UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Um olhar para o Município de Camalaú:
Potencialidades Turísticas no Cariri Paraibano
Cristiane de Melo Neves
João Pessoa - PB
2010
Cristiane de Melo Neves
Um olhar para o Município de Camalaú:
Potencialidades Turísticas no Cariri Paraibano
Monografia apresentada ao Curso de Graduação
em Geografia da Universidade Federal da
Paraíba como requisito para a obtenção grau de
bacharel em Geografia.
Orientador: Professor Paulo Roberto de Oliveira Rosa
JOÃO PESSOA
2010
Cristiane de Melo Neves
Um olhar para o Município de Camalaú:
Potencialidades Turísticas no Cariri Paraibano
Monografia apresentada ao Curso de Graduação
em Geografia da Universidade Federal da Paraíba
como requisito para a obtenção grau de bacharel
em Geografia.
_______________________________________________
Professor Paulo Roberto de Oliveira Rosa
(Orientador)
_______________________________________________
Maria José Vicente de Barros – CREA–PB
(Examinadora)
_______________________________________________
Maria Odete Teixeira do Nascimento – UVA/UNAVIDA
(Examinadora)
João Pessoa - PB,____/____/2010
Marco Polo descreve uma ponte, pedra sobre pedra.
– Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – Pergunta Kublai Khan.
–A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra –
responde Marco –, mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:
– Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
– Sem as pedras o arco não existe.
(Calvino, Italo. 1990)
Agradecimentos
A minha Mãe e a minha Tia Eunice,
Que durante todo o meu caminhar acadêmico estiveram ao meu lado e sempre com todo carinho
se dispuseram a ficar e cuidar por alguns momentos, que não foram poucos, com minhas
pequenas filhas. A Vocês, meu porto seguro.
A meu marido, filhas e enteados,
A essa família que com muito amor souberam entender meus momentos de ausência dentro do
“seio familiar”. Os amos.
Aos meus amigos,
A vocês que estiveram de alguma forma trilhando e compartilhando comigo o conhecimento
dentro curso de geografia, obrigado pelos momentos de estudos, risadas, indignação e
companheirismo que passamos nas praças, bibliotecas, salas de aulas, ida a campo, etc. Vocês
são demais.
Ao Professor Paulo Rosa,
Que deu todo o apoio e acreditou nesse projeto. No qual sua construção ocorreu de forma
prazerosa e tranqüila. Obrigado por ter me ajudado através dos seus conhecimentos a subir
novos degraus à busca do meu tesouro.
A Prefeitura de Camalaú,
A imensurável contribuição, no qual sem a mesma, se tornaria muito onerosa a realização dos
trabalhos técnico-científicos durante as excursões realizadas no município.
A todos os Camalauenses,
Que prestaram valiosa contribuição, acolhida e disponibilidade em todos os momentos da
pesquisa monográfica.
A Equipe LABEMA,
Aos nossos compromissos que conseguimos contemplar nessa jornada de 2009.2 e por todo o
apoio, permutas de conhecimentos e claro nossas idas a campo. Podem contar comigo sempre.
Resumo
A inserção do turismo sertanejo vem sendo desenvolvido em áreas interioranas, como uma
modalidade que tem o objetivo de unificar os fatores naturais, sociais, culturais e científicos
como proposta para pontuar os produtos turísticos locais que passam a valorizar e em alguns
casos resgatar a cultura e o meio ambiente do lugar. E essa é a proposta mais concreta para o
município de Camalau que esta inserida no Cariri Paraibano e que possui características
singulares para ser cuidada e planejada. Analisando-se esse contexto, o objetivo da
sistematização servirá de base para um planejamento que contemple os benefícios como:
Preservação de áreas naturais, de locais arqueológicos, melhoria na infra-estrutura e valorização
da cultura típica.
Palavras-chaves: Turismo, Turismo Sertanejo
Abstract
The insertion of sertanejo tourism is being developed in inland areas, as a modality that aims to
unify the natural factors, social, cultural and scientific proposal as to score the local tourist
products that come to value and in some cases to rescue the culture and environmente of the
place. And this is the most concrete proposal for the city of Camalaú that was contained in Cariri
Paraibano and has especial features to be careful and pçanned. Analyzing this context, the
objective of systematic basis for a plan that includes benefits such as preservation of natural
areas, archaeological sites, improved infrastructure and enhancement of typical culture.
Keywords: Tourism, Sertanejo Tourism
Lista Imagens
Imagem 01 – Savana estépica com forte presença de cactáceas
Imagem 02 – Açude Cordeiros
Imagem 03 – Pesquisadores em reunião com o Prefeito de Camalaú, Aristeu Chaves
Imagem 04 – Orkut, Camalaú Turismo
Imagem 05 – Periquitos
Imagem 06 – Pica-Pau.
Imagem 07 – Craibeira florida no Município de Camalaú.
Imagem 08 – Carroça de Boi Município de Camalaú.
Imagem 09 – Imagem latente da Caatinga retratada no período de estiagem
Imagem 10 – Pesca artesanal no Açude de Zé Tourinho em Camalaú
Imagem 11 – Por do sol no horizonte acima do açude Zé Tourinho
Imagem 12 e 13 – Ótimo campo para estudos
Imagem 14 e 15 – Lagoas após a chuva e Lagoa com Leito Seco
Imagem 16 – Sitio Barra – Cemitério
Imagem 17 – Sítio Roça Nova – Pinturas rupestres
Imagem 18 – Festividade do Laço do Bode
Imagem 19 – Cavaleiro na cavalgada noturna
Imagem 20 e 21 – Imagens de Camalaú e Expansão da Cidade, respectivamente
Imagens 22 e 23 – A pousada no Posto Camalauense
Imagens 24 e 25 – Apartamentos com camas individuais e banheiro
Imagens 26, 27, 28 e 29 – Pousada no assentamento rural Novo Mundo:
Imagem 30 e 31 – Jipes Toyota que servem de transporte para pesquisadores irem a campo
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Lista de Gráficos
Gráfico 01 – Diferença de precipitação nos Cariris
Gráfico 02 – Evolução Populacional
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Lista de Quadro
Quadro 01 - Processo hierárquico da divisão administrativa para o município de Camalaú
Quadro 02 - Diagrama da estrutura geográfica referente à paisagem.
Quadro 03 - Propostas para um estudo de viabilização do turismo no município de Camalaú
Quadro 03 – Eventos cíclicos anuais na cidade desta população hospitaleira
Lista de Mapas
Mapa 01 – Microrregião do Cariri Paraibano
Mapa 02 – Recursos Hídricos Estado da Paraíba
Mapa 03 – Cartografia etno-histórico na Paraíba - 1944
Mapa 04 – Mapa Rodoviário com fotomontagem para o Município de Camalaú
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Mapa 05 – Situação geográfica de Camalaú no Cariri Ocidental e as cidades limítrofes
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Lista de Tabelas
Tabela 01 – Distâncias em km de Camalaú
Tabela 02 – Quadro demonstrativo da população residente
Lista de Siglas
IBGE
SEBRAE
SUDEMA
UFPB
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Superintendência de Administração do Meio Ambiente
Universidade Federal da Paraíba
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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PRIMEIRA PARTE
1.1 – Caracterização do espaço Geográfico do Cariri Paraibano
1.1.1 Morfologia da paisagem
1.1.2 O espaço entre a antropologia e a história no cariri paraibano
1.1.3 A formação histórico-geográfica de Camalaú
1.1.4 Aspectos socioeconômicos do Município de Camalaú
1.1.5 Turismo: Primeiros momentos da história e discussão conceitual
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1.2 – MÉTODOS E TÉCNICAS
1.2.1 Metodologia utilizada
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SEGUNDA PARTE
2.1. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
2.1.1 Turismo e as potencialidades para o Município de Camalaú
2.1.2 Elementos atrativos no cenário local
2.1.2.1 Atrativos climatológicos e geomorfológicos
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2.1.2.2 Atrativos arqueológicos
2.1.2.3 Atrativos tradicionais
2.1.3 Infra-estrutura Logística
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIBLIOGRAFIA
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Apêndices A
55
Apresentação
Esse trabalho procura demonstrar as diferentes percepções sobre a geografia no Cariri
Paraibano, principalmente no município de Camalaú. Acredita-se que essa área geográfica tem
muitas riquezas a serem apreciadas pelo turista em suas diversas modalidades.
