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POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE: NO TEAR DA CULTURA VOZES
DA SUBJETIVIDADE AFRO-BRASILEIRA ENTRELAÇAM-SE
Cristiana da Cruz Alves (UNEB - Campus II)
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Para discutir a política da subjetividade a partir das relações cotidianas, será tecido um
diálogo entre textos literários de diferentes autores em tempos e espaços diferenciados.
Partindo do conto Segundo Nego de Roseno1, de Antônio Torres2 o tear se fará com Racismo,
de Dulcicleide de Souza Santos3; Ashell, Ashell para todo mundo , Ashell, de Elisa Lucinda;
Ebulição da Escravatura, de Luís Carlos de Oliveira, dentre outros textos que levam a
reflexão. Como referencial teórico serão visitados Frantz Fanon em Pele negra, máscaras
brancas; Simone de Beauvoir em Segundo sexo; Ana Lucia Silva Souza em De olho na
Cultura, O Movimento cyborg entre outros, quando não apresentados com citação diretas,
pode-se perceber a leitura destes implícitas durante todo o texto. Assim, acompanhando os
fios tecidos no tear dos discursos literários num diálogo intertextual no qual a crítica cultural
esteja presente primeiro fio parte de Segundo Nego de Roseno; Meninos, eu conto4:
_ Patrãozinho, me dê uma prata.
_ Pra que você quer dinheiro, homem?
_ Me dê uma prata pra eu tomar uma.
_ Não vai trabalhar? Papai está te esperando. 5
Lendo a citação acima, que é o início do conto Segundo Nego de Roseno, percebe-se na fala
do homem uma certa submissão, subserviência ou seria uma forma carinhosa de falar? Seria
esse homem, até então sem nome, o Nego de Roseno? O verbete “patrãozinho” nos remete ao
conceito de “ Senhor, patrão” e ao ser consultado no dicionário encontra-se referência ao
homem branco, isso pode ser visto na citação que se segue:
A - Verbetes
Negro
Terceiro conto da trilogia que compõe o livro Meninos, eu conto, de Antonio Torres.
Escritor baiano nascido no Junco, hoje Sátiro Dias, que hoje é destaque da literatura nacional sendo
reconhecido internacionalmente por traduções de seus livros em diversos países entre estes Essa Terra, que pode
ser lido em francês, inglês, alemão, italiano, holandês, hebraico espanhol
3
Duscicleide de Souza Santos participa da Antologia de poeta de Sátiro Dias: Poesia na Janela, cujo nome é
Poesia na Janela, o livreto foi financiado pela Prefeitura Municipal, confeccionado numa gráfica da região Didi
Graff, não apresenta ano de publicação nem registro no ISBN.
4
TORRES, Antônio, Segundo Nego de Roseno. In: Meninos, eu conto. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
5
TORRES, A. Idem p. 17.
1
2
2
Além de designar a cor, raça ou etnia diz também: Sujo, encardido, preto: muito
triste; lúgubre, perverso, nefando;
Branco
Claro, translúcido. Diz-se do individuo de pele clara. FIg. Sem macula, inocente,
puro, Candido, ingênuo: a cor branca. Homem de pele clara. Bras. Senhor, patrão.
Preto
Que tem mais sombra de todas as cores; de cor de ébano, do carvão, do carvão. Dizse de diversas coisas que apresentam cor escura, sombria; negro: sujo, encardido.
Diz-se do individuo negro. Bras. Difícil, perigoso;
B – Poema Epigrafe de Elisa Lucinda, inspirado na fala de Juliano, seu filho, com,
então, quatro anos.
Mãe, sabe por que eu gosto de você ser negra?
Porque combina com a escuridão
Então, quando é de noite, eu nem tenho medo,
... tudo é mãe e tudo é escuridão. 6
Relacionando a citação de Torres e a da definições do Dicionário Aurélio, que foram
analisadas em De olho na Cultura: Pontos de vista afro-brasileiros , de Ana Lúcia Silva
Soares, o leitor poderá fazer uma leitura com indícios de que a personagem-narrador, poderia
está afirmando a discriminação racial, pois poderia ficar subentendido que o homem que trata
o menino como patrãozinho poderia ser negro e dentre as características deste a que primeiro
se ressalta e que bebe “ _ Eu vou tomar mais uma./ _ Tome duas e cai logo de vez _ disse o
menino, pondo as duas moedas na mão do homem e se retirando.” A forma como o menino
fala pode parecer determinante de uma carga de preconceito, entretanto ao continuar com a
leitura, descobre-se que a fala do menino é destinada a um homem cujos traços étnicos não
aparece, sabe-se apenas que ele chamo o menino de “patrãozinho”, que é um homem que
trabalha para o pai do menino e que naquele dia faltaria ao trabalho por causa do vício, este
homem não é o Nego de Roseno.
