RELATÓRIO DE PESQUISA Relatório de Pesquisa apresentado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) Pontifícia Universidade Católica PUC-Rio Departamento de Educação BOLSISTAS: Lilia dos Santos de Lima Marcelly Matos Galvão Freitas Dias Ramon Bahiense de Melo Thaís Serrato Cortez Diniz Rocha Lima Vivian Alves Marques da Silva ORIENTADORA: Profa Dra Patrícia Coelho da Costa Rio de Janeiro 2015 Departamento de Educação Projeto de Pesquisa a) Título: A Universidade do ar: um programa radiofônico dedicado aos nossos mestres (1940-1945) Área do conhecimento: Educação b) Área de concentração do programa de pós-graduação do departamento: Educação brasileira c) Linha de pesquisa: História das idéias e instituições educacionais d) Resumo: O tema da pesquisa é a Universidade do ar, programa educacional radiofônico direcionado aos nossos mestres, irradiado entre 1941 e 1944 pela Rádio Nacional. Organizada pela Divisão do Ensino Secundário do Ministério da Educação, esta programação contou com a participação Francisco Venâncio Filho, Lourenço Filho, Jonathas Serrano, Carlos Delgado de Carvalho entre outros intelectuais que acreditavam na capacidade do rádio de disseminar o conhecimento metodológico das disciplinas, desenvolvido na Faculdade de Filosofia, situada a cidade do Rio de Janeiro, para os professores que trabalhavam nas regiões mais distantes do país. A elaboração de tal pesquisa exige a localização, classificação e interpretação de fontes escritas e orais tais como ofícios, livros, periódicos, cartas de ouvintes, scripts e gravações de programas, disponíveis no Museu da Imagem e do Som, na Casa de Rui Barbosa, na Academia Brasileira de Letras, na Associação Brasileira de Educação, na Biblioteca Nacional, na Sociedade Amigos da Rádio MEC, na Biblioteca Regional da Glória, no Arquivo Nacional e no Centro de Memória da Rádio Nacional. O objetivo deste trabalho é analisar através das fontes citadas a concepção, a realização e a recepção, assim como os conteúdos da Universidade do ar, Desta forma, pretendo colaborar com novas visões sobre o ensino pelo do rádio, a história da formação de professores e das disciplinas escolares. 2 Departamento de Educação I) Introdução O objetivo desta etapa da pesquisa foi analisar os scripts elaborados por Jonathas Serrano e Manoel Lourenço Filho para a Universidade do ar, programa radiofônico dedicado à formação de professores secundários, irradiado entre os anos de 1941 e 1944. Especificamente, pretendeu-se identificar como estes radieducadores definiam seus professores ouvintes ao escreverem seus textos para leitura ao microfone. Nos 1930, o ensino secundário no Brasil passou por um processo de regulamentação. A partir do Decreto n. 19.890, 18/04/1931 de Francisco Campos, as Faculdades de Filosofia Ciências e Letras passaram a ser as únicas responsáveis pela formação de mestres para este segmento de ensino. Nesta década, estas faculdades se situavam no Rio de janeiro, a Universidade do Distrito Federal (UDF), entre 1935 e 1939, e Universidade do Brasil (UB), a partir de 1937. Em São Paulo, a Universidade de São Paulo (USP) criada em 1934. Ao longo de quatro anos, Universidade do ar irradiou aulas de vinte disciplinas eram elas: Língua e Literatura Espanhola e Hispano-Americana, Geografia Geral, Org. do Ensino Secundário, Lingua e Literatura Francesa, Física, Estatística Educacional, Sociologia, História Geral, Ciências Físicas e Naturais e Química, Introdução à Filosofia, Fundamentos Biológicos da Educação, Língua e Literatura Latina, Biologia, História do Brasil (proferida por Jonathas Serrano), Língua e Literatura Inglesa, Matemática, Psicologia Educacional (proferida por Lourenço Filho), Língua e Literatura Luso-Brasileira, Geografia do Brasil e Filosofia da Educação. As aulas eram semanais, distribuídas de segunda a sábado e duravam quinze minutos. Os cursos tinham a duração de um ano, eram gratuitos e qualquer professor poderia inscrever-se por meio de cartas. Ao longo do período letivo, os rádioalunos recebiam resumos para o acompanhamento das aulas. Ao longo do período letivo os professores ouvintes interagiam com os mestres responsáveis pelos cursos por meio de missivas. Ao final, os alunos da Universidade do ar deveriam elaborar um trabalho com a finalidade de verificar o aproveitamento, sendo este um pré-requisito para obtenção do certificado de conclusão. 