ANAIS
O LEGADO DA COPA DO MUNDO EM 2014
ANTONIO CARLOS ESTENDER ( [email protected] , [email protected] )
UNIVERSIDADE PAULISTA (UNIP)
ALMIR VOLPI ( [email protected] , [email protected] )
UNIVERSIDADE PAULISTA (UNIP)
MARCO AURELIO FITTIPALDI ( [email protected] , [email protected] )
CENTRO ESTADUAL DE TECNOLOGIA PAULA SOUZA (FATEC ITAQUAQUECETUBA
Resumo:
O tema sobre sediar eventos esportivos da magnitude de Copas do Mundo e Olimpíadas,
atualmente gera discussões acaloradas a respeito se vale ou não o esforço e os investimentos
necessários para adaptar a infraestrutura existente de acordo com as exigências dos
organismos promotores de tais eventos. Análises de impacto econômico nem sempre
fornecem dados suficientes para ser incontestáveis e confirmar que o evento terá impacto
positivo no país sede. Dentre os motivos para que isso aconteça pode-se citar: propagação de
erros ao estimar as premissas e o efeito de substituição do turismo em detrimento de outras
áreas do país. Um outro problema que aparece em várias pesquisas é a falta de planejamento
consistente na implementação dos vários projetos e o seu gerenciamento. A importância do
gerenciamento de projetos vai além de gerir cronogramas: alinhar as expectativas de
stakeholders quanto aos objetivos do projeto, entender e detalhar os escopos esperados,
controlar o orçamento, atingir e entregar com qualidade os objetivos estipulados no projeto.
A Copa do Mundo no Brasil tem grandes chances de alavancar melhoras significativas para a
população, transformando o país que agora é apenas uma potência econômica em talvez um
país menos desigual e mais acessível à sua população carente.
Palavras Chave: Copa do Mundo, Gerenciamento de Projetos, Impacto Econômico, cidades
sede
1. Introdução
A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos são qualificados como megaeventos, tanto
que os estados, assim como a nação, competem vigorosamente para sediar esses eventos tal
qual os atletas que participam deles. Por quê estes eventos despertam tanto interesse? Uma
variedade de razões explica a busca para hospedar esses acontecimentos, mas não há razão
que pareça mais atraente do que a promessa de um ótimo retorno econômico.
Será que a Copa do Mundo pode dar um impulso à economia da nação anfitriã que justifique
os elevados custos e riscos? Uma análise do Mundial de 1994, realizado nos Estados Unidos,
sugere que o impacto econômico do evento não pode justificar essa magnitude dos gastos e
que as cidades experimentam perdas acumuladas de US$ 5,5 a US$ 9,3 bilhões, contra as
estimativas de ganho de US$ 4 bilhões de dólares elogiado pelos impulsionadores do evento.
Países sede em potencial devem considerar com cuidado se a indicação da Copa do Mundo é
uma honra ou um fardo.
Mesmo com a escolha oficial, se o Brasil não realizar todos os procedimentos exigidos
pela FIFA, esta pode mudar a sede da Copa do Mundo até meados de 2012 (COPA DO
MUNDO DE 2014 NO BRASIL, 2011). Se as questões de segurança e infra-estrutura forem
sanadas, o sonho de realização da Copa do Mundo no país com mais títulos mundiais será
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concretizado após 64 anos. Mesmo com toda a incompetência dos políticos em quase todas as
áreas para a realização de evento deste porte (caos aéreo, energético, corrupção, violência,
entre outros) e denúncias de superfaturamento nas obras dos Jogos Pan-Americanos de 2007,
será difícil o Brasil deixar de ser sede da Copa do Mundo de 2014.
Contudo, pode-se identificar claramente objetivos individuais das mais diversas razões
dos países interessados em sediar uma copa do mundo de futebol, além dos lucros diretos com
o evento e, em função disso, acredita-se que o principal objetivo do Brasil com a realização da
Copa do Mundo em 2014 seja demonstrar ao mundo sua capacidade de investimentos, gestão
destes investimentos e disponibilidade de profissionais capacitados, além da seriedade do país
frente a desafios internacionais, objetivos estes que podem estar em risco diante dos dados
apresentados nos jogos Pan-Americanos.
O Brasil rural e analfabeto é hoje uma economia que faz diferença para o mundo. O
país continua a penar com uma série de mazelas, algumas tão ou mais vergonhosas que as
vividas no passado (NOVA CHANCE AO BRASIL, 2011). Mas os avanços econômicos e
sociais, ainda que insuficientes, são inquestionáveis. Até a Copa de 2014, espera-se que o
Brasil atinja um novo patamar e se consolide como uma das maiores economias do mundo.
Como antes, também agora o mundial chega num momento em que o país está na moda.
Relembrar a transformação econômica, social e política no período de 64 anos entre as duas
copas brasileiras não deixa de ser um balanço do que conseguimos produzir como sociedade.
2. Problema de Pesquisa e Objetivos
Sediar a copa do mundo, o segundo maior evento esportivo mundial, é um caso
potencialmente caro. Os co-anfitriões dos jogos de 2002, o Japão e a Coréia do Sul, gastaram
juntos US$ 4 bilhões de dólares em prédios novos ou reformando antigas instalações em
preparação para o evento.
Com base no exposto este trabalho tem por objetivo lançar luz sobre este assunto
utilizando a experiência de outros países sede e ressaltar a importância que a área de
gerenciamento de projetos deve ter, para que fracassos do passado não se repitam no Brasil
em 2014. Deste modo o problema de pesquisa inferido é: como as práticas do gerenciamento
de projetos podem garantir que um evento temático, como a copa do mundo, deixe um legado
de sucesso para o país sede?
