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O Uso da Fitoterapia como Recurso Efetivo e Econômico para a
Melhoria da Saúde e da Qualidade de Vida dos Agricultores Familiares
REGIANE APARECIDA VALERA DOS SANTOS
ADRIANO PIRTOUSCHEG
DAVID GEORGE FRANCIS
GABRIEL JOSÉ BARBOSA
RESUMO
A medicina popular utilizando ervas medicinais não é um fenômeno isolado no país, muito
pelo contrário, ela não é tão somente praticada pela população rural, mas, como afirma
Nascimento (1996), “... na maioria das vezes constitui o único recurso disponível para
combater as enfermidades que afligem a comunidade”. Isto ocorre porque a maioria dos
pequenos proprietários rurais não dispõe de recursos financeiros necessários para utilizar
outra fonte de atendimento médico. Foi realizada, neste trabalho, uma investigação detalhada
procurando destacar vários aspectos que permitissem descrever a utilização das plantas
medicinais como medicina alternativa entre os agricultores familiares de Uberlândia. O
presente estudo tem como objetivo geral diagnosticar as principais dificuldades enfrentadas
pelos agricultores, proprietários e moradores da zona rural do município de Uberlândia,
relacionadas à saúde e ao possível uso de plantas medicinais para solucionar ou amenizar
determinadas enfermidades. Através da participação de eventos científicos, contato com
pesquisadores da área, reuniões com os produtores e da aplicação de roteiros de entrevista a
60 agricultores, pode-se verificar que a implantação de alternativas terapêuticas, que
substituem os tratamentos com medicamentos sintéticos, tem importância fundamental,
principalmente hoje em dia em que se busca a melhoria na qualidade de vida. Pode-se
verificar que os conhecimentos a respeito da utilização e benefícios da fitoterapia não estão
realmente esclarecidos em algumas propriedades e em certos locais a assistência médica
adequada se torna onerosa visto que muitas propriedades se localizam distantes dos centros de
saúde do município. Os produtores se mostraram interessados em obter mais informações,
fato este que reflete mais uma vez a preocupação atual da população em adquirir hábitos mais
saudáveis e valores cotidianos mais ecológicos, procurando alternativas terapêuticas que além
de evitar gastos dispendiosos com atendimento primário à saúde da família, também
proporciona melhor qualidade de vida ao agricultor familiar.
Palavras-chave: Plantas Medicinais; Agricultura familiar; Sustentabilidade Rural.
2
INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos, é conhecida a utilização de ervas na cura de diversos
tipos de doenças. O homem, pela própria necessidade e a carência de outras fontes, sempre
buscou na natureza a solução de seus males. “Que o teu alimento seja o teu remédio e que o
teu remédio seja o teu alimento” – esta frase, atribuída a Hipócrates, foi registrada há mais de
três mil anos, sendo uma das provas mais antigas de que comida e cura estão relacionadas
desde os primórdios da humanidade (HISTÓRIA, 2003).
Desta forma, não se sabe a data precisa do início da utilização das plantas sob a forma
medicinal, pois sua história se entrelaça diretamente à própria história do homem,
acumulando um conhecimento de milhares de anos. De uma forma geral, os estudiosos
costumam apresentar a história das ervas medicinais a partir do Oriente, em um longo
caminho que evoluiu, mais recentemente até a América (HISTÓRIA, 2003).
Segundo Corrêa Junior, Ming e Scheffer (1994), “... o povo chinês sabe da
importância das plantas medicinais a mais de 5.000 anos, e até hoje são utilizadas, com
grande eficácia, na cura das principais doenças, juntamente com medicamentos da medicina
moderna”.
Um dos primeiros documentos que se conhecem sobre a utilização das plantas com
fins medicinais remonta a 500 a.C. O célebre clássico da farmacopéia chinesa “Tzu-I Pên
Tshao Ching” foi composto, pensa-se, um pouco depois da era de Confúcio. O original
continha 365 remédios à base de plantas ao qual, mais tarde, se juntaram outros 200. Contudo
o uso medicinal de plantas era uma prática bem estabelecida muito antes da criação destes
textos (FITOTERAPIA, 2003a).
