UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE CINEMA E AUDIOVISUAL
KIANNY GIL MARTINEZ
A DISTRIBUIÇÃO NO CINEMA PERNAMBUCANO:
UM GARGALO DO MERCADO (2002-2012)
RECIFE
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE CINEMA E AUDIOVISUAL
A DISTRIBUIÇÃO NO CINEMA PERNAMBUCANO:
UM GARGALO DO MERCADO (2002-2012)
Trabalho de conclusão de curso
apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em
Cinema e Audiovisual. Orientador: Prof.
Rodrigo Octávio d´Azevedo Carreiro.
RECIFE
2013
Martinez, Kianny Gil.
A distribuição do cinema Pernambucano: um gargalo do mercado/
Kianny Gil Martinez. – Recife, Pernambuco: [s.n.], 2013.
80f.: I1. color: 30cm
Orientador: Rodrigo Octávio d´Azevedo Carreiro.
Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Federal
de Pernambuco, Curso de Cinema e Audiovisual, 2013.
1. Distribuição no cinema. 2. Pernambuco. 3. Gargalo no mercado.
I. Carreiro, Rodrigo Octávio d´Azevedo. II. Universidade Federal de
Pernambuco, curso de Cinema e Audiovisual. III. Título.
Tão importante quanto entender o significado dos filmes é compreender
o ambiente em que são produzidos e se fazem circular.
Hadija Chalupe da Silva
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer aos professores de cinema e audiovisual da UFPE, que
ampliaram minha visão do mundo através do cinema, com aulas que tornaram meu
conhecimento cinematográfico mais profundo. Em especial, a Mannuela Costa, que
estimulou meu interesse pela produção e economia cultural, reverberando na escolha do
tema para o presente trabalho e nas minhas primeiras orientações. A Rodrigo Carreiro,
que acolheu minha pesquisa e adicionou um ponto de vista diferenciado sobre o
trabalho.
Agradeço ainda a minha mãe, que sempre estimulou minha busca pelo
conhecimento e apoiou minhas escolhas profissionais com um amor incondicional. Ao
meu irmão, que me fez crescer junto a ele, em muitos sentidos. A meu avô, um espanhol
apaixonado pela fotografia e pelo cinema que, desde criança, desperta e estimula meu
interesse pela imagem em movimento. Por fim, agradeço ao meu marido, Lucas
Oliveira, que esteve ao meu lado desde o início do curso, dando opiniões sobre os
questionamentos, assistindo a filmes e debatendo ideias cinematográficas e visuais,
numa parceria completa.
A Carla Francine, coordenadora audiovisual da Secretaria de Cultura de
Pernambuco (Secult/ Fundarpe), que disponibilizou os dados referentes aos filmes
financiados pelo Funcultura entre os anos de 2003 a 2012.
Aos produtores e/ou
realizadores (Adelina Pontual, Alexandre Nogueira, Camilo Cavalcante, Cesar Maia,
Hamilton Costa Filho, Mannuela Costa, Marcelo Pedroso, Pedro Severien, Raquel
Daisy Ellis e Renata Pinheiro), que compartilharam comigo suas experiências práticas e
opiniões relativas à distribuição cinematográfica, respondendo de forma atenciosa as
dúvidas que surgiram durante o mapeamento de informações sobre as produções
pernambucanas contemporâneas, através da aplicação de um questionário padrão que
foi enviado aos mesmos por e-mail. Apesar do dia a dia repleto de atividades e de
alguns estarem em plena produção de projetos, o que impossibilitou o envio da resposta
de alguns, eles participaram e foram de suma importância para a pesquisa.
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
CNC – Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
CTAV – Centro Técnico Audiovisual
EMBRAFILME – Empresa Brasileira de Filmes S/A
FEPEC – Federação Pernambucana de Cineclubes
FUNCULTURA – Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura
FUNDARPE – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
FSA – Fundo Setorial do Audiovisual
INC – Instituto Nacional de Cinema
OCA – Observatório Brasileiro do Cinema e Audiovisual
PDM – Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual
SECULT – Secretaria de Cultura
SIC – Sistema de Incentivo a Cultura
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
RESUMO
O presente trabalho tem o objetivo de realizar um diagnóstico da atual situação das
práticas relativas à distribuição de filmes longa-metragem independentes com foco nas
produções pernambucanas1, visto que a cena atual agrega um razoável número de
produções que, em grande maioria, ficam restritos aos festivais de cinema e as poucas
salas de exibição mantidas pelo governo do Estado. Assim, serão apresentados os
fatores que contribuíram para que esse gargalo no mercado continuasse crescendo e o
que já foi feito para melhorar o desenvolvimento do mercado distribuidor alternativo.
Por meio de uma análise e descrição das variadas alternativas que as produtoras
audiovisuais pernambucanas têm utilizado para viabilizar o escoamento de suas
produções e fomentar o acesso à circulação dos filmes, será feito o mapeamento das
práticas alternativas na distribuição de obras cinematográficas, tendo como premissa a
facilitação de acesso do público.
Palavras-chave: Cinema pernambucano – distribuição - gargalo do mercado - indústria
cinematográfica.
1
Para melhor compreensão do texto, entende-se por produções pernambucanas os filmes que foram
financiados de forma parcial ou total pelo Fundo Pernambucano de Incentivo a Cultura
(FUNCULTURA).
ABSTRACT
The present work aims to make a diagnosis of the current situation of practices relating
to the distribution of feature films focusing on independent productions Pernambuco¹,
as the current scene adds a fair number of productions that in the vast majority, are
restricted to film festivals and the few theaters maintained by the state government.
Thus, we present the factors that contributed to this bottleneck in the market continued
to grow and what has been done to improve the development of alternative distribution
market. Through an analysis and description of the various alternatives that are
producing audiovisual Pernambuco used to enable the transportation of their
productions and promote access to the circulation of films, will be the mapping of
alternative practices in the distribution of cinematographic works, taking as its premise
the facilitation of public access.
Keywords: Cinema of Pernambuco - distribution - bottleneck of the market - the film
industry.
_____________________
¹ For better understanding of the text, it is understood by Pernambuco productions films that were funded
in part or in total by the Fund Pernambucano Cultural Incentive (Funcultura)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 10
2. CINEMA EM PERNAMBUCO X CINEMA NO BRASIL: DESENVOLVIMENTO E
DISTRIBUIÇÃO................................................................................................................. 13
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO –
CINEMAS
PERNAMBUCANOS
E
O
MERCADO
NACIONAL........................................................................................................................ 13
2.2 A HISTÓRIA EM CICLOS X CINEMA NO BRASIL............................................. 15
2.3 O CINEMA PERNAMBUCANO DO SÉCULO XXI.............................................. 26
3. DISTRIBUIÇÃO...................................................................................................... 29
3.1 A DISTRIBUIÇÃO DE FILMES NO BRASIL DO SÉCULO XXI......................... 29
3.2 AS MÍDIAS E AS NOVAS FORMAS DE DISTRIBUIÇÃO.................................. 32
3.3 A DISTRIBUIÇÃO NO CINEMA INDEPENDENTE............................................ 36
4.
PRODUZIR
PARA
DISTRIBUIR:
A
EXPERIÊNCIA
DOS
PRODUTORES
PERNAMBUCANOS NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO....................................................... 41
4.1 ENTRANDO NO MERCADO – OS ENTRAVES NA DISTRIBUIÇÃO............................ 41
4.2 A FACILITAÇÃO DO ACESSO A OBRA FÍLMICA............................................ 51
4.3 A DISTRIBUIÇÃO E A RESERVA DE MERCADO............................................. 54
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 58
6. REFERÊNCIAS........................................................................................................ 60
7. APÊNDICE............................................................................................................... 65
1. INTRODUÇÃO
Durante muito tempo o cinema brasileiro apresentou dificuldades na produção
de obras cinematográficas. Os equipamentos eram escassos e quase não havia mão de
obra técnica especializada na área. Desta forma, a cinematografia do país foi sendo
inserida e caracterizada pela curiosidade de alguns jovens pertencentes a famílias que
detinham um capital financeiro mais elevado e puderam trazer para o Brasil as primeiras
câmeras que filmavam, vindas da Europa.
Com a chegada dos equipamentos deu-se início a realização de produções
amadoras que, atreladas ao interesse pela sétima arte, fizeram surgir os ciclos regionais.
Os ciclos apresentavam em suas narrativas filmes que mostravam o país e seus hábitos
para o mundo. Com o passar do tempo, as histórias contadas passaram a registrar
imagens do dia a dia do local, com notícias jornalísticas e registros de fatos cotidianos,
gerando um interesse do público pernambucano frequentador das salas de cinema
existentes no estado.
A distribuição dos filmes acontecia de forma improvisada, sem planejamento.
As obras eram levadas aos exibidores (donos das salas de cinema) numa tentativa de
negociação para ser exibido. Com a chegada do cinema norte-americano os
conglomerados de empresas produtoras internacionais (majors) acabaram por ‘invadir’
o mercado nacional e as salas de cinema. Assim, com a entrada das grandes produções
americanas nas salas de exibição o cinema nacional, que ainda começava a se apropriar
das técnicas e tentava obter uma janela exibidora no mercado, ficou praticamente a
margem do circuito tendo que lutar para conseguir ter seu filme exibido.
Algumas políticas de incentivo foram criadas a fim de incentivar a produção
nacional, mas essas ações ocorriam de maneira provisória - como uma ação
fomentadora do Estado - e acabavam sendo modificadas ou se perdiam entre um
governo e outro.
Entre as medidas que deveriam proteger a produção nacional, a criação da cota
de tela auxiliou na entrada dos filmes nas salas, mas as condições para a realização das
produções ainda eram precárias. Devido à falta de preparação técnica e a verba limitada
os filmes ainda encontravam dificuldades para serem produzidos. Assim, foram criados
alguns órgãos e leis para fomento do cinema no país (INC – Instituo Nacional de
Cinema; Embrafilme – Empresa Brasileira de Filmes S/A; Lei Rouanet 8.313/91; Lei do
Audiovisual 8.685/93; Ancine – Agência Nacional do Cinema).
10
Algumas dessas medidas visavam à distribuição dos filmes fora do país, outras
tinham o intuito de profissionalizar as produções trazendo técnicos e equipamentos do
exterior. No geral, com o passar das décadas e dos governos foram criadas leis de
incentivo - tanto público quanto privado - que visavam fomentar as atividades culturais
no país. Porém, os mecanismos que visavam à distribuição dos filmes sempre foram
deixados em segundo plano, fazendo com que as majors (que além de possuir capital
para a produção, detinham o poder de grandes empresas distribuidoras impondo a
circulação e exibição dos filmes em vários países) continuassem dominando a maior
parte das salas de cinema, tornando injusta a disputa com o filme nacional.
Apesar da criação da lei da cota de tela os filmes ainda encontravam dificuldades
para usufruir de seus benefícios devido à ausência de mecanismos fiscalizadores,
continuando “reféns” da vontade dos exibidores.
Com a chegada das televisões e do home vídeo era possível assistir um filme
sem sair de casa, diminuindo assim a quantidade de pessoas que iam as salas de cinema.
As majors continuaram dominando o mercado com a grande divulgação de seus filmes,
sempre repleto de estrelas consagradas no cinema - o star system - além do forte
marketing que envolve os grandes personagens com a venda de souvenirs e as
milionárias campanhas publicitárias, tornando sempre mais complicada a disputa com o
cinema brasileiro.
O cinema do século XXI já não enfrenta tantos problemas no que diz respeito à
produção de filmes, conseguindo ter uma produção regular, com algumas obras que
fazem sucesso de bilheteria e lotam as salas de cinema (a exemplo dos filmes
produzidos pela Globo Filmes). Porém, ainda existe uma grande quantidade de filmes
que são financiados com verba de editais públicos e ficam restritos a poucos festivais de
cinema por falta de espaço para circulação nos grandes cinemas, dificultando o acesso
da população a um bem cultural.
Tomando por base o cinema realizado em Pernambuco, o presente projeto
pretende conceber um diagnóstico da atual situação da distribuição dos filmes
realizados no estado tendo em vista a qualidade dos filmes independentes2 produzidos
atualmente.
2
Entende-se aqui por cinema independente ou alternativo, os filmes que são realizados e distribuídos à
margem da indústria cinematográfica de apelo mais comercial.
11
Assim como o cinema nacional, o cinema realizado em Pernambuco também
passou por dificuldades causadas pela falta de incentivo público, fazendo com que a
produção do Estado diminuísse consideravelmente após o ciclo do Super 8. Nos anos
1990, a cena local conseguiu produzir mais um longa-metragem e recuperou o fôlego
para retomar as produções: Baile Perfumado (1996), dirigido por Lírio Ferreira e Paulo
Caldas.
Ainda sem muitos incentivos que auxiliassem a produção de obras audiovisuais,
a classe cinematográfica reivindicou ao Estado a necessidade de um fomento que
oferecesse continuidade as produções. Com o objetivo alcançado, surge uma
diversidade de filmes independentes que, apesar de terem destaque no mercado de
festivais nacionais e internacionais, ainda encontram dificuldades para serem
distribuídos.
Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo realizar uma análise sobre
a distribuição do cinema pernambucano que, atualmente tem sido aclamado pelos
críticos e tem chamado à atenção de um público que se interessa cada vez mais por
outras ‘formas’ de cinema, tanto no Brasil quanto no mundo.
Tendo como foco o período que compreende os anos entre 2002 e 2012, tem
como ponto de partida um gargalo presente no mercado que dificulta uma das etapas tão
importantes quanto à produção: a distribuição. Assim, será realizada uma pesquisa para
compreender desde quando essa brecha está presente no mercado até ao que já foi
proposto como solução desse problema.
Pensando nas possibilidades das novas tecnologias e no destaque que os filmes
feitos em Pernambuco têm tomado, o projeto busca ainda diagnosticar como os
produtores audiovisuais têm feito para driblar as carências do mercado distribuidor e o
que fazem para dar escoamento ao seu filme, além de identificar quais as maiores
dificuldades encontradas nesta fase crucial: a de colocar o filme em contato com o
público.
12
2. CINEMA PERNAMBUCANO X CINEMA NO BRASIL:
DESENVOLVIMENTO E
DISTRIBUIÇÃO
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO – CINEMAS
PERNAMBUCANOS E O MERCADO
NACIONAL
Tendo em vista o crescente desenvolvimento no cenário cinematográfico
nacional do século XXI, e, de forma ainda mais específica do cinema realizado em
Pernambuco, fica evidente a facilidade para realização de uma obra audiovisual. Essa
facilidade pode ser atribuída ao avanço tecnológico, que possibilita a popularização de
equipamentos técnicos com boa qualidade e preços mais baixos, além de uma política
de incentivos no setor audiovisual.
Para compreender melhor o cenário da produção audiovisual no país, alguns
dados do mercado serão apresentados. De acordo com a Ancine, no ano de 2002 foram
lançados 29 filmes brasileiros de longa-metragem, número que chega a triplicar em
2011, com o lançamento de 99 longas. Já no cenário audiovisual pernambucano que, de
acordo com os dados da Ancine por estado produtor, Pernambuco só possui um filme
lançado em sala comercial entre os anos de 2002 a 2007: Cinema, Aspirina e Urubus
(2005), dirigido por Marcelo Gomes e entre os anos de 2008 a 2012 contabiliza o
lançamento de 10 longas-metragens, quatro desses só no ano de 2011.
Assim, fica evidente a crescente efervescência audiovisual que se desenvolve no
país e no estado pernambucano. Além da facilidade de acesso à tecnologia ser um fato
crescente com o passar dos anos, outros fatores tem incentivado o fortalecimento das
produções no país: editais públicos e privados fortalecem o mercado e auxiliam na
produção do cinema independente. Com a crescente produção, existe um número cada
vez maior de obras audiovisuais que demandam escoamento, porém o número de salas
de cinema ainda é pequeno diante da expansão no setor, ficando evidente o gargalo no
mercado.
Apesar dos incentivos públicos na produção de filmes, ainda são poucos os
longas que conseguem espaço para serem exibidos a um grande público. As grandes
salas de exibição, concentradas em sua maioria nos shopping centers (Multiplexes), se
interessam em exibir filmes com apelo mais comercial (blockbusters), pertencentes as
cifras das grandes bilheterias da indústria cinematográfica.
13
Informações referentes à bilheteria de 2012 divulgadas pela Ancine mostram que
a renda total gerada pela arrecadação dos filmes brasileiros foi de R$ 157.262.028,00
enquanto que a renda com os filmes estrangeiros foi de R$ 1.455.643.853,00, uma
diferença que evidencia a carência do mercado distribuidor. Os filmes nacionais têm
conquistado um espaço cada vez maior dentro desse nicho, mas inevitavelmente estão
inseridos dentro do interesse e condições comercias dos exibidores.
Em suma, os filmes que possuem maior alcance de público e maior apelo
comercial têm seu escoamento realizado pelas grandes empresas distribuidoras atuantes
no mercado, tornando a ‘disputa’ por um lugar ao sol cada vez mais difícil para os
filmes independentes. Porém, o mercado tem emitido bons sinais no que se refere à
distribuição dos filmes nacionais.
Outro fato que deve ser visto com otimismo é o crescente desempenho que as
produtoras nacionais obtiveram em relação às distribuidoras internacionais (com relação
à distribuição dos filmes brasileiros). Dados da Ancine sobre a distribuição mostram
que a participação na venda de ingressos para filmes nacionais dobrou, passando dos
35% em 2009 aos 70% em 2011. Essa consolidação do mercado distribuidor nacional que tem atuado na distribuição de filmes nacionais bem como em coproduções
internacionais- acaba reverberando tanto no apoio financeiro às obras quanto na
facilitação do acesso desse produto no mercado.
Atuando ainda no apoio a distribuição dos filmes brasileiros, a Ancine auxilia no
fomento à distribuição com a criação da linha C no Fundo Setorial do Audiovisual
(FSA), direcionado para a aquisição dos direitos para distribuição de obras
cinematográficas de produção independente, tendo contado com 29,7% do total dos
recursos do fundo em 2011 (R$ 25 milhões). Assim, a renda que as distribuidoras
nacionais obtiveram com os filmes brasileiros cresceu, passando de R$ 47.636.692,00
(2009) para R$ 113.129.203,00 (2011), enquanto que a renda das distribuidoras
internacionais com os filmes brasileiros caiu – indo dos R$ 81.659.422,00 em 2009 aos
R$ 50.126.264,00 em 2011.
Apesar do evidente crescimento do setor distribuidor no cenário nacional, o
mercado de distribuição do cinema independente (menos comercial), como o de
Pernambuco, ainda precisa buscar outras formas/mecanismos para colocar seu filme no
mercado tendo em vista que os estados mais beneficiados com os fundos e incentivos do
governo ainda são Rio de Janeiro e São Paulo. Enquanto que entre os anos de 1995 a
2011 o Rio de Janeiro colocou em circulação 436 filmes; Pernambuco chega aos 11
14
filmes, tendo conseguido produzir filmes em anos consecutivos apenas a partir de
20083, ficando evidente a diferença de incentivos direcionados às regiões produtoras.
Toda essa desigualdade de investimentos reverbera tanto na etapa da produção
quanto na distribuição dos filmes. A partir desses dados é possível realizar a
comparação entre dois filmes lançados no ano de 2012, um pernambucano e outro
carioca, que obtiveram grande alcance de público: Era uma vez, Verônica (2012),
dirigido por Marcelo Gomes e Até que a Sorte nos Separe (2012), dirigido por Roberto
Santucci Filho. Enquanto que o filme de Marcelo Gomes contou com 13 salas para
exibição e um público de 16.387 pessoas, fazendo assim uma renda de R$ 189.671,08 o
filme de Roberto S. Filho foi exibido em 425 salas e teve um público de 3.322.561
pessoas, obtendo uma renda de R$ 33.869.880,694·. Dessa forma, sem o alto
investimento em marketing o cinema independente precisa buscar outros canais de
distribuição e outras maneiras de chegar ao seu público.
Semelhantemente à história do cinema brasileiro, o cinema pernambucano teve
ciclos de produção cinematográfica que proporcionaram ao estado o destaque de um dos
pólos produtores mais importantes do país. Seja nos anos vinte com o Ciclo do Recife
ou com os filmes do Ciclo do Super 8 na década de oitenta ou ainda com a influência do
Manguebeat no vídeo dos anos 90 e o sucesso de Baile Perfumado (1996), dirigido por
Lírio Ferreira e Paulo Caldas.
