Achocolatado LTDA Fernando Ferroni 1 Este caso foi desenvolvido pelo aluno Fernando Ferroni, com base em dados públicos e privados, sob supervisão do Professor Doutor Ricardo Humberto Rocha. Os nomes das entidades e das pessoas foram alterados para manter a confidencialidade de negócios ainda existentes quando da publicação deste material. Os casos do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) são desenvolvidos exclusivamente para servirem de base em discussões em sala de aula. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, utilizada em palestras ou transmitida em qualquer forma ou meio sem uma permissão formal do Insper. Para a obtenção de cópias ou solicitação de permissão para reprodução deste material, acesse www.insper.org.br. Introdução Quarta-feira, 11 de janeiro de 2012. A reunião anual de planejamento da Achocolatado LTDA. com a matriz termina há pouco e Alfred Zuco, CEO da subsidiária no Brasil, convoca seu conselho executivo, em sua sala para uma reunião. O board da empresa acaba de expor um grande desafio para a subsidiária brasileira. Este plano consiste na expansão do negócio de achocolatado, que apresenta forte crescimento, na região Nordeste do Brasil e a matriz vislumbra uma boa oportunidade de ampliar seu leque de produtos neste mercado. Este novo projeto provavelmente necessitará de desenvolvimento e implantação de mais uma planta produtiva. Diante disto, Alfred Zuco solicitou a João Bird, Diretor de operações, que elaborasse alternativas de aumento de capacidade produtiva, a Robert Bigger, Diretor financeiro, a modelagem financeira das alternativas de investimentos para expansão, e a Manuel Mercado, Diretor Comercial a estratégia mercadológica para alavancar as vendas do produto na região Norte e Nordeste. Ainda nesta reunião, Alfred ressaltou que a matriz espera receber o plano completo desta expansão em um prazo máximo de três meses, e que é necessário ter em vista que a provável nova unidade deverá ser capaz de atender a demanda da região e estar localizada estrategicamente de modo a otimizar as despesas logísticas. 1 O Mercado Brasileiro A economia brasileira passa por um momento positivo em sua história, devido principalmente a fatores gerados pela estabilidade econômica proveniente do Plano Real de 1994. Diversos estudos e pesquisas indicam que, especialmente a partir de 2001, ocorreu um aumento da renda per capita da população brasileira, sendo que os maiores crescimentos aconteceram nas classes de renda mais baixa, conforme podemos observar no gráfico abaixo a migração das classes sociais: Evolução das classes sociais em % da população Fonte de dados: IBGE. Pode-se inferir que a migração das classes D/E ocorreu principalmente pela redução da taxa de pobreza na região Norte e Nordeste do Brasil, conforme podemos observar no gráfico abaixo: 2 Taxa de pobreza (%) por região do Brasil Fonte de dados: IPEA data. Diante destes dados pode-se observar uma melhora no padrão de vida dos consumidores brasileiros, principalmente na região Norte e Nordeste, que contribuiu na melhora da mobilidade social brasileira e consequentemente no aumento do mercado de produtos de bens de consumo. Vale ressaltar que a economia do Nordeste registrou, em 2010, expansão mais acentuada do que a observada em âmbito nacional, evolução expressa nas taxas de crescimento anuais dos PIB's da Bahia, 7,5%; do Ceará, 7,9%; e de Pernambuco, 9,3%. O aquecimento na economia da região Norte e Nordeste do Brasil fez com que muitas indústrias de grande porte direcionassem altos investimentos em expansão da capacidade produtiva, comunicação em mídia e estruturação organizacional específica para a região. A figura abaixo ilustra recentes investimentos das grandes empresas de bens de consumo na região Nordeste. 3 Fonte: Portal Revista Exame O Mercado de Achocolatado no Brasil O mercado de achocolatado pronto para beber, em embalagem cartonada em formato brik, foi introduzido no Brasil em 1982 e logo se transformou em sucesso absoluto. Isso porque para as crianças, o produto é conhecido pelo sabor característico de chocolate, pela forma divertida de tomar leite. Por outro lado, as mães adoram, pois têm a certeza de estarem oferecendo para seus filhos um produto com alto valor nutricional. Os principais consumidores da categoria são crianças de 4 a 10 anos, porém o produto também tem grande apelo entre jovens e adultos até 25 anos, que o consomem preferencialmente no café-da-manhã. 