VALDEMIR JOSÉ FRANCISCO FATORES MOTIVACIONAIS RELACIONADOS À ATIVIDADE DE ALTO RISCO NA EXTRAÇÃO DO CARVÃO MINERAL Criciúma, fevereiro de 2004 1 VALDEMIR JOSÉ FRANCISCO FATORES MOTIVACIONAIS RELACIONADOS À ATIVIDADE DE ALTO RISCO NA EXTRAÇÃO DO CARVÃO MINERAL Monografia apresentada à Diretoria de PósGraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção do título de especialista em Gestão Empresarial Orientador: Wagner Blauth Criciúma, fevereiro de 2004 2 “A VIDA SEM SER EXAMINADA NÃO É DIGNA DE SER VIVIDA”. Sócrates. 3 DEDICATÓRIA À Jesus Cristo, razão máxima da nossa existência. 4 AGRADECIMENTOS À Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda, que permitiu acesso as suas atividades para a realização desta pesquisa; Aos colaboradores e companheiros de trabalho da Mina Barro Branco, que gentilmente dedicaram tempo na coleta de dados; A minha esposa Marli, que abdicou de momentos que seriam dela; Aos meus pais, Valdeci e Valdeli, que foram os canais usados por Deus para me concederem a vida; Especialmente ao meu filho Leandro, pelas alegrias proporcionadas por sua presença conosco durante 22 anos – Saudades. “In Memorial” 5 RESUMO A motivação humana tem muitas facetas. A denominação e a enumeração dos motivos humanos relacionados ao trabalho são quase uma tarefa sem fim, porém, são extremamente necessárias de serem compreendidas em todos os níveis hierárquicos nas organizações. O trabalho em pauta objetiva descrever os fatores motivacionais relacionados à atividades de alto risco no setor de extração do carvão mineral e para tanto, o autor realizou pesquisas, trazendo da bibliografia acessada, importantes informações sobre o meio ambiente em que trabalham os mineiros, incluindo as condições de risco para a saúde, o controle de riscos ambientais e os procedimentos preventivos na atividade mineira. O método utilizado foi a pesquisa quali-quantitativa e a técnica foi baseada na aplicação de questionário com questões objetivas e subjetivas à trabalhadores que executam diversas atividades no subsolo, consideradas de risco máximo. Para levantamento de dados foi utilizada a pesquisa documental, com base em manuais de procedimentos da Indústria Carbonífera Rio Deserto LTDA. A análise e a avaliação dos resultados da pesquisa permite revelar que mesmo onde a atividade laboral expõe a vida ao perigo, o homem consegue superar todas as condições contrárias, impulsionado pela necessidade de sobrevivência e no caso da atividade mineira, caracterizada pelo alto grau de risco, as vantagens oferecidas por esta categoria profissional são muito atrativas e com enorme poder para atrair e reter a mão-de-obra necessária para atender sua demanda. Conclui-se ainda que os aspectos técnicos e econômicos na produção de bens não podem resultar num total desprezo às condições mínimas necessárias para que um ser humano exerça sua atividade com segurança e dignidade, pois a própria evolução da legislação referente à segurança e a saúde dos trabalhadores vêm alcançando significativas conquistas. Diante desse entendimento, necessário se faz aperfeiçoar o conceito de trabalho e suas condições, tornando-o um meio de realização pessoal, alcançado dentro de um nível prazeroso e seguro. 6 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 1.1 Tema ................................................................................................................................ 12 1.2 Problema.......................................................................................................................... 12 1.3 Objetivos .......................................................................................................................... 13 1.3.1 Objetivo Geral.............................................................................................................. 13 1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................. 13 1.4 Justificativa ...................................................................................................................... 13 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................................... 16 2.1 A Evolução da Segurança no Trabalho ao Longo da História ................................ 16 2.1.1 A Evolução da Segurança do Trabalho no Brasil.................................................. 23 2.1.2 Síntese da História da Legislação............................................................................ 24 2.1.3 Normas Regulamentadoras ...................................................................................... 26 2.2 Acidente de Trabalho ..................................................................................................... 29 2.2.1 Causas dos Acidentes................................................................................................ 34 2.2.2 Análise dos Acidentes ................................................................................................ 36 2.2.3 Investigação de Acidentes......................................................................................... 38 2.3 Atividade de Alto Risco.................................................................................................. 39 2.3.1 A Mineração como Atividade de Alto Risco............................................................ 41 2.3.2 Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR)..................................................... 44 2.3.3 Objetivo, Etapas e Apresentação do PGR.............................................................. 44 2.4 A Importância da Existência e do Uso do Equipamento de Proteção ................... 48 2.4.1 Tipos de Equipamentos ............................................................................................. 49 2.5 Organização dos Locais de Trabalho ......................................................................... 51 2.5.1 Circulação e Transporte de Pessoas e Materiais.................................................. 52 2.5.2 Estabilidade dos Maciços .......................................................................................... 53 2.5.3 Aberturas Subterrâneas, Trata mento e Revestimento ......................................... 55 2.5.4 Proteção Contra Poeira Mineral ............................................................................... 55 2.5.5 Sistemas de Comunicação........................................................................................ 56 2.5.6 Instalações Elétricas................................................................................................... 56 2.5.7 Operações com Explosivos e Acessórios............................................................... 57 2.5.8 Ventilação em Atividades de Subsolo ..................................................................... 57 2.5.9 Iluminação .................................................................................................................... 58 2.5.10 Proteção contra Incêndios e Explosões................................................................ 58 2.5.11 Operações e Vias de Emergência ......................................................................... 59 2.6 Informação, Qualificação e Treinamento.................................................................... 59 2.6.1 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes na Mineração (CIPAMIN) ........ 60 2.6.2 Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) ................................................................................................................................. 61 2.7 Riscos Ambientais.......................................................................................................... 62 2.7.1 Reconhecimento e Avaliação dos Riscos Ambientais no Setor de Mineração do Subsolo ................................................................................................................................... 63 2.8 Prevenção de Acidentes ............................................................................................... 65 7 2.8.1 Procedimentos de Segurança para o Subsolo ....................................................... 66 2.9 Noções de Primeiros Socorros .................................................................................... 80 2.10 Plano de Emergência .................................................................................................. 83 2.11 Ventilação da Mina ...................................................................................................... 84 2.12 Procedimentos em Situações de Risco.................................................................... 86 2.12.1 Desabamento na Mina ............................................................................................. 86 2.13 Motivação ...................................................................................................................... 86 3 CENÁRIO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................... 93 3.1 Histórico da Empresa .................................................................................................... 93 3.1.1 A Expansão dos Trabalhos Carboníferos no Sul................................................... 96 3.2 Procedimentos Metodológicos ..................................................................................... 99 3.3 Abordagem Metodológica e Tipo de Pesquisa.......................................................... 99 3.4 Instrumento de Coleta de Dados ...............................................................................101 3.5 Universo e Amostra......................................................................................................102 3.6 Análise de Dados e Interpretação dos Resultados.................................................103 3.6.1 Medidas Gerais de Prevenção Adotadas pela Empresa....................................103 3.6.2 Motivação dos trabalhadores para atuarem na atividade de alto risco............113 CONCLUSÃO......................................................................................................................123 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................126 ANEXO .................................................................................................................................129 8 LISTA DE TABELAS Tabela 01 .................................................................................................................115 Tabela 02 .................................................................................................................116 Tabela 03 .................................................................................................................117 Tabela 04 .................................................................................................................118 Tabela 05 .................................................................................................................118 Tabela 06 .................................................................................................................119 Tabela 07 .................................................................................................................120 Tabela 08 .................................................................................................................121 Tabela 09 .................................................................................................................122 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 ................................................................................................................115 Gráfico 02 ................................................................................................................116 Gráfico 03 ................................................................................................................117 Gráfico 04 ................................................................................................................118 Gráfico 05 ................................................................................................................119 Gráfico 06 ................................................................................................................120 Gráfico 07 ................................................................................................................121 Gráfico 08 ................................................................................................................121 Gráfico 09 ................................................................................................................122 10 INTRODUÇÃO O tema motivação tem adquirido um papel preponderante neste início de milênio. O foco das atenções no mundo corporativo tem se voltado para o capital humano, isto é, as pessoas que compõe as organizações. Este é um assunto que vêm, dia-a-dia tomando mais espaço nas discussões envolvendo as relações trabalhistas. A motivação é um dos inúmeros fatores que contribuem para o bom desempenho do trabalho. Nestes novos tempos de controle da inflação, os trabalhadores não têm conseguido, via de regra, vantagens financeiras em épocas de reajuste salarial. Como não se consegue aumentar salários, muitas empresas estão buscando oferecer mais melhorias, ou seja, qualidade de vida no trabalho. Esta postura vem associada à legislação trabalhista, voltada para a proteção ao trabalhador. Através de benefícios, muitas organizações têm conseguido gerar atitudes motivacionais positivas e conseqüentemente o aumento da produtividade e uma maior satisfação de seus funcionários. A razão pela qual se focaliza tão insistentemente a motivação é que ela é a mais facilmente influenciável do que as demais características das pessoas, como traços de personalidade, aptidões, habilidades etc. A motivação existe dentro das pessoas e se dinamiza através das necessidades humanas. Todas as pessoas têm 11 suas necessidades próprias, que podem ser chamadas de desejos, aspirações, objetivos individuais ou motivos. As necessidades ou motivos são forças internas que impulsionam e influenciam cada pessoa determinando seus pensamentos e direcionando o seu comportamento frente às diversas situações da vida. Porém, é importante salientar, que em algumas situações a motivação têm nascido de necessidades específicas, pode-se até dizer, especiais. É o caso de trabalhadores que exercem atividades de alto risco, alvo deste estudo. Em uma época em que a globalização, a competição, o forte impacto da tecnologia e as céleres mudanças se tornam os maiores desafios externos, a vantagem competitiva das empresas está na maneira de utilizar o conhecimento das pessoas e colocá-lo rápida e eficientemente em ação, na busca de soluções satisfatórias. Porém, isto só será possível, onde as pessoas estejam devidamente preparadas e motivadas para tanto. Para compreender a motivação humana, o primeiro passo é o conhecimento do que a provoca e dinamiza. Sendo assim, este trabalho possui o propósito de descrever os fatores motivacionais relacionados à atividades de alto risco, no setor de extração do carvão mineral, através de aplicação de questionário aos trabalhadores que exercem atividades no subsolo da Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda – Unidade Produtiva IV, Mina Barro Branco, situada no município de Lauro Müller – SC. 12 A consulta bibliográfica tem a finalidade de proporcionar ao leitor um embasamento teórico sólido e uma maior visualização dos limites e possibilidades implícitas no assunto. O relatório final constará dos resultados das pesquisas realizadas. 1.1 Tema O tema consiste nos “Fatores Motivacionais Relacionados à Atividades de Alto Risco na Extração do Carvão Mineral”. 1.2 Problema Apesar da enorme quantidade de pesquisas sobre motivação, o assunto ainda é nebuloso e ao mesmo tempo desafiador, tornando-se extremamente necessário de ser compreendido em todos os níveis hierárquicos nas organizações. Muitas pessoas expõem suas vidas a ambientes agressivos e perigosos para poder sobreviver. Para entender esta realidade é necessário descobrir as razões pelas quais estas pessoas são impulsionadas a vencer o próprio medo e se manter ao longo do tempo exercendo uma atividade de alto risco. 13 Descobrir este impulsionador do comportamento humano nos trabalhadores que atuam no subsolo das minas de extração do carvão mineral é certamente um grande desafio e uma necessidade das empresas extratoras de carvão afim de que possam adequar suas políticas trabalhistas e estes fatores. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo Geral Conhecer os fatores motivacionais, bem como o meio ambiente relacionados à atividades de alto risco, no setor de extração do carvão mineral. 1.3.2 Objetivos Específicos § Identificar os fatores motivacionais em trabalhadores da Indústria de extração do Carvão Mineral, que exercem atividades no subsolo; § Relacionar os riscos ambientais da atividade mineira; § Analisar as práticas preventivas existentes no setor de mineração; § Buscar na bibliografia existente, informações para embasar o estudo; § Disponibilizar os resultados da pesquisa como ferramenta prática a interessados na temática. 1.4 Justificativa 14 Esta pesquisa surge da necessidade do pesquisador em conhecer os fatores motivacionais que levam pessoas a escolherem trabalhar em atividades de alto risco, vencendo o próprio instinto de segurança e preservação, inerente da natureza humana. O estudo é também estimulado pelo interesse de identificar estes mesmos fatores na atividade de extração do carvão mineral, considerada atividade de risco máximo e de vital importância para a economia sul catarinense. Além do interesse pessoal do pesquisador, que trabalha em uma empresa mineradora, enquadrada como atividade de alto risco, portanto, inserido dentro do contexto e convivendo diariamente com as questões em evidência, o tema se impõe pela contribuição que uma pesquisa desta natureza pode emprestar a compreensão do real papel da motivação na escolha de uma atividade profissional diferenciada. A pesquisa bibliográfica, além de dar embasamento teórico ao trabalho, trará também a oportunidade aos interessados na temática em conhecer os riscos aos quais estão sujeitos os trabalhadores do subsolo das minas de carvão, além das normas estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e das práticas preventivas das empresas mineradoras, aqui, especialmente da Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda., empresa que cedeu seu ambiente para nossa pesquisa. O estudo permitirá ajudar na resposta à questionamentos sobre as razões pelas quais tantas pessoas buscam trabalho em atividades que colocam 15 constantemente suas vidas em riscos e qual é o pano de fundo na realidade da vida destas pessoas. O resultado da pesquisa também poderá oferecer a pessoas e organizações, o traçado de um perfil motivacional que possa servir de padrão para processos seletivos que incluem atividades de alto risco e ainda fundamentações que possam ser traduzidas e utilizadas como práticas motivacionais positivas. Convicto destas necessidades, esta pesquisa torna-se importante, pois busca descrever a força da motivação no comportamento de trabalhadores expostos a alto risco nas atividades de extração do carvão mineral. 