DOMÍNIO MORFOCLIMÁTICO DO CERRADO Ameaça ao Cerrado se volta para o norte Com mais de 50% da área destruída ou alterada, Cerrado registra migração do desmate para região preservada Após esgotar vegetação na região sul do bioma, destruição ruma para o norte. Foto: Dida Sampaio/AE Primeiro, a boa notícia: o desmatamento no Cerrado está em recessão. Nos últimos sete anos, caiu mais de 60%, segundo um levantamento inédito da Universidade Federal de Goiás (UFG), que o Estado apresenta aqui com exclusividade. Devastação avança sobre a savana brasileira Agora, a dura realidade histórica: mesmo com essa redução, mais da metade do bioma já foi destruída ou alterada pelo homem nos últimos 40 anos, ao ritmo de quatro campos de futebol por minuto, sem que ninguém se preocupasse muito com isso. Pior: o desmatamento, agora, começa a se embrenhar pelas áreas mais preservadas de grandes remanescentes no norte do bioma. É difícil imaginar como um dos ecossistemas de maior biodiversidade do planeta, dotado de paisagens belíssimas e com quase quatro vezes o tamanho da Espanha, poderia passar desapercebido durante tanto tempo. Mas essa é a história do Cerrado, uma savana esquecida entre duas florestas tropicais. De um lado, a Amazônia, ícone máximo da ecologia mundial. Do outro, a Mata Atlântica. E no meio delas, o Cerrado. Espalhado por mais de 2 milhões de km², do litoral do Maranhão até o norte do Paraná e oeste de Mato Grosso do Sul, o Cerrado é a pele que recobre quase um quarto do território brasileiro. É o segundo maior bioma do País, com um mosaico de cenários que variam de dunas e campos a chapadas e florestas. Tem aproximadamente a metade do tamanho da Amazônia, só que com uma ferida muito maior: 835 mil km² de terras desmatadas, suficiente para cobrir uma França e um Reino Unido. A Amazônia perdeu 100 mil km² a menos uma diferença do tamanho de Santa Catarina. Em muitos aspectos, é o bioma mais ameaçado do Brasil. Mais até do que a Mata Atlântica, que, apesar de estar reduzida a só 7% de sua cobertura original, conta com um movimento ambientalista forte a seu favor. Já o Cerrado nem é citado na Constituição. É como se não existisse. Apenas 11% de suas terras estão protegidas por unidades de conservação e terras indígenas, comparado a mais de 45% no bioma Amazônia. A reserva legal - área de uma propriedade que precisa ser obrigatoriamente preservada com vegetação nativa - é de 80% na Amazônia e 20% no Cerrado. Ou seja: na Amazônia preserva-se 80%. No Cerrado, é possível desmatar nessa mesma proporção. Os efeitos ecológicos e climáticos dessa devastação estão longe de ser compreendidos. Já os efeitos econômicos são bem conhecidos. Quase toda a área desmatada do Cerrado está ocupada por pastagens e plantações. Se por um lado perdemos em biodiversidade e serviços ambientais, por outro, ganhamos em produção de alimentos e desenvolvimento. É dos solos desmatados do Cerrado que brotam 47% dos grãos, 40% da carne bovina e 36% do leite produzidos no País. No pacote dos alimentos vêm a indústria de máquinas, sementes, fertilizantes, defensivos e outros insumos com alto valor de mercado, que viraram a base da economia do Centro-Oeste. A qualidade de vida, medida pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é bem mais alta nos municípios em que o Cerrado foi convertido para o agronegócio do que nas áreas em que o bioma ainda está preservado. Quando se leva em conta as pastagens naturais - campos de capim nativo aproveitados pela pecuária -, a área ocupada do Cerrado sobe para 52%. Nesse sentido, o Cerrado é um bioma dividido, meio a meio, entre os destinos de suas aptidões agrícolas e ecológicas. Resta saber para que lado a balança vai pesar nas próximas décadas, com o crescimento populacional, econômico e energético pressionando cada vez mais seus recursos naturais. Desmatamento é maior em 5 Estados Oeste da Bahia, sul do Piauí e Maranhão, leste do Tocantins e Mato Grosso concentram devastação Queimada é prática ainda comum para o preparo da terra. Foto: Valéria Gonçalves/AE Depois de quase esgotar a biodiversidade do sul do Cerrado, o desmatamento começa a rasgar também as entranhas do norte do bioma. Dados inéditos da Universidade Federal de Goiás (UFG), aos quais o Estado teve acesso com exclusividade, revelam uma migração alarmante da devastação para regiões de grandes remanescentes, como o oeste da Bahia, sul do Piauí e Maranhão, leste do Tocantins e centro-norte de Mato Grosso, onde o Cerrado se mistura com a Amazônia. Na lista dos 30 municípios que mais desmataram o bioma nos últimos sete anos, 29 são desses cinco Estados, segundo os números do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) do Instituto de Estudos Socioambientais da universidade. Mato Grosso, sozinho, desmatou 11 mil quilômetros quadrados entre 2003 e 2009, período que foi analisado no estudo. Isso equivale a metade do Estado de Sergipe. Já a Bahia desmatou mais do que um Distrito Federal: 6.200 km². Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais também aparecem com grandes áreas desmatadas no período, porém distribuídas de forma mais fragmentada. Quase tudo o que sobrou do Cerrado nesses Estados, após 40 anos de ocupação intensa pela agropecuária, foram ilhotas de vegetação nativa, espalhadas entre um oceano de gado e grãos. Os grandes remanescentes estão quase todos dentro de unidades de conservação, terras indígenas ou áreas onde o relevo é ruim para a agricultura. Muitas dessas áreas de capim também são usadas como pastagens naturais, em que o gado se alimenta do capim nativo. Ou seja: só porque aparecem verdes no mapa, não significa que não estejam ocupadas. O Parque Nacional das Emas é exemplo desse isolamento: uma ilha verde no sudoeste de Goiás, cercada de lavouras e pastos por todos os lados (mais informações nesta página). O padrão parece estar se repetindo em Mato Grosso, onde terras indígenas começam a ficar isoladas na paisagem. A situação mais crítica é a de São Paulo. Restam apenas 13% dos 80 mil km² do bioma nativo que originalmente cobria um terço do Estado. Sobraram vários parques e estações ecológicas, mas é preciso uma lupa para enxergá-los no mapa. O resto virou cana, pasto e silvicultura. A fragmentação é péssima para a biodiversidade, pois muitas espécies não conseguem transitar de uma ilhota a outra. É como se o bioma estivesse "extinto na natureza" e sobrevivesse apenas "em cativeiro". PIONEIRISMO Os dados do Lapig incluem, pela primeira vez, taxas anuais de desmatamento para o Cerrado - algo que já é feito para a Amazônia há mais de 20 anos. Os números, a princípio, trazem uma mensagem positiva: redução de 63% no ritmo de devastação do bioma no últimos sete anos. Em 2009 foram desmatados 2.997 km², comparado a 8.172 km² em 2003. Todos os Estados que fazem parte do bioma registraram quedas significativas, apesar de algumas oscilações no meio do caminho. O diretor do Lapig, Laerte Ferreira, porém, não vê motivo para comemorar. "O que os números mostram é que a ocupação do Cerrado continua. O bioma continua extremamente ameaçado", afirma. As estatísticas concordam com a previsão pouco animadora feita no início do ano por seu colega, Manuel Ferreira, de que o Cerrado poderá perder 40 mil km² de vegetação nativa por década até 2050. Entre 2003 e 2009, sumiram 36.610 km². Os três municípios que mais desmataram nesse período foram Formosa do Rio Preto (2.066 km²), Correntina (1.067 km²) e São Desidério (990 km²), todos no extremo oeste da Bahia, uma área de forte expansão agrícola. A situação fica caótica quando se leva em conta o desmatamento anterior a 2002. A soma dos dados, feita pelo Estado, mostra que mais da metade do bioma já desapareceu ou foi alterada desde a década de 70, quando a agricultura e a pecuária começaram a marchar com mais força na região. A área total desmatada é de 835 mil km², igual a três vezes o Estado de São Paulo mais um Rio de Janeiro e um Espírito Santo. Isso equivale a 41% do bioma, que originalmente cobria um quarto do País. Outros 230 mil km², uma área do tamanho de Rondônia, são usados como pastagens naturais. Quando isso é levado em conta, a área ocupada do Cerrado sobe para 1,06 milhão de km² ou 52% da área original. Duas vezes o tamanho da Espanha. Grande parte desse desmatamento foi feito na base do "correntão", sistema pelo qual uma corrente gigante é ligada a dois tratores e arrastada sobre o cerrado, derrubando tudo pelo caminho. Depois era só juntar a madeira, tocar fogo e vender o que sobrava como carvão. "Trinta anos atrás, o correntão era ensinado em sala de aula. Era uma técnica agrícola", lembra a agrônoma Leonor Assad, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Hoje ainda é usado, mas em menor escala. Virou sinônimo de destruição em massa da natureza. Os dados sobre o que aconteceu de 2002 em diante são tão recentes que os pesquisadores ainda não tiveram tempo de analisá-los a fundo. Não sabem, por exemplo, qual é a explicação para o sobe e desce das taxas anuais. É provável que estejam associados a fatores de mercado e flutuações nos preços de commodities (soja, carne, milho), a exemplo do que ocorre na Amazônia. "A Amazônia e o