Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE CAETITÉ: NOTAS HISTÓRICAS E ATUAIS Maria de Fátima Novaes Pires Resumo: O presente artigo trata da trajetória do Arquivo Público Municipal de Caetité, criado em 1996, por iniciativa de professores da Uneb/campus VI/Caetité. Destaco atividades realizadas desde a sua fundação até o presente ano (2011) e proponho reflexão sobre a importância da criação de arquivos no interior do estado para a preservação da memória histórica dos sertões baianos, permanentemente em risco devido à insuficiência e disparidades de políticas arquivísticas no território nacional. Arquivo Municipal de Caetité – breve histórico [...] tudo que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que pode ser discutido. H. Arendt (1906-1975) No Brasil tem sido lenta a formulação ou aprovação de dispositivos legais que assegurem a gestão integral do patrimônio arquivístico público nas administrações municipais, ainda que a legislação brasileira seja uma referência para os demais países da América Latina. A Constituição federal (art. 216) e a Lei Federal de Arquivo (Lei 8.159/1991, art. 1º) atribuem ao poder público, em todos os níveis, a responsabilidade pela gestão, guarda e preservação dos documentos de arquivo como instrumentos de apoio à administração, à cultura e ao desenvolvimento científico (MACHADO, 1999, p. 7). Apesar das dificuldades que envolvem a criação de arquivos no Brasil, como se observa na epígrafe acima, pode-se afirmar que o Arquivo Público Municipal de Caetité, criado no ano de 1996, tornou-se uma referência entre os arquivos municipais 1 do estado da Professora Adjunta II da UFBA/FFCH/DH. Coordenadora do Arquivo Público Municipal de Caetité. 1 Para compreensão da estrutura jurídico-política dos arquivos municipais, considerar algumas notas de Daíse Apparecida Oliveira, presidente do Fórum Nacional de Dirigentes de Arquivos Municipais: “Reproduzindo a ordem política da sociedade ibérica, tendo por base as instituições romanas, os municípios foram criados no território americano desde o início da colonização, como entidade político-administrativa. As Ordenações Afonsinas (1446) já haviam reduzido a instituição concelhia portuguesa a um único tipo, uniformizando-a para todo o reino (Puntoni, 1999). Regidas pelos forais que previam a delimitação de um território e seus habitantes, administradas pelo senado da Câmara, por juízes, um procurador, escrivão, almotacel e outros pequenos funcionários, essas corporações locais desempenharam as mesmas funções e atividades relacionadas à higiene, abastecimento, tributação, obras públicas, ordenamento do solo urbano, segurança, entre outras. No caso da América portuguesa cabia-lhes, como organismos da colonização, disciplinar os indivíduos, instituir a comunidade e fazer cumprir as ordenações do rei e autoridades metropolitanas” (OLIVEIRA, p. 3). 1 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) Bahia. A sua importância e vitalidade é explicada pelo envolvimento de segmentos da comunidade acadêmica da Uneb e pela colaboração de pessoas da comunidade local e regional. Um breve histórico de sua trajetória, com destaque para a sua criação e projetos (executados e em execução), é o que se apresenta nas linhas que se seguem. 2 A criação do Arquivo Público Municipal de Caetité (APMC) remonta a meados da década de 1990 e está indissociavelmente relacionada à iniciativa de professores do curso de História da Uneb/Caetité, responsáveis pela mobilização de colegas de outros cursos; de dirigentes do Arquivo Público do Estado da Bahia (APB), nas pessoas de Divaldo Alcântara e Stela Dalva Teixeira Silva; de representantes do poder público Municipal, nas pessoas do prefeito municipal, Olimar Oliveira Rodrigues; da secretária de Educação, Sônia Maria Silveira Alves; do vereador, Francisco Nelson, representante da Câmara Municipal; e de representante da direção da Uneb/campus VI/Caetité, o professor Manoel Raimundo Alves. Os professores da Uneb/Caetité, Paulo