16 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 A Evolução da Segurança no Trabalho ao Longo da História Não obstante o trabalho ter surgido na terra juntamente com o primeiro homem, as relações entre as atividades laborativas e a doença permaneceram praticamente ignoradas até cerca de 250 anos atrás. No século XVI surgiram algumas observações esparsas evidenciando a possibilidade do trabalho ser o causador de doenças. De acordo com SOTO (1978), “as primeiras referências escritas, relacionadas ao ambiente de trabalho e dos riscos inerentes a eles, datam de 2360 a.C., encontradas num papiro egípcio (papiro Seller II)” (Disponível em: http://www.eps.ufsc.br Acessado em: 29/01/04). Foram estudados os diversos problemas relacionados à extração de minerais argentíferos1 e auríferos2, bem como a sua fundição. Discutiram-se os acidentes de trabalho e as doenças mais comuns entre os mineiros, sendo destacada, em especial, a chamada asma dos mineiros, por poeiras denominadas, em 1556, de corrosivas, a descrição dos sintomas e da rápida evolução da doença 1 2 Argentífero: que contém ou prata. Aurífero: que contém ou produz ouro. 17 demonstram, sem sombra de dúvida, tratar-se de casos de silicose3. O mercúrio, também, foi elemento de preocupação, visto o grande número de trabalhadores intoxicados. Em 1700, foi publicado na Itália, um livro de autoria do médico Bernardino Ramazzini 4, cognominado o Pai da Medicina do Trabalho que obteve notável repercussão em todo mundo, onde descreve uma série de doenças relacionadas à cerca de 50 profissões. Entre 1760 e 1830, ocorreu na Inglaterra um movimento destinado a mudar profundamente toda a história da humanidade, a Revolução Industrial, que teve origem com o aparecimento da primeira máquina de fiar, movida inicialmente pela força hidráulica de moinhos, instalados junto a cursos de rios. “O advento das máquinas, a improvisação das fábricas e a mão-de-obra destreinada, resultou em problemas ocupacionais extremamente sérios, com o aumento de doenças e acidentes de trabalho”. (Disponível em: http://www.eps.ufsc.br Acessado em: 29/01/04). Com a descoberta da máquina a vapor, porém, veio permitir-se a instalação de fábricas em quaisquer lugares, e muito naturalmente, nas grandes cidades, onde era abundante a mão de obra, foram escolhidas como locais favoritos para o funcionamento industrial. Assim, galpões, estábulos e velhos armazéns eram 3 4 Silicose: pneumoconiose devida à inalação de pó ou poeira. A obra de RAMAZZINI, intitulada Demorbis Artificum Diatriba, Disponível em: http://www.eps.ufsc.br Acessado em: 29/01/04 18 rapidamente transformados em fábricas, colocando-se no seu interior o maior número possível de máquinas de fiação e tecelagem. Nas grandes cidades inglesas o baixo nível de vida e as famílias com numerosos filhos garantiam um suprimento fácil de mão-de-obra, sendo aceitos como trabalhadores não só homens como também mulheres e mesmo crianças, sem quaisquer restrições quanto ao estado de saúde, desenvolvimento físico, etc. A improvisação das fábricas e a mão-de-obra constituída principalmente por mulheres e crianças resultaram em problemas ocupacionais extremamente sérios. Os acidentes do trabalho eram numerosos, provocados por máquinas sem qualquer proteção, movidas por correias expostas, e as mortes, principalmente de crianças, eram muito freqüentes. Homens, mulheres e crianças iniciavam suas atividades pela madrugada, abandonando-as somente ao cair da noite. Em muitos casos o trabalho continuava mesmo durante a noite, em fábricas parcialmente iluminadas por bico de gás. As atividades profissionais eram executadas em ambientes fechados, onde a ventilação era muito precária. O ruído provocado pelas máquinas primitivas atingia limites altíssimos, tornando impossível até mesmo a audição de ordens, o que muito contribuía para aumentar o número de acidentes. Não se estranha que doenças de toda ordem grassassem entre os trabalhadores, especialmente entre as crianças, doenças de origem não-ocupacional 19 principalmente as infecto-contagiosas, cuja disseminação era facilitada pelas más condições do ambiente de trabalho e pela grande concentração e promiscuidade dos trabalhadores, quanto de origem ocupacional, cujo número aumentava à medida que novas fábricas se abriam e novas atividades industriais eram iniciadas. A improvisação das primeiras fábricas desencadeou péssimas condições de trabalho, e muito agredindo a saúde e até mesmo à integridade física dos operários eram os primeiros sinais dos inúmeros acidentes de trabalho que ceifariam vidas humanas. (Disponível em: http://www.truenet.com.br Acessado em: 31/01/04). Esta situação dos trabalhadores não poderia deixar indiferente a opinião pública, e por essa razão criou-se, no parlamento britânico, sob a direção de Sir Robert Peel, uma comissão de inquérito que conseguiu que em 1802 fosse aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores: a Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes. “Ao mesmo tempo, surgia também um movimento do parlamento britânico em 1802, aprovando a primeira lei de proteção aos trabalhadores, era a lei de saúde e moral dos aprendizes”. (Disponível em: http://www.truenet.com.br Acessado em: 31/01/04). Essa lei estabelecia limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregados a lavar as paredes das fábricas duas vezes por ano e tornava obrigatória a ventilação nas fábricas. Tal lei – marco importante na história da humanidade – não resolvia senão uma parcela mínima do problema e assim foi seguida de leis complementares surgidas em 1819, em geral pouco eficientes devido à forte oposição dos empregadores. 20 O proprietário de uma fábrica inglesa que se sentia perturbado diante das péssimas condições de trabalho dos seus pequenos trabalhadores, procurou o médico Robert Baker, que era conhecedor dos problemas de saúde dos trabalhadores pedindo-lhe conselho sobre a melhor forma de proteger a saúde dos mesmos. O médico dedicava grande parte de seu tempo a visitar fábricas e tomar conhecimento das relações trabalho e doença, o que levou o governo britânico, quatro anos mais tarde, a nomeá-lo inspetor médico das fábricas. Assim, diante do pedido do empregador inglês, aconselhou-o a contratar um médico da localidade em que funcionava a fábrica, para visitar diariamente o local de trabalho e estudar a sua possível influência sobra a saúde dos pequenos operários, que deveriam ser afastados de suas atividades profissionais tão logo fossem notadas que estas estivessem prejudicando sua saúde. Surgia, assim, o primeiro serviço médico industrial em todo mundo. (Disponível em: http://www.eps.ufsc.br Acessado em: 29/01/04). A iniciativa do progressista empregador veio mostrar a necessidade urgente de medidas de proteção aos trabalhadores, pelo que, em 1831, uma comissão parlamentar de inquérito, sob a chefia de Michael Saddler, elaborou um cuidadoso relatório, que concluía da seguinte maneira: Segundo relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito de 1831: Diante desta comissão desfilou longa procissão de trabalhadores, homens, mulheres, meninos e meninas, abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada um deles era uma clara evidência de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem, uma impiedosa condenação daqueles legisladores que, quando em suas mãos detinham poder imenso, abandonaram os fracos à capacidade dos fortes. Saddler (1831). Aplicava-se a todas as empresas têxteis onde se usasse força hidráulica ou a vapor: § Proibia o trabalho noturno aos menores de 18 (dezoito) anos e restringia as horas de trabalho a 12 (doze) por dia e 69 (sessenta e nove) horas por semana; 21 § As fábricas precisavam ter escolas que deviam ser freqüentadas por todos os trabalhadores menores de 13 (treze) anos; § A idade mínima para o trabalho era de 9 (nove) anos, e um médico devia atestar que o desenvolvimento físico da criança correspondia à sua idade cronológica. O grande desenvolvimento industrial da Grã-Bretanha levou ao estabelecimento de uma série de medidas legislativas, sendo de destacar-se a criação do “Factory Inspectorate”, órgão do Ministério do Trabalho. Sua função era proceder ao exame pré admissional, ao exame periódico, ao estudo de caso de doenças causadas por agentes químicos potencialmente perigosos, e a notificação e investigação de doenças profissionais, especialmente em fábricas pequenas, que não dispunham de serviço médico próprio. Mais recentemente, mesmo em países onde a industrialização ainda é incipiente, como por exemplo, na Espanha, exigências legais (ordem de 22 de dezembro de 1956, substituída pelo decreto nº 1036 de 18 de junho de 1959), também tornaram obrigatória a existência de serviços médicos em empresas que tenham pelo menos 500 trabalhadores, o mesmo tendo ocorrido com Portugal recentemente. No entanto, o aparecimento, no início do século XX, da legislação sobre indenizações em casos de acidentes do trabalho, levou os empregadores a estabelecerem os primeiros serviços médicos de empresas industriais naquele país, com o objetivo básico de reduzir o custo das indenizações, através de cuidado adequado dos casos de acidentes e doenças profissionais. 22 Por outro lado, esses serviços médicos passaram a existir não somente nas indústrias, onde o risco ocupacional era grande, mas também nas indústrias onde tal risco era mínimo. O princípio da manutenção da saúde, ou da prevenção das doenças de qualquer natureza, foi incorporado aos objetivos da grande maioria dos serviços médicos industriais americanos, com excelentes resultados. A grande importância da proteção à saúde dos trabalhadores não podia deixar de interessar suas grandes organizações de âmbito internacional, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 1950, a comissão conjunta OIT-OMS sobre saúde ocupacional estabeleceu, de forma muito ampla, os objetivos de trabalho e adotou princípios, elaborando a recomendação n-97 sobre a proteção à saúde dos trabalhadores em locais de trabalho. O tema desde esta época foi assunto de inúmeros encontros da Conferência Internacional do Trabalho, a qual, em meados da década de 50, adotou princípios, elaborando a recomendação n 97, sobre a saúde dos trabalhadores em locais de trabalho e estabeleceu em junho de 1959, a recomendação 112 com o nome Recomendação para os Serviços de Saúde Ocupacional, 1959. (Disponível em: http://www.eps.ufsc.br Acessado em: 29/01/04). E insistiu com os países membros, no sentido de que incrementassem a criação de serviços médicos em locais de trabalho, ao mesmo tempo, essa comissão fez sentir a diretoria da OIT a conveniência do assunto ser colocado na agenda da futura conferência. 23 Segundo a recomendação n97, a OIT define o serviço de saúde ocupacional como um serviço médico instalado em um estabelecimento de trabalho, ou em suas proximidades, com os seguintes objetivos: 1º Proteger os trabalhadores contra qualquer risco a saúde que possa decorrer do seu trabalho ou das condições em que este é realizado. 2º Contribuir para o ajustamento físico e mental do trabalhador obtido especialmente pela adaptação do trabalho aos trabalhadores, e pela colocação destes em atividades profissionais para as quais tenham aptidões. 3º Contribuir para o estabelecimento e a manutenção do mais alto grau possível de bem-estar físico e mental dos trabalhadores. 2.1.1 A Evolução da Segurança do Trabalho no Brasil No Brasil, os serviços médicos de empresas são de existência relativamente recente, e foram criados por livre iniciativa dos empregadores que, recebendo trabalhadores do campo em condições geralmente pouco satisfatórias de saúde, procurava oferecer-lhes uma assistência médica gratuita no interior da própria empresa. Assim, excelentes serviços médicos de natureza meramente assistencial ofereciam aos empregados de numerosas indústrias um atendimento médico eficiente no que diz respeito às doenças e acidentes de natureza não-ocupacionais, mas descuidava-se completamente dos aspectos preventivos, mesmo em face de condições adversas do ambiente de trabalho. 24 Diversos movimentos científicos e legislativos procuravam levar o governo brasileiro a seguir a recomendação nº 112, (recomendação para os serviços de saúde ocupacional) sem qualquer resultado. No entanto, em julho de 1972, integrando o plano de valorização do trabalhador, o Governo Federal baixou a portaria 3.237, que tornava obrigatória a existência, não somente de serviços médicos, mas também, de serviços de higiene e segurança em todas as empresas onde trabalham 100 pessoas ou mais. A portaria 3.237/72, entre seus aspectos mais importantes, enfocou: A proibição de terceiros dos serviços, o dimensionamento do número de profissionais dos serviços, segundo o risco e o número de trabalhadores do estabelecimento e elaborar a quadração de risco, entre outros. (Disponível em: http://www.sobes.org.br Acessado em: 31/01/2004. O Serviço de Segurança e Medicina do Trabalho hoje presta atendimento médico aos funcionários, vistoria de segurança nos diversos setores da empresa, elaboração de relatórios, estatísticas, distribuição e controle dos equipamentos de proteção individual (EPI). As empresas que apresentam riscos à segurança no trabalho devem estar dispostas a implantar Programas de Gerenciamento de Riscos, estes, com o apoio de comissões, das leis, dos empregados e empregadores facilita um relatório periódico das atividades de prevenção e segurança. 2.1.2 Síntese da História da Legislação 25 Podemos considerar o começo da história da legislação brasileira no ano de 1904, e no decorrer deste período até os tempos de hoje, muita coisa mudou, tanto que não era uma prioridade para o parlamento um projeto que viesse a aperfeiçoar o conceito de trabalho. A legislação pertinente visa amparar o trabalhador que, em conseqüência da atividade, perde ou tem diminuída, a sua capacidade laboral, bem como os seus dependentes, em caso de morte provocada por acidente de trabalho. Esta afirmação tem fundamento em idéias advindas do tratamento dado aos direitos do trabalhador antes da legislação tomar conhecimento público. Todavia, hoje, com o advento da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, do Decreto n. 357, de 7 de dezembro de 1991, do Decreto n. 611, de 21 de julho de 1992, e demais legislações em vigor, o trabalhador está protegido por uma legislação supostamente moderna, abrangente e democrática. Na técnica legislativa, completada pelos avanços jurisprudenciais, o acidente propriamente dito, conhecido como acidente típico, é equiparado às moléstias profissionais. Para os efeitos da legislação acidentária, moléstia profissional é aquela adquirida paulatinamente 5, com o decorrer do tempo. Se um trabalhador tem suas atividades em local insalubre, aos poucos seus órgãos vão sendo atacados, deteriorados, resultando a moléstia profissional. Enquanto a doença vai aparecendo aos poucos, progressivamente, a lesão é súbita. 5 Paulatinamente: Feito aos poucos, lento, vagaroso. 26 Em vista da Legislação Brasileira, não é qualquer doença que se equipara aos acidentes de trabalho. Há que haver um elo entre o mal causado e o trabalho do doente. As doenças adquiridas durante o trabalho, mas que não foram causadas pelo exercício da atividade do trabalhador, não são amparadas na lei da infortunística. Deve haver relação entre a doença e a função. A enfermidade há que resultar do exercício do trabalho. E por isso surge a necessidade de distinguir as doenças em profissionais e não profissionais. Tanto na legislação anterior como na atual, o legislador deixou a cargo do Executivo, como órgão regulamentador, relacionar as atividades profissionais que possam causar o acidente de trabalho, bem como as moléstias que podem ser consideradas acidente de trabalho. 2.1.3 Normas Regulamentadoras A legislação brasileira define direitos e deveres, tanto de empregados como das empresas. A lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977, da Consolidação das Leis do Trabalho. As normas regulamentadoras – NR, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos poderes legislativo e judiciário, que possuem empregados regidos pela consolidação das leis do trabalho – CLT. Manual de Legislação (2001, p.21). O Art. 157 refere-se a competência das empresas e o artigo 158 discorre sobre a competência dos empregados, onde diz que, é facultado a empresa punir o trabalhador, dentro dos critérios legais, quando caracterizada a “recusa 27 injustificada... à observância das instruções expedidas pelo empregado” no que tange as “precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais”. Manual de Legislação (2001, p.18). Quando a empresa não cobra de seus empregados as suas responsabilidades, é cobrada pela legislação por ter sido omissa, quando não negligente. “O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente”. (Manual de Legislação, 2001, p.23). Conforme a lei, no que diz respeito a direitos e deveres a Norma Regulamentadora1 (NR1), estabelece obrigações aos empregadores e empregados. Segundo a Norma Regulamentadora – NR 01, cabe ao Empregador: cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho. Também, elaborar ordens sobre segurança e medicina do trabalho, dando ciência aos empregados, com os seguintes objetivos: § Prevenir ato inseguro no desempenho do trabalho; § Divulgar obrigações e proibições que os empregados devem conhecer e cumprir; § Dar conhecimento aos empregados de que serão passíveis de punição, pelo descumprimento das ordens de serviço expedidas; 28 § Determinar os procedimentos devidos em caso de acidentes do trabalho e doenças profissionais ou do trabalho; § Adotar medidas determinadas pelo Ministério do Trabalho; § Adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condições inseguras de trabalho. É importante informar aos trabalhadores: § Os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho; § Os meios pra prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa; § Os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores foram submetidos; § Os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho. Por conseguinte, cabe ao empregador permitir que representantes dos trabalhadores acompanhem a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho. O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente. Segundo a Norma Regulamentadora – NR 01, cabe ao empregado: cumprir as disposições legais e regulamentares sobre a segurança e medicina do trabalho, inclusive as ordens de serviço expedidas pelo empregador. 29 Usar o Equipamento de Proteção Individual (EPI) fornecido pelo empregador. Também, submeter-se aos exames médicos previstos nas Normas Regulamentadoras. Isto implica em colaborar com a empresa na aplicação das NR. Constitui em ato faltoso ao empregado, a recusa injustificada no cumprimento desse. As empresas são responsáveis pela adoção de medidas de eliminação ou, no mínimo, minimização dos riscos e devem exigir dos seus empregados atitudes preventivas sob pena, de responderem, civil e criminalmente, por omissão ou negligência, se não o fizerem. Esse fundamento baseia-se nas questões do direito das relações de trabalho, ou seja, direito contratual. O artigo 157 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) diz o seguinte: Cabe às empresas cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho, instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às preocupações a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais. ZOCCHIO (1996, p.61). 2.2 Acidente de Trabalho De acordo com a ‘conceituação legal’, acidente de trabalho será aquele que ocorrer pelo exercício de trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte, perda ou redução (permanente ou temporária) da capacidade para o trabalho, conforme o artigo 19 da lei n 8.213/91 que dispõe sobre o plano de benefícios da previdência social. AYRES & CORRÊA (2001, p.16). Sob o ponto de vista técnico são todas as ocorrências não programadas, estranhas ao andamento do trabalho, das quais poderão resultar danos físicos e/ou funcionais, ou morte ao trabalhador e danos materiais e econômicos à empresa. 30 Os acidentes de trabalho são nocivos sob todos os aspectos em que possam ser analisados. Sofrem conseqüências às pessoas que se incapacitam total ou parcialmente, temporária ou permanentemente para o trabalho. Durante o período de atividade, o trabalhador está sujeito a sofrer acidentes, ou então adquirir doenças, provocadas em virtude de sua atividade laboral. Um avanço no direito da infortunística6 foi a adoção da não-exclusão da indenização do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador, mesmo percebendo o segurado indenização acidentária. A redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, o pagamento de adicional de remuneração para atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma de lei, bem como seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está obrigado quando incorrer em dolo ou culpa. AYRES & CORRÊA (2001, p.20). Acidente é um fato que ocorre casualmente, eventualmente. É um incidente. A que ser inesperado ou fortuito. É evidente que todo o acidente é previsível. Se o operário tem um dos dedos cortado em uma prensa, é certo que este fato é inesperado, anormal, súbito. Todavia é previsível. Sugere-se que o acidente de trabalho seja definido como um acidente sofrido pelo trabalhador, a serviço da empresa, e que ocorre pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause 6 Infortunística: ramo da medicina e do direito em que se estudam os acidentes de trabalho e suas conseqüências. As doenças ditas profissionais. 31 morte, a perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho 7. Segundo AYRES e CORRÊA (2001, p.17): São considerados acidentes de trabalho: o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para a perda ou redução de sua capacidade para o trabalho, ou produzida lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; como também o acidente sofrido pelo segurado no local e horário de trabalho[...] Em conseqüência de: § Ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; § Ofensa física intencional, inclusive de terceiros, por motivo de disputa relacionada com o trabalho; § Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro, ou companheiro de trabalho; § Ato de pessoa privada de uso de sua razão; § Desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior. Segundo AYRES e CORRÊA (2001, p.18): 7 Decreto n. 77.077, de 24 de janeiro de 1976 (art. 164). 