XIX com o advento da revolução industrial que modificou o processo de produção dos medicamentos o farmacêutico, que possuía o papel de manipular medicamentos e unguentos para o tratamento de doenças por meio da “arte farmacêutica”, passou a perder seu papel enquanto profissional, afastando-se de sua referência social que outrora havia sido conquistada, tal como a própria literatura brasileira pode demonstrar onde em algumas obras temos a Farmácia como espaço social onde o conhecimento era debatido e o profissional farmacêutico possuía seu prestígio reafirmado por ilustres presenças e o respeito evidenciado. (SILVA, 2009). Em 1835, é fundada no Brasil a Academia Imperial de Medicina e em 1850 duas associações farmacêuticas, estavam ligadas à organização dos saberes e foi a partir disso que se começou a pensar a formação de novos farmacêuticos através do repasse dos saberes científicos agrupados, dessa forma a elite desses profissionais trabalharam a oficialização do ensino e como lançar mão de ferramentas para tal. Com isso, grande parte dessas associações de farmacêuticos empreenderam esforços para debater tais questões. (VELLOSO, 2007). Reformas pontuais ocorreram no ensino de Farmácia durante os anos de 1880, 1887, 1901, 1911, 1925, 1930, essas tinham como foco a formação de profissionais farmacêuticos que atendessem as demandas nas indústrias, nas análises clínicas e na manipulação e dispensação de medicamento, eixos esses que até hoje são contemplados nos currículos dos cursos de Farmácia. (SILVA, 2009). A União Nacional dos Estudantes (UNE), ou seja, o movimento estudantil organizado no Brasil foi de fundamental importância para a evolução dos debates a cerca de mudanças no ensino superior brasileiro que culminam na reforma universitária no ano de 1969. A UNE se comprometeu a lutar por uma universidade menos elitista e arcaica. O debate que permeava a época era ligado a questões como autonomia da universidade, aumento no número de vagas nessas instituições, participação proporcional de docentes e discentes na administração da universidade, modelo esse que ainda se mantém próximo ao que há hoje no Brasil. (FAVERO, 2006). A Farmácia sofreu as mudanças do ensino superior brasileiro e o currículo que surgiu nesse período (Resolução do Conselho Federal de Educação (CFE), 268 aprovado pelo parecer número 268/62) esta ligado a uma formação básica na área de medicamentos e que dava base para uma posterior habilitação destes profissionais que eram feitas nas áreas de indústria ou bioquímica (análises clínicas ou alimentos). Acompanhando assim o movimento de mudanças na realidade da educação superior brasileira a lei 5.991 de 17 de dezembro de 1973. (BRASIL, 1973; SILVA, 2009). Na década de 90 deu-se início a uma ampla discussão sobre a reestruturação dos currículos de Farmácia do Brasil, a partir dos seminários de avaliação dos currículos de Farmácia promovidos pela Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia (ENEFAR) e posteriormente com apoio da Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR), os debates e acúmulos deste período culminam nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que são aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no ano de 2002. Esse período foi marcado por uma significativa alteração a cerca da reforma sanitária e construção do conceito de assistência farmacêutica que permearam a concepção dessas novas diretrizes. (SPADA ET. AL. et. al, 2006; FENAFAR/ENEFAR, 1996; SILVA, 2009). Com isso, pode-se observar o Movimento Estudantil de Farmácia (MEF) na vanguarda em relação ao debate do ensino farmacêutico, e essa movimentação tem amplo respaldo social, uma vez que tal movimento surge dialogando com os diversos setores da sociedade e com o objetivo de organizar a profissão e o ensino farmacêutico, além de atender a demanda desses profissionais focando na reforma sanitária e na implantação da assistência farmacêutica. Na década de 90, a ENEFAR promove vários eventos relacionados à saúde pública e à reorientação na formação do farmacêutico. (ENEFAR, 1995; SILVA, 2009). As diretrizes curriculares de 2002 ainda estão em implementação no país, pois cursos de Farmácia históricos como o de Recife, por exemplo, ainda não incorporaram plenamente essas diretrizes, contudo o que se observa nesses currículos é uma formação voltada para a realidade social brasileira, recaracterização do corpo docente e uma reorganização importante entre as competências técnicas associadas à caracterização social da formação colocando-a como generalista, humanista, crítica e reflexiva. (BRASIL., 2008). A perspectiva de formação farmacêutica se renova constantemente e é possível observar a crescente expectativa em relação à face clínica da profissão onde se destacam a Farmácia clínica e a atenção farmacêutica. É cada vez mais promissor o surgimento de situações favoráveis à prática farmacêutica na forma clínica e a busca dos profissionais por tal área, o que viabiliza a sua inserção de forma significativa na saúde pública e na atenção básica caracterizando uma mudança importante no modelo biomédico e hospitalocêntrico. (HEPLER, 1985; SOUSA, SILVA e NETO, 2008; SPADA ET. AL., 2006; OPAS, 2002; PEREIRA e FREITAS, 2008). 1.1 JUSTIFICATIVA A Farmácia enquanto ciência se estabelece em nosso país a partir da abertura de alguns cursos ainda no período em que a família real vem para o Brasil. Desde esse período, as demandas sociais e econômicas modificaram-se e as ciências farmacêuticas acompanharam essas mudanças, o que reflete na formação de novos profissionais, contudo, simplesmente seguir o rumo dessas demandas, principalmente econômicas, que em geral, são estanques ou alheias aos seus limites da Farmácia enquanto ciência, não garante uma formação profissional efetiva, e o atendimento de algumas demandas e estruturação da formação não devem levar a perda de suas origens epistemológicas, com isso, é importante avaliar o histórico buscando debater o futuro e novas perspectivas para o ensino farmacêutico no país. Este é o cerne do estudo para a concepção de um novo modelo de formação focado em novas demandas realmente sociais vislumbrando a referência social da profissão no Brasil. 1.2 OBJETIVO GERAL O presente estudo tem como objetivo geral realizar a revisão de literatura abordando os principais aspectos relacionados à história da Farmácia; os acontecimentos que se destacaram durante o estabelecimento da educação farmacêutica no Brasil e a formalização da atividade enquanto profissão; além do processo de implementação das novas diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Farmácia. 1.2.1 Objetivos específicos - Colocar o debate acerca da reorientação da formação do profissional farmacêutico; - Discutir a utilização da pós-graduação de qualidade na formação de novos docentes e a qualidade relacionada a essa formação; - Debater os desafios que permeiam a formação de qualidade dos novos farmacêuticos. 1.3 METODOLOGIA A metodologia empregada foi à revisão de literatura científica em bases de dados e dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). Utilizou-se o Portal CAPES, Scielo, LILACS, Google acadêmico, dentre outros. Os descritores foram: ensino superior no Brasil, ensino de Farmácia no Brasil, educação farmacêutica, história da Farmácia, metodologias ativas de ensino, diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em Farmácia, implementação das diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em Farmácia, pós-graduação em Farmácia, pós-graduação no Brasil. Foram utilizados artigos nacionais e internacionais contemplando os descritores buscados. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CAPITULO I 2.1.1 História da Farmácia Ao se referir aos primórdios da história da Farmácia toma-se parte da história da Medicina, pois as duas são inseparáveis, tanto no que tange ao diagnóstico quanto ao que se relaciona ao preparo e administração das ferramentas terapêuticas para a recuperação da saúde, ou seja, uso de medicamentos ou ainda outras terapias. (DIAS, 2005). Antropólogos apontam o uso de plantas e substâncias de origem animal e vegetal entre os períodos do Paleolítico e da Idade da Pedra Lascada, contudo faltam fontes arqueológicas para que se possa estudar o uso de substâncias com poder curativo e a forma de identificação de doenças no passado, de forma prática, o que se tem desse período se baseia em estudos de estruturas ósseas preservadas, principalmente o uso de práticas como a trepanação craniana ou perfuração craniana que deixou marcas em achados arqueológicos. A história traz relatos que referem que o último período demográfico trouxe mudanças nas práticas dessas civilizações que as levou a uma explosão populacional e a formação das sociedades urbanas, reformulando as relações humanas e com isso, a estrutura social e relações de trabalho. (DIAS, 2005). A civilização egípcia é uma das primeiras a desenvolver a escrita, e junto com as civilizações da Mesopotâmia, os Fenícios e os Hebreus tem grande contribuição na história da Farmácia. As primeiras fontes históricas possuem base nessas civilizações, pois com o estabelecimento da escrita foi possível os registros de tais práticas. A egípcia, por exemplo, utilizava um sistema de registro em um material denominado Papiro, uma espécie de papel de arroz, o mais famoso e importante papiro para a história da Farmácia é, sem dúvidas, o papiro de Ebers. Apesar de termos também o importante papiro de Hearst, além de outros, esses datam de 1550 a.C., tendo o de Ebers mais de 20 metros de comprimento e trazendo consigo 7000 substâncias medicinais que estavam distribuídas entre 800 fórmulas. (SILVA, 2009; DIAS, 2005). Desde o surgimento do homem como um ser provido de inteligência e capaz de se relacionar, o processo saúde-doença foi relacionados às suas crenças, ainda no berço da medicina no período Greco-romano podemos observar também aspectos mágicos religiosos, a medicina racional grega era vinculada a Asclépio, filho de Apolo e da ninfa Coronis, isto advêm de uma lógica onde o próprio Apolo como deus do sol tinha vínculo com a saúde que estaria relacionada às propriedades profiláticas do sol. Apolo, no momento do nascimento de Asclépio, o tira do ventre da mãe enquanto esta estava em uma pira funerária, o que representa a vitória da vida sobre a morte, imbuindo a ele o símbolo de deus da medicina. Asclépio aprende com centauro Quirón a arte da medicina, isso se deu a partir do uso de uma planta que conseguiria dar vida aos mortos. Outros personagens são incluídos no mito de Asclépio, seus familiares, Epione, sua esposa que era convocada para tratar as dores, seu filho Telésforo que representa a convalescença, sua filha, Higéia