PRÁTICA DOCENTE E INTERAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE O QUE AS CRIANÇAS DIZEM ACERCA DO TRABALHO EM GRUPO E EM DUPLA NA ESCOLA Juliana de Melo Lima – [email protected] - PPGE/UFPE – PE – Brasil Telma Ferraz Leal – [email protected] – PPGE/UFPE – PE – Brasil Amanda Kelly Ferreira da Silva – [email protected] – UFPE – PE – Brasil Eixo: Alfabetização e formação profissional Resumo Neste artigo são analisadas práticas docentes e as apreciações avaliativas das crianças do 3.º ano do Ensino Fundamental sobre as situações didáticas propostas em duplas e em grupos. Foram verificados nas aulas agrupamentos diversificados, estimulando o processo de interação. Nas entrevistas, os alunos valorizaram os agrupamentos, por favorecer a ajuda mútua, a afetividade, o tempo pedagógico, a socialização de conhecimentos, explicitando também a dificuldade de conciliar os ritmos dos alunos. Palavras-chaves: Prática docente; Interação; Agrupamentos. Abstract In this article are analyzed teaching practices and evaluative of children in the 3rd grade of elementary school on teaching situations proposed in pairs and in groups. In the analysis it was identified diversified groups, stimulating interaction. In interviews, students valued the groupings because they encouraging mutual help, affection, pedagogical time, the socialization of knowledge, explaining also the difficulty of reconciling the rhythms of students. Keywords: Teaching practice; interaction; Groupings Na prática docente, diferentes saberes são mobilizados para a organização do trabalho pedagógico, tal como apontam autores como Tardif (2000) e Chartier (2010). Dentre tais saberes podem ser considerados os que são relativos às estratégias de gerir as interações em sala de aula, de favorecer a socialização de conhecimentos, de propiciar a construção coletiva de conceitos, considerando o currículo, o tempo e o espaço, os tipos de atividades, os recursos, assim como os interesses dos discentes e suas possibilidades na etapa escolar em que se encontram. Assim, definir as formas de agrupamento dos alunos para a condução das aulas é uma das tarefas do professor, dentre outras igualmente importantes. De acordo com Franco (2012, p. 156), “uma prática pedagógica é formada por um conjunto complexo e multifatorial. O professor em sala de aula atua com base em decisões já tomadas ou não; com base em convicções já estruturadas ou não (...). Decisões, princípios, ideologias, estratégias... trata-se de ingredientes estruturantes das práticas pedagógicas”. Desse modo, para entender a prática docente é necessário investigá-la sob diferentes aspectos, entendendo que ao pinçarmos cada um deles, perdemos a totalidade e, portanto, a complexidade do fenômeno em análise. Ainda assim, é de fundamental importância buscarmos ter um olhar sobre aspectos específicos do cotidiano escolar, pois a visão de totalidade também esconde a dinamicidade das interações. Considerando, portanto, a impossibilidade de ao mesmo tempo garantirmos a visão de totalidade e a complexidade das especificidades, é necessário desenvolver diferentes pesquisas, com diferentes metodologias, tentando articulá-las, para a ampliação dos conhecimentos sobre a prática pedagógica. Nesta pesquisa, objetivamos analisar as apreciações avaliativas das crianças sobre as situações didáticas em que elas precisam trabalhar em duplas ou em grupos. Para tal, realizamos, inicialmente, uma reflexão de como uma professora organizou os agrupamentos em sala de aula para a realização das tarefas propostas e, posteriormente, o que as crianças dizem sobre tais formas de agrupamento. A metodologia constou de observações de aulas, com foco na prática pedagógica de uma docente do 3.º ano do Ensino Fundamental de um município pernambucano. Além dos relatórios das aulas, foram realizadas entrevistas com os estudantes da turma em foco. Em suma, as análises, neste artigo, serão focadas nos modos como a docente organizou os agrupamentos em sala de aula e nas avaliações apreciativas das crianças acerca dos momentos em que eram dispostas em duplas ou em grupos para a realização das atividades escolares. Tal tipo de investigação justifica-se pela necessidade de entendermos os processos interativos em sala de aula e os modos como os conhecimentos são socializados e construídos nessas relações. Entretanto, Morais (2012) afirma que “realizar atividades diferentes ou que podem ser respondidas de modo distinto num mesmo momento em classe” tem-se demonstrado uma dificuldade para os docentes, embora destaque a importância de “aprender com os saberes acionados por professores que conseguem praticar um ensino simultâneo diversificado” (MORAIS, 2012, p.180). Os dados foram coletados no ano de 2013, no mês de dezembro, com uma professora e o seu grupo de alunos. Foram observadas 14 aulas seguidas. Após cada aula, três estudantes foram entrevistados. Para a exploração dos dados, foi utilizada análise de conteúdo segundo Bardin (1977), em três etapas: inicialmente, os relatórios de aula e transcrições das entrevistas foram lidos para que fosse realizada a construção das categorias e elaboração de quadros de organização dos dados; em um segundo momento, houve uma releitura, para preenchimento dos quadros. Por fim, os quadros foram interpretados, para que chegássemos às conclusões, e os relatórios e transcrições das entrevistas foram revisitados para uma análise mais aprofundada de alguns trechos. Para iniciarmos a exposição dos dados, optamos por, em primeiro lugar, situarmos quais são os pontos de partida assumidos nas análises, que é o da perspectiva sociointeracionista, com base, sobretudo, em Vygotsky (1989), Onrubia (1996), Colomina e Onrubia (2004). 