O diretor
Marista
e sua gestão
a serviço
da missão
Orientações para a formação
dos diretores na América Marista
O diretor Marista
e sua gestão
a serviço
da missão
Orientações para a formação
dos diretores na América Marista
Documento coordenado e revisado pela Subcomissão de Formação de Diretores Maristas da América
Ernesto José Reyes Plaza (Província Santa Maria dos Andes)
Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz (Província Brasil Centro-Norte)
Irma Zamarripa Valdez (Província México Ocidental)
Ir. Luis Carlos Gutiérrez Blanco (Província América Central)
Mércia Maria Silva Procópio (UMBRASIL)
Reconhecimentos e agradecimentos
Coordenação de partilha na plataforma cibernética: Irma Zamarripa Valdez
Aporte do Brasil Marista
Coordenação: Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz e Mércia Maria Silva Procópio
Grupo de redação
Eder D’Artagnan Ferreira Guimarães
Ir. Iranilson Correia de Lima
Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz
Ir. Paulinho Vogel
Maria Ireneuda de Souza Nogueira
Maria Waleska Cruz
Mércia Maria Silva Procópio
Ricardo Santos Chiquito
Revisor técnico: Ricardo Tescarolo
Colaboradores
Ernesto José Reyes Plaza
Juan Ignacio Fuentes
Ir. Luis Carlos Gutiérrez Blanco
Mariano Varona
Irma Zamarripa Valdez
Revisores técnicos:
Aldo Passalacqua
Álvaro Sepúlveda
Mariano Varona
Leigos(as):
Ana Saborio
Annabel Correa
Alfonso de Jesus Chavez
Carlos Navajas
Eder Dartagnan Ferreira Guima
Raúl Amaea
Raúl Cheix
Desenho e diagramação:
Cristian Arriola (Departamento de Desenho e Informática Setor Chile, Província Santa Maria dos Andes)
2
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
SUMÁRIO
Introdução
4
CAPÍTULO 1
Chamados contemporâneos para a missão a partir do XXI Capítulo Geral 7
CAPÍTULO 2
A escola marista a caminho da nova terra: perspectivas contemporâneas
22
CAPÍTULO 3
A missão do Diretor Marista na escola de hoje
28
CAPÍTULO 4
Princípios da formação dos Diretores Maristas
34
CAPÍTULO 5
Objetivos da formação de Diretores Maristas da América
38
CAPÍTULO 6
Núcleos de formação para Diretoria Marista
41
CAPÍTULO 7
Pautas para uma metodologia da formação de Diretores
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
64
Referências Bibliográficas
ANEXO 1
Hoje é o mais belo dos dias
ANEXO 2
Chamadas para a formação de um Diretor, desde a espiritualidade
67
70
84
SUMÁRIO
3
Introdução
1. A Comissão Interamericana da Missão, em seu Plano de Ação 2002-2009, estabeleceu como um dos programas para o Continente Americano a Formação de
Diretores das Unidades Administrativas Maristas. Portanto, constituiu uma Subcomissão, dependente dela, responsável por desenvolver um modelo de formação
dos diretores da América, com o propósito de prepará-los para uma administração
educativa alinhada aos contextos contemporâneos.
2. A Subcomissão, constituída por dois Irmãos, uma leiga e um leigo das regiões
da América, começou sua tarefa envolvendo as onze províncias e dois distritos da América para um diagnóstico que subsidiou todo o percurso percorrido.
A análise dos questionários evidenciou a necessidade de: (i) integração entre as
Unidades administrativas; (ii) alinhamento de conceitos relacionados à administração, carisma e missão; (iii) formação humana, bíblica, teológica e marista aprofundada; e (iv) definição de políticas educacionais, ferramentas de administração
e estratégias de formação que orientem o diretor marista em sua missão educativa
e evangelizadora com foco nos resultados, no comprometimento com o carisma
marista e suas áreas de missão.
4
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
3. Esse diagnóstico revelou luzes e sombras nas realidades educacionais dos estados
e distritos, assim como questões para aprofundar os processos formativos dos
diretores. Pretendemos, ao longo do documento, fortalecer e vitalizar o que é
luz para o nosso caminho; investigar as sombras e lacunas como emergências da
missão do diretor, as quais exigem intervenção sistemática; e apontar orientações
para os processos formativos desenvolvidos com os diretores das Américas.
4. Vemos como luzes o fato de todas as províncias e distritos terem seus setores
educacionais estruturados que contam com especialistas em tempo integral para
o exercício da missão no ambiente educacional; a comprovação de que há alguns
programas sistemáticos que incluem pós-graduação para os gestores além da
existência de variados documentos e elaborações teóricas que definem posições,
instâncias, competências, funções e atribuições dos diretores.
5. São lacunas: (i) a ausência de uma política educacional desenhada em um formato complexo e sistêmico, no qual carisma, gestão e missão dialoguem constantemente, com pautas para avaliação, desenvolvimento de novas habilidades e
preparação de futuros diretores; (ii) a fragilidade dos processos formativos; (iii) o
acompanhamento assistemático, a ausência de estratégias de retenção de talentos
e o descobrimento de novos líderes para a gestão educativa.
6. São temas que devem ser aprofundados nos processos formativos: (i) necessidade de programas sistemáticos que contemplem formação humana, bíblico-teológica, pastoral, espiritual, marista, sociopolítica; (ii) olhar sobre a cultura juvenil
- protagonismo e garantia dos direitos das crianças, adolescentes e jovens; (iii)
multiculturalismo e eclesialidade nas obras maristas; (iv) domínio da tecnologia
educativa - a utilização dos meios sociais e a presença nos ambientes virtuais;
(v) sintonia e integração dos processos de avaliação de desempenho, assim como
dos resultados com planejamento a curto, médio e longo prazo; (vi) definição de
estilos democráticos e horizontais de direção, de forma a favorecer a autonomia
responsável, compartilhamento de responsabilidades entre Irmãos, leigas e leigos
nos processos de gestão; (vii) enfoque em conteúdos básicos de gestão estratégica, como interpretação dos cenários, análise do mercado, orçamento, recursos
e potencial humano, habilidade no trato interpessoal, trabalho em equipe, clima
organizacional, comunicação, processo ensino-aprendizagem, gestão curricular e
articulação com a comunidade educativa; (viii) conhecimento sobre Marcelino
Champagnat como gestor; e (ix) formação para a consciência crítica e o comprometimento solidário-formal.
INTRODUÇÃO
5
7. O processo de formação dos diretores das escolas maristas das Américas será
definido em função da missão e de seu comprometimento fundamental com
a evangelização e com uma educação de qualidade, que forme integralmente
pessoas humanizadas e humanizadoras, que deem respostas em espaço e tempo
contemporâneos, visando transformações eclesiais e sociais significativas. Para dar
visibilidade e corpo à Missão Educativa Marista em nossos ambientes educacionais, acreditamos que alguns elementos explicitam a missão e a dinâmica de vida
dos diretores, que “são desafiados a serem pessoas de visão, a viver o núcleo dos
valores maristas e a guiar outros em vivê-los”.1 A essência do diretor marista, mais
do que fazer, deve profetizar a missão com base no zelo para o uso evangélico dos
bens, do cuidado com a missão fundamental e da vivência do Carisma.
1 Missão Educativa Marista, 164
6
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
CAPÍTULO 1
Chamados Contemporâneos para a
Missão a partir do XXI CapÍtulo Geral
Sentimo-nos impulsionados por Deus a partir para uma nova terra,
que favoreça o nascimento de uma nova época para o carisma Marista.
(Documento do XXI Capítulo Geral)
8. O nascimento de uma nova época para o Carisma marista exige que compreendamos as realidades da sociedade contemporânea e as realidades das múltiplas
infâncias e juventudes.
9. O mundo contemporâneo apresenta contradições, paradoxos, possibilidades e
potencialidades. Somos uma sociedade marcada por um alto desenvolvimento
tecnológico, modelos econômicos excludentes, rompimento das fronteiras, desterritorialização dos sujeitos, multiculturalidade, novos diálogos religiosos, fundamentalismo, insustentabilidade da atual ordem socioecológica, novas infâncias
e juventudes, economia solidária, mercado justo, consciência ecológica, busca da
espiritualidade, globalização, sociedades emergentes, sociedades em decadência,
novas sociedades, novas relações de trabalho, novas configurações educacionais e
organizacionais.
10. O mundo contemporâneo parece se caracterizar pela ênfase em alguns valoreschave: equidade, democracia, justiça social, multiculturalidade, internacionalidade, solidariedade, espiritualidade, empreendimento, criatividade, ecologia, diversiCapítulo I
7
dade, sustentabilidade. São os desafios e oportunidades para evangelizar que nos
apresenta o mundo de hoje.
11. Para o Instituto Marista, a missão nesta contemporaneidade envolveu a construção
de novas relações marcadas por um novo sentido de vocação e de missão em que
Irmãos e leigos compartilham da mesma forma uma autonomia responsável.
Ambos contribuem de forma específica e complementar no desenvolvimento
dos diferentes aspectos da missão, e com base nessa realidade, vêm desenvolvendo
novos caminhos de espiritualidade e vida compartilhada. Essa corresponsabilidade fica mais intensa à medida que a liderança, a capacitação e a integração da
espiritualidade sejam mantidas em consistentes processos de formação e de crescimento ao longo de toda a vida, “em torno da mesma mesa”.
12. A complexidade desses cenários e seus efeitos, especialmente sobre as pessoas e
sujeitos em situação de vulnerabilidade, questionou os Maristas de Champagnat
a projetar sua missão em resposta aos desafios da contemporaneidade e às vozes
das crianças, adolescentes e jovens, o que resultou no XXI Capítulo Geral como
uma diretriz para “atuar com urgência para encontrar formas novas e criativas de
educar, evangelizar e defender os direitos das crianças e jovens pobres, mostrando
solidariedade com eles”.2
13. O Irmão Emili Turú (2010), Superior Geral, citando um dos protagonistas da obra
A Tempestade, de Shakespeare, nos lembra que “somos feitos do mesmo material
usado para tecer nossos sonhos”; “somos o que sonhamos ser”. A pergunta sobre
a identidade faz sentido. No entanto, permanece a convicção de que a identidade
nos foi dada pelo “somos”[…], e, principalmente, pelo que sonhamos ser. “Nossa
identidade é definida mais pelos nossos projetos que por nossas realizações, mais
por nossos sonhos que pela nossa realidade”.3 Falar sobre identidade, portanto, é
falar sobre a missão que nos define: conhecer Jesus Cristo e torná-lo conhecido,
amado e seguido, especialmente pelos nossos destinatários: crianças, adolescentes
e jovens pobres. Somos chamados à conversão, caracterizados pela sensibilidade
singular em situações de miséria, pobreza e injustiça que maculam a sociedade e
para dar respostas individuais, coletivas e institucionais efetivas. Somos chamados
para fazer a mudança com que sonhamos e para provocar que o sonho seja convertido em realidade na terra em que vivemos.
2 Documento do XXI Capítulo Geral
3 ROMERO RODRIGUEZ sj, José J. (2007), “Misión de Una Universidad jesuíta: retos y líneas de futuro [Missão de uma
Universidade jesuíta: desafios e linhas do futuro”. Revista de Fomento Social nº 247, jul-set 2007, p. 393-418, citado
pelo Irmão Emili Turú no discurso “Alguns sonhos para o futuro das IES maristas” no IV Encontro do conselho de reitores e
representantes da rede marista internacional de instituições de educação superior. Porto Alegre, 7 de outubro de 2010.
8
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
14. Neste sentido, entendemos a missão marista em quatro dimensões intrínsecas,
decorrentes da espiritualidade e alimentadas por ela:
Espiritualidade e
identidade marista
como ambiente
para as dimensões
EDUCAÇÃO
DEFESA
DOS
DIREITOS
EVANGELIZAÇÃO
SolidaridadE
Nota: A espiritualidade marista é o elemento básico que integra e nutre as dimensões
da missão, proporcionando uma identidade particular e gerando uma forma de interpretar e viver a missão no conjunto da vida cristã. As dimensões, como a educação, a
evangelização, a solidariedade e a defesa dos direitos das crianças mostram elementos
da missão e as expressam de maneira diferenciada, mas integradora. Vinculam-se mutuamente ao Carisma e ao momento atual. É imperioso enxergar a figura de forma
sistêmica e não linear, como a vida mesma, em forma dinâmica e integral. É a leitura
dos desafios ou “horizontes de futuro” da missão, fruto do XXI Capítulo Geral.
15. Para nos interiorizar na identidade da Espiritualidade Marista, que é determinante
para entender nossa atuação no mundo contemporâneo, convidamos a que todos
os diretores maristas das Américas se apropriem dos anexos deste documento,
onde serão delineadas concepções não perfunctórias que serão os eixos centrais da
respectiva formação e atuação.
Dimensão da educação
16. A educação é, para nós, espaço e tempo privilegiado de evangelização e promoção
humana.4 Reafirmamos que a educação de qualidade, libertadora e transforma4 Água da Rocha, 146
Capítulo I
9
dora é direito das crianças, adolescentes e jovens, a qual garante outros direitos.
Defendemos uma educação que cristalize a cidadania ativa e a rigorosa formação
humano-científica combinada com notáveis desempenhos acadêmicos, com princípios e valores aprofundados em nossa Missão Educativa Marista e organizados
em um currículo em sintonia com as exigências formativas das atuais infâncias e
juventudes. Promovemos uma educação que articula conhecimento, cultura, sentido, fé e vida estimulando o protagonismo infantojuvenil por parte dos educadores
e, principalmente, dos gestores.
17. Historicamente, adotamos um conceito de escola tradicional e linear, que incluía as
relações humanas, a sociedade e o mundo. O mundo é um projeto em movimento, e
os seres, objetos e tecnologias dialogam dinâmica e simultaneamente; portanto, os
desenhos, o ambiente e a arquitetura educativa devem acompanhar o movimento
do mundo de forma fluida, criativa e inteligente. Neste momento, existem muitos
fatores que ainda não foram suficientemente entendidos pela nossa escola marista:
as novas formas de comunicação, artes, relações interpessoais, sexualidades, masculinidades, feminilidades, línguas, músicas, simbologias, esportes, roupas, expressões
das várias tribos e grupos de jovens, lazer, entretenimento, jogos, expressões de fé.
Esses fatores apenas podem ser interpretados no universo plural, espaço-tempo em
que a escola está concretamente inserida.
18. Para que a escola marista cumpra com sua função social e missão educativa evangelizadora é necessário que seus ambientes, currículo e processos pastorais pedagógicos estejam focados nas necessidades e urgências das múltiplas infâncias, adolescências e juventudes, de modo que produza em seus contextos um estilo de educação significativa para os estudantes, que lhes garantam rotas formadoras complexas, multirreferenciais e multiculturais; que impulsionem o diálogo entre gerações
e com a comunidade local; que facilitem a interação e interconexão entre redes de
saberes, conhecimentos e valores necessários para a compreensão e interação com
e na sociedade contemporânea. Além disso, na perspectiva dos estudantes como
interlocutores da missão, exige-se que sejam utilizados os diferentes meios e redes
sociais como ferramentas de ensino-aprendizagem e espaço de interlocução afetiva
de relacionamento, cultural, eclesial e de produção de conhecimentos. Requer-se
ainda uma educação que forme “pessoas de verdade e felizes”, comprometidas com
a construção de um novo modelo de civilização e com uma cidadania planetária.
19. A educação marista é vivida num espaço-tempo dialógico. O processo educacional
é uma relação de vozes expressas pelos alunos, docentes, diretores, pais e diferentes
atores comunitários e sociais. Restritamente, a educação é um diálogo entre do10
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
centes e alunos, no qual devem ser resgatadas a voz e a palavra de todos eles. Os
alunos contribuem como agentes e como destinatários revelando seu pensamento,
sua sensibilidade e sua realidade. O diálogo é o espaço para a mútua compreensão,
a interação e o crescimento como pessoas. Não há educação sem diálogo respeitoso,
que seja tolerante, produtivo, criativo e pleno de sentido. Trata-se do diálogo que
alimenta nossa sustentabilidade e perenidade da missão.
20. O espaço para o lazer, o tempo livre na educação são uma oportunidade para o desenvolvimento da criatividade. O lazer é hoje um estratégico fator da vida social dos
jovens. As artes, o esporte, a socialização, em grupos ou redes, a diversão oferecem
interessantes subsídios para o desenvolvimento da criatividade e chances para que
o espaço educativo responda aos desafios que nos apresenta a cultura da juventude
atual. Esse lazer deve ser um local de convivência sadia entre todos os atores do
sistema educacional.
21. O diretor-educador expressa o melhor e mais nobre da sua profissão e do seu ser.
É um construtor de identidades e de potencialidades. Libera a energia positiva e
orienta seu crescimento, cultiva o caráter e a personalidade, ao mesmo tempo em
que desenvolve os valores. Dessa maneira se converte em guia do crescimento de
sua comunidade e educador no sentido mais amplo.
22. Destacamos que a educação marista, por ser uma educação realmente integral, deverá garantir processos de educação na fé, de corporeidade, de afetividade do pensamento, de sabedoria que promove o saber com sabor, traduzidos numa pedagogia
das pessoas no estilo de Maria – toda de Deus e tão humana – e uma pedagogia
da presença: afeto, diálogo, proximidade, respeito mútuo, autoridade, ética como a
extensão da pessoa de Maria.
23. Destacamos também a necessidade de que a educação marista promova o desenvolvimento de múltiplas competências de seus estudantes, como as mencionadas a seguir.
Competência das culturas religiosas
24. A competência religiosa consiste na possibilidade de realizar uma interpretação
religiosa do mundo. Essa competência tem quatro dimensões fundamentais: sensibilidade religiosa ou aptidão para perceber a dimensão afetiva da realidade; definição
de conteúdo acerca de uma opção religiosa da qual pode ser feita a interpretação do
mundo; comunicação religiosa ou aptidão linguística para expressar com precisão o
conteúdo de suas opções; e comportamento expressivo das atitudes religiosas, ou de
Capítulo I
11
aptidão, também para expressar, tanto de forma litúrgica quanto na maneira de participação na ação eclesial. Essa competência ajuda a realizar, por sua vez, um diálogo
com a diversidade religiosa do mundo, com uma atitude respeitável, pluricultural e
inter-religiosa.
Competências acadêmicas
25. Envolve a construção, investigação, sistematização e comunicação de saberes, conhecimentos, tecnologias configuradas como conteúdos curriculares (conjunto de
conceitos, discursos, valores, condicionantes socio-históricos do objeto de estudo).
São incluídas as perspectivas científicas, o método para compreender a realidade e
explicar os fenômenos naturais, sociais, humanistas para o desenvolvimento da personalidade e da sociedade. O arcabouço acadêmico deve estar a serviço do mundo
sociocultural.
Competências tecnológicas
26. Incluem a apropriação e gestão de artefatos, produções culturais que geram e articulam
significados, formas de conhecer e de interação com indivíduos em todo o mundo e
com o mundo, além da gestão das novas tecnologias da informação e da comunicação.
Competência ético-estética
27. Envolve a construção de valores e atitudes na perspectiva ética e estética, fundamentados no Evangelho e concretizados no desenvolvimento de uma cultura do
cuidado, da solidariedade e da paz, e na promoção e defesa dos direitos humanos.
Competência Política
28. Inclui a mobilização de conhecimentos, habilidades e valores para a intervenção
nos espaço-tempo sociais, com base na análise crítica de diferentes concepções e
projetos, em uma postura ética.
Compreende também a capacidade de participar dos processos de negociação e de
decisão em diferentes âmbitos. Inclui a participação de crianças e jovens na vida
escolar (serem ouvidos, terem oportunidades de participação e diálogo democrático…), gerando espaços de protagonismo ativo e construtivo do acontecer educativo
evangelizador, atuando como interlocutores relevantes desses processos sinérgicos
na busca do bem comum.
12
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Competência filosófica
29. Trata-se de aprender a pensar de forma autônoma e crítica. Sentir a plenitude, significar a sua essência, sua existência, modos de relação com e no mundo. Se perguntar
sobre o sentido das coisas e da vida, e banhar-se de atitudes e comprometimentos
que levam ao cuidado com o etos da vida.
Competência para o empreendimento social
30. Inclui a identificação das atividades que conduzem à iniciativa social, cultural e de
trabalho para propor saídas aos desafios atuais. O empreendimento social mobiliza
a atitude das pessoas para desenvolver possibilidades no campo econômico, político,
produtivo, cultural que gerem melhores condições de vida e de integração social.
Inclui a formação do trabalho para obtenção de ferramentas cognitivas e de valor
para serem inseridas de forma construtiva e de serviço no cenário social atual.
Competência para a liderança de serviço
31. Envolve o desenvolvimento da capacidade de liderança dentro da comunidade educativa e fora da comunidade circundante. A liderança que supõe visão de futuro,
domínio de ferramentas de crescimento pessoal e atitude proativa, cujo modelo é o
testemunho de serviço do próprio Jesus, Maria e de Champagnat. Supõe reorientar
o sentido de autoridade e poder para criar uma comunidade dinâmica com valores
transcendentais e que gerem sua plataforma para promover o desenvolvimento dos
direitos. O diretor deve intencionar aprendizagem em que seus alunos se formem
direcionando seus olhares no que está acontecendo dentro e fora das paredes da sua
escola, que é onde essa competência e os ideais de Champagnat terão ainda mais
sentido e vitalidade.
Competência socioecológica
32. Todos estão chamados a resguardar a mãe Terra, entendida como uma casa comum
de quem devemos cuidar e proteger, já que ela é quem nos irá ajudar a cultivar vida
ou provocar morte. Essa casa deve ser amada em formato inclusivo que garanta vida
e dignidade de todas as pessoas, e para todo ser que vive e respira.
É um princípio novo que nos faz corresponsáveis com o nosso Criador e, por isso,
a que devemos dar sustentabilidade. Seus componentes devem estar harmonizados
nessa casa comum. A mãe Terra e a escola devem gerar sentido de pertencer a ela.
Capítulo I
13
33. Além do desenvolvimento dessas competências por parte da comunidade escolar
marista – gestores, educadores, docentes, estudantes -, também destacamos alguns
aspectos que consideramos relevantes na educação marista e para os quais será necessário ter empenho, comprometimento e desenvolvimento de estratégias de gestão educativa.
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
h.
Políticas de inclusão, permanência e êxito dos estudantes;
novos ambientes e arquiteturas de ensino;
atenção às realidades dos indivíduos e das culturas;
educação nos Direitos Humanos e na Solidariedade;
educação para a urbanidade e para a convivência na cidade e no campo;
educação para a formação do caráter, para a justiça e para a equidade;
valoração do patrimônio cultural e natural; e
desenvolvimento de competências e habilidades cognitivas complexas.
Dimensão da evangelização
34. Compreendemos todo o sentido das Boas Notícias do Reino de Deus, no Instituto
Marista a partir de Jesus, Maria e Champagnat.
35. Jesus de Nazareth, judeu, anawin, expressa o amor de Deus pela humanidade nas
atitudes, nos relacionamentos, nas transgressões, nos ensinamentos, na sua forma
de educar, no testemunho da sua vida, paixão, morte e ressurreição. Ele é, e mora
intensamente nas três dimensões do Evangelho: (i) a missão, entendida como
pastoreio, valoração da vida, liberação dos oprimidos, convite à conversão; (ii) a
comunidade, local de comunhão, inclusão, convivência marcada pela solidariedade,
acolhida diferença, saciedade da fome ao redor da mesma mesa, compartilhamento
da vida e da fé; e (iii) o Reino, tempo presente e futuro, vivência das bem-aventuranças, sentido diário da nossa felicidade, utopia dinâmica e permanente.
36. Maria “é o exemplo vivo de discípula e seguidora de Jesus, que acolhe a Palavra
de Deus com fé, medita e acolhe-a no coração e a pratica produzindo bons frutos.
Maria , por excelência, a peregrina da fé. O sim, pronunciado com convicção no
início da juventude, é renovado muitas vezes ao longo da vida.
Ela passa por crises e situações desafiadoras, que a fazem crescer e caminhar sempre
mais na direção do Senhor. Essas características de Maria inspiram atitudes de vida
de cada cristão e da igreja. Sentimo-nos chamados a sermos discípulos(as) fiéis de Je-
14
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
sus, que ouvem, acolhem, preservam no coração e praticam sua Palavra. Renovamos
nosso sim, mesmo no meio de crises, pois sabemos que somos bem amados de Deus.
Como Maria, alimentamos um coração agradecido a Deus, a quem o louvamos pelo
bem que Ele realiza em nosso meio e através de nós”.5
37. Marcelino Champagnat era um homem apaixonado por Jesus, por Maria e pelas
crianças e jovens. Reconhecido pelos Irmãos como pai amoroso, compartilhava
com as pessoas. Cuidado, amor, entusiasmo e energia contagiavam a todos. Sua
vida e espiritualidade eram alimentadas pela experiência de ser amado por Deus,
pela consciência da sua Presença, pela confiança inquebrantável na proteção de
Maria e pelo apostolado. Era um homem com audácia, simplicidade, profecia e
esperança. Traduziu na sua vida o Evangelho de Jesus Cristo com ardor apostólico,
amor à igreja e ao trabalho, laços familiares e comprometimento com as crianças e
jovens da sua época. Foi um homem de simbiose entre humanidade e santidade:
íntegro, disponível à graça de Deus, interiorizado na paz e na harmonia.
38. Essas três pessoas nos inspiram uma concepção e estilo de evangelização que comunga com as realidades dos indivíduos e do mundo, e apresenta Jesus como Maestro Divino, modelo de humanidade plena e fonte inspiradora de vida, convivência
e presença profética no mundo. Somos chamados a segui-Lo e dar testemunho
da sua missão promovendo uma evangelização libertadora e comprometida com a
transformação social. Para isso, assumimos como características da evangelização
marista (i) o serviço, a justiça e a paz; (ii) o testemunho da comunhão eclesial;(iii)
o diálogo intercultural, ecumênico e inter-religioso; (iv) o anúncio de Jesus Cristo
e da sua mensagem; e (v) a celebração da vida e da Palavra.
39. O sentido da evangelização é promover o encontro com Jesus Cristo. Não se consubstancia em mera abstração, porque Jesus é o caminho no qual as crianças e os
jovens podem praticar a experiência do amor de Deus na sua vida para segui-Lo,
como discípulos missionários, de acordo com seu projeto de vida, nas várias realidades em que estão inseridos. Com relação aos jovens, que são uma opção preferencial da Igreja da América,6 a evangelização deve mostrar “a beleza e a sacralidade de sua juventude, o dinamismo que ela comporta, o comprometimento de que
ela emana, além da ameaça do pecado, da tentação do egoísmo, do ter e do poder, e,
assim, auxiliar também na conscientização de tudo o que procura fazer dano a esta
obra de Deus.7" Reconhecemos as crianças e os jovens como realidade teológica na
5 Murad, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana, p. 65
6 Conferencia de Puebla, 1979.
7 CNBB, Documento 85.
Capítulo I
15
qual as sementes do Verbo estão presentes e que também nós, gestores e diretores,
precisamos aprender a ler e desvelar.
40. Consideramos essencial assumir, no processo de evangelização das crianças e dos
jovens, os seguintes aspectos:
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
h.
i.
realidades das crianças e dos jovens como espaço-tempo da evangelização;
trajeto formativo integral e processual de gestores, educadores, crianças e jovens;
diálogo entre fé e razão contribuem para a formação da consciência crítica;
metodologia que favoreça a experiência pessoal, comunitária e eclesial;
utilização de múltiplas linguagens, meios e tecnologias;
cultivo da mística e da espiritualidade apostólica e mariana;
acolhida às diferentes concepções e expressões de religiosidade e de fé;
corresponsabilidade no Processo de Educação na Fé das crianças e jovens; e
aprofundamento da eclesialidade e da experiência pastoral vinculadas às realidades socioeconômicas, culturais e eclesiais.
