CESAR HENRIQUE FERREIRA AMENDOLA Análise das estratégias de troca de marchas da transmissão automática convencional em comparação com a transmissão de dupla embreagem Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Automotiva. São Paulo 2005 título de Mestre em Engenharia CESAR HENRIQUE FERREIRA AMENDOLA Análise das estratégias de troca de marchas da transmissão automática convencional em comparação com a transmissão de dupla embreagem Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Engenharia Automotiva. Área de Concentração: Engenharia Automotiva Orientador: Prof. Dr. Marcelo Augusto Leal Alves São Paulo 2005 FICHA CATALOGRÁFICA Amendola, Cesar Henrique Ferreira Análise das estratégias de troca de marchas da transmissão automática convencional em comparação com a transmissão de dupla embreagem / Cesar Henrique Ferreira Amendola; orient. Marcelo Augusto Leal Alves -- São Paulo, 2005. 133 p. Monografia (Mestrado Profissionalizante) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia Mecânica 1. Veículos rodoviários 2. Engenharia automotiva 3. Transmissões automáticas I. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia Mecânica II.t DEDICATÓRIA A Luciana Imamura Amendola, minha esposa, que vivenciou cada etapa do árduo trabalho de adquirir conhecimento. Que com paciência soube superar os dias de ausência. Que com dedicação ímpar fortaleceu-me e incentivou-me na busca contínua do objetivo traçado. E que no passar do tempo compartilhará comigo da transformação de conhecimento em sabedoria. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Marcelo Augusto Leal Alves, pela atenção e orientação na trajetória para a obtenção do conhecimento e na elaboração deste trabalho. Ao Eng. Claudio Castro, por tornar possível a realização deste processo. Aos meus colegas de trabalho da LuK do Brasil, em especial ao Eng. Alfons Wagner e ao Eng. Daniel Destro pelas discussões em torno deste trabalho. Ao colega Alexander Schweizer da LuK Alemanha, pela sugestão do tema e o suporte nas horas necessárias. Aos colegas da General Motors do Brasil, em especial aos engenheiros Daniel Gama Florêncio, Euglen Assis e David Torres, pelas discussões e sugestões e pelos recursos fornecidos. “Cada homem tem seu lugar no mundo e no tempo que lhe é concedido. Sua tarefa nunca é maior que sua capacidade para poder cumpri-la. Ela consiste em preencher seu lugar, em servir a verdade e aos homens.” (João Guimarães Rosa) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 17 1.1. Objetivo principal ........................................................................................................................ 17 1.2. Divisão do trabalho ..................................................................................................................... 17 1.3. Revisão sobre transmissões ...................................................................................................... 18 1.3.1. Breve histórico do desenvolvimento de transmissões ............................................................ 19 2 TIPOS DE TRANSMISSÕES E APLICAÇÕES ......................................................................... 20 2.1. Tipos de transmissões................................................................................................................ 20 2.2. Configurações longitudinais e transversais ................................................................................ 21 2.3. Transmissões manuais de 6 velocidades .................................................................................. 23 2.4. Automatização de transmissões manuais .................................................................................. 24 2.5. Transmissões de embreagem dupla .......................................................................................... 25 2.6. Transmissões automáticas com maior número de marchas...................................................... 26 2.7. Transmissões continuamente variáveis (TCV)........................................................................... 27 2.8. Resumo ...................................................................................................................................... 28 3 PRINCIPAIS COMPONENTES DA TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA ...................................... 31 3.1. Conversor de torque ................................................................................................................... 31 3.1.1. Princípio básico de funcionamento ......................................................................................... 31 3.1.2. Principais componentes de um conversor de torque.............................................................. 32 3.1.3. Princípio de funcionamento .................................................................................................... 33 3.1.4. Características do conversor de torque .................................................................................. 36 3.1.5. Terminologia de um conversor de torque ............................................................................... 37 3.1.6. Conversor de torque de vários estágios ................................................................................. 38 3.1.7. Conversor de torque com embreagem de travamento ........................................................... 39 3.1.8. Recomendações ..................................................................................................................... 40 3.2. Fluido da transmissão automática.............................................................................................. 41 3.3. Embreagens e freios................................................................................................................... 41 i 3.3.1. Embreagens ............................................................................................................................ 41 3.3.2. Freios ...................................................................................................................................... 42 3.4. Conjunto de redutores planetários ............................................................................................. 43 3.5. Embreagem de travamento ........................................................................................................ 46 3.5.1. Descrição da embreagem de travamento............................................................................... 46 3.5.2. Controle da embreagem de travamento ................................................................................. 46 3.6. Embreagens de roda livre .......................................................................................................... 47 3.7. Controle hidráulico...................................................................................................................... 48 3.7.1. Unidade de controle hidráulico ............................................................................................... 48 3.7.2. Unidade de controle eletrônico da transmissão...................................................................... 48 3.7.3. Programa de controle.............................................................................................................. 49 3.7.4. Sensores de sinais de entrada da transmissão ...................................................................... 50 3.8. Descrição e função das válvulas eletro-hidráulicas ................................................................... 50 3.8.1. Válvulas solenóides (eletromagnéticas) VS-1,VS-2 e VS-3 ................................................... 50 3.8.2. Válvulas de controle eletrônico de pressão (VCEP-1, VCEP-2, VCEP-3 e VCEP-4) ............ 51 3.9. Descrição e funcionamento da bomba e das válvulas de controle ............................................ 52 3.9.1. Bomba..................................................................................................................................... 52 3.9.2. Válvula seletora de posição (VSP) ......................................................................................... 53 3.9.3. Válvula de pressão principal (VPP) ........................................................................................ 53 3.9.4. Válvula redutora de pressão (VRP-1) ..................................................................................... 53 3.9.5. Válvula redutora de pressão (VRP-2) ..................................................................................... 53 3.9.6. Válvula moduladora de pressão (VMODP)............................................................................. 53 3.9.7. Válvula de troca de marchas (VTM-1, VTM-2 e VTM-3) ........................................................ 54 3.9.8. Válvula da marcha reversa (VMR) .......................................................................................... 54 3.9.9. Válvulas de embreagens e freios (VE-A, VE-B, VE-C, VE-D/ VF-E, VF-F e VF-G) ............... 54 3.9.10. Válvulas de retenção (VR-E e VR-G).................................................................................. 54 3.9.11. Válvula de tração / freio (VTF) ............................................................................................ 54 3.9.12. Válvula de tração (VT(4-5)) ................................................................................................. 55 3.9.13. Válvula de tração (VT(5-4)) ................................................................................................. 55 3.9.14. Válvula conversora de pressão (VCP) ................................................................................ 55 ii 3.9.15. Válvula de controle da pressão do conversor (VCPC)........................................................ 55 3.9.16. Válvula conversora da embreagem de travamento (VCET) ............................................... 55 3.9.17. Válvula de pressão de lubrificação (VPL) ........................................................................... 56 3.10. Descrição da operação da unidade de controle eletro-hidráulica .......................................... 56 3.10.1. Posição neutra ou estacionamento ..................................................................................... 56 3.10.2. Primeira marcha .................................................................................................................. 57 3.10.3. Segunda marcha ................................................................................................................. 57 3.10.4. Terceira marcha .................................................................................................................. 58 3.10.5. Quarta marcha..................................................................................................................... 58 3.10.6. Quinta marcha ..................................................................................................................... 59 3.10.7. Marcha reversa.................................................................................................................... 59 4 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DA TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA ............................... 61 4.1. Princípio de funcionamento ........................................................................................................ 61 4.1.1. Fluxo de força individual para cada marcha ........................................................................... 62 4.1.2. Primeira marcha...................................................................................................................... 62 4.1.3. Segunda marcha..................................................................................................................... 63 4.1.4. Terceira marcha ...................................................................................................................... 64 4.1.5. Quarta marcha ........................................................................................................................ 65 4.1.6. Quinta marcha......................................................................................................................... 66 4.1.7. Marcha reversa ....................................................................................................................... 67 5 TROCAS DE MARCHAS NA TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA................................................ 69 5.1. Controle hidráulico...................................................................................................................... 69 5.2. Controle da embreagem ............................................................................................................. 69 5.3. Trocas de marcha ascendentes com carga ............................................................................... 73 5.4. Trocas de marcha descendentes com carga ............................................................................. 74 5.5. Programas de troca de marcha .................................................................................................. 75 6 A TRANSMISSÃO DE DUPLA EMBREAGEM ......................................................................... 79 6.1. Introdução ................................................................................................................................... 79 6.2. Transmissões de dupla embreagem .......................................................................................... 80 iii 6.3. Consumo de combustível ........................................................................................................... 84 6.4. Interação com o motor................................................................................................................ 86 6.4.1. 6.5. 6.5.1. Informações do motor ............................................................................................................. 86 Trocas de marchas ..................................................................................................................... 88 Intervenção do motor .............................................................................................................. 88 6.6. Torque requisitado pelo motorista .............................................................................................. 90 6.7. Proteção da embreagem através da interação com o motor. .................................................... 92 6.8. Arrancada ................................................................................................................................... 92 6.9. Manobra de estacionamento ...................................................................................................... 93 7 Estudo comparativo das transmissões nas trocas de marchas ......................................... 95 7.1. Transmissão automática ............................................................................................................ 95 7.1.1. Características da transmissão automática ............................................................................ 95 7.1.2. Características do veículo de teste......................................................................................... 96 7.1.3. Característica de troca de marcha.......................................................................................... 97 7.2. Transmissão de dupla embreagem .......................................................................................... 100 7.2.1. Características da transmissão de dupla embreagem ......................................................... 100 7.2.2. Características do veículo de teste....................................................................................... 101 7.2.3. Característica de troca de marcha........................................................................................ 101 7.3. Métodos de análise................................................................................................................... 105 7.4. Considerações e simplificações ............................................................................................... 108 7.5. Avaliação dos resultados.......................................................................................................... 109 7.5.1. Razão de forças .................................................................................................................... 109 8 CONCLUSÃO........................................................................................................................... 116 9 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 118 10 ANEXOS................................................................................................................................... 121 10.1. Anexo 1: Embreagens secas: componentes, construções e diagramas .............................. 121 10.2. Anexo 2: Código fonte MATLAB ........................................................................................... 123 iv LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Transmissão e motor em linha instalado longitudinalmente (WAGNER, 2001) ................... 21 Figura 2 - Linha de transmissão longitudinal dianteiro (WAGNER, 2001) ............................................ 21 Figura 3 - Variante mais comum de tração integral. (WAGNER, 2001) ............................................... 22 Figura 4 - Linha de transmissão dianteiro transversal. (WAGNER, 2001) ........................................... 22 Figura 5 – Configuração em formato “U”. (WAGNER, 2001) ................................................................ 22 Figura 6 - Configuração de tração integral derivada da disposição transversal da linha de transmissão. (WAGNER, 2001) .................................................................................................................................. 23 Figura 7 – Sistema Selespeed que equipa o Alfa Romeu 156. (WAGNER, 2001)............................... 25 Figura 8 - Transmissão de embreagem dupla da Daimler-Chrysler. (WAGNER, 2001) ...................... 25 Figura 9 - Transmissão automática ZF 6 HP 26. (WAGNER, 2001)..................................................... 26 Figura 10 - TCV Audi para motor 6 cilindros de 2,8 l. (WAGNER, 2001) ............................................. 27 Figura 11 – Partes de um conversor de torque (esquerda para direita): turbina, estator e bomba. (NICE, 2005).......................................................................................................................................... 32 Figura 12 – Componentes do conversor de torque conectados a transmissão e ao motor (NICE, 2005) ............................................................................................................................................................... 32 Figura 13 – Bomba de um conversor de torque (NICE, 2005).............................................................. 33 Figura 14 –Turbina de um conversor de torque (NICE, 2005) .............................................................. 34 Figura 15 – Princípio de funcionamento do conversor de torque (HEISLER, 2002) ............................ 35 Figura 16 – Estator de um conversor de torque (NICE, 2005).............................................................. 35 Figura 17 – Curvas características de desempenho (HEISLER, 2002 )............................................... 36 Figura 18 – Curvas características de desempenho (HEISLER, 2002 )............................................... 37 Figura 19 – Conversor de torque com embreagem de travamento (HEISLER, 2002 ) ........................ 39 Figura 20 – Curvas características de desempenho do conversor com embreagem de travamento. (HEISLER, 2002) ................................................................................................................................... 40 Figura 21 – Embreagem de uma transmissão (NICE, 2005) ................................................................ 42 Figura 22 – Os discos de embreagem (NICE, 2005) ............................................................................ 42 Figura 23 – Freio da transmissão automática (NICE, 2005) ................................................................. 42 Figura 24 – Os pistões que acionam o freio (NICE, 2005) ................................................................... 43 Figura 25 – Redutor planetário simples (GRETZMEIER; STAUDT; BLÜML, 1999)............................. 44 v Figura 26 – Conjunto Ravigneaux ......................................................................................................... 45 Figura 27 – Esquemático do Conjunto Simpson (GRETZMEIER; STAUDT; BLÜML, 1999) ............... 46 Figura 28 – Embreagem de roda livre de diâmetro simples de rolo (HEISLER, 2002) ........................ 48 Figura 29 – Sistema de controle eletrônico básico (HEISLER, 2002) .................................................. 49 Figura 30 – Sistema de controle eletro-hidráulico da transmissão – posição neutro (HEISLER, 2002) ............................................................................................................................................................... 51 Figura 31 – Característica da pressão de controle em função da corrente de controle (HEISLER, 2002)...................................................................................................................................................... 52 Figura 32 – Bomba de engrenagens internas (NICE, 2005) ................................................................. 53 Figura 33 – Transmissão Automática ZF de 5 marchas e um reversa (transaxial/ longitudinal). (HEISLER, 2000) ................................................................................................................................... 61 Figura 34 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 1ª marcha (HEISLER, 2000)....................... 63 Figura 35 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 2ª marcha (HEISLER, 2000)....................... 64 Figura 36- Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 3ª marcha (HEISLER, 2000)........................ 65 Figura 37 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 4ª marcha (HEISLER, 2000)....................... 66 Figura 38 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 5ª marcha (HEISLER, 2000)....................... 67 Figura 39 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas –marcha reversa (HEISLER, 2000) ............... 68 Figura 40 – Característica da troca ascendente: a) característica de rotação do motor; b) característica de pressão das embreagens; c)característica de transmissão de torque (MARTIN; REDINGER; DOURRA, 2000)............................................................................................................... 70 Figura 41 –Seqüência de troca controlada por eventos da ZF 5PH24 (SCHERER; GIERER, 2000).. 72 Figura 42 – Troca de marcha 2-3. Tempo em segundos (MARTIN; REDINGER; DOURRA, 2000).... 73 Figura 43 – Troca de marcha descendente 4-2. Tempo em segundos (MARTIN; REDINGER; DOURRA, 2000). ................................................................................................................................... 75 Figura 44 – Programa dinâmico de troca de marchas .......................................................................... 76 Figura 45 – Estrutura do TDE (KÜPPER, et al., 2004) ......................................................................... 80 Figura 46 – Embreagem dupla para motores de até 320 Nm (KÜPPER, et al., 2004) ........................ 81 Figura 47 – Canais amplos permitem a livre seleção de marchas (KÜPPER, et al., 2004) ................. 82 Figura 48 – Geometria de desengate do mecanismo de “troca de marcha ativa” (KÜPPER, et al., 2004)...................................................................................................................................................... 83 Figura 49 – Ponto de operação do motor e razão de transmissão (KÜPPER, et al., 2004)................. 84 Figura 50 – Perdas na embreagem e energias auxiliares (KÜPPER, et al., 2004) .............................. 85 Figura 51 – Consumo de combustível em diferentes tipos de transmissão (KÜPPER, et al., 2004) ... 86 vi Figura 52 – Curva característica da embreagem seca. (KÜPPER, et al., 2004) .................................. 87 Figura 53 – TDE troca de marcha ascendente com carga (KÜPPER, et al., 2004) ............................. 89 Figura 54 – Torque requisitado pelo motorista (KÜPPER, et al., 2004) ............................................... 91 Figura 55 – Influencia do mapa de pedal na arrancada (KÜPPER, et al., 2004) ................................. 93 Figura 56 – Esquemático da Transmissão Aisin AW 50-4-Speed (OZAKI et al., 2000) ....................... 95 Figura 57 – Seqüência de troca de marchas da transmissão automática ............................................ 98 Figura 58 – Detalhe da troca de marcha 2 à 3 .................................................................................. 100 Figura 59 – Seqüência de troca de marchas da TDE ......................................................................... 102 Figura 60 – Detalhe da troca de marcha 1 à 2 .................................................................................. 104 Figura 61 – Transferência da potência fornecida pelo motor para as rodas (GILLESPIE, 1992) ...... 106 Figura 62 – Razão de torque do conversor de torque (Heisler, 2002)................................................ 106 Figura 63 – Fator de forças para TDE na faixa de torque do motor de 100 à 120Nm........................ 110 Figura 64 – Tempos típicos de troca para AT e TDE.......................................................................... 111 Figura 65 – Razão de forças para trocas de marcha entre 100 à 120Nm .......................................... 112 Figura 66 – Razão de forças para trocas de marcha entre 100 à 120Nm .......................................... 113 Figura 67 – Razão de forças para trocas de marcha a plena carga ................................................... 114 Figura 68 – Valores de razão de forças para diversos pedais............................................................ 115 Figura 69 – Embreagem seca: esquema de funcionamento e componentes..................................... 121 Figura 70 – Disco de embreagem ....................................................................................................... 122 vii LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Breve histórico do desenvolvimento de transmissões (LECHNER; NAUNHEIMER, 1994) 19 Tabela 2 - Sistemas de transmissão preferenciais. (WAGNER, 2001) ................................................ 29 Tabela 3 – Relações de marcha para um conjunto de engrenagem planetária simples. (BOSCH, 1999) ............................................................................................................................................................... 44 Tabela 4 – Transmissão automática eletro-hidráulica. Seqüência de acionamento das válvulas de controle, freios e embreagens para diversas relações de marcha. ...................................................... 