Henrique Duque Santos, Maria de Fátima Novaes Pires e Tânia Portugal, foram responsáveis pelo projeto de criação do Arquivo Público, entregue preliminarmente à direção do Arquivo Público do Estado da Bahia (APB) 3. No primeiro semestre de 1995, reuniram-se com os referidos dirigentes e autoridades públicas da cidade para análise das condições materiais e dos termos legais para viabilizar a criação do Arquivo Público no município de Caetité. Nessa reunião, por orientação do Arquivo do Estado, foi definido a formalização de um convênio tripartite, envolvendo as instituições em questão, sendo estabelecidos deveres e obrigações específicas, visando a manutenção e o funcionamento do Arquivo Municipal. Após a aprovação da Lei de criação do Arquivo Público Municipal, pela Câmara Municipal de Caetité, posteriormente sancionada pelo referido prefeito municipal, e da posterior formalização do convênio tripartite, coube ao professor e coordenador do Arquivo, Paulo Henrique Duque Santos e a Sra. Rosália Junqueira Aguiar, funcionária municipal naquela ocasião, juntamente com alunos (monitores/estagiários) da Uneb, iniciarem os trabalhos de localização, higienização e catalogação de documentos dispersos pela cidade. Grande parte dessa documentação encontrava-se abandonada e em péssimo estado de conservação. Para o professor Paulo Henrique Duque Santos: Assim, foi possível reunir uma documentação que se achava dispersa (e sem 2 Ver Jardim (1995) para informações relativas ao Sistema Nacional de Arquivos. 3 O APMC conta nos dias atuais com a coordenação de Paulo Henrique Duque Santos (Uneb), Marcos Profeta Ribeiro (Uneb), Maria de Fátima Novaes Pires (UFBA) e Rosália Junqueira Aguiar (coordenadora Municipal). 2 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) a adoção de procedimentos de conservação) e que consiste em Livros de Atas da Câmara/Conselho Municipal, Livros das Juntas de Qualificação Eleitoral, Livros de Juramentos da Guarda Nacional, Livros de Registro de Marcas de Ferros, Livro de Registro das Posturas Municipais, Livros de Razão, Livros de Receitas e Despesas, Processos de Pagamento, Folhas de Pagamento, Correspondências diversas, Livros de Protocolo, Autos Cíveis e Crime, Jornais (a exemplo do Jornal A Penna), Periódicos, Fotografias, Correspondências da família Anísio Spínola Teixeira, dentre outros. Muitos moradores do município de Caetité têm colaborado com a preservação de fragmentos do passado do alto sertão da Bahia. Graças aos esforços desses “guardiões da memória”, pessoas que mantêm atualizadas as reminiscências das suas vivências cotidianas, as novas gerações dispõem atualmente de um acervo documental e de bens da cultura material que registram a memória e a história da região. O Arquivo Municipal proporciona a graduandos, pósgraduandos da UNEB e pesquisadores de todo o Brasil o acesso a valiosas fontes documentais; tem colaborado, neste sentido, para o desenvolvimento de pesquisas com temas diversificados que reconstituem muito da história do alto sertão baiano. 4 A antiga Casa de Câmara e Cadeia, construída na primeira metade do século XIX, e reformada na gestão do prefeito Olimar Oliveira Rodrigues (1996), com apoio do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC), serviu (e ainda serve) às instalações do Arquivo, inaugurado no segundo semestre do ano de 1996, com palestra proferida pelo Dr. Ruy Hermann Araújo de Medeiros, professor do curso de Direito da UESB/Vitória da Conquista. Em sua conferência, tratou da importância da preservação de documentos antigos e de achados arqueológicos para a reconstituição da história e da memória histórica dos sertões baianos. Estiveram presentes no salão nobre do recém-fundado Arquivo, autoridades municipais e dirigentes da Uneb, servidores, estudantes e docentes dos cursos daquela instituição. Também se fizeram presentes, professores do ensino médio e fundamental, das redes municipal e estadual de ensino, além de diversas pessoas da comunidade