Cerrado precisam ser vistos como um binômio, como duas partes de um mesmo sistema. O que afeta um, afeta o outro também", defende Ferreira. Outro fator que precisa ser levado em conta é o geográfico. "O filé mignon do Cerrado já foi ocupado. São as áreas mais planas e mais próximas aos mercados consumidores." Ou seja: o desmatamento pode estar caindo só porque deixou de ser um bom negócio. O desafio dos cientistas agora é qualificar esse desmatamento mais recente, mapeando o uso que foi dado a cada hectare desmatado. Até 2002, a pecuária era a atividade que mais havia devastado o Cerrado: 542 mil km² (quase uma Bahia), comparado a 216 mil km² convertidos para a agricultura. "Só saber o que foi desmatado não basta; temos de saber o destino que foi dado a essas áreas", diz Ferreira. 'Valor da biodiversidade é mil vezes superior ao da agricultura' Cientista da Embrapa afirma que a salvação da lavoura depende da preservação do bioma Parte da vegetação do cerrado é transformada em carvão. Foto: Roberto Jayme/Reuters O Cerrado ainda tem 800 mil quilômetros quadrados de terras agricultáveis - uma área igual à da França e Reino Unidos juntos, suficiente para duplicar tudo o que já é ocupado pela agropecuária no bioma. Se o País for inteligente, não precisará desmatar nem um hectare dessa terra. "A riqueza que temos guardada na biodiversidade do Cerrado é mil vezes superior à da agricultura", diz o engenheiro agrônomo Eduardo Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A afirmação surpreende. Não só pelo conteúdo, mas por sair da boca de um cientista que há mais de 20 anos dedica sua vida ao agronegócio e que se lembra, sorrindo, dos tempos em que passava o correntão no Cerrado em cima de um trator, na fazenda da família em Quirinópolis, no sul de Goiás. Só que os tempos mudaram. Agora, diz Assad, é hora de preservar e pesquisar as riquezas que o bioma tem a oferecer no seu estado natural. Até mesmo para o bem da própria agricultura. "A preservação do Cerrado é a salvação da lavoura", costuma dizer o pesquisador. Segundo ele, é no DNA das plantas nativas do bioma que estão escondidos os genes capazes de proteger suas inquilinas estrangeiras (a soja, o milho, o algodão, o arroz) do aquecimento global. Dentre as 12 mil espécies nativas conhecidas, só 38 ocorrem no bioma inteiro, o que significa que estão adaptadas a uma grande variabilidade de condições climáticas e de solo. "A elasticidade genética das plantas do Cerrado é impressionante", afirma Assad. Ele e sua mulher, Leonor, também pesquisadora, destacam que o Cerrado é uma formação mais antiga do que a Amazônia e a Mata Atlântica, tanto do ponto de vista geológico quanto biológico. O que significa que suas espécies já foram expostas - e sobreviveram - a todo tipo de situação: muito frio, calor, seca, etc. Os genes que conferem essa capacidade adaptativa poderiam ser transferidos para culturas agrícolas via transgenia, tornando soja e companhia igualmente resistentes às intempéries climáticas que estão por vir. Só falta descobri-los. "O Cerrado é o maior laboratório de prospecção de genes do mundo, mas ninguém olha para isso", diz. "Nem estudamos o genoma dessas espécies e já estamos acabando com elas." Sem falar no potencial farmacológico das plantas medicinais e nos serviços ambientais prestados pelo bioma como um todo: estocagem de carbono, controle climático, controle de erosão, produção de água e outros fatores cruciais para a agricultura. "A conservação tem de ser vista como uma atividade produtiva também", diz a bióloga Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília. DESCONHECIMENTO Não é o que acontece. A riqueza econômica e tecnológica do agronegócio contrasta com a pobreza de recursos e de conhecimento sobre o bioma. "Trabalhar com políticas públicas no Cerrado é muito frustrante", admite o diretor de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, Mauro Pires. "Quando se fala em trabalhar com a Amazônia as portas se abrem. Quando se fala em trabalhar com o Cerrado, elas não se mexem." Mercedes sente a mesma dificuldade. Ela é coordenadora científica da Rede de Pesquisa ComCerrado, recém-criada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com representantes dos 11 Estados do bioma. A ideia é fazer pelo Cerrado o que o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA) faz pela Amazônia, produzindo o conhecimento científico necessário para entender, valorizar e explorar adequadamente - quando possível - os serviços ambientais prestados por seus ecossistemas. "Não há como fazer boa gestão sem informação", ressalta