CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB BARRA 3 Sexta-feira, 29 de maio de 2009 |GZM ÍNDIA |I3 PAINEL I Multinacionais: Índia e Brasil mais perto Empresas indianas destacam a importância do mercado latino americano para a economia industrial do país "A multinacional indiana" foi o tema do primeiro painel da conferência, aberto por Cesar Castelli, executivo da Tata Consultancy Services (TCS) – um dos braços do grupo Tata, o maior conglomerado industrial daquele país e um gigante que atua em sete diferentes setores da economia e fatura o equivalente a 5,3% do PIB da Índia. Recentemente, o grupo esteve em evidência em todo o mundo ao apresentar o automóvel Tata Nano, vendido no mercado interno a US$ 2,5 mil e que promete realizar o sonho de consumidores de baixa renda. – A Tata Consultancy Services, empresa de serviços de tecnologia da informação do grupo, atua em projetos em dez países na América Latina, entre eles o Brasil. Aqui, temos cerca de 1.200 funcionários, 97% deles brasileiros, e esperamos chegar ao fim de 2009 com 2 mil colaboradores no país. Hoje, temos aproximadamente 25 clientes entre as mais importantes empresas, como Petrobras, Brasil Telecom e grandes companhias controladas pelo governo – contou Castelli. Segundo ele, a América Latina não deve ser vista somente como um grande mercado para a prestação de serviços: – Esta região é, na verdade, uma importantíssima base estratégica para o atendimento de clientes nos Estados Unidos e na Europa. Daí a importância que tem para o grupo Tata, que mantém na América Latina mais de 7 mil funcionários, atendendo a aproximadamente 150 clientes regionais e globais – ele disse. O representante do grupo indiano explicou que a Tata Consultancy Services atua no Brasil nas áreas de tecnologia da informação, prestação de serviços de infraestrutura, consultoria e no apoio a setores de recursos humanos, finanças, contabilidade, relacionamento com clientes, entre outros. – Na América Latina, já conquistamos um lugar de destaque. Somos parceiros de mais de 50 entre os 250 maiores bancos, de quatro das dez maiores empresas de telecom, de duas das três principais companhias da área de combustíveis e de duas das cinco maiores empresas aéreas – enumerou Cesar Castelli. O grupo Tata, ele lembrou, incentiva programas de voluntariado nos países onde atua, tendo hoje cerca de 15 mil funcionários como colaboradores O grupo Tata é parceiro de 50 entre os 250 maiores bancos da América Latina em causas ou instituições sociais. O gigante indiano é formado por 98 empresas, 30 delas com ações em bolsas de valores, sendo o maior empregador do setor privado indiano, com 300 mil funcionários. – Atuamos em mais de 80 países, nas áreas de siderurgia, hidrelétricas, hotéis, seguros, comércio exterior, indústria química, bens de consumo, tecnologia da informação, teelcom, automóveis, autopeças e ar-condicionado. E vale destacar que cerca de 60% de nossa receita são provenientes de nossa atuação fora da Índia. Isso mostra a importância que o grupo confere ao mercado internacional – ressaltou Castelli. ROSHAN MAMMEMR – Mur ugappa Group CESAR CASTELLI – Tata Consultancy Ser vices O executivo disse que é preciso criar um modelo de negócios que traga benefícios para ambos os países. – Através de parcerias, empresários indianos e brasileiros podem alavancar US$ 30 bilhões no mercado de tecnologia da informação. Se atuarmos como colaboradores, e não como antagonistas, iremos nos beneficiar e expandir o mercado dos dois países – concluiu Cesar Castelli. Agricultura valorizada Com 32 mil funcionários, 20 empresas e faturamento de US$ 3 bilhões no último ano, o indiano Murugappa Group está presente no mercado brasileiro através da Coromandel Brasil. Com atuação no setor agrícola, através de negócios nas áreas de fertilizantes e agroquímicos, a companhia esteve representada na conferência por Roshan Mammemr, que destacou a relevância do mercado brasileiro. – Nossa presença aqui tem grande importância para o grupo. Não podemos abrir mão de atuarmos num país como o Brasil, que oferece uma imensa área para a agricultura, grande parte dela ainda não utilizada ou sub-utilizada. Ele lembrou que o Brasil é, hoje, o maior consumidor de insumos agrícolas do mundo. – Só esta realidade já seria motivo para a nossa presença no país, que importa a maior parte dos insumos agrícolas que utiliza. E este é um grande atrativo para quem planeja fazer investimentos no Brasil. Roshan Mammemr disse que bancos de Índia e Brasil podem colaborar fortemente para que haja um maior volume de negócios entre as duas nações: – As instituições financeiras podem assumir um importante papel no desenvolvimento das relações comerciais Brasil-Índia. Em nossa área de atuação, isso pode ocorrer de diferentes