Enchentes, Alagamentos e Inundações: Causas, Consequências e
Soluções
José Camapum de Carvalho
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected]
Gilson de Farias Neves Gitirana Jr.
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, [email protected]
Eufrosina Terezinha Leão Carvalho
Engenheira Civil, Consultora, Goiânia, Brasil, [email protected]
Marta Pereira Luz
Furnas e Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, [email protected]
Joseleide Pereira da Silva
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília, Brasília, Brasil,
[email protected]
Cláudia Marcia Coutinho Gurjão
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected]
RESUMO: Hoje as enchentes, alagamentos e inundações passaram a fazer parte do cotidiano do
povo brasileiro nos períodos chuvosos seja diretamente ou por meio da imprensa. Muitas dessas
ocorrências, apesar de atribuídas a eventos chuvosos extremos, na realidade não o são na sua
totalidade, poderiam ser evitadas por meio de planejamento, estudos e execução de ações
socioambientais apropriadas. Os desastres oriundos dos eventos chuvosos, nem sempre podem ser
vistos como naturais. A falta de critérios em relação à ocupação e ao uso do solo nos meios rural e
urbano acabam comprometendo a qualidade de vida, podendo gerar riscos para a própria vida. O
ocupante das áreas por falta de informação pode acabar em risco e muitas vezes entrando em pânico
em dias de chuvas intensas. A sociedade, geralmente por falta de informação, passa a gerar danos ao
solo ocupado e sem consciência dos riscos, quase sempre fica indefesa e muitas vezes em pânico
nos períodos chuvosos. Esse artigo apresenta os problemas oriundos das enchentes, alagamentos,
inundações, erosões e assoreamento, apontando para suas consequências socioambientais e
econômicas e em especial contribui com uma discussão de condutas filosóficas, apresentando
tecnologias construtivas que podem viabilizar e até erradicar as ocorrências indesejáveis. Essas
tecnologias tanto podem ser adotadas em áreas a serem ocupadas como pode mitigar os impactos
sobre as áreas já habitadas. São discutidos nesse artigo aspectos sociais e educacionais e são
mostradas técnicas para a infiltração de águas pluviais, indicando os riscos oriundos dessa prática de
modo a promover o desenvolvimento sustentável. A abordagem colocará em discussão práticas
rurais e urbanas evidenciando a importância dessas para a preservação dos mananciais e
reservatórios naturais. Como técnicas mitigadoras ou mesmo de saneamento dos problemas serão
apresentados o uso de pavimentos permeáveis, colchões drenantes, poços e trincheiras de infiltração
e chamar-se-á a atenção para riscos como os de colapso estrutural do solo, erosão interna e
contaminação do solo e da água subterrânea quando adotadas essas técnicas construtivas. O artigo
discute os problemas aqui elencados, realçando aspectos tratados no livro “Tópicos sobre
infiltração: teoria e pratica aplicadas a solos tropicais”.
PALAVRAS-CHAVE: Uso do Solo, Poços, Trincheiras.
1
INTRODUÇÃO
Em regiões de clima tropical a ocorrência de
chuvas torrenciais aliada à presença de solos
sem a proteção superficial natural removida,
torna a crosta superficial impermeável erodindo
e/ou gerando problemas socioambientais com
importantes repercussões sociais e econômicas.
Entre esses problemas estão as enchentes,
inundações e assoreamento de cursos d’água e
reservatórios. Somam-se a esses problemas a
ocupação e o uso do solo muitas vezes
inapropriados. Logo, faz-se necessárias ações
que harmonizem o clima, as precipitações, a
cobertura do solo e a seu uso e ocupação.
Essas ações perpassam, como pode ser
observado ao longo deste texto as questões de
educação, técnicas e de legislação.
Vários aspectos relevantes na análise dos
problemas de alagamentos, inundações,
enchentes e assoreamentos de cursos d’água e
reservatórios são tratados no Livro “Tópicos
sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a
solos tropicais”. Esse artigo, no entanto, limitarse-á a analisar algumas técnicas de infiltração
objetivando a manutenção dos mananciais e a
preservação de reservatórios e cursos d’água,
em especial propiciar maior segurança à
sociedade em relação a esses procedimentos.
