TRILHA DAS FUNÇÕES ORGÂNICAS Atsler Luana Lehun1 – UNESPAR FAFIUV Juliana Burzynski2 – UNESPAR FAFIUV Ana Carolina de Deus Bueno Krawczyk 3 – UNESPAR FAFIUV Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Os jogos didáticos têm como o objetivo estimular o aprendizado, raciocínio e a criatividade do estudante, utilizando a prática e a teoria para um maior interesse sobre o tema a ser tratado. Pensando nisso, foi elaborado um jogo-trilha para que os professores de Ciências tenham mais uma opção ao trabalhar os conteúdos de ligações químicas e funções orgânicas. Foi confeccionada uma trilha com 60 casas em tecido TNT, nas dimensões de 3m x4m e um dado feito com papelão e EVA. Para iniciar o jogo “Trilha das Funções Orgânicas” são necessários dois alunos, os quais devem jogar o dado, um de cada vez, e quem tirar o maior número começa o jogo. Os alunos devem trilhá-la seguindo as regras do jogo e o número de casas que tiraram ao jogar o dado em cada rodada subsequente. Em determinadas casas existe uma função orgânica, que indica que o participante terá que cumprir alguma atividade, correspondente ao indicado no cartão que pertence à casa, no qual sempre terá uma imagem de produto comercializado que tenha em sua fórmula a função orgânica pedida no jogo, com uma breve descrição do próximo passo a ser seguido pelo jogador. Normalmente se a descrição e imagem do cartão mostra uma má aplicação dessa função orgânica, o participante terá que cumprir uma penalidade, mas se a aplicação resultar em algo benéfico para a sociedade como um todo, o participante deve seguir no jogo normalmente. Nesse sentido, os participantes devem cumprir as regras contidas nos cartões, até um deles chegar ao fim da trilha, tornando-se o vencedor. Desse modo, acredita-se que o envolvimento dos alunos favorecido pelos jogos didáticos facilitam a compreensão e a aprendizagem de uma forma mais divertida e interativa. 1 Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR, Campus de União da Vitória. Bolsista do projeto PIBID da Capes. E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR, Campus de União da Vitória. Bolsista do projeto PIBID da Capes. E-mail: [email protected] 3 Licenciada em Ciências Biológicas pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória (2007) e especialização em Biologia - Manejo Integrado de Fauna e Flora (2008) pela mesma instituição. Mestrado em Ciências Biológicas, área de concentração em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) (2011). Doutorado em andamento em Ecologia e Conservação pela mesma instituição. É Professora efetiva da Universidade Estadual do Paraná, campus de União da Vitória. Integra os grupos de pesquisa Poluentes Ambientais e Saúde Animal da UFPR e Biodiversidade e Conservação da UNESPAR. Atuação principal em ecologia de rios e lagos, com ênfase no estudo de comunidades de invertebrados bentônicos como ferramenta no monitoramento ambiental e uso de biomarcadores em biomonitoramento. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 11591 Palavras-chave: Jogos Didáticos. Funções Orgânicas. Introdução A escola deve ser o espaço institucional responsável e capacitado para a função de ensinar, e, sendo assim, ela deve ter em seu escopo a utilização de métodos eficazes para alcançar o objetivo final que é a aprendizagem dos alunos. Isto porque a escola é vista como o ambiente ao que se refere o conhecimento elaborado, não o espontâneo, é o saber sistematizado e não fragmentado (SAVIANI, 1985, p. 19). Desta forma, o ensino da área de Ciências deve superar a transmissão de conteúdo e permitir que os alunos sejam autores da construção do conhecimento científico que o ambiente escolar subsidia (FREIRE, 1996). Uma das metodologias que podem ser incorporadas na prática pedagógica em Ciências são os jogos didáticos, pois podem estimular o raciocínio e a criatividade, representando uma forma de se educar, ensinar o conteúdo e, isso, com descontração, favorecendo a