3 Departamento de Educação Entre os professores da Universidade do ar estavam Manoel Lourenço Filho, Carlos Delgado de Carvalho, Jonhatas Serrano, Cândido de Melo Leitão e Francisco Venâncio Filho que tinham em comum a participação nas primeiras experiências radiofônicas em nosso país e os investimentos no desenvolvimento de métodos pedagógicos para o Ensino Secundário. Estes intelectuais acreditavam no potencial da radiofonia para a divulgação de conhecimentos sobre metodologias, conteúdo e avaliação desenvolvidos nas Faculdades de Filosofia Ciências e Letras localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo para os professores que residiam nos lugares mais distantes e isolados do nosso país. Como já foi citado, o foco desta etapa recaiu sobre os trabalhos de Jonathas Serrano e Lourenço Filho. Disciplina 1941 Biologia Ciências Físicas Naturais e Químicas Estatística Educacional Física Geografia Geral e do Brasil História do Brasil História Geral Sociologia Didática História Natural Matemática Língua e Lit. Espanhola Organização do Ensino Secundário Língua e Lit. Francesa Introdução à Filosofia Fundamentos Biológicos da PROFESSORES DA UNIVERSIDADE DO AR 1942 1943 1944 Cândido Melo Leitão Francisco Venâncio Filho Cândido Melo Leitão Francisco Venâncio Filho Cândido Melo Leitão João Pecegueiro do Amaral Cândido Melo Leitão XXXXXXXXXXXX XXX Fernando Silveira Fernando Silveira Fernando Silveira XXXXXXXXXXXX XXX Carlos Delgado de Carvalho XXXXXXXXXXXX XXX Carlos Delgado de Carvalho F. Venâncio Filho XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX José Veríssimo da Costa Jonathas Serrano Jonathas Serrano Jonathas Serrano J.B. Melo e Sousa XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX Cândido Melo Leitão J.B. Melo e Sousa XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX Cândido Melo Leitão J.C.Melo e Souza J.C.Melo e Souza XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX J. B. Melo e Sousa Alceu de Amoroso Lima XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX Antenor Nascentes XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX 4 José Veríssmo da Costa Lúcia Magalhães e assistentes Maria Junqueira Schmidt José Barreto Filho Alair Antunes Américo Jacobina Lacombe J.B. Melo e Sousa Alceu de Amoroso Lima Helder Câmara XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX Departamento de Educação Educação Língua e Lit. Latina Língua e Lit. Inglesa Psicologia Educacional Língua e Literatura Luso Brasileira Filosofia da Educação XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX Fernando Barata XXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXX Teobaldo Miranda Santos Abgar Renault Lourenço Filho Clóvis Monteiro XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXX XXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXX Fonte: Arquivo Jonathas Serrano/Arquivo Nacional Jonathas Serrano (1855 - 1944) foi aluno e professor de História do Colégio Pedro II e da Escola Normal do Rio de Janeiro. Advogado por formação, dedicou-se aos estudos sobre História e metodologia de ensino desta disciplina. Crítico dos métodos de ensino do seu tempo escreveu livros didáticos, como Epítome de História Universal (1913), História do Brasil (1931), História da Civilização (1935), além de obras dedicadas aos professores, como Metodologia da história na aula primária (1917), A escola nova (1932) e Como se ensina História (1935) As aulas de História do Brasil da Universidade