XXXV Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Aveia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
07 a 09 de abril de 2015, Porto Alegre, RS
40 anos do Programa de Melhoramento Genético de Aveia da UFRGS
ENSAIO LOCAL DE AVEIAS FORRAGEIRAS CRIOULAS EM CHAPECÓ, SC,
2014
Felipe Jochims1, Mario Miranda2, Cristiano Nunes Nesi3
Tradicionalmente, nas regiões de clima Cfa no estado de SC, ocorre anualmente o
período de “vazio forrageiro de outono” e, nesse particular, a cultura de aveia minimiza essa
menor oferta de forragem no período hibernal. Na região Sul do Brasil a aveia é uma das
principais culturas associada à produção de grãos, cobertura do solo, pastagens de inverno e em
sistemas de produção integrados de lavoura-pecuária. A aveia disponibiliza alimento de alta
qualidade aos animais durante o período de outono/inverno, período no qual as pastagens
perenes de estação quente já apresentam baixa ou nula taxa de acúmulo de forragem e período
de baixa disponibilidade de forragem aos animais em pastejo.
Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar genótipos de aveias crioulas com
fins forrageiros, com todos genótipos oriundos da região Oeste de Santa Catarina e amplamente
cultivado pelos produtores e, por fim, responder as frequentes indagações dos produtores
quanto ao real desempenho desses genótipos adaptados a região em questão.
O experimento foi conduzido na área experimental do Centro de Pesquisa para
Agricultura Familiar (Cepaf), da Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina
(Epagri), em Chapecó- SC. Foram avaliados nove genótipos de aveias, sendo as testemunhas
os genótipos S2 Guapa e FAPA II e as crioulas os genótipos Crioula Paraíso, Crioula Pesqueiro
Xanxerê “branca”, Crioula Pesqueiro Xanxerê “amarela”, Crioula Xanxerê, Crioula Tunápolis,
Crioula Iporá do Oeste e a Crioula Guaraciaba.
O delineamento experimental usado foi blocos ao acaso, com três repetições. A parcela
foi constituída de 5 linhas de 4m usando 0,20m entre linhas (4,0m2). Para avaliação do
rendimento de forragem, foram cortadas com tesoura manual, as 3 linhas centrais (2,4m2). A
semeadura foi realizada manualmente em 10/05/2014, na densidade de 350 sementes
viáveis/m2. A emergência ocorreu em torno do dia 22/05/2014. A adubação utilizada foi
baseada na tabela de recomendação de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina (200 kg/ha de N, 90 kg/ha de P2O5, 135 kg/ha K2O), utilizando
respectivamente, ureia, superfosfato triplo e cloreto de potássio. A adubação nitrogenada foi
fracionada, sendo aplicada 20 kg/ha de N na semeadura e o restante em 4 doses iguais, aplicadas
no início do perfilhamento e após os 3 primeiros cortes (MANUAL..., 2004).
Os cortes foram realizados quando as plantas atingiram 30-35cm de altura, obtida
através da medida do solo até a curvatura das folhas superiores, deixando um resíduo de 710cm de altura. O primeiro corte foi realizado em 14/07/2014, e o ultimo em 20/10/2014. Na
data do primeiro corte, foi efetuada avaliação de doenças, não sendo constatados danos
expressivos. As plantas invasoras foram controladas mecanicamente, efetuando-se capinas
periódica. As condições climáticas ao longo do período experimental transcorreram dentro da
normalidade.
Os dados de produção dos genótipos foram submetidos à um teste de normalidade de
resíduos por meio do teste de Shapiro-Wilk a 5% de probabilidade. Após confirmada a
normalidade dos resíduos, os dados foram submetidos a análise de variância e as médias foram
comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. As análises foram realizadas com
auxílio do pacote estatístico R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2012).
1
Zootecnista, Dr., Pesquisador, Empresa de Pesquisa e extensão Rural de Santa Catarina, Chapecó, SC. E-mail:
[email protected]
2
Eng. Agr., Dr., Pesquisador, Empresa de Pesquisa e extensão Rural de Santa Catarina, Chapecó, SC. E-mail:
[email protected]
3
Eng. Agr., Dr., Pesquisador, Empresa de Pesquisa e extensão Rural de Santa Catarina, Chapecó, SC. E-mail:
[email protected]
As produções de matéria seca das aveias (Tabela 1) apresentaram diferenças
significativas. O genótipo mais produtivo foi a Crioula Iporá do Oeste, que produziu 5,7 t/ha
de MS no período experimental, sendo esse valor 62% superior a produção observada na parcela
testemunha com o genótipo S2 Guapa, que foi a que apresentou as menores produções neste
ensaio. Outro genótipo que apresentou uma boa produção foi a Crioula Paraíso, atingindo a
produção de 5 t/ha de MS no período experimental.
A produção média de todo o ensaio foi de 4.350 kg/MS por ha. Dentre os genótipos
testados, o Crioula Paraíso, Crioula Pesqueiro Xanxerê “branca”, Crioula Iporá do Oeste,
Crioula Guaraciaba e a testemunha FAPA II apresentaram produção superior à média geral do
ensaio. Os demais genótipos, Crioula Pesqueiro Xanxerê “amarela”, Crioula Xanxerê, Crioula
Tunápolis e a testemunha S2 Guapa apresentaram produção inferior à média experimental.