O Brasil possui uma coleção imensa de plantas medicinais, espalhadas quer nas
cidades, em cuidados jardins, quer nos mais remotos recantos dos sertões. (MOREIRA;
YARZA; ACHARAN, 1988).
O país, com a maior diversidade genética vegetal do mundo, conta com mais de 55 mil
espécies catalogadas de um total estimado entre 350 mil e 500 mil – e a formação étnica da
população fazem da Fitoterapia uma prática bastante antiga no país. No entanto, atualmente
não há no mercado produtos nacionais que tenham passado pelo processo de validação –
comprovação científica de sua eficácia. Estes estudos envolvem diversas etapas, como a
botânica (identificação da planta para estudo), farmacêutica (produção e controle de
qualidade) e de ensaios biológicos pré-clínicos, com animais. Só então o medicamento passa à
fase de testes clínicos, realizados com pacientes, que dependem também de uma série de
etapas. (NOGUEIRA; FARIAS apud FITOTERAPIA, 2003b).
Como anteriormente destacado, o Brasil abriga 55 mil espécies de plantas,
aproximadamente um quarto de todas as espécies conhecidas; destas, 10 mil podem ser
medicinais, aromáticas e úteis. Como aponta estudo realizado por Lauro Barata e Sérgio
Queiroz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), denominado Contribuição
Efetiva ou Potencial do PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) para o Aproveitamento Econômico Sustentável da Biodiversidade
(FITOTERAPIA, 2003a).
Embora a medicina moderna esteja bem desenvolvida na maior parte do mundo,
grande parte da população dos países em desenvolvimento depende dos profissionais
tradicionais, das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos para a sua atenção
3
primária (ZHANG, 2000 apud BRASIL, 2001). Além disso, durante as últimas décadas, o
interesse do público nas terapias naturais tem aumentado enormemente nos países
industrializados, e acha-se em expansão o uso de plantas medicinais e medicamentos
fitoterápicos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS, 2000 apud BRASIL,
2001).
Torna-se inconcebível, portanto, que uma prática que se perpetuou na história da
civilização não tivesse na atualidade, o merecido reconhecimento da ciência e daqueles que a
executam (DI STASI, 1996). Ainda, segundo IBAMA..., (2003), a perda da diversidade das
culturas tradicionais é tão grave quanto à da biodiversidade. As populações, principalmente os
moradores da zona rural, guardam heranças de conhecimentos e procedimentos relativos ao
uso de plantas, às vezes, oriundos de grupos indígenas há muito extintos, que foram
incorporados à sua cultura graças às potencialidades terapêuticas dessas ervas (DI STASI,
1996). Segundo o mesmo autor, em sociedades tradicionais, a transmissão oral é o principal
modo pelo qual o conhecimento é perpetuado. O conhecimento é transmitido em situações, o
que faz que a transmissão entre gerações requeira contato intenso e prolongado dos membros
mais velhos com os mais novos.
A humanidade chegou até a década de 1950, utilizando intensivamente as plantas
medicinais com resultados comprovados, porém, com o advento da indústria farmacêutica, e a
síntese de muitos princípios ativos em laboratório, o homem vem se distanciando das suas
origens. Mas felizmente, por motivos diversos, como intoxicações por medicamentos, preço
alto e busca de uma vida mais saudável e natural, o cultivo e o uso de plantas medicinais tem
crescido nas últimas décadas. (SARTÓRIO et al., 2000).
O cerrado é um complexo vegetacional que detém grande diversidade biológica
(RODRIGUES; CARVALHO, 2001) e muitas dessas plantas apresentam compostos bioativos
que podem ser aproveitados com fins terapêuticos. Segundo Vieira (2003), essa
impressionante diversidade de espécies da flora medicinal é um forte indício de que ainda não
houve um estudo detalhado de grande parte desse universo de plantas medicinais encontradas
em nosso território.
No que se refere à utilização dessas plantas, pelos agricultores da região do Triângulo
Mineiro, faltam pesquisas, principalmente porque muitas delas são usadas
indiscriminadamente e não têm eficácia terapêutica cientificamente comprovada.