Dentre as classificações turísticas, decidisse para melhor especificar as características
dessa região, contemplar uma marca paraibana que é o Turismo Sertanejo. Este procura conciliar
a atividade turística, com a cultura local e com o meio ambiente. Portanto, essa se torna uma
proposta concreta para a introdução do turismo que provavelmente irá beneficiar a população
que estará ligada direta ou indiretamente na atividade, com possibilidades reais de melhora na
qualidade de vida socioeconômica através da geração de pontos e produtos turísticos na região.
Com a proposta de visualizar e sistematizar as potencialidades do município de Camalaú
procurou-se caracterizar a região do cariri onde está localizada a cidade, como também enunciar
os vestígios de uma civilização pré-histórica e a cultura regional que tem uma característica
ímpar devido as suas “barreiras” geográficas, que possibilitam a diferenciação espacial e cultural,
a vista de outras regiões paraibanas.
O primeiro contato da autora com a cidade se deu através de relatos de pesquisadores que
sempre se reportam à cidade de Camalaú para fazer estudos geográficos, históricos e biológicos.
Logo em seguida surge a oportunidade de trabalhar esse tema devido ao interesse da pesquisar
sobre as potencialidades turísticas do lugar e também com o intuito de desmistificar o cenário de
pobreza e falta de água anunciado por muitos que não conhecem a região.
A primeira parte da pesquisa possui todo um arcabouço teórico de cunho geográfico com
uma proposta interdisciplinar aliada à arqueologia e à biogeografia, com os conhecimentos
pretéritos do município de Camalaú, contemplando, portanto desde formação do espaço
geográfico, à sua ocupação pré-história e o processo de formação do povoado, onde não foi
esquecida a relação dos elementos físicos e socioeconômicos que está ligada diretamente com o
dinamismo local.
Ainda nesta parte, enuncia-se o Turismo a partir do processo da historicidade e conceitos
para melhor entender a relação do mesmo com o espaço a ser visitado, principalmente focando a
paisagem natural e os recursos culturais e históricos na cidade proposta, assim como o turismo
pode se tornar a melhor proposta para a inserção de uma atividade econômica para a região do
Cariri.
A segunda parte desta pesquisa monográfica irá elucidar a realidade encontrada tanto nos
pontos que favorecem o acolhimento turístico, como a relação do povo camalauense com a
cultura e as suas inovações que favorecem ainda mais as raízes culturais do lugar. Contemplam,
portanto os resultados das pesquisas feitas em campo não só pela autora, mas também de estudos
de pesquisadores na área da climatologia, da geomorfologia, da arqueologia e da ecologia.
Continuando a discussão, têm-se as considerações que servirá como propostas para o
processo de inserção e concretização do Turismo Sertanejo no município de Camalaú, onde o
planejamento bem sistematizado com a população local, que esteja interessada nesse setor
produtivo e a organização dos produtos turísticos proporcionem uma relação do lugar receptor
com o turista como também o envolva com as peculiaridades naturais do cariri paraibano.
Enfatizando que a estratégia escolhida deve pleitear a cooperação e diálogo entre a população,
agentes locais e consultores externos.
PRIMEIRA PARTE
1. CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DO CARIRI
PARAIBANO
1.1.1. Morfologia da paisagem
De acordo com o IBGE o Estado Paraibano constitui-se de quatro Mesorregiões
Geográficas: Sertão, Borborema, Agreste e Mata Paraibana, sendo estas distribuídas em vinte e
três microrregiões. Dentre os quais, observam-se particularidades em meio às diferentes
características que podem ir das belas paisagens da área costeira aos enigmáticos sítios
arqueológico do interior desta capital, sendo isto dentro de um conjunto, seja ele históricocultural ou cênico-natural.
Mapa 01: Microrregião do Cariri Paraibano
Fonte: Elaborado pela autora a parti de http://www.ideme.pb.gov.br
O recorte espacial de nosso estudo encontra na região do Cariri Paraibano (Mapa 01), que
está localizado na Mesorregião da Borborema e é distribuída em quatro microrregiões: Cariri
Ocidental, Cariri Oriental, Sérido Oriental e Sérido Ocidental. A partir desta divisão observa-se
que a expressão Cariri Paraibano vem da compreensão da junção do Cariri Ocidental e o Cariri
Oriental, que também já foi conhecido como Cariris Velhos.
Portanto a região do Cariri, que é fortemente individualizada pelas suas barreiras naturais,
está situada na franja ocidental da unidade geomorfológica do Planalto da Borborema, encontrase entre o Sertão e o Agreste, sendo composta por 29 municípios que ocupam uma área total de
11.233 km², e possui segundo o censo 2007 do IBGE, uma população residente de 182, 049
habitantes.
Com clima de Tropical Semi-árido, o Cariri Paraibano caracteriza-se por chuvas
irregulares (Gráfico 01) que segundo a Araujo (2008) ocorre devido à zona de convergência
intertropical que é formada pela junção dos ventos alísios de nordeste e os ventos alísios de
sudeste. Este é o principal sistema produtor de chuvas no norte e nordeste brasileiro e tem uma
pluviometria nesta região caririzeira que se concentra em um curto tempo (3 a 4 meses). A
temperatura media anual relativamente alta exerce grande influencia sobre o meio ambiente e no
modo de vida da população local, ocasionando uma forte inter-relação entre o clima e os
geossistemas presente.
Gráfico 01- Diferença de precipitação nos Cariris
Fonte: Nascimento e Alves (2008)
No dizer de Nascimento e Alves (2008, p. 31), a vegetação aparece de forma
diversificada, assim apontam os autores:
Ao analisar a paisagem do Cariri, vemos de imediato um mosaico de diferentes
formações vegetacionais reunidas pelas mais variadas transições
edafoclimatológicas. Isso causa muitos problemas para enquadrá-la em uma
classificação universal, uma vez que a maioria de seus aspectos fisionômicos é
decorrente da inter-relação complexa entre fatores ecológicos (clima, topoclima,
condições edáficas e topográficas) e fatores antropogênicos, resultando numa
caatinga de porte e homogeneidade vegetacional. Na região do Cariri ocorrem
diferentes formações da caatinga, ocorrendo transições entre uma formação de
caatinga secundaria bem definida para outra terciária através de fácies de
transição resultando numa formação bem definidas. Em certos casos, porém, a
passagem entre formações diferentes é brusca e seus limites são de fácil
observação, como feições que vão de uma caatinga arbustiva aberta à caatinga
arbórea fechada.
Com relação à hidrografia do território do Cariri, destaca-se a Bacia do alto e médio
curso do Rio Paraíba que recebe toda drenagem sul do Planalto da Borborema, onde estão
localizados também os açudes monitorados que servem de abastecimento hídrico para toda uma
dinâmica de populações existente nos municípios. Mas os rios, em sua maioria, no Cariri seguem
o regime das chuvas, por isso observa-se na paisagem que os leitos por onde passaria o curso da
água do rio, no período de estiagem da região do semi-árido, estão secos, sendo estes
predominantemente de regimes temporários ou intermitentes. O mapa 02 demonstra a Bacia do
Rio Paraíba na cor verde Claro.
Mapa 02 – Recursos Hídricos Estado da Paraíba
Fonte: AESA
1.1.2 O espaço entre a antropologia e a história no cariri paraibano
Partindo do entendimento que todo processo de colonização é fruto de uma expansão
territorial de um determinado grupo humano, e que a região do Cariri paraibano possui uma
ocupação humana bastante antiga, nasce à necessidade de reporta-se a um estudo multidisciplinar
para o enriquecimento do processo da formação ocupacional do sertão Paraibano (Mapa 03).
