O PAPEL DO PROFESSOR NA ASSIMILAÇÃO DO CONHECIMENTO: O CASO
DAS PRÁTICAS LABORATORIAIS
Ana Vérica de Araújo (Professora da Educação Básica/SEDUC-CE)
Cármem Virgínie Sampaio Avelino (Licencianda em Ciências Biológicas/UECE)
Introdução
As aulas práticas, realizadas nos Laboratórios Escolares de Ciências (LECs),
contemplam as disciplinas da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Geralmente
são utilizadas para facilitar a compreensão sobre o conteúdo abordado no livro didático e
estão ligadas à demonstração e experimentação, sendo vistas como mecanismos que
dinamizam e diferenciam o ensino.
Alguns autores (GIL-PÉREZ; CASTRO, 1996; GUIMARÃES; MATTOS, 2010)
acreditam no potencial das aulas práticas para melhorar a aprendizagem dos alunos, já que
proporcionam a participação em processos de investigação, sendo permitido aos alunos
questionar, discutir, traçar hipóteses, analisar e propor soluções para os problemas estudados.
Para Moreira (1999), o ensino deve ser acompanhado de demonstrações e ações e
propiciar ao educando a oportunidade de agir. Além disso, segundo o que coloca esse mesmo
autor, essas ações e demonstrações devem estar intimamente vinculadas à argumentação, ao
discurso empregado pelo professor. Sendo assim, é notório a importância da atuação do
docente nas práticas realizadas nos laboratórios escolares, sendo crucial para o bom
desempenho do aluno, não restando apenas a este último, o sucesso na sua aprendizagem.
É nessa perspectiva, que as aulas laboratoriais foram motivo de destaque e alvo de
investigação e observação neste trabalho, a fim de que se tenha um retrato aproximado de
como ocorrem os seus processos e possam-se fazer diagnósticos e intervenções.
Assim, buscou-se investigar como ocorrem as aulas práticas no LEC de uma escola
pública da rede estadual de ensino do Ceará, localizada no interior do estado, atentando-se
para a metodologia empregada pelo professor e a relação estabelecida entre docente e aluno, a
fim de perceber a influência para o processo de ensino e aprendizagem.
Metodologia
A abordagem metodológica empregada nesta pesquisa foi o Estudo de Caso que, de
acordo com Yin (2001) é indicado em pesquisas empíricas, onde o pesquisador debruça-se em
questões do tipo “como” e “por que”. Ele enfatiza um fenômeno particular, consistindo na
descrição pormenorizada de um contexto específico, por isso a possibilidade de
aprofundamento da realidade investigada.
Como coloca Farias, Silva e Cardoso (2011, p. 39), “o caso é sempre bem delimitado,
devendo apresentar contornos claramente definidos. Ele se destaca por se constituir numa
unidade de um sistema maior. O interesse, portanto, incide sobre aquilo que ele tem de único,
de particular”.
Desse modo, a investigação foi realizada numa escola cujo currículo empregado,
destina uma aula por semana para a prática obrigatória de experimentos no Laboratório de
Ciências da instituição, para cada disciplina das Ciências da Natureza.
Foram observados, portanto, os professores de Química, Física e Biologia, sendo
relatado aqui, somente os resultados referente aos professores de Biologia, por questão de
espaço. As observações ocorreram durante um período de três meses, englobando, além das
aulas no laboratório, o planejamento dos professores, e foram utilizadas para um processo de
avaliação e intervenção dentro da própria escola, com os professores sujeitos da pesquisa.
Resultados
De acordo com essas observações, feitas desde o planejamento das aulas até o seu
decorrer, analisando-se professor e aluno em seus respectivos espaços de atuação, foi possível
traçar alguns perfis de educadores e a sua maneira de agir no contexto das aulas laboratoriais
que, por conseguinte, levavam os alunos a reagirem de diferentes modos. No processo de
intervenção foi considerado, quanto ao professor, o planejamento e sua ação, isto é, se
estavam sendo recíprocos, se não havia improviso; também a interação entre professor e
aluno, caracterizada pelo diálogo, pelo feedback e o domínio da turma, que não está
relacionado ao conter os “bagunceiros” e promover o silêncio em sala, mas em saber
conquistar o aluno, prender sua atenção.
Quanto ao aluno, foram analisados a participação, que revela o seu interesse; o
conhecimento prévio, condição essencial para o bom andamento das aulas práticas e o
comportamento, visto que em um laboratório, medidas e precauções devem ser tomadas. É
importante ressaltar as reações que o ambiente laboratorial gera nos alunos em relação à sala
de aula normal.
Diante dessas reações, foi possível perceber certas características nos professores e em
suas maneiras de guiarem as aulas práticas, que determinam ou servem de influência nesse
agir do aluno, anteriormente mencionado. Malheiro e Teixeira (2010, p. 384) acreditam que
“a atividade do professor deve ser cercada de cuidados”, para que não haja ruídos de
comunicação, equívocos, nem questões mal interpretadas, que ponham em risco a
aprendizagem dos educandos.