3. Perspectivas Privada e Governamental
Grandes eventos esportivos fascinam a humanidade há muitos anos sejam eles os
jogos olímpicos, copas mundiais de futebol, campeonatos pan-americanos, dentre outros. Tais
eventos sem dúvida podem ser considerados fenômenos de popularidade. As entidades
governamentais e instituições públicas também têm apresentado maior interesse em grandes
eventos esportivos e tal fato tem despertado a necessidade de identificar as perspectivas
econômicas e sociais. Entidades governamentais preocupam-se com o retorno dos elevados
investimentos requeridos para a realização de eventos como Copas do Mundo de Futebol e
Olimpíadas, e com a sua comparação com outras opções de investimentos. Organizações
privadas, que também alocam recursos vultosos em eventos esportivos, igualmente se
defrontam com as decisões de composição dos seus investimentos em marketing.
Situações como estas têm levado economistas e administradores públicos e privados a
realizar estudos cada vez mais complexos e detalhados sobre a realização de eventos
esportivos. Contudo, a análise desta categoria de investimento é ainda uma atividade em
evolução e tem recorrido a abordagens e metodologias diversas, levando a discussões sobre
sua eficácia.
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4. As Perspectivas Privada e Governamental
Os megaeventos esportivos são, em sua maioria, eventos de curto prazo com
conseqüências de longo prazo para as cidades sedes. Os resultados e as conseqüências
geralmente mencionadas na literatura são: a provisão de infraestrutura, os impactos
econômicos e sociais, a renovação ou criação da imagem da cidade por meio da mídia,
particularmente da TV, dentre outros.
Os megaeventos geram oportunidades para acelerar o crescimento e o
desenvolvimento das cidades-sede, dão visibilidade internacional ao país, estimulam novos
empreendimentos e movimentam a economia. Além disso, implicam em grandes obras,
impulsionam melhoria da infraestrutura e dos transportes urbanos, deixando um legado às
comunidades locais e à população.
Nesse sentido a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014 e do Rio de Janeiro para
os Jogos Olímpicos de 2016 abre um debate mais amplo que o esportivo e, traz ao cidadão
importantes benfeitorias que vão do planejamento urbano, transportes, logística, comunicação,
até a arquitetura de novos edifícios, iluminação, mobiliário, interiores e paisagismo de
espaços públicos, o que resulta na construção de uma nova infraestrutura urbana e
metropolitana.
De acordo com Roche (1994), usualmente também é assumido que os megaeventos
trazem conseqüências futuras em termos de turismo, realocação de plantas industriais e
investimentos externos. Neste sentido Jones (2001) argumenta que para muitas cidades os
megaeventos podem ser um “atalho” para conseguir um reconhecimento global por meio da
exposição de mídia, o que pode ser bom para um destino turístico caso o evento seja um
sucesso, ou até mesmo, destrutivo caso o evento possua falhas perceptíveis para todos os
participantes: atletas, familiares, imprensa e torcedores.
Roche (1994) relata que os estudos e planejamentos realizados geralmente antes dos
eventos tendem a focar os benefícios econômicos e sociais que o acontecimento em questão
pode gerar. No entanto, de acordo com Higham (1999), existe um crescente número de
pesquisas acadêmicas sobre os efeitos negativos ou ambivalentes dos megaeventos, tanto do
ponto de vista econômico quanto social. Mules (1998) enfatiza os chamados efeitos de
transbordamento associados à realização de eventos esportivos, a exemplo dos benefícios que
podem propiciar a setores econômicos relacionados à sua ocorrência, representados pela
elevação do nível de atividade em áreas como a construção civil, hotelaria, alimentação,
transporte, equipamentos e materiais esportivos e não esportivos. Há ainda benefícios que
ocorrem no longo prazo, como a promoção de uma cidade ou região como destino turístico, o
que fomentará o incremento de gastos turísticos.
Principalmente em países em desenvolvimento a realização de grandes eventos
esportivos está associada à criação de uma infraestrutura de apoio, o que significa montante
significativo de recursos ou dívidas em longo prazo que podem onerar as contas públicas,
além de prejudicar áreas com necessidade de investimentos em curto prazo como: saúde,
educação e bem estar.
Estima-se que a Copa do Mundo de Futebol de 2014 demandará investimentos de US$
5 bilhões. Deve-se levar em conta, no tocante à precisão de estimativas, que os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, inicialmente orçados em 500 milhões de reais, tenham
consumido mais de 4 bilhões de reais. Os investimentos requeridos para a Copa de 2010 da
África do Sul foram estimados em 2 bilhões de dólares. Outro ponto de atenção é o
planejamento destes megaeventos, que segundo histórico, centraliza análise nos efeitos ou
impactos e não nas causas. No entanto, o planejamento dos eventos pode ser determinante ao
sucesso ou fracasso (Planejamento Urbano e Turístico). A questão política é relevante nesta
análise, visto que algumas vezes não se trata de uma análise custo-benefício, entendendo que
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a visão objetiva e técnica pode ser prejudicada pelos interesses políticos, conflito de interesses
entre a sociedade local, os organizadores e os patrocinadores.
