Paranóia ou Mistificação
• A polêmica aconteceu quando foi realizada a segunda exposição de Anita Malfati, em São
Paulo, no ano de 1917.
• Monteiro Lobato, conhecido e respeitado intelectual da época, ao visitar a exposição “se
assustou” com o que viu e acabou publicando no Jornal O Estado de São Paulo o famoso
artigo “Paranóia ou Mistificação”. Leia alguns fragmentos a seguir:
“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e
em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a
concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres (...)”
“A outra espécie é formada dos que vêem anormalmente a natureza e a interpretam à
luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva. São produtos do cansaço e do
sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao
nascedoiro. (...)
Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam
acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias
de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas
vezes, através de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas
qualidades latentes.”
“Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como sua autora é independente, como
é original, como é inventiva (...) Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama de arte
moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibílissimo, e põe todo o seu talento
a serviço duma nova espécie de caricatura. (...)”
“Sejamos sinceros; futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de
outros tantos ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não há até
agora penetrado. Caricatura de cor, caricatura da forma – caricatura que não visa, como a
primitiva ressaltar uma idéia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador. (...)”
• Após o ocorrido, Anita receberia o apoio e o incentivo de outros “futuristas”, como Mário de
Andrade e Oswald de Andrade.
• A eles, ainda se juntaria outras duas pessoas, Mennochi del Picchia e Tarsila do Amaral,
formando o que se chamaria, mais tarde, o Grupo dos Cinco.
• Em contínuos encontros e debates acerca das artes brasileiras, o grupo acabou por tornarse um dos precursores de nosso Modernismo.
• Quando, em 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, Anita Malfati havia se tornado a
mártir das artes brasileiras.
• Defendendo posturas nacionalistas, sem negar os estrangeirismos, no caso as Vanguardas
Européias, os modernistas propunham uma busca constante de uma arte tipicamente
brasileira, que apresentasse elementos até então negligenciados pelos movimentos literários
anteriores a eles.
• Observemos um de seus lemas:
“Nós não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos.”
• O primeiro momento de nosso Modernismo ficou conhecido como Fase de Procura, pois
uma de suas mais importantes teorias era a do direito à pesquisa estética, ou seja, buscar o
novo, fazendo experimentações, mas sem se desvincular do que era nacional.
• Nessa linha de raciocínio se desenvolveram importantes movimentos dentro do
Modernismo, como por exemplo:
• Manifesto Pau-Brasil (1924):
“Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.
Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação.
E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.”
• Assim, a polêmica de Lobato com Anita acabou se tornando um dos mais famosos
episódios de nossa história da arte.
Organização: Professor Gilmar Ramos de Souza
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