CENTRODEENSINOSUPERIORDOCEARÁ FACULDADECEARENSE–FaC CURSODESERVIÇOSOCIAL RIMÊNIAMANUELLY VIOLÊNCIA FINANCEIRA CONTRA A PESSOA IDOSA: O CASO DO CENTRO INTEGRADO DE ATENÇÃO E PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA DO ESTADO DO CEARÁ FORTALEZA 2013 RIMÊNIAMANUELLY VIOLÊNCIA FINANCEIRA CONTRA A PESSOA IDOSA: O CASO DO CENTRO INTEGRADO DE ATENÇÃO E PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA DO ESTADO DO CEARÁ MonografiasubmetidaàaprovaçãodaCoord enaçãodoCursodeServiçoSocialdoCentro deEnsinoSuperiordoCeará,comorequisitop arcialparaobtençãodograudeGraduação. Orientador: Prof.(a) Sandy Mendes FORTALEZA 2013 Virzângela Paula RIMÊNIAMANUELLY VIOLÊNCIA FINANCEIRA CONTRA A PESSOA IDOSA: O CASO DO CENTRO INTEGRADO DE ATENÇÃO E PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA DO ESTADO DO CEARÁ MonografiacomoprérequisitoparaobtençãodotítulodeBacharela doemServiçoSocial,outorgadopelaFaculda deCearense– FaC,tendosidoaprovadapelabancaexamin adoracompostapelosprofessores. Datadaaprovação:____/____/_______ BANCAEXAMINADORA _________________________________________________ Prof.(a) Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes Orientadora _________________________________________________ Prof.(a) Ms. Mariana Albuquerque Dias Aderaldo _________________________________________________ Professor Ms. Igor Monteiro Silva Aos Meus pais Edna e Cirinaldo pelos valores que me ensinaram e pelo exemplo que são. Vocês são meu porto seguro. Minha Grande Moça, Flávia Gabriele, minha razão e riqueza. Você é a benção em minha vida. É a estrelinha que brilha no céu da mamãe. Você é meu grande amor. Meu amor Flávio Carvalho por toda paciência, incentivo e apoio. Você é um grande exemplo – eu ainda chego lá. Minhas irmãs, Carolyne Clarindo e Rayênia Clarindo. Raio de sol queria ser sabida igual a você. Minha Raynha queria ser tão forte e guerreira assim como “tu”. AGRADECIMENTOS À Deus, pela vida, paz e tranquilidade em todos os momentos de minha vida; À Faculdade Cearense representada pelo seu diretor Professor Dr. Marcos Antônio; Aos meus pais Cirinaldo e Edna, pela minha vida e formação; À minha Profª. Ms. Flaubênia Girão, coordenadora do curso de graduação em Serviço Social pela dedicação ao ensino e pelos conhecimentos transmitidos; Em especial agradeço a minha orientadora Profª. Virzângela Paula, pelo incentivo, pelos ensinamentos que me foram transmitidos, pela orientação desta monografia e por ter acreditado em mim; À Profª. Ms. Mariana Aderaldo, que com seu jeito simples e meigo este sempre presente, tendo muita paciência, competência, confiança e conhecimentos; Ao Professor Igor Monteiro, pela dedicação, incentivo, ensinamentos e paciência. Obrigado! Por fim, agradeço a todos os professores, em especial à Monica Duarte, amigos e colegas que de alguma maneira ajudaram para esta realização. RESUMO Esta monografia tem como objetivo geral, realizar um estudo Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa do Estado do Ceará (CIAPREV-CE), sobre a atual realidade da violência financeira, bem como o perfil dos idosos assistidos por essa instituição, destacando a problemática da violência financeira e os aspectos jurídicos voltados à proteção desses idosos. A metodologia utilizada trata-se de uma pesquisa bibliográfica, documental, descritiva, exploratória e de um estudo de caso com abordagem qualitativa. O resultado deste estudo nos permite afirmar a necessidade de combater a violência financeira contra o idoso, utilizando-se como recurso o seu estatuto e toda a legislação pertinente, a qual preconiza a estruturação da Rede de Atenção e Defesa dos Direitos das Pessoas Idosas, que inclua a conscientização e educação da sociedade sobre o processo de envelhecimento, seus mitos e preconceitos, que estimule a atuação do próprio idoso para que seja o protagonista na defesa dos seus direitos, enfim, que fomente estudos, pesquisas e campanhas informativas sobre o tema. Palavras-chave:Envelhecimento. Violência financeira. Direitos da pessoa idosa. ABSTRACT This monograph aims to generally conduct a Center for Integrated Care and Prevention of Violence Against the Elderly Ceará State (CIAPREV-EC), on the current financial reality of violence, as well as the profile of the elderly assisted by that institution highlighting the issue of violence financial and legal aspects aimed at protection of the elderly. The methodology used it is a bibliographical, documentary, descriptive, exploratory, and a case study with a qualitative approach. The result of this study allows us to affirm the need to combat financial violence against the elderly, using as resource status and all relevant legislation, which calls for the structuring of the Network of Care and Protection of the Rights of Older Persons, which includes awareness and education of society about the aging process, its myths and prejudices, which stimulates the activity of the elderly person to be the protagonist in the defense of their rights, finally, that fosters study, research and information campaigns on the issue. Keywords: Aging. Violence financially. Rights of older people. LISTADEGRÁFICOS Gráfico 1 – Denúncias ............................................................................................... 42 Gráfico 2 – Via de recebimento de denúncia ............................................................ 42 Gráfico 3 – Sexo........................................................................................................ 43 Gráfico 4 – Tipos de violência nas denúncias recebidas........................................... 43 LISTAABREVIATURASESIGLAS APAV Associação Portuguesa de Apoio à Vítima BPC Benefícios da Previdência e da Assistência Social CAPS Centros de Atenção Psicossocial CIAPREV Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência à Pessoa Idosa CRAS Centro de Referência de Assistência Social CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social DPU Defensoria Pública da União FFB Faculdade Farias Brito ILPS Instituições de longa permanência INSS Instituto Nacional do Seguro Social OMS Organização Mundial da Saúde SEJUS Secretária de Justiça SO Sistema de Ouvidoria TAC Taxas de Abertura de Credito UBASF Unidades Básicas de Saúde UFC Universidade Federal do Ceará UNIFOR Universidade de Fortaleza SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1 ENVELHECIMENTO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ............................... 12 1.1 Envelhecimento como condição humana ....................................................... 12 1.1.1 Paradigmas do envelhecimento ....................................................................... 16 1.1.1.1 Envelhecimento bem-sucedido ..................................................................... 17 1.1.1.2 Envelhecimento saudável.............................................................................. 18 1.1.1.3 Envelhecimento ativo .................................................................................... 18 1.1.1.4 Envelhecimento populacional ........................................................................ 19 2 O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA E A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA ....................................................................................................... 25 2.1 O fenômeno da violência .................................................................................. 25 2.2 A violência financeira........................................................................................ 27 2.2.1 O contexto dos abusos financeiros .................................................................. 28 2.2.2 Empréstimo consignado ................................................................................... 29 2.2.3 Violência financeira, empréstimo e a legislação ............................................... 30 2.3 A proteção dos direitos da pessoa idosa e o Estatuto do Idoso .................. 31 2.4 A violência contra pessoa idosa e o CIAPREVI .............................................. 34 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 35 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................. 38 4.1 O CIAPREVI e o combate à violência contra a pessoa idosa ........................ 38 4.2 Violência contra pessoa idosa e a violação de direitos humanos: o caso do CIAPREVI-CE ...................................................................................................... 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 48 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 APÊNDICES ............................................................................................................. 53 10 INTRODUÇÃO Minha motivação pelo temadeu-se pelas impressões que tive acerca das explanações feitas sobre a questão da violência financeira no IV Seminário de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa, realizado aqui em Fortaleza, em junho de 2012. Dentre outros temas debatidos nesse evento, do qual participei como acadêmica observadora,a temática da violência financeira foi a que mais despertou em mim o interesse, pelo fato de ser um crime bastante praticado mas pouco denunciado. Envelhecercomdignidadeéumdosgrandesdesafiosdahumanidade,pois,qua ndosecultivahábitossaudáveis,asmudançasnaturaisdaidadetornamsemenosdolorosas.Éumprocessoqueinfelizmente,temenfrentadováriosobstáculosimp ostospelasociedadecontemporânea.Nessesentido,aviolênciapraticadacontraapessoai dosatemsidoevidenciadacomoomaioremaisgravedessesobstáculos. OServiçoSocialexerceumpapelfundamentalnaqualidadedevidadosidososat ravésdaintervenção,conscientizaçãoemediaçãocomoobjetivodeproporcionarobemest aràpessoaidosa.Nessesentido,onossoordenamentojurídicopreceituagarantiasaosidos osquesubsidiamoserviçosocialnoseudeverdegarantirosdireitosdapessoaidosa,atravé sdocumprimentodoEstatutodoIdoso. Falaremviolência,agressõesemaustratossignificafalardetraumasdenaturez aemocional,psicológica,moralefísica.Sobreisso,umdosaspectospoucocontempladosq uandosefaladeviolênciacontraaspessoasidosas,dizrespeitoaosdanoscausadosporumt ipodeviolênciaqueestácadavezmaisemevidência, ou seja,violênciafinanceira. Diante dessas notas introdutórias, foi suscitado o seguinte questionamento: “Como os profissionais que trabalham diretamente com os idosos, vítimas de violência, percebem essa realidade social, ou seja, porque grande parte desses idosos não denuncia a violência sofrida e, quando existe a denúncia, por que eles a negam ou a omitem? Qual a percepção dos assistentes sociais nesse sentido?”. Estamonografiatemcomoobjetivogeral:Realizar um estudo noCentro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência à Pessoa Idosa no estado do Ceará (CIAPREV-CE) sobre a atual realidade da violência financeira,bemcomooperfildosidososassistidosporessainstituição,destacandoaproble máticadaviolênciafinanceiraeosaspectosjurídicosvoltadosàproteçãodessesidosos.Ete 11 mcomoobjetivosespecíficos:analisarasmudançasocorridasnocontextoatual,emqueosi dososseinserem;conhecerasprincipaisdificuldadesdoCIAPREVICEnoprocessoqueenvolveessaproblemática;identificarquaissãoosmotivosquevemlev andogrupofamiliaraseapoderardosBenefíciosdaPrevidênciaedaAssistênciaSocial(BP C). Apresentemonografiaestádivididaemquatrocapítulos,ondeoprimeirocapítul oversarásobreaquestãodoenvelhecimentonasociedadecontemporânea.Serãoanalisa dos:oprocessodeenvelhecimentocomocondiçãohumana;osparadigmasdoenvelhecim ento(bem-sucedido,saudável,ativo);envelhecimentopopulacional. Osegundocapítuloirátratarsobreofenômenodaviolênciaeaviolaçãodosdireit osdapessoaidosa.Nestecapítulo,ofenômenodaviolênciaseráapresentadosobaperspec tivadesuasrepresentaçõesdiantedaproteçãodosdireitosdapessoaidosaedoEstatutodoI doso.Emdestaque,serãoanalisadososaspectosqueenvolvemaviolênciafinanceiracontr aapessoaidosa,seusconceitos,alegislaçãopertinente,osempréstimosconsignadosede maisquestõessobreessaproblemática. Oterceirocapítuloapresentaametodologiautilizadanapesquisa,ressaltando: oseutipo,olocalondefoirealizada,aamostragem,oinstrumentodacoletadedadosutilizado eaanálisedosdados. O quarto capítulo concerneàanálisedosresultados,ondeserãoexpostasasimpressõesobtidasemcimador esultadodecadaaspectoevidenciadoatravésde entrevista informal como os profissionais e análise dos documentos coletados. Porfim,trazasconsideraçõesfinaisdapesquisacontendoarespostadaproblem ática,bemcomooalcanceounãodosobjetivospropostoseaindicaçãodepesquisascomple mentaresaoreferidoestudo. 12 1 ENVELHECIMENTONASOCIEDADECONTEMPORÂNEA A discussão sobre o envelhecimento, ao longo destas duas décadas, vem ganhando projeção, tanto no meio acadêmico, como no cenário político e na mídia; nas esferas públicas e privadas. Isso ocorreudevido ao aumento da expectativa de vida da população idosa e também ao crescimento do numero de idosos: Desta forma, percebemos que a maioria dos idosos estão entrando numa confusãoentre o tradicional e o moderno e que talvez não estejam entendendo o atual contextoem que estão inseridos. Para alguns que tem mais acesso a este novo mundo fica talvez mais fácil entender, mais que para boa parte o envelhecimento aliado ao moderno, ou seja, a esta nova conjuntura social, econômica e cultura fica mais difícil entender. Neste sentido, para entendemos o envelhecimento na sociedade contemporânea iremos analisar o envelhecimento como condição humana, os paradigmas do envelhecimento e os diversos tipos de envelhecimento como o bemsucedido, saudável, ativo e populacional. A seguir detalharemos cada um destes. 