FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2012 Título: VARIEDADES LINGUÍSTICAS: Diferenças e aceitações na EJA Autor Ana Cristina da Silva Covalchuk Disciplina/Área (ingresso no PDE) Língua Portuguesa Escola de Implementação Projeto e sua localização CEEBJA do Município da escola União da Vitória Núcleo Regional de Educação União da Vitória Professor Orientador Bernardete Ryba Instituição de Ensino Superior FAFIUV Relação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho) Resumo (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples) Estudar e analisar a Variação Linguística presente nos textos produzidos no Ensino Médio é o objetivo desse projeto, pois observa-se que linguagem presente nas produções dos alunos assemelha-se à da variedade estigmatizada, popular, afastando-se assim, da variedade prestigiada, principalmente no que diz respeito ao uso dos tempos verbais a suas concordâncias. Em toda comunicação, a variação das formas linguísticas é constante. Há vários fatores que influenciam nessa variação. Os principais são os fatores geográficos, de classe, de idade, de sexo, etnia, de profissão, grau de instrução, etc. É importante o aluno perceber que a língua é o veículo linguístico da comunicação e que não a usamos sempre do mesmo jeito, adequamos nossos textos à situação comunicativa do momento. Deve-se ter em mente que variedades não são erros, mas diferenças e que têm explicações no próprio sistema evolutivo da língua. Envolver os alunos com leitura, escrita e reescrita de textos que façam sentido, de múltiplos sentidos, que provoquem prazer, textos vivos, tanto na narrativa oral quanto na escrita e, em todas as formas de interpretação, dos mais variados gêneros são algumas das estratégias aqui apresentadas para que o português não-padrão seja visto como diferente e não como inferior do português padrão. Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Variação linguística –– português padrão –diferenças aceitações Formato do Material Didático Unidade didática Público Alvo (indicar o grupo para o qual o material didático foi desenvolvido: professores, alunos, comunidade...) Alunos do Ensino Médio da EJA Apresentação Segundo Tarallo (2011, p.8) em toda comunicação, a variação das formas linguísticas é constante. As variantes linguísticas são diferentes maneiras de se dizer a mesma coisa, num mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade. Para Ilari e Possenti (1985) a variação linguística presente na fala e na escrita dos alunos é apenas uma das variedades que a Língua Portuguesa oferece aos seus falantes e que o(a) professor(a) de língua materna deve trabalhar. Segundo Possenti (2001, p.36) “a variedade linguística está entre as variedades as mais funcionais que existem; quanto mais numerosas forem, mais expressiva pode ser a linguagem humana”. E segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.25) “sempre haverá variação de linguagem nos domínios sociais”. Em nossa sociedade há falares mais prestigiados e menos prestigiados. Damos o nome de norma urbana de prestígio aos falares urbanos que em uma comunidade linguística desfrutam de maior prestígio político, social e cultural. O uso da língua empregado pelos falantes cultos da área urbana costuma ser prestigiado socialmente, tanto na fala, quanto na escrita. Mas a língua pode se manifestar em outras variedades, ou seja, outras maneiras de falar e escrever, diferentes da norma de prestígio e tão legítimas quanto. De acordo com Bortoni-Ricardo (2009, p.37) erros de português são simplesmente diferenças entre variedades da língua. Segundo a linguista (2009, p.10), a Sociolinguística é uma disciplina que reúne dois campos de interesse: o estudo da língua e o estudo da sociedade. Possui o compromisso a luta contra todas as formas de discriminação e exclusão social pela linguagem, porque não basta descrever e analisar as relações entre língua e sociedade – é preciso também transformá-las. Para Possenti (2001, p.84) boa estratégia para ensinar língua e gramática é a prioridade absoluta para a leitura, para a escrita, a narrativa oral, o debate e todas as formas de interpretação (resumo, paráfrase, etc). Parece paradoxal, mas não se incluem entre ela as lições de nomenclatura e de análise sintática e morfológica, tão estranhamente na prática corrente. Com essa Unidade Didática, proponho ao(à) professor(a) de Língua Portuguesa atividades que abordam as Variações Línguísticas , em diferentes gêneros textuais. Sabe-se que o(a) professor(a) de Língua Portuguesa precisa sempre encontrar métodos interessantes e envolventes para que seus alunos entendam as regras gramaticais em textos vivos, coerentes, interessantes e bem produzidos. Textos esses tanto na linguagem oral quanto na escrita, dos mais variados gêneros. Aprender a se escrever escrevendo e reescrevendo textos que façam sentido, textos de múltiplos sentidos. Aprender a ler, lendo textos que provoquem prazer. Esse é o objetivo principal de toda aula de Língua Portuguesa. Neste primeiro momento, o(a) professor(a) deverá expor aos alunos o trabalho que será realizado, com base na reflexão sobre a Variação Linguística apresentada em diversos gêneros textuais. Após essa exposição, deve propor-lhes a contextualização com o tipo de gênero a ser estudado. A primeira atividade a ser trabalhada será estabelecer contato com textos que apresentem a Variação Linguística. Para iniciarmos a conversa sobre a Língua Portuguesa como língua materna, leremos um pequeno trecho do livro “Rememórias Dois” de Carmo Bernardes.(1969, p.18-20) Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o não entender nadinha do que vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, tinha ladineza e entendimento. Na rua e na escola – nada; era completamente afrásico. As pessoas eram bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo. (...) Um dia cheguei atrasado e dei a desculpa de que o relógio lá de cada estava “azangado”. Aí o mestre entortou o canto da boca e enrugou o couro da testa e derreou a cabeça e ficou muito tempo assim de esguelha fisgado em mim, depois estralou: - O relógio está o quê?!! (...) DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E PLURALIDADE CULTURAL NO BRASIL Bortoni-Ricardo,(2009, p.18) utiliza esse texto para trabalhar a SOCIOLINGUÍSTICA em sala de aula, pois para a linguista, esse exemplo, além de ensinar várias palavras e expressões novas que comprovam a diversidade da cultura e da linguagem rurais, conduz a uma reflexão sobre a Língua Portuguesa no Brasil, suas características e sua variação, especialmente, nesse contexto, as diferenças entre o Brasil urbano e o Brasil rural. Voltando à narrativa do escritor Carmo Bernardes, na escola do Mestre Frederico percebe-se a experiência do autor, em relação à fala: em casa, com sua parentalha, na rua com os filhos de baiano e na escola, onde encontrava um palavreado grego de tudo. Esses são os três ambientes onde a criança desenvolve seu processo de sociabilização: a família, os amigos e a escola: (seus domínios sociais). DOMÍNIO SOCIAL É UM ESPAÇO FÍSICO ONDE AS PESSOAS INTERAGEM ASSUMINDO CERTOS PAPÉIS SOCIAIS. (Bortoni-Ricardo,2009, p.23.) Professor (a), sugiro que proponha a seus alunos a seguinte discussão: “Como os papéis que as pessoas exercem são determinantes da linguagem que elas usam? Em outras palavras, quais as diferenças entre a linguagem do marido e da mulher, ou da mãe e dos filhos? Reflita com eles, também, sobre o emprego de palavras com terminologia técnica, inclusive os estrangeirismos e jargões, quando estão dando entrevistas ou exercendo papéis sociais que exigem usos especializados da língua.( Bortoni-Ricardo,., 2009, p.24) Atividade 1: Baseado em tudo que foi lido e explicado, escreva um pequeno texto, em grupo, para apresentar, encenar, de maneira clara as diferenças linguísticas que ocorrem nos três domínios sociais: família, amigos e escola. ATIVIDADE Professor(a) esse texto ( uma peça de teatro) deve ser apresentada para todos da turma de modo que se perceba bem as diferenças, ou seja, a variação linguística que ocorre nesses três domínios sociais. A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA Leia o fragmento da história em quadrinhos a seguir, observando a fala do personagem do Chico Bento, de Maurício de Sousa. http://www.aflordolacio.com.br/wordpress/?p=3017 Comentando a história de Chico Bento: A professora teve uma reação típica dos professores tradicionais, que acreditavam que deveriam corrigir severamente os usos da língua que diferem da norma considerada “culta”. Hoje, os professores também se deparam com esses “erros de português”. Isso ocorre no momento em que o aluno usa flagrantemente uma variante não padrão e o professor intervém, fornecendo a variante padrão. “Erros de português” são simplesmente diferenças entre variedades da língua. Essas diferenças se acentuam entre as variedades usadas no lar, onde predomina a oralidade com relações de afeto e informalidade, das variedades de letramento, que é cultivada na escola. Considerando uma pedagogia culturalmente sensível aos saberes dos alunos, o comportamento do(a) professor(a) frente a essa situação deve incluir dois componentes: a identificação da diferença e a conscientização da diferença, a fim de que o próprio aluno comece a monitorar seu próprio estilo, sem prejuízo do processo ensino/aprendizagem. O professor aproveitaria a oportunidade para falar aos alunos sobre as diferenças sociolinguísticas e mostraria ou melhor explicaria a variante adequada aos estilos monitorados orais e à língua escrita. (Bortoni-Ricardo,2009, p. 37-43. Segundo Calbuci, (Museu da Língua Portuguesa,2012), http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/)acessado em 05/12/12 A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem.” (http://variantesdobrasil.blogspot.com.br/) acessado em 02/12/12 Analisando o mapa do Brasil podemos verificar que a heterogeneidade linguística está vinculada a heterogeneidade social. A variedade linguística é o modo de falar a língua característico de determinado grupo social ou determinada região geográfica. Bortoni-Ricardo construiu um modelo simples e ao mesmo tempo útil para o estudo das interações verbais, dentro de sala de aula. O primeiro é o rurbano; são as periferias os bairros de nossas cidades, onde vivem importantes contingentes de pessoas que migraram do campo para a cidade, em busca de melhores condições de vida, e que ainda não se integraram à cultura urbana e não abandonaram sua cultura rural. Scherre (2008, p.145-146) exemplifica bem o preconceito existente com o famoso “r” retroflexo, traço de identidade local de amplas regiões brasileiras distintas: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, independente