56 Tabela 5 – Aplicação das válvulas solenóides, embreagens e freios e relações de marcha (OZAKI et. al, 1995)................................................................................................................................................. 96 Tabela 6 – Relações de marcha da transmissão de dupla embreagem............................................. 100 Tabela 7 – Avaliação do conforto em troca segundo o valor relativo da razão de forças .................. 112 Tabela 8 – Avaliação do conforto em troca segundo o valor relativo da razão de forças .................. 113 Tabela 9 – Avaliação do conforto em troca segundo o valor relativo da razão de forças .................. 114 viii RESUMO Dos diversos tipos de transmissões para veículos de passageiros existentes, dois deles encontram-se em posição antagônica na história do desenvolvimento do automóvel. Por um lado a transmissão automática convencional, de acionamento e atuação hidráulicos, possui mais de 60 anos de desenvolvimento e utilização no mercado. Apesar disso, observa-se nos últimos anos um crescimento em sua demanda e um movimento para o seu aperfeiçoamento, visando maior conforto, menor consumo de combustível e atender as rígidas imposições de emissões de gases poluentes. Por outro lado, a transmissão de dupla embreagem encontra-se em pleno desenvolvimento. Embora ainda existam poucas aplicações no mercado, acredita-se que este tipo de automatização da transmissão mecânica convencional deva suprir as vantagens apresentadas pela transmissão automática convencional sem com isso apresentar suas desvantagens. Os sistemas em estudo nesta investigação possuem modos de funcionamento bastante distintos, a começar pelos componentes utilizados. A transmissão automática é dotada de conversor de torque, engrenagens planetárias e embreagens multi-discos, enquanto a transmissão de dupla embreagem é formada por engrenagens convencionais distribuídas de uma forma peculiar, onde uma embreagem serve as marchas ímpares e a outra embreagem as marchas pares, ambas com acionamento por meio de um atuador eletro-hidráulico, sendo as marchas selecionadas através de motores elétricos. O aprimoramento de uma e o desenvolvimento de ambas é factível devido ao desenvolvimento da microeletrônica que permitiu a implantação de estratégias de controle mais avançadas. Este trabalho dá ênfase ao comportamento das transmissões em trocas de marcha ascendentes. Este trabalho procurou estabelecer um paralelo entre os dois sistemas de transmissão. Primeiramente caracterizando detalhadamente cada sistema individualmente e posteriormente comparando as respostas quanto ao funcionamento em áreas específicas de transmissão de torque. Para realização desta comparação elaborou-se um índice intitulado de razão de forças, que estabelece um critério de avaliação baseado na razão entre a força trativa máxima, ou ideal transferida as rodas e a força trativa real, ou seja, aquele efetivamente disponível na roda. Os resultados obtidos apontam para trocas confortáveis e de comportamento dinâmico semelhante. No entanto, por a transmissão de dupla embreagem utilizada tratar-se de um protótipo no início da fase de calibração, existe um potencial de melhoria significativo. A automatização na indústria automobilística, seja em processos ou em produtos, é uma necessidade devido ao concorrido mercado e a rígidas imposições legais. A automatização de transmissões visa gerar um diferencial capaz de atender ambas as ix necessidades, permitindo ao consumidor mais uma opção de escolha, o que pode ser traduzido em vantagem competitiva. x ABSTRACT From the several kind of transmission available for passenger vehicles, two of then find themselves in antagonistic position in the automobile development history. In one side the conventional automatic transmission, with more then 60 years of development and use which in the last years experiments a growth in its demand and a movement for its improvement aiming more comfort, less fuel consumption, and to attain the rigid impositions of exhausting gasses reduction. On the other side, the double clutch transmission is in its early development, where just a feel applications can be found on the market. But it is expected that this kind of transmission automatization can offer the advantages of the automatic transmission, without its disadvantages. The two systems under analysis in this work have a very different way of work. The conventional automatic transmission has 3 major elements, the torque converter, the planetary gear set and the multi-disc clutches and brakes, while the double clutch transmission arises from a conventional mechanical manual transmission, but it has a singular way of gear assembly, where one clutch acts over the even gears and the other on over the odd gears. Both clutches are actuated by an electrical-hydraulic devise and the gear shifts are provided by electrical motors. The improvement of the automatic transmission and the development of the double clutch transmission were only possible due to the progress of the microelectronics that allowed the implementation of more accurated control strategies, especially for the gear shift process. This work gives emphasis in the analysis of the transmissions behavior during up shifts. First of all, it was done a detailed description of each kind of transmission system and after that a comparison between its ways of work for several areas of engine torque. To perform this comparison it was proposed a factor, called force ratio, based on the maximal or ideal tractive force that can be transmitted to the wheels and the tractive force really existent on the wheels. The results obtained pointed out that both systems have similar dynamic behavior and comfortable gear shifts. However, the double clutch transmission used is still under development and has a potential to be improved. The automation in the automotive industry, whether in process or in products, is a necessity due to the aggressive market competition and the legal requirements. The transmission automatization aims to provide one more option, what can be translated in competition advantage. xi 17 1 INTRODUÇÃO 1.1. Objetivo principal Este trabalho tem por objetivo apresentar de forma detalhada o funcionamento de dois tipos de sistemas de transmissão utilizados em veículos de passageiros: a transmissão automática de atuação e controle hidráulicos (chamada de transmissão automática) e a transmissão mecânica automatizada de atuação e controle eletro – hidráulico (chamada de transmissão de dupla embreagem), cujo princípio de funcionamento baseia-se na utilização de duas embreagens secas. O estudo volta-se então para o a questão primordial da automatização de transmissões, o conforto em trocas de marcha. O trabalho visa então descrever o funcionamento das transmissões sob análise durante as trocas de marchas e estabelecer critérios comparativos objetivos da perturbação causada neste processo. 1.2. Divisão do trabalho No capítulo 2 é apresentado um descritivo de diversos tipos de transmissões amplamente utilizados em automóveis. Pretende-se com isto, familiarizar o leitor com o tema chave deste trabalho e demonstrar, na visão do autor, quais as perspectivas futuras para utilização destes sistemas, principalmente aqueles em questão nesta dissertação. O capítulo 3 inicia o estudo da transmissão automática através da descrição de seus componentes básicos; o conversor de torque, as engrenagens, as embreagens, os freios, os dispositivos hidráulicos e sua forma de atuação conjunta. Desta forma obtém-se uma compreensão integral do seu funcionamento, vantagens e limitações. O capítulo 4 descreve o princípio de funcionamento da transmissão automática quando da realização de trocas de marcha, para por fim, no capítulo 5, avaliar em detalhes as fases da troca. O capítulo 6 descreve a transmissão automatizada de dupla embreagem desenvolvida pela empresa LuK na Alemanha. Este capítulo condensa toda a informação necessária sobre os seus componentes e o seu princípio de funcionamento, assim como investiga as fases de troca de marcha. A opção de introduzir estas informações em um único capítulo se faz devido a escassez de informação publicável, devido ao sistema encontrar-se neste momento em desenvolvimento e não haver ainda aplicações comercias disponíveis. 18 O capítulo 7 apresenta o método determinado para a comparação das transmissões em análise no instante de trocas de marchas. Pretende-se com isto examinar com isto, de forma objetiva, a perturbação causada em ambos e concluir sobre formas de aperfeiçoamento do novo sistema desenvolvido pela LuK. Por fim, o capítulo 8 encerra o trabalho apresentando as conclusões obtidas com o conhecimento adquirido inerente ao estudo realizado. 1.3. Revisão sobre transmissões Qualquer tipo de veículo necessita de algum tipo de transmissão para converter um torque fornecido em rotação, e conseqüentemente em movimento de alguma parte do mesmo. A tarefa principal da transmissão em um automóvel é converter de forma o mais ideal possível, o torque fornecido pelo motor em força trativa, de forma a movimentar o veículo a diferentes velocidades. O desenvolvimento de uma transmissão deve visar o melhor compromisso possível entre as relações de marchas, a capacidade de aceleração e de vencer obstáculos, assim como o menor consumo de combustível e o menor nível de emissões de gases poluentes. Não se espera inovações nos fundamentos das transmissões já existentes, mas sim uma evolução gradual das tecnologias existentes baseadas nas relações com o ambiente ó o veículo óa transmissão. As principais alterações observadas recentemente são decorrentes do uso da eletrônica no processo de controle, atuação e supervisão da transmissão. 19 1.3.1. Breve histórico do desenvolvimento de transmissões O desenvolvimento recente de transmissões para automóveis pode ser observado na seguinte tabela. Aprox. 1784 até 1884 Reconhecimento que as características de torque e rotação de máquinas a vapor e de combustão interna em veículos devem ser adaptadas as necessidades de desempenho através da utilização de transmissões Aprox. 1884 até 1914 Princípio do conversor de torque. Juntamente com transmissões de engrenagens foram realizadas tentativas de construção de várias outras formas de transmissões, tais como: com correntes, disco de fricção, e correia; transmissões hidráulicas e pneumáticas; com interrupção de torque/aceleração e especialmente sem interrupção. Aprox. 1914 até 1980 Transmissões de engrenagens com interrupção de torque são predominantes devido ao seu elevado rendimento e capacidade de transmissão de torque. A afirmação da filosofia de uma transmissão comum que possa facilmente ser utilizada em diversos veículos através de uma adaptação simples. O desenvolvimento nestas décadas ocorreu em áreas como durabilidade, confiabilidade, ruído e qualidade de trocas (sincronização, transmissões automáticas convencionais, trocas sem interrupção de torque, automatização com controle eletrônico). O número de marchas e o tipo de transmissões cresceram. Aprox. 1980 até hoje O desafio no desenvolvimento de transmissões é a redução no consumo de combustível e nas emissões de gases poluentes. Uso de transmissões com 5 e 6 marchas em transmissões manuais mecânicas. Transmissões automáticas convencionais possuem mais marchas e o conversor de torque possui uma embreagem de travamento. Renascença do desenvolvimento de transmissões sem interrupção de torque (transmissões continuamente variáveis). Elaboração de alternativas para o conjunto motor e transmissão para veículos elétricos e híbridos. Tabela 1 – Breve histórico do desenvolvimento de transmissões (LECHNER; NAUNHEIMER, 1994) 20 2 TIPOS DE TRANSMISSÕES E APLICAÇÕES 2.1. Tipos de transmissões Há alguns anos atrás, as configurações em veículos de passageiro do conjunto motor e transmissão, que aqui será denominado linha de transmissão, poderiam ser classificados em dois grupos: com motor e transmissão longitudinal em linha posicionado a frente do veículo tracionando as rodas traseiras, ou um segundo com motor transversal a frente do veículo tracionando as rodas dianteiras. Outras configurações de linha de transmissão, tal como motor traseiro com rodas traseiras tracionadas, eram casos especiais. As transmissões ou eram manuais, ou automáticas com 4 ou 5 marchas. Recentemente, a diversificação e a ampliação do mercado de carros de passageiros levaram a novas configurações de linhas de transmissões e transmissões propriamente ditas. Em paralelo, o crescente comprometimento com o consumo de combustível e com a redução das emissões de gases poluentes, assim como melhor desempenho e conforto requereram novas soluções em transmissões. As transmissões manuais possuem hoje, em alguns casos, mais de 6 marchas, com a automatização sendo implementada em áreas como atuação da embreagem e troca de marchas. A seleção automática de marchas, tanto por alavanca ou por botões no volante, tanto como por modo totalmente automático, é possível agora através de sistemas de controle denominados como shift-by-wire. Enquanto transmissões automáticas de atuação e controle hidráulicos comuns nos Estados Unidos normalmente possuem 4 velocidades, a maioria dos veículos europeus e asiáticos possui 5 velocidades – e a introdução de 6 ou 7 velocidades é uma realidade, como as transmissões recentemente lançadas pela Toyota (A761E) de 6 velocidades e a de 7 velocidades lançada pela Mercedes-Benz (JOST, 2004). Para veículos com torque de saída baixo para moderado, ou seja até 200 Nm, uma transmissão continuamente variável (TCV), é uma opção interessante. O desenvolvimento do TCV está agora voltado na capacidade de transferir torque elevado para possibilitar o uso da tecnologia em veículos médios, como a aplicação desenvolvida pela ZF para motores de até 310Nm. Transmissões do tipo toroidal são novidades para veículos com torque elevado dotados de motores de 8 e 12 cilindros e possuem aplicação restrita a poucos modelos. Nos parágrafos a seguir será descrita uma revisão das implicações de vários sistemas de transmissões baseada na demanda futura do mercado de carros de passeio, descrevendo a área de aplicação dos tipos de transmissões para várias configurações de linhas de transmissão. 21 2.2. Configurações longitudinais e transversais Este tipo de configuração é o padrão para veículos de tração traseira, encontrados na maioria dos modelos Jaguar, BMW e Mercedes-Benz. Trata-se de uma combinação de transmissão e motor em linha instalado longitudinalmente (Figura 1). Figura 1 - Transmissão e motor em linha instalado longitudinalmente (WAGNER, 2001) Neste caso, um eixo transfere torque da saída da transmissão para um outro eixo com um diferencial integrado, o qual transfere o torque para as rodas. A linha de transmissão longitudinal dianteira é composta por motor e transmissão em linha instalados longitudinalmente em veículos de tração dianteira (Figura 2). Figura 2 - Linha de transmissão longitudinal dianteiro (WAGNER, 2001) A linha de transmissão longitudinal traseira, com motor e transmissões traseiros e tração traseira, corresponde a linha de transmissão longitudinal dianteira da Figura 2, mas no sentido oposto. A utilização mais proeminente desta configuração é a do Volkswagem (VW) Fusca original, enquanto uma variação é a instalação dos motores no Porsche Boxster. Variantes com trações integrais, conhecidas no mercado pela denominação allwheel-drive, podem ser derivadas de todos as linhas de transmissões longitudinais existentes. A versão mais comumente utilizada é da linha de transmissão padrão com uma flange de transferência na saída da transmissão (Figura 3). Nesta configuração, uma caixa de câmbio de transferência transmite o torque de saída através de eixos motrizes para os eixos dianteiros e traseiros e estes finalmente para as rodas. Exemplos típicos desta 22 configuração são picapes leves e SUV (Sport Utilility Vehicles). Figura 3 - Variante mais comum de tração integral. (WAGNER, 2001) A linha de transmissão dianteira transversal faz uso de um conjunto motor e transmissão em linha instalado transversalmente e de tração dianteira (Figura 4) Figura 4 - Linha de transmissão dianteiro transversal. (WAGNER, 2001) O eixo de tração e o diferencial estão integrados na transmissão, com a tração das rodas proveniente diretamente das hastes do flange montada em ambos os lados da transmissão. A posição do eixo fica atrás da árvore de manivelas. Esta configuração é comumente empregada em veículos pequenos e médios e alcança o segmento superior. Um exemplo é a grande maioria de veículos produzidos no Brasil, tais como, Celta, Astra e Vectra respectivamente três veículos da General Motors do Brasil. Uma variação especial desta linha de transmissão é conhecida como formato em “U”, na qual a transmissão localiza-se atrás do motor. (Figura 5). Figura 5 – Configuração em formato “U”. (WAGNER, 2001) 23 Esta configuração é comum a veículos que possuem motores de grande dimensão, tais como motores de 10 a 12 cilindros em formato “V” e que não possuem espaço suficiente para uma composição de motor e transmissão em linha. Nesta configuração, a entrada na transmissão está no centro da árvore de manivelas e é conectada a esta através de uma corrente. Exemplos são veículos grandes da Ford e General Motors (GM) nos Estados Unidos. A linha de transmissão transversal traseira, com motor e transmissão instalados transversalmente na parte traseira e também de tração traseira, corresponde a linha de transmissão transversal dianteira da figura 4 mas com a direção de tração invertida. Esta linha de transmissão é rara e é encontrada hoje em veículos do segmento mini tais como, o veículo smart da DaimlerChrysler. Variantes com tração integral podem ser também derivadas de linha de transmissões transversais dianteiras e traseiras, através do projeto de dispositivo de acionamento dependentes do sistema de tração integral utilizado. A maioria das variantes utiliza uma haste de saída adicional para o seu acionamento a partir da transmissão (Figura 6). Figura 6 - Configuração de tração integral derivada da disposição transversal da linha de transmissão. (WAGNER, 2001) 2.3. Transmissões manuais de 6 velocidades Motores instalados longitudinalmente são, na maioria dos casos, utilizados em carros de passeio dos segmentos médios e superiores. Em alguns casos, muitos fabricantes não oferecem transmissões manuais para este segmento, exceto em veículos esportivos. Duas tendências predominantes no mercado mundial afetam o projeto de transmissões manuais: motores diesel de fornecimento de torque elevado, os quais estão disponíveis principalmente na Europa e que requerem capacidades de transferência de torque muito superior do que foi o caso até então; e a necessidade de maior eficiência no 24 consumo de combustível e emissões de gases poluentes. Este fatores direcionam a utilização de transmissões de 6 velocidades à frente. E ao contrário do que afirma WAGNER (2001, p.54) veículos com esta configuração tem avançado em especial no mercado Europeu para veículos com motores diesel, exemplos são os VW Golf e o Audi A3, entre outros. 2.4. Automatização de transmissões manuais Uma transmissão manual automatizada (TMA) é diferenciada da versão manual na qual se baseia por não requerer a atuação da embreagem e , em alguns casos, a troca de marcha pelo motorista. Estas funções ocorrem através de sistemas hidráulicos ou motores elétricos, ambos com auxílio da eletrônica. O pedal de embreagem torna-se obsoleto, com controle da embreagem dependendo da posição e movimento da alavanca de seleção. A conexão mecânica existente entre a alavanca de seleção e a transmissão é eliminada e a transmissão é controlada eletronicamente. Este dispositivo é conhecido comercialmente por shift-by-wire. Com as trocas de marchas implementadas por algoritmos na unidade de controle eletrônico da transmissão (UCE) , uma TMA pode executar trocas de marchas automaticamente. Comparado com uma transmissão automática, as vantagens do TMA incluem a capacidade do seu fabricante de utilizar as instalações existentes de fabricação das transmissões manuais, de forma a reduzir os custos de produção assim como fazer uso da sua maior eficiência e menor peso. Uma transmissão manual já existente pode ser modificada em uma TMA através da adição de componentes para automatização. No entanto, os gastos para automatização não devem ser subestimados. Um número substancial de componentes são necessário para omissão do acionamento da embreagem e da conexão mecânica entre a alavanca de mudanças e transmissão. Mesmo assim, o custo para o sistema TMA como um todo é cerca de 30% inferior do que aquele para uma transmissão automática. Devido aos componentes adicionais a automatização acrescenta cerca de 10% do peso de uma transmissão manual. Outra desvantagem dos sistemas TMA é a redução do conforto nas trocas de marcha quando comparado com transmissões automáticas, devido a necessidade de interrupção da tração durante a troca (FLORÊNCIO; AMENDOLA; ASSIS, 2004). Aplicações atuais incluem veículos da BMW, Mercedes-Benz, Alfa Romeu (Figura 7), e diversas aplicações da Opel (subsidiária da GM na Europa) e demais fabricantes. Aplicações TMA são predominantemente dirigidas para segmentos sensíveis ao custo como veículos pequenos (Corsa, Palio), comerciais leves e modelos intermediários de 25 entrada (Astra, Focus). Uma exceção são carros esportivos, no qual conforto é menos importante do que velocidade de troca e a imagem esportiva. Figura 7 – Sistema Selespeed que equipa o Alfa Romeu 156. (WAGNER, 2001) 2.5. Transmissões de embreagem dupla Transmissões de embreagem dupla (TED) são transmissões automáticas derivadas de transmissões manuais. A Figura 8 mostra um exemplo de um sistema de transmissão de 5 velocidades baseado nas atividades de desenvolvimento da Daimler-Chrysler. Figura 8 - Transmissão de embreagem dupla da Daimler-Chrysler. (WAGNER, 2001) O sistema em questão consiste de um conversor de torque que através das embreagens K1 e K2 determinam dois caminhos interligados para transmissão de torque: um para as marchas pares (A, B e C) e outro para as marchas ímpares (D, E e F). Ambos os eixos estão conectados ao eixo de saída. As trocas de marcha ocorrem através da sincronização do engate de um eixo e o desengate do outro eixo. A utilização de transmissões dotadas de embreagem dupla, tanto de acionamento 26 hidráulico como com acionamento elétrico é uma realidade e já encontra aplicações no mercado, como o VW Golf e o Audi TT, e diversos outros fabricantes desenvolvem neste instante suas aplicações. Este tipo de transmissão é um dos objetos de estudo deste trabalho. 2.6. Transmissões automáticas com maior número de marchas As transmissões automáticas atuais de 4 e 5 velocidades utilizadas em veículos com motores longitudinais fazem uso de conjuntos de redutores planetários com conversores de torque hidrodinâmicos como elemento de partida. Estas transmissões dominam os segmentos de veículos médios, de luxo, SUV e esportivos. A introdução de embreagens de travamento nos conversores de torque, controle eletrônico, aumento no número de marchas e numerosas otimizações de componentes contribuíram para uma redução significativa das perdas de potência das transmissões automáticas. Como resultado, a diferença no consumo de combustível relativo as transmissões manuais foi reduzida. Além do que, uma melhor qualidade de troca, obtida através da utilização de algoritmos de controle específicos para este fim, permite a adaptação da transmissão as condições específicas de dirigibilidade com o objetivo de melhorar o conforto ao dirigir. A introdução de transmissões de 5 velocidades no final dos anos 80, assim como a ampliação de suas funcionalidades, tal como modos de trocas manuais, elevaram o apelo por transmissões automáticas. Requisitos de redução no consumo de combustível e emissões de gases, de redução do tamanho e peso da transmissão e a necessidade crescente de proteção ambiental, conforto ao dirigir e desempenho levaram ao desenvolvimento de transmissões automáticas de 6 ou 7 velocidades. Vantagens da transmissão de 6 velocidades sobre a de 5 incluem redução no consumo de combustível de 5 a 6 %, redução das emissões, aceleração até 5% melhor, 13% de redução do peso e maior durabilidade. (JOST, 2004). A Figura 9 mostra a transmissão automática da ZF de 6 velocidades para motores com capacidade de torque maior que 600 Nm e uma relação de marcha total de 6,05. Figura 9 - Transmissão automática ZF 6 HP 26. (WAGNER, 2001) 27 A maioria das transmissões de 4 e 5 velocidades está instalada em linha com motor e cobrem uma faixa de torque de até 350Nm. Devido aos requisitos de torque, especialmente de motores diesel, novas transmissões são projetados para 450Nm ou mais. Para aplicações de menor torque em associação com motores de 4 cilindros as transmissões automáticas atuais possuem desenho semelhante a transmissões manuais com o sincronizador sendo substituído por embreagens molhadas. Por exemplo o Mercedes-Benz Classe A . A linha de transmissão transversal dianteira está tornando-se comuns em veículos de tamanho médio. A demanda para maior conforto e a tendência a maior capacidade de transmissão de torque faz com que os fabricantes ofereçam transmissões automáticas com maior número de marchas. 2.7. Transmissões continuamente variáveis (TCV) Em um TCV, “as trocas de marchas” são executadas através de um variador com reposicionamento axial de um par de discos de formato cônico entre o qual uma corrente ou correia transfere torque. A tendência do mercado no sentido de maior desempenho e o desenvolvimento de motores diesel de torque elevado aumentaram a necessidade da superação das limitações de transmissão de torque do TCV. Isto levou ao desenvolvimento de correias mais fortes e a aplicação de correntes em TCV’s capazes de transmitir até 350 N.m. (Figura 10) Figura 10 - TCV Audi para motor 6 cilindros de 2,8 l. (WAGNER, 2001) As TCV oferecem vantagens para configurações de linhas de transmissões longitudinais dianteiras. O espaço necessário entre a árvore de manivelas e a unidade transaxial é ocupado pelo variador. Isto resulta em um desenho relativamente direto com um elemento de partida (conversor de torque), conjunto planetário reverso e estágio de marchas para adaptação da transmissão, variador e eixo trans-axial integrado. A maior 28 desvantagem deste tipo de transmissão ainda é a sua limitada capacidade de torque. As principais razões para adoção de TCV em veículos de linha de transmissão transversal dianteira em conjunto com motores de 4 e 6 cilindros com capacidade volumétrica de 1.8 l a 2.8 l, é a grande capacidade de economia de combustível, a redução do nível de emissões de gases poluentes, assim como, preencher a expectativa dos consumidores por veículos com transmissões automáticas confortáveis. 2.8. Resumo Os parâmetros principais para avaliação dos diferentes tipos de transmissão para a determinação de sua aplicação preferencial são: consumo de combustível, emissões de gases, ruído, performance, conforto ao dirigir e nas trocas de marcha, espaço, massa e custos de produção. 