1. Sociointeracionismo e construção de conhecimentos Diferentes autores que abordam a prática docente salientam a importância das interações em sala de aula para a apropriação dos conhecimentos pelos alunos. Leal, Guerra e Lima (2012), por exemplo, salientam a potencialidade das estratégias docentes que possibilitam aos alunos “trocar informações, bem como a partilhar estratégias de resolução de problemas e modos de pensar sobre os conteúdos mobilizados para a realização das atividades propostas” (LEAL, GUERRA E LIMA, 2012, p. 87). De acordo com tais autoras as aprendizagens escolares são variadas, assim como os modos de aprender dos alunos, demandando que haja diversificação de modos de agrupamento dos alunos: atividades em grande grupo, atividades em pequenos grupos, atividades em duplas, atividades individuais. A escolha por alguma dessas opções é feita em função dos objetivos didáticos, tipos de conteúdos, tipos de atividades. Para esses diferentes agrupamentos, também podem ser definidos diversos critérios. Por exemplo, as crianças podem ser agrupadas por terem diferentes hipóteses sobre o que se está estudando, ou por terem conhecimentos aproximados, ou por terem estratégias diversas de resolução de determinado tipo de problema. Enfim, é com base em avaliações variadas que os docentes definem como os alunos realizarão determinadas atividades. Para Guerra, Leal e Lima (2012), é preciso garantir condições para que eles (os alunos) trabalhem autonomamente. Para isso, é preciso criar em sala de aula rotinas de trabalho e formas de condução que mostrem para as crianças que elas são responsáveis por sua própria aprendizagem, para que elas possam passar parte do tempo sem a atenção da professora. Tal atitude é fundamental porque, nesse caso, a docente precisará distribuir sua atenção entre os diferentes grupos de alunos (p. 92). No trecho acima, destacam-se duas categorias relevantes da discussão: a autonomia para o trabalho e a responsabilidade sobre suas próprias aprendizagens. Espera-se que, ao serem realizadas atividades em que a mediação do professor seja menos diretiva, as crianças aprendam a aprender, aprendam a criar estratégias para resolver problemas e aprendam a interagir para resolver problemas. Por outro lado, destaca-se, também, um modo de interação professor-aluno diferente da tradicionalmente consolidada: a distribuição de tarefas e mediação com foco em necessidades específicas de cada grupo de alunos. Para tal, é preciso que o docente acredite que os estudantes aprendem mesmo que ele – o professor – não esteja durante todo o tempo controlando as atividades. Concordamos com as autoras Guerra, Leal e Lima (2012, p. 102), ao afirmarem que: Consideramos que as atividades em grupo podem promover momentos ricos de socialização de saberes, o que, sem dúvida ajuda bastante as crianças. Ao explicitar um saber, as crianças não apenas reconstroem seus próprios, como auxiliam seus colegas a se apropriar do que elas sabem. Quando o professor problematiza um conhecimento, com questões pertinentes, ele desafia as crianças a elaborar hipóteses e mobilizar saberes necessários à participação nas atividades propostas. Desse modo, a aprendizagem é significativa. Esses princípios defendidos pelas autoras em foco são oriundos de pressupostos advindos de abordagens sociointeracionistas, como a perspectiva vigotskyana, na qual o autor defende que “o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que os cercam” (VYGOTSKY, 1989b, p. 99). Desse modo, as propostas de atividades que promovam interações mais próximas entre os estudantes, com agrupamentos em grupos e em duplas, podem favorecer a aprendizagem. Uma das grandes contribuições de Vygotsky (1989) relativa a tal tema foi abordar o conceito de zona de desenvolvimento proximal, definida pelo autor como “a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes” (VYGOTSKY, 1989b, p. 97). Segundo Vygotsky, o aprendizado é necessário ao processo de desenvolvimento e, nesse contexto, nos momentos em que interagimos com o outro temos oportunidades de novas aprendizagens. Na sala de aula diferentes formas de interação podem ser observadas. Nos processos interativos em que os alunos estabelecem relações mais próximas entre eles, estão implicados diferentes aspectos que podem favorecer o desenvolvimento dos alunos, conforme defende Onrubia (1996): A interação entre alunos pode ser utilizada como um recurso de