Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 2007 Referência: Comentários da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) à proposta (em Audiência Pública nº. 049/2007) do novo Manual de P&D da ANEEL Ilustríssimo Senhor Máximo Popermeyer <[email protected]> M.D. Coordenador de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) Brasília, DF Senhor Coordenador de P&D da ANEEL, Em resposta à Audiência Pública nº. 049/2007 ⎯Proposta do Novo Manual de P&D da ANEEL⎯, encaminhamos, anexo, em formulário próprio disponibilizado por essa Agência, comentários e sugestões de caráter institucional que resultaram de reflexões de um workshop de trabalho organizado pelo Grupo de Inovação do Programa de Pós-graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação (PósMQI) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Realizado no dia 4 de janeiro último, este workshop, amplamente divulgado junto aos grupos atuantes em P&D da universidade (agenda e lista de participantes também anexados) objetivou gerar contribuições para o Novo Manual de P&D da ANEEL. Adicionalmente aos coordenadores e pesquisadores de projetos de P&D da universidade, participaram também dos trabalhos convidados externos representantes de empresas concessionárias do Rio de Janeiro e representantes de pequenas empresas de base tecnológica e de consultoria especializada, uma inclusive oriunda da incubadora de empresas Gênesis da PUC-Rio, parceiras de pesquisa nesses projetos. Nesse contexto, o presente documento não representa opiniões individuais, mas, sim, um consenso de caráter institucional formalizado pelos participantes do mencionado workshop. Os comentários e sugestões aqui apresentadas foram norteados pela constatação inicial que há na proposta de manual uma falta de aderência aos conceitos do Manual de Oslo. Conceitos esses que são adotados não apenas pelas instituições de Políticas e Fomento à Inovação no Brasil (CNPq, FINEP, MCT, ABDI, MDIC) e no exterior (União Européia, OECD, UNESCO), mas, também, pelo IBGE, que coordena, a cada dois anos, o principal levantamento de indicadores de inovação do País, conduzido no âmbito da já consagrada Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC). 1/4 Programa de Pós-Graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação Email: [email protected] Home Page: www.metrologia.ctc.puc-rio.br Rua Marquês de São Vicente, 225-Sobreloja - Prédio Cardeal Leme – Gávea - 22453-900 Rio de Janeiro – RJ - BRASIL Tel. (+55-21) 3527-1542; FAX (+55-21) 3527-1543 O conceito moderno de inovação é bem mais amplo do que o empregado na proposta, compreendendo métodos e modelos de gestão, mudanças organizacionais (incluídas como inovação na última edição da PINTEC-2005, publicada pelo IBGE em Julho de 2007) e suas tecnologias de suporte (software e serviços relacionados). Ademais, há que se ressaltar que um grande número de empresas do Setor Elétrico, tendo em vista suas áreas de atuação de mercado, demanda, principalmente, inovações de serviços a fim de melhorar a qualidade e a eficiência da prestação de serviços de eletricidade à sociedade brasileira. A análise da proposta do novo manual mostra, claramente, que a ANEEL corretamente optou por uma filosofia de P&D voltada para a inovação convergente com o atual foco do governo que busca, fortemente, priorizar a inovação como eixo de promoção da competitividade internacional e do desenvolvimento econômico e social do País. Entretanto, a visão da inovação aí delineada ⎯a partir dos conceitos, processos e indicadores propostos⎯ reflete uma lógica singular que contraria tanto a dinâmica da inovação moderna quanto a essência da sua própria lógica. Se por um lado oferece incentivos para motivar as empresas concessionárias e seus parceiros de pesquisa na busca da inovação, os instrumentos propostos para realizá-la ⎯em seu conjunto, caracterizada singularmente pelo fato que cada estágio da cadeia demanda um grupo de atores, incentivos e recursos distintos⎯, estão voltados para avaliações de risco e oportunidade em cada estágio da cadeia por diferentes geometrias de atores. Embora o Manual corretamente inove ao propor um Plano Plurianual de Investimento para as empresas concessionárias de Energia Elétrica, ele reduz, significativamente, o potencial impacto positivo de tal Plano ao introduzir uma sistemática de acompanhamento e avaliação projeto-a-projeto. Uma sistemática de avaliação excessivamente burocrática e centrada em indicadores de natureza acadêmica ⎯próprio para avaliação de instituições de pesquisa e/ou de pesquisa essencialmente acadêmica⎯ e de difícil (em alguns casos até impossíveis) operacionalização, induzindo nas empresas um comportamento conservador nos seus objetivos e metas para a inovação. O processo que alimenta a cadeia de inovação é, reconhecidamente, complexo e dinâmico ⎯intensivo em riscos e oportunidades em cada estágio⎯ e seu resultado ⎯a introdução de um produto ou processo novo no mercado⎯ constitui-se em um fenômeno raro, demandando atores de diferentes naturezas em seus diferentes e contrastantes estágios. Entretanto, a nova proposta de manual proposta pela ANEEL engessa, sobremaneira, este processo, uma vez que requer de antemão uma definição dos atores e a especificação das atividades a eles atribuídas, sem deixar margem (flexibilidade) para redefinição de metas, rumos, redimensionamento de equipamentos e, principalmente, capital social e horizonte temporal. 