MARIA SALOMÉ DE RESENDE VIEGAS O SOLO DE FLAUTA DO IV RESPONSÓRIO DAS MATINAS DE NATAL DO PADRE JOSÉ MARIA XAVIER: ASPECTOS HISTÓRICOS, ESTÉTICOS E INTERPRETATIVOS Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais 2006 MARIA SALOMÉ DE RESENDE VIEGAS O SOLO DE FLAUTA DO IV RESPONSÓRIO DAS MATINAS DE NATAL DO PADRE JOSÉ MARIA XAVIER: ASPECTOS HISTÓRICOS, ESTÉTICOS E INTERPRETATIVOS Artigo de mestrado submetido ao Programa de Pós-Graduação em Música da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção de grau de Mestre. Linha de Pesquisa: Performance musical Orientador: Prof. Dr. Fausto Borém. Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais 2006 I Agradecimentos Ao meu orientador, Professor Doutor Fausto Borém, por ter me dado essa oportunidade de crescimento, e por sua dedicação e competência. Ao meu professor de flauta no Mestrado, Professor Doutor Maurício Freire, por compartilhar sua sensibilidade e experiência com tanta maestria e generosidade. À minha irmã, a pianista Maria Amélia Viegas, por ter aceito prontamente os desafios que lhe propus e por seu apoio, fundamental,em todos os momentos. Ao musicólogo são-joanense Aluízio Viegas, por sua devoção ao estudo musicológico e sua disponibilidade em contribuir com minha pesquisa. Ao amigo Enivaldo Arruda, por sua dedicação à música são-joanense e por sua presteza em colaborar com meu trabalho. Ao Professor Abgar Antônio Tirado, por seus trabalhos de tradução e relevantes informações que muito enriqueceram minha pesquisa. À maestrina Stela Neves Valle, por me disponibilizar prontamente todo o material que necessitei em minha pesquisa. À Liliane, por sua competência e colaboração na formatação do meu trabalho. Aos músicos José Justino, Adilson Cândido, Oraciles Moraes, Márcia Silva, Kíssia Andrade, Diemes Evandro, Felipe Abreu, Filipe de Souza, pela disponibilidade em divulgar a música de São João del Rei e por abrilhantarem a minha apresentação de conclusão de curso. Ao meu marido Bruno, por seu total apoio e compreensão em todos os momentos. II VIEGAS, Maria Salomé de Resende. O SOLO DE FLAUTA DO IV RESPONSÓRIO DAS MATINAS DE NATAL DO PADRE JOSÉ MARIA XAVIER: ASPECTOS HISTÓRICOS, ESTÉTICOS E INTERPRETATIVOS. 2006. (Artigo de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Música) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. Resumo Estudo sobre os elementos históricos, estruturais e de performance no solo de flauta do IV Responsório das Matinas de Natal, composto pelo compositor mineiro Padre José Maria Xavier (1819-1887), obra musical sacra do século XIX que até hoje consta do repertório sinfônico regularmente apresentado em São João Del Rei, cidade natal do compositor. Esta abordagem inicial da obra foi desenvolvida a partir de aspectos da relação texto-música, figuras retóricomusicais, utilização de elementos da análise e práticas de performance históricas para fundamentar sua interpretação. Palavras-chave: Padre José Maria Xavier, música colonial mineira, música sacra, análise musical, práticas de performance históricas. III VIEGAS, Maria Salomé de Resende. O SOLO DE FLAUTA DO IV RESPONSÓRIO DAS MATINAS DE NATAL DO PADRE JOSÉ MARIA XAVIER: ASPECTOS HISTÓRICOS, ESTÉTICOS E INTERPRETATIVOS. 2006. (Artigo de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Música) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. Abstract Study on historical, structural and performance aspects of the flute solo contained in the Fourth Christmas Matin Responsory, composed by Brazilian composer Padre José Maria Xavier (1819-1887), a musical work still regularly included in symphonic concerts in São João Del Rey, the composer’s birthplace. It includes references to musical-rhetorical figures and historical performance practices in the work and its departures from the analysis towards its performance. Keywords: Padre José Maria Xavier, Brazilian colonial music, sacred music, musical analysis, historical performance practices. IV “Os conhecimentos musicológicos não devem constituir-se um fim em si mesmos mas apenas proporcionar-nos os meios de chegarmos a uma melhor execução que, em última instância, será autêntica se a obra for expressa de forma bela e clara”. (HARNONCOURT, 1990) SUMÁRIO Agradecimentos .................................................................................................. I Resumo ............................................................................................................... II Abstract .............................................................................................................. III Epígrafe .............................................................................................................. IV 1 - Introdução ...................................................................................................... 1 2 - O homem público e compositor Padre Xavier .............................................. 2 3 - O Contexto Religioso do IV Responsório das Matinas de Natal .................. 9 4 - Aspectos Musicais e Estilísticos do IV Responsório das Matinas de Natal . 12 5 - Aspectos da Performance do Solo de Flauta do IV Responsório Matinas de Natal .......................................................................................................... 13 6 - Outros Solos de Flauta na Obra do Padre José Maria Xavier ..................... 18 7 - Conclusão ...................................................................................................... 23 8 - Bibliografia ..................................................................................................... 25 9 - Anexos 9.1 – Relação Sumária das Obras do Padre José Maria Xavier ................. 29 9.2 – Partituras: 9.2.1 - Matinas do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo – Responsório IV .............................................................................. 34 9.2.2 - Novena de Nossa Senhora do Carmo – Gloria Patri .................... 39 9.2.3 - Novena de São Sebastião – Antífona – Largo .............................. 41 9.2.4 - Novena das Mercês – Hino - Lento ............................................... 45 9.2.5 - Novena de Nossa Senhora da Conceição Tota Pulchra .............. 48 9.2.6 – Minuette – Trio .............................................................................. 64 9.3 – Programa do Recital Final ................................................................... 