local. Desde a sua criação, a coordenação do Arquivo procurou ampliar as suas funções para além das noções de guarda, conservação e disposição de documentos para a pesquisa. O Arquivo promove, frequentemente, encontros entre a comunidade acadêmica e a comunidade local. Alguns projetos atendem a essa perspectiva, sendo os projetos “Arquivo-Escola” e “Arquivo Vivo” os mais destacados. Esses são projetos amplos, que se desdobram no planejamento e organização de eventos de natureza educacional e cultural. Dentre as atividades do projeto “Arquivo Vivo”, o “Quinta Cultural” consiste em livre debate de temas sugeridos pelos participantes. As suas primeiras edições, em 2007, contaram com o apoio de docentes e discentes da Uneb/campus VI, que se dedicaram a análise da obra de autores como 4 As notas referentes ao Professor Paulo Henrique Duque Santos foram extraídas de passagens de projetos encaminhados pelo Arquivo Público Municipal de Caetité, sob sua coordenação. 3 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) Clarice Lispector e Ariano Suassuna. Ao lado dessa atividade, contou-se com apresentação teatral e leituras de textos clássicos. Integrando o projeto “Arquivo Vivo”, foi realizado um curso denominado “Fontes históricas: acervos e métodos”, no segundo semestre de 2006, destinado a estudantes da Uneb. Na execução do projeto “Arquivo-Escola” conta-se com a colaboração das Secretarias de Educação do Município de Caetité e do Estado da Bahia. A Biblioteca Pública Municipal Cezar Zama, que funciona em uma das enxovias do prédio do Arquivo, tem sido uma constante parceira em eventos municipais. Buscando aproximar a comunidade de suas atividades, a coordenação do Arquivo promove exposições de peças de seu acervo em escolas públicas, do estado e do município, a exemplo do Instituto de Educação Anísio Teixeira/IEAT e do Centro de Integração de Ensino de Caetité/CIEC, dentre outros; “Feiras de artesanato”; “Saraus literários”; “Exposições Fotográficas”, sendo a primeira delas uma mostra das fotografias de Sebastião Salgado. Também participa com exposições em festas comemorativas da cidade (Festa de Nossa Sra. de Santana, “Aniversário da cidade”, “Natal Luz”). Nos Natais da cidade, a coordenadora municipal, Rosália Junqueira Aguiar, organiza um projeto denominado “Noite Feliz”, que consiste na apresentação pública de coros de crianças e de adultos que, posicionados nos janelões do prédio do Arquivo, entoam canções natalinas. Em muitas outras oportunidades, o Arquivo partilha de eventos da Uneb/campus de Caetité. Um bom exemplo dessa parceria são as participações do Arquivo Municipal nos Seminários Interdisciplinares de Pesquisa e Extensão (SIPEs). Uma dessas participações ocorreu no Encontro do curso de Letras, “Literatura e região: leituras do alto sertão no diálogo multitemporal”, realizado no mês de junho de 2009. Na ocasião, o Arquivo organizou uma exposição de trabalhos de antigos escritores caetiteenses, com o título “Sarau Literário”. Os autores foram apresentados em banners e vídeos, acompanhados de uma animada conversa entre os presentes daquele Encontro. Posteriormente, organizou-se uma exposição itinerante por escolas da sede do município. O envolvimento da comunidade local e acadêmica com as atividades do Arquivo, aliado a um sentimento de acolhimento de sua proposta, resultou na criação da “Associação de Amigos do Arquivo Público Municipal de Caetité”, na sua sede, em outubro de 2004. Como espaço de visitação pública, é frequentado por grupos de estudantes universitários e de alunos do ensino médio e fundamental, das redes pública e privada de Caetité e de municípios circunvizinhos. Além deles, recebe pesquisadores de diversas partes do Brasil, sendo mais comum o interesse de historiadores de universidades da Bahia. 