Mapa 03 – Cartografia etno-histórico na Paraíba – 1944, com destaque para o Cariri Paraibano
Fonte: Site do Laboratório de Arqueologia Brasileiro
Os índios que já habitaram essa região, de acordo com os registros encontrados, estavam
presentes antes mesmo dos colonos portugueses adentrarem-se pelo sertão Paraibano, que se
entende neste período como o interior do Estado da Paraíba, pois o primeiro documento de
referencia para existência de inscrições rupestres é a Obra Diálogos das Grandezas do Brasil,
escrita em 1618, por Ambrosio Fernandes Bandão. E que posteriormente, segundo Oliveira:
A partir do século XIX, observa-se que estes testemunhos do passado
pré-histórico passaram a ser notificados e analisados à luz de uma
protociência arqueológica que foi amadurecendo e revelando
importantes pesquisas sistemáticas, onde destacamos os estudos do
autodidata José de Azevedo Dantas (durante a década de 20), do
engenheiro Leon Francisco Rodrigues Clerot, desenvolvido nas
décadas de 40, 50 e 60, e da arqueóloga Ruth Trindade de Almeida no
decorrer dos anos 70. (2007, pag. 3)
Na atualidade, há várias pesquisas, principalmente, da arqueologia pré-histórica
no Estado da Paraíba, e é com base teórica e documentação acumulada que os
pesquisadores estão enriquecendo o acervo histórico dos registros indígenas, sem
esquecer também dos novos achados arqueológicos que revelam mais ainda a presença
de uma grande nação indígena, principalmente na região do Cariri Paraibano.
Cariris era o nome dado aos índios que habitavam o interior da Capitania Real
Paraibana, principalmente os da região do Planalto da Borborema na área da Bacia do
Rio Paraíba e seus afluentes. Cariri é um termo de origem tupi, com variação do Kiri´ri
que significa “silencioso”, “deserto”, “ermo” ou pode significar, também, “caatinga
pouco áspera” (COSTA, 2003, pag. 55). Portanto, a distribuição geográfica do presente
Cariri paraibano, vai representar também a antiga ocupação da população indígena
dentro do espaço semi-árido do Estado da Paraíba.
A importância do patrimônio arqueológico na construção da
memória de um determinado local se faz necessária pois, através dela,
procuramos entender a história local, fazer parte dela, valorizando o
passado como instrumento de compreensão do mundo em que se vive.
A construção das identidades locais demonstra a importância de
sabermos a nossa origem e como a nossa cultura se desenrolou
durante o passar dos anos. Desta forma, a história e a arqueologia são
colocadas, aqui, como forma de uma dar suporte à outra, na
compreensão destas populações pretéritas e na formação dessas
identidades locais.(AZEVEDO NETO e KRAISCH, 2007, pag. 7)
Hoje na região do município de Camalaú, como no cariri paraibano inúmeros
são os registros das populações indígenas encontrados e mapeados por pesquisadores.
Acredita-se também que muito a de ser revelado para a história da arqueologia da
Paraíba nessa região. Portanto, a preservação dessas áreas se faz importante não só pelo
objeto de estudo de pesquisadores, mas também para a compreensão e resgate histórico
da ocupação humana do território paraibano.
E é a partir desse conhecimento da história do Sertão Paraibano que se passa a
observar como a palavra chega ao ouvido do interlocutor. Segundo Rosa (2003, pag. 2),
a palavra então traz um conteúdo que quando o interlocutor a ouve, ou a lê, traduz em
uma imagem real. Neste sentido real/virtual a palavra se torna instrumento e
equipamento, com energia potencial pronta a realizar um trabalho no interior do
interlocutor. Portanto quando se fala em região do Cariri Paraibano, a imagem física da
área fica em segundo plano, pois a partir do momento que é pronunciado a palavra
CARIRI, ela passa a ser um signo no imaginário cultural.
Sendo assim, entende-se que este espaço geográfico, que é nomeado
Microrregião do Cariri Paraibano passa a ter também uma conotação simbólica, que vai
além do espaço físico delimitável, onde a valorização da força imaginária que está
contida no simbolismo desta palavra vai carregar consigo um processo cultural que se
relaciona com a imagem do antigo sertão paraibano e o espaço físico atual.
O que mais enriquece esse espaço geográfico e o imaginário no tocante a
história e pré-história deste local não são somente os sítios arqueológicos onde
encontramos vestígios materiais de um povo, mas também o despertar do conhecimento
de uma população nômade que já existiu neste ambiente e que povoava toda essa região
do Cariri. Segundo Santos, Brito e Oliveira (2006), um sítio arqueológico pode ajudar a
compreender sobre a vida humana num passado distante, pois nele há pistas que,
somadas às demais existentes, pode esclarecer, confirmar ou contestar paradigmas da
arqueologia, desde que seus testemunhos estejam incólumes.
Por isso a conotação de toda região caririense se enriquece não só com um belo
cenário paisagístico, mas com esses símbolos que possuem uma riqueza imensurável de
vestígios culturais da sociedade primitiva como, por exemplo, as gravuras rupestres a
que vem representar a cultura material que possibilita fazer o resgate dos registros de
um grupo social, e atualmente estão identificadas em diversos rochedos, como possíveis
caracteres dos antigos índios Cariris ou seus antecessores.
1.1.3 A formação histórico-geográfica de Camalaú
Até meados do século XVII, o território de camalaú já era ocupado pela grande
família dos índios Cariris, a qual deu origem ao nome de toda região fisiográfica. Esta
região enaltece a importância indígena através dos registros e nomeação de um povo,
com isso observa-se uma grande influência na instituição dos lugares, como por
exemplo, a origem do nome da cidade de Camalaú que provavelmente esta ligada aos
vestígios de povos pré-históricos que por um certo período habitavam estas
proximidades.
Segundo o IBGE, o nome da cidade tem sua origem devido à localização da
tribo dos CAIBUS, cujo Chefe Guerreiro era Camalaú que hoje é o nome da cidade, ou
vinha de um grupo de aborígines que habitavam nas imediações da área em que a
cidade está situada, assim como poderia ter sido, apenas, o nome da área em que
residiam esses primitivos.
No entanto, o que podemos ressaltar como surgimento do povoado, antes de se
formar uma unidade administrativa, é como se dar a colonização e posteriormente a
urbanização da cidade. No período colonial, diante de todo processo de doação das
sesmarias, novos povos foram surgindo pelo interior da Paraíba, e Mariano Sobrinho
(1996, pag.78) diz que com relação às áreas que envolvem a região dos Cariris, surge
São João do Cariri que emergiu de uma sesmaria concedida ao Alferes Custódio Alves
Martins (1669 – Sitio São João – Aldeia Travessia).
O processo de ocupação em Camalaú foi bem anterior ao da sua formação.
Existia na região algumas famílias que moravam em sítios circunvizinhos, sendo assim,
a ocupação da área foi se dando de forma lenta e não agrupada, portanto não haviam
núcleos de povoamentos. Onde, Mariano Sobrinho (1996, pag. 34), relata que, um dos
fatos que vai dar início ao núcleo de povoamento ocorre, na segunda metade do século
XIX com as famílias de José Cardoso da Silva e Clemente José de Oliveira vieram da
Cidade de Pernambuco e se instalaram nestas terras organizando duas fazendas, a Boa
Vista e Camalaú, respectivamente.
Periodo Colonial
Até Séc.
XVII Familia
dos Indios
Séc.
XVII
Sesmaria 17 de
Dezembro
de 1669
1775 Aldeamento Cariri Velho
ou Cariri de
Fora
Periodo
Imperial
Emacipação
Politica - 15 de
Novembro de
1831
1831 - São
João do
Cariri
Periodo da
República
1872 Monteiro
1886 Taperóa
1835 Cabaceiras
Quadro 01 – Processo hierárquico da divisão administrativa para o município de Camalaú
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do IBGE e Mariano Sobrinho
19-03-1962 Município de
Camalaú
Baseado em Mariano Sobrinho (1996, pag. 35e 36) destaca-se, portanto, para há história
do povoado, a Fazenda Camalaú que pela sua estrutura física parecia um arruado. Com o desejo
de se criar um povoado, José Cardoso da Silva resolveu comprar a terras a oeste de sua fazenda
que era de sua irmã, Rosa Maria da Conceição casada com Domingos Ferreira Brito, mas sua
irmã não aceitou a proposta de venda e sim fazer uma doação o terreno para o patrimônio da
igreja católica em nome do Santo São José em 21 de junho de 1895, que hoje é o padroeiro da
cidade.