66 1 1- Introdução A rica herança musical de Minas Gerais, que remonta aos séculos XVIII e XIX é notória, na qual se destaca a “Escola” são-joanense. Este conceito de “Escola” foi desenvolvido por REZENDE (1989): (...) “escola (de compositores) trata-se apenas de uma orientação de caráter estético-musical comum a um grupo de músicos em determinadas regiões de Minas” (p. 571). Rezende faz diversas alusões a São João del Rei, no que tange às tradições musicais, os compositores e suas obras, o vasto acervo histórico-musical ainda conservado.. Diferentemente do que ocorreu em muitas cidades coloniais cuja atividade musical diminuiu muito com o declínio do ciclo do ouro, São João del Rei ainda mostrou uma profícua criação musical durante o fim do século XVIII e século XIX. São muitos os compositores atuantes nessa região nessa época, como comprova os arquivos das orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos, daquela cidade. Dentre estes compositores, destaca-se o Padre José Maria Xavier (1819-1887), cujas obras vêm sendo regularmente executadas por essas orquestras, nos rituais litúrgicos em São João del Rei, desde que foram compostas,até os dias de hoje. O Padre Xavier serviu aos propósitos da Igreja, como sacerdote mas, principalmente, como compositor de música sacra. Sua obra se incorporou ao imaginário da cidade, tornando-se referência para aqueles que freqüentam as festividades religiosas promovidas pelas Irmandades, Confrarias e Ordens Terceiras em São João del Rei. Apesar desta importância e reconhecimento pelos seus conterrâneos, a obra do compositor Padre José Maria Xavier não transpôs ainda, de fato, as fronteiras locais. Há poucos estudos sobre seu legado e sua música é muito pouco tocada fora de sua terra natal. Na minha experiência como flautista, membro da Orquestra Ribeiro Bastos há mais de 20 anos, tive a oportunidade de interpretar diversas obras do Padre José Maria Xavier, cujas partes de flauta sempre chamaram a atenção pela sua expressividade, refinamento melódico e adequação às possibilidades do instrumento, especialmente a parte da flauta das Matinas de Natal. Este estudo visa aprofundar o conhecimento acerca do solo de flauta do IV Responsório das Matinas de Natal, do Padre José Maria Xavier, como meio de 2 prover subsídios para a sua interpretação fundamentada e sua divulgação entre flautistas e o público em geral. Pouquíssimas fontes sobre a vida e obra do Padre José Maria Xavier estão disponíveis. A principal delas, à qual geralmente os musicólogos e estudiosos recorrem, é o artigo escrito por RESENDE (1887) no Arauto de Minas. Outra fonte é um depoimento escrito por PIMENTEL (1901) na Revista do Arquivo Público Mineiro, Estes dois autores conviveram diretamente com o Mestre Xavier. Outras fonte relevante é o artigo escrito a respeito do compositor por VIEGAS (1987), que baseia-se nos autores contemporâneos do Padre José Maria e inclui informações e conclusões inferidas após esmerado estudo de partituras e documentos existentes no Arquivo da Orquestra Lira Sanjoanense. Existe ainda um resumo bibliográfico escrito pelo professor TIRADO (1987), em homenagem aos 100 anos de morte do compositor. O perfil biográfico do Padre Xavier apresentado neste estudo baseia-se nestes documentos. Antes de analisar os aspectos estilísticos, harmônicos, estruturais do IV Responsório das Matinas de Natal, é apresentada uma contextualização sobre seu significado e função religiosa. Depois, comparam-se o solo de flauta da Matina de Natal com solos de flauta em outras obras do Padre Xavier para concluir com sugestões técnico-musicais para uma interpretação coerente com a análise e instrumentação da obra. 2- O homem público e compositor Padre Xavier José Maria Xavier nasceu em São João del Rei, MG, em 23 de agosto de 1819, na Rua Santo Antônio, filho de João Xavier da Silva Ferrão, natural de Mariana, e Maria José Benedita de Miranda, natural de São João del Rei. Sua mãe descende de uma família de músicos são-joanenses (Ex.1), cujo pai, José Joaquim de Miranda, foi fundador da atual Orquestra Lira Sanjoanense1, 1 A Orquestra Lira Sanjoanense fundada em 1776, inicialmente era denominada apenas de Companhia de Música. Em 1846, Francisco de Paula de Miranda, (1786-1846) resolve redigir estatuto para a entidade e modifica a denominação para Philarmonica Paulina; Luiz Baptista Lopes, assumindo a direção em 1882, em substituição a Carlos José Alves, reestrutura a entidade e cria uma banda de música na entidade e resolve denominar a entidade como Sociedade Musical Lyra S. Joannense. Em meados do século XX, o Maestro Dr. Pedro de 3 entidade fundamental na história musical de São João Del Rei. Os tios maternosMarcelino Cláudio, Joaquim Lourenço, João Babtista e Francisco de Paula também eram músicos e pertenceram à Lira Sanjoanense. O Padre José Maria Xavier teve sete irmãs: Teresa Caetana, Mariana Guilhermina, Maria Lina, Bernarda Luiza, Joana, Alexandrina e Guilhermina (as três últimas falecidas quando ainda crianças). José Joaquim de Miranda Marcelino Cláudio Joaquim Lourenço João Xavier da Silva Ferrão Teresa Caetana Mariana Guilhermina Alexandrina Joana Baptista da Silva João Baptista Francisco de Paula Maria José José Benedita de Miranda Maria Lina Bernarda Luiza José José Maria Xavier Joana Guilhermina Ex. 1 – Árvore genealógica do Padre José Maria Xavier É importante observar no que diz respeito à origem do Mestre Xavier, que sua bisavó materna era uma negra alforriada, o que acrescenta que esta família de músicos conseguiu conquistar seu espaço, numa sociedade elitista e preconceituosa. Como diz PASSOS (2003, p.13 e p. 33): Esses mesmos mulatos, pelo seu esmerado trabalho, sua conduta exemplar, porque não dizer, na busca de um destaque entre os seus, conseguiram impor-se numa sociedade excludente e escravocrata. Ganharam dos brancos a admiração tanto no campo da música erudita, como também na pintura, na arquitetura e na escultura. Como exemplos podemos citar: José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Souza ao se fazer estatuto condizente com a atualidade obedecendo à legislação vigente, simplifica a denominação para Orquestra Lira Sanjoanense. 4 Francisco Gomes da Rocha, o Aleijadinho, a família dos Miranda, inclusive o padre José Maria Xavier.(...). È, pois, que podemos dizer que foram as relações sociais dos Miranda, o papel desempenhado por esta família na sociedade sanjoanense, desde os fins do século XVIII, através do viés da música e da religiosidade é que possibilitou a inserção na sociedade e o conseqüente reconhecimento social de José Maria. A classificação racial foi sendo enfraquecida ao longo do tempo e “substituída” pela atuação social dos membros da família Miranda.” Nesta família tradicional de músicos, José Maria Xavier aprendeu clarinete, violino, viola de orquestra, violão e piano desde criança. O efervescente ambiente musical de São João del Rei também foi favorável ao desenvolvimento do artista. Ali conheceu e conviveu com músicos são-joanenses nascidos no final do século XVIII, como Lourenço José Fernandes Braziel, João José das Chagas, Joaquim Bonifácio Braziel, José Marcos de Castilho, além dos tios músicos. Na orquestra, com nove anos apenas, atuou primeiramente como tiple (menino cantor), vínculo comprovado por um recibo da Ordem do Carmo datado de 1828 que se encontra no Arquivo da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (documento avulso). Em 1837, passou a atuar nesta corporação musical como primeiro clarinetista, como mostra a lista de músicos da Lira Sanjoanense contratados pela Ordem do Carmo. Em 1845, ingressa no Seminário de Mariana, a fim de realizar os estudos para o sacerdócio. Em 19 de abril de 1846, é ordenado presbítero e no ano seguinte, é nomeado Vigário do Rio Preto. Nesta localidade, permaneceu somente por um ano, conseguindo permissão para voltar para sua terra natal, devido a sérios problemas de saúde. Ao retornar, em 1848, o quadro que o Padre José Maria encontra naquela cidade mineira é de desenvolvimento econômico e grande atividade cultural. Vários historiadores narram a importância econômica de São João del Rei nessa época. SOBRINHO (1997), citando Saint Hilaire e Bumbury, autores do século XIX, descreve: “São muitos aliás, os testemunhos, principalmente dos viajantes estrangeiros que aqui estiveram no inicio do século XIX, afirmando unânimes, quase nos termos de Saint Hilaire:´Depois que o Brasil se tornou independente e os habitantes de São 5 João renunciaram, ao menos em parte, à mineração, esta Vila tornou-se o centro de considerável comércio, que tende a aumentar com o tempo´. .... E São João del-Rei, tornou-se de fato, um entreposto comercial, importador e exportador, de variado gênero de mercadorias, nacionais e internacionais. Sua localização geográfica, no entroncamento de vários caminhos, facilitou-lhe esta vocação histórica, como oportunamente registrou Fox Bumbury, em 1835: ´O comércio desse lugar é considerável, pois fica na estrada real de São Paulo e Ouro Preto, e também numa, se bem que a menos freqüentada, das duas estradas desta última cidade ao Rio (1981, p.97)´ “.