Caso Clínico
Controle da dimensão vertical com
o aparelho removível conjugado à
ancoragem extrabucal no tratamento
da Classe II, 1ª divisão
José Fernando Castanha Henriques*
Arnaldo Pinzan**
Renato Rodrigues de Almeida***
Guilherme R.P. Janson****
Ricardo Takahashi*****
Sandra Márcia Hayasaki******
Resumo
As más oclusões de Classe II, 1ª divisão com padrão de crescimento vertical, protrusão maxilar e/ou
dentoalveolar apresentam um comprometimento da estética facial. Nestes casos, observa-se a rotação
horária da mandíbula e aumento da dimensão vertical anterior. O aparelho removível conjugado
à ancoragem extrabucal (AEB conjugado), pode ser utilizado na fase da dentadura mista tardia,
no intuito de promover a normalização da relação entre as bases ósseas e obter melhor estabilidade
esquelética, dentária e facial no final do tratamento.
Palavras-chave: Ortodontia Interceptora. Má oclusão de Classe II. Ancoragem extrabucal. Controle da dimensão vertical.
INTRODUÇÃO
A obtenção da estética dentomaxilofacial
constitui o principal objetivo do tratamento,
tanto dos ortodontistas quanto dos próprios
pacientes. Porém, em jovens que apresentam
discrepâncias esqueléticas, a correção apenas
dentoalveolar não promove a total harmonia do
complexo craniofacial. Nestes casos, preconizase a correção precoce dos desvios esqueléticos,
ou seja, na fase de dentadura mista tardia, por
meio de aparelhos ortopédicos mecânicos ou
funcionais.
Enquanto a Ortopedia Funcional dos
Maxilares baseia-se na utilização de aparelhos
passivos, que apenas liberam o potencial de crescimento intrínseco ao paciente e que está sendo
impedido pela ação deletéria dos músculos, a
Ortopedia mecânica emprega aparelhos ativos,
isto é, que atuam diretamente sobre as estruturas
dentoesqueléticas por meio de aplicação de forças de alta intensidade (acima de 300 gramas).
Há também a possibilidade de utilização dos
* Professor Titular do Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva da FOB-USP e Coordenador do Curso de Pós-graduação ao nível de Doutorado
da Disciplina de Ortodontia da FOB – USP.
** Professor Associado do Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva da FOB – USP, Professor da Disciplina de Ortodontia da USC e Professor
da UNICID.
*** Professor Assistente Doutor da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru/USP, Professor Responsável pela Disciplina de Ortodontia da
Faculdade de Odontologia de Lins, Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da F.O.L. / UNIMEP e Professor Titular da UNICID.
**** Professor Associado do Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva da FOB-USP e Coordenador do Curso de Pós-graduação ao nível de
Mestrado da Disciplina de Ortodontia da FOB – USP.
***** Doutor em Odontologia, área Ortodontia -FOB/ USP-, Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da UNIPAR.
****** Mestre em Odontologia, área Ortodontia -FOB/ USP-.
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003 • 53
Controle da dimensão vertical com o aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal no tratamento da Classe II, 1ª divisão
aparelhos funcionais associados à ancoragem
extrabucal. A diversidade de aparelhos é vasta,
mas a sua escolha depende principalmente do
componente mais envolvido na má oclusão:
protrusão maxilar e/ou dentoalveolar, retrusão
mandibular ou ambas. No primeiro caso, o
meio de eleição é a ortopedia mecânica, ao passo
que nos dois últimos, os aparelhos funcionais
encontram-se mais indicados, desde que não
possuam um predomínio do crescimento no
sentido vertical.
Dentre os aparelhos ortopédicos mecânicos,
encontra-se o “AEB conjugado” 10, que nada
mais é do que um aparelho removível conjugado
à ancoragem extrabucal. O objetivo precípuo
deste trabalho é descrever o mecanismo de ação,
as indicações e contra-indicações deste aparelho,
enfatizando-se o efeito do controle vertical e
ântero-posterior do crescimento maxilar para a
correção da Classe II, 1a divisão e seu impacto
sobre o perfil facial, ilustrado com um caso
clínico tratado com este dispositivo.