formas, seja unindo parceiros ou oferecendo créditos agrícolas a taxas acessíveis e compatíveis com a realidade de cada país – sugeriu. O executivo do Murugappa Group destacou que são muitas as oportunidades existentes para empresários dos dois países, mas lembrou que é preciso que haja mais interface. – Indianos e brasileiros têm muito a ganhar com parcerias e o comércio bilateral. Na Índia, por exemplo, a classe média vem crescendo a cada ano, o que aumenta a demanda por comida. Consequentemente, aumenta também a demanda por produção de alimentos, entre eles o do setor agrícola – lembrou Roshan Mammemr. Dificuldades foram transpostas Planejamento, respeito à cultura local e paciência fazem parte da receita de sucesso da Pidilite do Brasil, empresa de capital indiano que opera no país desde 2004. Pioneira na Índia nos setores de produtos químicos e adesivos, a Pidilite Industries Limited atua em oito diferentes segmentos, em mais de 50 países. Alto executivo da empresa no Brasil, Satya Muley lembrou que não foram poucas as dificuldades encontradas quando da implantação do grupo no país, há cinco anos. – O entendimento das leis tributárias, a burocracia, a política de governo e as diferenças culturais existentes entre Índia e Brasil foram alguns dos obstáculos que tivemos que superar. Lembro que amigos, na época, me fizeram o seguinte alerta: "é preciso contratar, antes de tudo, um contador e um bom advogado; só depois busque uma boa equipe de vendas". No seminário, ele sugeriu que os empresários indianos que buscam estabelecer negócios e/ou parcerias no Brasil devem pensar a médio e longo prazos, tendo a sabedoria de passar um ou dois anos aprendendo e testando o modelo de negócios que pretendem desenvolver. – O Brasil ainda é um mercado novo para os empresários indianos, que devem aceitar e procurar entender as suas singularidades econômicas e culturais. Muitas vezes é preciso, por exemplo, adiar algo em razão da proximidade com o Carnaval ou o Natal. Isso é um fato, e nem sempre será possível solucionar problemas ou buscar soluções a nosso modo e no tempo que achamos mais conveniente – disse. Satya Muley elogiou a criatividade dos brasileiros e lembrou que estes valorizam muitos os relacionamentos interpessoais, que devem ser estimulados pelos indianos que fazem ou pretendem fazer negócios no país. – É preciso planejar muito e ter o cuidado de fazer os investimentos no momento certo. Aos indianos que pensam em ter negócios no Brasil, eu diria: venham para cá, mas tenham um plano B e até mesmo um plano C. E não pense em nada a curto prazo, pois é necessário um certo tempo para que as coisas comecem a acontecer. Além disso, sugiro também que se busque a parceria com uma empresa brasileira com tradição e um bom nome no mercado brasileiro. É o que temos feito, e temos sido bem-sucedidos em nossos negócios no Brasil – contou Satya. A Pidilite do Brasil está presente em mais de 75 pontos de vendas no país. Segundo o executivo indiano, a empresa – que tem uma planta de produção em São Paulo – já planeja uma expansão em busca de mercados vizinhos na América Latina. Em cinco anos, busca a liderança na região em seus produtos-chave. Satya Muley lamentou que os obstáculos para as exportações para o Brasil ainda sejam grandes, lembrando que são muitas as diferenças na maneira de fazer negócios entre empresas indianas e brasileiras. – O distanciamento geográfico é uma realidade que não pode ser ignorada por empresários de ambos os países, e é preciso que saibamos conviver com isso. E há as particularidades de cada mercado. No Entender e pesquisar: vitais para o sucesso com os negócios no Brasil Brasil, por exemplo, é emblemática a figura do despachante. Sem a participação dele, muita coisa acaba não evoluindo, não acontecendo. Creio que os parceiros brasileiros devem ser mais pró-ativos no sentido de explicar esse tipo de coisa aos seus pares indianos – sugeriu. O representante da Pidilite do Brasil considera que as maiores oportunidades de bons negócios entre empresas dos dois países estão nas área de tecnologia da informação, bancos, produtos têxteis e químicos e indústria farmacêutica. – Nossa experiência no Brasil tem sido fantástica e temos muitos planos para um futuro promissor por aqui – concluiu Satya Muley. JEITENDRA TRIPATHI – Cônsul-geral da Índia EMPRESAS BRASILEIRAS DE SUCESSO NA ÍNDIA Aposta alta em mercado com grande potencial Docol e WEG Brasil investem a médio e longo prazos e acreditam que ainda há muito a ser explorado Diretor comercial da Docol Metais Sanitários, Guilherme Bertani abriu o segundo painel do seminário – sob moderação do diretor comercial do Jornal do Brasil, Hélio Nobre. Bertani contou que a empresa está presente em mais de 35 países, entre eles a Índia, sendo