(SOBRINHO, 1997,p.20 e p.21) Devido à produção agrária, ao comércio e à indústria em ascensão após o ciclo do ouro no século XVIII, e contrariando o que ocorreu em diversas cidade como Ouro Preto e Mariana, São João del Rei continuou o seu progresso econômico. GRAÇA FILHO corrobora este quadro (2002, p.36 e p. 38): “Saint Adolphe, em seu dicionário geográfico do Império, editado em 1845 falaria de São João del Rei como o município mais abastado de Minas Gerais, com excelentes pastos e terras para o plantio dos algodoeiros, dos canaviais e searas de milho.Também sobressaía o seu vultoso comércio em relação às demais vilas mineiras. A proximidade de São João del Rei com a fronteira do Rio de Janeiro, tendo acesso ao Caminho Real, principal rota de ligação da Corte com a zona mineradora de Minas, permitiu-lhe a centralização do comércio dos produtos do sul da Capitania” O movimento cultural acompanhou o ritmo do progresso econômico. Segundo VIEGAS (1989, p.685), “A vida musical de São João del Rei intensifica-se na segunda metade do século XIX.(...) As duas corporações musicais, compostas de coro e orquestra sentem a necessidade de ampliar seus repertórios, num sentido competitivo de fornecer a melhor música a quem os contratasse.(...) Os repertórios são ampliados e variados, através de composições de autores locais, nacionais e estrangeiros, predominando, neste caso, os italianos. Há o apoio da imprensa local em divulgar notícias de fatos acontecidos ou eventos por acontecer no meio musical tanto religioso quanto profano. Através dessas notícias é que se sabe da intensa vida musical de São João del Rei”. 6 O progresso cultural nesta época também sofreu grande influência da Igreja e de seus rituais, mantidos e coordenados pelas Ordens Terceiras e Irmandades2, que existem até hoje, mas que naquela época tinham mais importância junto à sociedade. Segundo TIRADO (1987, p. 1): “A vila de São João del Rei, em princípios do século XIX, já não era mais o esplendoroso centro de mineração que tanto a projetara no século anterior, mas mantinha sua importância como movimentado pólo social e comercial, tendo conseguido diversificar sua economia de tal forma que pôde garantir sua sobrevivência e assegurar seu progresso. No campo religioso era total a proeminência da Igreja Católica, com grande prestígio do clero e das ordens e irmandades religiosas.” O Padre José Maria Xavier exerceu diversas funções de destaque em sua cidade. Foi Capelão e professor, primeiro no Colégio Duval, e mais tarde, em outras escolas; Vigário da Vara3 de São João Del-Rei (1854 a 1856); Definidor4 da Ordem Terceira de São Francisco e da Confraria de São Francisco de Assis e São Gonçalo Garcia(1855 a 1856); Comissário da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (1859 a 1870); Provedor da Santa Casa de Misericórdia (eleito em 1879 e 1880), Membro da conferência de São Vicente de Paulo e da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte; Capelão da Irmandade dos Passos e da Confraria de Nossa Senhora do Rosário. Na política, foi militante no Partido Conservador. Embora exercesse com competência as diversas funções que lhe foram confiadas durante sua vida, aquela em que mais é lembrado foi a de compositor. Sua obra, essencialmente dedicada aos ofícios da Igreja consta de missas, 2 As Ordens Terceiras e as Irmandades são associações religiosas estabelecidas de caráter leigo instituídas pela iniciativa civil que exerciam atividades não só religiosas, mas também assistencialistas e previdenciárias. 3 Este é o título formal que se dava ao sacerdote que exercia na Paróquia a função de zelar pela documentação eclesiástica, fiscalizar o cumprimento das diretrizes emanadas da Autoridade Diocesana, zelar pelo comportamento do clero, divulgar documentos, emitir certidões, assistir os presos, ações sociais, etc. Para se entender melhor o cargo lembre-se que até 15 de novembro de 1889 vigorou no Brasil o regime do Patroado, em que a religião oficial do Estado era a católica, apostólica do Rito Romano. Portanto, Estado/Igreja tinha diversos atos e pontos comuns. 4 Definidor é o cargo existente em Mesa Administrativa de ordens terceiras, confrarias, irmandades e associações religiosas. Como o próprio termo especifica é quem, ocupando o cargo “define” o que se discute em reunião. A reunião da Mesa Administrativa também se chama Definitório, pois todos os membros reunidos “definem” os assuntos discutidos. 7 credos, Te Deum, matinas, novenas, antífonas, ladainhas, hinos e bradados5 entre outras6. No conjunto de sua obra, as que são apresentadas em São João del Rei anualmente e que mais se destacam são: - Matinas de Natal de N. S. Jesus Cristo; - Matinas d’Assunção e Novena própria; - Matinas da Ressurreição; - Novenas de São Sebastião e de Nossa Senhora do Carmo; - Missa de Réquiem e Responsórios Fúnebres; - Encomendação (Exéquias) dos Irmãos Terceiros da Ordem do Carmo e de São Francisco; - Três “Te Deum laudamus”. A produção de música profana do Padre Xavier é pequena, constando apenas de uma Abertura para o dia 14 de agosto 7, uma Valsa para cordas e alguns minuetos, como o As Flautas e O gosto de Pleyel. Esses minuetos foram compostos para serem tocados na igreja, pois havia o costume de se encerrar com um minueto ou alguma peça mais alegre, algumas festividades religiosas. 5 Para se compreender o que é um bradado é necessário conhecer o contexto da encenação da Semana Santa, especificamente a do Domingo de Ramos e da Sexta-feira Santa. O Evangelho, contendo o relato da Paixão de Cristo, é cantado de modo solene em gregoriano. Os cantores gregorianos são especificados no texto por letras e sinais, a saber: C de Cronista (que narra a história da Paixão); S de Sinagoga (que interpreta os personagens Pedro, Caifás, Anás, Pilatos, Judas etc.); finalmente o Cristo, que pode ser indicado pelos símbolos T ou X ou + . Em geral os cantores são sacerdotes, exceto o Cronista e o Sinagoga que podem ser cantados por leigos. O Cristo só pode ser cantado por um sacerdote. Neste ambiente solene, as intervenções do povo judeu no julgamento e na crucificação do Cristo são interpretadas pelo coro com muitas vozes a capella em gregoriano ou por coro polifônico com acompanhamento de orquestra ou de órgão conforme especificação do compositor, que se baseava nas práticas do coro e orquestra das igrejas. A estas interferências do povo em brado é que se denominou “bradados”. O Padre José Maria privilegiou este gênero, compondo bradados isoladamente aos quais denominou Bradados das Turbas. Os originais dos Bradados das Turbas do Domingo de Ramos e da Sexta-feira da Paixão se encontram no Arquivo da Orquestra Ribeiro Bastos. 6 A relação total das obras se encontra no anexo do artigo. 