ID: 37820026
05-10-2011
DANIEL ROCHA
Tiragem: 51975
Pág: 3
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 29,18 x 35,29 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 2 de 3
Entrevista a Zvi Fuks
Queremos um sistema eficaz, seguro
e amigável para tratar o cancro
ENRIC VIVES RUBIO
Andreia Cunha Freitas
Zvi Fuks é um americano
de origem israelita que
chegou à fundação há cerca
de seis meses para dirigir
o centro de investigação
Faz hoje um ano que a Fundação Champalimaud inaugurou as instalações
a Zvi Fuks, de 74 anos, trabalhava
no Instituto Sloan-Kettering para
a Investigação do Cancro, em
Nova Iorque, e tem centrado a sua
investigação no tratamento do
cancro com radiações.
Que balanço pode fazer destes
meses de trabalho?
Comecei há cerca de seis meses e
não tínhamos ainda pessoal médico
disponível na instituição. Tínhamos
uma equipa de cientistas a trabalhar
na área da Neurobiologia mas não
tínhamos pessoal médico. E tivemos
sucesso no recrutamento de um
significativo número de clínicos nos
últimos três ou quatro meses.
Portugueses?
Não só, mas maioritariamente
portugueses. O director clínico é
António Parreira, um reconhecido
hematologista. E temos também
a coordenadora da Unidade de
Cancro da Mama, Fátima Cardoso. E
alguns outros. As pessoas na área de
Radioterapia são de outras partes do
mundo, como Itália e Holanda.
A contratação da equipa médica
é a prioridade?
Estamos empenhados nisso nestes
primeiros nove meses, um ano.
Queremos construir uma infraestrutura para serviços médicos.
Especialmente dedicada ao
cancro?
Estamos a tentar construir uma
infra-estrutura capaz de cuidar
dos doentes. O objectivo desta
instituição é a investigação
translacional. Ou seja, fazer com
que os avanços em Medicina que
aconteçam na área da investigação
do cancro, em laboratórios,
em modelos animais e outros
modelos sejam transferidos para os
humanos. Estamos concentrados
em completar as últimas fases
da transferência de processos
extremamente novos de terapias
que podem ser usados em doentes.
No cancro da mama?
Em vários tipos de cancro. Estou
a falar no princípio em geral.
Para conseguir fazer isso, temos
de ter um sistema que possa ser
disponibilizado aos doentes.
Mas esses doentes serão tratados
no âmbito de ensaios clínicos?
Não necessariamente. Neste
momento, queremos ter uma infraestrutura que seja capaz de garantir
terapias para cancro. No princípio,
serão terapias tradicionais, porque
é assim que se constrói um serviço.
Assegurando que temos clínicos,
enfermeiros, procedimentos e
capacidade para fazer todos os
testes necessários. Assegurando
que é seguro para o doente e que
eles beneficiam da terapia. Temos
de ter a infra-estrutura e a equipa
empenhada em tratar os doentes.
O programa de Neurociências
também terá essa plataforma
clínica?
Não, esse vai manter-se como um
programa de investigação que
envolve tudo menos doentes.
Não há planos para que isso
aconteça?
Ainda não foi decidido nada sobre
isso. Neste momento, não estamos
a discutir isso. Não quero dizer nem
sim nem não. Estamos empenhados
em construir um sistema para
tratamento do cancro que seja
eficaz, seguro e “amigável” para os
doentes. Esse é o nosso objectivo
actualmente. Queremos cumpri-lo o
mais rapidamente possível.
Tem um prazo definido?
Isto não é um serviço militar
e, por isso, não funcionamos
com deadlines. Mas temos a
expectativa de o fazer o melhor
que conseguirmos. Estamos a
trabalhar muito e a andar rápido. É
um projecto em desenvolvimento
e vai demorar ainda um pouco
até conseguirmos juntar todos os
especialistas e a excelência que
queremos garantir.
Quantos têm e quantos serão
suficientes?
Nunca serão suficientes. Estamos
a tentar apoiar-nos o máximo
que conseguirmos em médicos
portugueses porque estamos em
Portugal e porque os doentes serão
maioritariamente portugueses.
Há excelentes clínicos no país que
estamos a tentar atrair.
Quantos têm actualmente?
Nos últimos três meses,
contratámos cerca de uma dúzia.
Estamos a negociar ainda com
alguns. E estamos à procura
de mais. Esperamos que até ao
próximo Inverno já tenhamos
pessoal suficiente para começar a
ter um fluxo constante de doentes
e aí vamos tentar implementar de
uma forma responsável e devagar
novos tratamentos, experimentais.
Ainda não estão a tratar doentes?
As instalações estão prontas e
começámos a ter alguns doentes.
Mas ainda poucos. Temos doentes
que vimos e que começámos a tratar
mas é um desenvolvimento recente.
Abrimos há poucas semanas, e,
gradualmente, estamos a dar-nos a
conhecer ao sistema português, aos
doentes portugueses e médicos.
Esses doentes estão a ser
tratados em ensaios clínicos?
Ainda não. Neste momento,
estamos a tentar montar o sistema
usando terapias tradicionais, mas,
em breve, teremos protocolos
de investigação e de Medicina
avançada. Nem todos os novos
tratamentos são investigação.
Alguns são tecnologias avançadas
que têm de ser implementadas,
introduzidas neste país.
Sentiu que a prioridade tinha de
ser a construção da parte clínica
do projecto?
Inicialmente, sim. E começar com
os tratamentos tradicionais como
base para depois passar para as
terapias mais avançadas. Para
conseguir assegurar a segurança.
Quer destacar algum marco
importante já alcançado?
Estamos no início. Ainda não
temos marcos. Estamos abertos
e a começar a funcionar. Isso é
um marco impressionante e que
requereu um esforço enorme,
financeiro e profissional. Abrir
algo como isto não é uma coisa
pequenina.
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