Segundo Di Stasi et al. (2002), há uma necessidade urgente de coletar e documentar as
plantas medicinais existentes no Brasil, pois diversos livros sobre etnobotânica estão
disponíveis, porém, o conhecimento sobre etnofarmacologia é insuficiente para suportar
pesquisas interdisciplinares. Faz-se necessário o incentivo à pesquisa e à catalogação de tais
variedades, no sentido de conhecer para otimizar o uso adequado e, sobretudo, proteger e
conservar esse patrimônio genético de nosso país (VIEIRA, 2003).
Portanto, além da caracterização do uso das plantas medicinais, é importante uma
abordagem que norteie um aproveitamento adequado dos recursos terapêuticos fornecidos
pelas ervas medicinais, possibilitando assim melhorias na qualidade de vida dos agricultores
familiares. Para maiores informações, veja “Iniciativas de apoio à utilização de plantas”.
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MATERIAL E MÉTODOS
A partir de um planejamento criterioso, iniciou-se um estudo com a população-alvo da
pesquisa. Esta fase envolveu primeiramente a observação da população-alvo do estudo, a
partir da qual reuniu-se o máximo de informações que facilitaram o andamento da pesquisa e
que permitiram ao pesquisador um fácil acesso aos indivíduos que foram pesquisados.
De posse das informações obtidas foi feita uma pesquisa bibliográfica específica. Esta
revisão examinou a literatura sobre a identificação e uso de plantas medicinais orientada para
as condições específicas da região do estudo.
A população-alvo incluiu agricultores familiares tradicionais, acampados e assentados
do Município de Uberlândia - MG. O plano de trabalho executado fez parte da pesquisa
“Alternativas Sustentáveis para Redução da Vulnerabilidade Social, Econômica e Ambiental
da Agricultura Familiar nas Áreas do Cerrado do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”,
coordenada pelo Prof. Dr. Shigeo Shiki, apoiada pelo CNPq. Assim sendo, teve um
questionário unificado composto de questões apresentadas por todos os pesquisadores do
projeto. Cada pesquisador teve acesso aos dados necessários para elaborar sua análise.
Esse questionário foi elaborado com questões fechadas que possibilitaram respostas
objetivas e com questões abertas que possibilitaram uma abordagem mais ampla dos
resultados obtidos. Foi constituído de perguntas que permitiram esclarecer os principais
problemas de saúde enfrentados pelas famílias, bem como as formas usadas para resolver
estes problemas. Pretendeu-se estabelecer um diagnóstico de saúde - doença dos moradores e
também avaliar o conhecimento sobre as práticas populares da fitoterapia e utilização desta.
Os questionários foram aplicados a uma amostra de 60 agricultores da região, selecionados
aleatoriamente. Este número de questionários foi julgado adequado considerando a variação
entre os agricultores na área do estudo.
Ao fim das entrevistas foi criado um banco de dados e a partir dele, os resultados
foram analisados e estudados para que fossem atingidos os objetivos propostos inicialmente.
5
RESULTADOS
Neste trabalho, foi realizada uma investigação bastante detalhada procurando destacar
vários aspectos que permitissem descrever a utilização das plantas medicinais como fonte de
medicina alternativa entre os agricultores familiares de Uberlândia.
Como se pode observar na Tabela 1, a maioria dos entrevistados foi composta por
homens (56%), enquanto que 44% eram mulheres.
Tabela 1. Sexo dos agricultores entrevistados.
SEXO
Nº DE ENTREVISTADOS %
Masculino
34
56
Feminino
26
44
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
Quanto à idade dos entrevistados, o que se verifica na Tabela 2 é que a maior parte dos
entrevistados se encontra na faixa etária entre 50 e 60 anos (26%).
Tabela 2. Idade dos agricultores entrevistados.
Nº DE
IDADE
%
ENTREVISTADOS
21-30 anos
5
08
31-40 anos
14
24
41-50 anos
11
18
51-60 anos
16
26
61-70 anos
11
18
71-80 anos
3
6
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo,
2003.
Esta informação reforça a idéia de que o conhecimento à respeito das ervas medicinais
está concentrado principalmente entre os membros mais velhos da família que herdaram essa
sabedoria popular através das gerações com seus antepassados.