1.1 Envelhecimentocomocondiçãohumana Todosossereshumanosquepassarematravésdotempo,àmedidaqueosanosi rãoseacumulando,inúmerasmodificaçõesocorrerãoemsuasvidas,ocasionandoconstan testransformações,sejamdeordempsicológica,sociológicaoufísica,oumelhor,esteéum dosfenômenosmaisinteressantesnavidadequemquerqueseja,sempredealgumaforma estamosdiferenteseessaintriganterealidadenosacompanhaportodaanossaexistência. Apartirdeumaperspectivabiogerontológica,PapaléoNetto(2002, p. 10)consideraaseguintedefiniçãosobreoenvelhecimento: [...]afasedeumcontinuumqueéavida,começandoestacomaconcepçãoetermin andocomamorte.Aolongodestecontinuumépossívelobservarfasesdedesenvol vimento,puberdadeematuridade,entreasquaispodemseridentificadosmarcad oresbiofisiológicos,querepresentamlimitesdetransiçãoentreasmesmas. Nessesentido,oenvelhecimentoposesercompreendidocomoumfenômenoc omumatodosossereshumanos,oqualdeveserencaradocomoumprocessoqueocorrede maneiracontínuaportodaavida. 13 Valeressaltarque,aolongodotempo,onossocorposofreinfluênciasexternas(s ociais)einternas(processosfisiológicos),ouseja,oprocessodeenvelhecimentoéinfluenci adoporesseconjuntodefatores,tornandooenvelhecimentoúnicoacadaindivíduo. Nessecontexto,váriasteoriasestudamoenvelhecimentoe,considerandoosli mitesdessamonografia,iremosnosdeteràsteoriasbiológicas,sociaisepsicológicas. Asteoriasbiológicasentendemoorganismocomoalgopreciso,atravésdevariá veismensuráveis.Comotal,asdificuldadesdeadaptaçõesdocorpoeasdeficiênciasnasfu nçõessãoofocodessasteorias,conformedestacaFarinatti (2008, p. 23): Asteoriasbiológicasdoenvelhecimentoexaminamoassuntosobaóticadodeclíni oedadegeneraçãodafunçãoeestruturadossistemasorgânicosedascélulas[...]. Oidosorespondemaislentamenteemenoseficazmenteàsalteraçõesambientais devidoaumadeterioraçãodosmecanismosfisiológicos,oqueotornamaisvulnerá vel. Assim,épossívelcompreenderqueasteoriasbiológicasadmitemoenvelhecim entocomoumprocessodeterminadoporgenesefatoresdomeio,tratandose,portanto,deumaherançamultifatorialpelaqualoindivíduoidosodesenvolvesuasativid adescotidianascomdificuldade,devidoàdeterioraçãodosmecanismosfisiológicosdeseu organismo. Emrelaçãoàsteoriassociológicas,épossívelpercebêlascomomodelosdeexplicaçãocausaldoenvelhecimentocomofenômenosocial,conside randoainfluênciaqueasociedadeexercenoestilodevidadosidosos. Combasenessasteoriasqueforamsendoformatadaaolongodosanos,acomu nidadecientíficatemabaseparaseusestudoscomoobjetivodecompreenderoprocessode envelhecimento. OquadrodasteoriasnoTratadodeGeriatriaeGerontologia(SIQUEIRA,2002)in dicaqueasorigensintelectuaisestãodivididasemnívelmicrossocial,micro/macrossociale macrossocial.Tambémexisteumadivisãoem1ª,2ªe3ªgeraçãodeteorias,ondesegundoF arinatti(2008)asprimeirasgeraçõesdeteoriasteriamênfasesobreoindivíduoeseusajusta mentosaoenvelhecimento.Jáasteoriasdasegundageração,dariammaiorimportânciaàa nálisedaestruturamacrossocial.Porfim,aterceirageração,possuindoacaracterísticader elacionarmicroemacrossociais.“[...]fatoresindividuaissãorelativizadosesopesadoscom osdaestruturasocial,entendendoseoenvelhecimentoemsociedadecomoumfenômenoecológicoediversoparacadaconte xtoespaço-temporal”(FARINATTI,2008, p. 30). 14 Atravésdessateoriasociológicadoenvelhecimento,percebeseabuscapelacompreensãodasinteraçõessociaisedosfatoresquelevamaoprocessodo envelhecimentobem-sucedido. Outrasimportantesteoriasquebuscamexplicarcomoocorreoprocessodeenve lhecimentosãoasteoriaspsicológicas,asquaisabordamaspectosligadosaocomportame nto,aosprocessosmentaiseosentimentomanifestadopelosindivíduosduranteeapósoen velhecer. Pesquisaseestudoscientíficossobreoenvelhecimentosãorecentes,osprimeir osprogramasdepesquisapsicológicasobreoadultoeoidosoocorreramnasdécadasde19 60e1970.Aexplicaçãoparaqueessesestudostenhamtãopoucotempoéque“[...]pormuitot empo,apsicologiaassumiuqueosanosdavidaadultaseriamanosdeestabilidade,eosanos davelhice,dedeclínio.Sendoassim,nadahaviaaexplicarsobreavidaadulta,eavelhicedev eriaserestudadapelamedicina”.(NERI,2002, p. 45). Napsicologiagerontológicaateoriaquepossuiumagrandeinfluênciaatualment echama-sedelifespan,quepodemoscompreendercomoodesenvolvimentoaolongodavida.Deacordocom Neri,esse“desenvolvimentoéprodutodainteraçãodialéticaentredeterminantesgenéticobiológicosesocioculturais”(NERI,2005, p. 155).Percebe- sequeoautorbuscafundamentaroenvelhecimentocomoresultadodosprocessosgenétic os-biológicosesocioculturais. Poroutrolado,podemoscompreenderoprocessodeenvelhecimentosendo“[... ]determinadopelainteraçãoconstanteeacumulativadeeventosdenaturezagenéticabiológica,psicossocialesociocultural”(NERI,2002, p. 45).Dessaforma,admite- seainfluênciadiretadessestrêsaspectosjuntoaoprocessodeenvelhecimento. Nessesentido,considerandoasteoriasexplicitadas,podemoscompreenderqu eprocessodeenvelhecimentoéumfenômenocomumatodos,possuindomúltiplosfatores queatingemoserhumanodeformasdiferentes,sendoumfenômenoindividualparacadape ssoa.Agenética;osdiferentesambientes;ascondiçõessociais;econômicas;culturaisefísi casaolongodavidaconstroemoenvelhecimento.Assim,seenvelhecedeformaúnicaeindi vidual,comoumamarcaregistradadetodasasvivências. Comisso,oenvelhecimentoacarretaumasériedemodificações,algocomplexo queinfluenciaaíntimarelaçãodosaspectosbiológicos,psicológicosesocioculturais.Quan doentendemosdessaformaoenvelhecer,percebemosqueasideiasque,indiscriminadam entegeneralizamoprocessoeotratamcomoalgolinearepré- 15 estabelecidosãopreconceituosas,poiscadaindivíduoteráumenvelhecimentodistintoepe culiarumdooutro.Aformacomocadapessoalidarácomtodasasmudançasfaráagrandedif erença. Trataravelhicesomentepeloângulododeclíniobiológicoé“olhar”parcialmente oprocesso.Napsicologiadoenvelhecimentoacorrenteteórica,jámencionada,lifespan,nosmostraoutroentendimentosobreoenvelhecimento,poislevaemconsideraçãoa sinúmerasvariáveisquepodeminfluenciálo.Compreendendooenvelhecimentocomoprocessodedesenvolvimentodoindivíduo,co locamosestemomentodavidanopatamardetodososoutros,vislumbrandopossibilidades paraoindivíduoidoso,queanteseramdesconsideradas,ouatémesmo,impensadas.Oku ma(1998, p. 15)discorresobreesse processo: “Dessamaneira,avelhicepodeservistacomoumafasecompotencialparacrescimento,às emelhançadasdemaisfasesdocursodevida,oquefazcomqueasfronteirasdoenvelhecim entosejammodificadasemrelaçãoàrealidadeatual”. Paraumamelhorcompreensãodoprocessodeenvelhecimentoéimportanteco nsiderarosaspectosculturaiseainfluênciadestesjuntoaofenômenodinâmicoeprogressiv odoenvelhecimento. Osaspectosculturaisinterferemnamaneiradeolharoenvelhecimentoe,conse quentemente,namaneiracomoapessoaidosavaiseconstituirnessemeio.Apossibilidade deenvelhecerdemaneirabemsucedidadepende,dentreoutrosfatores,dahistóriadevidaedaformacomocadaumentend eoprocessodeenvelhecimentoeavelhice(ARANHA,2003). Porconseguinte,vivermuitosemprefoiumdosmaioresanseiosdetodaahuman idadeeumavezconquistadaessaaspiração,instauramseváriosdesafiosparaasociedade,desafiosestesquedevemserenfrentadosesuperados parapromoveraadaptaçãodasociedadeaessanovarealidade,trazendocomoresultadoa promoçãodobemestarearealizaçãodadignidadedaquelesquealcançaramumaidadeavançada. Atébem pouco tempo atrás,tratardavelhicenassociedadesindustrializadaseratraçarumquadrodramáticodape rdadostatussocialdosindivíduos – ondeaindustrializaçãoteriadestruídoasegurançaeconômicaeasrelaçõesestreitasquevi goravamnassociedadestradicionaisentreasgeraçõesnafamília.Oempobrecimentoeos 16 preconceitosmarcariamavelhicenassociedadesmodernas,queabandonamosvelhosau maexistênciasemsignificado(DEBERT,2004). Nessaperspectiva,deacordocomPaiva(2005),oenvelhecimentopopulaciona lrepresenta,atualmente,umproeminentefenômenomundial,sendoconsideradoumdosm aioresdesafiosdoséculo,àmedidaqueamaioriadosvelhosvivenospaísesemdesenvolvi mento,comoChina,Índia,PaquistãoeBrasil.Aesserespeitovejamosacitaçãoaseguir: Oaumentodapopulaçãoenvelhecidacaracterizasecomoumfenômenomundial,oqualmarcouofinaldoséculoXXesecolocacomo desafioparaoinícioesteséculo.NoBrasil,existemhojequase15milhõesdepesso ascomidadeacimade60anoseestimasequeessenúmerocresça,chegandoa34milhõesem2025(MAIA,2005, p. 9). Buscandojustificaressefenômeno,Paschoal(1996, p. 26)indicaque: Éesteaumentoextraordináriononúmerodepessoasmaisvelhassedeveaosurgi mentodeumasituaçãorelativamentenova:oenvelhecimentopopulacional,quesi gnificaoaumentodaproporçãodeidososnapopulaçãoàscustasdadiminuiçãodo númeroproporcionaldejovensnestamesmapopulação. Ocertoéqueesteaumentoacentuadodonúmerodeidosos,particularmentenos paísesemdesenvolvimento,entreosquaissesituaoBrasil,trouxe,comoeraesperada,con sequênciacríticaparaasociedadee,principalmenteparaosidosos.Houvenecessidadede sebuscarascausasdeterminantesdasatuaiscondiçõesdesaúdeedevidaedeseconhecer asmúltiplasfacetasqueenvolvemoprocessodeenvelhecimento,paraqueodesafiosejaen frentadopormeiodeplanejamentoadequado(PAPALÉONETTO,1996). Nessesentido,oprocessodeenvelhecimentoadmitealgunsparadigmas,como éocasodoenvelhecimentobemsucedido,oqualdependefundamentalmentedosaspectosculturaisagregadosaosdemai saspectosambientais,socioeconômicos,físicoseemocionais.Aseguirdetalharemoscad aumdessesaspectos. 1.1.1 Paradigmasdoenvelhecimento EmconcordânciacomaescolhaapresentadanotrabalhoporPerracini(2009),o ndeeladescreveemsuadissertaçãoosmodelosparadigmáticosdoenvelhecimento,temo sosseguintesparadigmas:oenvelhecimentobem- 17 sucedido,saudáveleativo.Aautoraadmiteaexistênciademaisoutrosparadigmas,poréme ntendequeestessejamsuficientesparaidentificaradiversidadedeparadigmasquevisamo bem-estardoidoso. 1.1.1.1 Envelhecimentobem-sucedido Adefiniçãooriginalmentepublicadaem1997pelosautoresRoweeKahn(1997, apud PERRACINI, 2009, p. 21) sobreenvelhecimentobemsucedidofoiaseguinte:“Wedefinesuccessfulagingasincludin gthreemaincomponents:lowprobabilityofdiseaseanddiseaserelateddisability,highcognitiveandphysicalfunctionalcapacity,andactiveengagementwit hlife”.Nestadefiniçãooenvelhecimentobemsucedidoremeteaquestãodoriscodeficardoente,fazendomençãoprincipalmenteasdoen çasquecausamincapacidades,relacionatambémapreservaçãodascondiçõesfísicaseco gnitivas,mantendoeficiênciadacapacidadefuncional.Porfim,essadefiniçãoremeteaparti cipaçãoativanavida,atravésdainteraçãocomasociedadedeformaprodutivaesignificativ a. Perracini(2009)fazumaimportantecolocaçãoarespeitodadefiniçãodeRowee Kahn(1997),ondeassituaçõesemqueapessoaidosaseencontrasãopotencialmentemodi ficáveis,sejaporalteraçõesdehábitosoupelainserçãonaspráticassociais. Aliteraturaapresentatambémoutromodelodeenvelhecimentobemsucedido,quepossuicaracterísticasdiferentesdaapresentadaporRoweeKahn(1997).Es seoutromodelodeenvelhecimentobemsucedidoéapresentadoporBaltes(1996),omodelofazumarelaçãoentreapessoaesuaad aptaçãoàsmudançasrelacionadasaoenvelhecimento,mantendoseusobjetivoseinteres sesdevida.Portanto,nestaperspectivaoenvelhecimentobemsucedidoéaqueleemqueapessoaconseguepermanecercomobjetivosdevida,ebuscaco nquistá-losaolongodesuaexistência,transformandosenodecorrerdotempo,atravésdacapacidadedeidentificarsuanovarealidade,eprocurar adaptarse,trilhandonovoscaminhosparaalcançarosobjetivosanteriormenteestabelecidos. JáparaosautoresLitvoceBrito(2004, p. 8),oenvelhecimentosaudávelebemsucedidosãoconsideradosdeformassemelhantes. 18 Oenvelhecimentobemsucedidopodesercaracterizadoportrêssituaçõesessenc iaisqueinteragemdentrodeumarelaçãodinâmica,asaber:baixaprobabilidadede doençasedeincapacidadesassociadaaelas,boacapacidadefuncional,tantofísi caquantocognitiva,eparticipaçãoativanasuacomunidade. Dessaforma,oenvelhecimentobem-sucedidorefereseaumaboasaúdefísicaeacapacidadedemanterouestabelecerobemestarpsicológicofrenteàssituaçõesdeperdasdecapacidadesoulimitações.Émanterseativo,satisfeitocomavidaeaindaterexpectativaspositivasquantoaofuturo. 1.1.1.2 Envelhecimentosaudável Otermoenvelhecimentosaudávelestárelacionadoaoconceitoamplodesaúde ,ondeépossívelatingirbemestarcompletomesmonapresençaounãodedoenças.Emconcordânciacomestepensam ento,Ramos(2003, p. 294),afirmaemseutrabalhooquesignificaenvelhecimentosaudáveldeacordocomessep arâmetrodesaúde: Envelhecimentosaudável,dentrodessanovaótica,passaaserresultantedainter açãomultidimensionalentresaúdefísica,saúdemental,independêncianavidadi ária,integraçãosocial,suportefamiliareindependênciaeconômica.Obemestarnavelhice,ousaúdenumsentidoamplo,seriaoresultadodoequilíbrioentrea sváriasdimensõesdacapacidadefuncionaldoidoso,semnecessariamentesignif icarausênciadeproblemasemtodasasdimensões. Asconcepçõesdemonstradasacercadoenvelhecimentosaudávelesuaviabili dadecomprovamofatodequeoidosoéogranderesponsávelpeloenvelhecimentosaudáve l.Elepodeedeveterumavidasaudável,dentrodesuascapacidades,comoqualqueroutrap essoa.Abuscapeloenvelhecimentosaudáveldeveseracompanhadatambémpeloquadro deenvelhecimentoativo. 1.1.1.3 Envelhecimentoativo Otermoenvelhecimentoativoéumtermomaisrecente,quefoiapresentadoemd ocumentopublicadopelaOrganizaçãoMundialdaSaúde,comocontribuiçãoparaaSegun daAssembleiaMundialdasNaçõesUnidassobreoEnvelhecimentorealizadaemabrilde20 02,emMadri,Espanha.Nestedocumento,oconceitodeenvelhecimentoativofoiclassifica 19 docomosendo“[...]oprocessodeotimizaçãodasoportunidadesdesaúde,participaçãoese gurança,comoobjetivodemelhoraraqualidadedevidaàmedidaqueaspessoasficammais velhas”.