Neste período também um dos acontecimentos mais comuns era a doação de terras para o
patrimônio da igreja católica sempre em nome de um santo, e em Camalaú não se faz diferente.
Segundo Mariano Sobrinho (1996, pag. 36 e 37), o termo original da doação em cartório está
lavrado às folhas 10 a 12 – Livro 30 – no Primeiro Cartório de Monteiro – Paraíba e que ainda
em 1895, iniciou-se a construção da capela de São José. José Cardoso tratou também de construir
a primeira casa do povoado, a casa que tem o nº 13 e atualmente fica situada à Rua Norminando
Firmo.
Portanto, a fundação do povoado deu-se em 21 de junho de 1895 quando, oficialmente, o
casal Domingos Ferreira Brito e Rosa Maria da Conceição doaram para a Igreja católica mais de
dezesseis hectares de terra para a formação do Patrimônio de São José, que hoje é o padroeiro da
cidade, por solicitação de José Cardoso da Silva, que então passou a ser considerado o fundador
do município.
Posteriormente, o povoado passa ser elevado à condição de cidade, com a denominação
de Camalaú, pela lei estadual nº 2617, de 12-12-1961, desmembrado de Monteiro sendo
instalado em 19 de março de 1962. Onde se encontra, segundo o IBGE, datada territorialmente
desde 31 de dezembro de 1963 constituindo-se de 2 distritos: Camalaú e Pindurão, até a data de
2009.
A Cidade de Camalaú está inserida na Zona do Planalto da Borborema, na microrregião
do Cariri Ocidental, onde sua área da unidade territorial municipal é de 603 km².
A sede municipal de Camalaú situa-se distante da capital do Estado 332 km,
aproximadamente, 3 horas e 58 minutos em transporte particular. O mapa 04 mostra o translado
de João Pessoa a Cidade de Camalaú, o trajeto é o seguinte, pegasse o acesso da BR 230 passa
por Campina Grande, continua na BR 230 até o entroncamento com a BR 412, onde encontra-se
a praça do meio do mundo, seguisse então na BR 412 e ao passar pela Cidade de Sumé, a frente
pegue a PB 224 a esquerda, que é uma estrada de barro, até chegar a Zona Urbana da Cidade de
Camalaú. A tabela 01 denota a distancia entre Camalaú e as principais cidades de influência para
está região.
Praça Meio do Mundo
Camalaú
Mapa 04 – Mapa Rodoviário com fotomontagem partindo de João Pessoa (A) para o Município de
Camalaú (B)
Fonte: Adaptando pela autora a parti de imagens do Google Maps
Distância de Camalaú aos Centros
Cidade
Km
João Pessoa/PB
302 Km
Campina Grande/PB
215 Km
Monteiro/PB
42 Km
Congo/PB
24 Km
Sumé/PB
22 Km
Jataúba/PE
32 Km
Tabela 01 – Distâncias em km de Camalaú
Fonte: Sebrae
A vizinhança imediata do município de Camalaú limitando-se com Sumé e Congo, ao
Norte; São Sebastião do Umbuzeiro e São João do Tigre, ao sul; Jataúba no Estado de
Pernambuco, ao leste; e Monteiro, ao Oeste (Mapa 05).
Mapa 05 – Situação geográfica de Camalaú no Cariri Ocidental e as cidades limítrofes
Fonte: Elaborada pela autora a parti do mapa da AESA
A cidade de Camalaú está inserida no Bioma Caatinga que se concentra na
região Nordeste do Brasil. O termo Caatinga é originário do tupi-guarani e significa
mata branca, e tem como principal característica a perda das folhas no período de
estiagem prolongada
Estudos mostram que esse ecossistema esta presente no Brasil, principalmente
no interior do nordeste e que segundo o IBGE, essa vegetação faz parte da formação
campestre de dupla estacionalidades e está classificada como Savana Estépica (Imagem
01).
Imagem 01 – Savana estépica com forte presença de cactáceas
Fonte: Paloma Giselly, Cidade de Camalaú – 2009.
Denominada pelo IBGE, principalmente como Savana Estépica Gramíneolenhosa, este grupo de formação, também conhecido como campo espinhoso, apresenta
características florísticas e fisionômicas bem típicas, tais como um extenso tapete
graminoso salpicado de plantas lenhosas anãs espinhosas. E o bioma Caatinga é
considerado único, porque apresenta uma variedade de paisagens que demonstra uma
variedade endêmica, de riquíssima beleza natural própria do clima semi-árido.
Infelizmente ainda quando se fala em Caatinga o conhecimento do ambiente por
muitos se remete a um único tipo de paisagem. E o que vem no imaginário destes no
primeiro momento é a visão de um ambiente árido, seco, com arvores quase sem folhas
e esbranquiçadas.
Bem, na verdade isso realmente ocorre com a vegetação da caatinga, mas só no
longo período de estiagem, que faz parte das características climáticas da região do
Cariri, o que não justifica dizer que esse ambiente sempre esteja seco. Pois, para evitar a
perda da água com o calor excessivo, as plantas perdem suas folhas e por isso parece
que toda a vegetação está morta, mas não está. E quando começam a precipitar as
primeiras gotas que chamam o início da época de chuvas nessa região do Cariri
Paraibano, como também se pode ver no município de Camalaú, a caatinga se encanta
mudando sua aparência, a paisagem se transforma dando espaço ao verde e às flores.
Quanto ao relevo, a cidade está localizada na parte ocidental do Planalto da
Borborema, o planalto apresenta afloramento de rochas cristalinas do Pré-Cambriano na
superfície do solo, de origem plutônica, com predominâncias de rochas metamórficas e
presença de quartzo leitoso na superfície.
Os ortognaisses tonalíticos cinza, afloram na porção nordestesudoeste, principalmente nas imediações do povoado de Coxixola
(PB) e no município de Camalaú (PB). Apresentam formas irregulares
e geralmente formam destaques topográficos. Possuem coloração
acinzentada, granulação média a fina, estrutura gnáissica bandada com
foliação bem desenvolvida e textura essencialmente protomilonítica
amilonítica. CPRM - Programa Levantamentos Geológicos Básicos do
Brasil, folha de Sumé
Conhecido como Planalto Cristalino devido sua composição de minerais, onde
os principais são gnaisse, granito, xisto e quartzo, sendo o último que caracteriza o
nome planalto cristalino. A cidade possui uma altitude de 565 metros acima do nível do
mar, podendo chegar a níveis mais altos, nas serras.
A visão paisagística encontrada ao andar pela região são rochas modeladas pelo
tempo e devido sua organização tem-se a impressão que vão cair a qualquer momento.
Essa organização faz parte das características das rochas no município, pois segundo o
SEBRAE(1998), a superfície ondulada corresponde a 55% do relevo, 40% fortemente
ondulada com serra, e 5% levemente ondulada e plana, com pedras.
A rede de drenagem superficial de Camalaú localiza-se na bacia hidrográfica do
alto curso do Rio Paraíba, está constituída pelos rios da Serra ou Espinho, onde foi
construído o açude Cordeiros (Imagem 02) e pelo rio Paraíba, no qual foi construída a
barragem Pública de Camalaú. Além desses existem outros riachos importantes como o
da Raposa, da Ipueira, da Aguazinha, da Craibeira, do Pinheiro, dentre outros.
O Clima é semi-arido, como já foi comentado, com baixa umidade e pouco
volume pluviométrico, chuvas de verão e temperatura media anual que oscila em torno
de 25°C. Mas o clima na cidade pelo entardecer e pelas primeiras horas do nascer do sol
fica bastante agradável, com uma leve brisa refrescante, principalmente no período de
inverno.
