SERVIÇO MEIO AMBIENTE
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altam poucos meses para o verão, e, com
ele, virão as chuvas fortes, que afetam em
cheio as grandes cidades, principalmente
as das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Paulistano
que é paulistano tem vários episódios para contar
sobre andar com a água nas canelas, escalar o
ponto do ônibus para se proteger, galgar a escada
até seu apartamento porque o fosso do elevador
foi alagado ou ficar preso no trânsito por muitas
e muitas horas, diante de ruas totalmente tomadas
pela água que não tem por onde correr. Milhares
de pessoas passam por situações bem piores e
veem a chuva invadir sua casa em questão de
minutos, e por sorte não a veem desabar.
Porto Alegre, uma das poucas cidades do Brasil
dotada de um Plano Diretor de Drenagem Urbana,
também tem largo know-how no assunto. Somada
à impermeabilização, as condições geográficas da
capital gaúcha foram propícias para um histórico de
grandes enchentes, a pior delas em 1941 (quando
a precipitação, em dois meses, atingiu metade da
média anual). O centro e outros bairros ficaram
debaixo d’água e 70 mil pessoas foram privadas de
luz e água potável.
São Paulo e Porto Alegre são dois exemplos, mas
todo grande centro urbano brasileiro sofre desse
problema, causado em primeiro lugar pela maciça
impermeabilização de sua área. “Com o terreno
em condição natural, o solo pode absorver 95%
da água que cai nele. Com a impermeabilização o
número se inverte, e o solo absorve apenas 5% da
água que recebe. A pavimentação, as construções, a
compactação, tudo inviabiliza a absorção da água”,
explica a pesquisadora e mestre em engenharia civil
Eufrosina Terezinha Leão Carvalho.
Ao se acumular na superfície do solo, a água
deixa de reabastecer o lençol freático, que garante o
reabastecimento dos córregos. Além disso, o grande
volume de água não infiltrada aumenta em até sete
vezes a vazão dos rios urbanos. Por conseguinte,
cresce o risco de alagamento e inundações de ruas e
bairros inteiros. Com o acondicionamento incorreto
do lixo por parte da população, também bastante
usual, toda essa água conduz grande volume de
resíduos para os cursos d’água.
Outra característica comum à urbanização e à
consequente impermeabilização do solo das cidades é a retirada da vegetação. “A cobertura vegetal
intercepta parte da precipitação e protege o solo
da erosão”, diz o pesquisador Carlos Eduardo
Morelli Tucci, professor do Instituto de Pesquisas
Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (IPH/UFRGS), na publicação Gestão das
inundações urbanas, de 2005.
Mas não é só. Segundo Tucci, a drenagem urbana no país baseia-se em projetos que priorizam a
expressa retirada da água de onde ela se origina.
Isso quer dizer que em vez de pensar a área de
Trânsito
O período das chuvas está chegando em algumas regiões brasileiras,
e mais do que nunca, seus centros urbanos carecem de projetos de
drenagem que amenizem inundações, alagamentos e outros estragos.
Você também pode contribuir; saiba como a seguir
28 • Outubro 2011 • REVISTA DO IDEC
Pablo Paulse
para a água
REVISTA DO IDEC •
Outubro 2011 • 29
SERVIÇO IMÓVEIS
SERVIÇO MEIO AMBIENTE
SAIBA MAIS:
l Os rios foram asfaltados, publicado
no site Isso não é normal!
<http://goo.gl/WgFiw>
l Cartilha Infiltração, de José Camapum de
Carvalho e Ana Cláudia Lelis (Série Geotecnia
UNB, volume 2) <http://goo.gl/ikGpG>
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drenagem como um todo, os projetos se preocupam apenas com pequenos trechos por vez. Assim,
aumentam a vazão da chuva escoada, e esse grande
volume atingirá regiões pontuais dos cursos d’água,
causando forte impacto.
A canalização de rios e córregos, por seu turno,
se num ponto alivia, em outros, prejudica. Afinal,
a água tem de ir para algum lugar. Isso quando os
cursos d’água não são simplesmente encobertos
pelo concreto. Hoje, quando cai chuva forte, é principalmente aí que o líquido precioso se acumula e
transtorna o funcionamento da cidade.
l Guia dos parques municipais de São Paulo, da
Prefeitura de São Paulo <http://goo.gl/RysUa>
l Manual Gestão das inundações urbanas, de
Carlos E. M. Tucci <http://goo.gl/00o1c>
E agora?
Mas e o que o cidadão pode fazer? Comprar um bote inflável
para sair de casa nos dias de chuva? Não, há muita coisa que pode
ser feita, a começar pelo quintal de casa, passando pelos espaços
públicos, e chegando à gestão municipal.
comprometeria sua permeabilidade), faça um “colchão” de brita
sob a pavimentação.
