FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA
TURMA - PDE/2012
Título: VARIEDADES LINGUÍSTICAS: Diferenças e aceitações na EJA
Autor
Ana Cristina da Silva Covalchuk
Disciplina/Área (ingresso no PDE)
Língua Portuguesa
Escola de Implementação
Projeto e sua localização
CEEBJA
do
Município da escola
União da Vitória
Núcleo Regional de Educação
União da Vitória
Professor Orientador
Bernardete Ryba
Instituição de Ensino Superior
FAFIUV
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes
disciplinas compreendidas no
trabalho)
Resumo
(descrever a justificativa, objetivos
e
metodologia
utilizada.
A
informação deverá conter no
máximo 1300 caracteres, ou 200
palavras, fonte Arial ou Times
New Roman,
tamanho 12 e
espaçamento simples)
Estudar e analisar a Variação Linguística presente nos textos
produzidos no Ensino Médio é o objetivo desse projeto, pois
observa-se que linguagem presente nas produções dos
alunos assemelha-se à da variedade estigmatizada, popular,
afastando-se assim, da variedade prestigiada, principalmente
no que diz respeito ao uso dos tempos verbais a suas
concordâncias.
Em toda comunicação, a variação das formas linguísticas é
constante. Há vários fatores que influenciam nessa variação.
Os principais são os fatores geográficos, de classe, de idade,
de sexo, etnia, de profissão, grau de instrução, etc.
É importante o aluno perceber que a língua é o veículo
linguístico da comunicação e que não a usamos sempre do
mesmo jeito, adequamos nossos textos à situação
comunicativa do momento.
Deve-se ter em mente que variedades não são erros, mas
diferenças e que têm explicações no próprio sistema evolutivo
da língua.
Envolver os alunos com leitura, escrita e reescrita de textos
que façam sentido, de múltiplos sentidos, que provoquem
prazer, textos vivos, tanto na narrativa oral quanto na escrita
e, em todas as formas de interpretação, dos mais variados
gêneros são algumas das estratégias aqui apresentadas para
que o português não-padrão seja visto como diferente e não
como inferior do português padrão.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)
Variação linguística –– português padrão –diferenças aceitações
Formato do Material Didático
Unidade didática
Público Alvo
(indicar o grupo para o qual o
material didático foi desenvolvido:
professores, alunos,
comunidade...)
Alunos do Ensino Médio da EJA
Apresentação
Segundo Tarallo (2011, p.8) em toda comunicação, a variação das formas
linguísticas é constante. As variantes linguísticas são diferentes maneiras de se
dizer a mesma coisa, num mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade.
Para Ilari e Possenti (1985) a variação linguística presente na fala e na escrita
dos alunos é apenas uma das variedades que a Língua Portuguesa oferece aos
seus falantes e que o(a) professor(a) de língua materna deve trabalhar.
Segundo Possenti (2001, p.36) “a variedade linguística está entre as
variedades as mais funcionais que existem; quanto mais numerosas forem, mais
expressiva pode ser a linguagem humana”. E segundo Bortoni-Ricardo (2009,
p.25) “sempre haverá variação de linguagem nos domínios sociais”.
Em nossa sociedade há falares mais prestigiados e menos prestigiados.
Damos o nome de norma urbana de prestígio aos falares urbanos que em uma
comunidade linguística desfrutam de maior prestígio político, social e cultural. O uso
da língua empregado pelos falantes cultos da área urbana costuma ser prestigiado
socialmente, tanto na fala, quanto na escrita. Mas a língua pode se manifestar em
outras variedades, ou seja, outras maneiras de falar e escrever, diferentes da norma
de prestígio e tão legítimas quanto.
De acordo com Bortoni-Ricardo (2009, p.37) erros de português são
simplesmente diferenças entre variedades da língua.
Segundo a linguista (2009, p.10), a Sociolinguística é uma disciplina que
reúne dois campos de interesse: o estudo da língua e o estudo da sociedade.
Possui o compromisso a luta contra todas as formas de discriminação e exclusão
social pela linguagem, porque não basta descrever e analisar as relações entre
língua e sociedade – é preciso também transformá-las.
Para Possenti (2001, p.84) boa estratégia para ensinar língua e gramática é
a prioridade absoluta para a leitura, para a escrita, a narrativa oral, o debate e
todas as formas de interpretação (resumo, paráfrase, etc). Parece paradoxal, mas
não se incluem entre ela as lições de nomenclatura e de análise sintática e
morfológica, tão estranhamente na prática corrente.
Com essa Unidade Didática, proponho ao(à) professor(a) de Língua
Portuguesa atividades que abordam as Variações Línguísticas , em diferentes
gêneros textuais.
Sabe-se que o(a) professor(a) de Língua Portuguesa precisa sempre
encontrar métodos interessantes e envolventes para que seus alunos entendam as
regras gramaticais em textos vivos, coerentes, interessantes e bem produzidos.
Textos esses tanto na linguagem oral quanto na escrita, dos mais variados
gêneros.
Aprender a se escrever escrevendo e reescrevendo textos que façam
sentido, textos de múltiplos sentidos. Aprender a ler, lendo textos que provoquem
prazer. Esse é o objetivo principal de toda aula de Língua Portuguesa.
Neste primeiro momento, o(a) professor(a) deverá expor aos
alunos o trabalho que será realizado, com base na reflexão sobre a
Variação Linguística apresentada em diversos gêneros textuais. Após
essa exposição, deve propor-lhes a contextualização com o tipo de
gênero a ser estudado.
A primeira atividade a ser trabalhada será estabelecer contato
com textos que apresentem a Variação Linguística.
Para iniciarmos a conversa sobre a Língua Portuguesa como
língua materna, leremos um pequeno trecho do livro “Rememórias Dois”
de Carmo Bernardes.(1969, p.18-20)
Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o não entender nadinha do que
vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me
punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser
recanteado e meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, tinha
ladineza e entendimento. Na rua e na escola – nada; era completamente afrásico. As
pessoas eram bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo.
(...)
Um dia cheguei atrasado e dei a desculpa de que o relógio lá de cada estava
“azangado”. Aí o mestre entortou o canto da boca e enrugou o couro da testa e derreou a
cabeça e ficou muito tempo assim de esguelha fisgado em mim, depois estralou:
- O relógio está o quê?!!
(...)
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E PLURALIDADE CULTURAL NO
BRASIL
Bortoni-Ricardo,(2009, p.18) utiliza esse texto para trabalhar a
SOCIOLINGUÍSTICA em sala de aula, pois para a linguista, esse
exemplo, além de ensinar várias palavras e expressões novas que
comprovam a diversidade da cultura e da linguagem rurais, conduz a
uma reflexão sobre a Língua Portuguesa no Brasil, suas características
e sua variação, especialmente, nesse contexto, as diferenças entre o
Brasil urbano e o Brasil rural.
Voltando à narrativa do escritor Carmo Bernardes, na escola do
Mestre Frederico percebe-se a experiência do autor, em relação à fala:
em casa, com sua parentalha, na rua com os filhos de baiano e na
escola, onde encontrava um palavreado grego de tudo. Esses são os
três
ambientes
onde
a
criança
desenvolve
seu
processo
de
sociabilização: a família, os amigos e a escola: (seus domínios sociais).
DOMÍNIO SOCIAL É UM ESPAÇO FÍSICO ONDE AS PESSOAS INTERAGEM
ASSUMINDO CERTOS PAPÉIS SOCIAIS. (Bortoni-Ricardo,2009, p.23.)
Professor (a), sugiro que proponha a seus alunos a seguinte discussão: “Como os papéis que as pessoas
exercem são determinantes da linguagem que elas usam? Em outras palavras, quais as diferenças entre a
linguagem do marido e da mulher, ou da mãe e dos filhos? Reflita com eles, também, sobre o emprego de
palavras com terminologia técnica, inclusive os estrangeirismos e jargões, quando estão dando entrevistas ou
exercendo papéis sociais que exigem usos especializados da língua.( Bortoni-Ricardo,., 2009, p.24)
Atividade 1:
Baseado em tudo que foi lido e explicado, escreva um pequeno texto,
em grupo, para apresentar, encenar, de maneira clara as diferenças
linguísticas que ocorrem nos três domínios sociais: família, amigos e
escola.
ATIVIDADE
Professor(a) esse texto ( uma peça de teatro) deve ser apresentada para todos da turma de modo que se
perceba bem as diferenças, ou seja, a variação linguística que ocorre nesses três domínios sociais.
A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA
Leia o fragmento da história em quadrinhos a seguir, observando a fala do personagem do
Chico Bento, de Maurício de Sousa.
http://www.aflordolacio.com.br/wordpress/?p=3017
Comentando a história de Chico Bento:
A professora teve uma reação típica dos professores tradicionais,
que acreditavam que deveriam corrigir severamente os usos da língua
que diferem da norma considerada “culta”.
Hoje, os professores também se deparam com esses “erros de
português”. Isso ocorre no momento em que o aluno usa flagrantemente
uma variante não padrão e o professor intervém, fornecendo a variante
padrão.
“Erros
de
português”
são
simplesmente
diferenças
entre
variedades da língua. Essas diferenças se acentuam entre as
variedades usadas no lar, onde predomina a oralidade com relações de
afeto e informalidade, das variedades de letramento, que é cultivada na
escola.
Considerando uma pedagogia culturalmente sensível aos saberes
dos alunos, o comportamento do(a) professor(a) frente a essa situação
deve incluir dois componentes: a identificação da diferença
e a
conscientização da diferença, a fim de que o próprio aluno comece a
monitorar
seu
próprio
estilo,
sem
prejuízo
do
processo
ensino/aprendizagem. O professor aproveitaria a oportunidade para falar
aos alunos sobre as diferenças sociolinguísticas e mostraria ou melhor
explicaria a variante adequada aos estilos monitorados orais e à língua
escrita. (Bortoni-Ricardo,2009, p. 37-43.
Segundo
Calbuci,
(Museu
da
Língua
Portuguesa,2012),
http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/)acessado em 05/12/12
A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades
para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma
mais adequada para cada situação, cotejar usos, comparar
registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de
variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os
falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de
comunicação se perderem.”
(http://variantesdobrasil.blogspot.com.br/) acessado em 02/12/12
Analisando
o
mapa
do
Brasil
podemos
verificar
que
a
heterogeneidade linguística está vinculada a heterogeneidade social. A
variedade linguística é o modo de falar a língua característico de
determinado grupo social ou determinada região geográfica.
Bortoni-Ricardo construiu um modelo simples e ao mesmo tempo
útil para o estudo das interações verbais, dentro de sala de aula. O
primeiro é o rurbano; são as periferias os bairros de nossas cidades,
onde vivem importantes contingentes de pessoas que migraram do
campo para a cidade, em busca de melhores condições de vida, e que
ainda não se integraram à cultura urbana e não abandonaram sua
cultura rural.
Scherre (2008, p.145-146) exemplifica bem o preconceito existente
com o famoso “r” retroflexo, traço de identidade local de amplas regiões
brasileiras distintas: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São
Paulo,
Paraná,
independente
de
classe
social,
de
anos
de
escolarização, de etnia, de poder aquisitivo, de local de moradia, de
gênero, de faixa etária. É um traço de identidade local e é fortemente
discriminado, fora de suas áreas nativas, é alvo de preconceito
linguístico.