de classe social, de anos de escolarização, de etnia, de poder aquisitivo, de local de moradia, de gênero, de faixa etária. É um traço de identidade local e é fortemente discriminado, fora de suas áreas nativas, é alvo de preconceito linguístico. É o “r” vibrado nas palavras “porta”, ”sorvete”, “curva”, etc. Para ajudá-los a compreender melhor sobre Variação Linguística, vamos ler a Novela Sociolinguística “A língua de Eulália” de Marcos Bagno, que explicará de modo claro o que é e como podemos melhor entender esse assunto. Observe com atenção a conversa entre as amigas Vera, Emília, Sílvia e sua tia Irene, professora universitária aposentada da disciplina de Língua Portuguesa e Linguística, reunidas na sala grande em volta da lareira para um bate-papo informal. QUE LÍNGUA É ESSA? - o mito e a realidade; o errado e o diferente; o eu e o outro. O mito da língua única À noite, como ficou combinado, reúnem-se todas na sala grande da lareira, devidamente acesa. Diante do fogo há um largo tapete felpudo sobre o qual foram espalhadas algumas almofadas grandes e macias. No centro, uma mesinha baixa com um bule de chá, outro de chocolate, canecas de louça branca, um prato com biscoitinhos, outro com um apetitoso bolo inglês. (...) - E então, essa aula começa ou não começa? – pergunta Sílvia, tornando a encher a xícara de chocolate. - Aula? – surpreende-se Irene. – Eu tinha pensado só num bate-papo, nada muito sério... Afinal, estamos todas de férias, não é? – e pisca o olho para a sobrinha. - Mas bater papo com alguém que sabe a Divina Comédia de cor vale por uma aula... – diz Emília. Sorriso geral. - Já que você insiste, vamos começar - diz Irene. – E quero começar pedindo a vocês que me respondam: “Quantas línguas se fala no Brasil?” Silêncio. As três, tímidas, não ousam arriscar uma resposta. Emília cutuca Vera com o cotovelo e diz: - Vera, você faz Letras: é obrigada a saber a resposta... Vera, assim convocada em seus brios acadêmicos, pigarreia e diz: -Bom, o que a gente aprende na escola, desde pequena, é que só se fala português. - Isso mesmo – confirma Sílvia. – No Brasil a gente fala português de Norte a Sul. Irene escuta com atenção. Depois começa a falar: - É bem a resposta que eu esperava. E não havia por que ser diferente. Meninas, na tradição de ensino da língua portuguesa no Brasil existe um mito que há muito tempo vem causando um sério estrago na nossa educação. - Que mito é esse, tia? - É o mito da unidade linguística do Brasil. As três moças se entreolharam, surpresas. Irene prossegue: - O mito da unidade lingüística do Brasil pode ser resumido na resposta que a Vera e a Sílvia me deram agora há pouco: “No Brasil só se fala uma língua, o português”. Um mito, entre outras definições possíveis, é uma idéia falsa, sem correspondente na realidade. (...) - Primeiro, no Brasil, não se fala uma só língua. Existem mais de duzentas línguas ainda faladas em diversos pontos do país pelos sobreviventes das antigas nações indígenas. Além disso, muitas comunidades de imigrantes estrangeiros mantêm viva a língua de seus ancestrais: coreanos, alemães, italianos, etc..(...) Talvez vocês se surpreendam com o que vou dizer agora, mas não existe nenhuma língua que seja uma só. - Como assim, Irene? – pergunta Emília, espantada. – Que quer dizer isso? - Isso quer dizer que aquilo que a gente chama, por comodidade, de português não é um bloco compacto, sólido e firme, mas sim um conjunto de “coisas” aparentadas entre si, mas com algumas diferenças. Essas “coisas” são chamadas variedades. - Puxa vida, estou entendo cada vez menos – queixa-se Sílvia. - Você certamente já ouviu um português falar, não é? - Já – responde Sílvia. - Já percebeu as muitas diferenças que existem entre o modo de falar do português e o modo de falar nosso, brasileiro. Essas e outras diferenças – prossegue Irene – também existem, em grau menor, entre o português falado no Norte-Nordeste do Brasil e o falado no Centro-Sul, por exemplo. Dentro do Centro-Sul existem diferenças entre o falar, digamos do carioca e o falar do paulistano. E assim por diante. Após a leitura, do texto acima, assista aos vídeos: 1º “A língua de Eulália (Apresentação)” (http://www.youtube.com/watch? feature=player_detailpage&v=xRLbYay3yZY) 2° “Preconceito Linguístico - Marcos Bagno” (http://www.youtube.com/watch?v=9dN1krnIzTc) 3º “Nelson Freitas no Jô Soares (Variações (http://www.youtube.com/watch?v=NrtrLbDPC-Y) regionais). 1-Em seguida, pesquise palavras ou expressões que são usadas nas diferentes regiões do Brasil, mas que significam a mesma coisa. Organize uma tabela, separando por região. Professor(a), sugiro que dê uma olhadinha nos seguintes endereços para auxiliá-lo na pesquisa e sugestão para seus alunos. Sempre lembrando que há outros endereços e que fica a seu critério outras sugestões. 1(http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/17-4.pdf). Trata-se de um trabalho de uma professora PDE 2008 sobre ”Valorizando as variantes regionais: ditos populares”. 2” Os diversos falares regionais – um olhar curioso” (http://www.portugues.com.br/gramatica/os-diversos-falares-regionais-um-olhar-curioso.html) 3” Quais palavras da língua portuguesa foram incorporadas pelo inglês?” http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=category&id=30&Itemid=69) 4” Variação lingüística regional na fala dos jovens (http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=category&id=30&Itemid=69) 5” Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda? (http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=category&id=30&Itemid=69) 2- Que tal usar sua criatividade e encenar esses diálogos para caracterizar bem as diferenças linguísticas existentes nas diversas regiões do país? Vale ler o texto abaixo e refletir sobre variantes linguísticas e o preconceito. ASSALTANTE PARAIBANO ('sertanejo'; lógico!!) - Ei, bichim... Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula, num se cague e num faça munganga... Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim, se não enfio a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora... Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da moléstia. ASSALTANTE BAIANO - Ô meu rei...(pausa) Isso é um assalto...(longa pausa) Levanta os braços, mas não se avexe não... (outra pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado... Vai passando a grana, bem devagarinho (pausa pra pausa) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado. Não esquenta, meu irmãozinho, (pausa) Vou deixar teus documentos na encruzilhada. ASSALTANTE MINEIRO - Ô sô, prestenção... isso é um assarto, uai. Levanta os braço e fica quetin quêsse trem na minha mão tá cheio de bala... Mió passá logo os trocados que eu num tô bão hoje. Vai andando, uai! Tá esperando o quê, uai! ASSALTANTE CARIOCA - Seguiiiinnte, bicho ...Tu te ferrou, mermão. Isso é um assalto. Perdeu, perdeu! Passa a grana e levanta os braços, rapá. Não fica de bobeira que eu atiro bem pra c... Vai andando e se olhar pra traz vira presunto. ASSALTANTE PAULISTA - Ôrra, meu.... Isso é um assalto, mano. Levanta os braços, mano... Passa a grana logo, mano. Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pá comprar o ingresso do jogo do Curintia, mano... Pô, se manda, mano.... ASSALTANTE GAÚCHO - O guri, ficas atento... Bah, isso é um assalto. Levanta os braços e te aquieta, tchê! Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê. Passa as pilas prá cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala. ASSALTANTE LÁ EM BRASÍLIA - Querido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas: Energia, Água, Esgoto, Gás, Passagem de ônibus, Imposto de Renda, Licenciamento de veículos, Seguro Obrigatório, Gasolina, Álcool, IPTU, IPVA, IPI, ICMS, PIS, COFINS, CPMF, IMPOSTO DE RENDA ETC. file:///C:/Users/Ana%20Cristina/Downloads/Variantes%20do%20Brasil.htm 3 Leia com atenção o texto de Jorge Amado. Um texto bem humorado que fala sobre as diferenças entre o português falado no Brasil e o falado em Portugal. Através dessa leitura é possível perceber como duas pessoas que falam a mesma língua não se entendem. O português de Portugal (Jorge Amado–Bahia,1964–língua portuguesa) Em Lisboa disseram a Luiz Forjaz Trigueiros que na Bahia o calor, além de tórrido, é constante, jamais faz frio. Luiz viaja ao Brasil em missão cultural, pede a Maria Helena que coloque na mala apenas roupas leves, as mais leves. Assim desembarcou desvestido com elegância para o verão feroz. Ora, em lugar de calor senegalês, uma onda fria abateu-se sobre a cidade, frio ainda mais difícil de suportar devido à umidade, o escritor sentiu-se enregelar. Dado que o inverno se manteve, não lhe coube opção senão ir à compra de agasalho. Luiz se informou, rumou para a rua Chile, a de comércio fino e caro de prendas de vestir cavalheiros e senhoras. Deteve-se ante uma loja: ali se exibia a peça exata que buscava para com ela resguardar o peito, evitar o resfriado, a gripe, a pneumonia: Luiz Forjaz pretende-se chegado a enfermidades nos brônquios e pulmões, o perigo de gripe o horroriza. De lã, chique, discreta, na cor preferida, estava à sua espera. Luiz adentrou o estabelecimento, o vendedor acorreu solícito, colocou-se a seu serviço. - Desejo comprar uma camisola – informou o literato luso, sorrindo com a delicadeza que o caracteriza. Não menos delicado o balconista: O cavalheiro se enganou, aqui só vendemos artigos masculinos, mas na loja em frente, de artigos para senhoras, o senhor encontrará variado estoque de camisolas... Não tendo entendido, algum engano havia, Luiz insistiu: - Eu disse camisola... - Já lhe disse que não temos. – O caixeiro elevou a voz desconfiando que o simpático freguês fosse surdo de nascença. - Como não tem, se acabo de ver na montra uma camisola castanha na medida própria. - Onde disse ter visto camisola? O balconista sentiu-se perdido, além de surdo o freguês falava língua desconhecida, nem espanhol, nem francês, menos ainda inglês, dialetos que o rapaz identificava, familiar de sotaques e pronúncias. Não sabendo o que dizer, riu e coçou a cabeça. Um parvo, persuadiu-se Luiz Trigueiros, e, sem mais delongas, tomando-o gentilmente pelo braço – aos parvos deve-se tratar com firmeza sem no entanto abandonar a cortesia -, levou-o até a porta de onde, triunfante, mostrou-lhe na montra a camisola castanha: - Ali está ela, a camisola, quanto vale? A risada do rapaz não era mal-educada, mas continha uma ponta de deboche: - Ilustre cavalheiro, fique sabendo que em bom português o senhor quer comprar um pulôver marrom igual ao que está na vitrine, não é isso? Por que não disse logo? Um suéter porreta e o preço é de arrasar... Encontrei Luiz no hotel envergando a camisola castanha, ou seja, o pulôver marrom, não sendo ainda o brasileiro competente que viria a ser anos depois devido aos azares da política, o escritor estava indignado: - O gajo diz-me duas palavras em francês, uma em inglês e afirma estar falando em português, em bom português. - Em nosso bom português, Luiz, o do Brasil. Hoje Luiz Forjaz Trigueiros traça na maciota nosso misturado português de mestiços, mas para escrever sua prosa escorreita, forte, terna e colorida, conserva-se fiel ao português de Portugal, à língua de Camões. AMADO, Jorge. Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memória que jamais escreverei. Rio de Janeiro. Editora Record, 1992, p.126-128. Vocabulário: Cortesia – educação, gentileza delongas – demora Desvestido – despido Dialeto – falar típico de uma região Escorreita – perfeita, elegante Gajo – indivíduo, tipo Luso – da Lusitânia (Portugal) Montra – vitrina na maciota – sem esforço, tranquilamente parvo – idiota, tolo Senegalês – do Senegal (África) solícito – gentil, prestativo tórrido – muito quente Interpretando o texto: 1 - “Ora, em lugar de calor senegalês, uma onda fria abateu-se sobre a cidade, frio ainda mais difícil de suportar devido à umidade, o escritor sentiu-se enregelar.” Como você explicaria esse parágrafo? (resposta pessoal) 2 - Por que razão o escritor português e o balconista baiano não conseguiram se entender? Por causa das diferenças no vocabulário entre português do Brasil e português de Portugal. 3 – Luiz Trigueiros comenta: ”O gajo diz-me duas palavras em francês, uma em inglês e afirma estar falando em português, em bom português”. a) Das palavras usadas pelo balconista, quais eram estrangeiras? Quais eram típicas baianas? Estrangeiras: pulôver. suéter, vitrine; Baianas: porreta, arrasar b) Por que o escritor português repete ironicamente “em bom português”? Porque ele ironiza o fato do balconista não entender o português de Portugal e ainda afirmar que o seu português ( o que ele fala) era um bom português, mesmo tendo misturado palavras de diversas origens a sua fala. 4 - O que seria falar em “bom português”? (resposta pessoal) Esse texto de Jorge Amado é legal para ser encenado. O que você acha? Legal. Vamos nos reunir, usar nossa criatividade, bom humor e improvisação. Dando continuidade à novela sociolinguística... (...) Irene faz uma pequena pausa. Toma um gole de chá e continua: - Até agora, falamos das variedades geográficas: a variedade portuguesa, a variedade brasileira, a variedade brasileira do Norte, a variedade brasileira do Sul, a variedade carioca, a variedade paulistana... Mas a coisa não para por aí. A língua também fica diferente quando é falada por um homem ou por uma mulher, por uma criança ou por um adulto, por uma pessoa alfabetizada ou por uma não-alfabetizada, por uma pessoas de classe alta ou por uma pessoa de classe média ou baixa, por um morador da cidade e por um morador do campo e assim por diante. Temos então, ao lado das variedades geográficas, outros tipos de variedades: de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais, etc. (...) - É por isso – prossegue Irene – que nós linguistas dizemos que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço. Temos até uns nomes especiais para esses dois fenômenos. A mudança ao longo do tempo se chama mudança diacrônica. A variação geográfica se chama variação diatópica. De acordo com Bagno,2009, a variação sociolinguística pode ser classificada da seguinte maneira: • Variação diatópica : modos de falar de lugares diferentes, as zonas rural e urbana. • Variação diastrática: modo de falar das diferentes classes sociais. • Variação diamésica: comparação entre a língua falada e a língua escrita. • Variação diafásica: uso diferenciado que cada indivíduo faz da língua de acordo com o grau de monitoramento que ele confere ao seu comportamento verbal. Seu modo de falar. • Variação diacrônica: comparação entre diferentes etapas da história de uma língua. As línguas mudam com o tempo. Usando novamente A Língua de Eulália e alguns textos de outros autores, vamos explanar, com mais detalhes, as variações: 1- VARIAÇÃO DIATÓPICA UMA LÍNGUA ENXUTA No serão seguinte, para surpresa de suas três hóspedes, Irene traz para a “escolinha” um aparelho de som portátil e uma fita-cassete. - Aula com música, tia? – pergunta Vera, curiosa. - Isso mesmo, Verinha – responde Irene introduzindo a fita-cassete no compartimento. - Rock, pop, brega ou tango? – arrisca Emília. - Nenhum desses gêneros, Emília – diz Irene. – O que vocês vão ouvir é uma pequena joia do nosso folclore musical, uma canção popular, aliás uma das minhas favoritas. Reparem bem na melodia, como é linda. Lá vai... (...) - É linda mesmo, tia – responde Vera. (...) - E como se chama essa música? – indaga Sílvia. - “Cuitelinho” - Eu ouvi essa palavra, mas não entendi... O que é? – perguntou Emília. - “Cuitelinho” é o nome do beija-flor em algumas partes do Centro-Sul do Brasil. (...) - Acho que nós podemos usar essa canção para tentar conhecer algumas das regras que estruturam aquilo que grande parte das pessoas instruídas chamam de “fala de caipira”, “fala de matuto”, “língua de jeca”, “língua de caboclo”, “português errado”, mas que nós, conscientes de que todas essas denominações estão recheadas de um enorme preconceito social, vamos chamar simplesmente de português não-padrão, combinado? - Combinado – repetem as três em coro. - Como eu venho repetindo, e não me canso de insistir, o fato de não ser um padrão, de não ser um modelo a ser imitado por quem se considera instruído, não significa que esta variedade do português seja “errada”, “pobre de recursos”, “insuficiente para a expressão”... Muito pelo contrário, como temos visto e veremos, ela tem uma clara lógica linguística, tem regras que são coerentemente obedecidas, e serve de material para uma literatura popular muito rica. - Aqui está a letra da canção. Cuitelinho Cheguei na beira do porto Onde as onda se espaia As garça dá meia volta E senta na beira da praia E o cuitelinho não gosta Que o botão da rosa cai, ai, ai Ai quando eu vim Da minha terra Despedi da parentáia Eu entrei no Mato Grosso Dei em terras paraguaia Lá tinha revolução Enfrentei fortes batáia, ai, ai A tua saudade corta Como aço de naváia O coração fica aflito Bate uma , a outra faia E os óio se enche d’água Que até a vista se atrapáia, ai... Domínio público Cuitelinho – Nara Leão, de Nilton Victorino Filho ( http://www.youtube.com/watch?v)= acessado em 30/11/2012 - Pelo que posso farejar aqui – diz Emília, essa música é um prato cheio para o estudo do português não-padrão. - Farejou bem, Emília – concorda Irene. – Estou pensando em usar “Cuitelinho” para explicar vários fenômenos do português não-padrão (PNP). - Qual? – quer saber Sílvia. - A questão dos plurais – respondeu Irene. - Foi mesmo o que mais me chamou a atenção, tia – diz Vera. – É impressionante: não tem um plural certo na música toda? - Lá vou eu bater na mesma tecla – suspira Irene. – Verinha o que existe aqui é um sistema diferente de formação de plurais, só isso. Lembre-se que estamos falando do português não-padrão, que tem regras gramaticais diferentes das do português-padrão. - E qual é a diferença agora? – pergunta Emília. - A diferença é a redundância – responde Irene. – No português-padrão existe aquilo que se chama marcas redundantes de plural. E Irene escreve na lousa estas duas frases: Quero te dar a linda flor amarela que brotou no meu jardim. Quero te dar as lindas flores amarelas que brotaram no meu jardim - Para informar que se trata de mais de uma flor, o PP (português-padrão) precisa de cinco marcas de plural, que modificam várias classes de palavras: artigo, substantivo, adjetivo, verbo... É o que a gente aprende e ensina na escola com o nome de concordância de número. Essa quantidade de marcas de plural é, do ponto de vista lógico, uma redundância desnecessária e, do ponto de vista econômico, um gasto excessivo, não concordam? (...) - O PNP (português-não padrão) é bem diferente disso – prossegue Irene. – Ele é mais sóbrio, mais econômico, mais modesto, menos “vaidoso”. Sua regra do plural é a seguinte: “marcar uma só palavra para indicar um número de coisas maior que um”. E esta regra é rigidamente obedecida em todos os versos da canção, reparem bem: Cheguei na bera do porto / onde as onda se espaia As garça dá meia volta,/ senta na bera da praia Eu entrei no Mato Grosso,/ dei em terras paraguaia Lá tinha revolução,/ enfrentei fortes bataia E os oio se enche d’água - A regra, como vocês podem ver, tem um hierarquia rígida: a marca indicadora de plural é usada apenas no artigo definido. Quando não há artigo, ela vai para a primeira palavra do grupo a ser pluralizado, que pode ser um substantivo ( como em “terras paraguaia”) ou um adjetivo (“fortes bataia”). Na verdade, a marca de número funciona como um “sinal”, um “aviso” de que aquele grupo de palavras está no plural: por isso ela é sempre usada na primeira palavra do grupo (...) - Essa regra de eliminação das marcas de plural redundantes só existe em português não-padrão, Irene? – pergunta Sílvia. - Que nada! – responde Irene. – O inglês e o francês têm regras bastante parecidas. (...) - Quer dizer então que quem diz “as coisa” realmente não é “burro” nem “atrasado” – comenta Sílvia. – Senão teríamos de chamar de “burros” e “atrasados” os franceses e os ingleses, e ninguém ousa fazer isso. (...) - Como já enfatizei, não vamos querer eliminar o português padrão das escolas e passar a ensinar o português não-padrão. Mas o conhecimento dessas regras serve para que fiquemos mais atentas às diferenças que existem entre as duas variedades... Diferenças que quase sempre, infelizmente, são consideradas “erros” por quem não consegue compreender a lógica que existe nelas... Segundo Possenti (2001, p.35), há fatores internos à língua que também influenciam a variação. Por exemplo, ouvem-se pronúncias alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria a semivogal, a pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe, outro). Mas não se ouve alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e jeito. Outro exemplo são as variáveis pronúncias em diferentes lugares do país, como o som que se escreve com a letra l: alguma, auguma, arguma. Mais exemplos: poderemos ouvir “os boi”, “dois cara”, “nós vai”, mas nunca “o bois”, “um caras”, “eu vamo(s)”. De acordo com Possenti, (2012, p.57): Ficou famosa a estrutura “Os livro”, por causa de uma polêmica ocorrida no ano passado. Observando falas mais informais ( dos menos letrados, mas não só), ouviremos “as garrafa”, “as menina”, “duas casa”, “os livro”, “os político”, “dez real”, etc, mas nunca ouviremos “a garrafas”, “a meninas”, “uma casas”, “o políticos”, “um reais”. Significa que, se queremos (se teimamos), podemos não gostar desse tipo de concordância, mas não podemos dizer, sendo observadores corretos e intelectualmente honestos, que aqui não há regra. Basta fazer duas listas e verificar onde estão as marcas de plural. É uma construção gramatical bastante marcada em contextos formais (discursos políticos), mas não nos informais (churrascos familiares) Bagno,(2009, p.145) comenta que a eliminação do plural redundante, marcado em geral só nos determinantes: os menino, as casa, aquelas coisa toda, etc. Também ocorre nos estilos falados menos monitorados dos falantes urbanos escolarizados, em situações distensa. Segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.10), a Sociolinguística é uma disciplina que reúne dois campos de interesse: o estudo da língua e o estudo da sociedade. Possui o compromisso a luta contra todas as formas de discriminação e exclusão social pela linguagem, porque não basta descrever e analisar as relações entre língua e sociedade – é preciso também transformá-las. Ainda, segundo a linguista (2009, p.37): Erros de português são simplesmente diferenças entre variedades da língua. Com frequência, essas diferenças se apresentam entre a variedade usada no domínio do lar, onde predomina uma cultura de oralidade, em relações permeadas pelo afeto e informalidade, como vimos, e culturas de letramento, como a que é cultivada na escola.