29 A Tabela 2 abaixo mostra o resultado da avaliação incluindo a aplicação preferencial para transmissões. Sistemas de Transmissão Preferenciais Linhas de transmissão padrão Torque Transmissão Manual Transmissão Automática <180 N.m 5 Velocidades 5 e 6 Velocidades 180 – 350 N.m 6 Velocidades 6 Velocidades > 350 N.m 6 Velocidades 6 Velocidades Linhas de transmissão longitudinais dianteiras e traseiras Torque Transmissão Manual Transmissão Automática <180 N.m 5 Velocidades TCV 180 – 350 N.m 6 Velocidades TCV > 350 N.m 6 Velocidades 6 Velocidades Linhas de transmissão transversais dianteiras e traseiras Torque Transmissão Manual Transmissão Manual Transmissão Automática Automatizada <180 N.m 5 Velocidades 5 Velocidades TCV 180 – 350 N.m 5 Velocidades - TCV > 350 N.m - - 5 e 6 Velocidades Tabela 2 - Sistemas de transmissão preferenciais. (WAGNER, 2001) Motores longitudinais – Transmissões longitudinais de 5 velocidades tornaram-se o padrão para motores longitudinais, embora exista uma tendência clara para transmissões com mais velocidades. Para este caso existe ainda a possibilidade da aplicação do sistema de transmissão de embreagem dupla. As TCV não irão progredir em configurações padrões devido as suas desvantagens de instalação e limitação de torque. No entanto as vantagens que os TCV’s oferecem em gastos de instalação, massa, custo de fabricação irão significar um aumento do número de aplicações em veículos com linha de transmissão longitudinal dianteiro e traseiro possuindo menos que 350 N.m de torque. Motores transversais – A maioria dos veículos com linha de transmissão transversal dianteiro possuem transmissões manuais de 5 marchas. Em veículos sensíveis ao custo, mini, pequenos e médios com motores de 1l até 1.8l, os quais a demanda por conforto não é tão grande como em outros segmentos, o sistema TMA oferece a possibilidade de redução de consumo e emissão de gases sem limitar a performance do veiculo. Sistemas shift-by-wire com motores elétricos irão prevalecer devido a questões de custo e instalação. Transmissões automáticas para aplicações requerendo menos que 180Nm não serão amplamente utilizadas devido a questões de custo, perda de eficiência e performance. 30 Esta visão muda para veículos de classe superior com linha de transmissão transversal dianteira. Para atender a demanda por maior conforto, mais transmissões automáticas serão utilizadas. As TCV serão aplicadas predominantemente na faixa de médio torque, entre 180 e 350Nm. Eles oferecem conforto ótimo ao dirigir em conjunto com bom consumo de combustível e performance. No futuro, ambas, transmissões automáticas de 6 velocidades e transmissões manuais também de 6 velocidades serão utilizadas em grande escala. O uso de TCV irá se ampliar para linhas de transmissões transversais dianteira. Na aplicação de transmissões manuais, as de 5 velocidades irão predominar nas aplicações com linha de transmissão transversal dianteiro e o grau de automatização irá aumentar. Para motores com torque inferior a 180Nm a preferência será da aplicação de transmissões manuais automatizadas. A faixa até 350Nm será coberta predominantemente por TCV, enquanto transmissões automáticas de 5 e 6 velocidades serão utilizadas no segmento acima de 350Nm para instalações transversais. 31 3 PRINCIPAIS COMPONENTES DA TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA 3.1. Conversor de torque Desde de sua introdução nos meados de 1940 o conversor de torque tem sido utilizado como um mecanismo de acoplamento entre o motor e a transmissão. Suas vantagens residem no principio da transferência de força hidrodinâmica. O conversor de torque proporciona a amplificação do torque fornecido pelo motor o que por sua vez melhora a aceleração e desempenho do veículo. Outra característica importante do conversor de torque é o escorregamento existente entre o motor e a transmissão, que está sempre presente. A princípio é necessário pois tem a função de isolar a transmissão das vibrações torsionais do motor. Desta forma, previne-se reações a solicitações de mudança abrupta de aceleração, e com isso proporciona trocas mais confortáveis. (MIDDELMANN; WAGNER, 1998) 3.1.1. Princípio básico de funcionamento Assim como em veículos com transmissões manuais convencionais, os veículos dotados de transmissão automática necessitam uma forma de permitir que o motor funcione enquanto as rodas e as marchas na transmissão encontram-se paradas. Veículos com transmissão manual utilizam-se de uma embreagem, que desconecta por completo o motor da transmissão. Veículos com transmissão automática utilizam um conversor de torque. (NICE, 2005) Um conversor de torque realiza uma espécie de acoplamento fluido, o qual permite o motor girar de forma quase independente da transmissão. (NICE, 2005). Um fluido utiliza energia hidro-cinética como meio de transferência de torque do motor para a transmissão de tal forma a automaticamente ajustar-se as características requeridas de velocidade, carga e aceleração. (HEISLER, 2002) 32 3.1.2. Principais componentes de um conversor de torque Conforme apresentado na figura 11, existem três componentes principais dentro da resistente carcaça de um conversor de torque: a bomba ou impulsor, a turbina e o estator Figura 11 – Partes de um conversor de torque (esquerda para direita): turbina, estator e bomba. (NICE, 2005) A carcaça do conversor de torque é parafusada ao volante do motor, de tal forma a girarem a mesma velocidade. As hastes flexíveis que formam a bomba do conversor de torque estão conectadas a carcaça, de tal forma a girar também a mesma velocidade do motor. A figura 12 demonstra como os componentes estão conectados em um conversor de torque. Figura 12 – Componentes do conversor de torque conectados a transmissão e ao motor (NICE, 2005) Existem respectivamente cerca de 26 e 23 lâminas na a bomba e na turbina. Ambos os elementos são fabricados com aço de baixo carbono prensado. O elemento estator é normalmente composto por uma liga de alumínio que pode conter algo em torno de 15 lâminas. (NICE, 2005) Um quarto elemento igualmente importante é o fluído utilizado no conversor de torque. Quando o motor está em funcionamento, o fluido apresenta dois tipos de movimento: 33 • Fluido apanhado nas pás da bomba e da turbina circula juntamente com estes elementos em torno do seu eixo de rotação. • Fluido apanhado entre as pás da bomba e da turbina e o seu centro rotaciona em um caminho circular na secção plana, este movimento é conhecido como movimento vortex. (HEISLER, 2002) O deslocamento de fluido é responsável diretamente pelo movimento da transmissão e conseqüentemente o funcionamento do veículo. 3.1.3. Princípio de funcionamento Quando a bomba é movimentada pelo motor, ela atua como uma bomba centrífuga succionando o fluído próximo do centro de rotação e forçando-o radialmente para fora através das passagens formadas pelas pás em direção a saída periférica da bomba (Figura 13). Aqui o fluido é expelido em direção as passagens da turbina e neste processo exerce uma força contra as suas pás em um determinado ângulo, desta forma fornecendo torque a turbina. (HEISLER, 2002) Figura 13 – Bomba de um conversor de torque (NICE, 2005) O fluido nas passagens da turbina movimenta-se internamente em direção a saída da turbina. Ele é compelido a fluir entre as lâminas fixas do estator. A reação ao torque do fluido enquanto ele desliza sobre as superfícies curvas das lâminas é absorvido pelo suporte no qual o estator é preso. Neste processo o fluido é redirecionado contra a entrada da bomba. Ele entra nas passagens formadas pelas pás da bomba, enquanto atua no lado de tração das pás. Ele fornece ainda um torque igual a reação do estator na direção de rotação (Figura 14) (HEISLER, 2002). 34 Figura 14 –Turbina de um conversor de torque (NICE, 2005) Segue então que o torque do motor entregue a bomba e o torque de reação transferido pelo fluido à bomba são ambos transmitidos à saída da turbina através do fluido. Isto é: Torque do Motor + Torque de Reação = Torque na saída da turbina (HEISLER, 2002) O fluido que entra nas lâminas da turbina, que está conectada a transmissão, faz com que a mesma gire e desta forma gire também a transmissão, que basicamente movimenta o veículo. Como as lâminas da turbina são curvas, implica que o fluido, que entra na turbina pela parte externa, tem que mudar de direção antes de sair pelo centro da mesma. Esta mudança de direção é o que causa a movimentação da turbina. Como a turbina causa a mudança na direção do fluido, o fluido causa o movimento da turbina. Por fim, o fluido deixa a turbina movendo-se em direção contrária a da bomba (e do motor). Se o fluido atingir a bomba, irá conseqüentemente reduzir a velocidade do motor, causando perda de eficiência. O papel do estator é o de redirecionar o fluido que retorna da turbina antes que este encontre a bomba. Isto aumenta drasticamente a eficiência do conversor de torque (Figura 15). 35 Figura 15 – Princípio de funcionamento do conversor de torque (HEISLER, 2002) O estator possui um perfil de lâminas bem agressivo, que reverte quase que completamente a direção do fluido. Uma embreagem no interior do estator permite que ele gire em somente uma direção, pois conecta o estator a um eixo rígido da transmissão. Desta forma o estator pode girar somente na direção contrária a do fluido, fazendo com que o fluido inverta sua direção ao atingir as lâminas do estator (Figura 16). Figura 16 – Estator de um conversor de torque (NICE, 2005) Quando as velocidades de rotação da bomba e da turbina são praticamente idênticas (pois a bomba sempre gira um pouco mais rápida) o fluido retorna da turbina, entrando na bomba movendo-se na mesma direção, desta forma, o estator não é mais necessário (NICE, 2005). A esta velocidade, o fluido entra pela parte de trás das lâminas do estator, fazendo com que o estator gire livremente, devido a embreagem, de tal forma a causar pouca interferência no fluido, com isso o conversor de torque opera como dois elementos acoplados. Esta condição previne a redução do torque para velocidades de saída elevadas e produz um aumento elevado da eficiência para velocidades acima do ponto de acoplamento. (HEISLER, 2002) 36 3.1.4. Características do conversor de torque A rotação da bomba pelo motor converte o torque fornecido pelo motor em energia hidro-cinética, a qual é utilizada de forma a colocar em funcionamento a transmissão, de forma suave, e promover a multiplicação do torque fornecido pelo motor (HEISLER, 2002). A multiplicação máxima de torque ocorre quando a diferença de velocidade entre a bomba e a turbina é máxima. Uma razão de 2:1 entre a saída e a entrada ocorre normalmente quando a saída é estacionária. Em tal situação a taxa de circulação do fluído encontrará um pico. Conseqüentemente, ocorre a máxima transferência de energia da bomba para a turbina e depois para o estator, retornando bomba (Figura 17). Figura 17 – Curvas características de desempenho (HEISLER, 2002 ). À medida que a velocidade de saída da turbina aumenta, relativa à velocidade da bomba, a eficiência aumenta e a velocidade do fluido diminui e também a razão de torque até que a velocidade de circulação do fluido é tão baixa que permite somente uma razão de 1:1 entre saída e entrada. Neste ponto o torque de reação será nulo. Acima desta velocidade o estator é girado livremente. Isto oferece menos resistência para o fluido circulante e conseqüentemente produz um aumento na eficiência de acoplamento (HEISLER, 2002). Assim sendo, se a transmissão é carregada subitamente, a velocidade de saída da turbina irá reduzir, causando um aumento na circulação de fluido e conseqüentemente aumentando a taxa de multiplicação de torque, mas reduzindo a eficiência devido ao aumento da diferença de velocidade entre a entrada e saída, bomba e turbina respectivamente. Quando a condição de saída muda verifica-se uma redução da carga ou o aumento da velocidade da turbina, ocorre então o processo inverso ao descrito anteriormente: a eficiência aumenta e a relação de torque diminui, conforme pode ser 37 observado na figura 18 (HEISLER, 2002). Figura 18 – Curvas características de desempenho (HEISLER, 2002 ) 3.1.5. Terminologia de um conversor de torque Para compreender as características de desempenho de um conversor de torque é essencial identificar e relacionar os seguintes termos utilizados na descrição de várias relações e condições Eficiência – Um método conveniente de expressar perdas de energia, devido principalmente a circulação de um fluido a uma dada velocidade de saída ou taxa de velocidade, é medir a sua eficiência, ou seja, a razão percentual do trabalho realizado da saída para a entrada. Eficiência = Trabalho realizado na saída × 100 Trabalho realizado na entrada Razão de velocidade – É freqüentemente necessário comparar as diferenças nas velocidades de saída e de entrada na qual certos eventos ocorrem. Isto é normalmente definido em termos da razão de velocidade da saída (turbina) N2 para a entrada (bomba) N1. Razão de Velocidade = N2 N1 Razão de torque – A multiplicação do torque em um conversor de torque é melhor representada em termos da razão entre o torque da saída T2 (turbina) e o torque de entrada T1 (bomba). Razão de Torque = T2 T1 Velocidade de Stall – Este é a velocidade máxima atingida pelo motor quando o 38 acelerador está completamente pressionado, a transmissão está em D (Drive) e o freio de serviço é completamente aplicado. Nestas condições existe a maior variação de velocidade entre a bomba e a turbina, como resultado a circulação do fluido e a conversão de torque correspondente são máximos, e a sua eficiência é zero. Enquanto esta condição prevalecer, o arraste da conversão de torque reduz a velocidade do motor de algo em torno de 60% a 70% da velocidade do motor com torque máximo. Um conversor deve somente permanecer na condição de stall por um mínimo de tempo, de forma a prevenir que o fluido ultrapasse sua condição de operação. Ponto de Projeto – Conversores de torque são projetados de forma a fazer com que o fluido circule com a menor resistência possível entre um componente e outro a uma definida razão de velocidade entre a bomba e a turbina, conhecida como ponto de projeto. Um valor típico seria 0,8:1. Acima ou abaixo desta razão de velocidade ótima, o ângulo e a direção do fluido ao deixar um componente atinge as paredes dos dutos de entrada criando assim um torque resistente, desta forma causando perda de eficiência. Outras causas de perda de eficiência é o acabamento na fabricação das peças, rugosidade da superfície e interferência na espessura das lâminas. Ponto de Acoplamento – À medida que a velocidade da turbina aproxima-se, ou excede a velocidade da bomba, a direção efetiva do fluido que entra nas passagens entre as lâminas do estator se altera. Ao invés de empurrar contra a face côncava, ele é redirecionado contra a face convexa das lâminas. Neste ponto, cessa a conversão de torque devido a transferência de fluido entre o estator fixo a bomba que gira. A velocidade da turbina quando a direção da reação do estator é invertida é conhecida como ponto de acoplamento e encontra-se normalmente entre 80% e 90% da velocidade da bomba. Neste ponto o estator é liberado pelo dispositivo de livre rotação (embreagem de única direção) e passa a girar na mesma direção da turbina e da bomba. Com isto, a eficiência do conjunto aumenta à medida que a velocidade da turbina aproxima-se, embora não alcance, a velocidade da bomba. Freio Motor – Na direção contrária, quando a turbina (transmissão) impulsiona a bomba, os ângulos de saída e de entrada das pás de ambos os membros não são adequados para transferência de energia hidro-cinética, de tal forma que somente uma parcela limitada do torque de freio motor pode ser absorvido pelo conversor, exceto a velocidades elevadas da transmissão. Reciprocamente, um acoplamento fluídico com pás radiais planas é capaz de transmitir igualmente torque em ambos os sentidos de rotação. 3.1.6. Conversor de torque de vários estágios Uma desvantagem dos conversores de torque de três elementos é que a razão de torque máxima stall é de somente 2:1, o que é insuficiente para algumas aplicações. Mas, 39 esta multiplicação de torque pode ser dobrada através do aumento do número de turbinas e estatores dentro do conversor. A limitação do conversor de múltiplos estágios é que existe um número maior de junções entre os seus vários membros, com isto eleva a resistência no fluxo de fluido em torno das passagens pelo torus. Desta forma a eficiência cai rapidamente para taxas elevadas de velocidade, quando comparado com o conversor de três elementos. 3.1.7. Conversor de torque com embreagem de travamento Uma das maiores deficiências de um conversor de torque é queda da eficiência se a velocidade relativa entre a bomba e a turbina cai abaixo do ponto de projeto. Isto pode ser superado ao incorporar-se um disco de fricção, como o de uma embreagem, entre o volante do motor e o conversor de torque, que é acionado hidraulicamente através de um cilindroescravo (Figura 19). Esta embreagem, conhecida como embreagem de travamento ou lockup é projetada para acoplar o volante e a bomba diretamente ao eixo de saída da turbina, tanto manualmente, a uma velocidade de saída, determinada pelo motorista, que dependeria da carga aplicada sobre o veículo e as condições da via, ou ainda automaticamente, a uma relação de velocidade entre entrada e saída normalmente na região do ponto de projeto, onde obtém-se a maior eficiência (Figura 20) Figura 19 – Conversor de torque com embreagem de travamento (HEISLER, 2002 ) 40 Figura 20 – Curvas características de desempenho do conversor com embreagem de travamento. (HEISLER, 2002) 3.1.8. Recomendações Revisando a história e o desenvolvimento global das transmissões automáticas pode-se prever que: a funcionalidade (número de marchas e a relação total de marchas) da transmissão automática continuará a aumentar, o tempo de operação em aberto do conversor de torque irá reduzir ainda mais; o tempo de operação da embreagem de travamento irá aumentar, tanto em escorregamento ou completamente fechada (MIDDELMANN; WAGNER, 1998). Em paralelo a estas tendências globais, é provável que o custo do combustível irá aumentar e assim como as ameaças ao ambiente. O desenvolvimento do conversor de torque requererá esforços na redução do consumo de combustível e de emissões de gases poluentes. Outra tendência deve ser a redução do custo dos conversores de torque nos próximos anos. O espaço para aplicação de conversores de torque, especialmente para transmissões continuamente variáveis (TCV) e aplicações em veículos com tração dianteira será maior que o disponível atualmente (MIDDELMANN; WAGNER, 1998). Os consumidores futuros irão requerer um melhor consumo de combustível; maior durabilidade; melhor desempenho e conforto, aliado a menor custo (MIDDELMANN; WAGNER, 1998). Com respeito ao desenvolvimento de conversores de torque, novos arranjos deverão ser considerados de forma a atender as seguintes tendências: aplicações em TCV e transmissões automáticas de 6 e 7 marchas; desativação de cilindros do motor; sistemas com alternador de partida; aumento da capacidade de torque e cilindros do motor; veículos movidos a diesel e motores a injeção direta de gasolina; menores velocidades de acoplamento das embreagens do conversor de torque e a desconexão do conversor de torque em marcha lenta (FISCHER; OTTO, 1994). 41 3.2. Fluido da transmissão automática O princípio de funcionamento da transmissão automática pressupõe a utilização de fluído hidráulico o qual possui características próprias. O fluído da transmissão automática (FTA) deve possuir, entre outras coisas, propriedades que minimizem o efeito das vibrações quando do acionamento das válvulas nas trocas de marcha ou das vibrações proveniente de flutuações do motor. Por outro lado o FTA deve também possuir um coeficiente de atrito suficientemente elevado para que a embreagem de travamento do conversor de torque e as embreagens responsáveis pelas mudanças de marchas possam transferir plenamente o torque do motor quando estão engatadas. A esta característica dá-se o nome de Capacidade de Transferência de Torque (KUGIMIYA, et al. 2000). Atualmente, o requisito de durabilidade dos FTA é tão grande quanto a vida útil do veículo. Este conceito é conhecido como “preencher para a vida”, e tem como base um sistema de refrigeração que garanta o funcionamento em condições normais e a temperaturas adequadas. Em consideração a este conceito, lubrificantes que integram as necessidades de transferência de torque, redução de vibrações e durabilidade encontram-se em desenvolvimento. 3.3. Embreagens e freios A troca de marcha em uma transmissão automática só é possível através do engate e travamento de vários membros dos conjuntos de engrenagens, ao mesmo tempo em que o torque do motor é transmitido. Para que isto ocorra de forma rápida e precisa são utilizadas embreagens multi-discos e freios. As trocas de marchas ocorrem através do acionamento simultâneo de uma embreagem ou freio e a liberação de outra embreagem ou freio (HEISLER, 2002). 3.3.1. Embreagens Embreagens multi-discos imersas em óleo, conhecidas como embreagens molhadas, são utilizadas para bloquear qualquer dois elementos de um conjunto de redutores planetários ou para transportar torque de um membro para um outro de forma rápida e suave. Este tipo de embreagem é composto de discos rotativos e fixos que podem ser acionados por um pistão de formato anular operado pelo fluido hidráulico pressurizado (Figura 21). Molas de retorno garantem a separação das faces de fricção, ou seja, a abertura da embreagem, quando a pressão é reduzida. O desgaste do conjunto de placas de fricção é automaticamente compensado pelo pistão que pode mover-se para frente 42 (HEISLER, 2002). Figura 21 – Embreagem de uma transmissão (NICE, 2005) A Figura 22 apresenta as camadas alternadas de material de fricção e placas metálicas que compõem uma embreagem. O material de fricção encontra-se na parte interior e se conecta a uma engrenagem. A placa metálica é localizada na parte exterior e se conecta a carcaça da embreagem. Figura 22 – Os discos de embreagem (NICE, 2005) 3.3.2. Freios Esta forma de freio consiste de uma correia de fricção cercando um tambor externo, de tal forma que quando o freio é aplicado a correia contrai, apertando-se assim contra o tambor até que este pare (Figura 23). Figura 23 – Freio da transmissão automática (NICE, 2005) A aplicação da correia é realizada através de um servo-cilindro e pistão (Figura 24). Fluido pressurizado é introduzido na extremidade de diâmetro reduzido do pistão para acionar o freio. Para liberar o freio, fluido pressurizado é direcionado para o lado da câmara 43 de mola do cilindro. A liberação é obtida devido a maior área do pistão, produzindo uma força maior que a de atuação. Este tipo de freio é capaz de absorver grandes variações de torque sem ocupar muito espaço, o que os torna interessante para relações de marcha pequenas e de torque elevado (HEISLER, 2002). Figura 24 – Os pistões que acionam o freio (NICE, 2005) Em desenvolvimentos recentes todos os elementos de troca de marcha são embreagens multi-discos. Em comparação com os freios, a posição central do elemento de troca é mais compacta e portanto mais adequada a utilização em transmissões longitudinais. Outros fatores importantes dizem respeito a instalação transversal dos cilindros do freio que podem causar interferência com o chassi do veículo. Freios também requerem um esforço maior de projeto para garantir uma boa qualidade de troca. Além do mais, as funções de engate e desengate realizadas por estratégias de controle de troca de marchas em malha fechada é melhor executada através do uso de sistema multi-dicos (SCHERER; GIERER, 2000). 3.4. Conjunto de redutores planetários O conjunto de redutores planetários tem seu nome originário de sua construção. Em torno de uma engrenagem central (a engrenagem solar), circulam diversas engrenagens, as engrenagens satélites, assim como os planetas em torno do sol. O tipo mais simples de redutor planetário é composto por uma engrenagem solar, 3 ou 4 engrenagens satélites, uma engrenagem anular e o porta-planetária, que suporta os eixos das engrenagens satélites (Figura 25). 44 Figura 25 – Redutor planetário simples (GRETZMEIER; STAUDT; BLÜML, 1999) Todas as engrenagens são passíveis de rotação, e podem permanecer em repouso em conjunto com uma outra engrenagem se assim for requerido. De forma a estabelecer uma relação de transmissão, uma das estruturas do conjunto de engrenagem deve ser bloqueada. A relação dependerá do elemento bloqueado. Cada um dos componentes pode representar ainda a entrada ou a saída de torque e velocidade, ou ainda ser mantido estacionário. No caso de um conjunto planetário simples composto por uma engrenagem solar (A), uma engrenagem anular (B), uma engrenagem satélite (C) e o número de dentes das engrenagens (Z) são conhecidos, diversas relações de marchas podem ser obtidas conforme as equações representadas na Tabela 3. Entrada Saída Estacionário 1 A C B 2 B C A 3 C A B Relação Observação Situação 4 5 C A B B A C i = 1+ ZB ZA 2,5 • i . •5 i = 1+ ZA ZB 1,25 • i . •1,67 i = 1+ ZA Z 1+ B ZA 0,2 • i . •0,4 i = 1+ ZA Z 1+ A ZB i=− ZB ZA Marcha rápida 0,6 • i . •0,8 Marcha rápida -0,4 • i . •-1.5 Sentido de rotação invertido 6 B A C i = 1− ZA ZB -0,25 • i . •-0,67 Sentido de rotação invertido Tabela 3 – Relações de marcha para um conjunto de engrenagem planetária simples. (BOSCH, 1999) 45 Bloqueando em conjunto dois elementos quaisquer, todo o dispositivo será bloqueado, o que significa uma relação de marcha 1:1. Quando a rotação de saída é menor do que a de entrada (ex. situações 1 e 2) a relação de marcha obtida é denominada redução. Quando a rotação de saída é maior que a de entrada a relação obtida é chamada de aceleração ou overdrive (ex. situações 3 e 4). A situação 5 trata também de uma redução, mas no sentido inverso. O conjunto de redutores planetários simples necessita de mais de um eixo de entrada e saída, o que para o uso em veículos de passeio não é adequado. Logo, transmissões automáticas utilizam um conjunto de engrenagens que se comportam como dois conjuntos planetários combinados. Este conjunto possui uma engrenagem anular que é sempre a saída da transmissão, duas engrenagens solares, onde a entrada de torque ocorre pela segunda engrenagem solar, e dois conjuntos de engrenagens satélites. Este conjunto é denominado Conjunto Ravigneaux (Figura 26). a) Conjunto Ravigneaux (GRETZMEIER; b) Esquemático do conjunto Ravigneaux (GRETZMEIER; STAUDT; BLÜML, 1999) STAUDT; BLÜML, 1999) c) Da esquerda para direita: anular, d)Porta planetária e os dois conjuntos e) Dentro da porta-planetária e os porta planetária e duas engrenagens de satélites (NICE, 2005) dois conjuntos de satélites (NICE, solares (NICE, 2005) 2005) Figura 26 – Conjunto Ravigneaux Uma outra combinação de redutores planetários é ainda bastante utilizada em transmissões automáticas. O conjunto Simpson, com é denominado, é composto de dois conjuntos de redutores planetários simples, mas possui apenas uma única engrenagem solar. As engrenagens satélites são todas iguais. O eixo de entrada traciona a primeira engrenagem anular, e a saída ocorre pela segunda engrenagem anular (Figura 27) 46 Figura 27 – Esquemático do Conjunto Simpson (GRETZMEIER; STAUDT; BLÜML, 1999) 3.5. Embreagem de travamento De forma a eliminar a característica de escorregamento relativo entre a bomba e a turbina do conversor de torque, mesmo em velocidades e condições de carga moderadas, uma embreagem do tipo de travamento pode ser incorporada entre a entrada da bomba e o eixo de saída da turbina. Os benefícios provenientes deste tipo de embreagem serão percebidos somente se o conversor de torque operar com baixas solicitações de torque do motor e somente quando o conversor operar acima da faixa de multiplicação de torque, ou seja, acima do ponto de acoplamento. Conseqüentemente, o acoplamento do conversor pode ocorrer somente quando a transmissão encontra-se em marchas com relações menores ou iguais a 1:1 (HEISLER, 2002). As vantagens de evitar a transferência de torque através do fluido circulante e ao invés disto, transmitir o torque de saída do motor diretamente para o eixo de entrada da transmissão, elimina o escorregamento ou patinação, desta forma, aumentando o torque disponível para impulsionar o veículo. Este ganho líquido no torque disponível ocasiona conseqüentemente uma redução do consumo de combustível. 