6
Isso é salientado por Di Stasi (1996), que relatou que as populações, principalmente os
moradores da zona rural, guardam heranças de conhecimentos e procedimentos relativos ao
uso de plantas, às vezes, oriundos de grupos indígenas há muito extintos, que foram
incorporados à sua cultura graças às potencialidades terapêuticas dessas ervas. Esses
conhecimentos são transmitidos entre gerações através do contato intenso e prolongado dos
membros mais velhos com os mais novos.
Na Tabela 3. pode se verificar que 84% das propriedades estão localizadas em local de
estrada batida e que apenas 16% tem asfalto perto da propriedade. Esse fato acaba
dificultando o atendimento médico devido às dificuldades no transporte dos doentes.
Tabela 3. Tipo de via de acesso às propriedades.
VIA
Nº DE ENTREVISTADOS
%
Estrada
50
84
Asfalto
10
16
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
Na Tabela 4 abordam-se aspectos da escolaridade dos entrevistados e verifica-se que
50% dos entrevistados cursaram apenas da 1ª a 4ª série do primeiro grau. Esse nível de
escolaridade denota que o conhecimento sobre a cura pela utilização de ervas medicinais é
transmitido através das gerações numa linguagem popular, seja através dos raizeiros que
antigamente se faziam bastante presentes entre as comunidades, seja através da troca de
conhecimento entre pais e filhos, sem requerer de recursos didáticos ou quaisquer outra forma
de ensinamento, senão através de troca de informações.
Tabela 4. Nível de escolaridade dos
agricultores entrevistados.
NÍVEL DE
Nº
%
ESCOLARIDADE
Analfabeto
16
26
1ª a 4ª série - 1º grau 30
50
5ª a 8ª série - 1º grau
7
12
2º grau incompleto
5
8
2º grau completo
2
4
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo,
2003.
Na Tabela 5, ao observar-se a escolaridade comparada ao sexo dos entrevistados
verifica-se que 16% das mulheres são analfabetas e que 46% das mulheres cursaram a faixa
da 1ª a 4ª série do 1º grau. Entre os homens, 8% dos entrevistados são analfabetos e 54%
cursaram a 1ª a 4ª série do 1º grau. Quando são comparados os sexos na 1ª à 4ª série, foi
7
detectada diferença não significativa, sendo que a proporção de indivíduos do sexo feminino é
comparativamente igual aos do sexo masculino.
Tabela 5. Escolaridade e sexo dos entrevistados.
ESCOLARIDADE
SEXO
MASCULINO FEMININO
Nº
%
Nº
%
Analfabetos
03
08
04
16
1ª-4ª série do 1º
grau
18
54
12
46
5ª-8ª série do 1º
grau
10
30
06
24
1º-3º ano do 2º
grau
03
08
04
14
Total
34
100
26
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
Com relação ao atendimento médico, muitas propriedades ficam afastadas dos centros
de saúde o que impossibilita ou onera o atendimento médico. Os custos dispendiosos com
atendimento médico acarretam sérias dificuldades econômicas que só agravam a situação
desses agricultores.
Como afirmou Di Stasi (1996), os agricultores rurais têm enfrentado sérios problemas
relacionados à saúde, visto que os hospitais e postos de atendimento público geralmente são
distantes das propriedades e nem sempre existe um meio de transporte facilitado para atender
às necessidades dos moradores do meio rural, inclusive nos casos mais urgentes.
Na Tabela 6. pode se observar a freqüência de busca por atendimento médico dos
entrevistados
Tabela 6. Freqüência de busca por
atendimento médico.
PROCURAM
Nº DE
%
ATENDIMENTO ENTREVISTADOS
Sim
40
66
Não
20
34
Total
60
100
NOTA: Freqüência de pelo menos uma vez ao
mês.
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
8
Na Tabela 7. pode se verificar que 64% dos entrevistados relatam não encontrar
dificuldades na busca por atendimento médico.
Porém quando analisamos outros aspectos como a propriedade de automóvel (Tabela
8.) verificamos que apenas 40% dos entrevistados tem meio de transporte próprio.