4 Este mercado movimenta aproximadamente R$ 1 bilhão por ano e vem crescendo no Brasil a um ritmo de 7% ao ano em volume, de acordo com o gráfico abaixo: Crescimento da categoria em Vol (MTons) Fonte: NIELSEN A empresa em questão representa 33% no mercado brasileiro. Entretanto na região Nordeste e Norte, que representa 35% do volume deste mercado, a empresa possui apenas 29% de participação de mercado versus seu maior competidor que possui 50% de mercado nestas regiões. Ou seja, a questão não será somente aumentar a capacidade produtiva da empresa para aumentar suas vendas como também enfrentar um forte competidor que certamente não cederá sua participação de mercado facilmente. 5 Panorama Atual Atualmente a empresa possui uma unidade fabril própria na região Sudeste do Brasil que representa 85% da capacidade de produção instalada e um copacker na região Nordeste com os outros 15%. Ambas as unidades fabris ocupam 95% da capacidade instalada sem possibilidade de expansão por limitações geográficas e tecnológicas. Como citado o crescimento do mercado de achocolatado se apresenta muito forte na última década e com projeção de crescimentos ainda maiores principalmente nas regiões Norte e Nordeste em que a população aumentou seu poder de compra e passou a consumir mais produtos de bens de consumo entre outros. O Novo Projeto De posse de todas as informações de mercado e confiante que a marca de achocolatado da empresa é muito forte, a equipe responsável pelo desenvolvimento do projeto iniciou a elaboração do Business Proposal com muita eficiência. O escopo do projeto neste momento era elaborar um plano de investimento em uma nova unidade fabril na região Nordeste do Brasil com capacidade de absorver toda a demanda dos próximos 5 anos. Nesta etapa do projeto a equipe comercial liderada por Manuel Mercado desenvolveu de forma excepcional o plano de crescimento da marca no mercado para os próximos 10 anos com todas as iniciativas de investimento na marca, no mercado e estratégia de pack-price para garantir que os volumes de demanda projetados sejam devidamente suportados. 6 Após o recebimento do plano de demanda para os próximos 10 anos com as iniciativas de investimentos e promoções no mercado, a equipe de operações liderada por João Bird trabalhou intensamente para definir que o estado da Bahia seria a melhor localização da nova unidade com o menor custo de terreno além de possuir incentivos fiscais. Com isto, a equipe de operações propõe que o investimento da nova unidade fabril seja realizado no estado da Bahia, levando em consideração que esta região é o ponto ótimo para as despesas logísticas de acordo com a demanda por estado. Veja abaixo o terreno e localização considerada: Com esta informação a equipe de engenharia de João Bird dimensionou o tamanho da nova unidade, assim como a necessidade de máquinas a ser implementada para garantir que esta nova unidade absorva a demanda projetada. Além disso, esta equipe contou com o suporte da equipe internacional de engenharia da empresa para que eles tivessem conhecimento da tecnologia mais eficiente a ser implementada. Após a definição da tecnologia, quantidade de máquinas e dimensão da fábrica a equipe de projetos da empresa apresentou a necessidade de investimento (Tabela abaixo) para que esta nova unidade seja construída. 7 PROJETO NOVA UNIDADE FABRIL CAPEX 1 Pavimentação / Sistema de rodagem 1,695,118 2 Terreno 6,000,000 3 Construção civil 15,072,578 4 Estação de tratamento de esgoto 7,453,608 5 Utilidades 5,529,144 6 Equipamentos auxiliares 2,317,852 7 Equipamentos de produção 12,361,964 8 Instalação de equipamentos 5,102,762 9 Licenças 1,127,836 10 Contingência 11 Qualidade INVESTIMENTO TOTAL 2,628,296 2,962,268 62,251,426 De posse de todas as informações do projeto, a equipe de Robert Bigger projetou o fluxo de caixa do projeto para avaliar a viabilidade financeira e apresentá-lo na reunião com o Alfred. A reunião do conselho executivo Após 2 meses de trabalho desde a solicitação da matriz, o conselho executivo apresenta o projeto à Alfred Zuco. Manuel inicia a reunião explicando o plano comercial estratégico para atender a demanda por estado da região Norte e Nordeste, assim como todas as iniciativas de marketing