4 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) Na condição de Arquivo Público Municipal, tem a função de emitir certificados de tempo de serviço aos servidores municipais. Essa atribuição exige qualificação profissional daqueles que diariamente lidam com acervos correntes e intermediários 5 para cálculos e expedição de documento comprobatório de base legal: O atributo “municipal” tem, em primeiro lugar, o sentido de “originário do poder público municipal”, isto é, refere-se aos órgãos que exercem, na base da organização estatal brasileira, os poderes executivo e legislativo. Nesta acepção, são municipais os documentos produzidos, recebidos e acumulados pela Prefeitura e pela Câmara de Vereadores no desempenho de suas funções. A tais conjuntos documentais é que o arquivo municipal, como entidade administrativa responsável por sua custódia, tratamento e utilização, deverá, prioritariamente, dedicar-se (MACHADO, 1999, p. 12). Desde a sua criação, o Arquivo conta com a colaboração de moradores caetiteenses na doação de acervos familiares, compostos por documentos, livros, fotografias, mobiliário et cetera. A família do escritor e editor João Gumes, na pessoa da sua filha, a Sra. Heloísa Gumes, doou toda a coleção física do Jornal A PENNA, e números esporádicos de outros periódicos produzidos pela Typografia Gumes. Esse acervo foi transformado em mídia digital (CD Rom) pela Empresa Gráfica da Bahia (EGBA), através de projeto financiado pela Uneb, e exibido em evento realizado no Arquivo, em 18 de dezembro de 2003. Encontra-se à disposição da pesquisa, tendo possibilitado a realização de alguns trabalhos de mestrado e doutorado. A Fundação Anísio Teixeira, na pessoa da Sra. Anna Christina Teixeira Monteiro de Barros, doou uma volumosa e diversa documentação da família de Deocleciano Pires Teixeira. Também foi doada pela família do Professor Alfredo José da Silva, por iniciativa do Sr. Laertes Santana Silvão, a sua rica biblioteca e valiosas anotações pessoais de estudos, reveladores da grande erudição do antigo professor e diretor da Escola Normal de Caetité. Descendentes de Durval Públio de Aguiar, na pessoa da Sra. Agnalda Públio de Castro, também mostraram-se sensíveis à proposta do Arquivo, doando importantes documentos pessoais da família. Além dessas doações, outras mais se somam, e compõem acervos físicos, em exposição permanente, nas dependências do Arquivo. Entre os anos 2003 e 2006, um grupo de alunos (monitores), reunidos pelo professor da 5 Arquivo corrente: “Ao arquivo corrente devem ser encaminhados não só os documentos cujas questões tenham sido solucionadas, como os que, embora ainda em curso, precisam aguardar o cumprimento de formalidades, onde sobressaem as de caráter administrativo, jurídico, técnico ou científico” […] Arquivo Intermediário: “O arquivo intermediário corresponde à segunda idade do ciclo vital dos documentos. Consiste em depósito de armazenamento temporário para aqueles que ainda dispõem de valor administrativo, embora sem uso freqüente, e para a documentação de órgãos extintos, suprimidos ou desativados” (MACHADO, 1999, p. 26 e 32). 5 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) Uneb, Marcos Profeta Ribeiro, também coordenador do Arquivo Municipal, higienizou e catalogou vasto e importante acervo da família Gomes Neto, localizados na casa do Barão de Caetité. Esse acervo encontrava-se abandonado e foi descoberto na época da restauração da Casa Anísio Teixeira. Consiste em anotações médicas; contas e relações de fazendas e tropas; correspondências pessoais (Joaquim Manoel Rodrigues Lima e Lima Júnior); correspondência do barão e baronesa de Caetité; telegramas; documentos jurídicos; “recibos”; livros de conta corrente (livros de razão); jornais; documentos avulsos, alguns deles relativos a escravos. Esse acervo conta com grande atenção da coordenação do Arquivo Público, já que ainda se encontra na Casa do Barão (uma residência antiga e úmida, fechada há muitos anos), situação que agrava ainda mais as inadequadas condições de seu armazenamento. Essa coordenação dirige demandas para a transferência desse acervo para o Arquivo Público Municipal, e está atenta para mantê-lo