O objetivo principal dos grandes eventos esportivos é que os diferentes segmentos
sociais e econômicos apropriem-se dos benefícios diretos e indiretos decorrentes da sua
ocorrência. Com isto, obtêm reflexos positivos no PIB (Produto Interno Bruto) em escala
nacional, estadual ou regional, a depender da abrangência do evento. A Copa do Mundo de
2014, por exemplo, deverá ter impactos econômicos que se distribuirão por todo o país, a
partir das competições que se realizarão nas cidades-sede escolhidas. A análise econômica
que organizações privadas fazem de eventos esportivos enfatiza a renda financeira deles e os
gastos associados. Pode-se identificar um conjunto de benefícios diretos e indiretos a eles
relacionados, a exemplo daqueles apontados pelo Dossiê do Esporte (2006), como a conquista
de novos clientes, a geração de maior volume de negócios, a fixação da imagem dos seus
produtos, a promoção das suas marcas, a associação de produtos e marcas a características
favoráveis de atletas ou de equipes, o fortalecimento da sua imagem pública, a obtenção de
reconhecimento, a realização de programas de fidelização e de relacionamento com clientes,
por meio, por exemplo, de centros de hospitalidade. Abaixo enumeramos alguns dos
benefícios intangíveis para o governo
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Maior interesse pelo país e modificação do seu perfil junto à comunidade internacional
Aumento do turismo e do investimento estrangeiro direto
Possibilidade de realização de outros eventos no país
Aumento da confiança e do orgulho da população local
Re-uso de materiais para habitações
Diminuição de pressão sobre a previdência social
Benefícios tangíveis para a iniciativa privada
R 12,7 bilhões (US$ 1,23 bilhão) em receitas advindas de gastos de espectadores
Benefícios intangíveis para a iniciativa privada
Maior demanda por facilidades e serviços turísticos
Receitas adicionais provenientes de eventos similares
Novos investimentos estrangeiros diretos
Parcerias público-privadas para a oferta de equipamentos
Oportunidades de marketing
No caso dos megaeventos esportivos os efeitos diretos e indiretos causados pelos gastos
dos espectadores, equipes esportivas e jornalistas visitantes são considerados os maiores
geradores de benefícios para a economia local. Os métodos para estimar estes efeitos derivam
dos modelos econômicos desenvolvidos para estimar os impactos econômicos do turismo, que
podem variar desde o modelo de Insumo-Produto (ARCHER 1984, FLETCHER 1989) até o
modelo de equilíbrio geral, amplamente estudado e desenvolvido por pesquisadores na
Universidade de Nottingham - UK. No entanto, esses modelos possuem falhas no que diz
respeito à questão temporal que caracteriza os megaeventos. Pela natureza destes eventos,
pode-se dividir um estudo de impacto econômico para um megaevento em três fases distintas:
Pré Evento: os impactos na fase anterior a realização do evento incluem os gastos e seus
impactos em atividades como: estudos e planejamento para a realização do evento;
investimentos para o processo de licitação; gastos com treinamento; gastos com marketing;
investimentos realizados para a construção do(s) complexo(s) onde serão realizados os
eventos esportivos e investimentos em infraestrutura de apoio e logística para a realização do
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evento, isto reflete no aumento dos preços de imóveis. Os impactos econômicos desta fase
têm dimensão temporal finita.
Evento: os impactos durante o evento derivam dos gastos realizados pelos
espectadores, equipes esportivas e jornalistas nas mais diversas atividades relacionadas com o
evento e com a atividade turística gerada: hotelaria, transporte, alimentação, souveniers,
impostos, entre outros. Além destes gastos pode-se incluir os aluguéis de espaço físico e
publicitário, as taxas cobradas e os salários pagos aos prestadores de serviço no evento. Os
impactos econômicos desta fase também têm dimensão temporal finita.
Pós-Evento: os impactos derivados do legado de infra-estrutura disponível após a
realização do evento; a exposição da mídia internacional e o conseqüente aumento de turistas
para a cidade; a capacidade instalada para sediar futuros eventos, entre outros. Os impactos
econômicos desta fase, em caso de sucesso do evento, podem ter a dimensão temporal infinita
o que dificulta a sua mensuração.
O custo da realização de eventos esportivos e o nível da concorrência entre cidades,
países e regiões para sediá-los têm provocado o aumento da importância da avaliação dos seus
impactos econômicos para subsidiar as decisões referentes à sua realização. Tal avaliação
requer a identificação dos seus custos e benefícios, tantos aqueles de natureza direta quanto
indireta e intangível. Os modelos discutidos apresentam variações no tocante aos custos e à
complexidade do seu emprego, bem como ao cômputo de custos e de benefícios, mas podem
se complementar e contribuir para o aumento da eficácia do processo decisório, tanto de
natureza pública quanto privada. Essa eficácia é cada vez mais relevante, em decorrência da
elevação dos custos e dos riscos associados à realização de eventos esportivos,
particularmente os de grande porte, como as Copas do Mundo de Futebol.
Os exemplos apresentados enfatizam a importância da avaliação da razão
custo/benefício de tais eventos uma vez que, como se viu, há uma variação importante no
nível dos investimentos requeridos e dos benefícios que proporcionam, além dos riscos
envolvidos com a sua oferta, a exemplo daqueles associados à violação da propriedade
intelectual. Outra questão importante a ser considerada é a da eficácia da gestão de programas
e projetos para a implementação de eventos esportivos, de modo a contribuir para a
consecução dos resultados econômicos inicialmente previstos.
5. Metodologia
O presente estudo classifica-se como um ensaio teórico-empírico, que buscam,
segundo Lakatos e Marconi, (1999) e Silva e Menezes (2000), solução para problemas
específicos, envolvendo verdades e interesses locais.