É
o
“r”
vibrado
nas
palavras
“porta”,
”sorvete”, “curva”, etc.
Para ajudá-los a compreender melhor sobre Variação Linguística,
vamos ler a Novela Sociolinguística “A língua de Eulália” de Marcos
Bagno, que explicará de modo claro o que é e como podemos melhor
entender esse assunto. Observe com atenção a conversa entre as
amigas Vera, Emília, Sílvia e sua tia Irene, professora universitária
aposentada da disciplina de Língua Portuguesa e Linguística, reunidas
na sala grande em volta da lareira para um bate-papo informal.
QUE LÍNGUA É ESSA?
- o mito e a realidade; o errado e o diferente; o eu e o outro.
O mito da língua única
À noite, como ficou combinado, reúnem-se todas na sala
grande
da
lareira,
devidamente acesa. Diante do fogo há um largo tapete felpudo sobre o qual foram
espalhadas algumas almofadas
grandes e macias. No centro, uma mesinha baixa com
um bule de chá, outro de chocolate, canecas de louça branca, um prato com biscoitinhos,
outro com um apetitoso bolo inglês.
(...)
- E então, essa aula começa ou não começa? – pergunta Sílvia, tornando a encher a
xícara de chocolate.
- Aula? – surpreende-se Irene. – Eu tinha pensado só num bate-papo, nada muito
sério... Afinal, estamos todas de férias, não é? – e pisca o olho para a sobrinha.
- Mas bater papo com alguém que sabe a Divina Comédia de cor vale por uma
aula... – diz Emília.
Sorriso geral.
- Já que você insiste, vamos começar - diz Irene. – E quero começar pedindo a
vocês que me respondam: “Quantas línguas se fala no Brasil?”
Silêncio. As três, tímidas, não ousam arriscar uma resposta. Emília cutuca Vera com
o cotovelo e diz:
- Vera, você faz Letras: é obrigada a saber a resposta...
Vera, assim convocada em seus brios acadêmicos, pigarreia e diz:
-Bom, o que a gente aprende na escola, desde pequena, é que só se fala português.
- Isso mesmo – confirma Sílvia. – No Brasil a gente fala português de Norte a Sul.
Irene escuta com atenção. Depois começa a falar:
- É bem a resposta que eu esperava. E não havia por que ser diferente. Meninas, na
tradição de ensino da língua portuguesa no Brasil existe um mito que há muito tempo vem
causando um sério estrago na nossa educação.
- Que mito é esse, tia?
- É o mito da unidade linguística do Brasil.
As três moças se entreolharam, surpresas. Irene prossegue:
- O mito da unidade lingüística do Brasil pode ser resumido na resposta que a Vera e
a Sílvia me deram agora há pouco: “No Brasil só se fala uma língua, o português”. Um mito,
entre outras definições possíveis, é uma idéia falsa, sem correspondente na realidade.
(...)
- Primeiro, no Brasil, não se fala uma só língua. Existem mais de duzentas línguas
ainda faladas em diversos pontos do país pelos sobreviventes das antigas nações
indígenas. Além disso, muitas comunidades de imigrantes estrangeiros mantêm viva a
língua de seus ancestrais: coreanos, alemães, italianos, etc..(...) Talvez vocês se
surpreendam com o que vou dizer agora, mas não existe nenhuma língua que seja uma só.
- Como assim, Irene? – pergunta Emília, espantada. – Que quer dizer isso?
- Isso quer dizer que aquilo que a gente chama, por comodidade, de português não
é um bloco compacto, sólido e firme, mas sim um conjunto de “coisas” aparentadas entre si,
mas com algumas diferenças. Essas “coisas” são chamadas variedades.
- Puxa vida, estou entendo cada vez menos – queixa-se Sílvia.
- Você certamente já ouviu um português falar, não é?
- Já – responde Sílvia.
- Já percebeu as muitas diferenças que existem entre o modo de falar do português
e o modo de falar nosso, brasileiro. Essas e outras diferenças – prossegue Irene – também
existem, em grau menor, entre o português falado no Norte-Nordeste do Brasil e o falado no
Centro-Sul, por exemplo. Dentro do Centro-Sul existem diferenças entre o falar, digamos do
carioca e o falar do paulistano. E assim por diante.
Após a leitura, do texto acima, assista aos vídeos:
1º “A língua de Eulália (Apresentação)”
(http://www.youtube.com/watch?
feature=player_detailpage&v=xRLbYay3yZY)
2° “Preconceito Linguístico - Marcos Bagno”
(http://www.youtube.com/watch?v=9dN1krnIzTc)
3º “Nelson Freitas no Jô Soares (Variações
(http://www.youtube.com/watch?v=NrtrLbDPC-Y)
regionais).
1-Em seguida, pesquise palavras ou expressões que são usadas nas
diferentes regiões do Brasil, mas que significam a mesma coisa.
Organize uma tabela, separando por região.
Professor(a), sugiro que dê uma olhadinha nos seguintes endereços para auxiliá-lo na pesquisa e sugestão para
seus alunos. Sempre lembrando que há outros endereços e que fica a seu critério outras sugestões.
1(http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/17-4.pdf). Trata-se de um trabalho de uma
professora PDE 2008 sobre ”Valorizando as variantes regionais: ditos populares”.
2” Os diversos falares regionais – um olhar curioso”
(http://www.portugues.com.br/gramatica/os-diversos-falares-regionais-um-olhar-curioso.html)
3” Quais palavras da língua portuguesa foram incorporadas pelo inglês?”
http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=category&id=30&Itemid=69)
4”
Variação lingüística regional na fala dos jovens
(http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=category&id=30&Itemid=69)
5” Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda?
(http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=category&id=30&Itemid=69)
2- Que tal usar sua criatividade e encenar esses diálogos para
caracterizar bem as diferenças linguísticas existentes nas diversas
regiões do país?
Vale ler o texto abaixo e refletir sobre variantes linguísticas e o
preconceito.
ASSALTANTE PARAIBANO ('sertanejo'; lógico!!) - Ei, bichim... Isso é um assalto... Arriba
os braços e num se bula, num se cague e num faça munganga... Arrebola o dinheiro no mato e
não faça pantim, se não enfio a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora... Perdão meu
Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da moléstia.
ASSALTANTE BAIANO - Ô meu rei...(pausa) Isso é um assalto...(longa pausa) Levanta os
braços, mas não se avexe não... (outra pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num
ficar cansado... Vai passando a grana, bem devagarinho (pausa pra pausa) Num repara se o
berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado. Não esquenta, meu irmãozinho, (pausa)
Vou deixar teus documentos na encruzilhada.
ASSALTANTE MINEIRO - Ô sô, prestenção... isso é um assarto, uai. Levanta os braço e fica
quetin quêsse trem na minha mão tá cheio de bala... Mió passá logo os trocados que eu num tô
bão hoje. Vai andando, uai! Tá esperando o quê, uai!
ASSALTANTE CARIOCA - Seguiiiinnte, bicho ...Tu te ferrou, mermão. Isso é um assalto.
Perdeu, perdeu! Passa a grana e levanta os braços, rapá. Não fica de bobeira que eu atiro bem
pra c... Vai andando e se olhar pra traz vira presunto.
ASSALTANTE PAULISTA - Ôrra, meu.... Isso é um assalto, mano. Levanta os braços,
mano... Passa a grana logo, mano. Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria
aberta pá comprar o ingresso do jogo do Curintia, mano... Pô, se manda, mano....
ASSALTANTE GAÚCHO - O guri, ficas atento... Bah, isso é um assalto. Levanta os braços e
te aquieta, tchê! Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê. Passa
as pilas prá cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.
ASSALTANTE LÁ EM BRASÍLIA - Querido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da
TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas: Energia, Água, Esgoto,
Gás, Passagem de ônibus, Imposto de Renda, Licenciamento de veículos, Seguro Obrigatório,
Gasolina, Álcool, IPTU, IPVA, IPI, ICMS, PIS, COFINS, CPMF, IMPOSTO DE RENDA
ETC.
file:///C:/Users/Ana%20Cristina/Downloads/Variantes%20do%20Brasil.htm
3 Leia com atenção o texto de Jorge Amado. Um texto bem humorado
que fala sobre as diferenças entre o português falado no Brasil e o
falado em Portugal. Através dessa leitura é possível perceber como
duas pessoas que falam a mesma língua não se entendem.
O português de Portugal
(Jorge Amado–Bahia,1964–língua portuguesa)
Em Lisboa disseram a Luiz Forjaz Trigueiros que na Bahia o calor, além de
tórrido, é constante, jamais faz frio. Luiz viaja ao Brasil em missão cultural, pede a
Maria Helena que coloque na mala apenas roupas leves, as mais leves. Assim
desembarcou desvestido com elegância para o verão feroz.
Ora, em lugar de calor senegalês, uma onda fria abateu-se sobre a cidade, frio
ainda mais difícil de suportar devido à umidade, o escritor sentiu-se enregelar.
Dado que o inverno se manteve, não lhe coube opção senão ir à compra de
agasalho. Luiz se informou, rumou para a rua Chile, a de comércio fino e caro de
prendas de vestir cavalheiros e senhoras. Deteve-se ante uma loja: ali se exibia a
peça exata que buscava para com ela resguardar o peito, evitar o resfriado, a
gripe, a pneumonia: Luiz Forjaz pretende-se chegado a enfermidades nos
brônquios e pulmões, o perigo de gripe o horroriza. De lã, chique, discreta, na cor
preferida, estava à sua espera. Luiz adentrou o estabelecimento, o vendedor
acorreu solícito, colocou-se a seu serviço.
- Desejo comprar uma camisola – informou o literato luso, sorrindo com a
delicadeza que o caracteriza.
Não menos delicado o balconista:
O cavalheiro se enganou, aqui só vendemos artigos masculinos, mas na loja em
frente, de artigos para senhoras, o senhor encontrará variado estoque de
camisolas...
Não tendo entendido, algum engano havia, Luiz insistiu:
- Eu disse camisola...
- Já lhe disse que não temos. – O caixeiro elevou a voz desconfiando que o
simpático freguês fosse surdo de nascença.
- Como não tem, se acabo de ver na montra uma camisola castanha na medida
própria.
- Onde disse ter visto camisola?
O balconista sentiu-se perdido, além de surdo o freguês falava língua
desconhecida, nem espanhol, nem francês, menos ainda inglês, dialetos que o
rapaz identificava, familiar de sotaques e pronúncias. Não sabendo o que dizer, riu
e coçou a cabeça. Um parvo, persuadiu-se Luiz Trigueiros, e, sem mais delongas,
tomando-o
gentilmente pelo braço – aos parvos deve-se tratar com firmeza
sem no entanto abandonar a cortesia -, levou-o até a porta de onde, triunfante,
mostrou-lhe na montra a camisola castanha:
- Ali está ela, a camisola, quanto vale?
A risada do rapaz não era mal-educada, mas continha uma ponta de deboche:
- Ilustre cavalheiro, fique sabendo que em bom português o senhor quer
comprar um pulôver marrom igual ao que está na vitrine, não é isso? Por que não
disse logo? Um suéter porreta e o preço é de arrasar...