primeira ordem em aula e pode facilitar de maneira privilegiada o desenvolvimento de capacidades tanto cognitivo-linguísticas como de equilíbrio pessoal, de relação interpessoal e de atuação em grupos sociais mais amplos, mas para isso devem ser limitados de maneira adequada os tipos de atividades, suas orientações, as normas reguladoras da situação, os recursos e materiais de apoio antes e durante o processo e os produtos a serem obtidos. Deve-se lembrar que a capacidade de trabalho em equipe pressupõe o domínio progressivo pelos alunos de determinados conteúdos, muito particularmente conteúdos referentes a procedimentos e a normas, valores e atitudes, que também devem ser objeto explícito de ensino na aula. (ONRUBIA, 1996, p. 148). O autor salienta alguns cuidados no momento de planejar a realização de atividades em que os alunos interajam entre eles, como nos momentos de pequenos grupos. Colomina e Onrubia (2004) destacam algumas características importantes de uma atividade produtiva. A primeira se refere ao caráter realmente coletivo e grupal. “Em uma tarefa de grupo, portanto, os participantes são interdependentes: cada um deve obter e trocar algum tipo de recurso com os outros para que a tarefa possa completar-se e todos podem e devem proporcionar algo para a resolução da tarefa”. (p. 291). A segunda dimensão da tarefa de grupo relaciona-se ao caráter aberto ou fechado. As atividades precisam permitir que, de fato, os alunos possam utilizar estratégias variadas para resolvê-las, de modo que os alunos precisam colocar seus pontos de vista, negociar posições. “Nas tarefas mais abertas, a interação, entre os alunos é muito mais crucial para a produtividade e o rendimento, já que não há um caminho pré-estabelecido de resolução: se os membros do grupo não trocam ideias e informações, dificilmente conseguirão encontrar vias de solução para a tarefa proposta” (COLOMINA e ONRUBIA, 2004). Outra dimensão abordada pelos autores é a forma de instrução para a tarefa. Na prática docente, ao organizar os alunos em grupos ou em duplas para resolver atividades, as instruções precisam ser claras. Precisam permitir que os alunos assumam um papel mais colaborativo nas atividades. Segundo Colomina e Onrubia (2004), As instruções para a tarefa são essenciais para que os alunos entendam e abordem a tarefa efetivamente como tarefa coletiva. (...) É fundamental que o professor ajude os alunos a conceberem o que significa e em que se concretiza realizar uma tarefa de forma cooperativa, explicitando ao máximo os critérios e as formas de atuação e de discurso que pretende que os alunos ponham em funcionamento (p. 291). Diante das contribuições trazidas por esses autores, considera-se que ao propor atividades em que os alunos interajam em duplas e em grupos vários aspectos precisam ser considerados para que de fato haja uma intencionalidade de promoção de momentos de interação, o que não significa que não surjam conflitos, necessitando em alguns momentos da intervenção docente. Colomina e Onrubia (2004) também atentam que “A interação entre alunos pode promover não apenas processos de construção de significados, mas também de atribuição positiva de sentido à aprendizagem escolar” (p. 287). Ou seja, diante das decisões de seleção do professor ao propor atividades em grupo os alunos precisam se sentirem motivados a participar. Desse modo, é importante reconhecer que, além dos aspectos cognitivos, “na interação entre alunos, estão em jogo também processos e mecanismos de caráter motivacional, afetivo, relacional que contribuem, igualmente, para explicar sua efetividade para a aprendizagem escolar e para o desenvolvimento de capacidades de tipos diversos para os alunos” (COLOMINA e ONRUBIA, 2004, p. 287). Diante dos pressupostos discutidos neste tópico, discutiremos a seguir os dados da pesquisa em dois blocos. Inicialmente, com foco na prática docente, refletindo sobre as formas de agrupamentos propostas pela professora e, em seguida, com base nos dados das entrevistas das crianças. 2. Análise da prática docente: quais formas de agrupamentos dos alunos foram identificadas nas aulas da professora? A prática da professora investigada foi observada em 14 dias. Nas aulas observadas, a professora contemplou várias formas de agrupamento dos alunos, como pode ser verificado no quadro abaixo. Quadro 1: Formas de agrupamento dos estudantes Aulas Individual 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 X X X X X X X 07 (50%) Tipos de agrupamentos em atividades realizadas Duplas Pequenos Grande Grande Com duas grupos grupo grupo turmas (roda) (cadeiras juntas enfileiradas) X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 03 07 01 13 01 (21,42%) (50%) (07,14%) (92,86%) (07,14%) Livre escolha X X X X X X X Quantidade de agrupamentos nas aulas 3 (42,85%) 4 (57,14%) 4 (57,14%) 4 (57,14%) 2 (28,57%) 2 (28,57%) 2 (28,57%) 5 (71,42%) 2 (28,57%) 2 (28,57%) 3 (42,85%) 2 (28,57%) 1 (14,28%) 3 (42,85%) 07 (50%) Fonte: Lima (2015) De acordo com o quadro, a professora variou as formas de agrupamentos, tendo, com exceção