Mercedes. "Vemos muitas políticas públicas que carecem de embasamento técnico adequado." Por enquanto, o programa tem R$ 220 mil em caixa para pesquisa. A expectativa é que receba R$ 6 milhões do MCT nos próximos dois anos, mais o valor de uma emenda parlamentar apresentada pela bancada do Distrito Federal inicialmente orçada em R$ 7 milhões, mas reduzida para R$ 1,7 milhão. Parte da dificuldade, diz Mercedes, é o Cerrado estar espalhado por várias regiões e não concentrado em um bloco geopolítico coeso, como a Amazônia. "Até a Caatinga tem mais força política do que o Cerrado", diz o gerente do Programa Cerrado-Pantanal da ONG Conservação Internacional, Mario Barroso - sem desmerecer a importância da Caatinga. Monoculturas soterram a biodiversidade Segundo a Conservação Internacional, 13% dos vertebrados foram exterminados por ocupação humana; perda é ainda maior no caso das plantas É impossível saber ao certo quantas espécies já foram extintas nos 41% do Cerrado que não existem mais. Pesquisadores da organização Conservação Internacional (CI) estimam que 13% das espécies de vertebrados do bioma - mamíferos, aves, répteis e anfíbios, sem contar os peixes, os insetos, as plantas, os fungos e os microrganismos - já tenham sido exterminadas pela ocupação do homem, antes mesmo de serem descobertas. No caso das plantas, a perda pode ser muito maior. A flora do Cerrado é caracterizada por altos graus de variabilidade e endemismo - o que quer dizer que há diversas espécies que só existem (ou existiam) em regiões muito limitadas, associadas a condições específicas de solo e clima do bioma. Não há como saber quantas plantas desse tipo foram soterradas pelo avanço das monoculturas de grãos e bois. "Planta não tem pernas para fugir", observa, com trágica obviedade, o biólogo Felipe Ribeiro, da Embrapa. "O que foi desmatado sumiu para sempre." A exatidão dos cálculos é limitada pelo desconhecimento científico que impera sobre o Cerrado. A preocupação com o bioma é um fenômeno recente, até mesmo por parte dos cientistas. Por muito tempo predominou uma visão equivocada de que o Cerrado era uma região "pobre" em espécies, sem muita importância para conservação. Era pura falta de conhecimento. Bastou começar a pesquisar para as espécies aparecerem. Só nos últimos 20 anos foram descobertas mais de 340 espécies de vertebrados, segundo a CI. No total, são conhecidas no bioma cerca de 200 espécies de mamíferos, outras 200 de répteis, 250 de anfíbios, quase 850 de aves e 1.300 de peixes. Os números aumentam a cada expedição. "Ainda temos muito o que descobrir", diz o biólogo José Alexandre Diniz-Filho, da Universidade Federal de Goiás. "O grosso da biodiversidade está nas plantas e bichos pequenos, que são muito pouco conhecidos." A lista de plantas conhecidas do Cerrado é a maior de todas as savanas do mundo, com cerca de 12 mil espécies descritas. A maior diversidade está na família dos capins e outras plantas herbáceas (sem tronco). Para cada espécie de árvore, há pelo menos três de herbáceas, segundo Ribeiro. Em alguns lugares, a proporção é de sete para uma. Dependendo de onde o turista for, o cartão-postal do Cerrado pode ser um campo aberto, uma savana de árvores retorcidas, uma vereda cercada de palmeiras, um chapadão de paredões rochosos, um campo de dunas à beira-mar ou uma floresta com árvores de até 30 metros de altura. Cada uma dessas composições tem uma biodiversidade própria de fauna e flora. "A implicação é que o Cerrado precisa de muitas unidades de conservação espalhadas pelo bioma", diz Ribeiro. "Não adianta criar uma ou duas grandes e achar que o problema está resolvido." Hoje, menos de 3% do Cerrado está protegido por unidades de proteção integral. Bioma é a grande caixa d’água do País Oito bacias hidrográficas estão inseridas na região, como a do Velho Chico FORMOSO DO ARAGUAIA (TO) - Por trás da aparência ressecada dos meses de inverno, quando a umidade do ar cai a níveis alarmantes em algumas regiões, o Cerrado esconde uma identidade secreta: o bioma é um gigantesco coletor e distribuidor nacional de água, crucial para o abastecimento das regiões Centro-Sul, Nordeste, do Pantanal e até partes da Amazônia. Um serviço ecológico gratuito que corre o risco de ser racionado por causa do desmatamento. Das 12 bacias hidrográficas do País, 8 estão inseridas no Cerrado. A localização central do bioma, combinada com sua elevação topográfica e alta concentração de nascentes, faz com que ele funcione como uma caixa d’água. Cerca de 94% da água que corre na Bacia do Rio São Francisco em direção ao Nordeste