REVISÃO DE LITERATURA
A correção da Classe II19, 26, desde os primórdios da Ortodontia, constitui o seu principal
desafio, pois, apesar de não ser a mais freqüente
na população, representa a maioria dos pacientes que procuram por tratamento ortodôntico,
devido ao acentuado comprometimento da
estética facial22.
Os primeiros relatos da utilização da ancoragem extrabucal para a correção dessa má oclusão datam de 1875, por Kingsley15 (1875 apud
FIGURA 1 - “Splint” maxilar de Thurow (THUROW, 1975)29.
54 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003
BAALACK; POULSEN, 1966), e de 1886, por
Farrar7 (1986 apud BAALACK; POULSEN,
1966). Porém, como nessa época ainda não
havia sido desenvolvido a cefalometria, acreditava-se que a correção da Classe II era apenas
dentária, sem possibilidades de alterações na
direção de crescimento das estruturas basais do
complexo craniofacial. Foi por esse motivo que
em 1893, Baker3, com o advento dos elásticos
intermaxilares, muito mais simples e estéticos,
conseguiu relegar a ancoragem extrabucal ao
esquecimento.
Mais de 40 anos se passaram até que Oppenheim23, em 1936, auxiliado com os estudos
cefalométricos, difundiu amplamente a ancoragem extrabucal com o intuito de se intervir
precocemente, melhorando a relação entre as
bases ósseas.
Já nessa época, os pesquisadores começaram
a se preocupar com a sobrecarga que os dentes
de ancoragem recebiam, em virtude das forças
extrabucais intensas aplicadas em apenas alguns
dentes, geralmente os primeiros molares permanentes superiores. Assim, procurando uma distribuição mais uniforme das forças extrabucais,
McCalin18, em 1953, foi o primeiro a associar o
aparelho extrabucal ao aparelho removível, por
meio da inserção dos braços internos em tubos
soldados aos grampos de retenção. Porém, o
maior entrave deste aparelho foi a grande distorção dos grampos devido às forças excessivas
que eram empregadas. Posteriormente, em
1975, Thurow29 criou o que denominou de
“splint maxilar” (Fig. 1), com o braço interno
FIGURA 2 - “Splint” modificado por Joffe e Jacobson 14, 1979.
José Fernando Castanha Henriques, Arnaldo Pinzan, Renato Rodrigues de Almeida, Guilherme R.P. Janson, Ricardo Takahashi, Sandra Márcia Hayasaki
FIGURA 3 - “Splint” modificado por Rock, 199024.
do aparelho extrabucal incorporado ao acrílico e percorrendo as superfícies oclusais dos
dentes posteriores. Segundo o autor, a maior
vantagem deste aparelho se deve à distribuição
uniforme da força por todo o arco dentário,
como um bloco, evitando a sobrecarga de
dentes individualmente e promovendo maior
controle tanto no sentido horizontal como
vertical. Além disso, verificou que a desoclusão
promovida pelo recobrimento oclusal permitiu
a eliminação de interferências existentes, facilitando a movimentação dentária e a correção
de deslocamentos funcionais da mandíbula.
Com seu aparelho, obteve uma distalização
dos dentes póstero-superiores, um controle
da inclinação dos anteriores e inclinação distal
dos caninos. Também verificou uma restrição
do deslocamento ântero-inferior do complexo
maxilar, restringindo a rotação mandibular no
sentido horário, advinda do crescimento vertical
excessivo da maxila. Desde então, até os dias
atuais, vários pesquisadores4, 6, 8, 9, 10, 14, 24, 25, 27
sugeriram algumas modificações, porém todos
confirmaram a sua eficácia.
A primeira modificação foi proposta por
Joffe e Jacobson14, em 1979, por meio da incorporação do arco vestibular à placa removível,
permitindo pequenos ajustes na inclinação dos
incisivos superiores, que freqüentemente encontram-se vestibularizados nessa má oclusão
(Fig. 2). Além disso, os braços internos do arco
facial agora eram mergulhados no acrílico por
distal dos incisivos centrais superiores em vez de
repousar sobre as superfícies oclusais dos dentes
posteriores, como no splint de Thurow29.