na cidade Caetité. Mesmo não sendo possível resumir em poucas linhas algumas situações mais difíceis já enfrentadas pela coordenação do Arquivo, importa registrar aqui algumas dificuldades enfrentadas com gestores municipais. Antes, porém, é necessária certa atenção para considerações mais gerais. Especialistas em instituições arquivísticas brasileiras consideram que, apesar do crescimento do número de arquivos nesses últimos anos, modo geral, salvo exceções, os arquivos não oferecem infraestrutura suficiente para cuidar de seus acervos e muito menos de torná-los acessíveis aos pesquisadores. Se considerarmos que os contornos da questão arquivística nacional não são tão alentadores, desnecessário ir muito longe para avaliar os estragos irreparáveis a que estão expostos muitos acervos, abandonados e esquecidos, pelos fóruns e cartórios de pequenas cidades do imenso estado da Bahia. Além das disparidades da política arquivística no Brasil, um dos grandes problemas enfrentados nos municípios é a incapacidade de percepção de parcela significativa de gestores municipais para a importância de uma instituição como um arquivo, seja para a pesquisa, seja para parcerias na educação, seja para atender demandas de servidores públicos. Instituições como arquivos ficam à mercê da boa vontade de gestores municipais, muitas vezes desinformados, outras tantas indispostos a contribuir por indisposições políticas... Enfrenta-se, assim, o descaso daqueles que deveriam se encarregar pela organização de arquivos. Situação que se agrava por sentimentos de posse e apego pessoal a documentos locais e públicos que, devidamente conservados e disponíveis, enriqueceriam a pesquisa acadêmica. Demandas cotidianas do Arquivo, a exemplo de cessão de funcionários e materiais básicos de trabalho, imposição de coordenadores municipais, alheios à proposta e aos 6 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) trabalhos da instituição, resultam em obstáculos para implementação de projetos e consolidação do Arquivo, lançando maiores dificuldades para aqueles que estão à sua frente. Diante de situações dessa ordem, conta-se com a Uneb, que garante (em muitas ocasiões) recursos humanos e materiais para manutenção e funcionamento do Arquivo. Entabulemos agora outras informações sobre a trajetória de quinze anos do Arquivo caetiteense. Através de projeto encaminhado ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), a coordenação do Arquivo viabilizou a modernização da guarda arquivística com a aquisição de estantes deslizantes. Sobre este aspecto o professor Paulo Henrique Duque Santos nos diz, Através do Programa de Preservação de Acervos do BNDES (Edital de 2004), foram adquiridos arquivos deslizantes para a melhoria das condições de arquivamento dos documentos. Este projeto visa a aquisição de equipamentos de segurança contra incêndio com sensores de detecção e monitoração que asseguram adequada proteção à documentação. Em abril de 2010, sob a coordenação da Sra. Rosália Junqueira Aguiar, foi realizada a exposição “Um olhar sobre Caetité: tempos remotos ao patrimônio arquitetônico atual”, no Arquivo Público Municipal. Fotografias representativas da cidade, em diferentes tempos históricos, com destaque para o registro iconográfico de “monumentos, festividades, lugares e fazeres de diferentes sujeitos da região” permitiram aos visitantes vivas recordações de suas trajetórias pessoais e coletivas pelas ruas de Caetité. A exposição também buscou promover uma reflexão ao indagar: “Ao rumarmos para o futuro, será que temos contribuído, também, para a construção de uma cidade melhor?” No dia 19 de maio de 2011 foi realizada uma exposição no Fórum Cezar Zama, intitulada “Autos Judiciais, Arquivos Culturais: preservar, pesquisar e conhecer.” Essa exposição mantém-se permanentemente no Fórum e contou na sua abertura com uma palestra proferida pelo Dr. Ruy Hermann Araújo de Medeiros, professor do curso de Direito da UESB. Em 20 de maio de 2011, foi realizada