Nº 132 JUNHO/2014 Olívio Dutra: um galo missioneiro no Senado Foto: Tiago Silveira Página 16 Eleições europeias Impugnar Vaccareza páginas 4 e 5 páginas 10 e 11 EDITORIAL — Nº 132 — JUNHO/2014 A Copa, as eleições e depois V 2 ai ter Copa e a oposição torce pela derrota do Brasil, o que reforçaria o ambiente negativo do qual se nutrem as candidaturas de Aécio Neves e de Eduardo Campos. Acontece que existe uma contradição antagônica entre a mudança desejada pelo povo e a mudança desejada pelas elites. Por isto, a oposição não pode assumir abertamente seu programa: seria a derrota antecipada. Sem poder falar do futuro nem do passado neoliberal, o que lhes resta é criticar “tudo isto que está aí”, combinando a denúncia de problemas reais, a manipulação midiática e a sabotagem ativa, para criar um ambiente de crise, deterioração e caos. A oposição, o grande empresariado e (não esqueçamos dele) o imperialismo tentam pegar carona no desejo de mudanças manifesto por amplos setores da população. A mudança que eles desejam se traduz na adoção de outro programa de governo, na derrota do PT e de Dilma: uma mudança para pior. Já as mudanças desejadas pelo povo se traduzem em mais Estado, mais desenvolvimento, mais políticas públicas, mais emprego, mais salário, mais democracia. A oposição de direita conta com duas candidaturas presidenciais: a candidatura Aécio Neves e a candidatura Eduardo Campos. Claro que haverá empresários apoiando e votando em Dilma. Mas enquanto classe, o grande capital estará financiando, apoiando, votando e torcendo pela oposição. O grande capital não faz isto por ser “ingrato”, nem por ser “desinformado”, mas por interesse de classe. Cada vez que Dilma reitera que não foi eleita para reduzir salários nem para gerar desemprego, ela manifesta opções incompatíveis com a genética do grande empresariado brasileiro, secularmente vinculado ao crescimento com ampliação da desigualdade, com dependência externa e com democracia restrita. Para enfrentar o consórcio entre a oposição de direita, o grande empresariado, o oligopólio da mídia e a quinta coluna que atua dentro do governo, precisamos de uma política de alianças, de uma estratégia e de um programa organizados em torno de uma ideia muito simples: fazer um segundo mandato Dilma superior ao atual, um segundo mandato orientado pelo espírito das reformas de base. Concretamente, trata-se de impugnar tudo aquilo que Vaccarezza representa. E recuperar tudo aquilo que Olívio Dutra expressa. Estes são alguns dos assuntos tratados nesta edição de Página 13. Os editores EXPEDIENTE Página 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores. Circulação interna ao PT. Matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição da tendência. 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Comissão de ética nacional: Eleandra Raquel Koch (RS), Rodrigo César (SP) e Wagner Lino (SP). Edição: Valter Pomar Diagramação: Cláudio Gonzalez (Mtb 28961) Secr. Gráfica e Assinaturas: Edma Walker [email protected] End. para correspondência: R. Silveira Martins, 147 conj. 11, São Paulo (SP), CEP 01019-000. NACIONAL Constituinte nas ruas e nas urnas Bruno Elias* A mobilização pela reforma política e a realização do plebiscito popular pela Constituinte, entre os dias 1º e 7 de setembro, é parte desta luta geral por reformas democráticas e populares, a exemplo da democratização da mídia, da reforma agrária e urbana popular e de uma reforma tributária que amplie o fundo público paras as políticas universais, como saúde, educação, transporte e cultura. A Constituinte, na verdade, é condição fundamental para a realização de tais reformas. Rejeitada pelo atual Congresso Nacional, uma verdadeira reforma política só virá com ampla participação popular. E é por isso que o plebiscito organizado para setembro pode cumprir um papel educativo e mobilizador para criar condições para um novo ciclo de mudanças estruturais no país. A campanha do plebiscito da Constituinte entra em uma nova fase nas próximas semanas. Após a criação de comitês em todos os estados e mais de 500 comitês locais, deve acentuar seu caráter de massas e popular. Nesse sentido, serão prioritárias as ações de rua, a realização de cursos massivos de formação e a criação de comitês populares da campanha. Assim, é fundamental que os movimentos sociais e partidos de esquerda encarem as manifestações deste período como uma oportunidade para pautar as reformas estruturais, a Constituinte e o plebiscito popular. No final de julho, essa deve ser uma pauta prioritária da Plená- ria Estatutária da CUT, nossa maior central sindical. E para o dia 13 de agosto, a campanha convocou um Dia nacional de lutas pela Constituinte. Os cursos massivos de formação, também chamados de “Cursos das Mil”, serão espaços importantes de mobilização e debate com os setores populares que a campanha deve atingir. A municipalização e enraizamento da campanha por meio dos comitês populares deve se intensificar nos próximos dias. O comitê é a organização de base do plebiscito popular e deve atingir o maior numero de pessoas e locais de atuação. Podem ser criados nos municípios, bairros, escolas, entidades, universidades e locais de trabalho, etc. Cumpre o papel fundamental de situar o debate da reforma política e da constituinte com as necessidades imediatas da população e da comunidade. Por fim, é fundamental que o tema paute o processo eleitoral e que incida sobre a plataforma da candidatura Dilma e dos governadores, senadores e deputados de esquerda e progressistas. Nossas candidaturas e programas de governo devem se comprometer desde já com a Constituinte e a reforma política, contribuindo concretamente com a organização do plebiscito nos comitês de campanha e colhendo milhões de votos SIM na primeira semana de setembro. *Bruno Elias é secretário nacional de movimentos populares do PT — Nº 132 — JUNHO/2014 O s próximos dias serão marcados pelos jogos da Copa do Mundo, por manifestações sociais e pelas convenções partidárias que lançarão as candidaturas à presidência da República. Não sabemos como o Brasil vai se comportar com a bola nos pés. Nas ruas, alguns movimentos sociais têm pautado suas legítimas reivindicações e outros, limitado seu horizonte de luta contra a realização do mundial no país. Em relação a estas mobilizações, nossos governos devem dialogar sobre suas pautas e não permitir a criminalização de suas lutas. Para as eleições, avizinha-se novamente a polarização entre a candidatura petista de reeleição de Dilma e a oposição de direita, representada pelas candidaturas de Aécio Neves e Eduardo Campos. Essa polarização tem se manifestado em importantes debates. Aécio, Eduardo e seus principais assessores têm defendido abertamente um arsenal de medidas “impopulares”: arrocho salarial em detrimento da política de valorização do salário mínimo, desmonte da Petrobrás, autonomia do Banco Central, redução da idade penal, defesa da lei que anistia os torturadores, oposição à politica de participação social e criminalização dos movimentos sociais e da imprensa progressista. Por sua vez, Dilma tem defendido a realização prioritária da reforma do sistema político a partir de uma consulta popular, como nos idos de junho, e Lula manifestou apoio à convocação de uma Constituinte para a reforma política e a democratização dos meios de comunicação. Vai ficando cada vez mais evidente de que mais do que um ano eleitoral, 2014 é um ano de importantes lutas políticas e sociais. E é neste contexto, pautando o debate das eleições e mobilizando a população, que o tema da Constituinte exclusiva e soberana do sistema político deve ser encarado como prioritário pelo campo democrático e popular. 3 INTERNACIONAL Eleição expõe deficiências e potencial da esquerda Igor Fuser* O — Nº 132 — JUNHO/2014 resultado das recentes eleições para o Parlamento Europeu sugere que a crise econômica e o desastre social decorrente das políticas de “austeridade” adotadas em resposta ao colapso financeiro estão provocando mudanças importantes. Em meio a uma miscelânea de diferentes cenários, definidos pelas particularidades de cada país, três novidades de alcance mais geral merecem ser ressaltadas: 1. A ascensão dos partidos de extrema-direita, com destaque para a Frente Nacional, que se tornou, pela primeira vez, a força política mais votada na França; 2. O avanço eleitoral, em alguns países, de partidos que representam uma oposição de esquerda às políticas de “austeridade” e mantêm ligações com os protestos populares dos últimos anos; 3. O declínio dos partidos social-democratas, comprometidos até o pescoço com o “projeto europeu” e com as políticas econômicas responsáveis pelo desemprego, pela recessão e pelo corte de salários e benefícios sociais. 