Encontrei Luiz no hotel envergando a camisola castanha, ou seja, o
pulôver marrom, não sendo ainda o brasileiro competente que viria a ser anos
depois devido aos azares da política, o escritor estava indignado:
- O gajo diz-me duas palavras em francês, uma em inglês e afirma estar
falando em português, em bom português.
- Em nosso bom português, Luiz, o do Brasil.
Hoje Luiz Forjaz Trigueiros traça na maciota nosso misturado português
de mestiços, mas para escrever sua prosa escorreita, forte, terna e colorida,
conserva-se fiel ao português de Portugal, à língua de Camões.
AMADO, Jorge. Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memória que jamais escreverei. Rio
de Janeiro. Editora Record, 1992, p.126-128.
Vocabulário:
Cortesia – educação, gentileza
delongas – demora
Desvestido – despido
Dialeto – falar típico de uma região
Escorreita – perfeita, elegante
Gajo – indivíduo, tipo
Luso – da Lusitânia (Portugal)
Montra – vitrina
na maciota – sem esforço, tranquilamente
parvo – idiota, tolo
Senegalês – do Senegal (África)
solícito – gentil, prestativo
tórrido – muito quente
Interpretando o texto:
1 - “Ora, em lugar de calor senegalês, uma onda fria abateu-se sobre a cidade, frio ainda
mais difícil de suportar devido à umidade, o escritor sentiu-se enregelar.”
Como você explicaria esse parágrafo?
(resposta pessoal)
2 - Por que razão o escritor português e o balconista baiano não conseguiram se entender?
Por causa das diferenças no vocabulário entre português do Brasil e português de Portugal.
3 – Luiz Trigueiros comenta: ”O gajo diz-me duas palavras em francês, uma em inglês e
afirma estar falando em português, em bom português”.
a) Das palavras usadas pelo balconista, quais eram estrangeiras? Quais eram típicas
baianas?
Estrangeiras: pulôver. suéter, vitrine;
Baianas: porreta, arrasar
b) Por que o escritor português repete ironicamente “em bom português”?
Porque ele ironiza o fato do balconista não entender o português de Portugal e ainda afirmar
que o seu português ( o que ele fala) era um bom português, mesmo tendo misturado
palavras de diversas origens a sua fala.
4 - O que seria falar em “bom português”?
(resposta pessoal)
Esse texto de
Jorge Amado é
legal para ser
encenado. O
que você acha?
Legal. Vamos nos
reunir, usar nossa
criatividade, bom
humor e
improvisação.
Dando continuidade à novela sociolinguística...
(...)
Irene faz uma pequena pausa. Toma um gole de chá e continua:
- Até agora, falamos das variedades geográficas: a variedade portuguesa, a
variedade brasileira, a variedade brasileira do Norte, a variedade brasileira do Sul, a
variedade carioca, a variedade paulistana... Mas a coisa não para por aí. A língua também
fica diferente quando é falada por um homem ou por uma mulher, por uma criança ou por
um adulto, por uma pessoa alfabetizada ou por uma não-alfabetizada, por uma pessoas de
classe alta ou por uma pessoa de classe média ou baixa, por um morador da cidade e por
um morador do campo e assim por diante. Temos então, ao lado das variedades
geográficas, outros tipos de variedades: de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de
instrução, urbanas, rurais, etc.
(...)
- É por isso – prossegue Irene – que nós linguistas dizemos que toda língua muda e
varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço. Temos até uns nomes especiais
para esses dois fenômenos. A mudança ao longo do tempo se chama mudança diacrônica.
A variação geográfica se chama variação diatópica.
De acordo com Bagno,2009, a variação sociolinguística pode ser
classificada da seguinte maneira:
•
Variação diatópica : modos de falar de lugares diferentes, as
zonas rural e urbana.
•
Variação diastrática: modo de falar das diferentes classes
sociais.
•
Variação diamésica: comparação entre a língua falada e a
língua escrita.
•
Variação diafásica: uso diferenciado que cada indivíduo faz da
língua de acordo com o grau de monitoramento que ele confere
ao seu comportamento verbal. Seu modo de falar.
•
Variação diacrônica: comparação entre diferentes etapas da
história de uma língua. As línguas mudam com o tempo.
Usando novamente A Língua de Eulália e alguns textos de outros
autores, vamos explanar, com mais detalhes, as variações:
1- VARIAÇÃO DIATÓPICA
UMA LÍNGUA ENXUTA
No serão seguinte, para surpresa de suas três hóspedes, Irene traz para a
“escolinha” um aparelho de som portátil e uma fita-cassete.
- Aula com música, tia? – pergunta Vera, curiosa.
- Isso mesmo, Verinha – responde Irene introduzindo a fita-cassete no
compartimento.
- Rock, pop, brega ou tango? – arrisca Emília.
- Nenhum desses gêneros, Emília – diz Irene. – O que vocês vão ouvir é uma
pequena joia do nosso folclore musical, uma canção popular, aliás uma das minhas
favoritas. Reparem bem na melodia, como é linda. Lá vai...
(...)
- É linda mesmo, tia – responde Vera.
(...)
- E como se chama essa música? – indaga Sílvia.
- “Cuitelinho”
- Eu ouvi essa palavra, mas não entendi... O que é? – perguntou Emília.
- “Cuitelinho” é o nome do beija-flor em algumas partes do Centro-Sul do Brasil.
(...)
- Acho que nós podemos usar essa canção para tentar conhecer algumas das regras
que estruturam aquilo que grande parte das pessoas instruídas chamam de “fala de
caipira”, “fala de matuto”, “língua de jeca”, “língua de caboclo”, “português errado”, mas
que nós, conscientes de que todas essas denominações estão recheadas de um enorme
preconceito social, vamos chamar simplesmente de português não-padrão, combinado?
- Combinado – repetem as três em coro.
- Como eu venho repetindo, e não me canso de insistir, o fato de não ser um padrão,
de não ser um modelo a ser imitado por quem se considera instruído, não significa que
esta variedade do português seja “errada”, “pobre de recursos”, “insuficiente para a
expressão”... Muito pelo contrário, como temos visto e veremos, ela tem uma clara lógica
linguística, tem regras que são coerentemente obedecidas, e serve de material para uma
literatura popular muito rica.
- Aqui está a letra da canção.
Cuitelinho
Cheguei na beira do porto
Onde as onda se espaia
As garça dá meia volta
E senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão da rosa cai, ai, ai
Ai quando eu vim
Da minha terra
Despedi da parentáia
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes batáia, ai, ai
A tua saudade corta
Como aço de naváia
O coração fica aflito
Bate uma , a outra faia
E os óio se enche d’água
Que até a vista se atrapáia, ai...
Domínio público
Cuitelinho – Nara Leão, de Nilton Victorino Filho ( http://www.youtube.com/watch?v)= acessado em 30/11/2012
- Pelo que posso farejar aqui – diz Emília, essa música é um prato cheio para o
estudo do português não-padrão.
- Farejou bem, Emília – concorda Irene. – Estou pensando em usar “Cuitelinho” para
explicar vários fenômenos do português não-padrão (PNP).
- Qual? – quer saber Sílvia.
- A questão dos plurais – respondeu Irene.
- Foi mesmo o que mais me chamou a atenção, tia – diz Vera. – É impressionante:
não tem um plural certo na música toda?
- Lá vou eu bater na mesma tecla – suspira Irene. – Verinha o que existe aqui é um
sistema diferente de formação de plurais, só isso. Lembre-se que estamos falando do
português não-padrão, que tem regras gramaticais diferentes das do português-padrão.
- E qual é a diferença agora? – pergunta Emília.
- A diferença é a redundância – responde Irene. – No português-padrão existe aquilo
que se chama marcas redundantes de plural.
E Irene escreve na lousa estas duas frases:
Quero te dar a linda flor amarela que brotou no meu jardim.
Quero te dar as lindas flores amarelas que brotaram no meu jardim
- Para informar que se trata de mais de uma flor, o PP (português-padrão) precisa de
cinco marcas de plural, que modificam várias classes de palavras: artigo, substantivo,
adjetivo, verbo... É o que a gente aprende e ensina na escola com o nome de concordância
de número. Essa quantidade de marcas de plural é, do ponto de vista lógico, uma
redundância desnecessária e, do ponto de vista econômico, um gasto excessivo, não
concordam?
(...)
- O PNP (português-não padrão) é bem diferente disso – prossegue Irene. – Ele é
mais sóbrio, mais econômico, mais modesto, menos “vaidoso”. Sua regra do plural é a
seguinte: “marcar uma só palavra para indicar um número de coisas maior que um”. E esta
regra é rigidamente obedecida em todos os versos da canção, reparem bem:
Cheguei na bera do porto / onde as onda se espaia
As garça dá meia volta,/ senta na bera da praia
Eu entrei no Mato Grosso,/ dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução,/ enfrentei fortes bataia
E os oio se enche d’água
- A regra, como vocês podem ver, tem um hierarquia rígida: a marca indicadora de
plural é usada apenas no artigo definido. Quando não há artigo, ela vai para a primeira
palavra do grupo a ser pluralizado, que pode ser um substantivo ( como em “terras
paraguaia”) ou um adjetivo (“fortes bataia”). Na verdade, a marca de número funciona como
um “sinal”, um “aviso” de que aquele grupo de palavras está no plural: por isso ela é sempre
usada na primeira palavra do grupo
(...)
- Essa regra de eliminação das marcas de plural redundantes só existe em português
não-padrão, Irene? – pergunta Sílvia.
- Que nada! – responde Irene. – O inglês e o francês têm regras bastante parecidas.
(...)
- Quer dizer então que quem diz “as coisa” realmente não é “burro” nem “atrasado” –
comenta Sílvia. – Senão teríamos de chamar de “burros” e “atrasados” os franceses e os
ingleses, e ninguém ousa fazer isso.
(...)
- Como já enfatizei, não vamos querer eliminar o português padrão das escolas e
passar a ensinar o português não-padrão. Mas o conhecimento dessas regras serve para
que fiquemos mais atentas às diferenças que existem entre as duas variedades...
Diferenças que quase sempre, infelizmente, são consideradas “erros” por quem não
consegue compreender a lógica que existe nelas...
Segundo Possenti (2001, p.35), há fatores internos à língua que
também influenciam a variação. Por exemplo, ouvem-se pronúncias
alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão
incluiria a semivogal, a pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe,
outro). Mas não se ouve alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e
jeito. Outro exemplo são as variáveis pronúncias em diferentes lugares
do país, como o som que se escreve com a letra l: alguma, auguma,
arguma. Mais exemplos: poderemos ouvir “os boi”, “dois cara”, “nós vai”,
mas nunca “o bois”, “um caras”, “eu vamo(s)”.