7 Os dias 14 e 15 de agosto são os dias que se celebram as Solenidades do Trânsito e Assunção de Nossa Senhora em São João del Rei, promovidas pela Irmandade (atualmente Confraria) de Nossa Senhora da Boa Morte. Nesta abertura para Orquestra o compositor procura reproduzir o ritmo do famoso e singular repique de sinos, próprio desta solenidade, denominado “Senhora é morta!”, e que até hoje faz parte dos toques de sinos de São João del Rei. 8 De toda a sua obra, as mais conhecidas e tocadas atualmente são os Responsórios dos Ofícios de Trevas, executados na Semana Santa e recentemente gravados pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e Coral Lírico do Palácio das Artes, regidos pelo maestro Marcelo Ramos (XAVIER, 2004; XAVIER, 2005). O Padre José Maria Xavier obteve algum reconhecimento ainda em vida. Em 1872, recebeu a Medalha de Prata pelas composições apresentadas na 5ª Exposição Industrial Mineira, em Juiz de Fora. O Imperador D. Pedro II, em seu diário de viagem, se refere à música do Padre José Maria Xavier da seguinte forma: “A música do Te Deum foi a melhor que ouvi em Minas, dizem ser composição do padre José Maria” (TIRADO, 1987, p. 7). O Padre José Maria Xavier é Patrono da Cadeira Nº 12 da Academia Brasileira de Música, ocupada à época da fundação da Academia, em 1945 por Otávio Bevilacqua, depois sucedido por José Maria Neves, conterrâneo do Padre José Maria Xavier e, hoje, por Jonh Neschling. Após sofrer uma queda enquanto podava uns arbustos em seu quintal, o Padre Xavier teve complicações em sua saúde já debilitada e em 22 de janeiro de 1887, faleceu. No seu documento de óbito, a causa mortis relatada é “diarréia e paralisia consecutiva” (TIRADO, 1987). No seu Testamento, que hoje está devidamente resguardado no Museu Regional de São João del Rei, seu último pedido resume sua vida de abnegação, simplicidade e convicção religiosa: “Em vez de coroas, marcha fúnebre, mausoléu, flores, poesias e necrológios eu prefiro, e peço, pelo amor de Deus e por caridade, alguns Padres Nossos e outros sufrágios constantes.” (XAVIER, 1887). 3- O contexto religioso do IV Responsório das Matinas de Natal O IV Responsório das Matinas de Natal faz parte de um conjunto de Oito Responsórios das Matinas de Natal, compostos por Padre José Maria Xavier para quatro vozes e uma pequena orquestra (violino I, violino II, viola, baixo e/ou oficleide, flauta, clarineta, piston e trompas). Os originais manuscritos do 9 compositor se perderam, restando algumas cópias da época feitas por copistas seus contemporâneos, provavelmente um dos três mais fiéis copistas das obras do Padre José Maria Xavier (VIEGAS, 2004): Hermenegildo José de Souza Trindade8, Daniel Antônio de Paiva9 ou Franscisco Martiniano de Paula de Miranda10. As cópias mais antigas datam de 186711 e se encontram no Arquivo da Lira Sanjoanense. Embora esta obra tenha sido publicada na Alemanha em junho de 1885, a data de sua composição não pode ser precisada. As Matinas são orações para serem feitas nas primeiras horas do dia (da meianoite às três horas da madrugada), originalmente realizadas pelos monges nos mosteiros e posteriormente praticadas nas igrejas em ofícios especiais com a participação dos religiosos e comunidade leiga. Fazem parte do Ofício Divino12, que é uma oração oficial da igreja católica, formado por oito momentos distribuídos ao longo do dia e noite: Matinas (meia noite às três horas), Laudes (das três horas às seis horas), Prima (das seis horas às nove horas), Terça (das nove horas ao meio dia), Sexta (de meio dia às quinze horas), Nona (de quinze horas às dezoito horas), Vésperas (de dezoito às vinte um horas) e Completas (vinte uma horas às vinte e quatro horas). Segundo NEVES (1980): “Cada um destes momentos de oração tem estrutura particular, compreendendo o canto de alguns salmos, antífonas, hinos, responsórios, trechos bíblicos para meditação, etc. Para os dias feriais(sem festividade especial), há esquemas básicos que se repetem durante todo o ano, e para cada solenidade do calendário litúrgico existem ofícios especiais.” 8 Hermenegildo José de Souza Trindade foi um grande amigo do Padre José Maria Xavier e regente da Orquestra Lira Sanjoanense de 1855 a 1864, tendo atuado nesta orquestra também como cantor (baixo). O compositor dedicou-lhe várias obras. 9 Daniel Antônio de Paiva era sobrinho do compositor e foi um de seus testamenteiros. Era excelente calígrafo e também escrivão eclesiástico. 10 Franscisco Martiniano de Paula de Miranda, nascido em 1823 e falecido em 1901, era primo do compositor e foi regente da Lira Sanjoanense de 1846 a 1854. Copiou várias obras do Padre José Maria Xavier e muitos dos originais do compositor foram de sua propriedade. 11 Parte de “Baixo” instrumental é a mais antiga preservada, datada de 1867. 12 Quando o Ofício Divino é rezado privadamente pelo sacerdote em silêncio, este deve fazer um gestual que inclui o Sinal da Cruz com uma leve inclinação da cabeça quando se lê as Doxologias. Solene, o Ofício Divino continua a ser uma oração por excelência. Entretanto, quando inclui a participação de muitos sacerdotes e leigos, obedece a várias rubricas que especificam todo o ritual quanto a ser cantado ou recitado solenemente. 10 Nas Matinas do Natal, o esquema formal do ofício, segundo o Missal Romano anterior à Reforma do Papa Pio XII, pode ser assim sumariado: 1. Pater Noster, Ave Maria e Credo13 2. Versículo (canto responsorial). 3. Invitatório14 1º Salmo, que é intercalado após a recitação de cada Versículo, com a repetição do Invitatório, o que acontece 7 vezes. Nesse caso, o Invitatório tem a forma AB, em que toca-se só a parte A ou a parte B, conforme indicado na rubrica15. 4. Antífona16 2º Salmo 5. Antífona Repete a Antífona 3º Salmo Repete a Antífona e segue o Versículo 6 Reza-se o Pater noster, secretamente, seguido pela Absolvição e Bênção de cada leitor, antes de cada lição. 1. 1ª lição17 1º Responsório A B C B 2. 2ª lição 2º Responsório A B C B 3. 3ª lição 3º Responsório A B C B A B As Matinas também eram chamadas de Vigílias Noturnas. Cada conjunto de três leituras e dos três Responsórios correspondem a um noturno. Num ofício religioso, fazem parte três noturnos, somando nove Responsórios. Nessas Matinas, no entanto, são oito Responsórios sendo que o último Responsório do terceiro noturno é substituído pelo Te Deum laudamus, que pode ser cantado continuamente ou na forma alternada – estilo gregoriano versus polifonia. Segundo VIEGAS (1987), 13 O Pater Noster, a Ave Maria e o Credo são rezados. 14 O Invitatório é executado pela orquestra e coro polifônico. 15 As Rubricas são explicações sobre o ritual litúrgico. O termo deriva de ruber, que significa vermelho, e daí porque são escritas geralmente em letra vermelha. 16 A Antífona é cantada por solista ou por coro gregoriano. 17 As Lições são cantadas por solista ou por coro gregoriano. 11 “Para a execução em função litúrgica própria, o cerimonial exige dois coros gregorianos com chantre e sub-chantre, isto é: um cantor que inicie cada frase das antífonas e dos salmos e depois do chantre encabeça o 1º coro e o sub chantre o 2º coro. O capitulante é o sacerdote que preside a função, próximo ao altar. O invitatório e os responsórios são confiados ao coro polifônico acompanhado por orquestra. Os demais textos: antífonas, salmos, leituras (ou lições) em gregoriano.” O IV Responsório das Matinas de Natal é inserido após a leitura do Sermão do Papa São Leão Magno, que fala da alegria pelo nascimento do Salvador, o qual veio para destruir o pecado. O texto do IV Responsório, e sua tradução, segundo TIRADO (2005) é a seguinte: Primeira Parte (Responsório): “O magnum mysterium et admirabile sacramentum, ut animalia viderent. Dominum natum jacentem in presépio.” Tradução: “Oh Grande Mistério e Admirável Sacramento, para que os animais vissem o Senhor recém nascido deitado na manjedoura.” Segunda Parte (Presa): “Beata Virgo, cujus víscera meruerunt portare Dominum Christum.” Tradução: “Oh Bem Aventurada Virgem, cujas entranhas mereceram carregar o Cristo Senhor.” Parte Final (Verso): “Ave Maria gratia plena, Dominus tecum.” Tradução: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.” As Matinas de Natal devem ser executadas após o Advento, iniciando-se no dia do Natal (25 de Dezembro) até a Epifania (dia 6 de janeiro). Atualmente, não há mais a prática de um ofício específico, onde todo o ritual é celebrado. As Matinas são executadas em momentos das Missas e Novenas deste período. 