Mesmo tendo passado alguns anos sem o fomento e o auxílio de políticas
públicas do governo, a partir dos anos 2000 a cena audiovisual pernambucana volta a
produzir, atraindo novamente olhares para a produção no estado.
2.2 A HISTÓRIA EM CICLOS X CINEMA NO BRASIL
O ciclo de 20 ou Ciclo do Recife surge no início de 1920, num nordeste que vive
um período econômico ruim e começa a se encantar pela sétima arte. Apesar da
efervescência política vivenciada no período e de uma péssima fase econômica em que
o poder da cana-de-açúcar entra em declínio, levando o prestígio social nacional para
São Paulo e Rio de Janeiro, a política não possui grandes influências nas produções do
estado pernambucano.
3
4
Dados Ancine/Oca.
Dados Ancine/Oca.
15
O esquema de produção dos filmes era improvisado, sendo financiado com os
recursos dos próprios realizadores, sem nenhum fomento do Estado. Suas histórias
possuíam a inserção dos valores regionais agregados ao modelo de narrativa
cinematográfica americana. Foi considerado um dos movimentos mais importantes do
cinema mudo regionalista e durou um período de oito anos (1923 a 1931).
O Ciclo do Recife, além de ter sido o primeiro grande movimento
cinematográfico na história do cinema pernambucano, foi o mais produtivo
dos ciclos regionais do início do século XX no Brasil. Foram produzidos 13
filmes de ficção em pouco mais de oito anos (...) (CUNHA, 2006, p. 7).
Das produções realizadas destacam-se: Aitaré da Praia (1925), dirigido por
Gentil Roiz e Ary Severo e A filha do advogado (1926), dirigido por Jota Soares.
Durante o ciclo Recife surgiram diversas produtoras de cinema no estado a exemplo da
Aurora Filme, Olinda Filme, Vera Cruz Filme, Iate Filme, Veneza Filme, Spia Filme,
Goiana Filme, entre outras que realizavam grande parte das produções.
As primeiras obras possuíam forte influência narrativa do cinema norteamericano, mas a partir de Aitaré da Praia (1925) temos um drama mais regional que
tem como pano de fundo um romance que se passa em uma colônia de pescadores. Já
em Reveses (1927), dirigido por Chagas Ribeiro surge o drama dos camponeses que
trabalham nas terras de um rude coronel de engenho (DUARTE, 1995). As dificuldades
relacionadas com a parte técnica e financeira dos filmes eram superadas pelo empenho
que os realizadores tinham com suas produções. O empenho resultou em trabalhos que
marcaram a cinematografia da cidade do Recife e do Brasil.
Vista de longe, a extensa produção do Ciclo do Recife aparenta ter sido
marcada pela empolgação de todos que a ela estiveram ligados. Mesmo
enfrentando dificuldades – que iam desde a revelação da película até a
exibição e distribuição dos filmes -, foram fundadas no período nove firmas
produtoras diferentes e rivais (CUNHA, 2006, p. 27).
Entre as razões para o fim do ciclo destacam-se: a carência de distribuição
adequada na capital pernambucana, a chegada dos filmes sonoros e a ausência de
incentivos fiscais e financiamentos públicos. Com o início do uso do som direto no
cinema eram necessárias mudanças nas salas de exibição e mais recursos para a
produção dos filmes.
16
Como a estrutura de produção audiovisual era bastante precária - tanto no Recife
quanto no cenário audiovisual do Brasil -, a distribuição era feita quase que em uma
iniciativa de “porta a porta”, onde os próprios realizadores ofereciam o filme aos donos
da sala de exibição, para ver se havia um interesse em exibi-lo.
Alex Viany afirma que esta prática fez com que produtoras de estados
distantes das grandes metrópoles perdessem o controle sobre a exibição de
seus filmes, como a Aurora Films de Pernambuco, que entregou a primeira
cópia de A Filha do Advogado a um cidadão que desapareceu com ela no sul
do país (SIMIS, 2008, p. 79).
Com o final do ciclo do Recife registra-se certa diminuição no ritmo das
produções e só em 1942 é realizada a produção de um filme sonoro O Coelho Sai
(1942), dirigido por Newton Paiva, o primeiro filme sonoro de Pernambuco. Entre os
anos 50 e 60 iniciam-se atividades cineclubistas no estado, com destaque para os
cineclubes Projeção 16, Vigilanti Cura e o Cine Clube do Recife. (FIGUEIRÔA, 1994
p. 26).
No início dos anos setenta, a produção cinematográfica em Pernambuco era
quase nenhuma. No final da década anterior, vários grupos tentaram
viabilizar alguns projetos resultando apenas, quando muito, em roteiros não
filmados ou obras inacabadas (FIGUEIRÔA, 1994, p. 28).
No geral, o cinema brasileiro foi sendo formado a partir dos ciclos, devido à
falta de constância das produções. Esse fato sinaliza a dificuldade que a cena
audiovisual tinha e a forte carência técnica que influenciava várias etapas da construção
cinematográfica: produção, estética, público, exibição e distribuição, além da disputa
com o cinema norte-americano pela ocupação do mercado nacional.
Algumas medidas protecionistas foram instauradas a fim de fomentar o cinema
nacional, uma delas é a cota de tela. A cota de tela foi estabelecida em 1934, tomando
por base o decreto nº 21.240 de 1932 que determinava a exibição de um filme educativo
a cada sessão, passando depois a ser estendido aos filmes de longa-metragem com o
decreto-lei 1949/39, durante o Estado Novo. A medida estabelece uma quantidade de
dias obrigatórios para exibição do filme brasileiro, votada por um decreto que acontece
uma vez a cada ano.
De acordo com a Ancine, em 1950, cada sala teria que exibir pelo menos 6
filmes brasileiros por ano. No ano seguinte, 1951, passa a ser vigorada a lei do 8x1 que
faz uso do critério da proporcionalidade, devendo ter no mínimo 42 dias de exibição de
17
longas-metragens brasileiros. Em 1959, foi determinada mais uma mudança que vigora
até os dias atuais, onde é estipulado o número de dias fixos para exibição no ano.
Porém, a falta de fiscalização ainda dificulta o cumprimento da lei, facilitando a
dominação norte-americana no mercado nacional.
Com a criação de leis e medidas que visavam proteger a produção nacional,
começaram a surgir as primeiras empresas audiovisuais no país. Criada em 1949, a Vera
Cruz foi uma das pioneiras a realizar investimentos de produção no setor
cinematográfico. Possuía um estúdio com mais de 100 mil metros quadrados, além de
ter uma infraestrutura repleta de equipamentos modernos e técnicos do exterior, como o
brasileiro Alberto Cavalcanti que trabalhava com a sétima arte na Europa e foi
convidado a dirigir a companhia.
Entre as produções da empresa estão os filmes: O Cangaceiro (1952), dirigido
por Lima Barreto e escolhido como melhor filme de aventura em Cannes; e Sinhá Moça
(1953), dirigido por Tom Payne que foi ganhador do Urso de Prata no Festival de
Berlim e do Leão de Bronze no Festival de Veneza. Porém, o sucesso e a repercussão
internacional das produções não conseguiram ter continuidade e o sucesso de bilheteria
não retornou como lucros para a companhia. Sem um esquema de distribuição sólido
era difícil colocar as produções na cena internacional.
Nos anos 1950, especialmente em decorrência da experiência da Vera Cruz,
fica claro que para além de grandes capitais, estúdios, equipamentos de
ponta, técnicos de primeira linha e artistas talentosos, fazia-se necessário
buscar articular melhor a produção com a distribuição, posto que este último
setor se encontrava dominado pelo capital estrangeiro e constitui-se no elo
central que permite o acesso do filme ao mercado. Duas foram as principais
respostas à questão da distribuição: a formação de uma distribuidora única de
filmes brasileiros ou a associação com as distribuidoras norte-americanas
(NETO, 2009, p.04).
A empresa nunca chegou a decretar seu fim, mas as produções tornaram-se cada vez
menores.
A distribuição de filmes sempre foi uma lacuna presente no cinema brasileiro,
desde os ciclos, porém com a carência técnica ainda dificultando o desenvolvimento da
produção cinematográfica outras demandas ganharam prioridade nas medidas de
incentivo. Ainda assim é latente o interesse em pensar na distribuição de filmes no país,
o que começa a ser debatido no I Congresso Nacional do Cinema Brasileiro:
18
(...) no I Congresso Nacional do Cinema Brasileiro, realizado no Rio de
Janeiro em 1952 o crítico e cineasta Alex Viany apresenta uma tese intitulada
“Distribuidora única para os filmes brasileiros”. Em texto publicado em
1954, o mesmo Viany afirma que a distribuição é um “problema
fundamental” e defende a criação da distribuidora única de filmes brasileiros
financiada pelos produtores cinematográficos e com fiscalização do Estado.
Na mesma época, o crítico ataca o fato de a Vera Cruz entregar a distribuição
dos seus filmes para empresas estrangeiras. Em 1961 surge o projeto assinado
pelo cineasta César Mêmolo, pelo exibidor José Borba Vita, pelos críticos
Almeida Salles e Rubem Biáfora de constituição de uma distribuidora única
para os filmes brasileiros bancada pelo estado de São Paulo, ou seja, uma
distribuidora estatal. Trata-se do prenúncio do que foi colocado em prática
pela Embrafilme (NETO, 2009, p. 04).
A implantação da Vera Cruz no mercado cinematográfico brasileiro acaba por
proporcionar outras experiências técnicas, resultando no surgimento de filmes que
buscam criar uma identidade narrativa e visual mais brasileira. Com o crescimento das
produções e a falência de grandes companhias cinematográficas existe o surgimento de
outro movimento que marcou a cinematografia nacional: o Cinema Novo.
“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, a frase de Glauber Rocha5 marca
o processo de surgimento desse novo ciclo/movimento. Essa nova geração de cineastas
estava interessada em produzir filmes que superassem os obstáculos financeiros que
dificultavam a realização das obras e assim, dedicaram-se a realização de um cinema
popular, com uma linguagem que desejava transmitir um pouco mais da cultura
brasileira. Suas narrativas queriam trazer a discussão da realidade nacional.
Os filmes tinham preferência pelos cenários naturais, pela presença de diálogos
longos entre os personagens e possuíam poucos movimentos de câmera. As histórias
eram repletas de nordestinos e trabalhadores rurais, evidenciando na narrativa uma
crítica a atual situação do país: a “trajetória no subdesenvolvimento” (GOMES, 2001) e
ao tom artificial que o movimento percebia no cinema americano.
Entre os filmes que tiveram destaque durante o movimento estão: Rio 40 graus
(1955), dirigido por Nelson Pereira dos Santos; Vidas Secas (1963), também dirigido
por Nelson Pereira dos Santos e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), dirigido por
Glauber Rocha. O cinema novo se destacava por uma crítica forte ao
subdesenvolvimento e, numa outra fase do movimento, acaba por dialogar com a
instauração da ditadura militar no Brasil.
5
Glauber de Andrade Rocha foi um dos integrantes mais importantes do cinema novo, movimento
iniciado no começo dos anos 1960. Com o princípio de "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", deu
uma identidade nova ao cinema brasileiro.
19
É em meio à carência de empresas que se interessem em distribuir as produções
independentes, que começa a ser pensada a criação de uma empresa distribuidora
brasileira, que realizasse a distribuição dos filmes independentes. Eis que surge no Rio
de Janeiro a Difilm.
A DIFILM, distribuindo os filmes destes produtores no mercado brasileiro e
coordenando a distribuição internacional, recebe os fundos econômicos que
permitem o desenvolvimento da produção independente. Neste caso é
realmente independente, pois a DIFILM, defendendo uma posição que é a
mesma da ideologia do cinema novo (é o cinema novo que constitui a
DIFILM!), estimula e o mesmo exige o aumento de qualidade (ROCHA,
1981, p. 85).
A distribuição passa a ser discutida como um assunto mais frequente na
cinematografia nacional, na tentativa de viabilizar o escoamento do filme brasileiro.
Dessa forma, algumas medidas chegam a serem propostas, a exemplo da Lei 4.131 de
03 de setembro de 1962, a qual estabelecia que os distribuidores de cinema que
explorassem o mercado exibidor brasileiro deveriam pagar imposto de renda ao
enviarem os lucros da arrecadação aos representantes da empresa no exterior, mas as
atividades cinematográficas no país continuam sem um órgão que possa regulamentar
suas atividades.
A partir da criação do Instituo Nacional do Cinema (INC) em 1966, através da
criação do artigo 35 no decreto-lei nº 43 de 18 de novembro de 1966, o cinema nacional
começa a ter suas salas exibidoras fiscalizadas. A criação do INC tinha o objetivo de
viabilizar a produção dos filmes nacionais e levá-los as salas de cinema. O instituto
propunha a ideia de organizar e colocar em prática uma política de incentivo
governamental com ações voltadas a produção, exibição e distribuição da obra nacional,
bem como sua promoção no exterior.
Assim, o Brasil assumiu o financiamento das produções de forma direta,
utilizando-se de percentuais incorporados à venda de ingressos e a exibição de filmes
estrangeiros como forma de captar recursos para o instituto. Com a criação do INC, o
artigo nº 45 da lei 4.131/62 passa a destinar parte da renda do imposto às produções
associadas realizadas pelo Instituto (SIMIS, 2008).
O Instituto Nacional do Cinema acaba perdendo seu propósito inicial, deixando
de ter destaque no mercado audiovisual. Em 12 de setembro de 1969, através do
decreto-lei nº 862 é criada a Embrafilme – Empresa Brasileira de Filmes S/A. A
Embrafilme surge como um órgão com o intuito de fomentar o setor audiovisual, sendo
20
assim responsável pelas atividades culturais e pelo mercado externo. Tinha a função de
possibilitar o desenvolvimento industrial do cinema.
Porém, nem toda a classe cinematográfica ficou contente com essa ‘criação’, já
que as atividades da Embrafilme estavam relacionadas exclusivamente com a
distribuição dos filmes brasileiros no exterior e não na deficiência do mercado, a qual
necessitava de viabilização financeira e fortalecimento como indústria cultural.
A empresa obteve êxito em sua atuação no mercado cinematográfico nacional,
alavancada pelos sucessos que levaram o público as salas de cinema. Entre os filmes de
sucesso podemos citar Bye Bye Brasil (1979), dirigido por Carlos Diegues; Pixote, a lei
do mais fraco (1981), dirigido por Hector Babenco e Memórias do Cárcere (1984),
dirigido por Nelson Pereira dos Santos. Com o sucesso de bilheteria desses filmes
algumas mudanças ocorrem no funcionamento da Embrafilme.
De acordo com o Centro Técnico Audiovisual (CTAV), em 1980, os
espectadores de filmes brasileiros ocuparam 35% do mercado nacional, e a média de
espectadores por filme brasileiro alcançou a marca de 239 mil espectadores, 30 mil a
mais que o filme estrangeiro. Com o otimismo resultante da boa arrecadação de
bilheteria e a partir de modificações aclamadas pela classe audiovisual, a Embrafilme
passa a realizar uma série de medidas que auxiliam e acabam por fortalecer o mercado
cinematográfico brasileiro (incentivo à produção, distribuição e exibição), porém a
entidade continuaria a passar por reformulações até perder força e ter dificuldades para
continuar realizando suas atividades.
Vários fatores foram apontados como justificativa do declínio da Embrafilme,
entre eles: o progresso técnico do cinema americano e a maior força de conquista nos
mercados da América Latina, a dolarização das atividades cinematográficas no país, a
falta de capacidade de o Estado dar continuidade no investimento devido à crise no
petróleo e por fim, a forte queda do público frequentador das salas de cinema graças à
difusão dos aparelhos de televisão e home vídeo (vídeo cassete).
Desde a década de 1970 o cinema começa a perder seu público para as novas
tecnologias, tanto no Brasil como no mundo. Com os novos dispositivos, surgem novos
hábitos de consumo e parte do público, que ia às salas de cinema para ver um filme,
passa a consumir o produto em sua própria casa.
No caso brasileiro, o público, que comprava mais de 200 milhões de
ingressos anuais na década de 1970, despencou para a metade desse nível na
21
segunda metade da década seguinte (...) (EARP; SROULEVICH, 2009,
p.182).
Em meados de 1970, o mercado internacional lança a bitola do Super 8, fato que
iria produzir um novo ciclo no cinema pernambucano. Filhos de famílias de classe
média do Recife começam a ter acesso as câmeras de super 8. Muitas dessas câmeras
foram compradas com o intuito de registrar imagens familiares (devido ao seu tamanho
compacto e com gravação do som inclusa), mas acabaram sendo responsáveis pelo
surgimento de um novo ciclo na cinematografia pernambucana: o ciclo super 8.
O Super 8 surge como um cinema doméstico e, dessa forma, acabou por
facilitar a grande quantidade de filmes produzidos neste formato. Nos dez anos de
duração do ciclo (1973-1983) foram produzidos mais de duzentos filmes entre curtas,
médias e longas-metragens, a maioria curtas-metragens (FIGUEIRÔA, 1994).
Os filmes possuíam propostas estéticas bastante individualizadas, porém, via-se
surgir uma estrutura de auxílio entre os realizadores, facilitando o processo de produção
dos filmes. As obras realizadas tinham em suas narrativas ficções que denunciavam as
injustiças sociais, temas urbanos, documentários sobre a cultura rural nordestina e
filmes experimentais que faziam crítica à cultura.
Os filmes do ciclo super 8 começam a ser exibidos no circuito de festivais de
cinema nacionais, a exemplo da Jornada de curtas-metragens na Bahia. Porém os filmes
não possuíam muitas janelas de exibição no Recife (devido à falta de projetor adequado
para o formato do super 8), fator que dificultou a distribuição dos filmes.
Na tentativa de exibir as produções, em novembro de 1977 realizou-se o 1º
Festival de Cinema Super 8 do Recife. Nesse mesmo ano, é criado em Recife o Grupo
8, ou Grupo de Cinema Super 8 em Pernambuco, que se consolida como entidade de
apoio à produção do cinema em super 8 (FIGUEIRÔA, 1994).
Entre as realizações que tiveram mais destaque no ciclo estão: Valente é o Galo
(1974) de Fernando Spencer; O Palhaço Degolado (1976) de Jomard Muniz de Brito;
Esses Onze Aí (1978), de Geneton Moraes Neto e Paulo Cunha; Robin Hollywood
(1977) de Amin Stepple e o último filme do ciclo, Morte no Capibaribe (1983) de Paulo
Caldas. Com o declínio do Ciclo Super 8 e a chegada do vídeo cassete, tem-se fim outro
ciclo no estado.
O modo como se fazia cinema em Pernambuco na década de 80 não parece
ser radicalmente diferente da maneira de produzir observada no início do
século XX, no Recife: dependia, sobretudo, da motivação e colaboração entre
22
grupos de jovens que se reuniam, de modo ainda pouco profissionalizado,
para produzir filmes (NOGUEIRA, 2009, pp. 23-24).
Essa vontade de fazer filmes não estava contida apenas nos cineastas da capital
pernambucana, o desejo de fazer cinema estava presente em quase todo território
nacional, principalmente nas grandes capitais, onde a “briga” com os filmes da indústria
americana era cada vez maior.
Porém, algumas dificuldades continuavam fazendo parte da realidade nacional:
falta de fomento na produção audiovisual, pouca qualidade técnica e a falta de
equipamentos. Esse fato foi se modificando com o passar das décadas e com a mudança
política vivenciada no país - a saída de um regime ditatorial para a democracia. Com o
fim da Embrafilme e do governo militar (1990), o Brasil passa por diversas mudanças,
transitando entre a ditadura e a democracia, mesmo não havendo muita diferença no
regime econômico (o capitalismo continua reinando). Assim, com a chegada de
Fernando Henrique Cardoso o governo estabelece uma série de reformas nas políticas
públicas.
Tendo sido extinta a Embrafilme, o segmento audiovisual acaba ficando
‘abandonado’, sem um órgão que regule e auxilie o andamento das atividades. Assim, a
concorrência com as empresas estrangeiras cresce ainda mais, dificultando o
crescimento do setor. Dessa forma, fica evidente a ausência de políticas públicas
direcionadas para o crescimento do cinema nacional.