brota no Cerrado - apesar de apenas 47% da bacia estar dentro do bioma, segundo cálculos da Embrapa. No caso do sistema Araguaia-Tocantins, que corre para o Norte e vai desaguar no Pará, 71% da água da bacia nasce no Cerrado. A proporção é a mesma para o conjunto das Bacias do Paraguai e do Paraná, que drenam grandes áreas do Centro-Sul. "O rio é só o encanamento superficial pelo qual a água corre", diz o pesquisador Felipe Ribeiro, da Embrapa. "Mas onde a água nasce é no Cerrado. As besteiras que a gente fizer aqui em cima vão repercutir rio abaixo." E as besteiras já estão em curso. Estudos realizados pelo pesquisador Marcos Costa, da Universidade Federal de Viçosa, mostram que o desmatamento nas cabeceiras do sistema Araguaia-Tocantins aumentou a descarga dos rios em 25%, apesar de não ter havido mudanças nos índices pluviométricos da bacia. Ou seja: a quantidade de água nos rios aumentou, apesar de a chuva ter continuado igual. Mais água, nesse caso, é má notícia. O problema é que o solo coberto por pastagens e lavouras absorve menos água do que o solo com vegetação nativa. Consequentemente, mais água escorre para os rios e é levada para fora do Cerrado, diminuindo a quantidade de umidade que fica disponível para os ecossistemas locais e a própria agricultura - além de aumentar o risco de enchentes para as comunidades que vivem rio abaixo. Segundo Costa, se o desmatamento continuar, é provável que os níveis de precipitação no bioma também sejam afetados. "Acho que estamos próximos do limite em termos climáticos." "O problema mais sério que vamos ter daqui dez anos é com a irrigação", diz o pesquisador Hilton Silveira Pinto, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp. O Pantanal também está de olho no problema. Praticamente todos os rios que deságuam no bioma nascem no Cerrado. "A sobrevivência do Pantanal depende diretamente da conservação do Cerrado", diz o ecólogo Leandro Baumgarten, da ONG The Nature Conservancy. 'Comida é mais importante do que meio ambiente' Para o engenheiro agrônomo Eliseu Alves, pioneiro da Embrapa, desmate seria maior sem as pesquisas FORMOSO DO ARAGUAIA (TO) - Onde alguns enxergam devastação ambiental, outros enxergam desenvolvimento e segurança alimentar. Essa é a postura de vários pesquisadores do setor agropecuário entrevistados pelo Estado. Eles não negam os impactos negativos sobre o meio ambiente, mas veem o problema da seguinte forma: o Brasil tem 190 milhões de habitantes; essas pessoas precisam comer alguma coisa; essa comida precisa ser produzida em algum lugar e, se não fosse pelo avanço tecnológico do setor, a destruição seria muito maior. Desde 1990, a produção de grãos no Brasil cresceu 147% (de 58,3 para 143,9 milhões de toneladas), enquanto a área plantada cresceu apenas 22%, (de 38,9 para 47,4 milhões de hectares), segundo a Conab. Se a produtividade agrícola do Brasil hoje fosse igual à de 1970, especialistas da Embrapa calculam que teria sido necessário desmatar outros 900 mil km² para a produção de alimentos - uma área do tamanho de Mato Grosso. O Cerrado já teria desaparecido. "A criação da Embrapa (em 1973) significou uma economia de recursos naturais enorme para o País", diz o engenheiro agrônomo Eliseu Alves, de 77 anos, um dos pioneiros da empresa. "A única forma de aumentar a produção sem derrubar mais floresta é aumentar a produtividade, e isso só se faz com tecnologia. O resto é conversa fiada." Mineiro de voz alta, Alves não se esquiva do debate nem por um minuto. "Comida tem prioridade sobre o meio ambiente", diz ele. "É muito fácil falar de preservação quando se tem comida sobrando. Se faltasse alimento, a conversa dos ambientalistas seria outra." Plinio Souza, da Embrapa Cerrados, que ajudou a criar a primeira variedade de soja adaptada ao Cerrado, também defende os frutos de sua pesquisa: "A soja, se for cultivada corretamente, só beneficia o Cerrado", diz. Ele destaca que apenas 6% da área do bioma é plantada com soja, enquanto o desenvolvimento econômico estimulado por ela é enorme. "Se o Brasil parasse de produzir soja, as consequências seriam catastróficas para a economia e a sociedade", diz o agrônomo José Roberto Peres, chefe de gabinete da presidência da Embrapa, que nos anos 60 ajudou a desenvolver a técnica de fixação biológica de nitrogênio. Ele ressalta que a preocupação com o meio ambiente na agricultura é um fenômeno recente, que não existia nas décadas de 70 e 80, quando as fronteiras começaram a se expandir sobre o Cerrado. "A sociedade não cobrava, o governo não cobrava, o Código Florestal era uma letra