Dimensão curricular da evangelização
41. Um dos elementos que articula a educação de ensino é, sem dúvida alguma, o
currículo, entendido como a seleção de todas as aprendizagens que os alunos devem
alcançar ao longo da sua permanência no sistema.
42. A educação evangelizadora marista, para atingir seus objetivos educacionais, requer,
em consequência, plasmar-se em instrumento que explicite as intenções educacionais que devem orientar o trabalho de todos os agentes comprometidos na missão
institucional. O currículo evangelizador marista é este instrumento.
43. O currículo marista explicita as interrogações essenciais aos que deveria dar resposta,
analisadas com base no evangelho de Jesus Cristo, interpretado à luz do carisma de
Champagnat. Permite organizar a ação educativa de maneira coerente integrando
os diferentes âmbitos de seu princípio vital, em consonância à missão institucional.
44. Os processos educacionais impulsionados de acordo com o currículo marista permitem fazer efetiva a opção evangelizadora da congregação em cada um dos centros
educativos do continente, conforme se segue.
a) Formação cristã: dar um sentido de vida baseado na pessoa de Jesus e seu evangelho, é o objetivo fundamental de uma educação evangelizadora, portanto, da
16
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
educação marista. Aqui estão definidos todos os processos que permitirão concretizar a missão congregacional.
b) Formação em solidariedade: estão estabelecidos os processos que permitirão o desenvolvimento da consciência social e o comprometimento com a justiça que deverão
atingir os alunos numa escola marista. Numa sociedade em que são percebidas discriminações e desigualdades, apesar do crescimento em nível macroeconômico, a
educação evangelizadora marista procura criar consciência da igualdade essencial
de todos os seres humanos e a necessária implementação de uma organização social
que construa uma sociedade de irmãos, todos convidados à mesma mesa.
c) Formação acadêmica: organiza a implementação do currículo de acordo com os
planos e programas de estudo vigentes adaptados à realidade de cada colégio marista
e de acordo com as opções próprias das Congregações para concretizar a educação
evangelizadora na sala de aula. Procura-se criar nos alunos uma atitude expectante
perante a realidade do cosmos e dos seres humanos e labora para desenvolver aprender a aprender, ferramenta para toda a vida no mundo globalizado e de mudança.
d) Formação para cidadania: explicita os processos de ensino-aprendizagem que
permitem estimular o comprometimento dos estudantes maristas com o seu
contexto e com as diferentes dimensões que definem o cidadão envolvido com
a transformação social de acordo com os valores do Reino. Não são suficientes
aulas de formação cívica. É necessário programar a participação em todas as
instâncias e conforme o grau de desenvolvimento pessoal de cada estudante.
Os organismos representativos dos alunos são instâncias legitimadas, mas que
devem ser acompanhadas de uma atitude de cada diretor que outorga espaços
de liberdade e participação aos estudantes como pessoas e como grupo.
Dimensão da solidariedade
45. O XXI Capítulo Geral referendou a urgência de ser uma presença forte e significativa entre as crianças e os jovens pobres de ver o mundo com os próprios olhos para
mudar nosso coração e atitudes. “Sentimo-nos impulsionados a atuar com urgência
para encontrar novas e criativas formas de educar, evangelizar e defender os direitos
das crianças e jovens pobres, mostrando solidariedade com eles.” 8
46. O Irmão Emili Turú, Superior-Geral, nos lembra que, como Instituição Marista,
8 Documento do XXI CG
Capítulo I
17
temos o privilégio da presença entre as diferentes faixas sociais; reafirma nossa
preferência pelas crianças e jovens que estão marginalizados pela sociedade; e lembra que “Deus nos convida, por meio do testemunho profético da nossa presença e
ação, para sermos pontes que favoreçam o encontro, o diálogo, a solidariedade e a
justiça social, reduzindo as distâncias e as diferenças entre ricos e pobres em todos
os contextos da nossa missão”.
47. O Documento “Caminhos de solidariedade marista nas Américas: crianças e jovens
com direitos” afirma nosso comprometimento de colaborar não apenas na superação
das situações de vulnerabilidade pessoal e social, assim como das desigualdades
sociais que ameaçam a dignidade e a vida das crianças e dos jovens.
48. Tem pleno sentido aplicar o adjetivo “marista” ao valor universal da solidariedade, pelo
estilo e as matizes próprias que lhes imprimem Maria de Nazaret e Marcelino. De
acordo com a da mesma experiência fundacional de Champagnat, a solidariedade tem
sido um pilar-chave da espiritualidade marista. Eles e muitos outros Irmãos, leigos e
leigas maristas, são nossos modelos no momento de enxergar a realidade com olhos
atentos, ficar indignados perante o atropelamento da dignidade de nossos irmãos e
abrir novos caminhos com humildade, criatividade e decisão sem temer os riscos.
49. Tal como afirmou João Paulo II, a solidariedade não é “um sentimento superficial
pelos males de tantas pessoas, próximas ou distantes. Pelo contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; isto é, pelo bem de
todos e cada um, para todos nós sermos verdadeiramente responsáveis por todos”
(Sollicitudo Rei Socialis, 1987, nº 38). Como citado no Documento “Caminhos de
solidariedade marista nas Américas: crianças e jovens com direitos”, no nº 287, “A
solidariedade é a determinação firme e perseverante de se comprometer com o bem
comum, isto é, com o bem de todos e de cada um, porque todos somos verdadeiramente responsáveis por todos - interdependentes".
50. O Documento “missão marista de solidariedade nas Américas” constitui uma percuciente contribuição ao caminho de busca e discernimento em que está comprometido o Instituto Marista. Esse aporte representa uma resposta concreta aos
delineamentos do XXI Capítulo Geral, que nos convoca a “enxergar o mundo com
os olhos das crianças e jovens pobres” e a “ser expertos na evangelização de meninas,
crianças e jovens, e expertos na defesa de seus direitos”.
51. Em seu nº 520 nos convoca: “A riqueza de elementos que emergirão neste processo
de escuta nos interpela a pensar e repensar nossa prática solidária em sintonia com
18
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
o chamado do XXI Capítulo Geral de ser 'uma presença fortemente significativa
entre as crianças, adolescentes e jovens pobres' e encontrar 'formas novas e criativas
de educar, evangelizar e defender seus direitos, mostrando solidariedade com eles’.
É complementado nos nos 944 e 950.
52. “Assim, nosso comprometimento solidário se fundamenta na Boa Nova de Jesus
Cristo. A Doutrina Social da Igreja, os Documentos internacionais e institucionais
maristas acerca dos Direitos iluminam hoje a opção Marista e impulsionam nossa
presença junto aos empobrecidos e nas regiões de fronteira onde a vida está ameaçada a partir de sua concepção” (nº 944).
53. “Animamos e impulsionamos maior participação em experiências significativas de
solidariedade, individuais e comunitárias, que contribuem à superação da pobreza
e à desigualdade, e à defesa e promoção dos direitos das crianças e jovens” (nº 950).
54. E, finalmente, no nº 1005: “Aceitamos o desafio de chegar a ser expertos na evangelização das crianças e jovens pobres das Américas e na defesa de seus direitos, e nos
comprometemos a enxergar o mundo com seus olhos e assim mudar nosso coração e
atitudes como fez Maria (XXI Capítulo Geral)”.
55. Reconhecemos que, no atual modelo de civilização e socioeconômico, as crianças
e os jovens são os mais vulneráveis e os que sofrem as piores consequências da
exclusão, da pobreza e da miséria, da exploração humana e da violação de direitos.
Em tal sentido, educamos na e para a cultura da solidariedade, compreendida como
garantia e promoção dos direitos humanos e comprometimento com a construção
de outro mundo possível.
56. São princípios para a solidariedade marista nas Américas:9
a. A construção de trajetos inovadores de solidariedade, de novas utopias e de presença em novos espaços.
b. A concepção de crianças e jovens como indivíduos de direito que escutam suas
vozes e comprometimento com os que estão em situação de vulnerabilidade
pessoal e social.
c. O desafio de superação das desigualdades sociais e erradicação da pobreza, com
base na diversidade cultural e pluralidade dos contextos nas Américas.
d. A solidariedade como valor e comprometimento evangélico em defesa da vida
em todas suas formas.
9 Documento “Caminhos de solidariedade marista nas Américas: crianças e jovens com direitos”, Capítulo 5.
Capítulo I
19
e. A dimensão profética e mariana da solidariedade.
f. A atuação em redes e incidência em políticas públicas para a promoção e defesa
dos direitos das crianças e dos jovens.
Dimensão da defesa dos direitos das
crianças e dos jovens
57. O documento final da Assembleia Internacional da Missão Marista (2003), realizada em Mendes(RJ), expressa uma visão de futuro na qual interagem cinco elementos: a revolução do coração, a conversão, a presença marista na evangelização, a educação marista e a defesa e promoção dos direitos das crianças e dos jovens – advocacy
(promoção e defesa dos Direitos Humanos). O XXI Capítulo Geral confirmou
esses elementos em suas urgências, princípios e propostas de ação.
58. Advocacy é constituída como uma dimensão nova da missão marista, que exige de
nós novos trajetos, movimentos e deslocamentos em direção profética para essa
nova terra. Nossa missão se expande além de espaços e muros maristas e nos leva a
agir em organizações locais, nacionais e internacionais de defesa, tecendo uma grande rede positiva de transformação das realidades sociais das infâncias e juventudes.
No contexto marista, a Fundação Marista de Solidariedade Internacional (FMSI)
articula as Unidades Administrativas em torno desse tema e representa nas Organizações das Nações Unidas (ONU) nossa posição em favor da defesa e promoção
dos direitos das crianças e dos jovens a qual contribui para a superação da realidade
de violação em nível internacional.
59. Advocacy pelo direito das crianças e dos jovens exige que as instituições maristas
e as Unidades Administrativas empenhem seus esforços para compreender o campo dos direitos; formar pessoas, especialmente gestores e educadores para incidir
em políticas afirmativas e atuar em e com redes de direitos; redimensionar a escola como espaço-tempo de promoção e defesa; modelar os currículos de ensino na
perspectiva dos Direitos Humanos; denunciar as violações aos direitos das crianças
e dos jovens; e nos comprometer com a elaboração e implantação de políticas institucionais, e adesão a políticas públicas com esse enfoque.
20
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
60. Essa proposta de ação implica:
a. o reconhecimento das crianças, adolescentes e jovens como indivíduos de direito
e prioridade absoluta;
b. a adesão à doutrina de Proteção Integral da ONU para a infância;
c. a articulação com a rede de proteção integral das crianças;
d. a garantia do direito à participação das crianças e dos jovens em múltiplos espaços políticos, sociais, eclesiais, governamentais, legais e maristas;
e. a denúncia das injustiças e violências contra as crianças, adolescentes e jovens;
f. a presença marista nos espaços estratégicos de propostas de políticas públicas
para as infâncias e as juventudes;
g. a criação de redes de cooperação e interação entre os gestores das Américas
para a atenção às crianças, aos adolescentes e jovens, além da promoção de seus
direitos.
Capítulo I
21
CapÍtulo 2
A escola marista a caminho da nova
terra: perspectivas contemporâneas
61. A escola de Marcelino Champagnat integrava a formação cristã e cidadã e a excelência acadêmica articuladas em uma concepção orgânica e sistêmica de educação
evitando todo tipo de conflitos entre essas dimensões. Portanto, não poderia ter
outro caráter senão o de uma educação integral, libertadora e dinamizada com as
crianças e os jovens: "A escola de Champagnat é das crianças e dos jovens, e dos
pequenos, não dos gestores! Somos apenas passagem para eles serem os protagonistas, a qual deve investir e mudar várias lógicas e pensamentos estratificados na
concepção dos adultos, especialmente dos educadores".
62. Para Champagnat, a missão da escola marista, dos gestores e dos educadores era
muito clara.10 "Se fosse apenas para ensinar as ciências humanas aos jovens, não
seriam necessários os Irmãos: seria suficiente com os outros professores. Se pretendêssemos ministrar apenas a instrução religiosa, nos limitaríamos simplesmente
a ser catequistas. Nosso objetivo, no entanto, é mais amplo. Queremos educar as
crianças, isto é, instruí-las sobre seus deveres, ensiná-los a praticá-los, infundir o
10 FURET. Vita, p. 531.
22
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
espírito e os sentimentos do cristianismo, os hábitos religiosos, as virtudes do cristão
e do cidadão do bem. Para isso, é necessário sermos educadores, viver no meio das
crianças e que elas permaneçam muito mais tempo conosco".
63. A escola marista rumo à nova terra bebe nessa fonte para ser peregrina nos novos trajetos, nos novos caminhos, nas grandes avenidas, nos cruzamentos, nas trincheiras, nos atalhos, nos jardins, nas praças e nos areópagos onde pulsa a vida das
crianças e dos jovens, especialmente dos mais pobres. Constrói diálogos intergeracionais, inter-religiosos, inter e pluriculturais, intersaberes. Projetar a nova terra a
partir do espaço-tempo da escola marista implica transitoriedade que destrói muros,
desfaz cercas e reconstrói pontes.
64. Nesse sentido, a escola marista se constitui como sistema orgânico, complexo, multifuncional que é materializado, como:
a. Espaço-tempo de pastoral que articula fé, cultura e vida. É a escola do anúncio, da denúncia, do testemunho e da comunhão; da compaixão pela humanidade; do comprometimento com as causas da justiça e da paz; do conhecer
– experimentar - aderir aos valores do Evangelho.
b. Espaço-tempo de investigação e de produção de conhecimentos. Da pedagogia da pergunta, da investigação, do questionamento, da reflexão, da sistematização de conhecimentos, de saberes e de seus discursos. É a escola que
problematiza as realidades sociais, culturais, políticas, científicas e naturais e a
construção de itinerários pessoais e/ou coletivos para a elaboração crítica de
novos saberes, discursos, conhecimentos, habilidades, línguas e tecnologias.
c. Espaço-tempo da criação. Da pedagogia da invenção e da produção de arte,
ciências, estéticas, filosofias e discursos. É a escola que mobiliza a criatividade e as
múltiplas formas de expressão dos indivíduos, valoriza a capacidade inventiva, a
criação de novos discursos e estéticas relacionados na comunhão de saberes, com
um currículo que insere o indivíduo no seu contexto socio-histórico-cultural.
d. Espaço-tempo da produção e circulação de cultura. É a escola que produz e
que faz circular no seu interior diferentes culturas e suas dialogicidades, porque
reconhece a cultura além da sua materialidade e assume culturas vistas como
campos de luta em torno de significados, inscritos em relações de poder-saber,
como lugares em que significados, visões de mundo, formas de ver, de dizer, de
ser e de estar no mundo são, social e politicamente, produzidos.
e. Espaço-tempo da inclusão. É uma escola aberta às múltiplas formas de conhecer e de saber. Valoriza a sensibilidade (sentir, perceber) e os afetos como
Capítulo II
23
modos complementares de problematizar e de pensar a realidade como uma
produção histórica, cultural, social, econômica e política com a finalidade de
formar pessoas cidadãs, impregnadas do objetivo de fazer novas todas as coisas.
É uma escola mais inclusiva, mais digna, mais bela de ser vivida com base no
reconhecimento dos temas da diferença e da identidade, das relações de gênero,
raça-etnia e do local-região-nação, culturas, multiculturalidades, interculturalidade, classe social, da religiosidade e da espiritualidade, da ética e da estética, e a
internacionalidade do Instituto Marista.
f. Espaço-tempo da aprendizagem política e ética. É uma pedagogia da negociação e dos acordos, da interação com a diferença. É a escola que garante o
direito de expressão de todos, o exercício do pensamento reflexivo, da crítica e da
autocrítica, de se colocar no lugar do outro e buscar alternativas e soluções compartilhadas na resolução de conflitos, pautadas pelo respeito às diferenças. Esse
espaço-tempo se caracteriza nos mais variados ambientes e situações pedagógicas
que envolvem tomadas de decisões, representatividade e respeito à coletividade.
Pode ser manifestado nos espaços de representação estudantil, nos projetos de
intervenção social, na participação em conselhos, assembleias e foros na participação nos processos decisórios da escola que representam a vida dos estudantes.
g. Espaço-tempo de construção do projeto de vida. É a escola que ajuda o estudante a construir seu projeto de vida, a sonhar, a planejar e a viver em um movimento
dinâmico de construção e reconstrução de si mesmo, de fixação de metas e constante revisão de objetivos, com fundamento em valores éticos e cristãos. Eleva o
estudante como protagonista da sua própria vida analisando situações, tomando
decisões e assumindo riscos; redimensionando projeções, planos traçados, objetivos estabelecidos; vendo continuamente o mapa de navegação construído.
h. Espaço-tempo de formação contínua dos profissionais da educação: do perfil
ao profissionalismo. É a escola do movimento contínuo de desenvolvimento
pessoal e profissional que favorece a experiência em temas de educação, evangelização, direitos humanos, gestão, além de interlocução com os temas que
dialogam e alimentam esses saberes, tais como: a antropologia cristã e a sociologia – especialmente as discussões atuais sobre infâncias e juventudes, e os temas
vinculados, como política, economia, tecnologias que nos auxiliam a fazer leituras dos cenários nos quais estamos inseridos, às quais temos que dar respostas
significativas e atualizadas.
i. Espaço-tempo de avaliação contínua. Dos processos, projetos, práticas, indivíduos e instituições. Uma escola que compreenda avaliação como um proces-
24
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
so contínuo, coerente e participativo da regulamentação/autorregulamentação
da sua dinâmica, da qualidade dos serviços pastoral-pedagógicos, do ambiente
organizacional, dos modelos de gestão adotados e de seus resultados, além de
favorecer o aperfeiçoamento institucional.
65. Alguns exemplos de Indicadores de uma Escola Marista atualmente que respondem aos horizontes de futuro do Instituto.
66. Em educação:
a. O centro educacional na sua organização dinâmica, e como critérios para os resultados que deseja alcançar com os estudantes, utiliza os referenciais do currículo
nacional (políticas, planos, programas) e as exigências próprias do Instituto e da
Unidade Administrativa.
b. O centro é reconhecido pela comunidade educativa e pela comunidade local como
referência de qualidade educacional.
c. Para cumprir com sua missão e sua função, o centro educacional se articula com
outras instituições e organismos eclesiais, governamentais e outros. Por meio dessas iniciativas, podem ser maximizados trabalhos na rede que permitam permutar
boas práticas, consolidem alianças de profundidade e progressão de certos eixos do
conteúdo de um currículo continental marista.
d. Na determinação dos resultados de aprendizagem esperados, considera na sua totalidade a informação da situação socioeconômica de seus estudantes, suas famílias
e o meio em que atua. Aqui terá incidência fundamental no cuidado da mãe Terra.
e. Os docentes se reúnem e desenvolvem práticas institucionais sistemáticas cujo
foco é debater, intercambiar e fortalecer a prática pedagógica, analisar e também
propor ações pertinentes a melhorar as aprendizagens e rendimento dos estudantes. Sendo o Diretor o promotor desses diálogos democráticos, construtivos e de
missão compartilhada que permitem refletir que é uma instituição que aprende.
Nesse processo ele não pode perder a oportunidade de testemunhar sua vocação de
educador marista.
f. O colégio identifica as excelências e fragilidades de seu corpo docente e implanta
estratégias de formação e aperfeiçoamento de acordo com as necessidades.
g. O colégio supervisiona o trabalho pedagógico das práticas de sala de aula dos docentes a fim de sistematizar, analisar e planejar com a diretoria ações de apoio e formação
continuada que solucionem eventuais deficiências e enriqueçam as boas práticas.
h. Os estudantes do colégio marista, especialmente os mais defasados no conheci-
Capítulo II
25
mento acadêmico, recebem apoio, acompanhamento e retroalimentação sistemática pertinentes durante seu processo, a fim de fortalecer sua formação e a concretização das aprendizagens propostas.
i. O colégio conta com processos e ferramentas de avaliação institucional, desempenho e de clima organizacional.
j. O colégio utiliza dados e estatísticas como ferramentas de gestão para a melhoria
dos serviços educativo-pastorais.
67. Na Evangelização:
a. Assume comprometimento, criatividade e sensibilidade para promover a missão de
evangelizar com fundamentos na educação.
b. Promove a formação profissional de seus integrantes de acordo com os perfis de
cargos nos temas vitais concernentes ao desempenho de gestores e de educadores,
tais como: carisma e espiritualidade marista, pastoral educativa, teologia, psicologia
e sociologia da infância e da juventude.
c. Possui um programa de acompanhamento espiritual para os gestores, educadores,
crianças e jovens.
d. Demonstra, por meio das formas de pensar, sentir e agir, comunhão com a Igreja
e adesão ao carisma marista.
e. Evidencia-se a prática do discernimento para orientar a os princípios do ensino e
adotar decisões com critérios de fé.
f. Responsabiliza-se por personificar experiências, espaços, tempos e contar com pessoal qualificado para a execução do plano de ação pastoral.
g. Garante a relação, participação e colaboração com as instituições eclesiáticas das
quais é parte integrante.
h. Promove, por meio da Diretoria, atitudes e formas de proceder que manifestam
adesão e comprometimento com a missão institucional de Evangelizar com base
na Educação.
i. Incentiva a constituição de fraternidades maristas de Champagnat que projetem o
carisma em instâncias além do âmbito de ensino e a integração dos diversos agentes educador-evangelizadores.
j. Utiliza, nos processos pastorais, linguagens e simbologias significativas para
crianças, adolescentes e jovens.
26
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
68. Em Solidariedade e Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes:
a. Explicita no seu processo educacional e curricular a promoção e defesa dos direitos
das crianças e dos jovens.
b. Fortalece, em seu desenvolvimento curricular, a aprendizagem-serviço estreitamente vinculada ao ensino-aprendizagem.
c. Possui e utiliza estratégias efetivas para prevenir os conflitos e ocorrências de violência e maus-tratos.
d. Assume e age, com a comunidade, oportunamente a respeito dos atos ou ocorrências de violência e maus-tratos escolares que envolvem, também, diretamente os
próprios estudantes.
e. Conta com um programa ou campanha de prevenção ao bulling, evitando assim
todo tipo de maus-tratos, sejam físico, verbal ou psicológicos ou de todos eles.
f. Possui estratégias diferenciadas para detectar e remediar situações de violência
que possam afetar a disciplina, gêneros ou outras instâncias, além de performance
atuante com os próprios estudantes, com o fim de reconhecer e compreender as
razões e formas de proceder dos vitimados e/ou assediadores, principalmente dos
que são vítimas, o que acontece com eles ou o que envolve aqueles sabem ou são
cúmplices desses atos de violência.
g. O colégio estabelece laços e vínculos com seu entorno e comunidade local em
espaços de colaboração e benefício mútuo, que fortalecem o treinamento em solidariedade e desenvolvimento integral dos estudantes.
h. Promove e possui ações que permitem aos professores e alunos realizar atividades
de serviço que contribuem com seu desenvolvimento integral em prol da aprendizagem-serviço.
i. Orienta sua gestão com sensibilidade e capacidade executiva para identificar pessoas, contextos ou ações nos quais são evidenciados comportamentos e/ou atitudes
contrárias à solidariesdade que promove o Evenagelho de Jesus Cristo.
j. Assegura as condições profissionais e financiamento, de equipamento e de competência para a promoção da cultura solidária no contexto do ensino e do social de
que o colégio marista é parte integrante.
Capítulo II
27
CAPÍTULO 3
A missão do diretor marista
na escola de hoje
"Se o Senhor não edifica a casa, em vão trabalham os construtores."
(Salmo 126).
69. A educação marista comunga com a crença de que os processos formativos devem
considerar o indivíduo como um ser holístico, personalizado, que pense e que se autoexpresse. Portanto, a ação educadora marista, comprometida com a solidariedade,
contempla a formação biopsicossocial dos indivíduos, valorizando-os como seres de
direito, harmonizando fé, cultura e vida para que possam se tornar pessoas livres, justas,
éticas e solidárias, à luz do Evangelho e do carisma de São Marcelino Champagnat.
70. A Missão de um Diretor Marista é liderar os processos de gestão escolar para que
se conheça e ame Jesus, ao estilo de Maria, como primeiro responsável do legado
de São Marcelino Champagnat entre as crianças e os jovens, e garantir qualidade
educativo-evangelizadora e sua sustentabilidade considerando os cenários do mundo contemporâneo, nossa integração eclesial e fazendo da escola um espaço profético de formação integral, promoção humana e garantia dos Direitos Humanos, em
especial da infância e da juventude.
71. A Missão de um Diretor Marista deixa clara, aos diretores contemporâneos, a necessidade de percepção e atenção sobre o que é relevante. É uma tarefa complexa,
28
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
considerando a quantidade de demandas sobrepostas pelo mundo atual. A civilização deste milênio caminha a passos longos em direção à reconexão, à acolhida e à
inclusão. Vivemos um tempo de distâncias próximas, mas “sem prejuízo de todas as
sementes semeadas por Deus no seio de toda tradição religiosa ou cultural”.11 Nesse
contexto de globalização, a espiritualidade incentiva uma vivência mais coletiva e
planetária, mais holística, e esperamos que mais solidária, ecológica, compreensiva,
integradora e espiritual na genuína acepção marista, fundada na opção de fé em
Jesus. A fé é o elemento que sustenta o trabalho evangelizador, e a ausência dela
fragiliza a vivência da espiritualidade e do carisma marista, comprometendo a missão. Isso quer dizer que, sem o postulado da fé, deixamos de ser referência para as
crianças, os jovens e os adultos de nosso tempo.
72. A missão marista permanece necessária em nosso mundo, e sua força convida-nos
ao exercício da fé, fortalecendo o discernimento aos chamados internos e à mudança
de nosso coração na direção do objetivo maior de São Marcelino Champagnat evangelizar pela educação -, trazendo boas notícias por meio da educação.
73. É crucial perceber que a evangelização para os dias atuais é materializada pelo
exemplo, no testemunho comprometido, acolhedor, disponível para compartilhar
valores cristãos quando integra o diálogo inter-religioso e intercultural.
74. A espiritualidade marista apresenta como elemento facilitador o estilo de ser de
Maria, e é nesse modo de ser da Igreja e de conviver enraizado na essência do nosso caráter mariano que se atingem os objetivos dessa missão. Desse estilo de ser
brotaram os valores institucionais de audácia, espírito de família, espiritualidade,
presença, humildade, solidariedade e amor ao trabalho,12 de acordo com os paradigmas a seguir:
a. Audácia. Entendida como ação empreendedora, atenta aos sinais dos tempos na
tomada de decisões inéditas e corajosas, no enfrentamento do novo, na exploração
de novas possibilidades e promoção de mudanças.
b. Espírito de família. Compreendido como a afirmação de pertencer a uma família
da qual emana o amor, a ajuda mútua, a alegria e a acolhida ao pluralismo e à diversidade, aceitando a todos como diferentes e complementares.
c. Espiritualidade. Definida como a vivência de acordo com o Evangelho, tendo
Maria e São Marcelino Champagnat como inspiradores de nossa forma de ser e
de agir. A Espiritualidade é força motora que outorga sentido e harmonia à vida,
11 XXI Capítulo Geral
12 Coordenação de Pastoral – Valores Institucionais – Província Marista do Rio Grande do Sul.
Capítulo III
29
ilumina a compreensão do mundo e orienta a pessoa na sua relação com Deus,
consigo mesma, com as pessoas e com a natureza.
d. Presença. Compreendida na busca de um ambiente de harmonia, cuidado e respeito, por meio da presença atenta e disponível nos ambientes em que se desenvolve a missão. Também é compreendida como elemento estratégico da pedagogia
marista na proximidade com as pessoas e no cultivo da relação de confiança.
e. Humildade. Definida como um estilo de vida de simplicidade na esfera pessoal
e institucional. Também se traduz na busca pela autenticidade que permite ao
indivíduo reconhecer as próprias potencialidades e limitações. Tem como uma das
suas formas de manifestação o respeito pelo outro;
f. Solidariedade. Manifestada pela sensibilidade às necessidades das pessoas, de
modo especial às dos pobres e excluídos. Também se manifesta compartilhando
dons pessoais e bens materiais, promovendo a paz, a justiça e a vida, como sinal de
esperança no mundo;
g. Amor ao trabalho. Traduzido como disposição e espírito cooperativo na realização do trabalho, desenvolvendo talentos e colocando-os a serviço do bem comum. Entendemos que, por meio do trabalho se cumpre a missão e participa-se da
obra da criação, demarcando o indivíduo como protagonista na construção de uma
sociedade justa e fraterna.