De acordo com Moraes (1998), existem diferentes perspectivas que podem ser vistas
na análise dos processos de experimentação. Uma delas é o experimento de caráter
demonstrativo, onde são apresentadas leis ou verdades como sendo absolutas, imutáveis.
Neste viés e de acordo com as observações, foi possível perceber o professor que não se
importa com os fins, mais prioriza os meios, ou seja, limita-se aos procedimentos da aula, aos
relatórios e esquece os resultados, a interpretação.
Nessas aulas, geralmente o aluno preocupa-se em escrever os acontecimentos e
interrompe sempre os processos, a fim de que o professor repita, quebrando a sequência
lógica das ações. Essa prática leva os alunos a acreditarem que todos os experimentos são
apenas mais uma parte do conteúdo e não uma maneira de explicá-lo, de complementá-lo e,
principalmente, de promover o raciocínio e a interpretação.
Foi possível perceber também o professor que utiliza a aula prática apenas como uma
demonstração passiva, onde o aluno apenas visualiza, sem fazer parte efetiva do processo.
Esse perfil de professor geralmente domina a cena, tornando o aluno um ser passivo que,
apesar de estar próximo ao experimento, age com indiferença. Essas aulas são marcadas pela
inquietação, onde os alunos circulam pelo laboratório mexendo em equipamentos e
distraindo-se.
Moraes (1998) identifica uma segunda perspectiva, que é o experimento de caráter
indutivista-empirista, onde os princípios são obtidos por indução, através de observações
neutras e objetivas. E, por último, o experimento de caráter construtivista, que baseia-se na
construção do conhecimento por meio da interação entre sujeito e o meio em que se insere.
Nessa perspectiva, encontramos o professor questionador, que levanta desafios a partir
do assunto abordado, provocando a mente do aluno com conceitos incompletos, e
inquietando-lhes com tempestades de ideias. Possobom, Okada e Diniz (2003) acreditam que
o ensino em torno de problemas e hipóteses supera a concepção empirista de que o
conhecimento é gerado somente por meio da observação e coloca o aluno no centro do
processo, por valorizar seus conhecimentos prévios. Além disso, impõe um novo desafio que
é a abordagem interdisciplinar dos assuntos, exigida em problemas dessa natureza.
Esses resultados pressupõem a necessidade de discussão teórica e reflexiva acerca da
prática docente e do processo de ensino e aprendizagem.
Considerações Finais
De acordo com o que foi discutido, defende-se aqui a necessidade de um equilíbrio. O
professor deve se importar com os mecanismos, mais priorizando o resultado final do
experimento. Deve não necessariamente deixar que o aluno faça tudo, mas equilibrar sua
atuação. Assim, o aluno descobre a sua autonomia, pois o professor proporciona a este o
interesse, somente guiando-o nos processos, para que chegue onde se espera.
Com base no processo de avaliação e diagnóstico feitos neste trabalho e segundo
alguns critérios, tem-se um retrato qualitativo das aulas, cuja demonstração visa o
melhoramento das mesmas. Apesar do receio por parte dos professores, insatisfação e
insegurança por estarem sendo avaliados, essa iniciativa gerou um estímulo, que fez os
professores se dedicarem mais ao seu momento. Nessa perspectiva, o aperfeiçoamento do
professor e de suas atividades dentro da profissão, especialmente nas aulas práticas
laboratoriais, estão possibilitando um maior rendimento destas e, aos alunos, o despertar de
suas capacidades, tornando-os aos poucos sujeitos de suas ações.
Referências
FARIAS, I. M. S.; SILVA, S. P.; CARDOSO, N. S. Metodologia da pesquisa educacional
em Biologia. Fortaleza: UECE/UAB, 2011.
GIL-PÉREZ, D.; CASTRO, P. V. La orientacion de las prácticas de laboratório con
investigacion: um ejemplo ilustrativo. Enseñanza de Las Ciências, v. 14, n. 2, p. 155-163,
1996.
GUIMARÃES, M. N.; MATTOS, J. C. P. A interação professor-aluno nas atividades
experimentais de Biologia e a construção do conhecimento escolar. Revista da SBEnBio, n.
3, p. 41-50, out. 2010.
MALHEIRO, J. M. S.; TEIXEIRA, O. P. B. A experimentação no ensino de ciências: uma
análise do discurso docente envolvendo o raciocínio hipotético-dedutivo. Revista da
SBEnBio, n. 3, p. 383-390, out. 2010.
MORAES, R. O significado da experimentação numa abordagem construtivista: o caso do
ensino de ciências. In: BORGES, R. M. R.; MORAES, R. (Org.) Educação em ciências nas
séries iniciais. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1998. p. 29-45.
MOREIRA, M. A. A teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget. In: MOREIRA, M. A.
Teorias de aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999. p. 95-107.
POSSOBOM, C. C. F.; OKADA, F. K.; DINIZ, R. E. S. Atividades práticas de laboratório no
ensino de biologia e de ciências: relato de uma experiência. In: GARCIA, W. G.; GUEDES,
A. M. (Orgs.) Núcleos de ensino. São Paulo: UNESP, Pró-Reitoria de Graduação, 2003. p.
113-123.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
Download

o papel do professor na assimilação do conhecimento o caso das