Yin (1994) define que, embora esta estratégia tenha sido estereotipada como fraca
entre os métodos de ciências sociais, ela tem sido bastante utilizada nas pesquisas desta área,
em campos orientados pela prática e como estratégias nas pesquisas de teses e dissertações.
Existem algumas condições para a escolha da estratégia de pesquisa, independente da
finalidade desta ser exploratória descritiva ou explanatória, mesmo que a fronteira entre as
estratégias como experimento, pesquisa de campo, análise de arquivo histórico e estudos de
casos, não seja clara e bem definida. A pesquisa realizada foi exploratória, pois, buscou-se um
entendimento sobre a natureza geral do problema e as variáveis relevantes que precisam ser
consideradas (AAKER, 2001). Para tanto utilizou-se dados secundários obtidos de fontes em
pesquisas bibliográficas, em sites especializados e periódicos. Os impactos dessa copa foram
abordados, com maior nível de detalhamento, na Safri (South Africa Initiative of German
Business) Conference, realizada em Hamburgo, em 19 de outubro de 2005, na Embaixada da
África do Sul.
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6. Modelo de Mensuração dos Impactos de Eventos Esportivos
Sediar a Copa do Mundo traz custos e benefícios significativos. Um dos requisitos
para que o COI, Comitê Olímpico Internacional, aprove inicialmente a candidatura e, esta
possa competir de igual para igual com outras, é de haver um apoio incondicional dos
habitantes da região. Desta maneira os comitês organizadores normalmente utilizam de
estudos econômicos que apresentam um expressivo impacto positivo para a região, indo desde
a criação de inúmeros empregos, passando por aumentos da produção industrial e de salários e
chegando até a melhoria na qualidade de vida em geral, para agradar a opinião pública. No
lado dos custos a FIFA exige que o país anfitrião forneça, pelo menos, oito e, de preferência
dez estádios modernos com capacidade para acomodar entre 40 mil a 60 mil espectadores.
Para o evento de 2002 no Japão e na Coreia do Sul, cada um ofereceu dez estádios distintos.
Como nenhum país tinha uma grande infraestrutura existente para o futebol, a Coréia do Sul
construiu dez novos estádios a um custo aproximado de 2 bilhões de dólares. O Japão
construiu sete novos estádios e reformou outros três a um custo de 4 bilhões de dólares. O
investimento total para a nova infraestrutura no Japão.
Os custos operacionais de um mega evento também são enormes e estão crescendo. Na
sequência dos incidentes terroristas nos Jogos Olímpicos de 1972 e 2000 e, em 11 de
setembro de 2001 nos Estados Unidos, medidas de segurança. A Grécia gastou 1 bilhão de
dólares em segurança para os Jogos Olímpicos de 2004. Pode o impacto económico de um
evento, mesmo do tamanho da Copa do Mundo, compensar o país anfitrião pela infraestrutura
e substanciais custos operacionais?
Análises de impacto econômico elaboradas por organizadores dos eventos previram grandes
ganhos econômicos ao se hospedar uma Copa do Mundo. O comitê organizador da copa de
1994, dos Estados Unidos, previu que:
cerca de um milhão de visitantes internacionais viajarão para os Estados Unidos em conjunto
com a Copa do Mundo, tornando o evento uma das atrações turísticas mais importantes da
história americana. O impacto econômico da Copa do Mundo de 1994 poderia, em uma visão
conservadora, ser superior a quatro bilhões de dólares nos Estados Unidos.” (GOODMAN E
STERN, 1994).
A licitação da África do Sul para a Copa do Mundo de 2006 foi baseada, em parte, na
promessa de que iria apoiar a economia em aproximadamente 6 bilhões de dólares e criar
cerca de 129.000 novos postos de trabalho (KHOZA, 2000). Um estudo realizado pelo
Instituto de Estudos para os Direitos Humanos Dentsu estimou um impacto de 24,8 bilhões de
dólares no Japão e um impacto de 8,9 bilhões de dólares na Coréia do Sul. Em percentagem
do rendimento nacional total, estes valores representam 0,6 e 2,2 por cento do total da
economia japonesa e sul-coreana, respectivamente (FINER, 2002). A promessa de um
impacto econômico considerável fornece uma justificativa para os subsídios públicos em
infraestrutura de um megaevento. Promotores de subsídios para mega eventos em todo o
mundo afirmam que os gastos devem ser devidamente tratados como investimentos que
geram retornos econômicos. Reivindicações que os esportes megaeventos fornecem um
impulso significativo para a economia da cidade anfitriã, região e país tem sido fortemente
criticados por alguns estudiosos.
Em relação ao número de turistas atraídos para a competição dados referentes à Copa
do Mundo de futebol de 2002 (Coréia – Japão) demonstram que entraram na Coréia, durante
o período da competição, 403 mil turistas, sendo que destes 232 mil tinham como interesse
principal da viagem acompanhar os jogos. Aproximadamente 500 milhões de dólares
americanos foram injetados na economia local, sendo que destes, a metade foi no setor de
cultura e recreação. Os gastos com ingressos foram computados dentro deste setor, o que pode
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ter sido superestimado. Em relação aos outros setores, haviam maiores gastos em
acomodação, mas estando os souvenirs na segunda posição, à frente da alimentação.