Imagem 02 – Açude Cordeiros
Fonte: Autora
O município de Camalaú possui uma diversidade interessante. Tal diversidade
constitui um fator predominante para a inserção do turismo na região, em que se busca
não se apropriar da paisagem, mas admirar e contemplar as belezas naturais existentes,
dando uma oportunidade para o turista entrar em contato com um ambiente
diferenciado.
1.1.4 Aspectos socioeconômicos do Município de Camalaú
De acordo com o IBGE a estimativa populacional para o ano de 2009 foi de
5.966 habitantes, mas de acordo com o Censo Demográfico de 2007, a contagem
populacional foi de 5.761 habitantes. E ao observar os dados a seguir, teremos a
variação do crescimento populacional da Cidade (Gráfico 02 e Tabela 02)
Gráfico 02 – Evolução Populacional
População Residente por Faixa Etária e Sexo, 2009
Faixa Etária
Masculino
Feminino
Menor 1
55
53
1a4
223
214
5a9
298
273
10 a 14
289
256
15 a 19
278
260
20 a 29
533
453
30 a 39
415
368
40 a 49
328
352
50 a 59
237
250
60 a 69
189
218
70 a 79
121
146
80 e +
72
85
Ignorada
Total
3.038
2.928
Tabela 02 – Quadro demonstrativo da população residente
Fonte: IBGE, Censos e Estimativas
Total
108
437
571
545
538
986
783
680
487
407
267
157
5.966
Segundo leituras feitas sobre o período de 1996 a 2000 em bibliografia
especializada, o município de Camalaú, tinha pouca infra-estrutura, a distribuição da
água na região era precária e a sua economia não proporcionava aos moradores garantia
de subsistência, então neste momento uma parte da população passa pelo processo de
migração a procura de postos de trabalhos em outros lugares do Brasil.
Em entrevista com um dos moradores do lugar, este relata que quando saiu da
cidade não tinha emprego, a rua que morava ainda era de barro e como tinha uma oferta
de emprego em outra cidade vendeu tudo que tinha e se mudou. Atualmente voltou para
Camalaú, trabalha no município e vive muito bem com a sua família.
A melhoria na infra-estrutura e na economia do município ocorre a partir de
2000 e a população passa a fixar-se mais no lugar. Alguns que foram à procura de
postos de trabalho estão retornado devido a essa melhoria de infra-estrutura dos novos
postos de trabalho que passaram a surgir. O município hoje possui escolas de ensino
fundamental e médio, que é considerado um dos fatores importantes para que os jovens
possam ficar em sua cidade, bem como dispõe de postos de saúde e maternidade. Ao
caminhar pelo município observam-se pessoas que retornaram de outras cidades do país
e que hoje estão refazendo e investindo na própria cidade para que ela cresça
economicamente.
1.1.5 Turismo: primeiros momentos da história e discussão conceitual
A relação do homem com a natureza sempre existiu, por exemplo, a civilização
pré-histórica de forma nômade se deslocava a procura de novos ambientes para
satisfazer suas necessidades, principalmente para sobreviver. O homem procurava
migrar de acordo com as condições que o meio ambiente lhe proporcionava.
Mas, devido à troca de conhecimento entre as civilizações, com o tempo a
natureza passa a ter outras atribuições, a humanidade quebra barreiras e passa a adaptarse em um lugar fixo sem precisar mudar de ambiente. E assim a beleza natural, surge
como uma expressão de admiração da natureza. Mais adiante, a partir do renascimento,
vai aparecer o termo tempo livre, com as classes abastadas que iam à procura de
registrar percepções da natureza através da arte e da cultura. Segundo Yazigi (2002),
filósofos do século XVII, como Jacques Rousseau e Schelle, consideravam o passeio
pela natureza um verdadeiro alimento para o corpo.
Já com a revolução industrial, os centros urbanos, que possuem um grande
capital econômico, e posteriormente com surgimento do automóvel vão intervir na
dinâmica da população urbanística, fazendo com que o homem precise de alguma forma
de lazer para “fugir” do cotidiano e assim começa uma nova relação com a natureza. O
cotidiano ao qual se refere não é apenas os hábitos diários de uma pessoa, mas também
o envolvimento, do mesmo, com a observação repetida da paisagem do dia-a-dia, onde
de certa forma não mais se percebe as interferências ocorridas nos lugares de passagem.
A paisagem (Quadro 03) possui em sua estrutura um conjunto compreendido por
outros conjuntos determinados por categorias que expressam sua identidade, ao discutir
a ação humana no ato de modelar a superfície terrestre. E assim a paisagem é uma
categoria que vem sendo pensada desde Aristóteles, que interage se modelando de
acordo com as características peculiares do ambiente que se relacionam, como por
exemplo, clima, relevo, hidrografia e vida. Sua observação vai representar a relação do
homem com a natureza, como também o juízo de valor do observador num determinado
ambiente.
Quadro 02 – Diagrama da estrutura geográfica referente à paisagem.
Fonte: Adaptado de Strahler (1989) Fotografia: Acervo Labema
Todos os novos processos de urbanização e as concepções do homem moderno,
fazem com que a paisagem seja redefinida não apenas na forma conceitual, mas também
no ponto de vista da observação do indivíduo, e assim, a visão paisagística vai ganhar
um caráter de singularidade espacial e uma reorientação do seu uso com novos modos
de acesso.
Sendo assim, quando retomamos a paisagem como uma categoria e a sua
apreensão do olhar humano, a imagem pode se tornar de banal a singular, de acordo
com o observador ou transeunte do momento. Pode-se observar que com o valor
comercial, antes as paisagens eram consideradas sem perspectivas de admiração como
áreas desertificadas, montanhosas, praieiras e florestais e com o passar do tempo e com
a introdução da percepção do ambiente como atrativo, conceitos foram sendo agregados
a esses espaços e passaram a ser considerados de grande importância para o turismo.
O turismo como uma atividade econômica também vai usar dessas atribuições da
paisagem para sua comercialização, pois o turista vai se tornar um colecionador de
paisagens que despertem não só a curiosidade, mas também que sejam únicas. E assim,
o turismo se desenvolve desde os primeiros eventos turísticos realizados na história.
Com o tempo, esta atividade segue atrelada às mudanças do modo de produção e ao
desenvolvimento tecnológico.
A partir dessa nova compreensão todo o processo econômico que envolve a
atividade turística vai se transformar em uma indústria econômica, e isso ocorre a partir
da década de 50 onde se dá os primeiros sinais da recuperação da econômica global que
havia sofrido uma queda com a Segunda Guerra Mundial e também com a evolução dos
meios de transporte, principalmente o aéreo, viabilizando a locomoção de grupos não só
por terra mas também pelo ar, e essas locomoções se tornaram favoráveis ao turismo
global, seja ele de massa ou seletivo.
Hoje se observa que de acordo com a argumentação de Boullón (apud SILVA,
2007), entende-se que o turismo é uma atividade econômica, de natureza consultiva,
pertencente ao setor terciário por se constituir marcadamente de uma prestação de
serviços. Essa indústria do turismo de acordo com os conhecimentos adquiridos durante
a pesquisa, é a mais apropriada, quando pensada como forma de investimento
econômico para a região do semi-árido, pois ao contrário, por exemplo das indústrias
têxtil ou agrícola, não requer um consumo excessivo de água para a execurção do seu
produto, por isso é intitulada de “Industria Seca”.
Uma tipologia de turismo que vem sendo muito trabalhada atualmente é o
Turismo Sertanejo, cuja definição proposta por Seabra (2007, p31):
O turismo sertanejo é uma forma de lazer fundamentada na paisagem
natural, patrimônio cultural e desenvolvimento social das regiões
interioranas do Brasil. O seu caráter ecológico, social, cultural,
econômico e paisagístico, revela uma modalidade de turismo
deferente, cativante e exótica. Ao mesmo tempo tem suas bases
estruturadas num projeto amplo de desenvolvimento regional com
inclusão social, que promove o lazer juntamente com a compreensão
do meio ambiental em suas múltiplas e complexas relações.