do ar eram divididas em uma parte teórica e outra metodológica. As aulas de teoria tinham seu conteúdo baseado nas pesquisas e discussões desenvolvidas no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do qual Jonathas Serrano era sócio. Já as aulas de metodologia eram elaboradas a partir das obras que Serrano publicou dedicada aos mestres de História do Ensino Secundário, sendo Como se Ensina História (1935) o maior referencial para suas aulas radiofônicas Como se ensina História (1935) foi analisado com dedicação, pela natureza do seu conteúdo, endereçado aos professores do ensino secundário, com propostas metodológicas desenvolvidas a partir da experiência do autor de mais de trinta anos de sala de aula. O livro é dividido em onze pequenos capítulos e trata a História desde sua concepção como Ciência, os perigos e as seguridades que seu entendimento poderia proporcionar, e como deveria ser ensinada. Serrano era contrário às metodologias de ensino de História de seu tempo, como, por exemplo, o método de se decorar todas as datas e nomes históricos, o que ao seu olhar não levava a disciplina contribuir para o desenvolvimento do aluno como ser autônomo e consciente. 5 Departamento de Educação Manoel Bergstrom Lourenço Filho (1897-1970) era graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo. Ainda nos anos 1920, desenvolveu estudos sobre Psicologia, e foi nomeado Professor de Pedagogia e Psicologia da Escola Normal de Piracicaba, em São Paulo. Em 1922, foi indicado Diretor da Instrução Pública do Ceará, quando realizou uma reforma educacional baseada nos princípios da Escola Nova. Em 1930, foi indicado Diretor-Geral da Instrução Pública de São Paulo, quando criou o primeiro serviço de Psicologia Aplicada do país, de caráter oficial. Em 1932, a convite de Anísio Teixeira, dirigiu o Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Foi professor de Psicologia Educacional da Universidade do Distrito Federal (UDF) e da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). Ao longo de sua trajetória, Lourenço Filho trabalhou na divulgação de conteúdos pedagógicos aos professores seja por via impressa ou radiofônica. A partir de 1927, organizou a coleção Biblioteca da Educação da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Entre as obras publicadas é possível citar Psicologia Experimental de Henri Piéron (1927) e a Escola e a Psicologia Experimental de Ed. Claparede (1928). Como se ensina História também foi publicado por esta coleção. No prefácio assinado por Lourenço Filho anunciava os principais destinatários da obra: Podendo ter composto obra de alta erudição, especialista que é na matéria, e cultor apaixonado tanto nas letras históricas como das questões de educação em geral, de que não desconhece qualquer dos aspectos, o Professor Jonhatas Serrano conteve-se em escrever uma obra simples, ao alcance de todos os nossos mestres, para servir às escolas brasileiras, na realidade de suas condições presentes (LOURENÇO FILHO, 1935, p.10). No prefácio de Radio e Educação (1934) Lourenço Filho destacou a importância do radio para a educação nacional: Se é certo que não se organiza um povo sem intenso trabalho de educação, será certo também que o Brasil não se organizará rapidamente se lançar mão dos instrumentos modernos de cultura popular, entre os quaes radiofonia talvez ocupe hoje um dos primeiros lugares (LOURENÇO FILHO, 1934, p.10) . Lourenço Filho participou da organização da radiofonia educativa em nosso país. Na década de 1930, foi membro da Comissão Radio Educativa da Confederação da Confederação Brasileira de Radiodifusão. O objetivo desta comissão era: 6 Departamento de Educação promover o emprego da radiodifusão como meio de educação direta, pelo meio de informações técnicas e profissionais, pelo auxílio ao ensino público, pela melhoria da saúde e higiene, pelo apuro do gosto artístico, pelo desenvolvimento do espírito de paz e