(WHO,2005, p. 13). Esclarecendomelhorotermoativo,aOrganização Mundial da Saúde (OMS)explicaemseudocumentoqueessetermonãoéreferênciaexclusivadacapacidadef ísicaoudefazerpartedaforçadetrabalho.Naverdadeestáfazendoalusãoàparticipaçãoco ntínuadurantetodaavidadaspessoas,nasquestõessociais,econômicas,culturais,espirit uaisecivis. PodemosencontrarumadefiniçãodeenvelhecimentoativotambémnaPolítica NacionaldeSaúdedaPessoaIdosa,noanode2006,ondeestapolíticatemcomoumadesua sdiretrizesapromoçãodoenvelhecimentoativoesaudável,fazendoumadistinçãoentreos mesmos.Envelhecimentoativoéumaampliaçãodoenvelhecimentosaudável,sendocom preendidocomoenvelhecermantendoacapacidadefuncionaleaautonomia. Aabordagemdoenvelhecimentoativobaseiasenoreconhecimentodosdireitosdaspessoasidosasenosprincípiosdeindepen dência,participação,dignidade,assistênciaeautorealizaçãodeterminadospelaOrganizaçãodasNaçõesUnidas(WHO,2005apud BRASIL,2006). Percebesequenabuscapeloprolongamentodavidasocialdoidoso,oenvelhecimentoativoexerceu mpapelfundamental,alémdesersubsidiadonosdireitosconstitucionaisdapessoaidosa. 1.1.1.4 Envelhecimentopopulacional Finalizandoobreveesclarecimentosobreostrêsparadigmasdoenvelheciment oquevisamobemestardoidoso,temosagoraoenvelhecimentopopulacional,fenômenodemográficoqueve mocorrendonamaioriadospaísesemtodoomundo. OBrasilfoiconsideradopormuitotempoumpaísdejovens;hojenossopaíssofre ofenômenodoenvelhecimentopopulacional,jáocorridoempaísesdesenvolvidos.Oaume ntodaexpectativadevidaeadiminuiçãodafertilidadesãoosprincipaisfatoresquecontribuír amparaqueessefenômenoocorressenoBrasil.Érelevanteressaltarquenospaísesdesen volvidos,oenvelhecimentopopulacionalocorreuemumperíodolongodahistória,enquant onoBrasildadosmostramqueessecrescimentoestáocorrendodemaneiramuitomaisrápi 20 da,eosnúmerosmostramclaramente:em1950apopulaçãodeidosoeradedoismilhões,pa ssandoparaseismilhõesnoanode1975,em2002passouaserde15,4milhõesdeidosos,iss osignificaumaumentode700%nestapopulação.Asestimativaspara2020équeestapopul açãoalcanceos32milhões(VERAS,2003). AsInformaçõesmaisrecentesdoCenso2010confirmamessatendência,ondea representatividadedosgruposetárioscomidadeaté25anosnototaldapopulaçãobrasileira em2010éinferioràobservadaem2000,eosdemaisgruposetáriosaumentaramsuaparticip ação,ocorrendoumalargamentodotopodapirâmideetária. Dessaforma,temsequeocrescimentoabsolutodapopulaçãodoBrasilnestesúltimosdezanossede uprincipalmenteemfunçãodocrescimentodapopulaçãoadulta,comdestaqueta mbémparaoaumentodaparticipaçãodapopulaçãoidosa(IBGE,2011, p. 54). A população com 65 anos ou mais passou de 4,8% em 1991 para 5,9% em 2000 e em 2010 representa 7,4% da população total do Brasil (IBGE, 2011). Oprópriogrupodapopulaçãoidosatambémestásofrendomudanças,alteraçõe snacomposiçãoetáriaprovenientedoaumentodaproporçãodepessoascom80anosemai s.Podemosconsiderarqueapopulaçãodeidosostambémestáenvelhecendo.Osegmento populacionalde80anosemaiseraresponsávelpor10%dapopulaçãodeidososem1940,já noano2000arepresentaçãopassouaserde13%(CAMARANO,2004). Umaimportanterelaçãoquedeveserreferidaaquiéaquestãorelativaaogênero eenvelhecimento,consideradapormuitosestudiososcomoumadascaracterísticasmais marcantesdesteseguimentopopulacional.Assim,aexpectativadevidadamulherésuperio radohomem,umfenômenomundialquetambémestáocorrendodeformabastanteintensa noBrasil,ondeemmédiaasmulheresvivemoitoanosmaisqueoshomens.Essadiferenciaç ãodaexpectativadevidaresultanadesigualdadedaproporçãonuméricaentrehomensem ulheres,tornandoaindamaisexpressivaessadiferençacomoaumentodafaixaetáriaentre osidosos,conformedestacaosdocumentosoficiais: Arazãodesexodapopulaçãoidosaébastantediferenciada,sendobemmaioronú merodemulheres.Em1991,asmulherescorrespondiama54%dapopulaçãodeid osos,passandopara55,1%em2000.Istosignificaqueparacada100mulheresido sashavia81,6homensidosos,relaçãoque,em1991,erade100para85,2.(BRASI L,2002). 21 Noentanto,deveseperceberqueafeminizaçãodavelhicenãoéuniversal,poisquandoéfeitaaseparaçãoem algunssegmentospopulacionaisessefenômenonãoocorre,comoporexemplo,éocasoda populaçãoruralnoBrasil: Apredominânciafemininaentreosidosossedánasáreasurbanas.Nasrurais,pred ominamoshomens.Amaiorparticipaçãodasmulheresnofluxomigratórioruralurb anoexplicaessadiferença.(Camarano,2003eBercovich,1993).Issoimplicanece ssidadesdistintasdecuidadosparaapopulaçãoidosa.(CAMARANO,KANSO;M ELLO,2004, p. 29). Assim,avelhicepodenãoseruniversalmentefeminina,maspossuifortescaract erísticasdegênero.Considerandoamaiorlongevidadefeminina,inúmerasimplicaçõesad vêmdessefenômeno,umasériedequestõeseconômicase sociais.Comoenvelhecimento,asmulheressedeparam,frequentemente,coma viuvez;moradiasolitáriaouprecisamirparaacasadeparentes;assumemprogressivament epapéisqueemsuafaseadultanãopossuíam,comoodechefedefamíliaeprovedoras,mes mocompoucaounenhumaformaçãoprofissional,epoucainstruçãoeducacional;demand a,ainda,unemaiordeassistência,tantodoEstado,quantofamiliar. Poroutrolado,alémdasdificuldadescitadas,poderemosenxergartambémoutr opanorama,Debert(1999apud CAMARANO,2002)dizqueparaasidosasatuaisaviuvezsignificaautonomiaeliberdade,le vandoemconsideraçãoorendimentomédiomensal. ValeressaltarqueoBrasilpassaporumagrandetransformação,ondeoenvelhe cimentopopulacionalestáocorrendodemaneiraacelerada.Silva(2005)fazumacomparaç ãoentreBrasileFrançautilizando-sedealgunsdadosdoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A autorailustraofatodesseaumentoveloz,emseutexto: [...]havianoBrasil,em2002,cercade16milhõesdepessoascom60anosoumais,r epresentando9,3%dapopulação,[...].AestimativadoIBGEparaoanode2025equ ivalea15%deidososdapopulaçãototal,correspondendoaproximadamente30mi lhões.[...]tomemoscomoparâmetro,aFrança,ondeforamnecessários120anosp araqueonúmerodeidosospassassede7%dototaldoshabitantesdopaíspara14 %.OBrasilvaiexperimentarumaumentoequivalentenumperíodode20anos.(SIL VA,2005, p. 48-49) Assim,medidasecuidadosnasáreasdesaneamento,vacinas,evoluçãocientífi caetecnológica,avançosdamedicina,tudoissocontribuiusignificativamenteparaoaumen todaexpectativadevidadapopulação. 22 Nessaperspectiva,oenvelhecimentopopulacionalocorreatravésdeumdeseq uilíbriodarelaçãomortes/nascimento.Analisandoisoladamenteofatodoaumentodonúm erodepessoasmaisvelhas,nãoquerdizerqueapopulaçãoestáenvelhecendo,poisoconce itodeenvelhecimentopopulacionalnãoédeumnúmeroabsoluto,esim,derivadodeumapro porção.Entendemosentãoque:“umapopulaçãoenvelhecequandoaproporçãodevelhos aumentaeaproporçãodejovensdiminui.Paratantoéprecisoquehajaumadiminuiçãodafe cundidadegeral”(RAMOS,2002, p. 72). Estudosapontamque,ofenômenodeenvelhecimentopopulacionalbrasileiroe stáocorrendopelosfatoresacimamencionados,estamosvivenciamos,aolongodosanos, areduçãonafecundidade,ocasionandoumaredistribuiçãonacomposiçãoetáriadapopula çãonoBrasil.Amortalidadeentreidosostambémestáemdecréscimocomoaumentodaexp ectativadevida,maiorlongevidade,oqueestáacarretandonaampliaçãodapopulaçãoidos a.Aconsequênciadessesfenômenoséoaumentodapopulaçãodeidososemrelaçãoàpop ulaçãodejovens,oqueresultaemumamaiorexpressividadedapopulaçãoidosanapirâmid eetária.Caracterizandoumatransiçãodemográfica,ondeotopodapirâmideetáriaestásea largandoeabaseestreitando(IBGE,2011, p. 4). Poroutrolado,comoenvelhecimentodapopulação,opanoramaepidemiológic oqueserefereàmorbidadeemortalidadesofrealterações:asdoençascrônicasnãotransmissíveisaumentamsuaprevalênciaemdetrimento àsdoençasinfectocontagiosas,quesãoprevalentesempopulaçõesjovens.Deacordocom Ramos(2002),atransiçãoepidemiológicacompreendeumprocessodemudançadoperfild emorbimortalidadequeacompanhaoprocessodemográfico.Omesmoautorexplicaqueta ntoocontrolecomoocombateàsdoençascrônicasnãotransmissíveispossuemumgraudecomplexidadesuperioràsdoençasinfectocontagiosa s,poisàsmedidasdetratamentoeocuidadoexistentenocasodasdoençascrônicasnãotransmissíveissãomedidaseducativas,emqueenvolvemmudançasdehábitosdevida,oq uesetornamuitomaiscomplexo. Ramos(2002)explicatambém,quequantomenorforonívelsocioeconômicoeo graudeescolaridadedapopulação,maisdifícilserãoascondiçõesassistencialistasaoidos o. Contribuindonessaanálise,Okuma(2002),provocaumareflexãosobreoaume ntodaexpectativadevida,alertandoqueoacréscimodeanosavidaquefoiconquistadoaolo ngodotempo,nãoterávalorseavidaqueforprolongadaforvividadistantedoseuespaçosoci 23 al,deformainativa,dependenteesemapossibilidadedecontinuaraconquistadosseusobje tivos. Valefrisarqueospaíseseuropeusquepassarampeloprocessodoenvelhecime ntopopulacional,ganharamaolongodotempoumasituaçãosocialeeconômicaqueosposs ibilitaenvelhecercommaisrecursos.Contudo,noBrasil,questõescomosaúde,educação, saneamentobásico,habitação,previdênciasocial,transporte,urbanizaçãoetc.,aindasão problemasparaseremsolucionados. DiantedessecenáriosocioeconômicooBrasilpossuiumademandacrescented eidososcomumasériedenecessidadesurgentes.Éprimordialqueinvestimentossejamge radosemrespostaagrandedemandadosidosos,conformedestacamRodrigues eRauth(2002, p. 107): Asmudançaspopulacionaisproduzemdesafiosdetodaordem,nasáreaspsicoló gicas,social,educacionalecultural,gerandoasmaisvariadasquestõesaseremen frentadaspelostécnicos,noseudia-adiadetrabalho.Mas,inegavelmente,oneramaisaspolíticassociaisedesaúdeeae conomia.Exige,assim,respostasdasáreasdaSeguridadeSocial,especialmente SaúdeePrevidência. Portanto,sãováriososdesafiosgeradospeloenvelhecimentopopulacional.Co ntudo,devemosterocuidadoparanãofazermosinterpretaçõesquepossamlevaraoentend imentolimitadoepreconceituoso,dequeoenvelhecimentodapopulaçãopossatrazersom entemaisproblemas,implicandoemcustoselevadosparaossistemasdesaúdeepreviden ciárioe,porfim,acabepornãorepresentarumaconquistasocial.Asadaptaçõesàsmudanç asdemográficasporpartedosgovernosesociedadesdevemocorreremconsonância,enco ntrandosoluçõesviáveisparaasdificuldadesquesurgirão,conformedepoimentodaDireto ra-geraldaOMS: [...]devemosserconscientesdequemuitospaísesdesenvolvidosenriquecerama ntesdeenvelhecer,ospaísesemdesenvolvimentoenvelhecemantesdeantesde enriquecer.Portanto,devemosestádecididosaeliminaromaiorinimigodaboasaú de,querdizer,apobreza,particularmenteemsuaformamaisextrema.(OMS,2001 apud BENEDETTI,2004, p. 122). Nessecontexto,apobrezaéumdasgrandesquestõessociaisqueenvolvemopr ocessodeenvelhecimentonasociedadecontemporânea,porém,agrandeproblemáticaq uetemmerecidodestaquenosdiasdehoje,concerneaofenômenodaviolência.Admitindo- 24 aviolênciacomoumaviolaçãodosdireitosdapessoaidosa,oordenamentojurídicobrasileir odispõedemecanismoscomooEstatutodoIdosoquebuscaprotegerosdireitosdosidosos. Oprocessodeenvelhecimentoestásujeitoàsproblemáticassociais.Nessesen tido,destacaseofenômenodaviolênciaeaviolaçãodosdireitosdapessoaidosa,aspectosqueserãoabo rdadosnocapítuloaseguir. 25 2 OFENÔMENODAVIOLÊNCIAEAVIOLAÇÃODOSDIREITOSDAPESSOAIDOSA 2.1 Ofenômenodaviolência Otermoviolêncianãoéumconceitoabsoluto,maspodesercompreendidodopo ntodevistalinguístico,ondeéderivadodolatimviolentiaeestárelacionadaàaplicaçãodefor ça,vigor,contraqualquercoisaouentesocial.Destaforma,apalavraforçadesigna,emsuaa cepçãofilosófica,aenergiaoufirmezasobrealgo,mascaracterizadapelaaçãocorrupta,im pacienteebaseadanaira,provocandoumarupturadenormasoumoralsociaisestabelecida sparaumaconvivênciademocráticaepacífica. SegundoCosta(1984, p. 34),“comaideiadequesomos‘instintivamenteviolentos’,acabamospornosresignaraumd estino,admitindoumanaturezaviolenta”.Dessaforma,seexisteumaviolênciaintrínsecaa ohomem,suasmanifestaçõesestariamplenamentejustificadas,nãohavendosaídaspara amesma. Poroutrolado,percebesequeaciênciabuscaestabelecerqueaviolênciapodeserdeterminadapelacombinaçãod efatoresendógenoseexógenosrelacionadasascaracterísticasinatasdoserhumano,ous eja,pelaanálisedegênero,pelosdistúrbiosdepersonalidadeepelapredisposiçãoinataàvi olência. Valeressaltarque,aviolênciaéumfenômenotãoantigoquantoàprópriaexistên ciadohomem,eestáintimamenteligadaàcriminalidade.Nocontextosocial,temseusfatore scausaisesuasconsequências.Nestesentido,expõeAlves(1997, p. 65): Oconceitodeviolênciaéhistóricoecultural.Oqueéviolentoparaumpovopodenão serparaoutro;oquefoiontem,podenãoserhoje;oqueéhoje,podenãoseramanhã; e, emumamesmaépocaenomesmopaís,oqueéparaalgunssegmentosdapopulaç ãopodenãoserparaoutros. Assim,umaaçãoviolentapressupõesempreumaformaderesolverumconflito. Entretanto,estaformaimplicanousodaforçafísicaoupsicológica,emumaagressãocujoce rneéa“intençãodecausarprejuízoaooutro,aliadaàexpectativadequetalobjetivoseráating ido”(LEME,2004, p. 165). SegundoMinayo(2005),osváriostiposdeviolênciaseexpressamdeformaasso ciada,tornando- 26 seumaredeondeaquelasqueexpressamosconflitosdosistemasocialsearticulamemnívei sinterpessoais. ContribuindonessaanálisedestacamosasreflexõesdeCandau,LucindaeNas cimento(2001, p. 19),entendendoaviolaçãoenquanto: [...] aintervençãofísicadeumindivíduoougrupocontraoutroindivíduoougrupo(outa mbémcontrasimesmo).Paraquehajaviolênciaéprecisoqueaintervençãofísicas ejavoluntária[...].Aintervençãofísica,naqualaviolênciaconsistetemporfinalidad edestruir,ofenderecoagir[...].Aviolênciapodeserdiretaouindireta.Édiretaquand oatingedemaneiraimediataocorpodequemsofre.Éindiretaquandooperaatravé sdeumaalteraçãodoambientefísiconoqualavítimaseencontra[...]ouatravésdad estruição,dadanificaçãooudasubtraçãodosrecursosmateriais.Emambososca sos,oresultadoéomesmo:umamodificaçãoprejudicialdoestadofísicodoindivídu ooudogrupoqueéoalvodaaçãoviolenta. Osconceitosapresentadosacimaforamcontextualizadossobumpontodevista técnicoeteórico,porém,seconsiderarmosaviolêncianocotidianosocial,serápossíveladm itilacomoumprodutodomeiosocialjáinternalizadonocotidianodaspessoasasquaispassam atéareproduzila,mesmoquedeformainconscienteecujosindutoressãomúltiplos,variandodadesiguald adesocialàsrelaçõesdepoder. Sobumaperspectivaconceitual,Minayo(2005),defineostiposdeviolência: − ViolênciaFísica: diz respeitoaousodaforçaparacompeliroidosoafazeroquenãodeseja,paraferilo,provocar-lhedor,incapacidadeoumorte. − ViolênciaPsicológica: corresponde aagressõesverbaisougestuaiscomoobjetivodeaterrorizaroidoso,humilhálo,constrange-lo,restringirsualiberdadeouisolá-lodoconvíviosocial. − ViolênciaSexual: refere- seaoatooujogosexual,utilizandopessoasidosas.Essesagravosvisamobterexcitação, relaçãosexualoupráticaerótica,pormeiodealiciamento,violênciafísicaouameaças. − Violênciafinanceira: consiste naexploraçãodoidosoounousonãoconsentidoporeledeseusrecursosfinanceirosepat rimoniais.Essetipodeviolênciaocorre,sobretudo,noâmbitofamiliar. − Abandono: umaformadeviolênciaquesemanifestapelaausênciaoudeserçãodosresponsáveisfa é 27 miliaresouinstitucionaisdeprestaremassistênciaaumapessoaidosaquenecessitedec uidados. − Negligência: refere- seàrecusaouomissãodecuidadosnecessáriosaoidoso,porpartedosresponsáveisfam iliaresouinstitucionais.Semanifesta,frequentemente,associadaaoutrostiposdeviolên cia.Ocorrendocommaiorincidênciaemidososnasituaçãodemúltipladependênciaouin capacidade. − AutoNegligência: diz respeitoàcondutadapessoaidosaqueameaçasuaprópriasaúdeousegurança,pelarec usadeprovercuidadosnecessáriosasimesmo. Nessesentido,merecedestaqueoaumentodonúmerodeviolênciadomésticas obaformadeviolênciafinanceira,praticadacontraapessoaidosa,aqueseráanalisadanopr óximoitemdestetrabalho. 