da aula 13, mais de um agrupamento numa mesma aula, variando entre 2 e 5 tipos. Conforme mencionado no quadro, a professora realizou em três dias atividades em duplas, (21,42%), contempladas nas aulas 5, 6 e 8. Na aula 5 a atividade em dupla foi uma revisão de texto, após a realização de uma discussão coletiva com registro no quadro dos critérios de revisão das produções. Na aula 6 a professora organizou os alunos em duplas para realizarem atividades de resolução de problemas matemáticos, em livros didáticos e em fichas. Na aula 8 as crianças, em duplas recontaram o conto da Galinha d’Angola. Depois, houve a leitura da história da Galinha d’Angola, com a retomada das produções escritas em dupla. No extrato abaixo podemos perceber como foi o comando da atividade de produção de texto em dupla. P- Vocês vão iniciar. Amanda, Mariana, eu só tô vendo Mário prestar atenção! P- Presta atenção, vocês vão fazer o início da história, que pode ser parecida um pouco com a do conto, vão criar a situação que vai desestruturar a paz e a harmonia da história, e no meio da história eu quero que vocês coloquem mais coisas. Por exemplo, aí vocês veem algum tipo de diálogo entre as aves, tem alguma conversa? P- Vocês podem criar isso no reconto de vocês! C- Pode fazer mais coisas e criar diferente, não é professora? P- Vocês não vão pegar a história e fazer do mesmo jeitinho, vocês vão colocar novos elementos, vocês lembram da história que Giovana criou, ela botou vários diálogos entre a lua e o macaquinho. C- Eu fiz tudo! P- Você não colocou isso aqui, cadê o meio da história? Falta aqui, a história tem que ter essa partezinha aqui onde vai desenvolver as coisas, o que que vai acontecer, depois que os bichos ficaram com inveja do melro, o que vai acontecendo? C- A gente sempre tem que ler e dividir o texto. P- Presta atenção nos parágrafos, e cuidado com a escrita. Quando vocês forem escrevendo vai lendo e descrevendo. Lembra que Marina falou quando a gente foi fazer a revisão? Ela disse é importante a gente ler várias vezes! Mas não deixa pra ler várias vezes quando terminar a produção! C- Você escreve uma, aí lê aquela parte e depois continua! P- Vê se deu continuidade do que tá escrevendo, vê se tem erros ortográficos, vê se tá colocando a pontuação. C- Tia, tô botando tudo! C- Tia, não pode se esquecer que quando tá falando com um bichinho coloca o traço! (travessão) P- Isso. Coloca o travessão. Quando alguém faz uma pergunta, coloca o que? A interrogação. Alguém se assustou ou deu um grito e tá com raiva, o que coloca? C- Exclamação! P- Eu vou dizer aqui na minha história quais são as aves que estão morando na minha floresta, então se eu for colocar, tinha passarinhos, galinhas eu vou colocando o quê? C- Vírgula! P- A vírgula. Então vai lendo com cuidado, escreve direitinho, conversa com o amigo, o que Felipe falou ontem, tem que ser uma pessoa que vai colaborar, dupla é pra se ajudar! C- Tia, não pode botar as palavras muito juntas não, tem que dar um espaçozinho. P- Botar o espaçamento das palavras. P- A gente tem que reler o que está fazendo, pra identificar os erros, a ortografia de letras. Ah esqueci de colocar uma letra, ou botei uma letra que não era pra colocar. E trabalhar juntos, não é porque tá Antônio e Clara que Antônio vai deixar Clara fazer tudo não. Como pode ser visto, a atividade desenvolvida na aula 8, em dupla, foi a produção de um reconto de uma história (A Galinha D’Angola, de Zuleika Prado), em que a leitura tinha sido realizada na aula 7. No extrato, pode-se perceber que a professora estava atenta à participação dos alunos, fez várias orientações de revisão textual, durante o processo de produção, e retomou a fala do aluno que tinha feito uma observação sobre o que era trabalhar em dupla na aula anterior. Novamente ela ressalta a importância da colaboração entre os alunos, em que um precisa ajudar o outro. Pouco após o comando visto no extrato anterior, a aula foi interrompida para a aula de Educação Física. Após, retomou novamente a atividade do reconto em duplas: P- Vamos lá, Amanda abra o caderno, é pra colaborar visse? C- Tia, eu posso mudar de título? P- Pode, agora não esqueça que tem que ter a ver com a história. C- Tem que falar da Galinha da Angola? P- Tem que falar da Galinha da Angola, você vai criar uma história. P- Presta atenção Mário, a gente escutou a história da Galinha da Angola. Por que ficou desse jeito? Vocês vão criar uma história baseada nessa que a gente viu, pode ter algumas coisas dessa. Como que começa a história? Vocês conversam e aí cria o início da história, na história começa com aves vivendo na floresta. Tudo bem e aí, vai começar como, vai começar assim ou vai começar de outro jeito? P- Pode ser que Amanda escreva, mas vocês vão colaborar com ela. P- Vai fazer em dupla, qual é o sentido de fazer em dupla? C- Um escreve e outro fala! P- Não, não é esse sentido não, é pra ampliar minhas ideias, tirar minhas dúvidas eu vou ter uma pessoa pra fazer isso comigo. As atividades em grupos foram identificadas em sete aulas, das quatorze observadas (aulas 2, 3, 4, 10, 12, 13 e 14). Os alunos formavam, em geral, grupos de 4 a 5 alunos. Na aula 2 brincaram na sala de Jogo da forca. Na aula 3, a turma foi dividida em quadro grupos para jogar os jogos de alfabetização distribuídos pelo MEC. Na aula 4 jogaram o Jogo da tabuada. Na aula 10 desenvolveram uma produção artística (panô). Na aula 12 se organizaram em grupos para preparação da feira cultural. Na aula 13 fizeram a exposição oral dos contos e recontos na feira. Na aula 14 produziram uma instrução de uma brincadeira africana vivenciada por eles no mesmo dia. Como pode ser visto, a professora diversificou bastante as atividades em grupos, em que os alunos jogaram, desenharam, pintaram, escreveram, desenvolveram a oralidade. A diversificação de atividades com a estratégia de agrupá-los em grupos, permite que os alunos possam interagir em momentos variados, com finalidades e ações diversas. No extrato a seguir selecionamos um trecho de aula que a professora menciona o processo de organização dos grupos para a exposição oral dos alunos na feira cultural. P- Hoje a gente vai trabalhar sobre alguns textos, um é esse que a gente acabou de falar, Angola. O outro é sobre o animal que aparece na história A Galinha da Angola, e eu trouxe outro texto que fala sobre o tambor! Eu vou dizer aqui como é que estão os grupos. (...) P- A apresentação da gente vai ser uma coisa construída coletiva, coletivo. Então se eu estou no grupo, então só tem eu e Fábio no grupo pra falar e se Fábio percebe que eu tenho dificuldade pra falar ele tem que me ajudar. Não é a gente que tá dizendo que o outro não pode fazer, eu tenho que ajudar meu amigo, que tá na apresentação! Grupo é de ajudar, quando a gente trabalha em grupo é pra gente ter ajuda no que temos mais dificuldade. Como pode ser visto, a professora mais uma vez demonstrou aos alunos a importância do trabalho em grupo, mencionando que eles precisavam ajudar um ao outro, de modo que percebessem se os colegas estavam tendo dificuldade e como podiam agir. Na aula 10, outra atividade desenvolvida foi a produção artística dos panôs em grupos. No quadro a professora escreveu e discutiu com os alunos o que o mesmo significava: Panô - pano pintado de diversas cores, podem ter figuras de animais, elementos da natureza, apresenta desenhos de figuras geométricas. Em seguida organizou os alunos em 6 trios. Um extrato pode ser visto a seguir. P- A lenda da Galinha da Angola, essa daqui é a lenda que vocês vão trabalhar nos seus grupos. Lembre-se da história. Cada um vai escolher um trecho da história que mais gostou e vai ilustrar no seu panô! Você vai escolher uma parte dessa lenda, que fale sobre as aves, sobre o melro, sobre a galinha e vai ilustrar. Peguem a história, dividam com seu grupo, leiam, conversem, vocês precisam conversar sobre a história, entendeu? Vamos nos separar. Bárbara, Duda e Márcio. Marina, Giovana e Sara. Antônio e Camila. Clara, Amanda e Jorge. Felipe, Matheus e Paula. Leonardo, Matheus e Fábio. Esse trio aqui vem pra cá! C- Paula, sai. P- Olhe, as cores tem que ser bem vivas! Nesse extrato, ao organizar os alunos em trios, a professora ressaltou que os mesmos, ao se reunirem, precisavam agir dando algumas orientações como: retomar a história lida, ler, conversar, selecionar uma parte para a produção do panô. Isso demonstra que havia intencionalidades de promover a interação entre eles, de modo que eles pudessem pensar em como poderia desenvolver o trabalho. Segundo Colomina e Onrubia (2004), as situações de interação cooperativas permitem “formas muito diversas de uso da fala para regular a comunicação entre os participantes e, assim, mediar seus processos de construção compartilhada do conhecimento”. (p. 284). Nas situações de agrupamentos, ao discutir seus pontos de vista, por exemplo, os alunos também precisam escutar os dos colegas, negociando muitas vezes opiniões diferentes, ou seja, assim como são regulados pela linguagem dos seus colegas, também podem regular os outros, de forma como eles possam explicitar, estruturar e formular o que desejam nas atividades e seus pontos de vista. A professora, além das orientações para promover uma boa interação dentro dos grupos, também ressaltou a importância de respeito aos outros grupos, como pode ser visto no trecho de aula a seguir, em que os alunos já estavam nos grupos de apresentação dos trabalhos da feira cultural e a professora estava orientando cada um. P- Peguem os cadernos de vocês e leiam o texto do tambor. Olha, prestem atenção! Vejam só, a nossa sala é pequena e cada um está falando sobre uma coisa, então se eu falar muito alto, meu amigo que tá do lado vai terminar se atrapalhando, chega juntinho do amigo, fala baixinho, conversa baixinho um junto do outro, vamos lá. C- As meninas daqui fica falando aqui, ai é pra eu gritar! Nessa mesma aula a professora estava orientando os grupos e ensaiando com eles a apresentação da feira cultural. Os alunos já estavam em grupos e depois a professora, ao circular em cada um, pedia informações aos alunos. P- Como que vai ser a