1.2 MÉTODOS E TÉCNICAS
1.2.1 Metodologia e técnica utilizada
Para contemplar a proposta desse trabalho, procurou-se aliar a discussão teórica de
cunho geográfico, com a influência dos conhecimentos sobre o turismo que foram
adquiridos durante a pesquisa e seus efeitos na dinâmica espacial da área. Sabendo-se
que essa relação turismo-espaço é uma realidade em constante transformação.
Os primeiros passos para dar suporte à estruturação do trabalho e seus respectivos
resultados constituem-se primeiramente de
pesquisas realizadas em acervos
bibliográficos e documentos oficiais. Feito isso, verificou-se in loco as características da
área a ser estudada para constatar ou não as informações obtidas durante o tempo em
“gabinete”.
Realizou-se, portanto uma visita prévia, com objetivo de avaliar no município de
Camalaú dentre as características locais, as possíveis potencialidades turísticas, bem
como os pontos de alojamento na cidade para a recepção do turista e os agentes locais
que se dispunham a acompanhar as atividades propostas para o estudo.
Posteriormente foram organizadas três excursões técnico-científicos com estudantes
do curso de geografia da UFPB e a equipe de especialista do Labema. Com base no
turismo sertanejo, foi observado o comportamento dos estudantes com a percepção do
ambiente e a realização na prática de técnicas e conceitos relacionados à geomorfologia,
biogeografia, antropogeografia e a geoeconomia.
Outra questão analisada através de entrevistas foi como os alojamentos iriam
receber e acolher o visitante, e já relacionando ao turista verificando como foi sua
impressão da recepção, das atividades propostas e dos lugares visitados.
Dentre as relações que propõem a fomentação do turismo e prospecção de atividades
científicas ressaltam-se encontros entre os Professores Paulo Rosa, Carlos Xavier,
ambos da UFPB com o atual gestor municipal, Sr Aristeu Chaves cujo objetivo foi
socializar as propostas relacionadas às pesquisas em temas diversos como também o
apoio logístico de algumas atividades.
Os trabalhos que foram realizados para a complementação dessa atividade, contouse com todo o apoio da prefeitura no que tange à disponibilização de veículos para que o
pessoal de pesquisas diversas possam se locomover ao campo sem o transtorno de ficar
sem condução. As negociações com o prefeito atual, Dr. Aristeu foram iniciadas com
toda uma demanda de relações bem ajustadas e que envolveu pesquisadores e o prefeito
(Imagem 03).
Imagem 03 – Pesquisadores em reunião com o Prefeito de Camalaú, Aristeu Chaves
Data: Setembro de 2007
Foto: Bertha Garcez
A coleta de dados com os cidadãos camalauenses ocorreu em duas etapas. A
primeira foi realizada por meio de entrevistas informais e semi-estrutura onde se
adquiriu informações da história, dos costumes do lugar e do estímulo ao turismo no
local. Destaca-se também a doação de imagens fotográficas e audiovisual por alguns
moradores do lugar, relacionadas a momentos festivos, a paisagem local e às
modificações inusitadas no ambiente durante o período de chuva na região.
O segundo momento ocorreu de forma inovadora através da criação de um site
de relacionamento virtual, o Orkut, que foi denominado de Camalaú Turismo (Imagem
04).
Imagem 04: Orkut, Camalaú Turismo.
Fonte: Site Orkut
O site surgiu como uma proposta de disponibilizar imagens, divulgar o Turismo
Sertanejo e procurar mais informações sobre o lugar. O interesse do internauta foi
despertado e assim, para surpresa de todos, muitos camalauenses passaram a aderir a
essa proposta. Dentre estes tem os que se ausentaram da terra natal residindo em outras
áreas do país e do exterior. A partir dessa nova forma de pesquisa tive-se a oportunidade
de se fazer entrevistas virtuais com alguns deles relacionados à migração, saudades e o
que eles tinham a dizer sobre a cidade de Camalaú.
Outra proposta foi a produção de um vídeo de curta duração intitulado “Camalaú
– O Sabor do Tempo”, que também está disponível na internet no URL:
http://www.youtube.com/watch?v=YkBJcxiAP4Q, e demonstra a relação do turista com
o meio ambiente banhado pelo Bioma da Caatinga, onde se torna possível visualizar
uma das propostas para o Turismo Sertanejo.
2.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1.1 Turismo e as potencialidades para o Município de Camalaú
Com o que já foi exposto neste trabalho, admite-se que o turismo é uma
atividade socioespacial, que promove a integração dos indivíduos com o meio visitado.
Ele também se apresenta de forma diferenciada, ao falar-se de planejamento, pois cada
espaço geográfico principalmente aqui na região nordeste, precisa de um conceito
turístico para sua efetivação. Destacar-se-á, portanto para o melhor entendimento do
diagnóstico das potencialidades turísticas da região do município de Camalaú, a
proposta de Seabra (2007), que enfatiza o conceito de Turismo Sertanejo para as áreas
interioranas do nordeste, como citada anteriormente.
Para o Cariri, observam-se atrativos naturais e culturais que certamente servirão
de base para que transforme a região em um núcleo turístico, principalmente quando nos
reportamos ao município de Camalaú, que reuni e proporciona, atribuições nas
modalidades turísticas como lazer, aventura e pesquisa. Então, de acordo com as
tendências atuais do turismo e com base local, procurar-se-á privilegiar a natureza, as
expressões da cultura e, no caso específico do Caririzeiro, as ações coletivas e o
comércio justo (Quadro 04).
Quadro 03 - Propostas para um estudo de viabilização do turismo sertanejo no município de
Camalaú
Fonte: Elabora pela autora a partir de Barbosa (2005) e Seabra (2007)
De acordo com o quadro 04, para o início do levantamento e estudos
relacionados às propostas da introdução do turismo na região, se faz necessário a
sistematização dos atrativos turísticos correlacionados ao meio ambiente natural, aos
patrimônios históricos e arqueológicos, bem como as manifestações culturais que
ocorrem no lugar, pois é a partir dessa análise que se dará início a todo um projeto a ser
realizada na região estudada.
Feito isso vai se discutir o efeito multiplicador da atividade turística e sua
capacidade de distribuição de renda na economia do destino receptivo. Esse efeito
econômico ocorre pela introdução da moeda decorrente dos gastos feitos pelo turista
durante sua hospedagem ou visitação. Sendo assim, a circulação da moeda vai suscitar
efeitos diretos, indiretos e induzidos. Onde Vignat (2008, p.7), diz que:
Nesse contexto podemos identificar três efeitos positivos do
turismo na economia:
1º Ingresso Turístico direto: recebido pelas empresas turísticas
vinculada ao setor;
2º Ingresso Turístico Indireto: recebido por empregados e empresas dos
setores que diretamente abastecem a produção turística;
3º Ingresso Turístico induzido: recebido pelo restante dos setores da
economia que, mesmo sem abastecer diretamente o setor, se beneficia
por uma melhora geral da economia.
Na questão da demanda vai ser observado como a cidade está preparada para a
receptividade do visitante, onde essa capacidade estará ligada às ofertas de bens de
serviços e à infra-estrutura local que permitirá diagnosticar a quantidade que a mesma
está preparada para comportar o turista.
A preservação e conservação estarão relacionando a capacidade de envolvimento
da gestão local, dos moradores e do turista com a preocupação ambiental e a
conservação dos espaços históricos e arqueológicos para que não haja a deterioração ou
a perda desses ambientes, pois sem esses locais se perde o interesse de visitações
posteriores à cidade.
Já os bens e serviços, bem como a infra-estrutura, estarão ligados aos benefícios
econômicos e à melhoria dos serviços de acesso e infra-estrutura do município, tais
como serviços de comunicação, financeiros (redes bancárias), hotelaria, dentre outros
que estarão ligados diretamente com a cidade e os subsídios na região para que a
atividade turística ocorra com qualidade, visando a satisfação e bem estar do turista,
juntamente com os atrativos naturais, históricos e culturais, pois segundo Barbosa
(2005, p.109):
Tal como são oferecidos pela natureza, os recursos naturais são
insuficientes para garantir a permanência dos viajantes cuja deslocação
origina. Torna-se, com efeito, necessária a construção de equipamentos
que, por um lado, permitam a deslocação (transportes, organização de
viagens, etc) e, por outro, assegurem aquela permanência (alojamentos,
restaurantes, etc). Sem estes equipamentos não existirá atividade
turística embora possa existir deslocações.