4 Para entender a ascensão da direita, é preciso levar em conta o alto índice de abstenção que caracteriza as eleições européias. Nada menos que 64% dos eleitores deixaram de comparecer às urnas, com alguns casos extremos, como o da República Checa (81% de abstenções) e da Eslovênia (87%). O desinteresse se explica, em grande medida, pelo fato de que o Parlamento Europeu continua a ser encarado como uma instituição distante e com escassa capacidade de influir nos assuntos relacionados com a vida cotidiana, já que suas decisões precisam ser referendadas pelos governos nacionais. Esse afastamento tende a estimular o voto de protesto de forma mais acentuada do que nas eleições de outros tipos, cujos efeitos sobre os cidadãos comuns são mais imediatos e diretos. A questão é entender por que, na maioria dos países, esse voto de protesto foi canalizado para os partidos da extrema-direita. No Reino Unido, país onde apenas um em cada três eleitores compareceu às urnas, o Partido da Independência obteve inesperados 27,5% dos votos, uma proeza que marcou a primeira vez em que um partido que não o Trabalhista nem o Conservador ganha uma eleição nacional. Na França, a vitória da agremiação liderada por Marine Le Pen é atribuída, entre outros fatores, à sua forte presença na mídia e à gigantesca operação de marketing político desenvolvida nos últimos anos para dissociar a imagem do partido de qualquer associação com o fascismo. Em comum, os ultra-direitistas ingleses e franceses apresentam o ódio aos imigrantes, principalmente negros e árabes, incorporados ao seu discurso como bode expiatório pelas dificuldades econômicas, e o repúdio à União Europeia, formulado em termos nacionalistas. Forças políticas com posições racistas, xenófobas e autoritárias obtiveram resultados muito favoráveis em outros países europeus. Na Dinamarca, o Partido Popular, e na Bélgica, a Nova Aliança Flamenga, ambos de extrema-direita, alcançaram o primeiro lugar. Na Áustria e na Holanda, duas agremiações de mesmo nome – Partido da Liberdade, o que é um grande paradoxo – e especializadas em perseguir imigrantes chegaram em terceiro lugar, com 19,7% e 13,2%, respectivamente. Notável também foi o crescimento dos nazistas gregos da Aurora Dourada, que pulou de 0,46% nas eleições européias de 2009 para 9,4%, o que significa a conquista de centenas de milhares de apoiadores. Sem dúvida, o crescimento da extrema-direita introduz um forte elemento de preocupação quanto ao futuro político da Europa, mas é necessário apontar algumas ressalvas. Conforme já foi mencionado, as eleições européias são muito diferentes das eleições nacionais, em que o comparecimento é maior e outros temas se sobressaem, reduzindo o impacto dos discursos estruturados com base no rechaço à UE. Ainda assim, seria insensato menosprezar as conseqüências da recente eleição. Em artigo no portal Rebelión, o analista político espanhol Jesús Sánchez Rodríguez aponta três delas: a) o estímulo a um avanço ainda maior dessas forças reacionárias; b) seu efeito sobre o cenário político mais geral, com a tendência dos partidos conservadores tradicionais a adotarem posições ainda mais à direita, com o intuito de recuperar seu eleitorado e de evitar maiores perdas; c) a influência de presença maior de deputados ultra-direitistas sobre as decisões do Parlamento Europeu. O segundo aspecto a ser analisado é o desempenho dos partidos situados à esquerda do campo político dominante na Europa. Nesse campo, os resultados diferiram muito, de país para país. Na Grécia, o país mais devastado pelas políticas neoliberais em toda a União Européia, a chamada esquerda radical alcançou uma vitória espetacular. O partido Syriza (cujo principal líder, Alex Tsipiras, já esteve perto de ganhar a eleição presidencial) ficou em primeiro lugar, com 26,5% dos votos, suplantando a agremiação governista Nova Democracia (22,7%) e os social-democratas do Pasok. Esse partido está pagando um preço caro pela adesão irrestrita às políticas de “austeridade” – depois de governar o país durante décadas, alcançou desta vez apenas 8%. Para se avaliar a força atual da esquerda radical na Grécia, é importante incluir os 6% de votos do Partido Comunista (que recusa qualquer tipo de aliança com o Syriza). Na Espanha, as forças que buscam constituir uma alternativa aos “socialistas” tradicionais (quase totalmente convertidos ao neoliberalismo) alcançaram INTERNACIONAL inéditos 18%. A Esquerda Unida, articulada ao redor do Partido Comunista, alcançou 10% dos votos (1,5 milhão de eleitores), seu melhor resultado desde 1996, enquanto a Esquerda Republicana de Catalunha alcançou pela primeira vez o primeiro lugar em âmbito regional. A grande surpresa foram os 8% de votos dados ao Podemos, agremiação formada apenas três meses antes por ativistas ligados aos famosos protestos dos “indignados”. Tanto a Esquerda Unida quanto o Podemos coincidem em uma agenda anti-neoliberal com ênfase no cancelamento da dívida externa, fim dos despejos imobiliários, fim das privatizações e nacionalização dos bancos que estão sendo subsidiados com dinheiro público. Mas a esquerda radical frustrou as esperanças de avanços em outros países onde possui relativa implantação. Em Portugal, o bom resultado do Partido Comunista (12,6%, em aliança com os “verdes”) foi compensado negativamente pelo declínio do Bloco de Esquerda, que despencou de 10,7% para 4,7%, mantendo inalterada a votação total nesse campo político. O PC português é o mais “euro-cético” da Europa, juntamente com os comunistas gregos, enquanto o Bloco de Esquerda (assim como o Syriza, na Grécia) defendem uma reforma na UE em direção a uma “Europa social”. Um contraste a ser explicado. Decepção maior ocorreu na França, onde a Frente de Esquerda (aliança entre o Partido Comunista e o Partido da Esquerda) recebeu apenas 6,3% dos votos, um desastre em comparação com os 11% obtidos por seu candidato Jean-Luc Melenchon nas presidenciais de 2012. Na Alemanha, a agremiação Linke (Esquerda), formada por dissidentes da socialdemocracia e por oriundos do comunismo alemão-oriental, permaneceu em seu patamar habitual, com 7,4%. Quem realmente saiu perdendo nas eleições européias foram os grandes partidos social-democratas, que há décadas compartilham com os conservadores o centro político do continente e, no contexto da crise, renunciaram à busca de alternativas ao modelo neoliberal em colapso, aderindo às políticas de “austeridade” implementadas pela chamada Troika: FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. O Partido Socialista espanhol caiu de 39% para 23%, o que provocou a demissão do seu líder, Alfredo Péres Rubalcaba, considerado incapaz de apresentar uma opção eleitoral ao primeiro-ministro conservador, Mariano Rajoy. Vexame, mesmo, ocorreu na França, onde o primeiro-ministro “socialista” François Hollande recebeu apenas 14% dos votos. Foi uma merecida punição pelos seus dois anos de governo marcados pela traição às promessas de reverter as políticas de austeridade. Exceções no campo da centro-esquerda tiveram lugar na Alemanha, na Itália e em Portugal. Os social-democratas alemães, que governam em aliança com a Democracia Cristã, saltaram de 20,8% (em 2009) para 27,3%. Explicação provável: no contexto europeu, a Alemanha é um dos poucos países menos afetados pela crise. Na Itália, o Partido Democrata (resultado da fusão entre os liberais da Margherita e a direita do velho PCI) alcan- çou 40%, uma marca histórica num país conhecido pela alta fragmentação política. É um resultado estranho, quando se considera que se trata de um partido que, embora se intitule de centro-esquerda, abraçou as políticas neoliberais com mais entusiasmo do que qualquer outra agremiação. Uma possível explicação: os cortes de impostos decretados pelo primeiro-ministro Matteo Renzi poucos dias antes da votação. Em Portugal, o tradicional Partido Socialista passou de 27,7% para 