A partir da carência de uma atividade/entidade que fomentasse o setor cultural é
criada, em 1991, a Lei Rouanet - lei nº 8.313/91- a qual diminui o imposto sobre a renda
de empresas que patrocinem projetos culturais, tanto de pessoa física quanto jurídica.
Com a criação da Lei Rouanet o cinema volta a receber incentivo do Estado,
dando início a uma fase de fomento no mercado cinematográfico brasileiro. Dois anos
depois, em 1993, o Congresso Nacional sanciona a Lei nº 8.685/93, conhecida como Lei
do Audiovisual, mecanismo de incentivo fiscal de fomento específico do setor
audiovisual (SILVA, 2010, p.44). Nesse contexto, a Ancine (Agência Nacional do
Cinema) surge não só como um órgão regulador das atividades cinematográficas, mas
também como uma espécie de fiscal da legislação no mercado que é responsável por
executar a política nacional de fomento ao cinema.
Todavia, a Ancine ainda carrega um fardo contraditório em suas atribuições,
pois ao mesmo tempo em que é aclamada por suas ações de incentivo à
23
produção cinematográfica independente e consequente aumento da produção,
é também criticada por alguns pesquisadores pelos seguintes motivos: pela
forma de incentivo direcionada ao projeto e não à empresa produtora; pelo
intenso processo de internacionalização por meio do qual as majors foram
incentivadas a participar diretamente da produção nacional e da instalação
dos monopólios e oligopólios internacionais nos setores de distribuição e
exibição; pela falta de diálogo com o setor televisivo; e pela incipiente ação
do Estado para a formação de público para o filme nacional. (SILVA, 2010,
p. 46-47).
Apesar da criação das novas leis e da implantação da Ancine, no que diz respeito
ao cenário audiovisual pernambucano, essas medidas não foram tão expressivas.
Mesmo tendo o objetivo de fortalecer o mercado cinematográfico brasileiro, as leis
acabavam por privilegiar as produções mais comerciais de estados como Rio de Janeiro
e São Paulo. Ainda assim, a produção de curtas-metragens em Pernambuco se
intensificou, fato que acabou desencadeando uma pressão dos realizadores a fim de que
fossem desenvolvidas iniciativas que viabilizassem a produção no estado.
Entre as produções de curtas-metragens do período estão: Cachaça (1995),
dirigido por Adelina Pontual; That´s a Lero Lero (1995), dirigido por Lírio Ferreira e
Amim Stepple; Maracatu, Maracatus (1995), dirigido por Marcelo Gomes; Simião
Martiniano – o camelô do cinema (1998), dirigido por Hilton Lacerda e Clara Angélica;
Clandestina Felicidade (1998), dirigido por Beto Normal e Marcelo Gomes; O Pedido
(1999), dirigido por Adelina Pontual, entre outros.
Ainda antes dessa retomada da produção audiovisual no Estado, Marcelo
Gomes, ao retornar da Inglaterra em 1993, funda com Adelina Pontual e
Cláudio Assis, a produtora Parabólica Brasil, que teve um importante papel
articulador nesse cenário de retomada que se delineou em meados dos anos
90 (NOGUEIRA, 2009, pp.39-40).
Toda essa efervescência na cinematografia da região acaba por encontrar na
música novas inspirações estéticas e narrativas através do surgimento do Manguebeat6.
Um estava ligado ao outro. As músicas do Manguebeat serviam de trilhas para alguns
filmes, o audiovisual servia como ferramenta legitimadora através dos videoclipes e,
assim, a produção cultural de Pernambuco volta a sua efervescência dos primeiros
ciclos.
6
Movimento musical fortemente influenciado pelas raízes da cidade – o mangue, o maracatu, a
contemporaneidade da música eletrônica -, com um visual carregado de signos culturais. O movimento
musical buscou no audiovisual pernambucano parcerias para a realização dos videoclipes da banda, tendo
exercido influência em diversas áreas artísticas do estado, como o cinema.
24
O grande marco da produção do grupo foi mesmo o filme Baile Perfumado
(1996), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. Na realização do Baile, todos os que
estiveram envolvidos na produção de curtas na década de 80 voltaram a se
reunir para realizar um filme de longa-metragem em Pernambuco, após um
período de quase duas décadas sem a realização de um filme de longa
duração no Estado (NOGUEIRA, 2009, p. 45).
O Baile Perfumado (1996), dirigido por Lírio Ferreira e Paulo Caldas surge
então como marco na retomada do cinema em Pernambuco.
A retomada na cena audiovisual brasileira veio para trazer de volta as telas
filmes que, após tantos sucessos, chegaram a diminuir fortemente sua produção. O
primeiro presidente eleito de forma democrática, Fernando Collor de Melo, espezinhou
em cima das conquistas do setor cinematográfico. Nos seus dois anos de mandato (foi
deposto por um impeachment em 1992), ele pôs fim a diversos órgãos culturais - como
a Embrafilme - e ainda rebaixou o Ministério da Cultura a Secretaria, inviabilizando
assim a produção no país. No ano de 1992, apenas três filmes de longa-metragem foram
lançados, com menos de 1% de participação no mercado (ALMEIDA E BUTCHER,
2003).
De todo modo, permanece o fato de que as mudanças políticas nacionais
ocasionaram mudanças significativas no panorama cultural e,
consequentemente, cinematográfico do país. Mesmo com poucas cópias e
dificuldades de distribuição, divulgação e exibição, o cinema brasileiro
voltou a despertar a atenção do público e da imprensa. Além dos filmes de
Xuxa e dos Trapalhões, sempre prestigiados pelas massas, outros filmes
brasileiros começaram a passar a casa de 1 milhão de espectadores, como
Carlota Joaquina, O quartrilho, Central do Brasil (NAGIB, 2002, p. 13).
É com o marco cinematográfico da retomada do cinema brasileiro e devido às
solicitações do setor cinematográfico que, paulatinamente, houve uma espécie de
reformulação dos incentivos estatais para o fomento na cena audiovisual do país.
Mesmo tendo sido sancionado em 1993, data de sua criação, o art. 3º da Lei do
Audiovisual (Lei nº 8.685/93) só passa a ganhar força no fomento ao mercado interno
em 2002, após serem feitas alterações na MP 2228-1/01.
O Art. 3º da Lei do Audiovisual incide sobre os créditos e as remessas para o
exterior em decorrência da exploração comercial de obras audiovisuais no território
brasileiro. Ao realizar a remessa (ou o crédito) para o exterior, os detentores dos direitos
de comercialização da(s) obra(s) pagam imposto de renda sobre os valores, segundo a
legislação vigente. Caso o contribuinte faça a opção pelo Art. 3º da Lei do Audiovisual,
há o abatimento de 70% do valor do imposto de renda a pagar para o investimento na
25
coprodução de obras audiovisuais brasileiras de produção independente. Os 30%
restantes do imposto permanecem sendo recolhidos para a Receita Federal.
Caso não realize a opção, a empresa recolhe normalmente 100% do seu imposto
de renda para a Receita Federal (ZAVERUCHA, 1996). Com toda essa movimentação
da indústria em prol da retomada da cena cinematográfica no país o número de filmes
produzidos é crescente. Entre os filmes que marcaram a retomada estão: Carlota
Joaquina, a princesa do Brasil (1995), dirigido por Carla Camurati; O que é isso
companheiro? (1997), dirigido por Bruno Barreto; Central do Brasil (1998), realizando
numa parceria com a França, dirigido por Walter Salles; Bicho de Sete Cabeças (2001),
dirigido por Laís Bodanzky; Abril Despedaçado (2001), dirigido por Walter Salles;
Cidade de Deus (2002), dirigido por Fernando Meirelles; Ônibus 174 (2002), dirigido
por José Padilha; Carandiru (2003), dirigido por Hector Babenco, entre outros.
Os filmes da retomada passam a abordar temáticas mais sociais, onde os
autores/diretores acabam adotando uma linguagem mais intimista, mais autoral, com um
tom mais pessoal, buscando assim uma espécie de “conciliação” da indústria
cinematográfica com o público.
2.3 O CINEMA PERNAMBUCANO DO SÉCULO XXI
Pernambuco sempre esteve presente na cena audiovisual brasileira. Desde os
anos 1920, durante o primeiro ciclo, no estado foram produzidos filmes que possuíam a
temática do cotidiano como uma característica marcante presente na narrativa das
produções, fato que se repete nas obras do século XXI. Esses temas abordados ficam
fora da realidade do circuito comercial, é um cinema mais reflexivo, autoral. Assim,
percebemos um cinema como forma de pensar que tem conquistado um mercado cada
vez maior e vem aumentando o número de suas produções a cada ano.
Como consequência dessa efervescência e da busca por investimentos que
fomentassem a produção cultural do estado - apesar da falta de incentivos conseguiu
produzir filmes que foram destaque no cinema nacional (como exemplo, o filme Baile
Perfumado (1996), dirigido por Lírio Ferreira e Paulo Caldas ganha destaque nacional
com a retomada) - foi criado um fundo que desde 2003 auxilia a produção local, o
Funcultura.
Criado em 2003, o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura é um
mecanismo que foi concebido e instaurado pelo Governo de Pernambuco para unificar
26
as ações de fomento à produção cultural do Estado. O fundo já destinou cerca de R$
159,1 milhões à cultura pernambucana. Em 2012, foram destinados R$ 33,5 milhões
para ações culturais no Estado. O Fundo é um dos únicos mecanismos de financiamento
que os produtores de filmes independentes podem utilizar para viabilizar suas produções
de forma mais contínua e foi implantando devido à substituição do antigo Sistema de
Incentivo à Cultura (SIC). Desde 2007 o fundo criou uma categoria intitulada de
Funcultura Audiovisual, que reserva boa parte de seu montante para a produção de
cinema e TV.
O pessoal do setor reivindicou essa separação, dada à importância que o
cinema sempre teve em Pernambuco. Isso foi aceito pelo governo e hoje
temos um edital com uma característica muito importante, que é a de dar
continuidade aos projetos. Ele permite que a pessoa vá cumprindo etapas de
um mesmo trabalho ao longo dos anos, explica Fernando Duarte, secretário
de cultura do estado em entrevista para a Revista Monet. (Revista Monet,
2013).
Desde 2003 o fundo já financiou de forma parcial ou total cerca de 61 projetos
de filmes longa-metragem. De acordo com o Governo de Pernambuco, em 2012, foram
destinados R$ 11,5 milhões ao Funcultura Audiovisual. Uma característica do fundo
que merece ser frisada é a possibilidade de financiar o projeto por partes. Ao analisar os
dados coletados, é possível perceber que um mesmo filme pede financiamento para
diferentes etapas da sua produção em diferentes edições do edital.
Dos 61 filmes de longa-metragem financiados pelo edital, 16 foram financiados
dessa forma, entre eles: Febre do Rato (2011), dirigido por Cláudio Assis – que
recorreu a 5 edições do fundo; Era uma vez eu, Verônica (2012), dirigido por Marcelo
Gomes – que recorreu a 4 edições do fundo; e O Som ao Redor (2012), dirigido por
Kleber Mendonça Filho – que recorreu a 3 edições do fundo. Este último filme citado,
O Som ao Redor, o primeiro filme de longa-metragem de Kleber Mendonça Filho tem
sido bastante elogiado pela crítica nacional e internacional, aumentando ainda mais a
visibilidade do cinema realizado em Pernambuco.
Mesmo não possuindo um valor para realização das produções compatíveis com
o mercado nacional (que fica em torno de R$ 5 milhões) o cinema B.O (de baixo
orçamento) realizado em Pernambuco vem conquistando seu lugar ao sol. A partir
desses dados é perceptível à continuidade da produção de filmes em Pernambuco
financiados pelo Estado. Produzir não é mais a maior dificuldade do setor. Uma das
27
problemáticas contemporâneas na cinematografia nacional é como dar escoamento aos
filmes produzidos.
O Estado financia filmes que em sua maioria chegam a ser exibidos apenas em
festivais de cinema, mesmo tendo um destaque pelo cunho artístico elevado da obra e
sendo premiado internacionalmente. Pensando nisso, os próximos capítulos terão o
intuito de responder a alguns questionamentos referentes à etapa da distribuição: onde
circulam esses 61 filmes que foram financiados pelo Estado? Como ter acesso a esses
filmes? De que forma o setor cinematográfico e o Estado têm se movimentado para
buscar soluções para a carência desta etapa no processo de um filme?
28
3. DISTRIBUIÇÃO
3.1 A DISTRIBUIÇÃO DE FILMES NO BRASIL DO SÉCULO XXI
A partir das ideias já esboçadas é possível perceber que a distribuição é uma
carência do mercado e esteve presente em todas as épocas do cinema brasileiro. No
início da instauração do cinema no país, existiam grandes dificuldades relacionadas com
a realização e parte técnica do filme que, com o passar dos anos, foi se aperfeiçoando.
Políticas de incentivo foram implantadas a fim de solucionar as carências do
mercado, mas a lacuna no escoamento dos filmes é fato recorrente. Atualmente, a
distribuição é o maior gargalo presente na produção do cinema brasileiro e continua sem
um fomento bem definido por parte do Estado. Fatores como a evolução da tecnologia
facilitaram a produção e podem auxiliar no escoamento dos filmes, facilitando o acesso
do público. Este capítulo pretende identificar o que tem sido feito atualmente para
viabilizar esta etapa fundamental do processo de produção de um filme.
O cinema nacional ainda encontra dificuldades para ser exibido nas grandes
salas de cinema (Multiplexes). A disputa com os blockbusters continua e ainda existem
poucas salas de cinema para abarcar um número cada vez maior de produções. Entre as
maiores dificuldades encontradas para distribuição de um filme está o desejo do
exibidor em lucrar com a fórmula que já funciona, ou seja, dando preferência aos
blockbusters que já foram “testados” em outros mercados e são garantia de
sucesso/lucro. Assim, o calendário para lançamento é “dividido” com os filmes mais
“pedidos”.
Entre os meses de maio e julho, são lançados os blockbusters do verão
norte-americano. Agosto e setembro costumam ser meses não tão ruins para
os filmes brasileiros. Em Outubro e novembro, uma série de festivais e
mostras nas principais cidades do Brasil em geral adia as estreias dos filmes
nacionais; porém, como não necessariamente as salas são dominadas pelo
produto estrangeiro, trata-se de uma época interessante. O período entre
dezembro e fevereiro costuma ser dedicado ao lançamento dos filmes
indicados ao Oscar (BALLERINI, 2012, p. 106).
Ou seja, os lançamentos nacionais podem contar com mais ou menos quatro meses para
lançarem suas produções no mercado. Vários filmes brasileiros estão conseguindo
superar este calendário desfavorável e a obrigação de ser um sucesso de bilheteria no
primeiro fim de semana. Como resultado, essa entrada no mercado tem estimulado o
29
crescimento da produção e, por conseguinte, contribui para o aumento do problema na
distribuição (BALLERINI, 2012).
Cada filme possui sua história, seu público de interesse, os possíveis nichos do
mercado e suas especificidades (filme em grande escala, filme de nicho, filme médio e
filme para exportação). Os filmes realizados no Brasil não possuem grandes orçamentos
para a distribuição como o que acontece com os filmes norte-americanos, assim, as
produtoras vêm pensando em alternativas para distribuir um filme com b.o (baixo
orçamento). A distribuição deve ser pensada de acordo com o produto/filme, mas sem
deixar de ter como premissa a facilitação do acesso do público a um bem cultural.
Existem diversos modelos para distribuição de um filme, entre eles, o cauda
longa (long tail)7 que disponibiliza uma pequena quantidade de cópias do filme no
mercado. Assim, o filme é exibido em diversos festivais, ganhando legitimação do
público e publicidade indireta, e, com isso passa a ser lançado em algumas salas de
cinema específicas para o perfil do público, com poucas cópias. Portanto, percebe-se
que mesmo os filmes de baixo orçamento possuem soluções viáveis para distribuição no
mercado.
O grande gargalo de distribuição não está presente no filme de baixo orçamento
para nichos específicos ou nos filmes tidos como blockbusters que possuem centenas de
cópias para lançamento. O grande problema do distribuidor é o filme médio. O filme
médio tem um orçamento aproximado de US$ 1 milhão no Brasil (BALLERINI, 2012)
e, tem grande dificuldade em gerar lucro, já que não consegue lotar as salas de cinema.
Porém, muitos realizadores e produtores defendem sua inserção no mercado tendo como
premissa o fato de que o cinema nacional possua certa continuidade de produção, uma
espécie de industrialização do mercado.
Como exemplo de um filme médio que fez sucesso no mercado, o longametragem realizado por Kleber Mendonça Filho O som ao redor (2012), com um custo
de produção de aproximadamente R$ 1,8 milhão, o filme poderia ter ficado restrito ao
circuito de exibição alternativo que é direcionado para os cinéfilos. Mas, ganhou
7
Difundido por Chris Anderson, o termo cauda longa é utilizado para definir a estratégia de mercado, que
para obter maior sucesso financeiro, vende um leque amplo de produtos onde cada um deles é vendido em
pequenas quantidades; ao invés de se limitar a venda dos poucos itens populares que possuem maior
atratividade para o mercado. Sua teoria foi difundida através do artigo publicado na revista Wired, em
2004, onde ele exemplificava seu raciocínio a partir do estudo de estratégias de empresas como a
Amazon.com, a Apple (iTunes) e o Netflix. Em seu livro A Cauda Longa – Do mercado de massa para o
mercado de nicho – foi elaborado o conceito.
30
destaque na cena audiovisual e despontou como assunto nos comentários dos
brasileiros, tendo uma campanha de divulgação simples e barata, realizada através das
redes sociais, evidenciando o potencial de filmes médios.
Como citado nos capítulos anteriores, várias foram às tentativas de implantação
de uma distribuidora nacional que pudesse dar escoamento as produções aqui realizadas,
a Embrafilme é um exemplo. Atualmente, o cinema nacional conta com a Riofilme que
surgiu como outra experiência do país possuir uma distribuidora nacional. Porém, a
empresa nunca conseguiu se equiparar com as distribuidoras de blockbusters
internacionais e é vista com certa desconfiança por alguns produtores por possuir uma
política de funcionamento um tanto quanto conturbada. Seu direcionamento no mercado
tem favorecido as produções cariocas e, aliada a falta de recursos, não auxiliou
expressivamente no fomento para a distribuição do cinema brasileiro.
Mesmo com diversas alternativas (leis de incentivo) e tentativas (distribuidoras
únicas) a distribuição continua sendo um gargalo no mercado visto que grande parte dos
filmes não consegue levar as salas nem cerca de dez mil espectadores e, o home vídeo
continua declinando. Esse é o desafio do cenário cinematográfico mundial - com
exceção dos Estados Unidos e da Índia - dar escoamento aos seus filmes. A quantidade
de salas exibidoras também não é suficiente em comparação com a quantidade de
produções realizadas.
É necessário um projeto de reforma e reativação dos cinemas existentes nos
municípios, como no caso do cinema de Olinda e nos cinemas existentes no interior de
Pernambuco. Também é de suma importância que o cinema nacional utilize as diversas
janelas exibidoras que podem auxiliar na distribuição do seu filme e, para isso, ter a
tecnologia e as novas mídias como uma ferramenta auxiliar nessa carência de
escoamento.
Portanto, é necessária a busca continuada por possíveis soluções para essa
carência do mercado. A partir da ideia de que um filme só cumpre seu papel quando
chega ao público, é imprescindível e viável pensar em possíveis caminhos para
distribuir um filme sem ter que recorrer ao monopólio dos grandes estúdios e redes de
distribuição. Essa busca já é latente e presente na indústria, mas precisa de um maior
incentivo e ações fomentadoras (políticas públicas) que regulamentem este tipo de
prática.
31
As iniciativas de distribuição que buscam o auxílio da tecnologia para melhorar
o acesso da produção ao público tendem a crescer cada vez mais devido à forma como a
internet tem se inserido nos hábitos de consumo mundiais.
3.2 AS MÍDIAS E AS NOVAS FORMAS DE DISTRIBUIÇÃO
A internet e as mídias digitais têm assumido um papel cada vez maior na
sociedade contemporânea, inclusive na forma de comunicação e relação social. Também
podemos observar o surgimento de novos hábitos ligados ao consumo de filmes pela
internet que pode se dá de forma gratuita com o acesso aos vídeos online ou através do
download (remunerado ou não).