Em 1990, Rock24 introduziu uma mola Co-
FIGURA 4 - AEB Conjugado 10.
ffin no aparelho removível como forma de se
prevenir à ocorrência de mordida cruzada posterior, conforme o arco superior é distalizado e os
molares inferiores mesializados, como resultado
do crescimento mandibular (Fig. 3).
Finalmente, em 1991, Henriques et al.10,
publicaram o AEB conjugado que, em vez da
mola Coffin, utiliza um parafuso expansor,
facilitando sobremaneira o controle das ativações. Além disso, os demais componentes desse
dispositivo são (Fig. 4) :
• Grampos de Adams1 - auxiliam na retenção do aparelho e na distribuição das forças
pela maxila;
• Placa de acrílico - recobre o palato duro
e é dividida ao meio ao nível da sutura palatina. O acrílico não deve ser muito espesso para
não modificar a posição dos côndilos dentro
das cavidades glenóides e para não aumentar a
altura facial ântero-inferior (AFAI). A superfície
de contato com os dentes inferiores deve ser
bem polida para não causar interferências no
crescimento mandibular, podendo até eliminar
interferências oclusais existentes.
• Arco vestibular - faz suave contato com
os dentes ântero-superiores. Se um incisivo
superior encontrar-se mais vestibularizado que
os outros, um desgaste seletivo deve ser realizado, mas se todos os incisivos necessitarem de
lingualização, o arco vestibular deve apresentar
um contato bem efetivo com todos estes dentes, devendo-se desgastar o acrílico por toda a
extensão lingual dos mesmos.
• ARCO FACIAL - deve ser sempre utilizado com o I.H.G. (tração alta – “Interlandi
headgear”)
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003 • 55
Controle da dimensão vertical com o aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal no tratamento da Classe II, 1ª divisão
Verificou-se que o AEB conjugado 10, 16
promoveu alterações semelhantes às do “splint
maxilar”: uma restrição do crescimento maxilar, por meio da diminuição do ângulo SNA e
manutenção do comprimento efetivo da maxila (Co-A); avanço da mandíbula no sentido
anterior, associado a um aumento do ângulo
SNB; inclinação lingual dos incisivos superiores;
manutenção ou pequeno aumento da dimensão
vertical anterior e aumento da dimensão vertical posterior, devido ao crescimento mandibular
posterior.
CONTROLE VERTICAL
O controle vertical28 é de extrema importância no tratamento da Classe II, 1ª divisão com
padrão de crescimento vertical, pois orienta a
rotação mandibular no sentido anti-horário,
restringindo o aumento da dimensão vertical
anterior (PP-Me)28 e promovendo o aumento
da dimensão vertical posterior (Ar-PM)28, propiciando um perfil facial harmônico ao final
do tratamento12. Além disso, o controle vertical
dos molares superiores permite que os inferiores desenvolvam-se para cima e para frente,
melhorando a relação dos molares superiores
e inferiores.
Para haver total eficácia do AEB conjugado10,
três fatores devem ser considerados: o ponto de
aplicação, a direção e a intensidade das forças. O
ponto da aplicação das forças está relacionado
com a localização dos braços internos do arco
facial no acrílico, que depende do objetivo do
tratamento. Nos casos de Classe II associados
com uma sobremordida profunda, o ponto de
aplicação da força11 concentra-se mais na região anterior, resultando em um componente
de intrusão anterior e normalização do trespasse
vertical. Para os casos de Classe II com mordida
aberta anterior, os braços internos devem se localizar na altura dos molares permanentes para
permitir uma rotação horária do Plano Palatino
(PP), auxiliando o fechamento da mordida. Já
na Classe II com aumento da dimensão vertical anterior, torna-se interessante à aplicação da
força na região entre os pré-molares superiores
ou molares decíduos. Esse fator auxiliado com
a direção de forças, realizada por meio dos
elásticos do I. H. G. (Interlandi headgear),
56 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003
FIGURA 5 - Suturas do complexo maxilar: (A) sutura
frontomaxilar; (B) sutura zigomaticomaxilar e (C) sutura
pterigopalatina (HENRIQUES, 1991)10.