que é relacionada à manutenção da saúde e sua filha Panacéia que simbolizava a cura das enfermidades, tendo grande interface com os medicamentos. Isto serve bem para exemplificar a ligação da saúde a mitos e os aspectos mágico-religiosos, que além do politeísmo Greco-romano mostra ainda ligações com o xamanismo e pajelança de tribos indígenas. Pode-se citar, como exemplo, o mito do olho de Hórus no antigo Egito. (DIAS, 2005; SILVA, 2009). Nos estudos a respeito da Grécia antiga não se pode dizer que havia uma estrutura profissional bem definida, tão pouco um grau de profissionalização, o que se observava eram apenas divisões arcaicas do trabalho entre o médico que DIAS descreve como tendo a denominação de iatroi, além dos rhizotomos aqueles que cortavam raízes, ou seja, extraiam matéria prima vegetal, a pessoa que preparava os medicamentos era denominado pharmakopoeos, entre outras subdivisões, contudo, pode ser observada a forma artesanal de todas as atividades e a diferenciação entre elas dentro das atividades médico-farmacêuticas e o prestígio de cada um junto a sociedade que variava de acordo com a sua participação dentro do processo e o tipo de trabalho exercido. (SILVA, 2009; DIAS, 2005). Com a filosofia grega nasce a necessidade de explicar o processo saúde-doença utilizando-se de meios não sobrenaturais e esta está ligada a natureza, o primeiro a caracterizar a saúde desta forma foi Alcméon (535 a.C.) reportando a saúde como equilíbrio entre qualidades opostas e a doença caracterizada pelo predomínio de uma delas, tudo se baseava na idéia de Pitágoras (560 – 480 a.C.), ou seja, a relação entre equilíbrio e proporções numéricas. Essas correntes filosóficas dão origem às escolas pré-hipocráticas. (DIAS, 2005). Hipócrates de Kos (460 – 370 a.C.) tem ascendência ascléptica, e sua mãe lhe dá formação médica básica, foi ainda contemporâneo de Péricles, Empédocles, Sócrates e Platão, esses os quais lhe referiam elogiosamente. A Hipócrates é atribuída uma obra de 53 livros que foi posteriormente denominada “corpus hipocraticum” e eles trazem uma nova visão sobre o processo saúde-doença, relacionando-o a humores e substituindo a ideia inicial de Empédocles. A teoria hipocrática trazia consigo quatro humores, e estes eram: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. A relação entre os humores é de simples compreensão, onde o desequilíbrio (excesso, falta ou corrupção) entre os humores gerava o processo de doença, enquanto o equilíbrio representava a saúde. (SILVA, 2009; DIAS, 2005). Claudius Galeno (129 – 200), no século primeiro depois de Cristo, foi médico de gladiadores, depois foi nomeado médico do filho do imperador Marco Aurélio, indicação está que lhe garantiu prestígio. Galeno em seus trabalhos trazia estudos sobre a Farmácia e os medicamentos, ele observou a necessidade de organizar os fármacos, e então criou uma classificação que os dividia em três grandes grupos. Os estudos de Galeno levaram a transformação da patologia humoral de Hipocrates em uma teoria racional e sistemática. (DIAS, 2005). O advento da cristianização dos povos e a conversão de imperadores à doutrina cristã, por volta do século V, exerce notória influência sobre as práticas científicas, com alterações visíveis principalmente com relação à filosofia, e não foi diferente para a Medicina e para a Farmácia, que aliam a doença, a dor e o sofrimento ao pecado, de tal forma que se tem novamente a medicina atrelada a uma lógica religiosa, e uma condenação a Asclépio, uma vez que condena o politeísmo das antigas civilizações grego - romanas, o cristianismo atrela as figuras politeístas aos demônios que figuram em histórias de seu livro sagrado, a estes deuses da civilização grego - romana foi atribuída à figura de anjos caídos que era a gênese dos deuses daquela antiga civilização segundo os cristãos. Contudo, a Medicina e a Farmácia daquele período foram de fato influenciadas pelas teorias clássicas, uma vez que o cristianismo também era influenciado por teorias de Platão e Aristóteles. O destaque para a Medicina Hipocrática deste período está relacionado à construção e justificativa de conceitos do ponto de vista cristão tais como a ressurreição e a astrologia, mas com fundo na Medicina Hipocrática. A igreja sofre essa influência da filosofia grego - romana principalmente relacionada ao neo-platonismo o qual fez parte da doutrina Agostiniana. (DIAS, 2005). A Farmácia e a Medicina no mundo árabe passam a apresentar uma divisão real, ou seja, um nível superior de profissionalização se comparado ao que apresentava anteriormente, na capital Bagdá podemos observar comércios especializados na venda de “drogas” e medicamentos, ainda que muitos desses coordenados por comerciantes de conhecimento técnico-científico pobre, contudo, a partir do século VIII passa a existir um profissional com formação elevada que seriam chamados sayadilah. (SILVA, 2009; DIAS, 2005). Voltando à influência cristã sobre as ciências da saúde, pode-se observar o desenvolvimento da Farmácia e da Medicina monástica em meados do século IX, essa fase tem seu símbolo máximo marcado pela fundação do Mosteiro de Montecassino por São Bento. Estes espaços eram destinados ao cuidado de enfermos e eram compostos de enfermarias, boticas e jardins botânicos, os mosteiros também abrigavam textos antigos relacionados às teorias clássicas da medicina tais como as do período grego - romano de Hipócrates a Galeno. Já por volta do século X, houve a assimilação dos conhecimentos gregos - árabes por parte dos cristãos com a criação na cidade de Salerno do que foi denominada Civitas Hippocraticas, nesses locais habitavam médicos que estudavam as diversas teorias da medicina, compendiavam e ensinavam medicina, e ainda que laico mantinham relações estreitas com o Mosteiro de Montecassino, sua fundação traz consigo apenas uma lenda, pois na verdade não se sabe muito como ocorreu, algumas das as obras da Civitas Hippocraticas tiveram notória relevância principalmente durante os séculos XII e XIII. (DIAS, 2005). Desde sua criação até o final do século XII a escola de Salerno foi o principal centro de formação médica da Europa, contudo, ao longo do tempo os médicos que de lá saiam foram espalhando-se pelo mundo e levando seus conhecimentos para a formação de novos profissionais, ao longo do tempo surge a necessidade da formação do espaço acadêmico que viria a ser conhecido como universidade, essa nasce da demanda de estudantes e docentes de se organizarem em uma estrutura própria e totalmente diferente das organizações cléricas que até então predominavam, foram os médicos saídos de Salerno que impulsionaram a criação das universidades ainda que outras faculdades tenham tomado o controle sobre a criação dessas. A primeira escola de medicina foi autorizada em 1180, o que seria ainda cem anos antes da criação da primeira universidade. Nestas, a concepção do conhecimento passa a ser orientada, a formação com professores devidamente especializados é diferenciada, os médicos tinham foco na cirurgia e os farmacêuticos possuíam a formação centrada na arte farmacêutica, na preparação e no conhecimento sobre “drogas”, por toda a Europa havia o surgimento dos boticários que viriam a substituir os especieiros. (DIAS, 2005). Durante o período renascentista Paracelso desenvolve a primeira teoria oposta à Teoria dos Humores e a substituiu por uma filosofia que explicava o processo saúde-doença em uma filosofia natural de base química, apesar de não negar a teoria dos humores ou ainda a teoria dos quatro elementos, mas tornou-as completamente adornos frente a sua, inserindo elementos como sal, mercúrio e enxofre, ainda sim a Medicina de Paracelso estava atrelada ao misticismo e à religiosidade. (DIAS, 2005). 2.1.2 A Farmácia no Brasil Os nativos brasileiros da época da “descoberta” do Brasil já possuíam suas práticas de curandeirismo através dos pajés, que eram pessoas de prestígio nas tribos e tinham a atribuição de utilizar recursos naturais para transformar matérias primas em instrumentos curativos, por meio do contato com os seus deuses, e até os dias atuais muito da medicina popular brasileira tem relação com esses antigos conhecimentos. (SPADA ET. AL., 2006). Então, a partir da colonização foram abertas algumas boticas no país, com o passar do tempo e a vinda dos Jesuítas ao Brasil, estes passam a abrir em seus mosteiros enfermarias e boticas, assimilando ainda vários dos conhecimentos dos nativos brasileiros e utilizando-se dela para o tratamento de enfermos. A Farmácia no Brasil segue de forma fiel os conhecimentos trazidos pelos portugueses, contudo, com o passar dos anos, acorreram mudanças relacionadas à assimilação da cultura indígena brasileira ao uso de plantas e raízes. (SILVA, 2009; SPADA ET. AL., 2006). Até o início do século XIX se multiplicaram as boticas, ainda que existissem desde o inicio da colonização do Brasil, nesse período, mais precisamente no ano de 1858 a primeira associação brasileira de farmacêuticos foi criada e a partir desse estimulo surgiram várias outras associações de farmacêuticas, o que desencadeou o fortalecimento da profissão no Brasil. (SILVA, 2009; VELLOSO, 2007). A Farmácia, da mesma forma que muitas outras profissões, se desenvolve em nosso país a partir da vinda da família real portuguesa para o Brasil, e com o estabelecimento de universidades se dá a profissionalização da Farmácia no país, já que o ofício de boticário era ensinado informalmente no período anterior. Nessa época, ainda é restrito o acesso a médicos, principalmente porque os médicos estavam responsáveis por assistir à Corte, ou seja, presente apenas no Rio de Janeiro, em Salvador e alguns centros urbanos de províncias, e com isso a maior parte da população que se encontrava no campo permanecia desassistida, e então essas pessoas passavam pelas mãos dos curandeiros e ainda cirurgiões-barbeiros, esses competiam diretamente com os boticários, uma vez que além de realizar sangrias também comercializavam medicamentos. (SANTOS e SILVA, 2003; VELLOSO, 2007; SPADA ET. AL., 2006; SILVA, 2009; FIGUEIREDO, 1999). As boticas eram cada vez mais relevantes e a cada dia mais pessoas procuravam esses estabelecimentos buscando por medicamentos e o conhecimento dos boticários sobre o uso destes, por muito tempo essa prática perpetuou sendo ensinada com certos critérios a novos aprendizes da prática das boticas, contudo, ainda não havia fundamentação cientifica adequada. (SILVA, 2009; VELLOSO, 2007). A vinda da corte Portuguesa para o Brasil provocou a organização da Farmácia, havendo, com isso, a definição da classe e o início da construção de um modelo de ensino farmacêutico no Brasil, tudo isso via as organizações farmacêuticas