3.5.1. Descrição da embreagem de travamento A embreagem de travamento consiste de um platô (prato deslizante para a transmissão de torque) que realiza duas funções distintas; primeiramente funciona como dispositivo de acoplamento por fricção e em segundo lugar age como um pistão, controlado hidraulicamente, de forma a energizar e desenergizar os revestimentos de acoplamento da embreagem. O platô/pistão da embreagem de travamento é sustentado pelo centro da turbina, que por sua vez está montada no eixo de entrada da transmissão. Um dispositivo de amortecimento da transmissão, similar ao utilizado em uma embreagem convencional, é incorporado ao platô da embreagem de travamento com a finalidade de absorver impactos quando a embreagem é acoplada. 3.5.2. Controle da embreagem de travamento O funcionamento automático da embreagem de travamento é controlado por uma 47 válvula de limite de velocidade e uma válvula de controle da embreagem. A função destas válvulas é de abrir e fechar as passagens de fluido descarregam o fluido a partir do espaço formado entre a carcaça do conversor de torque e o platô/pistão da embreagem de travamento. 3.6. Embreagens de roda livre Vários nomes são dados a este dispositivo, tais como, dispositivo de roda livre, embreagem de único sentido ou overdrive. Um dispositivo de roda livre é um meio no qual o torque pode ser transmitido de um membro estacionário ou rotativo para outro membro, contanto que o torque de entrada seja maior que o torque do membro de saída. Se as condições são invertidas e o torque (ou rotação) aplicado pelo membro de saída torna-se maior que o torque (ou rotação) aplicado pelo membro de entrada, o membro de saída irá girar mais rápido que o membro de entrada. Portanto, o travamento entre os dois membros será automaticamente desfeito e a tração será imediatamente interrompida, o que permite aos membros de entrada e saída girarem independentemente um dos outros. Embreagens de giro livre podem ser utilizadas em diversas aplicações, tais como dispositivo de pré-engate de motor de partida, extenuadores, para a liberação do estator de conversores de torque, em outros dispositivos da transmissão automáticos e dispositivos do diferencial final de veículos. Por exemplo, a transmissão automática de 4 velocidades desenvolvida pela Honda, utiliza uma embreagem de roda livre localizada no contra-eixo que transmite torque quando acelerando em 1ª marcha. Contudo, não transmite torque quando desacelerando em 1ª marcha. Neste caso, o freio motor é aplicado através de uma outra embreagem. A embreagem de roda livre tem então a função de melhorar a qualidade da troca entre a 1ª e 2ª marchas e impedir o engate da 1ª marcha no caso de mau funcionamento quando em alta velocidade (TATSUYUKI, et al., 2002). A própria Honda desenvolveu posteriormente aperfeiçoamentos nesta mesma transmissão automática que eliminam a embreagem de roda livre e a embreagem responsável pela aplicação do freio motor em 1ª marcha, através do desenvolvimento de um método de controle de alta precisão para realizar a troca de 1ª para 2ª marcha (TATSUYUKI, et al., 2002). Esta tem se mostrado uma tendência, uma vez que a mesma solução tem sido aplicada em outras transmissões com as fabricadas pelas empresas ZF e Mercedes-Benz. 48 Figura 28 – Embreagem de roda livre de diâmetro simples de rolo (HEISLER, 2002) 3.7. Controle hidráulico Os elementos utilizados como referência para este estudo são componentes de uma transmissão automática de 5 velocidades hipotética baseada em uma transmissão similar, a 5HP24, desenvolvida e fabrica pela alemã ZF. 3.7.1. Unidade de controle hidráulico A unidade de controle hidráulico encontra-se dentro do reservatório de óleo e abaixo das engrenagens da transmissão. Uma bomba de óleo opera o circuito hidráulico. Por sua vez a bomba é acionada pelo motor através do conversor de torque. Com isto, fluido é direcionado através de uma válvula reguladora de pressão para o interior do conversor de torque e para as várias embreagens e freios através de circuitos hidráulicos e válvulas. O circuito de controle hidráulico o qual opera as trocas de marcha são ativados por 3 válvulas eletromagnéticas do tipo abre e fecha (válvulas solenóides) e 4 válvulas de controle eletromagnético de abertura e fechamento progressivo, (válvula de controle eletrônico de pressão – VCEP). Os dois tipos de válvulas são energizados pela unidade de controle eletrônico da transmissão (UCE) que por sua vez recebe sinais de entrada de vários sensores, tais como sensores de velocidade, de carga, de temperatura e do pedal do acelerador. Todos estes sensores são monitorados simultaneamente e continuamente. Além disso uma alavanca seletora de posição ou um botão operado pelo motorista, seleciona os diferentes programas de direção para a UCE. 3.7.2. Unidade de controle eletrônico da transmissão As funções da UCE são as de coletar, analisar e processar todos os sinais de 49 entrada, além de armazenar os dados do programa de tal forma que as pressões apropriadas do circuito hidráulico irão realizar as trocas de marchas de forma a adequar-se a rotação e ao torque do motor, ao peso e a carga aplicada sobre o veículo, as requisições do motorista e finalmente as condições do pavimento (Figura 29). As UCE possuem FLASH EEPROM que permite a atualização de funcionalidades e dados do software de controle de forma rápida, sem que para isso seja necessário substituir a UCE. Dentre as vantagens dos sistemas eletrônicos pode-se citar por exemplo, o curto tempo de reação a modos de falhas. Figura 29 – Sistema de controle eletrônico básico (HEISLER, 2002) 3.7.3. Programa de controle O programa armazenado na UCE avalia os dados de forma a determinar as características favoráveis para realização das trocas de marchas e para o acoplamento da embreagem de travamento do conversor de torque. Ele coordena os parâmetros para os cálculos de pressão, manipulação do motor e a sincronização das fases de troca de marcha. Ele fornece ainda parâmetros de regulação para realizar trocas de marchas suaves e para o acoplamento do conversor de torque. Finalmente, possui parâmetros internos para detecção de falhas e a realização de diagnósticos. A UCE utilizada na transmissão ZF 5HP24 subdivide o programa de controle de forma modular, com os seguintes componentes: programa de aplicação, bibliotecas de aplicação, dispositivos componentes, sistema operacional e hardware que suporta o programa. Segundo a própria ZF, este conceito resulta em vantagens de aplicação, pois os vários integrantes do desenvolvimento (montadora, fornecedores e a própria ZF) estão envolvidos na especificação do programa, cada um fornecendo seus próprios dados. 50 Além de controlar a seqüência de troca de marchas a UCE oferece diversas possibilidades de seleção das marchas. Iniciando pela seleção convencional (alavanca de seleção de marchas) e os programas conhecidos, como econômico, esporte, inverno ou fora-de-estrada. Existe ainda a possibilidade de integração de programas dinâmicos de trocas e de trocas manuais (SCHRER; GIERER, 2002). 3.7.4. Sensores de sinais de entrada da transmissão Os vários sinais que ativam a UCE podem ser divididos em 3 grupos; transmissão, motor e veículo. Os sensores da transmissão comumente utilizados são: sensor de velocidade de entrada da turbina, sensor de velocidade de saída da turbina, sensor de temperatura da transmissão e interruptor de posição da alavanca seletora de posição. Os Sensores do motor são: sensor de rotação de motor, sensor de duração da abertura do injetor, potenciômetro de abertura da borboleta e sensor de temperatura do motor. Sensores do veículo são: interruptor de kickdown, indicador de posição PRND432 (do inglês, P – Park (estacionamento), R – marcha reversa, N – Neutro, D – Drive (dirigir), 4 – 4ª marcha, 3 – 3ª marcha, 2 – 2ª marcha), programa seletor de marchas e interruptor do sinal de luz do freio. 3.8. Descrição e função das válvulas eletro-hidráulicas 3.8.1. Válvulas solenóides (eletromagnéticas) VS-1,VS-2 e VS-3 Vários tipos de válvulas solenóides são aplicadas em transmissões automáticas controladas eletronicamente. Alguns requisitos devem ser levados em consideração quanto ao emprego destas válvulas, tais como; tamanho e peso reduzidos, temperatura de operação entre -40oC e +150oC, faixa de pressão acima de 5.000 kPa, durabilidade elevada (acima de 109 ciclos), baixo consumo, baixa resistência hidráulica dos elementos, tempos de resposta curtos, ausência de oscilações hidráulicas e baixo vazamento (NEUFFER; ENGELSDORF; BREHM, 2000). As válvulas solenóides VS-1, VS-2 e VS-3 são válvulas do tipo bola operadas por disco e armadura eletromagnética as quais são energizadas pela corrente fornecida pela UCE. A válvula do tipo bola encontra-se ou na posição aberta ou fechada. Quando a válvula é desenergizada abre-se a porta de entrada e ventila-se a porta de saída. Enquanto que, quando a válvula é energizada fecha-se a porta de ventilação e abre-se a porta de saída . A válvula solenóide VS-1 quando energizada ativa as válvulas de troca de marcha VTM-1 e VTM-3. A válvula solenóide VS-2 ativa a válvula de troca de marcha VTM-2 e desliga o interruptor de funcionamento da válvula VTM-3. A válvula solenóide VS-3 ativa a válvula de tração/freio (VTF) (Figura 30). 51 Figura 30 – Sistema de controle eletro-hidráulico da transmissão – posição neutro (HEISLER, 2002) 3.8.2. Válvulas de controle eletrônico de pressão (VCEP-1, VCEP-2, VCEP-3 e VCEP-4) A válvula de regulagem de pressão VCEP – (1-4) são válvulas do tipo agulha eletromagnética de armadura cilíndrica operada por pressão variável. A pressão de saída é 52 determinada pela magnitude da corrente fornecida pela UCE às válvulas eletrônicas reguladoras de pressão. Com o aumento da corrente o orifício da válvula é alargado, isto aumenta a passagem de fluido e correspondentemente reduz a pressão de controle entregue para as diversas válvulas responsáveis por troca de marcha. Esta pressão de controle entregue é inversamente proporcional a quantidade de corrente fornecida, isto é, a medida que a corrente aumenta a pressão diminui e vice-versa. A característica da pressão de controle em função da corrente de controle é mostrada na figura 31. Figura 31 – Característica da pressão de controle em função da corrente de controle (HEISLER, 2002) 3.9. Descrição e funcionamento da bomba e das válvulas de controle 3.9.1. Bomba Transmissões automáticas possuem uma bomba de engrenagens internas (Figura 32). A bomba succiona fluido da parte superior da transmissão e alimenta o circuito hidráulico, assim como, o conversor de torque e o sistema de refrigeração da transmissão. Esta consiste de uma engrenagem anular dentada, que funciona em conjunto com uma engrenagem dentada trativa, de tal forma que o seu eixo de rotação é excêntrico a engrenagem trativa. A engrenagem interna da bomba está conectada com a carcaça do conversor de torque, de tal forma a girar a mesma velocidade do motor. A engrenagem externa é tracionada pela engrenagem interna. Devido a sua excentricidade, existe um espaço entre a as engrenagens internas e externas a qual é ocupado por um bloco espaçador fixo, conhecido como crescente, cuja função é separar as áreas das portas de entrada e saída. A rotação das engrenagens cria uma área de baixa pressão na extremidade de sucção de entrada do crescente o qual succiona fluido. À medida que as engrenagens giram, óleo será apanhado entre os dentes da engrenagem interna e o lado das paredes internas do crescente, e entre os dentes da 53 engrenagem externa e a parede de fora do crescente. Estes dentes irão então carregar o fluido até a outra extremidade do crescente onde ele será descarregado, sobre pressão, por ambos os conjuntos de dentes na porta de saída. Figura 32 – Bomba de engrenagens internas (NICE, 2005) 3.9.2. Válvula seletora de posição (VSP) Esta válvula é operada indiretamente pelo motorista para selecionar o sentido de direção à frente ou reverso e as posições de neutro ou estacionamento. 3.9.3. Válvula de pressão principal (VPP) A VPP regula a pressão de fornecimento de fluido produzida pela bomba. Ela é uma válvula de pressão variável limitante a qual esta relaciona as condições de dirigibilidade e aos comandos do motorista. 3.9.4. Válvula redutora de pressão (VRP-1) A VRP-1 reduz a pressão principal do fluido para um valor de saída aproximadamente constante de 5bar que corresponde a pressão de fluido necessária para operar as válvulas solenóides VS-1, VS-2 e VS-3. 3.9.5. Válvula redutora de pressão (VRP-2) A VRP-2 reduz a pressão principal do fluido para um valor de saída aproximadamente constante de 5bar o qual é a pressão de fluido necessária para operar as válvulas de regulação eletrônica de pressão VCEP-1, VCEP-2, VCEP-3 e VCEP-4. 3.9.6. Válvula moduladora de pressão (VMODP) A VMODP é atuada pela válvula de regulação eletrônica de pressão VCEP-1, ela produz uma pressão de saída que aumenta proporcionalmente ao torque do motor. A pressão de modulação é transportada à válvula de pressão principal e para cada uma das válvulas de embreagem. Seu propósito é aumentar a pressão do sistema e maximizar a abertura das válvulas das embreagens com uma carga maior do motor de tal forma que uma pressão de alimentação maior alcance as embreagens e freios apropriados. 54 3.9.7. Válvula de troca de marchas (VTM-1, VTM-2 e VTM-3) As VTM-1, VTM-2 e VTM-3 são acionadas respectivamente pelas válvulas solenóides VS-1, VS-2, VS-3. A função das válvulas VTM é fornecer pressão do sistema para o circuito de operação relevante controlando a aplicação ou a abertura das várias embreagens e freios. 3.9.8. Válvula da marcha reversa (VMR) A VMR funciona como uma válvula de troca de marcha para a seleção da marcha reversa. Ela também atua como uma válvula de segurança quando do uso de marchas à frente através da interrupção da pressão do sistema que alcança a embreagem de seleção da marcha reversa, desta forma prevenindo o seu engate acidental. 3.9.9. Válvulas de embreagens e freios (VE-A, VE-B, VE-C, VE- D/ VF-E, VF-F e VF-G) As válvulas de embreagens controlam o engate e desengate das embreagens e freios. Essas válvulas são de redução de pressão variável as quais são atuadas pelas válvulas solenóides apropriadas, válvulas de controle eletrônico de pressão, válvulas de tração e válvulas de troca de marcha. Estas válvulas são responsáveis pela produção da variação de pressão desejada na embreagem durante cada fase de troca de marcha. Particularmente, as VE-B, VE-C e VF-F são influenciadas pela pressão de modulação que resiste ao fechamento parcial das válvulas das embreagens, desta forma elas permitem uma pressão relativamente elevada de fluido a alcançar as embreagens e freios quando a transmissão solicita torque elevado. 3.9.10. Válvulas de retenção (VR-E e VR-G) Em conjunto com as VCEP, que atuam sobre as válvulas das embreagens, as válvulas VR-E e VR-G modificam as fases de abertura e fechamento das válvulas das embreagens de tal forma a causar um crescimento ou um colapso rápido da pressão do fluido das embreagens e freios operados respectivamente durante o engate e desengate. 3.9.11. Válvula de tração / freio (VTF) A VTF corta a ação reguladora da válvula de tração VT(5-4) e muda a posição da válvula de tração VT(4-5) para a desligada quando requerido. 55 3.9.12. Válvula de tração (VT(4-5)) A válvula de tração VT(4-5) controla a pressão do fluido do sistema principal para a embreagem E-B através da VT(5-4) e da VE-B e por isso bloqueia a pressão do fluido que alcança a VE-B quando há uma troca da 4ª para 5ª marcha. 3.9.13. Válvula de tração (VT(5-4)) A VT(5-4) é outra forma de válvula de embreagem. Sua função é a de fornecer pressão do sistema para a embreagem E-B através da válvula de embreagem VEB quando há uma troca da 5ª para 4ª marcha. 3.9.14. Válvula conversora de pressão (VCP) A VCP fornece o torque convertido com uma pressão de sistema reduzida de forma a atender as demandas de dirigibilidade, isto é, o torque necessário para diversas condições de direção. Serve também como uma válvula limitadora de pressão, de forma a prevenir a elevação excessiva da pressão no conversor de torque, caso a pressão do sistema tornar-se indevidamente elevada. A válvula também ventila a câmara formada no lado de tração da placa da embreagem de travamento quando a válvula de controle da pressão do conversor de torque é acionada. 3.9.15. Válvula de controle da pressão do conversor (VCPC) A VCPC é acionada pela VCEP-4. O Objetivo é prevenir que a VCP forneça pressão do sistema reduzida para a câmara formada entre a placa de tração e a embreagem de travamento e de ventilar este espaço. Como conseqüência, a pressão do fluido no lado do conversor de torque da embreagem de travamento é capaz de acoplar a mesma a placa de tração. 3.9.16. Válvula conversora da embreagem de travamento (VCET) A válvula conversora de embreagem de travamento é acionada em conjunto com a VCPC através da VCEP-4. A VCET, quando acionada, altera a direção do fluxo de entrada, a uma pressão do sistema reduzida, da placa de tração para o lado da turbina da embreagem de travamento. Simultaneamente a VCP é acionada, isto desloca a válvula de forma que o espaço entre a placa de tração e a face da embreagem de travamento é ventilada. Isto faz com que a embreagem de travamento seja forçada fortemente contra a placa de pressão de forma a travar a função do conversor de torque e substituí-lo por tração mecânica direta. 56 3.9.17. Válvula de pressão de lubrificação (VPL) A VPL fornece fluido lubrificante a uma pressão do sistema adequadamente reduzida para as partes de fricção interna dos conjuntos de engrenagem da transmissão. 3.10. Descrição da operação da unidade de controle eletro-hidráulica A tabela a seguir foi elaborada com o propósito de simplificar a demonstração das seqüências de engate das varias válvulas solenóides, embreagens e freios para cada marcha. Seqüência de engate das válvulas solenóides, embreagens e freios Relação de marcha Lógica da válvula solenóide Lógica dos freios e embreagens Válvulas Válvulas reguladoras Solenóides de pressão 1 2 Neutro/Estacionamento A A D 1ª marcha A D 2ª marcha A D 3ª marcha 3 3 4 A A A A A A A A A A A A A A A A A D 4ª marcha 1 2 Embreagens A A 1ª marcha manual A R = reversa A A A A C A A A A A A A E F G A A A A D OWC A A D 5ª marcha B Freios A A A A A A A A A A A A A A A (A) Tabela 4 – Transmissão automática eletro-hidráulica. Seqüência de acionamento das válvulas de controle, freios e embreagens para diversas relações de marcha. 3.10.1. Posição neutra ou estacionamento Com a alavanca seletora na posição neutra ou de estacionamento, fluido hidráulico é entregue pela bomba para a VSP, para a VMODP, para as VRP-1 e VRP-2, para a VTM-1, para a VTF e para VF-G. Pressão de fluido regulada é fornecida para ao CT através da VCP e para o sistema de lubrificação através da VPL. Ao mesmo tempo uma pressão regulada constante de 5bar é fornecida para as VS-1, VS-2 e VS-3 através da VRP-1 e para as VCEP-(1-4) pela VRP-2. Em paralelo, pressão modulada de controle é fornecida para a câmara de mola das VE-B, VE- C, VE-D e a VF-F através da VMODP. A posição neutra e a de estacionamento possuem as seguintes válvulas solenóides e reguladoras eletrônicas de pressão ativadas: freio F-G, válvulas solenóides VS-1 e VS-3 e válvulas reguladoras de pressão VCEP-1 e VCEP-2 57 3.10.2. Primeira marcha O engate da primeira marcha é obtido pela aplicação da embreagem de sentido único (ESU) e embreagens e freios E-B e F-G respectivamente. Isto é realizado da seguinte maneira: Movendo a VSP para a posição D. A pressão do fluido da VSP passa pelas válvulas VT(4-5) e VT(5-4) e respectivamente para VE-B que permite a pressão de fluido acione embreagem E-B. Energizando as válvulas solenóides VS-1 e VS-2 são abertas. A VS-1 aplica uma pressão de fluido reduzida constante para o lado esquerdo das válvulas de troca VTM-1 e VTM-3. A VTM-1 desloca-se para o lado direito contra a tensão da mola de retorno bloqueando a passagem do fluido direcionando para a VE-D. No entanto a VTM-3 não pode mover-se pois uma pressão reduzida constante similar é introduzida na extremidade da mola da válvula pela VS-2. A VS-2 aplica pressão reduzida constante no lado esquerdo da VTM-2 e no lado direito da VTM-3. Isto empurra a VTM-2 para a direita e dessa forma previne que a VTM-3 seja também empurrada para a direita pela pressão do fluido da VS-1 conforme mencionado anteriormente. A VCEP-1 fornece uma pressão de fluido variável regulado para a VMODP. Esta pressão é constantemente ajustada pela UCE para condições apropriadas de operação. A VCEP-3 fornece uma pressão variável controlada para frear e reter as válvulas VF-G e VRG respectivamente, permitindo que pressão de fluido aplique o freio F-G. 3.10.3. Segunda marcha O engate da segunda marcha é obtido pela aplicação da embreagem E-B e os freios F-E e F-G. Isto é realizado na seguinte maneira: E-B e F-G são aplicados como na primeira marcha. As VS-1 e VS-2 são energizadas portanto abrindo ambas as válvulas. Pressão de fluido de VS-1 é aplicada ao lado esquerdo de ambas VTM-1 e VTM-3, no entanto, somente a válvula VTM-1 muda para o lado direito. Ao mesmo tempo, pressão de fluido das VS-2 desloca a VTM-2 contra a tensão da mola de retorno e também pressuriza a extremidade da mola da VTM-3. Isto previne que a VTM-3 mova-se de encontro ao lado direito quando pressão de fluido da VS-1 é simultaneamente aplicada a extremidade oposta. As VCEP-1 e VCEP-3 têm sua corrente de controle reduzidas, desta forma causando um aumento na linha de pressão para as VMODP e para os freios e VF-G e VR-B respectivamente. Conseqüentemente, a pressão na linha continua a aplicar o freio F-G. A VCEP-2 tem sua corrente de controle reduzida de forma a fechar progressivamente a válvula. Conseqüentemente haverá um aumento na pressão do fluido atuando sobre o lado direito de ambas as válvulas de freio e retenção VF-E e VR-E 58 respectivamente. Como um resultado a VF-E abre de forma a permitir que a pressão da linha atue e aplique o freio F-E. 3.10.4. Terceira marcha O engate da terceira marcha é obtido pela aplicação da embreagem E-B e E-D e do freio F-E. Isto é realizado na seguinte maneira: a embreagem E-B e o freio F-E são aplicados para a segunda marcha. A VS-2 permanece energizada, de forma a manter a válvula aberta, como para a primeira e segunda marcha. A VS-3 encontra-se no estado desenergizado, de forma a impedir que a pressão da linha atinja a VTF através da passagem Y-Y. A corrente de controle da VCEP-3 é aumentada, causando a abertura da válvula e o colapso da pressão de fluido regulada. A mola de retorno move agora a embreagem e as válvulas de retenção VE-G e VR-G respectivamente, contra o lado direito. A VF-G agora impede a pressão da linha de atingir a embreagem F-G e libera (esvazia) a pressão da linha imposta sobre o pistão de freio de formato anular. O freio F-G é então desengatado. A VS-1 é desenergizada, isto permite que a VTM-1 retorne para a extremidade esquerda. Subseqüentemente passa agora através da VTM-1 para a VE-D e conseqüentemente aplica a embreagem E-D 3.10.5. Quarta marcha O engate da quarta marcha é obtido pela aplicação da embreagem E-B, E-C e E-D. A troca de marcha da terceira para a quarta marcha é realizada da seguinte maneira: a embreagem E-B e E-D são aplicados como para a terceira marcha. As VS-1 e VS-3 são desernergizadas e fechadas como para a terceira marcha. A VCEP-1 é desenergizada e parcialmente fechada, enquanto que VCEP-3 permanece energizada e aberta, ambas as válvulas operando como para a terceira marcha. A VCEP-2 é agora progressivamente energizada e aberta. Isto remove a pressão de controle do freio e mantém as válvulas VF-E e VR-E respectivamente. A pressão da linha para a válvula do freio VF-E é agora bloqueada causando a liberação (esvaziamento) da pressão de fluido pela VF-E e desengatando o freio F-E. A pressão de fluido passa agora através da embreagem E-C pelas VTM-1 e VTM-2 e pela válvula de embreagem VE-C . Subseqüentemente a embreagem E-C é aplicada de forma a completar a troca de marcha da terceira para a quarta. Válvula reguladora eletrônica de pressão VCEP-4 desernegiza e fecha progressivamente. Pressão de controle faz com que a VCPC mova-se para o lado esquerdo e VCET para o lado direito. Pressão de fluido é então fornecida pela VCET para o CT. Enquanto que pressão de fluido que alcança o lado esquerdo da embreagem de travamento 59 do conversor de torque é agora bloqueada pela VCET e esvaziada pela VCP. Como resultado a pressão de fluido no interior do conversor de torque empurra a embreagem de travamento fortemente contra a carcaça do rotor da bomba. Subseqüentemente a transmissão traciona, ao invés de passar através de fluido do rotor da bomba para o eixo de saída do rotor da turbina, é agora desviado diretamente pela embreagem de travamento do rotor da bomba para o eixo de saída do rotor da turbina. 3.10.6. Quinta marcha O engate da quinta marcha é obtido pela aplicação da embreagem E-C, E-D e freio F-E. A troca de marcha da quarta para a quinta marcha é realizada da seguinte maneira: as embreagens E-C e E-D são aplicadas como para a quarta marcha. A VS-2 é desernegizada como para a quarta marcha. A VS-3 é energizada, isto permite que a pressão do fluido, através da passagem Y-Y desloque a VTF para o lado direito. Como resultado a pressão de fluido é liberada (esvaziada) do lado da mola da válvula de tração VT(5-4), além disso pressão de fluido atuando na extremidade esquerda da válvula permite que se desloque para o lado direito. A VS-1 é energizada, isto pressuriza o lado esquerdo da VTM-1 e VTM-3. No entanto, VTM-1 não pode mover-se devido a existência de pressão de fluido atuando na extremidade da mola da válvula, enquanto que VTM-3 é livre para mover-se para a extremidade direita. Pressão de fluido da VE-E passa agora pela VTM-3 e pela VTF para a VT(4-5) fazendo com que esta última desloca-se para a extremidade direita. Conseqüentemente a VT(4-5) impede agora que a pressão de fluido principal passe através da VE-B e simultaneamente libere a embreagem E-B pelo esvaziamento da pressão de fluido aplicado sobre ele. A VCEP-2 desernegiza e fecha parcialmente. Pressão de fluido controlada passa agora para a extremidade direita da VE-E e retém a válvula VR-E, desta forma causando que ambas as válvulas desloquem-se para a extremidade esquerda. Pressão de fluido é agora permitida a aplicar o freio F-E para completar o engate da quinta marcha. A VCEP-4 desernegiza como para a quarta marcha. Isto causa a embreagem de travamento do conversor a engatar e com isso sobrepassar o conversor de torque . 