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UF
2010/02/05
Bolachão, o retorno
Estado de Minas
Em Cultura
MG
Bolachão, o retorno
Polysom, única fábrica de discos de vinil da América Latina, volta a produzir. Entre os lançamentos, de
um mercado em crescimento, títulos de Nação Zumbi e Fernanda Takai
Ailton
Magioli
Euler Junior/EM/D.A Press
Frequentador assíduo da Loja Discos Raros, no Centro de Belo
Horizonte, o funcionário público Luiz Gustavo é prova incontestável da
força da velha bolacha, em pleno século 21. Na faixa dos 30 anos, o
rapaz descolado, que prefere não dar entrevistas, adquiriu 11 LPs (entre
novos e usados) de heavy metal de uma única tacada, na tarde de
quarta-feira, pagando R$ 342 pela compra. Vira e mexe ele está aqui,
conta o vendedor Rogério de Jesus, lembrando que os colecionadores
são o alvo da loja, que funciona há duas décadas no mesmo local,
conquistando a clientela pela qualidade do serviço prestado.
De olho neste segmento de consumo, a Polysom única fábrica de vinil
da América Latina acaba de reabrir as portas em Belford Roxo, na
Baixada Fluminense, de dono novo, anunciando o lançando no formato
dos mais recentes discos de Fernanda Takai (Onde brilhem os olhos
teus), Pitty (Chiaroscuro), Nação Zumbi (Fome de Tudo) e Cachorro
Grande (Cinema), que vão chegar às lojas no mês que vem. A nossa
capacidade instalada é de produzir até 28 mil LPs/mês, além de 12 mil
compactos no mesmo período, diz o empresário João Augusto,
também proprietário da gravadora independente Deckdisc, que lançou os
quatro títulos originalmente em CD. Segundo João, em breve a fábrica
será responsável pela edição em vinil de RocknRoll, de Erasmo
Carlos (em lançamento do selo Coqueiro Verde), e de toda a discografia
da banda Legião Urbana, de propriedade da EMI.
Depois de mais de dois anos de paralisação, a Polysom retoma as
atividades para atender a uma demanda crescente de mercado. A
equipe da fábrica de vinil é formada por 10 pessoas, incluindo antigos e
novos funcionários. Ainda que a Associação Brasileira de Produtores de
Discos (ABPD) não realize pesquisas sobre o produto por aqui, de
acordo com João Augusto, só nos Estados Unidos foram vendidos 2,5
milhões de unidades no ano passado. Pesquisa da Nielsen Soundscan
documentou um crescimento de mais de 100% da venda de vinil, nos
Estados Unidos, de 2007 a 2008, e algo em torno de 40% entre 2008 e
2009, relata o empresário. Se acontecer no Brasil o que houve no
mercado americano, diria que o nosso potencial é de 10% disto,
anualmente. Mas é uma coisa que vai começar em uma rampa de
subida, não em uma escada, alerta.
No Brasil, as grandes gravadoras deixaram de produzir no formato em
1998, transformando a bolacha em alvo de colecionadores,
principalmente. Os primeiros lançamentos da Polysom/Deckdisc terão
tiragem limitada, mas com capacidade de reposição automática,
segundo o proprietário da gravadora e da fábrica. O disco de Pitty, por
exemplo, vai sair com 700 unidades. Já os de Fernanda Takai e das
bandas Nação Zumbi e Cachorro Grande saem com 500 unidades, cada.
O preço dos LPs vai depender de cada loja. Tenha certeza de que vai
ser mais caro do que eu gostaria, porque não está sob nosso controle a
questão dos impostos, lamenta João Augusto. Preocupado, o
empresário diz que vai procurar o Ministério da Cultura (MinC) para
reivindicar a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
para os discos.
Peso do imposto
O nosso custo fica alterado em cerca de 70% por causa de impostos.