É no momento em que o aluno usa flagrantemente uma regra não padrão e o professor intervém, fornecendo a variante padrão, que as duas variedades se justapõem em sala de aula. Para Tarallo (2011, p.8) “em toda comunidade de fala são frequentes as formas linguísticas em variação. Segundo Possenti (2001, p.36) “a variedade linguística está entre as variedades as mais funcionais que existem; quanto mais numerosas forem, mais expressiva pode ser a linguagem humana”. E, segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.25) “sempre haverá variação de linguagem nos domínios sociais”. Voltemos a música “Cuitelinho”. Para realizar as atividades a seguir, organizem-se em grupos, leiam a letra da música, organizem o pensamento e façam um comentário sobre cada questão apresentada. 1- Nos seis primeiros versos da canção, o eu poético diz que chegou num determinado lugar. Nesse lugar, ele narra alguns acontecimentos. Comentem o que entenderam dessa narração (resposta possível) O eu poético chega à beira do porto, observa as ondas da praia, vê as garças voando por sobre as ondas e percebe que o cuitelinho (beija-flor) não gosta que os botões de rosa caiam no chão. 2- Pela narração presente na canção, como vocês imaginam ser esse local? Onde seria esse local? Espera-se que o(a) aluno(a) perceba que se trata de um lugar pouco urbanizado, com bastante animais, flores, rio. Deve ser um lugar da região Centro-Oeste. 3- Qual seria a função, o trabalho do eu poético nesse local? Provavelmente ele é um soldado(militar). 4- O que ele, o eu poético, estaria fazendo nesse local? Está a postos para lutar em uma revolução. 5- Qual seria a intenção do eu poético ao contar sua história? Como chegaram a essa conclusão? (Resposta possível) O eu poético pretendeu expressar como se sente ao estar distante da família e da pessoa amada. É possível chegar a essa conclusão a partir da história contada ao longo da canção e do seu desfecho, que apresenta uma declaração de amor. Professor(a), essa atividade trabalha com a habilidade de dedução a partir de elementos presentes no texto. A chamada leitura das entrelinhas. 6 - A maneira como cena foi descrita é poética? Por quê? (resposta possível) Sim, pois a letra da música possui rimas, palavras e ações com apelo emotivo, emprega sentido figurado, construindo o belo a partir das combinações de palavras e expressões. Professor(a), sugira que ele observe a escolha e a combinação das palavras, as rimas, o jeito de falar sobre o que aconteceu na beira do porto, etc. 7 - a) Nos exercícios anteriores, você observou várias características do local em que se passa a cena no poema. Identifique no mapa, a partir das pistas dadas no texto, os locais que o eu poético mencionou na canção. O estado do Mato Grosso, no Brasil e o Paraguai b)Observando o mapa, é possível deduzir se o conflito apresentado no poema é nacional ou internacional? Por quê? É internacional, porque envolve o Brasil e o Paraguai. c) Qual é o provável conflito a que se refere o poema? A Guerra do Paraguai. VOCÊ SABIA A Guerra do Paraguai iniciou-se em novembro de 1894 e foi considerada o conflito armado mais sangrento da América do Sul. A Guerra do Paraguai também foi denominada Guerra da Tríplice Aliança, pois os adversários do Paraguai eram três: Brasil, Argentina e Uruguai. . Segundo historiadores, foi um conflito causado por interesses econômicos: o Paraguai, a nação mais desenvolvida da América do Sul, tentava obter passagem para o mar, a fim de garantir suas exportações e importações; naquela época, a Inglaterra, desejava destruir a economia paraguaia, sua maior competidora nos negócios. A Guerra do Paraguai terminou em março de 1870 com a derrota do Paraguai e a destruição de sua infraestrutura industrial. Estudando a poesia. 1- Releia os versos: Eu entrei no Mato Grosso / Dei em terras paraguaia Nesses versos, a palavra dei tem sentido de “dar algo a alguém”? Como chegou a essa conclusão? Não. Nesse caso, o sentido de “dei” é de chegar a algum lugar. O sentido dos versos da canção nos faz chegar a essa conclusão. 2- Leia novamente os versos: A tua saudade corta Como aço de naváia O coração fica aflito Bate uma, a outra faia Agora responda; a) Nesses versos há alguma palavra ou expressão em sentido figurado? Sim, há duas expressões de sentido figurado: “a saudade corta como aço de navalha” e o “coração ficar aflito”. b) Como se explicam esses versos ditos pelo eu poético: “ coração fica aflito Bate uma , a outra faia A expressão destacada significa que o coração está descompassado por causa da aflição causada pela distância da pessoa amada e pela guerra. C) Releia o texto “VOCÊ SABIA” sobre a Guerra do Paraguai e responda: Por que o eu poético sente saudades de alguém e chora? Porque enquanto a guerra está ocorrendo, os soldados, os combatentes não têm autonomia (liberdade) para tomar decisões, como voltar para casa ou abandonar o conflito, a guerra. 3 – Observe esses versos : E os oio se enche d’água Que até a vista se atrapaia, ai... a) O que o eu poético quis dizer com esses versos? O eu poético se refere ao fato de a vista ficar embaçada por causa das lágrimas provocadas pelo sentimento de tristeza e aflição. b) O autor da canção falou do ato de chorar de um jeito incomum. Por que teria feito isso? Usando uma expressão no sentido figurado, com certeza causa mais emoção no ouvinte. UM OLHAR PARA A LÍNGUA Ai quando eu vim Da minha terra Despedi da parentáia a) Nesses versos, o que significa “parentáia”? Parentes c) Cite as outras palavras presentes na canção que também são registradas dessa maneira. Diga por qual motivo foram escritas assim. É uma Navaia.. faia. oio. atrapaia É uma forma de representar a fala caipira. d) É possível afirmar que existe uma única forma de falar ou escrever na nossa língua? Não. Existem diferentes maneiras de falar ou escrever um idioma. Professor(a), é fundamental esclarecer que as diferentes formas de falar são variações linguísticas e não constituem erros. Contudo, há numa forma convencional de dizer e escrever denominada norma urbana de prestígio ou padrão. A adequação de uso da língua se dá conforme o contexto comunicacional. Além disso, é importante mencionar que o gênero textual canção permite a presença das marcas de oralidade, sem comprometer a performance. Você sabia? AS VARIEDADES DA LÍNGUA Em nossa sociedade, há falares mais prestigiados e menos prestigiados. Damos o nome de norma urbana de prestígio aos falares urbanos que em uma comunidade linguística desfrutam de maior prestígio político, social e cultural. O uso da língua empregado pelos falantes cultos da área urbana costuma ser prestigiado socialmente, tanto na fala, quanto na escrita. Mas a língua pode se manifestar em outras variedades, ou seja, outras maneiras de falar e escrever, diferentes da norma de prestígio e tão legítimas quanto. ATIVIDADE Professor(a), peça a seus alunos que tragam letras de músicas, gravações espontâneas e outro materiais e façam juntos uma pesquisa dos sintagmas nominais. Em seguida, selecionem trechos de obras literárias contemporâneas e artigos de jornais e revistas. Façam uma “caçada” aos sintagmas nominais plurais e vão observar como em todos se aplica a regra dos plurais redundantes. Veja um pequeno exemplo, retirado do livro A viagem do Descobrimento, de Eduardo Bueno,( Bortoni-Ricardo, 2009, p.60) no qual estão marcados os sintagmas nominais plurais em que se aplicaram a regra da marcação redundante, isto é, todos os elementos flexionáveis dos sintagmas foram pluralizados para concordarem com o núcleo plural. No texto, ocorrem algumas palavras que não são de uso comum no português contemporâneo. Procure o significado no dicionário. Na manhã seguinte, 22 de abril, com o vento ainda soprando de leste, o voo rasante [dos fura-buxos] levou [os homens] a repicarem [os sinos] e se apinharem [nos tombadilhos]. Ao contrário de Colombo, que “não conhecera o sono” ao longo [dos 36 dias] em que navegara pelo Atlântico disposto a concretizar o sonho impossível de atingir [as Índias] pelo rumo do poente, não há indícios de que Cabral não tenha dormido [noites impávidas] durante [os 43 dias] em que estivera no mar. Ainda assim, e talvez por isso mesmo, enquanto o alvoroço tomava conta [dos embarcadiços] Pedro Álvares, de 32 anos, mais um militar do que propriamente um navegador, ajoelhou-se em frente à imagem de Nossa Senhora da Esperança, que ele próprio escolhera como padroeira da viagem e mandara entronizar num altar erguido no convés da capitania. Era uma oração legítima: [os santos do céu] (e [os deuses do mar]) pareciam de fato estar do seu lado. Então, a cerca de 70 quilômetros da costa, [nas horas] de véspera, mais com alívio e prazer de que com surpresa ou espanto, o capitão e [seus pilotos],[os marinheiros] e [os soldados], [os sacerdotes] e [os degregados], [acotovelados todos] à mureta [das naus], puderam vislumbrar o cume de “um grande monte mui alto e redondo” erguendo-se no horizonte longínquo. ... 