75. O Documento “Missão Educativa Marista: um projeto para nosso tempo”(1998,
p.55), ao tratar do estilo marista de educar, mostra que o caráter mariano é sustentado sobre uma visão de totalidade que promove a integração e se propõe conscientemente comunicar valores. A concreção dessa visão levou Marcelino Champagnat
a desenvolver uma abordagem pedagógica própria.
76. O Diretor marista assegura o princípio de Champagnat: “para bem educar as crianças
é necessário, antes de mais nada, amá-las da mesma forma”. Os diretores são responsáveis por esse legado ao viabilizar a qualidade educativo-evangelizadora entre os
estudantes, garantindo os Direitos Humanos e, entre eles, o direito a educação de qualidade13. Esse direito é o portal para a conquista dos demais, levando-se em conta que
13 O sentido dado, neste texto, ao termo-chave “educação de qualidade” requer uma pequena reflexão para que o leitor
não considere o termo redundante. O vocábulo “qualidade” é definido no Dicionário Aurélio como sendo a “propriedade,
atributo ou condição das coisas ou das pessoas, que as distingue das outras e lhes determina a natureza” ou ainda como
aquilo que define padrões de “superioridade, excelência”. Essa definição dá a entender que tal característica faz parte da
natureza da educação.
Infelizmente, o atributo qualidade ainda não aparece, no vocábulo educação, como dado presente ou permanente. Ainda,
em regra, educação e qualidade são palavras que não estão fundidas uma na outra, por isso usamos como distintivo
a expressão “educação de qualidade”. Por outro lado, é importante não perder de vista que “qualidade é um conceito
histórico, que se altera no tempo e no espaço, veiculando-se às demandas e exigências sociais de um dado processo” (MEC
30
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
a educação de qualidade garante ao cidadão a compreensão e o acesso às possibilidades
que foram outorgadas pelo conhecimento de forma solidária, crítica e ética.
77. Ao acrescentar à missão do diretor marista a garantia dos Direitos Humanos, é inescusável esclarecer que essa garantia é percebida como uma política progressista
de âmbito global e legitimidade local, que significa, como esclarece Sousa Santos14
(1997, p. 14), que não “existe condição global para a qual não consigamos encontrar
uma raiz local, uma imersão cultural específica”, sem esquecer que “[...] a globalização pressupõe a localização”. Esse conceito é fundamental para compreender que
os direitos humanos apenas poderão desenvolver seu potencial de emancipação se se
tornarem realmente multiculturais. O multiculturalismo é assumido da compreensão
da cultura como processo intrinsecamente humano, construído na relação entre as
pessoas que integra e inclui todos os diferentes modos de produzir e significar a vida.
78. O multiculturalismo, nessa lógica, se torna uma condição prévia para uma relação
equilibrada e mutuamente potencializadora entre a competência global e a legitimidade local, que constituem, de acordo com Sousa Santos (1997, p. 19), os dois atributos de uma política contra-hegemônica de direitos humanos para nosso tempo.
No diálogo intercultural, o intercâmbio não se faz apenas entre diferentes saberes,
mas também entre diversas culturas.
79. Dado o dinamismo e a complexidade da missão de um diretor marista, vemos que
a evangelização, por meio de uma educação de qualidade, conclama e autoriza a escola a intervir na sua vida. O peso da responsabilidade no exercício dessa autoridade
é baseado na tríade: fé, espiritualidade e amor. Proporcionamos, de acordo com o
Irmão Sean Sammon (2006, p. 112), “[...] uma educação holística a quem está sob
nossos cuidados, buscando a formação da mente, do corpo e do coração. Anunciando pessoalmente a Boa Notícia e nos valendo da concepção comunitária de Jesus,
damos testemunho da generosidade a nossos alunos e os auxiliamos a discernir os
valores implícitos nas suas atitudes, contribuindo, assim, para desenvolver sua consciência crítica na eleição de prioridades".
80. Em tal sentido, o diretor e a diretora maristas devem orientar seu ministério (missão
e gestão) para construir a excelência acadêmica com base no Evangelho e buscar
uma qualidade de educação com os olhos do Fundador, promovendo uma teoria
- Documento de Referência da Conferência Nacional de Educação, 2009, p. 30).
14 SOUSA SANTOS, Boaventura. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. Revista Crítica de Ciências Sociais,
nº. 48, junho de 1997. Disponível em: http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Concepcao_multicultural_
direitos_humanos_RCCS48.PDF. Acesso em: 5 de abril de 2012.
Capítulo III
31
atualizada de aprendizagem de acordo com uma antropologia cristã que permita
aos estudantes aprenderem a pensar, obterem bons resultados, respeitarem e promoverem a diversidade crescendo em harmonia humana e espiritual (Varona, 2012).
81. Assim, o gestor é um empreendedor que conhece as questões internas da Instituição, está atento aos cenários externos e tem o comprometimento de garantir a
perenidade, sustentabilidade e vitalidade da missão educacional marista na escola.
82. Consideramos, também que, no conjunto das atribuições pertinentes ao ofício de
gestor estão incluídos:
a. implementar as diretrizes e políticas institucionais como cuidadores e semeadores
da missão institucional;
b. analisar cenários internos e externos para apresentar soluções estratégicas;
c. planejar a organização e os processos estratégicos da escola, além de acompanhar,
monitorar e avaliar os processos e projetos em desenvolvimento;
d. diagnosticar problemas de ordem pedagógica, financeira e administrativa, e implementar soluções, projetos e inovações;
e. tomar e negociar decisões, com fundamento em conhecimentos atualizados sobre
educação, evangelização e gestão;
f. planejar e empreender ações que promovam avanços tecnológicos, pedagógicos e
pastorais no ambiente de ensino;
g. garantir a sustentabilidade econômico-financeira da escola e a vitalidade da sua
missão educativo-evangelizadora;
h. administrar o ambiente organizacional da escola solucionando conflitos e garantindo um ambiente institucional marcado pelo sentimento de irmandade, corresponsabilidade e espírito de família;
i. representar e garantir os interesses institucionais nos espaços adrede preparados e na
proposição de políticas públicas que impactam a missão, os serviços e os negócios;
j. velar pelos valores, princípios, imagem e pela marca institucional.
83. Nesse sentido, os gestores são desafiados a serem pessoas de visão, a viver o núcleo
dos valores maristas e orientar os outros a vivê-los. Mais do que ninguém, representam Marcelino Champagnat para a comunidade educacional, levam confiança e
otimismo incentivados pela espiritualidade apostólica marista.
84. Conforme o pensamento do Irmão Mariano Varona, “devem assumir a missão de
32
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
fazer que a adesão a Jesus e a seu Evangelho seja motivação global, imprescindível,
dominante na organização e funcionamento do Colégio”, constituindo-se em “profetas de um mundo novo, alinhados ao coração de Deus e aos chamados do nosso
tempo, sendo testemunho profético e audaz que provoque a humanidade e convidea mesma humanidade a caminhar rumo a sua utopia”.
85. Com esse espírito, convidamos os Diretores e Diretoras Maristas para liderarem os
processos de gestão em sua escola para apresentar e amar Jesus, ao estilo de Maria,
sendo Champagnat e Maria hoje.
86. Esta proposta procura ser coerente com o chamado do XXI Capítulo Geral no
sentido de “sair a novas terras” e é validado à medida que sua inspiração é dada
pelo carisma e a espiritualidade marista. A vinculação de um colégio marista com a
comunidade está alinhada com a missão e a visão que o Capítulo Geral tem fixado
para nosso caminhar até 2017 (bicentenário do instituto). Devemos estar atentos ao
que nos diz o ambiente externo, com suas oportunidades e ameaças, para que nossos
centros educacionais sejam proféticos e proativos em nossas respostas à Igreja e à
sociedade. Escola e sociedade devem dialogar, devem se ouvir, devem falar, com o
fim de responder assertivamente aos novos códigos do mundo em mudança. Nós,
as redes maristas locais, regionais e internacionais, seremos a chave estratégica para
oferecer variadas alternativas de caminhos efetivos de resposta aos desafios que a
sociedade nos impõe. Um diretor deve ter clareza total sobre o sentido e a responsabilidade social-política de uma escola marista.
Capítulo III
33
CAPÍTULO 4
PRINCÍPIOS DA FORMAÇÃO
DOS DIRETORES MARISTAS
87. Na sequência são apresentados alguns princípios geradores de sustentação aos processos formadores dos diretores maristas. Em função da complexidade da missão, este
conjunto de princípios expressa aspectos básicos a serem levados em conta na formação
inicial e permanente, e que se expressam transversalmente nos objetivos, conteúdos e
metodologias ordenadores dos planos concretos das Unidades Administrativas.
88. A formação dos diretores:
a. Ajuda a fundamentar a vida, missão e espiritualidade marista. O carisma marista é a fonte inspiradora de seu ser e da sua ação e, por meio da espiritualidade, o
diretor e sua formação expressam de maneira particular sua identidade evangelizadora, seu seguimento de Cristo e seu serviço à Igreja. É compulsório contextualizar
itinerários-chave que permitam dimensionar a importância desse eixo de formação
com as características de uma espiritualidade mariana e apostólica, no seguimento
de Jesus a serviço da igreja, como resposta de Deus à realidade social na qual estamos inseridos (veja Anexo 2).
34
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
b. É um processo contínuo. É focado no crescimento pessoal e enriquecido mediante o acompanhamento pessoal e institucional. Oferece experiências diferenciadas tanto na formação inicial quanto na continuada para facilitar a aquisição de
competências funcionais de conduta e vocacionais de acordo com a missão marista.
c. É integral e equilibrada. É caracterizada por ser inclusiva e respeitosa, e se basear
nas necessidades manifestadas pelo diretor marista, tanto na sua vida quanto na sua
missão, e, portanto, deve possuir a adequada flexibilidade e adaptação. A formação
se adapta à diversidade dos participantes e de seus contextos. Oferece ferramentas
para o cuidado de si mesmo e o desenvolvimento da sua inteligência emocional. De maneira integral, com visão atual das necessidades do Instituto, cultiva
as dimensões de educação, evangelização, solidariedade e defesa dos direitos das
crianças e dos jovens. Desenvolve os núcleos do marista, do pedagógico, da gestão,
da administração e do humano. Possui foco no holístico e visa alcançar a qualidade
humana e espiritual dos diretores.
d. É andragógica (contraface da pedagógica). Respeita os processos de aprendizagem e a experiência prévia dos diretores e gera processos ativos de reflexão sobre a
própria prática e de aplicação do conhecimento às realidades diárias. Deve superar
a dicotomia entre a teoria e a prática, assim como as barreiras que impedem sua integração. O Diretor Marista deve possuir um projeto de vida pessoal, um indicador
promotor de sua autoformação constante que permita humana e profissionalmente
qualificar o desempenho na sua missão.
e. É colaborativa. Privilegia as metodologias participativas e da criação colaborativa
do conhecimento e das práticas diretivas. Entre as opções, facilita a construção e o
trabalho em rede nas experiências formativas, assim como nos sistemas de acompanhamento e apoio com escuta qualificada, que permita incluir os que compõem
o mosaico da escola como protagonistas e construtores de uma resposta adequada
e atenta às necessidades do mundo de hoje.
f. Facilita a concretização de um modelo de gestão. A formação é inspirada e, por sua
vez, inspira a reflexão, implantação e transformação do modelo de gestão de ensino
proposto pela Unidade Administrativa. Ajuda a favorecer instituições dinâmicas e
bem geridas mediante a elaboração de um modelo atual de escola, que leva em conta
(a) o espaço-tempo atual na pastoral; (b) a investigação e produção de conhecimentos; (c) a criatividade; (d) a cultura; (e) a aprendizagem político-ético-moral; (f ) a
construção do projeto de vida; e (g) a avaliação contínua da qualidade da educação.
Capítulo IV
35
g. Favorece a corresponsabilidade. A corresponsabilidade é fomentada mediante
processos de aprendizagem em gestão compartilhada e gestão sistêmica. Para facilitar, é promovida sua conceptualização e são oferecidas as ferramentas para exercer
liderança de serviço na comunidade escolar.
h. Favorece a equidade e respeita a coeducação. A formação busca superar as iniquidades no acesso às opções formativas. Facilita também o reconhecimento das
realidades de gênero e coeducativas, presentes no universo dos diretores(as) das
obras maristas. Cada diretor(a) deve ser um ator promotor de olhares igualitários
na aposta pedagógica de seu estabelecimento, proporcionando o crescimento cognitivo e humanizado de seus estudantes, sem qualquer tipo de discriminação e/
ou prejuízo para desenvolvimento desses processos educacionais. A escola marista
deve ser a instância personalizada para contextualizar e vivenciar o mundo real.
Somos educados em comunhão (homens e mulheres) mediados pela realidade, capazes de educar o indivíduo na feminilidade e na masculinidade, para um respeito
mútuo e valorização da sua dignidade, somente pelo direito de ser, compreendendo
as novas masculinidades e as novas feminilidades.
i. Respeita os níveis de subsidiariedade. Considera as realidades e os recursos das diferentes Unidades Administrativas, assim como as realidades em nível de país ou local. Reconhece a organização interna e favorece a busca de soluções locais e regionais.
j. Promove o protagonismo das crianças e jovens nos centros educacionais. A formação facilita as ferramentas para melhoria das inter-relações dos agentes educadores das crianças e os jovens, reconhecendo que eles são os protagonistas da
escola e sua razão de serem também indivíduos ativos da evangelização. A formação
ajuda a valorizar a cultura juvenil e a rever constantemente a associação entre suas
necessidades e linguagens com as ofertas e linguagens institucionais. Deve incluir o
enfoque dos direitos humanos, em particular a Convenção dos Direitos da Infância.
k. Integra adequadamente a missão e a gestão do diretor marista a serviço da
missão. A liderança diretiva deve canalizar sua tarefa para concretizar a missão
e visão colegial, permeadas pelas respectivas missões e visões do Instituto e da
sua Província. Isto é, essa autoridade deve ser usada para trabalhar para o Reino
de Deus, e não para pequenos reinos pessoais. Isso pode acontecer com qualquer
pessoa, e nossas motivações podem ser viciadas por elementos egocêntricos que
queremos evitar.
36
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
89. Os gestores são desafiados a serem pessoas de visão, a viverem o núcleo dos valores
maristas e a orientarem uns aos outros a vivê-los. Mais do que ninguém, representam Marcelino Champagnat para a comunidade educacional, levando-a com confiança e otimismo, incentivados pela espiritualidade apostólica marista. Eles “devem
assumir a missão de fazer com que a adesão a Jesus e a seu Evangelho seja motivação
global, imprescindível, dominante na organização e funcionamento do Colégio”
constituindo-se em “profetas de um mundo novo, alinhados ao coração de Deus e
aos chamados de nosso tempo, sendo testemunho profético e audaz que provoque
a humanidade e convide essa mesma humanidade a caminhar rumo a sua utopia”.15
90. Os nos 126 e 147 da MEM indicam: "De maneira especial, aos diretores de nossas
escolas solicitamos que sejam pessoas com visão, que possam propor e testemunhar nossos valores maristas e guiar os demais para que vivam segundo eles. Mais
que qualquer outro, eles são a figura de Champagnat na comunidade de ensino,
animam e refletem a espiritualidade apostólica marista com otimismo e confiança.
Uma tarefa assim exige de nós autenticidade, equilíbrio e amadurecimento e nos
leva a um estilo de vida ainda mais humilde. Somos conscientes de que, em muitas
ocasiões, nosso esforço não será recompensado por resultados imediatos nem terá
reconhecimento oficial. Essa realidade inspira nossa espiritualidade pessoal, baseada
no convencimento de que estamos fazendo a obra do Senhor, com a esperança colocada no que Ele tem prometido aos que trabalham ‘em seu nome’. Uma espiritualidade da Cruz e da Ressurreição na qual estão refletidas as histórias de sofrimento
que estes jovens vivem e compartem conosco".
91. Um dos perigos de toda gestão é que se concentre nas situações comezinhas, às
vezes prementes, mas acessórias, descuidando das que são primaciais, mas processuais. O ativismo dos diretores é um mal que talvez solucione os problemas diários,
mas que conduza ao esgotamento dos dirigentes e ao não cumprimento do que deve
ser assistido por não se enxergar a médio e longo prazo. Muitas vezes o sucesso
nos deixa a vista nublada e não somos capazes de enxergar o que sucederá e o que
acontece nas outras obras de cada país. Por isso, toda gestão deve estar a serviço
da missão.
15 Água da Rocha nº 135-50, p. 73-78.
Capítulo IV
37
CAPÍTULO 5
Objetivos da formação de diretores
maristas da América
92. Os objetivos da formação de diretores são estabelecidos com o fim de as Unidades
Administrativas maristas da América conterem propósitos comuns que orientem
tanto os processos quanto os resultados gerais esperados da formação de seus diretores. Trata-se de objetivos que podem ser conduzidos com programas formais
determinados por instituições de educação superior, com cursos de formação continuada ou atividades provinciais, sempre que sejam devidamente intencionados para
essa finalidade.
93. Os objetivos têm relação com os princípios e serão instados a considerar os componentes dos núcleos de formação: a definição, as competências e os conteúdos, com a
possibilidade de avaliar a formação com os indicadores finais.
38
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
NÚCLEO: LIDERANÇA
CARISMÁTICO-MARISTA
1. Fortalecer a identidade dos
líderes dos centros
educacionais com a missão
e espiritualidade marista,
assim como seu
comprometimento
cristão com base na
contemporaneidade.
NÚCLEO: PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO
2. Desenvolver expertises de
planejamento de centros
educacionais com foco
no trabalho colegiado
promovendo a missão
compartilhada.
NÚCLEO : POTENCIAL
HUMANO E AMBIENTE
ORGANIZACIONAL
3. Desenvolver visões e
expertises em organização
e gestão do potencial
humano e ambiente
organizacional que
permitam cumprir a missão
de evangelizar de acordo com a
educação em cada uma das
obras educacionais.
Indicadores
1.1 Fomentar o sentido vocacional no exercício de liderança, a
exemplo de Jesus, José, Maria e Champagnat.
1.2 Aprofundar o olhar crítico e ético, que permita renovar,
adaptar e reorientar as ações educativas à luz do carisma e
da missão marista.
1.3 Facilitar o acompanhamento pessoal grupal, no plano espiritual e profissional focado em compreender e discernir o
discipulado de Jesus e a Missão Marista com base na contemporaneidade.
Indicadores
2.1 Favorecer o projeto de planejamento com o conhecimento
da realidade mediante processos de avaliação com informes
diagnósticos.
2.2 Desenvolver habilidades para a organização em termos de
contratação de funcionários e de acompanhamento da implementação do plano.
2.3 Incentivar a medição de resultados iniciais e a prestação de
contas que se retroalimentam para o trabalho da comunidade educativa.
2.4 Favorecer o projeto, o seguimento e a avaliação de acordo
com uma ênfase colegiada.
2.5 Desenvolver uma cultura de avaliação com ênfase na melhoria contínua.
Indicadores
3.1 Desenvolver competências para impulsionar um ambiente
em que se expressem o estilo marista de presença, proximidade e espírito de família em relações respeitosas e inclusivas da diversidade.
3.2 Fortalecer as competências administrativas que permitam
aos diretores e respectivas comunidades melhorar suas condições e alcançar maiores níveis de autonomia, com conhecimento da legislação trabalhista.
3.3 Conhecer novas possibilidades de assessoramento, coordenação e seguimento de trabalho colegiado.
Capítulo V
39
NÚCLEO: PASTORAL
Indicadores
4. Favorecer o desenvolvimento
de competências que
possibilitem incentivar, orientar
e monitorar a aplicação dos
processos pastorais que
favoreçam um ambiente de
evangelização em toda a
comunidade educativa.
4.1 Conhecer e ser sensível aos processos pastorais para serem
realizados nos centros educacionais de maneira integral.
4.2 Favorecer o comprometimento para promover a missão de
evangelizar com base na educação.
4.3 Desenvolver competências atitudinais para motivar a todos
os membros da comunidade escolar para colaborar na missão de evangelizar por meio da educação.
NÚCLEO: SOLIDARIDADE
Indicadores
5. Favorecer a sensibilidade
e o comprometimento para
promover a conscientização
para impulsionar uma cultura
solidária, inclusiva e
pluralista que permita
atividades como voluntariado.
5.1 Incentivar primeiramente a formação em valores com foco
na corresponsabilidade, na construção do Reino, um reino
de justiça e de paz.
5.2 Impulsionar nos projetos curriculares orientação à transformação social, à responsabilidade social para o cuidado dos
mais vulneráveis.
5.3 Favorecer a implantação de um sistema real de coeducação
dentro dos centros maristas para educar em equidade atendendo à promoção e defesa dos direitos humanos, especialmente das crianças e das meninas.
5.4 Impulsionar as experiências de voluntariado e educaçãoserviço.
NÚCLEO: CURRICULAR
6. Favorecer a liderança
pedagógica e transformativa
que incentive, oriente e
monitore a implementação do
modelo curricular marista.
Indicadores
6.1 Incentivar o desenvolvimento de competências para impulsionar os projetos educacionais a fim de inovar visando
melhoria contínua.
6.2 Incentivar a gestão e conhecimento adequado e suficiente
da legislação de educação em seu contexto.
6.3 Fomentar o conhecimento e competências do uso das novas tecnológicas a fim de otimizar seu potencial ao serviço educativo.
NÚCLEO: RECURSOS
MATERIAIS
7. Favorecer o conhecimento
de processos administrativos
para levar a cabo de forma
eficaz e eficiente o emprego
dos recursos materiais com os
critérios do Instituto de respeito
ao uso evangélico dos bens e
por meio de visão integral e
ecológica.
40
Indicadores
7.1 Incentivar a responsabilidade de salvaguardar a administração do patrimônio institucional para garantir a sustentabilidade do centro educativo.
7.2 Incentivar o monitoramento da administração dos recursos
e o planejamento administrativo.
7.3 incluir a certeza de que o pessoal responsável pela administração dos recursos materiais possua formação técnica, seja
confiável, compromissado e diálogo com a equipe colegiada.
7.4 Impulsionar a cultura do cuidado com os recursos em
função do respeito ecológico à criação e à consolidação do
uso evangélico dos bens
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
CAPÍTULO 6
Núcleos de formação
para a diretoria marista
Contextualização
94. Hoje, como ontem, pessoa, família, escola e toda a variedade de instituições, são
realidades que estão, inevitavelmente, em um tempo e lugar específico, reconhecíveis e distintos dos outros. Pretender apreender e visualizar, na sua totalidade, a
dimensão tempo-espaço de cada uma delas é impossível. Por mais esforços, métodos e recursos que se despendam, somente serão alcançados resultados parciais e
incompletos.
95. Gue Bajoit, professor emérito da Universidade Católica de Lovaina, propõe no texto “A ditadura do Grande ISA”, uma ferramenta para entender, de maneira conclusiva, os novos tempos e o que acontece em diversas regiões do planeta. O foco
do tema resulta iluminador para tomar consciência, analisar e compreender este
recém-inaugurado século XXI.
Capítulo VI
41
96. "Compartilho com muitos sociólogos contemporâneos a crença − indemonstrável,
mas fecunda - de que as transformações em curso nas sociedades modernas ocidentais não constituem simples evoluções ou reformas progressivas que sempre estiveram presentes, mas uma mutação muito profunda que afeta a lógica mesma de seu
funcionamento. Não se trata somente de um conjunto de mudanças no sistema, mas
uma mudança de sistema, isto é, uma mutação simultânea tecnológica, econômica,
política, social e cultural".
97. Esta Terra não é inferno nem paraíso, também não é o fim do mundo. Estes não são
tempos de catastrofismo nem de otimismo ingênuo. Gue Bajoit em “tudo muda”,
afirma tratar-se de uma mudança do mundo, não no plano geográfico ou físico, mas
transformação nos referenciais imaginários, que foram pertinentes em tempos
precedentes. Gilles Lipovetzke fala em termos de “a era do vazio”. O impacto foi
duplo, por um lado, as profundas transformações estendem-se aos mais variados
âmbitos da vida pessoal e social, por outro lado, houve mudanças intempestivas,
imprevisíveis, vertiginosas, com força e velocidade que superam, em muitos casos,
a capacidade de percebê-las. Neste mundo novo, pessoas, cultura e instituições estão
em desequilíbrio, em um chão que é percebido como instável, com dificuldade para
se reconhecer, se inserir ou se reposicionar nessa nova situação.
Teoria e prática
98. A seguir, são sugeridas algumas das razões que justificam a realização de um programa de formação para as equipes de direção maristas. Cada uma delas, agindo
em forma conjunta, produz impacto direto ou indireto no processo educacional.
A listagem não pretende ser completa, única nem definitiva. Pode ser considerada
melhor, como um mapa, para orientar e para enxergar de maneira inteligente (intelegere: ler dentro e profundo, além das aparências) os desafios que representa educar
hoje as crianças, meninas e jovens. Também tem a pretensão de ser um instrumento
de indagação que possa contribuir, identificar as novas competências de que devem
dispor e evidenciar um direcionamento educacional a fim que os resultados da gestão fiquem alinhados com a Missão e Visão Marista no mundo de hoje.
99. Tradição pedagógica marista. O Guia do Mestre (1853) assinala os princípios e
formas de fazer que caracterizaram a tarefa docente dos primeiros Irmãos. O texto,
utilizando o vocabulário próprio da época, define uma concepção de educação, o perfil
de um educador, as premissas da didática, a organização de ensino e a forma de atender cada uma das áreas do conhecimento. No século XXI, esses núcleos constitutivos
42
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
da ação educativa estão expressos com outras palavras, mas continuam sendo fatores
críticos, conservam a vigência e a pertinência. O diretor marista é um profissional da
educação com a responsabilidade de prsentificar cada um desses núcleos e funcione
de maneira efetiva. E para o desempenho desse ofício são requeridas competências
técnicas, funcionais e comportamentais que surgem do carisma institucional.
100. Orientações do Instituto
a. Missão e espiritualidade compartilhadas. Irmãos e leigos, juntos na missão,
são fator-chave para o presente e futuro da presença marista nos diversos lugares geográficos onde se evangeliza pela educação.
b. Redimensionamento carismático da missão. Enxergar a gestão de ensino
sob essa perspectiva implica mudança de paradigma. Não basta que o diretor
foque a atenção nas tarefas administrativas, tampouco o cumprimento formal
e atuante das responsabilidades próprias do cargo. Em primeiro lugar, o desempenho da tarefa docente e a direcional, em particular, seja conduzido pela
perspectiva da vocação de educador e diretor. Em segundo lugar, modela-se
uma marca carismática de espírito e governança. Em consequência, são outros
os parâmetros para a gestão de uma obra educativa marista. Trata-se, em definitivo, do paradigma em que os processos, o pessoal e as tarefas diárias estão
alinhados com a missão institucional de “Jesus Cristo conhecido e amado formando bons cristãos e bons cidadãos”.
101. Formação continuada. Todo profissional que desempenhe na atualidade
funções diretivas tem o desafio inevitável de atualizar, aprofundar, articular os
conhecimentos teóricos e as práticas, de maneira permanente na trajetória profissional. A formação inicial deve ser pertinente e relevante para habilitar o desempenho laboral. A formação continuada aperfeiçoa, especializa e potencia a gestão.
Em termos do Guia do Mestre, esse âmbito do itinerário laboral é expresso em
termos da “missão do educador cristão, formação do futuro mestre e a formação
do diretor marista aos novos mestres”. Já nos anos iniciais do Instituto era concebida a escola como espaço de aprendizagem, produção de conhecimento e exercício de boas práticas de gestão.