De acordo com Possenti, (2012, p.57):
Ficou famosa a estrutura “Os livro”, por causa de uma polêmica ocorrida
no
ano passado. Observando falas mais informais ( dos menos
letrados, mas não só), ouviremos “as garrafa”, “as menina”, “duas casa”,
“os livro”, “os político”, “dez real”, etc, mas nunca ouviremos “a garrafas”,
“a meninas”, “uma casas”, “o políticos”, “um reais”. Significa que, se
queremos (se teimamos), podemos não gostar desse tipo de
concordância, mas não podemos dizer, sendo observadores corretos e
intelectualmente honestos, que aqui não há regra. Basta fazer duas listas
e verificar onde estão as marcas de plural. É uma construção gramatical
bastante marcada em contextos formais (discursos políticos), mas não
nos informais (churrascos familiares)
Bagno,(2009, p.145) comenta que a eliminação do plural
redundante, marcado em geral só nos determinantes: os menino, as
casa, aquelas coisa toda, etc. Também ocorre nos estilos falados
menos monitorados dos falantes urbanos escolarizados, em situações
distensa.
Segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.10), a Sociolinguística é uma
disciplina que reúne dois campos de interesse: o estudo da língua e o
estudo da sociedade. Possui o compromisso a luta contra todas as
formas de discriminação e exclusão social pela linguagem, porque não
basta descrever e analisar as relações entre língua e sociedade – é
preciso também transformá-las.
Ainda, segundo a linguista (2009, p.37):
Erros de português são simplesmente diferenças entre variedades da
língua. Com frequência, essas diferenças se apresentam entre a
variedade usada no domínio do lar, onde predomina uma cultura de
oralidade, em relações permeadas pelo afeto e informalidade, como
vimos, e culturas de letramento, como a que é cultivada na escola.É no
momento em que o aluno usa flagrantemente uma regra não padrão e o
professor intervém, fornecendo a variante padrão, que as duas
variedades se justapõem em sala de aula.
Para Tarallo (2011, p.8) “em toda comunidade de fala são
frequentes as formas linguísticas em variação. Segundo Possenti
(2001, p.36) “a variedade linguística está entre as variedades as mais
funcionais que existem; quanto mais numerosas forem, mais
expressiva pode ser a linguagem humana”. E, segundo Bortoni-Ricardo
(2009, p.25) “sempre haverá variação de linguagem nos domínios
sociais”.
Voltemos a música “Cuitelinho”. Para realizar as atividades a seguir, organizem-se
em grupos, leiam a letra da música, organizem o pensamento e façam um comentário
sobre cada questão apresentada.
1- Nos seis primeiros versos da canção, o eu poético diz que chegou num determinado
lugar. Nesse lugar, ele narra alguns acontecimentos. Comentem o que entenderam dessa
narração
(resposta possível) O eu poético chega à beira do porto, observa as ondas da praia, vê as
garças voando por sobre as ondas e percebe que o cuitelinho (beija-flor) não gosta que os
botões de rosa caiam no chão.
2- Pela narração presente na canção, como vocês imaginam ser esse local? Onde seria
esse local?
Espera-se que o(a) aluno(a) perceba que se trata de um lugar pouco urbanizado, com
bastante animais, flores, rio. Deve ser um lugar da região Centro-Oeste.
3- Qual seria a função, o trabalho do eu poético nesse local?
Provavelmente ele é um soldado(militar).
4- O que ele, o eu poético, estaria fazendo nesse local?
Está a postos para lutar em uma revolução.
5- Qual seria a intenção do eu poético ao contar sua história? Como chegaram a essa
conclusão?
(Resposta possível) O eu poético pretendeu expressar como se sente ao estar distante da
família e da pessoa amada. É possível chegar a essa conclusão a partir da história
contada ao longo da canção e do seu desfecho, que apresenta uma declaração de amor.
Professor(a), essa atividade trabalha com a habilidade de dedução a partir de elementos
presentes no texto. A chamada leitura das entrelinhas.
6 - A maneira como cena foi descrita é poética? Por quê?
(resposta possível) Sim, pois a letra da música possui rimas, palavras e ações com
apelo emotivo, emprega sentido figurado, construindo o belo a partir das
combinações de palavras e expressões.
Professor(a), sugira que ele observe a escolha e a combinação das palavras, as
rimas, o jeito de falar sobre o que aconteceu na beira do porto, etc.
7 - a) Nos exercícios anteriores, você
observou várias características do
local em que se passa a cena no
poema. Identifique no mapa, a partir
das pistas dadas no texto, os locais
que o eu poético mencionou na
canção.
O estado do Mato Grosso, no Brasil e
o Paraguai
b)Observando o mapa, é possível
deduzir se o conflito apresentado
no
poema
é
nacional
ou
internacional? Por quê?
É internacional, porque envolve o
Brasil e o Paraguai.
c) Qual é o provável conflito a que
se refere o poema?
A Guerra do Paraguai.
VOCÊ SABIA
A Guerra do Paraguai iniciou-se em novembro de 1894 e foi
considerada o conflito armado mais sangrento da América do Sul. A
Guerra do Paraguai também foi denominada Guerra da Tríplice
Aliança, pois os adversários do Paraguai eram três: Brasil,
Argentina e Uruguai.
.
Segundo historiadores, foi um conflito causado por interesses
econômicos: o Paraguai, a nação mais desenvolvida da América do
Sul, tentava obter passagem para o mar, a fim de garantir suas
exportações e importações; naquela época, a Inglaterra, desejava
destruir a economia paraguaia, sua maior competidora nos
negócios.
A Guerra do Paraguai terminou em março de 1870 com a
derrota do Paraguai e a destruição de sua infraestrutura industrial.
Estudando a poesia.
1- Releia os versos:
Eu entrei no Mato Grosso / Dei em terras
paraguaia
Nesses versos, a palavra dei tem sentido de “dar algo a alguém”? Como
chegou a essa conclusão?
Não. Nesse caso, o sentido de “dei” é de chegar a algum lugar. O sentido
dos versos da canção nos faz chegar a essa conclusão.
2- Leia novamente os versos:
A tua saudade corta
Como aço de naváia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
Agora responda;
a) Nesses versos há alguma palavra ou expressão em sentido figurado?
Sim, há duas expressões de sentido figurado: “a saudade corta como aço
de navalha” e o “coração ficar aflito”.
b) Como se explicam esses versos ditos pelo eu poético:
“ coração fica aflito
Bate uma , a outra faia
A
expressão
destacada
significa
que
o
coração
está
descompassado por causa da aflição causada pela distância da
pessoa amada e pela guerra.
C) Releia o texto “VOCÊ SABIA” sobre a Guerra do Paraguai e
responda: Por que o eu poético sente saudades de alguém e
chora?
Porque enquanto a guerra está ocorrendo, os soldados, os
combatentes não têm autonomia (liberdade) para tomar decisões,
como voltar para casa ou abandonar o conflito, a guerra.
3 – Observe esses versos
:
E os oio se enche d’água
Que até a vista se atrapaia, ai...
a) O que o eu poético quis dizer com esses versos?
O eu poético se refere ao fato de a vista ficar embaçada por causa
das lágrimas provocadas pelo sentimento de tristeza e aflição.
b) O autor da canção falou do ato de chorar de um jeito incomum. Por
que teria feito isso?
Usando uma expressão no sentido figurado, com certeza causa
mais emoção no ouvinte.
UM OLHAR PARA A LÍNGUA
Ai quando eu vim
Da minha terra
Despedi da parentáia
a) Nesses versos, o que significa “parentáia”?
Parentes
c) Cite as outras palavras presentes na canção que também são registradas
dessa maneira. Diga por qual motivo foram escritas assim.
É uma Navaia.. faia. oio. atrapaia
É uma forma de representar a fala caipira.
d) É possível afirmar que existe uma única forma de falar ou escrever na
nossa língua?
Não. Existem diferentes maneiras de falar ou escrever um idioma.
Professor(a), é fundamental esclarecer que as diferentes formas de falar são
variações linguísticas e não constituem erros. Contudo, há numa forma
convencional de dizer e escrever denominada norma urbana de prestígio ou
padrão. A adequação de uso da língua se dá conforme o contexto
comunicacional. Além disso, é importante mencionar que o gênero textual
canção permite a presença das marcas de oralidade, sem comprometer a
performance.
Você sabia?
AS VARIEDADES DA LÍNGUA
Em nossa sociedade, há falares mais
prestigiados e menos prestigiados. Damos o nome
de norma urbana de prestígio aos falares urbanos
que em uma comunidade linguística desfrutam de
maior prestígio político, social e cultural. O uso da
língua empregado pelos falantes cultos da área
urbana costuma ser prestigiado socialmente, tanto
na fala, quanto na escrita.
Mas a língua pode se manifestar em outras
variedades, ou seja, outras maneiras de falar e
escrever, diferentes da norma de prestígio e tão
legítimas quanto.
ATIVIDADE
Professor(a), peça a seus alunos que tragam letras de músicas, gravações
espontâneas e outro materiais e façam juntos uma pesquisa dos sintagmas
nominais.
Em seguida, selecionem trechos de obras literárias contemporâneas e artigos de
jornais e revistas. Façam uma “caçada” aos sintagmas nominais plurais e vão
observar como em todos se aplica a regra dos plurais redundantes. Veja um
pequeno exemplo, retirado do livro A viagem do Descobrimento, de Eduardo
Bueno,( Bortoni-Ricardo, 2009, p.60) no qual estão marcados os sintagmas
nominais plurais em que se aplicaram a regra da marcação redundante, isto é,
todos os elementos flexionáveis dos sintagmas foram pluralizados para
concordarem com o núcleo plural. No texto, ocorrem algumas palavras que não
são de uso comum no português contemporâneo. Procure o significado no
dicionário.
Na manhã seguinte, 22 de abril, com o vento ainda soprando de leste, o voo
rasante [dos fura-buxos] levou [os homens] a repicarem [os sinos] e se
apinharem [nos tombadilhos]. Ao contrário de Colombo, que “não conhecera o
sono” ao longo [dos 36 dias] em que navegara pelo Atlântico disposto a
concretizar o sonho impossível de atingir [as Índias] pelo rumo do poente, não há
indícios de que Cabral não tenha dormido [noites impávidas] durante [os 43 dias]
em que estivera no mar.
Ainda assim, e talvez por isso mesmo, enquanto o alvoroço tomava conta
[dos embarcadiços] Pedro Álvares, de 32 anos, mais um militar do que
propriamente um navegador, ajoelhou-se em frente à imagem de Nossa Senhora
da Esperança, que ele próprio escolhera como padroeira da viagem e mandara
entronizar num altar erguido no convés da capitania. Era uma oração legítima:
[os santos do céu] (e [os deuses do mar]) pareciam de fato estar do seu lado.
Então, a cerca de 70 quilômetros da costa, [nas horas] de véspera, mais com
alívio e prazer de que com surpresa ou espanto, o capitão e [seus pilotos],[os
marinheiros] e [os soldados], [os sacerdotes] e [os degregados], [acotovelados
todos] à mureta [das naus], puderam vislumbrar o cume de “um grande monte
mui alto e redondo” erguendo-se no horizonte longínquo. ...
2 - VARIAÇÃO DIASTRÁTICA
A conversa entre as três continuava animada.
- O caso do plural já está resolvido – comenta Emília. – Mas tem outra coisa
aqui que também me chama muito a atenção.
- E o que é , Emília? – pergunta Irene.
(...)
- É isso que acontece também com o R torto dos caipiras?