3.10.7. Marcha reversa O engate da marcha reversa é obtido pela aplicação da embreagem E-A e dos freios E-F e F-G. A troca de neutro para marcha reversa é realizada da seguinte maneira: com a VSP na posição R, o freio F-G é aplicado como na posição neutro ou estacionamento. A VS-1 é energizada de forma a abri-la. Pressão de fluido constante move agora 60 as VTM-1 e VTM-3 em direção a extremidade direita. A VCEP-1 desernegiza como para a posição neutra. A VCEP-3 desernegiza e fecha. Pressão de fluido de controle é transportada para a VF-G e retém a VR-G. Ambas as válvulas deslocam-se para o lado esquerdo permitindo dessa forma que pressão alcance e aplique o freio F-G. A VSP na posição reversa desvia pressão de fluido da bomba de fluido diretamente para a embreagem E-A e indiretamente para o freio F-F através da VSP, VMR, VTM-2 e VE-F. Ambas as embreagens E-A e o freio F-F são então aplicados. 61 4 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DA TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA 4.1. Princípio de funcionamento Este estudo se baseia na transmissão automática de 5 velocidades desenvolvida e fabricada pela empresa ZF (Figura 33). Figura 33 – Transmissão Automática ZF de 5 marchas e um reversa (transaxial/ longitudinal). (HEISLER, 2000) Nesta transmissão o torque é transmitido através de um conversor de torque hidrodinâmico de três elementos que incorpora um disco de atrito do tipo embreagem de travamento. A força trativa é então direcionada através do redutor planetário duplo do tipo Ravigneaux que proporciona 5 marchas à frente e uma marcha reversa. A força trativa passa então para a saída através de um segundo estágio composto por um redutor planetário simples. O redutor planetário Ravigneaux possui duas engrenagens solares de entrada, grande e pequena. A engrenagem solar grande está interligada com três engrenagens satélites longas, enquanto que a engrenagem solar pequena está interligada com três engrenagens satélites curtas. Ambos os tipos de engrenagens satélites, longas e curtas, 62 estão apoiadas em uma única porta-planetária. Uma engrenagem anular única interligada com as engrenagens satélites curtas formam o lado de saída do conjunto. As relações de marchas individuais são selecionadas aplicando o torque de entrada tanto a porta-planetária, quanto a uma das engrenagens solares e mantendo-se estacionários vários outros membros. 4.1.1. Fluxo de força individual para cada marcha Para uma melhor compreensão do funcionamento da transmissão e das funções de seus componentes, encontra-se abaixo uma lista dos principais componentes e as abreviações utilizadas nesta descrição. ESU – Embreagem de sentido único A, B, C e D – Embreagens multi-discos E, F e G – Freios multi-discos SG – Engrenagem solar grande SP – Engrenagem solar pequena ST – Engrenagem solar do conjunto planetário traseiro PD – Porta-planetária do conjunto planetário dianteiro PT – Porta-planetária do conjunto planetário traseiro TL – Engrenagens satélite longas TC – Engrenagens satélite curtas TT – Engrenagem satélite do conjunto planetário traseiro AD – Engrenagem anular do conjunto planetário dianteiro AT – Engrenagem anular do conjunto planetário traseiro 4.1.2. Primeira marcha Com a alavanca seletora em D, a embreagem de sentido único (ESU) retém a porta-planetária dianteira (PD) enquanto a embreagem multi-discos (B) e freio também multidiscos (G) são aplicados. O torque flui do motor para a bomba do conversor de torque e deste para a turbina através do deslocamento do fluido. O torque é então direcionado para o eixo de entrada e para a embreagem (B) e desta para a engrenagem solar grande (SG). Com a porta-planetária dianteira (PD) mantida estacionária pela embreagem de sentido único (ESU), o torque passa da engrenagem solar grande (SG) para as engrenagens satélites longas (TL) em sentido anti-horário. As engrenagens satélites longas (TL) conseqüentemente tracionam as engrenagens satélites curtas (TC) em sentido horário, desta forma, forçando a engrenagem anular dianteira (AD) a movimentar-se no sentido horário. A força flui então a partir da engrenagem anular dianteira (AD) através do eixo intermediário traseiro para a engrenagem anular traseira (AT) do conjunto planetário traseiro também em 63 sentido horário. Com a engrenagem solar traseira (ST) mantida estacionária pelo freio multidisco (G), as engrenagens satélites traseiras (TT) são forçadas a girar em torno da engrenagem solar traseira (ST) em sentido horário, isto por sua vez compele a portaplanetárias traseira (PT) e o eixo de saída a rotacionarem em sentido horário e a uma velocidade bastante reduzida. Se a primeira marcha é selecionada de forma manual (posição 1 da alavanca PRDN1234), o freio multi-disco (F) é aplicado em conjunto com a embreagem multi-disco (B) e o freio multi-disco (G). Como resultado, ao invés de a embreagem de sentido único (ESU) permitir que o veículo mova-se livremente quando a velocidade da transmissão excede a velocidade do motor (situação de freio motor), o freio multi-disco (F) bloqueia a portaplanetária dianteira (PD) a carcaça. Conseqüentemente existe tração entre o motor e a transmissão nas situações de aceleração e freio. Isto então permite que freio motor seja aplicado à transmissão quando esta traciona o motor (Figura 34). Figura 34 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 1ª marcha (HEISLER, 2000) 4.1.3. Segunda marcha Com a alavanca seletora de posição em D, as C e B e o G aplicados, a força motriz flui do motor, através do conversor de torque, para o eixo de entrada, passando então pela B e desta para a SG. Com o E aplicado, a SP é mantida estacionária. Conseqüentemente a SG traciona as TL no sentido anti-horário e a TC no sentido horário, e ao mesmo tempo, as TC são forçadas a girar em direção horária em torno da SP, que se encontra estacionária. A força motriz passa então da AD para a AT através do eixo intermediário traseiro. Com a ST mantida estacionária pela aplicação do G, a rotação horária na AT conduz TT a girar em torno da ST em sentido horário fazendo com que a PT e o eixo de saída girem a 64 uma velocidade reduzida. Portanto a redução de marcha ocorre em ambos os conjuntos de redutores planetários (Figura 35). Figura 35 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 2ª marcha (HEISLER, 2000) 4.1.4. Terceira marcha Com a alavanca seletora de posição em D, as B e D e o E aplicados, a força motriz proveniente do motor flui através do conversor de torque para o eixo de entrada, passando então pela B e desta para a SG. Com E aplicado, a SP é mantida estacionária. Isto implica que a SG traciona as engrenagens TL no sentido anti-horário e as TC no sentido horário. Simultaneamente, as TC são compelidas a girar em sentido horário em torno da SP que é mantida estacionária. Conseqüentemente, a AD é também forçada a rotacionar em sentido horário mas a uma velocidade reduzida em relação à velocidade de entrada proveniente da SG. A força motriz é então transferida da AD para a AT através do eixo traseiro intermediário. Com a D aplicada a ST e a AT são mantidas unidas, prevenindo então ao conjunto traseiro de girar independentemente em torno de seus eixos. Portanto, a força motriz passa diretamente da AT para a PT e desta para o eixo de saída. Conseqüentemente, a redução de marcha é obtida no conjunto dianteiro, enquanto que o conjunto traseiro proporciona somente uma relação 1:1 (Figura 36). 65 Figura 36- Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 3ª marcha (HEISLER, 2000) 4.1.5. Quarta marcha Com a alavanca seletora de posição em D e as B, C e D aplicadas, a força motriz proveniente do motor flui através do conversor de torque para o eixo de entrada, passando então de B para SG e através de C para PD. Conseqüentemente, ambas, a SG e PD giram a mesma velocidade, prevenindo qualquer movimento relativo entre os redutores planetários ou seja, as engrenagens estão conectadas. Por isso a velocidade de saída através de AD e do eixo intermediário traseiro é a mesma que a velocidade do eixo de entrada. A força motriz é então transferida para o conjunto de redutores planetários traseiros por AD e do eixo intermediário traseiro para AT. No entanto, com a D aplicada, a AT uni-se com ST. Com isto a força motriz flui diretamente da AT para PT e deste para o eixo de saída através dos conjuntos de redutores planetários que se encontram unidos. Desta forma não há redução de marcha em ambos os conjuntos de redutores planetários e as rotações de entrada e saída são iguais, se não iguais, bastante próximas (Figura 37). 66 Figura 37 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 4ª marcha (HEISLER, 2000) 4.1.6. Quinta marcha Com a alavanca seletora de posição em D, as C e D e o E aplicados, a força motriz proveniente do motor flui através do conversor de torque para o eixo de entrada, passando então através da C para a PD. Com o E aplicado, a SP permanece estacionária. Como resultado, a PD e as TL e T C são tracionadas em sentido horário. Isto compele então as TC a girarem no sentido horário em torno da SP. Isto força a AD a girar em torno de seu eixo. No entanto, isto ocorrerá a uma velocidade maior do que a velocidade de entrada na PD. Observe que as TL e a SG giram, mas ambas estão inativas, ou seja, a força motriz passa da AD para AT através do eixo traseiro intermediário. Com a D aplicada, a AT e ST, estão unidas e travadas. Com isso as TT que se encontram comprimidas entre a ST e AT, também se juntam. Portanto, a força motriz flui diretamente através do conjunto da engrenagem planetária traseira ao eixo de saída sem mudança de velocidade. Desta forma, uma elevação na velocidade total obtida, ou seja, obtém-se uma quinta marcha que proporciona maior velocidade. A elevação da velocidade ocorre somente no primeiro conjunto de redutores planetários, o segundo conjunto fornece somente uma relação 1:1 (Figura 38). 67 Figura 38 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas – 5ª marcha (HEISLER, 2000) 4.1.7. Marcha reversa Com a alavanca seletora de posição em R, os E e F e a A aplicados, a força motriz proveniente do motor flui através do conversor de torque para o eixo de entrada, passando então através da A para a SP. Com o F aplicado, a PD permanece estacionária e a força motriz passa da SP, girando em sentido horário, para a TC fazendo com que esta gire em sentido anti-horário. Como resultado a AD será compelida a girar em sentido anti-horário. A força motriz passa da AD para a AT através do eixo traseiro intermediário. Com a ST mantida estacionária pela aplicação do G a rotação anti-horária da AT compele a TT a girar em sentido anti-horário em torno da ST que se encontra estacionária, e desta forma carregando a PT e o eixo de saída a uma velocidade reduzida. Conseqüentemente a direção da força motriz é invertida no primeiro conjunto de redutores planetários, e existe uma redução de marcha em ambos os conjuntos de engrenagens (Figura 39). 68 Figura 39 - Transmissão Automática ZF de 5 marchas –marcha reversa (HEISLER, 2000) 69 5 TROCAS DE MARCHAS NA TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA 5.1. Controle hidráulico No caso da transmissão utilizada como referência para este estudo, as trocas de marcha são realizadas através do funcionamento característico de um conjunto de componentes, tais como a embreagem de roda livre (quando trocando da primeira para segunda marcha e vice- versa), 4 embreagens muti-discos (A, B, C e D) e três freios também multi-discos (E, F e G). As embreagens e freios multi-discos são comandados por um controle do tipo eletro-hidráulico, onde a pressão hidráulica é fornecida por uma bomba acionada pelo motor do veículo. Para aplicar uma embreagem ou um freio, o fluido pressurizado da unidade de controle hidráulico é direcionado a câmara de um pistão de formato anular, fazendo com que o pistão pressione os discos de fricção da embreagem. Desta forma, a força motriz é transferida da entrada para saída dos membros da embreagem enquanto estes membros giram com velocidades distintas. A troca de uma marcha ocorre aplicando-se e removendo-se diversas embreagens e freios. Durante uma troca de marcha ascendente (2-3, 3-4, 4-5) ou descendente (5-4, 4-3, 3-2) uma embreagem é engatada enquanto outra é desengatada. De forma a alcançar um fluxo de força ininterrupto, a embreagem que se encontra em desengate permanece parcialmente engatada, embora com uma pressão de engate bem reduzida, enquanto isso, a pressão de acoplamento da embreagem a ser engatada aumenta. 5.2. Controle da embreagem As características de rotação, torque e pressão de uma troca de marcha ascendente são apresentadas na figura 40. 70 Figura 40 – Característica da troca ascendente: a) característica de rotação do motor; b) característica de pressão das embreagens; c)característica de transmissão de torque (MARTIN; REDINGER; DOURRA, 2000) Característica de rotação (Figura 40a): Caso o veículo acelerasse de forma ininterrupta e uma troca de marcha não ocorresse, a rotação do motor aumentaria de forma contínua. No entanto, durante a fase de transição para uma marcha ascendente, fase de regulação, existe um pequeno aumento da rotação do motor, acima da curva de rotação hipotética. Esta pequena elevação da rotação é causada por uma pequena quantidade de escorregamento entre o fechamento e a abertura das embreagens responsáveis pela troca. 71 Imediatamente após a fase de transferência de torque ocorre uma redução da rotação do motor e em seguida a rotação aumenta novamente de forma contínua. Este efeito é causado pela transferência integral da resistência a tração que por sua vez derruba a rotação do motor, esta é seguida de uma recuperação da potência do motor que permite elevar novamente a rotação. Característica de pressão (Figura 40b): Quando uma troca de marcha ascendente está para iniciar, a pressão da embreagem de engate aumenta rapidamente de uma pressão residual para a pressão principal do sistema, caindo então rapidamente a um valor um pouco abaixo da metade da pressão do sistema e permanecendo neste valor até a fase de transferência de torque. Na fase de transferência de torque a pressão da embreagem de engate aumenta rapidamente. No entanto, após esta fase, a pressão aumenta a uma taxa bastante inferior. Finalmente a pressão da embreagem de engate retorna aos valores da pressão principal do sistema. Entre o aumento e a queda da pressão da embreagem de engate, a pressão da embreagem de desengate cai para algo em torno de 2/3 da pressão principal do sistema, permanecendo constante. Próximo ao fim da fase de transferência de carga a pressão colapsa para uma pressão residual onde permanece durante o período em que a embreagem esta desengatada. A figura 40b) mostra a sobreposição de pressões entre a redução da pressão da embreagem de desengate e o aumento da pressão de embreagem de engate durante o período de transferência de torque. Uma conseqüência do excesso na pressão de sobreposição seria o forte engate dos membros das embreagens e freios e conseqüentemente tensões internas elevadas na linha de transmissão de potência. Enquanto que uma pressão de sobreposição insuficiente causaria um aumento da rotação do motor no período de transferência de torque. Característica de torque (Figura 40c): A figura 40c) mostra como o torque transmitido pelas embreagens de acoplamento e desacoplamento muda durante uma troca de marcha ascendente. A figura mostra ainda uma queda e uma recuperação muito pequena de torque para o desengate da embreagem após a queda inicial de pressão, do que durante a fase de transferência de torque na qual o torque de saída da embreagem de desengate cai abruptamente enquanto o torque de saída da embreagem de engate aumenta rapidamente. O torque de saída resultante, transmitido durante a fase de transferência de torque, também mostra uma queda e recuperação e um pequeno crescimento acima do torque máximo anterior, isto ocorre devido pois a transmissão é capaz de fornecer todo o torque disponível do motor. Finalmente o torque transmitido do motor cai uma pequena 72 quantidade no ponto onde a rotação do motor caiu para o seu valor mínimo, permanecendo constante a mediada que a rotação do motor aumenta novamente. Novas estratégias para a troca de marcha estão em desenvolvimento. A ZF introduziu na sua transmissão 5PH24 um novo método para a troca de marcha, conhecida como “troca controlada por eventos”. Este tipo de troca é retratado na figura 41. Figura 41 –Seqüência de troca controlada por eventos da ZF 5PH24 (SCHERER; GIERER, 2000). Na embreagem de desengate, é definido um limite baixo de escorregamento, de aproximadamente 100 rotações por minuto (rpm), que é controlado através do sensor de rotação da turbina. Quando a embreagem de engate começa a aumentar o torque, a característica da rotação da turbina muda e a unidade de controle começa a desconectar a embreagem anterior através do controle da rotação em uma faixa pré-definida. Desta forma é possível eliminar o efeito das tolerâncias dos elementos de troca e assegurar que a troca ocorra exatamente quando a sincronização é atingida (SCHERER; GIERER, 2000). 73 5.3. Trocas de marcha ascendentes com carga Como observado anteriormente, em trocas ascendentes a embreagem de engate promove a variação da rotação da turbina. No instante programado, o controlador irá acionar a embreagem de desengate. O controlador lê a rotação da turbina continuamente, realizando correções se a capacidade de torque da embreagem de engate não for adequada, de forma a alcançar a taxa de desaceleração desejada da rotação da turbina. Assim como, a embreagem de desengate poder ser engatada novamente de forma a auxiliar no controle da taxa de desaceleração. A figura 42 mostra a troca de marcha ascendente. Figura 42 – Troca de marcha 2-3. Tempo em segundos (MARTIN; REDINGER; DOURRA, 2000). Antes de iniciar a troca, o controlador estabiliza a pressão de alimentação do sistema em um valor pré-estabelecido, de tal forma que a troca ocorra a uma pressão conhecida e estabilizada. Posteriormente, ocorre a abertura e fechamentos das embreagens respectivas conforme a taxa de desaceleração desejada. Observe que o motorista mantém o acelerador constantemente pressionado em uma determinada posição e que o escorregamento está sempre presente. A troca ideal ocorre através da atuação simultânea das embreagens de engate e desengate, de forma que a abertura da embreagem de desengate ocorra no instante exato 74 no qual a embreagem de engate possui a capacidade de transmissão de torque requerida para transmitir o toque do motor. Ou seja, no instante que a embreagem de engate começa a ser aplicada, a embreagem de desengate completa a liberação. Isto é feito permitindo que a embreagem de desengate retorne por alguns instantes a uma posição anterior, de forma a garantir que a aplicação de ambos ocorra simultaneamente (MARTIN; REDINGER; DOURRA, 2000). 5.4. Trocas de marcha descendentes com carga Durante uma troca de marcha descendente, a embreagem de desengate realiza a variação da velocidade. O controlador atua sobre a embreagem de desengate de forma a atingir a taxa de aceleração desejada. No final da troca, o controle pode re-aplicar a embreagem de desengate com a finalidade de evitar um sobre giro do motor, ao mesmo tempo em que aplica a embreagem de engate e que esta possua a capacidade de transmissão de torque necessária para transferir o torque fornecido pela turbina. A figura 43 ilustra uma troca de marcha descendente (redução de duas marchas consecutivas) realizada com pedal na posição máxima (Kickdown) e rotação do motor elevada. O controlador reage ao comando do motorista, que se faz através do acelerador, aumentado a pressão principal até a pressão desejada para a realização da troca. Quando a pressão na linha principal atinge a pressão desejada, o escorregamento na embreagem de desengate da 4ª marcha indica uma troca 4-3. Mas como o motorista continua a pressionar o pedal do acelerador, o controlador aborta a troca 4-3 em favor de uma troca 4-2, acoplando novamente a embreagem da 4ª marchar, e liberando a embreagem direta e aplicando a embreagem relativa à 2ª marcha. As embreagens que são engatadas ou desengatadas dependem da lógica referente a cada transmissão. 75 Figura 43 – Troca de marcha descendente 4-2. Tempo em segundos (MARTIN; REDINGER; DOURRA, 2000). Trocas de marcha ascendente e descendente sem carga seguem os mesmos princípios das trocas com carga e portanto não serão discutidas em detalhe neste estudo. 5.5. Programas de troca de marcha Diversas outras formas de controle de trocas de marcha surgiram nos últimos anos. Tais estratégias resultam primordialmente do aprimoramento de componentes, seja através da aplicação de novos materiais ou da elaboração de novos projetos, assim como da utilização de estratégias de controle mais refinadas, aplicadas através de um software de controle alojado em uma unidade micro-processada. Tais estratégias de controle permitem a utilização de diversas funcionalidades adicionais que visam aumentar o conforto, a segurança e a eficiência em geral desse tipo de transmissão. A unidade de controle eletrônico da transmissão (UCE) além de controlar a seqüência de troca de marchas, permite a implantação de diferentes possibilidades, como por exemplo para a seleção de marchas. A seleção convencional de marchas é realizada através de programas de troca de 76 marchas. Estes programas determinam qual a marcha ideal que deve ser utilizada conforme a posição do pedal do acelerador e a velocidade do veículo. Estes programas de trocas convencionais podem assumir ainda variações tais como: modo econômico, modo esportivo, modo inverno ou modo fora-de-estrada, entre outros. Onde, basicamente, o instante no qual a troca deve ser realizada varia de um programa para outro. Por exemplo, o modo econômico prioriza trocas de marcha em regiões de consumo de combustível ótimo e o modo esportivo irá realizar trocas com um nível de torque mais elevado, buscando maior aceleração. O fabricante de veículos pode ainda integrar programas de troca de marchas dinâmicos e trocas manuais, conforme o seu desejo ou necessidade de mercado. A figura 44 ilustra os diversos dados de entrada para avaliação do programa de trocas de marcha a ser utilizado, assim como algumas funcionalidades que influenciam diretamente na seleção da marcha. Sinal de Partida Sinal do Pedal Seleção de Programas Sinais de Dirigibillidade Reconhecimento de Carga Sinal de “Kickdown ” Seleção de Inverno ou Fora-de-Estrada Sinal do Freio Avaliação do Tipo de Motorista Seleção do Programa de Troca Reconhecimento de Inclinação Reconhecimento de “Fast Off” Reconhecimento de Para e Anda Posição da Alavanca de Seleção Reconhecimento de Curva Seleção da Marcha Figura 44 – Programa dinâmico de troca de marchas Algumas destas funcionalidades apresentadas serão tratadas resumidamente nos itens abaixo. Tipo de motorista: Com base em diversos parâmetros de entrada que indiretamente identificam a forma que o motorista conduz o veículo, esta função ajusta os pontos de troca de marcha. Exemplo, se o motorista habitualmente trafega com muita carga no acelerador, as trocas de marchas serão realizadas com uma rotação maior do motor. Fast off: Se o motorista solta rapidamente o pedal do acelerador uma troca de marcha ascendente é impedida, de forma a auxiliar o motorista a reduzir a velocidade através do uso de freio-motor. 77 Reconhecimento de carga e inclinação: Para o reconhecimento de subidas ou descidas, ou até mesmo se o veículo transporta uma carga adicional, como um reboque, utiliza-se a função de reconhecimento de carga. O reconhecimento é realizado através do cálculo da diferença entre a aceleração do veículo, estimada a partir de informações provenientes da rotação das rodas, e de um cálculo interno que leva em consideração uma curva estimada das resistências ao rolamento. Por exemplo, uma descida é reconhecida através do cálculo da carga aplicada sobre o veículo (diferença de acelerações). Se o sinal de carga for maior que um valor determinado e se o pedal do acelerador é menor que a condição de não carga uma descida é reconhecida. Como conseqüência, a requisição de troca de marcha é realizada utilizando parâmetros específicos para esta situação. Reconhecimento de curvas: Esta função não permite que uma troca de marcha ascendente ocorra no caso de uma curva acentuada. A intensidade da curva é obtida através da determinação da aceleração lateral do veículo, que por sua vez é calculada a partir da comparação da velocidade da roda que se encontra no lado de dentro da curva e da roda do lado de fora da curva. Modo inverno ou fora-de-estrada: É em geral utilizada para condições onde exista neve, gelo ou lama. Esta função é acionada através de um botão localizado junto a alavanca de seleção. Nesta condição as requisições de troca de marcha utilizam as curvas características da função inverno, que em geral evitam uma grande quantidade de torque na roda. Escorregamento das rodas: Esta função verifica se a roda está girando em falso, e conseqüentemente proíbe a redução para a 1ª marcha. Botões de troca: Vários botões podem ser agregados ao painel do veículo de forma a selecionar a característica de troca de marchas desejada. Por exemplo, botões para seleção do modo inverno, esportivo e troca de marchas manuais. Modo de segurança: No caso da detecção de algumas categorias de falhas na transmissão ou até em outros componentes do veículo, esta função possibilita trocas de marcha em pontos de rotação do motor e velocidade do veículo diferenciados. Geralmente, nesta situação, as trocas são realizadas em rotações e velocidades menores e impedem a seleção de algumas das marchas. Frenagem de emergência: Esta função proíbe uma troca de marcha descendente caso ocorra uma frenagem de emergência. O reconhecimento se faz através de informações enviadas pelo dispositivo de antitravamento das rodas. Estabilização de marchas: Esta função tem como objetivo reduzir a freqüência que uma troca de marcha ocorre, através da proibição da ocorrência de uma troca ascendente ou descendente, forçando um tempo mínimo entre as trocas em função da posição do pedal do acelerador. 78 Proibição de trocas de marchas ascendentes: Seu objetivo é impedir trocas de marchas ascendentes se uma aceleração mínima estimada, de acordo com marcha superior a ser engatada, não for possível de ser atingida. Controle de Neutro: Esta funcionalidade, de grande importância para a redução do consumo de combustível e para aumento do conforto, foi introduzida pioneiramente pela fabricante japonesa de transmissões AISIN em 1995 em suas transmissões 50-40LN, no veículo Vectra da OPEL. Esta função faz com que a embreagem direta seja aberta quando o motor do veículo encontra-se em rotação de marcha lenta com o freio de serviço aplicado. Conseqüentemente, as perdas decorrentes do escorregamento do conversor de torque são reduzidas, o que reduz a carga sobre o motor. Como resultado, uma menor quantidade de combustível é utilizada para manter o motor em funcionamento. Testes realizados pela AISIN demonstraram uma redução de até 20% no consumo de combustível quando o motor encontra-se em marcha lenta e 5% em testes realizados com média de velocidade de 15 km/h e condições de trafego congestionado (HAYABUCHI, et. al, 2000) O desenvolvimento contínuo de estratégias de controle para a transmissão automática já experimenta a utilização de controladores Fuzzy e por Redes Neurais. O avanço neste tipo de controle permitirá a utilização da transmissão automática sem a necessidade de calibração extensiva e dispendiosa de todas as funcionalidades, pontos de troca e etc. Uma vez que o próprio controlador irá “aprender” objetivamente com o motorista a sua maneira de dirigir e conseqüentemente como a transmissão deverá operar (KONDO; GOKA, 2000). 