Com relação às ocupações produtivas e desenvolvimento participativo no lugar
remete-se às observações de Seabra ( 2007, p.35), onde ele aponta que:
É de fundamental importância o incentivo ao associativismo
para a estruturação e oferta de serviços e produtos destinados ao
turismo, como guias, peças de vestuário, artesanato e culinária regional.
Quando organizados em associações, os moradores dinamizam a
operacionalidade dos serviços facilitando a comercialização da
produção local.
Ainda para Seabra (2007), como importante fator de desenvolvimento, diante da
economia mundial, o planejamento do turismo deve adequar-se às escalas de nível local,
municipal, regional, nacional e global. O fator dessa adequação para a região
compreende-se na preocupação de minimizar os custos, valorizar a localidade e seus
atrativos turísticos, e também avaliar os benefícios econômicos, sem descaracterizar a
paisagem natural e nem a perda da identidade cultural do Sertanejo.
Entende-se que para viabilizar essa atividade econômica, precisa-se seguir e
sistematizar considerando a proposta de Seabra(2007) e Barbosa (2005), que além dos
atributos naturais e históricos, se faz necessário que o município disponha de uma infraestrutura mínima de condições para permanência do turista. No caso de Camalaú,
verificam-se a existência de atributos naturais e históricos, eventos tradicionais, bem
como uma infra-estrutura logística capaz de garantir a permanência do visitante de
forma confortável.
2.1.2 Elementos atrativos no cenário natural e histórico
Os primeiros elementos a serem observado é a questão dos fatores naturais do
Bioma Caatinga no Cariri. No percurso ao município de Camalaú, a partir da Praça
Intitulada Meio do Mundo, pode ser observado às caracterizações desta região que
geograficamente isolada pela sua configuração pela distância da capital paraibana. Esta
estrada possui atribuições singulares onde a percepção paisagística e cultural dar-se
destaque a partir do acesso da BR 412 que percorre toda a região do Cariri, passando
por áreas de características semi-áridas e que também irão fazer parte da paisagem
turística até o município a ser estudado.
Então ao percorrer pelas cidades caririzeiras, com olhos hipnotizados, a imagem
vai criando novas formas de apreensão de acordo com observador ou visitante da região.
Essa imagem paisagística vai com o tempo quebrando barreiras e formando novas
compreensões sobre o ambiente natural e a cultural da região (Imagens 05, 06, 07, 08).
Imagem 05 – Periquitos.
Data: Setembro de 2009
Fotografia: Maria Barros
Imagem 06 – Pica-Pau.
Data: Dezembro de 2009
Fotografia: Maria Barros
Imagem 07 – Craibeira florida no Município Imagem 08 – Carroça de Boi Município de
de Camalaú. Data: Dezembro de 2009
Camalaú. Data: Dezembro de 2009
Fotografia: Maria Barros
Fotografia: Maria Barros
Mais adiante já na PB 224, que ainda é uma estrada de barro, seguindo para
Camalaú. A imagem latente da Caatinga retratada no período de estiagem está bem
visível na região e mesmo assim a riqueza e variedade de espécies estão presentes por
toda a parte que se vê (Imagem 09)
Imagem 09 – Imagem latente da Caatinga retratada no período de estiagem
Data: Outubro de 2009
Fotografia: Conrad Rosa, Estrada da PB 224 que liga Sumé a Camalaú
Observa-se também já na entrada da cidade o Açude Público Zé Tourinho. Lugar
onde está demonstrado que existe água e
muita água nesta região. Portanto o que
podemos constatar é que a grande
dificuldade está na forma que ela é
distribuída,
portanto
o
turista
não
precisa se preocupar a esse respeito, pois
na cidade de Camalaú a água é um
ponto positivo e também um atrativo em
potencial para o turismo (Imagem 10 e
11)
Imagem 10 – Pesca artesanal no Açude de Zé
Tourinho em Camalaú Data: Dezembro 2009
Fotografia: Maria Barros
Imagem 11 – Por do sol no horizonte acima do açude Zé Tourinho
Da: Setembro de 2009.
Fotografia: Maria Barros
2.1.2.1
Atrativos climatológicos e geomorfológicos
A Paraíba é bem conhecida pelos atrativos que estão no campo. Tanto em se
tratando do lugar com um clima semi-árido, ou seja, com chuvas irregulares, como
também pela flora da Caatinga ora arbustiva ora arbórea e pelos vestígios deixados
pelas populações que marcaram a historicidade antes da chegada dos europeus ao lugar.
O lugar tem sido um campo atrativo para estudos tanto no campo da
climatologia, da geomorfologia e da arqueologia.
Como o clima é rigoroso e irregular, faz-se necessário um conhecimento mais
aprimorado, pois aí a estrutura geológica do lugar é marcada pela presença de rochas
cristalinas de muitos milhões de anos. Os rios são intermitentes e na maior parte do ano
são rios de areia, pois nele só passam água nos períodos de precipitação.
O relevo apesar de estar no planalto da Borborema não é monótono, mais se
apresenta com certa rugosidade, abrigando uma flora abundante e diversificada. A
geomorfologia local é de interesse por conta de que a flora quando degradada pela ação
inadvertida do antropismo, acaba por expor o solo e enfraquecê-lo permitindo uma ação
de erosão laminar ou vertical, sendo então um ótimo campo para estudos (Imagens 12 e
13).
Imagens 12 e 13 – Ótimo campo para estudos
Data: Janeiro/2008
Foto de Liése Carneiro
Ainda dentro do campo da geomorfologia há fatos geográficos de relevância,
como a lagoa intermitente e endorréica que há na superfície planáltica. Essa lagoa,
dentro da área do assentamento encontra-se com pouca ação degradante, o que nos
permite conservá-la para estudos palinológico futuros, haja vista que é um lugar não
muito acessível. Essa lagoa não escoa a água que nela fica abrigada por época das
grandes precipitações. Assim essa lagoa passa a ser de importância para a vida silvestre
que abunda em seu entorno.
Imagem 14– Lagoas após a chuva
Data: Janeiro/2008
Fotografia: Liése Carneiro
Imagem 15 – Lagoa com Leito Seco
Data: Outubro/2008
Fotografia: Liése Carneiro
1.2.1.2 Atrativos arqueológicos
Os municípios caririzero são fartos na questão de sítios arqueológicos, o que faz
com que pesquisadores sempre se dirigem ao lugar para um ou outro tipo de escavação.
No entanto o município de Camalaú é que mais tem se ferido a esse tipo de campo
atrativo, trazendo sempre ao lugar pesquisadores para fazerem uma ou outra prospecção
(Imagem 16 e 17)
Imagem 16 – Sitio Barra – Cemitério
Data: Novembro de 2007
Acervo Paulo Rosa
Imagem 17 – Sítio Roça Nova – Pinturas
rupestres Data: Novembro de 2007
Acervo Paulo Rosa
1.2.1.3 Atrativos tradicionais
Nas formas de entretenimento na cidade, tem-se a demonstração popular de
atividades, que envolvem não só a população local mais também pessoas de outros
municípios. E dentre essas manifestações surge à singularidade desta população
hospitaleira e alegre, que cada vez mais atrai visitantes para essa região. Portanto, dentre
as atividades locais pode-se incluir um calendário com os eventos cíclicos anuais na
cidade (Quadro 05).
Camalaú
Carnaval
Padroeiro
Festas Juninas
Que ocorre
geralmente no mês
de fevereiro
No dia 19 de março,
ocorre a festa de
emancipação política e
do Santo São José
Neste Período é comemorado
principalmente o Santo
Antonio
Quadro 05 – Eventos cíclicos anuais na cidade desta população hospitaleira
No mês de março ocorrem dois momentos comemorativos para a cidade, que são
a do Padroeiro São José e emancipação do município. Portanto neste ano de 2009 foi
comemorada a programação dos 112 anos de São José como também a fundação do
povoado, e os 45 de Emancipação. Neste período ocorrem eventos religiosos e
manifestações públicas da população local onde se destaca a programação religiosa, os
shows em praça pública e a tradicional Pega do Boi na manga (Caatinga) que é uma
atividade que deu origem a vaquejada e consiste em pegar o boi montado num cavalo
sem o uso de cordas pela vegetação da Caatinga.