espontaneidade dos alunos durante os momentos de interação. Esses jogos são diferenciados de outros materiais didáticos, pois proporcionam uma forma de aprendizagem mais proveitosa e lúdica, estimulando a socialização e o diálogo entre alunos e professores. Há vários conceitos para a palavra jogo, mas sua definição em origem vem do latim, jocu, que significa “gracejo” (FIN, 2006), e abrange, entre vários aspectos, o divertimento, a competição entre os participantes, bem como regras que devem ser observadas por eles. Desta forma, quando o professor estipula esta metodologia como auxiliar nas suas atividades com o conteúdo teórico, favorece que os alunos divirtam-se cumprindo regras e tendo uma aprendizagem significativa. Esta força motriz que os jogos representam faz com que, no entendimento dos alunos envolvidos ocorra o preenchimento de lacunas e fixação do conteúdo no processo de aprendizagem, pois apresenta várias informações sob diferentes aspectos. Jogando, o aluno é motivado a aprender e contextualizar o conteúdo aprendido em sala de aula com a realidade fora dela. Notoriamente, as atividades lúdicas, como brincadeiras e os jogos, são reconhecidos pela sociedade como meio de fornecer ao individuo um ambiente agradável, motivador, prazeroso, planejado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem de várias habilidades. Outra importante vantagem no uso de atividades lúdicas é a tendência em motivar o aluno a participar espontaneamente na aula. (PEDROSO, 2009, p. 02). 11592 Por possuírem regras, os jogos proporcionam o desenvolvimento da concentração, pois proporcionam o desenvolvimento da concentração, da iniciativa e a criação de estratégias, para que o objetivo da atividade seja conseguido. Segundo Campos, Bortoloto e Felicio (2003, p. 59), “o jogo alia aspectos lúdicos e cognitivos, sendo assim, o jogo é uma importante estratégia para o ensino e aprendizagem de conceitos abstratos e complexos [...]”. Fortuna (2003, p. 15-19) relata que durante o jogo, “o aluno desenvolve a iniciativa, a imaginação, a memória, a atenção, a curiosidade e o interesse, concentrando-se por longo tempo a uma atividade”. Durante as etapas que envolvem o jogo que o aluno pode atribuir aos objetos significados diferentes, desenvolver a capacidade de abstração e começar a agir independentemente daquilo que vê, operando com os significados diferentes da simples percepção dos objetos. O jogo depende muito da imaginação e é a partir desta situação imaginária que se traça o caminho à abstração, por isso é imprescindível que a escola mantenha como um dos objetivos o pensamento abstrato por meio do processor imaginativo. (BRAGA et.al, 2007). No ensino de Ciências, especificamente os conteúdos que envolvem a Química, os jogos podem ser utilizados para relação e fixação de conteúdos ensinados na sala de aula pelo professor, pois são auxiliares na facilitação da aprendizagem dos conceitos químicos e biológicos que, muitas vezes, são complexos. Assim o aluno pode ser motivado à aprendizagem e a reflexão sobre temas estudados, o que o motiva a buscar os significados desses novos conceitos. Vários estudos e pesquisas mostram que o Ensino de Química é, em geral, tradicional, centralizando-se na simples memorização e repetições de nomes, fórmulas e cálculos [...] A Química, nessa situação, torna-se uma matéria maçante e monótona, fazendo com que os próprios estudantes questionem o motivo pela qual ela lhes é ensinada, pois a química escolar que estudam é apresentada de forma totalmente descontextualizada. Por outro lado, quando o estudo da Química faculta aos alunos o desenvolvimento paulatino de uma visão crítica do mundo que os cerca, seu interesse pelo assunto aumenta, pois lhe são dadas condições de perceber e discutir situações relacionadas e problemas sociais e ambientais do meio em que estão inseridos, contribuindo para a possível intervenção e resolução dos mesmos. (SANTANA, 2006). Este tipo de atividade lúdica