Chega a ser vergonhoso o que nós temos de pagar, lamenta ele,
negando-se a revelar números. Conforme João Augusto, cada formato
tem uma especificação. Mas a gente parte do princípio de que uma
coisa que pode ser 10 sai a 17 na mão de um independente. A função
fundamental da Polysom era atender os independentes, responsáveis
pela grande demanda do vinil no Brasil. O imposto que eles tinham de
pagar acabava inviabilizando o negócio. Indiferentes à polêmica,
empresários, governo, vendedores e consumidores da velha bolacha
seguem à procura de raridades.
Se não corrermos atrás, não sobrevivemos, justifica Samuel Estevam
de Souza, o proprietário da Discos Raros. Com o dólar em baixa,
chegamos a importar muita coisa, comemora o comerciante. Ele
lamenta que, com a alta atual da moeda norte-americana, a importação
começa a ficar difícil. Dono de acervo de cerca de 40 mil LPs e número
um pouco menor de CDs, ele dividiu a loja em dois setores para atender
a clientela, que, segundo revela, vem até do exterior para adquirir discos
raros. Os japoneses vêm de duas a três vezes no ano para comprar
LPs de MPB.
Experiência sensorial
De acordo com levantamento do site da Discoteca Pública, mantida e
criada pelo baiano Edu Pampani, com o apoio das leis de incentivo,
atualmente existem mais de 30 lojas que comercializam vinil em Belo
Horizonte, atraindo principalmente colecionadores. No Mapa do Vinil,
além de divulgar o endereço, o empreendedor cultural dá dicas úteis
para os adeptos do formato. Nas imediações da Rua Padre Belchior,
no Centro, é possível encontrar equipamentos e discos antigos, basta ter
um pouco de paciência; para comprar agulhas na Rua Carijós, entre a
Avenida Olegário Maciel e Rua Guarani, existem várias lojas de
eletrônica; Edifício Maletta, Galeria Praça Sete e Edifício Belo Horizonte
são locais onde se concentram muitas lojas de discos. Vale a pena
conferir, lista o site.
Criada há cinco anos, a discoteca tem acervo de 12 mil LPs, além de
CDs. O catálogo dos independentes mineiros contabiliza mais de mil
títulos, propagandeia Edu. Ao lado de Maurício Reis, um dos pioneiros
do negócio do vinil na capital, o baiano criou a Feira do Vinil, para troca e
venda do produto, cujas edições bimestrais costumam se alternar entre o
Bazar Miragem (amanhã, das 9h às 17h), de propriedade de Maurício, e
a discoteca (a próxima está agendada para 6 de março) criada por Edu.
Entre as vantagens do vinil apontadas pelo empresário João Augusto
estão as experiências tátil (poder tocar, sentir o peso), visual (as capas
geralmente são maravilhosas, além dos encartes) e auditiva (se benfeito,
comprovadamente a audição é muito agradável). Mas um LP com mais
de 45 minutos de música é temerário, alerta. João Augusto acusa as
grandes gravadoras de destroçarem o CD, hoje completamente
desglamourizado. Para o novo proprietário da Polysom, pirataria e semvergonhice generalizada são alguns dos responsáveis pela morte
decretada do CD.
MAPA DO VINIL EM BH
Discoteca Pública
Rua Machado, 207, Floresta, (31) 3036-2919
www.discotecapublica.com.br
Segunda a sexta, das 10h às 19h
Feira do Vinil
Bazar Miragem
Rua Pernambuco, 1.000, Galeria Inconfidentes, Savassi, (31) 3261-4310
Amanhã, das 9h às 17h (a loja funciona de segunda a sexta, das 9h às
19h; sábado, das 9h às 13h)
Loja Discos Raros
Rua São Paulo, 1.307, Centro, (31) 3222-1164
Segunda a sexta, das 9h às 19h; sábado,
das 9h às 13h
Venda e manutenção
de equipamentos
Som Alternativo
Rua Paraíba, 1.378/ Lojas 114 e 115,
Savassi, (31) 3223-2248
Segunda a sexta, das 9h às 19h;
sábado, das 9h às 13h
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