formadas anteriormente. Ocorreu a visível profissionalização no país, tendo esse processo iniciado nas cidades de Salvador e do Rio de Janeiro, mas foi apenas em 1832 que aconteceu a formalização. (SILVA, 2009; VELLOSO, 2007). A organização da Farmácia no Brasil teve alicerces firmes na estrutura lusitana, até tempos próximos a referência na Farmácia portuguesa foi visível, isso se deu devido à proximidade entre os dois países em função da colonização. (SANTOS e SILVA, 2003; VELLOSO, 2007). Os estabelecimentos farmacêuticos são descritos na história do Brasil como espaços de grandes debates políticos e de saberes, com isso, o farmacêutico possuía um elevado prestígio perante a sociedade, nos tempos em que havia a produção de medicamentos através da “arte farmacêutica”, ou seja, de modo artesanal, respeitando os conhecimentos farmacotécnicos da época. Mas o advento da industrialização dos medicamentos mudou completamente este cenário, foi o exato ponto do declive do prestígio de que gozavam os Farmacêuticos, vale salientar que quando se fala do advento da indústria farmacêutica faz-se referência a expansão dessa modalidade da indústria pelo mundo, saindo assim de seus nichos iniciais e comprometendo seriamente o futuro da profissão, em especial, após o termino da segunda guerra mundial. (SANTOS e SILVA, 2003). É importante destacar que muito disso se deve, no caso do Brasil, ao tipo de organização que sofreu e sofre a profissão, em nosso país desde o início os estabelecimentos farmacêuticos foram criados para serem “comerciais” e nunca se destacaram como “centros de saúde”, já em outros países, a Farmácia se origina de forma a valorizar o estabelecimento concebendo-o para ser entendido como um posto avançado de saúde, além de um local de dispensação de medicamentos, o que difere de forma fundamental de um simples comércio. (SANTOS e SILVA, 2003; SILVA, 2009). Ainda que houvesse associações no país como um todo, a profissão precisava se organizar de outra forma, era necessário o surgimento de um órgão que garantisse que aquele profissional era habilitado, não bastava mais apenas o diploma, esse órgão também estaria comprometido a proteger tanto a população quanto os próprios profissionais. Em 1960 foi criado o Conselho Federal de Farmácia (CFF), através da Lei Nº 3820 de 30 de novembro de 1960. (SANTOS e SILVA, 2003). Juntamente a esse processo, no ano de 1963, com a reforma curricular, o farmacêutico passa a ter como componente de sua formação as análises clínicas, de forma merecida por conta da sua estruturação de saberes e conteúdos, e foi ainda uma forma de compensar a profissão que tinha sido afastada de suas funções primárias. Esse perfil da Farmácia e do farmacêutico se manteve até o fim do século XX e através de grandes debates acerca do tema nos anos 90, temos no início do século XXI, mais precisamente no ano de 2002, a formalização de uma nova proposta para a profissão, seguindo a tendência do ensino médico e de enfermagem, com uma visão de saúde completamente diferente das que foram concebidas em diretrizes anteriores. (BRASIL, 2008; SILVA, 2009; SPADA ET. AL., 2006; ENEFAR, 1995). O que é inegável é que mesmo o farmacêutico do século XX e esse novo modelo que passa a se estabelecer no século XXI, ainda buscam o reconhecimento e prestígio perdidos junto à sociedade séculos atrás. (SANTOS e SILVA, 2003; SILVA, 2009). 2.1.3 A organização do ensino superior no Brasil As primeiras instituições de ensino superior no Brasil surgem no ano de 1808, com a vinda da família real portuguesa para o país, fato esse que aconteceu devido à mudança do status da colônia, pois até aquele momento havia muita resistência à criação de universidades no Brasil, surgiram então, as escolas de cirurgia e anatomia em Salvador, anatomia e cirurgia no Rio de Janeiro, além da Academia da Guarda Marinha no mesmo estado. Em 1827, foram criados os cursos jurídicos que posteriormente vieram influenciar a formação das elites e a mentalidade do império, estas vão trazer dentro de si debates, novas filosofias, correntes literárias e culturais diversas, tudo isso, tanto nas províncias como para o governo central. (FÁVERO, 2006; MARTINS, 2002). Assim como no início do Brasil colônia até a vinda da família imperial portuguesa para o Brasil, logo após a proclamação da República ocorrem novas tentativas frustradas de organização do ensino superior. Ao final do século XIX havia no país apenas 24 instituições de ensino superior e cerca de 10000 estudantes. No período de 1889 a 1930 o ensino superior brasileiro sofre mudanças significativas decorrentes de diferentes promulgações, ressaltando as influências positivistas neste processo que se acentua com a reforma Rivadávia Corrêa em 1911, esta que institui o ensino livre. O modelo que fora pensado para ser estabelecido pela elite intelectual do período denotava na instituição das universidades públicas divergindo do modelo que vigorava, ou seja, apenas cursos isolados. (FÁVERO, 2006; MARTINS, 2002). Durante o primeiro governo provisório de Getúlio Vargas é realizada ampla reforma no ensino brasileiro, conhecida como Francisco Campos que fora o primeiro ministro da educação do Brasil, este regulou e autorizou o funcionamento das universidades inclusive a cobrança de taxas anuais nessas, pelo fato das universidades públicas não serem gratuitas naquele período. (FÁVERO, 2006; MARTINS, 2002). O período de 1945 a 1968 houve grande impacto sobre o sistema de ensino vigorante no Brasil, esse período tem um marcado protagonismo estudantil frente às necessidades de reformas no ensino superior, em resposta a essa demanda os estudantes se organizam e então se forma o movimento estudantil brasileiro, movimento social com sua gênese na universidade e atrelado a este fato surge o movimento sindical docente ao qual aderem jovens docentes, toda a luta frente à instauração de um sistema ditatorial no país culmina na reforma universitária de 1968. Essa reforma levou à mudanças significativas nas instituições de ensino superior federais (IFES), além de atingir algumas estaduais e confessionais. Com a reforma passamos a observar uma articulação entre ensino e pesquisa, enquanto anteriormente estas eram dissociadas, impulsionando assim a organização da pós-graduação no país, o que seria de vital importância para assuntos de soberania nacional no que diz respeito à ciência e tecnologia. (FÁVERO, 2006; MARTINS, 2002; MARTINS, 2009). Com a reforma de 1968 surgem também as instituições de ensino superior privadas, estruturadas em um modelo diferente das IFES, diferenciada por um modelo de empresas educacionais que objetivavam o lucro e atendimento das demandas mercadológicas da forma mais eficiente possível. Anteriormente à reforma de 1968, as poucas instituições de caráter privado eram muito similares ao das IFES, e recebiam subsídios públicos. Destacam-se com relação a esse tipo de atuação as universidades católicas, que ainda por um longo tempo foram dependentes destes subsídios estatais. (MARTINS, 2009). No período de 1964, com a instauração do golpe militar e um decreto que extingue a União Nacional dos Estudantes (UNE) e limita a existência de entidades estudantis, impondo severas punições aos membros dessas, além de ter sido criado um departamento no Ministério da Educação e Cultura (MEC) que eram responsáveis por fiscalizar as atividades políticas de estudantes e professores, mas com isso muitos estudantes se colocaram a serviço da luta contra o regime que se instalou naquele momento, o papel da UNE, mesmo na clandestinidade, foi decisivo no processo de organização da resistência ao regime ditatorial. Muitos jovens que lutavam contra esse regime “desapareceram” e não foram mais encontrados. (MARTINS, 2009). Muitos mestres considerados “perigosos” ao governo ditatorial receberam aposentadoria compulsória por parte de suas IES, no entanto isso não calou os lutadores pela liberdade e contra o golpe, as associações de professores que sofreram as mesmas sanções das organizações estudantis não se calaram frente a essa tentativa do governo em silenciar a universidade brasileira, lutaram em um momento em que isso não parecia possível ao enxergarmos a truculência do governo instalado. As organizações dos movimentos sociais da época levaram a uma desinstitucionalização dessas entidades. (MARTINS, 2009). Os currículos estabelecidos pelo governo militar de 1964 desagradou a docentes e estudantes que resistiram ao ensinar no que denomina Martins (2009) como “cursos paralelos” de forma a expressar o desacordo com as matrizes curriculares estabelecidas pelo governo golpista. Após certa tensão estabelecida para ampliação do ensino superior no Brasil o governo federal se sentiu pressionado a realizar, rapidamente, uma reforma no ensino superior brasileiro, contudo, diferente do período populista que antecedeu o golpe, não houve amplo debate com a sociedade. (MARTINS, 2009). Uma reforma no ensino superior foi se estabelecendo aos poucos, inicialmente com a eliminação de cátedras vitalícias e instituição de departamentos e do ciclo básico nos primeiros anos de ensino superior, mudanças nos vestibulares também foram instituídas. No ano de 1968 revoltas estudantis explodem ao redor do mundo e no Brasil, além das mudanças no sistema de ensino também era aspiração o restabelecimento da democracia no país. (MARTINS, 2009; FÁVERO, 2006). Surge então um grupo de trabalho para pensar a reforma universitária de uma maneira “viável” e no fim, este grupo acaba deixando brechas para a inserção das instituições privadas no mercado do ensino superior, o que aos olhos do governo parecia bom, uma vez que os “excedentes” do vestibular provavelmente não seriam mais um problema. Mudava assim também o modelo de Universidade estabelecido no Brasil, uma vez que o modelo utilizado até então, por volta de 1971, era inspirado nas universidades européias e naquele momento, modelos a partir de 1972 aproximadamente, o Brasil adotava um modelo semelhante ao que há nos Estados Unidos da América, modelo esse que abre o espaço para a iniciativa privada na educação, modelo esse que vigora até hoje. (MARTINS, 2009; FÁVERO, 2006). Apenas a partir dos anos 80 uma nova reformulação do ensino superior passa a ser discutida no Brasil e está relacionada ao número reduzido de professores e ao surgimento de uma nova consciência acadêmica de caráter não só técnico-científico, mas novamente com forte caráter político. A constituição de 1988 passa a tratar a educação não mais como um dever do estado e sim como serviço passível de negócio, lucratividade e caráter comercial, modelo esse que há tempos já estava estabelecido nos Estados Unidos da América. Na década de 90 temos uma constante ampliação, até