- Bem lembrado – respondeu Irene. – O R “caipira”, que nós linguistas
chamamos R retroflexo, é vítima de muita zombaria por parte dos falantes das
variedades urbanas...
Scherre (2008, p.145-146) exemplifica bem o preconceito existente
com o famoso “r” retroflexo, traço de identidade local de amplas regiões
brasileiras distintas: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São
Paulo,
Paraná,
independente
de
classe
social,
de
anos
de
escolarização, de etnia, de poder aquisitivo, de local de moradia, de
gênero, de faixa etária. É um traço de identidade local e é fortemente
discriminado, fora de suas áreas nativas, é alvo de preconceito
linguístico.
É
o
“r”
vibrado
nas
palavras
“porta”,
”sorvete”, “curva”, etc.
Irene comenta:
- Muitos poetas “eruditos” confessam que gostariam de produzir versos tão
simples e com uma riqueza de imagens poéticas condensadas em tão poucas
palavras. Aliás, esta é a lição de arte poética sertaneja que um de nossos
maiores poetas populares cearense Patativa do Assaré, nos dá em :
“Cante lá que eu canto cá”
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima compreta
Não precisa professo;
Basta vê no mês de maio
Um poema em cada gaio
E um verso em cada fulo...
A seguir ouviremos uma canção, outra grande joia do nosso folclore musical:
ASA BRANCA
Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por falta d’água, perdi meu gado
Morreu de sede, meu alazão
Asa Branca Luiz Gonzaga Composição: Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira
http://www.youtube.com/watch?v=A5r2_wGk1dIacessado em 04/12/2012
1- Quem é o eu lírico da canção?
É um homem do campo, já que cita o gado
Eu lírico: a voz do
poema
e a plantação.
2- Pela linguagem, o eu lírico retrata o português de
qual região do País? E qual seria o nível de
escolaridade do eu poético?
Retrata o português da região nordestina.
O eu poético tem um nível de escolaridade baixo.
Nem sempre a pessoa que
fala no poema é o próprio
poeta. Ele pode criar uma
personagem diferente dele.
Um poeta adulto de sexo
masculino pode escrever um
poema dando voz a uma
personagem feminina ou a
um garoto adolescente. Essa
pessoa inventada pelo poeta
é chamada de eu lírio ou eu
poético.
Professor(a), aproveite para retomar a informação de que as Variedades
Linguísticas faladas pelas camadas da população com maior nível de
escolaridade gozam de maior prestígio social.
3- Imagine que os compositores tivessem empregado a norma-padrão nessa
letra. Ela teria a mesma expressividade poética e o mesmo efeito de sentido?
Justifique sua resposta.
(Resposta possível) Não, pois a linguagem não seria condizente com o perfil do
eu lírico e perderia sua autenticidade.
4- As variações da norma-padrão costumam se repetir com certa regularidade e
certa lógica. Obser ve estas palavras da canção:
Fonaia
óio
espaiar
oiei
Considerando o modo como elas são faladas e escritas na norma-padrão, ou na
norma de prestígio, que fenômeno ocorre em todas elas?
Em todas elas o fonema /lhe/, representado pelas letra lh, foi substituído dor /i/.
Por que ocorre esse fenômeno?
Bagno (2009, p.145) explica a pronúncia [y] da consoante palatal
[y], escrita LH: telha > teia; abelha>abêia; velha>veia, etc; mudança
essa que ocorre
também em galelo, francês e na maioria das
variedades do espanhol.
Continuando a conversa entre Irene e as três amigas...
Emília comenta:
- Eu já reparei isso na fala de muita gente e agora na letra do “Cuitelinho” apareceu
de novo... É essa preguiça que o povo tem de pronunciar o LH direito. Em vez de trabalho,
diz trabaio; em vez de telha, diz teia...
- Pois é esse justamente o tema da nossa conversa de hoje – explica Irene. Só que
você não colocou o problema em termos adequados, Emília...
- Para variar... – comenta Sílvia, em tom de pilhéria.
- Não é que os falantes de PNP sejam “preguiçosos” ou, como dizem alguns
gramáticos de visão estreita, “mentalmente inferiores”. Nada disso. Simplesmente, na
variedade de português que eles falam não existe este som consonantal.
- Não existe? – surpreende-se Vera.
(...)
Irene sorri, Emília diz:
- Já que é proibido falar em “preguiça do povo”, como é que você explica, aqui na
letra da música, espaia no lugar de “espalha”, parentaia no lugar de “parentalha”, bataia no
lugar de “batalha”, navaia no lugar de “navalha”, faia no lugar de “falha” e atrapaia no lugar
de “atrapalha”?
- Acho que podemos, mais uma vez, comprar o português não-padrão com outras
língua – sugere Irene. – No espanhol padrão, que é aquele falado na América Central, nas
ilhas do Caribe e em diversos países da América do Sul. Por causa do “yeísmo”, aquilo que
se escreve caballo, “cavalo”, com LL, e que os castelhanos pronunciam “cabalho”, nas
outras variedades se pronuncia “cabaio”... Como se pode ver, este “problema” não é só dos
falantes do português não-padrão.
Irene comenta que o linguista alemão Heinrich Lausberg, diz;
Por afrouxamento e, finalmente, abandono da oclusão central, forma-se do /L/ (difícil de pronunciar
por causa da elasticidade reduzida do dorso da língua) muito naturalmente a fricativa /y/ como em
francês, espanhol popular e dialetal. LAUSBERG, H. Linguística românica. 2.ed.Lisboa: Fundação
Colouste Gulbenkian, 1981. p.
- Parece que o Lausberg não sabe que a mesma coisa acontece no português nãopadrão do Brasil – comenta Vera.
- O que ele quis dizer com tantos nomes complicados? Juro que não entendo a
“variedade” dele – confessa Emília.
- É simples – diz Irene, sorrindo. Ele quis dizer que a consoante /L/ (este símbolo é
usado pelos linguistas para representar o som “lhê”) é produzida com a ponta da língua
tocando o palato ( nome “oficial” do céu da boca), muito perto do ponto onde é produzida a
semivogal /y/ (símbolo usado para representar o “i” de pai). Experimentem pronunciar a
sequência lha-lha-lha e depois a sequência ai-ai-ai e tentem perceber para onde vai a
língua.
As três fazem a experiência e se divertem com os sons produzidos.
- Perceberam? – pergunta Irene. – Esta proximidade, e a comodidade maior de se
pronunciar o “i”, segundo Lausberg, levaram à transformação.
(...)
Irene comenta:
- A variedade de português em que não existe o “lhe” é usada pelas pessoas menos
prestigiadas da nossa sociedade...
- Os trabalhadores rurais, os analfabetos, os moradores das favelas, as classes de
renda mais baixa – completa Sílvia.
- Ela é alvo de todo tipo de preconceito e julgamento negativo – responde Vera.
(...)
Irene faz uma pequena pausa, respira fundo e retoma:
- É importante que nós, educadores, tenhamos em mente que o português nãopadrão é diferente do português-padrão, mas igualmente lógico, bem estruturado e que ele
acompanha as tendências naturais da língua, quando não refreada pela educação formal. O
PNP não é “pobre”, “carente” nem “errado”. Pobres e carentes são, sim, aqueles que o
falam, e errada é a situação de injustiça social em que vivem
3 - VARIAÇÃO DIAMÉSICA
Falar é fácil, escrever é difícil. Você também pensa assim? Leia o texto de Jô Soares para
perceber a diferença.
‘Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como
se fala”
Jô Soares. Revista “Veja” – 28.11.90
Pois é. U purtuguêis é muito fácil di aprender, purqui é uma língua qui a genti
iscrevi ixatamente cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi de ri quandu a
genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. È só
prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum
nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a aminha
língua é u portuguêis. Quem soube falá sabi iscrevê.
Conversando sobre o texto:
1- “Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se
fala”. A afirmação acima, em sua opinião, é falsa ou verdadeira? Por quê?
Resposta pessoal
2- Compare a linguagem do título e a linguagem do texto. Qual delas faz uso da norma Pois
é. U purtuguêis é muito fácil di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamente
cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi de ri quandu a genti discobri cumu é qui
si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. È só prestátenção. U alemão pur exemplu.
Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi
muito diferenti. Qui bom qui a aminha língua é u portuguêis. Quem soube falá sabi
iscrevê.padrão?
(resposta possível) A linguagem do título é que faz uso da norma padrão.
3- “Quem soube falá sabi iscrevê”. Você concorda com o autor? Por quê?
Resposta pessoal
4- Na sua opinião, qual a verdadeira intenção do texto?
( ) Mostrar que para escrever basta saber falar.
( ) Ensinar a diferença entre o certo e o errado.
( x ) Brincar com a diferença entre a fala e a escrita.
5 – Reescreva o texto passando da linguagem oral para a linguagem escrita:
Leia com atenção o poema a seguir:
AULA DE PORTUGUÊS
A linguagem
Na ponta da língua,
Tão fácil de falar
E de entender.
A linguagem
As superfícies estreladas de letras,
Sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
E vai desmatando
A amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas
Atropelaram-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
Em que pedia para ir lá fora,
Em que levava e dava pontapé,
A língua, breve língua entrecortada
Do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Airton
Soares
declama
poesia
“Aula
de
Português
de
(http://www.youtube.com/watch?v=cHaonX6_XSc) acessado em 06/12/2012.
Carlos Drummond de Andrade.
WWW.carlosdrummond.com.br
Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1988. P.646-7
Drummond
Em relação ao texto, responda:
1- As estrofes 1 e 4 fazem referência a que variedade lingüística? E a 2 e 3?
As estrofes 1 e 4 referem-se às variedades populares da língua e as 2 e 3 à variedade
padrão ( tentativa de estudá-la e compreendê-la durante as aulas de português) (profº
Carlos Góis – figura de gramática.
2- De acordo com o Dicionário Houaiss, a palavra esquipático talvez tenha surgido da
junção das palavras esquisito e antipático. Considerando essa possibilidade, estabeleça
uma relação entre esquipáticas (verso 11) e o conteúdo da 3ª estrofe.
Essa palavra sintetiza a opinião do eu poético tem da variedade padrão. Ele a considera
complexa, difícil de ser assimilada e entendida e, por isso, não tem simpatia por ela.
3- O que você entendeu com o último verso?
Existem duas “línguas” portuguesas: a do cotidiano ( das brigas, do namoro com a prima) e
a padrão.
4 - VARIAÇÃO DIAFÁSICA
Enfermeira Mellanie, já
prescrevi o receituário.
Avise-me se o quadro
clínico piorar. Estarei de
plantão na UTI
É verdade, filho. Estou
muito orgulhoso de seu
Flor,
Pra onde foi você,
flor
Com seu perfume
de amor
O que é que eu
fiz de ruim
(...)
Deus fez a terra e
o céu
Fez você e o seu
mel
E me fez só pra te
amar
irmão.
Ele não é o
máximo!!!
Estou cada
vez mais
orgulhosa.
Puxa, pai, o
André está
tocando cada vez
melhor.
Ai, ai. Além
de bom
médico é um
excelente
cantor. Estou
cada vez mais
apaixonada.