Já no mês de junho são realizados os festejos juninos, na cidade destaca-e o
Santo Antonio como a mais comemorada, as festas tem um grande sabor cultural e a
importância para essa região interiorana ultrapassa as festividades natalinas. É que neste
período encontrar-se entre as festividades tradicionais a introdução do milho na
culinária, as danças e roupas tipicamente representadas nas quadrilhas, às casas com
enfeites juninos e as belezas dos fogos na rua, contando também com cantores da terra o
tradicional forró Pé-de-Serra, que passa a animar a festa.
Dentre os eventos regionais no município de Camalaú, temos os esporádicos que
podem ocorre em sítios ou fazendas próximos a cidade estes eventos são promovidos
semanalmente, como forma de diversão para a população camalauense e seus visinhos.
Como por exemplo, as vaquejadas, o laço do bode e os shows com os cantores da
região, bem como a Pega do boi na manga. Tanto a Pega do Boi, a vaquejada e o laço
do bode são eventos que resgatam a cultural do local como forma de entretenimento
esportivo, já as bandas em sua maioria cantam a vida do homem do campo ou do
vaqueiro de vaquejada.
Ultimamente
na
região do Cariri destaca-se,
portanto o Laço do Bode
(Imagem 18) que foi criado a
pouco mais de um ano e que
envolve um grande numero
de participantes de forma
democrática, pois o custo não
é
alto
e
todos
podem
participar de forma bem
organizada.
Essa atividade é um
entretenimento que foi criado
Imagem 18 – Festividade do Laço do Bode
Novembro de 2009
Foto: Conrad Rosa
para agregar o pessoal com muita habilidade no laço.
Outro fato importante são as cavalgadas pela região do Cariri uma delas é
conhecida
como
Cavalgada
da
Integração que sai da cidade de
Monteiro à Camalaú.
Nela ocorrem à apresentação de
violeiros, aboiadores e um trio de forró
e os cavaleiros participam de um
concurso
de
cavalos
de
passada
(Imagem 19).
Imagem 19 – Cavaleiro na cavalgada noturna
Fotografia: Autora
2.1.3 Infra-estrutura Logística
A cidade de Camalaú e toda a extensão municipal não contêm uma população
significativa, a estimativa do IBGE para 2009 é de uma população de 5.959 indivíduos,
porém no quesito domicílios o resultado estabelecido foi o determinado pelo Censo de
2001(Imagem 20), no entanto como se pode presenciar de forma elementar e empírica
houve um acréscimo relativamente significativo na expansão urbana (porém sem dados
efetivos) (Imagem 21).
Imagem 20 – Imagem de Camalaú
Data: 2007
Foto: Elvis
Imagem 21 – Expansão da cidade
Data: 2007
Foto: Elvis
A pousada do Posto Camalauense do Gilberto (Imagens 22, 23, 24 e 25) é o
principal apoio para o pernoite, o custo no preço atual por pessoa é de R$12,00 nos
apartamentos com 02 Beliches, R$15,00 para o apartamento com duas camas e 01
ventilador e R$20,00 no apartamento com ar condicionado, cama de casal e 01
Banheiro, podendo hospedar até 28 pessoas. Há em todos os apartamentos banheiro
com água abundante (mas ainda não tem chuveiro elétrico).
Esse detalhe da água fria é oportuno anunciar, pois no inverno o tempo esfria e o
banho torna-se um problema para quem não tem esse hábito.
Imagens 22 e 23 – A pousada no Posto Camalauense
Fotografia: Autora
Imagens 24 e 25 – Apartamentos com camas individuais e banheiro
Fotografia: Autora
Outra opção no município é o assentamento rural, conhecido como Novo
Mundo, bem próximo a cidade (a menos de 5 km), onde a casa sede da antiga fazenda
passou a servir de pousada, porém apesar da boa aparência, ainda está com pouca infraestrutura. Mesmo assim pode abrigar para uma dormida tranqüila e de forma
aconchegante até trinta e seis pessoas. Nesta pousada, são 08 quartos e cada um com 02
ou 03 beliches. Nessa pousada normalmente os contratos do pacote de serviços de
pernoite acrescido com refeições podem ser negociados pela administração local. Um
problema sério e que ainda não foi muito bem resolvido pela administração local é a
questão da boa qualidade dos banheiros (Imagens 25, 26, 27 e 28)
Imagens 26, 27, 28 e 29 – Pousada no assentamento rural Novo Mundo:
Fotografias: Autora e Maria Barros
A cidade conta com 02 restaurantes (com refeições no horário de almoço), com
comida boa, e que apesar de estar no coração do semi-árido e a criação mais comum do
lugar é o caprino e ovino, os estabelecimentos praticamente não oferece esses tipos de
carnes, a não ser que se contrate com o dono antecipadamente.
Para os trabalhos de campo e visitas na região a melhor forma de deslocamento a
serem realizados por pesquisadores e turistas são as Toyotas alongadas e que estas
podem ser contratadas na própria cidade. Estes veículos 4 x 4 levam até catorze pessoas,
incluindo o pessoal que vai no teto do carro, isso para que se possa ampliar bastantes
não só os trabalhos e a leva da carga de ferramentas para o campo, mais também o
conforto na locomoção no caso do turista.(Imagem 30e 31).
Imagens 30 e 31 – Jipes Toyota que servem de transporte para pesquisadores irem a campo
Acervo Paulo Rosa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão que objetiva todo esse projeto monográfico é saber se a cidade de
Camalaú possui ou não atrativos turísticos. E conforme demonstrado na pesquisa, a
cidade tem sim potencias que iram consolidar essa atividade econômica. Dentre as suas
características têm-se os atrativos relacionados a atividades com grupos escolares ou de
ensino superior relacionados à compreensão do bioma Caatinga e as formação geológica
da região.
Outra atividade que ira atrair visitantes é os sítios arqueológicos, que já vem
sendo catalogados por pesquisadores na área da arqueologia. No tocante a parte cultural
a cidade recebe turistas das regiões vizinhas para interagir com os eventos locais, dentre
esses eventos observa-se a valorização e a inovação de atividades tipicamente local que
procura conservar a cultura, como por exemplo, a volta das Cavalgadas de longas
distâncias, a Pega do boi na manga e como inovação tem-se o laço do bode que em
pouco tempo já se espalhou pela região do Cariri.
Ressalta-se aqui, a população camalauense que tem o dom do acolhimento, e
isso também passa a ser um atrativo, pois faz com que o turista tenha boas lembranças e
deseje retorna a cidade.
Com relação à estada no local, a cidade tem capacidade para comportar em seus
pontos de pousos 64 visitantes, porém ressaltamos e indicamos a pousada do Posto
Camalauense que vem investindo e aperfeiçoando na questão da infra-estrutura para
melhor acolher o visitante. Mas para uma expansão futura de novos lugares
relacionados à estada do turista se faz oportuno o treinamento técnico na área do
turismo se vinculado a questão regional.
Ainda falando-se da questão de treinamentos técnicos, convém planejar cursos
profissionalizantes para atender as pessoas interessadas em trabalhar com turismo em
suas diversas áreas e também palestras que conscientizem a relação do turismo local
com o meio ambiente natural e criação de guardiões para trabalhar na recepção do
turista, que pode ser feito com os alunos que moram na cidade.
Não esquecendo que essa introdução turística como atividade econômica,
precisa de um planejamento que possa ter sustentabilidade e continuidade, e envolva
principalmente a população local para que não se desvirtue da dinâmica do Turismo
Sertanejo.
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Apêndice: A – Matéria: Camalaú respira cultura e tradições, vinculada ao Jornal O
Norte publicada no dia 4 de Novembro de 2009.
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