216 bis Simpósio: Saúde, precariedade e vulnerabilidade psicossocial
Responsável: Maria de Lourdes Venâncio de Vasconcelos
Coordenador: Pierre Tap
Discussante: Marta Fonseca
Resumo do próprio simpósio
Tap, P.; Vasconcelos, M. L. V.; Fonseca, M. & Santos, R.
O presente simpósio tem como principal objectivo apresentar e analisar os
resultados de uma investigação, actualmente em curso, sobre Saúde, precariedade
e vulnerabilidade psicossocial, que surge na sequência de um estudo internacional,
recentemente editado: Précarité et vulnérabilité psychologique: comparaisons francoportugaises (Tap & Vasconcelos, 2004).
Esta investigação inscreve-se na lógica internacional da Organização Mundial
de Saúde, no âmbito da Medicina Comportamental e da Psicologia da Saúde,
introduzindo um esforço de articulação entre o campo da saúde e o das ciências
humanas e sociais, entre as práticas médicas, os comportamentos individuais e o
funcionamento das instituições ligadas à saúde.
A partir da comparação entre uma população que vive em situação socioeconómica precária e outra em situação não precária, o principal objectivo do nosso
estudo é analisar os efeitos da precariedade na saúde física, psicológica e social,
em relação com outras variáveis, nomeadamente, o sexo, a idade, a situação
profissional, as habilitações académicas, o meio rural-urbano.
Um total de 448 sujeitos foram entrevistados em 14 centros de saúde da
Região Centro. A avaliação foi efectuada com base em dois inquéritos: um para o
utente e outro para o médico. O primeiro avalia, entre outros aspectos, o sentimento
de integração, o stress, a auto-estima e os valores. O segundo procurou,
essencialmente, obter a avaliação "objectiva” da saúde.
Palavras-chave: Saúde, precariedade, vulnerabilidade
5º CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA DA SAÚDE
Centro Europeu de Investigação sobre
Condutas e Instituições (CEICI)
Instituto Superior Bissaya-Barreto
Fundação Bissaya-Barreto
SIMPÓSIO
Saúde, precariedade e vulnerabilidade
psicossocial
Responsável: Maria de Lourdes Venâncio de Vasconcelos
Coordenador: Pierre Tap
Lisboa - 2004
Saúde, precariedade e vulnerabilidade psicossocial
Participantes
Homens
Mulheres
Total
18-29
51
66
117
30-40
44
69
113
41-54
49
59
108
55-85
61
49
110
101
100
201
104
143
247
205
45.8
243
54.2
448
100
Idade
Estatuto
“Precários”
“Não
precários”
Total
5º CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA DA SAÚDE
Centro Europeu de Investigação sobre Condutas e Instituições
(CEICI)
Instituto Superior Bissaya-Barreto
Fundação Bissaya-Barreto
Saúde, precariedade e vulnerabilidade psicossocial:
Análise da Integração Social em função
da situação sócio-económica, do sexo e
da idade
Vasconcelos, M. L. V. ; Tap, P.; Santos, R. e Fonseca, M.
Lisboa - 2004
Material
• Escala de Integração Social
(Tap e Vasconcelos, 2004)
1. Sinto que sou socialmente útil.
Discordo
Concordo
totalmente totalmente
1
2
3
4
5
2. Sinto que sou bem sucedido.
1
2
3
4
5
3. Sinto que sou responsável.
1
2
3
4
5
4. Estou satisfeito com a vida.
1
2
3
4
5
5. Tenho autoridade.
1
2
3
4
5
6. Penso que sou submisso quando necessário.
1
2
3
4
5
7. Sei negociar e sou capaz de assumir compromissos.
1
2
3
4
5
8. Sou capaz de me adaptar e de aceitar a mudança.
1
2
3
4
5
9. Sou capaz de partilhar e de realizar projectos com os
outros.
1
2
3
4
5
10. Aceito a solidão, mas prefiro estar com os outros.
1
2
3
4
5
Resultados
Os resultados obtidos revelam um coeficiente alfa de Cronbach
de .82, o que aponta para uma consistência interna muito boa.
Quadro 1: Analise factorial (CP) da escala de integração
Itens
2. Sinto que sou bem sucedido.
5. Tenho autoridade.
4. Estou satisfeito com a vida.
1. Sinto que sou socialmente útil.
6. Penso que sou submisso quando necessário.
3. Sinto que sou responsável.
9. Sou capaz de partilhar e de realizar projectos com os outros.
8. Sou capaz de me adaptar e de aceitar a mudança.
7. Sei negociar e sou capaz de assumir compromissos.
1º FACTOR α = .77
2º FACTOR α = .73 (sem o item nº10)
I
II
.751
.740
.652
.627
.553
.523
.747
.703
.540
Resultados
Quadro 2: Score global de Integração de acordo com o
estatuto socio-económico
Situação de
Situação de
não
precariedade
precariedade
Integração
Social
M=33.41
DP=5.51
M=31.15
DP=5.89
M=35.24
DP=4.40
Significância
t=8.40
p<.001
Resultados
Quadro 2: Score global de Integração em função do género
Integração
Social
M=33.41
DP=5.51
Mulheres
Homens
Significância
M=33.96
M=32.75
t=2.33
DP=5.16
DP=5.84
p<.05
Resultados
Figura 1: Médias do score global de Integração em função da
idade
S c o re d e in te g ra ç ã o
s o c ia l
35
Integração
social
34
33
32
31
30
18-23 24 - 27 28 - 31 32 - 35 36 - 40 41 - 46 47 - 51 52 - 58 59 - 68 69 e +
idades
Resultados
Figura 2: Médias dos scores de Integração de “precários” e
“não precários” em função da idade
scores da integração social
Precários
Não precários
37
36
35
34
33
32
31
30
29
28
27
18-23
24 - 27
28 - 31 32 - 35
36 - 40
41 - 46
47 - 51 52 - 58
59 - 68
69 e +
idades
Resultados
scores da integração social
Figura 3: Médias dos scores de Integração de mulheres e
homens em função da idade
36
Mulheres
35
Homens
34
33
32
31
30
18-23 24 - 27 28 - 31 32 - 35 36 - 40 41 - 46 47 - 51 52 - 58 59 - 68 69 e +
idades
Conclusões
• A presente escala de integração revelou
uma consistência interna muito boa, o
que significa que os itens que a
compõem, à excepção de um, constituem
bons indicadores da representação
subjectiva da integração.