e seus respectivos investimentos necessários para garantir que o plano se concretize. Neste momento Alfred sentiu incomodado com a apresentação do Manuel e questionou o investimento na marca apresentado, segundo ele deveríamos considerar 8 desenvolver outro plano com maiores investimentos caso a proposta apresentada não seja suficiente para aumentar a participação de mercado desejada da marca. Manuel se conscientizou do ponto de vista de Alfred e comentou: “Caro Alfred, estamos muito confiantes que a proposta apresentada será muito bem executada pelos fatos e dados que acabamos de revelar, nossa participação de mercado hoje é de 29% na região Norte e Nordeste e estamos considerando triplicar o investimento na marca para aumentar nossa participação em 5 pontos percentuais, mas de qualquer forma vamos simular um cenário mais pessimista em relação aos investimentos” Alfred respondeu: “Manuel também acredito seu plano está muito bem embasado, mas devemos considerar que nosso competidor da região que possui 50% do mercado desta região também duplicará ou triplicará seus investimentos em marca. Robert, sejamos conservadores nesta projeção de investimentos na modelagem financeira, aumente o valor apresentado pelo Manuel em 20%” Logo em seguida, João Bird iniciou sua apresentação após 2 horas de reunião: “Boa tarde colegas, de acordo com o software que utilizamos para definir o ponto de localização ótimo da fábrica levando em consideração demanda, fornecedores, custo logístico entre outros chegamos a conclusão que a região norte do estado da Bahia é a melhor localização para a construção da nova unidade fabril. Sendo que este novo site será o mais produtivo do Brasil dado que será o primeiro a utilizar a tecnologia mais avançada de fabricação de achocolados ... Portanto senhores, para finalizar gostaria de apresentar o orçamento final para que este projeto seja apresentado e aprovado para o board ...”. João investiu 1 hora para detalhar item a item os investimentos do novo projeto avaliado em sessenta e dois milhões de reais e seus respectivos fornecedores. 9 Assim que João terminou sua apresentação, Afred se pronunciou: “Robert, qual é o fluxo de caixa deste projeto apresentado pelo João já considerando um aumento de 20% nos investimentos na marca apresentado pelo Manuel?”. Robert plugou seu notebook no projetor da sala de reunião e relatou: “Caros, utilizando as premissas do projeto já apresentadas anteriormente alterando somente a premissa do investimento na marca solicitado por Alferd, podemos observar que o fluxo de caixa (Anexo1) acumulado do projeto ficará positivo no sexto ano após investimento inicial. Ou seja, é um investimento de retorno razoável para a empresa.” Após meia hora de discussão das premissas do modelo de fluxo de caixa, Robert indagou: “Este projeto está muito bem elaborado para pleitearmos à nossa matriz, porém não podemos encerrar o contrato do copacker e solicitarmos a aprovação de um investimento com uma unidade fabril maior?” João que possui o maior contato com o copacker foi o primeiro a se pronunciar sobre o tema: “Minha opinião é que não podemos abrir mão de um parceiro que trabalha há 10 anos conosco, que nunca houve desgaste e possui qualidade de produção igual a nossa. Este é um risco que eu não levaria em consideração dado que ele poderá ser um potencial novo competidor na região onde não somos líderes de mercado.” Manuel colocou seu ponto de vista: “ Não vejo que nosso copacker consiga ser um novo competidor direto, ele é um bom produtor e não possui GO TO MARKET e marca para entrar no mercado. Talvez ele possa produzir para outros competidores já existentes na região com maior qualidade, já que ensinamos a ele como produzir com excelência na qualidade do produto. Aí sim seria um risco para nós.” Robert discordou do diretor de operações e afirmou que a melhor opção financeira seria de romper a atual parceria e investir em mais linhas de produção. Isso 10 porque aumentaria a economia de escala da nova fábrica, tiraria complexidade da operação de três fábricas para duas e reduziria custos com armazenagem. Após longa discussão entre os quatro sobre a permanência ou não do atual copacker, Alfred solicitou a Robert o fluxo de caixa da opção sem o copacker para avaliar melhor as duas propostas, para que ele decida qual será levada à matriz, apontando os prós e contras de cada uma. Os Modelos A proposta de continuidade do atual parceiro e inclusão uma terceira unidade fabril no valor de R$ 62 milhões já foi apresentada na reunião do conselho executivo. (anexo I) A proposta que leva em consideração a descontinuidade do atual parceiro e investimento numa maior unidade fabril ficou avaliado no valor de R$ 78 milhões. (anexo II) De posse do fluxo de caixa projetado das duas opções, o conselho executivo apresentou suas conclusões à Alfred, apontando os prós e os contras de cada uma, para que ele decida qual proposta será levada à matriz. 