2/4 Programa de Pós-Graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação Email: [email protected] Home Page: www.metrologia.ctc.puc-rio.br Rua Marquês de São Vicente, 225-Sobreloja - Prédio Cardeal Leme – Gávea - 22453-900 Rio de Janeiro – RJ - BRASIL Tel. (+55-21) 3527-1542; FAX (+55-21) 3527-1543 Contrário ao moderno conceito de pesquisa empresarial que privilegia a avaliação de resultados (a inovação propriamente dita), a função de avaliação na nova proposta de manual está estruturada e orientada para um excessivo controle dos meios que conduzem à atividade de P&D. Assim, desnecessariamente burocratiza o sistema de acompanhamento e avaliação e distrai os atores de suas atividades críticas, continuas de análise de risco e de identificação de oportunidades a partir dos resultados obtidos nas pesquisas. Ademais, recursos escassos, financeiros e humanos, de gestão de P&D são erroneamente orientados para tarefas burocráticas e levados à execução de meros exercícios compilatórios. Uma substancial simplificação do processo de avaliação privilegiando os resultados, certamente, estimularia os pesquisadores a dedicarem-se a exercícios cognitivos e analíticos sobre os resultados obtidos, aumentando as probabilidades de sucesso de seu lançamento no mercado ou adoção plena pela empresa, produzindo assim a fugaz e tão desejada inovação. Em seguida, tendo em vista que inovação é um fenômeno raro e que demanda explicito comprometimento da empresa ⎯agente crítico da inovação⎯ faz-se necessário que o novo manual de P&D forneça os meios e gere os incentivos para que a empresa incorpore o Programa de P&D para inovação da ANEEL na sua estratégia de crescimento, como benefício para a sociedade. Uma vez que é nos estágios finais de desenvolvimento e preparação para introdução no mercado que se fazem necessários recursos mais vultosos e intensos, tanto em termos de capital financeiro quanto de capital social, é fundamental que a P&D voltada para inovação esteja fortemente integrada e vinculada ao planejamento estratégico da empresa. Finalmente, de maneira a concluir o ciclo de inovação, comercializando os resultados da pesquisa por meio de produtos e processos, faz-se necessário que se incorpore, nesse estágio do ciclo, empresas de base tecnológica e consultorias especializadas que possuem os incentivos e o capital necessário para maximizar a efetivação desses resultados em inovação. Uma forma de se otimizar esse processo é incentivar a formação de parcerias entre concessionárias e estas empresas na execução dos projetos em parceria com universidades e institutos de pesquisa. Esta tríade formada por Empresas de base tecnológica e consultorias especializadas, universidades e institutos de pesquisas e empresas concessionárias do setor elétrico, tende a catalisar os processos de inovação. Agiliza desde a concepção da idéia de alto potencial inovativo até a inserção de mercado do produto, inclusive no que tange à seleção de oportunidades, formação de equipe empreendedora, estratégias de comercialização, gestão, marketing e afins. Concluindo, a exemplo de outros programas governamentais que passaram a incorporar, explicitamente, a denominação “inovação” em seus títulos, sugere-se incluir o termo inovação no titulo do Manual. Assim, a ANEEL estaria sinalizando para as empresas, seus parceiros de pesquisa, outras agências de promoção e 3/4 Programa de Pós-Graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação Email: [email protected] Home Page: www.metrologia.ctc.puc-rio.br Rua Marquês de São Vicente, 225-Sobreloja - Prédio Cardeal Leme – Gávea - 22453-900 Rio de Janeiro – RJ - BRASIL Tel. (+55-21) 3527-1542; FAX (+55-21) 3527-1543 fomento à P&D e à inovação e, principalmente à sociedade brasileira, o seu real compromisso de promover o P&D como estratégia para a inovação, como mecanismo para alavancar a competitividade econômica e promotora do desenvolvimento social. Agradecendo pela oportunidade de poder colaborar para a formulação desse importante, poderoso e tão necessário instrumento da ANEEL de promoção do P&D voltado à inovação, colocamo-nos à disposição para esclarecer eventuais dúvidas e aprofundar e amplificar pontos, assim contribuindo com o processo de revisão do novo manual de P&D da Aneel. Atenciosamente, Prof. Maurício Nogueira Frota, PhD [email protected] Coordenador do Programa de PósGraduação em Metrologia, Qualidade e Inovação. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Prof. Antonio José Junqueira Botelho, PhD [email protected] Coordenador do Grupo de Pesquisa em Inovação do Programa de Pós-Graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 4/4 Programa de Pós-Graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação Email: [email protected] Home Page: www.metrologia.ctc.puc-rio.br Rua Marquês de São Vicente, 225-Sobreloja - Prédio Cardeal Leme – Gávea - 22453-900 Rio de Janeiro – RJ - BRASIL Tel. (+55-21) 3527-1542; FAX (+55-21) 3527-1543