concórdia entre os povos, pela propagação de notícias de interesse em geral. (ESPINHEIRA, 1934, p.104). Este professor também participou da programação radiofônica Quartos de Hora da Comissão Radio Educativa da CBR, ministrando aulas de Psicologia aos nossos mestres diariamente. É interessante destacar que outros professores da Universidade do ar também atuaram nesta programação como Jonathas Serrano, Maria Junqueira Smith e Antenor Nascentes. II) Metodologia e fontes Como bolsistas do PIBIC, nosso trabalho abarcou a coleta e a seleção de fontes em locais como: no Arquivo Nacional, na Biblioteca Nacional, no CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - Fundação Getúlio Vargas) e na biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, assim como leituras de outros textos para discussões efetuadas quinzenalmente pelo grupo ao longo do ano. Neste período de pesquisa foram feitas o mapeamento das fontes localizadas do acervo pessoal de Jonathas Serrano no Arquivo Nacional, assim como o de Lourenço Filho no CPDOC. O material encontrado na biblioteca da PUC foi a obra “Cinema e educação” de Jonathas Serrano. Outros títulos utilizados como apoio sobre Jonathas Serrano, para a pesquisa, foram encontrados na Biblioteca Nacional, são eles: “Contra a corrente” (localização I,313,4,16) páginas de 9 a 12, 64 a 68, 132 a 136; “Homens e ideas” (localização 342,6,21) páginas de 132 a 138; e “Discursos separata do caderno 19”: (localização I, 207,1,21) páginas 24 a 35, 37 a 57. 7 Departamento de Educação SCRIPTS – Jonathas Serrano 1. Aviso preliminar de J.S. em agradecimento a referencias sobre as palestras a professora em SP. s/ data; 2. Aviso prévio de J.S sobre a carta do professor Romão dos Santos de Franca em SP e sobre a inscrição de Mario Tavares de Oliveira Cavalcanti em 10/06/1943; 3. 12º aula do ano de 1941 em 13/10/1941; 4. 13º aula do ano de 1941 em 28/10/1941; 5. 14º aula do ano de 1947 em 12/11/1941; 6. 17º aula do ano de 1941 em 30/12/1941; 7. 1º aula do ano de 1943 realizada em 29/04/43; 8. 4º aula do ano de 1943 em 20/05/1943; 9. 16º aula do ano de 1943 em 09/08/1943; 10. 36º aula de História do Brasil de 30/12/43; 11. 8º aula em 12/08 s-ano; 12. 11º aula em 27/09 s-ano; 13. Relação dos professores aprovados na disciplina História do Brasil; 14. Relação dos professores aprovados na disciplina História do Brasil 17/04/44; 15. Explicação sobre materiais referentes à História Geral para series do curso ginasial. Em referência a Lourenço Filho, encontramos no arquivo do CPDOC, rolos fotográficos dos manuscritos utilizados em suas aulas radiofônicas, são eles: 8 Departamento de Educação Código Rolo/ Nº de Fotografia/ Titulo LF t UA Rolo7 FOT. 548 à 705 LF p/Lourenço Filho 1955.04.27 Rolo2 FOT. 803 à 814 GC b Sousa F. Rolo6 FOT. 243 (2) GC g 1937.12.27/2 Rolo49 FOT. 200 à 261 GC b Amado, G. Rolo 1 FOT. 683 (3) à 683 (4) GC g 1936.12.00 Rolo 45 FOT. 1 a 257 SCRIPTS – Lourenço Filho Produção Intelectual (parte) de LF/ LF.MB pi 39.06.25 a LF/LF.MB pi 58.07.15, reunindo mais de duzentos e sessenta slides. 1. CPDOC LF t UA - (slide 548 à 705 - rolo LF02); 2. CPDOC LF p/Lourenço Filho 1955.04.27 - (slide 803 à 814 - rolo LF07). CPDOC LF t UA - (slide 548 à 705 - rolo LF02) – Trata da melhor escola da América e faz uma discussão a partir das suas experiências com colegas professores e congressos assistidos como a radio educadora pode promover um satisfatório aprendizado mesmo que diferente da educação escolar tradicional. Conferiu-se que as escolas são diferentes em tamanho e abordagem de ensino. "[...] as escolas americanas são dos mais variados tipos, tamanhos, feitios e resultados." Segundo Lourenço Filho, a mais interessante foi uma escola que não cobrava freqüência, matrícula e sem aparatos como os que são valorizados materialmente: livros, quadro negro, provas e corpo docente fixo. Mesmo com essas características a escola, 9 Departamento de Educação