FIGURA 6 - Centros de resistência: 1- centro de resistência do processo alveolar; 2- centro de resistência do
complexo maxilar (CHABRE, 1990)5.
FIGURA 7 - Direção da resultante de forças em relação
ao centro de resistência da maxila (CHABRE, 1990)5.
José Fernando Castanha Henriques, Arnaldo Pinzan, Renato Rodrigues de Almeida, Guilherme R.P. Janson, Ricardo Takahashi, Sandra Márcia Hayasaki
angulando os braços externos do arco facial
aproximadamente 45º acima do plano oclusal,
possibilitam a aplicação da força em direção
ao centro de resistência da maxila (Fig. 6, 7).
Deve-se observar que a extremidade dos braços
externos encontra-se ao nível dos primeiros molares superiores. As forças de compressão, dessa
forma, dirigem-se às três suturas do complexo
maxilar: a frontomaxilar, a zigomaticomaxilar
e a pterigopalatina (Fig. 5), controlando o
crescimento tanto no sentido horizontal como
vertical. A intensidade das forças também é um
importante fator e, em média, varia de 300 a
400 gramas de cada lado.
CASO CLÍNICO
A jovem N. F. B. G. procurou o Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde
Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru
da Universidade de São Paulo (FOB-USP) e
foi tratada na clínica da disciplina Ortodontia
Preventiva e Interceptora, durante o Curso de
Pós-Graduação em Odontologia, ao nível de
Mestrado.
A paciente possuía as seguintes características:
leucoderma, 8 anos e 9 meses de idade cronológica
e 10 anos de idade esquelética, 25 kg. e 1,28m de
FIGURA 8 - Fotografia Extrabucal Frontal
inicial.
FIGURA 11 - Fotografia Intrabucal Lateral
Direita Inicial.
FIGURA 9 - Fotografia Extrabucal Lateral
Inicial.
FIGURA 10 - Fotografia Intrabucal Frontal
Inicial.
FIGURA 13 - Fotografia Intrabucal Oclusal Superior Inicial.
FIGURA 12 - Fotografia Intrabucal Lateral
Esquerda Inicial.
FIGURA 14 - Fotografia Intrabucal Oclusal Inferior Inicial.
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003 • 57
Controle da dimensão vertical com o aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal no tratamento da Classe II, 1ª divisão
altura, longilíneo, forma de face trapezoidal superior, hipertonicidade da musculatura peribucal,
ausência de selamento labial passivo, sem obstrução respiratória (amídalas e adenóides), respiração
nasal, desvio da linha média inferior para esquerda,
má oclusão de Classe II, primeira divisão, trespasse
vertical de 5mm e horizontal de 10mm, distâncias
intercaninos de 27mm e intermolares de 31mm,
curva de “spee” moderada, dentadura mista, higiene bucal regular e com hábito de onicofagia
(Fig. 8-15).
INTERPRETAÇÃO DAS MEDIDAS CEFALOMÉTRICAS
TABELA 1 – relação das medidas cefalométricas referentes à relação
das Bases Ósseas.
Análise do Padrão FOB-USP – Medidas Iniciais
O exame da relação das bases ósseas (Tab. 1)
evidenciou um perfil ósseo convexo, uma discrepância entre os maxilares superior e inferior,
devido a uma protrusão maxilar e uma retrusão
mandibular. As medidas referentes ao padrão do
esqueleto cefálico (Tab. 2) mostraram os seus valores aumentados, relatando uma tendência de
crescimento no sentido vertical. Ao relacionar
os incisivos com as suas respectivas bases ósseas
(Tab. 3), verificou-se um bom posicionamento
dos incisivos superiores e inferiores. O perfil
mole confirmou a convexidade apontada pela
do perfil ósseo (Tab. 4).
TABELA 4 – relação das medidas cefalométricas referentes à relação
do Perfil Ósseo com o Perfil Mole.