morta. Quando a preocupação chegou, boa parte do Cerrado já tinha ido embora", diz. Ciência vai a campo contra o aquecimento Aumento da temperatura ameaça produtividade agrícola; perda de áreas cultiváveis pode chegar a 15% até 2050 O dia mal começou e os termômetros já marcam acima dos 30 graus em Formoso do Araguaia, no sudoeste do Tocantins. Ofuscado pelo sol quente de inverno, o biólogo Sérgio Abud debruça-se sobre uma plantação de soja em que as plantas, mesmo já adultas e prontas para colheita, não chegam a 30 centímetros de altura. "Essa era a típica lavoura de soja no Cerrado nos anos 70", conta o pesquisador da Embrapa. E o pior: "Pode ser a típica lavoura do futuro também, se não fizermos o melhoramento genético agora." O problema é o calor. Abud, assim como tantos outros cientistas ligados ao setor agrícola, está preocupado com o aquecimento global. As previsões indicam que as mudanças climáticas ocasionadas pelo aumento da temperatura do planeta vão alterar drasticamente as condições de cultivo em várias regiões do País. A perda de produtividade poderá ser dramática em algumas áreas, com consequências graves para a segurança alimentar e a sustentabilidade - ambiental, social e econômica - do agronegócio brasileiro, segundo um estudo de especialistas da Embrapa e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A agricultura é a atividade que mais depende do clima e, portanto, a mais vulnerável às mudanças climáticas. O agricultor pode adubar o solo, construir açudes, selecionar sementes, mas não pode controlar a atmosfera. Cada planta tem seu tempo certo de plantio e colheita. Se a chuva que costuma chegar na primeira semana do mês começa a chegar na última, o planejamento de uma safra inteira pode ir por água abaixo. MAIS PREJUDICADAS A perda somada de áreas propícias para algodão, arroz, café, feijão, girassol, milho e soja poderá passar de 15% das áreas atuais já em 2050, se nada for feito para adaptar as lavouras aos efeitos do aquecimento global. A cultura que deverá ser mais prejudicada é a mais importante da balança comercial brasileira: a soja. Mesmo com todo o melhoramento genético das últimas décadas, a oleaginosa sino-brasileira poderá perder mais de 40% das áreas propícias para plantio em 2070. As únicas beneficiadas pela mudança climática, segundo o estudo, serão a mandioca e a cana-de-açúcar. "Boas notícias para a produção de etanol, más notícias para a produção de alimentos", resume o pesquisador Eduardo Assad, chefe da Embrapa Informática Agropecuária, em Campinas. No Tocantins, Abud e seus colegas da Embrapa Cerrados procuram linhagens de soja que sejam naturalmente tolerantes a altas temperaturas para serem usadas no desenvolvimento de novas cultivares. "Não podemos esperar o problema chegar, temos de pesquisar agora", diz Abud, lembrando que uma nova variedade pode levar dez anos para ficar pronta. Formoso do Araguaia é o laboratório perfeito para o trabalho. Localizado bem no meio do Cerrado, a temperatura no município chega aos 40 graus no meio do ano. Um sistema de irrigação subterrânea permite que os experimentos sejam feitos até mesmo nos períodos mais secos. "Aqui é a prova de fogo", anuncia o pesquisador Plínio Souza, da Embrapa Cerrados. "A soja que for bem aqui vai bem em qualquer lugar." Em uma visita de trabalho à região, acompanhada pelo Estado, ele caminha por entre as folhagens de um grande "jardim" experimental da Embrapa. A área de 7 hectares, instalada ao lado de uma lavoura comercial, está dividida em centenas de parcelas de 40 metros quadrados, cada uma plantada com uma variedade diferente de soja. Algumas diferenças são óbvias até para um leigo: parcelas com plantas verdes e vistosas versus plantas amarelas e ressecadas. Em outras, só o especialista vê: o grau de amadurecimento das vagens, o teor de umidade dos grãos, a capacidade da planta de adaptar o ângulo de suas folhas para captar a maior quantidade de luz. Souza está atento a tudo. Ele passeia pelas parcelas, inspeciona as plantas com as mãos, mastiga algumas sementes e dá o veredicto: "Essa é boa para Brasília", "essa é boa para o Maranhão", "essa aqui já era". Próxima ao experimento está a plantação de soja miúda indicada por Abud. Trata-se de uma variedade "gaúcha", que foi plantada ali apenas para multiplicação de sementes, aproveitando o sistema de irrigação local. "Você planta essa soja no Rio Grande do Sul e ela fica enorme", diz o pesquisador - um exemplo perfeito da necessidade de compatibilidade genética entre a planta e o ambiente. O problema é que o calor altera a biologia