2.2 Aviolênciafinanceira O recente crescimento das novas demandas do contexto atual vem aumentando devido o crescimento populacional de pessoas idosas que vem gerando aspectos negativos para esta determinada classe. Por isso, o interesse da comunidade cientifica em estudar algo novo. Analisar as múltiplas expressões da violência na contemporaneidade e suas relações com o Serviço Social nos diversos espaços socioocupacionais em que os assistentes sociais atuam profissionalmente (IAMAMOTO; CARVALHO, 1985). Portanto, a categoria violência, em especial, a financeira vai ser o foco principal desta pesquisa, em decorrência do contexto que atinge este grupo vulnerável que são os idosos, este tema é complexo, pois, falar de violência requer muito cuidado por ser um assunto muito delicado, ou seja, para aprofundamento desta análise e preciso compreender todo um contexto pessoal, social e político. 28 2.2.1 Ocontextodosabusosfinanceiros Aviolênciafinanceira,tambémentendidacomoabusofinanceiro,existecomofi mdeobterocontroledosbensdaspessoasidosas,podendo,emalgunscasos,viraseragrav adapelaexistênciadeestruturaseconômicas,sociaisepolíticasquetoleramefomentamin diretamenteessaprática. Aspessoasidosasestãoparticularmenteexpostasàviolênciafinanceiradevido asuadebilidadefísicaeapoucacapacidadeparaprotegeremsecontraaviolência.Noscasosquepossuembens,umaresidência,oupensão,àsvezessã opressionadasarenunciaremaosseusdireitossobreosmesmos(CONSELHOECONÔMI COESOCIALDASNAÇÕESUNIDAS,2002). Aviolênciafinanceiraimplicatambémemroubo,usoilegalouinapropriadodaspr opriedadesoudosrecursosdapessoaidosa,obrigandoaamudarotestamento,dandocomoresultadooprejuízoàpessoaidosaeumbeneficioaoutr a.Algunsdessesindicadoressão:padrãoirregulardegastosouretiradadedinheiro,mudan çasrepentinasemcontasbancárias,testamento,dentreoutros. SegundoaOMS(2003),DeclaraçãoGlobaldeTorontoparaaPrevençãodosMa ustratosàsPessoasIdosas,de17dedezembrode2002,omaltratoàspessoasidosaséumpr oblemauniversal.Asinvestigaçõesrealizadasatéentãodemonstramaprevalência,tanton omundodesenvolvidocomonospaísesemdesenvolvimentoouemambos,doagressorco moumapessoaconhecidapelavítima.Édentrodocontextofamiliare/oudeondeseprovêm oscuidadosqueocorreamaioriadoscasosdemaltratoeabusofinanceiro. Tratasedeumaprática,geralmenteatribuídaafamiliares,estelionatáriosepessoasinescrupulos asquesevalemdafragilidadedosidosos,quesãogeralmentevítimasinvisíveis,poisasocie dadeeopoderpúblicomuitasvezessãoomissos. Nessesentido,segundoFaleiros(2005),empesquisarealizadaemtodasascap itaisbrasileiras,aviolênciafinanceiracabegrandedestaquecomregistrodeincidênciacom umpercentualdedenúnciasde25%emquatrocapitais,commaioresexpressãoemRecife( 45,56%)eCuiabá(38,38%). Chegamos a conclusão que a violência independe de poder aquisitivo ou do nível de emprego de um modo geral, pois observamos que uma capital do nordeste, teoricamente, umpouco mais pobre e com maior desemprego, como Recife, tem uma expressão de 45,56%, em contra partida uma capital do centro 29 oeste, Cuiaba, com absorção de mão de obra alta também aparece acima da média como 38,38%. Neste sentido, merece destaque o famigerado empréstimo consignado, que para os idosos pouco vale, com a pouco experiência de campo, sempre o empréstimo consignado é o vilão, para o idoso mesmo tem pouco avalia. Muito bom para banqueiro, agiota, filho e neto. Portanto iremos se aprofundar no próximo item deste trabalho. 2.2.2 Empréstimoconsignado OprogramadeempréstimoconsignadoaaposentadosepensionistasdoInstitut o Nacional do Seguro Social (INSS)comdescontonafolhadepagamentofoiinstituídopelaLei n° 10.820, de 17 de dezembro de 2003.Trata- sedoplanejamentoeoperacionalizaçãodeumareengenhariapolítica,econômicaesocial, comgrandeinvestimentodomarketingemqueestáestabelecidaaaliançaentreosaposent adosepensionistas,estado,economia,sociedadeeasinstituiçõesfinanceiras.Aparticipaç ãodecadaumdelessedá,segundoFaleiros(2005),daseguinteforma: Aposentadosepensionistas:comarendagarantidaadvindadaaposentadoria);O estado:comaadoçãodemedidaspolíticas;Aáreaeconômicaesocial:comoplanej amentodaburocraciaeauferindoreceitascominformaçõesepúblicosfocalizados ;Asinstituiçõesfinanceiras:auferindooslucros. Paracompreenderalógicadeimplementaçãodoprogramadeempréstimocons ignadoaaposentadosepensionistasdoINSS,fazsenecessárioexplicitar,porordemcronológica,aregulamentação(noâmbitoestataleinstit uiçõesfinanceiras),concertadopelasagenciaspúblicaseprivadas,buscandoadequaraim plementaçãoàsdecisõesdeacordocomasconsequênciasgeradasparaomercado,paraa sinstituiçõesfinanceiraseparaaspessoasidosas. ExistemtrêsmodalidadesdeempréstimoconsignadopeloINSS:Naprimeira,a consignaçãoéfeitadiretamentenobeneficioprevidenciário.OINSSrepassaovalorconsig nadoàinstituiçãofinanceiraaqualmantémconvênio.Écontratadapelotitulardobeneficio;A segundamodalidadedizrespeitoàretenção,instituídapelaLeinº setembro 10.953, de 27 de de 30 2004,emqueoINSSrepassaovalorintegraldobenefícioparaainstituiçãofinanceirapagad oradobeneficio,queretémovalordodesconto.Essatransaçãosóocorrecomosbancospag adoresdosbenefíciosprevidenciários(BRASIL,2004);Aterceiramodalidadeestáprevista naInstruçãoNormativadoINSSdenúmero17,aqualérealizadacomocartãodecréditoquea lgumasinstituiçõesfinanceirasoferecemaosbeneficiários,possibilitando10%damargem consignável. Tornaseimportantevisualizareentenderalegislaçãoeinstruçõesnormativasprioritáriasqueemb asaramaoperacionalizaçãoeaimplementaçãodoprogramadecréditoconsignado. 2.2.3 Violênciafinanceira,empréstimoealegislação ALein°10.820/2003dispõesobreaautorizaçãodeempréstimoparaaposentad osepensionistascomdescontosdasparcelasnasfolhasdepagamentoedoprogramadeco ncessãodecréditoconsignado.Aconcessãoéfeitadiretamentenobeneficioprevidenciário ,sendoqueoINSSrepassaovalorconsignadoàinstituiçãofinanceiraquemantémconvênio comoINSS. Em2004essalegislaçãoécomplementadacomaLein°10.953/2004,noqualalt eraoartigo6ºdaLein°10.820/2003,edefinequeostitularesdobenefíciodeaposentadoriap oderãoautorizarasinstituiçõesbancáriasparafinsdeamortização,valoresreferentesaopa gamentomensaldeempréstimos,financiamentosporelaconcedidos. Nessecontexto,observaseumatomadadedecisãoedeconstruçãodecenárioscomadoçãodemedidaspolíticaseec onômicasconcertadas,deaparenteconcessãodebenefícioseprivilégiosadeterminadosg rupos,comlucrosaltíssimosparaasinstituiçõesfinanceiras,poisodescontodasparcelass ãoconsignadosdiretamentenafolhadepagamentodosaposentadosepensionistas,geran doumafortemovimentaçãodomercadofinanceiroeeconômico,namaioriadasvezescoma lívioimediatoaosbeneficiados,poisdispõededinheirorápidoparaatenderassuasnecessi dades,entretantoamédioelongoprazos, comgravesconsequênciasparaavidadaspessoasidosas(FALEIROS,2005). Areengenhariapolíticavemsendoestruturadaeadequadaàquestãodacrisepe ssoalreferenteaoendividamentoabusivodosidosospelopoderinstitucional,afetoaogeren ciamentoemediaçãodogoverno,entreoINSSeasinstituiçõesfinanceiras. 31 Emumprimeiromomento,foramestabelecidosacordos,instruçõesnormativas flexíveisemqueosbancosenvolvidoscobravamtaxasdeaberturadecredito(TAC),taxasd eliberação,jurosmaisvariados,semanálisedecréditodaspessoasidosas.Osistemadeco municaçãoemarketingdasinstituiçõesfinanceirasedopróprioEstadoformouumaimagem aosidososdeprivilégiosenãocumpriramasquestõesestabelecidasnoEstatutodoIdosoen oCódigodoConsumidor,emqueestabelecemquetodamedidapolíticaqueviselucrodevaa lertartambémparaaresponsabilidadesocial.Todaessasituaçãovemgerandoadequaçõe sporpartedoINSS,doConselhoNacionaldePrevidênciaSocial,buscandoestipulardealgu maformalimiteparaosjurosbancários,oprazodedivisãodeparcelas,emcontratosassinad osentreosidososeasinstituiçõesfinanceiras,eaindalimitesdepercentualdeacordocomoti podeempréstimo,comoformaderesguardaraspessoasquefazemempréstimos(FALEIR OS,2005). Valesalientarque,aviolênciafinanceiraocorreemtodasasfaixasderenda,onde muitosfamiliaresficamnaexpectativadosvencimentosdaspessoasidosasparausufruíre m,alémdeimóveisquesãotomados,empréstimosrealizadosparabeneficiarse.Enfim,sãoinúmerososmeiosqueutilizam. Paracombateressapráticatãorepulsiva,oordenamentojurídicobrasileirodisp õeaosidososmecanismos,pelosquaisosidosospoderãorecorrerparagarantirseusdireito s,sendooEstatutodoIdosoomaisrepresentativodessesmecanismos. A esse respeito trataremos no próximo item. 2.3 AproteçãodosdireitosdapessoaidosaeoEstatutodoIdoso PodeseafirmarqueoidosonoBrasil,paulatinamente,vemrecebendoaatençãoquelheédevidan aesferalegal.Nãoobstante,temseàfrenteumdesafiomuitomaior:asocializaçãodasconquistasasseguradasnalei,afimde queavelhice,paraamaioriadosbrasileiros,nãosejaumaetapasemsentidoedesprovidade dignidade(VASCONCELOS,1999). Considerandooidosoenquantoumcidadãodedireitos,merecedordedignidad e,portanto,jáésuficienteobastanteparaqueelesejatratadosemnenhumadistinção,masét ãonotóriaadiscriminaçãosofridapeloslongevosqueolegisladorconstituintede1988acho unecessáriotecerdispositivosquedeixassemexpressoorepúdioàdiscriminação,externa ndoomerecidorespeitoqueparaelesdeveserdirigidoatravésdessesdispositivosquedelin 32 eiamcomodeveserotratamentoparacomoidoso.Nessesentido,asseguraMoreno(2007, p. 43)que: ApesardeestarprescritonaCartaMagnaqueserágarantidaadignidadehumanae acidadania,namaioriadasvezes,oidosonãoétratadocomocidadãoeaprópriaCo nstituiçãoFederalfoiobrigadaaestabelecermeioslegaisparaquedeixassedeser discriminadoerecebesseotratamentoquelheédevido. ÉnessesentidoqueanossaConstituiçãoFederalde1988 _diferentementedasConstituiçõespassadasqueapenasfaziamumarápidamençãoaosid osos,porexemplo,aConstituiçãode1937,queemseuartigo137,liasesobre“ainstituiçãodesegurosdevelhice,deinvalidez,devidaeparaoscasosdeacidente sdetrabalho”eaConstituiçãode1946queemseuartigo157mencionouaaposentadoriapor idade, trazemseuespírito,guiadapeloprincípiodadignidadedapessoahumanaqueapermeia,bu scandoassegurardireitosfundamentaisatodosossereshumanos,odeverdeampararoido so,deverestequedevesercompartilhadopelafamília,pelasociedadeepeloEstadonosmol desdoseuartigo230,caput,aseguirdescrito: Art.230.Afamília,asociedadeeoEstadotêmodeverdeampararaspessoasidosas ,assegurandosuaparticipaçãonacomunidade,defendendosuadignidadeebemestaregarantindo-lhesodireitoàvida. Ficaperfeitamenteclarocomaleituradosupracitadodispositivoconstitucionalq ueháaresponsabilidadeconjugadadetrêsentesparacomoidoso,sendoelesafamília,asoc iedadeeoEstado.Todosessesentesdevematuarconjuntamentecomoobjetivodeconseg uirareinserçãodoidosonasociedade,inclusive,sefornecessárioesefordavontadedoidos o,buscandosuaintegraçãonomundotrabalhista,respeitadas,obviamenteaslimitaçõesde cadaum,hajavistaqueodireitoaotrabalhoéimperativoparaaefetivaçãodoPrincípiodaDig nidadedaPessoaHumanaequetrazinúmerosbenefíciosparaavidadequemorealiza. Portanto,aCartaPolíticade1988trazemseubojoacidadania,aoladodadignida dedapessoahumanaedovalorsocialdotrabalho,comovalorfundamentaldaRepúblicaFe derativadoBrasil(art.1º,incisoII,daCF/88).Oidosoéserhumano,portantomereceaproteç ãodasuadignidadeassimcomotodaequalquerpessoa. NesseprocessodeconstruçãodacidadaniadosidosospodemoscitaroEstatuto doIdoso,documentobrasileiro,Leinº10.741,de1ºdeoutubrode2003,queemseuartigopri 33 meiroestabelece:“Art.1º.ÉinstituídooEstatutodoIdoso,destinadoaregularosdireitosass eguradosàspessoascomidadeigualousuperiora60(sessenta)anos”(FARINATTI,2008, p. 443).EmconsonânciacomaPolíticaNacionaldoIdoso(Leinº 8.842,de4dejaneirode1994),aqualdeterminaemseuartigosegundo,queconsiderasecomoidosoapessoamaiordesessentaanosdeidade. PodesedizerqueotemacentralquepermeiatodososartigosdoEstatutodoIdosoéoamparo,aass istênciaeaproteçãoaoindivíduoemseuprocessodeenvelhecimentoequandojávelho.OE statutoesclarecesobreosdeveresdasfamílias,dasinstituições,dogovernoedocidadãoco mumemrelaçãoaoscuidadoseapoioaoidoso.Asmudançassociaisocorridasnomundoind ustrializadoacarretaramalteraçõesnadinâmicadafamíliamoderna,refletindonarelaçãoc omosidosos(MARTINS;MASSAROLO,2008). Reiterandoojáanteriormentecolocado,comobemlembradoporRamos(2004), seosidososnãotiveremconsciênciadequeessesdireitosexistemequeasautoridadesede maiscidadãosdevemagirnosentidodeafirmálos,denadateráadiantadotodooesforçoparasuaelaboraçãoevigência.Aleiporsisónãoéc apazdemudararealidade.Elanecessitadadisposiçãodetodosnosentidodecumpri-la. Paraasociedadebrasileira,dominadapelopreconceitoepelaondaglobalizante ,oquepredominaéosaberqueadvémdodomíniodatecnologia,ficandooconhecimentoqu eéoriundodasexperiênciasvividasrelegadoaoplanodopoucoestimado.Essecontextopr ecisaserrepensadoemodificado,poissedevefazeropossívelparaqueoconhecimentoval orizadoatualmenteeoconhecimentoadvindoatravésdeexperiênciascomopassardosan osdetidopelosidososcaminhemladoaladoparaoprogressoebemestardopovobrasileiro. Sefaznecessário, portanto,refletirerepensaraçõesquepropiciemqualidadedevidaparaosidosos,afimdequ esuaspotencialidadesesuasabedoriasejamaproveitadas,nãoapenasembenefíciodospr ópriosidosos,mastambémembenefíciodasociedade. Comanovadinâmicadocuidadoaosidosos,demandamseadaptaçõesdasfamílias,dosprogramasgovernamentais,dasociedade,dasinstituiçõe se,emespecial,daequipequeatendeessapopulação.Demandasessas,claramenteconte mpladaspeloEstatutodoIdoso.Entretanto,tornasenecessárioseremdebatidastaisnecessidadescomosprofissionaisenvolvidosnoproce ssodocuidadoaosidosos.Assim,esteestudoobjetivouverificarqualocontatodaequipemu 34 ltiprofissionalcomoEstatutodoIdosoeconhecerapercepçãodessaequipesobreainterferê nciadoEstatutodoIdosonaassistência(MARTINS;MASSAROLO,2008). Nossosistemajurídicoestabeleceuocritérioetário,determinandoqueidosoéto dapessoacom60anosdeidade,oumais.Aoestabelecerdireitosdiferenciadosaessaspess oas,olegisladorpretende,naverdade,aumentarsuasgarantias,dadaasuasituaçãopeculi aremrelaçãoàsdemaispessoas.Taisprevisões,porém,nãovieramparaconstatarsuainca pacidade,masacrescentardireitosalémdosjáadquiridoscomocidadãos. Mashádeservencidoodesafiodetornardireitoshumanosemdireitosfundamen tais,gerandocidadania.Issoporqueosdireitoshumanossãoinerentesàprópriacondiçãoh umana,semqualquerpreocupaçãoemqualificarpeculiaridadesindividuaisougrupos,visa ndopromoveratodosoreconhecimentodosdireitosnomeiosocial. Agarantiaeoexercíciodessesdireitospositivados,numcontextoemancipatóri o,levaminexoravelmenteàcidadania,aqualemergedosmovimentossociaisdeexaltação doindivíduo,comobuscadeidentidadedeumadeterminadasociedade. 