31,5% graças a um discurso de forte oposição à “austeridade” implementada pelo governo conservador. No conjunto, as eleições européias revelam um quadro fragmentado em que se ressaltam o forte apelo eleitoral das plataformas elaboradas com base no descontentamento com o desemprego e a deterioração geral das condições de vida - ainda que, no caso das forças de extrema-direita, marcadas por um forte grau de preconceito e demagogia. No mesmo sentido, verifica-se a persistência da dificuldade de construção de uma esquerda autêntica que seja capaz de apresentar uma alternativa eleitoral ao neoliberalismo, e o alto preço que as forças tradicionais da “centro-esquerda” estão pagando, nas urnas, em todos os lugares onde a sua adesão às políticas do capitalismo global é percebida claramente pelas massas como o que realmente é: uma traição. *Igor Fuser é professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC) e membro do conselho editorial do jornal Brasil de Fato — Nº 132 — JUNHO/2014 Tsipras na Grécia e Le Penn na França: sinais de polarização 5 NACIONAL Mudanças! Mudanças! Mudanças! Wladimir Pomar* O a ditadura. O movimento “Não vai ter Copa” lembra não somente essa visão distorcida de setores da esquerda, visão a que agora se filiaram setores da direita, mas também uma apreciação mesquinha do papel que a Copa de 2014, e as obras realizadas para sua realização, desempenham. Ao contrário do que o Partido da Mídia martelou por meses seguidos, as obras para a Copa representaram uma parcela diminuta do orçamento público, incluíram a construção de novas vias e equipamentos de transporte para facilitar a mobilidade urbana, e apresentaram poucos casos de superfaturamento. Mais do que tudo isso, a Copa pode e deve representar um momento especial para mostrar ao mundo o que o povo brasileiro é capaz de realizar, assim como sua alegria em sediar a realização do campeonato daquele esporte que mais expressa sua alma e sua cultura. Não é por acaso que na mesma data em que uma minoria de 500 manifestantes emburrados tentou paralisar o tráfego para dar visibilidade à sua oposição, 600 mil evangélicos, vestidos de verde e amarelo, festejaram a realização da Copa como um acontecimento acima de tudo popular e nacional. É evidente que o PT e o governo que ele dirige devem ser duramente criticados, principalmente pelos petistas. Não aproveitaram a oportunidade das obras da Copa para elevar as mudan- — Nº 132 — JUNHO/2014 momento que antecede a Copa de 2014 traz à lembrança a Copa de 1970. Esta ocorreu numa época extremamente dura do regime militar. Foi o período do aparentemente glorioso “milagre econômico” do governo Médici. Naquela ocasião, parte da esquerda, em especial sua extrema esquerda, torcia pela derrota do Brasil. Considerava que o tricampeonato contribuiria para a eternização do regime. Nessas condições, a esquerda que torcia pela vitória da seleção brasileira tinha dificuldades em argumentar que tal vitória seria, acima de tudo, a alegria do povo. E que o sofrido povo brasileiro merecia viver tal alegria, inclusive para ganhar autoconfiança no enfrentamento contra 6 Até o momento, existem nove pré-candidatos a presidente dos seguintes partidos: PT, PSDB, PSB/Rede, PSOL, PSC, PRTB, PSDC, PV e PCB. ças necessárias na matriz do transporte público e no saneamento básico à prioridade que merecem na recuperação da infraestrutura do país. Permitiram que o lobby automobilístico mantivesse participação majoritária nas obras de mobilidade urbana. E foram extremamente ineficientes na comunicação a respeito da construção dos estádios e dos impactos da Copa, permitindo que o Partido da Mídia incutisse na opinião pública a ideia de que esse evento não trazia qualquer benefício ao povo brasileiro. Esses erros abriram ainda mais espaço para que a direita continuasse procurando aproveitar as manifestações de junho de 2013 contra o governo e o PT. E criaram um ambiente de mal-estar social que pode ter desdobramentos negativos se a seleção brasileira não conseguir ter o mesmo sucesso que teve na Copa das Confederações. Portanto, ao invés de ficar imobilizado na expectativa do Brasil vencer a Copa, o PT e o governo precisam mudar sua comunicação sobre os impactos do evento para o país e para os trabalhadores. Isto, em termos de empregos, obras viárias, remodelação urbana, aproveitamento multiuso dos estádios, gastos reais e retorno desses investimentos. E repetir, à exaustão, o reconhecimento de alguns membros do Partido da Mídia de que os gastos com a Copa, apesar de tudo que disseram, representaram muito pouco em relação aos gastos com educação e saúde. Mesmo porque os meses que se seguem à Copa serão de campanha eleitoral. Campanha em que a conquista da opinião pública é fator essencial para os resultados de quem ocupará a presidência da República nos quatro anos vindouros. Se o PT mantiver sua estratégia política e sua comunicação no nível atual, corre o risco de colocar em perigo a reeleição de Dilma, e a eleição de governadores e das bancadas parlamentares estaduais e federais. O partido e o governo continuam tentando pautar o debate em torno de sua capacidade de manter o controle sobre a inflação e aumentar a distribuição da renda. Por um lado dizem que aumento da taxa de juros é um recurso para manter a inflação baixa. Em contradição com isso, repetem que a inflação não é de demanda. E embora o BNDES ofereça dinheiro subsidiado, e o governo tenha baixado e/ou retirado impostos, não conseguem explicar por que os empresários não estão investindo. É evidente que o PT e o governo devem continuar frisando o que fizeram de positivo. Tiveram papel importante e fundamental na melhoria de vida do povo. E já voltaram a reafirmar que vão continuar sua política de aumento dos salários, de transferência de renda, de Mais Médicos, de melhoria da educação, de Minha Casa, Minha Vida etc etc. Mas precisam abandonar o economês quando falam da inflação, dos juros e do câmbio, assim como das mudanças a serem implantadas para atender aos novos reclamos da população que melhorou de vida. Precisam dizer com franqueza que a inflação se deve ao fato da produção de hortaliças, arroz, feijão, e de outros alimentos agrícolas, assim como de sabão, tecidos, roupas, sapatos e outros bens de consumo corrente, não ter aumentado como deveria para atender à melhoria do poder de compra do povo. E que essa produção não cresceu na medida de baixar os preços e a inflação porque grande parte dos empresários não se contenta em ter lucros mais baixos na fabricação desses produtos. Também é preciso dizer francamente que os juros estão sendo elevados porque os norte-americanos estão desvalorizando sua moeda e prejudicando o Brasil na captação de investimentos produtivos. Portanto, para resolver esses problemas e melhorar ainda mais as condições de vida do povo, será preciso mudar ainda mais o que foi mudado nestes últimos 11 anos. As manifestações de junho de 2013 assinalaram que o patamar alcançado pelas mudanças anteriores bateu no teto. Nessas condições, as eleições de 2014 serão balizadas não apenas pelo que foi feito, mas principalmente pelo que será feito. Ou seja, será um debate centrado em mudanças, mudanças, mudanças... Que mudanças serão realizadas para aumentar a produção de alimentos e baixar os preços e a inflação? Que mudanças serão realizadas para aumentar a produção industrial de bens de consumo corrente, também chamados de não-duráveis, para baixar seus preços e a inflação? Que mudanças serão realizadas para aumentar verdadeiramente o transporte urbano e suburbano de massas, a preços baixos? Que mudanças serão realizadas para dar um salto no saneamento básico e melhorar a saúde do povão? Que mudanças serão realizadas no SUS para torná-lo realmente um serviço universal de saúde pública? Que mudanças serão realizadas na educação para também torná-la publicamente universal? As perguntas sobre essas mudanças são temas de estratégia política, tendo os interesses do povo trabalhador, miserável, pobre, médio e remediado, como parâmetros principais. São mudanças que exigem novas abordagens, ou mudanças, diante da reforma agrária e da proteção da agricultura familiar; na captação de investimentos externos; no papel orientador das empresas estatais no processo de industrialização; e na destinação dos recursos públicos para