O tratamento do menino para com o empregado do pai é típico de meninos da roça que
pelo convívio cotidiano, desenvolve afetividade pelos empregados das “fazendolas” de seus
pais, uma vez que há uma relação muito próxima entre patrões e empregados, quando estes
não são grandes fazendeiros, mas homens do campo considerados “remediados” dentro
daquela sociedade em sua maioria pobre.
Na sequência da narrativa, após ter ganhado do padre um dinheiro, por ajudar na
missa, o menino que estava na Rua7 pensa na volta para casa e no longo caminho, na fome
que pela estrada passará e decide ir ao armazém de Josias Cardoso, lá encontra o personagem
chave da narrativa, Nego de Roseno.
SOUZA, Ana Lúcia Silva. De olho na cultura: pontos de vista afro-brasileiros. Salvador: Centro de Estudos
Afro-Orientais;Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2005. P. 36
7
Rua é a forma como as pessoas da zona rural chamavam o povoado do Junco, onde ficava a igreja em torno da
qual surgiu o Junco/ Sátiro Dias que hoje circula pela Literatura como um entre-lugar entre o real e a ficção.
6
3
Observa-se que o menino tem sobre Nego de Roseno um olhar de admiração, ele narra
os feito do homem que com o próprio trabalho conseguiu vencer na vida, progredir, era o
único que tinha um automóvel, aos olhos do menino digno de “inveja”, o mesmo menino
ainda enfatiza o fato daquele homem que podia ir e vir gozando de ampla liberdade, algo que
aos roceiros era impraticável. Naquela sociedade o Nego de Roseno era uma figura
afirmativa, não importa onde geograficamente fique este Junco ficcional ele é representativo,
figurativo de um quilombo de liberdade, de desejo, que se aproxima de qualquer leitor diante
da história revisitada de forma positiva, da cultura que traz em se hibridismos, da identidade
que quebra fronteira no texto. Não se trata de um menino branco visto como um patrãozinho e
um homem negro visto com empregado “escrevo”, trata-se de um menino branco diante de
um homem negro admirando-o pelo seu potencial de lutar contra as adversidades e progredir,
o discurso de descolonização aparece no texto como marca da afirmação da identidade afrobrasileira num convívio cotidiano.
É importante ressaltar que esta cena cotidiana vivida pelo menino-narrador e pelo
Nego de Roseno no conto, não corresponde a idéia de que este artigo encerra na afirmação
que não há preconceito raciais, a intenção e visualizar que o conto Segundo Nego de Roseno
desterritorializa esse preconceito ao afirmar a identidade do outro a fala do menino, indo de
encontro ao que denuncia Fanon em Peles Negras, máscaras brancas ao escrever:
Compreendemos agora porque o negro não pode se satisfazer no seu isolamento.
Para ele só existe uma porta de saída, que dá para o mundo dos brancos. Donde a
preocupação permanente não atrai a atenção do branco, esse desejo pode ser
poderoso como o branco, essa vontade determinada de adquirir as propriedades de
revestimento, isto é, a parte do ser e do ter que entra na constituirão do ego. Como
dizíamos a pouco, é pelo seu interior que o negro vai tentar alcançar o santuário do
branco. A atitude revela a intenção 8
Nesta fala de Fanon pode-se ler a atitude do trabalho incansável do Nego de Roseno,
para ter dignidade entre os brancos, ele faz uso dos mesmos mecanismos que os brancos,
insere-se no comércio, é o único capaz de transportar mercadorias num caminhãozinho que
encurta as distâncias e facilita a vida dos moradores do lugarejo. Sendo um homem dos
negócios o seu prestígio social não é visto pela cor da sua pele, mas pela condição que este
ocupa na sociedade. Percebe-se que as relações comerciais do Nego de Roseno com os
roceiros eram intensas e boas, ele tinha um comércio estável e era fornecedor de mercadorias
para a região.