não leva à memorização, mas induz o aluno a raciocinar e a refletir que são essenciais à aprendizagem significativa. Além disso, contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades, aumentando ainda mais a motivação dos alunos perante as aulas de Química, pois o lúdico é integrador de várias dimensões do aluno, 11593 como a efetividade, o trabalho em grupo e das relações com regras pré-definidas, promovendo a construção do conhecimento cognitivo, físico e social. (SANTANA, 2006). Os jogos permitem que os estudantes participem da avaliação do próprio jogo, de seus companheiros e façam uma auto avaliação do seu desempenho. Esse movimento acontece automaticamente durante a atividade como uma forma de autocontrole das ações e do próprio andamento do jogo (CUNHA, 2012). Em relação ao professor, mesmo na posição de observador de todo o processo, ele ganha um espaço precioso de avaliação de desempenho dos seus estudantes, tanto no que se refere às habilidades cognitivas, quanto ao que se refere às habilidades afetivas dos estudantes. Por outro lado, é importante que o professor intervenha no momento em que ocorre algum erro, pois o bom andamento das atividades de ensino depende diretamente da ação e mediação do docente, e é nesse momento que o estudante tem a oportunidade de refletir sobre o assunto em questão e progrida na sua formação (CUNHA, 2012). É importante que o professor estabeleça um trabalho em grupo com outros profissionais, relacionando o ato de educar e ensinar de maneira responsável e objetiva. O professor deve auxiliar na tarefa de formulação e de reformulação de conceitos ativando o conhecimento prévio dos alunos com uma introdução da matéria que se articule esses conhecimentos à nova informação que está sendo apresentada (POZO, 1998), e utilizando esses recursos didáticos para facilitar a compreensão do conteúdo pelo aluno. Desenvolvimento Muitas substâncias químicas estão presentes no corpo, no solo, no ar e em tudo ao seu redor. Os compostos orgânicos apresentam em sua estrutura o carbono, que, conforme outros agrupamentos de átomos se ligam, formará diferentes estruturas orgânicas. Cada função orgânica apresenta propriedades químicas semelhantes, deferindo entre si pelo grupo funcional. As funções orgânicas são agrupadas de acordo com sua similaridade química e são classificadas em: alquil, álcool, éter, amina, tiol, sulfídio, aldeído, cetona, ácido carboxílico, éster, amida e o ácido clorido. (FARIAS, 2014). As funções orgânicas estão presentes em diferentes produtos em nosso comércio, como por exemplo, nos alimentos, na indústria cosmética e indústria farmacêutica. Em nosso corpo as funções orgânicas atuam em diferentes reações, sendo que algumas podem ser benéficas e outras maléficas para a saúde humana. 11594 Por se tratar de várias estruturas químicas, o jogo das Funções Orgânicas foi elaborado a fim de favorecer o entendimento do aluno em relação às estruturas de cada uma dessas funções orgânicas bem como a aplicação dessa função nos produtos comumente comercializados e reconhecidos pelo aluno no seu cotidiano, com intuito de estimular a aprendizagem do aluno e despertar o interesse pelos conceitos de Química envolvidos bem como pelo reconhecimento de sua importância na sociedade. Confecção da Trilha A base da trilha constituiu em um tecido TNT nas dimensões de 3x4m e o trajeto da trilha foi feito com outro TNT nas dimensões 3x4m. Base e trajeto foram costuradas e foram desenhadas no trajeto 60 casas com tinta guache branca, que irá auxiliar e determinar em qual casa o jogador irá ficar e realizar tarefas. As funções orgânicas foram desenhadas, recortadas e montadas em EVA. Também foram feitos envelopes, que foram costurados nas casas onde havia uma função orgânica, contendo cartões com a respectiva aplicação de cada função orgânica no comercio e a atividade que o jogador deve realizar. Para os jogadores avançarem as casas e interagirem, foi confeccionado um dado