apresentação desse grupo, faz de conta que eu vou ser outro grupo que vai chegar aqui, e você vai me apresentar! C- Oi, tudo bem? Queremos apresentar a Galinha da Angola, meu nome é Felipe, essa daqui é a Natália e esse aqui é o Jorge! (Ensaio da apresentação) P- Não sabe nem dizer o nome, vamos lá cheguei de novo. (A professora faz a simulação de público) C- A gente queria apresentar pra senhora um texto sobre a Galinha da Angola! Meu nome é Felipe. C- Meu nome é Natália. C- meu nome é Jorge! C- A gente tem algumas informações que é o seguinte: A Galinha da Angola, ela também é conhecida como a galinha do mato, ela chegou no Brasil na época da colonização. E elas são muito barulhentas... P- Essa galinha ela veio de onde? C- Ela veio da África! P- Ah, ela é uma galinha que veio do continente africano. C- Ela é uma galinha do continente africano, aqui como diz ela veio da Angola. P- Tá boa a fala de vocês, agora eu vi que Felipe tá dominando, da próxima vez que eu vier eu quero ver Jorge e Natália dominando também! (...) P- Vamos lá quando eu chegar finjo que quero saber sobre a história da Galinha da Angola, vamos lá, cheguei! C- Meu nome é Marina e sou do terceiro ano B. P- Olha esse grupo aqui, tem que coordenar as falas, quem é que vai começar falando? C- Eu! P- Então vamos lá, vou ali no outro grupo e quando eu voltar aí falam, mas tentem combinar quem vai começar a contar a história. Combinem se organizem, veja como vocês vão contar a história! (...) P- Eu quero escutar a lenda do tambor africano! C- Ele não quer ler não! P- Bárbara, presta atenção, quando a gente tá trabalhando em grupo, então a gente ajuda um ao outro. P- Eu tô percebendo que Marina tá tendo muita dificuldade de coordenar o grupo, porque estou escutando muita gritaria. C- Ela fica dizendo que tô gritando com ela, que tô esculhambando ela. P- Presta atenção, Sara e Bárbara elas tem dificuldades de ler, então quem vai ajudar é você. Vamos fazer o seguinte, as duas vão ler a história e depois uma vai ler pra outra a história, Marina vai ler pra vocês, e depois você ler pra ela e ela ler pra você, vamos lá. Nas intervenções propostas do primeiro grupo, a professora informa que alguns alunos precisam participar mais da apresentação. No segundo grupo a professora ressalta que os alunos precisam coordenar melhor as falas e orienta-os para que conversem e possam se organizar melhor. Já no terceiro grupo a professora demonstrou um critério de seleção dos trios. Das três alunas mencionadas no extrato, uma delas era a monitora, escolhida pela professora, por ter mais autonomia na leitura. A professora percebe que esta aluna está com dificuldade de coordenar o grupo e ao intervir busca dar orientações para ajudar na interação do grupo. Colomina e Onrubia (2004) indicam que uma forma de intervenção do professor nos momentos de interação “tem a finalidade de ajudar o grupo a redimensionar seu trabalho em um sentido produtivo ou a assegurar que todos os membros do grupo estejam envolvidos na interação” (p. 292). Percebe-se diante do extrato acima que a professora buscou intervir neste sentido. Desse modo, é possível perceber que a professora não apenas agrupava os alunos de diferentes formas, mas mostrava aspectos importantes para um boa interação, como a conversa, a ajuda mútua, as negociações entre eles. Colomina e Onrubia (2004) ressaltam que Para trabalhar em grupo de maneira efetiva, os alunos devem dispor de uma ampla gama de capacidades de tipos diversos – de comunicação, de planejamento e desenvolvimento conjunto de tarefas, de auto-regulação, de resolução de conflitos, de respeito e ajuda mútua, etc. – que só poderão desenvolver a partir de uma intervenção educacional global que as promova e da participação em experiências e atividades que permitam sua prática e seu domínio progressivo (p.293). Também foi possível perceber que os alunos escutavam as orientações da professora, mostraram os conflitos existentes entre eles, assim como as saídas encontradas, participaram ativamente, ou seja, demonstraram diferentes aspectos no processo de interação. A seguir iremos discutir um pouco os dados das entrevistas realizadas com alguns alunos, quando mencionaram aspectos referentes aos processos interativos através dos agrupamentos. 3. Análise das entrevistas com os estudantes Além das observações de aulas da professora, também tivemos o interesse de entrevistar os alunos após as aulas para sabermos a opinião deles sobre as atividades vivenciadas. Iniciamos as entrevistas com perguntas mais gerais, para sabermos a percepção dos alunos sobre o dia como um todo: O que foi feito hoje na escola? Do que você mais gostou? Por quê? Do que você não gostou? Por quê? Qual foi a melhor atividade do dia? Por quê? Você acha que seus colegas gostaram das atividades? De quais atividades você acha que eles mais gostaram? Por quê? De quais atividades você acha que eles não gostaram? Por quê? Após essas perguntas, outro bloco de perguntas foi realizado. Nesse momento, mencionávamos nos enunciados cada atividade realizada na aula para saber suas