102. Quadro educacional nacional e internacional. Hoje vivemos uma ampla gama
de transformações no sistema de ensino. Como exemplo, podem ser mencionadas algumas mudanças amplamente visíveis em diversas regiões do mundo de
natureza organizacional e curricular, assim como a incorporação das tecnologias
da informação que são instaladas em e para as escolas. Propomos, por um lado,
Capítulo VI
43
novos modelos didáticos aos docentes e, por outro, assinalamos um novo papel
ao(à) estudante como gestor de sua própria aprendizagem. De maneira crescente,
estão sendo desenvolvidos sistemas de avaliação, tanto em nível nacional quanto
internacional. Alguns deles estão focados explicitamente na avaliação de desempenho da gestão, de gerenciamento e de redução de custos .
103. Perspectiva dos agentes da educação. Na época atual, na expressão de Gue
Bajoit, estamos na presença “de um novo sistema”. Um sistema no qual estudantes, famílias e educadores são simultaneamente atores e espectadores. São atores
quando estão localizados no cenário dando forma às mais diversas cenas e papéis
e proclamando debates com questionamentos de toda natureza e em linguagem performativa. São espectadores, quando processam as imagens desfilando na
frente de seus olhos, lembrando-se de cenas anteriores, mas percebendo sensações
percucientes a respeito das situações que intuem e podem irromper ao divisar o
novo cenário. A consciência vai se instalando sutilmente nesses atores-espectadores, pois os modelos, formas, conteúdos e comportamentos de ontem já não são
coordenadas úteis nem pertinentes.
Núcleos do plano de formação
104. O plano de formação é dividido em seis núcleos que compõem a gestão institucional, com base na particularidade de espírito e governança fundada no carisma
e missão marista. Cada núcleo, por sua vez, está organizado em um quadro que
explicita a identidade, os elementos implicados, as expectativas de realização (esses três primeiros considerados como a identidade do núcleo), as competências e
os conteúdos de formação que aborda. O esquema também permite visualizar o
que é próprio e distintivo de cada núcleo.
105. O primeiro componente define a identidade do núcleo e sua especificidade.
106. O segundo identifica os elementos implicados diretamente. É reconhecida a
variedade de aspectos de que se responsabiliza o diretor em formato pessoal e na
interação com a equipe de gestão.
107. O terceiro refere-se à expectativa de realização. Aponta as metas a alcançar no
processo de formação e atribui sentido e direção à gestão da instituição de ensino
com missão e visão própria.
44
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
108. O quarto identifica as competências funcionais e de conduta que incluem tendências em si próprias. Entende-se por competência o conjunto integrador de
habilidades cognitivas, procedimentais e de atitudes que podem e devem ser
alcançadas ao longo do processo de formação e que resultam imprescindíveis
para garantir o desenvolvimento pessoal, social, de missão e vocação do diretor
marista e sua adequação às necessidades do contexto vital para o exercício efetivo
como “bom cidadão e bom cristão”.
109. O quinto incorpora os conteúdos de formação, de consolidação temática e articulados em núcleos semelhantes.
Capítulo VI
45
110 Núcleo: liderança carismática marista
Identidade
Definição
Refere-se ao selo marista que está impresso na gestão da obra de ensino, inspirada no carisma e na missão de evangelizar pela educação. A tarefa de gestão se entende como um ofício, para o qual é convocado
um educador com a finalidade de orientar e dirigir uma comunidade educativa que evangeliza. A singularidade dessa tarefa vem sendo assumida como um serviço de incentivo e governança, visível na presença e
no acompanhamento das pessoas e dos processos confiados ao diretor marista. O desempenho do cargo
e o cumprimento das responsabilidades inerentes são conformados pela intencionalidade de orientar e
dirigir a obra como espaço de evangelização pela educação.
Expectativa de realização
Elementos
implicados
1.
Identidade Institucional. Explicita os princípios inspiradores fundamentais que devem estar presentes
em qualquer obra educativa e que surgem da tradição pedagógica do Instituto.
2. Descreve os processos e as formas de agir, coerentes com a missão de evangelizar pela educação.
3. Itinerário de formação carismática. Instala o selo institucional em cada um dos processos-chave de
gestão do pessoal (captação, seleção, indução, desenvolvimento e crescimento profissional).
4. Acompanhamento, supervisão e avaliação de desempenho. Estratégias para o monitoramento e o
crescimento nos âmbitos pessoal, profissional e espiritual que caracterizam o estilo carismático da
gestão de ensino.
1.
Ser responsável para que a obra educativa seja conduzida por uma equipe colegiada, que torne visível
o estilo carismático de gestão nas formas de pensar, sentir e agir no desempenho de ofício.
2. Atender às necessidades educativas da Igreja, da comunidade local e de famílias, com uma oferta de
ensino evangelizadora de qualidade.
3. Dar continuidade ao carisma marista, no tempo e nos diversos lugares, onde já existem obras educativas de ensino e nos novos postulados que se empreendam.
Exemplos de Indicadores de Formação da Província neste núcleo
1. O diretor recebeu formação em Patrimônio e Carisma
Marista por parte da Unidade Administrativa.
2. A Unidade Administrativa vem se preocupando por oferecer uma formação complementar a seus Diretores em
Teologia, Moral Cristã e Doutrina Social da Igreja.
5. A Unidade Administrativa propicia ferramentas e formação para acompanhar, supervisionar e avaliar o desempenho de seus interlocutores. São estratégias para
o monitoramento e o crescimento nos âmbitos pessoal,
profissional e espiritual que caracterizam o estilo carismático da gestão de ensino.
3. Na formação do Diretor enfatizamos tanto a vertente
evangelizadora quanto a educacional para ter eficientes
ferramentas para dirigir a obra como espaço de evangelização pela educação.
4. A Unidade Administrativa possui um itinerário de formação carismática, no qual instala o selo institucional
em cada um dos processos-chave de gestão de pessoal
(captação, seleção, indução, desenvolvimento e promoção profissional).
46
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Competências
Funcionais
1. Idoneidade pessoal segundo o perfil do diretor
a quem é confiado um cargo diretivo.
2. Qualificação profissional e trajetória laboral na
instituição.
3. Exercício do cargo com critérios de autonomia
responsável, responsabilidade compartilhada,
criatividade e empreendimento.
4. Prestação de contas da gestão junto aos superiores do Instituto e às autoridades e regulamentações de organismos locais.
De conduta e vocacionais
1. Conhecimento e evidências de gestão de patrimônio marista para diretores.
2. Habilidades sociais observadas na equipe de
educadores nas relações com as famílias, estudantes e organismos locais nos planos eclesiásticos e cíveis.
3. Incentivo e condução da comunidade educativa
com ênfase nos valores maristas de humildade,
presença, proximidade, espírito de família e
amor ao trabalho, e a espiritualidade do seguimento de Jesus na comunidade eclesial.
4. Disponibilidade para ser acompanhado no plano espiritual e profissional como manifestação
de “Irmãos e Leigos, juntos na missão”.
5. Desenvolvimento de sentido vocacional marista.
6. Disponibilidade para viver uma presença ativa
entre as crianças e jovens.
Conteúdos da formação
1. Patrimônio Marista para Diretores.
a. Vida do Fundador e os primeiros Irmãos.
b. Documentos e textos do Fundador e da época
fundacional.
c. Documentos, textos e biografias dos Irmãos
Superiores-Gerais.
d. Vida de maristas notórios (beatos, veneráveis,
mártires, fundadores,etc.) e seus pioneiros de
liderança.
e. Documentos do Patrimônio (Capítulos Gerais,
documentos da Congregação, Circulares, etc.)
f. Carisma e espiritualidade marista: amor a Jesus, amor
a Maria, humildade, modéstia, amor ao trabalho,
sentido de missão, proximidade e presença junto às
crianças e jovens, amor aos pobres.
g. Sentido vocacional marista: Irmãos e Leigos.
h. Evangelizar com base na da educação.
2. Atenção ao meio do público-alvo e estudo de contexto
sociocultural da obra educacional.
a. Cultura infantil e da juventude.
b. Realidade familiar.
c. Pós-modernidade e tendências culturais emergentes.
6. A unidade administrativa trabalha seus diretores nas
habilidades sociais observadas para se relacionarem com
seus educadores, com as famílias, estudantes e organismos locais nos planos eclesiásticos e cíveis.
9. A unidade administrativa congrega espaços, pessoas
e disponibilidade para acompanhar seus diretores no
plano espiritual e profissional como manifestação de
“Irmãos e Leigos, juntos na missão”.
7. A unidade administrativa promove e forma no incentivo
e condução da comunidade escolar com ênfase nos
valores de humildade, presença, proximidade, espírito
de família e amor ao trabalho.
10. A unidade administrativa propicia experiências que
facilitam a conversão e adesão incontinente à pessoa de
Jesus Cristo, ao estilo de Maria e Champagnat.
8. A unidade administrativa patrocina oficinas e promove
estudos sobre o contexto sociocultural da obra educativa (cultura da infância, da juventude; realidade familiar;
pós-modernidade).
11. A Unidade Administrativa desenvolve uma proposta de
acompanhamento aos diretores baseada na espiritualidade marista.
Capítulo VI
47
111 Núcleo: Planejamento estratégico
Identidade
Definição
Corresponde à metodologia escolhida para orientar e dirigir o colégio, alinhado com a missão institucional de evangelizar pela educação. A condução da obra educativa é realizada com base na perspectiva de
“autonomia responsável e responsabilidade compartilhada” (Missão Educativa Marista nº 111). Esse modo
de fazer é uma ferramenta para unificar vontades, articular ações e evidenciar o comprometimento com a
realização dos objetivos definidos no Plano Estratégico Provincial. Também é relevante pelo modo como
é concebido, integrado e executado, com a rotina de ensino, dos processos planejamento, organização,
condução, monitoramento, acompanhamento, supervisão e avaliação. É uma forma de fazer que gera
conhecimento e ilumina os agentes para tomada de decisões oportunas e significativas para a missão e
visão do centro educacional marista.
Expectativa de realização
Elementos implicados
1.
Objetivos institucionais. Explicita e visualiza as metas que definem as filosofias de empoderamento
à luz da missão e postulados de cada obra educativa marista.
2. Articulação de pessoas, processos e condições. Caracteriza a sinergia que gera o plano estratégico
como forma de trabalho focalizado em metas, a coordenação entre os agentes, o emprego eficiente
dos recursos para gerar as condições favoráveis à evangelização pela educação.
3. Avaliação institucional. É a fonte que personifica e organiza a informação produzida no interior e no
exterior do estabelecimento. Identifica as virtudes, oportunidades, debilidades e ameaças que se
apresentam para evangelizar nesse contexto de espaço e tempo do colégio.
4. Melhoria contínua e inovação. Explorar os processos para facilitar melhoria contínua no centro e a
busca de inovação constante em todas as áreas de gestão e educação.
1.
Coerência entre a missão institucional e as pessoas, processos e resultados evidenciados na
tarefa de evangelizar.
2. Clareza nas metas e na forma de trabalho, em nível individual como agente educativo, assim
como nas equipes respeitando suas idiossincrasias.
3. Melhoria contínua instalada como cultura e atitude institucional; respeito do contexto social e
da ação educativa que oferece às crianças; meninas e aos jovens do colégio marista.
Exemplos de Indicadores de Formação da Província neste núcleo
1. A Unidade Administrativa tem formado seus diretores
via ferramenta de Planejamento Estratégico como uma
forma de unificar vontades, articular as ações e evidenciar o comprometimento com a realização dos objetivos
definidos pelo Instituto e pela Província Marista; e
outorgar recursos no desenho, instalação, monitoramento, avaliação de projetos no âmbito de ensino.
2. O Diretor, produto dessa formação; concebe, integra e
executa, com base nas rotinas de ensino, nos processos
de planejamento, organização, condução, monitoramento, acompanhamento, supervisão e avaliação, como
uma forma gerar conhecimento e iluminar os agentes
educativos para tomada de decisões oportunas e significativas para a missão e visão do colégio marista.
48
3. A Unidade Administrativa promove em seus diretores a
articulação de pessoas, processos e condições. Caracteriza a sinergia que gera o plano estratégico, como forma
de trabalho focalizado em metas, a coordenação entre
os agentes, o emprego eficiente dos recursos para gerar
as condições favoráveis à evangelização.
4. Na construção do Planejamento Estratégico está contemplada a avaliação institucional como fonte que
visualiza e organiza a informação produzida no interior
e no exterior das obras educativas. Identifica as consistências, oportunidades, fragilidades e ameaças à evangelização nesse contexto de espaço e tempo em que se
inclui o colégio.
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Competências
Conteúdos da formação
1.
Funcionais
1. Evidenciar capacidade de organização das pessoas, tarefas,
tempos e condições requeridas para o funcionamento de uma
instituição de ensino.
2. Conhecimento e experiência da metodologia de planejamento estratégico para instituições de ensino.
3. Sustentabilidade no desenho, instalação, monitoramento e
avaliação de projetos de ensino.
4. Gestão de tecnologias da informação e comunicação aplicável ao planejamento estratégico.
5. Evidenciar uma disposição favorável para a capacitação permanente na área educativa.
6. Desenvolver iniciativas de melhoramento institucional e de inovação.
7. Envolver-se em um processo contínuo de aprendizagem institucional.
De conduta:
1. Obter e manusear informação relevante do centro educacional
e do seu entorno como requisitos para tomada de decisões.
2. Promover a criatividade, o pensamento divergente e a capacidade crítica para a gestão de ensino.
3. Comunicar-se assertivamente com as pessoas.
4. Constituir equipes, delegar tarefas e monitorar sistematicamente o processo educacional.
5. A Unidade Administrativa na formação do diretor
promove a coerência entre a missão institucional e as
pessoas, processos e resultados que ficam evidentes na
tarefa de evangelizar pela educação; que seja clara nas
metas e na forma de trabalho no plano individual como
agente educador, assim como nas equipes, respeito às
responsabilidades que são próprias.
6. Melhoria contínua entronizada como cultura e atitude
institucional de respeito ao contexto social e à ação
educativa que oferece às crianças, meninas e aos jovens
no colégio marista.
Modelos e metodologia de
Planejamento Institucional com visão
estratégica.
a. Modelos de diagnóstico e avaliação
para instituiçõesde ensino.
b. Metodologia de projetos.
c. Formulação de planos de melhoria.
d. Sistemas de monitoramento e
avaliação de planos estratégicos.
e. Processos de mudança e inovação
(gestão da mudança significativa).
f. Aspectos-chave da legislação no
desenho estratégico dos centros
educativos.
2. Atualidade educacional na região e no
próprio país: tendências locais no desenho de centros educacionais,
funcionamento, demandas e processos
externos de avaliação institucional.
3. Desenvolvimento e melhoria institucional:
a. Escolas performativas.
b. Instituições que aprendem.
c. Educação de qualidade.
d. Educação em contextos de
vulnerabilidade e pobreza.
4. Sistemas e tecnologias de informação e
comunicação, para o monitoramento
do Plano Estratégico.
8. A Unidade Administrativa atualiza seus diretores na
leis da educação, planos e programas oficiais,reformas
e inovações vigentes, estatuto docente, Estatuto da
Criança e do Adolescente.
9. Exige-se de diretores formação pedagógica em instituições de desenvolvimento em larga escala de serviços
externos de cuidados para crianças; em instituições que
aprendem; de educação qualificada; em contextos de
vulnerabilidade e pobreza; e em sistemas e tecnologias
de informação e comunicação.
7. Na Unidade Administrativa promove-se e forma-se o diretor marista na criatividade, no pensamento divergente
e capacidade crítica para a gestão de ensino.
Capítulo VI
49
112 Núcleo potencial humano e ambiente
Identidade
Definição
Este núcleo de gestão fixa a atenção nas condições estratégicas do desempenho da vocação docente e
do clima organizacional pertinente para cumprir a missão de Evangelizar pela Educação em cada uma das
obras de ensino
O desempenho da profissão diretiva é concebido como um ministério em que são convocados todos os
componentes da comunidade educativa, no exercício das tarefas próprias e no cumprimento das responsabilidades associadas ao cargo. O convite é dirigido às pessoas do quadro e que possuem experiências
de vida, heterogêneas e multifacetadas. “Nós somos respeitosos com o itinerário de cada um. Há espaço
para os que se debatem na dúvida e a incerteza espiritual; são escutados e dialogamos; há lugar para
todos” (Água da rocha, 114).
O clima organizacional, entretanto, faz referência aos vínculos que estabelecem as pessoas, como
componente inevitável para possibilitar a Evangelização e a Educação. Está evidenciado nas atitudes e
comportamentos que destacam uma convivência salutar e de comunicação efetiva entre os educadores.
Construindo um ambiente de ensino no qual se expressa o selo marista de presença, proximidade e espírito de família, com relacionamentos francos, tolerantes e inclusivos da diversidade.
Elementos
implicados
1.
Instâncias de participação e representação. São as instâncias que geram sinergia entre as pessoas, as
responsabilidades e os processos implicados para evangelizar com base na educação.
2. Canais de informação e interação. Concernentes aos meios e estratégias adequadas para dar a conhecer e suscitar adesão e comprometimento com a missão institucional.
3. Valores de relacionamento. É o conjunto de atributos de valor agregado que aporta o Evangelho e
a educação no relacionamento entre os integrantes da comunidade de ensino. Segundo palavras de
São Marcelino, acolhida, humildade, simplicidade. No contexto sociocultural do século XXI, tolerância, inclusão e resolução pacífica de conflitos.
Expectativa de
realização
1.
1. Valores evangélicos como metas a alcançar no colégio marista. Evidenciar que os valores evangélicos estão presentes nos estamentos, nos espaços, nas atividades e na forma particular como as
pessoas se conhecem, relacionam e trabalham.
2. 2. Vivência comunitária que outorga “continuidade à herança recebida dos primeiros irmãos, os quais
em torno à boa Mãe aprofundavam o sentido da fraternidade, da abnegação e da entrega aos outros”
(Constituições, 49).
3. 3. Promoção humana, profissional e espiritual como consequência lógica do conhecimento profundo
do outro, das condições e possibilidades estipuladas para incorporá-lo a uma tarefa cujo perfil potencia a ação evangelizadora e educativa.
Exemplos de Indicadores de Formação da Província neste núcleo
1. Os Diretores da Unidade Administrativa são alinhados
para acompanhar as pessoas “loco” e que possuem
experiências de vida heterogêneas e multifacetadas.
“Nós somos respeitosos com o itinerário de cada um. Há
espaço para os que se debatem na dúvida e na incerteza
espiritual; são escutados e dialogamos; há lugar para
todos” (Água da rocha, 114).
2. A instituição delineia um itinerário formativo
profissional para os diretores atualizarem suas
competências e habilidades no desenvolvimento da
missão e gestão marista.
humana e cristã e de comunicação efetiva entre os
membros da comunidade escolar. Constrói um ambiente
de ensino no qual é expresso o selo marista de presença,
proximidade e espírito de família, em relacionamentos
francos, tolerantes e inclusivos da diversidade.
4. A Unidade Administrativa atualiza seus diretores em
canais de informação e interação, referindo os meios e
estratégias pertinentes para dar a conhecer e suscitar
adesão e comprometimento com a missão institucional.
3. A formação do diretor fomenta clima organizacional
seguro, que é evidenciado nas atitudes e
comportamentos, deixa visível uma convivência
50
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Competências
Conteúdos da formação
Funcionais
1. Competência em habilidades sociais, assertividade e comunicação
objetiva oral ou escrita na modalidade verbal e na escrita.
2. Confiança e credibilidade entre os agentes participantes e colaboradores
da comunidade educativa.
3. Conhecimento pessoal da equipe de trabalho sob sua responsabilidade,
capacidade para escutar e orientar as pessoas no desempenho das tarefas
próprias do cargo.
4. Responsabilidade no cumprimento pleno do Marco de Gestão de Pessoal.
5. Capacidade de análise dos processos interpessoais e organizacionais implícita ou explicitamente manifestados na comunidade escolar.
Atitudinais
1. Evidenciar nos comportamentos os valores institucionais de presença, proximidade e espírito de família.
2. Projetar a construção de comunidades no seio da vida de ensino.
3. Relacionar-se com pessoas de maneira franca, sincera e respeitosa.
4. Capacidade para lidar com conflitos e queixas da comunidade.
5. Imparcialidade e objetividade para abordar de maneira equânime e integral as situações que impactam negativamente o ambiente organizacional.
6. Demonstrar interesse e conhecimento da equipe profissional do colégio,
assim como do conjunto de atividades e processos desenvolvidos.
7. Gerar as condições que contribuem para a construção de fraternidades de
Champagnat entre os diversos componentes da comunidade escolar.
8. Desenvolver os valores maristas de relacionamento: fraternidade, acolhida, presença, humildade, simplicidade e espírito de família.
9. Propiciar orientação para o autodesenvolvimento na formação do diretor.
5. A Instituição evidencia que, na sua formação, os valores
evangélicos estão presentes nos estamentos, nos espaços, nas atividades e na forma particular de como as
pessoas se conhecem, se relacionam e trabalham.
6. São desenvolvidas as competências relativas a habilidades sociais, assertividade e de comunicação objetiva,
oral e verbal para os diretores.
7. São facilitadas ferramentas aos diretores para o conhecimento pessoal de sua equipe de trabalho, para desenvolver a capacidade de escutar e orientação às pessoas
no desempenho das tarefas próprias do cargo;
1.
Habilidades sociais e assertividade para diretores. Relações
humanas.
2. Coaching aplicado à educação
(o gestor como educador).
a. Teoria de grupos.
b. Gestão da ansiedade e da
impulsividade.
c. Gestão de conflitos.
d. Modelagem de
comportamentos.
e. Mediação em ambientes de
ensino.
3. Instâncias de participação e
representação estudantil.
a. Instalação de redes de
comunicação e informação
efetivas entre os diversos
agentes educacionais.
b. Emprego e gestão das novas
tecnologias da comunicação e
da informação.
c. Instâncias de representação e
participação de estudantes,
famílias, docentes, assistentes
da educação.
4. Valores maristas de relacionamento: fraternidade, acolhida,
presença, humildade, simplicidade e espírito de família.
para impulsionar a capacidade de gestão de conflitos
e queixas na comunidade escolar; para desenvolver a
imparcialidade e objetividade na hora de abordar de
maneira equânime e integral as situações que impactam
negativamente o ambiente organizacional.
8. E, como fruto dessa formação, espera gerar as condições
que contribuem para a entronização de fraternidades de
Champagnat entre os diversos setores da instituição.
Capítulo VI
51
113 NÚCLEO EVANGELIZAÇÃO E PASTORAL
Identidade
Faz referência aos processos pastorais que são consequência lógica da missão institucional de evangelizar transformando o colégio em uma Igreja da vida. A dimensão de pastoral é centrada na pessoa de Jesus
Cristo e no seu Evangelho, vividos comunitariamente, ao estilo de Maria. Esses processos são orientados
a acompanhar as buscas da fé por meninos, meninas, jovens e adultos a fim de propenderem à aceitação
do Reino. A ação pastoral, no contexto de ensino, por meio dos agentes de pastoral, é uma oportunidade de evangelização para toda a comunidade, assim como para as pessoas e instituições estabelecidas no
entorno do colégio. Ela, como expressão da evangelização, influi no exercício do currículo, na administração, na visão estratégica e nas decisões operacionais.
Implicações
Definição
1. Protagonismo de meninos, meninas e jovens. Consideramos que os destinatários dos planos e processos pastorais são atendidos como indivíduos de Evangelização, com especial referência às formas
de pensar, sentir e agir.
2. Realização do Carisma e a Missão. É a relação com a compreensão da vida de ensino como espaço
intencionado para evidenciar o selo evangelizador da educação marista.
3. Formação de Diretores. Considera itinerário formador de Diretores nos âmbitos pessoal,profissional
e espiritual emoldurado numa teologia e eclesiologia para leigos.
4. Articulação com a Igreja local e atividades eclesiais. Demonstra como um diretor deve realizar
uma gestão com plena vinculação com a comunidade local, em especial com as instituições da Igreja, a fim de levar nossos processos e ações de evangelização em forma articulada com as autoridades e movimentos eclesiais de nosso entorno.
5. Incentivo da cultura vocacional da obra. Estatui o relacionamento com o comprometimento que
deve ter todo Diretor em incentivar e permitir os espaços para o desenvolvimento de um projeto
vital de seus estudantes, com especial preocupação por aqueles com um chamado à vida religiosa.
Expectativa de
realização
1.
A totalidade da vida do colégio é concebida como experiência de evangelização que está dirigida a
todos os componentes da comunidade escolar, local de revelação dos caminhos da fé.
2. O colégio orienta um projeto de vida que é desenhado na moldura de uma cultura vocacional, com
base no testemunho dos egressos e adultos de presença influente no universo dos meninos, meninas
e jovens de todo colégio marista.
3. O conteúdo pastoral impregna o currículo a fim de favorecer a integração da fé, da cultura e da vida
de cada integrante da comunidade escolar.
4. Evangelizar pela Educação evidenciada no comprometimento com a vida, a justiça, a paz, promovendo a cultura da solidariedade, preferencialmente entre os mais necessitados.
Exemplos de Indicadores de Formação da Província neste núcleo
1. Formação de Diretores na dimensão de pastoral,
centrada na pessoa de Jesus Cristo e no Evangelho,
vividos comunitariamente, ao estilo de Maria. Esses
processos são orientados a identificar e acompanhar as
buscas de fé pelos meninos, meninas, jovens e adultos
com propensão à aceitação do Reino.
4. Atualizar os diretores para uma concepção de totalidade
da vida do colégio na dimensão da evangelização.
2. Integrar ativamente o Carisma e a Missão ao ensino
como espaço propício à evangelização pela educação
marista.
6. Qualificar diretores a evangelizar pela educação
evidenciada no comprometimento com a vida, a
justiça, a paz, promoção da cultura da solidariedade,
preferencialmente entre os mais necessitados.
3. Considerar o itinerário de formação de Diretores nos
âmbitos pessoal e espiritual consagrados numa teologia
e eclesiologia para leigos.
52
5. Dar a conhecer o conteúdo pastoral pelo corpo de
gestores, a fim de favorecer a integração da fé, da
cultura e da vida em cada setor de aprendizagem.
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Competências
Conteúdos da formação
Funcionais
1. Administrar o colégio demonstrando comprometimento,
criatividade e sensibilidade para promover a Missão de
Evangelizar com base na Educação.
2. Aplicar a formação profissional de acordo com o perfil
de cargo nos âmbitos da pastoral educativa, teologia
para leigos, acompanhamento espiritual e psicologia da
criança e da infância.
3. Demonstrar, por meio das formas de pensar, sentir e agir,
comunhão com a Igreja e adesão ao Carisma Marista.
4. Evidenciar a prática do discernimento para orientar a
vida de ensino e adotar decisões com critérios de fé.
5. Agir com responsabilidade e solicitude na gestão dos
processos pastorais incentivados no colégio.
6. Facilitar itinerários de formação humano-cristã que
conduzam à realização pessoal do público-alvo.
De conduta
1. Ser responsável por desenvolver experiências, espaços,
harmonizar tempo e pessoal competente para a execução do plano de ação pastoral.
2. Garantir o relacionamento, participação e colaboração
com as instituições eclesiais.
3. Estar presente e colaborar nos incentivos pastorais.
4. Promover na equipe de gestão que se evidenciem atitudes e formas de proceder de adesão e comprometimento com a missão institucional de Evangelizar. Incentivar a
constituição de fraternidades maristas de Champagnat,
que projetam o carisma marista em instâncias além do
âmbito de ensino e a integração dos diversos agentes evangelizadores.
5. Incentivar e fomentar a cultura vocacional da obra.
7. Impulsionar formação profissional de acordo com o perfil do cargo nos âmbitos da pastoral educativa, teologia
para leigos, acompanhamento espiritual e psicologia da
criança e infância.
8. A Unidade Administrativa alinha a prática do discernimento para orientar a vida de ensino e adotar decisões
com critérios de fé e para agir com responsabilidade e
solicitude na gestão dos processos pastorais.