a infraestrutura social e econômica. O PT terá que correr para responder a essas perguntas e adotar novas abordagens num prazo muito curto. Se o Brasil vencer a Copa do Mundo, ou a Copa das Copas, talvez tenha mais chances de apresentar suas propostas com mais tranquilidade. Mas, se ocorrer o contrário (uma opção que está sempre presente em qualquer campeonato de futebol), terá que se desdobrar ainda mais para demonstrar que suas mudanças são realmente para valer. Em qualquer dos casos, no embate atual, o que foi feito será credencial importante para dar credibilidade às mudanças que estarão sendo propostas. Mas serão as mudanças, as mudanças, as mudanças, e o compromisso com elas, que desempenharão o papel decisivo. Não é por acaso que os adversários viraram mudancistas, embora o conteúdo de suas mudanças seja regressivo. Se os militantes do PT se restringirem a debater e a combater os ataques ao que foi feito durante o governo Dilma, cairão numa armadilha, por mais que apresentem dados e fatos. É preciso dar um salto à frente, olhar adiante e não temer discutir as mudanças que atendam aos interesses do povão, especialmente aqueles interesses e demandas que vieram à tona a partir de junho de 2013. *Wladimir Pomar é jornalista. Este texto foi concluído no dia 3 de junho de 2014 — Nº 132 — JUNHO/2014 NACIONAL 7 PARLAMENTO Aprovado o Plano Nacional de Educação Lena Azevedo* — Nº 132 — JUNHO/2014 A 8 té o fechamento desta edição de Página 13, o projeto mais importante apreciado pela Câmara dos Deputados e que teve a votação concluída em 3 de junho foi o PL 8035/10, que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE). Resultado de um amplo debate com a sociedade e setores organizados desde 2010, o PL aprovado garante a aplicação de 10% do PIB na educação, atingindo 7% até o quinto ano de vigência da nova lei e chegando ao teto estabelecido em 10 anos, o que significa um investimento em escolas públicas. Os recursos, segundo cálculos da comissão especial que analisou o tema, saem dos atuais R$ 138,7 bilhões para R$ 228,35 bilhões nas principais áreas, recursos que serão custeados em boa parte pelos royalties do petróleo. Além dos 10%, o PNE traz avanços significativos, como o aumento salarial gradativo de professoras e professores e a universalização das matrículas. Ao todo, devem ser cumpridas 20 metas até 2024 (http://www2.camara.leg.br/comunicacao/institucional/plano-nacional-de-educacao-1). A União irá complementar os recursos de estados e municípios que não tiverem condições de assumir a totalidade dos investimentos para cumprir o Custo Aluno Qualidade (CAQ), conjunto de padrões mínimos de qualidade do ensino estabelecidos na legislação. O repasse será feito mediante monitoramento de execução desses requisitos. O percentual definido no PNE deve financiar creches conveniadas, programas como o de acesso nacional ao ensino técnico e emprego (Pronatec), bolsas em faculdades privadas (Universidade para Todos, ProUni), financiamento estudantil (Fies), educação especial e bolsas para estudo no exterior (Ciência sem Fronteiras). A União Nacional dos Estudantes se posicionou contra contabilizar os recursos das parcerias público-privadas – o convênio com creches privadas, FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), ProUni (Programa Universidade para Todos) e PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), Ciências Sem Fronteiras – como investimento público em educação. A UNE se posicionou contra, pois estes programas, além de serem geridos por leis próprias, não fazem parte do orçamento global do Ministério da Educação. O relator do projeto, o deputado federal Ângelo Vanhoni (PT-PR), argumentou que o percentual de repasse para a iniciativa privada, por meio de convênios, seria “insignificante” se “comparados ao que vamos investir em educação pública em dez anos”. Apesar destes e outros problemas, a deputada federal Iriny Lopes considera que a aprovação do PNE foi uma vitória e em médio prazo os efeitos do plano vão se refletir no aumento da qualidade de ensino: “os dois primeiros governos de Lula significaram um grande avanço na democratização do acesso ao ensino superior, seja com o aprimoramento do ENEM e a utilização do resultado nos vestibulares de universidades públicas, ou no aumento expressivo de institutos federais, mais de 200, em todo país. Dilma deu continuidade agregou a preocupação com creches e pré-escola”, analisou a parlamentar. Além dos 10%, o PNE traz avanços significativos, como o aumento salarial gradativo de professoras e professores e a universalização das matrículas. Ao todo, devem ser cumpridas 20 metas até 2024 Iriny, entretanto, critica que tenha sido retirado do PNE o ensino de gênero nas escolas. “Houve uma pressão da bancada evangélica para retirar esse ponto, que consideramos estruturante, de enfrentamento ao machismo e homofobia. A educação é um importante difusor de uma cultura pela igualdade, de mudança de pensamento e atitudes em relação à violência contra as mulheres e LGBTs. Infelizmente, o Congresso Nacional, com o atual sistema eleitoral, torna-se cada dia mais conservador, intolerante e defensor de interesses privativos e religiosos. Sem uma reforma política profunda, a tendência é que tenhamos poucos representantes populares. É um atraso que tenha sido retirado o ensino de gênero do PNE, quando olhamos inclusive os países da América Latina”, criticou Iriny. *Lena Azevedo é jornalista PARLAMENTO Conforme previsto N o final do ano passado, apresentei aqui no Página 13 um texto sobre o Congresso brasileiro em 2014, considerando que se tratava de um ano com eleições gerais e Copa, o que diminuiria significativamente o funcionamento legislativo e aumentaria a temperatura política da Casa. Foi assim que ocorreu no primeiro semestre de 2014, sendo as denúncias contra a Petrobras o principal instrumento de ataque ao governo Dilma e ao PT, resultando em duas CPI’s, uma mista e outra no Senado, servindo como palanque. O programa Bolsa Família foi outra frente que a oposição buscou para desgastar o governo. Através de um projeto de autoria de Aécio Neves, conseguiram aprovar na Comissão de Assuntos Sociais, com apoio de setores da base aliada, uma proposição que visa deformar um dos programas mais exitosos das gestões Lula e Dilma. De acordo com a Ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, o projeto do PSDB, quando retira o limite de renda, desfigura uma das principais características do programa, pois não permite mais que ele seja focalizado na população mais pobre. Outro ponto preocupante diz respeito a obrigatoriedade de qualificação profissional para os beneficiários que tem mais de 18 anos, desnudando a visão preconceituosa dos tucanos contra os pobres, se baseando no pressuposto de que eles não trabalham e não querem se qualificar. O programa atinge hoje cerca de 50 milhões de pessoas; o PSDB que era altamente crítico, agora, justamente na véspera da eleição, “mudou de opinião”, demonstrando “precioso interesse em qualificá-lo”. Acho que chegaram um pouco atrasados. Mesmo diante destes percalços, conseguimos importantes avanços legislativos, por exemplo a aprovação do projeto de autoria da Presidência da República, que reservará aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos. Destaco também, após 4 anos de tramitação, a aprovação do PLC 58/2014, intitulado Lei Menino Bernardo que estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante. Outro projeto aprovado recentemente é o PLC 90/2013, conhecido como Lei Cultura Viva, que visa garantir o pleno exercício dos direitos culturais, beneficiando prioritariamente os povos, grupos, comunidades e populações em situação de vulnerabilidade social e com reduzido acesso aos meios culturais. Após um enorme esforço da Rede Justiça Criminal e da Pastoral Carcerária, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ) aprovou o projeto de lei (PLS 480/2013), de autoria da senadora Ana Rita (PT-ES), que altera a lei de Execuções Penais para impedir que familiares de presos (na grande maioria as mulheres) tenham que passar por tratamento desumano ou degradante, como ficar nua para realizar a visita. Não poderia deixar de registrar a aprovação e promulgação pelo Congresso da Emenda Constitucional 81, que permite ao Estado Brasileiro expropriar propriedades