2
ASPECTOS SOCIOEDUCACIONAIS
Segundo Camapum de Carvalho et al (2012), no
contexto das questões socioambientais como as
tratadas nesse artigo “a Educação é sempre a
base, o suporte na continuidade e o instrumento
básico para o cumprimento de um fim”. Ainda
segundo os mesmos autores em segundo lugar,
vem a Engenharia, pois, “ao mesmo tempo em
que é responsável por inúmeras obras e
iniciativas que levam à impermeabilização da
superfície do solo, constitui-se, enquanto
engenharia, em caminho para resolver
problemas que muitas vezes ela mesma gerou”.
No tocante a legislação, mas representando mais
que ela esses autores acrescentam que
“finalmente vem o Direito, não por situar-se
nessa sequência em grau de importância inferior
aos demais aspectos, mas apenas porque o
Direito deve ser visto como um instrumento de
pacificação, um meio de suprir deficiências,
buscando assegurar para a sociedade um
desenvolvimento
sustentável,
impedindo
rupturas do equilíbrio ambiental e riscos
elevados à sua própria segurança”.
Jesus (2013), por sua vez, com base em
entrevistas realizadas junto à população afetada
por processos erosivos na cidade de AnápolisGO, colocou em destaque que a ocupação e uso
do solo de modo inapropriado e sem a
infraestrutura necessária não só gera problemas
socioambientais, como colocam a população em
risco e a privam de serviços básicos essenciais
como o da coleta de lixo. A autora verificou que
a população passa a conviver com os problemas
e nessa convivência ampliam os próprios riscos
e os danos ao meio ambiente, por exemplo,
jogando lixo nas incisões erosivas.
Faz-se então necessário atuar educando a
população e criando uma consciência
socioambiental de modo a promover uma
melhor e mais eficiente ocupação e uso do solo
em meios rural e urbano.
3
OCUPAÇÃO E USO DO SOLO EM
MEIO RURAL
A ocupação e uso do solo em meio rural deve
ocorrer observando-se o novo Código Florestal
Brasileiro, Lei 12.651 de 25 de maio de 2012.
No entanto, mesmo observando as restrições
impostas por essa Lei vários problemas
socioambientais são gerados e se apresentam
em especial ligados à adoção de técnicas de
manejo inapropriadas.
O inciso I, parágrafo único, art. 1º-A dessa
Lei estabelece como princípio:
I - afirmação do compromisso soberano do Brasil
com a preservação das suas florestas e demais
formas de vegetação nativa, bem como da
biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da
integridade do sistema climático, para o bem estar
das gerações presentes e futuras;
Ou seja, a ocupação e o uso do solo deve se dar
voltado para a preservação ambiental.
Cabe destacar que os diferentes elementos do
compromisso firmado nesse inciso encontramse interligados e possuem certo grau de
interdependência.
Além da proteção legal às áreas de
preservação, faz-se necessário adequar as
técnicas de manejo às peculiaridades de cada
região, tipo de solo, geomorfologia, clima e
microclima para assegurar a capacidade de
infiltração de água no solo e minimização das
perdas de solo. A infiltração é fundamental para
a recarga dos aquíferos e perenidade dos
mananciais. A perda de solo pelos processos
erosivos contribui para o assoreamento de
cursos d’água e reservatórios. Cabe lembrar que
o carreamento de sedimentos para os
reservatórios termina contribuindo para a
redução de sua vida tendo assim reflexos
econômicos.
Realçando-se a importância do manejo para a
preservação ambiental cabe citar Oliveira et al.
(2012) por mostrarem que as queimadas muito
comuns nas regiões de cerrado, assim como o
uso de insumos agrícolas afetam a capacidade
de infiltração e influenciam o aumento do
escoamento superficial. Para esses autores “o
uso indiscriminado do solo e das técnicas de
manejo e correção do solo, contribuem para a
ocorrência de problemas, como a erosão e
consequente assoreamento de cursos d’água e
reservatórios. O mesmo pode-se dizer das
enchentes e inundações, pois podem afetar a
capacidade de infiltração e ampliar o
escoamento superficial”.
Portanto as técnicas de manejo devem se
ajustar às peculiaridades regionais e mesmo
locais como a climática e a geomorfológica.
Jesus et al. (2012) colocou em evidencia a
importância da geomorfologia para o processo
de infiltração. A geomorfologia constitui-se em
elemento relevante para a prevenção e controle
de processos erosivos e para evitar alagamentos
e inundações. Considerá-la é também de grande
utilidade na otimização da vida útil dos
reservatórios de água e contribui, nesse caso,
para evitar problemas como os relativos as
erosões de margem.