Entre os dispositivos utilizados para o consumo pela internet, era o computador a
ferramenta mais utilizada para tal atividade, porém com o desenvolvimento contínuo da
tecnologia surgiram os tablets e os smartphones que trouxeram ainda mais mobilidade e
maior tempo de conectividade. O leque de possibilidades de como consumir bens
culturais online é amplo e cada vez menos o espectador tem que sair da sua casa ou de
onde está para poder ver um filme.
Entre as iniciativas corporativas que visam aproveitar o sucesso dessas novas
mídias está à proposta da empresa Netflix8. Revolucionando o mercado do
entretenimento digital e conquistando cada vez mais assinantes, a empresa tem
conquistado um número cada vez maior de adeptos devido à popularização da banda
larga e da facilidade de instalar o aplicativo em diversas plataformas (PCs, consoles,
smartphones, aparelhos de DVD/Blu-ray, ipods, tablets, etc.).
De acordo com texto de Carlo Merigo publicado no site brainstorm9, atualmente
o Netflix possui 30 milhões de assinantes e é responsável por 1/3 do consumo de toda a
banda na América do Norte nos finais de semana, superando HBO, iTunes, YouTube,
entre outros. Para atrair cada vez mais assinantes, a empresa continua investindo alto
8
Fundada em 1997 nos Estados Unidos por dois empresários, a Netflix surgiu como uma espécie de
locadora moderna onde os clientes poderiam locar um filme e ficar o tempo que quisesse com ele, tudo
feito pelos correios e pela internet. Com o sucesso, surgiu o investimento de diversos investidores
querendo investir na empresa (surgiu um mercado propício, ao qual diversos investidores aderiram). Dez
anos depois de entrar no mercado com o home video, a Netflix teve a ideia de liberar parte do conteúdo na
internet, para que seus clientes pudessem assistir através do streaming, de forma instantânea. Assim, a
empresa tem atingido cada vez mais assinantes e inovando o mercado on demand.
32
para conquistar mais clientes e já começou a fazer acordos com estúdios para adquirir
direito à exibição dos blockbusters.
Mas a empresa também aposta em suas próprias produções e vê no mercado
independente características favoráveis para o seu crescimento. A partir desta iniciativa
é possível perceber como a internet está modificando os tradicionais hábitos de
consumo de filmes e promete evoluir cada vez mais nesse sentido, ampliando o leque de
possibilidades para a distribuição.
Na contramão do mercado que busca auxílio da internet para ampliar seu
público, o cinema norte-americano tem utilizado o 3D como uma espécie de isca para
fisgar o espectador de volta as salas de cinema, porém não tem obtido muito êxito neste
sentido. Necessitando de altos investimentos em tecnologia, o cinema em 3D precisa de
aproximadamente US$ 20 milhões a mais no orçamento para ser realizado9.
É comum que o filme seja feito em 2D e depois convertido para 3D. Apesar dos
altos custos, algumas produções se destacaram e conseguiram arrecadações de bilheteria
para compensar o investimento. De acordo com artigo de Meire Kusumoto, Avatar
(2009) dirigido por James Cameron, precisou de US$ 500 milhões para possuir efeitos
especiais que trouxeram a magia de volta ao cinema em 3D e assim, teve a maior
bilheteria da história do cinema, arrecadando o total de US$ 2,7 bilhões de dólares
(sendo 71% da receita oriunda das salas que o exibiam em 3D). Com o sucesso de
Avatar, outros diretores buscaram no cinema em três dimensões o diferencial de seus
projetos e fizeram sucesso.
De acordo com dados do site Box Office Mojo, Alice no País das Maravilhas
(2010) dirigido por Tim Burton teve 70% de sua bilheteria de estreia com a exibição em
3D, faturando US$ 116,1 milhões. Porém, com o passar do tempo temos percebido certa
“saturação tecnológica” no mercado 3D. No Brasil, o 3D ainda é encarado como
novidade e continua atraindo público para as salas, aumentado à renda das sessões que
usam tal tecnologia. De acordo com Patrícia Cotta, gerente da rede Kinoplex, as salas
em 3D foram responsáveis por 24% do público no primeiro semestre de 2013, tendo um
aumento de 2% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Entre os filmes lançados em terceira dimensão este ano já é possível verificar a
queda que a tecnologia vem sofrendo nos EUA: Meu Malvado Favorito 2 (2013),
9
De acordo com o artigo de Kristin Thompson e David Bordwell.
33
dirigido por Chris Renaud e Pierre Coffin, teve apenas 27% da arrecadação oriunda das
salas em 3D no seu fim de semana de estreia; Universidade Monstros (2013), dirigido
por Dan Scanlon, apenas 31% e Guerra Mundial Z dirigido por Marc Foster, teve
apenas 34% dos ingressos comprados para a sessão em 3D. Entre as causas apontadas
para o declínio do consumo de filmes em 3D estão: o pequeno número de salas
equipadas para exibição desse tipo de filme, o uso incômodo dos óculos especiais e os
altos preços dos ingressos.
Numa cadeia produtiva onde os grandes estúdios se destacam no domínio do
mercado, existe de fato pouco espaço para o produtor independente e até mesmo para a
produção nacional que não está inserida no modelo baseado no sucesso massivo de
bilheteria. Um dos grandes entraves na distribuição do cinema nacional é a dificuldade
na divulgação de um filme. As campanhas de marketing possuem valores exorbitantes e
são inviáveis para os filmes detentores de um orçamento mais reduzido. Dessa forma, os
filmes produzidos com orçamento mais enxuto, como no caso dos de Pernambuco,
acabam tendo que buscar novas alternativas e possibilidades de divulgação. Divergentes
desse mercado com apelo mais comercial, cineastas independentes tem buscado auxílio
na tecnologia para distribuição de seus filmes.
Diferente do mercado presente no século XX no qual a indústria do
entretenimento baseava-se em hits e, o que era mais consumido estava associado à
indução do marketing e aliado a falta de alternativas, a economia digital presente no
século XXI tem se mostrado com a mesma intensidade nos nichos, ou seja,
possibilitando o acesso a filmes não tão populares e divulgados pela grande mídia
(ANDERSON, 2006).
As novas mídias trazem ao cinema a possibilidade de não se limitar a um espaço
físico (a exemplo de uma locadora de filmes com espaço limitado nas prateleiras), assim
os filmes que possuem menos apelo comercial podem ser tão atrativos ao grande
público quanto os que estão sendo exibidos nos multiplexes. Algumas distribuidoras têm
utilizado a internet como aliada no lançamento de um filme.
Ferramentas como o itunes, que disponibiliza diversos títulos para o aluguel de
filmes de forma digital (é só fazer o download do arquivo para seu computador, Apple
TV ou ipad/iphone e esse arquivo só é reproduzido em aparelhos que possuem o itunes,
não podendo ser copiado para mídias digitais, como o DVD e o pen drive), já foram
utilizadas na distribuição de um filme antes mesmo dele ser lançado nas salas de
34
cinema. O filme Bachelorette (2012), dirigido por Leslye Headland, é um exemplo de
que o mercado de filmes online está provando que é promissor.
Distribuídos pela Radius-TWC, empresa que tem o objetivo de distribuir filmes
de baixo orçamento de uma nova forma, esses novos projetos de escoamento vêm
modificando a maneira tradicional de distribuição utilizada por Hollywood. O filme
Bachelorette teve sua estreia online e em serviços de vídeos sob demanda um mês antes
de ser exibido nos cinemas, tendo sido um dos filmes mais baixados no itunes após 36
horas de ser lançado.
De acordo com os executivos da Radius10, o filme faturou aproximadamente
US$ 500.000,00 nos três primeiros dias de exibição online, ou seja, praticamente o
mesmo valor que receberia nos três primeiros dias de exibição após lançamento nas
salas de cinema. Essa forma de se distribuir um filme não é inédita, mas costuma ser
mais utilizada por filmes independentes. O sucesso com um filme de maior porte serve
para deixar claro o quão promissor será a parceria entre o mercado audiovisual e as
novas mídias.
De acordo com dados da Accenture de 2011, o brasileiro é o internauta que mais
assiste a filmes online. A partir dessa informação é necessário que haja uma maior
exploração desse nicho promissor para a distribuição. A exibição de filmes online será
ainda maior quando a internet de banda larga se popularizar, tornando-se uma
alternativa para as pessoas que moram em cidades pequenas, sem a presença de salas de
cinema, auxiliando no processo de facilidade de acesso à cultura.
Dados da Ancine de 2012 demonstram que o mercado exibidor cresceu 7% em
2012 (acima dos anos anteriores – com 6,6% em 2011 e 4,5% em 2010), porém a
concentração de salas de cinema é presente nas zonas que possuem grandes populações.
Entre os anos de 2009 a 2012, 27,2% novas salas foram inauguradas nos shoppings
centers, enquanto que as salas de cinema localizadas nos municípios, os chamados
cinemas de rua, reduziram cerca de 14,6%. Dessa forma, a exibição de filmes online
deve ser aperfeiçoada e ter cada vez mais adeptos, procurando assim minimizar o
gargalo presente no setor de distribuição de filmes em diversas camadas sociais.
Ainda que tenhamos visto uma série de resultados positivos com relação à
distribuição de filmes através das mídias digitais, a relutância das empresas em investir
10
Em entrevista realizada pelo The Wall Street Jornal em 24 de agosto de 2012.
35
neste setor é forte. Tendo em vista as peculiaridades do mercado, a alternativa deve ser
pensada e ter um perfil estratégico de lançamento de acordo com o perfil de cada
projeto. Porém, não se pode negar o quanto o mercado de filmes de baixo orçamento
poderá se beneficiar desse tipo de distribuição.
Em relação ao foco do trabalho, a distribuição de filmes no cinema em
Pernambuco, este tipo de iniciativa pode auxiliar ainda mais na visibilidade dos filmes
aqui realizados, devido à característica da produção com baixíssimos orçamentos e um
leque restrito a poucas salas para exibição, tendo a maioria de seus lançamentos feita em
festivais de cinema.
Dados da Ancine de 2012 mostram que 60% das salas de cinema do país
encontram-se localizadas na região sudeste, tornando ainda mais difícil a exibição de
filmes nas tradicionais salas de cinema em outras regiões do país. Dessa forma, o
mercado distribuidor precisa fazer mais uso das mídias digitais para exibição e/ou
comercialização de seus filmes, ampliando e conseguindo chegar ao seu público-alvo de
forma mais direcionada e eficaz.
Além de canal para distribuição efetiva, as mídias digitais possibilitam novos
canais para a divulgação de um filme, a exemplo das redes sociais. Criar uma página e
divulgar informações sobre a produção de um filme, envolver o possível espectador, são
algumas das maneiras utilizadas por algumas distribuidoras na criação da campanha de
marketing mais econômica de um filme. Entre os filmes de longa-metragem que fizeram
uso das redes sociais para a campanha de divulgação está O Som ao Redor (2012),
dirigido por Kleber Mendonça Filho. Além da divulgação simples e a custos baixos,
realizada nas redes sociais, o filme foi disponibilizado no itunes, exibido em diversas
salas de cinema e festivais nacionais e internacionais.
Portanto, além de apontar novos caminhos para a distribuição de filmes, os
chamados blockbusters, as mídias digitais auxiliam também e, principalmente, os filmes
mais independentes que contam com um baixo orçamento para distribuição e poucas
janelas exibidoras que possam lhes auxiliar a obter espaço no mercado.
3.3 A DISTRIBUIÇÃO NO CINEMA INDEPENDENTE
Com o barateamento das tecnologias e o aumento de recursos públicos que
fomentam a produção no país, o cinema independente tem crescido bastante nos últimos
anos, sendo visto por alguns produtores como uma espécie de setor que se desenvolve a
36
caminho da construção de uma indústria cinematográfica, devido à quantidade cada vez
maior de filmes produzidos.
O atual sistema de legitimação e distribuição do cinema com apelo mais
comercial não possui mais o mainstream11 dos espectadores. Desta forma, as portas
ficam cada vez mais abertas para os filmes independentes. Devido à dificuldade de
serem inseridos no sistema tradicional de distribuição (pelas poucas salas de cinema
existentes no país), os filmes independentes encontram janelas exibidoras nos festivais
nacionais e internacionais bem como em cineclubes, além de começarem a fazer um uso
tímido das novas mídias para auxiliar nesse processo, seja na divulgação promocional
do filme através das redes sociais ou exibindo-o online (de forma remunerada ou
gratuita).
Entre as janelas utilizadas como aliadas na distribuição de um filme
independente, destacam-se os festivais de cinema. De acordo com o Guia Kinoforum de
Festivais Audiovisuais referente ao ano de 2012, foram exibidos 276 filmes de longametragem brasileiros em festivais nacionais e internacionais e nas salas de cinema.
Esses dados mostram outra dificuldade na realização de um mapeamento do
número real do público que assiste a filmes nacionais: é a Ancine que realiza os
levantamentos referentes ao mercado cinematográfico brasileiro, contabilizando apenas
os dados sobre filmes exibidos de forma comercial, nas salas de cinema. A Ancine
divulgou em seu levantamento sobre os filmes lançados no ano de 2012, que foram
exibidos 83 longas-metragens nacionais nas salas de cinema do país. Ou seja, é difícil
contabilizar tanto os dados referentes quanto a exibição de filmes que são exibidos de
outras formas.
Além dos festivais e das novas mídias, outro canal de escoamento que tem
auxiliado na facilitação do acesso dos espectadores a filmes que não chegam tão
facilmente às salas de cinema e vem conquistando mérito na formação de público são os
cineclubes.
Os cineclubes são associações sem fins lucrativos que fomentam a atividade
cinematográfica através da exibição, discussão e reflexão sobre o cinema. Em
Pernambuco, a ação cineclubista iniciou-se em meados dos anos de 1940, como as
exibições de filmes nacionais e internacionais que eram realizadas na casa de Pedro
Salgado Filho, chamado de “Cine Siri” (CARVALHO, 2012).
11
Termo em inglês que serve para definir o pensamento ou gosto tido pela maior parte da população.
37
Outras iniciativas foram surgindo ao longo dos anos, como a de Jota Soares com
o “Museu-Cinema” em 1943, mas ainda não era latente a consciência de estar formando
um cineclube. De acordo com Gê Carvalho em seu livro sobre a Memória Cineclubista
de Pernambuco, desde a década de 1950 até 1990 as atividades dos cineclubes passaram
por diversas fases, mas nunca foram totalmente interrompidas. Os cineclubes eram
espaços para os amantes da sétima arte, pessoas interessadas em ver filmes e conversar
sobre eles, era um espaço para quem buscava filmes que estavam à margem do circuito
dos blockbusters exibidos nos cinemas comerciais, os filmes independentes.
O cineclube fortalece o potencial transformador da sociedade que está inserido
no cinema e mais que a exibição de filmes, busca a formação de público. Em 2008, foi
realizado o I Encontro de Cineclubes de Pernambuco, com a participação de 12
cineclubes. A partir desse momento na história cineclubista do Estado, foi criada a
Fepec (Federação Pernambucana de Cineclubes), presidida por Gê Carvalho.
Assim como a efervescência cineclubista vivenciada por Pernambuco, diversos
estados do país buscavam formas de fomentar suas atividades, tendo auxílio em
programas do Governo Federal como o Cine Mais Cultura12. O programa realizou uma
parceria com o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC) a fim de dar
escoamento aos filmes independentes que não encontram espaço nas salas comerciais de
cinema e na TV.
Com o incentivo e a realização de iniciativas como a criação da Fepec, uma
espécie de entidade “reguladora” das atividades no estado, pode-se observar o
crescimento do número de cineclubes na região que, em 2008 (ano que foi criada a
Fepec) contava com 12 cineclubes que realizavam atividades regulares, em fevereiro de
2012 esse número chega á casa dos 60 (CARVALHO, 2012).
Realizadores de Pernambuco já começaram a fazer uso dos cineclubes para
exibição e debate sobre seus filmes, possibilitando o desenvolvimento de ações
integradas (exibição/ distribuição e formação de público). Assim, os cineclubes
tornaram-se mais uma janela para distribuição dos filmes independentes fortalecendo a
distribuição e a formação de público.
12
O Cine Mais Cultura é uma iniciativa do Governo Federal que, através de editais e parcerias diretas,
disponibiliza equipamento digital para projeção audiovisual assim como obras brasileiras presentes no
catálogo da Programadora Brasil e oficinas de capacitação cineclubista, com foco nos locais onde o
acesso a filmes é mais difícil como em periferias de grandes centros urbanos e municípios mais remotos.
38
Tendo em vista o crescimento na produção de filmes independentes, é necessário
que sejam pensadas políticas públicas que auxiliem o escoamento das produções através
de novas iniciativas (janelas).
De acordo com o Ministério da Cultura, apenas 8% do território nacional
possuem salas de cinema comerciais, dificultando assim a distribuição de filmes
independentes através da “fórmula tradicional”. As mídias móveis também são janelas
exibidoras em potencial para os filmes que não possuem um perfil comercial e
encontram dificuldades nos canais tradicionais para distribuição. Mas novas políticas
públicas devem ser pensadas a partir da lacuna na distribuição e na facilitação do acesso
à obra “pública”, valorizando o caráter formador de opinião do cinema.
Além da atenção voltada ao escoamento da crescente produção, precisam ser
pensadas formas de direcionar esforços no sentido de possibilitar a formação de público.
O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, localizado em Recife, já vem realizando ações
visando à formação de público para as obras de fruição audiovisual desde 1998, sendo
uma iniciativa do poder público para a formação de platéia.
Com a exibição de filmes alternativos (independentes) e ingressos com preços
bem mais acessíveis do que nos multiplexes a Fundação tem fomentado o acesso a obras
nacionais e internacionais. Outra possibilidade no incentivo da formação de público
seria a parceria entre setores de escoamento e escolas públicas e privadas, facilitando a
absorção das obras realizadas pelo cinema independente e ampliando a visão sobre um
tipo de cinema diferente do que costumam ter acesso (os blockbusters).
Em virtude do destaque que o cinema brasileiro tem ganhado ao longo dos anos
e em virtude das mudanças tecnológicas que modificam as relações no consumo
audiovisual, a Ancine propôs a construção de medidas que estejam de acordo com a
realidade atual da cinematografia nacional.
Após o levantamento de informações sobre o mercado nacional e de consulta
pública realizada entre os anos de 2012 e início de 2013 com o setor audiovisual e o
público interessado, foi proposto o Plano de Diretrizes e Metas para o audiovisual
(PDM). Apresentando diversas medidas direcionadas a possibilitar novas diretrizes de
produção audiovisual, o plano propõe ações até o ano de 2020.
Entre as diretrizes apontadas, algumas propõe o fomento da produção e
distribuição de obras independentes, como a diretriz 4, que visa dinamizar e diversificar
a produção independente com a integração dos segmentos do mercado audiovisual,
fortalecendo as produtoras e ampliando a circulação de obras nacionais em diversas
39
plataformas. Outra diretriz que propõe o fortalecimento do cinema independente é a
diretriz 6 que fomenta a construção de um ambiente regulatório caracterizado pela
garantia da liberdade de expressão, a defesa da competição, a proteção às minorias, aos
consumidores e aos direitos individuais, além do fortalecimento das empresas
brasileiras e a promoção das obras brasileiras, em especial as independentes, garantindo
a livre circulação das obras e a promoção da diversidade cultural.
O plano possui diretrizes fomentadoras que auxiliarão o desenvolvimento do
cenário audiovisual no país de uma forma mais comercial, buscando a televisão como
janela exibidora de filmes independentes. As medidas propostas pela Ancine mostram
que o governo tem percebido que a forma como a indústria audiovisual funciona está
passando por diversas modificações devido à revolução tecnológica.
Ainda assim, a distribuição continua sendo um dos grandes gargalos presentes
no mercado. Existem poucos locais físicos (como as salas de cinema) para dar
escoamento à quantidade de filmes produzidos nos últimos anos e as novas mídias ainda
são pouco exploradas no sentido de ser um espaço com infinitas possibilidades de se
distribuir um produto audiovisual.
A distribuição é onde de fato vemos surgir à ponte entre a ideia e o espectador
(SILVA, 2010), sendo uma etapa tão importante quanto à produção de um filme. Assim,
no próximo capítulo veremos um pouco da opinião dos produtores que trabalham na
cena Pernambucana, com o intuito de fazer um diagnóstico atual sobre a distribuição
dos filmes realizados no estado e como isso se reflete na cinematografia nacional.
