• • • • I • • • • • • • • • • • • > • • • ) • • • f • • • • • I' • • • • • • • • • - • • • • • • • Se o ofício de Rei é o mflis árduo e difícil de todos -os ofícios, como queria Montaigne, é no exílio, nesse grande laboratório onde o destino põe à prova todas as I QUATRO PORTUGUÊSES Da esquerda para a direita-Conselheiro Fernando de Sousa, El-Rei, Conselheiro Azevedo Coutinho e Dr. Hipolito Raposo- Bayonne, Março 1934 .suas virtudes e todos os seus defeitos, que êles, os Reis, nos podem dar a mais justa medida da sua têmpera moral. Sofrer com resignação um destêrro iníquo, é tarefa {!Ue só pelos Grandes, entre os maiores, pode ser levada a cabo com dignidade e honra. Têm os reis no exílio os olhos da gente estranha pre-. gados nas suas atitudes mais naturais, nas suas mais insignificantes acções. Vigilância constante e sempre pronta a saborear o menor deslise como se êle jôsse de jacto um estrondoso escândalo. Longe da Pátria, dos seus amigos e servidores, dos .seus concidadãos e do seu ambiente natural, rodeado-de indiferentes e quantas vezes de inimigos, o Rei exilado .tem todas as grandes preocupações do Rei no trôno e .sofre angústias, incertezas e provações que êste muitas vezes desconhece. A vida em terra estrangeira, liberta dos mil encargos, ·Obrigações e deveres da junção régia em exercício, arrasta os reis desterrados no seu louco cortejo de sedu-. fÕes e prazeres, levando-os, quando o terreno se lhes depara propício, ao mais vil dos abastardamentos, à renúncia total e definitiva do seu alto papel histórico. v r- I::~ ,~... ' ~ } ;· ·., , · ··: · '···· • ·:·.- ~ 1 .:· :..- , ; y '.·11 .. •-:r:-• ' I c, '• ' r~ \ ~ '' . · Como_é dolorosa mas juslicâra a caricàtara tio vieo. •. ,.osamente d~senhada por Dqudet ·no seíi livro'inesqqe€1- ·· vel: OS R~IS· NO EXfLIO. ·•.• ··•· ' . . . ,· l(m _mf!narta d_e (':aca e!tfàtura moral; - izaufrag~do":IZ~ larbzlhao de Pans,\ espesmhada . e perdida a dignidade.· . · · real, vende ·a s. jotas da Corôa, ·o símbolo mais alto da · Reafrza, para com o seu produto sustentar as partldrt!" · de ;ôgo. • . . ·. · , .. ·. : . ·: Como é tremenda a responsábllidade dos ·reis ~o exllio! . Distantes da Pátria, mas tendo:quantas vezes de ilt- ; . tervi': decisiva_mente na su~ . política interna, .tis . reis' -~~ · '.. df!sterro, çotztz'!uam a sentzr-se llgados pelas respaizsab/.;. ledad~s dmástzcas ao b•m estar e felicidade do seu povo. Por zsso, os s~us act.os e determinações, sobrepondo-se . ·· sempre a q_uazsquer znteresses próprios, devem visar ·(JS · .. m~zs" altos mteresses tja naçao. Ati, na terra estrang~lra. · •·•·· ·. s.ao. eles, pe~a sua poszção e prestigio, os melhores, Pf ln~s .. · a~ezs_ ~mbaz~adore~ f!o .seu pais. Em graves m()me,ntos ktstonc_~s,, ·as deltgenctas .d~s f!égios Exilados se ficori devendo t;l paz ou a reconczltaçao entre os ·estados . . . .. · · Os reis no exflio, aquêles que bem quiserem ~erecel- ·· êsse nome, devem ser verdadeiros modelos de dignidade · e aP_rumo, tanto na sua vida social como na suQ vêdri · · partzcala'i• I'., ' ·.:. ··. ,· .. ' .' . • ·1 ' ' ' .. ~ t· f . ..._.,. . ,.. ·,; \ ' Fal!l_í;Jz~e_àl, A ·que continua pare os s.úbditos. fieis, a ser éspelho e\exemplo, altar de veneração ~ re~p~tt~, t igualmente vigiada ~om cuidado pelos própnos .tntlll;tgos da realeza ,.que ca càda momento prpcifra"! ~es_cobnr '!a sua condut(l motivos para o ataque tzs mstttuzçoes e prtn- , cípios ,que derrubal'ai(l ou ajudara.m a derrubc;r. . ~ , O Lar Real que t}eve ser o crts'Ol das mm.s ,altas vzrtudes. tem . de manter no ex(lio O ambiente,, OS 'COstume~, a língua e á tradição nacionais~ . E os Przncif!_es nascr.dos fóra ,da Pátria devem !eceber um_a educaçao tal que possam sqitir ali, no des~erro, o abngo e o gasalhado . ,. das suàs sagradas frontezras. rremenda responsabilidade a dos rezs no exllzo I , . Quantas .agonias, quantos dissabores, quantas ang~~;s tias sofridas em cuidadoso recato para que os olhos lndiscretos e insaciáveis as ilãe perscrutem! _ . · Quantos tesouros de dedi;aç_ão, d_e abnegafaO e sacnjício, ignorados ou o que e pzor atnda. . . zncompreendidos! · . . . . Por isso repito, se o ojíc.zo .de , Re~ é o maz~ árdt~o e difícil de todos os ojicios, conto quena Monta.zgru,; n~ exílio, nêsse grande laboratório onde o destzno · po~ a prova todas as suas virtudes e. todos. o~ seus dtfettos, que êles, os Reis, nos podem dar .a mats JUsta medzda da sua têmpera moral. r: \ I . ~;, Vti Nós, os portugueses, podemos e de sentir .um legitimo orgulho ao analisàr a vida Famílüi Real Portuguesa .n'! destêrro. E~-R.ei D. 11, seu Chefe, em vida de seu tendo adqumtio essa qualldade . Augusto Pai, é bem .digno dos seus Olori@sos Antepassados e da modelar Famflia que com desvelado carinho e amôr, O tem rodeado e amparado. · No momento em que a adversidade experimenta tantos Príncipes no exílio, alguns dos quais lamentavelmente nem semp~e _têm sakido encarar a mudança trág-ica, das · suas condzçoes de vtda com elevada resignação, agradeç~mos a. Deus o R.ei que temos, tão digno, tão corajoso, tao admeravelmente preparado para o pesado encargo da · sua espinh6sfssima missão. Portugueses, 'nunca existiu uma fronte mais mereced-<}ra dq. gloriosa .Corôa Real Portuguesa, nem inteligêncza mazs esclareceda ao serviço do bem comum nem coração mais aberto ao se~ztimento da justiça e da paz social -desejo e aspiração de todos os bons portugueses. ' Olhemos nós, homens de boa fé e boa vontade o nosso querid~ R.ei n_a terra do exflio como a única espe~ança de salvaçao naczonal e façamos com toda .a fôrça da nossa alma e da nossa vontade por ser dignos d' Êle. I N o dia. 23 de. Setembro de 1907, nascia no pequeno Castelo de Seebenstein o Senhor Dom Duarte de Bragança. . Neto de um Rei que incarnara e defendera as m~ts lídimas tradições espirituais e mor~!s ~a sua Pátna; filho de um Príncipe que como o pnmetro dos portugueses se comportaria sempre, é o Senhor Dom Duar~e tão legitimamente português como todos os grandes rets seus antecessores cuja vida inteiramente devotada ao bem comum é a própria história da nacionalidade. Era portuguesa pelo casament.o e pelo coração sua Augusta Mãe a Senhora Dona Mana Teresa de Bragança, nascida na casa cristianís~ima dos Rosenberg. Eram portugueses os servidores .dedicados que O cercavam, era portuguesa, de cá man~ada pela dedicação de fieis portugueses, a terra que alcatt~ava