urbanas e rurais onde for verificada a existência de trabalho sem pagamento de salários ou análogo à escravidão. As propriedades expropriadas no meio rural deverão ser destinadas para fim de reforma agrária, já as propriedades urbanas serão utilizadas em programas de moradia popular. O projeto que tramitava no Congresso desde o ano de 1999, ainda precisa ser regulamentado por lei. Ao que tudo indica, é justamente neste momento da caracterização do que será considerado trabalho análogo à escravidão que os setores conservadores tentarão desfigurar o projeto, relativizando e descaracterizando as condições degradantes de trabalho que colocam em risco a saúde e a vida do trabalhador, a jornada exaustiva que impõe danos à sua saúde ou risco de vida, trabalho forçado por meio de fraudes, isolamento, ameaças e violências físicas e psicológicas e servidão por dívida, possibilitando uma maior “frouxidão” da lei e consequentemente uma maior impunidade. A última semana antes de iniciar a Copa do Mundo foi intensa e tensa politicamente. Com a chegada da Copa, do posterior recesso parlamentar e das eleições, a tendência é que o Congresso daqui em diante tenha períodos curtíssimos de intenso trabalho legislativo, os chamados esforços concentrados. Em síntese, diminui o peso do Congresso, com a disputa se concentrando na luta política e ideológica nas ruas, intensificadas e acaloradas pelo processo eleitoral e possíveis mobilizações. *Rubens Alves integra a direção nacional da Articulação de Esquerda — Nº 132 — JUNHO/2014 Rubens Alves* 9 PARTIDO A prova dos nove Rodrigo Cesar* — Nº 132 — JUNHO/2014 A 10 reforma política está no centro da pauta. E com a bola cheia. Não há uma só voz contraria à sua realização, não há quem considere que as instituições políticas atuais deveriam manter-se inalteradas, não há quem afirme categoricamente que a democracia brasileira dispensa aprimoramentos. Para não se confrontar com as insatisfações e os desejos que emanam das ruas, o discurso se adapta ao sabor dos ventos, que sopram no sentido de mudanças. Quais mudanças? Qual reforma? As perguntas são simples. As respostas, variadas. Daí a polêmica instaurada. Em relação às mudanças, desde que surgiu o PT tem lado: elas devem favorecer a classe trabalhadora, a grande maioria do povo brasileiro. Aliás, a existência e o fortalecimento do petismo permitiram muitas mudanças neste sentido, principalmente depois que assumimos a Presidência da República. Assim como antes, hoje não é diferente: defendemos mudanças profundas na estrutura econômica e social do país, para que as riquezas produzidas pelo povo sirvam ao atendimento das necessidades materiais e culturais do povo. Já em relação à reforma política, a posição que o PT apresenta foi consolidada no 3º Congresso do partido, em 2007, e veio sendo ratificada e detalhada pelas instâncias partidárias subsequentes. Assim, desde então o PT “defende que a reforma política deve ser feita por uma Constituinte exclusiva, soberana, livre e democrática”. Afinal, a reforma “não pode ser um debate restrito ao Congresso Nacional, que já se demonstrou incapaz de aprovar medidas que prejudiquem os interesses estabelecidos de seus integrantes”. E como “ela só virá se for conquistada pela soberania popular”, se fazia necessário “o desencadear de uma campanha pela convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva, com mandatos eleitos especificamente para promover a reforma das instituições políticas do Estado nacional”. O 4º Congresso do PT, realizado em aprovou resolução política detalhando as propostas a serem defendidas pelo parti- do: “financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, como ruptura com o atual sistema de financiamento privado”; “adoção do voto em lista preordenada nas eleições parlamentares, mesmo que convivendo a metade dos eleitos com o sistema atual de lista aberta”; “garantia da presença de sexos diferentes na lista (...) como um passo importante no caminho da paridade”; “fim das coligações proporcionais para fortalecimento dos partidos na sociedade”; “ampliação da participação direta na política através da remoção de obstáculos que hoje a dificultam”. Pouco antes das manifestações de junho, no dia 1º de março de 2013, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução sobre o Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre a Reforma Política, cujos objetivos são: instituir o financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais; estabelecer o voto em lista preordenada para os parlamentos; aumentar compulsoriamente a participação feminina nas candidaturas; e convocar uma Assembleia Constituinte exclusiva sobre Reforma Política. A presidenta Dilma, diferentemente daqueles que vestiram a carapuça que os oligopólios da mídia quiseram nos colocar, entendeu que as manifestações populares desejavam mudanças no sistema político, e tratou de apresentar a proposta de convocação de um plebiscito para a realização de uma Constituinte exclusiva do sistema político para democratizar o país. A Bancada do PT na Câmara e a Comissão Executiva Nacional (CEN) manifestaram prontamente seu apoio à proposta de Dilma que, na verdade, nada mais é do que a proposta apresentada e defendida pelo Partido. Enquanto a militância petista vibrava com a resposta positiva do governo, seus opositores trabalhavam para que a iniciativa não prosperasse. Na oposição, levantaram-se Álvaro Dias (PSDB), Agripino Maia (DEM), Roberto Freire (PPS) e Aécio Neves (PSDB), argumentando que uma Assembleia Constituinte não pode ser dedicada a apenas um tema, e que competia ao Congresso fazer a reforma política. Na base do governo, levantou-se Henrique Eduardo Alves (PMDB), presidente da Câmara dos Deputados, que constituiu prontamente um Grupo de Trabalho para formular um projeto de reforma política a poucas mãos, enquanto as massas cobravam participação. No PT, levantou-se Cândido Vaccarezza, que, à revelia e em oposição ao próprio partido, colocou-se de prontidão e atendeu ao pedido de Alves para que presidisse o citado Grupo de Trabalho. Apesar da presença de Vaccarezza na coordenação do Grupo de Trabalho ter sido questionada e contestada diversas vezes pelo partido; apesar do próprio ter feito promessa em nota ao Diretório Nacional de que respeitaria as posições do PT sobre o tema da reforma política; apesar da Comissão Executiva Nacional do PT ter se posicionado contrariamente ao conteúdo do projeto então em debate no GT e orientado as bancadas na Câmara e no Senado a obstruir esta proposta de contra-reforma; apesar da mesma CEN ter fechado questão contra a PEC 352/2013, que resultou dos trabalhos do Grupo e tem como autor o próprio Vaccarezza; apesar do 14º Encontro Nacional do PT ter referendado a posição da direção partidária contrariamente a PEC e orientado as bancadas no Congresso a barrá-la; enfim, apesar de todos as resoluções das mais altas instâncias partidárias, o referido deputado manteve-se coordenando o Grupo de Trabalho, defendendo posições que conflitam com as do Partido num tema central da conjuntura nacional, que é o da reforma política, lutando pela aprovação da PEC 352/2013 e, portanto, desrespeitando as resoluções do PT. Em artigo de 3 de maio deste ano, publicado na Folha de S. Paulo, Vaccarezza afirmou: “Por disciplina votarei com o PT, mas debaterei com a sociedade o que é melhor para o país”. Cinismo? Hipocrisia? Uma concepção deturpada de disciplina partidária? Seja o que for, Vaccarezza quer ter o direito de elaborar, apresentar, defender e PARTIDO articular em favor de uma proposta frontalmente contrária às resoluções de seu partido, em troca da promessa de que ao final vai dar seu voto individual junto com a bancada do PT. O quanto valem as promessas do deputado, já sabemos. De acordo com o inciso IV do artigo 14 do Estatuto do PT, é dever do filiado ou filiada “acatar e cumprir as decisões partidárias”. Por sua vez, os incisos II e VIII do artigo 227, estipulam como infrações éticas e disciplinares, respectivamente: “o desrespeito à orientação política ou a qualquer deliberação regularmente tomada pelas instâncias competentes do Partido, inclusive pela Bancada a que pertencer o ocupante de cargo legislativo;” e “o não acatamento às deliberações dos Encontros e Congressos do Partido, bem como àquelas adotadas pelos Diretórios e