2 - VARIAÇÃO DIASTRÁTICA A conversa entre as três continuava animada. - O caso do plural já está resolvido – comenta Emília. – Mas tem outra coisa aqui que também me chama muito a atenção. - E o que é , Emília? – pergunta Irene. (...) - É isso que acontece também com o R torto dos caipiras? - Bem lembrado – respondeu Irene. – O R “caipira”, que nós linguistas chamamos R retroflexo, é vítima de muita zombaria por parte dos falantes das variedades urbanas... Scherre (2008, p.145-146) exemplifica bem o preconceito existente com o famoso “r” retroflexo, traço de identidade local de amplas regiões brasileiras distintas: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, independente de classe social, de anos de escolarização, de etnia, de poder aquisitivo, de local de moradia, de gênero, de faixa etária. É um traço de identidade local e é fortemente discriminado, fora de suas áreas nativas, é alvo de preconceito linguístico. É o “r” vibrado nas palavras “porta”, ”sorvete”, “curva”, etc. Irene comenta: - Muitos poetas “eruditos” confessam que gostariam de produzir versos tão simples e com uma riqueza de imagens poéticas condensadas em tão poucas palavras. Aliás, esta é a lição de arte poética sertaneja que um de nossos maiores poetas populares cearense Patativa do Assaré, nos dá em : “Cante lá que eu canto cá” Pra gente aqui sê poeta E fazê rima compreta Não precisa professo; Basta vê no mês de maio Um poema em cada gaio E um verso em cada fulo... A seguir ouviremos uma canção, outra grande joia do nosso folclore musical: ASA BRANCA Quando olhei a terra ardendo Qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Que braseiro, que fornaia Nem um pé de prantação Por falta d’água, perdi meu gado Morreu de sede, meu alazão Asa Branca Luiz Gonzaga Composição: Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira http://www.youtube.com/watch?v=A5r2_wGk1dIacessado em 04/12/2012 1- Quem é o eu lírico da canção? É um homem do campo, já que cita o gado Eu lírico: a voz do poema e a plantação. 2- Pela linguagem, o eu lírico retrata o português de qual região do País? E qual seria o nível de escolaridade do eu poético? Retrata o português da região nordestina. O eu poético tem um nível de escolaridade baixo. Nem sempre a pessoa que fala no poema é o próprio poeta. Ele pode criar uma personagem diferente dele. Um poeta adulto de sexo masculino pode escrever um poema dando voz a uma personagem feminina ou a um garoto adolescente. Essa pessoa inventada pelo poeta é chamada de eu lírio ou eu poético. Professor(a), aproveite para retomar a informação de que as Variedades Linguísticas faladas pelas camadas da população com maior nível de escolaridade gozam de maior prestígio social. 3- Imagine que os compositores tivessem empregado a norma-padrão nessa letra. Ela teria a mesma expressividade poética e o mesmo efeito de sentido? Justifique sua resposta. (Resposta possível) Não, pois a linguagem não seria condizente com o perfil do eu lírico e perderia sua autenticidade. 4- As variações da norma-padrão costumam se repetir com certa regularidade e certa lógica. Obser ve estas palavras da canção: Fonaia óio espaiar oiei Considerando o modo como elas são faladas e escritas na norma-padrão, ou na norma de prestígio, que fenômeno ocorre em todas elas? Em todas elas o fonema /lhe/, representado pelas letra lh, foi substituído dor /i/. Por que ocorre esse fenômeno? Bagno (2009, p.145) explica a pronúncia [y] da consoante palatal [y], escrita LH: telha > teia; abelha>abêia; velha>veia, etc; mudança essa que ocorre também em galelo, francês e na maioria das variedades do espanhol. Continuando a conversa entre Irene e as três amigas... Emília comenta: - Eu já reparei isso na fala de muita gente e agora na letra do “Cuitelinho” apareceu de novo... É essa preguiça que o povo tem de pronunciar o LH direito. Em vez de trabalho, diz trabaio; em vez de telha, diz teia... - Pois é esse justamente o tema da nossa conversa de hoje – explica Irene. Só que você não colocou o problema em termos adequados, Emília... - Para variar... – comenta Sílvia, em tom de pilhéria. - Não é que os falantes de PNP sejam “preguiçosos” ou, como dizem alguns gramáticos de visão estreita, “mentalmente inferiores”. Nada disso. Simplesmente, na variedade de português que eles falam não existe este som consonantal. - Não existe? – surpreende-se Vera. (...) Irene sorri, Emília diz: - Já que é proibido falar em “preguiça do povo”, como é que você explica, aqui na letra da música, espaia no lugar de “espalha”, parentaia no lugar de “parentalha”, bataia no lugar de “batalha”, navaia no lugar de “navalha”, faia no lugar de “falha” e atrapaia no lugar de “atrapalha”? - Acho que podemos, mais uma vez, comprar o português não-padrão com outras língua – sugere Irene. – No espanhol padrão, que é aquele falado na América Central, nas ilhas do Caribe e em diversos países da América do Sul. Por causa do “yeísmo”, aquilo que se escreve caballo, “cavalo”, com LL, e que os castelhanos pronunciam “cabalho”, nas outras variedades se pronuncia “cabaio”... Como se pode ver, este “problema” não é só dos falantes do português não-padrão. Irene comenta que o linguista alemão Heinrich Lausberg, diz; Por afrouxamento e, finalmente, abandono da oclusão central, forma-se do /L/ (difícil de pronunciar por causa da elasticidade reduzida do dorso da língua) muito naturalmente a fricativa /y/ como em francês, espanhol popular e dialetal. LAUSBERG, H. Linguística românica. 2.ed.Lisboa: Fundação Colouste Gulbenkian, 1981. p. - Parece que o Lausberg não sabe que a mesma coisa acontece no português nãopadrão do Brasil – comenta Vera. - O que ele quis dizer com tantos nomes complicados? Juro que não entendo a “variedade” dele – confessa Emília. - É simples – diz Irene, sorrindo. Ele quis dizer que a consoante /L/ (este símbolo é usado pelos linguistas para representar o som “lhê”) é produzida com a ponta da língua tocando o palato ( nome “oficial” do céu da boca), muito perto do ponto onde é produzida a semivogal /y/ (símbolo usado para representar o “i” de pai). Experimentem pronunciar a sequência lha-lha-lha e depois a sequência ai-ai-ai e tentem perceber para onde vai a língua. As três fazem a experiência e se divertem com os sons produzidos. - Perceberam? – pergunta Irene. – Esta proximidade, e a comodidade maior de se pronunciar o “i”, segundo Lausberg, levaram à transformação. (...) Irene comenta: - A variedade de português em que não existe o “lhe” é usada pelas pessoas menos prestigiadas da nossa sociedade... - Os trabalhadores rurais, os analfabetos, os moradores das favelas, as classes de renda mais baixa – completa Sílvia. - Ela é alvo de todo tipo de preconceito e julgamento negativo – responde Vera. (...) Irene faz uma pequena pausa, respira fundo e retoma: - É importante que nós, educadores, tenhamos em mente que o português nãopadrão é diferente do português-padrão, mas igualmente lógico, bem estruturado e que ele acompanha as tendências naturais da língua, quando não refreada pela educação formal. O PNP não é “pobre”, “carente” nem “errado”. Pobres e carentes são, sim, aqueles que o falam, e errada é a situação de injustiça social em que vivem 3 - VARIAÇÃO DIAMÉSICA Falar é fácil, escrever é difícil. Você também pensa assim? Leia o texto de Jô Soares para perceber a diferença. ‘Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala” Jô Soares. Revista “Veja” – 28.11.90 Pois é. U purtuguêis é muito fácil di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamente cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi de ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. È só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a aminha língua é u portuguêis. Quem soube falá sabi iscrevê. Conversando sobre o texto: 1- “Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala”. A afirmação acima, em sua opinião, é falsa ou verdadeira? Por quê? Resposta pessoal 2- Compare a linguagem do título e a linguagem do texto. Qual delas faz uso da norma Pois é. U purtuguêis é muito fácil di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamente cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi de ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. È só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a aminha língua é u portuguêis. Quem soube falá sabi iscrevê.padrão? (resposta possível) A linguagem do título é que faz uso da norma padrão. 3- “Quem soube falá sabi iscrevê”. Você concorda com o autor? Por quê? Resposta pessoal 4- Na sua opinião, qual a verdadeira intenção do texto? ( ) Mostrar que para escrever basta saber falar. ( ) Ensinar a diferença entre o certo e o errado. ( x ) Brincar com a diferença entre a fala e a escrita. 5 – Reescreva o texto passando da linguagem oral para a linguagem escrita: Leia com atenção o poema a seguir: AULA DE PORTUGUÊS A linguagem Na ponta da língua, Tão fácil de falar E de entender. A linguagem As superfícies estreladas de letras, Sabe lá o que quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, E vai desmatando A amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas Atropelaram-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, Em que pedia para ir lá fora, Em que levava e dava pontapé, A língua, breve língua entrecortada Do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. Airton Soares declama poesia “Aula de Português de (http://www.youtube.com/watch?v=cHaonX6_XSc) acessado em 06/12/2012. Carlos Drummond de Andrade. WWW.carlosdrummond.com.br Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1988. P.646-7 Drummond Em relação ao texto, responda: 1- As estrofes 1 e 4 fazem referência a que variedade lingüística? E a 2 e 3? As estrofes 1 e 4 referem-se às variedades populares da língua e as 2 e 3 à variedade padrão ( tentativa de estudá-la e compreendê-la durante as aulas de português) (profº Carlos Góis – figura de gramática. 2- De acordo com o Dicionário Houaiss, a palavra esquipático talvez tenha surgido da junção das palavras esquisito e antipático. Considerando essa possibilidade, estabeleça uma relação entre esquipáticas (verso 11) e o conteúdo da 3ª estrofe. Essa palavra sintetiza a opinião do eu poético tem da variedade padrão. Ele a considera complexa, difícil de ser assimilada e entendida e, por isso, não tem simpatia por ela. 3- O que você entendeu com o último verso? Existem duas “línguas” portuguesas: a do cotidiano ( das brigas, do namoro com a prima) e a padrão. 