que nos mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002) se dá a franca expansão das universidades privadas. (MARTINS, 2009; FÁVERO, 2006). Segundo Sergenreich (2009) no período de 1996 a 2004, houve um aumento de 118,3% no número de instituições de ensino superior (IES), além de um notório sucateamento das IES públicas, podendo ser observado um fenômeno privatista sobre o ensino superior brasileiro que se perpetua além do governo que iniciou o processo. É notória como ação de Fernando Henrique Cardoso na implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) no ano de 1996, acompanha essa expansão do ensino privado no Brasil. (FÁVERO, 2006; SEVERINO, 2008; SERGENREICH, 2009). Com o estabelecimento do governo de Luís Inácio Lula da Silva iniciou-se o debate a respeito de uma reforma universitária, contudo a mesma passou a ser estabelecida aos poucos, totalmente fragmentada e sem relação direta ao debate realizado dentro do movimento estudantil e do movimento sindical docente. Na verdade, o que estava a ser instituído atendia a interesses elitistas, porém não somente no que se refere a não prestação de serviços de qualidade a camadas menos favorecidas da sociedade, mas também na conversão do espaço educacional como mais um para a acumulação do capital. (MINTO, 2008; OLIVEIRA, 2009; SEGENREICH, 2009). Pode-se questionar notadamente a quem serve a mercantilização do ensino e a reforma privatista estabelecida pelo governo Lula com programas como a universidade para todos (PROUNI) onde o investimento no ensino privado pode ser verificado em sua totalidade. Eles vem salientar que a reforma universitária proposta no governo Lula ainda tramita nas instâncias do poder legislativo e é alvo de muito debate, mas programas como o supracitado PROUNI vem implantando propostas da reforma universitária, enquanto o projeto ainda é discutido e não foi aprovado, como exemplo, temos o programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) que ampliou o acesso a universidades, mas a precarização nas IFES se aprofunda, apesar da contratação de novos docentes pode ser observado um déficit na relação professor/estudante. (MINTO, 2008; OLIVEIRA, 2009; SEGENREICH, 2009). 2.1.4 O ensino de Farmácia no Brasil A formação dos agora farmacêuticos se deu a partir da demanda das associações compostas por esses profissionais, que foram se formando por volta da metade do século XVII e também da construção de uma ideia de saúde pública que estava relacionada com a higiene pública e com a organização das leis sanitárias brasileiras, tudo isso, decorrente da presença da corte portuguesa no Brasil. (VELLOSO, 2007). As cadeiras de Farmácia surgem dentro das faculdades de medicina e cirurgia do Rio de Janeiro e Salvador, mas ainda não eram efetivamente cursos de graduação em Farmácia, ainda que titulasse as pessoas como “Farmacêuticos”, mas é por força da associação mineira de farmacêuticos que por decreto surgem as primeiras faculdades de Farmácia no Brasil, nas cidades de Ouro Preto e São João del Rei, efetivando-se naquele momento apenas aquela, como mais antiga do Brasil e da América do Sul. Esse curso criado em Ouro Preto foi seguido pela criação de faculdades de Farmácia nas cidades de Porto Alegre – RS, em 1886, e São Paulo – SP, em 1898. (SANTOS e SILVA, 2003; SPADA ET. AL., 2007; VELLOSO, 2007). O currículo instituído em 1832 foi organizado para uma duração de três anos, as disciplinas das áreas de concentração dessas diretrizes eram “física, química e botânica médica, princípios elementares de zoologia e de mineralogia, matéria médica (com ênfase na flora medicinal brasileira) e a arte da formulação” segundo Silva (2009), além das disciplinas colocadas para a titulação do Farmacêutico era necessário um treinamento prático de período próximo a três anos em botica com supervisão de boticário habilitado (diplomado). (SILVA, 2009; VELLOSO, 2007). Outra reforma ocorrida já em período republicano, a contragosto dos farmacêuticos, aconteceu no ano de 1901 e reduzia o período de formação em Farmácia há meros dois anos (EDLER apud. SILVA, 2009). Em 1911 a Farmácia retorna a ter cursos com a duração de três anos, com inserção de algumas novas disciplinas, buscando um foco em relação ao processo de industrialização da Farmácia. Mas, é com a desprofissionalização da Farmácia a partir da expansão da indústria Farmacêutica pelo mundo, e consequentemente pelo Brasil, que a figura do Farmacêutico passa a se retirar da botica e surge a formação do Farmacêutico – Bioquímico, com as disciplinas da área de análises clínicas sendo introduzidas na formação do Farmacêutico, que recebe essa nova área de atuação. (SILVA, 2009; SOUZA E BARROS, 2003). Na reforma seguinte, o ensino de Farmácia está intimamente ligado à reforma universitária brasileira de 1968, o modelo que foi instituído para a formação de novos farmacêuticos a partir do ano de 1969 foi o que vigorou até período recente, se tratava de uma formação em três anos como era feito anteriormente com o estabelecimento do segundo currículo mínimo para graduação em Farmácia, mas havia, neste momento, a possibilidade de serem feitas habilitações ao final da formação (três anos para a formação do Farmacêutico) em três áreas de concentração diferentes, análises clínicas (Farmacêutico – Bioquímico), análises de alimentos e por fim tecnologia farmacêutica (Farmacêutico – Industrial). (SOUZA E BARROS, 2003; SILVA, 2009). É já na década de 80 que os farmacêuticos sentem a necessidade de rediscutir a formação, e voltar o seu foco ao medicamento, que é, de forma insuperável, a área privativa do farmacêutico. Acontece, nesse momento, uma redefinição da identidade profissional e social, assim como a estruturação do conceito de assistência farmacêutica. (SOUZA E BARROS, 2003; SPADA ET. AL., 2007; SILVA, 2009). Ao final da década de 80 estudantes de Farmácia e profissionais farmacêuticos se organizam em torno da reformulação do ensino de Farmácia, com a observância do fenômeno de migração do farmacêutico para as áreas afins e afastamento da área do medicamento, e objetivando retomar os rumos da profissão e reaproximar o farmacêutico do medicamento e da saúde pública, a visão do farmacêutico enquanto profissional de saúde, é marcada também pela referência na saúde pública devido ao movimento de reforma sanitária no Brasil. (SOUZA E BARROS, 2003; SPADA ET. AL., 2007; SILVA, 2009). As novas diretrizes surgem de um amplo esforço por parte da ENEFAR e da Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR), entre as décadas de 80 e 90, baseados em uma visão realmente pedagógica relacionada à transformação da formação profissional, da própria sociedade e dos indivíduos através da educação, esforços são concentrados por meio da organização dos seminários de avaliação dos currículos de Farmácia, esse movimento traz novos elementos e que culminam em um documento histórico ao final do VII Seminário Nacional de Currículo de Farmácia, o relatório final deste evento marcou a construção das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia (DCNF) que seriam publicadas somente sete anos após este evento em conformidade com a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB). (ENEFAR, 1995; SPADA ET. AL., 2007; ENEFAR, 2008; SILVA, 2009). 2.1.5 Perspectivas para o ensino de Farmácia no Brasil Hepler e Strand (1990) dizem que “se analisa a oportunidade da Farmácia para amadurecer como profissão aceitando sua responsabilidade social de reduzir preventivamente a morbi - mortalidade relacionada com os medicamentos”. E aponta, com isso, os rumos que a Farmácia tomaria enquanto profissão no mundo, o ofício então é visto retomando proximidade com “o medicamento” e isso não estava relacionado à produção como por muito tempo tivera sido mantido. (HEPLER e STRAND, 1990). A omissão do Farmacêutico frente aos medicamentos e à orientação das pessoas, e consequentemente o afastamento da saúde pública e de seu papel como profissional da saúde, traçavam novas mudanças. Com efeito, o mundo passa a debater a assistência farmacêutica e com ela, um novo conceito, a atenção farmacêutica. (HEPLER e STRAND, 1990; SILVA, 2009). Lyra Jr (2005) relata que já em 1997 o movimento estudantil de Farmácia discutia a Atenção Farmacêutica como tema principal do XX Encontro Nacional dos Estudantes de Farmácia (ENEF). Há referências ao artigo de Hepler e Strand nos trabalhos de Neves (1995) e Santos (1999). (SILVA, 2009, p. 125. Grifo nosso). Souza (2003) menciona alguns pontos destacados por movimentos pela reforma sanitária e alguns outros relacionados à reforma do ensino das profissões do campo da saúde e que são contempladas pelas diretrizes de 2002 da Farmácia, a concepção de projetos políticos pedagógicos fundamentados na proposta da ENEFAR e FENAFAR em 1998, em conjunto com a proposta filosófica aprofundada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Graduação em Farmácia (DCNFs) de 2002, fornece ferramentas eficazes para a construção de um modelo transformador e integrador da Farmácia enquanto profissão, dessa forma, como já sugeria Hepler em 1985 a Farmácia deve se tornar uma profissão clínica. (SOUZA E BARROS, 2003; HEPLER, 1985). Principalmente no que tange a Atenção Farmacêutica, tanto quanto a Farmacognosia, entre outras, a Farmácia possui um perfil social importante, sendo potencializada pelo perfil extensionista do curso, o que corrobora para a formação de profissionais clínicos e socialmente comprometidos, atendendo aos princípios colocados nas DCNs de 2002 que afirmam buscar uma formação “generalista, humanista, crítica e reflexiva”. (BRASIL, 2001; SILVA, 2009). 