Almeida et al. (2012) trabalhando na área do
reservatório da usina hidrelétrica de Corumbá
IV, área predominantemente rural, mostram ser
possível adaptar os fatores componentes da
EUPS (Equação Universal de Perdas de Solo)
para se obter uma carta geotécnica preliminar,
que represente cartograficamente a capacidade
de infiltração da água pluvial em um solo.
Fazendo-se a relação inversa ajustada aos
fatores usados na avaliação da perda de solo,
causada por processos erosivos laminares. No
estudo fica claro o impacto do uso do solo na
capacidade de infiltração.
Portanto, estabelecer critérios de ocupação e
uso do solo e definir técnicas de manejo
apropriadas nas áreas rurais constituem-se
elementos possíveis e essenciais para a
prevenção e mitigação de problemas como:
alagamentos, inundações, enchentes, erosão e
assoreamento de cursos d’água e reservatórios.
Cabe finalmente destacar que muitas vezes a
ocupação e uso do solo se dá motivada por
empreendimentos como rodovias e reservatórios
sem que haja, no entanto, um planejamento
prévio. Quando da implantação de um
reservatório essa se dá em uma situação
preliminar de ocupação e uso do solo. No
entanto, faz-se necessário avaliar o impacto pós
construção na ocupação e uso das áreas
circunvizinhas ao mesmo. Por exemplo, se ele
se localiza nas proximidades de cidades
geralmente surgem formas de uso para o lazer
que precisam ser disciplinadas. Se a localização
se dá em área rural distante de cidades, a
preocupação deve passar a ser com os
desmatamentos e avanços das áreas de plantio
ou da própria urbanização com a atração de
pessoas para a beira dos lagos, formação de
condomínio, chácaras entre outros. Tem-se
então como indispensável o planejamento para
o pós-implantação do empreendimento.
4
OCUPAÇÃO E USO DO SOLO EM
MEIO URBANO E PERIURBANO
Em meio urbano e periurbano a ocupação e uso
do solo se dá quase sempre, como no caso do
meio rural, sem o devido planejamento com
realização dos estudos prévios necessários. Essa
ocupação e uso se dá por dois tipos distintos de
pressão, a social e a econômica, ambas, quase
sempre perversas em relação ao meio ambiente
e muitas vezes oferece riscos para a qualidade
de vida e para a própria vida.
Do ponto de vista legal o Estatuto da Cidade,
Lei 10.257 de 10 de julho de 2001, regulamenta
os arts. 182 e 183 da Constituição Federal e
estabelece diretrizes gerais da política urbana. O
parágrafo único, art. 1º dessa lei estabelece:
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei,
denominada Estatuto da Cidade, estabelece
normas de ordem pública e interesse social que
regulam o uso da propriedade urbana em prol do
bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos
cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
As diretrizes contidas no art. 2º dessa lei
estabelece em seu inciso IV:
IV - planejamento do desenvolvimento das
cidades, da distribuição espacial da população e
das atividades econômicas do Município e do
território sob sua área de influência, de modo a
evitar e corrigir as distorções do crescimento
urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente;
Já a alínea h do inciso VI, o qual dita que a
ordenação e controle do uso do solo deve dar-se
de forma a evitar “... h) a exposição da
população a riscos de desastres”, deixa claro
que o uso do solo urbano deve ocorrer de forma
planejada e sem que gere efeitos negativos
sobre o meio ambiente e para a população, ou
seja, são inadmissíveis os alagamentos,
inundações, erosões e assoreamento de cursos
d’água e reservatórios, por simples falta de
planejamento ou de controle da ocupação e uso
do solo.
No contexto socioambiental têm serias
implicações o excesso de impermeabilização e a
remoção de áreas verdes muitas vezes atentando
contra a forma de ocupação prevista no Plano
Diretor. As obras de engenharia são muitas
vezes, sem necessidade, responsáveis por graves
danos ao meio ambiente.
Camapum de Carvalho et al. (2012) ao
contextualizarem a infiltração de águas pluviais
em relação aos planos urbanísticos, aos projetos
paisagísticos e arquitetônico pontuam que
graves problemas socioambientais podem
ocorrer como erosões, enchentes, alagamentos e
assoreamentos dos cursos d’água e dos
reservatórios, decorrentes de deficiências ou
não planejamento urbano acarretando o
aumento
do
escoamento
superficial
consequência da redução da infiltração.