8
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008
4
Na sequência da narrativa o menino compra a camisa, é firmado um trato entre dois
homens, o menino se considerava um “hominho” de palavra. Comprou a camisa com o
dinheiro que ganhara do padre pela ajuda na missa porém precisa desfazer o negocio devido a
ordem paterna e pensa o que pensaria dele o Nego de Roseno, isso o atormentou por muito
tempo, porém determinada noite, seu pai chega mais tarde da “rua” e fica conversando com
sua mãe e começa a contar o que ouviu uns homens dizer sobre o menino, enquanto este
atento ouve o pai dizer o que dissera Nego de roseno a seu respeito na venda de Josias em
presença do compadre Zeca: “Dá gosto ouvir aquele menino falar. Aquele menino é um homem _
contava o velho. _ Os outros, todos, disseram a mesma coisa.9
Eis o fim do conto, nele se vê o valor da palavra segundo Nego de Roseno, observa-se
que ele é uma pessoa de prestígio, não há indícios de preconceito racial dentro da cena do
cotidiano neste conto visibilizada. Assim, as perguntas que o leitor pode ter se feito ao ler o
verbete “Segundo” no título do conto, indicando uma narrativa em terceira pessoa, que pode
ter aguçado o mesmo leitor a desejar saber o que diria um branco ao transpor o discurso de
um negro, neste conto anula a possibilidade de preconceito, pois há uma valoração da
personagem Nego de Roseno, ele é a personagem principal, é dele a palavra final, a voz do
negro tem valor e isso não se revela apenas no discurso de uma criança, mas, de vários
homens. Assim, o conto não nega as relações de preconceitos da sociedade, entretanto afirma
o desejo e a potencialidade de um discurso para além da segregação de uma sociedade, pois
traz em si a valoração da palavra masculina como igual. Para trazemos à cena a mulher e os
discursos que são tecidos sobre seu “papel social” faremos uma leitura comparativa entre
textos de duas mulheres negras, sendo que uma apresenta-se absolvida pelos valores,
costumes e discursos que ao longo da história se teceu sobre as mulheres negras e a outra é
politizada. São elas, Dulcicleide de Souza Santos e Elisa Lucinda; enquanto esta dispensa
comentários por ser conhecida no cenário cotidiano da arte, cultura e luta pela valorização da
negritude, aquela é uma jovem que sonha com uma sociedade mais justa, com a igualdade
entre os povos independente de raças, mas que já foi absolvida pela cultura branca, em seu
discurso percebe-se as marcas do discurso que Fanon denuncia em Peles negras máscaras
brancas. Assim, torna-se interessante reler alguns fala do poema Racismo :
Pra que tanta discriminação
Se somos filhos do mesmo pai
Se habitamos o mesmo espaço
Se somos de carne e osso
Assim como tu?10
9
TORRES, A. Op.cit. p.25
SANTOS, Dulcicleide Souza. Racismo. In Poesia na Janela: Antologia dos Poetas de Sátiro Dias. P.25
10
5
Não se pode ler a situação do negro no século XXI sem levar em consideração todas as
marcas de exclusão que o povo negro sofreu no decorrer do processo histórico de colonização
e escravização. O homem branco ocidental, tentou apagar as marcas da cultura afro, entre
estas a sua religiosidade, então como num jogo, no drible, ou no golpe da capoeira surge o
sincretismos, porém o discurso religioso como outros discurso legitimados, levou muitos a
creem no Deus dos brancos e ignorar o seus deuses. A imagem do Deus que os colonizadores
criaram foi de um Deus que se faz igual para todos, que deseja a igualdade sem olhar as
diferenças, falo da invenção deste “Deus” não para questionar o valor religioso do Deus dos
cristãos, nem dos deuses dos cultos afro, apenas para questionar a forma de falar deste Deus
da igualdade, que não vê a diferença, questiono o que sociedade branca ocidental disse “Em
nome de Deus”, questiono o Deus que busca o homogeneidade, que escraviza e mata índios e
negros. Como crer num Deus que é imagem e semelhança apenas do homem branco? Citando
Fanon:
Não, realmente o Deus bom e misericordioso não pode ser negro, é um branco de
bochechas bem rosadas. Do branco ao negro tal é a linha de mutação. Ser branco é
ser rico, como ser bonito, como ser inteligente. 11
Na continuidade do poema, de Duscicleide Santos fala da metáfora da mãe, que pode
ser lida como terra, de onde viemos. A metáfora da mãe não seria a mesma para todos, no
Brasil temos três matrizes _ indígena, portuguesa e africana _ cito por ordem de chegada,
porém com o processo de colonização, inúmeros foram os povos que vieram se misturar nesta
pátria “mãe gentil. O poema traz ainda a metáfora do pão que remete a uma leitura mais
profunda que alimento para o corpo, tendo o valor de bem estar social, não dividimos o
mesmo pão, no Brasil há enorme desigualdade social, o pão não e distribuído igualmente para
todos, e os negros geralmente ficam com a menor parte.