32 “São consideradas as doenças provenientes de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade, como também o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho[...]” quando ocorrer: § Na execução de ordem ou na realização de serviços sob a autoridade da empresa; § Na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; § Em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta, dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; § No percurso da residência para o local do trabalho, ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo do próprio segurado. § Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou para a satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. Não é considerada agravação ou complicação de acidente de trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se suponha às conseqüências do anterior. Certamente, se um segurado sofrer trincamento, por exemplo, de um dos ossos do braço no exercício regular de sua atividade, o fato será considerado acidente de trabalho. Todavia, não será considerada como agravação de acidente 33 de trabalho a lesão sofrida pelo segurado, ao praticar esporte que nada tem que ver com a empresa, quando ainda convalescente de lesão, no mesmo local, que foi considerado acidente de trabalho. Para a lei não importa que se conheça ou se estabeleça exatamente a época em que o segurado adquiriu a moléstia, mas sim que se constate o dia em que o segurado, em virtude da doença, deixou de ter condições normais para executar as suas funções. Seguem algumas especificações: § Doença profissional: produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade. § Doença do trabalho: é a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente. § Lesões: ofensa, dano, prejuízo, pancada, contusão, podendo ser corporal. o Lesão corporal: é aquela considerada ofensa ou contusão que a pessoa sofre em seu corpo. A perturbação funcional também é adquirida no exercício do trabalho. § Trabalhos de risco: engloba os agentes patogênicos químicos e seus componentes arsenicais, aplicados, por exemplo, em metalúrgicas de minérios arsenicais, nas mineradoras (em certos setores), indústria eletrônica, entre outras. A lei procurou abranger ao máximo as doenças profissionais e do trabalho. Todavia, na análise de cada caso em particular é que se poderá verificar se 34 a doença foi adquirida em virtude do exercício do trabalho ou em função de condições especiais em que o trabalho é realizado. Às doenças que não forem comprovadas patogênicas como doenças profissionais, não serão concedidos os benefícios há que tem direito o trabalhador proveniente dessas. No caso, após analisar todos os pontos, anteriores e posteriores ao advento oficial do acidente, com base nos elementos oferecidos pelos peritos médicos e em outras informações, poderá o julgador concluir pela caracterização do acidente profissional ou não. É certo que, se a ciência não conseguir fornecer dados conclusivos sobre a relação trabalho-doença, o juiz poderá decretar a caracterização do infortúnio com fundamento no art. 5º da Lei de introdução do Código Civil. Manual de Legislação (2001, p.27). 2.2.1 Causas dos Acidentes Em tese, 98% dos acidentes poderiam ser evitados. Os acidentes geralmente ocorrem na seguinte proporção: condições inseguras 18%, atos inseguros 40%, condições dos atos inseguros 40%, atos incontroláveis 02%. Manual de Segurança (2001, p.07). 2% 18% 40% 40% Condições inseguras Atos inseguros Condições dos atos inseguros Atos incontroláveis Condições Inseguras: são aquelas que põem em risco a integridade física ou a saúde dos trabalhadores ou a própria segurança das instalações. Ocorrem na construção ou instalação em que se localiza a empresa, podendo ser pelo motivo de: 35 § Área insuficiente; § Pisos fracos ou irregulares; § Excesso de ruídos ou trepidações; § Falta de ordem ou limpeza; § Instalação elétrica imprópria; § Falta de sinalização. Segundo o Manual de Segurança (2001, p. 06-7), as condições inseguras mais freqüentes são: § Falta de proteção em máquinas e equipamentos; § Desordem e falta de assepsia na área de trabalho; § Passagens perigosas obrigatórias para o pessoal; § Iluminação inadequada; § Falta de protetores individuais (EPI); § Equipamentos de proteção com defeito; § Roupas e calçados impróprios. Atos Inseguros: são comportamentos emitidos pelo trabalhador, que podem levá-lo a ter um acidente. É a maneira como as pessoas se expõem, consciente ou inconscientemente, a riscos de acidentes. Os atos inseguros mais comuns praticados são: § Ficar junto ou sob cargas suspensas; § Usar máquinas sem habilitação ou permissão; 36 § Lubrificar, ajustar e limpar máquinas em movimento; § Inutilização de dispositivos de segurança e proteções individuais; § Tentativas de ganhar tempo; § Brincadeiras e exibicionismo; § Emprego impróprio de ferramentas; § Manipulação insegura de produtos químicos. Segundo o Manual de Segurança (2001, p.07), são causas freqüentes de atos inseguros: § Desconhecimentos dos riscos de acidentes; § Excesso de confiança em si; § Falta de aptidão ou de interesse pelo trabalho; § Atitudes impróprias, tais como violência ou revolta; § Incapacidade física para o trabalho (idade); § Problemas familiares, discussões com colegas. 2.2.2 Análise dos Acidentes “É fundamental diante de um acidente ocorrido, a busca de suas causas e a preposição de medidas para que acidentes semelhantes possam ser cuidados”. Programa de Gerenciamento de Riscos (2003, p.16), os acidentes de trabalho quanto suas conseqüências, classificam-se em: 37 § Acidentes com afastamento: é o acidente que provoca incapacidade para o trabalho ou morte do acidentado, podendo resultar em morte, incapacidade temporária e incapacidade permanente (parcial ou total); § Acidentes sem afastamento: é o acidente no qual não se pode exercer a função normal no mesmo dia do acidente, ou seja, acidente capacitado. O acidentado deve comunicar ao SESMT a ocorrência, para que se possa tomar todas as providências legais e sua investigação. Assim como nas empresas, existem preocupações com controles de qualidade, de produção, de estoques, etc., deve existir também igual ou maior interesse com os acidentados. O acompanhamento da variação da ocorrência de informações exige que se façam registros cuidadosos sobre acidentes. Tais registros podem colocar em destaque a situação dos acidentes por setores, por mês, função, idade, etc. Através dos registros, montam-se as estatísticas de acidentes de que vem satisfazer às exigências legais. Prevenir acidentes significa, atuar antes de sua ocorrência, o que exprimi identificar e eliminar risco em ambientes de trabalho. Uma das principais funções da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) é prevenir estes. Porém quando ocorrem, cabe a CIPA estudar suas causas, circunstâncias e conseqüências, ou participar destes estudos. 38 “CIPA é um grupo de pessoas, representantes dos empregados e do empregador, especialmente treinados para colaborar na prevenção de acidentes”. Manual de Segurança (2001, p.07). 2.2.3 Investigação de Acidentes A investigação de acidentes consiste em descobrir as causas dos acidentes de trabalho, estudá-las e propor medidas que as eliminem, evitando sua repetição. Deve-se identificar nas investigações o agente do acidente e a fonte de lesão. Segundo o Programa de Gerenciamento de Riscos (2003, p.15), “o agente do acidente é a máquina, o local e o equipamento que se relaciona diretamente com o dano físico que o acidentado sofreu”. Há 03 (três) tipos de riscos que podem ser agentes de acidentes: § Riscos Locais: piso escorregadio; § Riscos Ambientais: proveniente de agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos; § Riscos Operacionais: ferramentas com defeito ou mal estado de conservação. A Fonte de Lesão é o objeto, o material, a matéria-prima, a substância, a espécie de energia, que entrando em contato com a pessoa provoca lesão. É o local da máquina que bate numa parte do corpo do trabalhador; a descarga elétrica; um respingo de ácido ou estilhaço; o piso escorregadio, entre outros. 39 Na investigação do acidente, a análise da causa da lesão terá exulto valor, porque ficará clara a identificação dos atos inseguros cometidos ou da condição insegura existente. 2.3 Atividade de Alto Risco Risco é a possibilidade de perigo incerto, mas previsível, que ameaça a pessoa ou coisa. Uma situação de risco pode causar um acidente ou uma fonte com potencial de causar danos a saúde, a possibilidade ou ao meio ambiente. Conforme ANSELL & WHARTON (1992): O risco é uma característica inevitável da existência humana. Nem o homem, nem as organizações e sociedade aos quais pertencem podem sobreviver por um longo período sem a existência de tarefas perigosas. Disponível em: http://www.eps.ufsc.br Acessado em: 29/01/2004. Riscos devem ser eliminados, neutralizando-se seus efeitos de todas as formas, porém o melhor caminho é sempre aquele que atende às necessidades dos trabalhadores e do seu patrimônio. Segundo a Consolidação das Leis do Trabalho em seu artigo 189, as atividades de alto risco são consideradas: Atividades insalubres ou operações perigosas, na forma da regulamentação pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos, ou ainda contato permanente e temporário com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. Manual de Legislação (2001, p.216). 40 O Ministério do Trabalho estabelece o quadro das atividades e operações insalubres e perigosas e adota Normas Regulamentadoras (NR), sobre os critérios de caracterização da insalubridade e periculosidade, os agentes agressivos, os meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as Normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo do médico do trabalho ou engenheiro de Segurança do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. Segundo a Norma Regulamentadora – NR 15, “a classificação será comprovada através de laudo de inspeção do local de trabalho”. Manual de Legislação (2001, p.133). O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância8 estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário mínimo da região, segundo classificação nos graus máximo, médio e mínimo. O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa. Os estabelecimentos que mantenham atividades desta natureza deverão afixar, nos setores de trabalho, avisos ou cartazes, com advertência quanto aos 8 Limites de Tolerância: entende-se como a concentração, ou intensidade máxima ou mínima relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente que causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. Manual de Legislação (2001, p.103). 41 materiais e substâncias perigosos ou nocivos à saúde do trabalhador, além de adotar medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância e a utilização de equipamentos de proteção individual e coletiva que diminuam a intensidade do agente agressivo. É facultado às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas, requererem ao Ministério do Trabalho a realização de perícia em estabelecimento ou setor deste, com o objetivo de caracterizar e classificar ou delimitar as atividades insalubres ou perigosas. 2.3.1 A Mineração como Atividade de Alto Risco A Norma Regulamentadora NR22 tem como objetivo disciplinar os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com a busca permanente da segurança e saúde dos trabalhadores. A norma aplica-se a minerações subterrâneas, minerações a céu aberto, garimpos, beneficiamento e pesquisa de minerais. A empresa, o permissionário de lavra garimpeira ou o responsável pela mina deve indicar aos órgãos fiscalizadores os técnicos responsáveis por cada setor. Toda mina deve estar sob supervisão técnica de profissional legalmente habilitado. Segundo o Manual de Legislação (2001, p.22-3), compete à empresa ou permissionário de lavra: 42 § Interromper todo e qualquer tipo de atividade que exponha os trabalhadores à condições de risco grave e iminente para sua saúde, garantir a interrupção das tarefas, subseqüente a confirmação do fato pelo superior hierárquico, que diligenciará as medidas cabíveis; § Informar ao trabalhador sobre os riscos existentes no local de trabalho que possam afetar sua segurança e saúde; § Fornecer as empresas contratadas às informações sobre os riscos potenciais nas áreas em que desenvolverão suas atividades; § Coordenar a implementação das medidas relativas à segurança e saúde dos trabalhadores das empresas contratadas e providenciar os meios e condições para que estas atuem em conformidade com a NR22; § Elaborar e implementar o Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO), conforme estabelecido na Norma Regulamentadora Nº 7. O Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO), tem como objetivo a promoção e a preservação da saúde dos trabalhadores, através de um conjunto de ações elaborados e implementados –pela empresa. O PCMSO deverá ter caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. O PCMSO deve incluir, entre outros a realização obrigatória dos exames médicos: admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissional. A empresa deve custear sem ônus para o empregado todos os procedimentos relacionados ao PCMSO. Manual de Legislação (2001, p.89-90). Segundo o Manual de Legislação (2001, p.287), “a empresa deve elaborar e implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos”, contemplando no mínimo os seguintes aspectos: § Riscos físicos, químicos e biológicos; § Atmosferas explosivas; 43 § Deficiências de oxigênio; § Ventilação; § Proteção respiratória; § Investigação e análise de acidentes do trabalho; § Ergonomia e organização do trabalho; § Trabalho em altura, profundidade e espaços confinados; § Freqüente utilização de energia elétrica, máquinas, equipamentos, veículos e trabalhos manuais; § Equipamentos de Proteção Individual de uso obrigatório; § Estabilidade do maciço; § Plano de emergência; § Outros resultantes de modificações e introdução de novas tecnologias. “O Programa deve considerar todos os setores da atividade e todos os níveis de ação dos quais devem ser adotadas medidas preventivas, de forma a minimizar as possibilidades de acidentes”. Manual de Legislação (2001, p.287). A Legislação Brasileira define direitos e deveres, tanto de empregados quanto das empresas na Lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977 da consolidação das leis do trabalho. Na qual estabelece que o trabalhador deve: § Zelar pela sua segurança e saúde ou de terceiros que possam ser afetados por suas ações ou omissões no trabalho, colaborando com a empresa ou permissionário de lavra para o cumprimento das disposições legais e regulamentares, inclusive das normas internas de segurança e saúde; 44 § Comunicar, imediatamente, ao seu superior hierárquico as situações que considerar representar risco para sua segurança e saúde ou de terceiros. Segundo o Manual de Legislação (2001, p.288). São direitos do trabalhador: § Interromper suas tarefas sempre que constatar evidências que representem riscos graves e iminentes para sua segurança e saúde ou de terceiros, comunicando imediatamente ao seu superior hierárquico que diligenciará as medidas cabíveis; § Ser informado sobre os riscos existentes no local de trabalho que possam afetar sua segurança e saúde. 2.3.2 Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) objetiva o reconhecimento e a reavaliação dos riscos ambientais, físicos, químicos, biológicos e ergonômicos nos diversos setores de trabalho da empresa, bem como o planejamento das ações prioritárias visando a eliminação ou redução desses riscos. 2.3.3 Objetivo, Etapas e Apresentação do PGR 45 O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) tem como objetivo a implantação de um programa que busca preservar a vida e evitar danos físicos e psíquicos às pessoas, como também a necessidade de se manter sob controle todos os agentes ambientais, como monitoramentos periódicos, levando-se em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Evitar danos às propriedades e a paralisação da produção. Programa de Gerenciamento de Riscos (2003, p.21). Através da antecipação, identificação dos fatores de risco, avaliação e conseqüente controle de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, as empresas poderão estabelecer critérios de quais medidas de controle serão mais adequados ou propícios para sua neutralização. Um exemplo comum na mineração é a identificação dos pontos de maior ruído, onde a empresa estabelece a obrigatoriedade do uso de protetor auricular. A primeira etapa é aquela voltada à elaboração e implementação com a antecipação dos riscos ambientais, chamada de prevenção dos possíveis riscos a serem detectados durante uma análise preliminar dos riscos de uma determinada atividade ou processo. A antecipação deverá então envolver a análise do projeto de novas instalações, métodos, processos de trabalho, ou de modificações daqueles já existentes, visando identificar os riscos potenciais e a introduzir medidas de proteção para sua redução ou eliminação. As alterações e complementações devem ser discutidas na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes na Mineração (CIPAMIN). 46 A CIPAMIN é um grupo de pessoas, formado por representantes dos empregados e do empregador, especialmente treinados para colaborar na prevenção de acidentes. Tem por objetivo observar e relatar as condições de risco no ambiente de trabalho, visando a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na mineração, de modo a tornar compatível permanentemente, o trabalho com a segurança e a saúde dos trabalhadores. A meta da CIPAMIM é determinar a participação dos trabalhadores no processo de prevenção que, através de suas sugestões, têm a possibilidade de alterar sistemas e processos, sentindo-se parte integrante das decisões da empresa. Segundo a Norma Regulamentadora (NR)22, “a CIPAMIM deve estabelecer negociação permanente no âmbito de suas representações para a recomendação e solicitação de medidas de controle ao empregador”. Manual de Legislação (2001, p.320). É freqüente a ocorrência da Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho na Mineração (SIPATMIN). São campanhas de prevenção de acidentes de trabalho elaboradas de forma educativa, a fim de criar ou reforçar uma mentalidade preventiva. Com o objetivo de proporcionar um clima de prevenção aos acidentes a todos os funcionários da empresa, buscando uma maior conscientização de um modo geral. 47 O trabalhador que vive uma campanha é influenciado por ela e adquire um maior grau de conhecimento, reduzindo os acidentes e garantindo a integridade física do ser humano. “Existe um decreto lei de n. 68.255 de 16 de fevereiro de 1971, que cria em caráter permanente a Campanha de Prevenção de Acidentes (CONPAT)”. Programa de Gerenciamento de Riscos (2003, p.21). O principal objetivo da caracterização básica é tornar o profissional familiarizado com o processo de trabalho, coleta de informações e identificação dos riscos reais e potenciais, além de servir de subsídio para as avaliações qualitativas e quantitativas. As avaliações qualitativas são aquelas empregadas para se obter resultados de como o processo de trabalho está interagindo com os demais. É importante ressaltar que o ser humano deve ser o principal beneficiado com estas mudanças e alterações. A próxima etapa das medidas de controle é aquela que visa eliminar, minimizar ou controlar os riscos levantados nas etapas anteriores. Adotar medidas preventivas onde haja probabilidade de ultrapassagem dos limites de exposição ocupacional e monitoramento periódicos. As medidas de controle propostas devem ser sempre de comum acordo com os responsáveis pela produção e os profissionais da área de Segurança e Medicina do Trabalho. 48 O monitoramento de exposição aos riscos deverá ser feito pelo menos uma vez ao ano, juntamente com o balanço anual do Programa de Gerenciamento de Riscos ou sempre que necessário (quando houver mudança de processo, de equipamento, maquinário ou atividades). 2.4 A Importância da Existência e do Uso do Equipamento de Proteção A importância da proteção individual e coletiva está diretamente ligada à preservação da saúde e da integridade física do trabalhador. E indiretamente ligada ao aumento da produtividade e lucros para a empresa, através da minimização dos acidentes e doenças do trabalho e suas conseqüências. “Os equipamentos de proteção desempenham importante papel na redução das lesões provocadas pelos acidentes do trabalho e das doenças profissionais [...]”