Luiz (2012), ao estudar a evolução climática
da cidade de Goiânia entre 1961 e 2008
verificou que a elevação de temperatura
guardava estreita relação com o aumento
populacional da cidade o que impacta os níveis
e características da precipitação e interfere na
capacidade de infiltração do solo e, portanto, na
ocorrência de alagamentos, inundações e
erosões (Luiz et al. 2013).
Portanto, a ocupação e uso do solo urbano
deve seguir os comandos contidos no Estatuto
da Cidade e os Planos Diretores e esses devem
ser elaborados com foco no desenvolvimento
sustentável de modo a evitar os problemas
socioambientais elencados, devendo ficar claro
que é indispensável estabelecer critérios de
ocupação, prevendo a infiltração compensatória
das áreas impermeabilizadas pela ocupação.
5
TECNICAS CONSTRUTIVAS PARA
INFILTRAÇÃO COMPENSATÓRIA
5.1
Poços de Infiltração
Leão Carvalho (2013) estudou essa técnica de
infiltração a partir de ensaios de laboratório e
ensaios de campo realizados na cidade de
Goiânia-GO em três perfis de solos tropicais
com características distintas. A autora mostrou
que o comportamento hidromecânico dos perfis
de solo encontrava-se atrelado às suas
propriedades físicas, mineralógicas e estruturais
sendo ainda dependentes da condição de
hidratação
inicial,
ou
seja,
da
sucção/capilaridade atuante no solo.
Ao analisar a influência do diâmetro do poço
na infiltração a autora salienta que ela pode ser
vista sob duas óticas “a do volume que se
pretende infiltrar em relação à área disponível
para infiltração e a das energias aplicada (carga
hidráulica e/ou sucção) e da energia resistente
(interação solo-água, porosidade e distribuição
dos poros) envolvidas no fluxo”. Isso coloca em
evidencia a importância do planejamento e da
realização de estudos prévios para a
implantação de sistemas de infiltração
compensatórias eficientes e capazes de
responder à demanda gerada e a necessidade de
preservação do equilíbrio ambiental.
Leão Carvalho et al. (2012) indicam que
além do uso de poços de infiltração isolados
eles podem ainda serem implantados em
consócio com trincheiras gerando um sistema
de infiltração mais amplo e eficiente (Figura 1).
O uso dos poços ou dos sistemas poçostrincheira pode se dar de modo isolado ou
coletivo e mesmo interligado às redes públicas.
Quando um sistema é interligado à rede pública
de drenagem torna a gestão ambiental
compartilhada podendo reduz os gastos
públicos com a ampliação dos sistemas
convencionais.
materiais de construção como brita, garrafas
PET e tijolos em crivo. A autora verificou que
ambientalmente o uso de garrafas PET oferece a
vantagem de proporcionar maior volume de
armazenamento além de permitir o uso desse
material,
muitas
vezes,
simplesmente
descartado nos aterros sanitários.
Silva et al. (2012) mostraram a partir de
simulações numéricas que no caso das
trincheiras o avanço da frente de saturação se dá
em maior amplitude junto ao maior
comprimento da trincheira e propõem que se
leve em conta tal peculiaridade quando se avalia
os riscos oriundos da infiltração, como o risco
de
colapso
no
solos
profundamente
intemperizados (Figura 2).
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 2 - Grau de saturação: a) t = 0; b) t = 1 hora; c) t =
2 horas; d) t = 4 horas (Silva, 2012).
Figura 1 – Poço de infiltração manilhado em
consócio com trincheiras de infiltração.
As trincheiras são sistemas versáteis que
podem ser utilizadas consorciadas com os
sistemas de drenagem convencionais e
construídas em áreas públicas como ilustra a
Figura 3.
Nesse exemplo o poço foi construído com
manilhas furadas revestidas com geotêxteis,
mas ele podem ser construídos fazendo uso de
outros materiais tais como pneus usados
(Camapum de Carvalho e Lelis, 2010) e tijolos
em crivo.
Segundo Leão Carvalho et al. (2012) “o
dimensionamento e a implantação de poços e
trincheiras é relativamente simples, mas requer
estudos de engenharia voltados para a definição
de sistemas eficientes e para avaliação dos
riscos oriundos da infiltração concentrada das
águas pluviais”.