Utilizando-se de dados provenientes dos Ministérios do Turismo dos países-sedes, durante o
período da Copa do Mundo entraram no Japão 482 mil turistas, enquanto que na Coréia
entraram 463 mil. O fato é que o número de turistas não foi significativamente maior em
relação ao ano anterior, obviamente sem a edição da Copa do Mundo. A análise da Copa do
Mundo de 1994 realizada nos Estados Unidos demonstra que o impacto estimado pelos
organizadores, de quatro bilhões de dólares, revelou-se em perdas acumuladas entre 5 e 9
bilhões de dólares pelas cidades. Isto decorreu pelos motivos de que a Copa do Mundo é
realizada em um espaço de tempo maior, mas como não há jogos diariamente, isto causa um
acúmulo de pessoas pelas cidades, afugentando turistas não-relacionados ao evento ao mesmo
tempo que estas cidades não poderiam sediar nenhum outro evento.
O exagero dos benefícios induzidos por um megaevento desportivo pode ocorrer por
várias razões. Em primeiro lugar o aumento dos gastos diretos atribuíveis aos jogos pode ser
“bruto” em oposição a uma medida “líquida”. Alguns defensores de subsídio estimam gastos
diretos simplesmente somando todas as receitas associadas ao evento. O fato de que a
abordagem de gastos brutos não conta para a diminuição das despesas diretamente imputáveis
ao evento representa uma grande lacuna teórica e prática. A falta de consideração pela
diferença entre as despesas brutas e líquidas têm sido citados por economistas como uma
razão principal pelos quais eventos esportivos ou de equipes não contribuem tanto para as
economias metropolitanas como os entusiastas dizem (BAADE, 1996). No entanto, no caso
de um torneio de futebol internacional, uma proporção muito grande de todas as pessoas vem
de outros países e seus gastos qualificam-se como despesas de exportação. Além disso, os
moradores do país de acolhimento que não freqüentam o evento provavelmente não reduzirão
seus gastos no país, mesmo que temporariamente evitem as cidades ou bairros dos estádios.
Assim, despesas diretas dos não residentes que freqüentam os eventos. Infelizmente alguns
turistas, que poderiam visitar o país, decidam não fazê-lo por causa do congestionamento e
dos preços elevados durante o período do evento. O impacto econômico dos Jogos Olímpicos
de Verão de 2000 em Sydney, Austrália, indicou que o “efeito de substituição” pode ser
substancial, mesmo nos casos em que o evento tem um caráter internacional claro. Uma
pesquisa feita pela consultoria Arthur Andersen (2000) sobre a atividade de hotéis em Sydney
e outras capitais, antes e durante os Jogos Olímpicos celebrados, concluiu que a maioria dos
hotéis de Sydney chegou próximo a uma taxa de ocupação de 100% durante o período dos
Jogos. Comparado a quinzena anterior ao evento representou um aumento de 49% nos níveis
de ocupação. Em contrapartida, outras capitais experimentaram deficiências em demanda
significativas para o mesmo período. Por exemplo, ocupações em Melbourne e Brisbane
despencaram de 19% e 17% na segunda quinzena de setembro em relação ao período de 1-15
de Setembro. Em termos globais, com exceção de Sydney e Adelaide, todos os mercados de
hotéis na Austrália, experimentaram um declínio na taxa de ocupação em Setembro de 2000
em relação a setembro de 1999, apesar dos Jogos Olímpicos, como relatado na indústria
hoteleira Benchmark Survey 2000. Hoteleiros indicam que enquanto a demanda internacional
foi forte..., viagens de lazer doméstico tradicionalmente ocorrendo durante o período de férias
escolares de Setembro foi deslocado para Sydney para as Olimpíadas.
O relatório de Andersen (2000) indica a importância do “efeito de substituição”, e
obriga a consideração de que, se for o caso, as entidades governamentais devem estar
envolvidas no subsídio destes acontecimentos esportivos. Os ganhos de Sydney podem muito
bem ter vindo em detrimento de outras cidades australianas, caso o governo federal subsidiou
os jogos deve haver uma justificativa para o enriquecimento de Sydney, em detrimento de
Adelaide e outras cidades da região.
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A segunda razão que o impacto econômico pode ser exagerado se refere ao que os
economistas relatam como multiplicador, a noção de que aumentos de gastos diretos induzem
rodadas adicionais de gastos devido a aumento da renda que ocorrem como resultado das
despesas adicionais. Se os erros são feitos para avaliar os gastos diretos, esses erros são
agravados no cálculo das despesas indiretas. Além disso, a análise correta do multiplicador
inclui todas as “fugas” do fluxo circular de pagamentos e usa multiplicadores que são
apropriados para a indústria de eventos. As fugas podem ser significativas dependendo do
estado da economia. Se a economia está muito próxima do pleno emprego, por exemplo, pode
ser que o trabalho essencial para a realização do evento reside em outras comunidades onde o
desemprego ou um excesso de mão de obra existe. Na medida em que isso for verdade os
gastos indiretos, que constituem o efeito multiplicador deve ser ajustado para refletir essa fuga
de receita e despesa subseqüente. Trabalho não é o único fator de produção que pode repatriar
rendimentos. Caso hotéis experimentem uma taxa de ocupação superior ao normal durante um
megaevento, então a questão a ser levantada foca-se sobre a fração de maiores ganhos que
permanecem na comunidade. Em suma, para avaliar o impacto dos megaeventos, a
abordagem da balança de pagamentos deve ser utilizada. Ou seja, em que medida o evento
dará origem a entradas e saídas de dinheiro que não ocorreriam na sua ausência?