apreciações: Você gostou da atividade ...? Por quê? O que você aprendeu hoje? Desse modo, no bloco 2 as perguntas dependiam de quais tinham sido as atividades vivenciadas pela turma durante o dia. O procedimento era o seguinte: durante a observação registrávamos a lista de atividades do dia. No momento da entrevista era realizada uma pergunta para cada atividade vivenciada. A seleção dos estudantes por dia de entrevista seguia alguns critérios. O primeiro deles era estarem autorizados pelos responsáveis. A partir disso, observávamos diferentes formas de interação dos estudantes durante o dia. Alguns se envolviam mais e outros menos nas atividades, assim procuramos selecionar três alunos que de um modo geral estavam mais ativos durantes as atividades vivenciadas, respondendo aos comandos das professoras e outros que não demonstravam muito interesse na aula. Assim, como o foco deste trabalho são os processos de interação através das atividades em grupos e em dupla, selecionamos alguns extratos de entrevistas com as crianças, nos dias em que algumas dessas formas de agrupamentos foram contempladas. Nos momentos de trabalho em dupla, conforme discutimos anteriormente, as aulas contempladas foram três: 5, 6 e 8. Durante a entrevista algumas perguntas eram diretamente relacionadas ao tipo de atividade vivenciada na turma. As respostas dos alunos demonstravam diferentes percepções sobre a prática docente, como pode ser visto nos extratos a seguir: Episódio 1 E – Depois a professora pediu para que vocês formassem duplas para fazer a revisão do texto. Você gostou desse momento, fazer a revisão em dupla? C – Sim. E – Por que você gostou? C – Porque eu gosto de fazer em dupla com os meus amigos. E – Por que você gosta de fazer em dupla? C – Porque é bom fazendo junto. (Amanda, aula 5) Como pode ser visto, a aluna demonstrou que valorizou a estratégia de realizar a atividade em dupla por ter uma relação de afetividade. No extrato a seguir a aluna valorizou o agrupamento em dupla por possibilitar a ajuda mútua e a socialização dos saberes entre eles. Episódio 2 E – Depois a professora pediu para que algumas pessoas formassem duplas para que vocês fizessem uma revisão no texto. O que você achou desse momento? C – Eu gostei porque podia ajudar também e dar ideia. (Giovana, aula 5) Na aula 8 outras duas alunas também mencionaram aspectos importantes. Uma delas informou que a sua dupla era uma pessoa muito inteligente, ou seja, ela poderia ter a ajuda de uma pessoa, trocando informações, considerando que houve ajuda na atividade de escrita. Episódio 3 E – E da atividade com o reconto da galinha da Angola, o que você achou? C – Muito bom. E – Por que foi muito bom? C – Porque eu escrevi, eu fiz uma dupla com uma pessoa muito inteligente. Ela me deu ideias muito boas. (Clara, aula 8) A aluna Marina demonstrou uma dificuldade no processo de interação em dupla. No trecho da entrevista fica explícito que nesse processo os ritmos são diferentes, que às vezes não se consegue conciliar as ações quando cada uma assume um papel na atividade. Episódio 4 E – Depois a professora passou uma atividade em dupla para vocês produzirem um reconto. O que você achou dessa atividade? C – Eu achei legal. Eu achei bom porque eu posso praticar. E – Você gostou de ter feito a atividade em dupla? C – Sim. E – Por quê? C – Eu não gosto tanto não, mas é bom. E – Por que você não gosta tanto? C – É porque uma pergunta e a outra, na hora que vai escrever, é um pouco mais difícil...a outra fala mais rápido e a pessoa fica escrevendo e tentar pegar onde ela tá. (Marina, aula 8). Os trechos de entrevista evidenciaram que um aspecto salientado pelas crianças era o de que as atividades em dupla propiciam que os conhecimentos possam ser socializados, de modo que o que um aluno sabe pode ser importante na realização da atividade (episódios 2 e 3), embora o episódio 4 mostre um contraponto a isso, que é o de que pode haver um desnível entre as crianças, dificultando que uma das crianças se engaje na atividade dentro de seu próprio ritmo. Outro aspecto salientado foi o de que no planejamento do agrupamento é necessário considerar aspectos sociafetivos e não apenas os aspectos cognitivos. Tal questão foi discutida por Silveira (2013), que, ao discutir sobre heterogeneidade em sala de aula, verificou que uma mesma criança tinha níveis de participação diferentes nas atividades, dependendo das pessoas com quem precisavam interagir durante as atividades. Tais aspectos, como foi exposto anteriormente, de fato foram decisivos para os encaminhamentos das atividades pela professora, tanto nas atividades em dupla, quanto nas atividades em grupo. No caso das atividades em grupo, respostas similares foram dadas pelas crianças. Na aula 10, conforme abordamos acima, a professora organizou os alunos em grupos para que eles confeccionassem um panô. Cada grupo teve a possibilidade de criar o seu conforme um trecho escolhido do livro Bruna e a Galinha d’ Angola. A aluna Clara mencionou na entrevista essa possibilidade de autonomia da atividade e que cada grupo