40
4. PRODUZIR PARA DISTRIBUIR:
A
EXPERIÊNCIA
DOS
REALIZADORES
PERNAMBUCANOS NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO
4.1 ENTRANDO NO MERCADO – OS ENTRAVES NA DISTRIBUIÇÃO
Com o intuito de fazer um diagnóstico sobre as formas utilizadas por produtores
audiovisuais pernambucanos para realizar a distribuição de suas obras, este capítulo
pretende apontar como funcionam as práticas de mercado no escoamento do cinema
independente produzido no estado de Pernambuco, tendo em vista o sucesso das
produções contemporâneas.
Devido a falta de informações relativas às práticas de distribuição realizadas
pelo núcleo produtor de audiovisual em Pernambuco, a autora da pesquisa utilizou um
questionário padrão - que foi enviado por email a cerca de 15 produtores do estado
como uma espécie de pesquisa exploratória -, fazendo uso das experiências de cada
entrevistado para coletar informações. Dos 15 produtores, 10 responderam as perguntas
levantadas pelo questionário sobre as dificuldades de distribuição encontradas em
Pernambuco, a utilização ou não das mídias digitais como ferramenta de auxílio ou
como principal fonte de distribuição de um filme, a facilitação de acesso e circulação
como premissa na distribuição de um bem cultural público - o filme - e expuseram sua
opinião sobre a reserva de mercado (cota de tela).
O cinema realizado pelos pernambucanos vem conquistando cada vez mais
prêmios em diversos festivais de cinema pelo país, como aconteceu no último Festival
de Brasília. Das sete produções que estavam concorrendo apenas uma não foi premiada.
No total, 16 prêmios foram distribuídos. Com o auxílio do Funcultura mais de 60 filmes
de longa-metragem foram produzidos no Estado entre os anos de 2003 a 2012.
Vale ressaltar que os filmes aqui realizados na última década expandem os
domínios do cinema independente e possuem as narrativas mais transgressoras do
cinema brasileiro. São obras pessoais, autorais, diferenciadas, de acordo com o perfil de
cada realizador. Entre as razões para a multiplicação de linguagens estéticas que
possibilitam a cada realizador pernambucano um tipo de narrativa diferenciada, está o
auxílio da construção de políticas fomentadoras da atividade no estado, como o Fundo
Pernambucano de Incentivo a Cultura.
No ano de 2012 o fundo investiu cerca de R$ 11,5 milhões na realização de
projetos autorais e desde 2007 conta com o Funcultura Audiovisual, direcionado as
41
grandes demandas de produção no estado. Outra forte característica da cena
pernambucana é os “multiprofissionais” (pessoas que dirigem, editam, fotografam,
produzem, mostrando as facetas da realização de filmes com baixíssimos orçamentos).
Sendo um ponto positivo para a fase da produção, este “multiprofissionalismo”
acaba por reverberar na distribuição, visto que não existem produtoras especializadas
em distribuir filmes no estado e o papel do produtor acaba sendo incorporado também
ao do distribuidor. Abaixo é possível observar os filmes que foram financiados pelo
Funcultura desde sua implantação em 2003 até o ano de 2012:
Quadro 113: Filmes de longa-metragem aprovados no Edital do Programa de Fomento
ao Audiovisual – FUNCULTURA 2003 a 2012
Filme
Produtora/produtor
Ano
aprovação
Arido Movie
Cinema,
aspirinas e
urubus
Beluga Produções LTDA
2003
Não informado
2004
2004
Não informado
Preparação de
filmagem
2005
Não informado
Fase financiada
Deserto Feliz
Baixio das
Bestas
REC Produções
associados Ltda.
B52 Desenvolvimento
Cultural Ltda.
O Grupo Parabólica
Brasil Comunicação
Deserto Feliz
André Rosemberg
2005
Pré-produção
Rec Produtores
Associados Ltda.
2006
Prod./Finalização
2006
Prod./Finalização
2007
Prod. e/ou Finalização
2007
Finalização
2007
Prod. e/ou Finalização
2007
Produção
KFZ-1348
Amigos de
Risco
Cátia Oliveira
Centro de Cultura Luiz
Pernamcubanos
Freire
Carolina Ferreira Gomes
Crítico
Melo e Silva
A Descoberta do Taciana Maria de Fátima
Mundo
Oliveira
A História de
Johnny D´heni de
um Valente
Oliveira Santos
13
Diretor
(a)
Lírio
Ferreira
Marcelo
Gomes
Paulo
Caldas
Cláudio
Assis
Paulo
Caldas
Gabriel
Mascaro e
Marcelo
Pedroso
Daniel
Bandeira
Nilton
Pereira
Não
informado
Taciana
Oliveira
Cláudio
Barroso
Valor (R$)
150.000,00
100.000,00
40.000,00
149.131,75
149.993,95
131.364,96
149.964,93
147.953,09
148.731,63
126.858,54
149.833,32
Fonte: Coordenadoria de Audiovisual – Secretaria de Cultura de Pernambuco – FUNDARPE
42
Quadro 1: Filmes de longa-metragem aprovados no Edital do Programa de Fomento ao
Audiovisual – FUNCULTURA 2003 a 2012
(Continuação)
Filme
Febre do Rato
Era uma vez,
Verônica
Febre do Rato
A História de
um Valente
Deserto Feliz
Ano
aprovação
Fase financiada
2007
Pré-produção
2008
Produção
2008
Produção
Câmara Filmes
2008
Produção
Câmara Filmes
2008
Finalização
Produtora/produtor
O Grupo Parabólica
Brasil Audiovisual
Rec Produtores
Associados Ltda.
O Grupo Parabólica
Brasil Audiovisual
A Descoberta do Taciana Maria de Fátima
Mundo
Oliveira
Rec Produtores
Tatuagem
Associados Ltda.
Amores de
Chumbo
D7 Filmes Ltda. - ME.
Um Lugar ao
Plano 9 Produções
Sol
Audiovisual Ltda.
O Grupo Parabólica
Febre do Rato
Brasil Audiovisual
99 Produção Artísticas
Amor Sujo
Ltda.
Carranca de
Acrílico Azul
Rec Produtores
Piscina
Associados Ltda.
2008
Todas
2008
Pesquisa
2008
Pesquisa
2009
Finalização/Distribuição
2009
Produção
2009
Produção
2009
Finalização
Beluga Produções LTDA
2009
Desen. Projeto
Sangue Azul
Beluga Produções LTDA
Mestres do frevo
- o filme
Ateliê Produções Ltda.
Rec Produtores
Tatuagem
Associados Ltda.
Boa sorte, meu
Orquestra cinema
amor
estúdios Ltda.
2010
Produção
2010
Todas as fases
2010
Produção
2010
Produção
2010
Todas as fases
Sangue Azul
Recordações
Nordestinas
Mariola Filmes e
Produções Ltda.
Diretor
(a)
Cláudio
Assis
Marcelo
Gomes
Cláudio
Assis
Cláudio
Barroso
Paulo
Caldas
Taciana
Oliveira
Hilton
Lacerda
Tuca
Siqueira
Gabriel
Mascaro
Claudio
Assis
Paulo
Caldas
Marcelo
Gomes
Lírio
Ferreira
Lírio
Ferreira
Marcelo
Barreto
Hilton
Lacerda
Daniel
Aragão
Debora
Brennand
e Mariana
Fortes
Valor
(R$)
28.724,84
230.000,00
230.000,00
190.000,00
180.000,00
130.000,00
20.000,00
20.000,00
120.000,00
286.710,00
420.000,00
91.290,00
24.000,00
415.507,20
240.000,00
410.040,00
400.000,00
210.000,00
43
Quadro 1: Filmes de longa-metragem aprovados no Edital do Programa de Fomento ao
Audiovisual – FUNCULTURA 2003 a 2012
(Continuação)
Filme
Febre do Rato
Amor Sujo
Pernamcubanos
Na Quadrada
das águas
perdidas
Viajo porque
preciso, volto
porque te amo
Avenida Brasília
Formosa
Fluxos - da
praieira ao mar
sem fim
O homem
submerso
Valeu boi
Produtora/produtor
O Grupo Parabólica
Brasil Audiovisual
99 Produção Artísticas
Ltda.
Centro de Cultura Luiz
Freire
Antônio MG Carvalho
P.A e cinematográficas
Rec Produtores
Associados Ltda.
Plano 9 Produções
Audiovisual Ltda.
D7 Filmes Ltda. - ME.
Imagem Nordeste
Produção Audiovisual
Cabra Quente Filmes
Ltda.
Ano
aprovação
Fase financiada
2010
Finalização
2010
Finalização
2010
Finalização
2010
Finalização
2010
Distribuição
2010
Distribuição
Marcelo
Gomes
Gabriel
Mascaro
2010
Desenvolvimento
Marcelo
Luna
2010
Desenvolvimento
2010
Desenvolvimento
Big Jato
Cinemascópio Produções
Cinematográficas
AC Cavalcante Serviços
Ltda.
O Grupo Parabólica
Brasil Audiovisual
Papa-figo ataca
em Pernambuco
Athayde de
Amar
Página 21 Comunicação
Ltda.
Luiz Otávio Pereira
Carvalho
Isolados
Leonardo Sette
2011
Desenvolvimento
Ghost Writer
D7 Filmes Ltda. - ME.
2011
Desenvolvimento
Bacurau
Equatorial
Diretor
(a)
Claudio
Assis
Paulo
Caldas
Nilton
Pereira
Marcos
Carvalho e
Wagner
Miranda
Não
informado
Gabriel
Mascaro
2010
Desenvolvimento
2010
Desenvolvimento
2011
Desenvolvimento
2011
Desenvolvimento
2011
Desenvolvimento
Kleber
Mendonça
Camilo
Cavalcante
Claudio
Assis
Homero
Fonseca Antônio
Carrilho
Luiz
Otávio
Leo Sette
Valor (R$)
180.376,00
240.000,00
238.843,20
271.414,18
110.205,06
117.949,83
20.000,00
39.993,01
39.271,84
38.808,00
27.591,68
49.975,38
34.303,50
49.782,60
47.638,50
Léo Falcão 38.556,00
44
Quadro 1: Filmes de longa-metragem aprovados no Edital do Programa de Fomento ao
Audiovisual – FUNCULTURA 2003 a 2012
(Continuação)
Filme
O silêncio das
noites é que tem
sido testemunha
das minhas
amarguras
O País do
Desejo (ex.
Amor Sujo)
Febre do Rato
Pacific
Brennand, o
convidado da
floresta
A Luneta do
Tempo
Produtora/produtor
Ano
aprovação
Petrônio Ferreira de
Lorena
2011
99 Produção Artísticas
Ltda.
O Grupo Parabólica
Brasil Audiovisual
Símio Filmes Ltda.
Mariola Filmes e
Produções Ltda.
MV Produções Artísticas
Ltda.
Cinemascópio Produções
O Som ao Redor
Cinematográficas
Era uma vez,
Rec Produtores
Verônica
Associados Ltda.
O Gigantesco
Imã
Eles Voltam
Antônio MG Carvalho
P.A e cinematográficas
Plano 9 Produções
Audiovisual Ltda.
Jardim Atlântico William Cubitis Capela
A História da
AC Cavalcante Serviços
Eternidade
Ltda.
Renata Belo Pinheiro
Brega Naite
Pinto Ltda.
Fase financiada
Diretor
(a)
Valor
(R$)
Desenvolvimento
Petrônio
de Lorena
24.528,00
2011
Distribuição
2011
Distribuição
2011
Distribuição
2011
Distribuição
2011
Finalização
Paulo
Caldas
Claudio
Assis
Marcelo
Pedroso
Mariana
Fortes
Alceu
Valença
192.000,00
149.965,94
126.809,00
56.218,24
283.682,40
Kleber
Mendonça 147.299,06
Marcelo
Gomes 298.962,00
2011
Finalização
2011
Finalização
2011
Finalização
2011
Finalização
2011
Finalização
2011
Produção
2011
Produção
Petrônio
de Lorena
Marcelo
Lordelo
Juara
Capela
Camilo
Cavalcante
Renata
Pinheiro
Kleber
Mendonça 395.112,00
Permanência
Cinemascópio Produções
Cinematográficas
2011
Produção
Vestido branco,
véu e grinalda
Desvia produções
artísticas e audiovisuais
2012
Desenvolvimento
Não
informado
219.748,90
205.539,74
231.654,82
516.419,25
431.804,77
39.186,00
45
Quadro 1: Filmes de longa-metragem aprovados no Edital do Programa de Fomento ao
Audiovisual – FUNCULTURA 2003 a 2012
(Continuação)
FILME
Produtora/produtor
Ano
aprovação
Fase financiada
Edificante
Lívia de Barros Melo
2012
Desenvolvimento
Piedade
Perdidas Ilusões Ltda.
2012
Desenvolvimento
Azougue
Mônica Soares Cosas
2012
Desenvolvimento
2012
Desenvolvimento
2012
Desenvolvimento
Mariana Porto Queiroz
2012
Desenvolvimento
Não
informado
Não
informado
Não
informado
Desvia produções
artísticas e audiovisuais
2012
Produção
Gabriel
Mascaro
Cinemascópio Produções
Cinematográficas
2012
Produção
Símio Filmes Ltda.
2012
Produção
Lunática filmes Ltda.
2012
Produção
Aroma Filmes
2012
Produção
Big Jato
Perdidas Ilusões Ltda.
2012
Produção
Mães do Pina
2012
Produção
Tatuagem
AL Filmes Ltda.
Rec Produtores
Associados Ltda.
2012
Finalização
Boa sorte, meu
amor
Set Produções
Audiovisuais e
Comunicação EPP-ME
2012
Finalização
Daniel
Aragão
Animal Político
Trincheira Filmes
2012
Finalização
Tião
Acqua Movie
Bette Davis
Eyes
Fragmentos de
um Silêncio
Valeu Boi
Bacurau
Futuro do
Pretérito
Propriedade
Privada
Super Orquestra
Arcoverdense de
Ritmos
Americanos
Chá Cinematográfico
Ltda.
AC Cavalcante Serviços
Ltda.
Diretor
(a)
Valor (R$)
Não
informado 49.968,40
Não
informado 49.975,38
Não
informado 47.817,00
46.841,75
39.984,00
49.665,00
509.517,22
Kleber
Mendonça 350.000,00
Marcelo
Pedroso 415.000,00
Daniel
Bandeira 519.193,05
Renata
Pinheiro
Claudio
Assis
293.000,00
467.000,00
Léo Falcão 172.000,00
Hilton
Lacerda 280.000,00
270.000,00
270.000,00
46
Quadro 1: Filmes de longa-metragem aprovados no Edital do Programa de Fomento ao
Audiovisual – FUNCULTURA 2003 a 2012
(Conclusão)
FILME
Todas as Cores
da Noite
Seu Cavalcanti
Ano
Produtora/produtor
aprovação
Bode Espiatório - Filmes
Ltda.
2012
Plano 9 Produções
Audiovisual Ltda.
2012
Cinemascópio Produções
O Som ao Redor
Cinematográficas
Era uma vez,
Rec Produtores
Verônica
Associados Ltda.
As Hiper
Mulheres
Vídeo nas Aldeias
Fase financiada
Finalização
Finalização
2012
Distribuição
2012
Distribuição
2012
Distribuição
Jardim Atlântico
William Cubitis Capela
2012
Distribuição
Na Quadrada
das águas
perdidas
Candieiro Produções
Audiovisuais LTDA-ME.
2012
Distribuição
Diretor
(a)
Valor (R$)
Não
informado 198.000,00
Leonardo
Lacca
75.000,00
Kleber
Mendonça 180.000,00
Marcelo
Gomes 170.000,00
Leo Sette 170.000,00
Jura
Capela 169.279,20
Marcos
Carvalho e
Wagner
Miranda 118.573,20
A partir da tabela é possível perceber que um mesmo filme foi premiado em
anos e diferentes etapas da sua produção. Os filmes realizados em Pernambuco
costumam ter orçamentos enxutos. Em média, o maior valor das propostas é na fase de
produção, variando entre R$ 130.000,00 e R$ 516.000,00. Dessa forma, alguns projetos
chegam a passar mais de dois anos fazendo a captação de verba para poder dar início as
filmagens.
Além de fomentar o financiamento de obras audiovisuais no estado, o
Funcultura também auxilia na distribuição dos filmes, tendo um edital que não restringe
seu fomento a uma única etapa do filme (como a produção). No que se refere à
distribuição, os valores aprovados nos projetos do fundo que se destinam a etapa variam
em torno de R$ 110.000,00 a R$ 192.000,00. Em entrevista a autora dessa pesquisa, a
47
produtora Mannuela Costa14 fala sobre as dificuldades que tem encontrado para
conseguir distribuir os filmes realizados por sua produtora:
Uma delas são as diversas barreiras para filmes de baixíssimo orçamento e de
distribuição independente no Brasil. Isso se liga à dificuldade de colocar os
filmes nas salas comerciais. Aliado a isso, está o baixo valor destinado à
distribuição nos editais públicos (fomento ou financiamento), comparado ao
incentivo à produção - com os filmes digitais, produzimos mais, mas não
escoamos tanto quanto produzimos. Fora o FSA, só Pernambuco e Rio de
Janeiro (Rio filmes) têm linhas de incentivo a isso. No caso do FSA, há uma
contrapartida financeira necessária e, em geral, apenas filmes mais robustos
(diretores mais conhecidos, produtoras maiores e distribuidoras mais bem
estruturadas) conseguem. Acho que Pernambuco é a única exceção. Outra é a
falta de equipamentos digitais de alta qualidade para projeção desses filmes.
Além disso, que não é novidade, a distribuição em outras janelas (internet e
TV) enfrenta outros desafios. Na internet, o baixo retorno financeiro é um
dos fatores. O outro são as formas não remuneradas de execução da obra. Na
TV a questão começa a mudar de figura diante da Lei 12485. Mas se os
canais não forem "fiscalizados” quanto ao excesso de reprise, só melhora a
situação de alguns (COSTA, 2013).
Os produtores audiovisuais ainda encontram dificuldades para fazer uso das
mídias digitais como ferramentas que auxiliem no escoamento das obras produzidas
devido à falta de regulamentação de um setor que ainda experimenta as possibilidades
futuras na distribuição de filmes. Assim, a utilização da tecnologia como uma janela de
distribuição que está se desenvolvendo e já tem modificado os hábitos de consumo de
bens culturais (da mesma forma que os canais de TV fechada caminham para a inserção
de filmes independentes na sua programação através da Lei da TV Paga), ainda está
dando seus primeiros passos.
De acordo com a Ancine, a Lei nº 12.485 de 12 de setembro de 2011 tem como
proposta a valorização da cultura brasileira e o fomento de novas formas de produção e
circulação de obras audiovisuais produzidas no país, com o intuito de possibilitar a
facilitação ao acesso desses conteúdos por brasileiros. A ideia da lei é proporcionar
condições favoráveis para o crescimento de empreendimentos e assim, a geração de
riqueza interna, tornando o Brasil um dos grandes pólos produtores de audiovisual.
14
Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco e professora efetiva da mesma
universidade dos cursos de cinema, publicidade e radicalismo e sócia da Plano 9 Produções Audiovisuais
onde atua como produtora executiva e diretora de produção.