Como os modelos de insumo-produto usados nas mais sofisticadas análises são
baseados em relações fixas entre as entradas e saídas, esses modelos não levam em
consideração as sutilezas do pleno emprego e propriedade de capital notado aqui. Como uma
alternativa para estimar a variação nos gastos e as mudanças associadas na atividade
econômica, aqueles que fornecem bens e serviços diretamente para acolher o evento poderiam
ser questionados sobre como suas atividades foram alteradas pelo evento. Resumindo a
eficácia desta técnica Davidson (1999) afirma:
O maior problema dessa abordagem é que esses gestores de empresas devem ser capazes de
estimar o quanto "a despesa" extra" foi causada pelo evento esportivo. Isto exige que cada
proprietário tenha um modelo do que teria acontecido durante esse período se o evento
esportivo não tivesse ocorrido. Esta é uma exigência extrema, o que limita severamente a esta
técnica.
A terceira razão pelo qual o impacto econômico estimado pode diferir após a
realização do evento é a forma de gerenciar a aplicação dos recursos disponíveis para a
infraestrutura das cidades-sede. Muitas pesquisas realizadas em empresas públicas e privadas
demonstram que grande parte dos projetos implementados apresentam atrasos, custo acima do
orçado ou qualidade indesejada. Segundo o estudo publicado pelo PMI (chapters Brasileiros)
com empresas no Brasil, em 70% dos projetos o prazo estipulado no cronograma inicial não é
cumprido. Pensando em projetos que a data não é negociável, como a realização de mega
eventos esportivos como a Copa do mundo, a não entrega dos projetos seria catastrófica para
a economia e imagem do país organizador. Projetos de lançamentos de arenas esportivas, que
serão o palco do evento, motivo pelo qual milhares de turistas se deslocaram até o país e a
inauguração de infraestrutura de transportes públicos, como novas linhas de trens e metrôs e
novos aeroportos, que auxiliarão na movimentação desta parcela extra de pessoas são vitais
para o sucesso do evento.
O Brasil tem um grande desafio nestes próximos anos, pois, encontra-se na fase de
planejamento dos investimentos para dois megaeventos: Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Esta fase é crucial em gerenciamento de projetos e basicamente define o sucesso ou não do
mesmo. A pesquisa de benchmarking realizada pelos chapters brasileiros do PMI para o ano
de 2009 revela alguns fatos interessantes e também preocupantes. Uma das áreas que mais
investem em gerenciamento de projetos, o setor de Engenharia (empresas que serão
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responsáveis por construir a infraestrutura necessária para os megaeventos que serão sediados
no Brasil) utilizam fato em apenas 27% das vezes uma metodologia de gerenciamento de
projetos, conforme gráfico 1. Isso é realmente alarmante quando estas se encontram prestes a
necessitar de todo o conhecimento disponível para melhor gerenciar projetos e evitar
problemas. Desta maneira, os resultados também são apresentados pela pesquisa, e como é de
se supor estão alinhados a esta falha de baixa utilização efetiva de uma metodologia de
gerenciamento de projetos.
Os dados dos gráficos a seguir demonstram graves problemas nos projetos, tais como:
82% das empresas de engenharia atrasam cronogramas (gráfico 2), 82% ultrapassam o custo
estabelecido (gráfico 3), 64% relatam que a qualidade é insatisfatória (gráfico 4). Nota-se,
conforme o gráfico 5, que a falta de gestão organizacional corresponde a 36%, a falta de
clareza dos objetivos representa 20% e o inadequado planejamento/monitoramento atingem
15%, todas estas falhas podem tornar um projeto inviável. Tomando-se em consideração os
eventos mundiais, que atraem muitos investimentos, esses erros podem expor um certo grau
de amadorismo por parte das empresas envolvidas, o que chega a ser inaceitável.
Gráfico 1 – Utilização efetiva de uma metodologia de Gerenciamento de projetos
Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute
(2009)
Os reflexos estão explicitados abaixo.
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Gráfico 2 – Porcentagem de Projetos que atrasam o cronograma (por setor econômico)
Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute
(2009)
Gráfico 3 – Porcentagem de Projetos que ultrapassam o custo estabelecido (por setor
econômico)
Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute
(2009)
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Gráfico 4 – Porcentagem de Projetos em que a qualidade é insatisfatória (por setor
econômico)
Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute
(2009)
Com três fatores que explicam o insucesso econômico de megaeventos esportivos é
possível prever o esforço que o governo e iniciativa privada terão que fazer para poder
cumprir com o cronograma do evento, com uma qualidade que possa mostrar aos turistas que
o pais tem capacidade para crescer de forma organizada e respeitando prazos e custos. Isso
sim será a mais valiosa medalha de ouro que o país poderá receber durante estas competições.
O número, o tamanho e a complexidade dos Projetos de Capitais (CAPEX) têm crescido
significativamente e são mandatoriamente aumentados nos preparativos para os megaeventos
como a Copa do Mundo de Futebol.
De acordo com a pesquisa de gestão de projetos feita pela PwC Global, intitulada
Boosting Business Performance through Programme and Project Management, apenas 2,5%
das companhias entregam seus projetos dentro do prazo, dos custos, do escopo e com os
benefícios esperados para o negócio, sendo as principais causas disso relacionadas a aspectos
gerenciais.