. Manual de Prevenção de Acidentes de Trabalho (2001, p.235). Paralelamente ao desenvolvimento da Legislação sobre Segurança e Medicina do Trabalho, ocorre o da Engenharia de Controle dos Riscos nos locais de trabalho, desempenhada através do Manual de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Desta forma, livrar os locais de trabalho de fatores de risco pode requerer estudos que vão desde uma extensa revisão da engenharia de processo ou de 49 métodos de fabricação até a escolha do adequado método de movimentação e manuseio de materiais. Por exemplo, reduzindo o ruído a níveis aceitáveis, suavizando o funcionamento de uma máquina ou enclausurando-a, são medidas de engenharia superior, através do fornecimento de protetores auriculares adequados ao trabalhador. Analogicamente, os riscos que apresentam os solventes, os produtos químicos, os vapores, os fumos metálicos, devem ser controlados através do adequado sistema de ventilação ou do enclausuramento total do processo. Esta forma de proteção é mais eficaz do que o uso de um respirador pelo trabalhador que atua em um ambiente com tais fatores de risco. O protetor de uso pessoal depende entre outros fatores, da disposição do trabalhador em usá-lo, podendo tornar ineficiente a proteção. Somente em casos que é impossível eliminar uma causa de acidente ou doença de trabalho por uma Revisão de Engenharia, mediante proteção em máquinas, equipamentos ou locais de trabalho, ou reduzindo o tempo de exposição após névoas, fumos, vapores perigosos ou ruídos excessivos, então o uso de equipamento de proteção pessoal faz-se indispensável. 2.4.1 Tipos de Equipamentos Distingue-se em dois tipos básicos de proteção: a individual e a coletiva. 50 Segundo AYRES & CORRÊA (2001, p.30): Proteção coletiva são as medidas de ordem geral, executadas no ambiente de trabalho, nas máquinas e nos equipamentos, assim como medidas orientadas quanto ao comportamento dos trabalhadores para evitar os atos inseguros e medidas preventivas de Medicina do Trabalho. AYRES & CORRÊA (2001, p.30). Exemplos de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC): § Sistemas de ventilação; § Proteção de máquinas; § Proteção em circuitos e equipamentos elétricos; § Proteção contra ruído e vibrações; § Proteção contra quedas; § Proteção contra incêndios; § Sinalização de segurança; § Normas e regulamentos de segurança. Segundo AYRES & CORRÊA (2001, p.30), “proteção Individual é o meio ou dispositivo de uso pessoal, destinado a preservar a saúde do trabalhador no exercício de suas funções”. Pode-se classificá-los, agrupando-os segundo a parte do corpo que devem proteger. Exemplos de Equipamentos de Proteção Individual: Esta classificação é fundamentada no caso da proteção coletiva ser tecnicamente inviável ou não oferecer completa proteção para todas as partes do corpo do trabalhador. 51 § Proteção para Cabeça: capacete, óculos, protetores faciais, máscaras, protetor auricular tipo “plug” ou “concha”; § Proteção Auricular: protetores de inserção e circumaxiliares; § Proteção Respiratória: máscaras e filtros; § Proteção Antiquedas: cintos de segurança; § Proteção do Tronco: coletes e aventais; § Proteção para Membros Superiores: mangas e luvas, dedeiras; § Proteção para Membros Inferiores: perneiras de raspa de couro, caneleiras, polainas, sapatos de segurança comum e com biqueiras ou palmilhas de aço, botinas e botas. 2.5 Organização dos Locais de Trabalho Existe a necessidade que os locais de trabalho sejam concebidos, construídos, equipados, utilizados e mantidos de forma que os trabalhadores possam desempenhar as funções que lhes forem confiadas, eliminando ou reduzindo ao mínimo, praticável a factível, os riscos para sua segurança e saúde. Também que os postos de trabalho sejam projetados e instalados sob princípios ergonômicos. As áreas de mineração com atividades operacionais devem possuir entradas identificadas com o nome da empresa ou do permissionário de lavra e os acessos e as estradas sinalizadas. Segundo o Manual de Legislação (2001, p.288): 52 Algumas atividades exigem trabalho em equipe com, no mínimo, dois trabalhadores. Exemplo: abatimento manual de choco e blocos instáveis, contentação de maciço desarticulado, perfuração manual, carregamento de explosivos, detonação e retirada de fogos falhados. A empresa ou permissionário de lavra deve estabelecer norma interna de segurança para supervisão e controle dos demais locais e atividades onde se poderá trabalhar desacompanhado. Manual de Legislação (2001, p.288) 2.5.1 Circulação e Transporte de Pessoas e Materiais Toda mina deve possuir plano de trânsito 9, estabelecendo regras de preferência de movimentação e distâncias mínimas entre máquinas, equipamentos e veículos compatíveis e velocidades permissíveis de acordo com as condições das pistas de rolamento. Equipamentos de transporte de materiais ou pessoas devem possuir dispositivos de bloqueio que impeçam seu acionamento por pessoas não autorizadas. A operação dos meios de transporte só será permitida a trabalhador qualificado, autorizado e identificado. Equipamentos de transporte sobre pneus, de materiais e pessoas, devem possuir um bom estado de conservação e funcionamento, faróis, luz e sinal sonoro de ré acoplado ao sistema de câmbio de marchas, buzina e sinal de indicação de mudança de sentido de deslocamento e espelhos retrovisores. Tais especificações devem ser figuradas em placas afixadas em local visível. 9 Plano de Trânsito: sistema de galerias para trânsito de pedestres e veículos, devidamente sinalizado e identificado, cada via é específica, sem trânsito concomitante entre pessoal e maquinaria, levando em consideração a segurança. 53 Em projetos, instalações ou montagem de transportadores contínuos, devem ser observados, no dimensionamento, a necessidade ou não de implementação de sistema de frenagem10 ou outro equivalente de segurança. Segundo o Manual de Legislação (2001, p.292): “É obrigatória a existência de dispositivos de desligamento ao longo de todos os trechos de transportadores contínuos (correias transportadoras), onde possa haver acesso rotineiro de trabalhadores”. Só será permitida a transposição através de passarelas dotadas de guarda-corpo11 e rodapé12. A partida dos transportadores contínuos só será permitida quando decorridos vinte segundos após sinal audível ou outro sistema de comunicação que indique seu acionamento. Todos os pontos de transmissão de força, de rolos de cauda13 devem ser protegidos com grades de segurança ou outro mecanismo que impeça o contato acidental. 2.5.2 Estabilidade dos Maciços 10 11 12 13 Frenagem: é um sistema de freios que faz parte de todo e qualquer maquinário rotativo e/ou não estacionário. Guarda-corpo: proteção contra queda de pessoas e objetos de uso em manutenção em diferenças de níveis em plantas de indústrias e/ou mineração. Rodapé: complementação do guarda-corpo, na proteção contra quedas de pessoas e objetos. Rolo de cauda: são rolos que possibilitam o retorno ao pano da correia permitindo o funcionamento da correia transportadora. 54 Os maciços formam o conjunto de rochas onde uma obra subterrânea se desenvolve (túneis, galerias, etc). No caso do carvão, são as rochas que compreendem o teto e a lapa14 da camada de carvão. Todas as obras de mineração, no subsolo e na superfície, devem ser levantadas topograficamente e representadas em mapas e plantas, revistas e atualizadas periodicamente por profissional habilitado. Os métodos de lavra em que haja abatimento controlado do maciço deverão ser acompanhados de medidas de segurança, que permitam o monitoramento permanente do processo de extração e supervisionados por pessoal qualificado. Quando se verificarem situações potenciais de instabilidade no maciço15 através de avaliações que levem em consideração as condições geotécnicas e geomecânicas16 do local, as atividades deverão ser imediatamente paralisadas, com afastamento dos trabalhadores da área de risco, adotadas as medidas corretivas necessárias, executadas sob supervisão e por pessoal qualificado. Segundo Manual de Legislação (2001, p.298-9), em minas subterrâneas são consideradas indicativas de situações de potencial instabilidade no maciço as seguintes ocorrências: § 14 15 16 Quebras mecânicas com blocos desgarrados dos tetos ou paredes; Lapa: chão de uma mina de carvão. Situações potenciais de estabilidade no maciço: são representadas por zonas de falhas onde as rochas estão muito quebradas; onde o teto do carvão é uma rocha muito laminada ou muito frágil; onde há muita infiltração de água no teto. Geotécnica e Geomecânica: classificação das rochas quanto à sua competência: resistência a tração, a compressão, etc e o seu comportamento quando nela é feita uma escavação. 55 § Quebras mecânicas no teto, nas encaixantes ou nos pilares de sustentação; § Água em volume anormal durante escavação, perfuração ou após detonação; § Deformação acentuada nas estruturas de sustentação. 2.5.3 Aberturas Subterrâneas, Tratamento e Revestimento As aberturas de vias subterrâneas devem ser executadas e mantidas de forma segura, durante o período de sua vida útil. As galerias devem ser projetadas e construídas de forma compatível com a segurança do operador das máquinas e equipamentos que por elas transitam, assegurando posição confortável e impedindo o contato acidental com o teto e paredes. As aberturas subterrâneas que possam acarretar riscos de queda de material ou pessoas devem ser protegidas e sinalizadas. Verificada a existência de blocos instáveis, estes devem ter sua área de influência isolada, até que sejam tratados ou abatidos. 2.5.4 Proteção Contra Poeira Mineral Nos locais onde haja geração de poeiras na superfície ou no subsolo, a empresa ou permissionário de lavra deverá realizar o monitoramento periódico da exposição dos trabalhadores, através de Grupos Homogêneos de Exposição17 e das medidas de controles, com registro de dados. 17 Grupo Homogêneo de Exposição: um grupo de trabalhadores, que experimentam semelhantes exposições, de forma que o resultado fornecido pela avaliação da exposição de qualquer trabalhador do grupo seja representativo da exposição do restante dos trabalhadores do mesmo. Manual de Legislação (2001, p.300). 56 Em toda mina deve haver disponível água em condições de uso, com o propósito de controle de geração de poeiras nos posto de trabalho, onde rocha ou minério estiver sendo cortado, detonado, carregado, descarregado ou transportado. As operações de perfuração ou corte devem ser realizados por processos umidificados para evitar a dispersão da poeira no ambiente de trabalho. O processo umidificado é um sistema de dutos e bombeamento de água que faz parte do processo de furação com a finalidade de precipitar o pó (sílica livre) objetivando a não inalação pelos trabalhadores. Historicamente após o ingresso do processo umidificado nas minas de carvão, não há mais registros de pneumoconiose nos mineiros do sul de Santa Catarina. 2.5.5 Sistemas de Comunicação Todas as minas devem possuir sistema de comunicação padronizado possuindo retorno, através de repetição de sinal, que comprove ao emissor que o receptor recebeu a mensagem. Os setores da mina devem estar interligados, através de rede telefônica ou outros meios de comunicação. 2.5.6 Instalações Elétricas Nos trabalhos em instalações elétricas o responsável pela mina deve assegurar a presença de pelo menos um eletricista. As instalações e serviços de eletricidade devem ser projetados, executados, operados, mantidos, reformados e ampliados, de forma a permitir a adequada distribuição de energia e isolamento, 57 proteção correta contra fugas de corrente, curtos-circuitos, choques elétricos e outros riscos decorrentes do uso de energia elétrica. 2.5.7 Operações com Explosivos e Acessórios Todas as operações envolvendo explosivos e acessórios devem observar as recomendações de segurança do fabricante. O manuseio e utilização de material explosivo devem ser efetuados por pessoal devidamente treinado, respeitando-se as normas de fiscalização de produtos controlados do ministério da defesa. Em cada mina, onde seja necessário o desmonte de rochas com uso de explosivos, deve estar disponível o plano de fogo, no qual conste: § Disposição e profundidade dos furos; § Quantidade de explosivos; § Tipos de explosivos e acessórios; § Seqüência das detonações; § Volume desmontado; § Tempo mínimo de retorno após a detonação; § O plano de fogo da mina deve ser elaborado pelo encarregado-do-fogo (blaster). 2.5.8 Ventilação em Atividades de Subsolo As atividades em subsolo devem dispor de sistema de ventilação mecânica que atenda os seguintes requisitos: 58 § Suprimento de oxigênio; § Renovação contínua do ar; § Diluição eficaz de gases inflamáveis ou nocivos e de poeiras do ambiente de trabalho; § Temperatura e umidade adequada ao trabalho humano; § Ser mantido e operado de forma regular e contínua. 2.5.9 Iluminação Os locais de trabalho, circulação e transporte de pessoas devem dispor de sistemas de iluminação natural ou artificial, adequado às atividades desenvolvidas. Caso não seja possível instalação de iluminação, os trabalhadores devem dispor de equipamentos individuais de iluminação. Os equipamentos individuais de iluminação utilizados nas minas de carvão são as lanternas, acopladas a um cinto e com autonomia de mais ou menos 12 (doze) horas. 2.5.10 Proteção contra Incêndios e Explosões Nas minas ou instalações sujeitas a emanações de gases tóxicos, explosivos ou inflamáveis o Programa de Gerenciamento de Riscos, deve incluir ações de prevenção e combate a incêndio e de explosões acidentais. “Todas as minerações devem possuir um sistema de procedimentos escritos, equipes treinadas de combate à incêndios e sistema de alarme”. Manual de Legislação (2001, p.314). 59 2.5.11 Operações e Vias de Emergência Toda mina deverá elaborar, implementar e manter atualizado um plano de emergência que inclua, no mínimo, os seguintes requisitos: § Identificação de riscos maiores; § Normas de procedimentos para operações em caso de incêndios, inundações, explosões, desabamentos, paralisação do fornecimento de energia para o sistema de ventilação, acidentes maiores e outras situações de emergência em função das características da mina, dos produtos e dos insumos utilizados. “As vias de saída de emergência devem ser direcionadas o mais diretamente possível para o exterior, em zona de segurança ou ponto de concentração previamente determinado e sinalizado”. Manual de Legislação (2001, p.317). Toda mina subterrânea em atividade deve possuir, obrigatoriamente, no mínimo duas vias de acesso à superfície, uma via principal e uma alternativa ou de emergência, separadas entre si e comunicando-se, de forma que a interrupção de uma delas não afete o trânsito pela outra. 2.6 Informação, Qualificação e Treinamento 60 A empresa ou permissionário deve proporcionar aos trabalhadores treinamento, qualificação, informações, instruções e reciclagem necessárias para preservação da sua segurança e saúde, levando-se em consideração o grau de risco e natureza das operações. O treinamento admissional para os trabalhadores, que desenvolverão atividades no setor de mineração, abordará, no mínimo, os seguintes tópicos: § Treinamento introdutório geral com reconhecimento do ambiente de trabalho; § Treinamento específico na função e orientação em serviço. As instruções visando a informação, qualificação e treinamento dos trabalhadores devem ser redigidas em linguagem compreensível e adotando metodologias, técnicas e materiais que facilitem o aprendizado para a preservação da segurança e saúde do trabalhador. Manual de Legislação (2001, p.319). 2.6.1 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes na Mineração (CIPAMIN) A CIPAMIN tem por objetivo observar e relatar as condições de risco no ambiente de trabalho, visando à prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na mineração, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a segurança e a saúde dos trabalhadores. A CIPAMIN será composta de representante do empregador e dos empregados e seus respectivos suplentes. Sua composição deverá observar critérios que permitam estar representados os setores que ofereçam maior risco ou 61 que apresentem maior número de acidentes do trabalho. Uma vez instalada esta deve ser registrada no órgão regional do ministério do trabalho e emprego. A empresa de mineração deve organizar e manter em regular funcionamento, na forma prevista na Norma Regulamentadora 22, em cada estabelecimento uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), doravante denominada CIPA na Mineração (CIPAMIN). Manual de Legislação (2001, p.319). 2.6.2 Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) Especialistas em Segurança e Medicina do Trabalho são profissionais qualificados e habilitados para identificar riscos nos ambientes de trabalho, estabelecer técnicas para sua eliminação e sugerir ações que possam prevenir acidentes e doenças do trabalho. Os profissionais que compõe o SESMT são os Engenheiros de Segurança do Trabalho, Técnicos de Segurança do Trabalho, Médicos do Trabalho, Enfermeiros e Auxiliares de Enfermagem do Trabalho, devidamente registrados. Segundo o Manual de Legislação (2001, p.26), a NR-4 estabelece a obrigatoriedade de manutenção do SESMT, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho, dimensionando com base em critérios de classificação de riscos, definidos pelo código nacional de atividades empresariais (CNAE) e pelo número de seus empregados no estabelecimento. Também este é responsável tecnicamente pela orientação quanto ao cumprimento das disposições contidas nas NR, aplicáveis às atividades realizadas 62 pela empresa e, também, pela promoção de atividades que visem a conscientização, educação e orientação dos trabalhadores quanto às ações de prevenção de acidentes e doenças do trabalho. Compete ao SESMT atender a emergências, bem como a elaboração de planos de controle para emergências decorrentes de acidentes operacionais, fenômenos meteorológicos e afins, que possam, em função do potencial de risco, ocorrer nas empresas ou em seus estabelecimentos. A competência dos profissionais que compõe o SESMT é definida pela NR-4, no item 4.12, que diz: “Aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança e medicina de trabalho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador”. PIZA (1999, p.47). 2.7 Riscos Ambientais Segundo Programa de Gerenciamento de Riscos (2003, p.22), “considerase risco ambiental, tudo que tem potencial para gerar acidentes no trabalho, em função de sua natureza, concentração, intensidade e tempo de exposição”. Divide-se em agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos, classificados segundo o programa de gerenciamento de riscos. 63 Agentes Físicos: São considerados: vibração, radiação, ruído, calor e frio, que de acordo com as características do local de trabalho podem causar danos à saúde. Agentes Químicos: São encontrados na forma: gasosa, líquida, sólida e/ou pastosa. Quando absorvidos pelo organismo, produzem na grande maioria dos casos, reações diversas. Agentes Biológicos: São microorganismos, tais como: bactérias, fungos, vírus, bacilos, parasitas entre outros. São capazes de produzir doenças por apresentarem muita facilidade de reprodução e vários processos de transmissão. Agentes Ergonômicos: é o conjunto de conhecimentos sobre o homem e seu trabalho. Principais problemas: esforço físico, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, monotonia e repetitividade. 2.7.1 Reconhecimento e Avaliação dos Riscos Ambientais no Setor de Mineração do Subsolo Compreende as seguintes etapas: escoramento de teto, perfuração de frente, detonação, transporte de materiais, e topografia de subsolo. 64 O escoramento de teto consiste primeiramente na perfuração do teto com o uso de martelos roto-percusivos18 pneumáticos mecanicamente e ininterruptamente com auxílio de água eliminando a poeira, com o uso de brocas de aço para resina, fazendo com que a sustentação do teto seja fixada no arenito, em seguida colocado parafuso com resina e atarraxado com cruzeta e arruela não necessariamente. A perfuração na rocha é feita através de perfuratrizes hidrostáticas mecanicamente e ininterruptamente nas frentes de serviço, com injeção de água nos furos eliminando na totalidade a geração de poeira, usando brocas com bit19 a locomoção é elétrica. A detonação é feita por explosivos, usando bananas de dinamite ou emulsão nos furos correspondentes, iniciados por acessórios não elétricos e estopim; O transporte de materiais é feito através de máquinas carregadeiras tipo MT 700 e correias transportadoras. “A MT-700 é um microtrator utilizado para o transporte do minério, desmontado das frentes de serviço até as correias transportadoras”. Manual de Segurança (2001, p.25) A topografia de subsolo é necessária para direcionar as galerias conforme detalhadas em projeto e dimensionar as galerias e pilares. 