ATIVIDADE
Um ato de comunicação se realiza com mais eficiência quando o falante é capaz de adequar
sua linguagem ao contexto, Identifique, nos exemplos abaixo, o(s) caso(s) em que ocorre
inadequação linguística:
a) Em uma solenidade de formatura, um orador fazendo um discurso:
-Tô feliz pra caramba de ver
essa moçada faturando esse
diploma depois de ter dado o
sangue e ficado com o nariz
enterrado nos livros tanto tempo
que nem dá pra saber direito
b)
Em uma solenidade de formatura, um orador fazendo um discurso:
- É indescritível minha
satisfação ao ver esses jovens
atingindo uma meta pela qual
despenderam tantos esforços e
incontáveis horas de dedicação
aos estudos.
c) Um médico, explicando o grave estado de saúde de uma paciente aos familiares dela:
- Acho que essa não tem mais
jeito não, viu pessoal... essa já
era!
d) Em uma entrevista, uma especialista em educação diz:
- A sociedade tem o direito e o dever de participar da vida
da escola, exigindo do poder público empenho persistente
na melhoria da qualidade do ensino, porque essa
melhoria reverte-se, obviamente, em benefício da própria
sociedade.
e) Em um debate político na televisão, um candidato a prefeito diz, a respeito de seu
adversário:
- Se esse cara aí faturar a eleição, vai ser a
maior fria pro povo; todo mundo lembra
que, da outra vez que ele foi prefeito, só
fez besteiras e afundou a cidade em
dívidas.
Bortoni-Ricardo (2009, p.73) comenta que o sociolinguista norteamericano Dell Hymes, em 1966, propôs um novo conceito
- o de
competência comunicativa, que inclui além das regras indispensáveis à
formação das sentenças, também as normas sociais e culturais que
definem a adequação da fala.
Segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.73),
a explicação para esse
conceito é:
Em outras palavras, a competência comunicativa de um falante lhe
permite
saber o que falar e como falar com quaisquer interlocutores em quaisquer
circunstâncias. A principal novidade na proposta de Dell Hymes foi, portanto, ter
incluído a noção de adequação no âmbito da competência. Quando faz uso da
língua, o falante não só aplica as regras para obter sentenças bem formadas, mas
também faz uso de normas de adequação definidas em sua cultura. São essas
normas que lhe dizem quando e como monitorar seu estilo. Em situações que
exijam mais formalidade, porque está diante de um interlocutor desconhecido ou
que mereça grande consideração, ou porque o assunto exige um tratamento
formal, o falante vai selecionar um estilo mais monitorado; em situações de
descontração, em que seus interlocutores sejam pessoas que ele ama e em que
confia, o falante vai sentir-se desobrigado de proceder a uma vigilante
monitoração e pode usar estilos mais coloquiais. Em todos esses processos, ele
tem sempre de levar em conta o papel social que está desempenhando.
Bagno (2009, p.56) afirma que o continuum de monitoramento
estilístico indica o grau de atenção que o falante presta ao que está
dizendo. Pode ser maior ou menor, dependendo do diversos fatores e
do momento da interação. Segundo o linguista, quanto mais monitorado
for o estilo da fala, mais ocorrências da norma-padrão, de sentenças
gramaticais bem elaboradas e de um vocabulário maior requintado e
erudito.
Para exemplificar, Bagno (2009, p.56) cita a proposta de RicardoBortoni para melhor compreender a ocorrência de variação linguística
num mesmo espaço-tempo de interação verbal, na fala de uma mesma
pessoa.
A professora ora diz “vamo vê” e ora diz “veremos”, que ora diz “xovê” e ora diz
“deixe-me ver”, ou o aluno que normalmente diz “paiaço” e “trabaiá” mas, ao ler
em, voz alta o texto do livro, diz “palhaço” e “trabalhar”... Essa mesma professora,
se tiver antecedentes rurais, digamos, do interior de São Paulo, pode usar o “R
caipira” ao ralhar com um aluno chamado Eduardo e usar um /r/ vibrado ou um /h/
aspirado ao ler em voz alta um texto como “o vento forte fez bater a porta verde da
casa da Márcia”, por considerar a pronúncia “caipira” inadequada em situações
mais monitoradas, em atividades mais letradas.
ATIVIDADE
O texto a seguir foi extraído da transcrição do debate que se seguiu à palestra do poeta
Paulo Leminski (“Poesia: A Paixão da Linguagem”), proferida durante o curso “Os Sentidos
da Paixão”.
Observe que neste trecho é possível identificar palavras e construções características da
linguagem coloquial oral. Reescreva-o de forma a adequá-lo à modalidade da variedade
padrão.
“Estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele,
que é Mário de Andrade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas
vanguardas modernistas. (...) Hoje em dia, felizmente, já existem vários trabalhos,
há muita gente reavaliando a poética do Mário, que ela é muito mais importante e
profunda do que aparentemente pareceu nesses últimos anos. Estudando o Mário,
eu descobri que o Mário foi um exemplo do cara que morreu de amor, mas de
amor pelo seu povo, pelo seu país, pela sua cultura. (...) Um outro cara que eu
também fiz um filme é o Câmara Cascudo. Um cara como o Câmara Cascudo
morre, os jornais dão uma notinha desse tamanhinho, escondidinho, um cara que
deveria ter estátua em praça pública, devia ser lido, recitado.”
5 - VARIAÇÃO DIACRÔNICA
Toda língua muda
Continuando a novela sociolinguística...
(...)
- Mas a coisa pode ficar ainda mais complicada...
- Como, tia?
- Pegue, por exemplo, um texto de jornal escrito no começo do século XX. Você vai
sentir diferenças no vocabulário e no modo de construção da frase. Recue mais um pouco
no tempo e tente encontrar alguma coisa escrita no começo do século XIX, em 1808, por
exemplo, quando a família real portuguesa se transferiu para o Brasil. Mais diferenças ainda.
Dê um salto ainda maior e tente ler a famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D.
Manuel I dando a notícia do descobrimento do Brasil. Um texto de 1500, último ano do
século XV! Tem muita coisa ali que a gente nem consegue entender! E se quisermos ler
uma cantiga d’amor, como a que citei hoje à tarde.
(“-Or tu chi se’, Che vuoi sedere a cranna/ Per giudicar da lungi Mille miglia,/ Com
La veduta corta d’uma spanna?) – Primeiros versos de uma cantiga de amor escrita em
1189, por Dante – Divina Comédia.
(...)
- Por que será então que eles vão se tornando cada vez menos compreensíveis
para um brasileiro no início do século XXI? – quer saber Vera.
- Porque toda língua, além de variar geograficamente, no espaço, também muda
com o tempo. A língua que falamos hoje no Brasil é diferente da que era falada aqui mesmo
no início da colonização, e também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro
de trezentos ou quatrocentos anos.
- Parece lógico – comenta Sílvia. – Todas as coisas mudam, os costumes, as
crenças, os meios de comunicação, as roupas... até os bichos evoluíram e continuam
evoluindo... Por que a língua não haveria de mudar, não é?
- É por isso – prossegue Irene – que nós linguistas dizemos que toda língua muda
e varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço. Temos até uns nomes especiais
para esses dois fenômenos. A mudança ao longo do tempo se chama mudança diacrônica.
A variação geográfica se chama variação diatópica...
Você vai ler um texto que mostra, de forma irônica e bem-humorada,
dois diálogos entre pai e filha, em diferentes momentos (um em 1950 e
outro no ano 2000).
O diálogo dos tempos
José Roberto Torero
Em 1950, a conversa entre aquele pai e aquela filha seria mais ou menos assim:
- A bênção, papai.
- Deus te abençoe, Maria Elvira.
- Papai, eu queria falar uma coisa com o senhor...
- Pode falar, minha filha.
- É que... o Leleco me pediu em namoro.
- Leleco?
- O nome dele é Leonardo da Silva.
- Onde vocês se conheceram?
- Num baile de debutantes.
- E o que faz esse Leonardo? Ele é engenheiro, médico ou advogado?
- Centroavante.
- Centroavante? Isso é galhofa, não é, Maria Elvira?
- Não, papai.
- Era só o que faltava, minha filha com um centroavante! É para isso que eu paguei seu
curso de magistério?
- Mas papai...
- Nem mais nem menos! Essa gente do futebol é muito irresponsável! E, depois, se ele te
abandona? Você quer virar uma desquitada?
- Mas pai...
- Não, não e não, Maria Elvira! Filha minha não casa com jogador de futebol.
- Mas...
- Centroavante, essa é boa! O que vai ser da próxima vez, um sambista?
++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
Já, em 2000, as coisas seriam um pouco diferentes.
- Oi, paps.
- Oi, Tainá.
- Paps, fui pedida em casamento.
- Sério!?
- É, e desta vez por um rapaz.
- Quem diria...
- Ele se chama Leleco. Leleco da Silva.
- Onde vocês se conheceram?
- Num baile funk.
- E o que ele faz? É publicitário, banqueiro ou economista do governo?
- É centroavante.
- Centroavante? Que maravilha, Tainá! Valeu a pena todo aquele dinheiro que você
gastou com tintura de cabelo.
- Eu não disse que eles preferem as louras?
- E quando vai ser o casamento?
_ Xi, paps, era sobre isso que eu queria falar. Não sei se aceito. Jogador de futebol
é meio, sei lá, irresponsável... Vai que não dá certo?
- Aí você pede o divórcio e ganha uma boa pensão para o resto da vida.
- Mas paps...
- Não, não e não, Tainá, Filha minha não perde uma chance dessas.
- Mas...
- Já chega aquele pagodeiro que você esnobou.
Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 de janeiro de 2000. Caderno de Esportes, p.3
(Fragmento)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1101200014.htm, acesso em 07/12/2012
ATIVIDADE
1- O texto a seguir de Carlos Drummond de Andrade, é um exemplo de como a língua muda
e varia ao longo do tempo. Leia com atenção e em seguida resolva os exercícios propostos:
A linguagem falada não é um elemento fixo e imutável. Ao contrário, reflete
mudanças do meio social. Vem se transformando através dos tempos e – o mais notável –
pode mudar, dentro de uma mesma época, de acordo com as circunstâncias sociais.
Ao ler o texto de Carlos Drummond de Andrade, que viveu no século XX (19021987), você vai sentir a afirmação acima e vai se divertir com o inusitado da linguagem
através dos tempos.
ANTIGAMENTE
Antigamente as moças chamavam-se “mademoiselles” e eram todas mimosas e
muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os
janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas
ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o
cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia.
(...)
Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram
pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim-por-tintim e iam comer o pão que o
diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas.
(...)
Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.
(Carlos Drummond de Andrade, Quadrante 1. 4ª Edição, Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1966)
A. Faça a correspondência entre as frases que contenham o mesmo significado:
a. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa,
mas ficavam longos meses debaixo do balaio.
b. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva.
c. As pessoa, quando corriam, era para tirar o pai da forca.
d. O que não impedia que esse ou aquele embarcasse em canoa furada.
e. Estes, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas e até em calças pardas.
f. Não admira que dessem com os burros n’água.
g. Ao visitarem uma família de maior consideração, sabiam cuspir na escarradeira.
h. Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios.
i. Outros eram pegados com a boca na botija.
j. Jogavam verde para colher maduro.
k. Sabiam com quantos paus se faz uma canoa.
l. Faziam o quilo, saindo para tomar a fresca.
m. Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso
ao vigário e com isso punham a mão em cumbuca.
n. Era natural que com eles a gente perdesse a tramontana.
o. Ouviam o galo cantar, mas não sabiam onde.
p. Uns raros amarravam cachorros com linguiça.