2.4 A violência contra pessoa idosa e o CIAPREVI Conforme destacamos anteriormente, a violência contra a pessoa idosa vem ganhando a cada dia mais visibilidade, tornando-se um problema de saúde pública em nossa cidade e regiões metropolitanas de Fortaleza, no qual diminuir os índices de todas as demandas atendidas no CIAPREVI constitui um grande desafio. Ao mesmo tempo, a compreensão deste fenômeno exige uma atenção intersetorial e interdisciplinar na elaboração de políticas, para que haja a superação dessa forma aviltante de desrespeito aos direitos humanos. Nesta perspectiva, para melhor entendemos a realidade do CIAPREVI, iremos abordar todos os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa e apresentar, atravésdeste estudo de caso, a visão dos profissionais acerca desta problemática, ou seja, a violência financeira contra a pessoa idosa.Vejamos nos itens a seguir. 35 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Parasedefinirametodologiaaserempregadanapresentemonografia,foramco nsideradososdoiscritériosdeclassificaçãoindicadosporVergara(2007):quantoaosfinse quantoaosmeios: Quantoaosmeios,utilizou- seapesquisabibliográficaedocumental.Quantoaosfins,foiempregadootipodepesquisae xploratóriaedescritiva. Gil(2002)explicaqueapesquisabibliográficaédesenvolvidamediantematerial jáelaborado,principalmentelivroseartigoscientíficos.Apesardepraticamentetodososout rostiposdeestudoexigiremtrabalhodessanatureza,hápesquisasexclusivamentedesenv olvidaspormeiodefontesbibliográficas, o que não é o nosso caso. Para o desenvolvimento deste estudo foramutilizadas,principalmente,obrasquetratamsobreaproblemáticadaviolência,osdire itosdapessoaidosaeosfundamentosdoserviçosocial,ondesedestacaaobradePapaléoN ettoeFarinatti. ParaGil(2002),apesquisadocumentalapresentavantagensaopesquisador,p oisosdocumentosconstituemfontericaeestáveldedados,vistoqueaolongodosanossãos ubstituídos,apresentandoassimamelhormaneiradeseestabelecerumaanálisedecunho histórico-social. Apesquisadocumentalfoidesenvolvidaatravésda leitura e analiserelatórios de visitasepesquisasinternasdoCIAPREVI- CE,comoobjetivodeconhecermelhorofuncionamentodessainstituiçãobemcomooperfild osidososassistidosporela,destacandoaproblemáticadaviolência,emespecial,afinancei ra,deformaquesepossaanalisarqual a visãodosassistentessociaisquanto a esta problemática da violência financeira. Conforme citado anteriormente, este estudo pode ser classificado como umapesquisaexploratóriaedescritiva.Vergara(2000, p. 47)consideraque: Ainvestigaçãoexploratóriaérealizadaemáreanaqualhápoucoconhecimentoac umuladoesistematizado.Porsuanaturezadesondagem,nãocomportahipótese sque,todavia,poderãosurgirduranteouaofinaldapesquisa.[...]Apesquisadescrit ivaexpõecaracterísticasdedeterminadapopulaçãooudedeterminadofenômeno .Podetambémestabelecercorrelaçõesentrevariáveisedefinirsuanatureza.Nãot emcompromissodeexplicarosfenômenosquedescreve,emborasirvadebasepa ratalexplicação.Pesquisadeopiniãoinsere-senessaclassificação. 36 Dessaforma,oestudorealizadofoicaracterizadocomoexploratóriotendoemvi staapossibilidadedeumlevantamentodeinformaçõesquecontextualizemoperfildosidos osedainstituiçãoemrelaçãoàproblemática. Adotousetambémométodoindutivoparaarealizaçãodapesquisa,oqual,deacordocomParraFilh oeSantos(2001, p. 77),“permite,apartirdeobservações,levantamentosdedeterminadosfatos,determinadas situações,inferircondiçõesesituaçõesgeraiseesperadas”. Complementandoestetrabalhomonográfico,aplicouseumestudodecasocomabordagemqualitativa.Emrelaçãoaessetipodeabordagem,Fac hin(2002, p. 82)dispõe: Caracterizadapelosseusatributoserelacionaaspectosnãosomentemensurávei s,mastambémdefinidosdescritivamente.Oconjuntodevaloresemquedivideum avariávelqualitativaédenominadosistemadevalores.Taissistemasnãosãoinalt eráveisparacadavariável.Conformeanaturezaouoobjetivodopesquisadorouai ndadastécnicasaseremusadas,asvariáveismerecemsercategorizada. Paraacoletadedadosforamrealizadasentrevistascoletivas,comumasociólog aeduasassistentessociaisdoCIAPREVICE.Acoletafoirealizadaentreosmesesdeoutubroenovembrode2012. Conforme Gil (1999) Érecomendadanosestudosexploratóriosaentrevistainformalquevisaabordarrealidades poucoconhecidaspelopesquisador.Éotipodeentrevistamenosestruturadapossívelesós edistinguedasimplesconversaçãoporquetemcomoobjetivobásicoacoletadedados.Utili zam-secomoinformanteschaves,quepodemserespecialistasnotemaemestudo,líderesformaisouinformais,perso nalidadeeoutraspersonalidadeseoutras. Ouniversodapesquisaérepresentadopelos profissionais do setor social do CIAPREVI, que possui em seu quadro 4 (quatro) Assistentes Sociais e 01 (uma) socióloga, que participou deste estudo. Para a referida pesquisa participaram 2 (duas) assistentes sociais.Duasnão participaram: uma porque estava de licença e a outra por ser a coordenadora e não atuar diretamente com os idosos. Vale destacar que parte dos funcionários do setor administrativo participaram fornecendodocumentossobreainstituição,os apresentavamdadoseindicativospertinentesàtemáticadopresenteestudo. quais 37 Depois de muitas tentativas, por problemas burocráticos da instituição, foi realizado uma entrevista com um grupo focal com 16 idosos, sendo que apenas dois haviam sido vitimas de violência financeira. Devido à delicadeza do tema, os mesmos não se manifestaram; por não ter mais tempo de criar um vinculo com os mesmo, optamos por não utilizar suas falas, as quais, desviaram da temática ora estudada. Por outro lado, é importante frisar que esse silêncio ou omissão por parte dos idosos vítimas de violência merece uma análise mais profunda, a qual extrapola as possibilidades deste estudo, mas que não deixaremos de enfatizar posteriormente através da fala dos profissionais e da observação participante1, fruto de nossa vivência enquanto estagiária do CIAPREVI durante dezoito meses, registrados nos diários de campo 1 e 2. Paraainterpretaçãodosdadoseinformaçõescoletadasatravésdosdocumento sinternosfornecidos,foiempregadoométododaanálisedeconteúdo, que“consisteemdesmontaraestruturaeoselementosdesseconteúdoparaesclarecersua sdiferentescaracterísticaseextrairsuasignificação”(LAVILLE; DIONNE,1999, p. 214).Osdadoscoletadosao longo dessapesquisaforamtratadosqualitativamente2. 1 Entendemos por observação participante, conforme Duverger (1975, Mucchielli(1996) e Cruz Neto (1996), realiza-se através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado a fim de obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seu próprio contexto. 2 Conforme OLIVEIRA, Maria conceitua a pesquisa qualitativa como sendo um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação. 38 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 O CIAPREVI e o combate à violência contra a pessoa idosa OestudofoirealizadonoCIAPREVICE.Oórgãoficahápoucosmetrosdaresidênciadapesquisadora,situadanaRua:Idelfonso Albano,nº725– Meireles,entreasruasTenenteBenévoloeMoreiradaRocha,aoladodaSecretáriadeJustiç a(SEJUS).Muitasdasvezes,quandofalamosoendereçocomospontosdereferênciasama ioriadosagressoresevítimasseassustam,porseraoladodaSEJUS. OprédiodoCIAPREVICEéumacasaantigaamarelacomportasverdes.Logonaentradaháumsenhordaguardapatrimonial,algunsbancosaologodocorredor,aprimeiraportaadireitatemumbirô,ondese mpreestásentadaadonaAméliaquetrabalhahá30anosecuidadogrupodeconvivência. AentradanainstituiçãosedeuatravésdoestágioobrigatórioI,IIeIII,estaexperiê nciamechamouatençãoparaosdiversostiposdeviolênciaentreelasafinanceira,noqualpa sseiaanalisarentreagostode2011adezembrode2012. OCIAPREVIéumespaçoinstitucionalquerecebedenuncias,fazaveriguaçãoat ravésdevisitadomiciliaredáseguimentoaoatendimento,comoplantãosocialqueofereceo rientaçãoeapoio(psicológico,jurídicoesocial)aoidoso,vítimadeviolênciaouemsituaçãod erisco;mediandoconflitoscomosenvolvidos;realizandoencaminhamentosseguidosdem onitoramentodoscasosabsolvidospelarededeserviçossócioassistenciais,entreoutros,o ndefoidemonstradonaanálisedosresultadosdapesquisa. Osprocedimentosrealizadosnainstituiçãosão:visitasdomiciliaresparaaverig uaçãodedenúncias,mediaçõesdeconflitosentreosenvolvidos,articulaçõescomosserviç osexistentesnarededeatendimentosócioassistenciais,plantãosocial,atendimentopsicol ógico,socialejurídico. DeacordocomorelatóriodeatividadesrealizadaspeloCIAPREVIdoCeará,per cebeu-seque,de12defevereirode2009a13dejunhode2011,houveoregistrode 1.435denuncias(porviaconselho do idoso, pessoal,pelodisquedenúncia,pelosistemadeouvidoriadoEstado,pelaSecretariaNacion aldeDireitosHumanos,ouainda,porencaminhamentodeoutrasinstituiçõespúblicasepriv adas). Vejamos o fluxograma abaixo: 39 Figura 1 – Fluxograma Fonte: CIAPREVI (2012). Noanode2009foramcomputadas418,sendoprocedentesde87bairrosdas06r egionaise25municípios,incluindo egionaise25municípios,incluindoseaRegiõesmetropolitanasdeFortaleza(Caucaia,Maracanaú,Maranguape).Oatendim entonaqueleanoaumentouapartirdaimplantaçãododisquedenunciasem15dejunho,qua entonaqueleanoaumentouapartirdaimplantaçãododisquedenunciasem15dejunho,qua ndopassouaterumamédiade50den nciasmensaiseoscasosacompanhadosmêsamêsfi ndopassouaterumamédiade50denúnciasmensaiseoscasosacompanhadosmêsamêsfi caramemtornode110. Embasadonosdadosreferidoshouveumaumentoconsiderávelnademandada sdenúnciasregistradasdejaneirode2010aMaiode2011,passandoacontabilizarosdados numéricosemmédiade60denúnciasmensais,65visitasdomiciliarese216casosemacom osemmédiade60denúnciasmensais,65visitasdomiciliarese216casosemacom panhamento;consequênciadaquantidadededenúnciasrecebidas. Apesardoaumentoconsideráveldenotificaçõesdoscasosdeviolência,osilênci oaindaéumgrandeobstáculoregistradonessecontexto,oquedificultaume oaindaéumgrandeobstáculoregistradonessecontexto,oquedificultaumefetivocombate aessetipodeabusoeviolaçãodedireitos. OutrasaçõesqueoCentroofereceéacapacitaçãoparauniversitários(Universi dadedeFortaleza – UFCeFaculdadeFariasBrito UNIFOR,UniversidadeFederaldoCeará – – FFB);realizaçãodepalestraseminstituiçõespúblicaseprivadas;organizaçãoeparticipaçã FFB);realizaçãodepalestraseminstituiçõespúblicaseprivadas;organizaçãoeparticipaçã odeeventosalusivosaoDiaMundialdeCombateàViolênciaContraaPessoaIdosaeDiaInte rnacionaldoIdoso;promoçãodeeventosdegrandeimpactosurgemcomoformadedivulgar otrabalho,aomesmotempoemqueestimulamaaçãodedenunciar,eprincipalmente,pelac 40 onfiançanaintervençãotécnicadoCIAPREVI,baseadanaresolutividadedeproblemased eexperiênciasemoutroscasos. Observamosqueumadasformasdeconduzirotrabalhopreventivosedáatravé sdoapoiotécnicoaogrupodeconvivênciadeidosos,aformaçãodegruposcomo:suporteter apêuticoeestimulaçãocognitiva(comelaboraçãodecartilha,incluindoaspartesfundamen taisdoestatutodoidoso) ecapacitaçãoparauniversitários,trabalhandoemparceriascomasuniversidades,fortalec endoasaçõesecontribuindonaresoluçãodealgunscasos.Sendoessas:UNIFOR,UFCeF FB;estasinstituiçõestrabalhamnarealizaçãodepalestraseminstituiçõespúblicaseprivad as,naorganizaçãoeparticipaçãodeeventosalusivosaoDiaMundialdeCombateàViolênci aContraaPessoaIdosaeDiaInternacionaldoIdoso. OCentrorealizaa promoçãodeeventosdegrandeimpacto,comofestivaisdeartecultura,iniciativaessaquefoiconcebidanoanode2009comouminstrumentoparaoexercíci odevalorizaçãodapessoaidosa,umavezqueacreditasenacapacidadepermanentedeestaraprendendoecompartilhandoexperiências.Buscasetambémfortalecerasaçõesdestinadasaosgruposdeidososeelevaraautoestimadecad aparticipante,atravésdeinformaçõessobreseusdireitos.Alémdedivulgardireitosreconhe cidosnoEstatutodoIdosoeasuanecessidadedeexercercomdignidade,oseudireitodecid adão,estandoisentodequalquertratamentodesumano,violentoouconstrangedor. Acapacitaçãodosprofissionaisdaênfaseàsrelaçõesinterpessoaiseaunidade notrabalhoemequipe,oportunidadenaqualfoielaboradaamissão,visãoeestabeleceualg umasmetas.AMissão do CIAPREVIéreduziraviolênciacontraapessoaidosa,oferecendoatendimentohumanizad o,comeficáciaecompromisso,visandoamelhoriadesuaqualidadedevida.VisãoéSerreco nhecidoaté2015,pelaSociedade,comoCentrodeReferêncianaAtençãoePrevençãoàvio lênciacontraapessoaidosa. Sãorealizadas, ainda,articulaçõescomaRededeServiçosSócioassistenciais,oscontatoscomasinstituiç