18 19 Martelo Roto-percursivo: equipamento de perfuração movido a ar comprimido que aciona uma ferramenta (broca de vidia) o qual gira e bate simultaneamente, perfurando a rocha. Broca com bit: broca que possui na sua extremidade uma ferramenta para perfuração de pedra. 65 As atividades no subsolo das minas de carvão são realizadas por funcionários devidamente habilitados e treinados, em jornadas de 7,12 horas diárias de segunda a sexta-feira, estando expostos aos agentes de riscos: físicos, químicos (com carga horária dos funcionários direcionada ao cargo, de no máximo 2 horas diárias, determinadas com muito rigor), e ergonômicos (que de acordo com a atividade, exige postura inadequada). Para as atividades de manutenção dos equipamentos da mina tais como, afiação de brocas, manutenção de perfuratrizes pneumáticas, oficina de recuperação de peças, manutenção de correias, mecânica de MT 700 e perfuratrizes hidrostáticas, borracharia de subsolo, bombeiro, motorista de jeeps e equipe de ventilação (pedreiros e carpinteiros), são desenvolvidas em subsolo, junto aos equipamentos e máquinas ou em locais específicos e em superfície na oficina mecânica situada no pátio da mina. 2.8 Prevenção de Acidentes A investigação de acidentes, quando bem conduzida, é uma das boas fontes de informação para a segurança do trabalho. Os acidentes que mais interessam investigar são os que causam lesões às pessoas. Alguns erros de interpretação e de avaliação não permitem que muitas pessoas reconheçam todas as vantagens das investigações de acidentes. As investigações de acidentes devem ser processadas em um ciclo completo, isto é, 66 desde as primeiras informações da ocorrência até a tomada de medidas para prevenir outras ocorrências semelhantes. A coleta de informações deve iniciar pelas sobre lesões, fornecidas pelo serviço médico e se possível, com algumas trocadas com o acidentado. Além de dados profissionais e pessoais relativos ao acidentado, dados relativos à lesão sofrida e outros que identifiquem local, hora, ou outros fatores determinantes do acidente, devem constar do relatório às causas apuradas e o que é o mais importante, as medidas tomadas para prevenir outros casos semelhantes. Controles estatísticos dos acidentes devem ser mantidos, de preferência simples e com todos os dados capazes de proporcionar motivação para a prática de prevenção de acidentes. 2.8.1 Procedimentos de Segurança para o Subsolo 2.8.1.1 Escoramento de Teto O carvão pode ser extraído a céu aberto ou em subsolo, através da mineração subterrânea, como é o caso da empresa Rio Deserto. A mineração da camada Barro Branco, Bonito ou Irapuá ocorre em camadas horizontais. Acima da camada de carvão tem-se o siltito e o arenito 20 empilhados até chegar a superfície. 20 Siltito e arenito: espécies de rochas encontradas no subsolo, e classificadas pelo tamanho do grão e aspereza. Arenito mais áspero e Siltito pouco áspero. 67 Quando se abrem galerias para a retirada do carvão, acontece a deformação do teto, que tende a fechar o espaço vazio, podendo causar o fenômeno chamado subsidência. Por isso precisa-se de escoramento, formando uma sustentação do teto, através dos parafusos, garantindo assim a segurança de todos. Para retirar o carvão, é necessário quebrá-lo em pequenos blocos, através do desmonte utilizando explosivos. Para o teto não cair, por causa do peso das rochas, é necessário sustentá-lo. Uma das maneiras de sustentação do teto encontrada é a colocação de parafusos fixados no siltito e arenitos. Os parafusos usados na Mina do Trevo e Mina do Barro Branco da Carbonífera Rio Deserto Ltda possuem comprimentos diferentes, variando de acordo com a formação geológica da jazida, ou seja, variando conforme as condições do teto imediato (siltito). Os parafusos são instalados no teto e fixados com cartuchos de resina, fazendo a ancoração. O siltito por ser uma rocha de pouca resistência, pode apresentar fraturas, logo a função dos parafusos é ‘pregar’ estas fraturas, colando os blocos de rocha formando uma viga rígida. Antes de iniciar a colocação dos parafusos, devem ser derrubadas todas as pedras frouxas com muito cuidado com o auxilio de uma alavanca. Ao derrubar as pedras, colocam-se os parafusos sempre sobre a área já escorada. Com a ajuda do martelo de teto (BBD) devem ser colocados os parafusos, levemente inclinados. Os parafusos normalmente são instalados com um cartucho de resina no fundo do furo, exceto nos casos especiais determinados pela engenharia ou planejamento da mina. Programa de Gerenciamento de Riscos (2003, p.21). 68 Os arrombamentos21 (travessas) devem ser escorados em primeiro lugar. Recomenda-se escorar os arrombamentos durante o próprio turno, caso não seja possível, escorar no início do turno seguinte. É uma situação de risco deixar escoramento dos arrombamentos para o turno do dia seguinte. Nunca se deve deixar um arrombamento sem escoramento de sexta até segunda-feira. De acordo com as condições geológicas do teto imediato (siltito), é necessário fazer reforço com parafusos22 de 1,55m à 1,70m ou conforme determinação do planejamento da mina. O cartucho de resina utilizado é muito importante na segurança do escoramento. A resina é uma massa usada para fixar o parafuso na rocha. Segundo o fabricante é necessário tomar alguns cuidados em relação aos cartuchos de resinas: § As resinas devem ser transportadas e estocadas em locais apropriados para não serem danificadas; § As resinas com defeitos, vazamentos ou com perda de massa não devem ser usadas no escoramento de teto, podendo comprometer a segurança; § A resina deve ser instalada no fundo do furo, assegurando a ancoragem na extremidade superior dos parafusos; 21 22 Arrombamento: passagem de uma galeria à outra, quer na perpendicular ou no mesmo alinhamento, permitindo a passagem de homens, máquinas e a ventilação, configurando o traçado da mina. Reforço com parafuso: é a utilização do parafuso com a finalidade de impedir que o teto desabe, mantendo a coesão entre os leitos de rocha que formam o teto. 69 § Quanto à mistura da resina, deve ser dada atenção especial. O tempo de mistura deve ser de aproximadamente 10 à 15 segundos, para ocorrer a reação química com boa aderência entre o parafuso e a rocha; § O parafuso corretamente instalado com resina deve dar o torque, ou seja, é o aperto da porca no parafuso, fazendo com que rocha seja comprimida, unindo as camadas de rocha, obtendo uma viga rígida. A segurança do escoramento depende deste torque bem executado. 2.8.1.2 Regras de Segurança – Furador de Teto O furador de teto é o profissional que executa a perfuração no teto com um martelo de teto (movido a ar comprimido) ou com a máquina perfuratriz de teto, para a instalação posterior de parafusos que darão a sustentação ao teto da mina. O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) para o serviço é obrigatório, protetor de ouvido, luvas, avental, além de botas de borracha e capacete. Ao executar a furação o furador de teto deve manter-se sempre protegido embaixo do teto já escorado e revisado. Deve-se conferir as condições das pedras e distância para o escoramento. Ao verificar qualquer problema quanto à segurança no teto da galeria durante o escoramento, este deve paralisar o serviço e avisar o encarregado ou a segurança. Quanto ao escoramento de teto, pode ficar comprometido por quebra de equipamento e/ou falta de material de escoramento, sendo que só deverão ser reiniciadas as atividades depois de efetuada a regularização de tais problemas. 70 Deve-se recolher os materiais utilizados, antes do final do turno e coloca-los em local seguro a fim de evitar qualquer tipo de acidente. Não se deve permitir que máquinas ou veículos passem sobre as mangueiras e materiais pertinentes ao escoramento. É obrigatório o uso de água nas operações de furação de teto para evitar poeira. Segundo os procedimentos internos adotados pela empresa a furação do teto tem que ser a úmido: “O furador de teto é obrigado a usar água nas operações de furação de teto para evitar a poeira”. Manual de Segurança (2001, p.19). Nas atividades de sustentação de teto, o furador de teto conta com o apoio do auxiliar de teto, que tem as seguintes competências: Derrubar com o auxílio de uma alavanca, todas as pedras frouxas com muito cuidado antes de iniciar o escoramento, ficando sempre na área já escorada. Dar aperto suficiente nos parafusos, para que não venha a trincar a resina já endurecida. Recolher sempre os materiais utilizados na sua função: mangueiras, cabos, parafusos, resinas, cruzetas, chaves, alavanca e brocas ou qualquer outro material de escoramento. 2.8.1.3 Regras de Segurança - Servente de Produção / Cabista O Servente de produção / cabista é o responsável em auxiliar todas as funções no subsolo, incluindo limpeza de correias transportadoras, manobra manual 71 dos cabos de máquinas automotivas e etc, orientado a seguir pelos seguintes procedimentos internos de segurança: § Usar sempre Equipamentos de Proteção Individual; § Os Supervisores de Produção possuem os pares de luvas apropriados de reserva no painel para eventual substituição; § Tomar o cuidado de sempre controlar os cabos das máquinas sempre com as mãos, usando luvas apropriadas; § Antes de tocar no pino da tomada de energia, certificar se o disjuntor está desligado conferindo o número da máquina com o pino da tomada. § Tomar cuidado com umidade nos cabos; § Não se encostar a máquinas ligadas; § Orientar o operador na limpeza do trajeto da máquina, evitando cortes dos cabos elétricos; § Sempre que necessário que se passe cabos na frente das máquinas, usar ganchos para pendurar; § Sempre utilizar ganchos especiais para cabos elétricos. 2.8.1.4 Regra de Segurança - Detonação A detonação só deverá ser iniciada depois que as frentes de serviço estiverem completamente furadas. Como primeiro ato, servindo como prévio aviso, o superior de produção deve desligar propositadamente, a correia transportadora de seu respectivo painel de produção. Um dos detonadores, devidamente uniformizado (com colete em “trevira reflexiva”) e portando um apito “potente”, deve iniciar o 72 percurso contrário à detonação, passando por todas as galerias do painel, avisando a todos que a operação de detonação irá iniciar-se, ainda assim, a detonação só deve começar a ser efetuada quando os dois detonadores estiverem juntos. Para garantir uma melhor segurança, os detonadores além do aviso com apito ligam um sinaleiro luminoso para indicar de forma visual à todos os trabalhadores que será iniciado o processo de detonação. Dois dos detonadores juntos deverão começar a preparar as galerias já carregadas, colocando os estopins espoletados23 no multiconector24 de cada rafa 25 começando pelo sentido contrário a ordem de queima. Ao fim desta etapa, o detonador com apito, acompanhado de outro detonador e o supervisor de produção, deverá iniciar a queima no sentido da ventilação, repetindo-se por todas as demais galerias. O eletricista, encarregado, técnico e/ou engenheiro de segurança deverão ser avisados sobre perigos de eletricidade quanto à explosivos, tais como fios, redes e cabos elétricos, quer energizados ou não, por dentro da casa de fogo26 e por cima da caixa de dinamite. As luminárias destas casas de fogo deverão sempre estar no limite da cerca e os fios de alimentação deverão sempre ficar desta para fora, nunca cruzando as mesmas. 23 24 25 26 Estopins espoletados: são estopins com espoletas que por sua vez são amolgados (amassados) numa das extremidades do estopim para receber a detonação. Multiconector: é uma peça plástica que conecta vários fios acessórios que dirigem a carga para a dinamite. Rafa: é o minério desmontado da jazida. Casa de fogo: depósito ou paiol de preparação de explosivos. 73 Não é permitido à pessoas estranhas da função aproximarem-se das casas de fogo, de caixas de dinamite, mantendo-as fechadas. O sistema de “acessórios não elétricos” é de alta tecnologia, proporcionando as empresas usuárias, alta produção e segurança, mas por se tratar de material explosivo, deve ser manuseado como tal, havendo atenção diária e ininterrupta. A posição de evitar acidentes com pessoal que não trabalha com detonação é diretamente dos detonadores (blasters). Explosivos, inflamáveis e eletricidade não devem juntar-se desordenadamente. Por tal motivo, não se deve utilizar caixas vazias de explosivos. Nelas poderá haver restos de explosivos com risco de acidentes, ou ainda, uma alergia por contato físico. 2.8.1.5 Regras de Segurança - Bombeiros de Subsolo Os bombeiros de subsolo são os responsáveis pelo escoamento da água das galerias e das represas, por bombeamento, com o objetivo de manter as galerias das frentes de serviço secas, em condições de trabalho. Os bombeiros não devem confiar a outras pessoas detalhes de serviços, os quais somente devem ser feitos por eles. Por exemplo, desligar a chave elétrica ou disjuntor. 74 Mexer na parte de manutenção ou transferência de bombas. O bombeiro deve estar acompanhado de um eletricista para garantir a segurança contra problemas com eletricidade, que é causadora de acidentes até mesmo fatais. O bombeiro não deve manter contato com centros de força, transformadores, explosivos e outros locais ou materiais que não dizem respeito à função exercida. Um dos cuidados a serem tomados pelos bombeiros é o de trabalhar sempre acompanhado de eletricista, principalmente nos turnos de horários em que não há pessoal na mina. Pedir para que este confira se não há fuga de corrente elétrica nas bombas sempre que for efetuada troca, ou pelo menos uma vez por semana rotineiramente. 2.8.1.6 Regras de Segurança - Eletricistas no Subsolo Os eletricistas de subsolo são responsáveis pela manutenção dos equipamentos elétricos, bem como pela montagem/avançamento de local do sistema elétrico e também da distribuição planejada da rede de alta e baixa tensão. Uma das tarefas do eletricista é a de manter os armários, incluindo o ferramental e equipamentos de teste em perfeita ordem e prontos para o uso. Ao fazer manutenção em máquinas o eletricista deve primeiramente desligar a conexão elétrica, não deve confiar para outras pessoas detalhes de 75 serviço, os quais somente o encarregado desta função (eletricista) deve fazer. Evitar cruzar redes elétricas que tenham aplicações diferentes (exemplo: rede de máquinas com rede de iluminação). Todo cuidado é um tipo de prevenção, por isso, o eletricista deve ter muita atenção com a canalização metálica, com proteção de mangote (mangueira por onde passam os fios elétricos) nas máquinas, cabos, fios e extensões, condições físicas de funcionamento dos equipamentos elétricos tanto quanto pessoas estranhas em locais de possíveis riscos. Ao fazer manutenção em máquinas motivas (que causam movimento), estar sempre em sincronia com o operador da mesma para evitar desencontro de informações e criação de riscos de acidentes. As redes específicas para iluminação, máquinas e exaustores deverão ser distanciadas e distintas, obedecendo a critérios definidos pela supervisão elétrica e não podendo sofrer mudanças arbitrárias para não perder a padronização. É importante ler os quadros de avisos da segurança, porque neles há muitos avisos importantes para o desempenho desta função. Fazer sempre a manutenção em redes, cabos e fios do seu painel de produção e não deixar emendas e conexões sem o devido isolamento, principalmente onde há maior trânsito de pessoal e passagem de caixas de explosivos. 76 Procurar conservar a iluminação das mestres e oficinas, para se evitar os riscos de acidente. Os técnicos de segurança ou a Engenharia de Segurança estão à inteira disposição para instruir sobre respiração artificial e massagem cardíaca, para socorrer eventual acidentado por choque elétrico. 2.8.1.7 Regras de Segurança - Motoristas de Jeeps e Máquinas Só os motoristas que estiverem dirigindo deverão dirigir-se ao local de trabalho nos veículos, segundo as normas da empresa no máximo uma pessoa poderá ir no banco ao lado do motorista acompanhando-o, mas só o motorista autorizado pode dirigir o veículo. É função do motorista comunicar sempre ao supervisor sobre qualquer problema que apresente o veículo. 2.8.1.8 Regras de Segurança - Operadores de Perfuratrizes (PH) O operador de perfuratriz é o profissional que executa a perfuração das frentes de serviço com o auxilio da perfuratriz hidráulica, seguindo o plano de perfuração previamente estabelecido pela topografia. É função deste operador verificar bem as condições da galeria que será furada, isto inclui livrar as pedras frouxas. Nunca se deve aproveitar furos não detonados (falhados) para iniciar a furação. No caso de haver fogo falhado, este deve ser detonado antes de efetuar nova furação de rafa afim de evitar acidentes 77 com pessoal, redes de água e ar, redes elétricas, exaustores ao executar qualquer tipo de manobra. Ao parar a máquina para reparos, tanto elétricos, quanto mecânicos, deve-se desligar a máquina e solicitar ao auxiliar (cabista), que desconecte o pino da tomada de energia elétrica. Somente deve-se religá-lo sob solicitação do mesmo. Não se pode passar com as perfuratrizes sobre as mangueiras, cabos ou qualquer objeto que esteja no trajeto, solicitando que o cabista auxilie. Por fim é obrigatório o uso de água nas operações de furação de frente, de igual modo a furação de teto, cumprindo as exigências internas da empresa, conforme Manual de Segurança (2001, p.19). 2.8.1.9 Regras de Segurança - Operadores de MT 700 O operador de MT 700 é quem executa o transporte do minério desmontado pela detonação das frentes de serviço até as correias transportadoras. Uma das funções deste profissional é a de certificar-se com o cabista se o disjuntor de proteção do cabo de alimentação da máquina está desligado e se o plug está desconectado da tomada. Nunca se deve entrar ou sair da máquina sem fazer esta verificação. 2.8.1.10 Regras de Segurança - MT 700 (Micro Trator) Ao mudar a galeria de trabalho, deve-se verificar cabos elétricos na lapa (chão). Jamais se deve passar com máquinas sobre qualquer cabo elétrico, visto que estas utilizam blindagem metálica nas rodas. Conservar as galerias limpas e desimpedidas (sem pedras, cruzetas, etc.). Sobre qualquer sinal de passagem de corrente para a carcaça da máquina, o operador deve comunicar imediatamente o eletricista. 78 Para própria segurança do operador, é aconselhável trabalhar com a máquina ligada na tomada mais próxima possível do serviço, pois em caso de acidente, será mais rápido o desligamento. Não deixar nenhuma pessoa aproximarse da máquina em operação. Em caso de necessidade de desligamento, devem ser seguidas as mesmas normas de desligamento e re-ligamento de energia que os operadores de perfuratrizes devem seguir. 2.8.1.11 Regras de Segurança - Manutenção Mecânica Geral de Subsolo Sempre que necessário mexer com maçaricos ou máquinas de solda, informar-se com supervisor direto. Nunca abrir tambores vazios de qualquer natureza com oxi-corte, pois poderá criar gases com o aquecimento e risco de explosão. “Nas minas e instalações sujeitas a gases tóxicos, explosivos ou inflamáveis, o programa de gerenciamento de riscos deverá incluir ações de prevenção e combate à incêndios e explosões acidentais”. Manual de Legislação (2001, p.314). Ao fazer manutenção mecânica em máquinas e correias, entrar sempre em contato com o eletricista certificando-se da desconexão. Sempre que houver avançamento (deslocamento para frente de todos os equipamentos) deve haver recolocação de proteção das árvores de transmissões (engrenagens e polias). 79 Cortar os parafusos cravados na lapa (todos) rente ao chão evitando tropeços por parte do pessoal e também furos nos pneus dos jeeps e máquinas. Os passadores de correias (todos os tipos) devem ser recolocados no mesmo dia do avançamento, para segurança de todos (principalmente dos detonadores). Segundo o Manual de Legislação (2001, p.292), “passadores de correias são passarelas que permitem a transposição (passagem por cima) nas correias transportadoras”. Nunca ligar equipamentos sem certificar-se que todas as pessoas estão fora da área de risco27. Cada serventuário só tem direito a mexer no que lhe é cabível. Manter macas para socorro sempre juntas as casas de fogo. Desligar a chave elétrica de todos equipamentos que for efetuado reparo. 