o quarto o~~e nasceu e portuguesa a propria moradta de Su.a Famllta. Eram portugueses os. rostos que Lhe sornam, eram portuguesas as almas que iam ajudar a formar~ sua alma! E eu pregunto: Qual o português nasctdo den.tro das nossas fronteiras, que se possa gabar de ter reumdo nêsse momento um tal conjunto de circunstâncias a ga,rantir o seu portuguesismo? VIII 1 .. -,.. ' ,_ I I ·.' Em 1881 o Imp~rador da Austria, Francisco José,_ 5; parente ,e gra~~e amtgo do Senhor · Dom Miguel II con- ·t c_ed~ra a F_amtl!a Real o alto privilégio de extra-t~rrito-' ) nahdad:, ficando por êste motivo considerado território ·~ portugues, o parque e o castelo de Seebenstein -- Vou reproduzir aqui a ~dução do importante.diplo-ma: ,. ' ' l_ _ «Ap~az-me reconhecer .a Sua Altei~ Real o Duque D?m Mtguel de Bragança e aos seus filhos menores solteiros que se conservam na Casa Paterna o direito da ext_ra-ter~itoria_lid_ade, c~m~ a determinação de/ que 05 · efeitos d~ste dtretto se hmJtarão ás suas próprias pessoas · e á sua. Isenção da jurisdição dos tribunais do País em ass~n~o~ litigiosos que legalmente pertençam á jurisdição o~dm~r!a. pessoal; e bem ,assim em todos os assuntos .nao htJg10sos, referentes as suas pessoas; e por êste' modo se concede aos mesmos, conforme o pedido feito r~ferente á sua sujeição á jurisdição da minha intendênCia do ~arechal-Mór da Côrte, a jurisdição pessoat desta ulttma. Vienna, 20 de Março de 1881. a) Frllncisco José» E - o~ «D?cumen~os. da Aclam:l_ção» esclarecem:~ 4<Como e sabtdo, o direito de extra-territorialidade isenta os representantes diplomáticos estrangeiros da jurisdição normal das nações em que estão acreditados devolvendo-os ,os resp~ctiy<?s govêrno,s, sempre que ha necessidade, a esfera JUndica dos patses de origem. . Fo_i êsse privilégio excepcional que o Imperador da Austna c?ncedeu ao S.enhor Dom Miguel II que não era ne!'l quena que seus filhos fôssem coRsiderados estrangeiros. . . Por estar proscrita a Família Real e, portanto, impos-.. sibilitada de cumprir as leis. portuguesas, que aliás tambcm não reconhecia nem podia reconhecer, o _Imperad~r estendeu aos prínCipes descendentes de El:Ret Dom Mt.: guel 1 a jurisdição do Mare.ch~I-Mór da Corte que era o magistrado a quem competia JUlgar os membros da Família Imperial da Austria.» , . . f'ilho e neto de .portugueses, tendo nasctdo em terntório português (como tal ~econheci~o P_?r quem ~e direito), embora extra-frontetras, El-Ret é tao portugues como qualquer de nós. . . , . E, por virtude do seu nasctmento, do pr~nctpw . e tradição que representa, Sua Magestade é o pnmetro tfe todos os portugueses! . , Foi o Senhor Dom Duarte baphsado com agua de Guimarães, tirada da pia onde recebeu o Sacramento. do Baptismo, o nosso primeiro Rei. ~egurava .o pe,qu_enmo Príncipe nos seus braços de servtdor dedtcadtssimo e leal o Sr. D. João d'Almeida (Lavradi6) e foram seus padrinhos Sua Alteza Real o Infante Dom Af<mso Parlos de Bourbon e Austria-Este, do Ramo Legitimista da Família Real Espanhola, recentemente falecido, e Sua Augu sta Esposa, S_u a Altez;a Real a ~enhora Infanta Don:'l Maria das Neves de Bragança, tta paterna _de El-Ret. Rec ebeu Sua Magestade os nomes de D:uarte Nuno Fernando. O primeiro dêles em memória do filho e sucessor d e D. João I, o 'bondoso e sábio rei D. Duarte; o segundo evocando o grande f4ndador da Sua Casa, o Santo C~ndestavel Nun' Alvares Pereira; e o terceiro em atenção ao rei de Portugal que_foi aut.or da notabiliss_ima Lei das Sesmarias e criador e tmpulstonador da glonosa marinha portuguesa. · Decorreu a primei rã infância de El-Rei despreocupada e feliz entre o cuidado e carinho de Suas Augustas Mãe, Irmãs e Tias. 2 3 ____, Teve, a. ampará-Lo nos seus ptimeiros estuqós Excelenhsstmas Senhoras: Dona Maria das Dores· de . Sousa Pr~go e Dona Maria. Luiza Castelo, que superiormente onentadas por Sua Magestade a Rainha com amoroso desvêlo. foram abrindo à. Sua. inteligência precoce os vasto.s honzontes que .ela mais tarde havia de abranger. Ouvmdo falar exclusivamente a língua portuguesa na casa paterna, desde que os seus ouvidos infantis entraram · a compreender o que á sua roda se dizia bem cedo o pequeno Príncipe se apaixonou pelo estud~ da História d~ sua .terra, d~ História de Portugal. . · . . ··· .Asstm! medtt~ndo nas belas paginas do passado e nos mats glonosos feitos dos seus Maiores, ia temperando o carácter, fortalecendo a alma e tomando consciência dos seus, deveres e responsabilidades. · E impressionante o sentimento de ardente patriotismo , em todos os membros da família de Bragança. · · · A. Senhora Inf~nta Dona Maria Tereza, presentemente Arqmduquesa, Vtuva da Austria, visitou pela prim~ini . vez o seu p~ts com perto de 70 anos, ao dirigir-se à Ilha da Madetra a acompanhar no infortúnio e no exílio S~u N~to, o malogrado e saudoso Imperador Carlos d Austna: Ao transpor a fronteira, apeou-se a veneranda Pnncesa e foi beijar a terra portuauesa a terra sagrada da sua Pátria. "' ' A ~enhora. Infanta Dona Maria José, Duquesa Vi uva na Bavtera, ve10 a sua terra na primavera de 1936 realizand~ assim a maior aspiração da sua vida. Todos os que tiveram a ventura de Lhe falar recordarão sempre a sua ternura pelas nossas coisas e o seu grande amôr a Portugal. · . O Príncipe Carlos Augusto de Thurn e Taxis, mando de S. A. R. a Senhora Infanta Dona Maria Amr e Cunhado de El-Rei·, a instâncias de sua esposa apr'endeu .~ ···· o português que fala e' escreve com corr~~ã?. E .a seus filhos mandou ensinar antes de qualquer tdtoma estrangeiro, a língua portuguêsa. O Sr. Visconde do Torrão, ao mostrar-me uma carta do PrínciP.e Carlos Augusto, dizia-me a propósito da sua Casa: «É um Lar português. Sempt:e que lá vou tenho a impressão de um regresso antecipado. O Palácio de Thurn e Taxis, por obra e graça das Senhoras Infantas, é na Alemanha, um pedaço de Portugal!» ' Muito cedo c'o meçou o Senhor Dom Duarte a sofrer dificuldades e provações. A Guerra Mundial, que estAlara em 1914 vinha encontrar o moço Príncipe com sefe anos de id ~de, justamente !lo mom~f!tO mai.s delicado e crítico do seu desenvolvimento ftstco e mtelectual. Os impérios centrais e mais nomeadamente a Austria, começavam a sentir os efeitos do bloqueio económico que os Aliados a pouco e pouco iam apertando. . A familia Real no pequeno burgo de Seebenstem era atiDgida tambem pelos terríveis resultados dêsse estado de coisas. Começaram a escassear os víveres, e os géneros de primeilra necessidade eram vendid<?s a pr~ço~ fabuloso~. De tal maneira se agravaram estas ctrcunstanctas que a sttuação chegou a ser extremamente penosa, vendo-se as1Senhoras Infantas obrigadas a procurar em longas e difíceis caminhadas os meios indispensáveis à sua subsistência. Mas as privações aumentavam de momento a momento e Sua Alteza a Senhora Infanta Dona Mafalda~ de compleição delicada e débil, não podendo suportar os sacrifícios que o amôr e carinho dos seus lhe não podiam evitar, 's ucumbiu, enchendo de luto e dôr o coração amantíssimo de·Seus Pais e Irmãos, que viam desaparecer na mais linda idade, essa gentil e encantadora creança. Com doze anos apenas ia o Senhor Dom Duarte de j'}, ('';·"- .