9. A Unidade Administrativa é responsável que cada colégio
adquira experiências, espaços, tempos e o pessoal competente para a execução do plano de ação pastoral.
10. A Unidade Administrativa alinha seu pessoal de direção
para garantir o relacionamento, participação e colabo-
1.
2.
3.
4.
5.
Magistério Eclesial
a. Conferência Episcopal Latino-americana.
b. Magistério eclesial atual em diversas áreas que
afetam a missão.
Fundamentos Pastorais:
a. Teologia Fundamental.
b. Cristologia e Mariologia.
c. Eclesiologia.
d. Moral de Discernimento.
e. Doutrina Social da Igreja.
f. Teologia e Experiências de Espiritualidade.
Em referência à Pastoral Educativa
a. Identidade e Missão da Escola
Católica, como comunidade eclesial.
b. Incentivo pastoral em contextos de ensino.
c. Psicologia da religiosidade para meninos,
meninas e jovens, tempo de ensino.
d. Cultura vocacional.
De acordo com a opção marista:
a. Pastoral Juvenil Marista.
b. Modelo de Pastoral.
c. Marco para a gestão pastoral de uma
comunidade educativa marista.
baseada em uma opção pessoal cristã:
Experiências espirituais para formarbons
evangelizadores, a partir de uma opção
pessoal.
ração com as instituições eclesiais no qual se insere o
colégio marista e está presente, além de colaborar com
os incentivos pastorais realizados no colégio.
11. A Unidade Administrativa promove, nas equipes de
gestão de ensino, as atitudes e as formas de adesão e
comprometimento com a missão institucional de Evangelizar com base na Educação.
12. A Unidade Administrativa incentiva a constituição de
fraternidades maristas de Champagnat, que projetam
o carisma marista em instâncias além do âmbito de
ensino e a integração dos diversos agentes educativoevangelizadores.
Capítulo VI
53
114 Núcleo solidariedade, promoção e defesa
Identidade
Possui sólido traço carismático característico da Congregação Religiosa fundada por São Marcelino
Champagnat. Evidencia a opção preferencial pelos mais pobres, pelos meninos, meninas e jovens excluídos dos sistemas de ensino tradicionais, e que também demonstram precário patrimônio cultural,
ausência de espiritualidade e religiosidade. Este núcleo, dentro do plano de formação continuada do
diretor, traz em seu bojo os desígnios do desenvolvimento da consciência social e do comprometimento
com a justiça. Em consequência, instaura-se, no currículo de maneira sistemática e gradual, a educação
pela solidariedade por meio das experiências de políticas de libertação de estudantes dos ambientes de
pobreza, prestação de serviços aos mais necessitados, e uma ação reflexiva que conforma os planos e
programas curriculares do colégio marista.
Elementos
implicados
Definição
1. Comprometimento explícito com os meninos, meninas e jovens em idade de aprendizagem a fim
de prevenir situações de desconhecimento e/ou vulnerabilidade dos direitos correspondentes à
dignidade da pessoa.
2. Promoção de uma cultura inclusiva, pluralista, tolerante, da diversidade ilustrando a consciência e
a iniquidade de toda forma de discriminação e segregação.
3. Promoção de uma cultural da solidariedade, a partir dos alunos menores, gradual e vivencial.
4. Implantação de experiências de voluntariado para gerar oportunidades de geração de lideranças
transformadoras cristãs.
Expectativas
de resultados
1.
Evidenciar critérios de juízo e comportamentos consuetudinários que evidenciam a apropriação do
valor da solidariedade no entorno escolar, familiar e social no qual atua cada estudante marista.
2. Instalar e implementar um itinerário de formação e de expressão da cultura solidária orientado a
estudantes, famílias, docentes e assistentes da educação.
3. Construir, com os componentes da comunidade, uma cultura solidária que se faça presente na defesa sólida e pertinaz na Doutrina Social da Igreja, Responsabilidade Social da Empresa, Defesa e
Proteção dos Direitos da Infância e da Juventude, e Orientações da Oficina de Solidariedade da Congregação dos Irmãos Maristas.
Exemplos de Indicadores de Formação da Província neste núcleo
1. Na formação do diretor, por parte da Unidade
Administrativa, evidencia-se a opção preferencial pelo
mais pobre, pelos meninos, meninas e jovens excluídos
dos sistemas de ensino tradicionais. Este núcleo, dentro
do plano de formação continuada do diretor, corporifica
a consagração do desenvolvimento da consciência social
e do comprometimento com a justiça.
2. No processo de formação da Unidade Administrativa
instaura-se no currículo, de maneira sistemática e
gradual, a educação pela solidariedade, por meio
das experiências de libertação de estudantes em
ambientes de pobreza, atividades de serviços aos mais
necessitados, a reflexão-ação que conforma os planos e
programas curriculares do colégio marista.
54
3. A Unidade Administrativa alinha seus diretores para
ter um comprometimento explícito com os meninos,
meninas e jovens em idade de aprendizagem, para prevenir
situações de desconhecimento e/ou iniquidade contra os
direitos da dignidade da pessoa; além de ter a promoção
de uma cultura inclusiva, solidária, pluralista, tolerante da
diversidade promovendo a consciência e a transformação
de toda forma de discriminação e segregação.
4. A Unidade Administrativa possui em seu processo
educativo, experiências de voluntariado, com o fim de
gerar oportunidades para o surgimento de lideranças
transformadoras cristãs.
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Capítulo VIII
Competências
Funcionais
1. Ser responsável pela presença e execução dos processos
formadores de solidariedade definidos no plano de ação
do colégio.
2. Disponibilizar formação pessoal, profissional e espiritual no
âmbito da solidariedade em contextos de ensino.
3. Orientar a gestão do colégio com sensibilidade, capacidade executiva para identificar pessoas, contextos ou
ações em que sejam evidenciados comportamentos e/ou
atitudes contrárias à solidariedade que promove o Evangelho de Jesus Cristo.
4. Garantir as condições profissionais, de financiamento,
equipamento e de competência para a promoção da cultura
solidária no contexto de ensino e do social.
De condutas:
1. Evidenciar capacidade para identificar situações que
contradizem o valor da solidariedade no colégio e no
contexto social.
2. Promover o plano de ação de solidariedade e discernimento das oportunidades que expressam consciência social e
comprometimento com a justiça.
3. Incentivar e se fazer presente nas experiências solidárias que
se executam dentro e fora do colégio, visibilizando-as para a
comunidade educacional.
4. Comprometer a ação solidária que promova a igreja
local e/ou as instituições formais de assistência aos mais
necessitados.
Conteúdos da formação
1.
Com base no foco sociopolítico:
a. Informes da ONU sobre Desenvolvimento
Humano.
b. Estudos de pobreza no continente e no país.
c. Experiências internacionais em proteção às
crianças e à juventude (Estatuto da Criança
e do Adolescente), Brasil Programa Meninos,
meninas e jovens construtores de Paz,
Cinde-ONU, Colômbia.
d. Política pública para atender a pobreza.
e. Instituições educacionais no âmbito nacional
com evidências de atenção aos mais
necessitados.
2. De acordo com o olhar eclesial:
a. Doutrina Social da Igreja.
b. Orientações Pastorais do Episcopado
Nacional.
3. Segundo orientações da Congregação:
a. XXI Capítulo Geral.
b. Circulares do Superior-Geral.
c. Documentação Institucional.
d. FMSI.
e. Documento “Caminhos de solidariedade
marista nas Américas: meninos, meninas e
jovens com direitos”.
5. A Unidade Administrativa alinha seus diretores a terem
critérios de juízo e repertório de comportamentos que
tornam visível a apropriação do valor da solidariedade no
entorno escolar, familiar e social em que eles se localizam; também são responsáveis pela presença e execução
dos processos formadores de solidariedade definidos no
plano de ação do colégio; e dispor de formação pessoal,
profissional e espiritual no âmbito da solidariedade em
contextos de ensino.
6. A formação dos diretores da Unidade Administrativa busca
garantir as condições profissionais, de financiamento,
equipamento e de competência para a promoção da cultura solidária no contexto de ensino.
Capítulo VI
55
115 Núcleo curricular
Identidade
Definição
Explicita o modo como é concebido e implementado o Modelo Curricular Marista, coerente com a
missão cotidiana de Evangelizar pela educação. Está focado nas necessidades e urgências das múltiplas
infâncias, adolescências e juventudes para produzir em seus contextos um estilo de educação significativa
que garanta rotas formativas complexas, multirreferenciais, multiculturais, que facilitem a interação e interconexão entre redes de saberes, conhecimentos e valores necessários para a compreensão e interação
com e na sociedade contemporânea.
Abrange o ensino-aprendizagem como estratégia que articula o desenho, planejamento, instalação,
monitoramento e avaliação dos processos organizacionais mais apropriados para que os(as) estudantes
maristas atinjam o mais elevado nível de realização na aprendizagem.
Elementos
implicados
1.
Dar resposta às perguntas básicas que estruturam o currículo: que ensinam tanto quando os(as)
estudantes aprendem como quando são avaliadas as aprendizagens.
2. Aplicar o Modelo Curricular nas práticas de aula a fim de impregnar o processo de ensino-aprendizagem com a missão institucional de evangelizar.
3. Aplicar prioritariamente o Modelo Curricular na totalidade dos colégios que atendem meninos, meninas e jovens com alta vulnerabilidade, assim como em todas as outras obras educacionais.
1.
Expectativa
de realização
2.
3.
4.
5.
Alinhar as práticas de ensino-aprendizagem contempladas no Modelo Curricular Marista com a missão institucional de Evangelizar com base na Educação.
Gerar indicadores que permitam avaliar níveis de realização a respeito da Evangelização dos membros da comunidade escolar.
Garantir melhorias nos níveis de realização de aprendizagem nos(as) estudantes vulneráveis em
todas as áreas compreendidas pela missão de evangelizar com base na educação.
Incrementar os indicadores de promoção e retenção para os/as estudantes dos colégios vulneráveis e
não vulneráveis, como evidência de uma educação de qualidade que os capacita para a inserção social.
Incentivar os(as) estudantes que apresentam altos níveis de vulnerabilidade à continuidade dos estudos ou à inserção no trabalho como alternativas para a construção de um projeto de vida melhor
sustentado e habilitado para a mobilidade sociocultural.
Exemplos de Indicadores de Formação da Província neste núcleo
1. A formação do Diretor na Unidade Administrativa na
área curricular considera o desenho, planejamento,
instalação, monitoramento e avaliação dos processos
organizacionais mais apropriados, para que os(as)
estudantes maristas alcancem o mais elevado nível de
realização na aprendizagem.
2. A formação do diretor da Unidade Administrativa
dá resposta às perguntas básicas que estruturam
o currículo: o quê, como, quanto aprendem os(as)
estudantes, assim como e quando se avaliam os seus
aprendizados.
3. As Unidades Administrativas constroem, para formar
seus diretores, um Modelo Curricular em nível de aula a
fim de impregnar o processo de ensino-aprendizagem da
missão institucional de Evangelizar desde a Educação.
56
4. A Unidade Administrativa busca alinhar as práticas de
ensino-aprendizagem do Modelo Curricular Marista com
a missão institucional de Evangelizar desde a Educação.
5. Na formação, busca gerar indicadores que permitam
avaliar níveis de realização a respeito da Evangelização
dos componentes da comunidade educacional.
6. Demonstrar pela formação de seus diretores melhorias
nos níveis de realização de aprendizagem nos(as)
estudantes dos colégios vulneráveis em todas as
áreas que compreendem a missão de Evangelizar pela
Educação e incrementar os indicadores de promoção e
retenção dos(as) estudantes dos colégios vulneráveis,
como evidência de uma educação de qualidade que os
capacita à inserção social.
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Competências
Funcionais
1. Evidenciar capacidade para o exercício da docência segundo os parâmetros definidos no Modelo Curricular Marista.
2. Garantir a cada estudante vulnerável do colégio que a
aprendizagem é possível de ser alcançada por todos, nas
etapas da criança e do jovem.
3. Incentivar os(as) estudantes a formular altas expectativas
e alcançar elevados níveis de realização, coerentes com o
Modelo Curricular.
4. Conseguir que cada estudante se reconheça como o principal responsável das aprendizagens descritas na missão
de Evangelizar com base na Educação.
5. Capacidade de gestão da área curricular articulando, monitorando e avaliando a fim de programar e desenvolver
inovações curriculares específicas no tempo oportuno.
De condutas
1. Monitoramento sistemático da instalação do Modelo Curricular para dispor de informação na tomada de decisões.
2. Incentivar os docentes a implementar as etapas do Modelo Curricular, desenho, planejamento, instalação, avaliação e alinhados com os princípios institucionais.
3. Garantir que, na aula, seja implementado, assegurado e
verificado o controle de qualidade das estratégias de ensino, assim como o monitoramento e avaliação periódica
do processo de construção do Modelo Curricular.
4. Sistematizar os informes de resultados internos e externos que obtêm os estudantes a fim de orientar as práticas
didáticas mais oportunas e pertinentes.
7. A Unidade Administrativa busca outorgar a capacidade
de gestão a seus diretores da área curricular articulando,
monitorando e avaliando para desenhar e instalar inovações curriculares específicas e no tempo oportuno, e
de monitorar sistematicamente a instalação do Modelo
Curricular para dispor de informação para tomada de
decisões.
8. A Unidade Administrativa forma e incentiva os docentes
gestores a implementar as etapas do Modelo Curricular,
desenho, planejamento, instalação, avaliação e que
estejam alinhados com os princípios institucionais.
Conteúdos da formação
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Modelo Educativo de Evangelização com
base na Educação:
a. Pedagogia marista.
b. Processos de ensino-aprendizagem.
Projeto Curricular.
Modelo Curricular:
a. Teorias e fundamentos curriculares.
b. Organização e dinâmica curricular.
c. Fontes curriculares: psicopedagógica,
filosófica, legal, sociológica e marista.
d. Liderança curricular.
e. Monitoramento curricular.
f. Avaliação da qualidade da aprendizagem e do
desenho curricular.
g. Dimensão sociopolítica do currículo e da
educação.
h. Tendências contemporâneas: ecologia, cultura
para humanizar, patrimônio marista.
Novas tecnologias TICs
Pensamento crítico, criativo, periférico, inovador, divergente.
Psicologia do desenvolvimento.
Ciclos de aprendizagem.
Leis e referências legais:
a. Leis educacionais.
b. Planos e Programas Oficiais.
c. Reformas e inovações vigentes.
d. Estatuto docente.
e. Estatuto da Criança e do Adolescente.
10. A Unidade Administrativa requer na sua formação
sistematizar os relatórios de resultados internos e externos que dos estudantes a fim de orientar as práticas
didáticas mais oportunas e pertinentes.
11. A Unidade Administrativa atualiza seus gestores em
Leis Educacionais; Planos e Programas Oficiais; Reformas e inovações vigentes; Estatuto docente; Estatuto
da Criança e do Adolescente.
9. A Unidade Administrativa garantirá, por meio de capacitações, que na aula se implemente, garanta e verifique
o controle de qualidade das estratégias de ensino, assim
como o monitoramento e avaliação periódica do processo de instalação do Modelo Curricular.
Capítulo VI
57
116 Núcleo gestão administrativo-financeira
Identidade
Este núcleo de Gestão Administrativo-Financeira é responsável pelo resguardo, utilização, administração
do patrimônio institucional para dar garantias de viabilidade e sustentabilidade
ao colégio. O critério geral está definido pelo uso evangélico dos bens a fim de contribuir para a aprendizagem dos(as) estudantes, coerente com a missão de Evangelizar com base na Educação.
O orçamento local dá conta da variedade de necessidades que apresentam as obras educativas
de ensino e se confeccionam e aprovam, conforme as normas gerais do Instituto, as definidas
pelas instâncias de incentivo e governança, e de cada obra em particular. Compõem o orçamento do
colégio, os recursos, a infraestrutura, tecnologia, reparações, equipamento, renovação de material, remunerações do pessoal, obrigações legais, tributárias e financeiras a fim de contribuir para a aprendizagem
dos meninos, meninas e jovens do colégio marista.
Elementos
implicados
Definição
1. Disponibilidade de recursos, segundo os requerimentos detalhados no orçamento com impacto
direto na educação carismática de qualidade aos(às) estudantes.
2. Sistemas de controle de gestão, que permitam monitorar e revisar as contas de forma rápida, veraz
e segura para garantir o bom funcionamento de todos os colégios.
3. Idoneidade e integridade do pessoal, demostráveis pelo nível de formação alcançado e por responder satisfatoriamente à confiança depositada pela instituição no desempenho das tarefas e responsabilidades próprias do cargo de direção.
4. Critério de eficiência no uso e administração de todos os recursos que conformam o patrimônio
institucional. Supõe também gerar todas as condições para realizar a aprendizagem.
Expectativa
de realização
1.
Oferecer aos meninos, meninas e jovens um colégio estruturalmente implementado, que favorece o
processo de ensino-aprendizagem, com o uso de recursos tecnológicos e materiais adequados, assim
como um espaço físico seguro, limpo e em harmonia com a natureza.
2. Otimizar o uso dos recursos financeiros e contábeis a fim de consolidar despesas operacionais para
atender a uma população em condição de vulnerabilidade.
3. Incorporar o valor da humildade como critério orientador do pensamento e do comportamento
dos(as) integrantes da comunidade.
4. Administrar os recursos naturais disponíveis no entorno, com autoridade e condutas que favoreçam
a comunhão com a natureza.
Exemplos de Indicadores de Formação da Província neste núcleo
1. A formação do Diretor na Unidade Administrativa
na área de recursos materiais e financeiros dará
ferramentas técnicas e humanas para o resguardo,
utilização e administração do patrimônio institucional
para dar garantias de viabilidade, sustentabilidade e uso
evangélico dos bens do colégio.
2. A formação do diretor dá resposta à gestão conceitual
e operacional do orçamento, dos recursos destinados
à infraestrutura, tecnologia, reparações, equipamento,
renovação de material, remunerações do pessoal,
encargos tributários e financeiros a fim de contribuir
para a aprendizagem dos meninos, meninas e jovens do
colégio marista.
58
3. As Unidades Administrativas desenvolvem, para formar
seus Diretores, um Sistema de controle de gestão que
permite monitorar e rever as contas de forma rápida, veraz
e segura para garantir o bom funcionamento administrativo,
financeiro e econômico de todos os colégios.
4. A formação dos diretores tem conteúdos que perseguem
consolidar a idoneidade e a integridade do pessoal
administrativo, demonstradas pelo nível de formação
alcançado e por responder satisfatoriamente à confiança
depositada pela instituição, no desempenho das tarefas
e responsabilidades que são próprias do cargo.
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Conclusión
Competências
Conteúdos da formação
Funcionais
1. Programar e executar planos estratégicos para a gestão dos recursos materiais e financeiros do colégio.
2. Organizar os espaços de ensino, segundo os critérios pedagógicos
definidos para meninos, meninas e jovens.
3. Gerar espaços que favoreçam a construção de um estilo de convivência sadia e segura para os(as) estudantes, pais e mães, docentes, administrativos e pessoal assistente da educação.
4. Implementar os recursos tecnológicos e materiais atualizados e de
alto impacto para a realização de aprendizagens na área cognitiva e
afetivo-social.
5. Implementar e monitorar as ferramentas tecnológicas de controle
de gestão para garantir o adequado funcionamento do colégio.
6. Gestão em nível de usuário das aplicações financeiras e contábeis
de um colégio.
7. Desenvolver uma perspectiva de uso evangélico dos bens na organização de ensino.
De conduta
1. Organizar e supervisionar os resultados do desempenho financeiro
dos colégios.
2. Assegurar a viabilidade e promover o desenvolvimento sustentável da obra educacional.
3. Favorecer o alinhamento e gestão financeira e contábil do colégio, com as instâncias de incentivo e governo da Província.
4. Identificar e analisar a existência de relação entre os níveis de
aprendizagem alcançados e os resultados financeiros institucionais.
5. A Unidade Administrativa busca alinhar, com sua formação a seus diretores, a otimização do uso dos recursos
financeiros e contábeis; normas contábeis e tributárias;
administrar responsavelmente os recursos disponíveis; e
incorporar o valor da humildade, como critério orientador do pensamento e do comportamento.
6. Evidenciar na formação de seu Diretor de que são capazes de desenhar e executar planos estratégicos para
a gestão dos recursos materiais e financeiros; organizar
os espaços de ensino, segundo critérios pedagógicos
definidos para meninos, meninas e jovens; gerar espaços
que favoreçam a construção de um estilo de convivência sadio e seguro para os(as) estudantes, pais e mães,
docentes, administrativos e pessoal assistente da educação; implementar os recursos tecnológicos e
materiais atualizados e de alto impacto para a realização
de aprendizagens na área cognitiva e afetivo-sociais.
1.
2.
3.
4.
5.
Conhecimento e gestão do plano
de negócios de uma instituição de
ensino.
Gestão de resultados contábeis e
financeiros da instituição de ensino:
a. Gestão orçamentária.
b. Fluxo de ingressos.
c. Provisão de despesas.
d. Fluxo de caixa.
Leis educacionais:
a. Normas contábeis e financeiras.
b. Legislação trabalhista e docente.
c. Marco de Gestão dos colégios
maristas.
Desenho e planejamento estrutural
dos colégios.
Doutrina social da Igreja e uso evangélico dos bens.
7. A Unidade Administrativa busca outorgar a capacidade
de gestão a seus diretores da área de recursos materiais
e financeiros, de organizar e supervisionar os resultados
do desempenho financeiro dos colégios; resguardar a
viabilidade e promover o desenvolvimento sustentável
da obra educacional; favorecer o alinhamento e gestão
financeira e contábil do colégio com as instâncias de
incentivo e governo da Província; e identificar e analisar
a existência de relação entre os níveis de aprendizagem
alcançados pelos(as) estudantes e os resultados financeiros institucionais.
Capítulo VI
59
CAPÍTULO 7
Pautas para uma metodologia da
formação de diretores
117. Todo processo formativo é orientado com base nos critérios, os objetivos e os
conteúdos desenvolvidos no modelo formativo. Para alcançá-los, torna-se necessária a seleção acertada de uma metodologia ajustada aos fins da formação. Por
metodologia, se entende o caminho ou processo que são oferecidos aos diretores e que são organizados de maneira sistemática e intencional para facilitar sua
aprendizagem. Envolve a eleição de procedimentos e planos de ação, atividades e
recursos, em variáveis próprias dos diretores e do processo mesmo de apreender.
118. No caso dos diretores e com os níveis complexos de conhecimento que é requerido, é imperioso enfatizar metodologias que favorecem o desenvolvimento do
pensamento crítico e da aprendizagem autônoma. Também se enfatizará a utilização de métodos centrados nos participantes e que fortaleçam a responsabilidade
sobre sua própria aprendizagem. A metodologia deverá gerar uma aprendizagem
mais profunda, significativa e duradoura, e facilitar sua aplicação em contextos
mais heterogêneos. Nesse sentido, e sem esgotar a discussão a respeito, deverá
responder a dois elementos básicos: primeiro, os resultados da aprendizagem cog-
60
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
nitiva, competência, indentitária e vocacional, e segundo, as características construtivistas e sociocognitivas da aprendizagem dos adultos ou andragogia.16
119. Nessa metodologia, o diretor assume assim um papel mais ativo na(o):
a. construção e reconstrução de seu conhecimento;
b. interação ativa com os espaço-tempos de ensino, os cenários atuais e futuros
os quais deveria intervir com sua liderança;
c. prática colaborativa e cooperativa de apreender;
d. troca de experiências e conhecimentos de maneira fluida; e
e. desenvolvimento integral de sua liderança de serviço.
120. É importante, finalmente, indicar que a eleição das metodologias deverá garantir
a melhor efetividade e eficiência na aquisição de módulos formativos complexos.
121. Dentro dos níveis de formação, podem ser identificadas duas grandes tipologias, os programas formais e informais. Os segundos se caracterizam por possuir
desenhos formativos sem reconhecimento acadêmico oficial e possuir variedade
temática muito diversa para explorar e consolidar processos e conteúdos específicos da gestão e incentivo educativo e carismático dos centros. Os programas formais possuem reconhecimento acadêmico oficial e têm graus, como diplomado,
licenciatura, pós-graduação, mestrado ou doutorado. Para esses graus, a formação
dos diretores deveria levar em conta a ênfase na sua especificidade, particularmente assegurando uma adequada exposição aos conteúdos de liderança, administração, gestão educativa e identidade institucional. Tanto para as iniciativas
formais quanto informais, a Unidade Administrativa pode estruturar ou facilitar
quaisquer das seguintes modalidades de implantação: presencial, semipresencial,
a distância, formação em-linha e modalidades mistas. Prescreve-se idoneidade e
efetividade de cada uma dessas modalidades e a Unidade Administrativa deverá
equilibrar com tranquilidade a melhor opção que assegure a qualidade e a viabilidade da formação de seus diretores.
16 Andragogia é a ciência e/ou a arte que, estando imersa na educação permanente, é desenvolvida através de uma
praxe fundamentada nos princípios de participação e horizontalidade; cujo processo, ao ser orientado com características
sinérgicas pelo facilitador da aprendizagem, permite incrementar o pensamento, a autogestão, a qualidade de vida e a
criatividade do participante adulto, com o propósito de proporcionar uma oportunidade para lograr seu autor a realização.
[Alcalá, A. A praxe andragógica nos adultos de idade avançada. (1997). In Cazau, P. Andragogía, www.uade.mx. 2001, p.2]. Kraft
menciona algumas características: a. Os adultos se comprometem a apreender quando os métodos e objetivos sejam
considerados realistas e importantes e percebidos como utilidade imediata; b. A aprendizagem de adultos tem sempre
implicação pessoal que decorre em desenvolvimento, autoconceito, preocupação, juízos, autoeficácia; c. Os adultos
desejam ter autonomia e ser a origem de sua própria aprendizagem, isto é, desejam implicar-se na seleção de objetivos,
conteúdos, atividades e avaliações; d. Os adultos, se resistem a apreender em situações que acreditam, põem em dúvida
sua competência, ou seja, imposta; e. A motivação dos adultos para apreender é interna; o que pode se fazer é incentivar
e criar as condições que promovam o que já existe nos adultos; f. A aprendizagem adulta está fomentada mediante
condutas e atividades de formação nas que se demonstre respeito, confiança e preocupação pelo que apreende. (Kraft, N.
The dilemas of deskilling: reflections of a staff developer. Journal of Staff development (EU), 1995, vol. 16, nº 3, p. 31–35).
Capítulo VII
61
122. Para facilitar tanto a diversidade quanto a adaptação a diferentes realidades são
apresentadas a seguir algumas sugestões:
Metodologias
para a formação
62
Orientação
1.
Aprendizagem cooperativa/colaborativa
Metodologias de aprendizagem que surgem
da colaboração ou cooperação grupos que
compartilham espaços de discussão ou realização de
trabalhos.
2.
Comunidades de Aprendizagem
Metodologia de aprendizagem com dinâmica
comunitária, centrada em atuações educativas
dirigidas à solução de problemas e à troca entre
membros que compartilhem necessidades e
interesses comuns.
3.
Redes de aprendizagem
As redes de aprendizagem são redes sociais
em linha mediante as quais os participantes
compartilham informação e colaboram para criar
conhecimento.
4. Apresentação/Foros de boas práticas
(internas/externas)
Metodologia fundamentada na apresentação ou
conhecimento direto de boas práticas ou práticas de
sucesso realizadas em outros meios ou contextos.
5.
Experiência teórica prática com a finalidade de obter
um domínio aplicado de certos conhecimentos ou
processos.
Oficinas com diferentes temas
6. Ensaios reflexivos
Redação de extensão média e ampla de temas especificos, devidamente argumentados e sintetizados.
7.
Condução de processos qualitativos ou quantitativos
para inquirir aspectos pertinentes da realidade ou
conhecimento.
Investigações
8. Aprendizagem baseada em problemas
Metodologia que concentra a integração da aprendizagem na resolução criativa de problemas de
diversas naturezas.