2.8.1.12 Regras de Segurança - Manuseio de Cilindros de Oxigênio e Acetileno Os cilindros de oxigênio e de acetileno são usados para realizar cortes em materiais metálicos, como chapas, parafusos, estruturas metálicas, etc. Nos cilindros de oxigênio os reguladores devem estar em perfeitas condições, assim como: engates, porcas, roscas, manômetros de alta pressão, etc. Jamais se deve deixar que os cilindros entrem em contato com fios eletrificados, ou equipamentos de solda elétrica em funcionamento, ou com objetos que estejam sendo soldados à eletricidade. É de competência do operador saber 27 Área de risco: qualquer local onde a pessoa possa estar que coloque a sua vida em perigo. 80 que o cilindro de oxigênio não contém ar e sim um tipo de gás (O2), isto implica na não utilização do mesmo como ar comprimido de pistolas de pintura, partidas de motores diesel, limpeza de recipientes, entre outros. Cilindros de Acetileno: alguns cuidados básicos são necessários para o uso destes cilindros. Uma objeção deve ser sempre chamar de acetileno e não de gás como é comumente falado, mas o seu manuseio deve ser normal. Nunca utilizar um cilindro que esteja vazando acetileno. 2.9 Noções de Primeiros Socorros O primeiro socorro é a atenção imediata prestada a uma pessoa, cujo estado físico coloca em perigo sua vida, com a finalidade de manter as funções vitais e evitar o agravamento de suas condições, até que receba assistência qualificada. Primeiro socorro consiste num conjunto de medidas e procedimentos cientificamente comprovados pré-estabelecidos e eficazes, executados no lapso temporal que ocorre em acidente, até a chegada da vítima à unidade hospitalar. Lomba & Lomba (2003, p.14). Alguns dos primeiros socorros aprendidos e prestados pelos serventuários são: Parada Respiratória e Cardíaca: observar o peito (se não mexer é parada cardíaca), os lábios, língua e unhas da vítima (cores azuladas – arroxeadas). O que fazer: liberar o pescoço, peito e cintura da vítima, verificar se existe algo na garganta 81 da vítima obstruindo a passagem de ar e realizar respiração boca-a-boca28, fazer massagem cardíaca29. No caso de parada respiratória por gases contaminados, só realizar respiração artificial com ajuda de equipamentos. “Parada cardíaca consiste quando não há contração do músculo cardíaco, ocorrendo o comprometimento do bombeamento sanguíneo, seja de origem traumática ou patológica”. Lomba & Lomba (2003, p.21). Choque-elétrico: tomar cuidado nos seguintes aspectos: não tocar a vítima sem que esta esteja separada da corrente elétrica, certificando-se que a pessoa que está socorrendo esteja pisando em chão seco e não utilizando materiais de boa condução elétrica. Por fim, (sem desprendimento de corrente elétrica) deve ser iniciada respiração artificial. “Respiração artificial consiste em enviar o oxigênio para os pulmões através de meios artificiais, com o auxílio de equipamento (ambú)”. Lomba & Lomba (2003, p.21). Lesões esqueléticas (ossos e articulações): se a vítima estiver consciente, analisar através da movimentação dos membros a gravidade da lesão. Caso a lesão for no pescoço, colocar um calço, ou até mesmo envolver uma toalha na cabeça da vítima, para evitar o movimento da cabeça. 28 29 Respiração boca-a-boca: está disponível em regulamentos disponíveis pela empresa ou através do serviço de segurança da empresa. Idem, ibidem. 82 Fraturas: a primeira providência que deve ser tomada consiste em impedir o deslocamento das partes quebradas. Lesões esqueléticas ou fraturas representam a quebra do tecido ósseo. Pode ser fechada ou exposta. Na fratura fechada os tecidos que compõem a região próxima ao ponto fraturado, permanecem integras, já na fratura exposta, o osso irá romper a pele e os tecidos musculares, ficando visível por exposição ao meio externo [...] pode ocorrer rompimento de vasos sanguíneos o que vem a agravar ainda mais a lesão. Lomba & Lomba (2003, p.111). Convulsão: como é um ataque de contração dos músculos, onde a vítima normalmente cai e agita o corpo, evitar a queda da vítima, colocar um pano entre os dentes, para evitar que a vítima morda a língua. “A convulsão vem a ser uma imensa agitação do corpo, através de involuntárias e súbitas contrações do músculo esquelético, através de impulsos nervosos vindos de forma desordenada do sistema nervoso central”. Lomba & Lomba (2003, p.169). Ferimentos: lavar as mãos com água e sabão para evitar infecções, secar o local da infecção, fazer curativo em que não fique a ferida exposta, transportar a vítima para socorro profissional. Doenças profissionais: decorre da exposição a agentes físicos, químicos e biológicos os quais agridem constante e intermitente o organismo. É considerada aquela produzida ou desencadeada pelo exercício de trabalho peculiar a determinada atividade. Exemplo: pneumoconiose30. 30 Pneumoconiose: pneumopatia devida à inalação de pó ou poeira, e da qual existem várias formas, segundo o tipo de material inalado (berilo, asbesto, carvão, etc). 83 Doença de trabalho31: é caracterizada como aquela doença adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e como ele se relaciona diretamente. Exemplos: lombalgia, perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR); lesão por esforço repetitivo (LER); dermatite ocupacional; e hérnia discal. Antes do transporte de vítimas devem ser tomados alguns cuidados, como: controlar a hemorragia caso houver. Manter a respiração, imobilizar os pontos suspeitos de fratura e manter ou evitar o estado de choque da pessoa. Em todos os casos, deve-se efetuar o transporte da vítima numa maca ou padiola dura, evitando durante o transporte em veículos de freadas bruscas para não agravar a lesão. As macas deverão ser encontradas na casa de fogo em subsolo e as talas e bandagens no armário de primeiros-socorros. 2.10 Plano de Emergência O objetivo do plano de emergência é preservar a vida humana, evitando ou minimizando danos físicos e psíquicos às pessoas. Este visa também proteger a propriedade e evitar a paralisação da produção com graves resultados econômicos e sociais. Portanto, quanto mais perfeita for a planificação, mais significativos serão os resultados alcançados. 31 Doença de trabalho: são resultantes de condições especiais de trabalho não relacionado em lei e para as quais se torna necessário à comprovação de que foram adquiridas em decorrência do trabalho. 84 “Toda mina deve elaborar, implementar e manter atualizado um plano de emergência [...]”. Manual de Legislação (2001, p.316). Segundo o Manual de Legislação (2001, p.316-17), as fases do plano de emergência são: Levantamento de riscos e proposições de medidas preventivas. Instalação de equipamentos de combate a incêndio, formação de brigada. Formação de equipes de abandono de áreas. Instalação de material de primeiros-socorros e formação de equipes de atendimento de urgência. Manual de Legislação (2001, p.316-17). Segundo o Manual de Segurança (2001, p.39): Os procedimentos básicos para todas as situações são: avisar a engenharia e os técnicos de segurança, falar com clareza e calma; informar o local do acidente, galeria e painel; descrever o acidente se possível; esperar a chegada da engenharia ou técnico de segurança no local, não retirar a vítima do local (caso possível); os responsáveis pelo socorro devem comunicar de imediato a autoridade policial competente, DRT, DNPM e Sindicato; o técnico de segurança deve isolar o local relacionado ao acidente, mantendo suas características até sua liberação pela autoridade competente. Manual de Segurança (2001, p.39). Alguns casos considerados de estado de emergência que devem seguir tais procedimentos são: falta de ventilação, desabamento (caimento), contato com poeiras inflamáveis, acidentes fatais, inundações, incêndio, entre outros. 2.11 Ventilação da Mina Os técnicos de segurança, encarregados de medir a ventilação da mina devem considerar que para espaços confinados o volume de oxigênio deve ser de 20,9% e se manter constante. Quando o volume de oxigênio for menor que 12,5%, o 85 ambiente é classificado como imediatamente perigoso à vida ou à saúde pela deficiência de oxigênio. No espaço confinado que contenha 16 a 20,9% de oxigênio, é até possível permitir a permanência no local, sem a proteção respiratória, desde que tomados alguns cuidados e se a redução de oxigênio é conhecida ou controlada. Caso haja indícios de poeiras inflamáveis os procedimentos na prevenção destas são a umidificação das rafas e pontos de transferência (cabeçotes). Devem ser feitas medições de metano todos os dias nos horários de produção nas frentes de serviço nos painéis, pelos técnicos de segurança e registradas em livro de controle para posterior fiscalização. Caso a medição de metano (CH4) mostrar-se maior do que 1% (um por cento), o risco em subsolo é de alerta ao pessoal e passando de 2% (dois por cento) deve ser evacuada a mina, retomando-se as atividades somente após a diluição através dos exaustores e a reamostragem de menos de 1% (um por cento) de teores de metano. “Alcançada a proporção de 2% de metano, o pessoal de subsolo deve ser imediatamente evacuado da mina, adotando-se as medidas necessárias à sua diluição através de exaustores”. Manual de Segurança (2001, p.38). Caso esteja a medição acima de 0,8% de metano no ar, não é permitido o desmonte de explosivos, todo o material inflamável deve ser retirado do subsolo transportado por jeepeiros treinados e descartados ou incinerados na superfície. O 86 técnico de segurança ou encarregado da posse do medidor de oxigênio deverá monitorar o local de trabalho e definir o tempo de permanência dos funcionários no mesmo. 2.12 Procedimentos em Situações de Risco 2.12.1 Desabamento na Mina O desabamento da mina ocorre quando há ruptura dos pilares por não suportarem o peso da rocha de cobertura ou quando o teto é composto de rochas frágeis e está mal ancorado. Avisar imediatamente o encarregado, técnico de segurança e engenharia, informando: o local do caimento (número da galeria e do painel), se houveram vítimas, danos a equipamentos ou máquinas. Deve-se desligar a energia elétrica, caso necessário, assim como não tomar atitude sozinho, podendo comprometer a segurança de todos. 2.13 Motivação Através de Taylor, a discussão sobre motivação resultou como fator principal a parte financeira. Taylor iniciou a discussão sobre motivação e assumiu que o dinheiro é o maior motivador. Como o pensamento na época levava as 87 pessoas a apoiar-se à idéia de que ninguém atinge o ponto onde não quer mais dinheiro, porém todos chegam a um ponto em que pensam haver mais alguma coisa além de dinheiro. Através de pesquisas durante séculos, chegou-se a idéia principal de que a influência sobre a motivação é uma união dos fatores organizacionais dentro e fora da empresa (dentro e fora do controle da empresa) e para um equilíbrio é bastante usada a teoria organizacional desenvolvida por Barnard e Simon, que resumidamente é fundamentada no princípio de que a motivação no serviço é confirmada através da contribuição. Logo esta teoria foi aperfeiçoada por Douglas Mc Gregor, formando a Teoria X e Y, que associa o efeito motivação à atividade de liderança, cuja força motivacional está centrada na auto-realização e na satisfação das necessidades. É a base da abordagem tradicional da administração das organizações. Se os trabalhadores (colaboradores) não são dignos de confiança para lutar pelos objetivos da organização, então será responsabilidade do administrador fazê-lo, por meio de supervisão direta e disciplina rígida. A Teoria X assume que o individuo não gosta do trabalho e para fazê-lo necessita ser coagido, controlado, dirigido, ameaçado. Neste caso nem mesmo a promessa de recompensa fará com que o individuo tenha motivação para o trabalho. A exigência será sempre para maiores recompensas. 88 A Teoria Y diz o desgaste do trabalho é tão natural como em qualquer outra atividade; por isso, o individuo deve ter autocontrole para consecução dos objetivos a que ele se submete em função das recompensas monetárias e de autorealização que recebe, ou seja, não se deve forçar as pessoas a trabalhar, mas encorajá-las a desenvolver todas as suas potencialidades. “O esforço físico e mental despendido no trabalho é tão natural quanto o despendido em recreação ou repouso”. Mc Gregor (1992, p.61). Maslow, que desvendou sua Teoria da Necessidade Apresentada por volta de 1943, mostra que o ser humano apresenta uma forma ordenada e hierárquica das necessidades a serem satisfeitas, que são: § As físicas ou impulsos básicos de sobrevivência; § As de sentir-se seguro, livre de ameaças; § As de amor e de pertencer a um grupo social; § As necessidades de respeito e estima, assim como o desejo de realização e independência; e § A de satisfazer seu potencial, chegar ao ápice de seu ser. A Teoria de Maslow apresenta o significado de que as necessidades do individuo são hierárquicas, constituindo uma pessoa realizada, aquela que tem suas necessidades conquistadas, desde o nível mais baixo até o mais satisfatório, para que os conflitos entre os objetivos individuais e da organização sejam minimizados. 89 “Para satisfazer à ideais (auto-realização), as pessoas abdicam da satisfação de necessidades de categorias inferiores. Destes ideais elas extraem a energia para lutar – até sacrificando a própria vida e a de seus seguidores”. Fiorelli (2001, p.104). Já na Teoria de Herzberg, existem dois conceitos, o de satisfação e de motivação. A motivação origina os fatores de trabalho (reconhecimento, responsabilidade, oportunidade de progresso, obtenção de resultados e do próprio cargo), sendo assim, a satisfação aumenta a motivação, porém a insatisfação não a diminui. Os fatores higiênicos extrínsecos ao indivíduo compreendem salário, benefícios recebidos, segurança no cargo, relações interpessoais no trabalho. No caso de insuficiência, provocam insatisfação, porém, atendidos, eles não despertam a motivação (energia interior) do indivíduo. Fioreli (2001, p.101). Através de sua teoria, Herzberg diz que os fatores ambientais afetam a insatisfação e os fatores motivacionais afetam a satisfação. Os Fatores Ambientais são aqueles que circundam o trabalho, que completam o meio no qual a pessoa trabalha (segurança no trabalho, pagamento, condições físicas para o trabalho, supervisão e relações interpessoais). Já os Fatores Motivadores são os que estão presentes no próprio trabalho (reconhecimento, realização e crescimento pessoal). O individuo desenvolverá atitudes favoráveis ao trabalho quando este realmente proporcionar essas oportunidades. 90 Segundo a Teoria de Adams, o Princípio da Eqüidade (direito reconhecido igualmente em cada ser), se reparte em dois amplos grupos: o do conhecimento sobre os inputs32 da pessoa e sobre o que ela recebe33 como resultado. Pessoas sem motivação (que se sentem mal remuneradas) têm seus esforços e resultados minimizados. É comum a pessoa sentir-se assim conforme seu trabalho, como por exemplo, um trabalho rotineiro e tedioso gera a falta de ambição e anulação da responsabilidade (inerentes ao homem). Em contrapartida, um trabalho que enfatiza a criatividade e o raciocínio causa melhores resultados, subestimando um comportamento desmotivador. Através de pesquisa feita na Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda, setor Mina Barro Branco, o resultado mostrou-nos que os fatores motivacionais decisivos são as vantagens oferecidas (aposentadoria especial, salário acima da média regional, jornada de trabalho reduzida, entre outros). No caso direto dos trabalhadores da mina no subsolo, os fatores motivacionais estão diretamente ligados aos benefícios que estes carreiam. Dentre os benefícios, os serviços especializados em segurança e medicina do trabalho, que são realizados por profissionais qualificados e habilitados, trazem maior segurança e conforto, tanto para si, quanto para sua família. 32 33 Inputs: o que vem do ser: habilidades, características pessoais, conhecimento, produtividade e qualidade no trabalho executado. Através dos inputs recebe: pagamento, reconhecimento, prestígio, segurança e outros benefícios oriundos do trabalho. 91 Estudar motivação significa buscar respostas, para perguntas complexas a respeito da natureza humana. Para reconhecer a importância das pessoas, do ser humano nas organizações, precisamos compreender os porquês dos comportamentos, dos verdadeiros motivos que levam as ações. Compreender que a motivação humana tem sido um grande desafio para administradores, psicólogos e estudiosos. Várias pesquisas têm sido elaboradas e diversas teorias têm tentado explicar o funcionamento desta força que leva as pessoas a agirem em prol dos objetivos. Analisando pesquisas a respeito do assunto, percebe-se que existe muita confusão e desconhecimento sobre o que é ou não motivação. Observa-se ainda que motivação é quase sempre relacionada com desempenho positivo. Aliás, é isso que as organizações produtivas buscam. Entretanto, é de consenso geral que a organização moderna é objeto de mudanças constantes, e que as pessoas resistem às transformações, conseqüentemente, métodos apropriados são necessários para incentivar essas. Segundo Kwassnicka: O grande desafio da motivação é conseguir que os outros façam aquilo que esperamos deles. E isso não se consegue com um simples programa de treinamento, pois motivação refere-se aos desejos, aspirações e necessidades que influenciam a escolha de alternativas, determinando o comportamento do indivíduo. Kwassnicka (1995, p.55). 92 Reforçando o pensamento, Broxado (2001, p.11), destaca que: A motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não pode jamais motivar outra, o que ela pode fazer é estimular a outra. A probabilidade de uma pessoa seguir uma orientação de ação desejável para determinado fim, está diretamente ligada à força de um desejo próprio da pessoa. Broxado (2001, p.11). Na análise de Carvalho (1989, p.34): A pesquisa psicológica demonstra que há sempre um motivo para qualquer ato, idéia ou sentimento. Muitos psicólogos tentam estabelecer os motivos mais constantes na espécie humana, com o objetivo de compreender a conduta social do homem. Carvalho (1989, p.34). A performance das organizações em busca de se manterem competitivas nos dias de hoje, vai além da eficácia dos serviços e produtos em si, passa também de forma primordial, pela motivação pessoal e profissional de todos os colaboradores, em todos os níveis hierárquicos e em todas as áreas. Portanto, é imprescindível fazer-se novas leituras, considerando o passado de experiências, o presente direcionado e tendências futuras, para obter uma visão atual e contextualizada. Homem trabalho e motivação estarão sempre entrelaçados, enquanto existir história humana. 93 3 CENÁRIO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Histórico da Empresa Empresa: Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda. A história começa em 05 de março de 1918, onde a indústria carbonífera em Santa Catarina, alicerçada num grupo de cidadãos procedentes do estado de Minas Gerais, dava início de forma oficial ao arrojado empreendimento da exploração e beneficiamento do carvão mineral. Os principais ‘heróis’ dessa jornada inicial foram os engenheiros: Manoel Pio Corrêa, Gastão de Azevedo Villela, Antonio Pacheco Leão, Fidelis Botelho e José Junqueira Botelho. Em 1917 foram abertas as primeiras minas de carvão mineral, após estudos topográficos e geológicos procedidos pelo geólogo Clemens Linnesmann, do serviço geológico da Prússia. Em seus relatórios assinalou que “considerando apenas as camadas industrialmente exploradas, é de cerca de 50 milhões de toneladas para uma área de 2.000 hectares de terrenos carboníferos” LINNESMANN (1917). Com capital inicial de 3.000 contos de réis, dividido em 1.500 ações nominativas de 200 mil réis e prazo de duração de 90 anos prorrogáveis e perpétuos de exploração do subsolo carbonífero, acertaram com ex-colonos e proprietários de lotes da antiga colônia de Urussanga, a concessão dos direitos de exploração do 94 carvão mineral nos terrenos que abrangiam as antigas linhas coloniais Rio Carvão, Rio América, Cachoeira Rio América, Linha Ferreira Pontes, Primeira Linha Cocal e Cabeceiras da Primeira Linha Cocal, limitadas ao Norte, pelos terrenos de Henrique Lage, ao Sul pela segunda Linha Cocal, a Leste pelo Meridiano formado pela Vila de Urussanga (linha Norte-Sul) e a Oeste pelos terrenos da Carbonífera Metropolitana (colônia de Nova Veneza). Acreditando nas potencialidades do carvão mineral brasileiro, foi investido pelos acionistas grandes capitais, importando o que havia na época de mais moderno em máquinas e equipamentos para exploração do subsolo carbonífero catarinense, além de implantar a infra-estrutura necessária constituída por transportes terrestres e marítimos. Para dar seguimento aos trabalhos referentes às definições das jazidas e localização das primeiras minas, foi contratado o renomado geólogo Clemens Linnesmann. Iniciou em 1922, a exploração das suas minas através da mina Rio Deserto, ainda hoje em atividade, produzindo carvão tipo antracitoso, para tratamento d’água “CATA”. Produz também o carvão ultra-finos de baixo volátil “RT” para a indústria de ebonite (caixas de baterias e de borracha em geral) e ultra-finos de alto volátil, para moldagem tipo “cardiff”. A Usina de beneficiamento, montada em 1922, na vila de Rio Deserto, por técnicos alemães, consta de um jigue Baun com capacidade para beneficiar 80 95 toneladas de ROM (Run of mine - carvão bruto / in natura) por hora. Na época o carvão era transportado da caixa de embarque até Urussanga por uma linha férrea eletrificada - teleférico, que foi adquirido na Alemanha e hoje tal obra seria impraticável dada a seu custo elevado. Para escoamento do carvão produzido, construiu-se por conta própria 34Km de ramal ferroviário integrado, posteriormente, à estrada de ferro Dona Tereza Cristina, de Esplanada à Rio Deserto. Vale lembrar, que a Empresa Rio Deserto não foi apenas a pioneira na exploração do carvão em escala industrial em Santa Catarina, como também a primeira a utilizar os métodos mais modernos para sua extração, transporte e beneficiamento, gerando inclusive, a energia elétrica de que necessitavam nas vilas operárias do Rio Deserto, Rio América e Santana, abrigando 1000 operários e suas famílias. Em 1934, foram implantadas minas de subsolo na localidade de Rio América, município de Urussanga, cujo transporte de carvão até a mina de Rio Deserto era feito por cabo-aéreo e dessa mina seguia, por via férrea, até o porto de Imbituba. Em 1942, outras minas foram implantadas na localidade de Santana, município de Urussanga, com escoamento do carvão mineral, também via Rio Deserto. 