1. ( ) Não admira que se dessem mal.
2. ( ) Faziam negócios e ficavam sem nada.
3. ( ) Os mauricinhos, mesmo não sendo boas pintas, paqueravam, mas ficavam
curtindo uma de esperar.
4. ( ) Ao visitarem uma família bem instruída, sabiam portar-se devidamente.
5. ( ) O que não impedia que esse ou aquele entrasse numa fria.
6. ( ) Outros eram pegos em flagrante.
7. ( ) Se levavam um fora, o jeito era sair pra outra.
8. ( ) As pessoa só se apressavam, só corriam em casos extremos.
9. ( ) Estes, de pouco siso, metiam-se em confusões.
10. ( ) Uns poucos viviam na riqueza, esbanjando à vontade.
11. ( ) Procuravam sondar, davam uma pequena “dica” para obter informações maiores.
12. ( ) Tinham ouvido falar, por alto, no assunto mas não conheciam os detalhes.
13. ( ) Conheciam muito bem o assunto, estavam bem informados.
14. ( ) Era natural que com eles a gente se desnorteasse, se atrapalhasse até perder a
paciência.
15. ( ) Digeriam tranquilamente a refeição dando uma voltinha.
16. ( ) Embora, por fora do assunto, queriam dar uma de entendidos e aí se
complicavam.
B. Traduza o texto de Carlos Drummond de Andrade, para a linguagem padrão atual,
porém ser usar gírias grosseiras ou expressões idiomáticas.
_____________________________________________________
GABARITO
Questão A:
1. F
2. H
9. E
10. P
3. A
11. J
4. G
12. O
5. D
13. K
6. I
14. N
7. B
15. L
8. C
16. M
Questão B:
Seu texto deve ter ficado mais ou menos assim:
Antigamente as moças eram educadas e elegantes e eram todas muito lindas e
boas donas de casa. A festa de aniversário mais esperada era quando completavam 18
anos, pois nessa idade eram, em geral, pedidas em casamento. Os rapazes, mesmo que
não fossem bonitões, paqueravam as moças, de longe, sem se manifestarem. E se
recebiam um “não” para suas pretensões de namoro, o jeito era procurar outra
namorada.
As pessoas, quando corriam, era porque estavam com muita pressa e não eram
surpreendidas por qualquer coisa, ruim ou boa. Algumas davam pequenas informações
com a esperança de obter outras que ninguém sabia e com isso julgavam saber mais que
os outros. Enquanto isso, havia os que ficavam em situação difícil ou, às vezes,
embaraçosa, porque eram iludidos, abandonados e desapareciam sem deixar vestígios.
Os mais velhos, depois das refeições, faziam a digestão indo passear em locais
frescos e calmos. E tomavam cuidado para não se resfriarem. Os jovens iam ao cinema e
chupavam bombons de hortelã e gengibre. Ou sonhavam em andar de avião. Estes, sem
nenhuma vergonha, se metiam em confusão e situações difíceis; por isso se enganavam
e perdiam bons negócios.
Havia os que recebiam uma boa educação quando crianças e quando estavam
em ambientes requintados sabiam se comportar devidamente. Se enviavam alguma
mensagem a alguém, o portador da mesma assegurava que a entregaria. Outros, quando
encontravam um padre, tiravam o chapéu em sinal de respeito e diziam: “Louvado seja
Nosso Senhor Jesus Cristo!” e o padre sempre respondia: “Para sempre seja louvado!” E
os que tinham mais co-nhecimento, se alguém espirrava – sinal de alguma alergia ou
gripe – eram impelidos a dizer: “O Senhor esteja contigo!”
Os presunçosos, apesar de não terem conhecimento suficiente sobre alguns
assuntos, queriam demonstrar que os entendiam aí se complicavam. Era natural que
com eles as pessoa se atrapalhassem e perdessem a paciência. Haviam os que ficavam
magoados por qualquer negativa que lhes fizessem ou se se referissem aos seus
familiares de modo sincero ou verdadeiro sobre seu mau comportamento. Era verdade
que os meninos eram bem ardilosos e até fumavam escondido. As meninas, não: essas
eram muito educadas, não faziam bagunça, verdadeiras “ladies”.
Antigamente, certos homens faziam negócios e perdiam tudo; outros eram
flagrados fazendo coisas erradas. E por isso tinham que explicar tudo, minuciosamente,
às autoridades. O resultado é que tinham que pagar por seus erros sofrendo as
penalidades da lei e da sociedade, bem longe dos seus familiares e amigos e até de sua
cidade.
Uns raros, bem ricos, esbanjavam dinheiro e riquezas com coisas fúteis. E outros
ouviam falar de alguns assuntos sem, entretanto, conhecer os seus detalhes. As famílias
compravam os produtos alimentícios nos super-mercados, tinham crédito no açougue e
compravam qualquer coisa que lhe fosse oferecida na porta de casa, desde que o
vendedor, quase sempre um negrinho magro, estivesse bem limpo e cheiroso. Recebiam
com satisfação a visita dos vendedores ambulantes, que viajavam por várias cidades,
levando as últimas novidades da indústria do Rio de Janeiro e São Paulo. Eles vinham
oferecer suas mercadorias e quase sempre deixar como presente ao dono da casa, algum
objeto que lhe fosse útil e de marca conhecida. As moças se maquiavam e ficavam à
janela para vê-los descer do cavalo. Infelizmente alguns não eram confiáveis.
Se acontecia de um indivíduo ficar gripado ou resfriado, mandava um
mensageiro chamar o médico e, depois ia à farmácia comprar os remédios, quase sempre
de cápsulas ou pílulas de cheiro ruim. Doença sem cura era a tuberculose.
Antigamente as mansões eram habitadas por espíritos que assombravam as
pessoa; os meninos tinham verminose; os gatos tinham asma; os homens usavam
cuecas, sapato de couro de cano médio e paletó engomado. A casimira tinha de ser de
boa qualidade, da marca X.P.T.O. London. Os fotógrafos eram chamados de retratistas e
os cristãos quando morriam, descansavam.
Mas isto foi há muito tempo atrás.
PORTUGUÊS IRADO (http://juniormax.com.br/site_portuguesirado/?p=305), acesso
em 07/12/12.
2- Fomos ao século passado com a leitura do texto “Antigamente” , de Drummond. O texto a
seguir retrata um vocabulário restrito aos jovens. Leia-o com atenção:
Uma mensagem comum em fotologs...
Oiieee..td bemmm galera!?! Espero q
sim...
Esse fotineh um pokito antigs, mas como
eu xonei nelaaa to postandu... pra qm
naum conhece, esse eh meu cafofo, moh
lindu, fla seriu!! Ahuahuaha. Essa semana
foi xuper cansativa, altas provas e talz... nd
+ a declarar...
Lunch entre amigonasss, tarde
sussa...=) dps preciso de ajuda nakele post
special das p.i’s*. dessa GNT!! Hauhauha...
Aguardem!! Grd bjooo...
Folha de S. Paulo, São Paulo, 24
abr.2005, p.C6
(* P.i’s: piadas internas)
Pode-se dizer, a respeito da constituição textual em “Uma mensagem comum”:
( ) um tipo discursivo cuja estruturação recruta elementos de textos mais formais, como se
vê na afirmação “nd + a declarar”.
( ) formas linguísticas que atestam a velocidade das mudanças sofridas pela língua escrita
padrão, como no caso do diminutivo “fotin”.
Fique atento!
Campo semântico é todo conjunto constituído por
palavras ou expressões que, em função do contexto,
têm em comum o mesmo significado geral. Exemplos:
“morrer”, “bater as botas”, “falecer”, “findar”, “descansar”,
“vestir o paletó de madeira” e “encontar-se com Deus”
fazem parte do mesmo campo semântico.
(
) um vocabulário restrito aos jovens, cuja Composição remete a um único campo se-
mântico, como em “galera”, “amigonasss” e “gnt”
.
( ) sequências de orações sem valor referencial, como se pode observar em expressões do
tipo “xonei nelaaa to postandu...”
( x ) um padrão de organização segundo normas da língua falada e recursos da escrita,
como a segmentação das palavras em “moh lindu, fla seriu!!”
Professor(a), o texto, por meio da língua escrita, tenta reproduzir a língua falada. Para isso
utiliza, entre outros recursos, a segmentação (“abreviação”).
O que dizem os linguistas
A linguagem não é usada apenas em sua
função referencial, *ou seja, apenas para transmitir
informações. Uma das funções da linguagem é a
de comunicar ao ouvinte a posição que o falante
ocupa ou acha que ocupa na sociedade em que
vive. As pessoas falam para serem “ouvidas”, às
vezes para serem respeitadas e também para
exercer influência no ambiente em que realizam
seus atos linguísticos.
As “regras de linguagem” levam em conta as
relações sociais entre os interlocutores. Todo
falante tem que agir de acordo com essas regras ,
isto é, tem que “saber”: a) quando pode falar e
quando não pode; b) que tipo de “assuntos” podem
ser abordados; c) que variedade linguística é
conveniente empregar.
Fonte de pesquisa: Maurizzio Gnerr. Linguagem, escrita e poder.
São Paulo: Martins Fontes, 1987, p.3-4
A seguir, ouviremos a música de Gilberto Gil:
PELA INTERNET
Gilberto Gil ( 1997 )
Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Que veleje nesse informar
(http://www.youtube.com/watch?v=7ysEoKtfU2I) acesso em 06/12/12.
Gilberto Gil, na música Pela Internet, apresenta sua visão sobre a Internet,
meio de comunicação mundial que vem revolucionando nossos hábitos de obtenção
e transmissão de informações. Esse universo é trabalhado poeticamente:
•
o verbo "navegar" é uma metáfora para a atividade de entrar em contacto com as
informações disponíveis via Internet. Faz parte do campo semântico de mar, expresso,
na música, por meio dos seguintes vocábulos: velejar, jangada, barco, vazante, maré,
mar, porto, rede.
•
amplitude espacial abarcada pela Internet, a "rede", vem apresentada sob a forma de
países e regiões longínquas: Taipé, Calcutá, Helsinqui, Connecticut, Nepal, Gabão,
Milão, Japão.
•
a partir do vocábulo "vírus", referindo-se a programas que atacam e destroem
informações, cria-se uma associação com Macmilícia de Milão, hacker mafioso,
polícia carioca.
•
o vocabulário específico de informática aparece em todo o texto, promovendo a
articulação entre a realidade e o universo poético: web-site, home-page, gigabytes,
disquete, e-mail, micro, site, hot-link, infomaré, infomar, acessar, contactar, rede,
vírus.
Tanto no título como no final da música, Gil faz uma homenagem a Donga, parodiando a
música "Pelo telefone", que, na sua época, teve o papel que hoje cabe à Internet. Na
paródia, o telefone é substituído pelo celular, condizente com a época atual.