que por vezes é próxima a realidade nacional brasileira, segue as aulas (ele trata de como as aulas oferecidas pela NBC - National Broadcasting Company, em NY, funcionam). Lourenço Filho comenta a estrutura do ambiente da Rádio que alcançava cerca de 50 milhões de pessoas pela irradiação das ondas. Seleção de artistas, conferencistas e orgãos de publicidade (radio teatro). Relata minuciosamente como as técnicas da apresentação em rádio são rigorosas na estética: "Fale mais claro!"; "Afaste-se do microfone!" e "Ria mais devagar". Refere-se também a grande dificuldade de encontrar artistas fonogenicos na América dos anos 1930. Reforça a importância da radio educação no Brasil pelo fato do país ser extenso e com diferentes culturas. Segundo Lourenço Filho, "Em um país de tão largas distancias, como o Brasil, esquecer a utilização do rádio na alma da educação popular representaria um delito contra a civilização." CPDOC LF p/Lourenço Filho 1955.04.27 - (slide 803 à 814 - rolo LF07) – Trata os dados da Secção de Programas e Atividades Extra-Classe pedidos pelo Sm. Diretor do IPE. - exemplares vendidos. (Documento de Rio de Janeiro - 16/10/1935) Retrata os panoramas dedicados aos programas elaborados às escolas públicas em 1932, seu respectivo regulamento oficial de serviço e objetivos aos propósitos de utilização do mesmo. Elaboração de programas com muito esforço devido a condições desfavoráveis: estruturais e de pessoal. Neste último, era necessário ajustar-se a um "auto-preparo" para realizar satisfatoriamente o programa exigido que incluía disponibilidade de tempo. Além disso, o investimento pessoal na carreira, como: compra de livros, tempo para elaborar programas escolares, etc. sem dispor de verba especial. Todo o material utilizado para a elaboração do programa (canetas, penas, lápis) era de iniciativa particular (dos professores). Consta uma breve apresentação da metodologia da disciplina Psicologia Educacional, da qual Lourenço Filho elaborara e narrara no programa Universidade do Ar, um 10 Departamento de Educação exemplo de prova de raciocínio mental para professores secundaristas e scripts das aulas irradiadas. Após este mapeamento inicial das fontes e discussões no grupo de estudos surgiram as seguintes questões: Qual a concepção de ouvinte-modelo definida por Jonathas Serrano e Lourenço Filho em suas aulas na Universidade do Ar? Qual foi o diálogo estabelecido entre Jonathas Serrano e Lourenço Filho com os professores ouvintes? Como, segundo Eco (1988), pode se estabelecer as referencias de conhecimento do speaker com o do ouvinte? Desta forma, foram selecionados alguns conceitos que nortearam o diálogo com as fontes. As análises de um programa de rádio pressupõem duas perspectivas: a escrita e a oral. Nesta etapa o grupo realizou estudos a partir da perspectiva escrita, em especial os scripts das aulas de Jonathas Serrano e Lourenço Filho com os professores ouvintes. O script só se materializa na voz do speaker. Como nos lembra Vinao Frago (2001), o escrito não é o espelho da oralidade. Como sujeito da enunciação, o responsável pela irradiação utiliza a entonação expressiva, lançando mão de recursos como, por exemplo, as interjeições e a pronúncia, que variam de acordo com o contexto. Para tentar diminuir a interferência que compõe a enunciação, o autor, como speaker, conta com outras estratégias tais como marcas, palavras sublinhadas, orientações e recados nas folhas das aulas. Apenas por meio do contato com o texto utilizado pelo speaker, a saber, o script, é possível analisar esta dimensão do formato das programações, uma vez que ele guarda as marcas do autor, em seu esforço de orientar a fala. Para análise das fontes escritas acima descritas, em especial os scripts, estudamos o conceito de leitor-modelo elaborado por Eco (1988). Em seus estudos, o autor afirma a produção de um texto envolve a análise do destino interpretativo. Os fatores