96 Na época, as minas iniciavam nas encostas onde a camada do carvão aflorava em superfície e penetrava em subsolo por distâncias de 200 a 250 metros. Tratava-se de minas manuais com transportes de carvão por locomotivas elétricas ou cabos-sem-fim, em que o pessoal trabalhava em somente um turno de produção de seis horas e cada mina produzia, em média, 2000 toneladas de carvão mineral que se destinava, fundamentalmente, a geração de energia elétrica nas cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do emprego para geração de energia elétrica em barcos, navios e locomotivas férreas. 3.1.1 A Expansão dos Trabalhos Carboníferos no Sul A continuidade e expansão dos trabalhos de mineração na região de Urussanga e Siderópolis devessem ao ilustre e visionário empresário Sr. João Zanette. Sua vida empresarial se estende desde o ano de 1914, já atuando no setor Carbonífero Catarinense, por maio da Carbonífera Rio Maina Ltda, que operava mina céu aberto e subsolo, nos municípios de Criciúma e Siderópolis. Adquiriu em 1948 a Carbonífera Sete Irmãos; 1952, a Carbonífera Pinheirinho; 1955, a Carbonífera Santa Luzia; 1956, a Carbonífera Palermo (vendida); 1957, a Carbonífera Santa Bárbara e Carbonífera Monte Negro; 1959, incorporou a Carbonífera Rio Maina, Carbonífera Santa Bárbara, a Carbonífera Monte Negro, Carbonífera Rio Carlota, e Carbonífera Rio Salto; 1962, adquiriu a Sociedade Carbonífera Boa Vista; 1967 adquiriu a Mineração Geral do Brasil; 1976 constituiu a Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda; 1987 fundou a Mineração e Pesquisa Brasileira Ltda; em 1990 adquiriu a Floresul (Florestamento e Reflorestamento Sul 97 Ltda), e em 1991 a Mecânica e Metalúrgica Milano Ltda; em 1992 constituiu a Maggiore Eletrotécnica Ltda. Sr. João Zanette é o Diretor Presidente, desde 1960 acompanhando-o no corpo diretivo o Sr. Gabriel Zanette (in memoriam). Atualmente a diretoria é composta por: Heitor Agenor Zanette, Diretor Financeiro; Luiz Gabriel Zanette, Diretor Industrial; Valcir José Zanette, Gerente e Giovanni Pagnan Zanette, Gerente. Nos últimos anos a diretoria tem buscado sempre novas diretrizes, no sentido de aumentar a produtividade e efetuar o aproveitamento racional de subprodutos. De 62.097 toneladas de carvão produzido nas minas de Rio Deserto, Rio América e Santana, em 1966, passou a 125.909, em 1969 e 369.710 toneladas em 1972, através da reestruturação técnica e econômica dos setores produtivos e de escoamentos. Conseqüentemente o número de empregos diretos, nessas minas, passou de 320 homens em 1966, para 690 em 1969. Em 1972 as Empresas Rio Deserto são reestruturadas e além de extrair e beneficiar passou a industrializar o carvão, diversificando o seu uso. A cada ano que passa, vem diversificando suas atividades e produtos, impulsionando o desenvolvimento técnico do Grupo, para que possa ampliar cada vez mais sua participação e solidificação no mercado. 98 Desenvolveu por meio da aplicação de tecnologia de ponta e constante atuação de seu centro de pesquisa, os seguintes produtos: carvão para tratamento d’água - CATA, coque de carvão, pó de carvão cardiff, carvão ativado mineral e vegetal, carvão para catálise de ebonite, carvão como carga mineral em elastômetros, além do beneficiamento de carvão energético, carvão vapor, dentre outros, sempre prezando pela qualidade do produto final. Acreditando no Brasil e tendo uma visão progressista, ramificou sua área de atuação. Hoje, desenvolvem atividades que vão desde mineração e industrialização de subprodutos do carvão mineral até a produção de frutos cítricos, passando por transporte, metal-mecânico, reflorestamento, florescimento, pesquisa, geologia, prestação de serviços em eletricidade, setor imobiliário, entre outras. Consolidado no mercado e forjado pelo trabalho, foi um sonho de imigrantes italianos, concretizando-se numa realidade brasileira, tendo à frente o Sr. João Zanette, Diretor Presidente do Grupo e acionista majoritário, cuja vida empresarial estende-se por longas décadas. Vem contribuindo para o progresso do sul catarinense. Seu corpo técnico é formado por engenheiros, tecnólogos e projetistas que analisam as necessidades dos clientes e determinam a qualidade dos produtos a serem fornecidos, conjugando a eficiência dos mesmos a um custo compatível. Desde 1988, têm uma estrutura funcional uma equipe com atribuições específicas para executar projetos de recuperação do meio ambiente, onde áreas degradadas estão em recuperação. 99 3.2 Procedimentos Metodológicos A pesquisa é qualificada como cientifica quando se utilizam os procedimentos metodológicos para a obtenção de informações que têm como objetivo proporcionar respostas aos problemas propostos. A metodologia da pesquisa consiste em demonstrar os passos á serem desenhados e seguidos para a realização do estudo, ou seja, o método adotado para o estudo. Entende-se por método o caminho para se chegar ao objetivo proposto. Viana (2001, p.95) define Metodologia como: A ciência e a arte do como desencadear ações de forma a atingir os objetivos propostos para as ações que devem ser definidas com pertinência, objetividade e fidedignidade. Portanto, método significa o caminho para atingir um fim, o conjunto das ações necessárias para atingir objetivos propostos em um determinado período, a partir dos recursos disponíveis. Viana (2001, p.95). Assim, o método escolhido para a pesquisa visou responder da melhor maneira ao objetivo do estudo. 3.3 Abordagem Metodológica e Tipo de Pesquisa 100 Com vistas a obter informações que pudessem oferecer uma base mais sólida para o trabalho que se apresenta, fez-se uso da pesquisa exploratória e descritiva com abordagens qualitativa e quantitativa, simultaneamente. Segundo Oliveira34 (1999, p.118), “Os estudos exploratórios tem como objetivo a formulação de um problema para efeito de uma pesquisa mais precisa ou ainda, para a elaboração de hipóteses”. A pesquisa qualitativa, segundo Debus (1988, p.37): É um tipo de pesquisa formativa que oferece técnicas especializadas para obter respostas a fundo acerca do que as pessoas pensam e quais são os seus sentimentos. Isto permite aos responsáveis de um programa, compreender melhor as atitudes, as crenças, os motivos e os comportamentos da população beneficiária. Quando aplicadas corretamente, são utilizadas juntamente com as técnicas quantitativas de forma inter-relacionada e complementar. Debus (1988, p.37). A abordagem quantitativa, por sua vez, caracteriza-se, segundo Moreira, Pasquale e Dubner35 (1996, p.76) por “pesquisas que utilizam questionários préelaborados que admitem respostas alternativas e cujos resultados são apresentados de modo numérico, permitindo uma avaliação quantitativa dos dados”. A técnica utilizada neste trabalho foi o questionário com questões mistas. 34 35 OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de Metodologia Cientifica. 2.ed. São Paulo: Pioneira, 1999. p.286. MOREIRA, Júlio César Tavares; PASQUALE, Perroti Pietrangelo; DUBNER, Alan Gilbert. Dicionário de termos de marketing: Definições, conceitos e palavras-chaves de marketing, propaganda, pesquisa, comercialização, comunicação e outras áreas correlatas a estas atividades. 2.ed. São Paulo: Atlas. 1997. p.354. 101 3.4 Instrumento de Coleta de Dados Para levantamento de dados das condições e dos procedimentos de segurança da Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda, na atividade de extração mineral, foi usada a pesquisa documental com base em manuais de procedimentos da própria empresa. Segundo Philips (apud DUARTE 2003, p.210): “A análise documental se constitui numa técnica de abordagem dos dados qualitativos, completando as informações obtidas nas entrevistas ou desvelando aspectos novos do tema em estudo”. Pode-se considerar documento, qualquer informação sob forma de texto. Foram coletados dados com base na Legislação referente às normas de segurança no trabalho na atividade de extração mineral bem como através da análise de manuais desenvolvidos pela própria empresa. Os dados referentes à motivação dos trabalhadores para exercer a atividade de alto risco foram obtidos através de um questionário que foi aplicado na própria empresa no período de 04 de novembro de 2003 à 04 de dezembro de 2003. O instrumento constou de 08 (oito) questões objetivas e 01 (uma) questão subjetiva, para um direcionamento exclusivo do interesse deste trabalho. 102 3.5 Universo e Amostra Num total de 310 funcionários, existem 96 funcionários de superfície (destes, 85 em atividade e 11 afastados) e 214 funcionários no subsolo (atividade de alto risco), (183 em atividade e 31 afastados). O universo da pesquisa vem a contemplar 20% (vinte por cento) dos funcionários de atividades de alto risco, totalizando 37 questionários aplicados. Foram entrevistados trabalhadores de diversas atividades, incluindo eletricistas, bombeiros, furadores de teto, operadores de perfuratriz hidráulica, operadores de MT 700, escoradores de mina, detonadores, mecânicos de máquinas, mecânicos de correias transportadoras, técnicos de segurança, encarregados de produção e servente de produção mecanizada. Contando, portanto, com um universo de 183 colaboradores tomou-se uma amostra de 37 destes que, segundo Barbetta (1998, p.58) “corresponde a uma unidade acima ao tamanho mínimo da amostragem considerando uma margem de erro de 15%”, conforme segue: n0 = 1/ E 02 = 1 / 0,152 = 44,44 N = N . n0 / N + n0 = 183 . 44,44 / 183 + 44,44 = 35,75 = 36 elementos. Onde: N= é o número de elementos da população n= é o tamanho da amostra n0= é uma primeira aproximação para o tamanho da amostra E0= é a margem de erro tolerável para o tamanho da amostra 103 3.6 Análise de Dados e Interpretação dos Resultados 3.6.1 Medidas Gerais de Prevenção Adotadas pela Empresa As medidas são compatíveis com o tipo de risco o qual o trabalhador está sujeito, sendo dividido em: riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos, abaixo especificados: Dentre os riscos físicos pode-se destacar: § Ruído: visando a redução dos níveis de ruído nos locais em que o enclausuramento da fonte é impraticável vem sendo feito o enclausuramento do funcionário ou através do uso de abafadores adequados, tipo concha ou plug que melhor se adaptam às condições de operação e conforto do pessoal, permitindo uma redução de aproximadamente 25% do nível de ruído, de acordo com o fabricante. Especialmente na operação de mineração de subsolo, passou a ser exigido a partir de julho/97. O serviço médico da empresa adota o monitoramento através de exames audiométricos periódicos para todos os trabalhadores expostos a níveis de ruídos acima do especificado pela norma. § Vibrações: este agente de risco se apresenta nos setores de frente de serviços causados pelos martelos roto-percusivos em pequena quantidade e beneficiamento nos locais onde operam peneiras vibratórias e outros 104 equipamentos que produzem vibrações. Não foi encontrado nenhum meio de eliminar este agente. § Radiações não Ionizantes: nas operações de solda elétrica e corte com maçaricos são cumpridas as normas de segurança para o uso de equipamentos de proteção individual, quais sejam óculos e máscaras especiais de solda, luvas de couro (raspa), avental de couro e polainas sendo substituídos a cada 120 dias. Além do uso de exaustores para sucção da fumaça oriunda das soldas. § Calor: em função da proximidade dos motores das máquinas os operadores ficam expostos ao calor e da temperatura externa, principalmente os serviços executados em locais confinados como o subsolo. Para minimizar o calor são usados exaustores e ventilação artificial. § Umidade: a única medida possível para enfrentar este agente adverso inerente à própria atividade de mineração é o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como botas de borracha, avental, luvas de couro, luvas de PVC e capas de trevira nas atividades onde se fazem necessária as botas longas com calças impermeáveis para uso específico dos bombeiros. Os EPIs são substituídos sempre que estiverem danificados ou no caso das botas de borracha a cada 120 dias. § Iluminação Inadequada: a atividade mais afetada por esse agente de risco é a mineração de subsolo, já que nos demais setores a devida manutenção de luminárias adequadas tem resolvido a questão. No subsolo são instaladas 105 luminárias fluorescentes de 20 volts nas galerias principais e são fornecidas lanternas individuais adequadas de mineiros para o trânsito em galerias secundárias e painéis de lavra. § Eletricidade: as atividades que envolvem instalações e manutenção elétrica em qualquer setor são restritas a trabalhadores treinados para tal fim. O uso de equipamentos de proteção individual, especiais para eletricidade são obrigatórios, tais como: luvas isolantes para controladores de cabos (cabistas) com proteção para até 2.500 volts sobreposta por uma luva de PVC contra abrasão, atrito ou resíduos de carvão, bastões isolantes e afins são sempre empregados quando os trabalhos indicam a necessidade de seu uso, ou seja, em trabalhos com linha energizada. Além da revisão diária nas redes e cabos pela equipe de manutenção elétrica. Existe uma constante preocupação do Serviço de Segurança e da CIPAMIN no sentido de alertar para qualquer situação de risco, como fios desencapados, instalações precárias e similares. § Incêndios ou explosões: o uso de explosivos e iniciadores é uma atividade de alto risco, executada somente por pessoal treinado para tal e orientados por procedimentos internos de segurança, específicos tanto para o transporte, como para procedimentos para iniciação dos mesmos. Portanto aos detonadores compete utilizá-los e manuseá-los, porque possuem “Curso de Blaster”. O Curso de Blaster é ministrado por empresas fornecedoras de explosivos devidamente autorizadas pelo Ministério de Armas de Munições e orienta o detonador a transportar separadamente o material explosivo de seus acessórios como medida de segurança. 106 Os locais de depósito de explosivos em subsolo são sinalizados e possuem uma caixa metálica específica para armazenamento. Os acessórios ficam armazenados separadamente em outra galeria, sobre tablado de madeira, os dois insumos somente se agrupam na hora da montagem na frente de serviços e somente na qualidade se uso específico para aquela frente a ser detonada. O aparato é de cor amarela, com as inscrições do que contém. Não passa por essas travessas de galeria nenhuma rede ou fio elétrico quer seja energizado ou não, também o trânsito de pessoas ou máquinas não é permitido neste local. Os “acessórios não elétricos” são transportados da superfície para o subsolo por jeep específico e sinalizado, separado da dinamite e os estopins são transportados pelos detonadores (blasters) em bolsas de couro tipo sola branca curtida a cromo, especificamente confeccionadas para tal. As sobras dos estopins são trazidas diariamente para a superfície e levadas novamente no dia seguinte. É expressamente proibido fumar em subsolo ou portar qualquer tipo de iniciador de fogo, ficando os serventuários expostos à fiscalização e vistorias. Todos os envolvidos recebem treinamento, instruções por escrito e assinam protocolo de recebimento. Nos demais setores onde há o risco descrito existem extintores de incêndio correspondentes para cada tipo de material utilizado, inclusive no jeep destinado ao transporte de explosivo. Nos locais de mecânica e manutenção tomase o cuidado de não acumular materiais e estopas sujas de óleo e outros líquidos 107 inflamáveis dando final adequado. Os materiais inflamáveis são incinerados em local apropriado. Em todas as atividades da empresa, existe constantemente o risco de outros tipos de acidentes, não especificados nos itens anteriores. São situações imprevistas em que podem ocorrer ferimentos, contusões e similares, em função de condições ou atos inseguros no exercício das diversas atividades. Tanto o SESMT como a CIPAMIN têm trabalhado no sentido de antever tais situações de riscos que, normalmente são abordadas nas reuniões da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes na Mineração e em Treinamentos realizados de modo a minimizar as condições inseguras. Ao longo dos anos foram realizados trabalhos de melhorias, adaptando-as as normas vigentes. As atividades desenvolvidas na mineração possuem agente de risco considerado de grau elevado, já que situações inerentes à própria atividade executada na mina podem criar condições favoráveis a acidentes de natureza grave. As minas subterrâneas de um modo em geral e as de carvão em particular estão longe de ser um ambiente natural de trabalho. O tipo de atividade ali desenvolvida é diferente de todas as outras. Sua situação é única, em razão de o processo produtivo ser extremamente dinâmico, modificando as frentes de trabalho e expondo os trabalhadores da mineração à situações novas a cada momento; conseqüentemente o ambiente torna-se artificial, com ventilação forçada e ausência de iluminação natural. O trabalho se desenvolve em espaços restritos sujeitos ao calor, à umidade, à poeira, aos gases e aos ruídos. O ambiente de trabalho enfim, evidencia elevado risco potencial de acidentes. Minas (1988, p.169). Para o risco de queda ao passar de um lado para o outro dos transportadores de correias, usam-se passarelas nos terminais de transportes (cabeçotes) e correias rebaixadas de dois modelos, um somente para pessoas e 108 outro para caixas e explosivos. As passarelas para caixas de explosivos diferenciamse das passarelas para pessoas por sua base que é lisa para que as caixas possam deslizar por cima, facilitando a transposição de um lado para o outro da correia transportadora. Quanto aos escorregões na lapa (chão da mina) são utilizadas botas em bom estado, ou seja, são trocadas a cada 120 dias. Quanto a quedas de pedras do teto, há escoramento de teto continuamente, até mesmo porque faz parte do sistema de lavra e ainda como medida de prevenção há reforços no escoramento, como prumos e barras de madeira, toda vez que o teto apresentar fisicamente peso e/ou rachaduras entre as cruzetas de madeira do escoramento normal. Os possíveis fogos falhados são retirados dos transportadores de correias, diariamente ao final de cada turno de produção e depositados num recipiente apropriado, sinalizado e de competência única e exclusiva de segurança (técnicos de segurança do trabalho), sendo destruídos com segurança total. Havendo ou não este material o segurança vai ao local verificar e ainda que não houver, tudo fica registrado em livro próprio para o controle, que se encontra na sala de segurança Departamento de Higiene e Segurança do Trabalho (DHST). Esta retirada e destruição sempre foram executadas na empresa. Dentre os riscos químicos destacam-se: 109 Poeiras: o combate às poeiras de sílica36 é feito de forma combinada, através do uso de água e de um bom sistema de ventilação da mina. Para o controle do pó gerado nas operações de furação a empresa adota a injeção de água no fundo do furo, através de brocas já adequadas para este fim. A injeção de água no furo é considerada como a mais eficiente no controle as poeiras de sílica durante a furação, chegando a 97% de eficiência segundo bibliografia técnica, reduzindo praticamente a zero o risco ambiental, o que é comprovado com a ausência de casos de pneumoconiose nos exames radiológicos regulares entre os funcionários nos últimos anos. Testes realizados com amostrador gravimétrico em minas da região confirmaram também a eficiência do controle das poeiras de sílica com o método de prevenção adotado. Quanto às poeiras geradas pelas detonações e no próprio manuseio do minério, estas não são significativas em virtude da própria umidade da mina, situadas na faixa de 90 (noventa) a 98% (noventa e oito por cento). Mesmo assim, adota-se a sistemática de molhar a frente desmontada (rafa) quando necessário. Associado ao controle da sílica pela injeção de água, o monitoramento do circuito de ventilação é sistemático, com a utilização de ventiladores instalados estrategicamente em vários pontos da mina. São empregados exaustores de 200cv no circuito principal de ventilação e exaustores de 10cv como reforçadores secundários, localizados na ventilação. 