4- Aspectos musicais e estilísticos do IV Responsório das Matinas de Natal A forma dos Responsórios está vinculada à sua função no ritual litúrgico. Os Responsórios, nas Matinas obedecem ao critério das rubricas quanto às repetições, seguindo um esquema A B C B da seguinte maneira: 1- A: Responsório (em andamento lento); 12 2- B: Presa18 (em andamento rápido); 3- C: Verso ou Versículo (em andamento lento, geralmente com solo vocal); 4- B: Repetição da Presa; O IV Responsório do Padre Xavier tem três movimentos, que seguem exatamente o esquema A B C B. A Seção A, em Fá Maior, é um Andante em que seus 11 compassos são divididos em um período com duas frases de quatro compassos cada, e uma coda de três compassos. Na sua textura de melodia acompanhada, a flauta solista realiza uma linha bastante ornamentada e destacada em relação ao coro. O registro utilizado na flauta é o agudo, o que a faz soar acima de todos os instrumentos e das vozes. As vozes cantam o texto litúrgico homofonicamente em blocos de acordes, o que faz com que o coro soe como um acompanhamento para a flauta solista. A dinâmica pedida para o coro é p e, na parte da flauta a marcação cantabile reforça a idéia de que a flauta pode ser vista como a voz principal, característica do estilo do compositor que foi observada por CONTIN (1996, p.42): “Seu estilo, o do padre-músico, caracteriza-se sobremaneira pelo uso do coro harmonizado em blocos sonoros, com um acompanhamento nas cordas feito frequentemente em notas repetidas ou com acordes em “Alberti”, fazendo em conta a possibilidade dessa escritura para o conjunto vocal, um “acompanhamento” coral (ao qual se juntam as cordas) para melodias em certos instrumentos de sopro (flauta e clarinete, preferencialmente).” A linha do baixo é feita pelo contrabaixo, que é dobrado pelo oficleide somente nos tutti, como consta nas partes cavadas. A Seção B é um Allegro, no tom de Fá Maior, com 28 compassos em métrica ternária. No início, duas frases de oito compassos cada são cantadas pelo tenor solista que, a seguir, são respondidas com a mesma melodia pela a flauta com o piston em oitava, enquanto o coro canta em bloco de acordes. No c.17, uma anacruze inicia uma Coda de 11 compassos, na qual a flauta volta a solar. 18 Presa é o trecho que fica entre o responsório e o verso, sendo indicado por algum sinal convencional (como, por exemplo, um asterisco). Este termo deriva de prehendere, que significa comprimido, agarrado. 13 A Seção C é um Lento em Sib Maior (o IV grau da tônica Fá maior) e tem 10 compassos.É um duo para soprano e contralto. Inicia-se com uma Introdução de 2 compassos, em que a flauta é dobrada pelo clarinete na oitava inferior. No c.3, as vozes agudas, em dueto, cantam o texto da Ave Maria com um contracanto de arpejos em legato da flauta e clarinete, à maneira da introdução. O compositor alterna a linha melódica dos cantores com a da flauta e do clarinete (em oitavas). A volta à Seção B (Allegro) não é indicada na partitura. No entanto, segundo a liturgia, é tradição voltar à Presa, concluindo assim a peça no tom original de Fá Maior. 5- Aspectos da performance do solo de flauta do IV Responsório Matinas de Natal Em que pese as dificuldades inerentes a qualquer processo de recriação do ambiente musical de uma época distante, algumas considerações podem ser feitas. Por exemplo, tendo como base os arquivos da época, no tocante às formações dos grupos musicais que interpretavam as obras do Padre José Maria Xavier, a peça foi provavelmente composta para um coro de no máximo 12 cantores. Atualmente, quando interpreta-se o IV Responsório em São João del Rei, o coro é formado por não menos que 20 vozes. Em uma gravação da obra pelo musicólogo e maestro José Maria Neves com a Orquestra Ribeiro Bastos de São João de-Rei (XAVIER, 1976), utilizou-se um coro de 31 vozes. Em outra interpretação pelo maestro Paulo Miranda, registrada em vídeo com o Coro do Conservatório de Música Padre José Maria Xavier, foram utilizados 30 cantores (XAVIER, 1999). As orquestras de hoje também diferem bastante das formações mais comuns da época, que em geral incluíam apenas dois ou três primeiros violinos, dois ou três segundos violinos, uma viola, um violoncelo, um contrabaixo, uma ou duas flautas, uma ou duas clarinetas, um piston, um oficleide, dois bassons ,realizados atualmente por dois trombones ou dois oficleides. Quando necessário, incluía-se também um par de tímpanos. Esta formação instrumental pode ser inferida a partir da relação dos músicos e do demonstrativo de seus salários pagos segundo um contrato da Ordem do Carmo com a Lira Sanjoanense de 1837 (1837, 2º Livro de Termos e Deliberações da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo), conforme mostra o quadro abaixo (Ex.2): 14 Modesto Antônio de Paiva Contralto 16$000 Desidério Antônio de Jesus Silva Tenor 16$000 Hermenegildo José de Souza Trindade Baixo 16$000 O Tiple 19 16$000 Francisco de Paula de Miranda 1ª Rabeca 16$000 João Alves de Castilho 2ª dita20 12$000 Francisco de Assis Pacheco 3ª dita 12$000 Francisco Victor 4ª dita 8$000 José Maria Xavier 1º Clarinete ta 21 14$400 José Maximiano de S. Anna 2º dito 12$000 Antonio Venâncio 1ª Trompa 10$200 José de Roza 2ª Trompa 10$200 José Jerônimo de Miranda Contrabaixo 14$400 Ignácio Soares Baptista Trombone 10$000 Anáta de Sta. Cecília22 4$800 Rs23 200$000 Ex.2 – Quadro de músicos contratados pela Ordem do Carmo com a Lira Sanjoanense em 1837 Considerando a execução do IV Responsório com grupos instrumentais menores, mais condizentes com a realidade do século XIX, como já foi realizado algumas vezes em concertos em São João del Rei, observa-se que a performance torna-se muito mais clara em relação às articulações e timbres e muito mais equilibrada em relação às dinâmicas do coro, solista e orquestra. No Andante (Seção A) o texto fala da alegria do nascimento do Senhor, e evoca a imagem do Cristo na manjedoura. Por isso, sugere-se não utilizar um andamento muito lento, o que poderia induzir uma atmosfera de tristeza ao fraseado melódico e às ornamentações empregadas pelo compositor. No 19 O Tiple se refere a um menino cantor (voz de soprano) que não poderia receber o salário pessoalmente, o que era feito pelo Maestro em nome dele. Este cargo também era constantemente modificado por causa da mudança de voz natural nos meninos. 20 Dita significa o instrumento escrito anteriormente, ou seja, a Rabeca. 21 Dito significa o instrumento escrito anteriormente, ou seja, o Clarinete. 22 Valor obrigatório pago a uma espécie de Sindicato dos Músicos da época. 23 Abreviatura de Réis moeda vigente da época. 