nas dimensões de 50x40cm utilizando uma caixa de papelão e EVA para encapá-la e para fazer os números correspondentes a cada lado do dado. Instruções do jogo Para jogar a Trilha das Funções Orgânicas são necessários dois participantes. Primeiramente, cada participante joga o dado, um de cada vez e quem tirar o maior número começa o jogo. Ao trilhá-la, em determinadas casas estará destacada uma função orgânica, que indica que o jogador terá que pegar o cartão correspondente à casa, no qual sempre terá uma imagem do produto comercializado que tenha em sua composição a função orgânica destacada. Também haverá junto ao cartão, uma breve descrição do próximo passo a ser seguido pelo jogador. Normalmente se a descrição e a imagem do cartão mostrarem uma má aplicação dessa função orgânica, que envolve o desiquilíbrio ambiental causado pelo produto químico, o participante terá que cumprir uma penalidade, podendo ser prejudicado no jogo, mas se a aplicação resultar em algo benéfico para a sociedade como um todo, o participante deve 11595 seguir no jogo normalmente. Nesse sentido, os participantes devem cumprir as regras contidas nos cartões, até um deles chegar ao fim da trilha, tornando-se o vencedor do jogo. Considerações Finais Espera-se que com o jogo Trilha das Funções Orgânicas, os alunos adquiram conhecimentos de uma forma mais divertida e prazerosa, pois além de adquirir esse conhecimento, o aluno desenvolverá o raciocínio, a motivação, a criatividade, capacidade de resolver problemas e entender regras. Os jogos e atividades lúdicas possibilitam uma maior interação entre o professor com o aluno, possibilitando o diálogo que muitas vezes não se faz presente na sala de aula. Possibilita ao aluno a compreensão de termos e conteúdos complexos, incentivando o aluno a buscar os significados desses conceitos, pois eles se envolvem nesse conteúdo de uma forma descontraída e divertida, deixando de lado a rotina de sala de aula. Os jogos não devem substituir esse conteúdo programático, e sim servir para auxiliar, complementar e fixar aquele conteúdo, esclarecer as duvidas que muitas vezes os alunos questionam-se, mas tem vergonha de perguntar ao professor. Por isso, os jogos são excelentes recursos para o professor utilizar no processo de ensino como facilitador da integração, socialização e aprendizado de seus alunos. REFERÊNCIAS BRAGA, A. J.; Araújo, M. M.; SILVA VARGAS, S. R.; LEMES, A. Uso dos jogos didáticos em sala de aula. 2007. Disponível em: <http://guaiba.ulbra.br/seminario/eventos/2007/artigos/letras/242.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2015. Rio Grande do Sul. CAMPOS, L. M. L.; BORTOLOTO, T.; FELICIO, A. K. C. A produção de jogos didáticos para o ensino de Ciências e Biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. Caderno dos Núcleos de Ensino, p. 47-60, 2003. CUNHA, M, B. Jogos no Ensino de Química: Considerações Teóricas para sua utilização em sala de aula. Química Nova na Escola. Vol. 34, Nº 2, p. 92-98, 2012. FIN, C. R. P. Um estudo sobre a utilização de objetos de aprendizagem computacionais voltadas para o ensino de ortografia. UFRGS, Porto Alegre, 2006. FORTUNA, T. R. Jogo em Aula. Revista do Professor, Porto Alegre, v.19, n.75, p.15-19, 2003. 11596 FARIAS, F. M. C. Funções Orgânicas. Sala de Leitura. 2014. Disponível em: <http://web.ccead.pucrio.br/condigital/mvsl/Sala%20de%20Leitura/conteudos/SL_funcoes_organicas.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2015. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. PEDROSO, Carla Vargas. Jogos Didáticos no Ensino de Biologia: Uma proposta pedagógica baseada em módulo didático. UFMS, 2009. POZO, J. I. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. SANTANA, E. M. A Influência das Atividades Lúdicas na Aprendizagem de Conceitos Químicos. Universidade de São Paulo, Instituto de Física. São Paulo, SP. 2006. SAVIANI, D. Escola e Democracia. 8ª. ed. São Paulo, SP. Cortez/Autores Associados, 1985.