9.
Metodologia centrada na execução de um projeto
que parte de uma realidade e busca uma transformação.
Aprendizagem baseada em projetos
10. Produção bibliográfica
Redação e publicação de livros ou artigos.
11. Produção de inovações educativas
Investigação, conceptualização e implantação de
inovações em cenários educativos.
12. Simulação e jogo
Técnica projetiva para a compreensão baseada nas
interações lúdicas ou na utilização de modelos
dramatúrgicos.
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
13. Contratos de aprendizagem para o trabalho
autônomo
Supõe a reordenação do relacionamento alunoprofessor com base em um documento escrito no
qual é explicitada uma série de comprometimentos
previamente negociados para o trabalho autônomo
14. Estágios
Situar a aprendizagem num contexto alternativo
para ser transferido ao próprio entorno em que atua
o diretor.
15. Estudos de casos
Metodologia qualitativa centrada numa problemática específica para ser analisada em profundidade e
com uma proposta de solução ou explicação.
16. Cursos específicos
Cursos com temática própria.
17. Conferências
Palestras ou mesas-redondas.
18. Exposição e leitura acadêmica
Explanações ou dissertações de personalidades de
notório saber no campo do conhecimento.
19. Coaching
Técnica de direção, instrução e capacitação de uma
pessoa ou grupo, por parte do coach ou treinador,
com o objetivo de atingir alguma meta ou de desenvolver habilidades específicas.
20. Acompanhamento
Serviço de apoio, ao estilo marista, com a proximidade, que sustenta a orientação em nível pessoal.
21. Avaliação
Formas de avaliação para os diretores: autoavaliação,
coavaliação, heteroavaliação e avaliação de resultados.
123. As metodologias apresentadas ressaltam a visão das opções que uma Unidade
Administrativa pode utilizar para dar variedade e profundidade a seu modelo
formativo. Nesse sentido, tanto a eleição quanto a implantação das opções metodológicas representam uma das decisões mais complexas do desenho.
Capítulo VII
63
Considerações
finais
124. A Formação dos Diretores maristas constitui um elemento-chave no incentivocarismático e profissional para orientar a sempre perene meta do Instituto: “Dar
a conhecer e amar a Jesus Cristo”.
125. A reflexão proposta no atual documento apoiará as Unidades Administrativas
e os arquitetos de programas de formação de diretores a criar uma identidade e
visão comum no conjunto da América Marista. Mediante o esforço desenvolvido
no diagnóstico e o Primeiro Encontro Continental de formação de diretores, tem
conseguido identificar os elementos-chave para facilitar um documento orientador, com a esperança de beneficiar cada uma das Unidades Administrativas da
América Marista.
126. Como conclusões que emanaram, podemos identificar:
a. A necessidade, expressada no diagnóstico, de ter programas integrados de formação específica para a missão do gestor e para o cultivo da sua identidade e
espiritualidade marista.
b. A urgência de responder às chamadas contemporâneas, mediante a atualização
dos conteúdos formativos dos diretores e das ações práticas de transformação
64
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
nos centros maristas. A liderança resultante deverá responder às chamadas das
crianças, adolescentes e jovens, às intuições do Instituto, às necessidades sociais
dos países e regiões para garantir uma educação significativa, transformadora,
intercultural e serviçal.
c. A contemporaneidade requer um esforço constante de criatividade, empreendimento, atenção aos pobres e excluídos e opções éticas para unirmos as forças
de crescimento social e para mitigar os antivalores opostos ao Evangelho recorrentes na realidade atual. A capacidade de visualizar, desenhar e concretizar
transformações em estruturas, serviços, programas, desenvolvimento humano
e espiritualidade deve ser uma suporte constante na reflexão e nas opções
dos diretores maristas. As respostas a essas demandas sociais e eclesiais são
construídas junto a uma identidade carismática marista bem desenvolvida e
atualizada constantemente.
d. A formação dos diretores reforça o papel, o aporte e a missão da escola marista
em nossas sociedades atuais. Esse aporte não deve ser secundário, mas de primeira ordem, para oferecer a nossos públicos-alvo uma educação de qualidade
e profundidade em sintonia com nosso legado carismático.
e. A missão do diretor, como imagem de Champagnat, retoma um valor substantivo
para desenvolver as dimensões de uma comunidade dinâmica, integradora e vital.
As possibilidades que acompanham sua missão requerem uma renovada ação de liderança e espiritualidade que irradiam uma formação bem-afiançada e continuada.
f. Os núcleos de formação mais estratégicos para os diretores, emergidos da
reflexão do Primeiro Encontro de Formação de Diretores e do desenvolvimento posterior deste documento são: a identidade e carisma marista, a gestão
curricular, pastoral, de recursos/potencial humano e o clima organizacional,
institucional e de recursos materiais.
g. Nos planos de formação é importante destacar não somente os conteúdos,
mas os objetivos, estratégias, metodologias, princípios fundamentais e a própria sequência curricular. A qualidade dos planos está cifrada em atender as
características próprias desse grupo de líderes maristas, suas necessidades e a
visão de futuro das instituições e Unidades Administrativas. Do cuidado das
experiências de formação derivarão o êxito e a realização dos seus propósitos
tanto para os participantes quanto para o Instituto na América.
127. Com o olhar em anteriores consideraçoes, o presente documento possui uma
prospectiva de futuro. Indicamos alguns elementos básicos.
ConsideraçõeS FINAIS
65
a. As linhas orientadoras pretendem ajudar cada Unidade Administrativa a formular,
adotando-as e adaptando os elementos básicos desenhados neste documento. Assim, poderá ser facilitada a criação de cenários formativos semelhantes para criar
um substrato comum entre os diretores das Américas.
b. Os núcleos formativos poderão ser integrados em iniciativas formais e informais
de cada Unidade Administrativa para completar o existente, reforçar o que já se
possuía e criar novas opções.
c. A proposta atual permitirá estabelecer alianças e programas colaborativos para
maximizar e melhorar as opções locais. Mediante esses meios, os aportes existentes
favorecerão aqueles diretores e unidades administrativas com menores possibilidades e permitirão seguir melhorando as que já possuem estruturas mais sólidas de
formação. Essas iniciativas favorecerão a internacionalidade da Missão e potenciarão o trabalho em rede.
d. A identificação do modelo de formação derivará em futuros diálogos e novas possibilidades para garantir a continuidade, criatividade e diversidade da presença
marista no continente americano. Mediante a colaboração e construção comum
poderá ser gerada uma nova concepção do que significa ser diretor marista em
nossa realidade ajudando a troca de experiências e visões, e facilitará orientações
de melhor qualidade, diante do futuro.
e. A missão de Irmãos e leigos maristas continuará sendo integrada de maneira harmônica e com possibilidades semelhantes para efetivar o princípio de vocações maristas
diversas no exercício da missão de evangelizar mediante a educação.
66
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
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GALUZZI, Sandro. O Evangelho de Mateus: uma leitura a partir dos pequeninos. Comentário
Bíblico Latino-Americano. São Paulo: Fonte Editorial, 2012.
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em: http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Concepcao_multicultural_direitos_humanos_RCCS48.PDF Acessado em: 03 jun. 2012
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______. Com Maria, ide depressa para uma nova terra. Documento do XXI Capítulo Geral. Roma, 2009.
______. Ecos de Mendes. Documento da 1ª Assembleia Internacional da Missão Marista. Brasil, 2007.
______. Em seus braços ou em seu coração. Roma, 2009.
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MORAES, Maria Cândida. Ecologia dos saberes. Instituto Antakarana, 2008.
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NARANJO, Claúdio. Educando a pessoa como um todo para um mundo como um todo.
In RESTREPO, Luís Carlos. O direito à ternura. Trad. Lúcia M. Endlich Orth. Petrópolis: Vozes,
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SAMMON, Irmão Seán D. (Superior-Geral). Tornar Jesus Cristo conhecido e amado. A Vida
Apostólica Marista hoje. Circular. Instituto dos Irmãos Maristas, V. XXXI, nº 3, 6 jun, 2003
SENGE, Peter et al. Presença. Propósito humano e o campo do futuro. São Paulo: Cultrix, 2007.
SOUSA SANTOS, Boaventura. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. Revista
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UMBRASIL. Diretrizes da ação evangelizadora para o Brasil Marista. Brasília, 2013.
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68
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Anexos
A seguir se apresentam duas reflexões sobre a Missão do Diretor e as chamadas da
Escola hoje, que serão um insumo necessário para iniciar processos de reflexão e enriquecimento aos novos olhares que devemos ter para o Diretor Marista, seus desafios e
os processos de formação que são requeridos para eles.
ANEXOS
69
Anexo 1
Hoje é o mais belo dos dias
Neste trabalho procuramos aprofundar um aspecto importante da nossa Missão: a
Evangelização nos Centros Educacionais Maristas e o papel do Diretor.
Para nos aproximar desta temática faremos, em primeiro lugar, um breve percurso pela
evolução para compreender a Evangelização apregoada no Instituto. Em seguida, ficaremos um momento nos desafios desses tempos, e as necessárias transformações que
invocam. Tudo isso nos ajudará a possuir uma compreensão mais clara a respeito do que
significa atualmente Evangelizar num Centro Educacional Marista.
Finalmente, mencionaremos os âmbitos concretos nos quais se coloca a potência evangelizadora de nossos Centros, para melhor compreender, então, o que impulsiona um
Diretor ou Diretora marista de uma obra nessa apaixonante tarefa.
1
Beber nas fontes de nossa paixão
Em nossas origens maristas, existe uma história muito bonita que mostra a paixão e a
mística que incentivava não só Champagnat, mas toda a Primeira Comunidade.
Convido você a ler.
O Irmão Lorenzo carregava consigo provisões desde La Valla e regressava às quintasfeiras para conviver com os Irmãos e se prover do necessário. Ficava alojado na casa
de um vizinho de Bessac e ele mesmo preparava sua comida, que consistia em sopa,
que fazia pela manhã para todo o dia, batatas e queijo. Duas vezes ao dia percorria
o povoado com um sininho para chamar as crianças. Era tal a veneração que tinha
suscitado pela sua virtude que todos se descobriam a seu passo. Quando as crianças já
estavam reunidas, ensinava as orações, o catecismo e a leitura. Aos domingos juntava
no ermitério todos os vizinhos do povoado.
Uma quinta-feira, como de costume, veio a La Valla prover-se de alimentos voltando
a Bessac na companhia do padre Champagnat que tinha que ir confessar um doente
que ficava em seu caminho. Havia dois ou três palmos de neve, e os caminhos estavam cobertos de gelo. O Irmão Lorenzo levava numa sacola um pão grande, queijo e
batatas para se alimentar durante a semana. Embora sendo fortes, como os caminhos
70
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
estavam intransitáveis, suava com o peso que carregava. O padre Marcelino, ao vê-lo
nesse estado, disse:
- Irmão, que ofício tão duro o seu.
- Perdoe, Padre, não é, mas agradável.
- Não vejo como pode achar gosto em subir essas montanhas cada oito dias, pisando a
neve e o gelo, com tanto peso no ombro e exposto a cair no precipício.
- Tenho a certeza de que Deus guia todos os meus passos e recompensará com imensa
glória os trabalhos e as fadigas suportados pelo seu amor.
- De modo que está contente de catequizar e dar aula para esse povo difícil, levando,
como um pobre, seu pão nas costas.
- Tão contente, Padre, que não trocaria meu emprego por nada do mundo.
- Pois é, vejo que estima muito seu trabalho. Mas, acredita que merece isso?
- Não mesmo. Estou convencido de não ser digno de dar a catequese a Bessac. É um
privilégio que me foi concedido pela especial bondade de Deus.
- Quanta verdade que está falando! Mas, pelo menos poderia admitir que hoje tivemos um dia péssimo?
- Não, Padre, hoje é um dos dias mais belos da minha vida.
Seu rosto brilhava enquanto falava essas palavras, então seus olhos ficaram marejados de lágrimas de felicidade. O padre Champagnat, emocionado e confortado vendo
tanta virtude, quase não conseguia conter as suas.
De um jeito quase curioso e paradoxal, Marcelino faz aflorar do coração do Irmão
orenzo suas motivações mais profundas, que fazem encantadora uma tarefa cheia
de esforços e desafios.
Após quase duzentos anos, Marcelino necessita de nossos ouvidos, nossos olhos, nossas mãos e nosso coração. Seus ouvidos, olhos, mãos e coração, querido Diretor Marista, para alentar a vida de educadores, crianças e famílias, a partir de um lugar particularmente significativo e estratégico como é o incentivar um Centro Educacional.
ANEXOS
71
2 Evolução do modo de compreender
a Evangelização nos Centros Educacionais Maristas
Sabemos que estamos num tempo de profunda transformação. Em todas as áreas do
saber são mencionadas mudanças de paradigma.
Para melhor nos situar neste tempo particular e seus desafios para a Evangelização, a
Educação Marista, vamos fazer um breve percurso pelos dois grandes modos de compreender a Evangelização que temos experimentado em nosso Instituto.
Como toda síntese com fins puramente didáticos, iremos cair em simplificações. Entretanto, essa perspectiva nos ajudará, talvez, a situar tanto nossa própria experiência pessoal
anterior quanto os desafios que na atualidade se apresentam.
A RELIGIÃO como SABER SUPERIOR
Esse modo de compreender a educação evangelizadora está ligado à Cristandade. A
tarefa evangelizadora de um Centro Educacional consiste em reforçar os princípios que
já são parte da família. Trata-se, então, fundamentalmente, de aprender a doutrina e reforçar hábitos virtuosos, transmitindo a Religião no marco universalmente compartido
da cultura cristã (considerada como única e superior).
A expressão privilegiada dessa maneira de conceber a Educação Católica é a Classe de
Catecismo. Incluso em muitos locais, era ensinado a ler e escrever com o Catecismo
como texto-base. O claustro era o lugar privilegiado da educação. E o mestre catequista
(normalmente um religioso) era a figura por excelência a cargo da tarefa. A metodologia
que expressa essa concepção é a dogmática, que consiste em aplicar de modo dedutivo
verdades e princípios superiores às perguntas e situações da vida.
Esse modo de conceber a educação atravessou, praticamente, os primeiros 140 anos de
vida de nosso Instituto.
A VIVÊNCIA DA FÉ como PROGRAMA AUTÔNOMO
Com o advento da Modernidade, tudo fica convulsionado: começa o fenômeno cultural conhecido como secularismo, que marca uma distinção radical entreciência e fé.
Crianças e jovens “católicos” já não chegam à educação católica, para ser educados nas
verdades da Religião, como ocorria em outros tempos.
As perspectivas do natural mudam de modo veloz e profundo. Por exemplo, já não é
considerado que a Ordem Social é algo dado; na demanda de justiça e solidariedade vão
se abrindo caminhos com força inusitada.
72
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Tudo isso é vivido com perplexidade no seio da Igreja e das famílias religiosas. As
Escolas Católicas e as Congregações Educacionistas devem enfrentar três desafios de
grande envergadura:
• propiciar processos de vivência da fé, já que a realidade demonstra que tal vivência
não supõe estar em todas as famílias;
• oferecer um ensino científico de qualidade, que permita à escola se situar numa
perspectiva de excelência;
• desenvolver iniciativas e projetos solidários, como modo de responder, desde o coração de discípulos de Jesus, aos anseios de justiça e fraternidade.
Nesses tempos são desenvolvidos, em nosso Instituto, projetos inovadores, que procuram
responder a esses desafios, liderados por especialistas em cada uma das áreas:
• nascem os grupos de pastoral, com o modo de favorecer a experiência (e não só o
conhecimento) da fé;
• Surgem os Projetos Solidários, as Comunidades de Inserção e as Obras Sociais,
como um intento de se aproximar de realidades mais pobres;
•
Potencializa-se a excelência acadêmica, que busca estar à altura das demandas de capacitação.
Essas respostas genuínas, audazes e criativas foram se afirmando em trilhas específicas.
Se bem que eram todas elas expressões da Missão Marista, foram vividas em canais
paralelos, e incluídas algumas vezes como contraditórias. Surgiram incluídas algumas
controvérsias que hoje são difíceis de compreender (como, por exemplo, Comunidades
de inserção vs. Escolas, ou qualidade educativa vs. Pastoral).
A metodologia que é utilizada neste tempo para a evangelização assume uma perspectiva
dialética, que consiste em confrontar as situações humanas com as verdades iluminadoras da doutrina para prever transformações. O método “ver-julgar-agir”, ou o tradicional
método catequético (“situação-iluminação-comprometimento-celebração”) são claras
expressões dessa perspectiva.
3
Novos tempos, com suas crises presentes
A mudança paradigmática que chegou com o fim da modernidade tem nos sacudido
profundamente e vai transformando nossa maneira de enxergar e compreender a realidade. Vejamos algumas dessas mudanças:
• em nível de expansão da consciência, assistimos à superação da consciência racional
por uma consciência de experiência, paradoxal e aberta à complexidade;
ANEXOS
73
• em nível científico, vamos nos abrindo aos complexos fenômenos da multicausalidade sistêmica e à imprevisibilidade de muitos fenômenos;
• em nível sociopolítico, o mundo está sendo profundamente impactado pelo ressurgimento das culturas não ocidentais e aborígines;
• em nível religioso, o que líamos como “a morte de Deus” ou a “temível secularização”
revela ser uma profunda metamorfose do sentido do sagrado, que nos prepara para
enxergar as pegadas divinas em terrenos que, até o momento, não eram reconhecidos.
Somos mais conscientes, hoje, de que Deus não é propriedade de uma ou outra religião como algo exclusivo, e que a espiritualidade tem muitos modos de se manifestar,
mesmo por fora das religiões.
Estamos assistindo, portanto, a uma profunda mudança de perspectiva histórico-político-filosófico-cultural-religiosa, que nos desafia a nos abrir a novos locais nos quais
encontrar o saber, a verdade, a bondade e a beleza. Portanto, é um novo modo de
encontrar Deus o que estamos começando a saborear!
Como não mudaria, então, nossa maneira de conceber a Evangelização em nosso Instituto?
O EVANGELHO como SABOR TRANSVERSAL
Como resposta a essa profunda mutação cultural, e desde o mais genuíno do espírito de
Marcelino, vamos configurando, a partir de uns trinta anos (embora com expressões
muito diferentes) um modo distinto de compreender a Evangelização.
Já não estamos falando de “formar na virtude” ou de “aprendizagens múltiplas”. Hoje,
acreditamos que a SABEDORIA (o “saber que tem sabor”) é o grande desafio educativo,
capaz de harmonizar conhecimentos, indagação, habilidade e contemplação. Conhecimento racional e sensível. Intelectual, emocional e espiritual. No Evangelho é compreendido esse saber que pode dar sabor nas mais diversas aprendizagens em todas as ordens.
Se antes falávamos de “Centro Educativo em pastoral”, talvez agora necessitamos falar
de Educação Evangelizadora, no sentido de que não é uma ação (a pastoral) que outorga o selo cristão a uma proposta educativa, mas toda uma cosmovisão impregnada de
Evangelho, que configura e potencializa um projeto educativo. Mais ainda, necessitamos
falar de Centro Educativo em Diálogo Evangelizador, porque as crianças e os jovens
não são destinatários, mas interlocutores no ato educativo. Com efeito, sua própria
experiência espiritual, seus saberes e seu universo cultural também são uma riqueza que
desejamos acolher, e com a qual podemos dialogar.
74
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
A Educação Evangelizadora Marista, assim concebida, se desdobra em locais diversos e
particulares: escolas, obras sociais, grupos de pastoral, comunidades inseridas... A chave
do assunto está, sobretudo, em que em cada um desses locais é desenvolvido um projeto
capaz de harmonizar de modo complexo as quatro dimensões essenciais da nossa missão:
Educação - Evangelização - Solidariedade - Defesa dos direitos das Crianças.
Então, por exemplo, uma Escola terá que superar a ideia de que sua missão é ensinar
e, também, ter um bom projeto pastoral. Todo o currículo deverá estar impregnado de
Evangelho, assumindo uma perspectiva solidária do saber. Um centro social deverá ser
interrogado em relação a projeto educativo. Um grupo juvenil em relação ao modo como
cultiva a alteridade e a solidariedade etc.
Teremos que continuar desenhando novos métodos de aprendizagem e novas maneiras
de fazer planejamentos capazes de expressarem uma perspectiva dialógica dos processos metodológicos. Com efeito, se considerarmos o outro como interlocutor e o ato
educativo evangelizador como um encontro, iremos ter de acompanhar esse movimento
com ações que não suponham a luz de um lado e a escuridão do outro, o juízo de um
lado e a falta de verdade do outro etc…. Trata-se mais de favorecer uma genuína troca
de saberes e perspectivas, baseados em interlocutores capazes de aprofundar nas suas
identidades e sentidos, que se deixam ser afetados de modo fecundo pelos saberes e
sentidos dos outros. Não só os alunos, mas também os maestros podem apreender! E o
evangelizador resulta evangelizado!
O seguinte quadro tenta expressar esses modelos, ajudando a visualizar a evolução da
compreensão da Evangelização em nosso Instituto.
A religião como
saber superior
Contexto sociocultural
A experiência de fé
como saber paralelo
O Evangelho como
sabor transversal
A cristandade
A modernidade
Estes tempos novos
Transmitir a fé
no marco da cultura
Aprendizagens múltiplas
Abrir horizontes de
sabedoria
Assimilação da
doutrina e virtude
- excelência acadêmica
- vivência da fé
- solidariedade
A transversalidade
Locais
O claustro
- o laboratório
- o grupo da pastoral
- as obras sociais
Diversas presenças que
empurram uma mesma
missão
Metodologia
Dogmática
Dialética
Dialógica
O mestre religioso
O especialista
Especialista com olhar
complexo
Objetivo
Acentuação
Agentes
ANEXOS
75
Esse modo de conceber e compreender a Missão é simplesmente fascinante. Marcelino
sentiria arder seu coração somente de intuir esses desafios. E de fato, seu coração arde
hoje no nosso. Com a mesma audácia dos tempos da pós-revolução francesa, estamos desafiados a somar nossas energias para que esta nova história seja impregnada de Evangelho.
Mas não podemos nos enganar: não é tarefa fácil. Particularmente, não é para os Diretores dos Centros Educacionais Maristas, os que devem ser proativos e liderar essa mutação.
Dedicar-nos-emos agora a precisar alguns aspectos de como podemos compreender hoje
a evangelização num Centro Educacional. Em seguida, iremos nos deter naquelas tarefas
particulares que cabem aos diretores.
4 Evangelizar hoje, em um centro educacional marista
Há muito que poderia ser dito a respeito, mas vamos nos centrar em quatro aspectos
fundamentais.
76
•
Evangelizar é gerar um ambiente impregnado de Evangelho.
Muito abaixo das palavras, formulações, projetos e tarefas, um ambiente evangeliza
se respirar Evangelho no seu ar diário. Não é muito simples de explicar, mas é muito
simples de ser sentido. Os modos de nos olharmos e nos tratarmos, a maneira de
abordar os conflitos e as diferenças, os critérios de inclusão e exclusão, os privilégios
ou igualdades, a justiça ou injustiça reinantes, a distribuição da palavra e do saber…
tudo isso dá conta quanto evangelizada é uma Instituição, portanto, quão evangelizadora ela é. Como alguém expressou uma vez: o que tu fazes fala é tão forte, que apenas
posso ouvir o tu me dizes.
•
Evangelizar é se ocupar do crescimento das pessoas com a ternura de Jesus.
Além de se ocupar das crianças e jovens, uma instituição irá ser evangelizadora se
enxergar as pessoas (todas as pessoas, também seus funcionários, os educadores, os
pais e mães de família etc.) como semelhantes, como irmãos dignos e portadores da
palavra, e não como peças de uma maquinaria produtiva. Isso nos desafia a priorizar o
cuidado que dispensamos uns aos outros, e o cuidado que a Instituição em si mesma
expressa a cada um de seus membros.
•
Evangelizar é cultivar o humano até sua máxima expressão.
Nos trajetos educativos com crianças e jovens, especialmente, será necessário ter uma
delicada, sistemática e intencional pedagogia de alguns aspectos que constroem a
humanidade e, portanto, capacitam para uma profunda experiência espiritual. Terão
de fazer parte de nossos esforços educativos, entre outros:
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
>> educação ao silêncio e à contemplação;
>> desenvolvimento da capacidade expressiva e celebrativa; e
>> cultivo sistemático e sustentado da alteridade, como capacidade que faz o homem solidário e aberto a seus semelhantes, famintos de genuína comunhão.
•
Evangelizar é oferecer a Boa Notícia de Jesus como Ressignificação de Sentido.
Capaz de encher de luz as buscas e canais mais profundos do coração humano. Há
um modo cristão de enxergar a realidade, de compreendê-la e significá-la. Esse modo
transcende o especificamente religioso. É uma postura existencial, ética, social. Não se
trata, como em tempos da Cristandade, de reduzir a doutrina a um modo dogmático
desconhecendo a pluralidade de perspectivas e significados. Trata-se talvez do contrário: nessa multiplicidade de significados e perspectivas oferecer a mensagem cristã
com toda simplicidade e energia da sua força interior. É nossa Boa Notícia e é fonte
de nossas convicções mais profundas. Bebemos nela e nos sentimos plenos. Então
podemos compartilhá-la como princípio ético, como perspectiva cognoscitiva, como
discernimento sociocultural… Não pela soberba de quem ignora outras crenças, senão
pela serenidade de quem sabe que tem um tesouro para disseminar, mas é capaz de
respeitar a adesão ou rejeição a sua proposta, exatamente como o fez Jesus.
5. O diretor como responsável, incentivador e fiador da Evangelização
Com base nessa compreensão da Evangelização, da Educação Evangelizadora, vamos
agora ver alguns aspectos nos quais o Diretor ou Diretora de uma Instituição Marista
necessita estar presente e atentos.
Se fizermos uma retrospectiva pelos modelos anteriores, vemos que nos tempos das hierarquias de saberes a imensa maioria dos educadores era religiosa. A tarefa do Diretor
marista de uma obra era focada no incentivo da tarefa de cada um.
Nos tempos das autonomias complementares foi se gestando, de modo não de todo consciente, uma perspectiva dual da responsabilidade sobre a educação católica. Inclusive alguns falavam explicitamente de um centro educativo com “duas cabeças”: um Diretor
marista para a parte pedagógica e um Coordenador de Pastoral. De algum modo, a ação
evangelizadora do Centro descansava no Coordenador de Pastoral, e a liderança do Diretor marista se expressava no apoio a sua tarefa.
ANEXOS
77
Hoje necessitamos rever esses enfoques. A responsabilidade do processo é, evidentemente, colegiada; é realizada com uma equipe de condução. O Diretor ou Diretora marista
tem sob sua responsabilidade toda a Missão, considerada em forma global: evangelização,
educação, solidariedade, defesa dos direitos das crianças.
A liderança mariana
Não necessitamos nos deter nisso com todo o expressado até agora. Basta destacar que
há um modo de liderar com base na perspectiva evangelizadora das atitudes de Maria:
a humildade, a escuta, o olhar fraterno, a confiança de que criando a comunidade tudo é
mais fecundo e potente a longo prazo….
Uma liderança mariana (e Marista!) também é presença: por o corpo saber sair da oficina
para estar ao lado, tanto das crianças e dos jovens, como das suas famílias e educadores.
A liderança do Diretor marista quanto à Evangelização é exercida de três maneiras:
a. Uma liderança de ação: existem ações concretas que fazem com que um Centro
Educativo esteja impregnado de Evangelho. São questões relacionadas com a gestão,
nas quais o Diretor ou Diretora marista se comprometem de forma direta.
b. Uma liderança de orientação: nesses tempos, qualquer centro educativo é sumamente
complexo, por pequeno que seja. Para que sua marca evangelizadora seja poderosa e visível é necessário que as diversas áreas e serviços degustem o sabor do Evangelho que mencionamos anteriormente. No planejamento e avaliações, e na orientação dos diferentes
projetos, o Diretor marista tem um papel inquestonável de acordo com essa perspectiva.
c. Uma liderança de apoio/incentivo: garantir que os espaços explicitamente evangelizadores sejam valorizados, sustentados e qualificados. Não se trata de assumir
pessoalmente as ações de cultivo da espiritualidade e celebração da fé (embora perfeitamente possa ser feito em algum caso), mas apoiar com a presença, a valorização e o
acompanhamento dos agentes que as realizam.