Comissões Executivas do Partido, principalmente se, tendo sido convocado, delas não tiver participado”. O inciso XV do artigo 13 do Estatuto do PT considera como um dos direitos dos filiados “excepcionalmente, ser dispensado do cumprimento de decisão coletiva, diante de graves objeções de natureza ética, filosófica ou religiosa, ou de foro íntimo, por decisão da Comissão Executiva do Diretório correspondente, ou, no caso de parlamentar, por decisão conjunta com a respectiva bancada, precedida de debate amplo e público”. Contudo, em nenhum momento o deputado Vaccarezza dirigiu-se às referidas instâncias para ser dispensado da defesa da reforma política do PT ou do cumprimento da decisão partidária de barrar a PEC 352/2013. Apesar disto tudo, e de outras coisas mais que escapam ao foco deste artigo, Candido Vaccarezza quer ser candidato a deputado federal pelo PT nas eleições deste ano. Dizem os bem-informados que, se candidato, ele possui os meios necessários para eleger-se. A questão é: nosso Partido deve emprestar sua legenda para alguém com as posturas de Vaccarezza, especialmente nesta conjuntura em que o tema da reforma política está no centro da pauta? Nossa opinião é: muito mais grave que as posturas sabotadoras de um mandatário do PT, seria o coletivo partidário conceder-lhe espaço na lista de candidatos proporcionais. Caso o Partido faça isto, daria um inequívoco sinal de que prefere ser uma legenda grande a ser um partido forte; de que prefere disputar cargos a disputar hegemonia; de que prefere conquistar eleitores a conquistar corações e mentes. E, pior que tudo, estará legitimando a existência, dentro do PT, de uma quinta coluna que obedece aos parâmetros e interesses de gente como Eduardo Cunha e Henrique Alves, políticos tradicionais, caracterizados pelo patrimonialismo, pelo fisiologismo, pela troca de favores, pela política mesquinha, pelo predomínio dos interesses individuais sobre os interesses do povo. O PT surgiu para mudar o sistema político, não para ser transformado por ele. Neste momento crucial da história brasileira, em um cenário de acirramento da luta política e ideológica, o PT só terá condições de sustentar suas posições e avançar nas reformas estruturais se estiver coeso e unido, especialmente em torno da luta pela Constituinte Exclusiva do sistema político. Na hora de uma grande batalha, como a das eleições de 2014, não podemos ter entre nossos candidatos gente que atira contra nossas próprias fileiras. Por isto, cabe ao Encontro Estadual do PT de São Paulo defender o Partido e impugnar a candidatura de Cândido Vaccarezza a deputado federal. *Rodrigo Cesar é coordenador de movimentos sociais da JPT-SP — Nº 132 — JUNHO/2014 Candido Vaccarezza quer ser candidato a deputado federal pelo PT nas eleições deste ano. Dizem os bem-informados que, se candidato, ele possui os meios necessários para eleger-se. A questão é: nosso Partido deve emprestar sua legenda para alguém com as posturas de Vaccarezza, especialmente nesta conjuntura em que o tema da reforma política está no centro da pauta? 11 SINDICAL Eleições na Apeoesp Ana Lídia* N — Nº 132 — JUNHO/2014 o dia 6 de maio de 2014, os professores da rede estadual de ensino de São Paulo, foram às urnas eleger os Conselheiros Estaduais e Regionais para as diretorias do sindicato da categoria, a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Nessas eleições, 67.810 professores dividiram seus votos entre as quatro chapas que estavam disputando os conselhos estaduais e a presidência do sindicato. Numa eleição proporcional, a chapa 1 “Unidade Prá Valer - Orgulho de ser Professor (a)”, com representações da Articulação Sindical (CUT), ligada a atual diretoria do sindicato, venceu as eleições com 35.978 votos, ou seja 53,06%. Pelo quarto mandato consecutivo, a professora Mara Izabel Noronha (Bebel) foi reeleita presidenta da Apeoesp e terá seu mandato até o ano de 2017. Diferentemente das últimas eleições, esta disputa pela Apeoesp apresentou uma divisão de votos maior entre três chapas. Na eleição anterior havia certa polarização de votos entre a “tradicional” chapa 1, ligada à ArtSind (CUT) e a chapa 2, mais próxima à CSP-Conlutas. Já em 2014, tivemos a Chapa 2 (Intersi- 12 dical) e a Chapa 4 (CSP-Conlutas) dividindo votos para os conselhos da entidade com a Chapa 1 (Artsind/CUT). Já a Chapa 3 (PCO) não obteve o número de votos suficientes (5,07%) para eleger conselheiros ao Sindicato. Nesse sentido, o quadro que compõe o Conselho Estadual do Sindicato se configura assim: 57,09% da Chapa 1; a Chapa 2 com 23,47%; e a Chapa 4 com 18,63%. Da última eleição (2011) para esta, aumentou o número de votantes: 3.695 votos a mais. Entretanto, a chapa da situação apresentou uma queda de votantes de 9,3%, visto que em 2011 haviam conquistado 62,36% dos votos válidos. Apesar da divisão do bloco de oposição à atual diretoria do Sindicato, a Chapa 1 conseguiu manter a maioria das cadeiras e a presidência. Entretanto, é válido destacar que na capital paulista, em um universo de 11.170 votantes (16,47% dos eleitores da eleição geral), a Chapa 1 obteve 34,45% dos votos e a Chapa 2 obteve 25,60%, já a Chapa 4 recebeu 31,62%. Ou seja, na capital as oposições juntas obtiveram maioria. Na Grande São Paulo (13.762 eleitores, 20,29% do total de votação), o cenário para a Chapa 1 também não foi muito favorável, tendo essa recebido 32,68%, quase que empatando com a Chapa 2 que obteve 32,18% dos votos; a chapa 4 recebeu 26,28% dos votos. Mas no interior do estado de São Paulo, onde vota 63,23% do eleitorado, ao todo 42.878 votantes, 64,44% dos votos foram destinados à Chapa 1, a chapa 2 recebeu 17,12% e a chapa 3 recebeu 10,32% dos votos. Como um todo, o cenário não será fácil para a ArtSind. Momento propício para repensar e encaminhar novas formas de luta e de fortalecimento não apenas das pautas de reivindicação, mas também do sindicato como um todo. *Ana Lídia é dirigente do PT de São José dos Campos e professora da rede pública estadual JUVENTUDE A gente quer política, diversão e arte! Jonatas Moreth* Está construção é fruto de uma análise equivocada, segundo a qual o distanciamento da juventude com o nosso partido, e de certa forma, com o nosso governo, é um problema principalmente de forma e linguagem, não principalmente de conteúdo e de política. Não temos óbice a este formato de encontro partidário, desde que a política não seja colocada em segundo plano, como infelizmente ocorreu neste Festival: apenas uma tarde de debate político, metade dos Estados não realizando suas etapas, incapacidade de produzir a contento um programa de juventude para a reeleição da companheira Dilma, um alto grau de despolitização. A baixa mobilização contradita a tese que nossos Congressos, com mais debate e disputa de tese e de direção, não são atraentes para a juventude petista. Apesar do pouco espaço de debate, uma constatação positiva: é visível e crescente na base da JPT o discurso acertado que, sem minimizar nossos avanços, reconhece nossas contradições, afirma a necessidade de ajustes no rumo e reivindicam que soltemos o freio de mão e aceleremos nas transformações. As pesquisas apontam um forte sentimento por mudança, no entanto, a maioria da população enxerga no PT e na presidenta Dilma os mais capazes para liderar essas mudanças. O povo quer continuidade com mudança, quer transformações com o PT. Mas não da mais para esperar. A mudança deve começar já no processo eleitoral. É falsa a tese de que só ganhamos com recuos, que a rigidez de nossas posições podem nos levar para a derrota ou para o isolamento. O sucesso absoluto do programa “Mais Médicos” nos ensinou o contrário. Essa postura baixo perfil nos cobra um alto preço, em especial na juventude. Por isso, mais do que nunca, o PT precisa ser para a juventude brasileira um partido que se diferencia dos demais, que constrói com o excluído, que pensa nas pessoas e ao qual a juventude pode tomar como espelho. Nestas eleições, como forma de reatar e fortalecer este laço do PT com a juventude, o tema fundamental destas eleições e de nossas mobilizações precisa vir acompanhando da melhor forma de fazer política. Diante destes desafios, reivindicamos uma campanha: a) politizada, que polarize programaticamente com as candidaturas opositoras de Aécio e Eduardo/Marina; b) que dialogue com