da planta e acelera seu metabolismo, fazendo com que ela floresça mais cedo ou aborte suas sementes. Consequentemente, a soja cresce menos e produz menos. Além disso, há o estresse hídrico. Assim como os seres humanos, as plantas e o solo transpiram mais - perdem mais água - quando a temperatura aumenta. A reação do vegetal, também nesse caso, é acelerar seu crescimento e florescer mais cedo. Milhares de quilômetros ao sul de Formoso, na sede da Embrapa Soja em Londrina (PR), quem está atento a isso é o biólogo Alexandre Nepomuceno. Em parceria com cientistas japoneses, ele desenvolve desde 2004 uma variedade de soja transgênica tolerante à seca. Para isso, introduziu no DNA da soja um gene extra "de alerta", que permite à planta detectar e reagir à falta de água de forma muito mais rápida e eficiente - por exemplo, fechando os estômatos de suas folhas para reduzir a transpiração. "Nenhuma planta é totalmente resistente à seca. O que queremos é amenizar as perdas, dando mais tempo para a soja se defender", explica Nepomuceno. Os primeiros testes de campo foram autorizados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e deverão ser realizados ainda neste ano. Experimentos feitos em ambiente controlado mostram que a soja com o gene é até 10% mais tolerante à seca do que a convencional. RECURSOS ESCASSOS Os resultados até agora são bons, mas são poucos. Segundo os cientistas, a quantidade de recursos disponíveis para pesquisas de adaptação às mudanças climáticas ainda está longe do ideal. "Tem muita coisa sendo feita, mas deveria ter muito mais. Poderíamos estar mais adiantados", diz o agrônomo Hilton Pinto, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp. "Não estamos fazendo terrorismo. As soluções existem, mas precisamos agir rápido", completa Assad. Segundo ele, a Embrapa investe atualmente R$ 40 milhões em pesquisas sobre mudanças climáticas - incluindo R$ 30 milhões para o melhoramento genético de plantas. "É um bom começo, considerando que três anos atrás não tinha nada." As agências governamentais de fomento também demoraram para prestar atenção no tema. Tanto que o estudo sobre o impacto do aquecimento global na agricultura, que Hilton coordenou com Assad, foi 100% financiado e encomendado pela embaixada britânica. Só no ano passado a Fapesp e o CNPq lançaram programas de pesquisa importantes nessa área. "Acho que ainda faltava as pessoas se convencerem de que isso é um problema de verdade", avalia Hilton. Assentado transforma reserva em carvão Produto é vendido para abastecer siderúrgicas e distribuidores em São Paulo Osvaldo de Oliveira recebe R$ 150 para cuidar do lote da sobrinha. NOVA ANDRADINA - Com a netinha Eduarda, de 4 anos, agarrada à perna, o assentado Almerindo Ribeiro, de 60, retira o resto de carvão do forno e vai enchendo os sacos de ráfia usados. Cada um, com cerca de 20 quilos, será vendido por R$ 3. A última fornada rendeu quase uma tonelada de carvão - receita bruta de R$ 135. Se a chuva não atrapalhar, ele enche o forno quatro vezes por mês. Madeira para queimar não falta: troncos e galhos derrubados e tostados pelo fogo se espalham por uma área de 80 mil metros quadrados. O carvão sustenta a família do assentado - ele, a mulher e duas netas - no lote que recebeu do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Assentamento Teijin, em Nova Andradina, no sudoeste de Mato Grosso do Sul. As árvores que ele está queimando fazem parte de uma das poucas áreas de Cerrado denso em uma região devastada pela pecuária extensiva e pelo avanço da cana-de-açúcar. É a reserva legal da fazenda Teijin, de 27,5 mil hectares, desapropriada em 2004 pelo Incra e invadida, depois, por integrantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) e do Movimento dos Sem-Terra. No início da década, era uma área preservada que serviu de abrigo para onças, bugios e outros animais. Chegaram como sobreviventes das terras alagadas pela formação do lago da Hidrelétrica Sérgio Mota, no Rio Paraná. Cerca de 200 das 1.124 famílias assentadas se instalaram na reserva. Os moradores fazem a derrubada, ateiam fogo para eliminar a galhada e usam motosserras para dividir os troncos e abastecer os fornos. O produto também é vendido a R$ 30 o metro cúbico para atravessadores que abastecem siderúrgicas e distribuidores em São Paulo. "É o nosso ganha-pão", diz Ribeiro. "A gente sabe que não pode fazer, mas se obriga por falta de alternativa." Em dois anos, o assentado só conseguiu produzir carvão. Ele gastou R$ 600 na construção do forno e pagou R$ 15 a hora ao dono da motosserra para botar abaixo