Existem também quatro grandes dimensões relativas ao impacto não-econômico, que
poderiam ser denominadas como: psicológica; cultural; social; e a percepção dos respondentes
em relação ao impacto econômico. Primeiramente, adentrando no impacto psicológico,
encontra-se que este é composto pela satisfação em sediar um evento esportivo, na criação de
um orgulho de pertencimento, no fato que o esporte pode ser considerado como um
denominador comum, na felicidade coletiva, na criação de uma identidade regional ou até
mesmo local, e na formação de um orgulho cívico. Por sua vez, o impacto social seria
composto por: melhora da qualidade dos trabalhadores da região pelos treinamentos
necessários para a organização do evento esportivo; a melhora na qualidade de vida geral dos
habitantes através dos altos investimentos em infra-estrutura; a revitalização de bairros menos
favorecidos que esta nova infra-estrutura propiciará; e na fomentação de um espírito de
comunidade pelo fato de que muitos moradores trabalharão como voluntários na organização
do evento. Outro impacto não-econômico seria o cultural, sendo este composto pelo:
intercâmbio entre as mais diversas culturas decorrentes do alto número de turistas estrangeiros
que são esperados na cidade-sede; fortalecimento da cultura local por meio de ações que
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visam apresentar esta cultura para os viajantes estrangeiros; fortalecimento do nacionalismo
por meio desta valorização da cultura local; e reconhecimento por parte dos estrangeiros dos
valores locais. A última dimensão existente seria a percepção dos possíveis impactos
propiciados pela realização do mega-evento na cidade. A percepção seria mensurada tanto nos
residentes, quanto nos turistas que presenciaram o mega-evento in loco, e englobaria tanto os
impactos econômicos quanto os não-econômicos.
Gráfico 5 – Problemas mais frequentes em Projetos
Fonte: PwC Capital Project Services Global Practice (2010)
Grandes projetos de investimento trazem consigo altos riscos envolvidos, tais como
definição precária de requerimentos, planejamento inadequado, falta de comprometimento dos
stakeholders ou de conjunto de habilidades críticas, falha ao antecipar obstáculos, escassez de
recursos, estrutura ou controles insuficientes, falta de suprimentos e equipamentos, ruídos na
comunicação, definição inadequada de papéis e responsabilidades ou falhas no endereçamento
de problemas de conformidade com normas e leis. Entregar no prazo, dentro do orçamento e
das especificações não é mais suficiente. Para ser considerado bem sucedido é necessário
demonstrar claramente que alcançou os objetivos propostos, geriu efetivamente as mudanças
e transições, atendeu as expectativas dos stakeholders e realizou os benefícios de negócio.
Assim, para aumentar a probabilidade de sucesso nos projetos se faz necessária a antecipação
dos riscos inerentes, instituírem processos de gestão eficientes, prover controles eficientes e
acompanhá-los e gerenciar todas as fases do projeto para assegurar os resultados esperados.
Nesse contexto São Paulo está entre as capitais mundiais do luxo, entretenimento e
gastronomia. É líder em turismo urbano reunindo sofisticação, requinte, agitação e uma
infinidade de atrações. Embora São Paulo seja considerada a 19ª cidade mais rica do mundo e
a 14ª mais globalizada possui problemas urbanos como congestionamentos, saturação do
transporte público, degradação do centro histórico, poluição do ar e dos rios e ocupação
desordenada das áreas de mananciais. A Cidade de São Paulo é uma das cotadas para receber
a partida inaugural da Copa de 2014, já possui experiência no planejamento e operação de
trânsito para grandes eventos, a partir da organização para a Fórmula 1. Esse modelo está
sendo incorporado pela Fifa. O desafio é equacionar a questão do estacionamento, dentro de
uma política mais geral e não apenas de atendimento aos jogos e eventos realizados no
Estádio do Morumbi. Estima-se que a maioria dos 1,6 milhão de turistas esperados para a
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Copa de 2014 passem pela cidade de São Paulo, seja para visitar seus museus, conhecer sua
gastronomia ou simplesmente para chegar a outros pontos de interesse no país. Além disso,
perto de 15 mil jornalistas deverão vir à cidade, que provavelmente centralizará todas as
operações da mídia mundial.
Os estudos realizados até o momento indicam que os 46 mil apartamentos da rede
hoteleira paulistana são mais do que suficientes para atender a essa demanda. Mas, o grande
desafio do setor é investir em treinamento e formação de profissionais de atendimento em
hotéis, bares e restaurantes para recepcionar os turistas estrangeiros.
São Paulo possui uma frota de aproximadamente seis milhões de veículos, entre automóveis,
caminhões, ônibus e motocicletas que literalmente enchem e paralisam os principais
corredores urbanos nos horários de pico. As ligações entre o Aeroporto Internacional de
Guarulhos e o principal pólo hoteleiro internacional, atualmente na região da Berrini, passam
pelas avenidas Marginais, permanentemente lotadas e congestionadas, da mesma forma que o
Corredor Norte-Sul, que faz o acesso ao Aeroporto de Congonhas.
Por estar tão próxima aos municípios vizinhos, a capital só pode analisar seu sistema
viário se englobar também a escala metropolitana e regional. O transporte público conta com
uma imensa estrutura de linhas de ônibus com mais de 14 mil veículos, além de metrô e trens,
todos conectados pelo sistema de interligação EMTU. Apesar dos investimentos realizados
recentemente pelo governo estadual, a rede de trens e metrô ainda está longe de atender
adequadamente à população da Região Metropolitana.