Medidas
Leucodermas17
(10 anos)
Medidas iniciais
Medidas
Leucodermas17
(10 anos)
Medidas iniciais
NAP
6,1 o
14,5 o
NAP
6,1 o
14,5 o
SNA
81,5
o
86
H.NB
17 o
SNB
78,2
o
76,5
ANB
3,3 o
SND
o
o
H-nariz
-2mm
9,5 o
Linha S-Ls
3mm
74
Linha S-Li
0mm
o
Análise do Padrão FOB-USP – Medidas Iniciais
Relação do Perfil Ósseo X Perfil Mole
TABELA 2 – relação das medidas cefalométricas referentes ao Padrão
do Esqueleto Cefálico.
Medidas
Leucodermas17
(10 anos)
ÂBS
Medidas iniciais
71 o
ÂBI
28 o
FMA
29,8
o
30 o
SN.Ocl.
18,2 o
12 o
SN. GoGn
34,1 o
36 o
SN.Gn
68 o
Padrão do Esqueleto Cefálico
TABELA 3 – relação das medidas cefalométricas referentes à relação
dos incisivos com suas respectivas Bases Ósseas.
Medidas
Leucodermas17
(10 anos)
Medidas iniciais
1.NA
24,2 o
23 o
1-NA
3,7mm
5mm
1.NB
27,6
24
-NB
4,7mm
o
D.C. - linha I
IMPA
o
6mm
0mm
92,5
o
89 o
Relação dos Incisivos X Bases Ósseas
58 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003
FIGURA 15 - Cefalograma inicial.
José Fernando Castanha Henriques, Arnaldo Pinzan, Renato Rodrigues de Almeida, Guilherme R.P. Janson, Ricardo Takahashi, Sandra Márcia Hayasaki
Índice da Altura Facial
O índice da Altura Facial13 revelou a dificuldade do caso, pela AFA (P.P.-Me) satisfatória
e uma AFP (Ar-P.Mand.) diminuída (Tab. 5),
associado a um FMA de 30o e uma relação de
Classe II.
13
Análise do modelo inferior
Analisando o arco inferior, observou-se a
ausência dos primeiros molares decíduos, devido
à perda precoce destes dentes, com conseqüente
movimento mesial dos segundos molares decíduos
e dos primeiros molares permanentes e diminuição
do comprimento do arco. A análise da dentadura
mista, de acordo com Moyers20, foi realizada e se
verificaram os seguintes valores (Tab. 6):
Observou-se uma discrepância total de modelo de -2,7mm, confirmando a deficiência de
espaço do arco inferior visualizada no exame
TABELA 5 – relação das medidas cefalométricas referentes ao Índice da
Altura Facial13.
Medidas
Leucodermas13
Valores Iniciais
AFP (Ar-PM)
41,38
33
AFA (PP-Me)
59,29
61
IAF (AFP/ AFA)
0,70
0,54
Índice da Altura Facial13
TABELA 6 – Análise da Dentadura Mista, de acordo com MOYERS20.
Lado direito
Lado esquerdo
Espaço Presente (EP)
20,5mm
20mm
Espaço Requerido (ER)
21,6mm
21,6mm
Discrepância de Modelo (DM)
-1,1mm
-1,6mm
Discrepância Total
-2,7mm
Nível de 75%
Análise do modelo inferior
FIGURA 16 - Fotografia Extrabucal Frontal após 12 meses de tratamento.
FIGURA 17 - Fotografia Extrabucal Lateral após 12 meses de tratamento.
FIGURA 18 - Fotografia Intrabucal Oclusal Superior após 12 meses de tratamento.
Instalação de um segundo aparelho, devido à fratura do acrílico.
FIGURA 19 - Fotografia Intrabucal Oclusal Inferior após 12 meses da instalação
do arco lingual de Nance.
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003 • 59
Controle da dimensão vertical com o aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal no tratamento da Classe II, 1ª divisão
clínico.