"O chefe da folia
pelo telefone
manda me avisar
que com alegria
não se questione
para se brincar"
(Donga)
(http://www.youtube.com/watch?
v=9eHx7NgUht8) acesso em 06/12/12
“O chefe da polícia
carioca avisa pelo celular
que lá na Praça Onze
tem um videopôquer
para se jogar."
(Gil)
(http://www.youtube.com/watch?
v=7ysEoKtfU2I) acesso em 06/12/12
Atividade (http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/propostas.html) acesso em 06/12/12.
Cenas dos próximos capítulos da nossa novela sociolinguística...
VERBO, PRA QUE TE QUERO?
- simplificação das conjugações verbais –
(...)
Na noite seguinte, depois que todas se instalam, e enqunto Irene consulta suas
anotações, Emília toma a palavra e diz:
- Irene, hoje eu prestei bastante atenção no modo de falar da Eulália e percebi que
ela não respeita as conjugações verbais.
- Como assim, “não respeita”? – quer saber Sílvia.
- Ela não conjuga os verbos como a gente – explica Emília. – Ela diz, por exemplo,
“eles gosta”, “nós gosta”, “vocês gosta” e assim por diante...
(...)
- Os pesquisadores que estudam os falares regionais e não-padrão têm verificado
que de Norte a Sul do Brasil existe uma tendência generalizada a reduzir as seis formas do
verbo conjugado a apenas duas.
Conjugação do verbo amar no presente do indicativo
Português padrão
Português não-padrão
Eu amo
eu amo
Tu amas
tu/você ama
Ele/ela ama
ele ama
Nós amamos
nós/ a gente ama
Vós amais
vocês ama
Eles/elas amam
eles/elas ama
- O PNP, como vimos ontem, é uma língua “enxuta”, que evita as redundâncias, o
excesso de marcas para indicar um único fenômeno. Assim como no caso dos plurais, onde
a marca de plural fica limitada somente ao artigo ou à primeira palavra, no caso dos verbos,
ao que parece, basta a presença do pronome-sujeio para indicar a pessoa verbal.
(..)
- Na verdade, a redução de seis formas verbais do PP para duas do PNP só nos
surpreende porque estamos acostumados demais ( eu diria até “viciadas”) com o esquema
tradicional de conjugação do português-padrão, que é um retrato fiel do quadro de
conjugação latina...
- Mas como é então a conjugação nossa de cada dia? – pergunta Emília.
- Se você prestar atenção nas formas verbais utilizadas diariamente, por pessoas
que usam o português-padrão, mas na sua variedade falada, coloquial, vai ver que nós
também simplificamos bastante o nosso quadro de conjugação verba. Veja só...
Português
Português
Padrão literário
padrão coloquial
Eu amo
eu amo
Tu amas
você ama
Ele ama
ele ama
Nós amamos
a gente ama
Vós amais
vocês amam
Eles amam
eles amam
- Eu estava pensando uma coisa...
- Que coisa? – pergunta Sílvia.
- É essa história de fazer os alunos decorarem as formas conjugadas de tu e vós –
responde Vera. – Ninguém mais usa essas formas. Quando é que a gente ouve alguém
falando “vós vos divertistes muito”?
- Mais uma vez sua intuição está correta, Verinha – diz Irene. – Esse quadro de
conjugação que as gramáticas tradicionais apresentam tem realmente alguns problemas
para o ensino, justamente por estar muito distante da língua viva dos falante do português
brasileiro. O pronome tu, por exemplo, no Brasil, é usado em algumas regiões específicas, e
raramente a forma verbal que o acompanha corresponde à das gramáticas e livros didáticos.
O pronome vós, então, como você bem notou, é um verdadeiro dinossauro linguístico: está
extinto na fala dos brasileiros há muito tempo...
(...)
- Eu acho importante que a gente apresente essas formas verbais aos alunos – diz
Irene em seguida -, para que eles as reconheçam quando tiverem de ler um texto clássico,
por exemplo. Mas querer que eles decorem tudo para fazer prova e ainda tirar ponto por não
terem acertado, considero um verdadeiro crime contra os direito humanos dos educandos.
- Apoiado, Irene! – aplaude Emília. – E não se esqueça que é também um crime
contra os direitos humanos dos professores!
- Claro que é – confirma Irene. – E não é só esse o problema. Além de cobrarmos o
que não é necessário, deixamos de apresentar fenômenos muito mais interessantes e vivos.
- Por exemplo? – interessa-se Vera.
- Por que as gramáticas e os livros insistem em dizer que você é um “pronome de
tratamento” de “terceira pessoa”? – questiona a professora. – Não está óbvio, claro límpido
e evidente que você é um pronome sujeito do caso reto usado para designar a segunda
pessoa do discurso, aquela com quem eu estou falando, a quem estou me dirigindo?
- É mesmo – diz Emília.
- Aliás, a classe de palavras que recebe o nome de verbos merece um amplo
estudo da parte dos linguistas, os gramáticos e dos autores de livros didáticos...
Segundo Possenti (2001, p.65) a definição de gramática como
conjunto de regras que são seguidas – é a que orienta o trabalho dos
linguistas, cuja preocupação é descrever e/ou explicar as línguas tais
como elas são faladas. De acordo com o linguista, pode haver
diferenças entre as regras que devem ser seguidas e as que são
seguidas, em parte como consequência do fato que as línguas mudam e
as gramáticas normativas podem continuar propondo regras que os
falantes não seguem mais – ou regras que muito poucos falantes ainda
seguem, mas apenas raramente.
Para Possenti (2001, p.66), ao observar-se as conjugações
verbais, verifica-se que algumas formas não existem mais, ou só
existem na escrita. Em especial:
a) as segundas pessoas do plural ( vós fostes, vós iríeis, etc)
desapareceram. Hoje, se diz “vocês foram”, “vocês iriam”, etc.
b) os futuros sintético não se ouvem mais, embora ainda se usem na
escrita. Na modalidade oral, o futuro é expresso por uma locução
( vou sair, vai dormir, etc), e não mais (sairei, dormirá...
c) a forma do infinitivo não tem mais o “R” final. Ninguém fala, de fato,
“vou dormir”, mas “vou dormi”.
d) apenas em algumas regiões se usa o ”tu”, na maior parte do país, o
pronome de segunda pessoa é “você”; no entanto, a forma “te” é
usada para expressar a segunda pessoa em posição de objeto direto
e indireto. Para a gramática descritiva, trata-se apenas de um fato,
um fato regular, isto é, constante.
e) no lugar de “nós”, mais frequentemente do que supomos, usa-se a
forma “a gente”, (a gente foi, ela viu a gente.)
Segundo Possenti (2001, p.84) boa estratégia para ensinar
língua e gramática é a prioridade absoluta para a leitura, para a
escrita, a narrativa oral, o debate e todas as formas de
interpretação (resumo, paráfrase, etc). Parece paradoxal, mas não
se incluem entre ela as lições de nomenclatura e de análise
sintática e morfológica, tão estranhamente na prática corrente.
Comida
Composição Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Sérgio Brito
Titãs
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte..
(http://letras.mus.br/titas/91453/) acesso em 07/12/12.
Cenas dos últimos capítulos:
A primeira semente
-considerações finais, por enquanto –
- Agora que vocês puseram a mão na massa e se saíram tão bem – diz Irene -, eu
gostaria de tentar fazer, junto com vocês, uma conclusão geral do nosso “curso”. (...) A
minha esperança é de que alguns princípios essenciais tenham ficado claros e sirvam de
apoio para uma nova maneira de encarar as variedades não-padrão.
- Que princípios são esses? – pergunta Vera.
- Podemos resumi-los assim – diz Irene, distribuindo a última de suas folhas
impressas, onde as três jovens leem:
A “unidade linguística do Brasil” é um mito: em nosso país,
além das línguas indígenas e das línguas trazidas pelos
imigrantes, fala-se diferentes variedades da língua
portuguesa, cada uma delas com características próprias,
com diferenças em seu status social, mas todas com uma
lógica linguística facilmente demonstrável;
Falar diferente não é falar “errado”;
Tudo o que parece erro no PNP tem uma explicação lógica,
científica (linguística, histórica, sociológica, psicológica);
Traços característicos do PNP (considerados “erros”) se
encontram em outras línguas, o que mostra que eles não
são uma prova da “ignorância” ou da “deficiência mental”
do nosso povo.
Muitos aspectos considerados “errados” no PNP ( e no PP
do Brasil) são na verdade arcaísmos, vestígios da língua
portuguesa falada muitos séculos atrás;
A língua escrita não deve ser usada como camisa-de-força
para submeter e aprisionar a língua falada, a escrita é
tentativa de representação da língua falada e nasceu
centenas de milhares de anos depois de o homem ter
começado a falar.
Depois de uma breve pausa, ela volta a falar:
- Descrever toda a gramática do PNP, isto é, todas as regras de seu
funcionamento, é uma tarefa difícil e trabalhosa. A minha intenção aqui, com vocês,, e
também no livro que estou preparando, é bem menos ambiciosa. Eu simplesmente quero
deixar claro que o sinal que temos de colocar entre PNP e PP é um sinal de diferença e não
um sinal de inferioridade.
(...)
Na rodoviária de Atibaia...
- Recebi hoje à tarde uma proposta de uma editora para publicar o meu livrinho
sobre o português não-padrão...
- Que maravilha, Irene! – comemora Sílvia.
- E já sabe como vai se chamar o livro? – pergunta Vera.
- ...Estou pensando em dar ao livro o título de A Língua de Eulália... Afinal foi
observando a variedade linguística dela que me veio a ideia de estudar o assunto...
- E o título tem um detalhezinho linguístico interessante. O nome Eulália, em grego,
quer dizer “a que fala bonito, a que fala bem, a que fala certo”. Não é uma delícia?
Referências bibliográficas:
AMARAL, Emília, FERREIRA, Mauro, LEITE, Ricardo, ANTÔNIO,
Severino. Novas Palavras – nova edição. Livro do Ensino Médio, vol1.
São Paulo. FTD, 2010
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso – por uma pedagogia da
variação linguística. Parábola Editoria, 2005.
________ A língua de Eulália- novela sociolinguística.Editora Contexto,
2010.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna – a
sociolinguística na sala de aula. São Paulo. Parábola Editorial, 2009.
CEREJA, Willian Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Todos os
Textos – uma proposta de produção textual a partir de gêneros e
projetos. São Paulo. Editora Saraiva,2011.
ILARI, Rodolfo e POSSENTI, Sírio. Português e ensino de gramática.
IN: Projeto Ipê, Língua Portuguesa. São Paulo, Secretaria da Educação/
CENEP, vol. II.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Ensino
de Jovens e Adultos. Caderno 1 – Fase II Ensino Fundamental. 1992.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola.
Campinas, SP. Mercado das Letras: Associação de Leitura no Brasil,
2001.
________, De qualquer jeito? Os “erros” de gramática deveriam ser
mais observados para verificarmos como são regulares. Revista Carta
na Escola. Edição nº 65, abr. 2012, p.57.
SCHERRE,Maria Marta Pereira. Doa-se lindos filhotes de poodle –
Variação Línguística, Mídia e Preconceito. São Paulo. Parábola Edioria,
2008.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo. Editora
Ática, 2011.
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