15 segundo movimento, Allegro, sugere-se não adotar um tempo muito contrastante em relação ao Andante da seção A, pois, como o próprio Padre José Maria Xavier observou (VIEGAS, 1987 p.18), uma correspondência metronômica estrita poderia não traduzir o espírito religioso de suas obras: “sobre uma anotação do Padre José Maria Xavier, feita à margem da partitura do Ofício de Ramos de 1872, a respeito da interpretação dos andamentos metronômicos de sua obra. É a seguinte: ”Modifique-se e modere-se os andamentos, principalmente os Allegros, a fim de guardar o decoro da Música Sacra. Os graus altos do metrônomo são da ópera Lírica e mais músicas profanas. Xavier. ” Sente-se, com esta anotação, que o compositor já percebe as modificações no modo de interpretar suas músicas e para evitar erros danosos à interpretação correta, ele preceitua o critério correto dos andamentos.” A construção harmônica do IV Responsório é muito simples, em que a progressão dominante-tônica é utilizada constantemente. Somente algumas dissonâncias são empregadas (Ex.3): a apojatura inferior Sol# sobre a nota Lá (terça do acorde de Fá Maior) no c.2; o retardo Si bequadro sobre a nota Dó (quinta do acorde de Fá Maior) e a escapada Dó# sobre a nota Ré (quinta do acorde de Sol menor na 1ª inversão), ambos no c.7. O compositor explora a relação texto-música nestas poucas dissonâncias da obra, recorrendo a figuras de retórica comuns na linguagem musical do Barroco europeu. A primeira dissonância no c.2 (Ex.3), gerada pelo Sol# na flauta, ocorre justamente quando o coro canta a palavra mysterium(“mistério”) e pode ser vista, retoricamente, como uma Emphasis, que é uma passagem musical que reforça ou enfatiza o significado do texto por meio de diversos procedimentos (BARTEL, 1997, p. 251 a 255). Nas dissonâncias geradas pelo Si (sobre o acorde de Fá maior) e pelo Dó# (sobre o acorde de Sol menor) (Ex.3), o Padre Xavier recorre à mesma figura de retórica musical da Emphasis para enfatizar as palavras viderunt24 (“viram”) e Dominum (“Senhor”), que são as principais do texto. 24 O texto original é viderent, mas na partitura do V Responsório das Matinas de Natal do Padre José Maria Xavier, modificou-se o tempo verbal viderent para viderunt, que em português traduzem-se como “vissem” e “viram” respectivamente. 16 Ex.3 – IV Responsório Matinas de Natal do Padre José Maria Xavier: figura retórica de Emphasis nas dissonâncias e apojaturas sobre a terça e quinta de acordes perfeitos Podemos identificar outra figura de retórica - o noema25 - quando o Padre José Maria utiliza o coro em textura homofônica,junto com outras vozes, na Seção A ( Andante), imprimindo um caráter de solenidade à passagem. Aqui a relação textomúsica torna isto bastante evidente, pois a letra se refere a uma temática de louvor e exaltação. No segundo movimento,o Allegro, o compositor volta a utilizar do mesmo recurso expressivo das figuras de retórica. No compasso 5 a palavra víscera(“víscera”) é enfatizada com uma dissonância produzida pelo Do# no acorde de Sol Menor, e nos dois compassos seguintes, a palavra portare(“carregar”)pelo Sol #, no acorde de Fá Maior. Podemos identificar aí o uso da figura-retórica Epizeuxis, que assim como a Emphasis, enfatiza uma palavra ou frase. Em uma cópia da partitura feita por Carlos José Alves, copista contemporâneo do Padre Xavier, encontra-se um sinal sinuoso em cima do Sol # (Ex. 4), no fim da primeira frase do Andante: Ex.4 - IV Responsório Matinas de Natal do Padre José Maria Xavier: sinal sinuoso sobre apojatura do Sol# para o Lá 25 Uma passagem homofônica dentro de uma textura contrapontística,geralmente utilizada para imprimir um caráter solene a um trecho musical. 17 Uma confusão sobre o significado deste símbolo ao longo da história fez com que os flautistas o identificassem como um trinado, a ponto de em algumas cópias mais recentes, o mesmo já aparecer com o sinal moderno deste ornamento. Entretanto, segundo VIEGAS (2005), relatando entrevistas com o Maestro Pedro de Souza26 e com o violinista Geraldo Ivon da Silva27, músicos que conviveram com contemporâneos do Padre José Maria Xavier e que conheceram de fato este tipo de notação, este sinal era apenas uma ênfase na nota, geralmente obtida colocando-se um pouco mais de vibrato, sendo usado não só pela flauta, mas também pelos violinos. O Padre José Maria Xavier escreve detalhadamente as articulações tanto nos andamentos lentos quanto nos rápidos. Nos lentos, as articulações sugerem frequentemente uma movimentação do arsis para o thesis28, o que sugere um movimento à frente no fraseado do intérprete. Isto pode ser observado nos c.36 do Andante (Ex. 5), por exemplo. Ex.5 – Articulações de condução de frase com ligaduras de expressão, sugerindo uma movimentação do arsis (A) para o thesis (T) no Andante do IV Responsório do Padre José Maria Xavier Nos andamentos rápidos, a variedade da articulação, se executada claramente, permite ao interprete a moderação do andamento sem perder o caráter vivo de um movimento rápido, como podemos observar nos c.17a 24 do Allegro.(Ex. 6). 26 Regente da Orquestra da Lira Sanjoanense no período de 1934 a 1949 como auxiliar interino, e de 1949 a 1995, como efetivo. 27 Violista e violinista, membro mais antigo da Orquestra Lira Sanjoanense na atualidade. 28 Arsis e thesis termos usados respectivamente para tempos não acentuados e acentuados, ou tempo fraco e tempo forte. 18 Ex.6– Variações de articulações sugerindo clareza na execução do Allegro do IV Responsório do Padre José Maria Xavier Assim, a clareza na realização das articulações parece ser um elemento importante na performance da música deste compositor, dada as minúcias de sua notação na partitura. 6- Outros solos de flauta na obra do Padre José Maria Xavier Observando a relação de diretores regentes da Orquestra Lira Sanjoanense, desde a sua fundação em 1776, nota-se que alguns deles eram flautistas, como Antônio do Carmo Teixeira Pinho, que regeu a orquestra à época que o Padre José Maria Xavier compôs as Matinas de Natal, Luiz Batista Lopes29 e, mais recentemente, Pedro de Souza e o próprio musicólogo Aluízio Viegas. Este dado reforça a idéia de uma estreita relação da flauta com esta orquestra, à qual se dedicou o Padre Xavier. A importância da flauta na obra do Padre José Maria Xavier também pode ser observada pelo destaque dado pelo compositor a este instrumento em cinco outras obras que incluem trechos solísticos: o Gloria Patri da Novena de Nossa Senhora do Carmo30; a Antífona da Novena de São Sebastião31; o Hino da Novena das Mercês32; e a Antífona da Novena de Nossa Senhora da Conceição e um Minueto. 29 Nasceu em São João del Rei, 25 de agosto de 1854, filho do músico Ireneo Baptista Lopes e Rita Maria de Jesus Lopes. Músico da Orquestra Lira Sanjoanense, em 1852 substituiu o Maestro Carlos José Alves (1850-1936), permanecendo à frente da Entidade durante 25 anos. Como compositor, deixou vasta obra musical, tanto de música sacra para coro e orquestra, como de música instrumental para orquestra e para banda de música. Algumas de suas obras permanecem no repertório da Lira Sanjoanense até hoje, como a Ladainha da Novena de Nossa Senhora da Boa Morte, a Abertura para o dia 14 de agosto, entre outras. Como flautista ficou famoso por suas habilidades no instrumento. Faleceu a 28 de maio de 1907. 30 Esta novena é executada pela Orquestra Ribeiro Bastos no período de 8 a16 de julho, desde 1925. 31 Esta novena é executada pela Orquestra Lira Sanjoanense no período de 11 a 19 de janeiro desde 1776. 