õesvisamtantooencaminhamentocomoomonitoramentodoscasos,dentreosquaissepo demcitarquenoâmbitosocialsãofeitascom CRAS,CREAS,INSS,InstituiçõesdeLongaPermanência,CentrodeReferênciaFrancisca Clotilde,ConselhosEstadualeMunicipaldosDireitosdoIdoso eConselhoTutelar.NoâmbitodaSaúdepodemoscitar 41 oCAPSGeral,CAPSAD,Hospitaispúblicoseprivados,GruposdeTerapiaComunitáriaeA. A./N.A,SecretariadeSaúdedoEstado,DistritodeSaúdedasRegionais,UnidadesBásicas deSaúde (UBASF) eCentrodeRecuperaçãoparadependentesquímicos.JánoâmbitoJurídicosão:Defensori aPúblicadaUnião(DPU),UnidadesdosJuizadosEspeciaisCivileCriminal,PromotoriadoI doso,MinistérioPúblicodoEstado,Delegacias,EscritóriodePráticaJurídica– UNIFOR,NúcleodePráticasJurídicas–FFB,NúcleodeMediaçãodoMinistérioPúblico eNúcleodeMediaçãoComunitáriadoBairroPirambu. Algunsobstáculosforamobservadosnessapesquisa. Podemos citar, por exemplo,afaltadevagasnasinstituiçõesdelongapermanência(ILPS)paraabrigamentodo sidosos,clínicasdestinadasaotratamentodedependênciaquímicaepsicoterápico,ausên ciadeinstituiçõesintermediárias,comooscentrosdia,queofereçamatendimentoespeciali zadoapessoaidosa,amorosidadenoatendimentopelarede,apoucacolaboração,emalgu nscasos,porpartedosfamiliaresedosprópriosidosos,sendoconstatadabaixafrequênciad osparticipantesnogrupodesuporteterapêutico,oqueacarretouasuspensãotemporáriad essegrupo,aausênciadeatendimentopsicológicoambulatorial,dificuldadesnoatendime ntoàsolicitaçãodosserviçoseadescontinuidadenarealizaçãodotrabalhojuntoàsfamílias, principalmentecomrelaçãoaosPSFs. Aspropostascitadaspelaequipetécnicaincluemdesdeaçõesvoltadasparacap acitaçãodosseusprofissionais(cursosdeaperfeiçoamento),intensificaçãodainterlocuçã ocomarededeServiçosdeAtençãoaoIdosoeasUniversidades,feedbackdasinformações emitidasparaositedoObservatório,encontrosregionaisparafortalecimentodoscentros,i mplantaçãodeumacentraldeatendimentotelefônico,cursosonlinepromovidospeloobser vatório. Conforme enfatizamos anteriormente, o presenteestudobusca tambémanalisarassituaçõesdoscasosatendidosnoCIAPREVICE,doMunicípiodeFortaleza,comoobjetivodeverificaraquantidadedecasoseoperfildasv ítimasviolentadasnosanosde2009a2011,dandoênfaseaoabusofinanceiro.Osdadosser ãoapresentadosaseguir. Em junho de 2009, 1.968 denúncias já foram registradas das quais 1.036 foram acompanhadas e encerradas, permanecendo 587 em acompanhamento. Um dos motivos de arquivamento bastante frequente é relativo à improcedência da denúncia, ou seja, da não constatação, após a primeira visita domiciliar, em que o idosos nega-se que esta sendo vítima. Outro motivo é a melhoria do quadro de 42 violência ou maus tratos ao idoso, ou seja, depois que recebemos o caso que averiguamos e constatamos, a mediação ou até mesmos o atendimento at social é suficiente para resolver a situação. Poucas vezes, ou melhor, em apenas 7 (2%) processos, o arquivamento do caso partiu de uma iniciativa do próprio idoso. Vejamos no gráfico 1. 1968 2000 1595 1500 1000 500 0 0 0 Recebidas Encerradas Gráfico 1 – Denúncias Fonte: CIAPREVI (2012). Asprincipaisfontesderecebimentodadenunciaéodisque100doGovernoFede ral,oSO(SistemadeOuvidoria)doEstadodoCeará,o0800doCIAPREVI,tambémsãofeita spessoalmenteeatravésdeoutrasfontes,comovindasdeoutrasinstituiçãodesaúdeouass istenciais. Verifiquemos mos no n gráfico a seguir. Gráfico 2 – Via de recebimento de denúncia Fonte: CIAPREVI (2012). Aviolênciacontraapessoaidosaéumfenômenouniversalerepresenta Aviolênciacontraapessoaidosaéumfenômenouniversalerepresentaumpreo cupanteproblemadesaúdepública,fatoquesetornouevidenteapenasnasúltimas cupanteproblemadesaúdepública,fatoquesetornouevidenteapenasnasúltimasdécada s.Asprincipaisvítimassão são as mulheres, conforme assinala o próximo gráfico. gráfico 43 1400 1200 1000 800 1308 600 400 569 200 0 91 Masculino Gráfico 3 – Sexo Fonte: CIAPREVI (2012). A pesquisa Feminino documental possibilitou aviolênciapsicológicaocupaoprimeirolugarnalistadoscasos. violênciapsicológicaocupaoprimeirolugarnalistadoscasos.Devido Devido afirmar à que fragilidade inerente, as idosas acabam sendo as maiores vítimas dessa violência. No contexto da violência contra o idoso, admite-se admite se a relevância das diversas manifestações, quais sejam: violênciafísica, psicológica,abandono,negligência, negligência, autonegligência,violênciasexual violênciasexual e a violência financeira. Vejamos o gráfico 4 a seguir Gráfico 4 – Tipos de violência nas denúncias recebidas Fonte: CIAPREVI (2012). Embasadonosdadosreferidos houveumaumentoconsiderávelnademandad Embasadonosdadosreferidos,houveumaumentoconsiderávelnademandad asdenúnciasregistradasdejaneirode2010a sregistradasdejaneirode2010amaio de2011,passandoacontabilizar de2011,passandoacontabilizar,umamédiade60denúnciasmensais,65visitasdomiciliar médiade60denúnciasmensais,65visitasdomiciliar ese216casosemacompanhamento consequênciadaquantidadededenúnciasrecebida ese216casosemacompanhamento,consequênciadaquantidadededenúnciasrecebida s. 44 No entanto, percebemos que, devido ao reconhecimento da instituição com seu trabalho sério, as demais instituições públicas e privadas e a comunidade passaram a reconhecer o Centro e fazer encaminhamentos. Portanto, depois de verificamos todos os dados e documentos, iremos analisar as narrativas dos profissionais e dar alguns exemplos de casos que mais marcaram a vida da pesquisadora durante o período em que esteve pesquisando e estagiando. Vejamos a seguir essa discussão. 4.2 Violênciacontrapessoaidosaeaviolaçãodedireitoshumanos:ocasodoCIAPRE VI-CE Para estudarmos o idoso vítima de violência financeira e sua inserção no CIAPREVI, é importante antes conceituarmos a violência e analisarmos os depoimentos dos profissionais, além de apresentarmos alguns estudos de casos3 que acompanhamosdurante o período em que estive, concomitantemente, estagiando e pesquisando no âmbito institucional. Por uma questão de sigilo, numeramos os casos (caso 1 e caso 2) e demos o nome da profissão para os nossos entrevistados. A violência financeira segundo a APAV(Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) é “Qualquer prática que visa a apropriação ilícita do patrimônio de uma pessoa idosa e pode ser realizada por familiares, profissionais e instituições”. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como o uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação. Estes conceitos servirão de embasamento para esse estudo Vale acrescentar que partimos do pressuposto, conforme delineia o arcabouço jurídico, que é dever da família, do Estado e da sociedade, garantir o exercício da cidadania, zelando pela saúde, educação e segurança dos indivíduos. No tocante à pessoa idosa, percebemos que muito ainda precisa ser pensado e mudado, principalmente, quando falamos a respeito do desinteresse aplicabilidade da lei do Estatuto do Idoso (2003, p. 09), que diz: 3 No apêndice detalharemos cada caso através dos relatórios de atendimento social. da 45 É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e a convivência familiar e comunitária. (Art. 3º. Estatuto do Idoso) A violência financeira tem como consequência direta a falta de cuidados básicos aos idosos. Nessa perspectiva, o Relatório de Atendimento Social – caso 1, revela em poucas palavras a situação da violência financeira: Segundo a denunciante, o Sr. A. M., o outro filho que reside com os idosos, mantém a posse do cartão de benefício dos idosos, usufruindo do dinheiro de forma indevida, os deixando sozinhos o dia inteiro, saindo pela manhã de casa e regressando apenas de madrugada.Destaforma, não suprindo com a garantia dos cuidados básicos aos idosos.(caso 1). As observações no campo de investigação nos permite afirmar que, na grande maioria das famílias atendidas, o idoso é tido como aquele quenão tem mais nada a colaborar, uma peça sem grande serventia. Sua longa experiência de vida parecem algo remoto e distante do tempo atual, enquanto seu futuro mais próximo é a morte. É como se coubesse a esse sujeito simplesmente esperar, de forma paciente, a perda iminente de memória e de suas forças físicas, advinda de solidão e da doença. Para alguns familiares desse universo atendido, possivelmente, ele será um fardo de pouca duração para a família, Estado e sociedade. Dessa forma, se torna urgente resgatar para a família, a sociedade e o Estado o verdadeiro sentido da velhice, de modo que esta seja entendida como a idade da vivência e da experiência e, mais do que isso, que o idoso é um cidadão de direitos, direitos estes que foram conquistados a partir da mobilização coletiva de suas entidades representativas, bem como de profissionais, estudantes e militantes da causa. O caso a seguir descreve o descaso e a violência praticada contra a pessoa idosa: [...] o idoso encontrava-se abandonado em sua residência, totalmente desorientado, sem ingerir medicações, bem como não dispondo do seu cartão bancário já que este encontrava-se com um agiota do bairro. (caso 2). 46 Uma das maiores dificultadas que encontramos nesta situação é a ineficiência do Estatuto do Idoso, pois já nos deparamos com situação extrema, como o caso deste idoso citado, este é um dos muitos que estão nessa situação, situação esta que nós como assistentes sociais não estamos encontrando meios para dar resposta, devido a rede de assistência, saúde e do poder público. A maioria dos casos de violência financeira registrada no CIAPREVI é provocada por seus filhos ou netos, que, em sua maioria, são usuários de drogas e se apoderam dos benefícios dos idosos para o seu uso próprio. Nestasituação em que o Estado não dispõe de vagas em clínicas de recuperação para o tratamento destes indivíduos portadores de dependência química, o nosso trabalho na busca pelo direito deste idoso fica a desejar. Assim, buscamos por outro meios, que, em muitos aspectos, são precários. Como exemplo podemos citar os encaminhamentosao CAPS AD, os quais não possuem estrutura logística e de pessoal (muitos estão com sua capacidade máxima de atendimento, ou seja, lotados e sem vagas); portanto, infelizmente, não vem atendendo satisfatoriamente a esta demanda. Outro caso de exploração financeira é possibilitado pelo emprestimo consignado, queatualmente vem sendo um dos grandes vilões dos idosos; quem faz estes empréstimos, em grande maioria, são os filhos ou netos, que por sua vez deixam os idosos à margem dos benefícios advindos do empréstimo, ou seja, como boa parte destes ganham apenas um salário mínimo, depois da transação passam a ganhar menos. Além disso, o acompanhamento dos casos nos permite afirmar que uma boa parte dos filhos os abandonam, deixando-o deprimido, doente e endividados. Nesse sentido, temos muita dificuldade de constatar ou mesmo provar legalmente tal violência.Tudoisto por que, em muitos casos, os idosos tendem a encarar a situação de forma naturalizada ou por que, na maioria das vezes, por se tratar de abusos promovido por um entepróximo, ou seja, da família, eles não querem prejudicá-los, recusando-se, em muitas situações, a relatarem abertamente os fatos. Essa afirmativa é sustentada no depoimento a seguir: Diante da experiência adquirida durante o exercício profissional, constatei que as principais dificuldades que os idosos têm para confirmar a violência é a questão de na maioria dos casos o agressor ser algum membro da família, geralmente filhos e netos, onde a existências de um vinculo afetivo 47 muito forte, fato este que o impedem de denuncia-lo ou seguir com a denúncia adiante. (Assistente Social 2). Nesse sentido, fica evidenciado que os idosos sentem medo de fazer ou prosseguir com a denúncia. Eles temem o que a justiça possa fazer, desconhecendo o papel do CIAPREVI, que é trabalhar na prevenção e com a mediação desses conflitos, não tendo nenhum poder de justiça. Assim, considerando a fala do profissional eas nossas observações, podemos afirmar que os idosos ocultam, com medo, todos os tipos de violência, tanto para protegeralguém próximo ou até mesmo os próprios familiares. O depoimento a seguir corrobora com essa análise: Percebe-se que o idoso sabe e permite, mas nega a violação de direito para possivelmente não perder o pouco de vínculo familiar que ele é humilhantemente oferecido, pois a mudança para o idoso é extremamente difícil(Assistente Social 1). Para que esta realidade minimize é necessário que os idosos entendam e reconheçam seus direitos. Esse trabalho de divulgação é feito constantemente, o que foi ressaltado durante a realização do grupo focal realizado com 16 idosos no CIAPREVI. Durante esse evento ressaltamos quanto ao uso do Estatuto do Idoso, que é do conhecimento de alguns, mas que, segundo seus depoimentos, sabem que existe, mas nunca tiveram curiosidade de ler ou pedir quealguém lê-se.Vejamos o depoimento a seguir: [...] o fato de muitas vezes os idosos não se perceberem como usuário de direitos, ou vítimas de violência, é por considerarem culturalmente aceitável e/ou normal, no sentido durkheimiano, esse tipo de violação (Sociologa 1). Diante uma visão socióloga, podemos perceber que para acabar com a violência se faz necessário que os idosos se conheçam como sujeitos de direitos, que possam ver a realidade de forma ampla, passando a cultivar essa prática culturalmente para que seja naturalizado o ato de fazer a denúncia. 