2.1.6 A formação do docente e as metodologias ativas de ensino no ensino das ciências da saúde No Brasil, ainda há cursos de pós-graduação que não contemplam disciplinas pedagógicas, além de outros fatores que não contribuem para esses conhecimentos e habilidades as serem adquiridos. No caso específico da Farmácia, não existem egressos licenciados, e com a existência apenas de bacharéis temos efetiva necessidade de que os docentes se atentem para a formação pedagógica, essa que vai muito além da técnica preteritamente adquirida. (LABEGALINI e MARÇOLLA, 2009) Pode-se, dessa forma, evidenciar os pedagogos como importantes profissionais no auxílio à correção das deficiências de docentes do ensino superior para a composição do trabalho de ensino-aprendizagem, as possibilidades que a universidade, e essa interação, ofertam são infinitas e de ganho para educadores e discentes. O reflexo do trabalho conjunto dos docentes de ensino superior com profissionais da pedagogia em auxílio à didática prioriza o processo, tudo isso, sem ignorar o técnico. (LABEGALINI e MARÇOLLA, 2009) O traquejo com o discente não é algo a ser ensinado, mas faz parte do processo de formação do docente ter competências e habilidades que o levem a respeitar o discente, sobretudo em suas limitações, isso torna o convívio mais harmonioso, além de possibilitar o desenvolvimento pleno do estudante, com isso, além da formação técnica há formação do acadêmico enquanto cidadão, profissional respeitoso e ético, dentro de uma cultura de tolerância que deve ser incentivada dentro da academia e que se reflete amplamente no trato com o paciente, no caso do profissional da área de saúde, nesse ponto, se estabelece um diálogo com o que dizem as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) (Resolução CNE/CES 2, de 19 de fevereiro de 2002), essa nos traz a necessidade de uma formação generalista, humanista e reflexiva, as habilidades supracitadas coadunam com a parte humanista e reflexiva da formação do profissional Farmacêutico. (LABEGALINI e MARÇOLLA, 2009; NORO, 2002 apud NUTO et. al., 2006 p. 90) Em se tratando da formação do docente do ensino superior, não se pode deixar de colocar da questão da educação continuada do docente. O conhecimento é transformado e rediscutido continuamente, e uma vez que se decida pela carreira acadêmica assume-se a responsabilidade de acompanhar a transformação e debate sobre o conhecimento, tanto técnico quanto de novas metodologias de ensino, e também mudanças sociais, principalmente em relação ao grau de integração entre as diversas nações e a velocidade na comunicação e disseminação de informações, ou seja, exercer a docência é doar-se à construção contínua do conhecimento e compreensão das novas demandas e transformações sociais, é dessa forma que se pode demonstrar a importância da educação continuada no ensino superior. (LABEGALINI e MARÇOLLA, 2009) Os cursos da área de saúde estão trabalhando com propostas que tentam romper um paradigma do ensino. O ensino centrado no professor e nos conteúdos se mostra cada dia mais ineficiente, além de favorecer a lógica da reprodução do conhecimento, uma prática mecanicista, tecnicista e que torna o conhecimento fragmentado. A quebra desse modelo tem sido alcançada efetivamente através das metodologias ativas de ensino. Dentro dos diversos cursos da área de saúde, essas metodologias estão sendo nomeadas por “Aprendizagem Baseada em Problemas (APB)”. No processo onde se aplicam as metodologias ativas a valorização dos indivíduos que são parte do processo de aprendizagem levando cada um a fazer parte dele, seres livres e que contribuem para a construção conjunta do conhecimento, acredita-se que esse “método” seja de grande valor, uma vez que o indivíduo sente-se parte do processo, o que ele realmente é. (MARIN et.al., 2010) O método de “Aprendizagem Baseada em Problemas” está intimamente associado à pedagogia defendida pelo pedagogo brasileiro Paulo Freire, uma vez que tem como filosofia uma práxis libertadora/problematizadora e no ser o principal responsável pela construção de seu conhecimento, e através da crítica se formam críticos e de forma a refletir sobre suas ações e o poder transformador que cada ação pode exercer. O campo saúde precisa cada dia mais de profissionais comprometidos com a transformação e que critiquem o tecnicismo e o mecanicismo das ações, que sejam responsáveis pela construção contínua do conhecimento. Dessa forma, as metodologias ativas de ensino ganham espaço dentro das ciências da saúde. (LABEGALINI e MARÇOLLA, 2009; MARIN et. al., 2010; MITRE et. al., 2008). Há tempos, dentro das ciências da saúde, temos tido dificuldades para transpor o paradigma firmado pelo modelo tão rígido e tecnicista imposto, o conservadorismo têm separado idéias, separado o corpo em sistemas, quando na verdade, o conhecimento é um só, quando na verdade não podemos falar de sistemas, mas sim, de um ser de complexidade única. Dentro da Farmácia “a arte” foi substituída pela “robotização” dos profissionais, milhares de seres proibidos de pensar e ordenados a reproduzir. O uso de metodologias ativas visa contribuir na mudança destas distorções que impregnam o sistema educacional. Ampliar a visão sobre os seres, balancear as contribuições e trocas entre estudantes e docentes, contudo esta equação ainda não está completamente balanceada. (LABEGALINI e MARÇOLLA, 2009; MARIN et. al., 2010; MITRE et. al., 2008) A maturidade e compreensão se fazem necessárias dentro das metodologias ativas de ensino, é reconhecendo a sua necessidade de conhecer mais que estudantes e docentes processam a troca de conhecimentos. As maiores barreiras que as metodologias ativas encontram hoje são, de fato, a vontade de conhecer por parte dos construtores de seus próprios conhecimentos, e não se pode incluir neste espaço apenas os discentes, além disso, inclui-se a ruptura, forçada e abrupta, com o modelo vigente, o que confunde e, muitas vezes, dificulta o estudante a compreender onde o mesmo poderá buscar o conhecimento. As metodologias ativas encontram as maiores dificuldades e resistências dentro de disciplinas do chamado ciclo básico dos cursos de saúde, mas ainda assim, representa inesgotável fonte de formação voltada para a integralidade dos seres e para as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, que hoje necessita de profissionais capazes de atuarem em equipe e com perfil inovador para lidar com as adversidades que atravancam o desenvolvimento deste. (GOMES, 2010; MARIN et. al., 2010; NUTO, 2006). 3 DESENVOLVIMENTO 3.1. CAPÍTULO II – O CAMINHO ATÉ AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA CURSOS DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA E AS PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO DE FARMACÊUTICOS NO BRASIL 3.1.1 O histórico da estruturação das diretrizes curriculares nacionais para o curso de Farmácia no Brasil Durante a década de 60 aconteceu em conjunto com a reforma universitária uma reformulação nos currículos dos cursos de Farmácia, e nela foi retirada a disciplina de química farmacêutica, o que iniciou o afastamento do farmacêutico de sua principal atribuição, o medicamento, o eixo central de sua formação, além disso, essa atitude causou um incalculável atraso na pesquisa e desenvolvimento de fármacos no Brasil. Houve, ainda, um fortalecimento da área de concentração das análises clínicas, (ENEFAR, 1995; SILVA, 2009; SPADA ET. AL., 2006). A categoria farmacêutica só percebeu a situação em que se encontrava após uma ampla e profunda reflexão, e essa se deu a partir da luta organizada contra o denominado “projeto biomédico”, as entidades da classe se unem para lutar contra este que era um projeto que ameaçava a estrutura do mercado para os farmacêuticos, e que tinha tênues laços com o campo que a Farmácia ostentava desde os anos sessenta. Junto ao “projeto biomédico” a saúde no Brasil sofria alterações profundas, sendo estas realizadas por entidades civis organizadas, sendo compostas por diversos sindicatos, movimento estudantil, entre outras. A partir desse quadro, a classe farmacêutica sente a urgência em discutir a situação e o movimento estudantil de Farmácia, na figura de sua executiva de curso (Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia – ENEFAR) passa a debater mais expressivamente sobre o ensino de Farmácia no país. (ENEFAR, 1995; SILVA, 2009). Após observar a assistência farmacêutica garantida pela Constituição Federal Brasileira de 1988 durante o X Encontro Nacional dos Estudantes de Farmácia (ENEF) TSE iniciou o debate sobre as necessidades de mudança na formação do farmacêutico para atender a nova organização da saúde brasileira e também para se reencontrar enquanto profissão e dessa forma, reaver o prestígio social que há muito estava perdido, contudo, foi apenas no XI ENEF que se instituiu um espaço que viria a fortalecer estes debates e futuramente agregar outras entidades, sendo estas construídas por profissionais já diplomados. O I Seminário Nacional de Currículo de Farmácia (SNCF) foi pactuado e organizado durante o XI ENEF, a plenária final deste ENEF decide pela realização do I SNCF na cidade de Ouro Preto, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), isto se deu por esta ser a primeira escola de Farmácia isolada da América Latina. (ENEFAR, 1995). No dia trinta de outubro de hum mil novecentos e oitenta e sete teve inicio o I SNCF na cidade de Ouro Preto – Minas Gerais, o objetivo geral desse seminário era determinar o perfil do farmacêutico e as adequações a serem feitas nas diretrizes curriculares dos cursos de Farmácia do Brasil, principalmente pelo fato de haver diferenças gritantes entre as diversas faculdades de Farmácia do país. Dessa forma, se estabeleceu como principal a mesa redonda intitulada “O Farmacêutico e a sociedade” e a partir desta, se fez um diagnóstico da profissão, tudo sendo retomado a partir do resgate histórico que fez parte da mesa. (ENEFAR, 1995). O perfil do Farmacêutico só se consolida no III SNCF, a partir da síntese das propostas dos dois seminários anteriores, na cidade de Campinas – São Paulo. (ENEFAR, 1995). De acordo com as diretrizes estabelecidas nesses encontros, o profissional farmacêutico ao final do curso deve estar apto a: avaliar crítica e humanisticamente a sociedade nos seus aspectos bio-psico-sociais; Trabalhar criticamente com a comunidade a sua função social; participar e agir como profissional de saúde dentro de seu âmbito profissional; prestar assistência farmacêutica; promover farmacovigilância; promover vigilância sanitária; participar de uma política nacional de saúde e lutar por uma política nacional de medicamentos, que atenda às reais necessidades do país. (ENEFAR, 1995. Grifo nosso). Foi no IV SNFC que se aprovou a incorporação de componentes que garantissem que as duas grandes áreas de saúde coletiva e tecnologia deveriam constar no currículo que estava se estruturando. Reaproximando, dessa forma, o farmacêutico do medicamento e formando profissionais que se entendam como profissionais de saúde e levem grande contribuição à saúde coletiva e aos diversos níveis de complexidade da saúde, desde a atenção básica até a alta complexidade. (ENEFAR, 1995). No V SNCF passou-se a discutir o currículo propriamente dito, e também como os estágios são componentes curriculares e didáticos de fundamental importância para a consolidação dos conhecimentos ao longo do curso. A forma como deveria acontecer as mudanças curriculares e como estas deveriam ser contextualizadas de forma dinâmica, a fim de se evitar distorções e choques, além de fortalecer os componentes pedagógicos, assim como, o amadurecimento das idéias que permearam o espaço, e dentro desse contexto também amadurece a idéia e a organização de um novo espaço para debate que é o Encontro Nacional de Reforma Curricular (ENRC), espaço esse que se tornou tão vital quanto os SNCF. (ENEFAR, 1995). Foi apenas no VII SNCF que ocorreu logo após o IV ENRC que as coisas foram sendo finalizadas, e é no VII SNCF que um grupo de trabalho é escolhido para transcrever as propostas junto ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), e dessa forma que o MEC pudesse debater na câmara de ensino superior apenas o projeto que tivesse saído do SNCF, e finalmente se estabeleceu um novo modelo. (ENEFAR, 1995). O que se seguiu foi uma sucessão de equívocos, uma vez que, a proposta aprovada no MEC em 2002 trazia graves distorções em relação ao que havia sido discutido e entendido como adequado pelas entidades farmacêuticas, que entenderam que o objetivo principal era reinserir disciplinas que reaproximassem o farmacêutico do medicamento, contudo, ainda havia a proposta de manter as análises clínicas e as análises de alimentos como habilitações após a conclusão da graduação em Farmácia, o que não ocorreu no currículo de 2002. 