Conclusões
• No que diz respeito ao score de integração,
foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre os indivíduos que vivem e
os que não vivem em situação de precariedade,
bem como, entre homens e mulheres, no
sentido de os “não precários” e as mulheres se
avaliarem como melhor integrados. Este
primeiro resultado vai ao encontro do sugerido
pelo estudo anterior de Tap e Vasconcelos
(2004). Contrariamente, o mesmo estudo não
revelou diferenças associadas ao género.
Conclusões
• Quanto à idade, os resultados sugerem que o
sentimento de integração diminui a partir dos
40 anos. A análise da integração em função da
idade e do género aponta para esta mesma
tendência no grupo das mulheres; nos homens
verifica-se o mesmo, mas a partir dos 35 anos.
• A análise da integração segundo a idade e o
estatuto revela essa mesma tendência, sendo
que, os “não precários” se sentem muito melhor
integrados.
Obrigado pela vossa atenção!
Simpósio: Saúde, precariedade e vulnerabilidade psicossocial
A precariedade sócio-económica e profissional constitui uma situação de
stress potencial podendo tornar vulneráveis os indivíduos que a vivem.
O movimento de modernização económica e social das empresas ao nível
da competitividade internacional tem sido acompanhado de elevados índices de
desemprego, do aumento do emprego precário e da expansão de fenómenos de
exclusão. Daí que a precariedade sócio-económica e profissional se tenha tornado
numa preocupação crescente para muitos, incluindo os próprios investigadores.
Os autores que se centram nas reacções dos indivíduos a situações que
são uma ameaça ao seu bem-estar devem analisar a forma como estes lidam com
elas, integrando novos contributos conceptuais e empíricos e, em particular, o
conceito de resiliência, que se refere à capacidade do indivíduo resistir à
adversidade.
O
comportamento
resiliente
tem
sido
definido
como
um
comportamento adaptativo positivo.
De acordo com este quadro conceptual, é importante conhecer esses
indivíduos, os seus valores, as estratégias que privilegiam para lidar com riscos
múltiplos e ameaças internas e externas, a sua auto-estima, o modo como gerem
as emoções e os problemas quotidianos e a percepção que têm acerca da sua
integração social. Em suma, analisar os processos de adaptação face à
adversidade, desafiando a concepção segundo a qual o indivíduo com dificuldades
de ordem económica, social, física e/ou cultural desenvolve, inevitavelmente,
perturbações psicossociais, encontrando-se, por isso, mais vulnerável.
A investigação que apresentamos neste simpósio diz respeito a um estudo
comparativo entre um grupo de sujeitos que vive em situação sócio-económica e
profissional precária e um grupo de pessoas não afectadas por este tipo de
precariedade e que compreende diversas variáveis de adaptação psicossocial.
Destacamos as seguintes: a avaliação subjectiva da saúde, a integração social, o
stress, a auto-estima, os valores, as convicções. Este conjunto de indicadores é
articulado com aspectos mais objectivos (e.g., situação profissional, natureza e
tipo de relações familiares, actividades quotidianas, bens, avaliação objectiva da
saúde e elementos de precariedade, estes dois últimos avaliados pelo Médico de
Família), de forma a analisar as interacções entre as condições objectivas da
existência e os processos subjectivos de auto-avaliação, da percepção da
qualidade de vida e dos recursos existentes.
Neste âmbito, eu, vou abordar a questão da integração social e os outros
elementos deste simpósio/da nossa equipa a auto-estima, o stress e os valores,
por esta ordem. A apresentação e a análise dos resultados serão, basicamente,
efectuadas/desenvolvidas em função do género, idade, e da situação sócioeconómica e profissional dos participantes.
Participantes
Participaram neste estudo um total de 448 utentes de 14 Centros de Saúde
da Região Centro (32 por centro), de meio rural e urbano, dos quais 205 são
homens e 243 mulheres – respectivamente 45.8% e 54.2%.
A idade dos participantes varia entre os 18 e os 85 anos, com uma mediana
de 40 (M=42.78; DP =16.76); 201 (44.9%) vivem em situação sócio-económica e
profissional precária.
Homens
Mulheres
Total
18-29
51
66
117
30-40
44
69
113
41-54
49
59
108
55-85
61
49
110
“Precários”
101
100
201
“Não precários”
104
143
247
Total
205
243
448
45.8
54.2
100
Idade
Estatuto
Procedimento
A recolha de dados foi efectuada em 14 Centros de Saúde da Região
Centro, com a colaboração de médicos de família, assistentes sociais e
psicólogos.
Procurou-se fazer a entrevista individual com os utentes enquanto
aguardavam a consulta com o médico de família.
Foi-lhes solicitado que preenchessem integralmente o questionário. Em
caso de dificuldades de visão, leitura e/ou compreensão, os participantes eram
ajudados pelo investigador, que lia as perguntas e/ou explicava o seu significado.
A participação foi voluntária.
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