PLANO DE TRATAMENTO
O tratamento de escolha foi o de realizar o
controle do crescimento maxilar com a utilização do AEB conjugado10 (Fig. 16-18) com tração alta por 16h/dia, devido a protrusão maxilar
(SNA), pela predominância de crescimento no
sentido vertical (SN-Go.Gn, SN.Gn) e a deficiência na altura facial posterior (AFP).
Analisando o modelo inferior notou-se que
o espaço necessário para a erupção dos caninos
e pré-molares inferiores era insuficiente, com
uma discrepância total de modelo de –2,7mm.
Entretanto, optou-se pela preservação do espaço, com a instalação de um arco lingual e uma
reavaliação posterior (Fig. 19).
Resultados obtidos com o tratamento
O tratamento teve a duração de 30 meses (fase
TABELA 7 – Medidas cefalométricas ao início e fim do tratamento.
Medidas
Leucodermas13,17
Medidas iniciais
Medidas finais
NAP
6,1
14,5
8o
SNA
81,5o
86 o
SNB
78,2
76,5
ANB
3,3o
9,5 o
4,5 o
SND
74
o
74 o
ÂBS
71 o
72 o
ÂBI
28
o
28 o
o
o
o
81 o
o
76,5 o
FMA
29,8o
30 o
31 o
SN.Ocl.
18,2o
12 o
17 o
SN. GoGn
34,1
36
o
37 o
68 o
69 o
16 o
o
SN.Gn
1.NA
24,2
23
1-NA
3,7mm
5 mm
3 mm
.NB
27,6
24
24 o
-NB
4,7mm
6 mm
6 mm
0 mm
-1 mm
89
o
90 o
H.NB
17
o
12 o
H-nariz
-2 mm
2 mm
Linha S-Ls
3 mm
1 mm
o
o
D.C. - linha I
IMPA
92,5
o
Linha S-Li
o
o
0 mm
1 mm
AFP (Ar-PM)
41,38mm
33 mm
36 mm
AFA (PP-Me)
59,29mm
61 mm
62 mm
IAF (AFP/ AFA)
0,70mm
0,54
0,58
60 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003
ativa e contenção), onde podem ser verificadas as
seguintes alterações cefalométricas: (Tab. 7)
O espaço mantido com o arco lingual inferior foi ocupado totalmente pelos caninos e
pré-molares inferiores, sem que fossem realizados desgastes e vestibuloversão dos incisivos
inferiores (Fig. 19).
DISCUSSÃO
O aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal, AEB conjugado10, foi utilizado
por um período de 30 meses (fase ativa e contenção) no intuito de realizar um redirecionamento
do crescimento maxilar, bem como corrigir a
relação de Classe II (Fig. 20-29).
Pelo motivo do paciente possuir uma tendência de crescimento facial no sentido vertical
(Tab. 2), optou-se pelo controle de crescimento
vertical e ântero-posterior da maxila para normalizar os maxilares superior e inferior. O ponto
de aplicação de força deu-se próximo ao centro
de resistência da maxila, restringindo o seu deslocamento no sentido vertical, pois o paciente
necessitava controlar a altura facial anterior
(AFA) e o aumento da altura facial posterior
(AFP), este possibilitado pelo crescimento vertical posterior da mandíbula. Verificamos ao final
do tratamento o controle da AFA (Tab. 5), onde
seu valor permaneceu inalterado e o aumento
da AFP em 3mm, possibilitando uma melhora
no índice da altura facial (IAF).
Em decorrência deste tratamento, observou-se uma diminuição do ângulo SNA, possivelmente devido ao deslocamento anterior do
ponto N; uma manutenção do ângulo SNB e
uma diminuição do ângulo ANB, com conseqüente diminuição do ângulo NAP e melhora
no perfil facial.
As medidas relativas aos Planos Horizontais permaneceram com um suave aumento,
demonstrando que o aparelho foi eficiente no
controle vertical do crescimento maxilar. Em
relação aos incisivos superiores, estes por sua vez,
tiveram uma inclinação lingual e os inferiores
se mantiveram na sua posição original.