48
Porém, como mencionado acima no depoimento de Mannuela Costa, caso não
haja a devida fiscalização no funcionamento da lei, ela só continuará beneficiando
alguns casos. É assim que tem funcionado também a distribuição através da internet,
sem regulamentações, com práticas livres que ocorrem de acordo com a proposta da
plataforma/ empresa que é utilizada. A partir do depoimento de Pedro Severien15 fica
ainda mais claro como a falta de empresas especializadas na distribuição e a falta de
regulamentação e políticas de fomento na internet contribuem para dificultar a
distribuição audiovisual:
A produção de um filme requer dedicação e persistência, pois é um processo
longo, muitas vezes um filme passa anos para sair do papel. Para mim, a
maior dificuldade é a falta de profissionais qualificados engajados na
distribuição dos produtos audiovisuais. De certa forma, eu acredito que todo
filme tem um mercado, existe um interesse para quase todo produto seja em
qualquer formato, duração ou tema. A grande charada é: Como colocar esses
produtos no mercado? No Brasil, ainda não temos empresas e profissionais
suficientes trabalhando nisso. Portanto, na maioria dos casos, a
responsabilidade fica com o realizador/diretor/produtor. A própria figura do
produtor ainda é mal resolvida no país, e especialmente no Nordeste. Essa
dinâmica de acúmulo de funções divide a força de distribuição. Não temos
empresas de distribuição de conteúdos instaladas no Estado, e no Brasil esse
ainda é um setor de formação. Há ainda o problema clássico das salas de
cinema que se dedicam especialmente ao cinema americano. Essa faceta do
nosso parque exibidor é apenas a expressão final de um modelo dominado
por interesses econômicos de uma elite, liderada pelas multinacionais da área
de entretenimento. Recentemente, recebi uma proposta da Turner, empresa
que controla uma série de canais de TV a cabo em toda a América Latina. A
proposta de compra de um curta-metragem para exibição exclusiva em todos
os canais, durante 03 anos. O valor proposto foi de R$ 500,00, dos quais R$
100,00 seriam gastos com impostos necessários a exibição do produto. Ou
seja, esse tipo de proposta demonstra o desrespeito desses grupos à produção
nacional (SEVERIEN, 2013).
Além do número reduzido de empresas distribuidoras no país, a maior parte das
empresas do mercado não está interessada na distribuição de filmes independentes, a
maioria existente trabalha com filmes direcionados ao mercado comercial. Em
Pernambuco não existe nenhuma empresa focada na distribuição de obras audiovisuais,
fazendo com que os “multiprofissionais” fiquem encarregados desta função,
dificultando ainda mais o foco na distribuição dos filmes e a otimização do processo.
15
Estudou cinema na Academia de Cinema de Nova Iorque e em Bristol, na Inglaterra, onde fez mestrado
e ainda atua como diretor e produtor de cinema na produtora Orquestra Cinema Estúdios.
49
Para compreender melhor a realidade enfrentada pelos produtores audiovisuais,
no que diz respeito à carência de empresas distribuidoras que atuem com filmes mais
autorais, vemos abaixo a opinião de Rachel Daisy Ellis16:
Acho que distribuição de cinema autoral é um desafio não só no Recife, mas
no Brasil todo, e em muitos lugares do mundo. Existem duas dificuldades
principais, que são interligadas. Uma questão é a formação do público, que
tem uma preferência de consumir produtos hollywoodianos, ou comedias
românticas, ação etc. Outra questão é a falta de espaço em horários nobres
para filmes nacionais e autorais estrangeiros em salas comerciais de cinema.
Na realidade um problema exacerba a outra. Na medida em que não há a
opção de ver filmes nacionais/ autorais estrangeiros, o público não vai
formando um olhar diferente, ao mesmo tempo se não há demanda do
público, não há incentivo para cinemas comerciais colocar estes filmes em
cartaz. Porém, temos experiências de cinemas como a Fundaj de Recife que
desafiam esta lógica. Com um nicho de público (bastante grande) e um preço
mais acessível, um ambiente agradável diferenciado (o café em frente do
cinema), as sessões de filmes nacionais tendem a lotar e há um processo
muito positivo de oferta de filmes nacionais / estrangeiros independentes que
acaba formando um público mais crítico que demanda mais produções
diferenciadas. Acho que as salas de cinema precisam se diversificar (salas
menores, equipamento digital, uma sessão por filme por dia, com mais
variedade de oferta etc.). Colocar cinemas em espaços de cultura, casarões,
ao ar livre etc. Esse tipo de empreendedorismo tem funcionado muito bem no
exterior. Espero ver aqui no Brasil em breve! (ELLIS, 2013).
É cada vez mais perceptível o interesse de diversas camadas sociais da
população brasileira em consumir obras audiovisuais, seja através da internet com o
download de filmes que são disponibilizados gratuitamente ou via on demand como no
caso da assinatura do Netflix, além do mercado clandestino dos filmes piratas.
Medidas de fomento na formação de público também devem ser adotadas a fim
de incentivar o consumo de filmes independentes, auxiliando a expansão do setor. A
quantidade de salas de cinema não é suficiente e assim, grande parte da população
adquiriu o hábito de consumir filmes em sua própria residência, seja através do home
vídeo, dos filmes pirateados, TV fechada ou de forma online. Essa tecnologia que
facilita as práticas de produção de um filme deve ser cada vez mais utilizada na
comercialização e distribuição de filmes.
De acordo com pesquisa realizada pela comScore17, divulgada em fevereiro de
2013, o Brasil é o sétimo país no ranking de usuários que assistiram a conteúdos
16
Mestre em Ciência Social pela London School of Economics, também trabalhou para o Programa das
Nações Unidas de Desenvolvimento na Tailândia e é produtora executiva da Desvia filmes.
50
audiovisuais online, cerca de 43 milhões de pessoas, até dezembro de 2012. A
quantidade de usuários que trocam a TV pela internet é cada vez maior e isso é um fato
que também deve nortear as políticas de incentivo na distribuição de obras audiovisuais
(PDM).
As obras audiovisuais devem ser pensadas como um bem cultural capaz de
interferir na formação de pensamento crítico e político, como também na educação
cultural da população. Portanto, a facilidade no acesso de um filme ao público deve ser
uma das premissas na concepção de uma obra audiovisual.
4.2 A FACILITAÇÃO DO ACESSO A OBRA FÍLMICA
A produção cinematográfica do século XXI no Brasil pode ser vista como uma
cena marcada pela geração de produtores que se preocupam cada vez mais em facilitar o
acesso da população aos bens culturais. Mesmo com a disseminação da cultura digital,
ainda é necessário que haja esforços para um investimento na regulamentação de
políticas públicas que fomentem este tipo de prática do setor. A internet, que pode
auxiliar no escoamento das obras audiovisuais que não conseguem se inserir nas janelas
exibidoras tradicionais, ainda é vista como um canal alternativo de escoamento das
produções realizadas no país. O cinema continua sendo um lugar das minorias. De
acordo com a Unesco, uma pequena parcela dos brasileiros frequenta o cinema e essa
frequência é, em média, uma vez por ano. Grande parte dos municípios não possui salas
de cinema, teatro, museus e espaços culturais multiuso. Além de poucos espaços, o alto
valor dos ingressos também diminui a possibilidade de famílias com rendas baixas
frequentarem esses ambientes de circulação da cultura. Sendo um direito que deve ser
garantido a todos os cidadãos brasileiros, o acesso à produção de bens culturais
produzidos no país deve ser um dos pontos pensados na distribuição de um filme,
independente do público alvo de interesse.
O direito de participar da vida cultural implica uma infraestrutura
institucional para promover a participação popular da vida cultural e o acesso
a ela, que inclui bens, instituições e atividades culturais, devendo ser
promovido nas escolas e na educação profissional. Exemplos de obrigações
17
A comScore é uma empresa responsável pelo mapeamento das atividades das pessoas pelo universo
digital da internet, fornecendo dados de marketing e serviços para diversas empresas da internet. Atuante
em regiões como a América do Norte, América Latina, Europa e Ásia.
51
dos Estados são: garantir o acesso financeiro a espetáculos, teatro, cinema,
eventos esportivos e outras atividades culturais a todos os segmentos da
população; expandir o acesso ao patrimônio cultural da humanidade,
inclusive por meio de novas tecnologias da informação, como a internet;
estimular a participação das crianças na vida cultural, inclusive de crianças
de famílias mais pobres e filhos de migrantes e refugiados; e eliminar as
barreiras de comunicação assim como as físicas e sociais que afastam idosos
e pessoas com deficiências da participação plena da vida cultural. Ademais,
os Estados devem tomar medidas para proteger a diversidade cultural,
promover a conscientização do patrimônio cultural das minorias étnicas,
religiosas ou linguísticas e das comunidades indígenas, criando condições
favoráveis para que elas preservem, desenvolvam, expressem e disseminem
sua identidade, história, cultura, língua, tradições e costumes. (Revista
Observatório Itaú Cultural, 2011, pp. 48-58).
A partir desse contexto fica ainda mais evidente a necessidade da implantação de
políticas públicas bem definidas a fim de regulamentar um mercado promissor, através
de medidas que regulamentem e incentivem a distribuição do filme independente no
país sem a intermediação das grandes empresas e dos seus interesses comerciais na
mediação do consumo.
O Estado precisa fomentar o consumo de cultura não comercial e pensar em
espaços alternativos que possam dar escoamento a esse tipo de produção. Entre os
espaços alternativos que visam auxiliar na fruição do contato do público com o filme
destacam-se os cineclubes e os festivais de cinema. Para Camilo Cavalcante18:
Os festivais e mostras são fundamentais para fomentar a circulação das obras
e proporcionar o encontro entre os artistas e o público, promovendo o debate
dos filmes e discussões a respeito de estética, política, economia e alteridade
dentro do processo criativo audiovisual. Esses encontros enriquecem o
público e também os realizadores, através dessa troca pulsante de ideias e
informações (CAVALCANTE, 2013).
Os festivais de cinema são uma das janelas exibidoras que auxiliam na
distribuição dos filmes e facilitam o acesso do público através de ingressos mais baratos
ou até mesmo de forma gratuita. Essa é uma ação que reverbera diretamente na
formação de público e promove o contato com obras que não são exibidas em salas de
cinema.
De acordo com o guia de festivais audiovisuais Kinoforum, o mercado exibidor
brasileiro conta atualmente com cerca de 150 festivais nacionais e 120 festivais
18
Formado em jornalismo pela UFPE, atua como diretor, produtor e roteirista e está no comando da
produtora Aurora Cinema.
52
internacionais. No Brasil, os festivais atraem aproximadamente 2,5 milhões de pessoas
(2012). Além dos festivais de cinema, os cineclubes também possuem forte influência
no circuito exibidor alternativo e favorecem a formação de público para o consumo de
filmes independentes. Atualmente, existem 454 cineclubes em funcionamento no país e
a maior parte está concentrado na região nordeste (187).19 O movimento cineclubista é
crescente e cada vez mais utilizado pelos produtores como um canal de distribuição de
filmes.
Além desses espaços alternativos já existentes, alguns cineastas têm apostado em
novas formas de distribuição com o auxílio das novas tecnologias. A frente da produtora
Símio Filmes, Marcelo Pedroso20 relata sua experiência:
Nós temos a experiência do Vurto, site fundado por mim e Felipe Peres
Calheiros. É um espaço para filmes que produzimos especificamente para
internet: filmes curtos, que tentam resolver questões narrativas de forma mais
sugerida, embora tentando manter um teor impactante. Mas fora isso,
também tenho usado de outros meios para filmes feitos para o cinema
mesmo. Por exemplo: Balsa é um média-metragem que teve lançamento com
debate em cinco escolas da RMR. E depois passou a circular em cineclubes,
ficou disponível para download, foi lançado em camelôs etc. Você pode
acompanhar
um
pouco
desse
lançamento
pelo
site
http://docbalsa.blogspot.com.br/ Já com o longa-metragem Pacific,
obtivemos um recurso do Governo do Estado para distribuição. O filme foi
lançado em salas de 28 capitais brasileiras através da distribuidora Vitrine
Filmes. Paralelamente, fizemos uma tiragem de 5 mil DVDs que foram
encartados gratuitamente na revista Continente. E, finalmente, o filme teve
uma tiragem de mil DVDs dentro de um encarte especial, que continha o que
chamamos de material pedagógico. Trata-se de um livreto com cinco textos
produzidos por pensadores de diferentes áreas que debatiam o filme a partir
de cinco perspectivas diferentes. Esse material foi distribuído gratuitamente
em cineclubes, pontos de cultura e faculdades de todo o Brasil (PEDROSO,
2013).
Inciativas como essa mostram seus resultados em longo prazo, mas devem ser pensadas
e exploradas por produtores e gestores culturais a fim de estimular novas possibilidades
na difusão de obras e na formação de público.
Além do fomento a medidas de facilitação ao acesso de obras audiovisuais
através da distribuição por novos mecanismos (ex. Lei da TV Paga), o Estado deve
propor a fiscalização dos mecanismos vigentes já existentes nas práticas culturais do
país, a exemplo da cota de tela.
19
20
Dados do Conselho Nacional de Cineclubes - cineclubes por estado e região.
Mestrando em Comunicação pela UFPE e realizador de filmes.
53
4.3 DISTRIBUIÇÃO E A RESERVA DE MERCADO
Há quase 80 anos atuando como fomentadora da exibição de filmes brasileiros,
em vigor desde 1934, a cota de tela é à medida que torna obrigatória a exibição de
longas-metragens nacionais na programação de salas comerciais, auxiliando assim na
distribuição de obras nacionais. Critérios como a diversidade das obras exibidas e dos
dias para o cumprimento da cota são definidos através de um decreto que possui votação
anual. Outras medidas responsáveis pelo funcionamento e fiscalização da cota são
desenvolvidas atualmente pela Ancine, por meio da instrução normativa número
67/2007. Só os cinemas com salas comerciais são obrigados a cumprir a cota de tela,
que leva em conta a quantidade de salas que o estabelecimento exibidor possui para
determinar a quantidade de dias de obrigatoriedade.
Sendo um mecanismo que tem o propósito de garantir uma reserva de mercado
ao produto nacional, devido a forte presença dos filmes blockbusters nas salas de
cinema, a medida possui opiniões divergentes sobre o seu funcionamento. Para
Alexandre Nogueira21, o mau funcionamento do fomento ocorre em função de má
formação de público no país, o que podemos perceber, quando declara:
Sou contra qualquer tipo de reserva de mercado, de cota em universidades, de
"peixada", etc... Sou e sempre serei a favor do mérito. As pessoas tem o livre
arbítrio para escolher o que querem ver, por mais que queiram ver péssimos
filmes americanos. Se um filme nacional faz sucesso e tem mais bilheteria
que a média dos filmes, ele tem seus méritos, mesmo que seja perceber que o
público brasileiro gosta de uma comédia rasteira. Não podemos entrar no
mérito do nível intelectual e cultural deste público, pois teríamos que
começar a discutir outros assuntos mais profundos como a qualidade da
educação no nosso país, a quantidade de livros lidos por pessoa/ano, e tantas
outras questões que teriam que ser discutidas antes de exigir que as pessoas
prefiram dar audiência para um filme mais profundo a um filme sem muito
conteúdo. Se nosso público é assim, é porque ele foi formado assim durante
décadas e tem que rolar uma transformação gigantesca na formação deste
público para que ele passe a escolher um filme em detrimento de outro.
Quando isso ocorrer, as distribuidoras podem optar por distribuírem um bom
filme nacional a um filme nacional ou americano ruim (NOGUEIRA, 2013).
O domínio de mercado das grandes empresas também é uma brecha que dificulta
a distribuição do filme nacional através das salas de cinema comercial. Esse domínio
21
Produtor da D7 Filmes, atuante na produção de filmes, TV e publicidade.
54
acaba encontrando apoio na própria falha de fiscalização da cota, que é realizada por
meio de um relatório de exibição produzido pelas próprias exibidoras e enviado ao
Sistema de Cota de Tela22 tendo as informações disponibilizadas no site da Ancine23.
Entre as premissas que definem se um filme de longa-metragem encontra-se apto
ao cumprimento da cota estão: possuir o certificado de produto brasileiro (CPB) – que
só pode ser requerido por uma pessoa jurídica com registro na Ancine -, o certificado de
registro de título atualizado e válido para a exibição em salas comerciais e não ter sido
exibido em meios eletrônicos antes da exibição no cinema.
Apesar do intuito de facilitar a entrada do filme nacional no próprio mercado
local, a cota de tela ainda é insuficiente para a distribuição de obras cada vez mais
diversificadas e numerosas. Além de ser insuficiente, também é proibitiva no uso das
mídias digitais, tendo a premissa do ineditismo, utilizado como atrativo no marketing
das campanhas de propaganda do lançamento de um filme, ou seja, acaba beneficiando
filmes que já possuem as características desse mercado. Para a produtora Mannuela
Costa, a cota de tela:
É necessária e se configura como uma "barreira à entrada" de filmes não
brasileiros. Porém, se a cota de tela não for fiscalizada no que tange a
diversidade de títulos, um filme de grande orçamento, que é lançado com 300
cópias, além das digitais, é pouco eficiente (COSTA, 2013).
Em 2013, o decreto que prevê a quantidade de dias de exibição obrigatória dos
filmes brasileiros ficou estabelecida na cota mínima entre 28 e 63 dias (de acordo com o
número de salas do exibidor), tentando exibir um mínimo de 3 e o máximo de 14 filmes
nacionais diferentes. Esses números foram estabelecidos pela Presidência da República
e pelo Ministério da Cultura, a partir de um relatório técnico sobre o mercado brasileiro
realizado pela Ancine.
Como consequência da fragilidade presente na fiscalização de leis e medidas que
incentivam a produção cinematográfica nacional, a qual ainda prestigia os filmes com
apelo mais comercial, oriundos da indústria cinematográfica, baseada na narrativa das
novelas da Globo Filmes, os filmes independentes continuam buscando espaço para
22
23
Pelo site http://sif.ancine.gov.br
www.ancine.gov.br
55
serem exibidos. Em sugestão a política de reserva realizada no país, Renata Pinheiro 24
conclui:
Talvez devesse existir uma cláusula que obrigasse o cinema a exibir filmes de
todos os gêneros. Por que não autoral ou filme de arte? Isso poderia
minimizar a tendência de exibição das comédias. Não que tenha nada contra
comédias, mas diante desta forte tendência poderia ser um fator de
transformação (PINHEIRO, 2013).
A frente do lançamento do seu primeiro longa-metragem no mercado exibidor Rio Doce/ CDU (2013) - Adelina Pontual25 revela em entrevista para esta pesquisa que
vê a cota de tela de uma forma positiva e acha que ela deve ser mantida. Fica evidente
que a medida, pelo menos em teoria, obriga a exibição de uma cota mínima de filmes
brasileiros nas salas comerciais, a fim de proteger as produções nacionais, mas esse
incentivo deve estar voltado aos filmes que encontram maior barreira nesse nicho, os
independentes. Para Pedro Severien:
[...] a política brasileira de cota de tela ainda é tímida. Os países onde o
cinema nacional apresenta bons números de público para produções
nacionais são justamente aqueles que têm uma política de cota de tela mais
agressiva. A inclusão do tema da produção independente na nova lei da TV a
cabo é interessante, porém, isso deveria se estender aos canais de TV aberta.
Acredito que só assim teríamos um novo ciclo de diálogo entre público e a
produção. Incluo o tema das salas públicas de cinema aqui nessa resposta
também. Como disse, as poucas salas que ainda existem nas capitais e nos
municípios do interior do Brasil precisam estar ativas, exibindo filmes e
convidando os espectadores. Projetos que levam ao cinema alunos das
escolas de ensino médio, públicas e privadas, para assistirem filmes nacionais
são essenciais. Deveriam ser ampliados por todos os Governos em todas as
esferas. Há um projeto em andamento em nível nacional, que prevê a
contabilização de público em locais de exibição não comerciais, como
cineclubes, bibliotecas, associações, etc. Hoje, só é contabilizado o público
em salas de cinema comerciais. Isso gera uma distorção, pois a maioria dos
municípios não tem salas comerciais, no entanto, existem outros tipos de
exibição. A ideia é fortalecer esse circuito alternativo. Eu apoio essa ideia.
(SEVERIEN, 2013).
24
Está à frente da produção na Aroma Filmes, trabalhou em curtas premiados como SuperBarroco (2008)
e Praça Walt Disney (2011) e se prepara para o lançamento do seu próximo longa em 2014 - Amor,
Plástico e Barulho
25
Produtora do Chá Cinematográfico, diretora, roteirista e continuísta
56
Assim, fica evidente a necessidade de serem adotadas mais medidas que
fomentem a distribuição de filmes independentes, visando o fortalecimento do setor e a
continuidade no recente sucesso que os filmes independentes produzidos no estado de
Pernambuco tem feito internacionalmente.
O leque de consumo de obras audiovisuais deve ser ampliado tendo em vista a
diversidade de gêneros e estéticas presentes na cinematografia nacional. O acesso aos
filmes, o incentivo na formação de público e a utilização da tecnologia em favor da
expansão e disseminação na distribuição de filmes independentes devem ser vistos
como quesitos importantes na criação e atualização de políticas públicas audiovisuais.
