Os pobres na Idade Média
Carla Michele Ribeiro de Oliveira
Juliana de Jesus Santos
Morgana Pimentel Souza 1
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RESUMO: Apesar de a Idade Média ter início no século V, a figura do pobre veio a surgir em
meados do século VI – IX. Este período foi marcado por lutas com o objetivo da sobrevivência
entre a classe do poder e a classe dependente do poder. Para o pobre a questão era sobreviver e
conquistar seu espaço na sociedade. Este ritmo da pobreza se estendeu até o século XVI,
caracterizando assim o pobre na Idade Média.
PALAVRAS-CHAVE: Pobre, Pobreza, Idade Média, Caridade, Igreja.
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O termo “pobreza” vem do latim paupertas e pauper. Estas palavras
latinas foram enriquecendo as línguas germânicas e eslavas, passando pelas
derivações do francês, italiano, inglês, português e espanhol que derivou “pobreza
e pobre”.
Na Idade Média, período que se inicia no século V, a pobreza também
floresceu sem preocupação de mudança ou suprimento, isso desde os tempos mais
antigos com os bárbaros até os tempos contemporâneos quando esse termo passou
a desenvolver “um sentimento de vergonha diante de um estado indigno do
homem” 2.
O período do século VI - XI foi marcado por lutas com o objetivo da
sobrevivência entre a classe do poder e a classe dependente do poder. “para o
pobre merovíngio a questão era sobreviver; no século IX, trata-se de manter um
lugar na sociedade”. Nessa época merovíngia os fatos e acontecimentos são
1
Trabalho apresentado a disciplina História Medieval do Curso de Licenciatura em História da
Faculdade José Augusto Vieira, 3º Período, como requisito para obtenção de nota da 3ª Unidade,
sob a orientação do Profº. Marco Antonio Matos Antonio.
2
MOLLAT, Michel. Os pobres na Idade Média. 1989. p. 1
relacionalmente eclesiásticos, e em meio às aflições, a má condição dos flagelados
esta situação era tida “como uma prevação redentora, se não como um castigo e
sempre sob a ótica do pecado”.
Dentre os carentes existentes estavam
os “deficientes físicos e (...) doentes” (...)
“leprosos, cegos e viúvas”. No entanto algumas
pessoas desempenharam papeis importantes,
cooperando com os pobres. A diaconia, por
exemplo, executava o papel de assistente dos
pobres, cuidando de abastecê-los e o bispo era
responsável
por
agir
de
compaixão
aos
desvalidos e “estimular clérigos e laicos à
caridade”.
3
Alguns deles chegavam a sacrificar
para socorrer-los, outros ofereciam suas casas
para fazerem as refeições, e existiram até aqueles
que deixaram tudo o que tinha para os desvalidos.
As circunstâncias econômicas, sociais e morais variam, e a questão de
marginais que superpovoaram as cidades na Idade Média era tanta, que se tornou
impossível saber a verdadeira porcentagem deles, além do dispendioso custo para
sua sobrevivência que pesava sobre o Estado e a Igreja. Com o passar do tempo,
surge nos séculos XIII e XIV a figura do “pobre laborioso”, denominado o
camponês que desprendido da servidão do seu senhor, ansiava ter sua
sobrevivência através do trabalho de suas mãos, independente de ser almejado ou não.
O pobre era avaliado em sua época e as circunstâncias em que estava
inserido seja na posição de homem, mulher, camponês, clérigo, cavaleiro,
companheiro, eram todos menosprezados em relação ao social. Este ritmo da
pobreza se estendeu até o século XVI.
A pobreza existente nesta época não era muito diferente dos dias
atuais, sendo a baixa alimentação dos indivíduos devido a falta de vitaminas para
suprir seu organismo dos males infecciosos resultava na desnutrição, e
consequentemente teriam vida curta.
3
IDEM. P. 40
Devido a cidade ter sido o lugar de refúgio dos pobres, os lugares de
fácil abrigo para eles eram geralmente “prédio público ou semipúblico, como o
átrio de uma igreja em Antioquia, por exemplo, o asilo de um mosteiro em
Constantinopla (...)”. Salientando também que a natureza dava sua ajuda
oferecendo “refúgio natural das inúmeras grutas”. E como os nossos antepassados
pré-históricos já deixavam seus vestígios por onde passavam, os pobres também
deixaram seus rastros de habitações, já que eram nômades, abrigavam-se em
barracas ou coisas semelhantes. A “casa familiar” não existia, e nem sabemos se
era sonho.
Dentre outros que ajudaram nas obras da
caridade estão Francisco e Domingos que
proclamaram o valor humano do pobre e sua
sacralização através do modelo de Cristo, em
meio a uma sociedade onde o dinheiro tendia
fortalecer
os
poderosos
e
desconsiderar
aqueles que dele estavam privados.
Os Irmãos Mendicantes tiveram importante papel na obra da educação
das consciências. Certo franciscano do século XIII fez um esboço de reflexo
social, uma análise das causas resultantes da pobreza, para ele a causa maior da
pobreza, é o egoísmo dos homens. O criador deu a comunidade humana tudo o
que esta necessitava, aos homens cabe a responsabilidade de repartir os bens em
forma de igualdade. O que falta aos pobres é resultado da superabundância dos ricos.
Com o testemunho de uma vivência pobre e fraternal os mendicantes
contribuíram para as transformações urbanas, em toda a Europa, dessa surgiram às
instituições hospitalares de grande importância, onde os pobres sentiam-se
verdadeiramente em casa.