Lendo o poema de Duscicleide Santos, percebe-se que ela não se posiciona enquanto
mulher, nem enquanto mulher negra, ela fala com distanciamento, não se envolve, apresenta
traços do processo de embranquecimento tanto no contexto do poema quanto na linguagem, é
um texto mais pautado nos ideais da revolução francesa “igualdade, fraternidade e liberdade”
ou seja o discurso dos brancos, isso reforça o texto de Fanon “Pele negra máscaras brancas”,
também se percebe, que ela ainda está presa ao discurso que acorrenta a mulher no imaginário
da figura feminina de docilidade, de sonho com uma sociedade perfeita.
11
FANON. Op.cit. p. 60
6
Partindo agora para Elisa Lucinda, tanto a vida quanto a obra desta mulher nos diz
muito, inicialmente falaremos da visão de mãe e mulher negra:
Mãe, sabia por que eu gosto de você ser negra?
Porque combina com a escuridão
Então quando é noite, eu nem tenho medo,
...tudo é mãe e tudo é escuridão. 12
Este poema desmistifica a questão do negro, do preto como é definido pelos verbetes
em citação anterior extraída do sentido dicionarista, reflete a identidade negra, enfoca relações
cotidianas entre pessoas abordando o peso ou a leveza de uma palavra a depender de como
esta é empregada, aqui o negra é positivo, quebra com a idéia de tristeza, de solidão da noite,
a noite e a mãe são lugares de aconchego. São estas imagens figurativas que podem
transformar o social através da linguagem, reinvenção dos sentidos, aqui a mulher negra está
valorada ao ressignificar o sentido dela mesma e da noite que deixa de ser sombria porque é
reflexo da imagem de mãe.
Continuando com Elisa Lucinda, partindo da mãe para a mulher que reflete o mundo,
que questiona, que o transforma, utilizando o cotidiano e a linguagem como artifícios
estratégicos de combate a desigualdade racial e social em Ashell, Ashell para todo mundo,
Ashell, Elisa Lucinda quebrando o estereótipo de "branco escravizado na sua superioridade e
negro na sua inferioridade" (FANON) mostra a mulher negra que vem, através do poema,
questionar os padrões de beleza, valores de um mundo em que tudo é produto inclusive
pessoas. Por que ela deveria emprestar sua imagem, emprestar suas pernas, bunda e quadris
para um clip- exportação? Cria-se e vende-se a imagem de um “Brasil de mulatas, terra de
samba e pandeiro” onde se faz o carnaval e a imagem deste é confundida com os antigos
bacanais dos romanos. Para se vender um produto com a estética cyborg, mulheres perfeitas,
sejam elas negras mulheres que pelas avenidas desfilam vestidas de rainhas, e por um instante
suas vidas são conto de fada no samba enredo de suas escolas, que no sambódromo fazem as
comunidades mostrarem que são lugares de resistência, que são quilombos contemporâneos
nos quais o samba é o grito de liberdade. Mas o mito cyborgs não para nas avenidas vão às
passarelas, a TV, às revista e brancas mulheres também mostram suas pernas e sua magreza
para uma sociedade que estereotipa padrões de beleza. Lembrando Haraway:
SOUZA, Ana Lúcia Silva. Op.cit. p. 36 Poema Epígrafe de Elisa Lucinda, inspirado na fala de Juliano, seu
filho, com, então, quatro anos.
12
7
A finales Del siglo XX- nuestra era, um tiempo mítico-, todos somos quimeras,
híbridos teorizados y fabricados de máquinas y organismo; em palabras, somos
cyborgs.13
As belas mulheres negras que são convidadas para fazer comercial de
bombril e dizem não, que são chamadas para clip- exportação e dizem não... circulam pelas
ruas, avenidas, vilas e vielas destes mundos Brasis, vivem num mundo trabalham em outro e
não se reconhecem em muitos anúncios. Quais as personagens negras de destaque em TV?
Quantas novelas já tiveram uma protagonista negra? Quando as mulheres protagonistas são
negras quem são seus pares romântico? A que classe social pertencem? Precisamos de tantas
máscaras branca num país multiracial?