5.2
Trincheiras de Infiltração
Silva (2012) estudou a técnica de infiltração por
meio de trincheiras fazendo uso de diferentes
Figura 3 - Disposição de trincheiras de infiltração
(Camapum de Carvalho e Lelis, 2010).
5.3
Colchões Drenantes
Os colchões drenantes são muito usados em
obras rodoviárias compondo a base de aterros
ou para a implantação de estruturas de
pavimento em locais que requer drenagem, mas
o seu uso pode ser estendido para áreas como
estacionamentos e praças.
A solução em colchão drenante para uso em
drenagem é particularmente útil nos casos de
lençol freático raso, caso em que é de difícil
utilização as técnicas referentes aos poços e
trincheiras. Em uma situação semelhante a essa
foi feita na cidade de Boa Vista uma pesquisa
sobre o uso do colchão drenante para infiltração
de águas pluviais. O modelo analisado
utilizando-se garrafas PET como material de
enchimento e geotêxtil como envelopamento
recebeu uma cobertura de 10 cm de areia grossa
(Figura 4, Gurjão et al. 2012).
Figura 4 – Colchão drenante (Gurjão et al. 2012).
Para o modelo analisado Gurjão et al. (2012)
concluíram, com base em ensaios duplo
oedométricos, e no fato de que a sobrecarga
induzida pelo colchão drenante era inferior à
antes existente, devida ao peso próprio do solo
natural, no caso de perda na capacidade de
infiltração ao longo da vida útil do sistema.
Segundo esses autores “o uso das garrafas PET
no colchão drenante contempla aspectos
ambientais, ao dar destinação às garrafas;
sociais, ao valorizar o trabalho dos catadores, e
técnico, ao possibilitar maior capacidade de
acumulação de águas pluviais no colchão
drenante e menor sobrecarga sobre o solo
suporte”.
Finalizando
os
colchões
drenantes
constituem uma técnica de infiltração a ser
considerada na mitigação de problemas
socioambientais em meio urbano e periurbano
ao possibilitar a infiltração das águas pluviais.
5.4
Pavimentos Permeáveis
O uso do termo pavimento nesse texto denota a
estrutura suporte em calçadas, pistas de
ciclismo, ruas, avenidas, rodovias, pistas de
aeroportos e estacionamentos sendo que o termo
estrutura de pavimento é usado para tratar do
todo: revestimento e camadas suporte. Os
pavimentos serão tratados apenas no que tange à
questão da drenagem não se levando em conta a
questão da rigidez do pavimento.
Em relação à drenagem tem-se os
pavimentos convencionais impermeáveis, os
pavimentos drenantes e os pavimentos
permeáveis.
Os pavimentos drenantes são aqueles
assentes sobre extrato impermeáveis e hoje são
muito usados em países como o Japão para
ampliar a segurança no tráfego. Nesse tipo de
pavimento a água infiltrada através do
pavimento drenante é geralmente coletada e
levada a sistemas de drenagem convencionais
ou lançadas em talvegues ou em cursos d’água
(Figura 5). Portanto, sua contribuição para a
solução
de
problemas
como
erosão,
alagamentos e inundações termina sendo
limitada.
Figura 5 – Pavimento drenante (Camapum de Carvalho et
al. 2012).
Os pavimentos permeáveis são aqueles em
que a água que se infiltra através do
revestimento é drenada para o subleito sem
maiores impedimentos. Esse tipo de pavimento
é geralmente adotado no caso de tráfego leve,
calçadas e ciclovias por estes não serem
geralmente afetados pelo umedecimento e
mesmo pela saturação das camadas que se
encontram abaixo do revestimento. A Figura 6
ilustra esse tipo de pavimento (Camapum de
Carvalho et al. (2012).
Vala
Meio fio ou Elemento
de confinamento
Revestimento
Base ou colchão drenante
Sub-Base
Dreno
Camada de assentamento
Geotêxtil
Subleito melhorado
Figura 15 – Seção tipo de um pavimento drenante propriamente dito
Figura 6 – Pavimento Permeável (Camapum de Carvalho
et al. (2012).
Apesar da importância socioambiental desse
tipo de pavimento ele ainda é pouco utilizado
mesmo em cidades que passam por problemas
de alagamento e erosão como é o caso de
Brasília. Atualmente no Distrito Federal vem
sendo construídos quilômetros e quilômetros de
ciclovias, e apesar dos constantes alagamentos
que ocorrem nos viadutos, as ciclovias são
construídas inteiramente com revestimento
convencional impermeável.