A Cidade estuda a possibilidade de um programa de expansão da rede de metrô e de
modernização do sistema de trens urbanos, com o objetivo de constituir-se uma única malha
de transportes integrados que terá o padrão de qualidade do metrô. Sistemas de VLPs e VLTs,
ciclovias e ônibus comuns complementariam a rede. Em outra frente, o governo federal
trabalha para agilizar uma rede de trens de alta velocidade, que ligará São Paulo ao Rio de
Janeiro, com conexão a Campinas, onde está localizado o Aeroporto Internacional de
Viracopos e passando pela cidade de São José dos Campos, importante polo tecnológico e
industrial do país. O governo promete realizar a licitação ainda em 2009, com a perspectiva de
que o sistema já esteja em operação até 2014, mas alguns técnicos questionam a viabilidade
desse prazo. Três terminais rodoviários (Tietê, Jabaquara e Barra Funda) integrados ao metrô
complementam a infraestrutura de acesso à cidade, recebendo ônibus de todas as regiões
brasileiras, Cone Sul e Bolívia. Um quarto terminal está previsto no bairro de Vila Sônia,
próximo ao Estádio do Morumbi. Esta instalação terá característica de Terminal Internacional,
pois receberá as linhas com origem na Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
Para sediar a Copa 2014, e ao mesmo tempo consolidar-se como uma “cidade
mundial”, a capital paulista está empenhada na modernização de sua estrutura aeroportuária.
Para tanto, a Infraero desenvolveu planos de modernização dos três aeroportos internacionais
que servem a região. As obras de modernização do Aeroporto Internacional de Congonhas,
localizado na zona sul da capital, demandarão investimentos da ordem de R$ 165 milhões, e
incluem: conclusão do mezanino da ala sul, nova torre de controle, recuperação das placas do
pátio de aeronaves, reforma da ala norte e reforma do saguão central. A torre de controle está
prevista pare entrar em operação já no próximo mês de outubro.
No Aeroporto Internacional de Guarulhos a construção do terceiro terminal de
passageiros é uma das obras planejadas pela Infraero para a Copa, além da construção de
saídas rápidas e a ampliação de pátios e áreas de taxiamento de aeronaves. A reforma
envolverá um custo de aproximadamente R$ 1,4 bilhão, com previsão de entrega da primeira
etapa de obras em 2011 e conclusão final em 2014.
O Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, a 100 km de São Paulo,
passará a ser o principal articulador da malha aeroviária brasileira, segundo os planos da
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Infraero para 2014. O projeto está avaliado em 2,8 bilhões e compreende uma segunda pista
de pouso e decolagem (conclusão prevista para 2013) e a construção da primeira parte do
novo terminal de passageiros, que será finalizado somente em 2015.
7. Considerações Finais
A humanidade executa projetos desde os primórdios da civilização. As caçadas
organizadas por nossos ancestrais e a construção das grandes maravilhas do mundo, como as
Pirâmides ou a Grande Muralha da China, podem ser consideradas como tal. Guardadas as
devidas proporções em relação à época em que foram realizadas, essas obras podem ser
comparadas a grandes projetos atuais. Por serem temporários os projetos têm,
obrigatoriamente, início e término definidos, diferenciando-se de operações contínuas. Essa
característica não indica, necessariamente, que sejam curtos ou longos, mas apenas que são
iniciados, evoluem e, por fim, são finalizados.
No princípio da gestão de projetos, o sucesso era medido apenas em termos técnicos,
ou seja, o produto era avaliado como adequado ou inadequado. Contudo, à medida que as
empresas começaram a entender cada vez mais os processos do gerenciamento, a definição de
sucesso se alterou para englobar o cumprimento dos prazos e os custos estimados. Além
disso, a qualidade do produto passou a ser definida pelo cliente e não mais pelo fornecedor.
No entanto, nem mesmo essa definição mais abrangente pode ser considerada completa.
Atualmente, a definição mais adequada é aquela que enuncia que um projeto pode ser
considerado como um sucesso se foi realizado dentro do prazo, orçamento e nível de
qualidade desejado e atendeu às expectativas do cliente e principais interessados stakeholders,
incluindo a equipe do projeto, órgãos reguladores e ambientais.
O maior e principal desafio para a cidade de São Paulo envolve os problemas de
acesso e mobilidade. A cidade pode e deve aproveitar o momento da Copa para desenvolver
projetos de sistemas de transporte e atrair investidores privados. Para o evento de 2014, o
desafio é construir a tempo a linha de trem rápido São Paulo-Rio-Campinas. Mas o principal
legado da Copa seria a constituição de sistemas de transporte de massa na Região
Metropolitana.
Um segundo ponto envolve a exposição que a cidade terá durante a Copa, permitindo
que São Paulo se consolide como um centro mundial de negócios, especialmente nas áreas de
serviços de tecnologia da informação, exploração marítima de petróleo, transformação de
carnes e biocombustíveis, entre outras. O principal “gargalo” para esse objetivo são as
instalações para abrigar megafeiras, exposições e congressos internacionais. O complexo do
Anhembi pode ser considerado acanhado, diante das grandes feiras como as de Milão,
Frankfurt, Nova York ou Barcelona. Apenas para abrigar a Conferência Internacional da Fifa,
que acontece simultaneamente à abertura da Copa, será necessário um plenário para pelo
menos 5.000 congressistas, ainda inexistente em São Paulo. A prefeitura da cidade já tem um
projeto para a implantação de um complexo de grande porte em Pirituba, zona norte da cidade
e a implantação desse conjunto até 2013, é um dos principais desafios de São Paulo para
sediar a Copa 2014.
Um terceiro desafio, que poderá ser um legado pós-Copa, envolve a resolução dos
problemas de degradação urbana no centro da cidade e que exige tanto investimentos em
projetos de urbanização e paisagismo, como o maior rigor nas áreas de limpeza pública e
assistência social. Ainda cabe destacar a necessidade de melhorar a qualidade do ambiente
construído e enfrentar o problema da poluição dos três principais rios que cortam a cidade, o
que demanda investimentos pesados em saneamento.
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