setores da juventude que não conhecem e/ou não sofreram as mazelas dos Governos FHC, para qual a simples comparação não é eficaz; c) que combine a ação estritamente eleitoral, com a mobilização em favor do plebiscito, da lei da mídia democrática, da plataforma da classe trabalhadora, das plataformas do MST, UNE e UBES. *Jonatas Moreth é coordenador nacional de movimentos sociais da JPT — Nº 132 — JUNHO/2014 O desgaste natural de três mandatos consecutivos, a indisposição da elite econômica em conviver com mais um mandato de um governo “não confiável” para seus interesses por mais que faça grandes concessões, o lançamento de candidaturas conservadoras de dentro do bloco de alianças que elegeu Dilma Roussef em 2010, somado a um processo de disputa política e ideológica também nas ruas, exigirá do Partido dos Trabalhadores mais do que tem feito atualmente. Para enfrentar e superar este cenário desafiador, a juventude, parcela populacional de 51 milhões de pessoas, representando 25 % da população e cerca de 30% do eleitorado será um elemento estratégico. Neste sentido, é imprescindível reverter um cenário de distanciamento da juventude com o nosso governo, e com o nosso partido. Pesquisas apontam que a intenção de voto na companheira Dilma é menor na juventude do que nos adultos com mais de 30 anos. O mesmo fenômeno ocorre nas pesquisas que apontam preferência partidária, onde a quantidade dos que preferem o PT é menor na juventude do que nos adultos. Cientes deste cenário, defendemos que fosse convocado neste ano o III Congresso da Juventude do PT, como um espaço fundamental para: a) renovação das direções, em especial após o PED onde muitos dirigentes da JPT assumiram outras tarefas no PT; b) atualização da política programática, com ênfase ao programa de Governo da Dilma e a compreensão sobre a atual juventude trabalhadora; c) debate sobre nossa organização, focando na massificação e municipalização da JPT e d) Construção da campanha de juventude em âmbito nacional e nos estados. Fomos derrotados e prevaleceu a ideia de não realizar este ano o III Congresso. Ao invés disto, foi construído o Festival Aldeias da Juventude, com a perspectiva de ser um espaço com formato “menos quadrado”, privilegiando a construção de oficinas e atividades culturais. 13 ESTUDANTES CONEG aprova plataforma Adriele Manjabosco* E — Nº 132 — JUNHO/2014 www.amarofoto.com ntre os dias 30 de maio e 1 de junho, o Conselho Nacional de Entidades Gerais da UNE (CONEG) -- reunindo membros de Diretórios Centrais, entidades estaduais e executivas de curso – debateu a plataforma que a UNE apresentará aos candidatos e à sociedade brasileira. Dois pontos perpassaram as defesas dos três campos que hoje disputam a União Nacional dos estudantes: o Majoritário, o Campo Popular e a Oposição de Esquerda. Ainda que minimizado por uns e maximizado por outros, há um reconhecimento dos avanços ocorridos nos 12 anos de governos presididos pelo Partido dos Trabalhadores, seja para a vida da classe trabalhadora, seja especificamente na educação. Isto foi verbalizado até mesmo pelos setores da Oposição de Esquerda, que não puderam deixar de reconhecer que o Brasil pós Lula e Dilma não é o mesmo Brasil dos anos neoliberais. O segundo ponto é a necessidade das reformas estruturais. Em alto ou médio tom, a Democratização da Mídia, a Reforma Política, a Reforma Agrária, Tributária e a Reforma Universitária, mais que um conjunto de princípios, foram afirmadas como reformas necessárias 14 para avançar nas mudanças em curso e para combater a herança maldita provinda de um passado colonial, da ditadura militar e das décadas neoliberais. Da mesma forma, defendeu-se uma nova política macroeconômica, com o fim do superávit primário e com a auditoria cidadã da dívida que assalta os cofres públicos, inviabilizando a ampliação substancial dos recursos para serviços essenciais como educação, saúde, moradia e mobilidade. A Reconquistar a UNE e o conjunto do Campo Popular tiveram papel importante nos debates do CONEG, ao pautar uma plataforma eleitoral de caráter democrático e popular. Além disso, a atuação do campo destacou-se pela defesa da reforma política e pelo firme posicionamento acerca da disputa eleitoral. Para o Campo Popular, neste ano eleitoral, também é tarefa do movimento estudantil construir o Plebiscito Popular juntamente com o conjunto dos movimentos sociais. Inclusive como forma de pressionar as candidaturas para defender em seu programa a realização de uma Constituinte Exclusiva e Soberana para mudar o sistema político. A reforma política, alicerçada no financiamento público de campanha, Atividade do 62o CONEG da UNE no voto em lista e no fortalecimento dos mecanismos de participação direta, é primordial para garantir as demais mudanças e reformas necessárias que constam na plataforma UNE-BRASIL, aprovada neste CONEG. Na educação, por exemplo, a difícil tramitação do PNE, a não regulamentação do ensino privado e a inviabilidade da implementação da reforma universitária da UNE, também são reflexos da atual composição do Congresso, cuja correlação de forças é mais favorável aos interesses dos tubarões do ensino do que aos defensores da educação pública. O Campo Popular foi o único que apresentou uma resolução de conjuntura, explicitando qual a disputa eleitoral em curso. Esta disputa gira em torno de dois projetos e três candidaturas. O primeiro projeto visa dar sequência e aprofundar os avanços para a classe trabalhadora e para a educação, com a expansão das vagas e a democratização do acesso ao ensino superior. Esse projeto é representado pela candidata à reeleição, presidenta Dilma Rousseff. O outro projeto, hoje representado nas candidaturas de Aécio Neves e de Eduardo Campos, representa a retomada do projeto neoliberal, que na educação caminhou nas trincheiras da mercantilização do ensino e no sucateamento do ensino público. Devido principalmente às ilusões do Campo majoritário com o PSB, a resolução de conjuntura aprovada pelo CONEG não dá “nome aos bois”. Mas a plataforma eleitoral aprovada traz um conjunto propostas unitárias. Cabe ao movimento estudantil fazer da plataforma UNE pelo BRASIL, um instrumento para pautar um projeto democrático e popular para educação e, acima de tudo, mostrar à sociedade brasileira de que lado nós estamos. Certamente não é o lado do retrocesso, da retomada do velho e do arcaico, mas sim o lado da ampliação de direitos e do aprofundamento das mudanças que o Brasil tanto precisa. *Adriele Manjabosco é terceira vicepresidenta da UNE Reconquistar a UNE Patrick Campos* N os dias 29 e 30 de Maio, na sede do Diretório Nacional do PT em São Paulo, os militantes da tese Reconquistar a UNE realizaram uma Plenária Nacional. Visto que a tese é construída por estudantes militantes da Articulação de Esquerda, tendência interna do PT, a atividade teve inicio com a história da atuação da Juventude do PT e da AE no movimento estudantil, principalmente na disputa da União Nacional dos Estudantes. Analisando cada período histórico desde os anos de 1980, e debatendo a evolução das forças petistas na UNE, traçamos uma linha que passa pelo período em que estudantes petistas presidiram a UNE, em fins dos anos oitenta, até o período em que, pela primeira vez desde a refundação da entidade, uma petista esteve na vice-presidência sem o apoio do conjunto das forças do partido, no ano de 2005. Na análise da conjuntura dos anos 2000, a Plenária aprofundou o debate sobre os caminhos seguidos pelos militantes da JAE no movimento estudantil frente as mudanças ocorridas naquele período, como a criação e o fim do Bloco Rompendo Amarras; a saída do PSTU da UNE; o nascimento do PSOL; a criação da Oposição de Esquerda; a migração sistemática de forças petistas da oposição para a situação dirigida pela UJS/ PCdoB; e mais recentemente a criação de um novo “campo” na entidade, com a decisão do Levante Popular da Juventude em construir a UNE. Partindo desta análise, a Reconquistar a UNE avaliou os desafios e as estratégias para o próximo período, levando em consideração desde a política de alianças na UNE às entidades de base, gerais e executivas de cursos. A política de alianças defendida pela militância da JAE é a da unidade das forças petistas. Unidade que gire em torno de um programa mais avançado de movimento estudantil e