4 - VARIAÇÃO DIAFÁSICA Enfermeira Mellanie, já prescrevi o receituário. Avise-me se o quadro clínico piorar. Estarei de plantão na UTI É verdade, filho. Estou muito orgulhoso de seu Flor, Pra onde foi você, flor Com seu perfume de amor O que é que eu fiz de ruim (...) Deus fez a terra e o céu Fez você e o seu mel E me fez só pra te amar irmão. Ele não é o máximo!!! Estou cada vez mais orgulhosa. Puxa, pai, o André está tocando cada vez melhor. Ai, ai. Além de bom médico é um excelente cantor. Estou cada vez mais apaixonada. ATIVIDADE Um ato de comunicação se realiza com mais eficiência quando o falante é capaz de adequar sua linguagem ao contexto, Identifique, nos exemplos abaixo, o(s) caso(s) em que ocorre inadequação linguística: a) Em uma solenidade de formatura, um orador fazendo um discurso: -Tô feliz pra caramba de ver essa moçada faturando esse diploma depois de ter dado o sangue e ficado com o nariz enterrado nos livros tanto tempo que nem dá pra saber direito b) Em uma solenidade de formatura, um orador fazendo um discurso: - É indescritível minha satisfação ao ver esses jovens atingindo uma meta pela qual despenderam tantos esforços e incontáveis horas de dedicação aos estudos. c) Um médico, explicando o grave estado de saúde de uma paciente aos familiares dela: - Acho que essa não tem mais jeito não, viu pessoal... essa já era! d) Em uma entrevista, uma especialista em educação diz: - A sociedade tem o direito e o dever de participar da vida da escola, exigindo do poder público empenho persistente na melhoria da qualidade do ensino, porque essa melhoria reverte-se, obviamente, em benefício da própria sociedade. e) Em um debate político na televisão, um candidato a prefeito diz, a respeito de seu adversário: - Se esse cara aí faturar a eleição, vai ser a maior fria pro povo; todo mundo lembra que, da outra vez que ele foi prefeito, só fez besteiras e afundou a cidade em dívidas. Bortoni-Ricardo (2009, p.73) comenta que o sociolinguista norteamericano Dell Hymes, em 1966, propôs um novo conceito - o de competência comunicativa, que inclui além das regras indispensáveis à formação das sentenças, também as normas sociais e culturais que definem a adequação da fala. Segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.73), a explicação para esse conceito é: Em outras palavras, a competência comunicativa de um falante lhe permite saber o que falar e como falar com quaisquer interlocutores em quaisquer circunstâncias. A principal novidade na proposta de Dell Hymes foi, portanto, ter incluído a noção de adequação no âmbito da competência. Quando faz uso da língua, o falante não só aplica as regras para obter sentenças bem formadas, mas também faz uso de normas de adequação definidas em sua cultura. São essas normas que lhe dizem quando e como monitorar seu estilo. Em situações que exijam mais formalidade, porque está diante de um interlocutor desconhecido ou que mereça grande consideração, ou porque o assunto exige um tratamento formal, o falante vai selecionar um estilo mais monitorado; em situações de descontração, em que seus interlocutores sejam pessoas que ele ama e em que confia, o falante vai sentir-se desobrigado de proceder a uma vigilante monitoração e pode usar estilos mais coloquiais. Em todos esses processos, ele tem sempre de levar em conta o papel social que está desempenhando. Bagno (2009, p.56) afirma que o continuum de monitoramento estilístico indica o grau de atenção que o falante presta ao que está dizendo. Pode ser maior ou menor, dependendo do diversos fatores e do momento da interação. Segundo o linguista, quanto mais monitorado for o estilo da fala, mais ocorrências da norma-padrão, de sentenças gramaticais bem elaboradas e de um vocabulário maior requintado e erudito. Para exemplificar, Bagno (2009, p.56) cita a proposta de RicardoBortoni para melhor compreender a ocorrência de variação linguística num mesmo espaço-tempo de interação verbal, na fala de uma mesma pessoa. A professora ora diz “vamo vê” e ora diz “veremos”, que ora diz “xovê” e ora diz “deixe-me ver”, ou o aluno que normalmente diz “paiaço” e “trabaiá” mas, ao ler em, voz alta o texto do livro, diz “palhaço” e “trabalhar”... Essa mesma professora, se tiver antecedentes rurais, digamos, do interior de São Paulo, pode usar o “R caipira” ao ralhar com um aluno chamado Eduardo e usar um /r/ vibrado ou um /h/ aspirado ao ler em voz alta um texto como “o vento forte fez bater a porta verde da casa da Márcia”, por considerar a pronúncia “caipira” inadequada em situações mais monitoradas, em atividades mais letradas. ATIVIDADE O texto a seguir foi extraído da transcrição do debate que se seguiu à palestra do poeta Paulo Leminski (“Poesia: A Paixão da Linguagem”), proferida durante o curso “Os Sentidos da Paixão”. Observe que neste trecho é possível identificar palavras e construções características da linguagem coloquial oral. Reescreva-o de forma a adequá-lo à modalidade da variedade padrão. “Estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele, que é Mário de Andrade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas vanguardas modernistas. (...) Hoje em dia, felizmente, já existem vários trabalhos, há muita gente reavaliando a poética do Mário, que ela é muito mais importante e profunda do que aparentemente pareceu nesses últimos anos. Estudando o Mário, eu descobri que o Mário foi um exemplo do cara que morreu de amor, mas de amor pelo seu povo, pelo seu país, pela sua cultura. (...) Um outro cara que eu também fiz um filme é o Câmara Cascudo. Um cara como o Câmara Cascudo morre, os jornais dão uma notinha desse tamanhinho, escondidinho, um cara que deveria ter estátua em praça pública, devia ser lido, recitado.” 5 - VARIAÇÃO DIACRÔNICA Toda língua muda Continuando a novela sociolinguística... (...) - Mas a coisa pode ficar ainda mais complicada... - Como, tia? - Pegue, por exemplo, um texto de jornal escrito no começo do século XX. Você vai sentir diferenças no vocabulário e no modo de construção da frase. Recue mais um pouco no tempo e tente encontrar alguma coisa escrita no começo do século XIX, em 1808, por exemplo, quando a família real portuguesa se transferiu para o Brasil. Mais diferenças ainda. Dê um salto ainda maior e tente ler a famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I dando a notícia do descobrimento do Brasil. Um texto de 1500, último ano do século XV! Tem muita coisa ali que a gente nem consegue entender! E se quisermos ler uma cantiga d’amor, como a que citei hoje à tarde. (“-Or tu chi se’, Che vuoi sedere a cranna/ Per giudicar da lungi Mille miglia,/ Com La veduta corta d’uma spanna?) – Primeiros versos de uma cantiga de amor escrita em 1189, por Dante – Divina Comédia. (...) - Por que será então que eles vão se tornando cada vez menos compreensíveis para um brasileiro no início do século XXI? – quer saber Vera. - Porque toda língua, além de variar geograficamente, no espaço, também muda com o tempo. A língua que falamos hoje no Brasil é diferente da que era falada aqui mesmo no início da colonização, e também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos. - Parece lógico – comenta Sílvia. – Todas as coisas mudam, os costumes, as crenças, os meios de comunicação, as roupas... até os bichos evoluíram e continuam evoluindo... Por que a língua não haveria de mudar, não é? - É por isso – prossegue Irene – que nós linguistas dizemos que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço. Temos até uns nomes especiais para esses dois fenômenos. A mudança ao longo do tempo se chama mudança diacrônica. A variação geográfica se chama variação diatópica... Você vai ler um texto que mostra, de forma irônica e bem-humorada, dois diálogos entre pai e filha, em diferentes momentos (um em 1950 e outro no ano 2000). O diálogo dos tempos José Roberto Torero Em 1950, a conversa entre aquele pai e aquela filha seria mais ou menos assim: - A bênção, papai. - Deus te abençoe, Maria Elvira. - Papai, eu queria falar uma coisa com o senhor... - Pode falar, minha filha. - É que... o Leleco me pediu em namoro. - Leleco? - O nome dele é Leonardo da Silva. - Onde vocês se conheceram? - Num baile de debutantes. - E o que faz esse Leonardo? Ele é engenheiro, médico ou advogado? - Centroavante. - Centroavante? Isso é galhofa, não é, Maria Elvira? - Não, papai. - Era só o que faltava, minha filha com um centroavante! É para isso que eu paguei seu curso de magistério? - Mas papai... - Nem mais nem menos! Essa gente do futebol é muito irresponsável! E, depois, se ele te abandona? Você quer virar uma desquitada? - Mas pai... - Não, não e não, Maria Elvira! Filha minha não casa com jogador de futebol. - Mas... - Centroavante, essa é boa! O que vai ser da próxima vez, um sambista? ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Já, em 2000, as coisas seriam um pouco diferentes. - Oi, paps. - Oi, Tainá. - Paps, fui pedida em casamento. - Sério!? - É, e desta vez por um rapaz. - Quem diria... - Ele se chama Leleco. Leleco da Silva. - Onde vocês se conheceram? - Num baile funk. - E o que ele faz? É publicitário, banqueiro ou economista do governo? - É centroavante. - Centroavante? Que maravilha, Tainá! Valeu a pena todo aquele dinheiro que você gastou com tintura de cabelo. - Eu não disse que eles preferem as louras? - E quando vai ser o casamento? _ Xi, paps, era sobre isso que eu queria falar. Não sei se aceito. Jogador de futebol é meio, sei lá, irresponsável... Vai que não dá certo? - Aí você pede o divórcio e ganha uma boa pensão para o resto da vida. - Mas paps... - Não, não e não, Tainá, Filha minha não perde uma chance dessas. - Mas... - Já chega aquele pagodeiro que você esnobou. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 de janeiro de 2000. Caderno de Esportes, p.3 (Fragmento) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1101200014.htm, acesso em 07/12/2012 ATIVIDADE 1- O texto a seguir de Carlos Drummond de Andrade, é um exemplo de como a língua muda e varia ao longo do tempo. Leia com atenção e em seguida resolva os exercícios propostos: A linguagem falada não é um elemento fixo e imutável. Ao contrário, reflete mudanças do meio social. Vem se transformando através dos tempos e – o mais notável – pode mudar, dentro de uma mesma época, de acordo com as circunstâncias sociais. Ao ler o texto de Carlos Drummond de Andrade, que viveu no século XX (19021987), você vai sentir a afirmação acima e vai se divertir com o inusitado da linguagem através dos tempos. ANTIGAMENTE Antigamente as moças chamavam-se “mademoiselles” e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim-por-tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas. (...) Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora. (Carlos Drummond de Andrade, Quadrante 1. 4ª Edição, Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1966) A. Faça a correspondência entre as frases que contenham o mesmo significado: a. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. b. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva. c. As pessoa, quando corriam, era para tirar o pai da forca. d. O que não impedia que esse ou aquele embarcasse em canoa furada. e. Estes, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas e até em calças pardas. f. Não admira que dessem com os burros n’água. g. Ao visitarem uma família de maior consideração, sabiam cuspir na escarradeira. h. Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios. i. Outros eram pegados com a boca na botija. j. Jogavam verde para colher maduro. k. Sabiam com quantos paus se faz uma canoa. l. Faziam o quilo, saindo para tomar a fresca. m. Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário e com isso punham a mão em cumbuca. n. Era natural que com eles a gente perdesse a tramontana. o. Ouviam o galo cantar, mas não sabiam onde. p. Uns raros amarravam cachorros com linguiça. 1. ( ) Não admira que se dessem mal. 2. ( ) Faziam negócios e ficavam sem nada. 3. ( ) Os mauricinhos, mesmo não sendo boas pintas, paqueravam, mas ficavam curtindo uma de esperar. 4. ( ) Ao visitarem uma família bem instruída, sabiam portar-se devidamente. 5. ( ) O que não impedia que esse ou aquele entrasse numa fria. 6. ( ) Outros eram pegos em flagrante. 7. ( ) Se levavam um fora, o jeito era sair pra outra. 8. ( ) As pessoa só se apressavam, só corriam em casos extremos. 9. ( ) Estes, de pouco siso, metiam-se em confusões. 10. ( ) Uns poucos viviam na riqueza, esbanjando à vontade. 11. ( ) Procuravam sondar, davam uma pequena “dica” para obter informações maiores. 12. ( ) Tinham ouvido falar, por alto, no assunto mas não conheciam os detalhes. 13. ( ) Conheciam muito bem o assunto, estavam bem informados. 14. ( ) Era natural que com eles a gente se desnorteasse, se atrapalhasse até perder a paciência. 15. ( ) Digeriam tranquilamente a refeição dando uma voltinha. 16. ( ) Embora, por fora do assunto, queriam dar uma de entendidos e aí se complicavam. B. Traduza o texto de Carlos Drummond de Andrade, para a linguagem padrão atual, porém ser usar gírias grosseiras ou expressões idiomáticas. _____________________________________________________ GABARITO Questão A: 1. F 2. H 9. E 10. P 3. A 11. J 4. G 12. O 5. D 13. K 6. I 14. N 7. B 15. L 8. C 16. M Questão B: Seu texto deve ter ficado mais ou menos assim: Antigamente as moças eram educadas e elegantes e eram todas muito lindas e boas donas de casa. A festa de aniversário mais esperada era quando completavam 18 anos, pois nessa idade eram, em geral, pedidas em casamento. Os rapazes, mesmo que não fossem bonitões, paqueravam as moças, de longe, sem se manifestarem. E se recebiam um “não” para suas pretensões de namoro, o jeito era procurar outra namorada. As pessoas, quando corriam, era porque estavam com muita pressa e não eram surpreendidas por qualquer coisa, ruim ou boa. Algumas davam pequenas informações com a esperança de obter outras que ninguém sabia e com isso julgavam saber mais que os outros. Enquanto isso, havia os que ficavam em situação difícil ou, às vezes, embaraçosa, porque eram iludidos, abandonados e desapareciam sem deixar vestígios. Os mais velhos, depois das refeições, faziam a digestão indo passear em locais frescos e calmos. E tomavam cuidado para não se resfriarem. Os jovens iam ao cinema e chupavam bombons de hortelã e gengibre. Ou sonhavam em andar de avião. Estes, sem nenhuma vergonha, se metiam em confusão e situações difíceis; por isso se enganavam e perdiam bons negócios. Havia os que recebiam uma boa educação quando crianças e quando estavam em ambientes requintados sabiam se comportar devidamente. Se enviavam alguma mensagem a alguém, o portador da mesma assegurava que a entregaria. Outros, quando encontravam um padre, tiravam o chapéu em sinal de respeito e diziam: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!” e o padre sempre respondia: “Para sempre seja louvado!” E os que tinham mais co-nhecimento, se alguém espirrava – sinal de alguma alergia ou gripe – eram impelidos a dizer: “O Senhor esteja contigo!” Os presunçosos, apesar de não terem conhecimento suficiente sobre alguns assuntos, queriam demonstrar que os entendiam aí se complicavam. Era natural que com eles as pessoa se atrapalhassem e perdessem a paciência. Haviam os que ficavam magoados por qualquer negativa que lhes fizessem ou se se referissem aos seus familiares de modo sincero ou verdadeiro sobre seu mau comportamento. Era verdade que os meninos eram bem ardilosos e até fumavam escondido. As meninas, não: essas eram muito educadas, não faziam bagunça, verdadeiras “ladies”. Antigamente, certos homens faziam negócios e perdiam tudo; outros eram flagrados fazendo coisas erradas. E por isso tinham que explicar tudo, minuciosamente, às autoridades. O resultado é que tinham que pagar por seus erros sofrendo as penalidades da lei e da sociedade, bem longe dos seus familiares e amigos e até de sua cidade. Uns raros, bem ricos, esbanjavam dinheiro e riquezas com coisas fúteis. E outros ouviam falar de alguns assuntos sem, entretanto, conhecer os seus detalhes. As famílias compravam os produtos alimentícios nos super-mercados, tinham crédito no açougue e compravam qualquer coisa que lhe fosse oferecida na porta de casa, desde que o vendedor, quase sempre um negrinho magro, estivesse bem limpo e cheiroso. Recebiam com satisfação a visita dos vendedores ambulantes, que viajavam por várias cidades, levando as últimas novidades da indústria do Rio de Janeiro e São Paulo. Eles vinham oferecer suas mercadorias e quase sempre deixar como presente ao dono da casa, algum objeto que lhe fosse útil e de marca conhecida. As moças se maquiavam e ficavam à janela para vê-los descer do cavalo. Infelizmente alguns não eram confiáveis. Se acontecia de um indivíduo ficar gripado ou resfriado, mandava um mensageiro chamar o médico e, depois ia à farmácia comprar os remédios, quase sempre de cápsulas ou pílulas de cheiro ruim. Doença sem cura era a tuberculose. Antigamente as mansões eram habitadas por espíritos que assombravam as pessoa; os meninos tinham verminose; os gatos tinham asma; os homens usavam cuecas, sapato de couro de cano médio e paletó engomado. A casimira tinha de ser de boa qualidade, da marca X.P.T.O. London. Os fotógrafos eram chamados de retratistas e os cristãos quando morriam, descansavam. Mas isto foi há muito tempo atrás. PORTUGUÊS IRADO (http://juniormax.com.br/site_portuguesirado/?p=305), acesso em 07/12/12. 2- Fomos ao século passado com a leitura do texto “Antigamente” , de Drummond. O texto a seguir retrata um vocabulário restrito aos jovens. Leia-o com atenção: Uma mensagem comum em fotologs... Oiieee..td bemmm galera!?! Espero q sim... Esse fotineh um pokito antigs, mas como eu xonei nelaaa to postandu... pra qm naum conhece, esse eh meu cafofo, moh lindu, fla seriu!! Ahuahuaha. Essa semana foi xuper cansativa, altas provas e talz... nd + a declarar... Lunch entre amigonasss, tarde sussa...=) dps preciso de ajuda nakele post special das p.i’s*. dessa GNT!! Hauhauha... Aguardem!! Grd bjooo... Folha de S. Paulo, São Paulo, 24 abr.2005, p.C6 (* P.i’s: piadas internas) Pode-se dizer, a respeito da constituição textual em “Uma mensagem comum”: ( ) um tipo discursivo cuja estruturação recruta elementos de textos mais formais, como se vê na afirmação “nd + a declarar”. ( ) formas linguísticas que atestam a velocidade das mudanças sofridas pela língua escrita padrão, como no caso do diminutivo “fotin”. Fique atento! Campo semântico é todo conjunto constituído por palavras ou expressões que, em função do contexto, têm em comum o mesmo significado geral. Exemplos: “morrer”, “bater as botas”, “falecer”, “findar”, “descansar”, “vestir o paletó de madeira” e “encontar-se com Deus” fazem parte do mesmo campo semântico. ( ) um vocabulário restrito aos jovens, cuja Composição remete a um único campo se- mântico, como em “galera”, “amigonasss” e “gnt” . ( ) sequências de orações sem valor referencial, como se pode observar em expressões do tipo “xonei nelaaa to postandu...” ( x ) um padrão de organização segundo normas da língua falada e recursos da escrita, como a segmentação das palavras em “moh lindu, fla seriu!!” Professor(a), o texto, por meio da língua escrita, tenta reproduzir a língua falada. Para isso utiliza, entre outros recursos, a segmentação (“abreviação”). O que dizem os linguistas A linguagem não é usada apenas em sua função referencial, *ou seja, apenas para transmitir informações. Uma das funções da linguagem é a de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa ou acha que ocupa na sociedade em que vive. As pessoas falam para serem “ouvidas”, às vezes para serem respeitadas e também para exercer influência no ambiente em que realizam seus atos linguísticos. As “regras de linguagem” levam em conta as relações sociais entre os interlocutores. Todo falante tem que agir de acordo com essas regras , isto é, tem que “saber”: a) quando pode falar e quando não pode; b) que tipo de “assuntos” podem ser abordados; c) que variedade linguística é conveniente empregar. Fonte de pesquisa: Maurizzio Gnerr. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p.3-4 A seguir, ouviremos a música de Gilberto Gil: PELA INTERNET Gilberto Gil ( 1997 ) Criar meu web site Fazer minha home-page Com quantos gigabytes Se faz uma jangada Um barco que veleje Que veleje nesse informar (http://www.youtube.com/watch?v=7ysEoKtfU2I) acesso em 06/12/12. Gilberto Gil, na música Pela Internet, apresenta sua visão sobre a Internet, meio de comunicação mundial que vem revolucionando nossos hábitos de obtenção e transmissão de informações. Esse universo é trabalhado poeticamente: • o verbo "navegar" é uma metáfora para a atividade de entrar em contacto com as informações disponíveis via Internet. Faz parte do campo semântico de mar, expresso, na música, por meio dos seguintes vocábulos: velejar, jangada, barco, vazante, maré, mar, porto, rede. • amplitude espacial abarcada pela Internet, a "rede", vem apresentada sob a forma de países e regiões longínquas: Taipé, Calcutá, Helsinqui, Connecticut, Nepal, Gabão, Milão, Japão. • a partir do vocábulo "vírus", referindo-se a programas que atacam e destroem informações, cria-se uma associação com Macmilícia de Milão, hacker mafioso, polícia carioca. • o vocabulário específico de informática aparece em todo o texto, promovendo a articulação entre a realidade e o universo poético: web-site, home-page, gigabytes, disquete, e-mail, micro, site, hot-link, infomaré, infomar, acessar, contactar, rede, vírus. Tanto no título como no final da música, Gil faz uma homenagem a Donga, parodiando a música "Pelo telefone", que, na sua época, teve o papel que hoje cabe à Internet. Na paródia, o telefone é substituído pelo celular, condizente com a época atual. "O chefe da folia pelo telefone manda me avisar que com alegria não se questione para se brincar" (Donga) (http://www.youtube.com/watch? v=9eHx7NgUht8) acesso em 06/12/12 “O chefe da polícia carioca avisa pelo celular