considerados na elaboração do escrito são muitos: a escolha da língua, o patrimônio estilístico, sinais de gênero que são fundamentais para tentar compreender o perfil do destinatário. Ao estudarmos os scripts nos apropriamos do conceito, pensamos que poderíamos identificar nos scripts dos professores da Universidade do ar a ideia de um ouvinte-modelo. Desta forma, tentamos perceber como autores dos scripts idealizavam o mestre que ouviria a irradiação, dentro do contexto de formação para o ensino superior 11 Departamento de Educação daquele período. Observamos os pronomes de tratamento e os recursos estilísticos do textos para percebermos qual o destinatário idealizado por Lourenço Filho e Jonathas Serrano. III) Conclusões A análise permitiu conferir as discussões e os processos políticos/pedagógicos da educação na década de 1940. Segundo Eco (1988), o autor de um texto projeta um modelo de leitor com base em suas referências de conhecimento, mesmo que esse leitor, o destinatário, não seja conhecido pelo autor. Em seus scripts, Jonathas Serrano discursa citando alguns aspectos de sua experiência de mais de vinte anos em sala de aula. Ele acreditava que estes relatos auxiliariam os professores na devida compreensão da concepção de História, fundamental ao ensino da disciplina. Criticava valorização pura e simples da cronologia e alertava sobre a necessidade da atualização do professor. Sua metodologia claramente mescla elementos da Escola Nova à sua prática pedagógica como, por exemplo, a postura do mestre perante seus alunos e a responsabilidade do mesmo fazê-los interessados. Já Lourenço Filho cita casos hipotéticos e suas possíveis resoluções sob o prisma da Psicologia Educacional. Nos seus scripts é possível perceber, que este mestre da Universidade do ar acreditava que os professores do nosso Ensino Secundário tinham pouco conhecimento sobre Psicologia, o que levava a incompreensão de problemas de aprendizagem e de disciplina. Os scripts convertidos pela oralidade do speaker eram a forma de comunicação entre os professores da Universidade do Ar e ouvintes. Hoje se constituem como fonte para a pesquisa sobre a história da formação de professores no Brasil. Os textos mostram que Jonhatas Serrano e Lourenço Filho pressupunham que os professores ouvintes tinham pouco conhecimento sobre metodologia de ensino. Para estes mestres, isso era prejudicial a ampliação do nosso Ensino Secundário. Neste sentido, eles empreendiam esforços para divulgar uma metodologia específica para cada disciplina. Nos programas era anunciada a importância da associação do conhecimento teórico ao metodológico. 12 Departamento de Educação Neste aspecto, é interessante pensar que Serrano e Lourenço Fillho utilizavam o conhecimento experiencial dos mestres como estratégia de aproximação dos ouvintes. As experiências dos professores ouvintes são sempre citadas nos scripts, mas são seguidas de sugestões com base de conhecimentos metodológicos da disciplina. IV) Outros: Produção do documentário Educadores nas ondas do radio (1920-1950) submetido ao comitê de avaliação da Mostra Curta ANPEd 2015: Mostra de filmes educativos. Referências Bibliográficas DO VALLE, L.; BOHADANA, E. Interação e interatividade: por uma reantropolização da EaD online. Educação & Sociedade. Campinas, vol. 33, nº 121, 2012. ESPINHEIRA, Ariosto. Rádio e educação. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1934. ECO, Umbeco Lector in fabula. São Paulo: Perspectiva, 1988. FÁVERO, Maria de Lourdes; BRITTO, Jáder (org.). Dicionário de educadores no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, MEC-Inep, 1999. LÉVY, P. As tecnologias da inteligência. São Paulo: Editora 34, 1993. SERRANO, Jonathas. Melhoramentos, 1935. Como se ensina história. São Paulo: Companhia VINAO FRAGO, Antonio. Por uma história da cultura escrita. In: Cadernos do projecto museológico sobre Educação e Infancia, n. 77, p.3-59, 2001 13