BIOGRAFIA
ABADE MANUEL JOAQUIM MACHADO REBELO
Nasceu o padre Manuel Joaquim Machado Rebelo, futuro abade de
Priscos, em 29 de Março de 1834, na freguesia de Santa Maria de
Turiz, concelho de Vila Verde, filho de proprietários rurais.
Concluídos os estudos teológicos no seminário de Braga e dita a
primeira missa em 1861, pastoreou sucessivamente as freguesias de
São Miguel de Cunha, Bastuço e Ruilhe, até se fixar definitivamente
em Priscos, também no concelho de Braga, onde exerceu o seu múnus
durante quarenta e sete anos, quase até à morte, ocorrida em 24 de
Setembro de 1930, ponto final numa longa e gloriosa vida de noventa
e seis anos.
Repleto de virtudes sacerdotais, exemplar no desempenho da sua
missão espiritual, homem de bem, pároco de conselho avisado e
generosidade pronta, foram outras, todavia, as qualidades que o
celebrizaram e lhe deram foros de renome. Dotado de inatas e
diversificadas faculdades artísticas que sempre desenvolveu pela
prática e pela imaginação, dedica-se na mocidade ao teatro como
amador dramático, cria cenografias, montagens, indumentarias, dirige
a companhia de actores com rapazes e raparigas da terra, constituindo
um autêntico teatro popular. Igual paixão lhe mereceu a fotografia,
instalando laboratório e praticando-a durante muitos anos, tal como a
lanterna mágica, cuja evolução para a projecção de imagens
movimentadas e para o futuro animatógrafo adivinhou e anunciou.
Prendado de mãos, era-lhe familiar o corte de costura de branco,
bordava a oiro e a matiz com requinte lavor e era maravilhoso florista.
Mas todos estes predicados e dotes ficam atenuados perante o génio
com que cultivou a ARTE CULINÁRIA.
O abade de Priscos foi, sem dúvida, um dos maiores cozinheiros
portugueses do século XIX e como tal reconhecido em todo o País. O
seu estilo e a sua técnica radicam-se na escola francesa que, ao tempo,
exercia avassalador imperialismo culinário e cujos segredos dominava
completamente. Mas também o receituário regional português,
sobretudo o nortenho, tinha nele fervoroso adepto. Conseguiu até,
neste domínio, um saboroso sucesso fora de casa; precisamente em
Paris, aonde viajou em 1900, levando na bagagem postas do bom
bacalhau que havia então e que cozinhadas a seu modo no hotel em
que se instalara provocaram o êxtase ao dono do hotel e aos demais
comensais gauleses. Ao longo da sua longa existência executou
centenas de sumptuosas refeições de gala para homenagear reis,
príncipes, prelados, ministros, figuras gradas da aristocracia, da
política, das artes e das letras. Depois era a hora do seu génio culinário
entrar em acção, dos seus dedos e paladar criarem obras-primas com o
auxílio da misteriosa maleta que sempre o acompanhava, onde
guardava misteriosos elixires, condimentos raros e temperos
desconhecidos, segredos pessoais da sua arte, na qual se julgava estar
o seu livro de receitas. No entanto tal livro nunca foi encontrado aliás,
segundo relatos das pessoas que conviveram com ele, ele nunca
escrevera tal livro, pois, segundo o próprio, as receitas estavam nos
seus dedos e paladar.
A alguém que lhe pediu uma colecção de receitas escritas,
objectou: “ É impossível dar-lhes com as receitas os dedos das minhas
mãos e o meu paladar. A culinária é uma arte muita bela, mas depende
inteiramente do artista que a pratica. Quer uma prova do que digo?” E
a prova ali foi feita, confeccionando o abade e o cozinheiro da casa
cada um seu pudim, precisamente com a mesma composição; eram
duas coisas totalmente diferentes e o talento triunfou. Pela sua
maestria gastronómica foi o padre Machado Rebelo agraciado pelo rei
D. Luís com o título de capelão honorário da Casa Real logo em 1874.
Os dias 11 de Julho de 1883, 28 de Maio de 1888 e 27 de Julho
de 1891 ficaram gravados a oiro nos anais de Priscos e devem ter
constituído as datas mais significativas na história da culinária
nacional. Nesses dias gloriosos o abade de Priscos e João da Mata
fecharam-se na cozinha e deram asas à sua arte e fantasia. É triste mas
há só uma. Uma única receita do Machado Rebelo, anda registada
pelos livros. É o seu famoso pudim de toucinho ou pudim do Abade
de Priscos. Será essa a melhor homenagem que se poderá prestar à
memória do santo abade de Priscos, glória imorredoira da gastronomia
portuguesa.
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