~~ .... ,. ' ,"' ' 1,- I' lfi' i_ :: 1 1 ,, . 1 1 !/ 'I 1 1 I Bronnbach, residência tei-nporaria de · Sua .Fam · · aldeia .de Reichalzbeitn, Càtniijhando mais de urna l para receber a Iiç~o de latim e btttras matérias cq velho Abade; com ternura e· intetêsse ' lheia ensin Tam~~m Fre~ Estevap1, ó ·sábio religioso do . rn>tcAf ...' n de Cocujaes, que no advento da.república tomara o nho do exíli.o e . se fi~a:a. na Austria, cdm o seu muitQ . saber en~amtnhou e dtrtglll os estudos de EI-Rei. '· · ~ermtnado o grande conflito mundial, por abdicação . e~cr~ta e f.ort;J~l de seus Augustos Pai .e Irmão, recebia ()S d.!rettos lustqncos da sua ~Casa. . .: · · · . · ·.. · , "'~· Matriculou~se ' então t:o Ginásio (Liceu) de Ratisbonâ, aond_e_ co121 no~avel aplicação e sempre com elevadas.. classtftcaçoes, tirqu o seu curso secundário. · ·· Ma5, se na preparação intelectual El-Rei revelava tão ·· grande aproveitamento e tão notável diligência, nem por . Mm momento abandonava a cultura física que a sua natu- · ral robustez e magnífica saúde singularmente' favoreciam • . Desportista distinto, é um primoroso cultor dos desI;ortos de invern?, _tais como o "ski" e o "bobsleigh'1' e e tambem um ~lptmsta arrojado. · .. . Automobilista consumado, as estradas da Europa Cent~al têm sido testemunhas do seu gôsto pelas grandes velo~ Cidades. Caçador infatigável, seguindo nisso, como aliáS . em tudo, as nobres tradições da sua Casa, tem nas paredes das salas do castelo de Seebenstein, alguns trofeus valiosos das suas· jornadas venatórias. .· . . Surgia agora um problema da mais alta irrtportânciét ' na vida do jovem Príncipe. Concluídos os seus estudos preparatórios, era mister escolher nos estudos superiores o curso. que 0 se~ des·ejQ . de saber reclamava e o interêsse nacional condicionava e impunha. ·Mas essa escolha era, como bem podê · supor-se, muito melindrosa e delicada. Ainda aí preva;i 6 lt•ccu, como semprê prevàlecerá,' o · .seu grande amor à terra e às coisas portuguesas. . Portugal, país agrícola, de economia acentuadamente rural, tem nà solução dó.s problemas da agricultura (e ~lcs são tantos e tão grav<:;s a resolver!) o remédio quasi certo para a cura dos .seus· males. Assim, o Rei de Portugal, o primeiro dos portugueses, na sua admir4v-eltràd'ição dinastica de bem servir a Pátria, depois de um curto estágio na Escola de Pau, matriculou-se na faculdade de Agronom,ia .de Tolosa, aonde tirou com o melh0r aprov,e itamentoo ,curso de engenheiro agrícola. Ao conclui-lo, defendeu utna tese por tal forma original que foi cumttrin'lentado pessdalmente, terminado o set.t acto, pelos proprios mestres. Recebia desta maneira 0 distinto estudante, o público testemunho do seu valor! Um dia, conta-tios P.João d'Almeida, encontrando-sa em viagem um compatriófa nosso e passando por Tolosa, uma pessoa ali residente .e ·que o ia acompanhando na visita à cidade, apontou ·para certa casa, dizendo-lhe: •10ra ali um rapaz da sua terra que está tirando na Universidade um curso brilhante. O rapaz da "terra'' do nosso compatriota, era El-Rei... Teve o Senhor Dom Duarte a acompanhá-Lo duante a passagem por Tolosa, como 1 pr.eceptores, o seu grande Mni.!!,o Dr. José J;lequito Rebelo e o Rev.mo P.e Thomaz Martin s que, com dedicação nunca desmentida, se,guiram passo a passo a sua vida univers.it~ria no sul da ~~·rança. Conheceu .E1~Rei . durante a frequência desta Universidade francesa, alguns rapazes de faQlílias humildes e modestas que foratn seus condiscípulos. · Sua Magestade, com a afabilidade e naturalidade que o caracterizam, manteve com todos as melhores re1ações e ainda hoje troca numerosa corres'p ondê.ncia com êsses seus antigos companheiros de estudo. 7 • II E m Pau e no palacio da Senhora Duquesa do Cadaval, , reuniram-se em festa íntima no dia 23 de Setembro de 1928 um grupo de leais portugueses que ali foram saudar o seu Rei por motivo do seu 21. 0 aniversário, no momento em que atingia a maioridade legal. Estiveram com o Senhor Dom Duarte nêsse dia, alem de Sua Magestade a Rainha Senhora Dona Maria Teresa, a Senhora Infanta Dona Aldegundes, a Senhora Duquesa do Cadaval, Duque do Cadaval, já falecido, Dr. Hipólito Raposo, Dr. Luís de Almeida Braga, Dr. Francisco Rolão Preto, Dr. Mário Cardia, Dr. Joaquim de Almeida Braga, já falecido, D. João de Almeida (Lavradio}, Eng. 0 Albuquerque do· Amàral Cardoso, Rev.mo P.e Tomaz Martins, Eng. 0 Sarrea Prado, Virgílio Barroso, Oorjão Henriqúes, e Jacinto Cândido da Silva. Em dado momento, não podendo calar por mais tempo - G s~u desejo, algumas vozes; interrogaram El-Rei:- MeN Senhor, quando visitará Vossa Magestade a sua Terra? Quando Jrá Vossa Magestade a Portugal? O Senhor ,Dom Duarte !lorriu, e com a maior serenidade que não excluía uma firmeza inabal~vel, respondeu: -Meus amigos, quando menos o esperarem já eu lá terei ido! "'o "d ... õ"' rJl o • Passaram me~es, ·:e a época doiráda ; •' . ' -. / / \< 1 ·;, 1 r 1. \~;r f ' . . ·.E m ·Espapha 'vi-v.i.a-- .- _. mó: de Riveiã. e das grand-.e s.· , ·, XJDOSÍÇÕes. · · . · .' ( -: 1 i" . ., -- ·\· ' ' ., , ~.'-:' ,.:' :' 1• Primeiro fôra d·e slumbtamentd da expbs,iç'ã o , de ·-/-' ··. Sevilha, agora era .o encanto ' nã·o ·. menos intenso da -áe Barcelona. · ' · · ·• ' Na grande e org4l~os~ ·.· ê'ida'âe dó- Norte, na faustosa ·apitai da Catalunha',' epç·o ntrava-se por 'essa data, diri1 indo os serviços dé J.tma, iníportlmte empresa de aviação, ' ua Alteza Impe'rial o Arqí.ti1duque Aritonio de Habsburgo, primo e grande amigo 'elo Senhor Dom Duarte e que o iria auxiliar na 'ex·ecuçãó 'de t.Jm 1 dos maiores sonhos da ua mocidade: .tirar o ~:.brev:et'~ · de aviador. Com as lí~;ões do Arq_uid.uque ·e de · outros experimentados aviaabres ·e o a.rr.