3.1.2 Uma breve análise sobre as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em Farmácia e sua implementação Art. 3º O Curso de Graduação em Farmácia tem como perfil do formando egresso/profissional o farmacêutico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Capacitado ao exercício de atividades referentes aos fármacos e aos medicamentos, às análises clínicas e toxicológicas e ao controle, produção e análise de alimentos, pautado em princípios éticos e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade. (BRASIL, 2002. Grifo nosso). O trecho acima retrata a essência das novas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Farmácia (DCNF). As atuais diretrizes trouxeram uma flexibilização a formação dos farmacêuticos, no que diz respeito à organização dos novos projetos políticos pedagógicos e matrizes curriculares baseadas nessas DCN, o reaproximou do medicamento, e ainda retomou esse profissional como do campo da saúde e para a atuação em todos os seus níveis de atenção, uma vez que, o farmacêutico a partir do tecnicismo que se empreendeu ao longo do tempo não se posicionava mais como tal. (BRASIL, 2008; FURTADO, 2008; SOUZA e BARROS, 2003). Todavia, a flexibilidade que apresentam as atuais DCNF trouxe distorções na organização de projetos político pedagógicos e, por consequência, nas matrizes curriculares. Essa distorção se trata de um entendimento confuso em relação à real proposta das DCNF e sua flexibilidade, com o forte apego ao conservadorismo e dificuldade em se estabelecer projetos político pedagógicos que contemplem novas metodologias de ensino, ou seja, metodologias que acompanhem as mudanças inseridas nas DCNF. (BRASIL, 2008). As diretrizes também trazem um importante componente que trabalha uma antiga necessidade da área de saúde, a equipe multidisciplinar, isso vem dialogar com o afastamento da posição do farmacêutico enquanto profissional de saúde, dessa forma, seria assegurada dentro da formação acadêmica desse profissional a associação com o processo saúde-doença; com os pacientes e outros profissionais da saúde e não uma formação apenas tecnicista. (BRASIL, 2008; BRASIL, 2002). Um desafio se coloca frente as DCNFs, sua implementação em primeiro plano, e em seguida a metodologia de ensino acompanhada de uma avaliação que esteja de acordo com essas mudanças e que siga as novas metodologias. Ainda hoje temos estes como principais entraves na implementação das DCNF em relação ao modelo antigo, este que figura devido à resistência de muitos docentes em se adaptar e reconstruírem a forma de ensinar, alguns se encontram associados a uma nova proposta de ensino, mas se limitam a “velha maneira de ensinar”. (BRASIL, 2008; SOUZA e BARROS, 2003). Art. 7º A formação do Farmacêutico deve garantir o desenvolvimento de estágios curriculares, sob supervisão docente. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá atingir 20% da carga horária total do Curso de Graduação em Farmácia proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. (BRASIL, 2002. Grifo nosso). Outro avanço significativo foi a questão da carga horária de estágios, que como descrito no trecho acima retirado das DCNF, deve atingir 20% (vinte por cento) da carga horária total, ou seja, o contato com a prática profissional e dessa forma a vivência profissional do acadêmico ficou privilegiada, de forma a integrar o mais importante componente das DCNF, as competências e habilidades desses acadêmicos, tudo isso associado em uma articulação entre conteúdos integrativos e desenvolvimento de potencialidades através da prática. (BRASIL, 2008; BRASIL, 2002). Segundo a comissão de ensino do Conselho Federal de Farmácia (CFF), “aprendizagem significativa ocorre quando novas informações “ancoram-se” em conceitos preexistentes na estrutura de um curso.” Dessa forma, na condução da estruturação de PPP e matrizes curriculares, isso deve ser pensado primordialmente para garantir que a matriz minimamente faça sentido, e então gere um aprendizado sequenciado e constante, onde ao longo do processo o acadêmico possa compreender que os conhecimentos adquiridos não estão dissociados, ao contrário, fazem parte do todo. Ao final do curso, os egressos devem ser capazes de unir os conceitos de forma a integrarem as diversas áreas do conhecimento das ciências farmacêuticas, de tal modo que o farmacêutico consiga perceber o conhecimento tão associado que não lhe ocorra pensar fora de uma sequência lógica levando a integralidade do conhecimento, ou seja, um modelo transdisciplinar. (BRASIL, 2008; SOUZA e BARROS, 2003). Com a aprovação da carga horária de 4000 (quatro mil) horas pelo Conselho Nacional de Educação, que partiu da Câmara de Educação Superior do Ministério da Educação (CNE/CES/MEC), ficou assegurado que haveria um tempo significativo para a integralização dos conteúdos propostos pelos cursos de Farmácia, e isso foi, de fato, uma grande evolução tendo em vista diversos cursos que atribuíam a formação do farmacêutico carga horária inferior a três mil horas. (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009). O foco da formação farmacêutica foi claramente modificado com as atuais DCNF, entretanto, a fragmentação do ensino se manteve, apesar de estar levemente velada, mas as distorções são claras, ainda que a recaracterização que ficou popularmente denominada formação generalista, possibilite conduzir a formação de uma forma totalmente diferente e orientada não só ao foco anterior que era o comércio, pois há uma reestruturação que tenta retornar com o farmacêutico para o paciente, a fim de que o profissional do medicamento se veja como profissional de saúde. Contudo as DCNFs não contemplaram o principal ponto proposto pelos Seminários de Reforma Curricular, que foi o foco na assistência Farmacêutica, como conceito e prática da Farmácia de forma plena. (SILVA, 2009). Segundo SPADA et. al. (2007), entre os anos de 1991 a 1997, aconteceu uma ampliação no número dos cursos de Farmácia no país em 42, 85%, porém o período que se seguiu trouxe uma ampliação sem precedentes no número de escolas de Farmácia no Brasil, no período de 1998 a 2004 houve um aumento de 238, 57%, sendo que ao final do estudo em 2004 o país contava com 237 cursos de Farmácia, sendo 131 deles apenas na região sudeste. O setor privado foi responsável por 87,5% da oferta de vagas para os cursos de graduação em Farmácia. O CFF analisou a implantação das Diretrizes Curriculares em 190 Instituições de Ensino Superior (IES), que aceitaram participar da pesquisa e responderam a um instrumento de avaliação (questionário) e dentro dessas: 172 (91%) já atendiam a base legal da resolução 2/2002 enquanto apenas 10 (5%) ainda se mantinham na resolução 04/1969 e 8 (4%) estavam em um processo transitório entre as duas resoluções. O grande fato é que apenas as escolas que já havia se adequado ou que estavam em adequação aceitaram participar da pesquisa, dessa forma o viés atribuído a pesquisa nos mostra que muitas ainda estavam longe de pensarem as mudanças advindas das reformulações curriculares por conta das DCNFs. (BRASIL, 2008). Uma avaliação precisa da implementação das DCNFs, no Brasil não poderá ser realizada, tão logo os dados disponíveis são reduzidos. Em teoria, todas as escolas de Farmácia no Brasil já se enquadram nas atuais DCNFs, pois a legislação faz essa exigência, que até o ano de 2010 todos os cursos já deveriam estar seguindo as diretrizes atuais, mas isso não é o suficiente. Caso sejam feitas análises críticas de todas as matrizes e seus projetos político-pedagógicos pode-se constatar que são poucas as escolas a realmente implementarem as atuais DCNFs, de forma que muitas construíram adaptações das antigas diretrizes, as matrizes se tornaram um emaranhado de disciplinas sem a devida articulação. (SILVA, 2009; ABENFAR, 2008; FURTADO, 2008). A implementação das diretrizes enfrenta diversos problemas, de certa forma, pode-se afirmar que a implementação não se dá por empecilhos relacionados ao conservadorismo, ao “carguismo” e à dificuldade de imersão na filosofia das DCNFs. Principalmente nas instituições que contam com a maioria de seus professores no regime “horistas”. Observa-se que a implementação das diretrizes em muitos casos, como no tronco de disciplinas denominado “ciclo básico”, que sofreu com a redução de cargas horárias gerou muitos conflitos. Para que as DCNFs atuais vigorem de forma real e plena há de se debater muito e para se chegar à maturidade que exige muito de docentes e discentes. Contudo, existe a necessidade de se repensar as DCNFs e a formação do farmacêutico como um todo, e dessa forma, ao longo desse processo, incutir o sentimento e a filosofia transformadora que cerca os espaços de debate sobre a formação desse profissional, se percebe que “novos ares” cercam a profissão, se espera uma forma completamente diferente de ver o processo ensinoaprendizagem o que culminará na formação de um novo perfil de profissionais, adequados às necessidades e exigências sociais. (FURTADO, 2008). 