79 6 A TRANSMISSÃO DE DUPLA EMBREAGEM 6.1. Introdução O emprego de transmissões automáticas convencionais dotadas de conversor de torque é atualmente a solução mais comum na automatização do trem-de-força. As evoluções obtidas recentemente satisfazem as demandas dos consumidores por conforto, robustez e custo. Para um conceito diferente de transmissão ser considerado como uma alternativa, deve proporcionar vantagens em economia de combustível e desempenho, isto sem apresentar deficiências em outras áreas. Conseqüentemente, transmissões de dupla embreagem (TDE) são novamente consideradas como alternativa no campo do desenvolvimento de transmissões. Este tipo de transmissão é conhecido de longa data, sendo inclusive utilizado em carros de corridas nos anos 80 (FLEGL, et al., 1987). Mas, somente com os recentes avanços da microeletrônica e dos dispositivos atuadores tornou-se possível a sua produção em larga escala. Transmissões de dupla embreagem são baseadas em transmissões mecânicas de engrenagens convencionais e de acionamento manual, conseqüentemente possuem elevada eficiência, na ordem de 95 % (BERGER; MEINHARD; BÜNDER, 2002). Tal fato permite também a utilização das instalações e equipamentos já existentes na fabricação de transmissões manuais. A utilização de embreagens duplas permite a troca de marchas sem que haja interrupção do torque na roda, o que é crucial tratando-se de conforto ao dirigir. Uma característica adicional é o bom desempenho que proporciona ao veículo, o que explica a sua utilização em carros de corrida. De forma a explorar as vantagens do conceito TDE, considerando principalmente o consumo de combustível e o custo de implantação, três elementos são essenciais: • Embreagens secas • Atuação eletro-mecânica • “Troca de marcha ativa”, que permite trocas para qualquer marcha, de forma não seqüencial. Uma transmissão com estas características pode ser observada na figura 45. 80 Figura 45 – Estrutura do TDE (KÜPPER, et al., 2004) Nesta figura pode-se observar em azul o conjunto formado por uma embreagem seca, seu respectivo atuador eletro-hidráulico de acionamento e o conjunto de marchas a qual está relacionada. Neste caso o conjunto de marchas ímpares (1ª, 3ª e 5ª marchas). O mesmo pode ser descrito para o conjunto em laranja, porém este está relacionado as marchas pares (2ª, 4ª e reversa). Na parte inferior encontra-se o atuador responsável pela seleção e engate das marchas, dentro do princípio de “troca de marcha ativa”. Este capítulo descreve o TDE e detalha algumas estratégias de controle, especialmente aquelas que requerem uma estreita interação com o controle do motor. Somente uma configuração e calibração conjunta com o motor podem resultar em resultados ótimos para o trem de força. 6.2. Transmissões de dupla embreagem A embreagem dupla seca é a peça central da TDE (Figura 46). Este é o requisito básico para uma elevada eficiência do conjunto. Mas, ao mesmo tempo, apresenta diversos desafios que devem ser superados através do projeto cuidadoso e de estratégias de controle adequadas. 81 Figura 46 – Embreagem dupla para motores de até 320 Nm (KÜPPER, et al., 2004) Maiores detalhes sobre a construção, os elementos e o princípio de funcionamento das embreagens podem ser encontrados em Heinsler (2002) e nas figuras expostas no anexo 1. Uma vantagem importante das embreagens secas em relação as embreagens molhadas é o reduzido torque de arraste quando desengatada. Uma embreagem seca é mais fácil de ser manuseada por atuadores eletromecânicos. O que configura mais uma vantagem, uma vez que motores elétricos podem ser utilizados no lugar de circuitos hidráulicos complexos e que requerem uma bomba de óleo. A “troca de marcha ativa” é a terceira característica essencial do TDE. Uma transmissão deste tipo é basicamente a combinação de duas transmissões parciais ou conjuntos de marchas. Para garantir a livre seleção (não seqüencial) de uma marcha em cada um dos conjuntos, são dispostas duas direções de atuação (engate e seleção) para cada conjunto individualmente. Para que isto fosse possível seriam necessários 4 atuadores distintos. O mecanismo de “troca de marcha ativa” permite ao TDE utilizar apenas 2 atuadores elétricos. A idéia básica da “troca de marcha ativa” é ampliar o canal de atuação nas hastes de marchas, permitindo ao dedo de seleção de marcha ser movido para o meio do canal sem desengatar a marcha (Figura 47). 82 Figura 47 – Canais amplos permitem a livre seleção de marchas (KÜPPER, et al., 2004) Na figura 47a a 1ª marcha é engatada. Em seguida, figura 47b, o dedo de seleção desloca-se pelo canal de atuação até o canal da 2ª marcha. Por fim, a segunda marcha é engatada. Note que a 1ª marcha permanece engatada e a força trativa passa através dela até que efetivamente ocorra a troca para a 2ª marcha, ou seja o desacoplamento de uma embreagem e o acoplamento da outra. Portanto é possível engatar uma marcha no segundo conjunto de marchas, sem desengatar a marcha no primeiro conjunto. Claro que o sistema deve ser projetado de forma a prevenir o engate simultâneo de duas marchas do mesmo conjunto. Isto é obtido pela segunda característica do mecanismo de “troca de marcha ativa”, chamado de “geometria de desengate” 83 Figura 48 – Geometria de desengate do mecanismo de “troca de marcha ativa” (KÜPPER, et al., 2004) O formato básico é apresentado na figura 48. O dedo de seleção, em vermelho, é responsável pelo engate das marchas(Figura 48a). A geometria em verde realiza o desengate de marchas dependendo da direção de atuação (Figura 48 b e c), Diferentes sessões agem de forma a deslocar os eixos de troca para a posição neutra. Por fim, a superfície circular forma um cilindro de travamento (Figura 48d) conforme é conhecido em transmissões manuais. Se uma marcha está engatada, a geometria de desengate atua em todas as outras passagens do mesmo conjunto de marchas. Isto garante que qualquer outra marcha será desengatada antes do engate de uma nova marcha. 84 6.3. Consumo de combustível Uma transmissão de dupla embreagem deve proporcionar o mesmo nível de conforto de uma transmissão automática convencional equipada com conversor de torque. Ao mesmo tempo, deve fornecer uma maior eficiência, comparada a de uma transmissão manual (FISCHER, et al., 2001). Uma transmissão possui dois fatores preponderantes que influenciam no consumo de combustível de um veículo: a distribuição das relações de marcha e a sua própria eficiência. Uma transmissão deve primordialmente proporcionar uma relação de marchas adequada. Este efeito é mostrado de forma qualitativa na figura 49 Figura 49 – Ponto de operação do motor e razão de transmissão (KÜPPER, et al., 2004) De forma a proporcionar o desempenho requerido pelo motorista, uma combinação de torque e rotação do motor e uma relação de marchas apropriada devem ser adequadamente selecionados. Isto é, o ponto de operação no mapa de torque do motor desloca-se sobre a linha de potência constante através da relação de marchas. Uma vez que o menor consumo específico ocorre a baixas rotações e a torques elevados, uma troca de marcha ascendente deve ser normalmente requisitada. A figura 49 mostra como uma seleção de relações de transmissão adequada proporciona grandes vantagens para motores de larga capacidade volumétrica. Deve-se também ressaltar que trocas de marcha freqüentes, que são geralmente necessárias para manter um consumo ótimo de combustível são aceitáveis somente se forem confortáveis e sem interromper a transmissão do torque motor para as rodas. Como uma conseqüência direta, a segunda influência, conhecida como perdas da transmissão, tem relevante importância no consumo de combustível do veículo. A figura 50 demonstra as perdas devido a embreagem e fontes de energia auxiliares para diferente tipos de transmissões. 85 Figura 50 – Perdas na embreagem e energias auxiliares (KÜPPER, et al., 2004) As perdas na embreagem representam as fases de escorregamento durante as arrancadas e trocas de marcha. As perdas do conversor de torque durante a arrancada estão incluídas na barra de escorregamento do conversor de torque. Em relação as perdas ocasionadas por torque de arraste nas embreagens molhadas de transmissões automáticas convencionais, transmissões com embreagens secas possuem uma clara vantagem. Embreagens molhadas possuem maior superfície de contato por embreagem, espaços com ar , como também um maior torque de arraste por abertura do que as embreagens secas. Transmissões automáticas com conjuntos de redutores planetários possuem a desvantagem adicional, que em alguma situação, as embreagens abertas possuem diferentes velocidades. Finalmente, as fontes de energia auxiliares deve ser consideradas. Um atuador elétrico possui demanda de potência de cerca de 20 W. Sistemas hidráulicos, por sua vez, possuem perdas causadas pela bomba de óleo, refrigeração do óleo e pelo controle hidráulico. De uma forma geral o sistema TDE com embreagens secas possui claramente uma maior eficiência. Além da vantagem sobre transmissões automáticas convencionais, existe uma significativa vantagem em relação a transmissões de dupla embreagem com embreagens molhadas. Portanto é esperada uma redução substancial no consumo de combustível. Logo, o TDE proporciona as vantagens da automatização de transmissões (com seleção ótima da relação de marchas), sem as desvantagens de outras transmissões automáticas, tais como torque de arraste e perda de potência. A figura 51 resume o potencial de economia da TDE. 86 Figura 51 – Consumo de combustível em diferentes tipos de transmissão (KÜPPER, et al., 2004) 6.4. Interação com o motor As estratégias de controle da embreagem e da transmissão do sistema TDE devem lidar com duas características contrastantes. De um lado estes componentes determinam o torque no trem-de-força por períodos de tempo substanciais, pois para uma embreagem na fase de escorregamento, o torque no trem-de-força é exatamente igual a capacidade de transmissão de torque da embreagem. O motor está desacoplado das rodas. Nestas situações o torque do motor somente influencia na velocidade de escorregamento mas não no torque transmitido ou na aceleração do veículo. Toda a aceleração, desaceleração e efeitos acústicos, por exemplo oscilações no trem-de-força, são influenciadas pela embreagem enquanto há escorregamento. Por outro lado, as estratégias de controle da embreagem e da transmissão não possuem a possibilidade de calcular diretamente o torque no trem-de-força sem o auxílio de custosos sensores adicionais na transmissão. Portanto, a informação de torque, que é vital para um controle otimizado, deve ser fornecida pelo sistema de gerenciamento do motor. 6.4.1. Informações do motor A informação mais importante para o controle da embreagem proveniente do sistema de gerenciamento do motor é o torque atual do motor. Mesmo que as propriedades da embreagem seca variem pouco durante sua vida útil, a curva característica de transmissão de torque muda substancialmente em períodos curtos. A capacidade de torque de uma embreagem seca é determinada pelo curso do sistema de acionamento (figura 52), enquanto que para embreagens molhadas a pressão do fluido hidráulico determina a capacidade de torque atual. O sistema TDE da LuK não mede o torque diretamente do sistema de acionamento, mas indiretamente, utilizando sensores de 87 efeito hall nos motores elétricos. Figura 52 – Curva característica da embreagem seca. (KÜPPER, et al., 2004) A curva característica da embreagem deve ser continuamente adaptada para se adequar as suas propriedades atuais. Os efeitos mais importantes são (Figura 52): • Mudanças no ponto de acoplamento: o ponto de acoplamento depende diretamente da deformação térmica do volante do motor, do desgaste do disco da embreagem e do sistema de acionamento. A rotação do motor tem uma influência considerável. • Mudança do coeficiente de atrito: Todos os efeitos que influenciam na curvatura da curva característica da embreagem são agregados pelas estratégias de controle da embreagem como o “coeficiente de atrito”. Este coeficiente inclui o coeficiente de atrito físico que pode variar em cerca de 50% dependendo da situação, temperatura, ou tolerâncias de produção. Fatores adicionais, incluindo diversos efeitos de temperatura, tal como a mudança do raio de fricção devido a deformação da placa de pressão, influências da rotação do disco de embreagem, e a máxima capacidade de torque que é influenciada principalmente por tolerâncias de produção. • Forma da curva característica: A convexidade da curva pode ser alterada substancialmente pela variação de temperatura e desgaste das molas de amortecimento do disco da embreagem. Utilizando a informação atual do torque motor e conhecendo o seu valor de inércia, as estratégias de controle da embreagem calculam o seguinte balanço de torque: . J motor ω = Tmotor − Tembreagem Durante a fase de escorregamento da embreagem, esta equação pode ser utilizada para calcular a capacidade de transmissão de torque. Utilizando esta informação e algoritmos adequados a curva característica da embreagem é adaptada continuamente. Naturalmente, a fase de escorregamento ocorre durante arrancadas trocas de marcha. A chamada adaptação do ponto de acoplamento trata-se de outro algoritmo para 88 ajustar a curva característica da embreagem. Com o motor em marcha lenta a embreagem é fechada de forma a transmitir um torque pré determinado, pequeno mas de forma precisa. A comparação entre este torque e o torque do motor permite a adaptação do ponto de acoplamento. Claramente, o torque atual calculado pelo motor não é completamente exato (especialmente devido aos erros no cálculo de torques de arraste). No entanto, para o controle da embreagem, exatidão absoluta é menos importante que reprodutibilidade. Pois a estratégia de controle da embreagem sempre calcula o torque da embreagem relativo ao torque do motor, o qual é a única fonte de informação absoluta de torque. A filosofia de básica de controle da embreagem é utilizar o tanto quanto possível controle em malha aberta e o menos possível controle em malha fechada. Esta estratégia é bem conhecida da teoria de controle e é especialmente útil neste caso. Como já mencionado, o torque transmitido pela embreagem na fase de escorregamento é proporcional a aceleração do veículo e é sentida imediatamente pelo motorista. Ao mesmo tempo, o torque da embreagem regula também a rotação do motor ou o escorregamento da embreagem. Um controle em malha aberta devidamente ajustado assegura que o torque da embreagem necessita ser ser apenas levemente modulado por uma fração em malha fechada, cuja operação pode, caso contrário, ser sentida por um motorista atencioso. As estratégias de malha aberta somente podem ser bem sucedidas se o sinal de torque proveniente do motor for acurado o suficiente e reprodutível. Outra informação com relação ao estado da adaptação deve ser trocada entre os sistemas de controle da embreagem e do motor. Por exemplo, deve-se assegurar que a adaptação do ponto de acoplamento do TDE e a adaptação da marcha lenta do motor não interfiram uma na outra de forma negativa. 6.5. Trocas de marchas 6.5.1. Intervenção do motor Assim como as transmissões automáticas mais recentes, o TDE requer intervenção do motor para realizar trocas de marchas ótimas e confortáveis. A figura 53 apresenta uma troca de marcha ascendente típica. A troca de marcha pode ser dividida em três fases distintas: fase de escorregamento, fase de manuseio de torque e fase de ajuste da rotação. 89 Figura 53 – TDE troca de marcha ascendente com carga (KÜPPER, et al., 2004) 1. Fase de escorregamento Primeiramente o torque da embreagem que irá desacoplar é reduzido para valores abaixo do torque do motor, com isto, é criado um pequeno escorregamento entre o disco de fricção e o volante do motor, de tal forma que o desengate inicie-se de forma suave. 2. Fase de manuseio de torque O torque é transferido da embreagem em processo de desengate para a embreagem em processo de engate. Esta transferência é controlada essencialmente em malha aberta. Nesta fase duas condições limítrofes devem ser observadas. Por um lado a rotação do motor não deve aumentar muito, e por outro lado a soma do torque transmitido por ambas as embreagens deve variar a menor quantidade possível. Se for necessária uma variação maior, esta deve ser feita de forma lenta e contínua, para isto o programa de controle do TDE deve requisitar uma intervenção do motor. Se forem reconhecidas condições para um aumento da rotação motor, esta é impedida também através de uma intervenção no torque do motor. No caso de uma queda na rotação do motor, pode haver o risco de uma embreagem acoplar bruscamente e causar uma descontinuidade no torque transmitido ao trem-de-força. Este acoplamento indesejado é impedido tanto por um aumento do torque do motor requisitado pelo controle da embreagem, ou, se o motor encontra-se no torque máximo, por uma abertura lenta da embreagem que se encontra em fase de desacoplamento. Esta abertura gradual da embreagem é perceptível ao motorista devido a mudança no torque total disponível no trem-de-força. 90 3. Ajuste da rotação Nesta fase, a rotação do motor é levada a um patamar de rotação pré-estabelecido (rotação objetivo). Para isto diversas estratégias estão disponíveis, como aquelas que manuseiam o torque do motor ou o torque da embreagem. A figura 53 apresenta uma intervenção no torque do motor, onde se requisita uma redução do torque a fim de levar a rotação do motor a rotação ao valor de rotação objetivo (da transmissão 2) sem que seja necessária uma alteração no torque da embreagem e conseqüentemente no torque disponível para o trem-de-força. Isto requer uma grande precisão da redução do torque do motor que pode ser auxiliada por uma modulação adequada da embreagem. A coordenação da variação do torque entre a embreagem e o motor influencia significantemente a qualidade da troca, no seu aspecto mais importante, a impressão subjetiva do motorista. Estas três fases podem ser identificadas em todas as trocas de marcha. Em trocas descendentes com carga e trocas ascendentes sem carga a fase de ajuste da rotação ocorre antes da fase de manuseio de torque. Especialmente em trocas descendentes com carga, um aumento do torque do motor pode auxiliar em que a rotação do motor ajuste-se a rotação desejada mais rapidamente. Durante os períodos onde o controlador do TDE utiliza-se de estratégias de intervenção de torque juntamente ao motor, provou-se extremamente benéfico desligar-se algumas funcionalidades do sistema de gerenciamento do motor. Um exemplo típico é o desligamento da estratégia de amortecimento de oscilações do motor, o qual poderia impedir ou retardar a obediência a intervenção de torque requisitado pelo TDE. Fica clara a importância de uma comunicação efetiva entre o gerenciamento do motor e o controle da embreagem ou da transmissão. A importância devida deve ser dada não só as funcionalidades (intervenção de torque, intervenção de rotação e etc.) mas também na definição da interface entre estes componentes. Obviamente aspectos de segurança devem ser considerados. 6.6. Torque requisitado pelo motorista Um sinal significativo para o controle do TDE é o denominado torque requisitado pelo motorista. Este é o torque que o motor pode disponibilizar em um determinado ponto de operação, correspondente a posição do pedal do acelerador que é fornecido pelo motorista. Este não é o máximo torque teórico, mas o valor que pode ser efetivamente atingido pelo motor. Este valor líquido é calculado considerando-se as perdas por atrito e de potência requisitada por dispositivos auxiliares, assim como outras influências, tais como a temperatura ou a pressão do ar de admissão do motor. Seu valor é determinado utilizando o 91 valor atual da posição do pedal do acelerador e não considera as mudanças causadas por qualquer intervenção sobre torque do motor, como por exemplo, aquelas demandadas pelo controle de torque e rotação exercidos pela transmissão. Durante a troca de marcha, o torque requisitado pelo motorista, após os ajustes aos efeitos dinâmicos, torna-se o valor de torque de referência que a dupla embreagem deve transmitir durante. A importância do torque requisitado pelo motorista pode ser melhor explicada considerando uma troca de marcha onde o motorista muda a posição do pedal durante a mesma. Esta troca é ilustrada na figura 54. Durante a troca de marcha ascendente com carga o motorista alivia o pedal do acelerador de forma significativa. A soma dos torques das embreagens deve ser manipulada de tal forma que a velocidade de escorregamento seja constante até o final da fase de manipulação do torque. Durante a fase de ajuste da rotação do motor, o torque requisitado tem um papel muito importante. Quando se encerra o escorregamento da segunda embreagem, o torque do motor deve encontrar-se o mais próximo possível do torque da embreagem. A razão para isto é que na transição entre a embreagem em escorregamento para a embreagem completamente aderida o torque no trem-de-força muda do torque possível de se transmitir pela embreagem para o torque requisitado pelo motorista. Figura 54 – Torque requisitado pelo motorista (KÜPPER, et al., 2004) Fica então claro que um bom conhecimento do toque na embreagem através dos valores de adaptação e do torque requisitado pelo motorista são de fundamental importância para o funcionamento adequado do TDE. Qualquer erro residual pode ser compensado por uma estratégia em malha fechada. Mais uma vez, a porção do controle em malha aberta é maximizada para otimizar o conforto ao dirigir. 92 6.7. Proteção da embreagem através da interação com o motor. Embreagens secas, assim como embreagens molhadas e também conversores de toque hidro-dinâmicos não são indefinidamente resistentes a abusos, como por exemplo stall. Nesta situação uma grande quantidade de energia é fornecida pelo motor por um longo período de tempo, sem que seja transmitida para as rodas. Conseqüentemente, após um certo tempo, uma redução do torque deve ser introduzida a fim de limitar a energia dissipada na embreagem. Existem ainda muito outros casos onde pode-se e deve-se coibir a má utilização do sistema, visando a segurança dos ocupantes do veículo e a integridade dos componentes do sistema. 6.8. Arrancada Por um longo tempo tem sido prática comum ajustar conjuntamente as características do conversor de torque e do comportamento do motor. Isto é igualmente necessário para o TDE. Para aplicações com TDE o requisito mínimo é certamente uma calibração específica do mapa do pedal do acelerador. A estreita relação entre o controle do TDE e o sistema de gerenciamento do motor é melhor ilustrado considerando-se uma mapa de pedal estático, conforme a figura 55. De forma simplificada, considera-se que durante a arrancada, um valor constante de pedal corresponda a uma rotação do motor constante. Considerando um mapa de pedal linear, um valor constante de 20% da posição do pedal do acelerador irá selecionar uma linha de potência constante no mapa do motor, por exemplo, “A”. Se uma rotação de arrancada constante de 2.000rpm é requerida, a embreagem deve transmitir cerca de 25Nm. Considerando um mapa de pedal progressivo, a linha de potência constante “B” seria utilizada. O motorista teria que arrancar com mais que o dobro do torque a mesma rotação do motor. Com isto, o veículo não pode ser manobrado. Para obter o mesmo torque de arrancada, como no primeiro caso, a velocidade do motor deveria ser elevada acima dos 4.000rpm. Isto não é aceitável por razões acústicas e de desgaste. Fica evidente que estes efeitos são independentes da estratégia específica de arrancada. De forma a prevenir que a rotação do motor eleve-se demasiadamente, a embreagem deve sempre transmitir o mesmo torque que o motor fornece. 93 Figura 55 – Influencia do mapa de pedal na arrancada (KÜPPER, et al., 2004) Uma calibração separada do sistema de gerenciamento do motor e do TDE não é efetiva. Uma vantagem adicional do TDE é que o controle da embreagem, assim como o sistema de gerenciamento do motor, é amplamente passível de calibração, ao contrário de sistemas convencionais com conversores de torque que possuem características rígidas. A calibração conjunta dos sistemas do motor e do TDE é necessária para alcançar resultados ótimos. Se a colaboração entre ambos é limitada, ambos os sistemas de controle podem atuar um contra o outro, resultando em oscilações durante a arrancada. Um mapa de pedal estático é certamente somente um aspecto do sistema de gerenciamento do motor. Outros exemplos são curvas de arrancada determinadas, estratégias de amortecimento de oscilações, e para motores diesel, mapas de limites de emissões de gases poluentes. Além disso, a cooperação entre o controle da embreagem e do motor otimiza situações críticas como por exemplo, arrancadas em regiões de baixo torque. 6.9. Manobra de estacionamento Assim como conversores de toque, embreagens secas tem a capacidade de proporcionar a movimentação do veículo sem que o pedal do acelerador seja pressionado. Esta manobra é conhecida como manobra de estacionamento ou Creeping. A diferença principal é que a embreagem somente transmite torque se o freio é liberado. Tipicamente o 94 torque transmitido é de cerca de 15Nm. A partir do memento que o motorista deseja utilizar esta funcionalidade, uma demanda elevada se faz sobre o controle de marcha lenta do motor. O motor deve fornecer rapidamente o torque necessário para mover o veículo e ao mesmo tempo manter a marcha lenta estável. A desempenho da funcionalidade por ser substancialmente melhorada se o controle do motor fornece um torque de reserva, que pode ser rapidamente entregue quando requisitado pela embreagem. Este ou outros mecanismos podem ser utilizados pelo controle da embreagem com a finalidade de informar ao controle do motor sobre a intenção de transmitir torque naquele instante. Durante a manobra de estacionamento, o torque da embreagem pode variar para proporcionar um controle da rotação. Os controles da embreagem e do motor devem ser ajustados juntamente de forma a evitar qualquer tipo de oscilação no trem-de-força que possa ser identificado pelo motorista. Finalmente, deve ser ressaltado que, além dos sinais discutidos, existem dezenas de outros sinais e informações trocadas entre o TDE e o controle do motor. Estes incluem, entre outros, rotação do motor, marcha selecionada, o torque transmitido pela embreagem e etc. O manuseio de códigos de falha é outra área onde o entendimento mutuo das estratégias é extremamente necessário No mercado atual, onde a participação de veículos dotados de transmissões automáticas aumenta rapidamente, acredita-se que o TDE obterá uma participação substancial do mesmo. No entanto, somente logrará êxito se suas estratégias de controle e sua calibração forem realizadas em estreita cooperação com o sistema de gerenciamento do motor. 95 7 ESTUDO COMPARATIVO DAS TRANSMISSÕES NAS TROCAS DE MARCHAS Este capítulo apresenta um estudo comparativo dos dois tipos de automatização de transmissões tratados neste trabalho. Primeiramente serão apresentadas as características da transmissão automática e do veículo utilizado para este estudo, assim como um demonstrativo da característica de troca de marchas. Em seguida, o mesmo será feito para a transmissão de dupla embreagem. Por fim serão definidos os métodos e critérios de comparação e apresentados os resultados. 