O impacto sobre o perfil facial, demonstrado pela diminuição da convexidade
facial, foi considerável, onde se verificou o
aumento da medida H-nariz, diminuição dos
José Fernando Castanha Henriques, Arnaldo Pinzan, Renato Rodrigues de Almeida, Guilherme R.P. Janson, Ricardo Takahashi, Sandra Márcia Hayasaki
FIGURA 20 - Fotografia Extrabucal Frontal Inicial.
FIGURA 21 - Fotografia Extrabucal Frontal Final.
FIGURA 22 - Fotografia Extrabucal Lateral Inicial.
FIGURA 23 - Fotografia Extrabucal Lateral Final.
FIGURA 24 - Fotografia Intrabucal Frontal Inicial.
FIGURA 25 - Fotografia Intrabucal Frontal Final.
R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003 • 61
Controle da dimensão vertical com o aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal no tratamento da Classe II, 1ª divisão
FIGURA 26 - Fotografia Intrabucal Lateral Direita
Inicial.
FIGURA 27 - Fotografia Intrabucal Lateral Direita
Final.
FIGURA 28 - Fotografia Intrabucal Lateral Esquerda
Inicial.
FIGURA 29 - Fotografia Intrabucal Lateral Esquerda
Final.
FIGURA 30 - Superposição dos traçados inicial e final.
62 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 2, n. 4, p. 53-64 - ago./set. 2003
José Fernando Castanha Henriques, Arnaldo Pinzan, Renato Rodrigues de Almeida, Guilherme R.P. Janson, Ricardo Takahashi, Sandra Márcia Hayasaki
FIGURA 31 - Sobreposição maxilar. Os incisivos inclinaram para
lingual e os molares movimentaram para distal.
ângulos H.NB e NAP.
Todas as modificações observadas foram
possíveis principalmente graças à persistência na colaboração do paciente e pela correta
utilização do aparelho, no que se refere ao
ponto de aplicação e intensidade da força,
permitindo um controle da altura facial anterior e posterior.
FIGURA 32 - Sobreposição mandibular.
CONCLUSÕES
O aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal, denominado AEB conjugado,
é eficiente na correção da má oclusão de Classe
II, promovendo as seguintes alterações:
superiores ou seus sucessores, principalmente
nos pacientes com tendência de crescimento
no sentido vertical, para promover o controle
vertical de todo o maxilar superior (Fig. 6 e7).
• controle do deslocamento póstero-anterior
da maxila (Tab. 7);
• controle do crescimento vertical da maxila (Fig. 30, 32), promovendo um controle da
altura facial anterior (AFA) e uma melhora na
altura facial posterior (AFP);
• tendência de inclinação lingual dos incisivos superiores (Fig. 31);
• inclinação distal dos dentes decíduos e
permanentes póstero-superiores (Fig. 31);
Vertical control with extra-oral
anchorage associated to removable
appliance in the treatment of Class
II, division 1 malocclusion
Considerações clínicas
• O AEB conjugado10 deve ser utilizado durante a fase de crescimento adequado (ao redor
do surto de crescimento pubescente) para que
os efeitos descritos neste trabalho possam ser
verificados; e
o ponto de inserção dos braços internos do
aparelho extrabucal deve permanecer ao redor
dos primeiros e segundos molares decíduos
Abstract
Class II, division 1 malocclusion with vertical
growth, associated to maxillary or dental protrusion has poor facial esthetics. In such cases,
the mandible rotates clockwise and has the
increase in the anterior facial height. The extra
oral anchorage associated to removable appliance can be used in the end of mixed dentition
to improve the growth of the jaws and to obtain
better skeletal, dental and facial stability at the
end of the treatment.
Key words: Interceptive orthodontics. Class II
malocclusion. Extra oral anchorage. Vertical
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Controle da dimensão vertical com o aparelho removível conjugado à ancoragem extrabucal no tratamento da Classe II, 1ª divisão
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Endereço para correspondência:
Disciplina de Ortodontia – FOB/USP
Alameda Octávio Pinheiro Brizolla, 9-75
Caixa Postal 73
CEP 17043-101 - Bauru-SP
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