A reserva de mercado foi imprescindível para que a produção nacional pudesse
estar inserida no seu próprio mercado exibidor, estabelecendo “limites” para a
dominação do cinema norte-americano. Porém, parece fazer uso de medidas ditadas
pelos interesses comerciais de empresas que dominam as regras do mercado comercial,
favorecendo apenas uma parte das obras produzidas.
Medidas que tem o caráter de democratização cultural não podem legitimar um
tipo de filme em detrimento de outro, devendo fazer uso de critérios baseados na
dificuldade de distribuição de uma obra, tendo em vista a facilitação do acesso de um
bem cultural. Esse é o papel da distribuição: fazer com que o filme seja contemplado
pelo maior número de pessoas possível.
57
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, a distribuição de obras audiovisuais continua sendo um gargalo no
mercado, principalmente para os filmes independentes. A partir do desenvolvimento
inicial no conteúdo histórico, é possível perceber que a carência de ações voltadas à
distribuição do produto audiovisual nacional está presente desde o início das produções,
ou seja, desde a década de 1920. Algumas práticas de fomento para o escoamento das
obras produzidas e órgãos que fomentassem e fiscalizassem as produções foram
instauradas, a exemplo da cota de tela, lei do audiovisual, lei rouanet, INC, Vera Cruz,
Embrafilme, Ancine, as quais possibilitaram um número cada vez maior de filmes no
mercado nacional. Porém, a disputa com os filmes blockbusters americanos sempre
deixou o produto nacional à margem do mercado exibidor tradicional (salas de cinema).
Com o recente desenvolvimento das novas tecnologias, as câmeras digitais de
alta resolução e outros equipamentos de filmagem profissional ficaram mais acessíveis,
o que barateou o processo de produção de um filme, fazendo com que o número de
produções crescesse. Além das câmeras digitais, uma série de novas mídias foi se
incorporando aos hábitos de consumo da população (smartphones, tablets, notebooks),
auxiliando o consumo de vídeos através da internet.
Beneficiados pela acessibilidade de equipamentos cinematográficos digitais, os
filmes independentes estão invadindo o mercado e têm sido visto por alguns produtores
como a nova indústria do cinema devido à continuidade na produção das obras. Como
exemplo dessa efervescência no país, Pernambuco tem conquistado destaque no
mercado nacional e internacional com o lançamento de suas últimas produções: O Som
ao Redor (2012), dirigido por Kleber Mendonça Filho; Era uma vez eu, Verônica
(2012), dirigido por Marcelo Gomes; Eles Voltam (2012), dirigido por Marcelo
Lordello; e Tatuagem (2013), dirigido por Hilton Lacerda.
A cena pernambucana foi o recorte utilizado para compreender melhor a
distribuição de filmes independentes, já que além da safra ter tido forte destaque no
último ano, Pernambuco é um dos únicos estados que possui um fundo de apoio
direcionado as produções cinematográficas “locais” - o outro é o Rio de Janeiro -:
Funcultura.
A partir da pesquisa do mercado, fazendo uso de informações relativas aos
filmes que já foram financiados pelo Fundo e coletando a opinião e experiência dos
produtores audiovisuais pernambucanos, foi realizado um diagnóstico da atual situação
58
da distribuição de obras no cinema independente. A disseminação tecnológica acabou
aumentando o número de obras cinematográficas realizadas no país. Esse crescimento
facilitado pelos equipamentos digitais tem feito com que alguns investidores, cientes do
potencial da internet como uma grande janela de exibição audiovisual, já comecem a
testar esse novo mercado, a exemplo da Netflix e do Itunes, que disponibilizam filmes e
músicas através de pagamento online.
Apesar de trazer facilidade de acesso a um bem cultural – devido à
popularização do acesso a internet – as mídias digitais ainda são utilizadas de forma
tímida, longe de aproveitar o potencial de um nicho ainda em desenvolvimento. A falta
de mecanismos fiscalizadores das medidas e leis presentes no fomento do cinema - a
exemplo da cota de tela -, bem como as práticas realizadas por empresas na distribuição
de filmes online, ainda dificultam o escoamento das obras.
A escassez de políticas públicas voltadas para o gargalo da distribuição também
contribui para o sufocamento do setor, mas já começa a dar seus primeiros passos com a
implantação de medidas como a lei da TV paga. Outro fator diagnosticado como
“bloqueio” do consumo de filmes independentes é a carência de ações voltadas à
formação de público. Apesar de o cinema ser uma indústria, o filme é uma obra cultural
e, como tal, deve ter como principal propósito o acesso do público a obra.
Dessa forma é importante dar continuidade a essa pesquisa tendo em vista a
modificação dos hábitos de consumo de cultura em virtude das novas tecnologias.
Assim como no cinema, outros segmentos artísticos também encontram dificuldade em
dar escoamento as suas produções (a exemplo da fotografia) devido a número de
produções cada vez maior que não encontra espaço nas janelas exibidoras tradicionais.
Por isso, a autora desta pesquisa, pretende continua-la no mestrado, tendo em
vista a necessidade de ampliar o estudo a cerca desta temática que é o gargalo presente
no mercado contemporâneo de consumo cultural: a distribuição.
Destarte, a facilitação de acesso a um bem cultural deve ser estimulada e
fomentada, devendo ganhar novas perspectivas com a utilização da internet como uma
estante capaz de expor/vender um número infindável de obras culturais e audiovisuais.
59
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64
7. APÊNDICE
Abaixo seguem as respostas enviadas pelos 10 produtores audiovisuais, atuantes
no mercado cinematográfico pernambucano, à pesquisa realizada através da elaboração
de um questionário padrão que foi enviado por e-mail entre junho e julho do ano 2013.
As perguntas foram elaboradas no intuito de saber a opinião e as práticas empregadas
pelos produtores na distribuição de suas obras e a opinião sobre questões que marcam a
cinematografia nacional e/ou local. Logo abaixo seguem as perguntas e em seguida as
respostas, organizadas a partir da ordem alfabética do nome dos produtores:
1. O cinema realizado em Pernambuco ganhou destaque com os ciclos e, assim como
no cinema nacional, enfrentou problemas devido à falta de incentivos e mão de obra
especializada para realização dos filmes. Com o passar dos anos a mão de obra técnica
foi aperfeiçoando-se e o acesso à tecnologia digital facilitou o processo de produção de
um filme. Em 2003, com a implantação do Funcultura, o Estado passa a auxiliar no
financiamento
dos
filmes,
fato
que
auxilia
o
crescimento
de
produções
cinematográficas. Atualmente, o setor audiovisual se depara com um gargalo em uma
das etapas da cadeia produtiva: a distribuição. Que dificuldades você tem encontrado
para a distribuição de filmes?
2. Com o avanço da tecnologia, além da facilidade de câmeras que filmem em boa
qualidade com um preço mais baixo, fato que alavancou e estimulou as produções
cinematográficas no século XXI, existem novas janelas de exibição para produtos
audiovisuais através da internet, facilitados pela disseminação de aparelhos eletrônicos
(notebooks, smartphones, tablets, etc.). Você faz uso das novas tecnologias para
distribuição dos filmes? Se sim, que tipo de tecnologia/suporte você utiliza e como
utiliza?
3. De que forma você percebe que o setor cinematográfico tem se movimentado para
facilitar o acesso do público aos filmes?
4. Pernambuco tem ganhado um destaque cada vez maior com suas produções
cinematográficas. Diversos filmes foram premiados em festivais, tanto nacionais quanto
internacionais, abrindo novas partes para o cinema realizado no estado. Porém, são
65
poucos os filmes que conseguem uma sala no cinema (Multiplexes) para serem exibidos
a um grande público, encontrando espaço apenas em cinemas como o da Fundação
Joaquim Nabuco e os festivais de audiovisual. Tendo como premissa a facilitação do
acesso de um bem cultural ao público, qual a forma que você, como produtor
cultural/audiovisual local vê para que essa lacuna entre filme x acesso do público possa
ser solucionada?
5. Qual sua opinião sobre a reserva de mercado (obrigatoriedade de filmes brasileiros
ocuparem as salas de cinema por certo número de dias por ano). Você tem alguma
sugestão alternativa para essa política?
Adelina Pontual, Chá Cinematográfico.
1. A - A distribuição tem sido um dos grandes problemas mesmo. Como sabemos, o
mercado é monopolizado pelas produções norte-americanas. Algumas produções
brasileiras, em geral, comédias atreladas à Globo Filmes, têm conseguido furar o
bloqueio. Mas, para filmes independentes a coisa fica realmente difícil. São poucos
distribuidores que investem nesse tipo de filme e o circuito de exibição se fecha pra
eles. Agora mesmo, estou lançando meu primeiro longa, o documentário Rio
Doce/CDU ainda sem distribuidor.
2. A - Ainda não fiz uso de nenhuma dessas novas plataformas. Mas, pretendo dar uma
estudada nessas possiblidades como alternativa para a distribuição do filme.
3. A - Não saberia te responder. Só agora estou entrando neste universo de ter que
distribuir um longa-metragem. Mas, acho que um caminho pode ser esse das novas
plataformas.
4. A - No caso do meu filme, nunca imaginei ele numa sala de multiplex. Acho que
temos que ter clareza do perfil de seu filme e buscar quais os caminhos mais adequados
para que ele chegue ao público. No caso do Rio Doce/CDU, um filme "de rua" em sua
essência, vamos fazer exibições itinerantes de rua, seguindo o mesmo itinerário da linha
de ônibus que dá título ao filme. Na sala de cinema, aqui no Recife, a que mais vejo
adequada é a do Cinema São Luís, no centro da cidade. Também, distribuiremos o filme
entre os cineclubes daqui e de outros estados.
66
5. A - Acho correta e deve ser mantida.
Alexandre Nogueira, D7 Filmes.
1. ALE - Na verdade, acho que dificilmente você quebra este ciclo rapidamente. O
normal é que você lance um filme em festivais e dependendo da repercussão que este
filme alcance no circuito você seja procurado por distribuidores, principalmente se é de
uma produtora nova, ou de um diretor pouco conhecido ainda. Se o diretor já
estabeleceu seu nome, principalmente nos circuitos, costuma ficar mais fácil, por conta
de um portfólio que já o credencia para um possível interesse por parte de uma
distribuidora. O que precisa ficar claro é que as distribuidoras visam, primeiramente o
lucro ao escolher um ou outro filme para distribuir. Não basta ser um belo filme que
tenha pouco apelo de público. Por mais autoral e interessante que o filme possa ser, ele
não desperta interesse junto aos distribuidores se não agregar um viés de possível
bilheteria positiva.
2. ALE - Com relação aos produtos de conteúdo, ainda não, simplesmente por estar em
um período de entressafra e existe sempre, principalmente por vontade dos diretores, um
desejo de cumprir uma agenda de festivais antes de utilizar estes outros meios. A não
ser que o produto seja pensado, desde o início, com outro fim, mais comercial, como o
exemplo meio atravessado de "Porta dos Fundos", que mesmo não parecendo, tinha um
fundo (ou interesse) comercial desde o início. Usamos o expediente de facebook, vimeo
e youtube para um produto não cinematográfico, que passamos a oferecer no ano
passado. Filmes de casamento. O primeiro postado na internet teve mais de 100 mil
visualizações em menos de um mês no ar, e nos trás um retorno ainda hoje, quase um
ano depois de postado, de pelo menos 5 pedidos de orçamento por semana.
3. ALE - Não acho que haja um movimento consistente neste sentido. Canais como
"filmes brasileiros" no youtube, facilitam o acesso aos filmes nacionais, mas é também
uma forma "atravessada" de distribuição. A distribuição será sempre ditada pelo
público. Cineastas renomados e excelentes como Woody Allen têm aceitado produzir
seus filmes em cidades diversas do mundo, em parte pela dificuldade em encontrar
patrocinadores / distribuidores em seu próprio país interessados em custear seus filmes.
67
Isso é uma clara indicação de que o mercado (as vezes infelizmente) é quem dita as
regras e opções das distribuidoras.
4. ALE - Como já coloquei em parte acima, acho que este é um problema que sempre
existiu e sempre existirá. Alfred Hitchcock, por exemplo, teve imensa dificuldade para
realizar seus últimos filmes, assim como Akira Kurosawa. Hitchcock chegou a bancar
filmes do próprio bolso. Se você não tiver um produtor que acredite que tal filme pode
dar lucro, por mais que isso pareça vil, ele não vai apostar no filme, e consequentemente
teremos muito menos obras-primas para assistir. Prêmios em festivais não são
credenciais suficientes de que um filme será um sucesso. É uma credencial de crítica,
talvez, mas está longe de ser uma credencial de público. E o que move as distribuidores
é o fator público. Temos uma infinidade de filmes pernambucanos super premiados em
festivais nacionais e internacionais, mas temos pouquíssimos filmes pernambucanos
realmente bons e relevantes para a filmografia nacional ou mundial. E mesmo os que
são relevantes cinematograficamente, podem não ser junto as distribuidoras que visam
sempre, em última instância, o lucro. Como deixar esta "balança" equilibrada? Se
descobrir, me avise, por favor.
5. ALE - Sou contra qualquer tipo de reserva de mercado, de cota em universidades, de
"peixada", etc.. Sou e sempre serei a favor do mérito. As pessoas tem o livre arbítrio
para escolher o que querem ver, por mais que queiram ver péssimos filmes americanos.
Se um filme nacional faz sucesso, e tem mais bilheteria que a média dos filmes ele tem
seus méritos, mesmo que seja perceber que o público brasileiro gosta de uma comédia
rasteira. Não podemos entrar no mérito do nível intelectual e cultural deste público, pois
teríamos que começar a discutir outros assuntos mais profundos como a qualidade da
educação no nosso país, a quantidade de livros lidos por pessoa/ano, e tantas outras
questões que teriam que ser discutidas antes de exigir que as pessoas prefiram dar
audiência para um filme mais profundo a um filme sem muito conteúdo. Se nosso
público é assim, é porque ele foi formado assim durante décadas e tem que rolar uma
transformação gigantesca na formação deste público para que ele passe a escolher um
filme em detrimento de outro. Quando isso ocorrer, as distribuidoras podem optar por
distribuírem um bom filme nacional a um filme nacional ou americano ruim. Minha
sugestão seria produzir bons filmes que possam gerar também bilheteria.
68
Camilo Cavalcante, Aurora Filmes.
1. C - A grande barreira na distribuição da produção audiovisual independentes ainda é
o esquema totalitário que domina o mercado e impõe que as salas de exibição sejam
ocupadas majoritariamente pelos blockbusters internacionais e nacionais. No caso da
produção nacional, A Globo Filmes domina a distribuição de uma forma quase mafiosa.
Desta forma, a fatia de mercado que sobra para a produção autoral independente é
minúscula, restando algumas migalhas dentro do circuito de exibição em cinemas. A
maior dessa produção só terá escoamento através da Tv, principalmente via canais por
assinatura. Alternativas de circulação das obras via internet e através de cineclubes
podem ajudar para que o filme chegue efetivamente ao espectador e passe a existir de
verdade. Pois um filme só se conclui de fato quando chega ao público.
2. C - O site do porta curtas (www.portacurtas.com.br) tem todos os meus trabalhos em
curta-metragem. Também disponibilizo todas as obras no site da produtora via Vimeo.
3. C - Os festivais e mostras são fundamentais para fomentar a circulação das obras e
proporcionar o encontro entre os artistas e o público, promovendo o debate dos filmes e
discussões a respeito de estética, política, economia e alteridade dentro do processo
criativo audiovisual. Esses encontros enriquecem o público e também os realizadores,
através dessa troca pulsante de ideias e informações.
4. C - Creio que cinemas como São Luiz e o Apolo, também o Teatro do Parque (que
está fechado para uma reforma sem fim há alguns anos) são instrumentos essenciais
para que não só o cinema pernambucano, mas toda cinematografia construída com base
na arte, seja exibida a preços acessíveis e em lugares centrais para a população.
5. C - Temos que criar mecanismos que favoreçam o Cinema nacional a prevalecer no
cenário cultural. Sou a favor de uma reserva de mercado, assim com existe na França
por exemplo. Mas, também temos que tomar cuidado com o nosso próprio lixo cultural.
Pois, não adianta um sistema de cotas onde prevaleçam às produções com estética
televisa. Seria necessário um balanceamento entre filmes notadamente comerciais e
filmes com estética autoral. É uma questão complexa e difícil, pois no Brasil nem as leis
são respeitadas. A lei do Curta, por exemplo, não é cumprida. Seria um ganho enorme
69
se antes de cada longa-metragem nacional ou estrangeiro fosse exibido um curta
brasileiro. Mas o mercado é mesquinho o suficiente para aceitar 10 ou 15 minutos a
mais em cada sessão.
Cesar Maia, Ateliê PE.
1. CE - A maior dificuldade, em minha opinião, é a falta de informação. E os acordos
com as distribuidoras, que geralmente abocanham a maior parte dos lucros. Isso sem
falar na limitação de salas disponíveis para filmes nacionais. Isso para filmes feitos para
o cinema. Hoje, temos uma demanda cada vez mais crescente na WEB e na TV. No
mais, o que acontece é que existem filmes feitos para o autor e filmes feitos para o
público. E nem sempre o filmes pernambucanos da novíssima geração são feitos para
um mercado que já sabe o que quer. Isso claro que vai impactar na distribuição.
2. CE - Claro. Hoje com 2mil dólares você consegue filmar com a mesma qualidade que
se filmava há 10 anos com uma câmera de 70 mil dólares. Sem falar de uma infinidade
de softwares totalmente disponíveis e o fato da maioria dos festivais, hoje, já dispensar
a obrigatoriedade de filmes em película.
3. CE - Muitos dos festivais têm preços bem acessíveis. Isso sem falar em mostras com
acesso inteiramente grátis. Mas a quantidade de filmes bons, disponíveis, ainda é muito
pequena e não sei se existe um empenho satisfatório do setor que contribua para isso.
4. CE - Isso que você me pergunta é o pulo do gato e, caso eu tivesse essa resposta,
provavelmente estaria rico. Mas acho que filmes de arte têm, disponíveis para exibição,
salas de arte. O que talvez esteja faltando a Pernambuco é criar a sua indústria de
cinema. Filmes mais acessíveis ao grande público e mais comerciais também precisam
ser produzidos. Seria bom para todo mundo. Ajudaria na formação de um público
consumidor de filmes locais e fomentaria o mercado, colocando cada vez mais gente
nesse mercado de trabalho. Mais do que já temos, talvez apenas através de leis que
garantam a exibição de filmes nacionais em salas do multiplex. Mas ai não sei da
viabilidade dessa ideia nem de sua lisura de um ponto de vista mais democrático.
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5. CE - Veja bem, como produtor e diretor de cinema e produtos audiovisuais tenho
total interesse e acho bom. Como consumidor também acho interessante. Mas sou um
amante das democracias e não sei até que ponto essa ideia se sustenta sem ferir direitos
e deveres de empresas e pessoas. Acho que alguma reserva deve haver, como forma de
garantir que uma cultura brasileira se sustente e se prolifere, mas talvez a solução esteja
na formação de plateia. Acostume o público a consumir cinema nacional e, ainda mais
importante, garanta um cinema brasileiro de qualidade, que teremos o próprio mercado
cuidando disso. O que precisamos é produzir bons filmes e garantir o acesso das pessoas
ao cinema. O resto virá por gravidade. Não adianta apenas fazermos novela para salas
de cinema, temos que diversificar e fortalecer um cinema nacional de qualidade
indiscutível e fazer que todos, independentemente de classe social, tenham acesso a ele.
Hamilton Costa Filho, Cabra Quente Filmes.
1. H - Aqui em Recife não tem como fazer a distribuição dos filmes temos de ir para
São Paulo ou Rio de Janeiro.
2. H - Uso sempre a internet como meio de divulgação dos meus filmes.
3. H - o modo + usado é a net.
4. H - Se for longa deveria ter uma lei para exibição independente se o filme é um doc.
ou outro formato de linguagem e tbm deveria ser exibido curtas antes dos longas.
5. H – Não.
Mannuela Costa, Plano 9 Produções Audiovisuais.