de educação, do que aquele defendido e implementado há mais de vinte anos pela UJS/PCdoB, a começar pela sua concepção de entidade. Esta ainda nos parece ser a politica acertada, mesmo com as dificuldades decorrentes do fato de que as duas maiores forças petistas (Construindo um novo Brasil e Democracia Socialista) optaram por participar do Campo Majoritário na UNE, dirigido pela UJS/PCdoB. Para que nossa estratégia volte a ganhar força, duas ações precisam ser combinadas. A primeira delas é o fortalecimento do Campo Popular. Desde sua criação, este campo tem conseguido aglutinar cada vez mais forças, em sua maioria petistas, em torno de uma proposta de alternativa de direção para a entidade, rompendo com a falsa ideia de que a UNE possuía apenas dois lados: o Campo Majoritário (dirigido pelo PCdoB) e a Oposição de Esquerda (esquerdista). A outra ação, prioritária, é o fortalecimento das entidades de base, gerais, Executivas e Federações de cursos. A presença nestas entidades confere vida real ao movimento estudantil. Garantir que elas estejam funcionando, articuladas entre si e movimentando o dia a dia e o cotidiano dos estudantes é algo decisivo para que se confira legitimidade a qualquer movimento de disputa e construção da UNE. A Reconquistar a UNE, portanto, define como o centro de sua tática para o próximo período a construção e fortalecimento do Campo Popular na UNE, combinada com a construção das entidades de base e gerais. Nestas entidades, a relação com as demais forças que integram o Campo Popular deve ser considerada caso a caso, uma vez que o Campo Popular é um meio de disputa e construção da União Nacional dos Estudantes. Para o próximo período, a militância da Reconquistar a UNE elegeu algumas prioridades, entre elas a melhoria dos instrumentos de comunicação externa e interna; a construção dos Encontros das Executivas e Federações de Cursos; e o diálogo e fortalecimento da rede de Centros e Diretórios Acadêmicos, com um intenso processo de formação política para as entidades. Este debate deve ser aprofundado na Conferência Nacional de Juventude da Articulação de Esquerda, no mês de julho (ver box). *Patrick Campos é diretor da UNE Tendência Conferência Nacional da Juventude da AE Nos dias 18, 19 e 20 de julho de 2014, será realizada a IX Conferência Nacional da Juventude da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores. Durante estes três dias, os jovens militantes da JAE estarão reunidos em Brasília, com o intuito de discutir e atualizar nossas resoluções políticas e de renovar a Coordenação Nacional da Juventude da AE (CNJAE). Os debates se desenvolverão ao redor de quatro eixos centrais, sendo eles: a) A juventude, nas ruas e nas urnas, na luta pelo socialismo; b) A reeleição da Presidenta Dilma e a Juventude; c) A JPT que queremos; d) JAE: balanço, concepção e organização. A Conferência Nacional será precedida por etapas municipais e estaduais. Até o momento da escrita deste texto, dia 05 de junho, ocorreram duas conferências estaduais. A primeira, em Alagoas, onde os jovens da AE se reuniram no município de Igreja Nova para discutir o texto-base. E a segunda, no Rio Grande do Norte, que ocorreu na cidade de Ponta Porã, onde se rearticulou a Coordenação Estadual da Juventude da AE (CEJAE), se definiu quais companheiros e companheiras serão responsáveis por representar a JAE potiguar na etapa nacional, além, é claro, de discutir os quatros eixos centrais citados no parágrafo anterior. Já estão marcadas mais 6 etapas estaduais: Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Sul. — Nº 132 — JUNHO/2014 ESTUDANTES 15 ELEIÇÕES 2014 Olívio Dutra entra na peleia ao Senado Adriano de Oliveira* 16 Visivelmente a candidatura Olívio reforça nossa chapa majoritária e a candidatura do companheiro Tarso Genro a Governador, recompõe com setores sociais, reforçou – com o deslocamento do PCdoB para a vice – uma chapa majoritária com bastante nitidez programática e ideológica e recolocou a Unidade Popular pelo Rio Grande na disputa da vaga ao Senado, reanimando o conjunto da militância. Olívio afirmou ser homem de partido e que não poderia deixar de atender um chamado tão contundente da militância e do Partido. Reforçou que não é candidato para fulanizar o debate, mas sim para defender o projeto e o aprofundamento das mudanças em curso no Brasil e no Rio Grande. E afirma que terá como temas fundamentais a reforma agrária e urbana, a reforma política, tributária e a necessidade de democratização dos meios de comunicação e discussão do pacto federativo. Tem a coragem – inclusive – de afirmar que defende o poder unicameral e que o Senado - embora tenha que ser disputado – não deveria existir. Desde que deixou o Governo do Estado do RS em 2002, Olívio Dutra nunca mais havia concorrido a cargo eletivo. Mas, pelas informações “privilegiadas” de que disponho, arrisco que nas próximas aferições, já terá aproximado-se do “cavalo do comissário”, polarizando a eleição ao Senado no RS. O Galo Missioneiro está na peleia, para alegria da militância do PT e da Unidade Popular pelo Rio Grande. * Adriano de Oliveira é membro do DN e integra a coordenação da pré-campanha da Unidade Popular pelo Rio Grande no RS. Olívio reforçou que não é candidato para fulanizar o debate, mas sim para defender o projeto e o aprofundamento das mudanças em curso no Brasil e no Rio Grande Foto: Tiago Silveira — Nº 132 — JUNHO/2014 A confirmação da candidatura de Olívio Dutra à única vaga em disputa ao Senado pelo Rio Grande do Sul pegou os adversários de surpresa e causou um terremoto nas eleições majoritárias no RS. A militância da Unidade Popular pelo Rio Grande, ao tomar conhecimento das especulações em torno do nome de Olívio, contagiou-se de enorme entusiasmo, visível nas redes sociais, com repercussão nacional que surpreendeu pela densidade e espontaneidade. Depois, com a confirmação da candidatura, foram enormes as manifestações de entusiasmo, com massiva presença em atos e atividades de pré-campanha. Até então, o “cavalo do comissário” Lazier Martins, oriundo do grupo RBS – afiliada da Rede Globo, gozava de amplo favoritismo nas pesquisas de intenção de voto, que o colocavam com aproximadamente 1/3 da intenção de voto, amealhados nas fileiras da antipolítica e do antipetismo. Lazier desincompatibilizou-se no limite do prazo e filiou-se ao PDT, partido que integrava até então o governo do estado e, constatada sua força eleitoral, utilizou-se da mesma – em aliança com os setores mais a direita do PDT – para condicionar sua candidatura à saída do governo. O PDT foi para a oposição, fechou aliança com o DEM e lançou como candidato ao governo o deputado federal Vieira da Cunha (PDT), algoz do governo Olívio Dutra e insuspeito direitista. Beto Albuquerque, candidato ao Senado pelo PSB, disparou na imprensa que Olívio estaria inelegível por não ter se desincompatibilizado da condição (não remunerada) de conselheiro do Banrisul. Movimento bastante antipático, vindo de quem pretendia disputar justamente o eleitorado ao centro (com a desistência de Pedro Simon, do PMDB) e também o eleitorado da esquerda, que até então tinha como alternativa a pré-candidatura de Emília Fernandes (PCdoB). Beto Albuquerque e o PSB também integraram o governo desde o início, com o atual vice-governador Beto Grill. Recentemente deixaram o governo para apoiar a candidatura de José Ivo Sartori (PMDB, que condicionou sua candidatura ao PMDB gaúcho apoiar Eduardo Campos), que conta na vice com José Paulo Cairoli, ex-presidente da FEDERASUL por três gestões, e o próprio Beto como candidato ao Senado. Nossa principal adversária, atualmente, é a Senadora Ana Amélia Lemos (PP), não por acaso um quadro também egresso das fileiras da RBS, com um histórico de ligações com o agronegócio e a direita gaúcha. Ana Amélia fechou aliança com o PSDB, levou o PP do RS ao palanque de Aécio Neves e está levemente à frente de Tarso nas pesquisas, o que consideramos normal dado o cerco midiático que sofremos nesta quadra da disputa. O primeiro efeito da candidatura Olívio sobre a chapa encabeçada por Ana Amélia foi o de prorrogar a definição da sua candidatura ao senado: a direita isola-se, enquanto a Unidade Popular pelo Rio Grande amplia ao centro, confirmando a aliança com o PTB, PT, PCdoB, PPL, PR, PTC e - ainda em tratativas – o PROS.