ôjo e temeridade que ·tão profundamente vinciin a súa fôrfe e inconfundív el personalidade, em pouco's 'dias executava El-Rei arriscados vôos, t ' •tando igualmente a ·~ctobac'ia áérea na qual muito se .. , .r . ' . distinguiu. . Demorou-se o . <Sénhor Qolri Duarte, em Barcelona, onde recebia a hü'spedagel1) ·dó Afcaide da Cidade, lugar ·nlão desempenhado pelo Co1,1de· de Giiél, e af recebeu tl visita do Dr; José Peqúitu 1Rébelo ,gue de Sevilha partira ao seu encóntro. f.oi. então que El-Rei resolveu cumprir a promessa · feita ' ?'OS:· pottugueses que a Pau O tinham ido saudar. · ' . · . - : • ~Qu ando menos esperaietn já eu l-á terei ido». Era o momentó,-tíada o -faiia -récuar! Em vão o Dr. Pequito :B.ébcl.o t~nta d·e movê-Lo de, empreendimentó tão \ ousado';; ,debalde .Lhe pinta com côres carregadas . as · in'~vitá;veis canseiras e fadigas da viagem; em vão Lhe colo.c:a ' diante ·dás olhos, respeitosa mas claramente, o~ perigos i~ensbs que o esp~ram. Cousa alguma consegue dobrar -a vontade firme de El-Rei, o o ,/ ' ~~ ' C I nada lhe f(lz hesitar o ' querer resoluto. É o para diante, para Portugál! · . , <.n::- í:üt tarde do dia 3·1 dé · Outubro de 1929, diã. qu • todos p(.)s, monárquicos e portugueses, devemos .r écord ... . COm<·•Cntu~a.smo e . fé, passou El-Rei frqnteira portu guesa em direcção à histórica vila de Marvão. . · Vinha num ;modesto autorpóve.l e era acompan .. . . .·. pelo seu bom árr1igo Dr. : Pequito 'Rebelo que, .revezan": do ~se ap . volante com · El-Rei, .o . não abandonou um. s6 momento dUránté toda a viagem. Nãopode:rrws resistir'·.. a contar.·êste curiq.so. episódio que revela na sÜà simplicidad€ : a t êmpera do . caráCter do Senhor Dom Du'arte: Márl)lava o automóvel em pequena velocidade pela e~trada que conduz à fronteira, mas ainda em território espanhol. . Numa curva do caminho o Dr. Pequito Re~ . ·. belo indicou solícito a Sua Magestade, himbados pela luz . doce dêsse caír da tarde, os montes que tão .curiosa ·tornam essa pitoresca e bela região alentejana. . ·· . Sitbitamente El-Rei pede-lh€ que .pare e ali, em plena estrada e com· a .mais perfeita naturalidade, tira o seu pequeno estojo de «toilette~ e dispõe-se a fazer a barba. Ante o paslJlo do s'eu companhejro ·de jornada, explica:. ---: Não,é verdade que me d.isse que côrro o risco de ser preso, 'de ser fuzilado, / àté? Pois bem, meu amigo, nãO :. está certo IJ.em me parece elegante, correr êsses ris.cos : com a barba por fazer. . . ' · · · > ··. Não pretendemos, nem isso caberia no âmbito dêste mo·> · destíssimo irapalho, descrever pormenorizadamente a via- . gem d\:! ·El-Rei. Vamos no entanto dar conta muito sucinta. do 'itinerário percorrido em cinco rápidos dias, pois ma i$ não durou .a demora do Senhor Dom Dtiarteem Portugit . Da fronteira partiu o automóvel para Castelo de Vide· ;que corn .a sua fortaleza reedificada por Dom ])iniz e ·o:S s~us• vestígios romanos, é digna de interessada visita. o ' a il I Ii, ! '; I ! .!' ~-- , ·/ lO rl.~c~· . ,, ' J ·~' Depois passou em Niza e Ro_dàm. Uma «panne,. obriei~ a pequena caravana a pernottar na estrada, a pouca dtstftncia de Castelo Branco. Os assentos ~e um t??bre IIUtomóvel, umas mantas grossas para opor a? frtO da noite e ... abençoado pelas estrelas do nosso hnd<? ceu, ussim passou a primeira noite na sua terra quenda, o Hei de Portugal ! . . · . . · · . ·, . ·ct ·d· Pela madrugada, .Castelo . Branco, a stmpah,ea .ct . a ~ beiroa, mal se deixou fixar pelo olhar comovtdo de _EJ-Ret~ · . No dia seauinte faz.ia~se um .pequeno altG que fot. aproveitado na"" visita à Covilhã, a laboriosa _Mançhes~er portuguesa. Ao entardecer prosseguiu..a vtagem p~r!lOitan do o Senhor Dom Duarte nas mesmas .condtçoes, no caminho próx~mo de ~anteigas. Sem perder um m~ mcnto nova abalada; amda no lusco~fusco da . manha, entrando o carro agora a percorrer a formosa Betr.a Alta. Mangualde, Viseu, ; Tondel~ ... O cen~a~to da pat_:;a~em enchia de comovida alegna o coraçao portuguestsstmo de El-Rei! · ·· Luso, Bussaco, e d.epoi~, ;i lind_a ctdade umversttána, a doce Coimbra, rainha do Mondego. . Agora Pombal, Leiria, com o seu cas~elo de marav_tlha, . e a Batalha, joia preciosíssima da ~r9ut~ectura m_edt~val e testemunho glorioso da nossa extstencta de naçao ltvre c independente. · . . ,· . .- . No campo de S. Jorge de AlJ~barrota passou o S~np~r Dom Duarte a sua terceir!l n01te em fervorosa vtgtha. evocando a memoravel vitória· n~cional. "' Em Fátima, O grande santuano ,portug~es,_comungou t!I·Rei e ali esteve orando piedosam~n!e a Vtrgem Santíssima, no próprio local da sua apançao. . Tambem não ficou esquecido o >vetusto Mostetro ~e · Alcobaça, aonde dbrmem o derradeiro son,..o os dots Rf&ndes amorosos da len,d a: D. .Pedro e O. Ines. J I· • •. ·. • • • · • • I I. .I Das Caldas da Rainha a Abrantes por Torres e de Abrantes ao Gavião. Aqui e na bela herdade .Mqgalha, propriedade do seu dedicado amigo, o 1 esc·r itor Dr. Hipólito Raposo, vinha Sua Magestade . p noita;r. Era a primeira casa portuguesa que recebia seu . Rei e naquele ambiente de dedicação e respei naquele lar ,modelo de dignidade e virtudes cristãs, d cansou o Senhor D. Duarte das fadigas de quatro d consecutivos de viagem por estradas que as mais vezes nem o nome de maus caminhos mer.eêiam. Mas o tempo urgia e, na manhã seguinte, de novo auto se lançoú na estrada poeirenta; desta vez para qu o Senhor Dom Duarte satisfizesse o seu mais ardentedesejo:, visitar o palácio de Vila Viçosa, o Solar Ducal · dos Braganças! Por Crato, fronteira . e Estrem ôz, chegou El-Rei à: · famosa vila, berço da sua Gloriosa Dinastia. Naquêle anoitecer melancólico de novembro, entredois portugueses de rara envergadura moral e seus amigos ·lealissimos, esteve o Duque de Bragança contempland() com o olhar turvo de lágrimas da mais justificada e nobrtr: comoção, a Casa de seus Maiores, os formidáveis obreiros. da grandeza de Portugal! Deixando Vilá Viçosa, seguiu El-Rei acompanhado dos seus dedicados amigos em direcção a Elvas. fez- •. depois uma saudosa romagem a Monforte, terra natal malogrado e querido Mestre, António Sardinha. Pór fim, Portalegre, Alpalhão, Tolosa e de nóvo Castelo de Vide. Não tendo conseguido atravessar a teira em Marvão, voltou atraz, tendo passado a noite herdade do Polvorão, propriedade da familia P Rebelo. No dia segúinte, 5 de Novembro de 1929, o Senhor , Dom Duarte a sua · Pátria pela fronteira ' Vilar formoso, levando nos olhos ~beleza da ya~:g::a_ ·natal e no coração o calor do sol mcomparave .;, terra! · · . '11 A ora com as recordações quendas ÇIUe a. sua a . ~ ..