7.1. Transmissão automática 7.1.1. Características da transmissão automática A transmissão automática utilizada neste estudo é a AT 50-4-Speed de controle eletrônico para veículos de tração dianteira da fabricante Aisin AW. Trata-se de uma transmissão de 4 velocidades a frente e que possui, entre outras características, as funcionalidades de controle de neutro, embreagem de travamento e overdrive conforme apresentado na figura 56. Figura 56 – Esquemático da Transmissão Aisin AW 50-4-Speed (OZAKI et al., 2000) Esta transmissão possui três eixos, o principal que se encontra interligado com o motor, o intermediário e o eixo de saída para o diferencial. O conjunto de redutores planetários, embreagens e freios, ambos multi-discos, estão localizados junto ao eixo principal. As relações de marcha são obtidas através de um conjunto Ravigneaux na entrada e um conjunto simples na saída, portanto produzindo 4 marchas a frente e uma reversa. A tabela 5 apresenta as relações de marcha e a disposição de cada embreagem e freio no engate de cada marcha. 96 Solenóide S1 S2 SL Embreagem C Freio ESU Relação de C1 C2 C3 B1 B2 F0 F1 Marchas û û ü û û û û Diferencial 0 ü P û û û 2,86 R ü û û û û ü ü û ü û û N ü û û û û û ü û û û û 1 ü û û û ü û ü û û ü ü 3,67 2 ü ü û û ü û ü ü û ü û 2,10 3 û ü ± ü ü û ü û û ü û 1,39 4 û û ± ü ü û û ü û û û 1 1 ü û û û ü û ü û û ü ü 2 ü ü û û ü û ü ü û ü û 3 û ü û ü ü û ü û û ü û 1 ü û û û ü û ü û ü ü ü 2 ü ü û û ü û ü ü û ü û D 2 1 Legenda ü Ativo Engatado Travado û Inativo Desengatado Livre ± Ativo: se ESU ativo 4,02 Inativo: se ESU inativo Tabela 5 – Aplicação das válvulas solenóides, embreagens e freios e relações de marcha (OZAKI et. al, 1995). 7.1.2. Características do veículo de teste O veículo utilizado para os testes na transmissão automática foi um Astra sedan da General Motors do Brasil (GMB), com as seguintes características: • Massa do veículo no teste, considerando equipamentos e motorista: 1.580 kg • Pneus (largura, altura e raio da roda): 205 mm, 55% e 16 polegadas • Motor 1: 2.4 litros, 16 válvulas com torque máximo de 200Nm a 3.000rpm e potência máxima de 104kW a 5.000rpm. • Coeficiente de arraste aerodinâmico 1 : 0,32. • Área frontal projetada 1: 2,4 m2. Os testes foram realizados em uma pista reta e plana localizada no Campo de Provas da Cruz Alta em Indaiatuba, São Paulo, pertencente a GMB, com temperatura ambiente de 21oC, pressão barométrica de 95 kPa e 47% de umidade relativa do ar. 1 Dados obtidos diretamente com o departamento de engenharia da GMB 97 7.1.3. Característica de troca de marcha A figura 57 apresenta uma típica seqüência de trocas de marchas da transmissão automática. Para uma melhor compreensão, a legenda abaixo apresenta o significado dos sinais de interesse2 representados no gráfico. Legenda: EngTrq: torque do motor [Nm] EngTrqDrvReq: torque requerido pelo motorista [Nm] AccPedal: posição do pedal do acelerador [%] Engine Speed: número de revoluções do motor [rpm] Turbine Speed: número de revoluções da turbina [rpm] VehicleSpeed: velocidade do veículo [km/h] VehicleAcceleration: aceleração do veículo [g] GearActual: marcha engatada BrakePedal acionamento do pedal de freio GearShiftActiv indica o período de mudança de marchas 2 Os sinais apresentados aqui foram obtidos através de leituras da rede CAN (Controller Area Network) do veículo. CAN é o protocolo de comunicação o qual permite a troca de informações entre os diversos módulos eletrônicos do veículo. (BOSCH, 1999) 98 EngTrq EngTrqDrvReq AccPedal Nm 200 % 100 150 80 100 60 2 50 40 0 20 -50 0 EngineSpeed TurbineSpeed WheelSpeed 10^3 /min 5 10^3 /min 1.5 4 4 1.2 1 3 0.9 5 2 0.6 1 0.3 0 0.0 VehicleSpeed VehicleAcceleration km/h 200 m/s^2 2.5 160 2.0 3 120 1.5 80 1.0 40 0.5 0 0.0 GearActual BrakePedal GearShiftActiv 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 s 28/07/05 19:36:46 AT_Shift--8 Figura 57 – Seqüência de troca de marchas da transmissão automática Antes de se iniciar qualquer comparação entre dois sistemas distintos é importante compreender cada um individualmente. Para tanto a figura acima esclarece diversos aspectos do funcionamento desta transmissão automática. As trocas foram realizadas em seqüência, ou seja, de 1ª até 4ª marcha e com pedal do acelerador constante, neste caso em 60% do curso total. Os balões na figura acima identificam as seguintes características: 1. Arrancada: Na arrancada o conversor de torque possui a maior razão de multiplicação de torque, porém possui a menor eficiência, resultado direto da diferença entre a rotação de saída (rotação da turbina) e a rotação de entrada (rotação do motor). 2. Redução do torque do motor: Durante a troca de marcha pode-se observar uma queda acentuada do torque do motor. Esta redução temporária e proposital do torque tem por finalidade acelerar o processo de aproximação entre a rotação do motor e a rotação de 99 saída da transmissão, fazendo com que o conversor de torque volte a operar com eficiência mais elevada. Um segundo propósito é permitir uma transição mais suave entre as diferentes relações de marchas. 3. Perturbação ocasionada na troca: Ainda no processo de troca de marcha, é possível notar no sinal de aceleração3 uma descontinuidade acentuada. Estas variações abruptas da aceleração podem ser traduzidas em desconforto na troca de marcha. Este parâmetro é amplamente utilizado pelos calibradores quando da calibração do conforto das trocas de marcha. 4. Escorregamento relativo entre a rotação da turbina e a rotação do motor: Conforme descrito em capítulos anteriores, este escorregamento quando presente é um dos fatores responsáveis pela perda de eficiência da transmissão. 5. Bloqueio da embreagem de travamento: O escorregamento referido anteriormente cessa quando a embreagem de travamento é acionada. Desta forma, turbina e motor giram a mesma velocidade resultando assim em um ganho de eficiência. Embora o valor da aceleração longitudinal seja uma referência quando se trata de conforto em trocas, a perturbação causada é transmitida diretamente para a força trativa e conseqüentemente para a rotação das rodas. Esta perturbação é medida como uma descontinuidade instantânea do gradiente de rotação da roda. A figura 58 retrata a troca de marcha de segunda para terceira marcha (2à3), ilustrando melhor os itens descritos acima. 3 A aceleração aqui apresentada foi obtida de duas formas distintas, através de um acelerômetro instalado próximo ao centro de gravidade do veículo e através de cálculo a partir da informação de rotação das roda. O procedimento de cálculo será apresentado posteriormente, quando da apresentação dos métodos. 100 EngTrq EngTrqDrvReq AccPedal Nm 200 % 100 150 80 100 60 Redução do torque do motor 50 40 0 20 -50 0 EngineSpeed TurbineSpeed WheelSpeed 10^3 /min 5 10^3 /min 1.5 Mudança de relação de marcha 4 1.2 3 0.9 2 0.6 1 0.3 0 0.0 VehicleSpeed VehicleAcceleration km/h 200 160 m/s^2 2.5 Queda de aceleração = desconforto Patamar de aceleração antes da troca (1 m/s2) 2.0 Patamar de aceleração após da troca (0,5 m/s 2) 120 1.5 80 1.0 40 0.5 0 0.0 GearActual BrakePedal GearShiftActiv 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 13.2 13.4 13.6 13.8 14.0 14.2 14.4 s 28/07/05 19:36:46 AT_Shift--8 Figura 58 – Detalhe da troca de marcha 2 à 3 7.2. Transmissão de dupla embreagem 7.2.1. Características da transmissão de dupla embreagem A transmissão utilizada neste estudo é derivada de uma transmissão manual existente no mercado, modificada de forma a conter 3 eixos distintos, um de saída e dois de entrada, sendo um para as marchas ímpares e outro para as marchas pares. Para cada conjunto de marchas existe uma relação de diferencial. A transmissão possui 6 marchas à frente e uma marcha reversa, com as seguintes relações de transmissão, já considerando a relação do diferencial.4 Marcha 1 2 3 4 5 6 7 Relações 13,311 7,793 5,651 4,615 3,828 3,126 11,944 Tabela 6 – Relações de marcha da transmissão de dupla embreagem 4 Por se tratar de veículo e transmissões em desenvolvimento, informações mais detalhadas sobre a transmissão e o veículo de teste não puderam ser fornecidas, devido ao termo de confidencialidade. 101 7.2.2. Características do veículo de teste O veículo utilizado para os testes na TDE possui as seguintes características5: • Massa do veículo no teste, considerando equipamentos e motorista: 1420 kg • Pneus (largura, altura e raio da roda): 205 mm, 50% e 16 polegadas • Motor: 2.0 litros, 16 válvulas com torque máximo de 183Nm a 4.500rpm e potência máxima de 98kW a 4.500rpm. 5 • Coeficiente de arraste aerodinâmico 5 : 0,32 • Área frontal projetada 5: 2,4m2. Os testes foram realizados em uma pista reta e plana localizada na cidade de Bühl na Alemanha, pertencente a empresa LuK, a uma temperatura ambiente de 27oC, pressão barométrica de 102,1 kPa e 45% de umidade relativa do ar. 7.2.3. Característica de troca de marcha A figura 59 apresenta uma típica seqüência de trocas de marchas da transmissão de dupla embreagem. Para uma melhor compreensão, a legenda abaixo apresenta o significado dos sinais de interesse representados no gráfico. Legenda: EngTrq: Torque do motor disponível no eixo de entrada da transmissão EngTrqDrvReq: Torque requisitado pelo motorista ClTrq1: Torque da 1ª embreagem (responsável pelas marchas ímpares) ClTrq2: Torque da 2ª embreagem 2 (responsável pelas marchas pares) AccPedal: Posição do pedal do acelerador EngSpeed: Rotação do motor InShaftSpeed1: Rotação do 1º eixo de saída da transmissão (marchas ímpares) InShaftSpeed2: Rotação do 2º eixo de saída da transmissão (marchas pares) VehicleAcceleration: Aceleração do veículo no eixo longitudinal VehicleSpeed: Velocidade do veículo GearActual: Marcha ativa GearTrans1: Marcha engatada na 1ª. transmissão GearTrans2: Marcha engatada na 2ª transmissão TargetGear: Marcha desejada. BrakePedal: Acionamento do pedal de freio KickDown: Acionamento da função de Kickdown 5 Dados fornecidos pelo fabricante 102 EngTrq EngTrqDrvReq Nm 150 ClTrq1 ClTrq2 AccPedal % 100 3 100 75 50 50 0 25 -50 0 EngSpeed InpShaftSpeed1 InpShaftSpeed2 10^3 rpm 4 2 3 1 2 1 0 VehicleAcceleration VehicleSpeed mg 400 km/h 120 4 300 90 200 60 100 30 0 0 GearActual GearTransl GearTrans2 TargetGear BrakePedal KickDown 8 6 4 5 2 0 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 sec 03/08/05 16:06:52 Rambox: F6S74CYX Figura 59 – Seqüência de troca de marchas da TDE As trocas foram realizadas em seqüência da 1ª até a 6ª marcha e com pedal do acelerador constante, neste caso em 30% do curso total. Os balões na figura acima identificam as seguintes características: 1. Arrancada: O comportamento da arrancada é controlado pela embreagem da marcha engatada, na maioria dos casos a primeira marcha. Esta é a fase onde ocorre a maior diferença entre a rotação de entrada (rotação do motor) e de saída da transmissão e também a mais prolongada. Ou seja, existe um escorregamento relativo entre o disco de 103 fricção da embreagem6 e o volante do motor. Este escorregamento é traduzido em energia dissipada pela embreagem. Um efeito direto causado pela dissipação de energia na embreagem é o seu aquecimento instantâneo o que provoca mudanças na capacidade de transmissão de torque da embreagem, até que a uma determinada temperatura, dependente do material de atrito utilizado, a embreagem deixa de transmitir torque. Outro efeito do escorregamento é o desgaste do próprio disco de fricção. Neste sentido, o disco de fricção da embreagem da primeira marcha no TDE sofre maior desgaste que o disco de fricção da embreagem das marchas pares. 2. Comportamento da rotação na troca de macha: Na troca ascendente de marcha, a mudança da relação de transmissão faz com que a rotação do eixo de entrada da transmissão e conseqüentemente a rotação do motor diminuam até a atingirem a rotação indicada pelo outro eixo de entrada. 3. Comportamento do motor e das embreagens nas trocas de machas: A figura 60 apresenta com maior detalhe o comportamento do motor e das embreagens na troca da 1ª para a 2ª marcha. Durante a fase de troca a 1ª embreagem, referente a 1ª marcha, abre progressivamente, enquanto a 2ª embreagem fecha, de forma que o torque líquido transmitido seja constante. Em seguida ocorre a intervenção no torque do motor. Esta intervenção visa impedir um aumento indesejado da rotação do motor e acelerar a sincronização entre a rotação do motor e a rotação do eixo de entrada correspondente a nova marcha. 4. Perturbação ocasionada na troca: Ainda no processo de troca de marcha, é possível notar no sinal de aceleração uma descontinuidade acentuada. Estas variações abruptas da aceleração são traduzidas em desconforto na troca de marcha. Este parâmetro é amplamente utilizado pelos calibradores quando da calibração do conforto das trocas de marcha. 5. Lógica de engate das marchas: A marcha que se encontra em uso pelo veículo pode ser observada através do sinal GearActual. Mas, o processo de troca de marcha iniciase quando a próxima marcha a ser engatada é identificada, o que é representado pela variação do sinal TargetGear. Logo após a troca de marcha ocorrer efetivamente é interessante notar que uma nova marcha é engatada no conjunto pertencente a embreagem que se encontra aberta. 6 Maiores detalhes sobre a construção da embreagem seca podem ser encontrados no Anexo 1 104 EngTrq EngTrqDrvReq ClTrq1 ClTrq2 AccPedal Nm 150 % 100 Desacoplamento da embreagem 1 100 75 50 50 Intervenção no torque do motor 0 25 Acoplamento da embreagem 2 -50 0 EngSpeed InpShaftSpeed1 InpShaftSpeed2 10^3 rpm 4 Variação da rotação do motor e eixo de entrada Rotação do eixo de entrada 1ª marcha 3 2 Rotação do eixo de entrada - 2ª marcha 1 Rotação do eixo de entrada - 3ª marcha 0 VehicleAcceleration VehicleSpeed mg 400 km/h 120 300 90 200 60 Perturbação na troca de marcha 100 30 0 0 GearActual GearTransl GearTrans2 TargetGear BrakePedal KickDown 8 6 Requisição de troca de marcha 4 Engate da próxima marcha no conjunto 1 Mudança para a próxima marcha 2 0 7.4 7.6 7.8 8.0 8.2 8.4 8.6 8.8 sec 03/08/05 16:06:52 Rambox: F6S74CYX Figura 60 – Detalhe da troca de marcha 1 à 2 105 7.3. Métodos de análise O propósito é determinar um método objetivo de análise da troca de marcha que possa ser utilizada para comparar os diferentes veículos e sistemas de transmissões. Para tal criou-se o índice denominado “Razão de Forças”, que é a razão entre a força trativa ideal do veículo e a força trativa real, ou seja que efetivamente é utilizada para deslocar o veículo. Esta razão também expressa o rendimento da transmissão, embora, devido as incertezas de cálculo e as simplificações realizadas, este valor não pode ser correlacionado diretamente com o rendimento efetivo da transmissão. Razão de Forças = Força trativa real f ( rotação da roda) = Força trativa ideal f (Torque do motor ) (1) A força trativa ideal é calculada a partir da informação do torque do motor disponível na entrada da transmissão, isto é, o torque gerado pelo motor descontando-se as perdas por fricções internas, por bombeamento (água e óleo) e o torque consumido pelos agregados, tais como o dispositivo de ar condicionado, o alternador, a bomba de direção hidráulica, entre outros.7 O torque disponível na entrada da transmissão é transferido até a roda e convertido então em força trativa de acordo com a seguinte equação: Τmotor .Rtc .in .idif Fideal = rdin .η trans (2) onde, Fideal: força trativa ideal [N]; Tmotor: torque do motor disponível na entrada da transmissão [Nm]; Rtc: razão de multiplicação do torque pelo conversor de torque (utilizado no caso da transmissão automática); in: relação de transmissão da enésima marcha; idif: relação de transmissão do conjunto final (diferencial); rdin: raio dinâmico da roda ηtrans: rendimento da transmissão; A transferência de torque ou potência (torque x rotação angular) pode ser visualizada através da figura 61. 7 A informação de torque do motor utilizada neste estudo é fornecida pelo módulo de controle do motor. Como o este valor é calculado por um modelo que se origina de condições ideais levantadas em dinamômetro em ambiente controlado, e que é posteriormente compensado conforme as condições reais de utilização, parte-se do pressuposto que exista um erro na informação do motor. Este erro será desconsiderado na análise que se pretende realizar neste trabalho. 106 Figura 61 – Transferência da potência fornecida pelo motor para as rodas (GILLESPIE, 1992) A razão de multiplicação do conversor de torque (Rtc) pode ser obtida a partir da curva de razão de torque por razão de velocidade apresentada na figura 62. Razão de torque 2,5 Razão de torque 2 1,5 1 0,5 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Razão de velocidade Figura 62 – Razão de torque do conversor de torque (Heisler, 2002) O raio dinâmico da roda pode ser obtido pela seguinte equação (GILLESPIE, 1992): rdin 25,4. A L.H 0,97 + 2 100 = 1000 (3) onde, “A” é o raio da roda em polegadas8, “L” é a largura do pneu em milímetros e 8 É usual no mercado fornecer a medida do raio da roda em polegadas, a da largura da banda de rodagem em milímetros e a altura da face lateral do pneu em um valor porcentual da largura do mesmo. 107 H a altura da face lateral do pneu em porcentagem da largura do mesmo. A chamada força trativa real, é na verdade, a força trativa estimada a partir do valor de aceleração longitudinal derivado da rotação das rodas, considerando-se ainda as massas de inércia dos elementos rotativos, a massa do veículo e as forças resistivas de rolamento e aerodinâmica. Logo, Freal = (mveículo + minercia ).aveículo + Ra + Rx (4) A aceleração longitudinal do veículo é determinada derivando-se a velocidade longitudinal do mesmo, esta por sua vez é obtida a partir do valor de rotação das rodas, através de: π vveh = .rdin nroda 30 (5) onde, nroda = nroda _ dianteira _ direita + n_ roda _ dianteira _ esquerda (6) 2 Por sua vez a aceleração é derivada da velocidade do veículo, onde: ax = dv dt (7) As inércias rotativas são geralmente condensadas com a massa do veículo de forma a simplificar os cálculos. Segundo Gillespie (1992), pode-se definir uma massa equivalente dos elementos rotativos, “Mr”. A combinação da massa equivalente e da massa do veículo, “M”, define uma “massa efetiva” e a razão (M + Mr)/m é denominado fator de massa. O fator de massa dependerá da marcha engatada conforme: m fator = 1 + 0,04 + 0,0025.(in .idif ) (8) A resistência ao rolamento é obtida a partir da seguinte expressão: Rx = f .mveículo .g (9) onde m é a massa do veículo em kg, g é a aceleração da gravidade, no caso considerado seu valor é de 9,81 m/s2, e f é o coeficiente de resistência ao rolamento. O coeficiente f é um fator adimensional que expressa os diversos efeitos das propriedades físicas do pneu e do solo (GILLESPIE, 1992). No caso em estudo, onde os testes veiculares foram realizados em asfalto liso, é possível utilizar um valor médio constante para o coeficiente f sem contudo comprometer a exatidão dos resultados. Segundo Bosch (1999), este valor pode ser de 0,013. A resistência aerodinâmica, pode ser obtida através da seguinte equação: 1 2 Ra = .ρ .c x . A.(v − v0 ) 2 (10) 108 onde ρ é a densidade do ar expressa em kg/m3, cx é o coeficiente de arraste aerodinâmico, A é o valor da área frontal do veículo projetada em m2, v é a velocidade do veículo e v0 é a velocidade do vento, ambos em m/s. A densidade do ar é determinada a partir dos valores de pressão atmosférica e temperatura do ar, de acordo com a seguinte expressão: Pr 288.16 ρ = 1,225. . 101.325 273.16 + Tr (11) onde, Pr é o valor da pressão atmosférica em kPa e Tr a temperatura do ar em graus Celsius (GILLESPIE, 1992). Para altitudes de até 200m pode-se assumir o valor de 1,202 kg/m3, sem contudo comprometer a exatidão dos resultados (BOSCH, 1999). O coeficiente de arraste aerodinâmico, cx, é determinado experimentalmente em testes em túneis de vento ou em testes de desaceleração livre (coast down). Este coeficiente expressa quantas vezes a força resistiva é maior que a pressão dinâmica atuando sobre a área de uma superfície (GILLESPIE, 1992). Todas estas equações foram manipuladas em um programa de computador que fosse capaz de tratar os dados e apresentar as soluções de forma gráfica9. 7.4. Considerações e simplificações De forma a facilitar a obtenção de resultados que tenham significado adequado, algumas considerações e simplificações foram elaboradas, conforme descrito abaixo. Para reduzir os possíveis erros do modelo os seguintes cuidados foram tomados: • Os testes foram realizados com os veículos em condições semelhantes de pressão atmosférica (altitude), temperatura ambiente e umidade do ar. • Os veículos possuem pneus de composição semelhante e os testes foram realizados sobre o mesmo tipo de pavimento, asfalto liso. No caso da determinação da força trativa ideal, as seguintes considerações foram utilizadas: • O rendimento da transmissão é ideal, ou seja, η = 1. Com isto pretende-se obter a máxima força trativa possível para um determinado torque do motor disponível na transmissão. Desta forma, desconsidera-se qualquer perda na transmissão e nos demais componentes na transferência da potência fornecida pelo motor até que esta esteja disponível na roda. • 9 Durante as trocas de marcha, a relação de transmissão varia linearmente da relação da Para realização dos cálculos foi utilizado o software Matlab® versão 7 e para realização das aquisições utilizouse o programa CanWin® da Adam Opel AG e do equipamento Rambox, fabricado pela AFT. Todos sobre licença de utilização. Os códigos fonte estão disponíveis no Anexo 2. 109 marcha anterior para a relação da marcha posterior a troca. Mais uma vez o objetivo é obter uma troca mais próxima da ideal, para que desta forma se possa comparar com uma troca real. • Assume-se que o conversor de torque da transmissão automática em estudo possui a mesma razão de multiplicação de torque e eficiência conforme apresentado na figura 62. No caso da força trativa real, as seguintes considerações foram realizadas: • Conforme apresentado na equação (4), os valores das inércias rotativas foram substituídos por um valor de massa equivalente que varia de acordo com o valor da relação da marcha em uso pelo veículo, conforme mostrado na equação (8). • Durante as trocas de marcha o valor da massa equivalente sofre a influência da variação da relação de marcha. A variação da relação durante a troca foi feita de forma linear. • O valor do coeficiente de resistência ao rolamento utilizado é de 0,013. (BOSCH, 1999) • Para os estudos realizados, considerou-se a velocidade do vento nula. 7.5. Avaliação dos resultados 7.5.1. Razão de forças Para a determinação da razão de forças foram realizadas trocas de marchas seqüenciais ascendentes de 1ª a 4ª marcha no caso da transmissão automática e de 1ª a 6ª marcha no caso da transmissão de embreagem dupla em diversas faixas de torque do motor. A figura 63 apresenta o comportamento da razão de forças para a TDE na faixa de torque de 100Nm (situação da figura 65). As mudanças de marcha são representas pelas variações acentuadas da razão de forças. Em um primeiro instante pode-se observar o efeito causado pela arrancada, como sendo uma variação abrupta da razão de forças. O vale no sinal representa a porção do torque do motor que é consumido durante a fase de maior escorregamento da embreagem no TDE ou do conversor de torque na TA. Este torque precisa ainda vencer as inércias rotativas e a inércia do veículo de forma a colocá-lo em movimento. Uma vez vencida esta inércia, o motor sofre uma pequena desaceleração, ou seja, a massa de inércia do motor agora auxilia na aceleração do veículo. Portanto as rodas experimentam uma força trativa superior aquela fornecida somente pelo motor. Esta fase é caracterizada pelo pico no sinal da razão de forças. Este efeito pode ser expresso pela equação seguinte que considera somente o torque do motor transferido para embreagem. . Τmotor − J motor .ω motor = Τembreagem (12) 110 Onde, Tembreagem e T motor são os torques disponíveis na embreagem e no motor . respectivamente, J é a inércia do motor e ω expressa a aceleração angular do motor. . Quando ω é positivo, a inércia do motor consume parte do torque produzido pelo mesmo. . Mas quando ω é negativo, o torque gerado pelo produto da inércia do motor pela sua aceleração angular auxilia a acelerar o veículo. A arrancada é um fenômeno complexo pois envolve diversas manobras do gerenciamento do motor em um curto espaço de tempo, como um aumento da vazão de ar, enriquecimento da mistura ar-combustível e avanço do ponto de ignição. Em geral os modelos utilizados pelo software de gerenciamento do motor não conseguem exprimir com exatidão os valores de torque neste instante. Portanto, o cálculo da razão de forças nesta fase deve transportar um erro maior, embora os resultados obtidos neste estudo apresentem uma relação razoável entre o a força verificada na roda e a força derivada do motor, em geral com diferenças inferiores a 20%. Esta mesma relação, embora com amplitude menor o que permite um maior grau de confiança nos resultados, pode ser igualmente observada durante as trocas de marcha. O grau de variação da razão na troca pode ser interpretado como uma medida de conforto. Mais do que os valores absolutos, os valores relativos e as amplitudes de variação da razão de forças representam uma tendência e podem ser utilizados diretamente na avaliação do conforto. 1.6 10 Arrancada 1.4 Troca 1 à 2 8 Troca 2 à 3 1.2 Troca 3 à 4 Marcha Fator 6 1 4 0.8 Troca 4 à 5 2 Troca 5 à 6 0.6 0.4 5 10 15 20 25 30 0 Tempo [s] Figura 63 – Fator de forças para TDE na faixa de torque do motor de 100 à 120Nm 111 Outro fator que deve ser levado em consideração na avaliação do conforto em troca é o tempo decorrido durante a troca de marcha. Conforme pode ser observado na figura 65, as trocas de marcha na TA são mais rápidas do que na TDE. Enquanto as trocas efetivas, ou seja o período no qual há variação da rotação do motor entre uma marcha e outra, na TA encontra-se tipicamente em torno de 0,2 à 0,3s as trocas de marcha na TDE levam tipicamente de 0,5 à 1,5s (Figura 64) Tempos de troca Transmissão automática Tempos de troca Transmissão e dupla embreagem 0,5 3 2,5 0,4 2 Tempo[s] Tempo [s] 0,3 1,5 0,2 1 0,1 0,5 0 0 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 15% 20% 30% 40% 50% Pedal [%] 1•2 2•3 70% 80% 90% 100% Pedal[%] 3•4 1•2 a) AT – Tempos típicos de troca 2•3 3•4 4•5 5•6 b) TDE – Tempos típicos de troca Figura 64 – Tempos típicos de troca para AT e TDE A figura 65 mostra o valor da razão de forças obtida para a transmissão automática e a transmissão de dupla embreagem na faixa de torque de 100 à 120 Nm 1.6 10 1.6 1.4 10 1.4 8 8 1.2 1.2 Marcha 1 Fator 6 Marcha Fator 6 1 4 0.8 4 0.8 2 0.6 0.4 2 0.6 335 340 345 350 Tempo [s] 355 360 0 0.4 5 10 15 20 Tempo [s] 25 30 0 112 200 150 [Nm] [Nm] 100 100 TrqEng TrqEngReq AccPedal 0 335 340 345 350 355 0 360 3000 TrqEng TrqEngReq TrqClAct1 TrqClAct2 AccPedal 50 5 10 15 20 25 30 4000 [rpm] n-Eng n-Turbine n-Wheel 1000 0 335 100 340 345 350 355 2000 0 360 0.4 0.2 25 340 345 350 355 0 360 5 10 15 20 25 30 150 0.6 100 0.4 50 0.2 0 5 10 15 20 25 30 0 10000 F-roda-real F-roda-ideal 5000 [N] [N] 0 335 10000 [km/h] 50 [g] [km/h] 75 N-Eng N-Inp-1 N-Inp-2 N-Wheel [g] [rpm] 2000 0 335 340 345 350 355 0 360 a) AT - Trocas na faixa de 100 à 120Nm F-roda-real F-roda-ideal 5000 5 10 15 20 25 30 b) TDE – Trocas na faixa de 100 à 120Nm Figura 65 – Razão de forças para trocas de marcha entre 100 à 120Nm As figuras acima demonstram que os dois tipos de transmissão possuem o comportamento da razão de forças semelhantes. O valor médio para a transmissão manual (0,92) é superior ao da transmissão automática (0,85), como esperado. Já as variações apresentadas durante as trocas se assemelham. Por exemplo, a troca 2à3 na TA apresenta um vale de -0,12 de variação e um pico de + 0,29 em torno do valor médio, ou seja 0,33 de variação. Comportamento semelhante pode ser observado na troca 2à 3 da TED, onde o vale corresponde - 0,15 de variação e o pico de + 0.15, ou seja 0,3 de variação total. Por observação, pode-se afirmar por exemplo, que a troca 1à2 da TA é mais confortável do que a mesma troca na TDE. Troca Razão de Razão de Conforto forças TA forças TDE 1à2 0,30 0,53 TA 2à3 0,41 0,42 TA = TDE 3à4 0,34 0,27 TDE 4à5 -- 0,53 Desconfortável Tabela 7 – Avaliação do conforto em troca segundo o valor relativo da razão de forças Na faixa de torque de 150 à 200Nm, as trocas realizadas na TA apresentam variações de maior amplitude comparado às trocas realizadas no TDE, embora de duração mais curta. 