3.1.3 Um breve diálogo com o censo da educação superior do MEC (2009) nas perspectivas da Farmácia O Ministério da Educação (MEC) liberou em seu sítio na internet os dados do censo da educação superior do ano de 2009, dessa forma, É interessante debater esses dados no presente trabalho. (INEP, 2011b). No quadro 1 tem-se a organização dos cursos de Farmácia no Brasil no ano de 2009, muitos ainda sem a implementação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Farmácia, e dessa forma, há denominações distintas para esses cursos, nessa perspectiva infere-se que mesmo passados sete anos da aprovação das novas diretrizes, 96 (noventa e seis) escolas de Farmácia no Brasil ainda não havia implementado as novas diretrizes. !" # ! % ! # ! " # ! $ # # # # ! $ " $ # " " $! % " # # # # # # " ! $ # # % Quadro 1 - Número de cursos de graduação em Farmácia no Brasil no ano de 2009 Fonte: MEC/INEP/DEED (2009) O quadro 2 traz o número de estudantes que se matricularam nos diversos cursos de graduação em Farmácia e seus derivados em todo país. Ao ser comparado com o quadro 3 que traz o número de concluintes pode ser observada uma diferença sensível em relação ao número de ingressantes naquele ano e na quantidade de egressos, vários são os motivos que levam a essa diferença, entre elas, podemos relacionar a evasão por diferentes motivos, sendo os principais: a exigência intelectual do curso e a não identificação do estudante com as disciplinas iniciais onde as disciplinas relacionadas as químicas se concentram, além disso, temos um ciclo básico desgastante e que possui pouca aproximação com as reais aspirações dos ingressantes. % & ""#!"$ # %% ! # % # ! # $! $ #!"! # " $ # # # # # # %" %" ! ! # $ # %! #%"% %$# !$ #!" # " ! # % % #%%$ #%%" ' # # # # %" # # # "%% !" # %"% ! ! $ !% ! #!" " # " #% " %" # Quadro 2 - Matrículas em cursos de graduação em Farmácia no Brasil no ano de 2009 Fonte: MEC/INEP/DEED (2009) & ( #$ # " " ! %% ' ' #"%% " # ! $ $ $ $ $ # # # # $ # #%$ $ $ ! ! ' # # # # # # # ! # ! " # # # ! # " # " # $ ! " ! # Quadro 3 - Concluintes dos cursos de graduação em Farmácia no Brasil no ano de 2009. Fonte: MEC/INEP/DEED (2009) " O Brasil conta hoje com inúmeras IES, como se pode verificar no quadro 4. Sendo que relacionados a estas IES existiam quatrocentos e quarenta e quatro cursos de Farmácia no Brasil em 2009, ano este em que dezessete mil seiscentos e dezessete farmacêuticos foram formados no país. Estudos avaliando os impactos destas diretrizes se fazem necessários agora que algumas instituições já formaram profissionais sob esse novo direcionamento, apesar de todos os cursos já estarem obrigados a implantá-las obedecendo ao parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) por sua Câmara de Educação Superior (CES), assim uma avaliação completa nos traria um retrato da realidade. ( ) & & ) ) ( * ' * * # " % " + ! " # % !" %$ %! $ ! % $ ' , * % # $ # $" % # " # " $%! " " $ ! ! 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O aumento do número de cursos de Farmácia em todo o Brasil é notório e exponencial, apesar do MEC tentar estruturar métodos de avaliação de todas essas IES, especialmente no que se refere aos cursos, por meio do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), o que se pode notar é que ainda falta muito para que se realizem avaliações mais fidedignas, contudo, elas precisam existir, principalmente em um sistema que transformou o ensino em comércio, e como dado representativo deste fato temos o crescimento abrupto das IES pagas no país, segundo o quadro 4 havia duas mil e sessenta e nove IES privadas no Brasil no ano de 2009, muito próximo da quantidade de IES públicas, que em 2009 somavam duas mil trezentos e quatorze. Uma análise superficial só sobre o número de IES não nos diria muita coisa, não obstante, quando se observa o quadro 2 é possível perceber quantos estudantes ingressaram no ano de 2009 em universidades públicas e privadas, temos, então uma diferença importante, vinte mil quatrocentos e quarenta e nove estudantes se matricularam em IES públicas, enquanto, setenta e nove mil quatrocentos e quarenta e quatro adentraram as IES privadas, e no caso da Farmácia tínhamos em 2009 cento e quatorze IES públicas e trezentas e trinta IES privadas. Essa análise é interessando do ponto de vista da mercantilização do ensino. (INEP, 2011). 3.1.4 Das demandas sociais brasileiras ao reconhecimento social: uma abordagem focada na formação do farmacêutico no Brasil São palavras duras, mas a categoria farmacêutica tem muita dificuldade de entender a concepção e, eu diria, até mesmo de aceitar o modelo assistencial que se pretende construir. Ao mesmo tempo em que dependem do SUS para a sua sobrevivência profissional, por conta das possibilidades de espaço criadas pelas políticas farmacêuticas dentro do sistema, o modelo de profissionalismo da Farmácia encontra-se em um nível de incongruência com os princípios do SUS, por este motivo há muita dificuldade da assunção destes princípios no projeto de formação. (SILVA, 2009) Aproveitando as duras palavras ditas por Silva (2009) se inicia este tema, sabe-se que os farmacêuticos reivindicam atuar nos diversos níveis de complexidade do sistema de saúde, contudo, seu despreparo o descredencia, e as atuais DCNFs não corrigiram este erro, possivelmente até ampliaram essa distância, ainda que haja uma reaproximação com os sistemas de saúde, em especial o SUS, ainda não há o esclarecimento adequado dentro da academia sobre os processos e a organização estrutural dos diversos níveis de atenção à saúde. (SILVA, 2009). O farmacêutico precisa passar por essa etapa, que há tempos deveria estar superada, a saúde voltada para o paciente, tendo esse profissional um papel fundamental na orientação quanto ao uso correto de medicamentos, prevenindo interações e garantindo a adesão do paciente e a efetividade do tratamento, no entanto, essa demanda social está longe de receber a atenção, e isso é consoante com a demanda da assistência farmacêutica, não coberta pelas DCNFs atuais, principalmente no que se refere à atenção farmacêutica, conceito implementado e difundido mundialmente por Linda Strand e Charles Hepler, o farmacêutico não se utiliza efetivamente de todos os seus conhecimentos sobre medicamentos, e com isso fica em dívida por omissão junto à sociedade. (HEPLER e STRAND, 1990; ABENFAR, 2008; SILVA, 2009). O farmacêutico não se mostra, não atende a seus reais propósitos, todos os anos ocorrem diversas mortes ou complicações por conta do uso incorreto de medicamentos, erros de prescrições, automedicação e intoxicações. Mas o profissional do medicamento não tem se posicionado com capacidade de realizar intervenções preventivas o que, ao menos ,minimizaria esses eventos relacionados ao uso inadequado de medicamentos pela população, o acovardamento da classe, assim como sua submissão ao capital e ao imperioso e perigoso controle das indústrias farmacêuticas levou a medicalização da sociedade. É do farmacêutico atuando contra a medicalização dos corpos e comprometido com o uso correto dos medicamentos, e presente em todos os níveis de atenção que a sociedade necessita. (HEPLER e STRAND, 1990). Locais onde o profissional realiza seu ofício de forma adequada demonstram a melhoria na qualidade de vida da população e a redução de custos com utilização de medicamentos desnecessários, a diminuição do número de registros de efeitos adversos e ainda a redução na quantidade de adoecimentos e óbitos. Aparentemente, alguns indivíduos, dentro das equipes multidisciplinares, já perceberam o valor da contribuição do farmacêutico, quando esse se apresenta para cumprir seu papel, contudo, a maioria dos farmacêuticos ainda não se apropriou desta ideia, ou ainda se sentem distantes da saúde. (HEPLER e STRAND, 1990; SANTOS, 2005). A “reprofissionalização” do farmacêutico, assim como seu comprometimento com as demandas sociais devem ser refletidas em sua formação, por isso ainda tem muito a ser feito com relação ao ensino da Farmácia no Brasil, compreender e se colocar frente aos desafios propostos aos farmacêuticos pode ser aterrador àqueles que não possuem compromisso com a saúde coletiva, ou que não possuem compromisso com a Farmácia enquanto ciência e arte, mas aos que se comprometem e a compreendem há um caminho longo e difícil a ser percorrido, e que aos poucos está sendo elucidado no Brasil, o maior impedimento do desenvolvimento da Farmácia em nosso país, assim como seu ensino, está ligado ao divisionismo da corporação e à pessoas que tem o poder de transformar a realidade da profissão, mas encontram-se imbuídas intimamente de um conservadorismo que não pode ser mensurado e tão pouco descrito. (HEPLER e STRAND, 1990; SANTOS, 2005; ABENFAR, 2008; FURTADO, 2008; SILVA, 2009). O profissional farmacêutico só poderá retomar seu prestígio junto à sociedade quando acontecer a reaproximação com o seu real papel, além de um novo perfil de formação e sobretudo houver desprendimento quanto às manipulações de interesses escusos, assim como a integração da categoria. A Farmácia, enquanto profissão, precisa fugir da alienação e dos acordos promíscuos que não levam saúde à sociedade, mas sim, a uma medicalização desnecessária a serviço do capital nacional e estrangeiro, o conhecimento destes profissionais deve ser colocado a serviço da população, a serviço do bem estar humano, e jamais ser o causador da queda da sociedade frente ao medicamento e à desinformação quanto ao seu uso. (HEPLER e STRAND, 1990; SANTOS, 2005). 3.2 CAPÍTULO III - AS PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO EM FARMÁCIA NO BRASIL E UMA BREVE INTERFACE COM A PÓSGRADUAÇÃO 3.2.1 A educação continuada e a pós-graduação Como identificar a falta de alguns conhecimentos necessários e então buscá-los? (PASCHOAL, MANTOVANI e MÉIER, 2007; CECCIM, 2005). A educação permanente surge como uma exigência na formação do sujeito, pois requer dele novas formas de encarar o conhecimento. Atualmente, não basta ‘saber’ ou ‘fazer’, é preciso ‘saber fazer’, interagindo e intervindo, e essa formação deve ter como características: a autonomia e a capacidade de aprender constantemente, de relacionar teoria e prática e vice-versa, isto refere-se à inseparabilidade do conhecimento e da ação. (PASCHOAL, MANTOVANI e MÉIER, 2007). A continuidade da compreensão do desenvolvimento de conhecimentos é fundamental, contudo, de forma geral os profissionais tendem a se acomodar, e dessa forma, as metodologias vão se tornando arcaicas e imperam as dificuldades na implementação de novas tecnologias. A qualificação constante e o aprimoramento contínuo são essenciais, em especial, em práticas empregadas com o objetivo de restabelecer a saúde ou melhorar a qualidade de vida do paciente. Novas tecnologias em saúde surgem diariamente, de forma que profissionais desatualizados podem expor os pacientes a riscos desnecessários quando utilizam metodologias e/ou procedimentos que caíram em desuso devido a estudos científicos que mostraram sua ineficácia ou pouca segurança. Dessa forma, profissionais que não aderem à educação continuada e se acomodam, deixam de prestar serviços de qualidade, muitas vezes, agravando o estado de pacientes por eles assistidos. (PASCHOAL, MANTOVANI e MÉIER, 2007; COLLARES, MOYSÉS e GERALDI, 1999). A educação permanente pode ser compreendida também como educação popular, e