• " guarJava,' o exílio se~ia menos duro,,.. menos tr~stÍI ·a:"':~e-: ."'·, . Passara pouco mats de um ano sobre a cen~ ·: . t:''' ·. . Pau. EI-Rei cumprir_a a sua palavra! h d 1 -~ &~nÍíor . Ora em Seebenstem, ora na Aleman ~ o s~ ' ,., Dom Duarte ia aumentando e aperfetçoan o os seus -conheciment~s técnicos. essas agrícolas mereceAs máqumas e os novos pr_oc . nm~h:u~ ~~~l:a~v~~~f~r:t~~;raâr.ia e polític~ ta~bdem dse · ·enriqueceu poderosamen t e durante êsse peno o -estudo e de trabalho. e a.u<111Ulu 13 12 ~!· . .; ;•· /i!ilr 'iii· 111,· .· I! ~ ltl. !.·~,_:··_ -~·.> ·~J: é ~ :, .:1•'.!. '"~· m Em em ;! / 193~, no dia 2 de J h f I ,. . J' fulwel-P k un. o, a ecJa Inesperadamentei Dom M ar ' proxJmo de Londres, o Sen r -~ . ditoso M~~::r.~aii. Com, o desaparecimento do ,' ~sufruira .o~ bens e ;e~~=s ~t: ê~s~â~~~!oga~a sua uma peregnna solução d 1 ça, a V: Senhor Dom Duarte de aq~il~e~~nça, qubvinha es har r·. ça e Chefe da mesma f . . e, co_mo uque d _:··. pertencia. Contra êsse :s~~:~~ ml;lJtto Jtegitima ente J ' · ' regando t pro es ou El i A res 11ustres jurisconsultos os D' ., · -.ugusto V~z ~into, Luiz d'Aimeida rs: : . fc;~~~~d~ ~e~q_mta- de tratare_in a questão se~ ;; _·.. . tr~.s · nota~~f~d~~o~og~d~~~ ~~~s;go se, d~se~p_e~h·aia~ ~;·,-. ~entos governamenfai.s a razão as . . e~l soes . e &-\:-- t1am ao seu Re io Co . . e os d1re1tos que ~r.. hquveram qúe at~· a or nst~tumte! e de tal maneira ,·· · ~ Aerr~iro cón.testar -~ d~,u~:h~a mng~em se atr~veu ~· : · .-notavel . documento M · € . a a_Jg~mentaçao de 1 .. · c -· · as com a dJgntdade e d~eei~e ~m todos os actos dà sua vida féi El~Ret ., lfssimo: mmuta dos seus ~dvoga~os dês~e . prote'sto n t r .. A • ;·. ~; . . -: . «Eu, Dom D~arte; Duque de Brdgança, tendo tomado ronhecimento do decreto-lei n. 0 23.240 de 21 de Novembro de 1933, ,que deu aplicaç'ão e novo proprietario aos bens vinculados da casa de' Bragança, formulo perante o Governo Português e. perante a Nação o ·meu protesto rqntra tal disposição, 'ofensiva das antigas leis nacionais c 'r{os niais elementares princípios de justiça. . ·. \f:!ão n]e move qualguer im{.JUlso de ambição. Nascido e cr!fzdo em um lar proscrito, aprendi no destêrro, com . a recof(lação e pelo exemplo de ·El-Rei Dom Miguel, meu Augusto Avô, ·e nos conselhos e lições de Meu Pai, ti a , ar e a servir Portugal, na pobreza, e com o desinte~ rês de que um ' o~tro, em toda a sua vida, deram proya: fiel, como Eles, ás (eis da honra e pronto ao sacrifício da p;' ria vida pelo bem. do· País. Importa-me, porem, dej en e assegurar a junção hist6rica de uma Cas,a que' , foi dar te séculos verdadeira Instituição 1\acional, ga- · rantida a. p(Jsse dá minha Famíli'a e por leis que não · foram legi :mainbzte revogadas. 1mpdi:ta-me lembrar quê · . pela expres vontade dos instituidores do-vinculo e pe{às Leis seculares'{Jtte informam a posse e a sucessão Jía Casa de Bragança, 'esta constitui·uma propriedade particular .. ; · de natureià especial, nqo pártilha,vel nem s usceptível de disposição ·te$tat'n,nitdria ,·propriedade cuja g uarda e colz.. -· .,::. servru;ão me pertence hoje a Mim, pela :propria legitimi· .· ..(i. dacte da minha iietança dinastiça~ . cumprindo-me trans-:. ··A tllili-la intacta 'aos ... ;ne.us · sucessores, e/n /memoria e res··~. { peito de um passado, ·que é ·d.o mesmo l f!mpo, da Minha Familia e da !Vação; e êsse direitq ·de propriedade, embora d e nature.za especial, não se COf!lpadecé com a disposiÇão de confisco: . contida no decreto n. 0 23.240, negando-sé . .. ,, . l'xiséencia e vidà à Família de Bragança, que, mercê de : Ocas, m"lo sé extinguiu. Os institutos de interêsse publico . t.·dados pelo decreto, embora digiz'os da Minha atenção,.. A l ,.. 15 '' não justificam êsse acto do Oovêrno, que interpôs em um assunto de caracter patrimort'ial ama decisão de fôrça, que não cabe nas considerações que lhe servem de fun damentd. Contra êsse acto do Oovêmo formulo o m, protesto, porque o meu silencio poderia ser levado à co a de assentimento tácito à flagrante, injusta e por todo os titulas bem inesperada violação de direitos, que são ezzs e dos meus sucessores, direitos aos quais não ren it~·o nem me é dado renunciar, porque pertencerão no futur , como hoje, ao Chefe da Casa de Bragança, á qual cam re continuar na história da Patria as gloriosas tradiçõe do seu passado. a) D. Duarte de Bragar. ça «Aprendi no destêrro, diz El-Rei, com a re ordação e pelo exemplo de EI-Rei Dom Miguel, met Augusto Avô, e nos conselhos e lições de meu Pai, amar e a ' servir Portugal, na pobreza, e com o des· riterêsse de que um e outro em tôda a sua vida dera111 prova.» · Grandes e sentidas palavras estas ! I Vejamos agora, ainda que muito r ~sumidamente, a autoridade com que El-Rei pode citar os exemplos de seus Augustos Pai e Avô. Ao recordar fugidios mo· mentos da sua vida de exilados, queremos pôr diante dos olhos dos portugueses a magnífica herança de honra, isenção e sacrifício que El-Rei herdou e com dig.nidade inexcedível tem sabido manter. 16 IV O Senhor Dom Duarte D junto ao muro dos . d'. uque de Bragança . ]ar tns do p d . ' V IÇosa na tarde de 4 d N aço e VIla e ovembro de 1929 vocar o destêrro de El-Rei Dom Miguel I desde a tarde tragica de 1 de Junho de 1834, dia em que a bordo da fragata inglesa ·«Stag» abandonou Portugal, é folhear um album iluminado pelas mais altas virtudes do coração humano. Recordamos com respeito essa figura gentilíssima de Hei cavaleiro, que ao deixar a sua patria, forçado pela :tdversidade, arrancava das mãos os próprios aneis num u· sto que havia de encher de pasmo e incompreensão o irrequieto imperador· do Brasil. Rei idolatrado pelo seu povo, ·consubstanciou os princípios da Monarquia P rtuguesa e vencido pela coligação das potencias estran1' ·iras (França, Inglaterra e Espanha) tomou o caminho d exílio, sem uma mácula a denegrir-lhe o nome, sem •una fraqueza a empanar-lhe a gloria. Saía da Patria que como Rei tão alevantadamente servira e, despojado d ' todos os bens materiais, amparado pela sua fé e pela ·onsciência recta e firme do dever cumprido, ia começar :, 11bir o doloroso calvarío do destêrro. Do honesto e insuspeito J. M. da Silva Vieira transC'r vo passagens que nos revelam curiosas facetas do aractcr do Senhor Dom Miguel I. «O seu intransigente :uMor às coisas portuguesas, diz-nos o já citado escritor, 17 Jevava;;Ct~;~k~;· nas suàsroupas e objectos de;ÚSQ, -·""-.....,. . m~oduto~'>nacionais» . . A sua lista · civil (ine~ada, com então:sé lhe . chamava) era distribuída pelos maisnee sitados e chegavà a endividar-se com os proprios criad para acudir à pobreza.» . E o probo Silva Vieira concl «Este Príncipe, para quém a vida tem sido umas de fatalidades, e que, niartir de um século que o mereCia, 'será recordado com assombro pei;Is gera vindoiras, é o Senhor Dom Miguel de Bragança Bourõon.» . · , Do livro «Princesa e Monja» da Princesa Inez de: ",Lõwef!stein, tradução . do, nos~o _querido 'camarada; Ex. mo Sr.. Condecd'Aivellos, reproduztm()s ~sta passagem: .•. · «G amôr pela Pátfia"--Portugal-eta uma verdad~·ira. · paixão-« Se eu $Onbesse ... »-dizia muita vez- Se eu soubesse que nunca mais lá voltaria morria de desgôsto.» · Tudo que de Portugal, lhe ià, 'u ma pequena fôlha de árvore, um fruto, uma pedra que fôsse, tudo era p~e cioso. Quando nos mandavam da sua Pátria àzeit'e,. frutas ou outros productos, era preciso conservá-los cotri todo o cuidado, para só servirem nas grandes ocasiões; . · e, mesmo nessas ocasiões, bem regateados, porqu·e._: -«tinham ido de Portugal.» O seu exílio nessa primeira fase foi uma peregrina..:. ção qüe o levou sucessivamente à Italia, à Inglaterra e à Alemanha, fixando aqui a sua residencia. Casou em aos 24 de Setembro de 1851 com a ·. rilosa e virtuosissima Princesa Adelaide de Lõwenstein·Wertheim · e dêste casamento nasceram as Serihora.s: · lnfantas: Dona Maria das das Neves, Dona Maria Teresa~ . Dona Maria ·José, Dona Aldegundes de Jesus Maria~·· · Dona Maria Ana e Dona Maria Antonia. Seu Filhó e herdeiro Dom Miguel, nasceu em Kleinhenbach a 19 de· Setembro de 1853. fortemente tocado pela desventura~. ~i' Kleinh~ribach ]8 fór~ . . t . 'maiores provações, No seu .r rru rcstgnadamen e a~ . 0 constantemente lembrava lu r, IIH!de]~ de portSg~f~S~r;a portugue~~ . assentaya a ,, 1 ° 11 p:\tna dtstante. Filho era portuguésa;'de Otpmaonde nas~eu seu s· 'poda Oúarda lhe derramou l'flt•s, a agua lustral 9~et~ar-\1e o Sacramet1to do Batisn:o. llollre a cabeça ao mmts h . Dom 1vHguel com a maJOr ~t'~!llill sempre o. Sen tor alíticos que se desenrol.avam llklll;iio os acontectme~~~s iua gravidade Lhe enchtan: a t'lll Portugal, e q~e ~e Lei da mais profunda dor~ Alllln de Portugues e em muito o seu fim. A morte , npressando por certo cora ão de muitos portugueses·~ (I III' encheu de luto . o . · b · , 1 ·· m Bronn ç ac h a 14 de Novembro de · vdo encont~a- o e anos 0 Rei que não curvara <[ lH(>ü. fale~ta nem a nnimo herotco com nem 6:i a encarniçada adversidade, . l' llllla 1 .· d Oliveíra Martins podia desasso~dm:t po.breza. Por tsso a pena eA ·. 't r . _ Ninguem era mats hradamente escrever rJ~te ~p~ ap~~.' isso foi ó ultimo dos.. IIO&so do que Dom . tgue '· . . · preendeu e amou. · d o gt· ·an d e que o povo .com . . I II filho· e herdetro <) Senh?r Dom Jv1tgue . t~ce tores o bondoso pa~re l~l'i pro sento teve c<;m1~ P tor Àntonio Joaquim Rtbetro Cnlllpo Santo e o sabtOI ~umem honradíssimo que ~orno ( lC!Illes de Abreu, aqu~ ~ .d0 d . Coimbra recusou jurar . • 1 Universtda e e f'ii'Cill'ssor aa · 'dos liberais. . fidelidade aos novos c~e . . Dom Miguel o Colegw de l'n:quentou o Sen or . Universidade de Insp!·uck S ·' tl ('I emente em e agra. ndes posst'bilidadesAmted · Metzsuas · IIIH!e revelou to ,as as luído a formatura em cienct~s ll'dunis, tendo at cone ·. louros de primeiro acadenaturais sempre com . os orrí a devida vénia, o excertolllico. Transcre;o. aqm e cos )Ublicado pelo me~ camaele jornats aanAiv~ro Maia. Histonando a rndaume formoso notavel a_TtJgol~~ • " . J 1<} .' ·~ ' ' ' ., ·. ~ ' ' ~ -.:i . ' ' vida do ·bónd·o so p . . ' . ' ' ~ . .: Tl anos á'bé""ttis ap:~~c~fe dtz o ilu_ste articulistá: « pontifício, p.ro:nto a ve;{a-se a Pw IX fardado de causa temporal dos p er o seu sangue em na brecha da Porta tpas, ameaçada .e depois roldão . os camisas ve:~e~uan~o 'por ~sta entraram , , .a ~ua VIda reparte-se entr as e Oa:tbaldi. . . E ! eutdad9s extremosos da s e ~sua, ~arretra de militar e , sem esperança e os extre ua amtha, o amôr da sua f as leis. A sua vida e mos p~la. Patria de que o ban ;/ ,quem ha dias prestoux~~plansstma, conheceu-a Deu : ''I , ' ~~m eniêvo as manifestaçõ~:aJ e todo,s .quanto,s segu '11 . ~lo' h~ nela uma só mancha· é o .~eudapnmorado cara !' , cu h~s.Imo e portuguesís ! a VI a .e um homem de f • , , Jaf1!a Jamais O salpicou' su~o. .Gdws não, os tin rem~Lhe os ouvidos sem. r osstvel~ente teria, a ·' ',. .' •. ~ágnmas, q'ue ~ua mãe-~ as pa~avras, ensopadas . recolheu num con . t anta Prmcesa que dep . r . . , . ,.r~ceber em 1866 a ~e~'l o na_ Ilha ~~ \Yigth -Lhe di I .··:, ,Prestar· as ultimas ho~~~;ao legttlmista que de aqui ; . ',·· «Meu querido' Filh lgens a Dom Miguel I: . í co~o o fumo... Teu o, .embra-te de que a vida f. , :. .guwte desapareceu /at.dstaya borp num dia e lias-de desaparecer M Vl a , e um sonho e tu ' ·~~' .. - só te ha-de lembr~; as quan_do a morte se aproxi . . . ve~es!... .E lembra-te es~~mpnste ou não os tells ; , estivesse dtante de D pre de que tua Mãe, como , :gue~es, te diz que pref~~~· e na Presença dêstes , P . desh.sa,res umà: s6 Iinh ver-te VIver e morrer,p ', Jt.erow;> Pai-que seu un~coda estraga que seguiu MNtto novo ainda perd pensament<? era Portugal' si.u~ primeira Esposa a Pri~~ o Slenhor Dom Migu~i" ' tana de Thurn e T · eza sabei Maria ~ , lnfantes Dom Miguel~x~b que dei~ou na orfandade . , e om Francisco José, já falecidqs I,·.