113 1.6 10 1.6 10 1.4 1.4 8 8 1.2 1.2 6 Marcha 1 Fator Marcha Fator 6 1 4 4 0.8 0.8 2 2 0.6 0.6 0.4 185 190 195 200 205 210 0 0.4 10 15 20 Tempo [s] Tempo [s] 25 0 30 200 300 TrqEng TrqEngReq AccPedal 100 0 [Nm] 185 190 195 200 205 0 210 10 15 20 25 30 185 190 195 200 205 [rpm] N-Eng N-Inp-1 N-Inp-2 N-Wheel 2000 0 210 10 15 20 25 30 0.6 150 0.6 100 0.4 100 0.4 50 0.2 [g] 150 0 185 190 195 200 205 210 [km/h] [rpm] n-Eng n-Turbine n-Wheel 2000 [km/h] TrqEng TrqEngReq TrqClAct1 TrqClAct2 AccPedal 4000 4000 0 100 [g] [Nm] 200 50 0 0 0.2 10 15 20 25 30 10000 15000 F-roda-real F-roda-ideal [N] F-roda-real F-roda-ideal [N] 10000 5000 5000 0 0 185 190 195 200 205 210 a) AT - Trocas na faixa de 150 à 200Nm 10 15 20 25 b) TDE - Trocas na faixa de 150 à 200Nm Figura 66 – Razão de forças para trocas de marcha entre 100 à 120Nm Troca Razão de Razão de forças TA forças TDE 1à2 0,33 0,20 TDE 2à3 0,30 0,40 TA 3à4 0,42 0,32 TDE 0,56 Desconfortável 4à5 30 Conforto Tabela 8 – Avaliação do conforto em troca segundo o valor relativo da razão de forças 0 114 1.6 1.6 10 10 1.4 1.4 8 8 1.2 1.2 1 6 Marcha 0.8 Fator Marcha Fator 6 1 4 4 0.6 0.8 0.4 2 2 0.6 0.2 0 240 245 250 255 260 265 Tempo [s] 270 275 0.4 0 280 10 15 20 Tempo [s] 25 0 30 200 TrqEng TrqEngReq AccPedal 100 245 250 255 260 265 270 275 0 280 [rpm] [rpm] 15 20 25 30 250 255 260 265 270 275 0 280 255 260 265 270 275 25 30 0.6 100 0.4 0 280 20 0.4 [g] 250 15 150 0.2 245 10 0.6 100 50 N-Eng N-Inp-1 N-Inp-2 N-Wheel 2000 [km/h] 245 150 [km/h] 10 4000 5000 0 240 15000 TrqEng TrqEngReq TrqClAct1 TrqClAct2 AccPedal 6000 n-Eng n-Turbine n-Wheel 0 240 200 100 [g] 0 240 10000 [Nm] [Nm] 200 50 0 0.2 10 15 20 25 30 0 10000 F-roda-real F-roda-ideal F-roda-real F-roda-ideal [N] [N] 10000 5000 5000 0 240 245 250 255 260 265 270 275 280 0 a) AT - Trocas a plena carga 10 15 20 25 30 b) TDE - Trocas a plena carga Figura 67 – Razão de forças para trocas de marcha a plena carga Troca Razão de Razão de Conforto forças TA forças TDE 1à2 0,88 0,28 TDE 2à3 0,77 0,32 TDE 3à4 0,77 0,29 TDE 4à5 -- 0,24 TDE Tabela 9 – Avaliação do conforto em troca segundo o valor relativo da razão de forças Neste caso, onde os veículo foram submetidos a plena carga, ou seja, pedal do acelerador a 100% ou kickdown, a comparação torna-se difícil pois a transmissão automática apresenta um tranco forte para frente caracterizado pelo pico na razão de forças presente na figura 67a. Porém, nesta situação particular é aceitável que este impacto exista, embora seja desconfortável. 115 Embora a razão de forças possa ser teoricamente apontada como o rendimento da transmissão, deve-se salientar que as incertezas associadas aos sinais de medição, juntamente com as considerações e simplificações feitas no cálculo não permitem afirmar que estes valores correspondam de forma exata ao rendimento. Mas, além de possuir valores próximos aos valores adotados por experiência, este fator exprime a tendência do rendimento das transmissões nas diversas regiões de utilização (Figura 68). Além de expressar o conforto em trocas de marcha. Razão de forças 1 0,95 Razão 0,9 0,85 0,8 0,75 0 20 40 60 80 100 Pedal[%] TDE TA Figura 68 – Valores de razão de forças para diversos pedais Uma forma de corroborar o resultado indicado pela razão de forças, seria comparar os valores apontados com a análise subjetiva do motorista. Esta análise deveria se conduzida, de preferência, em veículos idênticos, com tão somente sistemas de transmissão distintos. É importante ressaltar que a transmissão automática utilizada neste estudo encontra-se disponível no mercado, portanto com sua calibração de conforto em troca de marcha finalizada. Enquanto que a transmissão de dupla embreagem é um protótipo em fase de desenvolvimento. Portanto, existe ainda um potencial de melhoria não explorado para a transmissão de dupla embreagem. 116 8 CONCLUSÃO O desenvolvimento de aplicações voltadas a transmissões de veículos automotores encontra-se em plena fase de expansão. Esta fase teve início na década de 80, motivada principalmente pelos avanços alcançados na área da microeletrônica, que proporcionou a implantação de módulos eletrônicos de gerenciamento da transmissão e do motor, dotados de estratégias de controle avançadas, aplicadas principalmente através de dispositivos atuadores elétricos e eletro-hidráulicos, e monitoradas por sensores. Neste período surgiram as primeiras transmissões automáticas de 4 velocidades com gerenciamento eletrônico e as primeiras tentativas de automatização de transmissões mecânicas manuais, como o BMW Alpina de transmissão semi-automática, ou seja com acionamento da embreagem automatizado mas com a seleção de marchas manuais, seguido pelo Mercedes Classe-A com um dispositivo semelhante. Já na década seguinte uma evolução grande em termos de material e processo de fabricação, aliado a possibilidade de controle mais exato, possibilitou a construção de transmissões continuamente variáveis para veículos de até 300 Nm utilizando correntes metálicas. E em paralelo as transmissões automáticas recebiam mais marchas, passando a 5 ou 6, enquanto a seleção e troca de marchas das transmissões manuais também eram automatizadas. A automatização das transmissões mecânicas manuais apresenta a desvantagem de, no processo de troca de marchas interromper a transferência da tração na rodas devido a necessidade da abertura e fechamento da embreagem. A próxima etapa natural seria desenvolver um sistema em que esta descontinuidade fosse eliminada e as vantagens da transmissão mecânica manual fosse aproveitadas por completo. Este sistema é a transmissão de dupla embreagem. Esta transmissão possui então as características de troca de marcha comparáveis a de uma transmissão automática convencional e exatamente este fato motivou o estudo realizado neste trabalho. Este trabalho procurou estabelecer um paralelo entre os dois sistemas de transmissão. Primeiramente caracterizando detalhadamente cada sistema individualmente e posteriormente comparando as respostas quanto ao funcionamento em áreas específicas de transmissão de torque. Vale ressaltar que o tipo de transmissão de dupla embreagem empregado neste estudo é formado por embreagens secas, acionamento elétrico da seleção e engate das marchas e comando eletro-hidraulico da embreagem. Existem ainda variantes com embreagens molhadas, seleção e engate de marchas, assim como acionamento da embreagem por comando hidráulico, como o DSG (Direkt Schaltgetribe) aplicação da Volkswagen disponível no mercado. Para realização desta comparação sugeriu-se a elaboração de um índice que 117 expressasse as características do comportamento dinâmico do veículo e que pudesse ser comparado entre os tipos de transmissão. Este índice, intitulado de razão de forças, estabelece um critério de avaliação baseado na razão entre a força trativa máxima, ou ideal e força trativa real. A força trativa ideal é a força que deveria ser disponível para impulsionar o veículo, caso não houvesse perdas na transmissão do torque do motor até as rodas. E a força trativa real é a força efetivamente existente na roda que impulsiona o veículo. Esta última pode ser obtida através da rotação das rodas ou pela leitura de um acelerômetro instalado próximo ao centro de gravidade do veículo e que registre a aceleração longitudinal experimentada pelo veículo. Diversos ensaios foram realizados no intuito de comparar trocas de marchas ascendentes em faixas de torque semelhantes para ambos os tipos de transmissão. Os resultados obtidos apontam para trocas confortáveis e de comportamento dinâmico semelhante. No entanto, por a transmissão de dupla embreagem utilizada tratar-se de um protótipo no início da fase de calibração, existe um potencial de melhoria significativo. Um aprimoramento das observações realizadas seria o comparativo de veículos idênticos, com exceção do tipo de transmissão. Um segundo estágio seria comparar outros tipos de trocas, como trocas descendentes com carga. Por fim, o mercado de transmissões automatizadas apresenta um quadro evolutivo quanto a sua participação no mercado. Por exemplo, os mercados Japoneses e Europeus, dois dos principais mercados do mundo em volume de vendas e geração de tecnologia, estão progressivamente aderindo as transmissões automatizadas, o que pode ser comprovado pelos lançamentos recentes, onde praticamente todas os novos modelos apresentam alguma forma de automatização da transmissão. Esta tendência encontra explicações na forte concorrência existente entre as diversas montadoras, onde o tipo de transmissão torna-se um diferencial de vendas, nas imposições legais de emissões de gases, onde as transmissões automatizadas exercem papel importante na redução das emissões através da seleção adequada dos pontos de troca, visando principalmente a redução do consumo de combustível. Por estas razões acredita-se que a transmissão de embreagem dupla encontra margem no mercado para seu aproveitamento, tornando-se assim um concorrente das transmissões automáticas convencionais por possuir qualidades semelhantes e vantagens quanto aos aspectos econômicos e legais. 118 9 REFERÊNCIAS BOSCH, Kraftfahrtechnisches Taschenbuch: 23. ed. Wiesbaden: Vieweg, 1999. 960 p. GRAF, F.; WEIL. H. Advanced transmission control with fuzzy logic. In: JURGEN, R. Electronic transmission controls. Warrendale: Society of Automotive Engineers, 2000. p. 377 – 387. GRETZMEIER, F.; STAUDT, W.; BLÜML, S. 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Acesso em 20 jan. 2005 OZAKI, K., YOKOYAMA, F., KUWAYAMA, Y., NISHIDA, M., IWATSUKI, T., ANDO, M. Aisin AW Four-Speed Automatic Transmission for FWD Vehicles, In: JURGEN, R. Electronic transmission controls. Warrendale: Society of Automotive Engineers, 2000. p. 101 – 111. PELS, T.; REITZ, D.; MÁN, L.; VESTGARD, B. Kleiner Startergenerator – große Wirkung. In: LUK SYMPHOSIUM, 7. 2002. Proceedings. Bühl: LuK, 2004. p. 251-263. SCHERER, H.; GIERER, G. ZF 5 – Speed transmission for passenger cars. In: JURGEN, R. Electronic transmission controls. Warrendale: Society of Automotive Engineers, 2000. p. 67 – 75. TATSUYUKI, O.; ASATSUKEY, S.; MORIYA, H.; NOBLE, T Honda’s 4 speed all clutch to clutch automatic transmission. In: JURGEN, R. Electronic transmission controls. Warrendale: Society of Automotive Engineers, 2000. p. 45 – 53. THOMPSON, P.; MARANO, J.; SCHWEITZER, J.; KHAN, S.; SINGH, J. General Motors 4T65-E electronic four-speed automatic transaxle. In: JURGEN, R. 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Anexo 2: Código fonte MATLAB Programa para avaliação da transmissão automática. %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %% %Programa para construçao da razao de forças. % %Descriçao: Realiza a leitura dos dados da rambox e calcula % %as forcas de traçao ideais e reais % % % %Autor: Cesar Henrique Ferreira Amendola % %Data: 06/08/2005 % % % % % %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %% clear all; clc; close all; %%% Reading Rambox Files %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% Signal = str2mat('Time','n_Mot_o','n_wTCM', 'n_turb','Gear_Tcm','Me_o','MMDrvReq','trqred','Pedal','DKI','a_fzg', 'Bremslic','Klima'); directory = 'C:\MATLAB6p1\work\EngAuto\LZM_Files\AT\'; files = 'AT_SH008.LZM'; readrabo(strcat(directory,files), Signal); %%% Vehicle Values %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% r_dyn = 0.31; %[m] M_veh = 1580; %1500 + 80 [kg] i = [3.67; 2.1; 1.39; 1.0; 0; 4.02]; %relaçao de marchas 1-5 e R i_diff = 2.86; %relaçao do diferencial N_tc = 1.0; %rendimento do conversor de torque %%% Acelerometer values %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% g = 9.81;%[m/s^2] acc_offset = 0.044; %[g] acc_factor = 0.6725; %valor ajustado 1g = 1.531% %%% Signal cut and transformation %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% t_inicio = 480.52; %[s] t_fim = 513.75;% [s] a = max(find(Time < t_inicio)) + 1; b = min(find(Time > t_fim)) - 1; Time = Time(a:b); FILT_ESPEED = n_Mot_o(a:b); n_wheel = n_wTCM(a:b); TURBINE_SPEED_TCM = n_turb(a:b); Me_o = Me_o(a:b); EngTrqReq = MMDrvReq(a:b); TRQRED_TCM = trqred(a:b); AccPedal = Pedal(a:b); T_Angle = DKI(a:b); 124 veh_acc_s = a_fzg(a:b); gear = Gear_Tcm(a:b); Brake = Bremslic(a:b); AC = Klima(a:b); %%% tratamento de sinais %%%%%%%%%%%%%%% %%% ajuste das marchas %%%%%%%%%%%%%%% for j=1:length(Time) switch gear(j) case (3) gear(j)=0; case (5) gear(j)=1; case(6) gear(j)=2; case(7) gear(j)=3; case(8) gear(j)=4; case(255) gear(j)=0; end end for j=1:length(Time) if gear(j)~= 0 gear_valid = j; break; end end %%%% interpolacao das marchas durante as trocas %%%%%% k = gear_valid; count = 1; B_Tempo_Inicial = 0; M_Relacoes = []; for j= gear_valid:length(Time) if gear(j) ~= 0 k = j; if (B_Tempo_Inicial == 1) M_Relacoes(count,2) = Time(j); M_Relacoes(count,4) = i(gear(k)); B_Tempo_Inicial = 0; count = count + 1; end else if (TRQRED_TCM(j) ~= 410) & (B_Tempo_Inicial == 0) %max trqred M_Relacoes(count,1) = Time(j); M_Relacoes(count,3) = i(gear(k)); B_Tempo_Inicial = 1; end end end [n_line, n_column] = size(M_Relacoes); for w = 1:n_line 125 reta_coeff(w) = ((M_Relacoes(w,4)-M_Relacoes(w,3))/(M_Relacoes(w,2)-M_Relacoes(w,1))); reta_ind(w)= (M_Relacoes(w,3)-(reta_coeff(w)*M_Relacoes(w,1))); t_troca(w) = M_Relacoes(w,2)-M_Relacoes(w,1); %duraçao das trocas de marcha end %%% tratamento dos sinais das rodas %%%% n_wheel_filt = butterworth(n_wheel); %%% calculo da velocidade e aceleraçao %%%%% v_veh = n_wheel_filt * (2*pi*r_dyn / 60); %[m/s] v_veh_kmh = v_veh * 3.6; %[km/h] a_veh = derive_n(Time, v_veh, 5); %[m/s^2] %%% determinaçao da aceleracao real em m/s^2 %%%% veh_acc_real = (veh_acc_s - acc_offset)*acc_factor*g; %[m/s^2] veh_acc_real_g = (veh_acc_s - acc_offset)*acc_factor; %[g] %%% calculo da resistencia ao rolamento g = 9.81; %[m/s^2] f = 0.013; Rx = M_veh*g*f; %[N] %calculo da resistencia aerodinamica %rho = 1.2; %[kg/m^3] Pr = 95; %[kPa] Tr = 21;%[oC] rho = 1.225 * (Pr / 101.325) * (288.16 / (273.16 + Tr)); A = 2.4; %[m^2] cx = 0.32; v_wind = 0; %[m/s] for j=1:length(Time) Ra(j) = 0.5*rho*cx*A*((v_veh(j)-v_wind)^2); %[N] end %Determinaçao da força real na roda k = gear_valid; conta_troca = 0; B_TrocaMarcha = 0; for j= gear_valid:length(Time) if gear(j) ~= 0 B_TrocaMarcha = 0; k = j; M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*(i(gear(j))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_roda_real(j) = (M_veh + M_r) * veh_acc_real(j)+ Rx + Ra(j); else if (TRQRED_TCM(j) == 410) M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*(i(gear(k))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_roda_real(j) = (M_veh + M_r) * veh_acc_real(j)+ Rx + Ra(j); else %troca de marcha mesmo! if (B_TrocaMarcha == 0) conta_troca = conta_troca + 1; B_TrocaMarcha = 1; end 126 M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*((reta_coeff(conta_troca)*Time(j)+reta_ind(conta_troca))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_roda_real(j) = (M_veh + M_r) * veh_acc_real(j)+ Rx + Ra(j); end end end %%% Determinaçao da força calculada na roda %%% k = gear_valid; conta_troca = 0; B_TrocaMarcha = 0; for j= gear_valid:length(Time) if gear(j) ~= 0 B_TrocaMarcha = 0; k = j; M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*(i(gear(j))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_roda_calc(j) = (M_veh + M_r) * a_veh(j)+ Rx + Ra(j); else if (TRQRED_TCM(j) == 410) M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*(i(gear(k))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_roda_calc(j) = (M_veh + M_r) * a_veh(j)+ Rx + Ra(j); else %troca de marcha mesmo! if (B_TrocaMarcha == 0) conta_troca = conta_troca + 1; B_TrocaMarcha = 1; end M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*((reta_coeff(conta_troca)*Time(j)+reta_ind(conta_troca))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_roda_calc(j) = (M_veh + M_r) * a_veh(j)+ Rx + Ra(j); end end end %%%% Determinação da força ideal na roda %%%% k = gear_valid; conta_troca = 0; B_TrocaMarcha = 0; for j=gear_valid:length(Time) SpeedRatio(j) = TURBINE_SPEED_TCM(j)/FILT_ESPEED(j); if (SpeedRatio(j) > 0.9) TC_Razao(j) = 1; else TC_Razao(j) = (-(1.1/0.9)*SpeedRatio(j))+2.1; end if gear(j) ~= 0 B_TrocaMarcha = 0; k = j; F_roda_ideal(j) = (Me_o(j)*TC_Razao(j)*i(gear(j))*i_diff)*N_tc/r_dyn; %Nm else %inicio da troca de marcha. Porem ainda nao trocou, entao calcula a forca com a ultima marcha engatada if (TRQRED_TCM(j) == 410) t_lastengtrq = j; %instante do ultimo valor do torque do motor antes da troca F_roda_ideal(j) = (Me_o(j)*TC_Razao(j)*i(gear(k))*i_diff)*N_tc/r_dyn; %Nm else %troca de marcha mesmo! if (B_TrocaMarcha == 0) conta_troca = conta_troca + 1; B_TrocaMarcha = 1; end 127 F_roda_ideal(j) = (Me_o(t_lastengtrq)*TC_Razao(j)*(reta_coeff(conta_troca)*Time(j)+reta_ind(conta_troca))*i_diff)*N_tc/r_dyn ; end end end %%% Razao de Forca %%% F_roda_real_filt = butterworth(F_roda_real); for j=1:length(Time) if (F_roda_ideal(j) == 0) Force_Ratio(j)=0; else Force_Ratio(j) = F_roda_real_filt(j)/F_roda_ideal(j); end end %%% Media do razao de forca %%% c_forcemedio = 0; for j=1:length(Time) if (gear(j) < 2) c_forcemedio = c_forcemedio + 1; else V_Force_Ratio(j-c_forcemedio) = Force_Ratio(j); end end V_Force_Ratio_Medio = mean(V_Force_Ratio); V_Force_Ratio_Std = std(V_Force_Ratio); % %%% Result plotting %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% % figure; % subplot(4,1,1); % title('Astra Automatico'); % % plot(Time, Me_o, Time, EngTrqReq, Time, AccPedal); % grid on; % ylabel('[Nm]'); % legend('TrqEng','TrqEngReq', 'AccPedal',1); % axis([t_inicio t_fim 00 200]); % % subplot(4,1,2); % plot(Time, FILT_ESPEED, Time, TURBINE_SPEED_TCM, Time, n_wheel); % grid on; % ylabel('[rpm]'); % legend('n-Eng', 'n-Turbine','n-Wheel',1); % axis([t_inicio t_fim 0 5000]); % % subplot(4,1,3); % [AX,H1,H2] = plotyy(Time, v_veh_kmh, Time, veh_acc_real_g); % grid on; % set(get(AX(1),'Ylabel'),'String','[km/h]') % set(get(AX(2),'Ylabel'),'String','[g]') % axis([t_inicio t_fim 0.00 150]); % % % subplot(4,1,3); % % plot(Time, veh_acc_real, Time, a_veh); 128 % % grid on; % % ylabel('[m/s^2]'); % % legend('a-real', 'a-calc',0); % % axis([t_inicio t_fim 000 8]); % % subplot(4,1,4); % plot(Time, F_roda_real, Time, F_roda_ideal); % grid on; % ylabel('[N]'); % legend('F-roda-real','F-roda-ideal',1); % axis([t_inicio t_fim 0 10000]); % % figure % [AX,H1,H2] = plotyy(Time, Force_Ratio, Time, gear); % grid on; % %ylabel('FR'); % set(get(AX(1),'Ylabel'),'String','Fator') % set(get(AX(2),'Ylabel'),'String','Marcha') % xlabel('Tempo [s]'); % axis([t_inicio t_fim 00 1.2]); % %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %% Programa para avaliação da transmissão de dupla embreagem. %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %%%%%%%%%%% %Programa para construçao da razao de forças. % %Descriçao: Realiza a leitura dos dados da rambox e calcula % %as forcas de traçao ideais e reais % % % %Autor: Cesar Henrique Ferreira Amendola % %Data: 06/08/2005 % % % % % %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %%%%%%%%%%% clear all; clc; close all; %%% Reading Rambox Files %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% Signal = str2mat('Zeit','N_Eng','N_Inp_1', 'N_Inp_2','NWheelFL','NWheelFR','TrqEng','TrqDrvRe','TrqClAc1','TrqClAc2','AccPedal','VehAcc_a', 'Brake_d','GearActi','GbGearA1','GbGearA2','GbGearDr','SClSPSG'); directory = 'C:\MATLAB6p1\work\EngAuto\LZM_Files\PSG\'; files = 'F6S74CZF.LZM'; readrabo(strcat(directory,files), Signal); %%% Vehicle Values %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% r_dyn = 0.30; %[m] M_veh = 1420; %[kg] i = [13.311; 7.793; 5.651; 4.615; 3.828; 3.126; 11.944]; %relaçao de marchas 1-6 e R * diferencial i_diff = 1.0; %relaçao do diferencial ja inserido na relaçao de marchas N_tc = 1.0; %rendimento do conversor de torque %%% Acelerometer values %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% g = 9.81; %[m/s^2] 129 %acc_offset = 0.044; %[g] %acc_factor = 0.6725; %valor ajustado 1g = 1.531% %%% Signal cut and transformation %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% t_inicio = 11.32; %[s] t_fim = 36.92;% [s] a = max(find(Zeit < t_inicio)) + 1; b = min(find(Zeit > t_fim)) - 1; Time = Zeit(a:b); TrqEng = 1.15*TrqEng(a:b); TrqEngDrvReq = TrqDrvRe(a:b); TrqClAct1 = TrqClAc1(a:b); TrqClAct2 = TrqClAc2(a:b); AccPedal = AccPedal(a:b); N_Eng = N_Eng(a:b); N_Inp_1 = N_Inp_1(a:b); N_Inp_2 = N_Inp_2(a:b); N_WheelFL = NWheelFL(a:b); N_WheelFR = NWheelFR(a:b); VehAcc_g = VehAcc_a(a:b); GearActual = GearActi(a:b); GbGearA1 = GbGearA1(a:b); GbGearA2 = GbGearA2(a:b); GbGearDr = GbGearDr(a:b); SClSPSG = SClSPSG(a:b); %%%% tratamento de sinais %%%%%%%%%%%%%%% for j=1:length(Time) if GearActual(j)~= 0 %somente inicia se a marcha atual for diferente de 0 gear_valid = j; break; end end % for j=1:442 %jeito para CYT % SClSPSG(j)= 6; %somente inicia se a marcha atual for diferente de 0 % end %%%% interpolacao das marchas durante as trocas %%%%%% k = gear_valid; count = 1; B_Tempo_Inicial = 0; M_Relacoes = []; for j= gear_valid:length(Time) if (SClSPSG(j) == 6) k = j; if (B_Tempo_Inicial == 1) M_Relacoes(count,2) = Time(j); M_Relacoes(count,4) = i(GearActual(k)); B_Tempo_Inicial = 0; count = count + 1; end 130 else if ((SClSPSG(j) == 4) & (B_Tempo_Inicial == 0)) %status diferente de normal drive = troca de marcha M_Relacoes(count,1) = Time(j); M_Relacoes(count,3) = i(GearActual(k)); B_Tempo_Inicial = 1; end end end [n_line, n_column] = size(M_Relacoes); for w = 1:n_line reta_coeff(w) = ((M_Relacoes(w,4)-M_Relacoes(w,3))/(M_Relacoes(w,2)-M_Relacoes(w,1))); reta_ind(w)= (M_Relacoes(w,3)-(reta_coeff(w)*M_Relacoes(w,1))); t_troca(w) = M_Relacoes(w,2)-M_Relacoes(w,1); %duraçao da trocas de marcha end %%% tratamento dos sinais das rodas %%%% N_Wheel = (N_WheelFL + N_WheelFL)/2; N_Wheel_Filt = butterworth(N_Wheel); %%% calculo da velocidade e aceleraçao %%%%% VehSpeed = N_Wheel_Filt * (2*pi*r_dyn / 60); %[m/s] VehSpeed_kmh = VehSpeed * 3.6; %[km/h] VehAcc_calc = derive_n(Time, VehSpeed, 101); %[m/s^2] VehAcc_calc_filt = butterworth(VehAcc_calc); %%%% determinaçao da aceleracao real em m/s^2 %%%% % VehAcc_real = (veh_acc_s - acc_offset)*acc_factor*g; %[m/s^2] % VehAcc_real_g = (veh_acc_s - acc_offset)*acc_factor; %[g] VehAcc_g_filt = butterworth(VehAcc_g); VehAcc_s = VehAcc_g_filt*g; %[m/s^2] %%% calculo da resistencia ao rolamento f = 0.013; % valor medio para piso asfaltico Rx = M_veh*g*f; %[N] %%%% calculo da resistencia aerodinamica %%%% rho = 1.2; %[kg/m^3] Pr = 102.1; %[kPa] Tr = 27; %[oC] rho = 1.225 * (Pr / 101.325) * (288.16 / (273.16 + Tr)); A = 2.4; %[m^2] cx = 0.32; WindSpeed = 0; %[m/s] for j=1:length(Time) Ra(j) = 0.5*rho*cx*A*((VehSpeed(j)-WindSpeed)^2); %[N] end %%%% Determinaçao da força real na roda k = gear_valid; c_gearshift = 0; B_TrocaMarcha = 0; for j= gear_valid:length(Time) if ((SClSPSG(j) ~= 4)&(SClSPSG(j) ~= 5)) B_TrocaMarcha = 0; k = j; M_fac = 1 + 0.04 + 0.0025*(i(GearActual(j))*i_diff)^2; 131 M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_wheel_real(j) = (M_veh + M_r) * VehAcc_s(j)+ Rx + Ra(j); else if (B_TrocaMarcha == 0) c_gearshift = c_gearshift + 1; B_TrocaMarcha = 1; end M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*((reta_coeff(c_gearshift)*Time(j)+reta_ind(c_gearshift))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_wheel_real(j) = (M_veh + M_r) * VehAcc_s(j)+ Rx + Ra(j); end end F_wheel_real_filt = butterworth(F_wheel_real); %%% Determinaçao da força calculada na roda %%% k = gear_valid; c_gearshift = 0; B_TrocaMarcha = 0; for j= gear_valid:length(Time) if ((SClSPSG(j) ~= 4)&(SClSPSG(j) ~= 5)) B_TrocaMarcha = 0; k = j; M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*(i(GearActual(j))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_wheel_calc(j) = (M_veh + M_r) * VehAcc_calc_filt(j)+ Rx + Ra(j); else if (B_TrocaMarcha == 0) c_gearshift = c_gearshift + 1; B_TrocaMarcha = 1; end M_fac = (1 + 0.04 + 0.0025*((reta_coeff(c_gearshift)*Time(j)+reta_ind(c_gearshift))*i_diff)^2); M_r = M_veh * M_fac - M_veh; %[kg] F_wheel_calc(j) = (M_veh + M_r) * VehAcc_calc_filt(j)+ Rx + Ra(j); end end F_wheel_calc_filt = butterworth(F_wheel_calc); %%%% Determinação da força ideal na roda %%%% k = gear_valid; c_gearshift = 0; B_TrocaMarcha = 0; for j=gear_valid:length(Time) if ((SClSPSG(j) ~= 4)&(SClSPSG(j) ~= 5)) B_TrocaMarcha = 0; k = j; F_wheel_ideal(j) = (TrqEng(j)*i(GearActual(j))*i_diff)*N_tc/r_dyn; %[Nm] else %inicio da troca de marcha. Porem ainda nao trocou, entao calcula a forca com a ultima marcha engatada if (B_TrocaMarcha == 0) c_gearshift = c_gearshift + 1; B_TrocaMarcha = 1; end F_wheel_ideal(j) = (TrqEng(k)*(reta_coeff(c_gearshift)*Time(j)+reta_ind(c_gearshift))*i_diff)*N_tc/r_dyn; end end %%% Razao de Forca %%% for j=1:length(Time) if (F_wheel_ideal(j) == 0) 132 Force_Ratio(j)=0; else Force_Ratio(j) = F_wheel_real_filt(j)/F_wheel_ideal(j); end end %%% Media do razao de forca %%% c_forcemedio = 0; for j=1:length(Time) if (GearActual(j) < 2)|(SClSPSG(j)==4)|(SClSPSG(j)==5) %media para marcha > 2 e desconsidera troca de marcha c_forcemedio = c_forcemedio + 1; else V_Force_Ratio(j-c_forcemedio) = Force_Ratio(j); end end V_Force_Ratio_Medio = mean(V_Force_Ratio); V_Force_Ratio_Std = std(V_Force_Ratio); % %%% Result plotting %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% % figure; % subplot(4,1,1); % title('Transmissao de Dupla Embreagem'); % % plot(Time, TrqEng, Time, TrqEngDrvReq, Time, TrqClAct1, Time, TrqClAct2, Time, AccPedal); % grid on; % ylabel('[Nm]'); % legend('TrqEng','TrqEngReq', 'TrqClAct1', 'TrqClAct2', 'AccPedal',1); % axis([t_inicio t_fim 00 200]); % % subplot(4,1,2); % plot(Time, N_Eng, Time, N_Inp_1, Time, N_Inp_2, Time, N_Wheel); % grid on; % ylabel('[rpm]'); % legend('N-Eng', 'N-Inp-1','N-Inp-2', 'N-Wheel',1); % axis([t_inicio t_fim 0 5000]); % % subplot(4,1,3); % [AX,H1,H2] = plotyy(Time, VehSpeed_kmh, Time, VehAcc_g_filt); % grid on; % set(get(AX(1),'Ylabel'),'String','[km/h]') % set(get(AX(2),'Ylabel'),'String','[g]') % axis([t_inicio t_fim 0.00 150]); % % subplot(4,1,4); % plot(Time, F_wheel_real, Time, F_wheel_ideal); % grid on; % ylabel('[N]'); % legend('F-roda-real','F-roda-ideal',1); % axis([t_inicio t_fim 0 10000]); % % figure % [AX,H1,H2] = plotyy(Time, Force_Ratio, Time, GearActual); % grid on; % %ylabel('FR'); % set(get(AX(1),'Ylabel'),'String','Fator') % set(get(AX(2),'Ylabel'),'String','Marcha') 133 % xlabel('Tempo [s]'); % axis([t_inicio t_fim 00 1.2]); % %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %%%%%%%%%%