pode ter uma forma de fazer diferente. E – Teve alguma atividade que você acha que seus colegas gostaram mais durante a aula de hoje? C – É...acho que o panô. E – Por quê? C – Porque cada um fez o seu e assim a gente aprendeu como fazer. (Clara, aula 10) Outro momento em que a professora organizou os alunos em grupos foi o dia da Feira Cultural. Em dias anteriores eles estavam se preparando para a mesma. Na entrevista, os alunos comentaram sobre essa forma de interagir. E – Você gostou das apresentações hoje terem sido divididas por grupos, na sua turma? C – Sim. E – Por quê? C – Porque dividido em grupos cada um pode falar uma coisa. Aí pode dar mais informações para as pessoas. Se fosse um grupo só, ia falar menos coisas. (Felipe, aula 13) O aluno Felipe destaca alguns aspectos importantes, como a ideia de que a divisão em grupos favorece a seleção do que será abordado, ou seja, que cada grupo ficou responsável por um conteúdo central e isso favoreceu a turma por ter possibilidade de um aprofundamento maior de informações. Ele destaca ainda que se não tivesse a divisão em grupos, menos informações poderiam ser socializadas com o público. Outro aluno mencionou que o trabalho em grupos favoreceu a organização das falas, para não ter disputa. E – Você gostou dos trabalhos da sua sala serem divididos por grupos? C – Gostei. E – Por quê? C – Porque cada um tem seu grupo. Se não ia ficar uma briga... “eu sei fazer mais do que isso”, “eu sei mais do que ele”. (Antônio, aula 13) A aluna Marina também ressaltou a importância do trabalho em grupo por favorecer uma atividade em que eles compartilham ações, saberes e que aproveitam melhor o tempo pedagógico, pois podem no mesmo momento uns auxiliarem os outros e atender um maior público. E – Do que você mais gostou do dia de hoje? C – Eu gostei da hora que eu tava falando. E – Por quê? C – Porque é interessante e também é especial esse dia. E – Por que esse dia é especial? C – É porque o conto também vale ponto e a gente tem que trabalhar junto. (...) E –Você gostou das apresentações terem sido em grupos? C – Sim. E – Por quê? C – Porque tia Luciana falou pra a gente, que a gente tem que ajudar um ao outro, que se a gente fizer só com uma pessoa vai demorar mais, isso não seria hoje, seria outro dia se fosse só uma pessoa. (Marina, aula 13) Como pode ser observado, alguns comentários dos alunos refletem a prática da professora, conforme apresentado no tópico anterior. As intervenções que a docente fez nos momentos em que organizou os alunos em grupos ou em duplas passou a fazer parte do que os alunos assumiram nos seus discursos, demonstrando que percebem diferentes aspectos nas interações. 4. Considerações finais Neste artigo objetivamos compreender como as crianças avaliam situações didáticas em que eles precisam trabalhar em duplas ou em grupos, refletindo também sobre a prática pedagógica da professora. Diante das análises foi possível concluir que a professora investigada, no período observado, diversificou suas aulas com diferentes formas de agrupamentos, resultando em possibilidades de interações entre professora-alunos e alunos-alunos. As formas de agrupamentos em duplas (3 aulas) e em grupos (7 aulas) permitiram que os alunos desenvolvessem atividades variadas, de conteúdos diferentes, permitindo ações diversas na resolução das mesmas. Nas análises das aulas foi possível perceber uma intencionalidade da professora para com as formas de agrupamentos, realizando intervenções pertinentes que favoreciam as aprendizagens. Diante dos dados das entrevistas foi possível verificar que os alunos valorizaram as formas de agrupamentos, explicitando aspectos diversos como ajuda mútua, relações de afetividade, favorecimento do tempo pedagógico, socialização de conhecimento, como também foi demonstrado que no processo de interação na realização da atividade é preciso conciliar os ritmos de cada um. Assim, os dados demonstram que ao propor formas de agrupamentos em sala de aula, diferentes aspectos influenciam nos processos de interação e que podem contribuir para a ampliação dos conhecimentos dos alunos. Referências COLOMINA, R. e ONRUBIA, JUAN. Interação educativa e aprendizagem escolar: a interação entre alunos. In: COLL, C.; PALACIOS, J. & MARCHESI, A. (orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. CHARTIER, Anne-Marie. A questão da língua materna na formação continuada entre os anos 1970 e 2010 na França. In: FERREIRA, Andrea Tereza Brito; CRUZ, Shirleide Pereira da Silva. Formação continuada de professores: reflexões sobre a prática. Recife: Ed. UFPE, 2010. MORAIS, Felipe Gomes. Sistema de Escrita Alfabética. São Paulo: Melhoramentos, 2012. ONRUBIA, JUAN. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In: COLL, César et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ed. Ática, 1996. TARDIF, Maurice. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários: Elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas consequências em relação à formação para o magistério. 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