a maior fabricantes do setor no Brasil e a maior empresa de torneiras e válvulas temporizadas na Amé rica Latina – equipamentos que, segundo ele, são capazes de gerar uma economia de até 75% de água. O executivo contou que o estabelecimento de comércio com os indianos aconteceu através de contatos feitos na Europa. Numa primeira etapa a decisão da empresa foi a de importar produtos na Índia. – Inicialmente, esta foi a nossa proposta de negócios. Mas não demorados a perceber que isso gerava resultados não tão favoráveis, com baixo volume de vendas, alto preço para o consumidor final e um mix de vendas limitado – explicou. Guilherme Bertani seguiu lembrando que uma segunda etapa levou a Docol à venda para distribuidores indianos da marca Docol, à comercializaão para fabricantes locais e à ampliaçao do mix de produtos. Segundo ele, houve crescimento do volume de vendas, Concorrência de cópias e produtos contrabandeados é uma realidade a ser enfrentada queda dos preços aos consumidores, queda dos preços de exportação, maior frequencia de compras, concorrência de produtos copiados (Índia e China) e concorrência de marcas brasileiras. A terceira etapa da Dool na Índia foi a opção de centralizar negócios com uma única empresa, com recuperação do preço de exportação e ampliação JOÃO CARLOS MOMESSO – diretor-executivo de MIT Partners SATYA MULEY – Pedilite Industries Limited do mix de produtos vendidos. – Dessa forma, conseguimos ampliação do volume de vendas, programação das compras, parceria do desenvolvimento do mercado local – ele disse. O diretor comercial da Docol destacou que a evolução dos negócios da empresa no mercado indiano é um fato e que os resultados são bastante satisfatórios. Entretanto, ele disse que não são poucos os obstáculos enfrentados, e listou alguns deles: – Convivemos com impostos de importações elevados e temos sofrido com cópias feitas no mercado local. Além disso, enfrentamos a concorrência de produtos chineses e o cobtrabando que entra na Índia proveniente de Dubai. Isso, sem dúvida inibe investimentos em ativos e a transferência de tecnologia. Guilherme Bertani citou mais obstáculos para o estabelecimento de negócios com parceiros indianos – Há, ainda hoje, reduzida frequência de navios e ausência de voos diretos. E vale lembrar que a crise global afetou a indústria da construção civil da Índia e, infelizmente, o produto produzido no Brasil ainda não tem o devido valor no mercado indiano, com uma grife. Bertani encerrou sua participação no seminário destacando que a Índia tem um imenso mercado em potencial, que ainda precisa ser explorado devidamente. O mercado daquele país, segundo ele, é ávido por produtos que ofereçam uma boa relação de custo-benefícios. Por isso, é vantajoso que se faça grandes investimentos, a médio e longo prazos para o desenvolvimento do mercado como um todo. WEG: na Índia desde 2000 O diretor Sérgio Sobreira representou a Weg Brasil no segundo painel do seminário. A empresa comercializa seus produtos em nada menos que 110 países, tendo o total de 23 mil colaboradores – sendo 3 mil deles no exterior – e atuando com unidades de negócios de motores elétricos, energia, automação e tintas e vernizes. – Vale destacar, no caso de nossos negócios na Índia, a linha de motores elétricos, com geradores e transformadores modernos num mercado que recebe esse tipo de produto com avidez – explicou. O mesmo acontece com relação ao setor de energia. A empresa brasileira produz turbinas, sistemas de bombeamento, indústrias petroquímicas e na geração hidráulica, ou seja, uma área com demanda crescente em solo indiano. – Geramos, em vendas, nada menos que R$ 6,3 bilhões em 2009, em todo o mundo, sendo US$ 1,1 bilhão em exportações. Sobreira lembrou que a Weg Brasil chegou à Índia em 2000; em 2003, atuou em seu primeiro grande projeto, em Godavari. Em 2004, abriu escritório comercial naquele país, para incrementar as vendas de equipamentos para o setor de energia. – Este ano, na Índia, estamos iniciando a construção de uma fábrica, que começou neste mês de maio, com investimento de cerca de US$ 65 milhões. Nossa previsão é de produzir, já no ano que vem, em Bangalore, grandes motores e geradores. O representante da Weg Brasil no seminário Brasil-Índia destacou que as oportunidades para novos investidores em solo indiano é grande em setores como os de geração de energia, óleo e gás e nas Construção de fábrica começou este ano e previsão é de produzir em 2010 áreas que atuam com a produção de aço, que crescem a 8% ao ano. – A Índia oferece um mercado que está dentro de nossa capacidade de atendê-lo. Até pensamos no estabelecimento de uma joint venture, mas optamos por investir em nossa própria sede naquele país – conclui Guilherme Bertani. SÉRGIO SOBREIRA – WEG Índia