1. M - Uma delas são as diversas barreiras para filmes de baixíssimo orçamento e de
distribuição independente no Brasil. Isso se liga à dificuldade de colocar os filmes nas
salas comerciais. Aliado a isso, está o baixo valor destinado à distribuição nos editais
públicos (fomento ou financiamento), comparado ao incentivo à produção - com os
filmes digitais, produzimos mais, mas não escoamos tanto a produzimos. Fora o FSA,
só Pernambuco e Rio de Janeiro (Rio filmes) têm linhas de incentivo a isso. No caso do
FSA, há uma contrapartida financeira necessária e, em geral, apenas filmes mais
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robustos (diretores mais conhecidos, produtoras maiores e distribuidoras mais bem
estruturadas) conseguem. Acho que Pernambuco é a única exceção. Outra é a falta de
equipamentos digitais de alta qualidade para projeção desses filmes. Além disso, que
não é novidade, a distribuição em outras janelas (internet e TV) enfrenta outros
desafios. Na internet, o baixo retorno financeiro é um dos fatores. O outro são as formas
não remuneradas de execução da obra. Na TV a questão começa a mudar de figura
diante da Lei 12485. Mas se os canais não forem "fiscalizadas" quanto ao excesso de
reprise, só melhora a situação de alguns.
2. M - Sim. Usamos o streaming e o VOD. Além de DVDs, distribuídos para
cineclubes, por exemplo. Nem todas são remuneradas.
3. M - Há uma forte atuação via internet e via cineclubes. Isso tem ajudado, sobretudo,
na formação do público. Porém isso não é um processo de curto prazo. Somente a partir
de 2009 e 2010 começamos a ver um real aumento de novos agentes (produtores) no
mercado (isto é, filmes lançados, de estados outros que não RJ e SP). Com a lei 12485,
uma conquista da classe, a TV começa a desempenhar um papel que há muito é
esperado. Salas de arte com preços de ingressos mais acessíveis têm estimulado novos
consumidores. Para completar, iniciativas como da Programadora Brasil, que além de
cineclubes (Programa Mais cultura) para escolas e faculdades também auxilia.
4. M - Comentei um pouco acima. Além de novas salas (sobretudo fora das capitais),
digitalização das salas existentes, barateamento dos ingressos e, finalmente, uma efetiva
participação dos canais abertos e a cabo.
5. M - É necessária que se configura como uma "barreira à entrada" de filmes não
brasileiros. Porém, se a cota de tela não for fiscalizada no que tange a diversidade de
títulos, um filme de grande orçamento, que é lançado com 300 cópias, além das digitais,
é pouco eficiente.
Marcelo Pedroso, Símio Filmes.
1. MAR - O circuito exibidor tem orientação estritamente comercial. Isso dificulta a
entrada de filmes que não tenham esse perfil. Isso não é exatamente um fato novo, mas
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tem se agravado nos últimos anos. Vivemos esse paradoxo: enquanto em termos
tecnológicos a distribuição deu um salto de facilidade, principalmente por conta da
quase extinção da película enquanto suporte majoritário, o mercado se fechou de uma
maneira radical para os filmes com perfil menos comercial. Hoje, filmes de realizadores
como Almodóvar e Woody Allen, que antes entravam em multiplexes e faziam boas
bilheterias, foram escantilhados para o circuito alternativo – que era o espaço por
excelência para filmes com o perfil dos que temos realizado. Multiplex agora só quer
saber de produção em série com amplo potencial de bilheteria: filmes espetaculares,
pirotécnicos, caríssimos e, em sua maioria, muito, muito ruins.
2. MAR - Nós temos a experiência do Vurto, site fundado por mim e Felipe Peres
Calheiros. É um espaço para filmes que produzimos especificamente para internet:
filmes curtos, que tentam resolver questões narrativas de forma mais sugerida, embora
tentando manter um teor impactante. Mas fora isso, também tenho usado de outros
meios para filmes feitos para o cinema mesmo. Por exemplo, Balsa. É um médiametragem que teve lançamento com debate em cinco escolas da RMR. E depois passou
a circular em cineclubes, ficou disponível para download, foi lançado em camelôs etc.
Você
pode
acompanhar
um
pouco
desse
lançamento
pelo
site
http://docbalsa.blogspot.com.br/ Já com o longa-metragem Pacific, obtivemos um
recurso do Governo do Estado para distribuição. O filme foi lançado em salas de 28
capitais brasileiras através da distribuidora Vitrine Filmes. Paralelamente, fizemos uma
tiragem de 5 mil DVDs que foram encartados gratuitamente na revista Continente. E,
finalmente, o filme teve uma tiragem de mil DVDs dentro de um encarte especial, que
continha o que chamamos de material pedagógico. Trata-se de um livreto com cinco
textos produzidos por pensadores de diferentes áreas que debatiam o filme a partir de
cinco perspectivas diferentes. Esse material foi distribuído gratuitamente em cineclubes,
pontos de cultura e faculdades de todo o Brasil.
3. MAR - Uma iniciativa como essa da distribuição do Pacific parte de um
entendimento ampliado do que é o mercado cinematográfico. Pra mim, a disputa por
salas de exibição é algo difícil, pois não termos recursos para brigar com filmes da
franquia do Homem-Aranha, por exemplo. Então a ideia é correr por fora. Mas não
numa perspectiva resignada. Um lançamento como o do Pacific parte do princípio da
formação de público. Ao levar o filme para esses espaços, acompanhado de um material
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que ajude a pensá-lo, a gerar debate, estamos partindo para uma ofensiva que pretende
configurar novas posturas no público em relação cinema. Trata-se de uma formação de
olhar mesmo, de apresentar novas possibilidades estéticas e sensibilizar o público para
isso. Essa batalha talvez não possa mesmo ser travada no circuito exibidor comercial.
Tem que ser por fora: nos cineclubes, escolas, pontos de cultura. É importante enxergar
e alimentar essa rede, uma das iniciativas mais importantes voltadas para a cultura do
Estado brasileiro recente. Se continuarmos fazendo isso e, principalmente, se muitos
diretores também o fizerem (e isso já está acontecendo), podemos pensar até numa
política pública que fomente essa iniciativa. Num médio prazo, poderíamos ter um
público com formação atenta a um cinema menos alinhado à lógica do espetáculo, e
esse público poderia voltar a criar uma demanda específica nas salas tradicionais.
4. MAR - Tem essas formas que já mencionei, mas acho que o mercado precisa levar
um “se ligue” também. Não sei exatamente como seria isso, mas é absurdo você ir pra
Fundaj e ter que disputar uma entrada pra ver um filme quase a tapa porque tem muita
gente, filas enormes. Isso significa que já existe uma demanda enorme por esses filmes.
Será que os exibidores não vem isso? Digo, até enquanto empresários mesmo porque
não podemos esperar deles uma sensibilidade política ou engajamento cultural. A lógica
deles é a do lucro e pronto. Mas porque eles não se ligam que esses filmes também
podem dar lucro? Mas enfim, te respondendo mais diretamente, tem essas coisas de
vale-cultura, de cota de cinema brasileiro no multiplex. Acho que são ferramentas
importantes, mas não resolvem o problema sistêmico, que na minha opinião está ligado
a uma cultura audiovisual tacanha. É preciso mudarmos a televisão brasileira da água
pro vinho. Enquanto não qualificarmos nossa televisão, enquanto ela for reduzida a uma
concentração do que há de pior em termos de dramaturgia (novelas, malhação, o
escambau), de jornalismo, de entretenimento, de cultura, enfim, nós não conseguiremos
qualificar nosso circuito exibidor. Porque pra mim há uma relação muito clara: a
televisão contribui fortemente para a formação do olhar. Pra muita gente, ela é o
principal meio de contato com imagens. E as pessoas tendem a procurar essas
referências na hora de escolher um filme. Não é a toa que as comédias execráveis da
Globo são recorde de bilheteria no Brasil. Aquilo é novela expandida, não é cinema.
Falo isso, mas me corrijo: acho que deve ter espaço pra isso e que o público deve ter
acesso e direito a um entretenimento leve, descomprometido. O problema é quando se
tem só isso.
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5. MAR - Acho que já respondi, né? É importante, mas seria meio que tapar o sol com a
peneira. É feito as cotas raciais: pra mim são necessárias, mas é preciso haver uma
requalificação do ensino público que gere igualdade de oportunidades para todos. Sem
isso, fica esquisito. Mesma coisa pro Bolsa-família, né? Parece que o Estado brasileiro
agora assumiu a consciência da gravidade de alguns problemas e está se esforçando em
criar instrumentos para tentar corrigi-los. Parece-me que isso é importantíssimo e pode
funcionar num curto prazo, enquanto medida emergencial. Mas que é preciso olhar para
os problemas de forma mais sistêmica e pensar em políticas para solucioná-los no
médio e longo prazo.
Pedro Severien, Orquestra Cinema Estúdios.
1. P - A produção de um filme requer dedicação e persistência, pois é um processo
longo, muitas vezes um filme passa anos para sair do papel. Para mim, a maior
dificuldade é a falta de profissionais qualificados engajados na distribuição dos produtos
audiovisuais. De certa forma, eu acredito que todo filme tem um mercado, existe um
interesse para quase todo produto seja em qualquer formato, duração ou tema. A grande
charada é: Como colocar esses produtos no mercado? No Brasil, ainda não temos
empresas e profissionais suficientes trabalhando nisso. Portanto, na maioria dos casos, a
responsabilidade fica com o realizador/diretor/produtor. A própria figura do produtor
ainda é mal resolvida no país, e especialmente no Nordeste. Essa dinâmica de acúmulo
de funções divide a força de distribuição. Não temos empresas de distribuição de
conteúdos instaladas no Estado, e no Brasil esse ainda é um setor de formação. Há ainda
o problema clássico das salas de cinema que dedicam-se especialmente ao cinema
americano. Essa faceta do nosso parque exibidor é apenas a expressão final de um
modelo dominado por interesses econômicos de uma elite, liderada pelas multinacionais
da área de entretenimento. Recentemente, recebi uma proposta da Turner, empresa que
controla uma série de canais de TV a cabo em toda a América Latina. A proposta de
compra de um curta-metragem para exibição exclusiva em todos os canais, durante 03
anos. O valor proposto foi de R$ 500,00, dos quais R$ 100,00 seriam gastos com
impostos necessários a exibição do produto. Ou seja, esse tipo de proposta demonstra o
desrespeito desses grupos à produção nacional.
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2. P - Ainda não faço isso comercial desse tipo de plataforma. Eu disponibilizo os meus
filmes de curta-metragem na Internet, depois de cumprido o período de exibição em
festivais. Existe um movimento de abertura para o mercado na Internet, com o
pagamento por exibição e a disponibilização em sites de Video on demand. Vejo isso de
forma bastante positiva, mas ainda não tive nenhuma experiência de sucesso nesse
sentido.
3. P - O termo que você usa é bastante amplo: "setor cinematográfico". Para mim, isso
inclui as salas, as distribuidoras, os canais de TV dedicados a filmes, e mesmo os canais
abertos, assim como produtores, realizadores, atores e técnicos. Para responder essa
questão da forma mais consistente, eu mesmo teria que iniciar um estudo, já que ela é
tão abrangente. Posso dizer que vejo como algo muito positivo o crescimento do
movimento cineclubista em Pernambuco e no Brasil. A maioria das cidades brasileiras
não tem sala de cinema, e mesmo as que existem em shoppings não servem como lugar
de democratização do acesso, pois cobram ingressos muito caros. Também vejo os
festivais de cinema como principal janela do cinema nacional, todavia, diversos
festivais não atingem um público mínimo. A disponibilização dos filmes na Internet é
algo bem positivo, embora, muitas vezes isso não é feito pelo "setor cinematográfico",
mas sim pelo público que se interessa por cinema.
4. P - Eu acredito que umas das formas de mudar essa situação é melhorar nível
educacional. Por enquanto, o cinema nacional vive uma trágica dicotomia entre filmes
"de público" e filmes "de arte". Não gosto desses termos, mas eles são utilizados com
tanta frequência que reivindicam uma reflexão. Eu acredito que deve haver sim cota de
tela, e que ela deve ser bem maior do que é hoje. Não faz sentido ter uma produção tão
interessante, e não dar a ela a oportunidade de contato com o público. Deixar a
regulação apenas para as leis de mercado, serve apenas aos grupos hegemônicos. A
produção independente é necessária como instrumento de formação crítica e também da
nossa identidade cultural. Para facilitar o acesso, acredito na manutenção de nossos
cinemas públicos. Hoje, esmagadora maioria desses espaços não funciona de forma
regular. Até mesmo os cinemas que foram reformados pelo Governo do Estado, vide o
cinema de Goiana, não abrem espaço para a produção nacional, porque simplesmente
não funcionam. Outros esperam por reforma, vide o Cine Olinda, há anos! Inclusive
com investimentos equivocados. Ou seja, por esses espaços para funcionar é essencial!
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O Museu da Imagem e do Som deveria ser um lugar aberto ao público, nos moldes da
cinemateca Francesco, mas aqui o prédio está caindo aos pedaços e nunca cumpriu seu
papel de disponibilização do acervo. Outra ação é instrumentalizar os canais de TV
pública. A TV Pernambuco existe há décadas e até hoje não disponibiliza conteúdo
produzido no Estado. A exemplo de países Europeus, os canais públicos de TV
cumprem um papel essencial na formação de um público consumidor de cinema
independente.
5. P - Eu acho que a política brasileira de cita de tela ainda é tímida. Os países onde o
cinema nacional apresenta bons números de público para produções nacionais são
justamente aqueles que têm uma política de cota de tela mais agressiva. A inclusão do
tema da produção independente na nova lei da TV a cabo é interessante, porém, isso
deveria se estender aos canais de TV aberta. Acredito que só assim teríamos um novo
ciclo de diálogo entre público e a produção. Incluo o tema das salas públicas de cinema
aqui nessa resposta também. Como disse, as poucas salas que ainda existem nas capitais
e nos municípios do interior do Brasil, precisam estar ativas, exibindo filmes e
convidando os espectadores. Projetos que levam ao cinema alunos das escolas de ensino
médio, públicas e privadas, para assistirem filmes nacionais são essenciais. Deveriam
ser ampliados por todos os Governos em todas as esferas. Há um projeto em andamento
em nível nacional, que prevê a contabilização de público em locais de exibição não
comerciais, como cineclubes, bibliotecas, associações, etc. Hoje, só é contabilizado o
público em salas de cinema comerciais. Isso gera uma distorção, pois a maioria dos
municípios não tem salas comerciais, no entanto, existem outros tipos de exibição. A
ideia é fortalecer esse circuito alternativo. Eu apoio essa ideia.
Raquel Daisy Ellis, Desvia Filmes.
1. R - Acho que distribuição de cinema autoral é um desafio não só no Recife mas no
Brasil todo, e em muitos lugares do mundo. Existe duas dificuldades principais, que são
interligados. Uma questão é a formação do público, que tem uma preferência de
consumir produtos hollywoodianos, ou comedias românticas, ação etc. Outra questão é
a falta de espaço em horários nobres para filmes nacionais e autorais estrangeiros em
salas comerciais de cinema. Na realidade um problema exacerba a outra. Na medida que
não há a opção de ver filmes nacionais/autorais estrangeiros, o público não vai
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formando um olhar diferente, ao mesmo tempo se não há demanda do público, não há
incentivo para cinemas comerciais colocar este filmes em cartaz. Porém, temos
experiências de cinemas com a Fundaj de Recife que desafiam esta lógica. Com um
nicho de público (bastante grande) e um preço mais acessível, um ambiente agradável
diferenciado (o café em frente do cinema), as sessões de filmes nacionais tendem a lotar
e há um processo muito positivo de oferta de filmes nacionais / estrangeiras
independentes que acaba formando um público mais crítico que demanda mais
produções diferenciadas. Acho que as salas de cinema precisam se diversificar (salas
menores, equipamento digital, uma sessão por filme por dia, com mais variedade de
oferta etc.). Colocar cinemas em espaços de cultura, casarões, ao ar livre etc. Esse tipo
de empreendedorismo tem funcionado muito bem no exterior. Esporo ver aqui no Brasil
em breve!
2. R - Usamos Vimeo e quando tiver interesse os filmes têm contratos com empresas de
VOD.
3. R - Explorando meios alternativos de distribuição como os citados em cima. Mas
acho que precisa fazer mais, trocar mais ideias e ter mais colaboração entre produtoras,
realizadores e distribuidores.
4. R - Acho que o custo de um ingresso de cinema no Brasil caríssimo, e muito
proibitativos em geral. Deve ter incentivo fiscal para cinemas que colocam filmes
nacionais em horários nobres! Nos filmes que trabalhei tivemos um certo sucesso na
distribuição porque focamos em meios alternativos de distribuição, com consciência de
que nosso objetivo principal é que os filmes sejam vistos pelo maior número de pessoas
possível, não ganhar dinheiro com a distribuição. Não tenho nada contra de depois de
alguns anos, disponibilizar um filme de forma gratuita no internet, por exemplo.
5. R - Tem que ser ampliado!!!
Renata Pinheiro, Aroma Filmes.
1. RE - Ainda não há muitas distribuidoras brasileiras, especialmente distribuidoras
interessadas em filmes mais autorais. As maiores são multinacionais, que lançam um só
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filme em dezenas de salas simultaneamente, e estão interessadas em filmes que
reproduzem uma fórmula dita “de sucesso” como as comédias. Como o mercado tem
mudado, acredito que essas distribuidoras deveriam reavaliar seus lançamentos e
apostar em novos talentos. Nossos filmes pernambucanos têm feito grandes estreias
internacionais, mas quando voltam ao Brasil não há um tratamento a altura. Existe uma
grande carência de distribuidoras de médio ou pequeno porte que naturalmente
lançariam filmes brasileiros autorais em circuito comercial. A exemplo disso temos a
distribuidora “Vitrine (SP)” que está lançando filmes neste formato e utilizando
criativamente plataformas de lançamento em redes sociais e mídias alternativas mas que
não consegue absorver toda a produção. Esperamos que novas distribuidoras surjam
ainda neste ano, pois inclusive existem recursos estaduais e federais para
comercialização, o que coloca fora de risco à possibilidade de lançamento com recursos
próprios.
2. RE - Ainda acredito que a sala de cinema é o melhor lugar para se assistir um filme.
Investimos muito na finalização para chegar a uma excelente qualidade de som e
imagem, além do quê as salas de cinema são espaços sociais, promovem encontros e
discussões. Na Aroma Filmes costumamos disponibilizar nossos filmes no Vimeo
(aberto para reprodução) quando o filme já cumpriu sua carreira em festivais. Temos
nossa primeira experiência com lançamento com o Amor, Plástico e Barulho de Renata
Pinheiro que está previsto para o segundo semestre de 2012, até lá o filme deve
participar de festivais nacionais e internacionais.
3. RE - Tenho percebido um crescente público interessado em assistir a recente
produção brasileira. Existem iniciativas isoladas como é o caso da Fundação Joaquim
Nabuco e de alguns festivais. Mas ainda falta muito. Temos que ter salas dirigidas para
essa produção e mais festivais interessados em exibir esses filmes. Público existe, mas
os empresários ainda não estão acompanhando esta tendência do mercado. O filme “O
Som ao Redor” de Kleber Mendonça pode ser um divisor de águas, lançado pela
Vitrine, obteve um grande número de espectadores. Acredito que as grandes
distribuidoras não tenham percebido o grande potencial do filme por falta de visão e
adaptação a este novo público brasileiro.
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4. RE - Precisamos de mais distribuidoras, não conheço nenhuma distribuidora
pernambucana.
Como
o
Funcultura
também
disponibiliza
recursos
para
comercialização, já deveria ter surgido um produtor interessado em difundir esta
produção do estado, podendo também absorver uma produção brasileira. Essa deve ser
uma iniciativa privada, isso depende da visão comercial de empresários, uma visão
ousada e positiva. Os recursos para lançamentos existem em alguns editais. Talvez para
um bom começo, deveria existir uma espécie de reserva de mercado que obrigasse os
cinemas a exibirem uma cota de filmes brasileiros. Não tenho certeza se existe esta
política, talvez sim, mas não é o que vemos nos cinemas. A produção brasileira de
comédias é o que, mas se vê, falta espaço para os outros gêneros de filmes produzidos
hoje no Brasil.
5. RE - Talvez devesse existir uma clausula que obrigasse o cinema a exibir filmes de
todos os gêneros. Por que não autoral ou filme de arte? Isso poderia minimizar a
tendência de exibição das comedias. Não que tenha nada contra comédias, mas diante
desta forte tendência poderia ser um fator de transformação.
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A distribuição no cinema pernambucano: um gargalo do mercado