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto foi possível compreender que háa necessidade de se combater a violência financeira contra o idoso, utilizando-se como recurso o seu estatuto e toda a legislação pertinente, a qual preconiza a estruturação da Rede de Atenção e Defesa dos Direitos das Pessoas Idosas, que inclua a conscientização e educação da sociedade sobre o processo de envelhecimento, seus mitos e preconceitos, que estimule a atuação do próprio idoso para que seja o protagonista na defesa dos seus direitos, enfim, que fomente estudos, pesquisas e campanhas informativas sobre o tema. O desenvolvimento desse estudo justifica-se pela necessidade de se conhecer as formas de proteger os idosos da violência financeira, respaldando-se no que dispõe o ordenamento jurídico a respeito dos direitos e garantias da pessoa idosa. Para tanto, é importante acompanhar os avanços do conhecimento científico sobre o fenômeno da violência financeira praticada contra os idosos e o envolvimento do assistente social nesse contexto, evidenciando a realidade de uma instituição que presta assistência aos idosos e considerando as medidas que possam ser adotadas, fundamentadas nos preceitos do nosso ordenamento jurídico, através da Lei que Regulamenta a profissão e pelo nosso Projeto Ético Político. A violência financeira é fruto de consequências do sistema econômico, político e cultural e do estágio de desenvolvimento dos países onde as pessoas estão inseridas, embora a legislação afeta a garantia e defesa dos direitos esteja bastante avançada. A violência financeira ocorre em todas as faixas de renda, muitos familiares ficam na expectativa dos vencimentos das pessoas idosas para usufruírem, além de imóveis que são tomados, empréstimos realizados para beneficiar-se. Enfim, são inúmeros os meios que utilizam. Quando ocorrem as denúncias e essas são analisadas, constata-se que o maior percentual de abusadores são decorrentes do sistema instituído, por não assegurar os direitos às pessoas idosas, pela insipiente implementação de politicas públicas de qualidade, pelo não cumprimento da legislação em vigor, e as pessoas idosas por ainda não lutarem por seus direitos. O maior percentual de violência tem origem no núcleo familiar ou provém de pessoas mais próximas, porém nem todos 49 os parentes são abusadores, há os que respeitam os mais velhos e procuram tratálos com dignidade. As facilidades concedidas para empréstimos consignados em função das ofertas propostas pelas instituições financeiras levaram a uma grande demanda em busca desses serviços. Muitos empolgaram-se no primeiro momento, mas quando começaram os descontos veio a frustração de ter que conviver em longo prazo com o endividamento e com juros superiores a inflação, além de casos em que empréstimos foram realizados sem consentimento do aposentado ou da pensionista. Apesar do acelerado processo de envelhecimento populacional, a sociedade e os governos ainda não se conscientizaram que devem tomar medidas urgentes para estruturação da rede de serviços de proteção e defesa dos direitos das pessoas idosas. Vale lembrar que o evento da aposentadoria, embora com uma cobertura relevante, tem se apresentado como um empobrecimento da população idosa, pois os reajustes mensais estão totalmente defasados. O projeto de lei que defende o fator previdenciário -luta antiga das pessoas idosas -, ainda está sendo discutido no parlamento, com graves consequências para a qualidade de vida e sobrevivência com dignidade das pessoas idosas. Esperamos que, de alguma forma, a nossa pesquisa possa contribuircom a melhoria da qualidade de vida desses sujeitos, ou seja, que a partir do momento em que os resultados forem apresentados, haja uma sensibilização por parte dos profissionais que atuam com esse público no sentido de discutirem outras metodologias de atuação que desmistifiquem a violência como algo natural e a divulguem enquanto violação de direitos humanos e, assim, colaborem no sentido de fomentarem nesses sujeitos (que vivenciaram ou testemunharam essa situação) a motivação para a denúncia e reivindicação de seus direitos. 50 REFERÊNCIAS ALVES, R. Cenas da vida. Campinas: Papirus, 1997. ARANHA, V. C. 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Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. 53 APÊNDICES 54 APÊNDICE 1 – Relatório Social - Caso 1 Em 03/05/11 foi recebida por este Centro, encaminhado do Sistema de Ouvidoria do Estado do Ceará, denúncia de violência psicológica, financeira e negligência, realizada pela Sra. S, ex-nora dos idosos. No ato da denúncia a mesma afirmou que os idosos moram com dois filhos, sendo um portador de transtornos mentais o Sr. J.Segundo a denunciante, o Sr. A. M., o outro filho que reside com os idosos, mantém a posse do cartão de benefício dos idosos, usufruindo do dinheiro de forma indevida, os deixando sozinhos o dia inteiro, saindo pela manhã de casa e regressando apenas de madrugada, desta forma, não suprindo com a garantia dos cuidados básicos aos idosos. Assim, em virtude de tal denúncia no dia 03/05/2011 foi realizada uma visita domiciliar aos idosos o Sr. A. M. e a Sra. O. L. com o objetivo de averiguar tal situação. Ao chegarmos na residência, os idosos estavam sozinhos com seu filho que apresenta transtornos mentais. Na ocasião os idosos nos informaram que possuem cinco filhos, destes, um reside emCascavel (T.), outro no Rio Grande do Norte (A.) e os demais residem em Fortaleza (A., J., M.). Segundo os idosos, o filho o Sr. M. (denunciante) reside próximo aos mesmos e os outros dois (A. e J.) moram com eles. Quanto aos cuidados com a saúde, os idosos relataram que a família recebe visita da equipe do PSF. Apresentando os seguintes problemas de saúde: a idosa sofre de diabetes, hipertensão, problemas de visão e possui um braço fraturado proveniente de uma queda. Já o idoso não soube nos informar. Vale destacar que aparentemente os idosos são lúcidos e orientados. Ao perguntarmos sobre as relações familiares os idosos nos relataram que o Sr. Manuel é bastante presente, visitando os idosos diariamente e fornecendo a atenção necessária. Quanto ao Sr. A. estes relataram que o referido senhor limpa a casa, faz a alimentação para a família (na ocasião, existia sopa para o almoço), auxilia os idosos a realizarem a sua higiene pessoal, acrescentando que mesmo sai diariamente, retornando após às 17:00h. Neste dia marcamos atendimento para o 10/06/2011 destinado aos filhosM. M.e A. M. para tratar de assuntos referentes a Sra. O. L. e o Sr. A. M.. Todavia, na data marcada estes não compareceram. 55 No dia 13/06/2011 a Sra. S., ex-esposa do Sr. M., manteve contato telefônico conosco, para acrescentar algumas informações. Na ocasião, a denunciante relatou que o filho M. sofreu um acidente de moto há cinco meses, tendo realizado uma cirurgiarecentemente. Antes do ocorrido, o referido senhor era responsável emreceber e administrar as aposentadoriasdos idosos. Segundo a Sra. S., o Sr. M. administrava muito bem a remuneração,contratando cuidador para os idosos (ela própria). Cabe ressaltar que o Sr. Manuel é o curador do irmão que apresenta transtornos mentais, o Sr. J. A Sra. S. também informou que atualmente, a administração das aposentadorias esta sob os cuidadosdo Sr. A.De acordo com a mesma, o Sr. A. M.deixa faltar medicamentos, alimentos aos idosos efalta higiene na residência. No dia 20/06/2011 em ligação a Sra. S., obtivemos a notícia que no dia 19/06/2011, ocorreu uma discussão entre M., S. e A. devido a saúde da genitora (idosa). Segundo a Sra. S. a idosa estava alterada, pois o então administrador, escondera todo medicamento e o aparelho para medir o índice de diabetes, gerando agressões verbais que deram ensejo a um boletim de ocorrência pela Sra. S. Nesta mesma data ligamos para o Sr. A., mas Sra. R. - companheira deste, relatouque omesmo não encontrava-se. A mesma informou que o denunciado é o único que importa com os idosos, e que se não fosse ele os idosos estariam abandonados. A mesma destacou ainda que a Sra. S. cuidava anteriormente dos idosos, todavia, não dispensava os cuidados necessários. A declarante acrescentou que à Sra. S. vem causando vários conflitosna família, colocando um irmão contra o outro. Solicitamoso comparecimento dos filhosM. M., A. M.e T. M. a este Centro para tratar de assuntos referentes a Sra. O. L.e o Sr. A. M. No dia estipulado os referidos senhores compareceram a este Centro. O Sr. M. reiterou sua denúncia, afirmando que não diálogo com o Sr. A. M.. Relatando tambémque o benefício dos idosos está sendo utilizado de forma indevida pelo Sr. A. e que os idosos estão sendo negligenciados em seus cuidados básicos (alimentação inadequada, falta de uma cuidador para acompanhar durante o dia os idosos, descomprometimento com relação a higiene dos mesmos e cuidados médicos). Solicitando a curatela dos idosos. Quanto ao atendimento com o Sr. A. M.. Este relatou que a denúncia por parte do Sr. M. M. tem um interesse financeiro. Discriminando da seguinte forma os 56 gastos: pagamento do abastecimento de água, energia elétrica, telefone, alimentação (não diferenciada), plano funerário, enfermeira (vale destacar que é pago R$300,00 a esta para aplicar a medicação da idosa, não realizando a função de um cuidador).Quando perguntado sobre seu interesse de uma possível curatela, este mostrou-se a princípio afirmativamente, todavia, posteriormente contrário. Vale destacar que este negou-se em aceitar uma sessão de mediação com os outros irmãos, bem como, em seguir nossas orientações, no que diz respeito a contratação de um cuidador, alegando que o benefício dos idosos não supre com esta necessidade, e que não disponibilizaria qualquer valor que seja de seus rendimentos pessoais. No atendimento com o Sr.T., este alegou que reconhece que a alimentação é inadequada, bem como os cuidados com a higiene e ressaltou a necessidade da contratação de um cuidador. Na ocasião, tendo em vista que os conflitos familiares penduram por muito tempo, sugerimos ao Sr. Tarciso que dialogasse com os outros irmãos, na tentativa de um entendimento nas divisões das obrigações para com os idosos. Dando prosseguimento ao acompanhamento deste procedimento, por diversas ocasiões, realizamos contatos telefônicos e atendimentos psicossociais com os familiares (M. M., A. M., A. M., T. M.), todavia, não obtivemos êxito, tendo em vista que os referidos filhos apresentaram-se muito resistentes em receber nossas orientações, dispensando acusações um contra os outros e negando-se a aceitarem a realização de uma mediação. Nestes atendimentos foram destacados a necessidade da contratação de um cuidador, da garantia dos cuidados básicos (higiene, alimentação, acompanhamento médico mais sistemático) e de um auxilio maior por parte de todos os filhos, principalmente quando na carência financeirados benefícios dos idosos. PARECER TÉCNICO: Diante dos fatos colhidos e referendados, através de depoimentos de familiares e dos idosos, em virtude de visita domiciliar realizado pela equipe técnica do Centro Integrado, bem como mediante os empecilhos, já expostos, tendo em vista o óbice construído pela própria família, resta-nos a incumbência de encaminhar o supra para o Ilustre órgão competente, visto não ter sido solucionado com as 57 intervenções que a este centro compete, e ainda ter-seconstatado que os idosos O. L.e A.M. está tolhida das garantias de seus direitos fundamentais. Sugerimos desta forma, que seja determinado um curador para os idosos, enfatizando os cuidados coma saúde, alimentação, higiene, segundo vosso entendimento e que seja contratado um cuidador, em caráter de urgência, em busca da mais valiosa justiça em prol dos direitos dos idosos. Encaminhamos o caso à Promotoria de Defesa do Idoso, para que sejam tomadas as devidas medidas cabíveis. 58 APÊNDICE 2 – Relatório Social - Caso 2 Recebemos uma denúncia realizada pelo próprio idoso J. N.,relatando que sofreviolência financeira por parte da sua filha A. S. Referida denúncia revela que a Srª A.S. fez um empréstimo por 6 anos no nome do pai J.N. para a compra de uma casa,registrando no nome dela. Realizamos atendimento social com o Sr. J.N. e seu irmão I. N. Durante o atendimento o Sr. I.relatou que retirou o irmão o Sr. J.N. de casa e levou para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, já que o idoso encontrava-se abandonado em sua residência, totalmente desorientado, sem ingerir medicações, bem como não dispondo do seu cartão bancário já que este encontrava-se com um agiota do bairro.Em visita que fizemos ao idoso que encontrava-se na casa do referido irmão, dispondo já de seu cartão e atendido em suas necessidades básicas. Quando a situação do imóvel o idoso afirmou que tinha interesse em vender a casa, para construir/comprar uma casa próximo ao seu irmão – I. Desta forma, foi agendadoum encontro de mediação com o Sr. Manoel, sua filha A. e o Sr. I. para tratar de assuntos referentes ao bem estar do idoso e assim como conciliar as partes no que diz respeito ao usufruto da residência. No dia supracitado foi proposto que o idoso continuasse morando com a família, pois este apresenta diversos problemas de saúde, bem como não apresenta mais condições de morar sozinho, haja visto a situação em que se encontrava na ocasião da intervenção do seu irmão. Sendopedido a ambas as partes para que possam conversar quanto a venda ou não do imóvel, em uma reunião familiar, haja visto que as sugestões propostas neste atendimento não foram aceitas pelas partes, sendo solicitado um retorno após este procedimento. Vale destacar que a Sra. A., na ocasião,demonstrou-se favorável a devolução do dinheiro da venda do imóvel, apesar de alegar que o idoso havia cedido a casa para ela, relatando que só havia colocado o imóvel no nome dela porque tinha receio que o idoso vendesse a casa ou passasse para o nome de uma suposta namorada. Depois de um atendimento social o idoso passou a morar com um filho, chamado A., que reside em Pacatuba. 