a segunda edição do Projeto Arquivo-Escola, com a participação aproximada de oitenta professores e servidores da rede pública municipal e estadual. Esse projeto maior resultou na organização de um “projeto piloto” de organização de arquivos escolares, iniciado na Escola Maria Neves Lobão, antiga escola do município, criada no ano de 1963. À frente desse projeto estão a coordenadora municipal, a Sra. Rosália J. Aguiar, e os professores José Orlando Dias Cardoso (rede estadual), Marili Xavier Pinto (rede municipal), Crislane Junqueira Aguiar Silva (funcionária da DIREC/graduanda do curso de 7 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) Letras/Uneb). Com a reestruturação administrativa estadual, a Fundação Pedro Calmon/Centro de Memória assumiu compromissos relativos aos arquivos públicos do estado da Bahia. Em agosto de 2010, essa Fundação realizou um “Curso de gestão de informação aplicado aos Arquivos Municipais”, no Arquivo de Caetité, em parceria com a Prefeitura Municipal e a Uneb. Um dos desafios atuais para arquivos em geral, e para o Arquivo Público Municipal de Caetité, em particular, consiste em facilitar, divulgar e ampliar as consultas a seus acervos em face das novas tecnologias da informação: […] com o avanço das tecnologias da informação e comunicação (TICs) surgem novas formas de disponibilização e acesso às informações arquivísticas. Emergem espaços informacionais virtuais, como, por exemplo, os serviços de informação arquivística na web que, assim como os serviços de informação arquivística 'tradicionais', devem ser centrados no usuário, procurando satisfazer as necessidades de informação deste sujeito no processo de transferência da informação (SÁ & SANTOS, p. 82, 2004). Alguns passos têm sido dados nessa direção, a exemplo da criação de um site (em curso) e de projeto para digitalização da documentação permanente, sob guarda do Arquivo. Como se vê ao longo deste texto, o Arquivo Público Municipal de Caetité (APMC) preserva acervos da história e da memória do município com a finalidade de colocá-los ao alcance da pesquisa. Promove encontros entre a comunidade acadêmica e a comunidade local, através da organização de eventos de natureza diversa. Também se observa que, apesar das inúmeras dificuldades e deficiências da política arquivística estadual e nacional, o Arquivo Público Municipal de Caetité aviva cotidianamente os seus objetivos. Certamente, o incremento de políticas de preservação patrimonial de acervos documentais, espalhados por municípios do seu entorno, ampliariam as suas ações, alçando-o à condição de polo regional de arquivos do alto sertão baiano: um sonho acalentado nos últimos tempos... Referências JARDIM, José Maria. Sistemas e políticas públicas de arquivos no Brasil. Niterói : EDUFF, 1995. MACHADO, Helena Corrêa & CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Como implantar arquivos públicos municipais. São Paulo: Arquivo do Estado, 1999. MARCONDES, C. H. Informação arquivística, estrutura e representação computacional. Arquivo & Administração, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 17-32, 1998. 8 Anais do I Seminário do Grupo de Pesquisa, Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL/CNPq): os sertões da Bahia. Caetité, v. 1, nº 1, out. 2011. (ISSN 2237-2407) OLIVEIRA, Daíse Apparecida. Os Arquivos Públicos e Privados: Estratégias para a Institucionalização de Arquivos Municipais. Disponível em: <http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/Media/publicacoes/mesa/os_arquivos_pblicos_e_ privados__parte_1.pdf>. Acesso em: 24 set. 2011. SA, I. P. de, SANTOS, P. X. dos. Serviços de informação arquivística na web centrados no usuário. Arquivo & Administração, Rio de Janeiro, v.3, n.1-2, p. 82-96, jan.-dez. 2004. RABELO, Marcos Prado & MALVERDES, André. Legislação, Tecnologia e Gestão de Documentos nos Arquivos Públicos Municipais Brasileiros. Anais... Fórum Nacional dos Arquivos Municipais. Vitória, UFES, 15 e 16 de Setembro de 2011. 9