o arvoredo. Ribeiro disse que ainda pode desmatar mais, até 60% do lote. "Ninguém vem conferir, mas a gente não tira tudo porque tem consciência." Migrante do Paraná, Ribeiro sonhava ter a terra para plantar milho, feijão e abóbora. "Mas sem água, vai produzir de que jeito?" Ele conta que o Incra fez o poço, mas não instalou o encanamento. Os R$ 15 mil do programa de moradia também não saíram, por isso ele continua em um barraco. "Só agora o Incra liberou adubo, calcário e arame para a cerca, mas sem a destoca não dá para plantar." No terreno da assentada Otelina Leite Lobo, de 80 anos, o único forno não dá conta de toda a madeira cortada e enfileirada em uma área de 12 hectares. Uma parte foi vendida e levada de caminhão para uma carvoaria fora do assentamento. Ela é dona do lote, mas quem cuida de tudo é o filho, Deusdete Lobo, de 59, assentado há quase 20 anos no Casa Verde, um assentamento vizinho. Inicialmente, Lobo disse que o forno estava desativado. Depois, com a evidência das paredes quentes e da fumaça, alegou que era de um vizinho. O barulho da motosserra também vem do lote vizinho, alega. Os troncos empilhados pelo terreno foram cortados com anuência do Incra, garante. "Vieram numa reunião e disseram que podia abrir 60% do lote." O assentado diz que sua mãe não invadiu a reserva. "Puseram ela aqui, coitada, no meio do mato." Ele conta que várias pessoas tentaram comprar o lote, alegando que a mulher é muito idosa para cuidar. Por causa da idade avançada, Otelina não dorme no barraco, em uma clareira em meio à fatia que sobrou do Cerrado. No fim da tarde, vai à casa do filho. O trabalhador rural Osvaldo Alves de Oliveira, de 53, recebe R$ 150 por mês para cuidar do lote da sobrinha Ana, que mora na cidade. Ele presta serviço na queima de carvão para outros assentados. Parte do material estava armazenada em sacos sob uma lona preta no lote 117 à espera do comprador. Era Oliveira quem operava a motosserra cujo ronco se ouvia da estrada. Ele suspendeu o serviço assim que a reportagem se aproximou. "Acabou o combustível", alegou. O lavrador calculou que a madeira derrubada era suficiente para encher "uns 25 caminhões". Antes, Oliveira cuidava do lote de um comerciante, dono de lanchonete no distrito de Casa Verde. "Queimei carvão para ele um tempão. Queria plantar, mas ele não deixou." O lavrador conta que em quase todo lote tem um forno. Ele mesmo já construiu alguns em troca de uma parte da fornada. Se a renda do carvão fosse sua e não do dono da madeira, já teria juntado o suficiente para comprar um lote. "Vendem por R$ 15 mil ou R$ 20 mil, depende da benfeitoria." O coordenador da Fetagri, Antonio Barbosa, também assentado, culpa o Incra pela devastação. O órgão teria cedido à pressão dos prefeitos das cidades do entorno e assentou mais gente do que cabia. Como as áreas desmatadas eram insuficientes, os assentados que ficaram sem lotes ocuparam a reserva. "Era gente que ficou anos acampada e foi passada para trás na hora de assentar, pois os prefeitos tinham listas políticas." Segundo ele, como o Incra não conseguiu retirar os ocupantes da mata, fechou os olhos para a devastação. IRREGULARIDADE "No início, foram considerados irregulares e não receberam verba para nada. Depois, o Incra autorizou o desmate de até 40% do lote, mas não fiscalizou e muitos cortaram tudo", relata Barbosa. O destino da madeira cortada é a produção de carvão. "Todos sabem que é proibido vender madeira e queimar carvão, mas fazem por baixo do pano." Não é a única irregularidade. "Aqui tem de tudo. Tem gente que vende o lote, gente que mora em outro lugar e deixa alguém cuidando, gente que desmatou até fora do lote." O Incra em São Paulo informou que a ocupação não interfere na reserva legal, pois foi constatado que a fazenda tinha mais matas do que os 20% exigidos por lei. Segundo o órgão, a invasão foi objeto de um termo de ajuste de conduta entre os assentados e o Ministério Público Federal para evitar o desmate. O Incra informou que já pediu à Polícia Ambiental Estadual a fiscalização da venda e queima de madeira e aguarda um relatório com as providências. Sobre a falta de funcionários, alegou que as equipes estão com frequência no assentamento. Em novembro de 2007, o Estado já havia flagrado fornos de carvão na reserva da Teijin. Na época, o Incra informou que era crime ambiental e os assentados seriam excluídos. Informou ainda que as famílias alojadas em áreas cobertas por matas seriam transferidas para outro assentamento. Todas continuam no mesmo lugar. Veja os mapas e gráficos da devastação no Cerrado