Tanto no campo, como nas cidades, a pobreza laboriosa assumia uma
nova face. O aumento de dependência e a precariedade do emprego constituíam a
face da nova pobreza no campo, a questão da contratação de assalariados
agrícolas, era totalmente incerta, pois variava de acordo com os acasos das
estações e o humor do empregador. O desejo pelo lucro foi o responsável pelas
mudanças nos aspectos da pobreza, e o endividamento era a principal causa da
pobreza rural. A consciência de impotência e o sentimento de injustiça, fizeram
fluir no pobre a tendência natural do homem à agressividade diante do sofrimento
imposto pelas torturas da fome.
A pobreza era tida por alguns como caminho para a salvação, era o
que revelava sermões como o do dominicano Giordano de Rivalto: “A pobreza é
um mal necessário, uma dupla ocasião de salvação para o pobre através da
paciência e para o rico através da esmola”. Mais tarde, um outro dominicano,
Taddeo Dini rompe essa concepção, colocando o pobre como seres ativos, cujas
queixas Deus houve pessoas com direito a justiça e a um salário pago
honestamente.
Nem sempre às ações daqueles que se diziam defensores dos pobres
eram realmente justas e desinteressadas. A partir do final do século XII o pobre
tanto da cidade como do campo passou a agir não se conformando com uma
situação de passividade, infelizmente todas as vezes que se pronunciou, teve sua
ação reprimida.
Aos meados do século XIV deu-se o fim da influência exercida pelas
Ordens Mendicantes, a condição do pobre agora se convertia a categoria nova de
trabalhadores urbanos e rurais, desprovidos de recursos suficientes.
Sem ter havido nenhum tipo de vigília do serviço
sanitário nos portos onde desembarcavam navios
genoveses vindos de Kaffa, a peste fez suas
primeiras vítimas. A enfermidade espalhou-se
pelo interior da Europa, matando provavelmente
um terço da população européia, em sua maioria
os pobres. Pra se ter uma idéia, a cada três
mortos, dois eram pobres, a partir daí fora possível falar-se
de “epidemia proletária”.
O médico do século XIV levava ao pé da letra, a afirmação de que um
sopro era suficiente para matar o pobre. Na época se acreditava que a inalação, até
mesmo um olhar, era capaz de transmitir a infecção sob sua dupla forma bubônica
e pulmonar; no campo a má nutrição era mais freqüente que a desnutrição, com
cereais pobres, alimentos salgados em relação a excessiva carne fresca e água
contaminada.
A umidade e o frio teriam podido poupar essa permissividade aos
pobres. Com efeito, o rato não se afastava muito das moradias, que era local onde
procurava abrigo, enquanto que os porões dos navios lhes proporcionavam
transporte; o hábito de usar peles com os pêlos para fora, não era o suficiente para
eliminar as parasitas que os enfeitavam, além disso, as pessoas não se lavavam e
os conselhos médicos no sentido de evitar, eram em grande parte supérfluos, pois
de que adiantaria o pobre está aparentemente limpo, “usar desinfetantes
aromáticos caros, incensos, mirra, óleos”, se era inevitável o contágio de médicos
desprotegidos nos tratamentos domiciliar aos pestilentos.
Diante da pós peste, os assalariados foram valorizados, devido ao
aumento da procura e pouca mão-de-obra, e os campos precisavam ser cultivados,
pois a maioria dos cultivadores havia morrido. Mas essas não foram as únicas
causas da alta dos salários, pois simultaneamente a essa alta surge uma elevação
do custo de vida e um desequilíbrio econômico resultante de uma diminuição do
estoque monetário. Os procedimentos adotados com maior freqüência foram: a
franquia, a redução de produtos e os contratos a curto prazo “para aqueles que não
se beneficiaram da alta dos salários, ou seja, os necessitados, os pobres
envergonhados, miseráveis esfarrapados, o acréscimo do número dos legados
poderia ser um bálsamo. A proximidade da morte trazia às consciências as
lembranças das injustiças cometidas, e faziam as pessoas correrem para o notário
como se de um sacerdote se tratasse.”4
Vinte anos após os transtornos da peste, vieram as turbulências que
marcaram o final do século XIV. Mais uma vez o destino dos pobres eram incerto
e cheio de disparidade. “Peste, fome e guerra... por mais desastroso que fosse o
quadro, esses eram acidentes de percurso no calvário da pobreza.”5
O socioeconômico passou por declínios e tendiam a piorar ainda mais.
Na Franca, o campo se deparava com a guerra e a fiscalidade. Na Inglaterra o
problema era progressivo, o vigor da legislação de 1349-1351, com intuito de
voltar com salários de antes da peste. E na área urbana, a compartimentação
profissional das categorias sociais, associadas às dificuldades da recessão,
contribui para tornar ainda mais difícil a capacitação dos pobres para esses ofícios.
4
5
IBIDEM. P. 195
IBIDEM. P. 203
No final da Idade Média, os pobres recrutados, marginalizados são
fatalmente confundidos com delinqüentes e criminosos, diante de uma sociedade
organizada. As tavernas e cabarés freqüentados ao mesmo tempo por pobres e
criminosos, tornou-se palco da transição do pobre, que passou de mendigo a
“malandro”.
“A marginalidade e a criminalidade não se recrutam exclusivamente
entre os necessitados e os desocupados das cidades e dos campos. O
desemprego militar povoou as “companhias” do século XIV e os
bandos do século XV, cujos detentos foram anotados pelo burguês de
Paris.”.
Portanto a Idade Média foi a precursora do que se entende atualmente
da figura “pobre”. Este período foi marcado por lutas com o objetivo do desvalido
sobreviver em meio a uma sociedade utópica. Até os dias atuais o pobre é
excluído e marginalizado pelo poder.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MOLLAT, Michel. Os pobres na Idade Média. São Paulo. 1989.
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