·. s' I,·: r s o ' ' '' ~-~ '•'~ -- , 1 • ? ; j' ., Senhora Dona Ma;ria Tere~a •.,CM,adá . ·\ç com ~ ·~ . . ~· : Contraiu dote . anos depois segundo matrimonio com 1111a Prima a Princesa Maria-Tereza Lõwensthein-Wertein· Rosemberg e dêste casamento nasceram alem de El-Rei; us Senhoras Infantas: Dona ·Isabel Maria, casada com o · I 'rfncipe franc'isco José, Príncipe herdeiro de' .Thtirn e· 'fax is; Dona Maria Benedita; Dona Mafalda, já falecida; Dona Maria An~. casadaçom o Príncipe Carlós Augustq. ui! Thurn e Taxis; Dona. Maria Antonia; Dona Filipa e Dona Maria Adelaide, afilhaga·do Senhor Dom Manuelll t~ da Senhora 'Dona ·Atnelia. . '. Viajante infatigavel, conhecia o Senhor Dom Miguel I~ ·toda a Eurépa, aonde era recebido como hospede desejado em muitas Côrte,s. Via,jou tambem o saudoso Príncipe na Amériéa e na Africa, e a India muitas vetes re- ,, . re"beu a sua .v isita; ali em batidas e caçadas que ficaram célebres, tomou parte como convidado -dos mais poderosos e opulentos rRajahs. , Cavaleiro, destríssimo, como já o fôra seu Augusto ,. l'ai, era um·ádmirayeljogador de polo. Atirador exímíd. rivalizava nêste desporto .com seu Primo o Grande. e . malogrado Rei Dom Carlos I. · A . Irlanda e a Escócia ·" /, · foram teatro· de algumas das suas mais notáveis proezas dnegéticas. ·Em Inglaterra esteve várias vezes de visita :t sua Mãe que em religiã:o vivia no convento de Santa : Cecilia em Ryde, na Ilha de Wigth, e santarnente no mesmo retiro veio a: falecer em 1909. Em Março 'de 1880 guardando 9 mais rigoroso incóghico, entrou em ' Portugal, ·a ''sua Patria bem. amada. E ao visitar Queluz; ·· di ante do rétrato de' seu ' Pai, a tela formosíssima de Giovanni Endêr, era reconhecido pelo velho Guarda do . Palacio que respeitoso e comovid~, de joelhos lhe beijou; · n mão! · · · •• 11 Infan~a '• I 'rfttcipe Carlos. Lúis .de .Thurn e Taxis. ' ;~;: '' · j ' :'Í .. . ' .. r .. ~ , ..;;·"'., ...... ·'·I e · Parente am'igo de Reis e Príncipes, conhecedor ·profundo das altas questões diplomaticas e internacionais, inteligencia 1privilegiadâ, não pode surpreender ninguem o grande- prestígio de que' gosava nas Côrtes estran· ,geiras. ' Residindo na Austria, tendo escolhido uma Princesa attstri.aca para Sua Esposa, não .admira que fôsse a política dos lmperios Centrais a que melhor conhecia e com a qual mais pem relacionado se encontrava. · · Amigo -querido do Imperador Francisco José, que -como Parente mtiHo estimado o distinguiu sempre, logrou em 1881 o privilegio de exterritorialidade concedida pelo proprio Imperador; privilegio que O vinha colocar a Ele e á família Real ao abrigo de qualquer duvida ·sobre a sua nacionalidade ·que desejou e quis sempre que fôs~e portuguesa! Coronel num regimento de hussards austríaco, serviu como grande m,ilitar que era, a patria que a Si c à Sua Família . tão generosa hospitalidade concedera. Mas em · 191,6 Portugal entrava na grande conflagração europeia ao lado dos Aliados contra o bloco formado pelos Jmpérjqs Centrais e imediatamente o Senhor Dom Miguel pedia a sua demissão do exercito, passando a fazer serviço na milícia da paz, na benemérita Cruz Vermelha. Português sempre e acima de tudo, coisa alguma se pddia sobrepôr ao seu sentimento patriotico. formoso e nobre sentimento o seu! · Assinado o armistício o Senhor Dom Miguel II com a , isenção que lhe era peculiar e muito embora nada ··tivesse a censurar-se como Rei e como Português, resolveu abdicar no Senhor Dom Duarte, unico filho vuão do seu segundo matrimonio, tendo renunciado' iá . por . sua livre e espontânea vontade, seu filho mais velho o infante Dom Miguel, Duque de Viseu, e tendo falecido . <> lnf~nte Dom Francisco José. Ao Senhor Dom Duarte competia: agora, manter com brilho a pe·sada herança d·os seus Maiores. A menoridade do Príncipe foi entregue por expressa determinação de seu Pai, aos cuidados da regencia da Senhora Infanta Dona Aldegundes de Jesus Maria, Prín-cesa de Bourbon-Parma e Condessa Viuva de Bardi e Duqueza de Guimarães. Os documentos da abdicação e da instituição da Regencia estão datados de 31 ·de Julho de 1920. Sete anos depois, aos 11 de Outubro de 1927 f~lecia após curta doença no Castelo de Sccbenstein o Senhor Dom Miguel II. A sua morte serena c cristia.,. níssiina, exemp!Ó alto como o fôra toda a sua vida, podia s.e r anunciada por Sua Mas:;estade a Rainha Senhora . Dona Maria Teresa, nêstes termos: «Meu Marido adorme2eu docemente esta ríoite». Com tão grandes exemplos, com tão proveitosas lições, tem El-Rei a sua alma fortalecida e preparada para todos ps ataques da sorte' adversa. A sua família, a ramília R~al portuguêsa, tem sido posta á prova dos mais duros infortunios e desditas sem que por um momento a s~.~a linha de conduta sofresse o mais pequeno desvio. · .. Ci · Pratiquemos nôs, portugueses de boa vontade, o açto reparador que porá termo ao mais iníquo e ignominioso dos destêrros! Restauremos a Monarquia, e guiados pelo nosso Rei, comó os portugueses dos grandes séculos da nossa Historia, construamos uma nova ordem sobre as ruínas dêste velho mundo egoísta que desaba; ordem maior e melhor em paz e em justiça social! , ' 23 22 - I . r_"''·' I. . dejinitfva do _que com as ob1as públicas na metrópole que SfJ du~anam pouco tempo. Mas a razão principal da mtnha tdéa. é que já à muito tempo a má colonisação da n~ssa Ajnca . dá pretexto à cobiça do estrangeiro. Contznuo convenctdo de que a colonisação rápida e em gra(lde escala e a defesa militar são os dois problemas mats urgentes» . • _O , fal~o ~on~eito de uma no~ reza casta, acumulando v E staria naturalmente terminad? o empre~ndi~ento que me propuz se, o desejo de bem tlummar a figura de El-Rei me não obrigasse a alongar ainda pouco mais esta modesta e descolorida resenha. Por privilegio e favor, que ' aqui muito respe ito sa e gratamente agradeço, foi-me dada a honra de JQr c a autorisação de transcrever algumas das cartas do Senhor Dom Duarte ao seu Lugar-Teriente, Con selll eiro João de Azevedo Coutinho. . Dessas cartas que são o retrato d e 111na inteligencia formosíssima e de um portuguesíssim o coração, escolhi três, não porque devesse especializar al guma delas, mas tão somente pelos limites {e como sinceramente o lamento!) que um trabalho desta natureza impõe. O problema da colonização, ontem como hoje, do - maximo interêsse para a no ssa exislc ncia de Nação · 'Imperial, merecia a El-Rei estas observ ações em carta datada do i4tDia de S. João de Deus de 1933»: - «Sobre · - . um a questão dos capitais que o Oovêmo quere aplicar em trabalhos públicos, parece que não me fiz bem entender. A minha idea de empregar de preferência êsses fundos na coloniztJçilo, visava exactamente a combater o desemprêgo. Assim realizava-se êsse fim de uma maneira mais 24 v!ctOs e tr:dtgmdades a c~bert? de uma situação imerectda mas JUlgada por mUttos tmutavel, cai estrondosamente deante da~ palavras claras e firmes de