Vejamos tudo isso com um pouco mais de detalhes:
a. Modos de assumir uma liderança de ação
• A construção de Códigos, Normas e Ritos institucionais que transparentam o Evangelho.
Em todos os nossos centros educativos temos necessidade de gerir normas de convivência, protocolos de segurança, códigos de inclusão e exclusão, regras referentes
78
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
à disciplina, à avaliação, ao trato de crianças difíceis etc. Um Diretor preocupado
pela Evangelização de seu centro sabe que ali está a verdadeira coerência do Projeto Educativo. Ali expressamos nossa identidade, ou a contradizemos escandalosamente. Não é nada fácil esse discernimento, e claramente nunca será tarefa de uma
pessoa só. É necessária uma equipe gestora capaz de liderar nessas questões. E mais
que uma equipe, tomara! uma verdadeira comunidade discernente.
b. Expressões de uma liderança de orientação
•
Velar pela transversalidade do cultivo das habilidades humanas: o passo de um menino,
menina, adolescente ou jovem, por um trajeto da sua vida em uma obra marista,
deve deixar uma pegada significativa nas habilidades humanas que foram mencionadas anteriormente: capacidade de silêncio e contemplação, desenvolvimento da
alteridade, respeito pelo diferente, cuidado da criação, cultivo da expressão e a celebração etc. Essas habilidades devem ser desenvolvidas no marco de todo o Projeto
Educativo. Não somente nas áreas de educação especificamente religiosa.
•
Incentivar o desenho de um currículo de conhecimentos que coloque verdadeiramente em
diálogo o conhecimento científico com a Boa Notícia de Jesus: não basta pedir planejamentos e deixar que os conteúdos curriculares respondam aos delineamentos dados pela autoridade educativa. Também não se trata de recitar os modos cristãos
de compreender as ciências desconhecendo outras perspectivas. Será necessário se
exercitar, exercitar os educadores, e que eles ensinem os jovens a se exercitarem na
delicada arte de dialogar discernindo. Todo conhecimento tem uma dimensão de
valor que necessita ser explicitada. O fato mesmo de conhecer a tem. As Constituições dos Irmãos Maristas fazem são precisas a respeito, ao falar da cultura como
um meio de comunhão e o saber como um comprometimento de serviço.
c. Concretizações da liderança como apoio/incentivo
•
Apoiar o Projeto Pastoral em suas duas dimensões: transversalidade e especificidade.
Nos centros educativos católicos e maristas existe normalmente um Projeto Pastoral. Em
geral existe um Coordenador e uma equipe de Pastoral que leva adiante tal projeto.
Ao Diretor marista cabe participar da elaboração com ideias e orientações; apoiar sua realização facilitando os dispositivos institucionais necessários, monitorar globalmente seu
desenvolvimento e participar da Avaliação tornando partícipes outros membros da Comunidade Educativa.
ANEXOS
79
O Projeto Pastoral, quando responde à perspectiva que estamos desenvolvendo, possui duas
grandes dimensões:
•
•
Transversalidade: a evangelização como espírito, como motor e sentido de tudo o
que se vive e desenvolve no centro educativo. Muito do explicitado até agora tem a
ver com essa perspectiva.
Especificidade: a evangelização como anúncio, educação e celebração da fé. Em algum momento, identificamos a evangelização em um Centro Educativo como único
corolário. Hoje, ao conceber a evangelização em toda sua amplitude, não se pode
descurar sua significância capital.
• O anúncio explícito da Boa Notícia: realizado nos espaços específicos de ensino religioso, e também em espaços particulares como Convivências, Jornadas, Retiros e outros.
• Grupos de aprofundamento da fé: para aquelas crianças, adolescentes, jovens e adultos
que sentem que o Evangelho vai calando mais fundo na vida deles, e desejam dar
passos de conhecimento e aproximação de Jesus. É importante que sejam oferecidos
espaços sistemáticos de formação e experiência comunitária. Dentre eles, os espaços
de Catequese Sacramental (onde é ministrada), os grupos da Pastoral Juvenil e os
Catecumenatos de Jovens e Adultos são preciosas escolas de discipulado.
• Celebração da fé: com base na da perspectiva do diálogo evangelizador, necessitamos
fazer uma verdadeira escola de educação para a Celebração. É inútil atropelar ou automatizar. Os elementos essenciais de uma celebração necessitam ser progressivamente
incorporados e despertados, mas uma Comunidade Cristã, necessariamente, celebra sua
fé. E coroa essa celebração nos Sacramentos, vividos de modo profundo e significativo.
ORIENTAÇÃO
AÇÃO
A construção de
Códigos, Normas e
Ritos institucionais
que transpareçam o
Evangelho.
80
Velar pela transversalidade do
cultivo das habilidades humanas.
Incentivar o desenho de um
currículo de conhecimentos que
faça verdadeiramente em diálogo
o conhecimento científico com
a Boa Notícia de Jesus.
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
APOIO/
INCENTIVO
Apoiar o Projeto
Pastoral em suas
duas dimensões:
transversalidade e
especificidade.
6. Hoje é o mais belo dos dias!
Sem dúvida é desafiador tudo o que temos refletido.
Temos a responsabilidade de conduzir em um Centro Educativo toda essa reflexão (e a
problemática abordada, em si mesma), que nos gera, com certeza, perguntas, inquietudes,
paixão, temor…. Sentimos necessidade de nos formar, discutir, conversar com os outros,
trocar experiências.
Talvez a gestão, também, possa nos gerar desgaste e angústia. Certamente há dificuldades,
novos problemas, urgências que tencionam.
Por isso propomos voltar à história do começo. Poderíamos imaginar o “ao contrário”:
um diretor desafogando junto o Marcelino com suas angústias, dificuldades e tensões e o
Marcelino incentivando e ajudando a valorizar sua tarefa.
Entretanto, a história não foi assim. O Marcelino parecia o “cético”, e o Irmão Lorenzo
o “encantado”. Por quê? O que significa isso para nós?
Talvez o Marcelino, como experto acompanhante (e quase como um terapeuta) sabia tirar,
por contraste do coração de seus discípulos, o mais genuíno, os motivos mais profundos,
os amores que sustentam e incentivam à ação. Talvez fosse tão respeitoso e amante da
liberdade que lhe interessava realmente que ninguém se sentisse vítima da sua missão,
mas um gozoso obreiro do Campo do Reino de Deus.
O certo é que temos motivos de sobra para sentir que hoje é o mais belo dos dias.
Você não acredita, querido Diretor de uma Obra Marista? Detenha-se um momento, desligue o computador, saia ao quintal e olhe uma criança nos olhos. Todo o resto estará sobrando.
Irmão Juan Ignacio Fuentes
Província Cruz del Sur
ANEXOS
81
PERGUNTAS PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO
1. Qual foi sua experiência anterior de Evangelização? (seja como aluno, catequista, educador, animador de pastoral). Que características tiveram? Poderia fazer uma associação
com qualquer dos três modelos que apresenta o texto? O que você valoriza e o que critica
dessa experiência?
2. Perante os desafios deste tempo: que transformações significativas você acredita que deveriam acontecer no seu Centro Educativo, a partir da chave da Evangelização?
3. À luz deste texto: que desafios percebe em você mesmo, como Diretor(a) de um Centro
ducativo Marista? Qual ajuda você necessita do Instituto a esse respeito?
Referências bibliográficas
AMEIGEIRAS, Aldo. Matrices culturales e sociedad....
CELAM. Documento conclusivo de Aparecida. Buenos Aires, C.E.A: 2007.
Díaz, Ana Maria. Ispaj. La fiesta das luces.
DUPUIS, Jacques. Hacia una teologia del pluralismo religioso. España: Sal Térrea. 2000.
Frigerio, Graciela et al. Las instituições educativas Cara e Ceca. Argentina: Troquel. 2000.
IRARRÁZAVAL, Diego: Inculturación, amanecer eclesial en A. L., CEP, Perú 1998.
Ispaj: El apellido de toda família.
IVERN, Albert. Hacia una pedagogía da reciprocidad. Ed. Ciudad Nova, 2004.
LEGORRETA, José et al. Diez palabras clave sobre Pastoral Urbana. España: EDV, 2007.
MADURO, Otto. Mapas para la fiesta, Rio de Janeiro: CNT, 1992.
MORIN, Edgard. Los siete saberes necesários para la educación del futuro. Unesco, 2000.
RANCIERE, Jacques. El maestro ignorante. Argentina: Ed. Terra del Sur, 2006.
TALITA, Kum. Nada es imposible.
Documentos
Documento do XXI Capítulo Geral dos Irmãos maristas.
Circular do Irmão Sean Sammon. Dar a conhecer a Jesus Cristo e fazer amá-lo.
Circular do Irmão Emili Turú. Nos deu o nome de Maria.
Juan B. Fouret, Vida do Padre Champagnat.
Documento Missão Educativa Marista.
Constituciones y Estatutos de los Hermanitos de Maria.
Conclusiones de la Asamblea Internacional de Misión.
82
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Anexo 2
Chamadas para a formação de um
diretor, desde a espiritualidade
Agradeço a oportunidade que me foi dada de compartilhar com vocês esta reflexão,
mas, sobretudo, agradeço, e com muita alegria, o fato de que, ao pensar num programa
de formação de diretores, contemplaram como necessária a espiritualidade. Por muito tempo não foi assim. Hoje utilizamos muito a expressão de que a espiritualidade é
um eixo transversal que deve ser feito presente explicitamente no incentivo e organização de um colégio, de uma equipe ou comissão ou de uma unidade administrativa.
Mas, o que significa isso? Como se faz realidade? Como saber que, efetivamente, a
espiritualidade permeia todo o acontecer educativo?
As reflexões que proponho podem servir de ajuda em suas reflexões e buscas. O que
estou apresentando está confirmado no nº 123 de Em torno da mesma mesa, que afirma: “a espiritualidade nos envia a missão e engendra vida compartilhada; a comunhão
nos fortalece na missão e planeja a espiritualidade; a missão descobre para nós novas
facetas da espiritualidade e nos faz viver a fraternidade”.
Vamos começar, a modo de introdução, falando que a espiritualidade, atualmente,
vem reivindicando seu papel na vida das pessoas, e as instituições vão adquirindo
nelas, cada vez mais, carta de cidadania. Isso obedece a diferentes causas. Gostaria de
lembrar, nesse momento, pelo menos três:
a. Hoje se percebe uma busca de caminhos e experiências que submetem o ser humano, ao profundo, ao encontro com sua própria identidade para poder superar
as diferentes formas de vazio que o modo atual de viver e organizar a sociedade
provoca. Diante de uma crise geral de vazio e sem sentido, surge uma tremenda
necessidade de sentido. Frente a um entorno cada dia mais superficial, sentimos a
necessidade de se plantar o que é o essencial. Esse fenômeno não só acontece nos
níveis pessoais. Transpassa as instituições. Cabe ao poder político, aos organismos
religiosos, à escola, à família... Os jovens reclamam líderes, modelos, guias que
sejam seguidos, sobretudo razões para viver e exigem estilos de democracia, organizações sociais, gestão da economia mais o serviço da pessoa e menos o serviço
de interesses especulativos e injustos. Em 1993, a União de Superiores-Gerais
ANEXOS
83
afirmou que “o desafio da espiritualidade ficava na fronteira entre as emergências
mais demandadas e as tarefas mais prometedoras do futuro". A Água da Rocha
afirma que “nossa época se caracteriza por uma sede de espiritualidade”.
b. Esse fenômeno não foge a nosso Instituto. Essa necessidade da espiritualidade
tem uma longa história entre nós, e hoje é sentida com muito mais força. há 25
anos, por meio dos últimos quatro Capítulos Gerais, surgiu “a necessidade de
adquirir uma maior vitalidade espiritual e de encontrar caminhos no Espírito
mais adequados à vocação própria”, tanto para irmãos quanto para leigos(as) (Capítulo geral XIX); de “centrar apaixonadamente as vidas de Irmãos e leigos(as) e
as comunidades em Jesus Cristo, como Maria, e, para isso, dar partida a processos
de crescimento humano e de conversão” (XX Capítulo Geral); de “sair de pressa,
com Maria, a uma nova terra” que exige mudança de coração e comprometimento
com um itinerário de conversão, tanto pessoal quanto institucional nos oito anos
seguintes (XXI Capítulo Geral).
c. Galilea, já faz uns quantos anos, em seu livro O caminho da espiritualidade, analisou como tinham acontecido as mudanças no seio da Igreja latino-americana,
dentro de um contexto de renovação, após o Concílio Vaticano II. Habitualmente,
diz ele, a renovação começa pelas atividades pastorais, já que aí é onde primeiro é
percebida a incoerência existente entre certo modelo de Igreja e a realidade. Mudam-se os métodos e conteúdos da evangelização, da educação cristã, da liturgia.
Muda-se a tarefa social: não só se deve acentuar a caridade e o serviço, há também
que se combater pela justiça, os direitos humanos, a liberação. Também se projetam as mudanças institucionais e de organização: para isso as congregações religiosas chamaram Capítulos Gerais de renovação. O mesmo tem acontecido com
as cúrias, as conferências episcopais, os sínodos, as paróquias, as zonas pastorais,
os seminários, os colégios católicos.
Mas, à medida que foram acontecendo as mudanças, observou-se que eram insuficientes para gerar a renovação desejada e sentiu-se a necessidade de manter a espiritualidade e a busca de uma "maior mística". Com o passar dos anos, foi se percebendo,
com mais intensidade, uma consciência, expressada de diferentes maneiras, de que
as "mudanças institucionais em que os diferentes grupos eclesiais têm se empenhado
nesses quarenta últimos anos e a renovação pastoral produzida foram insuficientes e
superficiais." Há uma percepção geral de que é necessário recuperar mística ou identidade, recuperar espírito, voltar às motivações essenciais das origens.
84
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Se fizermos uma análise das mudanças acontecidas na Congregação, durante os
últimos quarenta anos, chegaríamos a essa mesma conclusão. Entendo que a preocupação de vocês por incluir a espiritualidade na formação dos diretores está emoldurada neste contexto eclesial, mundial e congregacional.
1
Três notas sobre espiritualidade
Vou dividir minha reflexão em duas partes: na primeira, explicitar, e muito
brevemente,três notas, claro que incompletas, sobre espiritualidade e, na segunda, irei
assinalar algumas chamadas.
1.1. A espiritualidade aponta ao profundo (Enrique Martínez Lozano)
A espiritualidade se refere à "dimensão de profundidade de todo o real." Mais exatamente, ao Mistério que somos e ao Mistério que é. Em que mistério não é associado a
enigma, problema, escuridão, à margem da vida…, mas justamente a todo o contrário.
Mistério é nossa realidade mais profunda, o que dá razão ao que é. Implica afirmar que
toda realidade se encontra impregnada de uma dimensão de Mistério, de um “Mais”
inexpressável pelos nossos sentidos e por nosso pensamento. Significa afirmar, em definitivo, que o real está habitado e constituído pelo Espírito de vida, a quem as religiões
têm chamado “Deus”.
A partir da beleza de uma paisagem até o sorriso de uma criança, desde o silêncio eloquente da natureza até a experiência de unidade com o todo, desde a alegria ao namoro,
desde a ternura até a plenitude…, tudo o que desperta em nós assombro, admiração,
impulso, descanso, paz, engrandecimento, vitalidade, gratidão, amor, alegria, comunhão, silêncio… nos fala do Mistério; e a tudo remete a espiritualidade.
A espiritualidade consiste principalmente num processo transformador básico em
que descobrimos e nos desprendemos do nosso narcisismo para nos entregar ao Mistério do qual tudo está se manifestando constantemente… Toda transformação espiritual autêntica implica se despojar do narcisismo, do egocentrismo, do estar isolado em
si próprio, do interesse por um mesmo… ( J. N. Ferrer).
A espiritualidade faz referência à dimensão profunda e absoluta da existência. Opondose ao superficial, ao vegetar ou sobreviver, ao anquilosamento e à rotina, ao ego redutor.
1.2. Encontrar Deus, sentir sua presença na vida diária (Darío Mollá)
O cristão do século XXI ou será místico ou não será nada (Karl Rahner)
ANEXOS
85
O que a afirmação de Rahner pretende pôr de manifesto é que, para ser verdadeiramente cristão, nos próximos anos será necessário que "cada cristão tenha uma experiência pessoal de Deus". Experiência que desborde o conceitual ou teórico sobre Deus
e que dote a fé, outorgue uma força vital capaz de se sobrepor à descrença ambiental, ao
amplo conjunto de reservas que o crente vai perceber e sentir respeito a suas convicções,
à sensação de inutilidade e de “loucura” da aposta pelos pobres e frágeis do mundo.
A experiência de Deus que Rahner pensa como iniludível para o cristão do futuro,e
que é chamada de “mística,” não consiste nem em longas horas de oração ou contemplação, porém ter experiência real de oração será fundamental, nem em episódios afastados da sensibilidade diária, nem em visões ou revelações especiais... Trata-se de algo
muito mais simples: da capacidade, da sensibilidade, para encontrar Deus, para captar
sua linguagem, para sentir sua presença e trabalho amoroso na vida diária ou, de outro
modo, se trata da necessidade de que os cristãos do futuro vinculem sua experiência de
Deus, sua linguagem sobre Deus, à fé. às experiências mais diárias da vida. Essa classe
de mística, que alguém chamou de “mística horizontal,” é palpar, viver, descobrir o
Deus que está pulsando, com presença certa e amor entranhável, em mil e uma coisas e
pessoas que conformam a vida diária. Rahner nos adverte que, se desvinculamos Deus
de nossa vida diária ficaremos sem Deus, e que só se O descobrimos, falamos com Ele,
O amamos, nos fatos diários, com linguagem de cada dia, nas preocupações que nos
abrumam, poderemos ser crentes neste tempo. Não se está nos convidando, então, para
ficar longe em algum deserto para aí, tranquilamente, sem problemas, sem desgostos...
descobrir Deus; se nos chama, pelo contrário, para aprofundar o diário, a buscar Deus
no bulício de uma vida que, quiçá, não é a que nós escolheríamos, mas a que é. Trata-se,
então, de uma mística que, desde o coração de Deus, nos devolve ao mundo, para viver
e agir nEle segundo o pulsar misericordioso de Deus.
1.3. Como relaciona Marcelino, nas suas Cartas, a espiritualidade e a educação
“Marcelino Champagnat é a raiz que dá vida à educação marista” (MEM). Como
concebia ele a educação? Para Marcelino, a educação, o amor e o serviço às crianças é
uma forma de seguimento de Cristo (de imitação no vocabulário da época), um meio
de santificação. Seu pensamento em torno da relação Jesus Cristo com as crianças pode
ser concretizada nas Cartas, nos princípios que se seguem:
• As crianças são as alegrias de Jesus.
• As crianças são o preço do sangue de Jesus.
• Jesus premia o trabalho com as crianças.
• Estar com crianças, amá-las imitando Jesus Cristo, tal é o ideal do educador marista.
86
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
• Levar as crianças até Jesus é o fim da educação cristã e, portanto, marista. A intuição
básica, fundamento do sistema pedagógico que propõe Marcelino aos Irmãos, é que
a criança merece atenção e respeito; portanto, a criança deve ser cuidada, bem ensinada e, sobretudo, amada, porque tal tem sido o comportamento que Jesus tem tido
com elas. Sim, para educar uma criança tem que amá-la, mas a razão de fundo de tal
comportamento é o obrar como Jesus (seguimento), que amava entranhavelmente as
crianças e pedia a seus discípulos para deixar que as crianças chegassem a Ele. Pelo
mesmo, tal lema pedagógico é, ao mesmo tempo, um enunciado teológico e uma vivência espiritual.
Segundo seu pensamento, Cristo recompensará de modo especial os educadores, que
dedicam a vida à atenção e cuidado dos que são seus preferidos. A razão fundamental de tal
recompensa é evangelizadora e está intimamente relacionada com o mandamento do amor,
com o que nos é ensinado por Cristo no Capítulo 25 de São Mateus. Quanto fazemos pelos
nossos alunos, fazemos pelo Senhor, a quem vemos encarnado neles. "A vocação de educador
participa, em forma destacada, do mistério do Deus encarnado."
Marcelino pontifica em suas Cartas que, estar com as crianças, amá-las, imitando
a Cristo é o ideal do Irmão educador e podemos acrescentar, hoje, de todo educador
marista. Champagnat concebe a vocação do Irmão como uma identificação com Jesus
Cristo, como uma imitação das atitudes educativas que contempla em seu Maestro e
Modelo. "A tarefa pedagógica adquire, desta maneira, uma dimensão sobrenatural: é um
ato de imitação de Cristo."
"Finalmente, levar as crianças até Jesus é o fim da educação cristã. "A expressão que utiliza Champagnat para caracterizar a educação cristã é a de “levar as crianças até Jesus”. Jesus
não é só modelo de educação cristã mas que também é a meta. "Para que uma educação
possa ser qualificada de cristã deve ajudar a estabelecer relacionamento pessoal com Cristo."
Esta terceira nota nos remonta a nossas raízes, a nossas fontes primeiras. Àqueles Educadores, sejam Irmãos ou leigos(as), que sustentam que, um colégio é, antes de tudo, um colégio
e que por ele se deve ensinar bem e se preocupar com os resultados acadêmicos – o que está
certo. Devemos lembrar também a eles que é um colégio cristão marista e que, como tal,
deve se preocupar com a mesma intensidade e rigor profissional em trabalhar por conseguir
resultados na consecução de valores, inspirados no cristianismo. A visão de Marcelino nos
faz propor estas perguntas: Qual a identidade da educação católica? Para que nasceu? Qual é
a missão que deve desempenhar hoje nossas obras educativas? Respondem ao que o Fundador assinalou? É significativa sua existência hoje? Em que é significativa e no que não é? Tem
sentido que existam hoje nossas obras? Qual a diferença entre um dos nossos colégios e outro
que não tem fundamentação cristã? Que perfil devem possuir nossos diretores e educadores?
ANEXOS
87
2
Algumas consequências para nosso ser de diretores/as
A Missão educativa marista, no nº 51, assinala que “procuramos preparar os responsáveis
maristas por meio de uma formação permanente em pedagogia, direção educativa e gestão,
assim como em espiritualidade, evangelização dos jovens, justiça e solidariedade”.
Essa simples colaboração procura iluminar de alguma maneira por que formar os
diretores em espiritualidade e qual poderia ser a meta, que foi formulada em forma
de chamadas.
2.1 Primeira chamada: ser diretores contemplativos
Creio que os(as) diretores(as), para administrar um colégio com fidelidade à missão,
devem ser pessoas contemplativas. Isto é, pessoas que cultivam uma relação muito
próxima e íntima com Deus, nosso Padre, com Jesus, nosso irmão, com o Espírito, com
Maria e que fazem de Jesus e de seu seguimento a motivação central de suas vidas e,
dentro dela, de suas tarefas educativas e diretivas. Falando de outro modo, a motivação
mais profunda da sua função diretiva não está fundada no salário que recebem, nem
no prestígio que leva o cargo, nem no poder que, de fato, adquirem, mas em haver
se sentido chamados por Ele, por meio de mediações humanas, a desempenhar uma
missão bem concreta.
Para que Jesus Cristo seja a razão de ser de quanto façam é necessário manter com
Ele um relacionamento vital e profundo alimentado pelos sacramentos, pela meditação
da Palavra, pela oração pessoal e comunitária, pela ação apostólica, pela participação
em alguma comunidade cristã etc. É costume acontecer que nossa vida padece, com
frequência, de uma anemia espiritual proveniente de uma insuficiente alimentação que,
com o tempo, produz cristãos frágeis e religiosos vocacionalmente inconsistentes. Isso,
em geral, é produzido porque não existe esse relacionamento profundo com o Senhor
que é capaz de transformar a pessoa por dentro.
É certo que nós que exercemos o ministério educativo e o diretivo em colégios de
Igreja, leigos(as) ou Irmãos vivem com gosto, com alegria e com entrega digna de encômio. Por sua vez, apreciamos nosso serviço e existe um reconhecimento geral pela
seriedade e comprometimento de nossa entrega, pelos valores que aportamos, pelo
estilo de educação que ministramos, pelo trato que damos às crianças e aos jovens.
Mas isso não basta, pois a meta de um colégio católico transpassa essas motivações.
Ele deve idear um projeto educativo que tenha sua origem na pessoa de Jesus Cristo
e sua raiz na doutrina do Evangelho, que testemunhe os bens do Reino e que incul-
88
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
que o Evangelho no processo educativo. Deve apontar e efetuar uma síntese entre o
pedagógico, com suas características peculiares e processos, e o evangelizador com sua
novidade e propostas liberadoras.
Para isso, os(as) diretores(as) estão chamados(as) a se vestir de Cristo, Evangelho
de salvação para os homens de todos os tempos, colocando-O no centro da sua vida
pessoal e comunitária; a ser testemunhas coerentes e discípulos(as) fiéis, a ser um(as)
apaixonados(as) da instauração do Reino nas crianças e nos jovens.
Isso supõe impulsionar, em distintos níveis, processos de crescimento humano e de
conversão. Só desde a espiritualidade poderá ser superada a mediocridade e a tentação de
querer viver sem complicações; só desde ela poderão ser testemunhas, pessoas de Deus
que não vivem para si mesmas, mas para os demais, que não estão regidos por ambições
de prestígio ou de poder, mas que buscam fazer o bem, como Jesus. Só desde ela poderão
ser valentes e audazes para introduzir maiores quotas de previsões na obra educativa.
Recuperar a identidade supõe nadar contra a corrente. Vivemos em um mundo no
qual continuadamente somos bombardeados pelo erotismo, propostas consumistas,
incitação a acumular dinheiro, prestígio, poder, prazer e frivolidade. Diante disso é impossível viver uma vida evangelizadora com alegria sem alicerce na rocha que é Cristo.
Nossa espiritualidade é apostólica e mariana. Com efeito, assim é assinalado pelas
Constituições dos Irmãos Maristas, e o livro Água da Rocha nasceu, no fundo, para
explicitar o significado de ambos os termos. Na minha experiência pessoal, Maria está
incorporada como a pessoa que vive em plenitude indelével acerca da espiritualidade. Ela é modelo, inspiradora, companheira de caminho, irmã na fé. Canuto afirma é
aplicável a Maria no documento que lhes entreguei. Ela tem vivido em plenitude. É
o modelo mais acabado da fé. É a primeira e melhor discípula de Cristo. Maria é contemplativa, é mística, é educadora, é profeta, cheira a Cristo. Acompanhou e continua
acompanhando a comunidade dos seguidores de seu Filho. É, também, nossa Primeira
Superiora e a quem apelamos como recurso ordinário.
É evidente que temos que apresentá-la como modelo de um diretor ou de uma diretora e companheira no seu serviço educativo. Em Missão Educativa Marista, Água da
Rocha, sobretudo, nos deu o nome de Maria (primeira Circular do Ir. Emili) e podem
ser encontrados elementos muito valiosos de inspiração e modelagem para a missão
de um(a) diretor(a) e o estilo de seu governo e incentivo. A eles remito.