Os pavimentos permeáveis se bem
concebidos e destinados a obras com pequena
solicitação das camadas que se encontram
abaixo do revestimento podem apresentar
significativa contribuição para a redução de
alagamentos, inundações e erosões.
6
VANTAGENS E RISCOS ORIUNDOS
DA INFILTRAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS
As obras e soluções de engenharia são propostas
objetivando um ganho, uma melhoria, mas
sempre comportam algum risco. Se bem
estudadas, projetadas e executadas os riscos
podem ser reduzidos ou mesmo eliminados.
No que se refere à infiltração as vantagens do
ponto de vista ambiental são importantes, pois
permitem a recarga dos aquíferos, dão
perenidade às nascentes e evitam problemas
como os relativos aos alagamentos, inundações
e erosões.
Na área rural a infiltração pode ser
assegurada por meio da adoção de técnicas de
manejo apropriadas, e no meio urbano pela
ocupação e uso apropriados do solo e pela
adoção de soluções técnicas compensatórias.
Os principais riscos oriundos da infiltração
das águas pluviais são a contaminação do solo e
lençol freático, a perda da capacidade de
suporte do solo, a geração de colapso estrutural
do solo e a ocorrência de erosão interna e/ou de
esqueletização (eluviação) do maciço. Todos
esses riscos são do ponto de vista da engenharia
elimináveis ou pelo menos mitigáveis, daí a
necessidade de estudos apropriados sobre as
propriedades e comportamento dos solos e a
concepção de sistemas de infiltração
apropriados.
7
ASSOREAMENTO
DE
D’ÁGUA E RESERVATÓRIOS
CURSOS
O assoreamento de cursos d’água e
reservatórios é consequência de processos
erosivos que ocorrem em áreas rurais e urbanas.
Nas áreas rurais muitas vezes o processo
erosivo, por ser superficial e difuso é pouco
percebido gerando, no entanto, a movimentação
de grandes volumes de solo que contribui de
modo significativo para o assoreamento de
cursos d’água e reservatórios. Assim como o
processo erosivo o assoreamento, em especial o
dos reservatórios, é pouco percebido, pois
muitas vezes o sedimento deposita-se em cotas
inferiores ficando recoberto pela lâmina d’água,
mas não raro nos períodos de estiagem eles
emergem e ficam à vista.
Como consequência da ocupação e uso do
solo urbano o assoreamento é proveniente de
processos erosivos laminares, mas em muitos
casos eles se devem a importantes erosões dos
tipos ravina e voçoroca que surgem em
consequência da concentração do fluxo
superficial, oriundo da impermeabilização
excessiva.
Para
evitar
o
problema
convencionalmente são adotados sistemas de
drenagem que simplesmente afastam dos
centros urbanos o excedente do escoamento
superficial gerado. Essa técnica não tem, no
entanto, se mostrado eficiente, pois termina
transferindo o problema para áreas situadas a
jusante.
Mais recentemente tem-se buscado a
implantação de sistemas compensatórios como
os discutidos nesse artigo. Ao evitar o
excedente de fluxo superficial com a
implantação desses sistemas evita-se a erosão e
por consequência o assoreamento dos cursos
d’água e reservatórios.
Muitas vezes se pensa que ao promover a
infiltração
das
águas
pluviais
estará
comprometendo a recarga dos reservatórios,
mas essa percepção deve ser melhor avaliada,
pois com a recarga do aquífero é garantida a
perenidade dos cursos d’água com volume de
água mais significativo, porém com uma água
filtrada, limpa, sem riscos para o assoreamento
dos próprios cursos d’água e dos reservatórios.
8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo mostra a importância de se definir e
adotar técnicas de manejo apropriadas no meio
rural e da ocupação e uso do solo em meio
urbano. Tal prática é fundamental para a
preservação dos cursos d’água e dos
reservatórios com mitigação ou eliminação de
problemas socioambientais como alagamentos,
inundações e erosões.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq, à CAPES e à
Eletrobras Furnas pelo apoio que vem dando
aos estudos sobre erosões.
REFERÊNCIAS
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(2012). Produção de carta geotécnica preliminar de
capacidade de infiltração de água no solo em uma área
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prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 31, p. 607620.
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(2012). Trincheiras como estruturas de infiltração.
Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática
aplicadas a solos tropicais. Cap. 18, p. 353-374.
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Enchentes, Alagamentos e Inundações