Tabela 7. Encontram dificuldades na busca
por atendimento médico.
Nº DE
DIFICULDADE
%
ENTREVISTADOS
Sim
22
36
Não
38
64
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
Tabela 8. Possui meio de transporte.
Nº DE
TRANSPORTE
%
ENTREVISTADOS
Sim
24
40
Não
36
60
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
A respeito de convênios de assistência médica, como mostra a Tabela 9., apenas 8%
dos entrevistados têm convênio, enquanto 92% dos entrevistados não possuem convênio
médico e dependem do sistema público de saúde, seja nos postos de atendimento dos bairros
ou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.
Tabela 9. Possui convênio médico.
Nº DE
CONVÊNIO
%
ENTREVISTADOS
Sim
05
08
Não
55
92
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
A respeito da utilização das Plantas Medicinais, como mostra a Tabela 10, 90% dos
entrevistados demonstraram algum conhecimento sobre utilização dessa forma de medicina
alternativa.
9
Essa informação reforça a afirmação de Zhang (2000 apud BRASIL, 2001), que relata
que embora a medicina moderna esteja bem desenvolvida na maior parte do mundo, grande
parte da população dos países em desenvolvimento depende dos profissionais tradicionais, das
plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos para a sua atenção primária. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% da população mundial depende da
medicina tradicional nos cuidados primários de saúde (GUIDELINES..., 1993 apud
PROJETO..., 2001).
Tabela 10. Agricultores que utilizam plantas
medicinais.
UTILIZAM Nº DE ENTREVISTADOS
%
Sim
54
90
Não
06
10
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
Na Tabela 11 pode se notar que 26% dos entrevistados já tomaram conhecimento de
pelo menos um caso de intoxicação por plantas medicinais. Segundo foi relatado durante as
entrevistas, a maior parte dos casos de intoxicação pelas plantas advém do uso indiscriminado
dessas plantas e não de plantas tóxicas específicas. Esse fator é muito importante porque
ressalta mais uma vez a preocupação em acrescentar mais informações sobre os perigos do
uso inadequado e irresponsável das ervas medicinais.
Foram levantadas dúvidas principalmente relacionadas à dosagem adequada do
fitoterápico que pode ser utilizada. Muitos agricultores revelam que sabem as indicações e até
dispõem de exemplares das espécies na própria propriedade, mas não as utilizam porque tem
receio quanto à forma correta de uso e as dosagens a serem administradas.
Segundo Calixto (2000), “... existem dados insuficientes para que a maioria das
plantas garanta sua qualidade, eficácia e segurança. A idéia que as ervas medicinais estão
seguras e livres dos efeitos colaterais é falsa. As plantas contêm centenas de constituintes e
alguns deles são muito tóxicos”.
A utilização inadequada dos fitoterápicos, como a automedicação, pode trazer uma
série de efeitos colaterais. Entre os principais problemas causado por seu uso indiscriminado e
prolongado estão as reações alérgicas, os efeitos tóxicos graves em vários órgãos e mesmo o
desenvolvimento de certos tipos de câncer. É importante educar a população,
conscientizando-a sobre o uso adequado das plantas e medicamentos ditos naturais
(FITOTERAPIA, 2003a).
10
Tabela 11. Conhecimento sobre intoxicação
por plantas medicinais.
TEM CONHECIMENTO
Nº
%
Não
44
74
Sim
16
26
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de
campo, 2003.
Pode-se verificar, durante as entrevistas, uma gama muito grande de plantas
medicinais nativas do cerrado que estão sendo utilizadas pela população. Dentre as plantas
citadas muitas não têm nome científico correspondente na literatura pesquisada. Isso denota
uma importância muito grande de uma abordagem a respeito da identificação das espécies
nativas da região, pois algumas comunidades atribuem nomes populares às ervas utilizadas
que diferem daqueles citados na literatura referente às espécies de uso popular na fitoterapia.
Esse fato dificulta o esclarecimento da população a respeito do uso de determinada
espécie enquanto fitoterápico, bem como suas características de cultivo e formas de
utilização.