El-Rei que co~ _a sua autondade de Chef-conscio das suas responsabthdades,, ~plica na chaga purulenta o cauterio duro mas necessano ... Erri carta datada de Janeiro de 1933, diz o Senhor Dom Duarte: ' »Aà!ca da Ç!Uestão dos títulos, a minha oriuztação é a de '!ao c~njtrmar, r~vogar ou criar tltulos emquanto não fo': .Ret de jacto, tsto é, enquanto mio tiver o poder nece_ssa~w para jazer respeitar êsses tltu/os. Atendelldo, · porem, a necesstdade que me expõe na sua carta, concordo em que talvez se possa fazer uma comissao ou conselho d~ 1\obreza, "!as apenas com as junções de estudar e re~ gtstar, a pedtdo ,dos interéssados, os tftulos hereditários e. os nomes dCfs pessoas a quem caibam, não me pronunct~ndo eu proprw sobre o assunto, mas servindo esse regtsto como base para d confirmação oficial a jazer mais tard_..e, quando um. dia_ a Afonarquia se restaure. É de supo1 qu~ a- publtcaçao desse registo venha a dar basta_nte ~altsfação moral aos interessados. A êstes, porém so ·sen~m estudadas as pretensões, provando previamente: por meto de documento oficial da Causa estarem em dia com as suas obrigações de monárquic~s; e tambem, é 25 ' " claro, não admitidos os moralmente indignos. E parece~ me bem que êsse Conselho· tivesse tambem o encargo de escrever nos seus registos os actos notaveis de benemerência nacional ou monárquica, pois não compreendo uma nobreza que não seja aberta, tanto para os novos valores que apareçam como para aqueles que por indignidade devam saír. Estas são as minhas idéas gerais sobre o assunto: gostava de saber o que pensa sobre elas; vale a pêna estudar o caso com todo o cuidado. P eço me apresente qualquer projecto sobre o assunto, o qual eu estudarei, por minha parte, com toda a boa vontade». A Peregrinação Nacional a Vila Viçosa, organizada pelo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e r eali zada em 28 de Abril de 1935, mereceu ao Senhor Dom Duarte esta formosíssima carta: ,/ li jf !' ,j 11: ilí i~ «Acompanhei de princípio com todo o meu coração, a iniciativa do Cardial Patriarca, destinada a prestar homenágem nacional a Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, padroeira do Reino a quem Eu e toda a minha Famflia atrav.ez dos séculos prestamos diàriamente mlto. Agora que os jornais me trouxeram o relato do que foi essa magestosa e emocionante homená.{!cm, //{lO quero nem posso deixar de vir dizer-lhe que me associei jubilosamente a ela, e que em Vila Viçosa esteve o meu pensamento naqueles dias memoraveis. Ali se disse por mais de uma vez, que Vila Viçosa estâ Liltada indelevelmente à História Pátria. Ali se verificou por modo que não deixa dúvidas, que o bom e querido povo português, sempre que lhe consentem libertar-se de prisões convencionais, acorre a viver intensamente das tradições dessa mesma hístória pátria, tradições pelas quais se contou entre os primeiros povos do mundo. Afastado da Patria por leis, li 26 I que repugnam à consetencia de homens livres, banido como inimigo, quando quereria dar a própria vida pela fortuna e grandeza de Portugal, rtetz!u.una lei humana me desprendeu dessa aspiração, nenhuma consideração me afasta de um posto de honra, que tLêstes dias da peregrinação a Vila Viçosa me entristeceu pela ausência a que fui forçado. Nossa Senhora da Conceição, portadora da Corôa de Portugal, terá ouvido as orações do seu povo e as minhas pelas prosperidades da Nossa querida Patria. Um dia virá em que Portugal- como em outras nações já acontece-conseguirá vencer inteiramente os cada vez menos jus ti ficados respeitos por ama ordem de coisas, que, a despeito de muitas e boas intenções, por pouca que não fez a ruina material do país, e - pior ainda - a rufna espiritual da nação, divorciada da sua mentalidade ancestral por transviados caminhos. N essa hora, e só . então, poderá consolidar-se racionalmente a restaaraçüo nacional amb~cionada e procurada anciosamente por tantos portugueses de boa vontade, mas totalmente impossfvel sem um regresso sincero, claro e completo às tradições nacionais, com toda a vida, garantias de estabilidade e continuidade, e sif!nificação de fôrça, que elas trazem consigo. Não será bastante,- e . a história do mundo o ensina - a obra e o sacrifício de um homem ou de uma geração, para a garantia de princípios, que não tenham procurado e fixado desde logo as raízes na alma dos povos, mostrando que se fundam e se baseiam naquela mesma organização que os povos instintivamente crearam para bem das su:r aspirações e mais altos ideais. Conservemos religiosamente essa bem fundada csp:.:rança, nesta hora em que o amôr pela verdade se acentua na política de todo o mundo. Conservemos a convicçtY.o pro funda de que nada pode resistirá sinceridade dos nossos propósitos, à lealdade da nossa conduta t: ao profundo 27 e desinteressado amôr da Pátria, que nos move; e tenhamos fé em Deus, que protegerá Portugal, já que no coração dos portugueses vive, como agora se viu, a mesma fé ardente que o levou a todas as grandezas e o tem livrado de todos os perigos. Peço-lhe, meu caro joão Coutinho, que jaça certos o Cardeal Patriarca e os Bispos de que do intimo do coração estive,., com eles, e orei com eles e com os pe! egtinos, nos comoventes dias de Vila Viçosa. Propositadamente não ·q uis em os desfigurar com comentários inúteis, as palavras magníficas de El-Rei. Elas aí ficam, como o mais belo testemunho de uma superior inteligência, de um nobilíssimo coração e de uma alma inteiramente abrasada no mais puro amôr da Pátria! El-Rei é, nesta hora dramática de angústias e incertezas, a garantia única de salvação nacional. Portugueses, _que o nosso grito resgatador seja a aurora de uma nova era para o nosso martirizado e querido Portugal: VIVA SUA MAOESTADE EL-REI O SENHOR D. DUARTE II! NOTA- Por fins de 1935 e princípios de 1936, visitou S. M. El-Rei algumas das principais Côrtes estrangeiras. Da maneira corno decorreu esta viagem, das provas de estima e ~istinção pelo Senhor Dom Duarte recebidas, encontra-se relato compl eto e tanto quanto possível por- menorizado, no folheto intitulado: Notas sôbre as viagens do Duque de Bragança a Londres, Paris e Roma. 1935-1936. Ê!>te folheto foi publicado em Maio de 1936. ERRA TAS Pag. 8- Linha 2 » 15 13 » 18 24 " 27 ,. 22 " 25 ,. 12 Onde está reuniram-se um outro nessa sentimento chef-conscio Leia-se reuniu-se um e outro na exemplo chefe conscio