A luta, a conquista, o sofrimento dos três séculos historia do negro no Brasil, sendo as
mulheres sendo ama de leite na casa grande, “Negra flor”14 do seu senhor “objeto de desejo”,
da sua senhora alvo da ira e da inveja “negra escrava”, que aflorava como uma orquídea em
meio a lama na qual foi lançada. Cozinheiras, lavadeiras, operárias que os dias esmerila em
diversos lares, quebram as algemas vão a luta, conquistam espaços, chegam a universidades,
mas pelas ruas das cidades ainda não se encontra ao olhar a embalagem do produto que nas
prateleiras elas procuram. No nosso cotidiano a cada dia surge um Luther King travestido de
homem ou mulher comum sendo mártir num mundo de marketing. Luís Carlos de Oliveira
vem nos apresentar a Ebulição da escravatura reflete os aspectos sociais: Quantas mulheres
negras hoje continuam na situação de subserviência, mesmo desejando um “espaço ao sol”,
estudando, tendo consciência de sua situação, faltam oportunidades, a desigualdade racial
ainda se mostra de modo velado, quando se fala de boa aparência, quando se observa onde
trabalham as belas mulheres negras que não estão no anúncio de free.
Estando nas capitais e observando os ônibus que circulam para os subúrbios veremos
que não são os melhores da frota e que sempre estão superlotados, nestes ônibus encontramos
uma metáfora moderna para os navios negreiros, pois é nos subúrbios que se concentra a
maior parte da população negra das grandes cidades. E as favelas são quilombos de
resistência, no qual a lei do silêncio impera, pois aos olhos dos brancos que vivem nos centros
“o que vem da favela representa o perigo, representa o lado “negro” 15 da sociedade, assim
entre polícia e bandido as favelas tentam sobreviver e resistir reinventando-se para proteger os
cidadão que nela moram.
HARRAWAY, Manifesto cyborg. “Ciencia Tecnologia y Feminismo Socialista Finales Del S.XX”
www.caosmosis.acracia.com
14
Alusão ao poema Negra Fulô, de Jorge de Lima.
15
A palavra Negro neste contexto esta para visualizar o verbete dicionarista que discrimina, neste artigo é feito
uma crítica ao uso pejorativo deste verbete.
13
8
E nesta ebulição da escravatura já não comem a ração, mas ainda recebem salário
mínimo, a alforria só chega com a aposentadoria, enquanto isso seu Senhor com o fruto do
trabalho do escravo do operário viaja de jatinho, nos jornais ocupam páginas sociais, já nas
páginas policiais a segregação se estampa, nunca são flagrados, pela máquinas digitais os
filhos de papai que estão apenas nos eventos sociais. Princesas Áureas desfilam nas telas de
cinema, na TV e nas passarelas e a ditadura da beleza ainda é branca, o rei não faz mais
pirâmides, ele constrói viadutos com seu codinome.
Concluímos dizendo que nos textos aqui visitados os posicionamentos dos escritores
tenha enfoques diferentes, pois estes possuem diferentes marcas pessoais e culturais, que aqui
foram analisados com o intuito de mostramos
lugares de fala diferenciados dentro da
literatura afro-brasileira e de uma cultura tão múltipla, que é a cultura brasileira com seus
sincretismos e hibridismos.
REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone. Segundo sexo. São Paulo:
http://brasil.indymedia.org/media/2008/01//409680.pdf
Nova
Fronteira,
2009.
BHABHA, Homi K . O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador:
EDUFBA, 2008.
FIGUEIREDO, ANGELA. Dialogando com os estudos de gênero e raça. In:
Raça: Novas perspectivas antropológicas. Salvador, EDUFBA, 2008.
HARRAWAY, Manifesto cyborg. “Ciencia Tecnologia y Feminismo Socialista Finales Del
S.XX” www.caosmosis.acracia.com
LUCINDA, Elisa. Ashell, Ashell para todo mundo, Ashell. In: SANTOS,Luís Carlos.
Antologia da poesia negra brasileira: O negro em versos. São Paulo Moderna. 2005
NAZARÉ LIMA, Maria e SILVA SOUZA, Florentina da. Literatura Afro-brasileira.
Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.
OLIVEIRA, Luís Carlos. Ebulição da escravatura In: SANTOS,Luís Carlos. Antologia da
poesia negra brasileira: O negro em versos. São Paulo Moderna. 2005
PINHO, Osmundo Araujo &SANSONE, Lívio. Raça: novas perspectivas antropológicas. 2ª
ed. Salvador: ABA/EDUFBA, 2008.
9
SANTOS, Dulcicleide Souza. Racismo. In Poesia na Janela: Antologia dos Poetas de Sátiro
Dias. Prefeitura Municipal de Sátiro Dias/ Secretaria da Cultura. s/d P.25.
SOUZA, Ana Lúcia Silva. De olho na cultura: pontos de vista afro-brasileiros. Salvador:
Centro de Estudos Afro-Orientais;Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2005.
TORRES, Antônio, Segundo Nego de Roseno.In:Meninos , eu conto.3ªed.Rio de Janeiro:
Record, 2001
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