59 APÊNDICE 3 – Relatório Social - Caso 3 Em 02/05/2012 foi recebida por este Centro denúncia encaminhada pela Secretaria Municipal da Assistência Social - SEMAS relativa a abandono e violência financeira sofrida pelo idosoM. P. Segundo a referida denúncia, uma vizinha do idoso chamada F. retira a importância de R$100,00 (cem reais) de sua aposentadoria ( sem informar o motivo), ocasionando privações e não lhe prestando nenhum tipo de assistência. As denunciantes verbalizaram ainda que o idoso reside em casa própria, recebida pelo HABITAFOR, mas que esta encontra-se totalmente deteriorada, com péssimas condições de moradia. Fazendo menção a família, foi relatado que o idoso possui um irmão residente no município de Meruoca e um filho que foi embora para o estado do Amazonas, com o qual não tem contato há muitos anos. Vale ressaltar que as denunciantes afirmaram que existem usuários de drogas nas proximidades da casa do idoso e que frequentemente chegam a fazer uso do banheiro da residência do mesmo para usar tais substâncias psicoativas, deixando o idoso susceptível a riscos. SÍNTESE DOS FATOS: No dia 24/05/12 realizamosvisita domiciliar à residência do idoso, o mesmo verbalizou dificuldades de relacionamento com vizinhos (suspeitos traficantes de drogas),que o humilham, proferindo palavras de baixo calão, além de já terem ameaçado de morte e invasão de domicílio. Informou que voltou a fumar, depois de muitos anos, devido ao sofrimento e angústia que vêm sofrendo. Na ocasião o idoso informou não realizar atendimento médico de forma sistemática, não sabendo informar a existência de qualquer patologia física e mental, porém foi possível verificar que o referido senhor apresenta dificuldades de locomoção, apresentando-se independente em suas atividades da vida diária. Quanto as relações familiares, relatou que o único parente que tem é um irmão que reside no município de Meruoca, tendo perdido totalmente o contato (não possui número telefônico e endereço). 60 Com relação ao aspecto financeiro, o mesmo relatou ser aposentado (um salário mínimo), todavia, tal renda é recebida por uma vizinha, Sra. F., que só lhe repassa o valor de R$ 540,00 (quinhentos e quarenta reais), cujo o próprio idoso realiza a administração mensal da seguinte forma: despesas com água e energia que perfazem o total de R$ 37,00; lavagem de roupa no valor de R$30,00; cesta básica na quantia de R$ 150,00 e o restante com gastos alimentares que vão se fazendo necessários. Ressalta-se que o idoso afirmou apresentar dificuldades de convivência com a referida senhora, pois a mesma lhe trata com grosseria. PARECER TÉCNICO: Diante dos fatos colhidos e referendados, através de depoimentos de vizinhos e do próprioidoso, em virtude de visita domiciliar realizada pela equipe técnica do CIAPREVI, constatamos situação insalubre de moradia, péssimas condições de infraestrutura em ambiente doméstico, bem como a inexistência de qualquer familiar que possa prestar-lhe os devidos cuidados e assistência. Neste sentido verificamos que o idoso encontra-se em situação de vulnerabilidade social, sendo de própria vontade. Encaminhamos o caso ao Lar Torres de Melo, para que sejam tomadas as devidas medidas cabíveis. 61 APÊNDICE 4 – Relatório Social - Caso 4 1º Denúncia recebida em 15/03/2010, pela Ouvidoria Geral do Estado, e posteriormente encaminhada para este órgão, relata que a idosa M.C., é vítima de violência física, financeira e psicológica por parte de seu neto J. A. Referida denúncia revela que a idosa sofre agressões físicas constantemente, em muitas ocasiões vindo a ter escoriações por causa das agressões, é molestada psicologicamente, ameaçada de morte, ainda sendo usurpada em seu benefício financeiro para que o referido senhor mantenha seu vício - usuário de drogas ilícitas. 2º Denúncia recebida em 26/07/2011, pela Ouvidoria Geral do Estado e repassada pela este Centro refere-se as agressões física, psicológica, financeira que a idosa supracitada vem sofrendo por parte do seu neto J. A. Em consonância com a primeira denúncia, esta revela que o neto da idosa é usuário de drogas ilícitas, ameaça e agride a idosa para obter dinheiro com o intuito de manter o consumo. No dia 30/03/2010 realizamos visita domiciliar na residência da idosa supracitada. Fomos recebidas pelaidosa, sua neta M. R. e o referido denunciado. Vale salientar que a idosa reside sozinha com o denunciado. A mesma tem cinco netos (A., R., K., L., A. A.), todavia, estes não prestam os devidos cuidados à idosa. A residência apresenta uma infraestrutura precária, bem como de higiene, não possui energia elétrica (em virtude de uma dívida de $5.000,00, tendo em vista que há doze anos não é paga), nem água (também em virtude de débitos).Ainda segundo a neta R., que mora atrás da residência da idosa, o Srº A. faz compras em uma mercearia em frente a residência da idosa para permutar por drogas, o débito gira em torno de $400,00 mensais. Quanto as condições de saúde a referida idosaalegou não ter nenhum problema de saúde, no entanto, a idosa não faz acompanhamento médico. Encaminhamos o neto ao Hospital Psiquiátrico de Messejana para um possível tratamento de desintoxicação, bem como a idosa ao Centro de Saúde de Messejana. Orientamos a Srª R. que pudesse atuar junto a idosa, quanto a administração das finanças, para que está possa ser utilizada de uma forma mais organizada. Todavia, posteriormente recebemos uma ligação da Srª R. informando que o Srº A. não foi ao Hospital como combinado no dia da visita. E ainda que está ameaçando a idosa de morte. A neta R., ainda nos relatouque já fez um acordo com as empresas fornecedoras de água e luz, todavia, após o restabelecimento dos serviços, foram suspensos novamente por falta de pagamento novamente. 62 Diante do exposto continuamos a acompanhar o caso. Por muitas ocasiões fomos informadas que a situação se apresentava estável, que o Srº A. estava trabalhando, que se comprometera a não violar mais os direitos da idosa, disponibilizando-se a iniciar um tratamento. Assim em diversas ocasiões tentamos encaminhá-lo a um tratamento para dependentes químicos, todavia, sem êxito. Em outros momentos, éramos informadas pela família que este havia tido recaídas, que voltara, a agredir a idosa. Vale destacar que em várias ocasiões o Ronda do Quarteirão havia sido acionado, todavia, que apesar da situação exposta a idosa o protegia, negando qualquer tipo de violência. Vale destacar que no decorrer do acompanhamento a idosa passou a afirmar que está grávida. Desta forma, após conservarmos com a idosa, encaminhamos esta para tratamento no CAPS, bem como para o Hospital Gonzaguinha de Messejana, propondo a Srª R. que a acompanhasse.No último contato que realizamos fomos informadas que não houvera melhora na situação.A idosa continua sendo violada nos seus direitos pelo Srº J. A. (usuário de drogas ilícitas),sem acompanhamento familiar efetivo. PARECER TÉCNICO: Diante dos fatos colhidos e referendados, através de depoimentos de vizinhos, familiares e da própriaidosa, em virtude de visita domiciliar realizado pela equipe técnica do Centro Integrado, bem como mediante os empecilhos, já expostos, tendo em vista o óbice construído pela própria família, resta-nos a incumbência de encaminhar o supra para o Ilustre órgão competente, visto não ter sido solucionado com as intervenções que a este centro compete, e ainda terseconstatado que a idosa M. C.vive em situação de vulnerabilidade social, estando tolhida das garantias de seus direitos fundamentais, e necessitando urgentemente de intervenção coercitiva. Sugerimos desta forma, o internamento compulsório do Srº J. A., em caráter de urgência, que seja determinado um curador para a idosa, enfatizando os cuidados coma saúde da idosa, segundo vosso entendimento, e na impossibilidade de solução imediata, que seja concedido abrigamento da idosa de caráter provisório, em busca da mais valiosa justiça em prol dos direitos da idosa. Encaminhamos o caso à Promotoria de Defesa do Idoso, para que sejam tomadas as devidas medidas cabíveis. 63 APÊNDICE 5 – Roteiro de entrevista para abordagem ao idoso vitima de violência financeira I-DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 1.1-IDADE:________________ 1.2-SEXO: () Feminino () Masculino 1.3-RELIGIÃO:______________________________1.4-COR:_____________________ 1.5-POSSUI ACOMPANHANTE\CUIDADOR: () Sim () Não II-DADOS BIOSOCIODEMOGRÁFICOS 2.1-ESTADO CIVIL: ()Solteiro (a) ()Casado (a) () Divorciado (a) () Viúvo (a) () Outro. Qual:______________ 2.2-GRAU DE ESCOLARIDADE: ()Analfabeto (a) ()1º grau completo ()1ºgrau incompleto ()2º grau incompleto ()2º grau completo o Superior incompleto ()Superior completo 2.3-SITUAÇÃO OCUPACIONAL: ()Trabalha ()Aposentado (a) ()Pensionista ()Recebe o BPC ()Do Lar ()Outros. Qual_________ 2.4-Seu dinheiro ajuda na renda familiar?() Sim () Não 64 2.5-Quem cuida do seu dinheiro: ()Filhos (a) ()Cônjuge ()Netos (a) ()Outros. Quem: __________ 2.6-Com quais destas necessidades o (a) Sr.(a) gasta seu dinheiro? ()Alimentação ()Aluguel ()Remédios () Lazer () Roupas\transporte ()Pagamentos de contas Públicas ()Outros. Qual:__________________ 2.7-ARRANJO FAMILIAR: ()Reside sozinho ()Reside com a família ()Reside com amigos ()Cônjuge ()Outros. Quem:_________ 2.8-TIPO DE MORADIA: ()Casa ()Apartamento ()Outros. Qual:__________________________ 2.9-VINCULAÇÃO DO IMÓVEL: ()Próprio ()Alugado ()Cedido ()Outros. Qual:______________ 2.10-Quantos filhos têm?__________________ 2.11-Quantas pessoas moram com o (a) Sr.(a) na mesma casa? _________________ 2.12-Se são familiares, qual o grau de parentesco? ()Filhos (as) ()Netos (as) 65 ()Cônjuge ()Nora ()Genro ()Outros. Qual:_____________________ 2.13-Como é o seu relacionamento com a família? ()Ótimo ()Bom ()Regular ()Péssimo 2.14-O que o (a) Sr. (a) considera mais importante na vida? ()Dinheiro ()Família ()Saúde ()Amigos ()Educação ()Religião ()Respeito ()Amor ()Lazer ()Segurança ()Trabalho ()Outros. Qual:_________ 2.15-Com quem o (a) Sr. (a) fica a maior parte do dia: ()Sozinho ()Cônjuge ()Filho (a) ()Neto (a) ()Outros: Quem_________ 2.16-Como o (a) Sr. (a) é tratado pela sua família? __________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 2.17-O (a) Sr.(a) participa das decisões familiares? () Sim () Não 2.18-Como classifica o comportamento da família em relação ao Sr.(a)? (múltipla escolha): () É abandonado (a); () Há constante comunicação; () É superprotegido (a); () É tratado (a) com respeito e consideração; () É maltratado (a); () Não há comunicação; 66 () Parece que a família acha ótimo ter um idoso em casa; () Parece que a família acha regular ter um idoso em casa; () Parece que a família acha muito ruim ter um idoso em casa; 2.19- O (a) Sr.(a) tem liberdade e autonomia dentro de casa? () Sim () Não 2.20- O (a) Sr.(a) acha que alguém gostaria que estivesse em outro lugar? Quem, onde? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________ 2.21- Às vezes os idosos me contam que são machucados por alguém da família. Isso poderia acontecer com o (a) Sr. (a)?() Sim () Não 2.22- Como o (a) Sr. (a) classifica a violência ? () Agressão () Isolamento () Exploração () Cárcere () Golpe ()Escravidão () Discriminação () Chantagem () Provocar raiva ou choro () Separar de pessoas queridas () Insulto () Desvalorização () Pressão para vender bens () Pressão para fazer testamentos ou doações () Retenção de cartão () Ausência de medicamento () Abuso de medicamento () Briga 67 ()Xingamento ()Humilhação () Apropriação de seus rendimentos () Outros. Qual:_________________ 2.23-O (a) Sr.(a) já foi vítima de alguma violência? Como aconteceu? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2.4-O que o(a) Sr.(a) entende por violência financeira? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2.5-Como o(a) Sr.(a) acha que acontece a violência financeira? Motivos elencados. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2.6-De que forma o(a) Sr.(a) se percebe na sociedade atual? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2.27-O senhores(a) acham que já foram vítima da violência financeira? () sim () não Como os(as) Sr.(as) podem identificar quem pode ser os maiores agressores? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2.28-Quais as alternativas que o(a) Sr. (a) pode ser trabalhada para melhorar essa situação de violência financeira? __________________________________________________________________________ __________________________________________________ 2.29-O (a) Sr. (a) conhece o Estatuto do Idoso? () Sim () Não 2.30- O (a) Sr. (a ) conhece as leis de proteção ao idoso? () Sim () Não 2.31- O (a) Sr. (a ) denunciaria alguém por estar violando os seus direitos? Onde? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2.32-Se desejar o (a) Sr. pode fazer algumas considerações finais: __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 68 2.33-Observação:___________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Data da Entrevista:______\_______\________ Pesquisadora:____________________________________________________________ INFORMAÇÕES COLETADAS ACIMA SÃO EXTREMAMENTE CONFIDENCIAIS E SIGILOSAS 69 APÊNDICE 6 – Entrevista com os profissionais 1-Na prática de estagio e na entrevista de grupo focal, percebi a grande dificuldade que os idosos têm para confirmar que estão sendo vitimas de algum tipo de violência, em especial a financeira. Gostaria que os profissionais da área social, sociológica e psicológica que lidam no dia a dia do CIAPREVI comentassem essas observações que constatei.