32 Esta novena é executada pela Orquestra Lira Sanjoanense, no período de 15 a 23 de setembro, desde 1776. 19 Uma comparação entre o solo de flauta do IV Responsório das Matinas de Natal e do Gloria Patri da Novena do Carmo aponta alguns aspectos em comum. Além da ênfase dada ao mesmo instrumento solista, há também o tratamento semelhante nas vozes, organizadas em uma textura homofônica de blocos de acordes. (Ex. 6) Novamente, no Gloria, as cordas são tratadas exclusivamente como acompanhamento, embora com um timbre diferente, o pizzicato, recurso que não é utilizado nas Matinas. Ambos excertos também apresentam uma harmonia simples, seguindo o esquema dominante-tônica. No Gloria, uma variação harmônica ocorre no ponto culminante da peça, onde o compositor utiliza um acorde de Dó#M (V grau do relativo menor Fá#m), mas logo reafirma o tom original de Lá Maior. Em ambos, a linha melódica da flauta é muito ornamentada, com uso de apojaturas, arpejos, escalas ascendentes e descendentes, articulações bem variadas e frases longas em “cantabile” (Ex. 7). Ex.7 – Gloria Patri da Novena de Nossa Senhora do Carmo do Padre José Maria: onamentações variadas no solo de flauta e tratamento das vozes organizadas em textura homofônica O andamento dos solos é Andante, demandando um bom controle da respiração. Ambos os textos tratam de uma temática de júbilo e, portanto, não deveriam ser tocados em um andamento lento. Em São João del Rei, ainda costuma-se executar o Gloria Patri num andamento muito lento, de maneira arrastada. A Antífona da Novena de São Sebastião é em dois movimentos: um Largo e um Allegro, sendo que o solo ocorre nos quatro primeiros compassos do Largo. O violino executa a mesma linha melódica da flauta, mas uma oitava abaixo. Após o solo, do c.5 até o final, a flauta faz um contracanto com a soprano e o violino, que fazem a mesma linha em uníssono. A instrumentação é bem semelhante àquela do IV 20 Responsório das Matinas de Natal, com flauta, clarineta e piston, quarteto de cordas, contrabaixo e as quatro vozes tradicionais: soprano, contralto, tenor e baixo (Ex. 8). Ex.8 – Largo da Antífona da Novena de São Sebastião do Padre José Maria Xavier: c.1 a 4 – partes da flauta e violino I O Hino da Novena das Mercês tem dois movimentos - um Lento e um Allegro.O Lento contem um solo para voz (baixo) e flauta. Assim como ocorre no IV Responsório das Matinas de Natal, o Padre José Maria Xavier explora aqui uma escrita bastante ornamentada no registro agudo da flauta. Observa-se a riqueza e expressividade da flauta solista. O acompanhamento é feito por um quinteto de cordas, em pizzicato (como no Gloria Patri) (Ex. 9). Ex. 9 – Hino da Novena das Mercês do Padre José Maria Xavier: Linha melódica da flauta utilizando os recursos no registro agudo e de muitos ornamentos. Acompanhamento com célula rítmica muito usada nos acompanhamentos das modinhas. Pode-se especular sobre uma semelhança entre o acompanhamento das modinhas brasileiras do século XIX e o acompanhamento elaborado pelo 21 Padre José Maria Xavier para os solos de flauta. Por exemplo, a célula rítmica presente no acompanhamento do piano em modinhas como Hei-de amar-te até morrer!, Último adeus de amor, Dei um ai, dei um suspiro..., e Quando as glórias que gosei... (ANDRADE, 1980) aparece com freqüência nos acompanhamentos dos solos de flauta do Padre José Maria Xavier no IV Responsório das Matinas de Natal, na Antífona de São Sebastião, no Hino da Novena das Mercês, porém em semicolcheias. (Ex.9). A Antífona da Novena de Nossa Senhora da Conceição33 é tocada como se fosse composta pelo Padre José Maria Xavier. Segundo relato do musicólogo são-joanense Aluízio Viegas, este é um erro histórico. Explica que O Padre José Maria Xavier teria pedido ao Mestre Braziel34, então regente de um grupo musical35, que lhe emprestasse a partitura da antífona homônima de Francisco Manuel da Silva, para que ele a interpretasse junto à Lira Sanjoanense. Provavelmente, em função da competição existente entre grupos musicais daquela época, o pedido foi negado. O Padre José Maria Xavier não teria desistido do propósito de levar a cabo aquela empreitada e, assim, transcreveu de memória a partitura completa desta obra, fato que PIMENTEL (1901) comentou como prova das geniais habilidades do compositor. Com o passar dos anos, os supostos originais de Francisco Manuel da Silva teriam se perdido, restando apenas a cópia do Padre José Maria Xavier, que levou seu nome como compositor, propagando assim esta história. 33 Esta novena é executada pela Orquestra Ribeiro Bastos no período de 29 de novembro a 7 de dezembro. 34 A Família Braziel tem suas raízes em São João de Rei desde meados do século XVIII. Lourenço José Fernandes Braziel foi “dono” de um grupo musical a partir o último quartel do século XVIII. 35 Era um grupo nos mesmos moldes dos demais do período como acima foi especificado: quarteto vocal, cordas (1 de cada instrumento) duas madeiras e duas trompas. Lourenço faleceu em 1831 e foi substituído por seu filho, Joaquim Bonifácio Braziel, que era o grupo que assistia com música as funções da Ordem Terceira de São Francisco. Uma das funções maiores da Ordem Franciscana era e ainda é a Novena de Nossa Senhora da Conceição. É obra obrigatória nessa novena a Antífona Tota pulchra es Maria e que é executada ainda nos dias de hoje. 22 O Minueto tem dois movimentos, o solo de flauta ocorre no segundo movimento, o Trio. A tonalidade é Ré maior em ambos os movimentos. O solo de flauta ocorre na região aguda e o compositor se utiliza de arpejos, apojaturas e notas de passagem para enriquecer a linha melódica. No solo do Trio do Minueto, o conjunto é reduzido a um quarteto de cordas com contrabaixo acompanhando a flauta. No primeiro movimento utiliza-se, além desses instrumentos, duas clarinetas, um fagote, duas trompas, 2 trombones e 2 pistons. 23 Conclusão Além de propiciar o conhecimento e divulgação de nossa herança cultural e musical, o estudo da música erudita produzida no Brasil nos séculos XVIII e XIX pode prover dados importantes para a sua interpretação. O legado do Padre José Maria Xavier tem sido conservado e mantido, quase que exclusivamente, no âmbito de sua terra natal, São João del Rei. O seu IV Responsório das Matinas de Natal, assim como outras obras de sua autoria que incluem a flauta como instrumento solista, continuam sendo executados em cerimônias tradicionais nesta cidade. O estudo dos aspectos históricos nessas obras contribui para a compreensão do contexto em que o autor viveu e sua relação com a sociedade/ouvintes e músicos/intérpretes (amador ou profissional) para os quais compôs suas obras, com as cerimônias às quais serviam. Algumas decisões sobre andamentos, instrumentação da orquestra tanto em relação ao tipo quanto ao número de instrumentos utilizados podem ser tomadas com maior embasamento. A ênfase nas paixões e arroubos sentimentais, que se tornaram gradativamente acentuados ao longo do século XIX não se refletiram nas obras do Padre José Maria Xavier, que optou pela manutenção de um estilo mais austero, ainda preso a cânones do classicismo europeu, como harmonia mais previsível, quadratura e contornos melódicos convencionais, forma e orquestração sem grandes novidades, devido ao contexto religioso e conservador da São João del Rei de então, mais apropriados à sua função. Desde sua escrita, o solo do IV Responsório das Matinas de Natal tem sido parte da vida musical são-joanense. Se, por um lado, observa-se uma manutenção muito próxima dos rituais religiosos