Na sua rua e no seu bairro
Fique atento aos horários de recolhimento do lixo.
Se você o colocar para fora de casa muito antes de o lixeiro
passar, e chover, ele pode ser carregado para bocas de lobo
ou cursos d’água, sujando a cidade e contribuindo ainda mais
para as enchentes.
l Não varra as folhas e a sujeira da calçada para a rua ou
para as bocas de lobo, contando que a prefeitura irá recolher o
que, na verdade, é seu.
l Cuide de praças e espaços públicos.
l
No seu quintal e na sua calçada
l Mantenha em seu terreno uma área permeável com
plantas. A quantidade de chuva ali retida pode não ser muito
grande, mas será uma contribuição importante.
l Antes de construir, instale reservatórios de captação – de
preferência, que infiltrem a água captada no solo gradualmente
(são os chamados poços de infiltração, que podem ser feitos até
de pneus descartados perfurados em vários pontos).
l Uma opção “dois em um” consiste em captar, por meio
de calhas, a água da chuva que cai no telhado. Depois de passar
por um filtro, que irá retirar a sujeira, e ser armazenada em
reservatório específico, a água pode ser usada para irrigar o
jardim ou na descarga do banheiro.
l Tenha árvores na calçada, mas antes verifique se seu porte
é compatível com a largura do pavimento e se no local existem
fios de alta tensão. Garanta também um canteiro suficientemente
grande para que a água se infiltre e o caule da planta não
fique “estrangulado”.
l Invista em um pavimento permeável na calçada, por
exemplo, placas de concreto pré-moldadas e pavimentos
intertravados, que podem ser instalados de maneira a permitir
alguma passagem de água. Antes disso é necessário avaliar se o
solo tem capacidade de absorver a água da chuva. Para garantir
a estabilidade do passeio sem compactar o terreno (o que
30 • Outubro 2011 • REVISTA DO IDEC
Na prefeitura da sua cidade
l Algumas cidades, como São Paulo (SP), Curitiba (PR) e
Goiânia (GO), possuem projetos de parques lineares (aqueles
que acompanham as margens de cursos d’água). Além de
proporcionarem área de lazer à população, eles são importantes
agentes na drenagem urbana, com seu solo permeável e sua
vegetação, garantindo sobretudo a estabilidade do terreno
e evitando erosões. Além disso, muitos deles preservam as
nascentes e os córregos, cuja importância para o ciclo hidrológico
é ainda maior. Como cidadão, você pode exigir que os planos
sejam cumpridos e que novos projetos sejam criados.
l Cobre também por praças e parques “não lineares”, que
amenizam a temperatura e absorvem a água pluvial.
l Pergunte à prefeitura, e também à câmara de vereadores,
se há um Plano Diretor de Drenagem Urbana para a sua cidade.
Pedras no
caminho
Cobrança de taxas não informadas previamente,
atraso na entrega das chaves e “defeitos” estão
entre os principais problemas enfrentados
por quem compra imóvel na planta
Q
uando decidiu comprar um apartamento em construção, em 2008, o consultor de marketing e associado do
Idec Enio Carvalho, de Salvador (BA), não imaginava
que teria tantos gastos extras. Em 2009, ele foi surpreendido
com a cobrança de uma “taxa” para ambientação do condomínio
(compra de móveis e acessórios para as áreas comuns do prédio),
em dez parcelas de R$ 545. “Quando fechei negócio, ninguém
me avisou que isso seria cobrado”, reclama. Independentemente
da falta de informação, o pagamento exigido pela construtora
é indevido, pois a questão deveria ser definida pelos próprios
moradores, após a constituição do condomínio e a elaboração
da convenção. “A convenção, entre tantas outras regras, define
de quanto será a contribuição de cada condômino para as des-
pesas de condomínio, entre elas a ambientação do local, e como ela será feita”, explica
a advogada Maria Elisa Novais, gerente jurídica do Idec.
À época, Enio resolveu não comprar
briga com a construtora e pagou a tal taxa.
Mas os gastos surpresa não pararam por aí.
Quando o apartamento estava para ser entregue, em dezembro do ano passado, surgiu
o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis
“Inter Vivos” (ITBI), recolhido pela prefeitura
municipal. Imprescindível para a entrega das
chaves, o ITBI corresponde a cerca de 3% do
valor do imóvel. A cobrança desse imposto é
legítima, mas precisa ser informada ao consumidor previamente.
O caso do associado evidencia que a compra de um imóvel na planta exige planejamento financeiro. Mas não é só, pois muitas outras
pedras podem surgir no meio do caminho.
REVISTA DO IDEC •
Outubro 2011 • 31
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