11 Anexo 1 2,012 2,013 2,014 2,015 2,016 2,017 2,018 2,019 2,020 2,021 2,022 PREMISSAS Inflação 4.7% 4.5% 4.3% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% DRE Receita líquida - CMV Lucro Bruto % Lucro Bruto/Rec. Líq. Despesas Operacionais EBITDA % EBITDA/Rec. Líq. 7,150 36,637 71,712 (5,215) (20,526) (39,114) 1,935 27% (2,175) (240) 16,110 44% 32,598 109,800 128,995 134,283 139,789 145,520 151,487 157,698 164,163 (58,578) (68,473) (71,280) (74,202) (77,245) (80,412) (83,709) (87,141) 51,221 60,522 63,003 65,587 68,276 71,075 73,989 77,022 45% 47% 47% 47% 47% 47% 47% 47% 47% (6,355) (14,451) (22,950) (27,349) (28,470) (29,637) (30,852) (32,117) (33,434) (34,805) 28,272 33,173 34,534 35,949 37,423 38,958 40,555 42,218 9,755 18,148 -3% 27% 25% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% - Depreciação (4,369) (4,581) (4,581) (4,581) (4,581) (4,581) (4,581) (4,581) (4,581) (4,581) (4,581) EBIT (4,609) 5,174 13,567 23,691 28,593 29,953 31,369 32,843 34,377 35,974 37,637 - (1,759) (4,613) (8,055) (9,722) (10,184) (10,665) (11,166) (11,688) (12,231) (12,797) (4,609) 3,415 8,954 15,636 18,871 19,769 20,703 21,676 22,689 23,743 24,840 IR NOPAT % NOPAT/Rec. Líq. -64% 9% 12% 14% 15% 15% 15% 15% 15% 15% 15% FCFF (4,609) 3,415 8,954 15,636 18,871 19,769 20,703 21,676 22,689 23,743 Investimentos (52,601) (9,651) - - - - - - - - - Depreciação 4,369 4,581 4,581 4,581 4,581 4,581 4,581 4,581 4,581 4,581 4,581 (336) (1,996) (2,372) (2,594) (1,305) (358) (372) (387) (1,991) NOPAT +/- Var. Capital de Giro - (403) 24,840 (420) FCFF (52,841) 11,539 17,845 20,858 23,045 24,927 25,885 26,882 27,920 29,001 FCFF acumulado (52,841) (54,832) (43,293) (25,448) (4,590) 18,455 43,382 69,266 96,148 124,069 153,070 2,017 2,018 2,019 2,020 2,021 2,022 Anexo2 2,012 2,013 2,014 2,015 2,016 PREMISSAS Inflação 4.7% 4.5% 4.3% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% 4.1% DRE Receita líquida - CMV Lucro Bruto % Lucro Bruto/Rec. Líq. Despesas Operacionais EBITDA 7,150 36,637 71,712 (4,857) (18,694) (35,528) 2,292 32% (2,175) 117 % EBITDA/Rec. Líq. 17,942 49% 36,184 109,800 128,995 134,283 139,789 145,520 151,487 157,698 164,163 (53,088) (62,023) (64,566) (67,213) (69,969) (72,837) (75,824) (78,933) 56,711 66,972 69,718 72,576 75,552 78,649 81,874 85,231 50% 52% 52% 52% 52% 52% 52% 52% 52% (6,355) (14,451) (22,950) (27,349) (28,470) (29,637) (30,852) (32,117) (33,434) (34,805) 33,762 39,623 41,248 42,939 44,699 46,532 48,440 50,426 11,587 21,733 2% 32% 30% 31% 31% 31% 31% 31% 31% 31% 31% - Depreciação (5,071) (5,317) (5,317) (5,317) (5,317) (5,317) (5,317) (5,317) (5,317) (5,317) (5,317) EBIT (4,954) 6,270 16,417 28,445 34,307 35,931 37,622 39,383 41,215 43,123 45,109 - (2,132) (5,582) (9,671) (11,664) (12,217) (12,792) (13,390) (14,013) (14,662) (15,337) (4,954) 4,138 10,835 18,774 22,642 23,715 24,831 25,993 27,202 28,461 29,772 IR NOPAT % NOPAT/Rec. Líq. -69% 11% 15% 17% 18% 18% 18% 18% 18% 18% 18% FCFF NOPAT Investimentos Depreciação +/- Var. Capital de Giro (4,954) 4,138 (61,050) (11,201) 5,071 - 5,317 10,835 18,774 22,642 23,715 24,831 25,993 27,202 28,461 - - - - - - - - 29,772 - 5,317 5,317 5,317 5,317 5,317 5,317 5,317 5,317 5,317 (336) (1,996) (2,372) (2,594) (1,305) (358) (372) (387) (403) (420) (2,082) 14,155 21,719 25,365 27,726 29,790 30,937 32,131 33,375 34,669 (60,933) (63,015) (48,860) (27,141) (1,776) 25,951 55,740 86,677 118,809 152,183 186,852 FCFF (60,933) FCFF acumulado 12 Questões 1) Como você avalia o cenário mercadológico de achocolatados em questão e suas oportunidades? 2) Em sua opinião, quais são as principais diferenças, vantagens e desvantagens entre as duas opções apresentadas? 3) Se você estivesse na posição de Alfred, qual opção você levaria à matriz e por quê? 13