atende ao que foi proposto por Paulo Freire, onde o individuo é responsável por seu processo do conhecer e compreender o mundo, compreender a organização do trabalho e como se educar a partir dessa compreensão. Há alguns pesquisadores que possuem teorias diferentes, mas neste trabalho, confia-se na supracitada, por se acreditar em uma pedagogia libertária e que leva ao desenvolvimento pleno do ser humano. A educação permanente também nos induz a avaliar a educação dos profissionais de saúde e a partir deste ponto reorientá-la, assim como observar sua função nos vários níveis de atenção à saúde e, por fim, compreender e estruturar harmoniosamente o ambiente de trabalho. (CECCIM, 2005). Além da educação continuada, uma importante ferramenta na formação profissional e também na formação docente é a pós-graduação, em seus diversos níveis. No Brasil a pósgraduação está associada à pesquisa científica e consequentemente à academia, sendo responsável pela maior parte da produção de material científico de qualidade no país. Infelizmente, o material produzido, que discorre sobre a pós-graduação no Brasil, e que mede a sua efetividade ainda é insipiente, dessa maneira, não há como definir o seu impacto em grande escala. Ainda que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) imprima grande esforço para realizar tais estudos e avaliações, ainda existe grande deficiência de mais trabalhos a esse respeito, e pode-se ainda dizer mais, faltam estudos específicos por grandes áreas de conhecimento. (DANTAS, 2004). O contexto brasileiro atual é bastante diferente do momento da criação da pósgraduação, há 40 anos, ou daquele em que se implantou a avaliação sistemática pela Capes. Nos últimos anos têm sido periodicamente definidas políticas públicas na área de ciência, tecnologia e inovação (CTI) que direcionam os investimentos e modulam a produção de conhecimentos nos diversos setores estratégicos para o desenvolvimento nacional. (DANTAS, 2004). O fato da CAPES apoiar instituições com pós-graduação de elevada qualidade define uma melhora progressiva e constante na pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias, e sendo a academia o espaço para esses desdobramentos os investimentos ainda são tímidos, porém, já mostram seus resultados. As dimensões continentais do Brasil levam a uma diversidade incrível de pesquisas totalmente distintas e de potencia elevado. Mas, apesar do apoio governamental nas figuras da CAPES e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), incluindo o Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) faltam mais investimentos em pesquisa no Brasil. (HORTA, 2006; HORTA e MORAES, 2005; DANTAS, 2004). 3.2.2 A pós-graduação frente à formação de docentes em educação superior para a Farmácia Ao abordar esse tema faz-se necessário falar sobre algumas dificuldades enfrentadas durante a revisão bibliográfica, o material encontrado foi bastante escasso, e as abordagens, na maioria das vezes, não atingiam a profundidade que o tema requer. Ainda que o Brasil tenha um bom número de programas de pós-graduação, em diversos níveis, não há trabalhos que documentem adequadamente a evolução da pós-graduação e essa lacuna literária corrobora com a continuidade de programas com níveis: produtivo e de formação preocupante, apesar das constantes avaliações realizadas pela CAPES. Com o PNPG (Programa Nacional de Pós-graduação) a evolução dos cursos Lato Senso e Strictu Senso foi eminente, muito se estudou e se disse quando o mesmo foi lançado, embora, passados cinco anos, ainda se tenha muito a fazer, em especial no que diz respeito à avaliação da efetividade de tal programa, contudo, essa não é a pretensão e nem tão pouco o objetivo do presente trabalho. Mas, não se poderia deixar de citar princípio estabelecido pelo PNPG que assume a pós-graduação como uma ação estratégica para a soberania nacional, além de desempenhar importante função no surgimento de novas tecnologias e no desenvolvimento social. (OLIVEIRA FILHO, 2005; DANTAS, 2004). Nesta parte do trabalho não se objetivou fazer um diagnóstico da pós-graduação no Brasil, mas sim mostrar sua importância na formação de docentes para o ensino de Farmácia, e como o material encontrado não foi suficiente, resolveu-se colocar algumas questões para reflexão e discussão acerca do assunto. Sabe-se que a maioria dos atuais docentes foram formados no modelo “antigo” ou “tradicional”, onde o mestre é o transmissor do conhecimento e o estudante o receptor, como se o último chegasse ao ensino superior “vazio” e sem condições de contextualizar os conteúdos oferecidos pelos professores, e só por esse motivo muitos profissionais apresentam resistência frente às transformações. Somam-se a esses fatos, as mudanças nas DCNF (Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia) que por vezes, são empregadas para criarem matrizes e projetos político-pedagógicos distorcidos e que terminam priorizando determinada área, dentre as várias que fazem parte da formação de um estudante de Farmácia generalista, apenas por ser a área de maior domínio ou afinidade do grupo de profissionais responsáveis pela adequação do curso naquele momento, e muitas vezes, essas matrizes “inadequadas” permanecem como norteadoras do curso por vários anos comprometendo gravemente, ou de forma irremediável, a formação desses futuros profissionais de saúde. Talvez tais fatos aconteçam em função do despreparo de alguns docentes, que apesar de possuírem títulos acadêmicos “técnicos”, não possuem uma formação verdadeiramente voltada para a educação que envolve o complexo processo ensinoaprendizagem. Sabe-se que os programas de pós-graduação Stricto Sensu apresentam disciplinas voltadas à docência, mas estas ainda são poucas, geralmente possuem carga horária reduzida, não contemplam o complexo arcabouço relacionado às metodologias de ensino, e pouquíssimos desses programas exigem a vivência em sala de aula com requisito obrigatório para a obtenção do título que teoricamente qualificará o futuro docente, o que culmina com a não vocação de alguns para exercer as atividades de ensino, mesmo assim, vários desses profissionais quando detentores de seus títulos se envolvem, por diversos motivos, com a docência e apresentam problemas sérios na condução de seus trabalhos. Com isso, não se pretende afirmar que tais profissionais, que não apresentam perfil acadêmico, não possuam valorosas qualidades, é certo que todos apresentamos aptidões para diferentes funções chamadas de aptidões inatas, mas é do esforço dos que almejam alcançar excelência na realização das funções que não são inatas que vem a necessidade de construir um trabalho mais forte para o desenvolvimento dessas competências e habilidades. Ao chegar ao final deste trabalho, pode-se observar o quão importante é a continuidade da formação na forma de pós-graduação para suprir problemas relacionados à formação de farmacêuticos em DCNFs inadequadas, como discutido anteriormente, mas isso não se quer dizer que a pós-graduação será a modalidade de educação a constituir uma intervenção no passado, mas sim a ser um instrumento para analisar os erros e insucessos, com o objetivo de transformar a formação e formar pessoas comprometidas com tais mudanças, é nessa perspectiva que se deve refletir sobre o papel da formação dos docentes para o curso de Farmácia, assim como deve ser para todos os cursos de graduação em nível superior. Aguarda-se ansiosamente que tais educadores enxerguem os equívocos e os sucessos do passado e que possam transformar a formação dentro dos espaços destinados à educação superior, e não retroceder no processo ensino-aprendizagem, dessa forma, a pós-graduação junto à experiência profissional tem um papel fundamental não só na formação e qualificação de profissionais de nível superior, mas também, na formação e qualificação de novos docentes, já que estes, em última análise, são os responsáveis pela qualidade da formação daqueles que as universidades vão enviar para o mercado e que enfrentarão nosso complexo sistema de saúde. 4 CONCLUSÃO De fato, o ensino de Farmácia no Brasil vem sofrendo constantes e importantes transformações ao longo do tempo e de acordo com as transformações da própria profissão, porém, várias mudanças precisam a ser efetivadas nos próximos anos. Reorientar a formação dos profissionais farmacêuticos se faz necessário para que estes atendam as demandas sociais de forma precisa e clara. O que a sociedade tem presenciado é um farmacêutico ausente, que não se apresenta para o cumprimento de suas funções, o presente chama atenção uma vez mais e indica que muito se tem a fazer, principalmente com relação à novas metodologias de ensino, como forma de integração entre os conteúdos, e ainda como forma de desenvolver de forma plena as competências e habilidades devidas a esses profissionais. Fica claro que o problema de identidade da profissão só será resolvido a partir da reestruturação não só da formação acadêmica, mas de novos docentes e a partir de uma integração entre os profissionais, de forma que esses se organizem de forma única para assim lutar não só pela profissão, mas por uma saúde pública de qualidade, acesso aos medicamentos e além de tudo isso exercer, de forma importante, as análises clínicas e toxicológicas de maneira a garantir análises de qualidade e com uma visão que vá de encontro a um modelo bio-psico-social. Só uma ampla formação garante a qualidade do farmacêutico, os reducionismos emperram os avanços da profissão, e, além disso, estão relacionados a fins mercadológicos, esses que estão presentes hoje na estrutura da educação superior brasileira e que devem ser extirpada. Um olhar crítico, frente ao modelo colocado pelas DCNFs, nos diz que apesar dos avanços ainda não se alcançou um modelo mínimo que supra as necessidades e anseios da classe e dos movimentos civis organizados da área, com isso, é dever de cada farmacêutico e estudante reivindicar mudanças que coadunem com o intuito de servir plenamente a sociedade, prestando-lhe a assistência que nos compete. Nunca se dará, de forma completa, uma reestruturação, pois as mudanças são constantes e o debate, contínuo, no entanto, se está longe de atingir o nível de debater apenas as mudanças comuns, debatem-se ainda mudanças que ocorreram há mais de três décadas. É imperioso que o ensino de Farmácia no Brasil seja o mais próximo possível das necessidades que as práticas farmacêuticas atuais requerem. REFERÊNCIAS ABENFAR, Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico. I FÓRUM NACIONAL DE EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA. Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico (Org.). 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