Além disso, é possível de se observar pelos rendimentos entre os cortes (Figura 1) que
os genótipos mais produtivos, Crioula Iporá do Oeste, Crioula Paraíso, Crioula Pesqueiro
Xanxerê “branca” e a testemunha FAPA II apresentaram rendimentos elevados nos cortes
intermediários e de final de ciclo (cortes 4, 5 e 6), sendo interessantes para a utilização como
pastagens puras. Ao contrário, os genótipos Crioula Xanxerê, Crioula Pesqueiro Xanxerê
“amarela” e a testemunha S2 Guapa apresentaram uma produção elevada nos primeiros cortes,
posteriormente diminuindo a produção. Esse pode ser um bom indicativo que esses genótipos
tenham boa aptidão para consórcio em pastagens perenes de verão, que tem grande relevância
nos sistemas de produção local, pois no momento do rebrote da gramínea estival, a aveia já está
no final do ciclo, evitando o atraso no restabelecimento da pastagem de verão.
De qualquer modo, com o somatório dos cortes, os rendimentos observados neste ensaio
podem ser considerados baixos, quando comparados com o seu potencial produtivo
(FONTANELI et al., 2009), porém ainda assim superiores aos obtidos por Lájus et al., (2005;
2006 e 2007) e Miranda et al., (2009). Fontaneli et al., (2009) relatam que a aveia- preta pode
atingir até 6,0 t/ha e a aveia-branca até 7,0 t/ha de MS.
Mesmo com os rendimentos das aveias estando aquém do esperado, alguns genótipos
podem ser recomendados para utilização nos sistemas produtivos da região Oeste de Santa
Catarina. Os genótipos Crioula Xanxerê e Crioula Pesqueiro Xanxerê “amarelo” apresentaram
precocidade, podendo ser recomendadas para sistemas com sobressemeadura e os cultivares
Crioula Iporá do Oeste e Crioula Paraíso podem ser recomendadas para cultivo em pastagens
puras, pois apresentaram ciclo longo e elevada produção total e nos cortes de final de ciclo.
Referências:
FONTANELI, R.S. et al. Forrageiras para integração lavoura-pecuária-floresta na região sul
brasileira. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2009, 340p.
SANTOS, H.P. et al. Gramíneas Anuais de Inverno, Passo Fundo, RS, 2009. In: Forrageiras para
Integração lavoura – Floresta – Pecuária na Região Sul-Brasileira: Embrapa Trigo, 2009. cap. 3.
LAJÚS, C.A. et al. Ensaio Nacional de aveias forrageiras, Chapecó SC. 2004. In: Reunião da Comissão
Brasileira de Pesquisa de Aveia, XXV. Resultados experimentais... Ponta Grossa: IAPAR, 2005. 4143.
LAJÚS, C.A. et al. Ensaio Nacional de aveias forrageiras, Chapecó, SC, 2005. In: Reunião da Comissão
Brasileira de Pesquisa de Aveia, XXVI. Resultados experimentais... Guarapuava: CBPA, 2006. P. 155
– 158.
LAJÚS, C.A. et al. Ensaio nacional de aveias forrageiras, Chapecó, SC, 2006. In: Reunião da Comissão
Brasileira de Pesquisa de Aveia, XXVII. Resultados experimentais... Passo Fundo: CBPA, 2007. p.
207 – 212.
MIRANDA, M. et al. Ensaio Nacional de aveias forrageiras, Chapecó, SC, 2008, In: Reunião da
Comissão Brasileira de Pesquisa de Aveia, XXIX. Resultados experimentais... Porto Alegre: CBPA,
2009. p. 448 – 409.
R DEVELOPMENT CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. R
Foundation for Statistical Computing. Vienna, Austria, 2012
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO, Manual de adubação e de calagem para os
estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto Alegre: SBCS-NRS, 2004.
Tabela 1. Rendimento de matéria seca de diferentes genótipos de aveias forrageiras crioulas,
obtidos no ensaio local de aveias em Chapecó, SC, na Epagri, 2014.
Corte 1 Corte 2 Corte 3 Corte 4 Corte 5 Corte 6
14/07 30/07 14/08 08/09 26/09 20/10
Crioula Paraíso
726
586
717
1359
974
712
Crioula Pesqueiro Xanxerê “branca”
1091
633
645
1103
839
368
Crioula Pesqueiro Xanxerê “amarela” 1116
458
481
799
506
155
Crioula Xanxerê
1245
461
503
814
460
213
Crioula Tunápolis
803
581
556
941
949
324
Crioula Iporá do Oeste
870
622
614
1371
1238
981
Crioula Guaraciaba
1052
577
632
1052
680
155
S2 Guapa (T)*
1156
575
442
742
478
115
FAPA II (T)
855
644
745
982
999
447
CV (%)
Total
5073 b
4678 b
3514 c
3697 c
4155 c
5695 a
4149 c
3507 c
4673 b
10,78
Letras minúsculas diferentes na coluna indicam diferença significativa pelo teste de Scott-Knott a 5%
*Cultivar testemunha
FAPA II
S2 Guapa
Crioula Guaraciaba
Crioula Iporaá do Oeste
Crioula Tunápolis
Crioula Xanxerê
C. Pesqueiro Xanxerê "amarela"
C. Pesqueiro Xanxerê "branca"
Crioula Paraíso
0
Corte 1
1000
Corte 2
2000
Corte 3
Corte 4
3000
Corte 5
4000
5000
6000
Corte 6
Figura 1. Rendimento de matéria seca de diferentes genótipos de aveias crioulas, por corte, no
município de Chapecó, região Oeste de Santa Catarina, 2014
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