36 Poeira de sílica: dióxido de silício, cristalino, existente na crosta terrestre, especialmente na camada que contém o carvão, extremamente prejudicial à saúde. 110 Além das medidas mencionadas de prevenção coletiva, são fornecidas máscaras de proteção especiais contra poeiras em quaisquer situações que se faça necessário, de acordo com a avaliação do serviço de segurança. Quanto à poeira gerada pelo tráfego de caminhões em estradas não pavimentadas, a empresa utiliza um caminhão pipa que molha as estradas diariamente durante toda a jornada de trabalho. Desta forma, assume-se que o agente de risco ambiental de que se trata este item encontra-se perfeitamente sobre controle, não havendo necessidade de atuação sobre o mesmo. Fumos: a minimização do risco é feita com exaustores no caso de máquinas de solda e para os fumos gerados pela combustão incompleta de motores a diesel dos jeeps, foi substituído por combustão a gás a princípio somente nos jeeps de apoio ao transporte de subsolo, eliminando por completo os fumos oriundos dos jeeps. Névoa: em virtude do uso de injeção de água na furação do teto por martelos roto-percusivos à formação de pequena névoa, visando à minimização do risco, a empresa fornece aos serventuários destas atividades: máscaras, luvas e aventais, evitando assim que a umidade fique diretamente em contato com o corpo. Gases: da mesma forma que no caso das poeiras, a principal atuação na minimização do agente de risco de gases tóxicos provenientes da detonação com explosivos é a ventilação geral diluidora e em casos específicos de galerias sem retorno de ventilação (fundo de saco), o uso de ventilação localizada com 111 ventiladores de 10 cv injetando ar puro através de tubos metálicos. Tal procedimento permite o retorno seguro à frente detonada, nas situações especiais de risco são facilmente detectadas pelos operadores. Ainda assim, as detonações são preferencialmente, executadas nos finais de turno e na hora do café, eliminando a exposição dos operários aos agentes de detonação. Além do uso de dinamite não glicerinada e o não uso de estopins, utilizando o sistema de acessórios não elétricos37 para detonação do minério. Desta forma de prevenção, assume-se como médio o risco ao agente em questão, já que todas as medidas são tomadas para que haja uma diluição rápida dos gases e o mínimo de exposição dos operários ao agente de risco. Para o controle eficaz é feito monitoramento com medições de gases diariamente para cada turno, tendo assim um controle rigoroso de gases. Pode-se destacar também os agentes químicos. A exposição a produtos químicos ocorre nos setores de flotação38 (beneficiamento) por Cloreto de Zinco e na oficina de lanternas por solução alcalina, logo é usado equipamento individual de proteção como: luvas de PVC, óculos e avental, na oficina de: lanternas, luvas e ventilação natural. A prevenção dos agentes de riscos biológicos é executada por médico e auxiliar de enfermagem do trabalho, com formação para a prevenção de acidentes 37 38 Acessórios não elétricos: são espoletas dotadas de uma resistência no seu interior que ao receberem uma carga elétrica geram muito calor, o que ativa a detonação da dinamite. Flotação: processo de separação de sólidos baseado nas propriedades físico-químicas de superfície de cada sólido que é malhado (tem afinidade pela água) afunda e o que não é malhado (hidrófobo) flutua em espumante adicionado à célula de flotação. 112 com estes, através de avaliação dos casos e uso de equipamento de proteção individual quando for necessário. Para se proteger dos riscos biológicos são usados como equipamentos de proteção: luva látex estéril, ou de procedimentos, óculos de lente clara, jaleco, máscaras, materiais esterilizados que não permitem o contato do hospedeiro para uma pessoa sadia. Destacam-se, por conseguinte, os agentes de riscos ergonômicos. Agente de risco conforme descrito, proveniente de transporte de materiais diversos, tais como, material de escoramento, dinamite, mangueiras de equipamentos pneumáticos, todavia não são de peso superior a 30 Kg, sempre que exceder utilizar-se de jeeps devidamente apropriados para tal ou com auxílio de outro serventuário. Além do uso de carrinhos transportadores, talhas manuais ou mecânicas e ponte rolante nos casos de transporte de peças pesadas em determinados locais. A falta de postura é um agente de risco inerente à atividade de reconhecimento e avaliação dos riscos ambientais, além do mau dimensionamento dos bancos dos jeeps, fazendo com que os motoristas exerçam a função em postura inadequada. Todas as máquinas perfuratrizes e MT 700 foram concebidas de forma a permitir o máximo de conforto aos operadores e o acionamento é todo hidrostático para qualquer função nas mesmas. 113 A monotonia e repetitividade são agentes de risco inerentes à própria atividade em algumas funções, porém os serventuários executam as tarefas intermitentes. 3.6.2 Motivação dos trabalhadores para atuarem na atividade de alto risco Por se tratar de um estudo quali-quantitativo os dados foram analisados através do conteúdo discursivo constante dos dados pesquisados na empresa e também das respostas às questões fechadas aplicadas através do questionário. Seguem descritas as perguntas aplicadas em questionário. 3.6.2.1 Questionário 114 1) Considera a atividade: Tabela 01 Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%) De alto risco 27 72 De risco intermediário 05 14 De baixo risco 05 14 0 0 37 100 Sem riscos Total 14% 0% 14% 72% Alto Risco Risco intermediário Baixo risco Sem risco O resultado apontou a consciência que os empregados têm, amparados pela boa estrutura desta idéia da empresa-funcionário. 72% sabiam que a atividade que exercem é de alto risco. 14% acreditam que possa ocorrer risco intermediário, e o mesmo percentual aponta para baixo risco, mas todos sabem que ocorre o risco de acidentes. 115 2) Grau de escolaridade: Tabela 02 Freqüência Freqüência Relativa Absoluta (%) Analfabeto 0 0 Da 1ª a 4ª série do ensino fundamental 8 22 Da 5ª a 8ª série do ensino fundamental 13 35 Do 1º ao 3º ano do ensino médio 16 43 Superior 0 0 Total 37 100 Apesar deste setor não abrigar pessoas com grau de escolaridade superior (com exceção dos engenheiros e geólogos), também não são pertencentes desta categoria de emprego analfabetos. 22% possuem o ensino fundamental, 35% estudaram entre a 5ª e a 8ª séries e a maioria 43%, tem do 1º ao 3º ano do ensino médio. 0% 22% 43% 35% Analfabeto Ensino médio De 5ª a 8ª série do ensino fundamental Do 1º ao 3º ano do ensino médio Superior 116 3) Tempo de atividade: Tabela 03 Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%) Até 1 ano 04 11 De 1 à 5 anos 16 43 De 5 à 10 anos 08 22 De 10 à 15 anos 09 24 0 0 37 100 Superior a 15 anos Total No tempo de atividade na empresa, os resultados incidiram no seguinte: 11% tem até um ano de empresa, 43% estão de 1 à 5 anos na empresa, 22% de 5 à 10 anos e 24% de 10 à 15 anos, não tendo nenhum funcionário com mais de 15 anos de firma. 24% 0% 11% 43% 22% Até 1 ano De 1 à 5 anos De 5 à 10 anos De 10 à 15 anos Superior à 15 anos Através da necessidade de saber qual a motivação que o funcionário tem primordialmente para trabalhar num ambiente onde podem ocorrer acidentes de trabalho, foram elaboradas estas duas perguntas complementarmente ao questionário (perguntas 04 e 05), para identificarmos se os motivos básicos envolvem a família e as expectativas de vida de cada um. 117 4) Estado Civil: Tabela 04 Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%) Solteiro 06 16 Casado 29 78 Viúvo 01 3 Divorciado 01 3 Total 37 100 16% apresentavam-se solteiros durante o questionário, 78% casados, formando uma grande massa de pessoas, seguidas de 3% para viúvos e divorciados. 3% 3% 16% 78% Solteiro Viúvos Casados Divorciados 118 5) Idade: Tabela 05 Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%) 21 à 25 anos 06 16 25 à 30 anos 07 19 30 à 40 anos 20 54 40 à 50 anos 04 11 Total 37 100 Fator relevante, a idade preserva o resultado pela grande maioria de casados, influenciando a sobrevivência da família como fator importante. Constaram as respostas da seguinte forma: 16% de 21 à 25 anos; de 25 à 30 anos 19%, 54% de 30 à 40 anos; e 11% de 40 anos ou mais. 11% 16% 19% 54% De 21 à 25 anos De 30 à 40 anos De 25 à 30 anos De 40 à 50 anos 119 6) O que levou você a escolher trabalhar em uma atividade de alto risco? Tabela 06 Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%) Falta de opção 07 19 Influência de terceiros 04 11 Vantagens oferecidas 25 67 Poucas exigências na contratação 01 3 Total 37 100 Através deste questionamento, observa-se que para a constituição do fator família envolvido nesse, a busca por vantagens é predominante, sendo que 19% consideram como falta de opção a ocupação de seus cargos, 11% consideram a influencia de parentes fator primordial, mas 67% acham que estas vantagens oferecidas são a essência de suas escolhas e conseqüentemente, 3% agradaram-se das poucas exigências na contratação. 3% 19% 11% 67% Falta de opção Influencia de terceiros Vantagens Oferecidas Poucas exigências na contratação 120 7) Você acredita que a Empresa investe em segurança por qual razão? Tabela 07 Freqüência Absoluta Freqüência Relativa (%) Obrigatoriedade 01 3 Preocupação com os segurados 33 89 Evitar ações e prejuízos 03 8 Total 37 100 A grande escolha pela preocupação que a empresa tem pelo funcionário reflete diretamente no objetivo dos órgãos responsáveis por este setor. apenas 3% acham que a empresa só presta segurança por obrigatoriedade em lei, mas com 89% das pessoas achando que a preocupação é fruto da empresa contratante, não deixa dúvidas a eficácia das tentativas empresarias para que este seja em favor do empregado. 8% acreditam que a empresa deseja mesmo é evitar prejuízos e ações trabalhistas. 89% 8% 3% Obrigatoriedade Preocupação com os segurados Evitar ações e prejuízos 121 8) Se você tivesse oportunidade para trabalhar em outra atividade que não fosse tão perigosa, você aceitaria? Tabela 08 Freqüência Freqüência Absoluta Relativa(%) Sim 07 19 Não 14 38 Gostaria, mas uma razão forte impede 16 43 Total 37 100 Nesta questão, as respostas apontaram para o seguinte: 19% disseram sim, 38% não e 43 gostariam, mas uma razão mais forte impede-o. 38% 43% 19% Sim Não Gostariam 122 9) Que tipo de incentivo, você acredita ser o de maior força para manter o trabalhador em uma atividade de risco? (pergunta descritiva). Tabela 09 Freqüência Freqüência Absoluta Relativa(%) Vantagens 29 78 Segurança 06 16 Oportunidades de crescimento profissional 01 03 Necessidade de trabalhar 01 03 Total 37 100 Estas respostas completam o questionário de forma subjetiva, priorizando obter novos conhecimentos sobre os motivos essenciais na construção desta carreira. Como as respostas foram pareadas, os resultados podem exprimir 04 (quatro) respostas que foram típicas dos trabalhadores de atividades de risco. Mas, através de nossas pesquisas, com o intuito de apenas confirmar o que a teoria nos passou, 78% consideram as vantagens: salário acima da média regional e aposentadoria especial como incentivos decisivos em sua escolha. 16% acreditam na segurança do trabalho e ambiguamente, com 3%, os funcionários acham que a oportunidade de crescimento profissional e a (sobrevivência) são os maiores fatores. 16% 3% 3% 78% Vantagens Segurança Crescimento profissional Necessidade necessidade de trabalhar 123 CONCLUSÃO Os resultados da análise das informações e dos dados obtidos indicam que, de fato, o homem mesmo possuidor de reflexos de autodefesa, ativados pelos seus sentidos e consciente de todos os aspectos que relacionam a atividade laboral com a exposição da sua vida ao perigo, consegue neutralizar seus efeitos de todas as formas, impulsionado pela necessidade de sobrevivência. Uma das constatações que o estudo permitiu, pode ser sintetizada de que a atividade mineira expõe os trabalhadores a condições de risco grave e iminente para sua saúde, evidenciado pela identificação dos fatores de risco, avaliação e conseqüente controle de riscos ambientais existentes no ambiente de trabalho. A análise e a avaliação dos resultados das entrevistas permitem concluir que mesmo consciente do grau de risco da atividade exercida na mineração, a maioria dos trabalhadores não mudaria de atividade, mesmo considerando que um percentual maior gostaria de sair desta atividade de alto risco, porém, o fator motivacional de maior força para impedir este desejo são as vantagens oferecidas por esta categoria profissional. A pesquisa revelou que as seguintes vantagens: salário acima da média Regional, sem maiores exigências de formação específica, nem grau de escolaridade avançado na contratação e a aposentadoria especial com 15 anos de 124 atividade, representam os maiores atrativos para a permanência dos trabalhadores no subsolo das minas de carvão, funcionando como um forte inibidor para a tentativa de mudança de atividade. A pesquisa identificou que o grau de escolaridade aumentou, após o ingresso na atividade mineira, devido aos incentivos educacionais adotados pela empresa, tais como o projeto Volta à Escola, que possibilita os colaboradores retornarem aos estudos interrompidos. Constatou-se ainda que a grande maioria dos funcionários acredita que a empresa preocupa-se de fato, com a saúde e a segurança do trabalhador, atestando assim, a prática da política da qualidade e segurança da empresa e da existência na atualidade de uma nova consciência sobre segurança. Desta forma a metodologia adotada mostrou-se adequada na realização desta pesquisa, ao conseguir traduzir os dados obtidos em informações importantes, para uma melhor compreensão do comportamento dos trabalhadores do setor carbonífero. Ao final, interessa destacar, que o trabalho constitui o alicerce de sustentação da prosperidade, da realização e ascensão social, não só do empregado, mas também do empregador. Embora toda tecnologia, mesmo a mais sofisticada, com suas máquinas poderosas, rompendo as barreiras do espaço, os problemas e riscos que o trabalhador enfrenta em seu dia-a-dia, aqui na terra, constitui-se numa preocupação constante. 125 Da mesma forma, a realização profissional está intimamente ligada às condições físicas dos locais de trabalho, a começar pela atmosfera e pela temperatura ambiente que exigem atenção constante, sem falar das condições psicofísicas ligadas a duração da jornada de trabalho, ao tempo de repouso, aos períodos de férias que dão sentido nobre a atividade. Devido ao fato, de que a atividade mineira possui alto grau de risco, recomenda-se que estes fatores de riscos devem ser considerados no âmbito da conscientização dos trabalhos de recursos humanos, higiene, prevenção e segurança ocupacional, como também, da formulação por parte das empresas de uma política que venha atender os requisitos aplicáveis à segurança no trabalho e adoção de procedimentos para prevenção e redução de acidentes e doenças ocupacionais. Através dos resultados obtidos conclui-se que não haverá qualidade de vida se essa não começar pelo trabalho. O mundo todo dirige suas atenções para que o trabalho não seja um suplício para a humanidade e sim uma forma de produção de bens que torne a vida mais agradável e que a saúde, o bem maior que o homem possui, seja preservada, sob todos os aspectos. 126 REFERÊNCIAS 1. AYRES, Dennis de Oliveira; Corrêa, José Aldo Peixoto. Manual de Prevenção de Acidentes do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2001, 243p. 2. ARRUDA, Alexandre Trajano de. Normas Regulamentares de Mineração.. Brasília: Divisão de Fomentos da Produção Mineral. 1988, 62p. 3. BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 2.ed. Florianópolis : Fapeu, 1998. 283p. 4. BROXADO, Silvio. A Verdadeira Motivação na Empresa. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001, 100p. 5. BENSOUSSAN, Eddy; Alberi, Sérgio. Manual de Higiene Segurança e Medicina do Trabalho. São Paulo: Atheneu, 1997, 206p. 6. CARVALHO, Irene Mello. Introdução à Psicologia das Relações Humanas. 17 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989, 143p. 7. COORDENAÇÃO Atlas. Manuais de Legislação Atlas: Segurança e Medicina do Trabalho. 49 ed. São Paulo: Atlas, 2001, 690p. 8. DUARTE, Rosemari de Oliveira. El Agente Social y la Industria Carbonífera de Criciuma. Estado de Santa Catarina – Brasil 1970/1985: Cuestones Ecológicas. Tese (Doutorado em Historia Contemporánea) Universidad Leon. Espanha.2003. 976 p. 9. FIORELLI, José Osmir. Psicologia para Administradores. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2001, 282p. 10. HISTÓRICO das Empresas Rio Deserto, Criciúma, 2001, 74p. 11. KWASNICKA, Eunice Laçava. Introdução à Administração. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1995, 43p. 12. LOMBA, Marcos; LOMBA, André. Medicina Pré-hospitalar. São Paulo: Grupo Universo Olinda, 2003, 192p. 127 13. MC GREGOR, Douglas. O lado Humano da Empresa. 2 ed. São Paulo: Martins, 1992, 225p. 14. MOREIRA, Júlio César Tavares; PASQUALE, Perrotti Pietrangelo; DUBNER, Alan Gilbert. Dicionário de termos de marketing: Definições, conceitos e palavras-chaves de marketing, propaganda, pesquisa, comercialização, comunicação e outras áreas correlatas a estas atividades. 2.ed. São Paulo: Atlas. 1997. 354p. 15. MINAS, Vitor. Reportagem de uma morte anunciada. Porto Alegre: Tchê, 1988, 190p. 16. MANUAL de Segurança das Empresas Rio Deserto. Criciúma, 2001, 44p. 17. OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de Metodologia Cientifica. 2.ed. São Paulo: Pioneira, 1999. 286 p. 18. PIZA, Fábio de Toledo. Conhecendo e Eliminando Riscos no Trabalho.. São Paulo: CNI, 1999, 100p. 19. PGR - Programa de Gerenciamento de Riscos – Empresas Rio Deserto, Mina Barro Branco – 2 ed. Lauro Muller, Junho 2003, 29p. 20. ZOCCHIO, Álvaro. Prática da Prevenção de Acidentes: ABC da Segurança do Trabalho. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1996, 186p. 128 ANEXO 129 ANEXO QUESTIONÁRIO 1) A atividade que você desenvolve no processo de extração de carvão é considerada: ( ) Alto risco ( ) Risco intermediário ( ) Baixo risco ( ) Sem riscos 2) Grau de escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Até 1ª a 4ª série do ensino Fundamental ( ) Da 5ª à 8ª série do ensino Fundamental ( ) Do 1º ao 3º ano do ensino Médio ( ) Superior 130 3) Tempo de atividade: ( ) Até 1 ano ( ) De 1 a 5 anos ( ) De 5 a 10 anos ( ) De 10 a 15 anos ( ) Superior a 15 anos 4) Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado 5) Idade: ( ) de 21 à 25 anos ( ) de 25 à 30 anos ( ) de 30 à 40 anos ( ) de 40 à 50 anos 131 6) O que levou você a escolher trabalhar em uma atividade de alto risco? ( ) Falta de opção ( ) Influência de terceiros (Pais, parentes, amigos) ( ) Vantagens oferecidas (Aposentadoria especial, salário acima da média regional, jornada de trabalho reduzida) ( ) Poucas exigências na contratação 7) Você acredita que a Empresa investe em segurança por qual razão? ( ) Obrigatoriedade para cumprir a legislação trabalhista ( ) Preocupar-se realmente com a saúde e a segurança do trabalhador ( ) Visa evitar prejuízos e ações trabalhistas 8) Se você tivesse oportunidade para trabalhar em outra atividade que não fosse tão perigosa, você aceitaria? ( ) Sim ( ) Não ( ) Gostaria, mas uma razão mais forte impede-me. 9) Que tipo de incentivo, você acredita ser o de maior força para manter o trabalhador em uma atividade de risco? (pergunta descritiva).