E como afirmou Vieira (2003), faz-se necessário o incentivo à pesquisa e à
catalogação dessas espécies ainda não identificadas, no sentido de conhecer para otimizar o
uso adequado e, sobretudo, proteger e conservar esse patrimônio genético de nosso país.
Seria necessário, portanto, para sanar esse aspecto, a abordagem de projeto que
implementasse e viabilizasse a identificação botânica, inclusive buscando acumular
informações como as características agronômicas e farmacológicas das espécies.
Posteriormente poderia ser desenvolvido um trabalho de esclarecimento a respeito do uso
adequado dessas plantas, bem como a sua forma de utilização, indicações, efeitos colaterais e
precauções a serem tomadas na utilização.
A respeito da implantação das Farmácias Vivas, a maior parte dos entrevistados não as
conhece (Tabela 12).
Tabela 12. Conhecimento sobre Farmácia Viva.
OUVIU FALAR
Nº
%
Sim
16
26
Não
44
74
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
11
Na Tabela 13, podemos observar que a maioria dos entrevistados demonstrou interesse
em implantar as Farmácias Vivas nas propriedades ou num local de acesso comunitário. A
horta da propriedade foi o local mais citado para implementar a Farmácia Viva.
Tabela 13. Implantação de uma Farmácia Viva.
FAVORÁVEL
Nº
%
Sim
52
86
Não
08
14
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
Na Tabela 14, pode-se verificar que 95% dos agricultores entrevistados têm interesse
em aprender mais sobre o uso das plantas medicinais.
Tabela 14. Interesse em saber mais sobre plantas
medicinais.
TEM INTERESSE
Nº
%
Sim
57
95
Não
03
05
Total
60
100
FONTE: Dados de Pesquisa de campo, 2003.
Essa informação é salientada pela OMS (2000 apud BRASIL, 2001) que relata que
durante as últimas décadas, o interesse do público nas terapias naturais tem aumentado
enormemente nos países industrializados, e acha-se em expansão o uso de plantas medicinais
e medicamentos fitoterápicos.
Segundo Sartório et al. (2000), o cultivo e o uso de plantas medicinais tem crescido
nas últimas décadas por motivos diversos, como intoxicações por medicamentos, preço alto e
busca de uma vida mais saudável e natural.
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CONCLUSÃO
Pode-se verificar que os conhecimentos a respeito da utilização e benefícios da
fitoterapia não estão realmente esclarecidos em algumas propriedades e em certos locais a
assistência médica adequada se torna onerosa visto que muitas propriedades se localizam
distantes dos centros de saúde do município.
Apesar da maioria dos entrevistados terem relatado que não encontram dificuldades no
atendimento médico, foram apontadas como principais dificuldades enfrentadas pelos
agricultores, relacionadas à saúde, a falta de transporte, a distância e a ineficiência do sistema
de atendimento público à saúde.
Um dos pontos positivos verificados neste trabalho que deve ser ressaltado é o
interesse manifestado pelos agricultores em obter maiores informações a respeito da
medicação alternativa utilizando fitoterápicos.
Esse fato reflete mais uma vez a preocupação atual da população em adquirir hábitos
mais saudáveis e valores cotidianos mais ecológicos, procurando alternativas terapêuticas que
além de evitar gastos financeiros dispendiosos com atendimento primário a saúde da família,
também proporciona melhor qualidade de vida ao agricultor e sua família.
Com relação à implantação das farmácias vivas nas propriedades, esse objetivo não
pode ser concluído devido às dificuldades relacionadas à aquisição das mudas de plantas
medicinais de fontes idôneas que não oferecessem risco a população que fosse utilizar as
plantas.
Poderiam ser usadas plantas das propriedades vizinhas, porém seria necessário realizar
previamente a implantação da farmácia viva, um trabalho de identificação das espécies
nativas para que não ocorresse nenhum erro de identificação que contribuísse para o insucesso
da utilização das plantas medicinais.
Cabe salientar que ainda são necessárias muitas pesquisas na área para possibilitar
uma assistência terapêutica eficaz através do uso de fitoterápicos, bem como trabalhos de
extensão que visem informar os agricultores a respeito da utilização segura e eficaz das
plantas medicinais.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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O Uso da Fitoterapia como Recurso Efetivo e Econômico