ANEXOS
89
Tenho sublinhado a nota apostólica porque é a que está mais ligada à experiência
da missão. Agora abordo como trabalhar a dimensão contemplativa e seu processo de
crescimento. Como é ensinado o contemplativo aos diretores? Fundamentalmente,
pela via da experiência e do acompanhamento. Isso não exime que a formação teológica possa ser buscada, mas é sobretudo pela via de um itinerário a que recorrer, por onde
o cristão vai se fazendo uma pessoa contemplativa. No documento, concretamente
na primeira chamada, há uma série de elementos que sublinho e explicito agora com
maior precisão, como meios concretos para crescer em tal dimensão:
a. A oração, tanto pessoal como comunitária, é fundamental para gerar alma contemplativa. Certo de que deve ser ensinado aos(às) diretores(as) a orar, mas é o seu
exercício frequente, tomar-lá diário, que os irá ajudar a manter um relacionamento vital e profundo com Jesus.
b. A participação nos sacramentos. Eles são os canais pelos quais circulam a graça e
os instrumentos privilegiados de comunhão com o Mestre. A Missa dominical
com comunhão é fonte de alimentação. Não só isso. No contato com a comunidade cristã se aprende a valorar a Palavra, o sentido de corpo, de pertença, se renova
a oferenda de si mesmo a Deus, ao estilo de Jesus, e se é enviado(a) continuar sua
mesma missão na escola, na família e na sociedade. Para os casados, a vivência de
seu matrimônio cristão é também fonte de graça e de santificação. A reconciliação
periódica os fará tomar maior consciência da sua fragilidade interior, mas, sobretudo, do imenso amor de Deus e do valor do perdão.
c. A meditação da Palavra diária será para ele ou ela além de alimento, iluminação
para a tarefa diária e lugar de encontro com o Senhor, a quem encontrarão ao longo da jornada em variedade de situações. Ela afirma a sensibilidade espiritual e define os critérios evangelizadores e facilita o olhar a realidade com os olhos de Jesus.
d. Os retiros anuais, realizados em forma progressiva, serão meios privilegiados de
renovação e conversão. É desejar que cada vez fôssemos mais personalizados.
e. O acompanhamento espiritual é um meio privilegiado de discernimento e de progresso na fé. Quem o frequenta, avança com maior rapidez e profundidade.
f. O
contar com um Plano de acompanhamento dos Diretores, desde a espiritualidade, é um meio que explicita que a Província leva a sério a formação de seus
diretores, também fundada na espiritualidade. Acrescente-se que também são necessárias ações a partir dessas dimensões profissionais: gestão, administração, formação acadêmica. É preciso incorporar a dimensão da espiritualidade. Este Plano
é elaborado com a colaboração dos mesmos diretores.
90
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
g. A participação em alguma comunidade cristã. Em geral, nós, maristas, temos pouca
experiência da vivência da fé em comunidade, entretanto, é um dos meios privilegiados para crescer na vida cristã.
h. A vivência da responsabilidade diretiva como uma missão ou apostolado.
i.
A participação em experiências solidárias que suponham um contato real com o
pobre associado fundamentalmente ao carisma e à opção de Jesus.
Os meios recém-enumerados são ferramentas comuns que a Igreja oferece para o
desenvolvimento da fé. Quantos assumir, e de que forma, é uma tarefa que compete a
cada diretor(a) e também à instituição ao elaborar seus planos de formação.
Por último, cabe mencionar um aspecto sobre a vocação pessoal e a vocação laical
maristas. Os Diretores que vivam essa espiritualidade, apresentada anteriormente, irão
desenvolver uma grande identidade, mas não necessariamente uma vocação laical marista. Como lograr dialogar desde a importãncia de ambas as realidades?
Entendo que, ao falar de vocações, se faz referência concretamente ao texto Em torno à mesma mesa chama “leigos maristas de Champagnat,” isto é, pessoas que, “após
um caminho pessoal de discernimento, têm decidido viver a espiritualidade e a missão
cristã, ao estilo de Maria, seguindo a intuição de Marcelino Champagnat” (nº 11).
Todos nós somos pessoas vocacionados(as) no sentido de termos sido chamados(as)
por Deus, desde o batismo, a viver a vocação cristã. Querer viver essa vocação, no interior de um movimento laical marista, é opção pessoal e não pode ser condição para
assumir responsabilidades diretivas.
Certamente que os(as) diretores maristas devem possuir, e cada vez mais, traços
de identidade marista, mas não é necessário que participem do movimento dos(as)
leigos(as) maristas de Champagnat.
O diálogo entre ambas as realidades é decisivo e deve ser feito desde a transparência
e a liberdade. Os que optam pela vocação marista laical têm que ter muito claro que
isso não os faz superiores aos outros, nem gozar de privilégio algum. Os que não optam
por esse caminho de crescimento cristão não devem sentir-se menores, mas reconhecer a diversidade de dons, vocações e carismas como dádivas outorgadas no âmago da
Igreja pela ação do Espírito.
ANEXOS
91
2.2Segunda chamada: Fazer que o colégio “cheire a Cristo”
Imitar a Jesus em sua aproximação, amor e entrega às crianças é o fim da educação marista, assim nos assinalava Marcelino. Segundo isso, a maior ou menor vitalidade, desde a
missão, , vem marcada pela maior ou menor presença de signos evangélicos, pela maior
ou menor presença de Jesus na fé, repetindo os gestos salvadores do Jesus histórico, por
meio de seus discípulos que são os diretores(as) e quantos trabalham com eles(as).
O evangelista Marcos sintetiza a missão de Jesus nesses termos: percorria os Povos
e as cidades, ensinava, anunciava o Reino, mandava embora os demônios e realizava
curas. Uma das funções, para não dizer, a primordial, que corresponde instar um(a)
diretor(a), é a de se colocar ali onde está, como discípulo(a) do Mestre, enviado(a) por
Ele para repetir seus gestos salvadores. E ajudar, respeitando um pluralismo sadio, que
os demais educadores se hierarquizem, em diferentes níveis, na mesma perspectiva.
A espiritualidade tem a ver, entre outras coisas, com a motivação densa, profunda
que informa e dá sentido a quanto fazemos. Não leva necessariamente a mudar de atividade, mas, sim, de sentido e de forma de fazer. A espiritualidade não tira do diretor e
da educadora a função diretiva da sua responsabilidade diária, mas os coloca nela com
outra atitude, com outro incentivo e com outro espírito. Ele ou ela devem procurar
que o centro educativo siga operante à ação transformadora de Jesus, que sejam vividas
atitudes e processos que sejam atribuídos a sua continuidade.
Os gestos salvadores de Jesus se repetem cada vez que, no estabelecimento, as pessoas que chegam ao colégio são cumprimentadas, cada vez que se estabelece com eles
um relacionamento baseado no afeto, quando se exercita a presença, quando há preocupação pelo crescimento dos alunos(as) e pessoal do colégio, pelos seus problemas,
ideais e aspirações, quando é disponibilizado tempo, mesmo além do horário, quando
é favorecido seu desenvolvimento tanto pessoal quanto social. De modo especial, cada
vez que isso se faz com aqueles que mais necessitam.
Repete-se o gesto de ensinar de Jesus, no colégio, quando os alunos(as) são
ajudados(as) a adquirir conhecimentos e desenvolver capacidades, cultivar seu talento
e ser capazes de se abrirem caminhos na vida. Também quando é anunciada clara e
explicitamente a pessoa do mesmo Jesus, por meio das diferentes formas de educação
religiosa: a formação de catequistas e agentes pastorais de maneira privilegiada, o professorado; a formação de comunidades cristãs; a implementação de uma série de processos pastorais entre os quais sobressaem a promoção e acompanhamento de grupos
92
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
juvenis cristãos; o desenvolvimento de itinerários catequéticos sistemáticos vinculados
de modo especial à preparação dos sacramentos da Eucaristia e Confirmação; uma
pedagogia da oração atraente, um esmerado acompanhamento espiritual dos jovens,
um forte comprometimento apostólico que sublinha claramente a dimensão solidária
e a criação de uma cultura vocacional que permita a que cada educando se inquira com
seriedade e responsabilidade qual é sua missão na vida, e a que cada agente pastoral,
especialmente o professorado, viva sua profissão como uma vocação e um ministério.
O colégio percorre os povos e as cidades cada vez que há aproximação à vida e cultura de quantas pessoas compõem a comunidade escolar. Prolonga a força saneadora
de Jesus cada vez que se suscitam contatos saneadores com as pessoas por meio do
conselho oportuno, do acomanhamento, da orientação, da presença. As ações que são
realizadas adquirem diversos nomes: superação de crises e dificuldades, autoestima e
valoração de si mesmos(as), confiança nas próprias possibilidades, valorização de uma
vida integrada, equilibrada e baseada no amor e construída sobre a Rocha do amor de
Deus; valorização do próprio corpo, aprendizagem do trabalho em equipe, do respeito
ao outro ou à outra, capacidade de comunicação, aprendizagem da responsabilidade, do
serviço solidário, da gratuidade etc.
O colégio continua expelindo demônios por meio da proposta de valor, da formação
moral, espiritual e apostólica que oferece a alunos(as), educadores(as), pessoal do colégio,
famílias quando desenvolve o espírito crítico que ensina a distinguir o bom espírito, do
mau e orientar para o bem, quando semeia em todos esperança, comprometimento e amor.
Geralmente a linguagem que utilizamos para expressar o mesmo é a de “evangelizar
educando”. Agora, bem, quando podemos afirmar que a educação que ministra um
colégio é evangelizadora, quando podemos fazer evidente essa frase que repetimos
tantas vezes de evangelizar educando? Quando se organiza o colégio pelas orientações
e critérios de Jesus; quando Ele está presente (ou se faz visível) nas decisões que são
tomadas, nos critérios de seleção que são implementados, no trato que se da às pessoas, na ênfase que são destacadas, nas motivações que guiam as condutas. Quando é
outorgada a boa notícia de Jesus e a construção de seu Reino, o critério inspirador e
último de quanto é decidido e realizado.
A autêntica integração entre fé e cultura se dá nessa dimensão. Transcende a cultura
religiosa que é transmitida aos atos de culto que são celebrados. Supõe um diálogo
com a ciência, uma transmissão de valores evangélicos ao longo de todo o processo e
ANEXOS
93
uma transformação da estrutura interna. Aponta para construir excelência acadêmica
via Evangelho; para lograr qualidade educativa com os olhos do Fundador; para impulsionar teorias atualizadas de aprendizagem por uma antropologia cristã, que permita que os alunos(as) apreendam o pensar, obtenham bons resultados − respeitando e
impulsionando a diversidade − e cresçam harmonicamente humana e espiritualmente.
Os diretores recebem a missão de fazer com que a adesão a Jesus Cristo e a seu
Evangelho seja a motivação global, imprescindível e dominante na organização e funcionamento de um colégio.
2.3 Terceira chamada: cultivar a profecia
A profecia é utopia em ação. Sempre instaura em nossa sociedade páginas inesquecíveis do Evangelho. Por meio dela, a escola católica não teria por que ser uma reprodução mecânica da sociedade e cultura estabelecidas, mas deveria ser antídoto e terapia
espiritual, e aportar atitudes críticas, contraculturais e transformadoras inspiradas no
Evangelho e na tradição carismática. Para que o colégio católico seja realmente significativo necessita se vislumbrar uma maior fantasia carismática e fazer gestos provocadores que sacudam o letargo da humanidade e a convidem a caminhar até a utopia.
Ao longo da história, a autêntica adesão a Jesus Cristo tem se transformado em uma
torrente de criatividade que introduziu na sociedade "exageros evangelizadores" que
têm encantado e construído credibilidade.
A profecia é esse dom de Deus que permite aos crentes e às instituições habitar o
querer de Deus e adequar seus critérios, organização e funcionamento ao interpretado como expressão da vontade de Deus. Ir. Benito Arbués, Superior-Geral, expressou
belamente que pode supor para os maristas exercer a profecia, quando nos convidou a
Apoderar-nos do coração de Marcelino... e sentir as chamadas de Deus no momento
atual; valer-nos de seus olhos para enxergar com amor o mundo de hoje e as urgências
que iriam reclamar dele uma ação semelhante à tomada em 1817; empenhar-nos em
encarnar com linguagem nova os mesmos valores que ele desejou para seus irmãos;
empreender projetos que possam ser mais fiéis às instituições fundacionais; despojarnos de quanto nos afasta dessa fidelidade, embora o que estamos fazendo seja bom e
plausível para um setor da sociedade.
Exercer a profecia em nossos centros educacionais é não renunciar nem trair sua inspiração evangelizadora, é traduzir aos tempos atuais a inspiração carismática dos começos,
é construir uma realidade que possua as marcas do que Jesus chama o “reino de Deus”. É
nesse terreno em que mais facilmente pode um(a) diretor(a) claudicar perante as tentações
94
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
do poder e do prestígio a qualquer preço. Geralmente, os Reitores e os(as) diretores(as),
em geral, propugnam a realização de projetos que chamam de qualificação pedagógica. E,
para isso, programam instâncias de aperfeiçoamento com consideráveis mudanças, tanto
no pessoal e recursos econômicos como no tempo. Creio que seria muito conveniente,
também, que tais autoridades se empenhassem em gerar projetos a que me atrevo a chamar
de “qualificação evangélica,” de ponta, que contribua para consolidar as grandes novidades
de Jesus: a salvação universal: o Reino é para todos (política de inclusão e de integração), a
comunhão de bens: os bens devem ser compartilhados por nós (política de portas abertas)
e o amor a todos, especialmente aos mais desvalidos (política de preocupação especial pelo
menos dotado).
Algumas formas de promover e exercer a profecia em nossos centros educativos podem
ser os seguintes:
a. Potencializar uma educação que transforme a lógica da excelência e a superioridade pelo serviço, a solidariedade e a justiça. A opção pela qualidade da educação e a
excelência em nossos centros educativos é válida (assim o ensina Jesus na parábola
dos talentos), mas se não for bem discernida pode levar a entrar na dinâmica, às
vezes encoberta e muitas vezes explícita, de criar uma escola para os “melhores”
– em que os êxitos que são publicitados fazem esquecer as baixas produzidas ao
longo do processo educativo − e a incentivar processos que enfatizam o acadêmico em forma desproporcionada, deixando de lado ou em segundo plano outros
aspectos igualmente valiosos.
b. Antecipar no interior de cada colégio a sociedade do futuro. Estruturando-o
como um local de encontro, um laboratório da escuta e de eficaz comunicação,
tanto para educadores quanto para educandos. Propiciando o trabalho em grupo,
o debate sereno, a comunhão e a participação em diferentes formas. Oferecendo
ao pessoal que nele trabalha um nível de salário digno, uma transparência administrativa, efetivas oportunidades de aperfeiçoamento nas diferentes dimensões
da vida e um adequado e constante acompanhamento. Educando para convivência, saída, para a tolerância, a paz e o diálogo, fazendo com que as normas de
convivência e de disciplina sejam coerentes com esses propósitos.
c. C
ompartilhar a própria riqueza e tradição com escolas que têm maior necessidade. Adotar uma política de portas abertas ao entorno social, seja bairro, paróquia,
ou outros coletivos sociais (outras escolas), prefigurando a imagem escatológica
do Reino, no qual bens se dispõem em comum. Abrindo suas dependências: bibliotecas, oficinas, infraestrutura desportiva etc.
ANEXOS
95
d. Desenvolver em todo tipo de colégio marista, pago ou gratuito, a criatividade
para ser um reflexo cada dia mais exato da realidade social existente. Implementar uma política de abertura à diversidade. Que pelo interior dos colégios pagos
circulem alunos(as) de diferente poder econômico (implementando sistemas de
bolsas, por exemplo); que em todos os centros convivam alunos(as) de diferentes
níveis de adesão religiosa, de diferentes ritmos de aprendizagem e experiências de
ensino. Que tenha presença em todos, de meninos e meninas com necessidades
especiais, isto é, com dificuldades motoras, sensoriais e psíquicas, ou que estão ou
podem estar, em situação de desvantagem por razões étnicas, culturais, sociais,
econômicas, de sexo, ou por famílias desestruturadas... Que vão derrubando os
sistemas de admissão que selecionam o melhor. Que cresça a crença de que todos
os alunos(as) têm um potencial de aprendizagem que pode ser desenvolvido e,
em consequência, sejam adotadas políticas de seleção e modelos de ensino que
facilitem uma excelência educativa diferenciada.
e. Em meio a uma sociedade corrupta, educar em e para o respeito à dignidade da
pessoa, a honra, a justiça, a solidariedade, a paz e no sentido de transcendência.
f. N
uma sociedade desintegrada, egoísta e marcadamente individualista, no contexto de uma família que cada dia é mais insegura e frágil, a caminho de desintegração, compartir a missão com espírito de comunhão autêntica entre religiosos e
leigos(as), entre professores, auxiliares, padres e alunos, num ambiente acolhedor
praticando um modelo de relação que reflita o Evangelho.
g. Em um ambiente cada dia mais secular e que é construído de costas a Deus, dar
motivação com os fatos e as palavras da sua existência e necessidade.
h. Quando nos fazemos presentes entre aqueles que estão a nosso cuidado com o
espírito compassivo de Jesus e de Marcelino; quando somos bondosos com as
crianças mais pobres, os menos cultos e os menos dotados; quando abrimos nossos
olhos e nossos corações para compreender o sofrimento dos jovens, compartilhando a compaixão que Deus sente pelo mundo; quando sentimos raiva e indignação
perante as estruturas que condicionam a pobreza e começamos a agir sobre as
causas mais que tratar os sintomas; quando não permitimos que os resultados se
anteponham ao respeito à dignidade de cada educando e às necessidades de cada
pessoa; quando, pelo contrário, prestamos mais atenção àqueles cujas necessidades
são maiores, que são mais despossuídos, ou passam por momentos difíceis, tratando de criar situações de aprendizagem quando todos e cada um possam acertar e
se sentir seguros pessoalmente; quando evitamos ser elitistas em qualquer sentido, tratamos de demonstrar em todo momento que os apreciamos e os queremos
tanto mais quanto mais carentes estão dos bens da fortuna e da natureza
96
O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
José Cristo Ree García Paredes, cmf, tem uma percuciente observação, a esse respeito.
Se cai frequentemente na armadilha da ‘eficácia demais’. Se pensa, por exemplo, em
oferecer à sociedade um ‘bom colégio’, um ‘bom hospital’... E por ‘bom’ se entende
‘eficaz’. E a ‘eficácia’ se julga pelos resultados ‘burgueses’: um colégio ‘de alto nível
intelectual’, um ‘hospital de alta técnica’. Outra coisa é planejar a missão apostólica em chave de signo. Erigir um ‘colégio-parábola’, um ‘hospital-parábola’, uma
‘paróquia-parábola’. E parábola do Reino, obviamente. .Reconverter as atividades e
obras apostólicas, as instituições, em ‘parábolas do Reino’ exige aos religiosos ‘voltar a
suas origens carismáticas’, àquele momento em que a educação, o serviço aos doentes,
a atenção aos marginalizados era uma parábola dentro da sociedade. Hoje nossos
povos necessitam ‘novas parábolas’ a favor de uma humanidade não discriminante,
que não valorize o homem só pela sua capacidade intelectual, pelas suas ideias religiosas, por sua gratidão, por sua educação, pelo seu dinheiro, pelo seu poder social.
Parábolas que falem de Deus com linguagem de nossos contemporâneos, mas do bom
Deus que faz sair o sol sobre bons e maus, que tem aberta sempre a porta da casa para
o filho pródigo, que não arranca a cizânia. Que seria uma instituição educativa ou
sanitária nesta chave?
2.4 Quarta chamada: fazer com que o serviço educativo seja fonte de espiritualidade e local de santificação
O mundo, disse o documento “Espiritualidade apostólica marista do XIX Capítulo
Geral”, deixa de ser considerado um obstáculo e é convertido em local de encontro
com Deus, de missão e de santificação. Nas realidades temporais próprias de nosso
ministério educativo escutamos, servimos e amamos a Deus. Nelas exercitamos a
presença de Deus tão querida de nosso Fundador e de tantos irmãos.
A presença entre as crianças e os jovens, prossegue, é local de encontro com Deus e a
ação apostólica, nesse caso educativa, longe de entorpecer a união com Ele a favorece e a
expressa. Desenvolvemos a espiritualidade na entrega aos outros. A criança, o jovem, o(a)
companheiro(a) de trabalho, o(a) funcionário(a) se convertem a cotidiano, para nós, em
sacramentos vivos de Deus e interpelações do Espírito, em ícones vivos de sua presença.
No serviço a eles, integramos, como Jesus, o amor a Deus e ao irmão, a contemplação e o
apostolado. A busca da vontade de Deus no trato com as pessoas, nas ocupações diárias,
nas atividades da família, da comunidade, do afazer educativo e pastoral, na fidelidade
simples de todos os dias, nos unifica no amor.
Necessitamos que estas belas frases se corporifiquem em nossas experiências. Precisamos que se opere uma mudança em nossa compreensão da espiritualidade, que valorize o
ANEXOS
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apostolado como um local central de encontro com Deus. No apostolado que realizamos,
há dimensões ou momentos que são especialmente reveladores da amorosa presença e ação
de Deus. Desafortunadamente nem sempre os valorizamos assim. Pelo contrário, às vezes
os interpretamos mal e buscamos caminhos para evitá-los ou para nos anestesiar contra
seu pleno impacto. Muitas vezes, por não entender, perdemos essa amorosa ação de Deus
em nossa experiência de cada dia e seguimos criando dicotomias artificiais entre oração
e trabalho, contemplação e ação, dicotomias que muitas vezes nos deixam notavelmente
confundidos em nossa relação com Deus.
Ao longo da vida, como nos fala Água da Rocha, nossa realidade espiritual interage dinamicamente com as experiências que vivemos. A espiritualidade, por um lado, se molda
à medida que abraçamos essas experiências e, por outra, ela modela nossa forma de nos
relacionar com as pessoas, com o mundo e com Deus.
Apresento, a seguir, umas dicas de como nossos diretores podem se encontrar com Deus
desde o cotidiano da ação educativa:
a. Deus na experiência dos encontros personalizados. Se nossos diretores são pessoas contemplativas podem viver autênticas experiências de Deus na variedade
de encontros pastorais personalizados, que acontecem ao longo do dia, na experiência gratuita de receber uma confiança que supera tudo o que cada um(a) tem
direito a esperar ou exigir. Alguém que comunica uma verdade acerca deles(as)
mesmos(as), esses preciosos momentos em que o outro ou a outra esteve na sua
presença na crua nudez da sua humanidade; aquele(a) jovem ou educador(a), que
possui seus problemas, confidenciam seus ideais ou falam de seus progressos;
aquele marido ou aquela esposa infiéis que buscam conselhos e voltam à confiança
mútua; a família que cai em desgraça por assuntos econômicos; o colega de trabalho que abre seu coração; um casal jovem que busca ser ajudado a amadurecer
seu amor; aquela mãe solteira que confidencia seu drama para levar para frente
seus filhos; aquela mãe pobre que, de sua simplicidade, confessa sua acendrada experiência de solidariedade, demasiadas vezes se perdem por excesso de ocupação
ou por despiste o mistério desses encontros. Não se fazem leituras da fé deles,
não se penetra em sua real profundidade e não são percebidos como agraciados
que realmente o são. A vida oferece diariamente outra multidão de momentos e
circunstâncias onde descobrir as pegadas de Deus.
b. Deus na experiência da beleza. Outra fonte de espiritualidade pode ser a contemplação de Deus presente na beleza da natureza, nos acontecimentos, nas obras
do espírito humano, nas diversas assinaturas, na inocência dos meninos e meninas,
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O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
no amor conjugal compartilhado. Deus presente na beleza de um testemunho, na
simplicidade da vida fraterna e na sabedoria das pessoas maiores. Deus presente
numa conversação, num encontro festivo, num acampamento com jovens, numa
festa colegial, na beleza que encerra a alegria de um menino ou menina que aprendem a ler, ou dos jovens que finalizam com sucesso a etapa de ensino.
c. Deus na experiência do mal. A experiência do mal que nos rodeia com tanta frequência e em forma intensa nos pode remeter a Deus e ser fonte de crescimento
espiritual. O apostolado educativo nos põe em contato diário com o mal. Não
transcorre um dia só sem sermos confrontados com o que é e não deveria ser:
discórdias familiares, violência intrafamiliar, dificuldades e infidelidades conjugais,
irresponsabilidades profissionais, abusos de crianças, droga que se infiltra e destrói
o que mais queremos, o álcool excessivo, a descarada sedução sexual, as injustiças
e desigualdades sociais, as mil caras da violência, a injustiça e a pobreza... A lista e
os exemplos poderiam continuar.
Também o mal pode ser revelador da presença, do amor e do poder de Deus. Um
coração contemplativo e descoberto sofrendo e clamando para que mudem essas
situações. O contato com Ele pode despertar o comprometimento de trabalhar
para que as coisas se orientem segundo seu querer. Com frequência, é a experiência do mal a que destila em nós a melhor energia pastoral e nossos mais fundos
comprometimentos.
d. Deus na experiência do vazio e da solidão. A experiência de certo vazio e solidão pode ser também fonte de união com Deus, veículo da graça. Na realidade
educativa, se dá com alguma frequência e especial intensidade essa sensação de
cansaço até os ossos, do espírito abrumado, de não poder mais, essa espécie de
esgotamento da alma e da esperança, essa solidão profunda que nos lacera e nos
faz sofrer ao conseguir muito menos do que esperamos em nosso afã por lograr
formar bons cristãos e virtuosos cidadãos, e ao experimentar que, na linha de valor, nossa influência cada vez mais irrelevante na vida de nossos(as) alunos(as) e
famílias. Queremos entrar no núcleo e no coração de vida deles e nos relegamos
à superficialidade. Esse vazio e dolorida solidão que nos podem afundar podem
ser lidos em outros manuais mais positivos e enriquecedores: como um convite a
transcender nossas limitações, enxergar além de nossa existência presente e descobrir que o centro de nossa vida está em nosso coração mesmo, como um sinal
também de que no profundo desse vazio está Deus nos chamando a satisfazer
nEle o desejo que experimentamos.
e. Deus nas chamadas a superação. Outra experiência que pode alimentar a espiritualidade de nossos diretores é o que podemos chamar a experiência da consANEXOS
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ciência, essa pequena e suave voz que nos convida e nos incita a todos(as), com
frequência, a nos renovar, a ser melhores cristãos, melhores pedagogos, melhores
apóstolos. Essa voz que nos chama a renovar na fé, no campo profissional, nas
metodologias; que nos convida a ficar em dia, a abrir horizontes, a olhar além, a
engrandecer o coração, a estar abertos a mudanças, a sintonizar com os desafios
e as interpelações do mundo de hoje, da técnica, da ciência; a ser mais generosos
e magnânimos. Essa voz incomoda nossa comodidade e conforto, nossa rotina e
inércia, nossas autodefesas, nossa pequenez e falta de generosidade e comprometimento. Às vezes nos reverbera quando menos o esperamos. Temos experiência
de que, quando damos resposta, encontramos paz profunda, como confirmação
de que é Deus quem está convidando. Sua presença pode nos revelar recursos
ocultos em nós que sequer sonhávamos que estivessem entranhados.
Mariano Varona G., fms
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O DIRETOR MARISTA E SUA GESTÃO A SERVIÇO DA MISSÃO
Questões para aprofundamento
1. Que impressões gerais têm produzido em você a leitura e análise do texto? Quais
sentimentos foram despertados em você? Em que tem iluminado você? Em que
tem interpelado você? O que resgata dele?
2. A espiritualidade está referida à dimensão de profundidade de todo o real. Que
pode significar isso na sua missão como diretor ou diretora? Qual é a dimensão
profunda da educação e da gestão?
3. Das quatro chamadas, qual é a que mais ressoa em você? Qual parece mais dirigida a você?
4. Que outras experiências educativas podem se transformar em experiências de
espiritualidade?
5. Formulamos aos diretores propostas claras que questionem e ponham em crise
as demandas dos pais e mães de família, ou claudicamos frente a suas demandas
oferecendo alternativas aguadas da evangelização?
6. Que fazer, que enfatizar, como formar os nossos diretores para que, como diz no
MEM nº 164, sejam pessoas com visão, que possam propor e testemunhar nossos
valores maristas e guiar os outros para que vivam segundo eles, já que mais que
nenhum outro, eles são a figura de Champagnat na comunidade escolar?
ANEXOS
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O diretor Marista e sua gestão a serviço da missão