que lá na Praça Onze tem um videopôquer para se jogar." (Gil) (http://www.youtube.com/watch? v=7ysEoKtfU2I) acesso em 06/12/12 Atividade (http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/propostas.html) acesso em 06/12/12. Cenas dos próximos capítulos da nossa novela sociolinguística... VERBO, PRA QUE TE QUERO? - simplificação das conjugações verbais – (...) Na noite seguinte, depois que todas se instalam, e enqunto Irene consulta suas anotações, Emília toma a palavra e diz: - Irene, hoje eu prestei bastante atenção no modo de falar da Eulália e percebi que ela não respeita as conjugações verbais. - Como assim, “não respeita”? – quer saber Sílvia. - Ela não conjuga os verbos como a gente – explica Emília. – Ela diz, por exemplo, “eles gosta”, “nós gosta”, “vocês gosta” e assim por diante... (...) - Os pesquisadores que estudam os falares regionais e não-padrão têm verificado que de Norte a Sul do Brasil existe uma tendência generalizada a reduzir as seis formas do verbo conjugado a apenas duas. Conjugação do verbo amar no presente do indicativo Português padrão Português não-padrão Eu amo eu amo Tu amas tu/você ama Ele/ela ama ele ama Nós amamos nós/ a gente ama Vós amais vocês ama Eles/elas amam eles/elas ama - O PNP, como vimos ontem, é uma língua “enxuta”, que evita as redundâncias, o excesso de marcas para indicar um único fenômeno. Assim como no caso dos plurais, onde a marca de plural fica limitada somente ao artigo ou à primeira palavra, no caso dos verbos, ao que parece, basta a presença do pronome-sujeio para indicar a pessoa verbal. (..) - Na verdade, a redução de seis formas verbais do PP para duas do PNP só nos surpreende porque estamos acostumados demais ( eu diria até “viciadas”) com o esquema tradicional de conjugação do português-padrão, que é um retrato fiel do quadro de conjugação latina... - Mas como é então a conjugação nossa de cada dia? – pergunta Emília. - Se você prestar atenção nas formas verbais utilizadas diariamente, por pessoas que usam o português-padrão, mas na sua variedade falada, coloquial, vai ver que nós também simplificamos bastante o nosso quadro de conjugação verba. Veja só... Português Português Padrão literário padrão coloquial Eu amo eu amo Tu amas você ama Ele ama ele ama Nós amamos a gente ama Vós amais vocês amam Eles amam eles amam - Eu estava pensando uma coisa... - Que coisa? – pergunta Sílvia. - É essa história de fazer os alunos decorarem as formas conjugadas de tu e vós – responde Vera. – Ninguém mais usa essas formas. Quando é que a gente ouve alguém falando “vós vos divertistes muito”? - Mais uma vez sua intuição está correta, Verinha – diz Irene. – Esse quadro de conjugação que as gramáticas tradicionais apresentam tem realmente alguns problemas para o ensino, justamente por estar muito distante da língua viva dos falante do português brasileiro. O pronome tu, por exemplo, no Brasil, é usado em algumas regiões específicas, e raramente a forma verbal que o acompanha corresponde à das gramáticas e livros didáticos. O pronome vós, então, como você bem notou, é um verdadeiro dinossauro linguístico: está extinto na fala dos brasileiros há muito tempo... (...) - Eu acho importante que a gente apresente essas formas verbais aos alunos – diz Irene em seguida -, para que eles as reconheçam quando tiverem de ler um texto clássico, por exemplo. Mas querer que eles decorem tudo para fazer prova e ainda tirar ponto por não terem acertado, considero um verdadeiro crime contra os direito humanos dos educandos. - Apoiado, Irene! – aplaude Emília. – E não se esqueça que é também um crime contra os direitos humanos dos professores! - Claro que é – confirma Irene. – E não é só esse o problema. Além de cobrarmos o que não é necessário, deixamos de apresentar fenômenos muito mais interessantes e vivos. - Por exemplo? – interessa-se Vera. - Por que as gramáticas e os livros insistem em dizer que você é um “pronome de tratamento” de “terceira pessoa”? – questiona a professora. – Não está óbvio, claro límpido e evidente que você é um pronome sujeito do caso reto usado para designar a segunda pessoa do discurso, aquela com quem eu estou falando, a quem estou me dirigindo? - É mesmo – diz Emília. - Aliás, a classe de palavras que recebe o nome de verbos merece um amplo estudo da parte dos linguistas, os gramáticos e dos autores de livros didáticos... Segundo Possenti (2001, p.65) a definição de gramática como conjunto de regras que são seguidas – é a que orienta o trabalho dos linguistas, cuja preocupação é descrever e/ou explicar as línguas tais como elas são faladas. De acordo com o linguista, pode haver diferenças entre as regras que devem ser seguidas e as que são seguidas, em parte como consequência do fato que as línguas mudam e as gramáticas normativas podem continuar propondo regras que os falantes não seguem mais – ou regras que muito poucos falantes ainda seguem, mas apenas raramente. Para Possenti (2001, p.66), ao observar-se as conjugações verbais, verifica-se que algumas formas não existem mais, ou só existem na escrita. Em especial: a) as segundas pessoas do plural ( vós fostes, vós iríeis, etc) desapareceram. Hoje, se diz “vocês foram”, “vocês iriam”, etc. b) os futuros sintético não se ouvem mais, embora ainda se usem na escrita. Na modalidade oral, o futuro é expresso por uma locução ( vou sair, vai dormir, etc), e não mais (sairei, dormirá... c) a forma do infinitivo não tem mais o “R” final. Ninguém fala, de fato, “vou dormir”, mas “vou dormi”. d) apenas em algumas regiões se usa o ”tu”, na maior parte do país, o pronome de segunda pessoa é “você”; no entanto, a forma “te” é usada para expressar a segunda pessoa em posição de objeto direto e indireto. Para a gramática descritiva, trata-se apenas de um fato, um fato regular, isto é, constante. e) no lugar de “nós”, mais frequentemente do que supomos, usa-se a forma “a gente”, (a gente foi, ela viu a gente.) Segundo Possenti (2001, p.84) boa estratégia para ensinar língua e gramática é a prioridade absoluta para a leitura, para a escrita, a narrativa oral, o debate e todas as formas de interpretação (resumo, paráfrase, etc). Parece paradoxal, mas não se incluem entre ela as lições de nomenclatura e de análise sintática e morfológica, tão estranhamente na prática corrente. Comida Composição Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Sérgio Brito Titãs Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de que? Você tem fome de que?... A gente não quer só comida A gente quer comida Diversão e arte A gente não quer só comida A gente quer saída Para qualquer parte.. (http://letras.mus.br/titas/91453/) acesso em 07/12/12. Cenas dos últimos capítulos: A primeira semente -considerações finais, por enquanto – - Agora que vocês puseram a mão na massa e se saíram tão bem – diz Irene -, eu gostaria de tentar fazer, junto com vocês, uma conclusão geral do nosso “curso”. (...) A minha esperança é de que alguns princípios essenciais tenham ficado claros e sirvam de apoio para uma nova maneira de encarar as variedades não-padrão. - Que princípios são esses? – pergunta Vera. - Podemos resumi-los assim – diz Irene, distribuindo a última de suas folhas impressas, onde as três jovens leem: A “unidade linguística do Brasil” é um mito: em nosso país, além das línguas indígenas e das línguas trazidas pelos imigrantes, fala-se diferentes variedades da língua portuguesa, cada uma delas com características próprias, com diferenças em seu status social, mas todas com uma lógica linguística facilmente demonstrável; Falar diferente não é falar “errado”; Tudo o que parece erro no PNP tem uma explicação lógica, científica (linguística, histórica, sociológica, psicológica); Traços característicos do PNP (considerados “erros”) se encontram em outras línguas, o que mostra que eles não são uma prova da “ignorância” ou da “deficiência mental” do nosso povo. Muitos aspectos considerados “errados” no PNP ( e no PP do Brasil) são na verdade arcaísmos, vestígios da língua portuguesa falada muitos séculos atrás; A língua escrita não deve ser usada como camisa-de-força para submeter e aprisionar a língua falada, a escrita é tentativa de representação da língua falada e nasceu centenas de milhares de anos depois de o homem ter começado a falar. Depois de uma breve pausa, ela volta a falar: - Descrever toda a gramática do PNP, isto é, todas as regras de seu funcionamento, é uma tarefa difícil e trabalhosa. A minha intenção aqui, com vocês,, e também no livro que estou preparando, é bem menos ambiciosa. Eu simplesmente quero deixar claro que o sinal que temos de colocar entre PNP e PP é um sinal de diferença e não um sinal de inferioridade. (...) Na rodoviária de Atibaia... - Recebi hoje à tarde uma proposta de uma editora para publicar o meu livrinho sobre o português não-padrão... - Que maravilha, Irene! – comemora Sílvia. - E já sabe como vai se chamar o livro? – pergunta Vera. - ...Estou pensando em dar ao livro o título de A Língua de Eulália... Afinal foi observando a variedade linguística dela que me veio a ideia de estudar o assunto... - E o título tem um detalhezinho linguístico interessante. O nome Eulália, em grego, quer dizer “a que fala bonito, a que fala bem, a que fala certo”. Não é uma delícia? Referências bibliográficas: AMARAL, Emília, FERREIRA, Mauro, LEITE, Ricardo, ANTÔNIO, Severino. Novas Palavras – nova edição. Livro do Ensino Médio, vol1. São Paulo. FTD, 2010 BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso – por uma pedagogia da variação linguística. Parábola Editoria, 2005. ________ A língua de Eulália- novela sociolinguística.Editora Contexto, 2010. BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna – a sociolinguística na sala de aula. São Paulo. Parábola Editorial, 2009. CEREJA, Willian Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Todos os Textos – uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo. Editora Saraiva,2011. ILARI, Rodolfo e POSSENTI, Sírio. Português e ensino de gramática. IN: Projeto Ipê, Língua Portuguesa. São Paulo, Secretaria da Educação/ CENEP, vol. II. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Ensino de Jovens e Adultos. Caderno 1 – Fase II Ensino Fundamental. 1992. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP. Mercado das Letras: Associação de Leitura no Brasil, 2001. ________, De qualquer jeito? Os “erros” de gramática deveriam ser mais observados para verificarmos como são regulares. Revista Carta na Escola. Edição nº 65, abr. 2012, p.57. SCHERRE,Maria Marta Pereira. Doa-se lindos filhotes de poodle – Variação Línguística, Mídia e Preconceito. São Paulo. Parábola Edioria, 2008. TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo. Editora Ática, 2011.