da época do compositor, observa-se por outro lado, mudanças estilísticas, ocorridas em quase 150 anos de sua existência, que afastaram a sua realização das práticas de performance idealizada e vivenciadas pelo Padre José Maria Xavier. O número de músicos disponíveis para execução da música nos rituais religiosos praticamente triplicou. Tornou-se comum a prática de se alterar a formação instrumental original em função da disponibilidade de novos 24 instrumentistas na comunidade. Mulheres passaram a ser admitidas no coro e na orquestra. Músicos cujo status predominante era o de profissionais passaram a ter uma relação amadora com a música. Se o IV Responsório de Natal foi composto para um ofício litúrgico específico, hoje é realizado em contextos diferentes como em concertos, sem função religiosa. Os serviços do Ofício de Natal não são mais celebrados em São João del Rei. O Responsório IV de Natal tem sido apresentado em missas e novenas que acontecem durante o Natal e, principalmente, em concertos, o que parece refletir seu valor artístico e aprovação por parte do público. Finalmente, se a realização do Responsório IV de Natal em contextos mais amplos ajuda a consolidar esta obra como uma das mais importantes do repertório religioso de São João Del Rei, uma atenção às práticas de performance da época pode aproximar músicos e ouvintes da concepção do compositor Padre José Maria Xavier. 25 Bibliografia ANDRADE, Mário de. Modinhas imperiais. 3ª ed. v.19. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1980. BARTEL, Dietrich. Musica Poetica. Musical-Rhetorical Figures in German Baroque Music. Lincoln: University of Nebraska Press, 1997. BUNBURY, Charles James Fox. Viagem de um naturalista inglês ao Rio de Janeiro e Minas Gerais (1833-1835). Trad. Helena Garcia de Sousa. Belo Horizonte: Itatiaia / São Paulo: Edusp, 1981. CASTANHA, Paulo. 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Sim CREDOS – CREDO, SANCTUS E AGNUS DEI Nº TÍTULO DA OBRA 7 Credo p.ª a festa de Santa Cecília 8 Credo Cathedrático???? de Domingo de DATA PARTITURA Sim 1872 Sim Ramos 9 Credo em Mi maior Sim 10 Credo Quarto Sim 11 Credo Quinto 1882 Sim DATA PARTITURA TE DEUM LAUDAMUS Nº TÍTULO DA OBRA 12 Te Deum Pequeno nº 1 Sim 13 Te Deum nº 2 Sim 14 Te Deum do Espírito Santo Sim MATINAS Nº TÍTULO DA OBRA DATA PARTITURA 15 Matinas da Assunção 1851 Sim 16 Matinas do Natal de N. S. Jesus Cristo 1866? Sim 17 Matinas do Espírito Santo Sim 18 Matinas da Conceição Sim 19 Matinas do S. Coração de Jesus Sim 30 20 Matinas de Santa Cecília Sim 21 Matinas do Patrocínio de São José Sim 22 Matinas da Ressurreição Sim 23 Beata es – Responsório de Nossa Senhora NOVENAS COMPLETAS VENI – DÓMINE – HINO E ANTÍFONA Nº TÍTULO DA OBRA DATA PARTITURA 24 Novena de Nossa Senhora da Boa Mortes 1855 Não 25 Novena de São Sebastião 1869 Sim 26 Novena de São Gonçalo Garcia 1856 Sim DATA PARTITURA NOVENAS VENI – DÓMINE Nº TÍTULO DA OBRA 27 Nossa Senhora do Carmo Sim 28 São Sebastião Sim 29 Mês de Maria (obra atribuída) Não 30 Imaculada Conceição Não NOVENAS HINO E ANTÍFONA Nº TÍTULO DA OBRA DATA PARTITURA 31 Nossa Senhora das Mercês 32 Hino Virgem Sagrada Novena do Carmo 33 Santíssima Trindade 34 São João Evangelista Não 35 Santo Elias Não 36 Nossa Senhora das Dores Sim 1875 Sim 1867 Sim DATA PARTITURA ANTÍFONAS Nº TÍTULO DA OBRA 37 Para os Santos Doutores 186? Sim 38 Para os Santos Confessores 186? Sim 39 Para os Santos Mártires 186? Sim 40 Para as Santas Virgens 186? Sim 31 41 Para o Santíssimo Sacramento 42 Para o SS. Sacramento – O quam suavis est Sim 43 Flos Carmelli Pequeno para os Sábados Sim 44 Ó Stella fúlgida Jacob Não 45 Santa Maria, sucurre míseris Não 46 Salve Sancte Pater – São Francisco de Assis Sim 18? Sim LADAINHAS Nº TÍTULO DA OBRA 47 Nº 1 – em Dó maior 48 Nº 2 – em Ré maior – Santa Cecília 49 Nº 3 – em Sol maior 50 Nº 4 – em Fá maior 51 Nº 5 – em Lá maior DATA PARTITURA Sim HINOS Nº TÍTULO DA OBRA 52 Solleminatem hodiernam – N. S. Rosário 53 Santíssima Dei Genitricem – N. S. Rosário 54 Conceptio tua Dei Genitrix – N. S. Conceição DATA PARTITURA DATA PARTITURA 1867 Sim SOLOS AO PREGADOR Nº TÍTULO DA OBRA 55 Moteto ao Pregador – Domine Jesu 56 Jam Sol Recedit – tenor 57 Ó Gloriosa Virginum – soprano 58 Assumpta est Maria in caelum – tenor 59 Veni Creator Spiritus – tenor 60 Jam nunc Paterna Claritas – contralto 61 Jam Sol – barítono 62 Veni Creator Spíritus – baixo 63 Praeclara custos Virgine 64 Creator alme siderum 65 Sumum parens elementis 66 Sacris sollemnis – baixo 67 Pange Língua – baixo 1861 Sim 1846 Não 32 OBRAS DE CLASSIFICAÇÃO IMPRECISA Nº TÍTULO DA OBRA DATA PARTITURA 68 Laudes Solenes para as Vésperas das 1877 Sim Mercês 69 Absolvição Solene p.ª Confrades das Mercês 1877 Sim 70 Súplica à Nossa Senhora 1864? Não 71 Qui sedes e Quoniam a baixo solo 1839 Sim DATA PARTITURA COROS PROCESSIONAIS Nº TÍTULO DA OBRA 72 Beata Mater – N. S. do Rosário Sim MÚSICA FÚNEBRE Nº TÍTULO DA OBRA DATA PARTITURA 73 Memento Pequeno (duas versões) Sim 74 Memento Grande Sim 75 Ofício Fúnebre (Invitatório / 9 Responsórios) 1876 76 Missa de Réquiem 1876 SIm SEMANA SANTA Nº TÍTULO DA OBRA DATA PARTITURA 185? Não 77 Dómine, tu mihi lavas pedes? 78 Popule Meus 79 Ofício para Domingo de Ramos 1872 Sim 80 Matinas de Quinta-feira Santa 1871 Sim 81 Matinas de Sexta-feira Santa 1871 Sim 82 Matinas de Sábado Santo 1871 Sim 83 Tractos e Bradados de Sexta-feira Santa 1872 Sim 84 Motetos para a Adoração da Cruz Sim 85 Motetos para a Procissão do Enterro Sim 86 Canto da Verônica Sim 87 Tractos, Missa, Vésperas de Sábado Santo 1869 Sim 88 Pange 1872 Sim Língua Não – Procissão do SS. Sacramento 89 Laudes para os Ofícios da Semana Santa 90 Adoramus te Christe Sim 1875 Não 33 91 Lamentações p.ª Ofícios da Semana Santa Não 92 Lições para os Ofícios da Semana Santa Não TANTUM ERGO Nº TÍTULO DA OBRA 93 Tantum Ergo mi menor – 1 94 Tantum Ergo mi menor – 2 95 Tanto Ergo a 2 vozes e órgão DATA PARTITURA Sim MÚSICA INSTRUMENTAL Nº TÍTULO DA OBRA DATA PARTITURA 1855 Não 96 Ouverture para o dia 14 de agosto 97 Minueto Quaresmal sol menor – das Dores 98 Minueto Quaresmal ré menor 99 Minueto Quaresmal Sim 100 Minueto festivo – Ré maior – trio de flauta Não 101 Minueto festivo – Ré maior – trio de flauta Não 102 Minueto – O Gosto de Pleyel ????? 186? Não 103 Minueto – As Flautas 186? Não Sim 34 Matinas de Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo – Responsório IV 35 36 37 38 39 Novena de Nossa Senhora do Carmo – Gloria Patri 40 41 Novena de São Sebastião – Antífona – Largo 42 43 44 45 Novena das Mercês – Hino – Lento 46 47 48 Novena de Nossa Senhora da Conceição – Tota Pulchra 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 Minuette - Trio 65 66 PROGRAMA DO RECITAL FINAL REALIZADO EM 31 DE OUTUBRO DE 2006 NA SALA 10.33 DA ESCOLA DE MÚSICA DA UFMG Programa C. W. Gluck ( 1714-1787) Cena Da Ópera “Orphéus” François Borne (1840-1921) Fantasia César Frank( 1822-1890) Sonata em Lá Maior Allegretto ben moderato Allegro Recitativo Fantasia Allegretto poco mosso Padre José Maria Xavier (1819-1887) Gloria Patri da Novena Nossa Senhora do Carmo Padre José Maria Xavier (1819-1887) IV Responsório das Matinas de Natal Músicos convidados Maria Amélia Viegas Piano Enivaldo Arruda Regência Oraciles Moraes Violino Filipe Souza Violino José Justino Fernandes Viola Felipe Abreu Violoncelo Márcia Silva Soprano Kíssia Andrade Contrato Diemes Evandro dos Santos Tenor Adilson Cândido dos Santos Barítono Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo