UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
ESTRATIGRAFIA E EVOLUÇÃO DA BARREIRA HOLOCÊNICA
NA REGIÃO COSTEIRA DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR,
PLANÍCIE COSTEIRA DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
FELIPE CARON
Tese de Doutorado apresentada como
requisito parcial para a obtenção do
Título de Doutor em Ciências.
Orientador:
Prof. Dr. Eduardo Guimarães Barboza
Co-orientador:
Prof. Dr. Luiz José Tomazelli
COMISSÃO EXAMINADORA:
Prof. Dr. Claiton Marlon dos Santos Scherer (UFRGS)
Prof. Dr. Rodolfo José Angulo (UFPR)
Prof. Dr. Lauro Júlio Calliari (FURG)
Porto Alegre, Fevereiro de 2014
CIP - Catalogação na Publicação
CARON, FELIPE
ESTRATIGRAFIA E EVOLUÇÃO DA BARREIRA HOLOCÊNICA
NA REGIÃO COSTEIRA DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR,
PLANÍCIE COSTEIRA DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL /
FELIPE CARON. -- 2014.
167 f.
Orientador: EDUARDO GUIMARÃES BARBOZA.
Coorientador: LUIZ JOSÉ TOMAZELLI.
Tese (Doutorado) -- Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geociências, Porto
Alegre, BR-RS,
2014.
1. GEOLOGIA COSTEIRA. 2. ESTRATIGRAFIA. 3.
QUATERNÁRIO. 4. HOLOCENO. 5. BARREIRA COSTEIRA. I.
GUIMARÃES BARBOZA, EDUARDO, orient. II. TOMAZELLI, LUIZ
JOSÉ, coorient. III. Título.
Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFRGS com os dados
fornecidos pelo(a) autor(a).
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ................................................................................................ V
RESUMO ................................................................................................................... VI
ABSTRACT ..............................................................................................................VII
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. VIII
LISTA DE TABELAS ..............................................................................................XII
TEMA DE ESTUDO .............................................................................................. XIII
HIPOTESE .............................................................................................................. XVI
CAPÍTULO I.............................................................................................................. 17
I.I – INTRODUÇÃO.................................................................................................. 17
I.I.I Plataforma Continental do Rio Grande do Sul .................................................... 21
I.II OBJETIVOS ........................................................................................................ 23
I.III – MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 25
I.III.I Processamento e geração de perfis batimétricos .............................................. 26
I.III.II Sedimentologia das Amostras ......................................................................... 26
I.IV – RESULTADOS ............................................................................................... 28
I.IV.I Zona A .............................................................................................................. 28
I.IV.II Zona B ............................................................................................................. 38
I.V – DISCUSSÃO .................................................................................................... 48
CAPÍTULO II ............................................................................................................ 56
II.I – INTRODUÇÃO ................................................................................................ 56
II.I.I Contexto Geológico ........................................................................................... 56
II.I.II Nível do mar no Holoceno no sul do Brasil ..................................................... 60
II.I.III As Barreiras Holocênicas do Rio Grande do Sul ............................................ 61
II.I.IV Aspectos Climáticos e Oceanográficos ........................................................... 63
II.I.V Características da área de estudo ...................................................................... 65
II.II OBJETIVOS ....................................................................................................... 66
II.II.I Objetivo geral ................................................................................................... 66
II.II.II Objetivos específicos ...................................................................................... 66
II.III – MÉTODOS ..................................................................................................... 67
II.III.I Geologia de superfície..................................................................................... 67
III.III.II Geologia de sub-superfície ........................................................................... 68
III.III.II.I Radar de penetração no solo-GPR .......................................................... 68
II.III.II.II Sondagens ............................................................................................... 70
II.III.III Análises laboratoriais ................................................................................... 71
II.III.III.I Abertura e descrição dos testemunhos ................................................... 71
II.III.III.II Análises Granulométricas ..................................................................... 71
II.III.III.III Análises Paleontológicas ..................................................................... 71
II.III.IV Análises Geocronológicas ............................................................................ 72
II.III.VI Análises Faciológicas ................................................................................... 72
II. IV RESULTADOS ................................................................................................ 74
II.IV.I Geologia Local ................................................................................................ 74
II.IV.II Morfologia e Estratigrafia da Barreira Holocênica na região da Barra do
Arroio Chuí ................................................................................................................ 82
II.IV.III Morfologia e Estratigrafia da Barreira Holocênica na região da Praia das
Maravilhas .................................................................................................................. 84
II.IV.IV Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira Holocênica
na região da Praia do Hermenegildo .......................................................................... 86
II.IV.V Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira Holocênica
na região da Praia dos Concheiros ............................................................................. 89
II.IV.IV.I Geometria Deposicional......................................................................... 97
II.IV.IV.II Estratigrafia ........................................................................................ 103
II.IV.IV.III Resumo da Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da
região da Praia dos Concheiros ............................................................................ 123
II.IV.V Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira Holocênica
da região do Farolete Verga ..................................................................................... 126
III.IV.VI Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira Holocênica
da região do Farol Sarita .......................................................................................... 131
III.V – DISCUSSÃO................................................................................................ 136
III – INTEGRAÇÃO DOS RESULTADOS DOS PARA O SETOR SW DA
BARREIRA HOLOCÊNICA COSTEIRA DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR 144
IV – MODELO EVOLUTIVO ................................................................................ 146
V – CONCLUSÕES ................................................................................................. 154
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 157
v
Agradecimentos
Em especial a minha esposa Simone, por toda força e paciência durante o
desenvolvimento desta tese. A minha família que sempre me motivou: Hilda, Julio,
Beti, Dani, Pedro: para estes não se sustentam comentários. Aos meus tios André e
Lucia que me mostraram o caminho da Geologia e suas vertentes. João Vicente, Raiza,
Clara e Arthur pelos gestos naturais que relembram a maneira simples e sincera de ser
feliz.
Agradeço a Francisco S.C. Buchmann pelas sugestões, críticas, discussões e
incentivos; amigo irmão que me apresentou o caminho da geologia costeria e marinha.
Agradeço a Eduardo G. Barboza pela orientação, aprendizado, vivências de
campo e pela paciência nas correções.
Agradeço a Luiz José Tomazelli pela orientação, apoio, incentivo e constante
aprendizado proporcionado.
Agradeço a Sérgio R. Dillenburg por todas as discussões e sugestões.
Agradeço a Beatriz Dehnhardt pela parceria e paciência na identificação de
Moluscos, Artrópodes e Protozoários.
A Lauro Júlio Calliari e Gilberto Griep pelo incentivo desde a Graduação e
apoio logístico de campo.
Aos demais pesquisadores do CECO-UFRGS: Nelson Gruber, Zé Nunes, Luis
Emílio, Elírio Toldo, Iran Corrêa, Flávio Bachi, Jair Weschenfelder, Carla Barros,
Ricardo Baitelli, Svetlana Medianic, Luis Tabajara pelo convívio e apredizado. Ao
técnico e Giba, pelo esforço laboratorial aprendizado e conselhos sempre relevantes.
Aos irmãos: Rogério Manzolli, Luana Portz, Anderson Silva, Maria Luiza
Rosa, José Antiqueira, Renato Lopes, Rodrigo Torres, Rafael Guedes, André Ugri,
Stevaux. Sem estes seria impossível a realização deste trabalho pela logística,
profissionalismo e sangue dado em campo. Apenas quem conhece a Planície Costeira
Sul sabe........Aos colegas (Leo, Cláudia, Taís, Grazi, Milene, Luciano, Heitor, Zozi,
Paulista, Há, Júlio, Luciano, Miguel, Michel, Uruguaiana, Volnei, Ricardo, Fred,
Eduardo e ainda outros não menos importantes que esqueci de mencionar aqui....).
Aos amigos do curso de Geologia da UFRGS (Zé, Codorna, Carol, Cássio,
Thiago,...), pela troca de experiências e aprendizado no dia a dia.
Aos colegas da FURG e amigos no Cassino.... pela hospitalidade e apoio.....
Aos colegas de UNIPAMPA, atual “casa”: Marcelo, Osmar, Marco, Pedro,
Mário, Caroline, Moises, Tiago, Marcus, Aline, Max, George, Éverton, Frichenbruder,
Marcio, Delfino, Felipe, Vini, Luciana, Daniel, Carlos, Bento, César, Sandra, Karine,
Pedro, Luis Eduardo, Regis, Raul, Ricardo, Juliana, Cris, Evélton e outros que esqueci
de mencionar aqui...., pela força de que um dia eu iria acabar....
A oportunidade de realizar este trabalho no IG-UFRGS.
Ao Cnpq, pela bolsa de estudos proporcionada.
A Planície Costeira do Rio Grande do Sul, laboratório infindável....
Ao mar....
Muito obrigado!
vi
Resumo
A barreira holocênica da região costeira de Santa Vitória do Palmar possui características morfológicas
estratigráficas e evolutivas diferenciadas quando comparadas a outros segmentos da costa do Rio Grande
do Sul. Dados obtidos na antepraia caracterizaram a batimetria e sedimentologia das regiões adjacentes a
barreira, sugerem que a evolução da barreira foi fortemente controlada pelos altos topográficos podendo
alterar o processo de migração da barreira durante o processo transgressivo condicionado pela elevação
do nível do mar. E que a composição sedimentologica da antepraia contraposta as regiões costeiras
adjacentes são importantes componetes quanto ao balanço sedimentar, na composição pretérita e atual da
barreira. Imagens orbitais, fotografias aéreas e altimetria pelo sistema GNSS caracterizaram a morfologia,
e sondagens SPT e a percussão em conjunto com dados de GPR integram a aquisição de dados do registro
sedimentar subsupeficie. Análises sedimentológicas, paleontológicas e geocronológicas fundamentam a
descrição e interpretação das fácies sedimentares e suas associações. Portanto ao longo da barreira no
sentindo SW-NE da barra do Chuí até o Farol Sarita foram identificadas duas unidades deposicionais
distintas. Uma unidade condicionada pela última Transgressão Marinha Pós Glacial apresentando
características tipicamente transgressivas (retrogradacional), marcada pela sobreposição de depósitos da
barreira sobre depósitos de fundos lagunares estuarinos. E outra unidade condicionada principalmente
pelo balanço sedimentar durante a queda do nível do mar durante o Holoceno. Esta unidade entre a barra
do arroio do Chui e a praia dos Concheiros possui carcterísticas transgressivas, com depósitos de margens
lacustres sobre depósitos de fundos lacustres ou diretamente sobre depósitos pleistocênicos, e entre o
Farolete Verga e o Farol Sarita é representada por uma porção regressiva, marcada pela progradação de
ambientes de praia e antepraia em direção ao oceano. O modelo evolutivo da barreira holocênica inicia
pela presença de depósitos de paleosolos pleistocênicos atribuídos ao máximo regressivo de 17,5 ka AP.
Em torno de 10 ka AP sedimentos orgânicos representados por turfas demostram o melhoramento
climático no início do Holocêno. Depósitos de fundo lagunares datados entre 7,5 e 5,7 ka AP sobrepostos
por depósitos de margens lagunares demonstram francamente a fase transgressiva da barreira controlada
pela subida do nível do mar. Provavelmente neste tempo na região NE (farolete Verga e Farol Sarita) já
havia iniciado seu processo de progradação. A partir deste estágio, quando inicia a queda do NRM a
barreira é controlada principalmente pelo balanço sedimentar. Entre 5,7 e 4,3 ka AP. a barreira ainda
manteve uma ligação (inlet) entre a laguna e o mar, provavelmente próximo onde atualmente é localizada
a desembocadura do arroio Chuí. A fase posterior (entre 4,3 e 2,5 ka AP) é marcada pelo isolamento do
sistema lagunar, tonando-se assim um ambiente tipicamente lacustre. E finalmente entre 2,5 até a
condição atual é marcada pela sobreposição de margens lacustre sobre fundos lacustres na região SW
(barra do arroio Chuí a praia dos Concheiros) e contínua progradação na região NE (farolete Verga ao
Farol Sarita) ambas recobertas por campos de dunas transgressivas ativas e relíqueas. Por fim a evolução
da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar é um exemplo que demonstra a complexidade
na preservação e variabilidade de depósitos de um mesmo sistema deposicional, condicionadas
principalmente pela elevação do nível do mar, balanço e composição sedimentar e controle da topografia
antecedente.
vii
Abstract
The Holocene barrier of the coastal region of Santa Vitória do Palmar has different morphological,
stratigraphic and evolutionary characteristics when compared to other segments of the Rio Grande do Sul
coast. Data obtained in the shoreface characterize the bathymetry and the sedimentology of adjacent
regions of the barrier, suggesting that its evolution was strongly controlled by topographic highs, which
may alter the barrier migration during the transgression conditioned by sea level rise. The
sedimentological composition of the shoreface, opposed of adjacent coastal regions, is an important
component of sediment balance in the past and in the present. Satellite images, aerial photographs and
altimetry through a GNSS system allowed characterizing the morphology, and SPT and percussion
surveys integrated with GPR data composed the subsurface sedimentary record. Sedimentological,
paleontological and geochronological analyzes underlie the description and interpretation of sedimentary
facies and their associations. Along the barrier in SW-NE direction, from the Chui bar to the Sarita
Lighthouse two distinct depositional units were identified. One unit is related to the Last Post Glacial
Marine Transgression, featuring typically transgressive characteristics (retrogradational) marked by the
overlap of barrier deposits over lagoon and estuarine bottoms. The other unit was mainly conditioned by
the sedimentary balance during sea level fall in the Holocene. Between the Chui bar and the Concheiros
beach this unit has transgressive characteristics, where lacustrine floor or Pleistocene deposits underlie
lacustrine margin deposits. Between Verga and Sarita lighthouses this unit is represented by a regressive
portion, marked by the progradation of beach and shoreface seaward. The evolutionary model of
Holocene barrier starts with the record of Pleistocene paleosoils deposits, attributed to the regressive
maximum of 17.5 ka. Around 10 ka BP organic sediments represented by peat demonstrate a climate
improvement in the early Holocene. Deposits of lagoon bottom dated between 7.5 and 5.7 ka BP
overlapping lagoon margin deposits demonstrate the transgressive phase of the barrier which was
controlled by the rising sea level. At this time in NE region (Verga Lighthouse and Sarita Lighthouse),
probably, barrier progradation has already begun. From this stage, when sea level started to fall, the
barrier evolution was mainly controlled by sediment budget. Between 5.7 and 4.3 ka BP an inlet between
the lagoon and the sea was still opened, probably near the actual location of Chuí River mouth. A later
stage, between 4.3 and 2.5 ka BP, is marked by the isolation of the lagoon system, thus a typical
lacustrine environment. The last stage, from 2.5 ka to the present, is marked by the overlap of lacustrine
margins over its bottom in the SW region (Chuí River to Concheiros beach) and by a continuous
progradation in the NE region (Verga to Sarita Lighthouse), both covered by active and relic transgressive
dunes fields. Finally, the evolution of the Holocene coastal barrier of Santa Vitória do Palmar is an
example that demonstrates the complexity and variability in the preservation of deposits along the same
depositional system, which is mainly conditioned by the sea level, the sediment composition and balance,
as well as the antecedent topography control.
viii
Lista de Figuras
Figura 1: Principais elementos geomorfológicos de um sistema laguna-barreira transgressivo; modificado
de Reison (1992).........................................................................................................................xiv
Figura 2: A) Localização dos perfis batimétricos realizados na plataforma continental adjacente B)
Imagem gerada a partir de dados altimétricos de radar (SRTM) destacando os sistemas
deposicionais quaternários. C) Imagem orbital (Landsat 1997) destacando os métodos aplicados
nas localidades estudadas............................................................................................................xv
Figura 3: Carta náutica 2:200 (1965) da Marinha do Brasil, e em destaque o retângulo que limita a área de
estudos.........................................................................................................................................24
Figura 4: Localização dos perfis batimétricos na antepraia. Base: Carta 2:200 da Marinha do Brasil.......25
Figura 5: Foto da vista boreste do navio Oceanográfico Atlântico Sul - FURG realizando a amostragem
de fundo. Na porção externa da embarcação a draga Gibs e lastro sendo operada pelo gincho
oceanográfico..............................................................................................................................27
Figura 6: Perfil Chuí: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C) Classificação Folk &
Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato.......................................29
Figura 7: Perfil Maravilhas: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C) Classificação
Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato...........................31
Figura 8 Perfil Hermenegildo 1: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C)
Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato....33
Figura 9: Perfil Hermenegildo 2: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C)
Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato....35
Figura 10: Perfil Hermenegildo 3: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C)
Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato....37
Figura 11: Modelo batimétrico a partir da interpolação de dados dos três perfis (Phe1, Phe2, Phe3 da
região do Hermenegildo. A) Mapa com destaque no retângulo vermelho da área. B) Corte visão
de SW para NE. C) Panorâmica, visão de S para N....................................................................38
Figura 12: Perfil Conheiros 1: A) Perfil batimétrico, B) Classificação de Lasonneur (1977), C)
Classificação de Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato.
.....................................................................................................................................................40
Figura 13: Perfil Conheiros 3: A) Perfil batimétrico, B) Classificação de Lasonneur (1977), C)
Classificação de Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de
carbonato..................................................................................................................................43
Figura 14: Perfil Conheiros 4: A) Perfil batimétrico, B) Classificação de Lasonneur (1977), C)
Classificação de Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de
carbonato.....................................................................................................................................45
Figura 15: Perfil Albardão: A) Perfil batimétrico, B) Classificação de Lasonneur (1977), C) Classificação
de Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato......................47
Figura 16: Perfis batimétricos da zona A (acima) e zona B (abaixo)..........................................................50
Figura 17: Mapa geológico da Planície Costeira do Rio Grande do Sul (PCRS). Em destaque no retângulo
vermelho, a área de estudos. Modificado de Tomazelli et al., (2000). .......................................58
Figura 18: Perfil esquemático da PCRS com seus sistemas deposicionais e suas respectivas idades
relacionadas. (modificado de Tomazelli et al., 2000). ...............................................................59
Figura 19: Perfil esquemático da PCRS no sul (modificado de Rosa, 2012)..............................................59
ix
Figura 20: (A) Curvas do nível do mar no Holoceno para a costa leste do Brasil. Curva sólida de Corrêa
(1990). Curva pontilhada após Martin et al. (1979). Curva tracejada após Angulo & Lessa
(1997), (B) Curvas de variações do nível do mar para a costa brasileira durante o Holoceno ao
norte de 28° S (linha sólida) e sul de 28° S (linha tracejada) de Angulo et al. 2006. Figura
modificada de Dillenburg et al (2009). ......................................................................................61
Figura 21: Setores da costa do RS (I, II, II, IV) e os tipos de barreira encontrados (A, B, C, D, E, F)
(modificado de Dillenburg et al., 2000). ..................................................................................64
Figura 22: Acima os setores costeiros e os tipos de barreiras holocênicas encontrados ao longo da costa do
Rio Grande do Sul, e abaixo as seções estratigráficas esquemáticas correlatas (modificado de
Dillenburg et al., 2000). ...........................................................................................................64
Figura 23: Esquerda: imagem gerada a partir de dados altimétricos do tipo SRTM, destacando os
principais unidades deposicionais quaternárias. Direta: carta imagem Land Sat 97 a partir de
base cartográfica do IBGE e com as localidades e principais métodos empregados na área de
estudo. .......................................................................................................................................75
Figura 24: Mosaicos de fotografias aéreas de grande formato do Arroio Chuí ao sul até o sul da Lagoa
Mangueira. Levantamentos do ano de 1964 (acima) e 1996 (abaixo).. Notar no mosaico de
1964 (a própria seta que indica o N) a migração da barra do Arroio Chuí, condicionado pela
deriva litorânea resultante para NE. ...........................................................................................80
Figura 25: Fotografias aéreas verticais de grande formato do sul da Lagoa Mangueira, cedidas pela
UFPEL, com os levantamentos do Exército Brasileiro em 1947 na escala de 1:40.000, 1964 e
1996 na escala de 1:60.000. Abaixo à direita imagem de satélite de 2013 (Google Earth)........81
Figura 26: A direita, localização pela seta vermelha. Abaixo a esquerda: foto panorâmica com a indicação
da seção. Abaixo centro: foto da realização do perfil topográfico. Esquerda acima perfil
esquemático contendo dados de topografia da região da barra do Arroio Chuí..........................83
Figura 27: A direita: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: foto da exposição dos
afloramentos de lamas lagunares e turfas no pós-praia da prais das Maravilhas. Acima a
esquerda: perfil esquemático contendo dados de topográficos, estratigráficos e geocronológicos
da barreira holocênica da região da praia das Maravilhas...........................................................85
Figura 28: Acima: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: perfil esquemático da barreira
holocênica da região do Hermenegildo contendo dados topográficos, estratigráficos e
geocronológicos. Abaixo: dados de GPR, indicados no pefil esquemático e sua respectiva
interpretação. ..............................................................................................................................88
Figura 29: Vista oblíqua da barreira holocênica na região da praia dos Concheiros. Praia dos Concheiros,
Lagoa Mangueira e depósitos pleistocênicos ao fundo. A: sentido N-S. B: sentido de S-N. Foto:
Francisco S. C. Buchmann..........................................................................................................89
Figura 30: Acima, imagem da área de estudo com a localização em planta dos três perfis topográficos (PPR, P-46, P-14) e suas respectivas amostras sedimentológicas superficiais. Abaixo a legenda
para esta e para as figuras seguintes............................................................................................90
Figura 31: Acima perfil topográfico PR caracterizando o sistema praia-duna com detalhes da textura
superficial (histogramas e fácies) e abaixo fotografias (A, B e C) correspondentes a cada
segmento......................................................................................................................................92
Figura 32: Acima perfil topográfico Perfil 46 caracterizando a porção média da barreira, com detalhes da
textura superficial (histogramas e fácies) e abaixo a fotografia (A) correspondente a este
segmento......................................................................................................................................94
Figura 33: Acima perfil topográfico Perfil 14 caracterizando a margem lacustre da barreira, com detalhes
da textura superficial (histogramas e fácies) e abaixo a fotografias (A, B e C) correspondente a
cada segmento. ...........................................................................................................................95
x
Figura 34: Acima imagem com a localização e abaixo perfis topográficos detalhados da porção média da
barreira até a margem lacustre. ...................................................................................................96
Figura 35: Abaixo o mapa indicando os segmentos da seção de GPR denominada Perfil PL que representa
uma única seção perpendicular a barreira holocênica na região da Praia dos Concheiros e as
sondagens SCO1 e SCO2. Inicia na margem da Lagoa Mangueira (A), até a porção média
marcada por uma crista de precipitação (D). Acima em sequência os segmentos A-B, B-C, C-D
e D-E. ........................................................................................................................................101
Figura 36: Abaixo o mapa indicando os segmentos da seção de GPR denominada Perfil PL e as
sondagens SCO1 e SCO2 e legendas. Inicia na margem da Lagoa Mangueira (A), até a porção
média da barreira marcada por uma crista de precipitação (D). Acima em sequência os
segmentos A-B, B-C, C-D e D-E e suas respectivas interpretações..........................................102
Figura 37: Perfil detalhado da sondagem SPT, SCO1...............................................................................109
Figura 38: Perfil detalhado da sondagem SPT, SCO2...............................................................................110
Figura 39: Prancha com fotografias dos moluscos identificados na associação de fácies H2: A- Anachis
isabellei, B- Heliobia australis, C- Cadulus sp., D- Braquiodontes.sp., E-Corbula cariabaea, FAmiantis purpuratus, G- Núcula semiornata, H- Núcula uruguaiensis, I- Ostrea equestris, JCylichna bidentata, K- Buccianops sp., L- Corbula patagônica, M- Venericardia tridentata, NParodizia uruguayensis, O- Cylichna discus, P- Mactra isabelleana, Q- Adrana sp. Escala em
branco representa 2 mm.............................................................................................................112
Figura 40: Acima a esquerda: localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagens PR-1 e PR-2. Abaixo, legenda e decrição estratigráfica em detalhes da
sondagens PR-1 e PR-2. Acima a direita fotos correpsondentes...............................................113
Figura 41: Acima a esquerda : localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagem 46-7. Abaixo, fotos, legenda e decrição estratigráfica em detalhes da
sondagem 46-7...........................................................................................................................114
Figura 42: Acima a esquerda: localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagem 46-7. Abaixo: fotos, legenda e decrição estratigráfica em detalhes da
sondagens 14-1 e 14-5. .............................................................................................................115
Figura 43: Acima a esquerda: localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagens PR-1 e PR-2. Abaixo: legenda e decrição estratigráfica em detalhes das
sondagens 16-2 e 16-4. Acima a direita: fotos correpsondentes..............................................116
Figura 44: Abaixo a direita: localização da topografia, sondagens e legenda. Acima: perfis topográficos
com a localização das sondagens. No centro: seção estratigráfica da região da Praia dos
Concheiros.................................................................................................................................118
Figura 45: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR.
Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem SCO2 com a combinação das
Radarfácies, associações faciológicas e datações......................................................................119
Figura 46: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR.
Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem SCO1 com a combinação das
Radarfácies, associações faciológicas e datações. ....................................................................120
Figura 47: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR.
Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem 14-5 com a combinação das Radarfácies,
associações faciológicas. ..........................................................................................................121
Figura 48: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR.
Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem 16-1 com a combinação das Radarfácies,
associações faciológicas............................................................................................................122
xi
Figura 49: A direita acima, localização pela seta vermelha; esquerda acima GPR e interpretação; centro,
foto da praia dos Concheiros; abaixo perfil esquemático da região dos Concheiros................125
Figura 50: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR,
Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima: registros de GPR da região
do farolete Verga com radarfácies identificadas. .....................................................................128
Figura 51: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR,
Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima: registros de GPR da região
do farolete Verga com radarfácies identificadas.......................................................................129
Figura 52: Acima: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: perfil esquemático da região do
farolete Verga com dados topográficos e a interpretação através de dados de GPR. Abaixo:
dados de GPR indicados no perfil acima e suas interpretações a partir das Radarfácies..........130
Figura 53: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR,
Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima: registros de GPR da região
do Farol Sarita com radarfácies identificadas............................................................................133
Figura 54: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR,
Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima: registros de GPR da região
do Farol Sarita com radarfácies identificadas............................................................................134
Figura 55: Acima: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: perfil esquemático da região do
farolete Sarita com dados topográficos e a interpretação através de daos de GPR. Abaixo: dados
de GPR indicados no perfil acima e suas interpretações a partir das Radarfácies....................135
Figura 56: Resumo da evolução entre os setores da barreira costeira holocênica emersa de Santa Vitória
do Palmar...................................................................................................................................143
Figura 57: Resumo da evolução entre os setores SW da barreira costeira holocênica emersa e submersa de
Santa Vitória do Palmar.............................................................................................................145
Figura 58: Estágio I do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar...147
Figura 59: Estágio II do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar..148
Figura 60: Estágio III do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.149
Figura 61: Estágio IV do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do
Palmar........................................................................................................................................150
Figura 62: Estágio V do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
...................................................................................................................................................151
Figura 63: Estágio VI do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
...................................................................................................................................................152
Figura 64: Estágio VII do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do
Palmar.......................................................................................................................................153
xii
Lista de Tabelas
Tabela 1: Setores e os dados utilizados para elaboração do trabalho..........................................................67
14
Tabela 2: Idades das amostras de C.........................................................................................................72
Tabela 3: Radarfácies reconhecidas nas seções através da geometria deposicion....................................100
Tabela 4: Principais características das fácies reconhecidas nas sondagens.............................................108
Tabela 5: Registro paleontológico da assembléia biológica dos depósitos lagunares...............................110
xiii
TEMA DE ESTUDO
A paleogeografia e evolução das zonas costeiras no Quaternário é um tema de
estudos que recebe importantes contribuições desde o início do século 20. Não obstante,
principalmente após a década de 60 até os dias atuais, a costa brasileira apresenta-se
também como um importante cenário de trabalhos voltado a este tema, cada qual dentro
de suas características fisiográficas e peculiaridades geológicas e geomorfológicas.
Dentro dos mais variados sistemas deposicionais quaternários que ocorrem nas
planícies costeiras brasileiras, um dos mais expressivos são os do tipo laguna-barreira,
que estão muito bem representados na costa do Rio Grande do Sul. Mais precisamente
durante o Holoceno, com a ascensão do nível do mar, grande parte da costa brasileira e
localmente a Planície Costeira do Rio Grande do Sul (PCRS) preservaram estes tipos de
sistemas deposicionais. No conceito de Reison (1992), este sistema deposicional pode
ser dividido em três elementos geomorfológicos: o sistema barreira, o sistema lagunar e
o sistema canal de ligação. O sistema barreira é composto basicamente pela parte
submersa, representada pela antepraia e a parte emersa representada pelas praias e os
campos de dunas. O sistema lagunar engloba um complexo de ambientes deposicionais
que se desenvolvem no espaço da retrobarreira, podendo ser encontradas lagunas, lagos
costeiros, pântanos, canais e deltas intralagunares. O sistema canal de ligação é a
unidade morfológica que viabiliza o contato entre o sistema lagunar e o oceano, Figura
1.
Apesar de um grande número de definições muito variáveis apresentadas por
diversos autores nas últimas décadas, parece haver um consenso de que uma barreira
costeira é uma estrutura paralela costa, formadas pelo acúmulo de areia, cascalho,
conchas, e pequenas quantidades de material orgânico devido à ação de ondas, marés e
ventos, (Dillenburg & Hesp, 2009). Apesar destas características serem comuns, a
morfologia destes sistemas é altamente diversa em resposta ao regime local de ondas e
marés, Hayes (1979), e as condições geológicas regionais (Davis, 1994; Riggs et al.,
1995). Em termos estratigráficos, as barreiras podem ser divididas em dois tipos:
transgressivas e regressivas (Kraft & Chazastowski, 1985). Barreiras transgressivas se
caracterizam por depósitos de retrobarreira serem sobrepostos por depósitos marinhos
(Kraft & John, 1979), e barreiras regressivas pela acumulação (progradacional) de
sucessões de antepraia.
xiv
Figura 1: Principais elementos geomorfológicos de um sistema laguna-barreira transgressivo; modificado
de Reison (1992).
Os principais fatores que controlam a evolução de barreiras incluem as
tendências do nível do mar, o suprimento sedimentar, ajuste tectônico e as ondas e
marés (Curray, 1964; Elliot, 1986, Carter, 1988). Segundo o trabalho de Belknap &
Kraft (1985) além destes fatores, a topografia antecedente afeta o desenvolvimento de
barreiras costeiras pelo controle regional da declividade. Assim espera-se que mudanças
destes fatores de controle, combinados ou não, possam modificar a morfologia e a
natureza dos depósitos das barreiras costeiras.
O presente trabalho foi desenvolvido na região costeira do município de Santa
Vitória do Palmar, extremo sul da PCRS, fazendo parte de um sistema deposicional do
tipo laguna barreira de idade holocênica, Figura 2. Este estudo apresenta dados inéditos
da antepraia e da própria barreira costeira holocênica. O trabalho foi divivido em dois
capítulos: o Capítulo I, discute a morfologia e a sedimentologia da plataforma
continental interna do Farol do Chuí ao sul do Farol do Albardão, e seu significado na
evolução na da barreira holocênica adjacente; o Capítulo II discorre sobre a
geomorfologia, estratigrafia e a evolução da barreira holocênica da região costeira de
Santa Vitória do Palmar. Assim, durante a leitura ocorre a reincidênia de alguns apectos
físicos da área já citados anteriormente no texto. Posteriormente, são discutidos e
integrados os dados obtidos nestes dois capítulos de forma a compreender a evolução da
barreira holocênica.
xv
Figura 2: A) Localização dos perfis batimétricos realizados na plataforma continental adjacente B)
Imagem gerada a partir de dados altimétricos de radar (SRTM) destacando os sistemas
deposicionais quaternários. C) Imagem orbital (Landsat 1997) destacando os métodos aplicados
nas localidades estudadas.
xvi
HIPOTESE
Partindo da premissa que os elementos geomorfológicos, estratigráficos e
geocronológicos podem registrar características do empilhamento retrogradacional dos
sistemas costeiros, ou seja, tipicamente o registro da barreira holocênica transgressiva
na região costeira de Santa Vitória do Palmar, a hipótese central desta Tese é que a
evolução deste trecho da barreira não foi somente condicionada pela elevação do nível
do mar ocorrida durante a última Transgressão Pós-Glacial (TPG). O balanço
sedimentar e a topografia antecedente constatadas na porção submersa (antepraia e
plataforma continental inferior) contrapostas à porção emersa da barreira são
importantes elementos na evolução deste setor. As diferenças morfológicas atuais
encontradas ao longo da barreira podem também estar condicionadas a estes elementos
ao longo do seu desenvolvimento durante o Holoceno.
17
CAPÍTULO I
MORFOLOGIA E SEDIMENTOLOGIA DA ANTEPRAIA-PLATAFORMA
CONTINENTAL INTERNA DO CHUÍ AO SUL DO FAROL DO ALBARDÃO E
SEU SIGNIFICADO NA EVOLUÇÃO NA DA BARREIRA HOLOCENICA
ADJACENTE
I.I – INTRODUÇÃO
A porção do extremo sul da costa do Rio Grande do Sul não tem contribuição
sedimentar atual através de descarga de grandes rios, portanto, as barreiras costeiras são
principalmente supridas de sedimentos costeiros e marinhos. Como reportado por
Reison (1992), o sistema barreira além de ser composto pela parte emersa, como praias
e campos de dunas, também se faz presente a parte submersa, representada pela
antepraia.
A carência de trabalhos na costa do Rio Grande do Sul que relacionam a porção
submersa (anterpaia) com a porção emersa (praia-duna) na evolução da barreira costeira
durante o Holoceno motiva a contribuir no conhecimento sob este aspecto nesta zona
costeira. A região estudada se estende desde a Barra do Arroio Chuí até o Farol do
Albardão e apresenta peculiaridades na morfologia e textura tanto nas regiões emersas
quanto submersas, também apresentando caracterísiticas únicas sob o aspecto
estratrigráfico. Este Capítulo procura relacionar características preservadas na antepraia
e plataforma continental interna aos aspectos estratigráficos e evolutivos da barreira
holocênica adjacente.
A antepraia pode ser definida como a região situada a partir da zona de surfe,
estendendo-se ao limite superior da plataforma continental interna (Swift et al., 1979;
Nieroda et al., 1984). As dominadas por ondas exibem normalmente um perfil côncavo
ascendente, com o mergulho do foreshore entre 2-3° sobrejacente a antepraia superior
com um mergulho de 0,1-0,3° e uma plataforma de offshore de mergulho de 0,01-0,03°
(Elliott, 1986; Walker & Plint 1992). Este perfil representa uma geometria de equilíbrio
entre o diâmetro dos sedimentos, processos deposicionais ativos e o nível energético
(Bruun, 1962; Walker & Plint, 1992).
18
A profundidade do limite superior e inferior da antepraia é muito variável
dependendo do aporte e remoção local de sedimentos por condições de ondas e
correntes. Esta zonação paralela à linha de costa pode ser temporariamente desfocada ou
pontuada pelos efeitos das maiores tempestades. Estudos sugerem como limite inferior
as profundidades entre -16 e -20 m (Swift, 1975; Swift et al., 1985).
O perfil de equilíbrio da antepraia no litoral norte do RS é configurado pela
interação da dinâmica do mar e da morfologia da plataforma continental, reproduzida
pela distribuição sedimentar e as características do fundo. Ele revela na sua morfologia,
a controle do substrato antecedente pela influência da herança geológica contemplada
durante a evolução costa durante Holoceno (Gruber et al., 2003, 2006a). De acordo com
Gruber et al. (2006b) o limite morfológico externo da dinâmica da antepraia é definido
entre -16 e -25 m de profundidade.
Considerando que nesta zona da costa do Rio Grande do Sul a zona de surfe
varia de 0,5 a 1,5 km em situações de tempestades, pode-se admitir que a região esta
compreendida entre antepraia superior até a plataforma interna considerada como o
prolongamento da parte submersa da barreira holocênica.
Características preservadas na antepraia e plataforma continental interna podem
contribuir no entendimento dos aspectos estratigráficos e evolutivos da barreira
holocênica. Para Martinsen & Helland-Hansen (1995) a preservação de antigos
depósitos de plataformas/antepraia é dependente do ângulo de migração da linha de
costa; sendo também controlada pela acomodação e suprimento sedimentar (Nummedal
et al., 1993).
Quando se discute o processo evolutivo de implantação de uma barreira costeira,
leva-se em consideração modelos que exemplificam as configurações estratigráficas que
as mesmas apresentam perante o processo transgressivo da linha de costa. De maneira
geral consideram-se as características da antepraia frente ao processo transgressivo
resultando em barreiras costeiras que se configuram com características erosivas,
transladacionais e estacionárias.
A configuração erosiva, ou recuo da barreira (Sanders & Kumar, 1975), também
chamada de recuo da antepraia (Swift, 1968) se estabelece quando a base da antepraia
migra em direção ao continente, truncando os depósitos pré-existentes por ação das
19
ondas formando uma superfície de ravinamento. Neste caso, relacionados à fase
transgressiva podem ser preservados depósitos transgressivos podem ser preservados
abaixo, como as turfas e acima, depósitos de shoreface fora do nível de ação das ondas.
A
configuração
transladacional
acontece
quando
a
barreira
migra
transversalmente ao declive do substrato sem a perda de material. Esta transladação em
direção ao continente ocorre normalmente sobre depósitos de sedimentos finos
característicos de ambientes lagunares Oertel et al. (1989).
As configurações estacionárias podem ser denominadas como feições relíquias
preservadas na plataforma interna que foram afogadas durante o processo transgressivo.
Sanders & Kumar (1975) explicam este mecanismo como um afogamento local onde a
barreira é submersa devido ao aumento da taxa de elevação mar do nível ou uma
redução do suprimento sedimentar. O potencial de preservação de depósitos de
retrobarreira é elevado, abaixo da superfície de ravinamento. Esse processo é
característico em costas de baixo gradiente. Carter (1988) destaca outros fatores onde a
barreira teria este comportamento: interação entre a retrobarreira e a antepraia (inlets);
ancoragem a altos topográficos e interação com os padrões de ondas.
Para Swift et al. (1991) o mecanismo de migração de barreiras costeiras em
direção ao continente foi chamado de overstep e set-up apontando processos
transgressivos pontuados com aumento no suprimento sedimentar e de regressão
temporária da linha de costa, ambas resultando em superfícies diacronas de erosão na
antepraia (Swift et al., 1991). O modo barreira overstep, é similar ao afogamento local,
denotando um pulso transgressivo da linha de costa. O termo barreira set-up, expressa a
retração dos perfis da antepraia mediante a uma interrupção episódica de progradação.
Independentemente do mecanismo de formação, as barreiras modernas
provavelmente se formaram e evoluíram até suas posições atuais como consequência da
migração da mesma durante o processo transgressivo ocasionado pela Transgressão
Marinha Pós-glacial (TMP), combinado com a disponibilidade de sedimentos,
mantendo-as estáveis ou progradando nos últimos 7-6 ka (Dillenburg & Hesp 2009).
Portanto, espera-se que a migração da barreira cessou ao final do processo de
elevação do nível do mar, ou mesmo antes, no caso de ter ocorrido uma situação de
balanço positivo de sedimentos no sistema costeiro. Diferentemente em alguns setores
20
da costa do RS reportados por Dillenburg et al. (2000, 2009), no Jardim do Édem, em
Tramandaí e mais recentemente o trabalho de Lima et al. (2013) no Balneário
Hermenegildo, as barreiras costeiras nestes setores apresentam características
típicamente transgressivas mesmo depois do rebaixamento no N.R.M durante o
Holoceno, portando os autores apontam outros fatores que condicionaram este
comportamento, destacando o balanço sedimentar.
O efeito do declive do substrato na influência da formação e evolução de
barreiras estão muito bem demostrados nos trabalhos de Roy et al. (1994), Cowell &
Thom (1994) e particularmente em Dillenburg et al. (2000) para a costa do Rio Grande
do Sul. Em plataformas continentais autóctones (Swift, 1976), a morfologia da
plataforma assemelha-se a do substrato sobre o qual as barreiras transladado durante a
TMP (Roy et al., 1994.; Dillenburg et al., 2000). Nestas plataformas, variações
longitudinais na morfologia do substrato das barreiras modernas podem corresponder às
variações semelhantes adjacentes a morfologia da plataforma. (Dillenburg & Hesp,
2009). Tais variações podem influenciar fortemente os níveis de energia onda ao longo
da costa (Wright, 1976), que, por sua vez, poderiam determinar variações onshore e
fornecimento de sedimentos ao longo da costa (ou seja, no estoque de sedimentos
costeiros), e no tamanho de barreira (McCubbin, 1982) apud: Dillenburg & Hesp,
(2009),
De acordo com Dillenburg & Hesp, (2009), a disponibilidade de sedimentos
(especialmente areias) é crucial para o desenvolvimento de barreiras. O estoque de
sedimentos é um dos principais controles, se não principal, na evolução da barreira em
condições de estabilidade ou quasi estabilidade do nível do mar (Davies, 1980;
Dillenburg et al., 2004). Sob tais condições, uma barreira agrada, permanece estável
(estoque equilibrado), prograda (estoque positivo) ou retrograda (estoque negativo)
Dillenburg & Hesp (2009). Riggs et al. (1995) mencionam que costas com limitado
suprimento de areia, são significativamente influenciadas pela estrutura geológica das
unidades estratigráficas anteriores que ocorrem abaixo e ao largo da antepraia.
De acordo com Stive et al. (2002), nos períodos de quasi estabilidade do nível
do mar, tais como durante o final do Holoceno até o presente, efeitos da “regra de
Bruun” operam, no entando podendo ser substituído pelo balanço de sedimentos. Sob
rápida elevação do nível do mar a morfologia do substrato torna-se mais importante nas
21
mudanças da zona costeira, em contraste com as condições de lenta elevação, onde os
balanço de sedimentos exerce maior controle, (Roy et al., 1994). Em termos de escala
de tempo, a shoreface superior se reajusta rapidamente (dias) às alterações (Larson &
Kraus, 1995), ao passo que a shoreface inferior, o tempo de resposta é geralmente na
ordem dos séculos para milênios (Cowell et al., 1999).
I.I.I Plataforma Continental do Rio Grande do Sul
A plataforma continental do Rio Grande do Sul apresenta uma alternância
quanto ao comportamento das suas linhas isobatimétricas, Corrêa (1990). Registros da
regressão do Pleistoceno superior e da transgressão holocênica são encontrados ao
longo da plataforma do Rio Grande do Sul na forma da distribuição dos seus
sedimentos, que encontram-se atualmente, bastante retrabalhados. O regime sedimentar
apresenta-se dominantemente terrígeno, onde a presença de sedimentos relíquias e
palimpséticos ocupam a maior parte da sua área e onde suprimentos atuais são limitados
às regiões de influência das descargas do rio de La Plata e da Lagoa dos Patos.
Para Martins et al. (1972) os sedimentos arenosos encontrados atualmente,
foram depositados em um período mais antigo por suspensão gradacional e por
rolamento que seriam os sedimentos relíquias. Os sedimentos de texturas transicionais
são considerados como sedimentos palimpséticos, bem como os sedimentos arenosos
que contém misturas com material bioclástico ou mesmo material bioclástico e lama. As
texturas síltico-argilosa e argilo-sílticas, presentes na plataforma externa e talude, são
formadas por sedimentos relíquias associados aos sedimentos mais modernos que foram
depositados pela paleodrenagem da área. A área de estudo na plataforma interna,
localizada entre as profundidades de -10 e -20 m, segue uma descrição das fácies
correspondentes a região, segundo Martins et al. (1967).
A fácies arenosa é a mais abrangente dentro da área e pela classificação de
Martins et al. (1967), é constituída por areias quartzosas médias a finas com
características muito similares as atuais areias de praias e dunas da planície costeira.
Estas areias são consideradas relíquias, depositadas durante a fase regressiva
pleistocênica e retrabalhadas durante a fase transgressiva holocênica. Encontram-se
representadas em praticamente toda a extensão da plataforma interna (Martins et
al.,1967; Urien & Martins, 1974; Kowsmann & Costa, 1979). Esta fácies é interdigitada
pela fácies carbonática em três áreas: na altura do Farol do Albardão, ao norte de Rio
22
Grande (aproximadamente 55 km) e próximo a Mostardas. É também interdigitada pela
Fácies Patos nas adjacências da desembocadura da Laguna dos Patos.
A fácies carbonática é formada por cascalhos e areias bioclásticas de
composição carbonática altamente fragmentados e arredondados, resultantes da
fragmentação de conchas de moluscos litorâneos. O que caracterizaria um ambiente de
alta energia na sua fase de deposição. Esta fácies é encontrada entre as isóbatas de -15 a
-30 m, e normalmente está associada a bancos lineares arenosos. Dentre os trabalhos
efetuados na região de estudo importantes contribuições relacionadas aos depósitos
biodetríticos encontram se em: Martins et al. (1972), Kowsmann & Costa (1974b),
Figueiredo Jr. (1975, 1981), Corrêa & Ponzi (1978), Calliari et al. (1994), Tomazelli
(1978), Calliari & Abreu (1984), Asp (1996, 1999) e Buchmann (2002).
Na área adjacente a desembocadura da Laguna dos Patos ocorre a presença da
Fácies Patos que é constituída por sedimentos areno-sílticos e areno-argilosos,
provenientes da drenagem atual que desemboca na Laguna dos Patos misturadas com as
areias da plataforma interna. Essa fácies é mais abrangente na foz da desembocadura
lagunar e pode abranger até a isóbata de -22 m com extensões de até 29,5 km (Martins,
1967; Villwock & Martins, 1972; Calliari & Abreu, 1984; Corrêa, 1987; Borzone &
Griep, 1991). As fácies argilo-síltica e síltico-argilosa também foram mapeadas por
Calliari & Fachin (1993) que observaram a presença de “bolsões de lama” ao sul da
desembocadura entre as isóbatas de -15 e -17 m, e nas adjacencias a praia do Cassino
Calliari et al 2009.
Ainda destacam-se os trabalhos de Gruber (2003, 2006a, 2006b), Seeliger
(2004), Goulart (2010), região norte e central da costa do RS que descrevem a
morfologia e sedimentologia da antepraia nestas regiões, com enfoque morfodinâmico.
Na região sul, entre Rio Grande e o Chuí as linhas isobatimétricas se apresentam
irregulares e indicam a ocorrência de diversos altos topográficos e, provavelmente,
refletem também a morfologia associada à paleodrenagem do Rio de La Plata, (Corrêa
1990). Para esta região destacam-se os trabalhos de Figueiredo Jr. (1975), Figueiredo Jr.
et al. (1980, 1981), Calliari & Abreu (1984), Calliari et al. (1994) e Asp (1996, 1999) os
quais, através da Sedimentologia e de registros de sonar de varredura lateral,
descreveram altos topográficos submersos (parcéis) na costa do Rio Grande do Sul, com
ênfase no Banco do Albardão e no Parcel do Carpinteiro. Buchmann & Tomazelli
(1999, 2000, 2003) analisaram mais detalhadamente estes altos topográficos, e
23
relacionaram com níveis de estabilização do mar durante o Pleistoceno superior. Devido
ao seu grau de consolidação estes depósitos resistiram à erosão associada à elaboração
da superfície de ravinamento e encontram-se atualmente expostos na antepraia e,
mesmo, na linha de praia atual, Buchmann (2002).
A maioria destes trabalhos está concentrada na caracterização da morfologia e
sedimentologia da plataforma interna, no entanto, Dillenburg (1994), Dillenburg et al.
(2000, 2009), Martinho et al. (2008) e mais recentemente Lima et al. (2013), comentam
o papel da parte submersa (shoreface) na evolução da barreira costeira holocênica do
Rio Grande do Sul. Detaca-se a contribuição de Dillenburg et al. (2000), que avaliaram
o papel da antepraia no desenvolvimento da barreira costeira holocênica do Rio Grande
do Sul. Os autores utilizaram um modelo numérico (STM), e concluiram que a
morfologia e a estratigrafia da mesma variam substancialmente em resposta aos
gradientes da antepraia.
O foco deste Capítulo foi gerar informações morfológicas e texturais na parte
submersa da barreira holocênica (antepraia - plataforma interna) do Farol do Chuí, ao
sul do Farol do Albardão através de perfis perpendiculares a linha de costa nas
profundidades em torno de -20 m até a máxima aproximação da linha de praia atual.
Figura 4. Posteriormente, relacionar os resultados obtidos com a evolução da barreira
costeira holocênica adjacente.
I.II OBJETIVOS
Geral:
Avaliar os aspectos morfológicos e texturais da antepraia e plataforma interna e
contrapor a evolução da barreira holocênica da região costerira de Santa Vitória do
Palmar.
Específicos:
Caracterizar e comparar os aspectos texturais de cada setor da plataforma interna
estudada.
Caracterizar e comparar os aspectos morfológicos de cada setor da plataforma
interna estudada.
24
Figura 3: Carta náutica 2:200 (1965) da Marinha do Brasil, e em destaque o retângulo que limita a área de
estudos.
25
Figura 4: Localização dos perfis batimétricos na antepraia. Base: Carta 2:200 da Marinha do Brasil.
I.III – MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada uma campanha como o navio Oceanográfico Atlântico Sul - FURG
com foco na antepraia e plataforma continental interna do Rio Grande do Sul entre o
Farol do Albardão e o Chuí com a realização perfis batimétricos perpendiculares a linha
de costa aliado a coleta superficial de sedimentos. No total foram realizados nove perfis,
nomeados: Perfil Chuí (Pch); Perfil Maravilhas (Pma); Perfil Hermenegildo 1, 2 e 3
(Phe1, 2, 3); Perfil Concheiros 1, 3, 4 (Pcc1, 3, 4) e o Perfil Albardão (Pal), Figura 4. A
aquisição dos dados de profundidade foi realizada com o ecobatimetro ODOM®
Hydrotrack 200 kHz, com precisão de 5 cm devidamente calibrado antes do
levantamento e acoplado a um sistema de GNSS. Procurou-se manter a navegação com
velocidade constante de 5 nós. A saída de dados batimétricos foi impressa em papel
termo-sensível com escala pré-definida e em meio digital com saída de um arquivo
“.txt” contendo informações do posicionamento geográfico, profundidade e hora.
26
I.III.I Processamento e geração de perfis batimétricos
Inicialmente foi construído um programa no ambiente Matlab® para leitura dos
dados adquiridos. A análise dados neste programa permitiu a identificação de erros
(posicionamento, repetição, não obtenção) durante a aquisição. Após as correções foram
gerados perfis de modo que descrevessem a distância pela cota batimétrica utilizando os
programas Excel®, Grapher™ 8 e Coreldraw® X3. Procurou-se definir e adequar escalas
a fim de se observar as principais características morfológicas de cada perfil
comparando com os dados registrados nos papeis termos-sensíveis. Foi definido o
exagero vertical de 200 vezes para representar as feições batimétricas, localização das
amostras e suas características sedimentológicas, adequadas a tamanho padrão da folha
apresentada neste trabalho.
I.III.II Sedimentologia das Amostras
Para otimizar o tempo do embarque optou-se por utilizar a draga do tipo Gibbs,
na qual se coletaram amostras de fundo com a embarcação em movimento, Figura 5. O
tempo de arrasto da draga foi de 1 min após atingir o fundo, e representa
aproximadamente 150 m de arrasto, na velocidade de 5 nós. Foram coletadas 88
amostras superficiais de fundo.
Em laboratório foram submetidas à análise granulométrica. As amostras foram
secas, quarteadas, pesadas e a separação por peneiras nas frações com detalhamento em
¼ de phi. Os parâmetros estatísticos foram calculados segundo o método proposto por
Folk & Ward (1957) utilizando o programa Sysgran, de Camargo (2006). A
classificação faciológica de superfície foi com base no tamanho médio de grão segundo
Folk & Ward (1957) seguido pelo seu grau de seleção. Os gráficos foram gerados nos
programa Sysgran e Coreldraw®X3. Utilizou-se também a classificação de Lasonneur
(1977) modificada por Dias (1996), que leva em consideração a mediana e a
composição das amostras.
Foram realizados testes com amostras que continham cascalho biodetrítico.
Realizou-se o peneiramento com o conteúdo total da amostra e na sequencia a queima
de carbonatos totais e posteriormente novamente outro peneiramento. Deste modo foi
possível identificar que as frações mais grossas (cascalho) são compostas
predominantemente por bioclástos. Também foi observado que quando se queima o
carbonato antes da separação em amostras onde as frações grossas predominam, a
27
quantidade restante (siliciclásticos) não teria representatividade para uma análise com
aceitável precisão. Outra observação, e que não se obteriam os tamanhos de grãos mais
grossos da amostra, relevantes para caracterizá-las. Portanto se optou por representar a
sgranulometria das amostras com o conteúdo carbonático junto com o controle das
porcentagens de carbonatos totais e os tamanhos no qual estavam presentes. Nos
histogramas, a letra B, representa as frações que contém bioclastos nas amostras e seus
respectivos tamanhos.
Figura 5: Foto da vista boreste do navio Oceanográfico Atlântico Sul - FURG realizando a amostragem
de fundo. Na porção externa da embarcação a draga Gibs e lastro sendo operada pelo gincho
oceanográfico.
28
I.IV – RESULTADOS
Os resultados foram apresentados de forma agrupada, determinando duas zonas.
A Zona A, correspondente a plataforma interna limitada ao SW pelo Farol do Chuí e a
NE pela praia do Hermenegildo, caracterizada pelos perfis Chuí (Pch), Maravilhas
(Pma) e Hermenegildo 1, 2, e 3 (Phe1, Phe2, Phe3). E a Zona B, limitada a SW pela
praia dos Concheiros e a NE pelo Farol do Albardão, caracterizada pelos perfis
Concheiros 1, 3 e 4 (Pcc1, Pcc3, Pcc4), e Perfil albardão (Pal).
I.IV.I Zona A
Pch: O perfil Pch inicia à cerca de 1,5 km da linha de costa e totalizou 22,2 km
de comprimento, variando em profundidades de 11,2 m (início) até 20,3 m (fim)
caracterizado por 9 amostras, Figura 6. As principais variações topográficas encontradas
são entre 6,5 e 10,5 km com pequenos altos de 2 a 3 m ocorrendo nas profundidades
entre -13,5 e -16,5 m. Novamente, entre 15,5 e 21 km deste perfil, altos topográficos de
até 6,5 m nas profundidades de -20,5 a -14 m e de 4 m nas profundidades de -20 a -16,5
m, Figura 6A. Apesar da fração areia predominar, (PCH05, 57% a PCH1, 100%)
percebeu-se variabilidade textural nas fácies. Notou-se significativas contribuições de
material fino PCH05 (31% silte e 10% argila), PCH04 (20% silte e 7% argila) e PCH02
(10% silte e 12% argila) nas regiões mais profundas, entre os altos topográficos, Figura
6D. Nota-se também no início do perfil a presença de cascalho biodetrítico PCH09 (8%)
e PCH07 (5%) que são confirmados por pequenas concentrações de carbonatos totais
nestas amostras 8 e 6% respectivamente, Figura 6E. Nos altos topográficos pode ser
identificada a presença de areias médias moderadamente selecionadas a areias muito
finas bem selecionadas.
A classificação faciológica proposta por Folk & Ward (1957) mostrou uma zona
do início até 7 km, nas profundidades de -11 a -15 m, de areias finas a médias
moderadamente selecionadas. Na distância entre 7 a 15 km, nas profundidades de -15 a
-20 m entre os altos topográficos, ocorrem facies arenosas de finas a muito finas de
moderadas a pobremente selecionadas e fácies siltosa grossa muito pobremente
selecionadas. No topo dos altos, fácies arenosas finas muito bem selecionadas e siltosas
grossas muito pobremente selecionadas, Figura 6C. Na classificação de Lasonneur
(1977) a zona inicial foi classificada como areias litoclásticas de finas a muito finas
passando a médias. Entre os altos topográficos lamas terrígenas arenosas, e no topo,
areias litoclásticas finas a muito finas, Figura 6B.
Figura 6: Perfil Chuí: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C) Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de carbonato.
30
Pma: O perfil Pma inicia a cerca de 1,2 km da linha de costa com 21,8 km de
comprimento, variando em profundidades de -10 até -20,8 m. Neste perfil foram
coletadas 11 amostras, Figura 7. As principais variações topográficas encontradas foram
entre 5 e 7,5 km com pequenos altos de ~2,3 m nas profundidades de -14 a -11,7 m e 15 a -12,8 m. Novamente, entre 15 e 21 km, desse perfil, são observadas variações
topográficas de 7,5 m nas profundidades -21 a -13,5 m e de 3 m nas profundidades de 19,5 e -16,5 m, Figura 7A. No perfil predomina a fração arenosa PMA9 (61%) a
PMA12 (100%), no entanto com a presença material fino PMA09 (8% silte e 15%
argila), PMA10 (15% silte e 10 % argila) na região mais profunda, entre os altos
topográficos. Nota-se a marcante presença de cascalho biodetrítico PMA01 (31%),
PMA09 (14%) e PMA10 (5%), confirmados por concentrações de carbonatos totais, 38,
15, 5% respectivamente, Figuras 7D e 7E.
Na classificação de Folk & Ward (1957) do início do perfil até 5 km em
profundidades entre -10 a -12 m areias muito grossas passando a finas moderadamente
selecionadas. A 7 km de distância em profundidades de -12 m, mais precisamente no
topo de um alto topográfico ocorrem facies arenosas grossas e na base, arenosas finas
moderadamente selecionadas. Na continuidade, entre -16 e -21 m, entre os altos, uma
zona marcada por areias muito finas, muito pobremente selecionadas. Associado ao
segundo alto topográfico na sua face menos íngreme areias finas a médias, ambas muito
bem selecionadas, são identificadas, Figura 7C.
Na classificação de Lasoneur (1977) o início do perfil é marcado por areias
biolitoclásticas de grossas a muito grossas passando a litoclásticas de finas a muito
finas. Associadas ao topo do alto topográfico, areias bioclásticas de grossas a muito
grossas e na base, areias litoclásticas de finas a muito finas. Entre os altos, uma zona
marcada por lamas terrígenas arenosas. Novamente, no outro alto topográfico associado
a sua face menos íngreme, são identificadas areias litoclásticas finas a muito finas e
passando a médias, Figura 7B. Este perfil foi marcado pela presença de organismos
vivos (bivalves, gastrópodes e cirripédios) coletados sobre o substrato duro, pois
continham pequenos fragmentos de arenitos presos aos organismos. Este material esteve
associado à base do alto topográfico próximo a linha de costa atual, também ocorrendo
no topo do alto mais distante. Uma importante característica é que na região mais
profunda associada à base deste alto, foi caracterizada pela presença de areia média,
Figura 7: Perfil Maravilhas: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C) Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de
carbonato.
32
moderadamente selecionada (PMA13) com a presença de cascalho biodetrítico (4%),
mostrando que nas cavas, entre os altos, também pode ocorrer este material.
Phe1: O perfil PheI inicia a cerca de 0,5 km da linha de costa e totalizou 11,3
km de comprimento variando em profundidades de -7 m (início) até -21 m (fim), com
seis amostras coletadas, Figura 8. As principais variações topográficas encontradas
estão entre 3 e 7,5 km com altos de 4 m nas profundidades de -13,5 a -9,5 m e de 3 m
nas profundidades -13,5 a -10,5 m, Figura 8A. Este perfil apresenta grande variabilidade
textural com importante contribuição da fração areia, no entanto com a presença
material fino PHE105 (19% silte e 13% argila), PHE104 (38% silte e 11% argila), na
região mais profunda, Figura 8D. Também nota-se a marcante presença de cascalho
biodetrítico PP7 (7%), PP6 (82%), confirmados por concentrações de carbonatos totais
nestas amostras 6,84%, respectivamente, Figura 8E. Uma importante característica deste
perfil (Phe1) é a proximidade dos altos topográficos a linha de costa atual, a cerca de 3,5
km. O topo destes altos (pelo menos três destacados) foram caracterizados por duas
amostras compostas por areia médias moderadamente selecionadas a areia finas bem
selecionadas. Também como no perfil Pma, nas cavas entre os altos foi relatado pela
amostra PHE106.
Na classificação de Folk & Ward (1957) uma zona do início até 3 km em
profundidades entre -7 a -11 m foi classificada como fácies arenosa média, pobremente
selecionada passando à granulosa, moderadamente selecionada e areias finas
moderadamente selecionadas. Entre 3 e 7 m associados aos altos topográficos areias
médias. Passando o alto em profundidades de -13 a -20 m uma zona marcada por fácies
siltosa grossa muito pobremente selecionada, Figura 8C. Na classificação de Lasonneur
(1977) a zona do início foi classificada como areias litoclásticas de finas a muito finas
passando a granulos biolitoclásticos. Associados aos altos topográficos foram
classificadas como areias litoclásticas médias. Após o alto, uma zona caracterizada por
lamas terrígenas arenosas é identificada, Figura 8B.
Figura 8 Perfil Hermenegildo 1: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C) Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de
carbonato.
34
PheII: O perfil PheII inicia cerca de 0,8 km da linha de costa e totalizou 11,8
km, variando em profundidades de -10 m (início) até -20 m (fim), com sete amostras
coletadas, Figura 9. As principais variações topográficas encontradas estão entre 2 e 6,5
km com altos destacados de 3,5 a 4,5 m nas profundidade de -12 m. Apesar de
apresentar a fração arenosa como predominante (PHE207, 55% e PHE206, 98%)
também se mostra com certa variabilidade textural. Significativas concentrações de
cascalho biodetrítico PHE204 (22%), PHE205 (23%) PHE209 (14%) confirmados pela
concentração de carbonatos totais 23, 21 e 13% respectivamente, estão, principalmente
associadas aos altos topográficos, Figuras 9A e 9D.
Também foi identificado um trecho após os altos, onde se encontram
importantes concentrações de sedimentos finos, PHE207 (27,7% silte e 17,1% argila),
PHE208 (20% silte e 17% argila) e PHE209 (12% silte e 12% argila). Uma
característica marcante deste perfil é que do início até 3 km, não foram obtidas
amostras, e isso foi atribuído ao substrato rígido (arenito) não sendo possível amostrálo.
Na classificação de Folk & Ward (1957) a zona associada aos altos topográficos
esta associada às fácies arenosa muito grossa a grossa moderadamente selecionada.
Passando os altos, em profundidades de -14 a -21 m fácies siltosa grossa e arenosa fina,
ambas moderadamente selecionadas, Figura 9C. Na classificação de Lasonneur (1977)
associados aos altos topográficos areias litoclásticas grossas a muito grossas e passando
o alto em profundidades de -14 a -21 m lamas terrígenas arenosas. Figura 9B.
Figura 9: Perfil Hermenegildo 2: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C) Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem de
carbonato.
36
PheIII: O perfil PheIII inicia cerca de 3,0 km da linha de costa e totalizou 9,7
km de comprimento sendo representado por cinco amostras, Figura 10. O primeiro
trecho do perfil foi descartado devido a problemas no ecobatímetro, no entanto foi
possível a caracterização de altos topográficos próximos à linha de costa atual, como
nos perfis Phe1 e Phe2 (entre 3 e 4 km). As principais variações topográficas são
encontradas do início do perfil até 5 km de distância, com dois principais altos
topográficos destacando-se, Um com 4,5 m de desnível nas profundidades de -8 a -12,5
m de e outro com 5 m de desnível nas profundidades de -9 a -14 m, Figura 10A. A
fração arenosa foi predominante (PHE306, 61% a PHE308, 99%), no entanto
importantes concentrações de cascalho biodetrítico foram reveladas pelas amostras
PHE307 (35%), PHE306 (38%), PHE305 (19%) confirmados pelos carbonatos totais
37, 29, 16%, respectivamente. Com características semelhentes aos outros perfis da
zona A, a amostra PHE305 revelou significativa parcela de finos (9% silte, 10% argila)
também estando localizada na região mais profunda, após os altos, Figuras 10D e 10E.
Na classificação de Folk & Ward (1957) a zona associada aos altos topográficos
foi caracterizada por fácies arenosa fina bem selecionada e fácies de areias grossas
moderadamente selecionadas a muito grossas pobremente selecionadas. Passando o alto
nas profundidades de -20 a -21 m, areias finas muito pobremente selecionadas a muito
bem selecionadas, Figura 10C. Na classificação de Lasonneur (1977) a zona associada
aos altos topográficos esta relacionada às areias litoclásticas finas a muito finas e areias
litobioclásticas com cascalho. Passando o alto, fácies arenosas litoclásticas finas a muito
finas, Figura 10B.
Portanto a zona A, representada pelos perfis Pch, Pma PheI, PheII, PheIII, foi
caracterizada como uma região de alta variabilidade sedimentológica e presença
marcante de altos topográficos próximos à linha de costa (~3 km). Ocorre o predomínio
da fração areia, no entanto revelou importantes concentrações de cascalho biodetrítico
normalmente associadas aos altos topográficos. Em alguns trechos destes altos, ocorre a
exposição de substrato rígido (arenitos). Já nas regiões mais profundas, principalmente
entre os altos, ocorre a presença de material fino (silte a argila).
Um modelo tridimensional gerado a partir dos dados dos perfis do Hermenegildo
retrata a influência destes altos topográficos que se destacam muito próximo à zona
costeira, Figura 11.
Figura 10: Perfil Hermenegildo 3: A) Perfil batimétrico, B) Classificação Lasonneur (1977), C) Classificação Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E) Porcentagem
de carbonato.
38
Figura 11: Modelo batimétrico a partir da interpolação de dados dos três perfis (Phe1, Phe2, Phe3 da
região do Hermenegildo. A: Mapa com destaque no retângulo vermelho da área. B: Corte visão
de SW para NE. C: Panorâmica, visão de S para N.
I.IV.II Zona B
PccI: O PccI inicia a 2,4 km da linha de costa atual, totalizando 23,7 km e foi
representado por onze amostras, Figura 12. Nos primeiros 8 km de comprimento é
marcado por um declive suave, com pouca rugosidadade, inicia a -12 m e alcança -18 m
39
de profundidade. Neste primeiro trecho a textura superficial é predominantemente
arenosa PCC102 (72 %), PCC103 (73%), no entanto com importante contribuição de
finos: PCC101 (76% silte, 13% argila), PCC102 (14% silte, 13% argila), PCC103 (9%
silte, 7% argila), Figura 12A.
O segmento seguinte do perfil, ~15 km, é marcado por três proeminências. A
primeira entre 8 e 12 km varia 3 m entre as profundidade de -19 e -16 m e 2 m entre -20
e -18 m e apresentando-se rugosa. A segunda entre 14 e 18 km, é marcada por um
desnível de 5 m nas profundidades de -21 a -16 m apresentando uma face íngreme e
outra mais suave. A terceira proeminência entre 18 e 22 km é tem um desnível de cerca
de 4 m nas profundidades entre -21 a -17 m se apresentando suave nas duas faces,
Figura 12A.
A textura deste trecho de ~15 km é marcada pela variabiliadade textural com a
maioria das amostras predominando a fração areia, com a contribuição de material fino
PCC105 (24% silte, 12% argila), PCC106 (6% silte, 7% argila) entre as duas
proeminências entre -18 a -20 m de profundidade. Uma característica importante deste
perfil é a contribuição de cascalho biodetrítico. As amostras PCC103 (11%), PCC105
(3%), PCC106 (34%), PCC107 (47%) PCC111 (65%) mostram valores significativos,
confirmados pela concentração de carbonatos totais, 9, 3, 32, 42, 69%, respectivamente,
Figuras 12D e 12E.
Na classificação de Folk & Ward (1957) do início do perfil até 10 km nas
profundidades entre -11 e -17 m foi caracterizada por fácies siltosa média pobremente
selecionada, siltosa grossa muito pobremente selecionada e arenosa fina bem e
pobremente selecionadas. Na sequência, entre 10 e 15 km e fácies arenosas muito finas
muito pobremente selecionadas, fácies arenosas médias muito pobremente selecionadas
e muito arenosas grossas pobremente selecionadas. Entre -15 m e o fim do perfil
batimétrico foram classificadas por fácies arenosas finas de bem a muito bem
selecionadas, Figura 12C. Na classificação de Lasonneur (1977) do início do perfil até 8
km esta associada a lamas terrígenas arenosas, na sequencia, areias litoclásticas finas a
muito finas e areias litobioclásticas com cascalho. Passando o alto, fácies arenosas
litoclásticas finas a muito finas, Figura 12B.
Figura 12: Perfil Conheiros 1: A) Perfil batimétrico, B) Classificação de Lasonneur (1977), C) Classificação de Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E)
Porcentagem de carbonato.
41
PccIII: O perfil Concheiros III (PcIII) O PccIII inicia a 2,2 km da linha de costa
atual, totalizando 19,2 km e foi representado por quinze amostras, Figura 13. Nos
primeiros 8 km de comprimento é marcado por um declive suave, com pouca
rugosidadade, inicia a -12 m e alcança -18 m de profundidade. Neste primeiro trecho a
textura superficial é predominantemente arenosa PCC308-314 (70 a 100%), no entanto
com contribuição de finos: PCC308 (15% silte, 9% argila), PCC309 (10% silte, 12%
argila), PCC310 (9% silte, 14% argila), PCC311 (8% silte, 8% argila), PCC312 (7%
silte, 7% argila). Também neste trecho apresenta-se pequena contribuição de cascalho
biodetrítico PCC308 (5%) e PCC309 (7%), confirmado pela presença de carbonatos
totais 4 e 6% respectivamente, Figuras 13D e 13E.
O restante do perfil, cerca de 11 km é marcado por três proeminências. A
primeira entre 8,5 e 10 km varia 2 m, apresentando-se suave com uma das faces mais
inclinada entre -18 e -15 m de profundidade. A segunda entre 12 e 14 km varia 4,5 m
entre -19 e -14,5 m de profundidade e apresenta uma face íngreme e outra suave. A
terceira proeminência entre -19 e -13 m de profundidade, variando cerca de 6 m com
formato diferenciado por apresentar no seu término uma cava que separa uma nova
proeminência, parcialmente mapeada. Uma característica importante a destacar, como
no perfil Pma na zona A, é que na região mais profunda associada à base de dois altos
foi caracterizada mais uma vez pela presença de cascalho biodetrítico (27%), mostrando
que nas cavas, entre os altos, também ocorre este material, Figura 13A.
A textura deste trecho de ~11 km é marcada pela predominância da fração areia
(PCC319, 7% a PCC315, 100%) com material fino PCC319 (4% silte, 0,004% argila),
PCC322 (16% silte, 8% argila) entre as proeminências nas profundidades de -19 a -21
m. Outra característica deste perfil é a contribuição de cascalho biodetrítico. As
amostras PCC308 (5%), PCC309 (11%), PCC311 (2%), PCC320 (27%) PCC321 (15%)
mostram valores confirmados pela concentração de carbonatos totais, 4, 7, 28, 17%,
respectivamente, Figuras 13D e 13E.
Na classificação de Folk & Ward (1957) do início até 3 km em profundidades de
-11 até -13 m foi caracterizada por fácies arenosa muito fina muito pobremente
selecionada, fácies siltosa grossa muito pobremente selecionada passando a fácies
arenosa fina pobremente selecionada. Na sequencia a partir de 3 até 18 km em
profundidades de -15 até -18 m, zona associada aos altos topográficos foi caracterizada
por fácies arenosas finas pobremente, bem e muito bem selecionadas. Também se
42
encontram fácies arenosas grossas e médias pobremente selecionadas. Passando o alto
em profundidades de -20 a -21 m, areias finas muito pobremente a muito bem
selecionadas, Figura 13C. Na classificação de Lasonneur (1977) porção inicial do (até 3
km) foi caracterizada por lamas terrígenas arenosas. Na região associada aos altos
topográficos as areias litoclásticas finas a muito finas e areias litoclásticas, grânulos e
areias litoclásticas com cascalho. Passando o alto, fácies arenosas litoclásticas finas a
muito finas e lamas terrígenas arenosas, Figura 13B.
PccIV:
O perfil Concheiros IV (PcIV) inicia a 1,9 km da linha de costa atual,
totalizando 19,2 km e foi representado por quinze amostras. Este perfil é marcado por
irregularidades topográficas em toda a sua extensão, com alternância entre
proeminências e cavas com variações de 1 até 5 m, Figura 14A.
Nos primeiros 7,5 km iniciam em -12 e alcançam -18 m de profundidade
marcados por com irregularidades. Importantes feições de fundo localizadas entre 1,5 e
4 km de distância em -12 e -15 m de profundidade com variações de 1 a 3 m, e de 4 até
7,5 km em profundidades de -15 a -18 m, variações de 1 a 2 m e com menores de 0,7 a
0,5 m. Neste primeiro trecho de 2 km do perfil é marcado pela predominância de
sedimentos finos PCC420 (57% silte, 25% argila), PCC419 (66% silte, 20% argila)
figuras 14A e 14D. Na sequencia é caracterizada por uma textura superficial bastante
variável com significativa contribuição de cascalho biodetrítico, PCC418 (67%),
PCC417 (15%), PCC415 (47%), PCC414 (37%), confirmados pela porcentagem de
carbonatos totais, 63, 14, 47, 35%, respectivamente, Figuras 14D, 14E.
O segundo trecho, de 7,5 km de comprimento até o fim deste perfil (-19,2 m de
profundidade) também é marcado por irregularidades, apresentando um comportamento
diferenciado. As profundidades variaram de -13,5 a -21 m e são marcadas por duas
grandes feições topográficas. A primeira caracterizada por duas cristas e um vale ocorre
entre 7,5 e 10,5 km, com as profundidades variando de -18 a -13,5 m figura 14A. A
segunda próximo ao fim do perfil, foi caracterizada por uma crista proeminente com
variação de 5 m nas profundidades de -20,5 a -15,5 m seguidas por pequenas feições de
0,5 a 1 m. A textura deste trecho de ~12 km é marcada pela predominância da fração
areia (PCC413, 98% a PCC408, 94%) e pequena contribuição de material fino PCC308
(2% silte) e PCC405 (5% silte). No fim deste perfil, novamente significativa
contribuição de cascalho biodetrítico é evidenciado pelas amostras PCC407 (75%) e
Figura 13: Perfil Conheiros 3: A) Perfil batimétrico, B) Classificação de Lasonneur (1977), C) Classificação de Folk & Ward (1957), D) Composição textural, E)
Porcentagem de carbonato.
44
PCC406 (36%), mostram valores confirmados pela concentração de carbonatos totais,
77 e 35%, respectivamente. Figuras 14D, 14E.
Na classificação de Folk & Ward (1957) o primeiro trecho, foi caracterizado por
fácies siltosas médias muito pobremente selecionadas. Na sequencia, fácies granulosas
moderadamente selecionadas e arenonas grossas e muito grossas pobremete
selecionadas; e ainda areias finas muito bem selecionadas. Este trecho foi também
representado por fácies arenosas médias moderadamente selecionadas. O segundo
trecho foi marcado por fácies arenosas finas a muito finas de bem a muito bem
selecionadas, seguidas por fácies granulares a areias muito grossas de moderadas a
pobrememte selecionadas, Figura 14C.
Na classificação de Lasonneur (1977) apresentou grande variabilidade na
classificação de fácies. Inicialmente lamas terrigenas arenosas, grânulos biolitoclástos
com casacalho, areias litoclasticas finas a muito finas e grossas a muito grossas, e ainda
areias biolitoclasticas com casacalho, e marga arenosa. O segundo trecho é marcado por
zona de fácies de areias litoclásticas, coquinas e areias litobioclástica com cascalho,
Figura 14B.
Pal:
O Perfil Albardão (Pal) iniciou a 0,8 km da linha de costa atual, totalizando 25
km e foi caracterizado por quinze amostras, Figura 15. Este perfil é caracterizado por
um trecho de batimetria suave e outro por irregularidades topográficas, com alternância
entre proeminências e cavas com variações de 1 até 5 m.
Os primeiros 7,5 km iniciam em 8,5 m e alcançam -12 m de profundidade
marcados por suavidade do terreno. Neste primeiro há predominância de sedimentos
finos PAL101 (39% silte, 34% argila), PAL102 (50% silte, 35% argila) e PAL 103
(40% silte, 33% argila). Também estão presentes concentrações de cascalho biodetrítico
neste trecho PAL101 (15%), PAL103 (2%), confirmados pelas concentrações de
carbonatos totais 14 e 2%, respectivamente. Dos 7,5 até os 15 km a batimetria é
carcaterizada por um declive suave de partindo da profundidade -12,5 a -18 m. Apenas
uma proeminência de 1,5 m aos 13 km de distância, nas profundidades de -14 a -15,5 m.
Neste trecho há predominância de sedimentos arenosos PAL105 (94%), PAL107 (98%)
e PAL 108 (88%) e concentrações de cascalho biodetrítico PAL105 (5%), PAL108
(15%), confirmados pelas concentrações de carbonatos totais 4 e 12%, respectivamente,
Figuras 15A, 15D, 15E.
Figura 14: Perfil Conheiros 4: A) Perfil batimétrico, B) Classificação de Folk & Ward (1957), C) Classificação de Lasonneur (1977) D) Composição textural, E) Porcentagem
de carbonato.
46
Dos 15 km de comprimento até o fim deste perfil (25 km), importantes feições de
fundo apresentaram-se destacadas. Dos 15 aos 20 km são observadas variações
topográficas de 2 m com uma face mais proeminente e outra mais suave entre as
profundidades de -17 e -21 m. O último trecho deste perfil (dos 20 aos 25 km) foi
caracterizado por grandes irregularidades de fundo, com altos topográficos de 3 até 5 m,
destacados entre as profundidades de -21 e -15 m apresentando declives acentuados.
Percebe-se um conjunto que se apresenta muito irregular, um padrão “serrilhado” com
cristas e cavas muito próximas. A textura deste trecho é predominantemente arenosa,
variando de PAL 110 (67%) a PAL112 (99%). Também é notada a presença de sedimentos
finos, PAL 109 (4% silte), PAL110 (18% silte, 14% argila) e cascalho biodetrítico, PAL
111 (4%), PAL113 (2%), PAL114 (13%), PAL115 (31%), confirmados pela concentração
de carbonatos totais 4, 2 12 e 32% respectivamente, Figuras 15A, 15D, 15E.
Na classificação de Folk & Ward (1957) o primeiro trecho varia suas fácies de
siltosa grossa, fina e muito fina, de bem a pobremente selecionada. O segundo trecho
apresentou fácies arenosas finas, bem, moderadamente e muito bem selecionadas. O
terceiro trecho é marcado por areias médias moderadas a pobremente selecionadas, areias
finas muito pobremente selecionadas e siltosa grossa muito pobremente selecionada. Ainda
no fim deste trecho areias grossas e muito grossas pobremente selecionadas, Figura 15C.
Na classificação de Lasoneur (1977) o primeiro trecho foi classificado como lamas
terrígenas arenosas o segundo, apresentou-se como areias litoclásticas finas a muito finas.
O terceiro trecho apresentou variabilidade sendo alternado por areias litoclásticas finas a
muito finas e médias terminando com areias litobioclásticas grossas a muito grossas,
Figura 15B.
Resumindo, a zona B representada pelos perfis Pcc I, Pcc III, Pcc IV e Pal, também
foi caracterizada por uma região de alta variabilidade sedimentológica, mostrando-se
suaves declives nos primeiros 10 km (dos -10 aos -15 m de profundidade) sem importantes
variações topográficas. A partir desta zona de batimetria suave, ocorre a presença de altos
topográficos que se destacam de 2 até 5 m em profundidades de -15 a -21 m. Predominou a
fração areia, no entanto revelou importantes concentrações de cascalho biodetrítico
normalmente associadas aos altos topográficos. O início dos perfis caracterizados pela
suavidade no relevo mostrou-se associados a sedimentos finos e pequenas concentrações
de cascalho biodetrítico. Nas regiões entre os altos, também foi comum há presença de
sedimentos finos (silte a argila).
Figura 15: Perfil Albardão: A: Perfil batimétrico, B: Classificação de Lasonneur (1977), C: Classificação de Folk & Ward (1957), D: Composição textural, E: Porcentagem de
carbonato.
48
I.V – DISCUSSÃO
A partir dos resultados obtidos e uma análise geral do comportamento
batimétrico e sedimentológico da antepraia e plataforma interna estudada pode-se
ressaltar alguns aspectos comparando a zona “A”, região ao largo do Chuí até o
Balneário Hermenegildo, da zona “B”, região ao largo da Praia dos Concheiros até o
farol do Albardão, Figura 16.
A zona “A” foi caracterizada por apresentar variabilidade sedimentológica com
a presença marcante de altos topográficos próximos a linha de costa (~3 e 6 km), em
profundidades de -12 m na base, a -7 m no topo em menos de 1 km de distância. Na
base e por vezes próximo ao topo, estas feições caracterizaram-se pela exposição do
substrato rígido (arenitos) colonizados por biota típica deste ambiente.
Este alinhamento em relação à linha de costa atual de tais feições NNE-SSW na
plataforma interna estão relacionadas ao Parcel do Hermenegildo, destacadas nos perfis
Phe1, Phe2, Phe3, em frente à praia e ao balneário que levam o mesmo nome.
Associadas as estas irregularidades, foram verificadas regiões com menor concentração
de sedimentos tamanho areia fina, sugerindo défict deste material quando comparados à
zona “B”.
O cascalho biodetrítico associado ao Parcel do Hermenegildo é composto
basicamente por conchas desarticuladas de moluscos bivalves. As características de
fragmentação e arredondamento, bem como a coloração avermelhada dos bioclastos
indicam sedimentos palimpséticos, sugerindo o retrabalhamento na zona de
arrebentação em condições de nível de mar mais baixo do que o atual (Figueiredo Jr,
1975; Asp, 1996, 1999). Buchmann & Tomazelli (2003) classificaram estes parceis
como ativos, se encontrandos submetidos diretamente à ação das ondas. A biota viva
fixada sobre fundo rígido desnudo de sedimentos revela um ambiente de alta energia e
que mantem, por período suficiente, o substrato desnudo, sem contribuição sedimentar.
Nos perfis Pch, e Pma, pouco mais distantes da linha de costa atual entre (~6 e 8
km) e menos proeminentes entre a base e o topo (máximo 3 m) foram interpretadas
como fazendo parte do mesmo conjunto de feições submersas alinhadas no sentido
NNE-SSW. Na base desta feição no perfil Pma também se verificou substrato rígido,
desnudo de sedimentos cobertos por biota típica deste ambiente. Outra característica
neste setor é que após a ocorrência dos altos topográficos mais próximos a linha de
costa atual, há suavização de relevo de fundo marcado por uma depressão com poucas
49
irregularidades predominando sedimentos finos. Posterior a esta região até nota-se outro
conjunto de altos topográficos destacados entre 18 e 22 km nas profundidades de -21 m
na base, até -13 m no topo. Este conjunto de feições no perfil Pma, novamente apresenta
trechos que ocorre a presença de substrato rígido colonizados por biota deste ambiente.
Buchmann & Tomazelli (2003) classificaram estas feições como intermediárias onde o
fundo é retrabalhado episodicamente por grandes ondas de tempestades.
A zona “B” apresentou alta variabilidade textural. Em geral, até 10 km (entre -10
e -15 m de profundidade) da linha de costa atual, foi marcada por sedimentos finos com
pequenas concentrações de cascalho biodetrítico, não ocorrendo importantes variações
batimétricas. A partir desta zona, altos topográficos destacam-se com 2 até 5 m em
profundidades de -21 m na base a -15 m no topo. Ocorre o predomínio da fração areia,
com importantes concentrações de cascalho biodetrítico associadas aos altos, e nas
regiões mais profundas a presença de material fino (silte a argila) também acompanhada
de cascalho.
Nesta zona as concentrações de cascalho biodetritico se apresentavam muito
semelhante ao encontrado na zona “A”, (coloração avermelhada e características de
retrabalhamento). O domínio de sedimentos tamanho areia e a cobertura destes sobre os
altos topográficos sugere uma zona com maior disponibilidade deste material quando
comparados à zona “A”.
Na zona “B” também nota-se um alinhamento de altos topográficos na
plataforma interna em relação à linha de costa atual. Nos perfis Pco1, Pco3, Pco4 ao
largo da praia dos Concheiros dos 10 aos 18 km destacam-se dois altos com diferenças
batimétricas que chegam a 4 m entre topo e base variando entre 1 e 4 km de distância.
Foram interpretadas como dois conjuntos de feições submersas alinhadas: um entre 10 a
12 km e outro entre 14 e 20 km distantes da atual linha de costa.
Outra característica batimétrica marcante neste setor é relacionada à região do
farol do Albardão, onde o perfil se mostra muito distinto dos demais por se apresentar
próximo a zona costeira muito mais suave e com menores proeminências. Somente
entre 20 e 25 km de distância é que se notam diferenças batimétricas importantes.
As feições proeminentes marcadas por altos topográficos preservadas na
antepraia e plataforma interna, foram interpretadas pelas características morfológicas e
texturais aliadas ao significado na evolução da barreira costeira holocênica. Para tanto,
se consideráramos o conceito de antepraia (Swift et al.,1979) e que nesta região da costa
50
do Rio Grande do Sul a zona de arrebentação varia de 0,5 até 1,5 km em situações de
tempestades, podemos admitir que os perfis apresentados representam satisfatóriamente
a zona compreendida entre a antepraia superior até antepraia inferior. De modo geral,
apresentou complexidades tanto nas morfologias de fundo pelas irregularidades
apresentadas quanto na sua distribuição textural pela variedade no tamanho e
composição dos sedimentos.
Figura 16: Perfis batimétricos da zona A (acima) e zona B (abaixo).
51
A preservação destas morfologias bem como nos sedimentos sugerem distintos
comportamentos e mecanismos de migração da barreira holocênica durante o processo
transgressivo:
Se considerarmos o mecanismo de recuo da barreira proposto por Sanders &
Kumar, (1975), ou, recuo da antepraia de Swift, (1968): quando a base da antepraia
migra em direção ao continente truncando depósitos pré-existentes pela ação das ondas
gerando por consequência uma superfície de ravinamento; os depósitos transgressivos
podem ser preservados tanto abaixo da superfície de ravinamento (turfas) como acima
dela (shelf sand ridges).
Este mecanismo sugere a geração de “superfícies de ravinamento” podendo ser
representadas pelas acumulações de cascalho biodetrítico, como depósitos de “lag”
gerados durante o processo transgressivo da linha de costa. As topografias proeminentes
(altos) representadas por mais de um perfil se mostrando paralelas ou suavemente
oblíquas em relação a linha de costa atual, podem ser interpretadas como shelf sand
ridges, assim também interpretadas por Figueiredo Jr. (1975, 1980) e Figueiredo Jr. et
al. (1981). Portanto, estas feições podem sugerir este mecanismo como participante no
processo de migração da barreira holocênica.
No entanto, também foi evidenciado que algumas destas feições mostram-se
consolidadas por muitas vezes desnudas de sedimentos encontradas próximas à linha de
costa na zona A, portanto não seriam relacionadas a feições tipicamente do tipo shelf
sand ridges, formadas por substratos inconsolidados, mas que, ocasionalmente podem
se ancorar em altos topográficos antecedentes.
Nos perfis Pch e Pma, demostram características morfológicas que induzem a
ser atribur a barreiras estacionárias, denominadas como feições relíquias preservadas
plataforma interna, afogadas como durante o processo transgressivo. Sanders & Kumar
(1975), explicam este mecanismo de afogamento local quando a barreira é submersa
devido ao rápido aumento da taxa de elevação do nível mar ou uma redução do
suprimento sedimentar, elevando o potencial de preservação de depósitos de
retrobarreira abaixo da superfície de ravinamento. Carter (1988) corrobora este
mecanismo ressaltando as possíveis ancoragens a altos topográficos e interação com os
padrões de ondas.
52
Este mecanismo também não é descartado pela morfologia que se assemelha
muito a barreira costeira, por exemplo, na região da praia dos concheiros onde tem
alturas médias de 4 a 6 m e 4 km de largura. No entanto pela deficiência de dados de
subsuperfície como testemunhos e datações aliados a dados sísmicos que poderiam
esclarecer e diferenciar se estes altos tem esta morfologia por estarem ancorados a
substrato antecedente ou se são totalmente inconsolidados. Também auxiliariam a
compreender se sedimentos da retrobarreira (lagunares principalmente) se preservaram
abaixo ou na retaguarda destas.
Para Swift et al. (1991), o mecanismo de migração de barreiras costeiras
chamado de overstep (similar ao afogamento local, denotando um pulso transgressivo
da linha de costa) e set-up (retração dos perfis da antepraia mediante a uma interrupção
episódica por progradação) apontando processos transgressivos pontuados com aumento
no suprimento sedimentar e de regressão temporária da linha de costa, ambas resultando
em superfícies diacronas de erosão na antepraia. Se considerarmos o overstep, a
evolução da barreira holocênica neste trecho com um possível afogamento local
marcado pelas feições já discutidas no parágrafo anterior. Já o set-up poderia ser
aplicado se barreira em algum momento que a taxa de elevação do nível do mar é
superada pelo aporte de sedimentos, portanto progradaria por algum momento e isso
tenha ficado preservado na forma de feições relíqueas na plataforma interna e ou
ancorando-se em altos topográficos já existentes na antepraia e plataforma interna.
A resposta transladacional acontece quando a barreira migra transversalmente ao
declive do substrato sem a perda de material. Esta transladação em direção ao
continente pode ser sobre depósitos de sedimentos finos (Oertel et al., 1989)
normalmente de ambientes lagunares.
Sugere-se que estas feições podem estar relacionadas a estabilizações do NRM,
estando provavelmente ligada a uma posição da linha de costa durante as oscilações do
nível do mar. As variações topográficas mostram-se abruptas e a sedimentologia
associada a estes altos denotam alta energia de correntes induzidas por ondas.
Apesar da escasses de dados geocronológicos que possam precisar as idades
destas feições submersas é importante ressaltar as duas possibilidades quanto a evolução
da plataforma interna bem como da barreira costeira holocênica:
53
A primeira é que se estas feições se formaram no Pleistoceno superior, durante a
instalação do Sistema Laguna Barreira III e preservadas, influenciaram de modo
expressivo quanto ao controle morfologico do substrato antecedente. Dessa forma,
influênciando no processo de transladação da barreira durante a Última Grande
Transgressão com uma possível.
O trabalho de Buchmann (2002) sugere que a presença destes altos topográficos
na plataforma interna do RS estão relacionados as estabilizações do NRM no
Pleistoceno, durante a Penúltima Grande Transgressão. Estes depósitos estão associados
ao evento responsável pela formação do sistema deposicional Laguna-Barreira III,
proposto por Villwock et al. (1986). Após este período, esta feições ficaram submetidas
a exposição subaérea durante a regressão subsequente. Posteriormente, com a subida do
nível do mar, durante a Última Grande Transgressão, os depósitos foram novamente
afogados.
A segunda hipótese seria da formação deste sistema durante o Holoceno,
marcando, portanto uma estabilização da linha de costa durante o processo transgressivo
condicionado pela Última Grande Transgressão. A hipótese deste sistema ter sido
originado durante o Holoceno, é sustentada pela morfologia muito semelhante a uma
barreira afogada que ocorre principalmente nos Pch e Pma.
Estas feições topográficas submersas podem estar influenciando a evolução dos
diferentes compartimentos costeiros em diferentes escalas de tempo. As evidências que
zona “A” apresenta uma plataforma interna com déficit de sedimentos do tamanho areia
é um importante parâmetro a ser considerado quando se discute a erosão do ambiente
praial adjacente.
Atualmente o sistema praial adjacente a esta zona, tanto na praia das Maravilhas
como no Balneário Hermenegildo, sofre intensos processos de erosão costeira.
Tomazelli et al. (1998) e Dillenburg et al. (2004), propõem que a continuidade lateral
dos depósitos de turfas e lamas orgânicas aflorantes nas imediações da praia do
Hermenegildo sugerem uma formação associada a corpos lagunares e paludiais de
significativas dimensões.
As exposições junto à praia atual revelam que nestes locais a barreira que
protegia estes ambientes foi totalmente erodida. Tomazelli et al. (1999) abordaram as
possíveis causas do processo erosivo que se desenvolve em alguns trechos da costa do
Rio Grande do Sul e que incluem o segmento sul do litoral, especialmente as praias
54
entre Hermenegildo e a foz do Arroio Chuí. Entre as prováveis causas os autores
consideraram: (1) elevação atual do nível relativo do mar (Tomazelli & Villwock, 1989;
Tomazelli, 1990; Tomazelli et al.,1998); (2) efeito das marés meteorológicas associadas
à eventos de tempestades (Calliari et al, 1998); (3) concentração de energia de ondas
devido à refração em feições morfológicas submersas (Calliari et al.,1998) e (Speranski
& Calliari, 2000) e (4) concentração de energia de ondas controlada por feições
morfológicas de grande escala associadas à topografia pleistocênica precedente à última
grande transgressão (Dillenburg et al.,1998). As causas apontadas não são excludentes
sendo possível que o fenômeno erosivo resulte da superposição das mesmas, Tomazelli
et al. (1999).
A zonação da antepraia é paralela à linha de costa e pode ser temporariamente
desfocada ou pontuada pelos efeitos das maiores tempestades tendo limite inferior
profundidades entre -16 e -20 m (Swift, 1975; Swift et al., 1985), portanto é sabido que
correntes induzidas por ondas agem, principalmente em condições de tempestades
retrabalhando e transportanto sedimentos nesta zona. O perfil representa uma geometria
de equilíbrio entre o diâmetro dos sedimentos, processos deposicionais ativos e o nível
energético (Bruun, 1962; Walker & Plint, 1992). A preservação de antigos depósitos de
plataformas/antepraia é dependente do ângulo de migração da linha de costa (Martinsen
& Helland-Hansen, 1995) controlado pela acomodação e o suprimento sedimentar
(Nummedal et al. 1993).
Portanto, mesmo não definindo quais fatores teriam maior ou menor
contribuição a erosão associada a este trecho costeiro, pressupõe-se que ajustes
morfodinâmicos de larga escala, ou seja, o balanço de sedimentos entre a antepraia
(porção submersa) e a barreira (porção emersa) principalmente pela transferência “cross
shore”, é afetada havendo déficit sedimentos na porção submerça.
Considerando principalmnete os fatores a longo prazo, o processo de
desenvolvimento e evolução da Barreira IV na região costeira de Santa Vitória do
Palmar também é influenciado pelo balanço de sedimentos entre a antepraia e o sistema
praial adjacente. Pode-se considerar que como não existe aporte fluvial considerável
nesta região costeira, o estoque de sedimentos seria resumido na sua grande maioria a
antepraia adjacente.
55
A cobertura de sedimentar da ante praia estudada predominam as frações
arenosas e importantes concentrações de cascalho biodetrítico, e nas regiões mais
profundas entre os altos, ocorre a presença de material fino (silte a argila), em conjunto
com o cascalho biodetrítico. Portanto a variabilidade sedimentar ocorre tanto na
antepraia como na região praial adjacente suas alterações estão sujeitas as variações
morfodinâmicas de curto espaço temporal, onde as ondas de tempestades são capazes de
remobilizar o fundo e aportar estessedimentos a porção emersa da barreira.
Sugere-se que entre cerca de 3 e 6 km da linha de cota atual mar a dentro, na
localidade do Hermenegildo, altos topográficos constituídos de arenitos por muitas
vezes desnudos de sedimentos inconsolidados entre as isobatas de entre -8 e -15 m
fazem parte do Sistema Laguna Barreira III de Villwock et al. (1986) pela proximidade
com este sistama em relação a zona costeira e que poderiam estar associados a uma
estabilização de uma linha de costa durante a subida do nível do mar durante Holoceno,
ou seja um momento de ancoragem da Barreira IV. E que os sand ridges, são o
retrabalhemanto atual dos sedimentos que compunham (um terraço marinho, uma
estabilização uma barreira) durante a subida do nível do mar durante o Holoceno, que
podem ou não estar ancorados em altos pleistocênicos.
56
CAPÍTULO II
ESTRATIGRAFIA DA BARREIRA HOLOCÊNICA NA REGIÃO COSTEIRA
DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR
II.I – INTRODUÇÃO
A evolução da PCRS durante o Holoceno é um tema que vem sendo desenvolvido
desde pioneiros trabalhos desenvolvidos da década de 60. No entanto depois da
proposta de Vilwock et al. (1986) de aplicar o modelo de sistemas deposicionais do tipo
laguna barreira, houve um crescimento de contribuições neste sentido. Especificamente
no estudo da evolução das barreiras costeiras holocênicas na PCRS, destacam-se os
trabalhos de Tomazelli (1990), Vilwock & Tomazelli (1995), Dillenburg (1994),
Dillenburg et al. (2000, 2004a, 2006, 2009), Clerot (2004), Travessas (2005), Lima
(2008), Martinho et al. (2008), Tomazelli et al. (2008), Barboza et al. (2009, 2010,
2011, 2013), Lima et al. (2013), Rosa (2011, 2012) cada qual no seu enfoque,
contribuindo para o conhecimento da evolução destes sistemas.
O presente Capitulo discorre sobre a parte emersa relacionada a região costeira do
município de Santa Vitória do Palmar da PCRS, limitada ao leste pela Lagoa Mangueira
ao oeste pelo Oceano Atlântico, ao norte pela praia adjacente ao farolete Verga e ao sul
pela praia da Barra do Arroio Chuí. Com características peculiares quanto à textura
(bioclástos) associadas ao ambiente praial, este segmento da barreira holocênica é
menos conhecido sob os aspectos estratigráficos e evolutivos, quando comparado a
outros setores da costa do Rio Grande do Sul. Neste contexto, o presente trabalho
contribui no entendimento da evolução das barreiras costeiras holocênicas do Rio
Grande do Sul.
II.I.I Contexto Geológico
A PCRS é composta por leques aluviais e pela justaposição de quatro sistemas
deposicionais do tipo laguna-barreira formados por sucessivas elevações e
rebaixamentos do NRM durante o Quaternário, Vilwock et al. (1986) e Tomazelli et al.,
(2000). Foram propostos os sistemas Laguna-Barreira I, II, III, pleistocênicos (estágios
interglaciais 11, 9 e 5 respectivamente) e o Sistema Laguna-Barreira IV holocênico,
(estágio interglacial 1), figuras 17 e 18.
57
Na região de estudo destacam-se os Sistemas Laguna-Barreira II, III e IV.
Recentemente uma importante contribuição de Lopes et al. (2010) datando fósseis de
mamíferos relacionados ao sistema Laguna-Barreira II, mais presisamente a Barreira II,
concluiram que este sistema deposicional esta relacionado a uma transgressão marinha
ocorrida a cerca de 200 ka podendo ser relacionda ao estágios interglacial 7.
De acordo com Villwock et al. (1986) o Sistema Laguna-Barreira III formou-se
associado a um terceiro evento transgressivo-regressivo que atingiu a PCRS no final do
Pleistoceno. A formação da Barreira III foi responsável pela implantação final do
Sistema Lagunar Patos-Mirim (Villwock & Tomazelli, 1995). Os sedimentos da
Barreira
III
são
correlacionados
ao
último
pico
interglacial
pleistocênico,
correspondendo ao subestágio isotópico de oxigênio 5e, o que lhes conferem uma idade
em torno de 120 ka. As características gerais dos sedimentos da Barreira III permitem
correlacioná-los aos depósitos arenosos marinhos descritos em outras partes do litoral
brasileiro e relacionados com a “Penúltima Transgressão” ou “Transgressão Cananéia”
de Suguio & Martin (1978) e Bittencourt et al. (1979).
No norte do PCRS, Tomazelli & Dillenburg (2007) descreveram a sucessão
estratigráfica da Barreira III correspondendo a uma sequencia costeira tipicamente
progradante (regressiva) onde nível máximo é atribuído a depósitos de estirâncio
marcado pela presença de ichnofósseis de Ophiomorpha nodosa a cerca de 7 m acima
do NRM atual. Buchmann & Tomazelli (2003) dataram por termoluninescência um
afloramento na linha de costa atual relacionado à Barreira III obtendo uma idade de
109.00 ka A.P. Os trabalhos de Caron (2007), e Lima et al. (2013) e Rosa (2012)
mostram que na porção sul da PCRS a Barreira III teve um comportamento
retrogradante (transgressivo), já que são encontrados depósitos de origem praial e eólica
atribuídos a este sistema, sobrepondo depósitos lagunares pleitocênicos. Segundo Rosa
(2012) as barreiras pleistocênicas também apresentam variabilidades nos padrões
morfológicos, estratigráficos e contextos evolutivos como nas barreiras holocênicas,
Figura 19.
Nesta região terrenos do Sistema Lagunar III estão posicionados entre as Barreiras
II e III, em um espaço ocupado hoje em dia pelos banhados formadores dos arroios do
Pastoreio e Chuí (Soliani Jr., 1973). Trabalhos realizados por Lopes et al. (2009, 2010)
abordando principalmente o conteúdo fossilífero (megafauna pampeana) discutem a
58
evolução do Arroio Chuí, diferenciando suas fases de preenchimento de depósitos
lagunares a fluviais. Também são encontrados depósitos associados a este sistema em
toda margem leste da Lagoa Mirim.
O sistema Laguna-Barreira IV da porção sul da PCRS é o principal objeto desse
estudo. A barreira IV iniciou sua formação há cerca de 7 ka, com a migração de uma
barreira transgressiva, durante os estágios finais da Transgressão Marinha Pós-Glacial
(Dillenburg et al., 2000). A formação da Barreira IV isolou grandes corpos lagunares,
que foram segmentados durante o rebaixamento do nível do mar que se seguiu ao
máximo transgressivo de 5 ka A.P. Tomazelli et al. (2000).
Figura 17: Mapa geológico da Planície Costeira do Rio Grande do Sul (PCRS). Em destaque no retângulo
vermelho, a área de estudos. Modificado de Tomazelli & Villvock 1996).
59
Figura 18: Perfil esquemático da PCRS com seus sistemas deposicionais e suas respectivas idades
relacionadas. (modificado de Tomazelli & Villvock 1996).
Figura 19: Perfil esquemático ao sul da PCRS (modificado de Rosa 2012).
60
II.I.II Nível do mar no Holoceno no sul do Brasil
Embora existam divergências pontuais entre os diversos autores, nascidas de
efeitos locais e/ou metodológicos, as curvas que sintetizam a variação do nível do mar
durante o Holoceno médio e tardio, mostram na sua maioria, que o nível atual foi
ultrapassado em torno de 7 ka e que, entre 6 e 5 ka foi atingido um nível máximo
situado alguns metros acima do nível atual. Martin et al. (1979, 1988) apresentam uma
curva de variação do NRM durante Holoceno no litoral de Santa Catarina, mostrando
que nível relativo do mar alcança seu nível atual em torno de 7 ka AP. Após esse
período o NRM teria subido acima do nível atual três vezes, em 5.1, 3.6, e 2.5 ka AP
anos, com o nível do mar atingindo as cotas de 4, 2,5 e 2 m acima do nível atual
respectivamente (± 0,5 m de erro). A partir de datações de vermitídeos, Angulo et al.
(2006) propuseram uma curva de variação do NRM para o litoral sul de SC, em que o
nível de mar alto ocorreu há 5.4 ka A.P., chegando a 2,1 ± 0,5 m acima do nível atual,
correspondendo ao máximo da transgressão marinha pós-glacial, e declínio contínuo do
NRM desde 3 ka A.P. até os dias atuais (taxas de 0,4 mm/ano) Figura 20.
Barboza & Tomazelli (2003) identificaram uma feição de terraceamento
associada a uma escarpa na Lagoa dos Patos que indica para a formação um nível
máximo da mesma em torno de 2,5 e 3 m acima do nível atual. Assim, como a referida
Lagoa mantem uma conexão permanente com o oceano a construção desta feição condiz
com as variações propostas por Angulo et al. (2006).
Caron (2007), estudadando a evolução paleogeográfica na região da
desembocadura Arroio Chuí durante o Holoceno, identificou moluscos em posição de
vida em depósitos de origem lagunar estuarina que dataram entre 5 e 6 ka a cerca de 2 m
acima do NRM atual, sendo atribuídos ao nível de mar mais alto durante o Holoceno
médio, corroborando também com os dados de Barboza & Tomazelli (2003) e Angulo
et al. (2006).
61
Figura 20: (A) Curvas do nível do mar no Holoceno para a costa leste do Brasil. Curva sólida de Corrêa
(1990). Curva pontilhada após Martin et al. (1979). Curva tracejada após Angulo & Lessa
(1997), (B) Curvas de variações do nível do mar para a costa brasileira durante o Holoceno ao
norte de 28°S (linha sólida) e sul de 28°S (linha tracejada) de Angulo et al. 2006. Figura
modificada de Dillenburg et al. (2009).
II.I.III As Barreiras Holocênicas do Rio Grande do Sul
Segundo trabalhos de Tomazelli (1990), Dillenburg et al. (2000); Dillenburg et
al. (2003); Travessas (2003); Dillenburg et al. (2004 a, b); Hesp et al. (2005), Martinho
et al. (2008a), Dillenburg et al. (2009), Barboza et al. (2011), Lima et al, (2013) durante
o Holoceno, as barreiras costeiras tem apresentado diferentes tipos de morfologias e
estratigrafia na costa do Rio Grande do Sul.
As barreiras holocênicas não exibem uma evolução uniforme o Holoceno médio
e tardio. Nas reentrâncias, ocorrem barreiras regressivas, enquanto nas proeminências,
barreiras transgressivas. Conforme Barboza & Rosa (2014) os setores transgressivos
apresentam campos de dunas transgressivos, enquanto os setores regressivos são
caracterizados por dunas frontais (foredune ridges) e lençóis de areias transgressivos
chamados de transgressive dunefields por Hesp et al. (2005, 2007). Os contrastantes nos
tipos de barreira são o resultado em longo termo, da existência de gradientes do poder
de ondas ao longo da costa determinando diferentes aportes de sedimento, nos distintos
setores costeiros, Dillenburg et al. (2009).
62
As barreiras progradantes (regressivas) são caracterizadas pela migração da linha
de costa em direção ao mar por pelo menos os últimos 5 ka e ambos com a linha de
costa côncava. O primeiro tipo (A) compreende dunas frontais reliquiares intercaladas
com campos de dunas transgressivos do Estreito ao Sarita. O segundo tipo de barreira
progradante (B) apresenta um sistema lagunar na retaguarda da barreira e uma sucessão
de lençois de areias, separados por cordões de precipitação sendo encontrados entre
Torres e Xangri-lá.
As barreiras retrogradantes (transgressivas) são as que tiveram a linha de costa
migrando em direção ao continente durante os últimos 5 ka. Ocorrem na costa em três
estágios evolutivos. O primeiro (D), é caracterizado pela erosão das praias e pela
presença de campos de dunas transgressivos e depósitos lagunares na retaguarda da
barreira, Figura 24. Destando presente no litoral norte de Dunas Altas a Mostardas e no
litoral sul, do farol do Albardão à praia do Hermenegildo. O estágio (E) é caracterizado
pelo afloramento de depósitos de lamas lagunares na face praial e pós-praia, e campos
de dunas transgressivos sobre estes depósitos (E), são encontrados de Mostardas ao
Estreito e próximos ao Hermenegildo e ao Jardim do Éden. A barreira retrogradante do
tipo (F), é encontrada na região próxima a desembocadura do Arroio Chuí (F)
(conhecido como “mainland beach” sensu Roy et al., 1994), caracterizada pela erosão
parcial e/ou completa dos depósitos holocênicos depósitos transgressivos e lagunares,
alcançando o substrato pleistocênico. Entre as situações, progradantes e retrogradantes,
estão as barreiras agradantes, caracterizada pela alternação de processos progradantes e
retrogradantes durante os últimos 5 ka, produzindo um efeito de linha de costa quasiestacionária (C). São encontrados nos pontos de inflexão, onde a linha de costa passa de
côncava para convexa (de Xangri-lá a Jardim do Éden; de Jardim do Éden a Dunas
Altas; do farol da Verga ao farol do Albardão), Figuras 21 e 22.
As contribuições de caráter evolutivo durante o Holoceno na área de estudo
destacam-se os trabalhos de Buchmann et al.(1998) sobre a evolução da Lagoa Mirim e
banhado do Taim durante o Holoceno; Tomazelli et al. (1998) dando ênfase ao processo
erosivo da linha de costa atual na porção sul da PCRS; Caron (2007) descrevendo sobre
o afogamento da região da desembocadura do arroio chuí durante o máximo eustático
holocênico; Tomazelli et al. (2008), sobre vales incisos e a evolução do banhado do
Taim durante o Holoceno, Rosa (2012) a respeito da evolução dos sistemas
63
deposicionais quaternários com ênfase na porção sul da PCRS e Lima et al. (2013)
sobre a estratigrafia da barreira holocênica na praia Hermenegildo.
II.I.IV Aspectos Climáticos e Oceanográficos
O regime de ventos e massas de ar estão vinculados principalmente ao
anticiclone tropical semi fixo do Atlântico Sul e ao Anticiclone Polar Migratório
(Fonzar, 1994). Os ventos da costa do RS como de alta energia e de baixa variabilidade
direcional, com dominância dos ventos de NE na maior parte do ano, entretanto os
ventos de S-SW-W os de maior velocidade, Tomazelli (1993). Segundo Davies (1964) a
costa do RS é enquadrada a um regime de micromarés, dominada por ondas. As tábuas
de marés (DHN) apresentam marés astronômicas médias anuais de 0,47 m e máximas
de 1,2 m. Em períodos de tempestade os fortes ventos provindos principalmente de SSW ocasionam sobre elevações do nível do mar na ordem de 1 a 2 m (marés
meteorológicas) Tomazelli (1993), Tozzi & Calliari (2000) e Parise et al. (2008).
Estudando registros de onda da costa do RS, Motta (1969) observou que a altura
significativa mais frequente é de 1,5 m e o período 9 s; e Strauch & Schimdt (1999)
propuseram que a direção predominante incidente à costa é de SE. Dois regimes se
destacam: o primeiro S-SE, com ondas de swell e um segundo de ondas de geração
local, propagando-se E-SE. Barletta (2006) sugere que a refração causada pela
morfologia da antepraia teria uma participação determinante na altura e direção das
ondas ao longo de grandes trechos da costa do RS e que os parceis atuariam de forma
pontual em menor escala. Este resultado estaria de acordo com a interpretação dos
resultados apontados por Dillenburg et al. (2003), e Martinho (2008), que encontram
um gradiente de ondas na costa do RS com menores alturas significativas nos setores
que correspondem as reentrâncias e um progressivo crescimento nas projeções costeiras.
64
Figura 21: Setores da costa do RS (I, II, II, IV) e os tipos de barreira encontrados (A, B, C, D, E, F)
(modificado de Dillenburg et al., 2000).
Figura 22: Setores costeiros e tipos de barreiras holocênicas encontrados ao longo da costa do Rio Grande
do Sul, com as seções estratigráficas esquemáticas correlatas (modificado de Dillenburg et al.,
2000).
65
As correntes costeiras apresentam-se paralelas à linha de costa em ambos os
sentidos com entre 0,10 e 0,20 m/s Motta (1967), sendo que as por ventos apresentam
um transporte preferencial de finos em direção ao sul, entretanto, as geradas por
incidência oblíqua de ondas resultam na remobilização de sedimentos arenosos,
apresentando um transporte preferencial para norte (Motta, 1969). O transporte induzido
pela incidência oblíqua de onda do quadrante sul, resulta em pelo menos 30% do
transporte longitudinal total, na praia do Hermenegildo, próxima zona de estudo, a taxa
de deriva é de -2.900.000 m3/ano, com resultante para NE, Lima et al. (2001).
II.I.V Características da área de estudo
Na área de estudo o sistema da Barreira IV é constituído pela faixa praial
composta de areia de fina a muito fina, Martins (1967), no entanto em períodos de
tempestade é comum a presença de bioclastos de composição variada, representados por
fragmentos de moluscos, arenitos de praia e coquinas, Figueiredo Jr. (1975), Calliari &
Klein (1993), e ossos de mamíferos da megafauna pleistocênica, Buchmann (2002). O
campo formado predominantemente por dunas eólicas varia com larguras que entre 2 a
6 km. Na região do farol do Albardão é representado principalmente por um campo de
dunas livres de características transversais com até 30 m de altura, já na região dos
Concheiros predominam lençóis de areia e dunas do tipo precipitação, e por vezes
intercalados por áreas úmidas mais baixas e bosques de acácias.
O sistema Lagunar IV está representado principalmente pela Lagoa Mangueira,
um corpo lacustre raso (média de 3 m) com larguras de 2 a 12 km, e comprimento de
aproximadamente 100 km.
66
II.II OBJETIVOS
II.II.I Objetivo geral
Através do reconhecimento da Geologia de superfície e subsuperfície do trecho
costeiro compreendido entre o Chuí e as praias adjacenteas ao farol Sarita município de
Santa Vitória do Palmar o objetivo geral é contribuir para o entendimento da evolução
da barreira holocênica relacionando-a ao estoque sedimentar e flutuações de NRM no
sul do Brasil.
II.II.II Objetivos específicos
*Caracterizar os principais elementos morfológicos e texturais de superfície na
barreira costeira holocênica.
*A partir de dados geofísicos, reconhecer e interpretar terminações de refletores,
superfícies e radarfácies buscando definir as geometrias deposicionais resultantes.
*Através de dados de sondagens, reconhecer a arquitetura das fácies a partir dos
elementos texturais, paleontológicos e geocronológicos
*Integrar dados geofísicos e estratigráficos no intuito aliar a geometria a
arquitetura de fácies.
*Contrapor a morfologia e estratigrafia e evolução da barreira do setor SW (da
barra do Arroio Chuí - praia dos Concheiros) com o setor NE (forelete Verga - Farol
Sarita).
*Baseado na caracterização geológica e geomorfológica elaborar um modelo da
evolução da Barreira IV do setor costeiro estudado.
67
II.III – MÉTODOS
O cenário central do trabalho e a concentração do esforço amostral foram
direcionados para a investigação do setor da barreira holocênica situada na praia dos
Concheiros, localizada cerca de 25 km ao norte do Balneário Hermenegildo. Foram
aproveitadas informações de outros três setores já previamente estudados, cada qual
com seu enfoque, também avaliados para compreensão do trecho da barreira uma vez
que apresentam características morfológicas e estratigráficas importantes no
entendimento da evolução deste setor costeiro durante o Holoceno (Tabela 1).
Tabela 1 Setores e os dados utilizados para elaboração do trabalho.
SETOR
MORFOLOGIA
ESTRATIGRAFIA
Sarita
Este trabalho
Este trabalho
Verga
Este trabalho
Este trabalho
Concheiros
Este trabalho
Este trabalho
Hermenegildo
Lima (2007)
Lima (2007)
Maravilhas
Buchman et al (1998)
Tomazelli et al (1998)
Buchman et al (1998)
Tomazelli et al (1998)
Chuí
Este trabalho
Este trabalho
II.III.I Geologia de superfície
Para o mapeamento geológico de superfície, foram primeiramente consultados
os mapas geológicos elaborados em estudos anteriores, como os de Soliani Jr.(1973),
Villwock & Tomazelli (1995) e CPRM/CECO (2000). Fez-se o uso de fotografias
aéreas verticais de grande formato, cedidas pela UFPEL, com os levantamentos
realizados pelo Exército Brasileiro em 1947, 1964 e 1996, nas escalas de 1:40.000, e
1:60.000. Foram também utilizadas imagens orbitais Landsat 7 (ETM+b:8), com
resolução de 15 m por pixel, georeferenciadas e ortoretificadas, cedidas pelo “Global
Land Cover Facility” (GLCF) e de mosaicos de imagens do Google construído no
programa Adobe® Photoshop®. Dados altimétricos de radar do tipo SRTM, com
resolução de 30 m por pixel, cedidos também pelo “GLCF” também foram utilizados na
compreensão da altimetria geral da área de estudo. Os mapas geológicos, imagens
orbitais e fotografias aéreas, foram catalogadas e carregadas em um banco de dados do
tipo SIG (Sistema de Informações Geográficas) no programa Global Mapper, e
conforme suas necessidades foram georeferenciadas utilizando pontos de apoio
reconhecidos em campo e bases cartográficas já estabelecidas.
68
A navegação terrestre, o posicionamento de pontos de referência e a geração de
dados altimétricos foi realizada a partir de um sistema de DGPS marca Trimble. Para
pontos de controle fixos como as amostragens superficiais, afloramentos, sondagens,
georeferenciamento das fotos aéreas e mosaicos de imagens orbitais utilizou-se o modo
estático de posicionamento com aquisição média de 30 min por ponto. Já na geração de
perfis altimétricos a fim de caracterizar a topografia dos ambientes foi utilizado o modo
de aquisição cinemático, adquirindo dados em movimento. Após a etapa de aquisição,
foi realizado o tratamento dos dados a partir uma base fixa com precisão e nível
conhecido. O tratamento dos dados demonstrou um erro máximo de posicionamento de
10 cm, e um erro máximo altimétrico de até 20 cm. As plotagens dos perfis altimetricos
foram realizadas com auxilio dos programas Excel, ESRI-ArcMAP, Grapher e
Coreldraw. O sistema GNSS foi também utilizado para estabelecer um datum para
correlação regional dos elementos arquiteturais relacionados aos depósitos de margem
lagunar.
III.III.II Geologia de sub-superfície
III.III.II.I Radar de penetração no solo-GPR
O GPR
tem
sido
utilizado
pelos
sedimentologistas/estratígrafos
para
reconstruções do ambiente deposicional e a natureza dos sedimentos bem como a
variedade dos processos sedimentares atuantes, invetigações hidrogeológicas (também a
caracterização de reservatórios) e estudos análogos de reservatórios de hidrocarbonetos
Neal (2004). A técnica do GPR baseia-se no envio ao subsolo uma onda
eletromagnética de alta freqüência (10-1.000 MHz). O pulso eletromagnético é enviado
por uma antena transmissora se propagando pelo subsolo até encontrar um horizonte
com contraste nas propriedades dielétricas (constante dielétrica). Desta maneira parte do
pulso é refletida para a superfície e parte é transmitida, se propagando em subsuperfície.
A onda refletida é recebida pela antena receptora, amplificada, digitalizada, e
armazenada na memória da unidade controladora.
Para o estudo foi utilizada uma antena na frequência de 200 MHz da GSSI™
(Geophysical Survey Systems, Inc.). O arranjo utilizado foi o “common offset” que
obtém uma seção contínua em profundidade, com traço zero, análogo a uma seção
sísmica convencional. Consiste no deslocamento simultâneo da antena emissora e da
69
antena receptora, mantendo uma distancia fixa entre elas obtendo-se uma seção contínua
de imageamento sob a linha de deslocamento. A correção de dados altimétricos foi feita
através do acoplamento deste sistema ao DGPS no modo cinemático, gerando um
arquivo de posicionamento espacial e altimétrico para as devidas correções da seção.
Inicialmente foi realizado um levantamento de caráter regional obtendo um perfil
perpendicular à barreira holocênica no sentido SE-NW, da margem da Lagoa Mangueira
à praia dos Concheiros onde foram obtidos 3 km de registro. Após processar a seção e
realizar uma análise prévia, foram definidas áreas que apresentaram resultados
satisfatórios, portando áreas de enfoque, e locais onde os resultados foram insuficientes,
com ruídos, ou mesmo ausência de sinal, portando descartadas. Para a área de enfoque,
optou-se para um mapeamento de detalhe projetou-se então um grid de 1.000 x 500 m
correspondente da porção central da barreira em direção à margem lagunar. Foram
dispostas 20 linhas com média de 500 m de comprimento espaçadas por 50 m paralelas
entre si e perpendiculares à linha de costa (transversais à barreira). Nas outras
localidades, como na região do farois Sarita e Verga, também foram realizados perfis
perperdiculares a barreira holocênica, ou seja, da margem lacustre até o sitema praial
oceânico.
Após adquiridos os dados foram carregados e processados nos programas
Radan™ e Reflex-Win®. Os procedimentos no processamento dos dados foram:
remoção dos ruídos de altas e baixas frequências, edição e alinhamento de traços,
remoção do ruído ambiental, filtro de passa banda trapezoidal, ganho exponencial,
conversão de profundidade, correção topográfica, quando necessária. Os ajustes de
velocidade foram realizados de acordo com limites faciológicos diferenciados (lama –
areia) obtidos nas sondagens. Na etapa seguinte as seções foram interpretadas a partir da
metodologia proposta por Mitchum et al. (1977) e Neal (2004) que utilizam as
terminações dos refletores, bem como as características dos padrões estabelecendo radar
fácies. Segundo Jol & Smith (1991) as radar fácies podem ser definidas como unidades
sedimentares tridimensionais mapeáveis, compostas por padrões de reflexões
característicos e que diferem das unidades adjacentes.
70
II.III.II.II Sondagens
Os trabalhos de investigação de subsuperfície envolveram a realização de sete
sondagens à percussão, e duas sondagens do tipo SPT, posicionadas sobre os perfis
topográficos e de GPR, transversais a barreira holocênica.
Foram realizadas sete sondagens à percussão, perpendiculares a barreira
holocênica. Cinco destas sondagens foram obtidas sob perfis de GPR; duas sobre o
perfil 16 (16-2 e 16-4), duas sobre o perfil 14 (14-1 e 14-5), e uma sobre o perfil 46 (467). As demais P-1 e P-2 foram realizadas no sistema praia duna onde o sinal de GPR
não teve penetração. Os critérios das locações das sondagens foram de acordo com a
disposição dos ambientes deposicionais identificados na superfície da barreira aliadas a
distribuição das linhas de GPR. A altimetria das sondagens foi estabelecida através de
cotas obtidas pelo sistema DGPS.
A sondagens rasas a percussão foram realizadas com tubos de PVC (75 mm
diâmetro e 6 m de comprimento) penetrados (amostrador) através do seu martelamento.
Foi utilizado um peso batente de ± 10 kg que percutiu sobre uma braçadeira móvel
presa ao cano, obtendo um registro amostral contínuo. Após a introdução do tubo,
mediu-se a compactação do pacote de sedimentos amostrado. Com o auxílio de um cabo
preso a braçadeira, retirou-se com a talha o testemunho. Após, os mesmos foram
identificados e segmentados para facilitar o transporte.
Foram realizadas duas sondagens do tipo SPT (Standart Penetration Testing),
uma na parte central da barreira e outra próxima a margem lagunar. O SPT é uma
técnica de sondagem que permite, além identificar informações sobre a resistência
(dureza) de terrenos inconsolidados, fornece testemunhos para análises diversas.
As sondagens foram realizadas através da perfuração por tradagem e circulação
de água utilizando-se de um trépano como ferramenta de escavação. Para sustentar a
parede do furo foi utilizado revestimento metálico e lama estabilizante (bentonita). O
diametro do furo foi de cerca de 100 mm. Amostras de solo foram coletadas a cada
metro por amostrador padrão RAYMOND/TERZAGHI. O procedimento de ensaio
consistiu na cravação do amostrador no fundo de uma escavação usando a queda de
peso (65 kg) caindo de uma altura de 750 mm. O valor nSPT é o número de golpes
necessários para fazer o amostrador penetrar 300 mm após ter penetrado 150 mm.. A
71
cada profundidade foi registrado o número de golpes necessários à penetração da cada
150 mm, sendo que os primeiros 150 mm foram referentes ao assentamento do
amostrador. A soma de golpes necessários do segundo e terceiro segmentos foram
denominados número de golpes de SPT.
Durante a sondagem amostras foram coletadas, neste momento foram feitas as
descrições, incluindo a granulometria tato-visual, coloração (Rock-Color-Chart),
Munsel (2009) e as estruturas sedimentares preservadas. Na sequência realizam-se as
subamostragens dos testemunhos, priorizando amostras biológicas (taxonomia),
datações e posteriormente análise granolumétrica em laboratório.
II.III.III Análises laboratoriais
II.III.III.I Abertura e descrição dos testemunhos
Em laboratório, os testemunhos (percussão) foram abertos com o uso de serra
circular acoplada a uma bancada, com auxílio de um cabo de aço foram cortados
obtendo-se duas calhas, e posteriormente, fotografadas. . A partir das calhas foram
realizadas as análises faciológicas preliminares sendo observados: os principais contatos
entre as fácies, a cor dos sedimentos “Rock-Color-Chart” e as estruturas sedimentares
preservadas. Posteriormente, foi realizada a amostragem de material biológico para
identificação e datações por 14C e análises granulométricas.
II.III.III.II Análises Granulométricas
As amostras coletadas para análise granulométrica após serem secas, quarteadas
e pesadas, foram submetidas ao método de peneiragem (frações grossas) e pipetagem
(frações finas) com intervalos de ½ phi. Utilizou-se o método de Folk & Ward (1957)
para a análise estatística nos programas Panicon de Toldo Jr. & Medeiros (1986), e
Sysgran de Camargo (2006).
II.III.III.III Análises Paleontológicas
Para identificação do material biogênico fóssil, foi coletada uma amostra na
sondagem SCO1 e duas amostras na sondagem SCO2. O material foi lavado, seco e
triado. A determinação taxonômica dos moluscos, foraminíferos e ostracodes foi feita
72
em lupa binocular, acompanhada da consulta aos trabalhos de Rios (1985), FortiEsteves (1974), Godolphim et al. (1985, 1989).
II.III.IV Análises Geocronológicas
Selecionou-se quatro amostras para datação através do método do
14
C, por
(AMS) Accelerator Mass Spectrometry,as quais foram enviadas ao Beta Analitics
Radiocarbon Dating Laboratory (Miami, Flórida, EUA). Para a calibração das amostras
utilizou-se da base de dados MARINE04 (Hughem et al., 2004) e INTCAL04 (Reimer et
al., 2004) interpolados segundo o ajuste descrito em Talma & Vogel (1993).
14
Tabela 2: Idades das amostras de C obtidas neste trabalho.
Amostra/Número no Labora
a
SCO1#7/Beta - 285326
SCO1#10/Beta - 285327
SCO-2#10/Beta - 285328
SCO-2#12/Beta - 295329
b
Material
datado
Prof.
(m)
Concha
- 2,6
Concha
Concha
Sed. orgânico
- 3,0
- 4,5
- 6,0
Idade
12
C/ C
convencional
ratios(o/oo) 14
( C anos AP)
- 0.3
5.480 ± 40
13
+ 0.2
- 0,9
-19.0
6.200 ± 40
7.190 ± 40
9.410 ± 50
Idade
calibrada
c
(cal anos AP)
5.575 ± 100
6.540 ± 140
7.580 ± 100
10.630 ± 110
a
Beta Analytic Inc., Miami, Florida, USA.
b
Profundidades de amostragem em relação ao NMM.
c
2 sigma calibração (95% probabilidade).
II.III.VI Análises Faciológicas
Foi calculada a descompactação os testemunhos à percussão (fator que corrige
as profundidades deformadas pela penetração do testemunhador) segundo os trabalhos
de Dillenburg (1994) e Caron (2007).
Com a análise dos parâmetros observados durante a descrição dos testemunhos
(fotografias de detalhes, contatos entre as fácies, cor e estruturas sedimentares), foram
considerados os resultados da análise das amostras do material biológico, granolumetria
e geocronologia (14C) obtidos.
Com este material analisado seguiu-se o princípio da análise faciológica
sugerido por Walker & James (1992). As fácies foram analisadas e posteriormente
agrupadas em associações de fácies a fim de se atribuir a um ambiente deposicional. Os
73
resultados foram expressos em forma de seções estratigráficas relacionadas o nível
médio do mar (NRM) desenhadas no programa Coreldraw.
Em um último momento, procedeu-se a comparação e calibração de
profundidades dos dados mapeados nas seções com GPR a partir dos resultados obtidos
nas sondagens. Com estas informações sobrepostas partiu-se para a elaboração de um
modelo evolutivo para este trecho da barreira holocênica baseado na integração e
interpretação dos dados.
Ao nível de comparação foram também apresentados dados já publicados em
outros trabalhos, de Buchmann et al. (1998), Caron (2007), Tomazelli et al. (2008),
Rosa (2012) e Lima et al. (2013) que em conjunto auxiliaram na elaboração do modelo
evolutivo da área.
74
II. IV RESULTADOS
II.IV.I Geologia Local
Como o objeto de estudo é a barreira holocênica, as principais descrições
morfológicas e texturais de superfície estão relacionadas a este sistema deposicional. No
entanto, procurou-se uma descrição geral dos depósitos plesitocênicos que fazem
contato direto como sistema deposicional laguna barreira IV: o sistema deposicional da
Barreira III e depósitos sobrepostos que fazem a interface entre a própria Barreira III e
os depósitos holocênicos, representados na região principalmente por paleosolos. Após
estas, as descrições do Sistema deposicional Laguna barreira IV dando ênfase a barreira
costeira holocênica.
Sistema deposicional Barreira III
No contexto regional que engloba a área municipal de Santa Vitória do Palmar,
ao sul do banhado do Taim até o Chuí, depósitos relacionados ao sistema deposicional
da Barreira III em superfície, tem uma orientação preferencial NNE- SSW. Faz limite a
NW com o sistema deposicional da barreira II ao norte, e com depósitos lagunares do
sistema III ao sul. O limite SE é marcado pelo contato, por muitas vezes direto, com o
sistema lagunar (holocênico), representado nos dias atuais pela Lagoa Mangueira. Nesta
direção a sul, limita-se com depósitos de retro-barreira representados por banhados; e da
praia das Maravilhas até o Chuí ocorrem afloramentos na linha de costa atual. Sua
largura próxima ao banhado do Taim atinge poucos kilometros e em direção sul
preservaram-se depósitos atribuídos a este sistema com larguras de até 5 km. Dados
altimétricos de SRTM, mostram altitudes que variam de 7 a 13 m em relação ao NRM
atual. Dados morfológicos de um perfil topográfico a partir do Farol do Chuí até a praia
atual revelam atitudes máximas de 11 m acima do NRM, Figura 23.
Depósitos atribuídos ao sistema deposicional Barreira III podem ser
reconhecidos em superfície, ou logo abaixo do pacote sedimentar que representaria o
processo retrabalhamento desde o Pleistoceno superior até os dias atuais. Foram
caracterizados por depósitos areno-quartzosos finos a muito finos, de bem a
moderadamente selecionados com coloração amarelada escura, alaranjada lembrando
ferrugem (10YR 5/4, 10YR 6/2). Também ocorrem mosqueamentos por cores
75
amareladas avermelheadas atribuídas a processos diagenéticos posteriores. Contem
marcas de raízes, e concreções ferruginosas aparentes.
Figura 23: Esquerda: imagem gerada a partir de dados altimétricos do tipo SRTM, destacando os
principais unidades deposicionais quaternárias. Direta: carta imagem Landsat (1997) a partir de
base cartográfica do IBGE e com as localidades e principais métodos empregados na área de
estudo.
76
Paleosolos
Estes depósitos podem ser reconhecidos em superfície, em toda margem NW da
Lagoa Mangueira apresentando-se contínuos ou pontuais. Normalmente sobrepostos aos
depósitos da Barreira III, estes paleosolos foram assim classificados por apresentarem
fácies classificadas como siltosas de média a finas, muito pobremente selecionadas, com
coloração esverdeada mosqueada com marrom escuro (5G4/1 e 5G2/1) e a presença
marcante de concreções ferruginosas. Por vezes também se apresentam com cores
amarelas e marrom clara (5Y8/1, 5Y6/1) contendo nódulos carbonáticos esbranquiçados
(N3) de diversos tamanhos e marcas de raízes aparentes.
Sistema deposicional Laguna Barreira IV
O sistema laguna barreira IV se apresenta bem representativo na área de estudo,
sendo representados por uma depressão lagunar (Sistema Lagunar IV), bem como a
própria barreira costeira holocênica (Sistema Barreira IV), Figura 23.
Sistema Lagunar IV
O sistema lagunar IV é caracterizado por terrenos mais baixos marcados por uma
região topograficamente deprimida entre as Barreiras III e IV, ocupada em grande parte
pela atual Lagoa Mangueira, Figura 23.
Ao norte é limitada pelo banhado do Taim, ao sul pelo banhado dos Sales. A NW
faz contato com depósitos relacionados ao sistema deposicional da Barreira III, e a SE
pela barreira holocênica. A depressão lagunar IV alcança em torno de 100 km de
comprimento é caracterizada na sua porção norte por larguras que variam de 8 até 10
km e a partir da metade sul estreita-se chegando a 2 km. Sua continuidade é marcada
por banhados já condicionados pela morfologia das barreiras pleistocênica (III) e
holocênica (IV). Ao sul, áreas úmidas caracterizadas pela drenagem do banhado dos
Sales na direção SW, são condicionadas pelas margens lagunares da Lagoa Mangueira e
campos de dunas da Barreira IV que avançam sobre o corpo lagustre. Estas drenagens
em condições ativas mostram-se contínuas até a altura da praia das Maravilhas, Figura
23.
Atualmente, a Lagoa Mangueira é caracterizada por se apresentar como um
corpo de água doce, sem conexão direta com o oceano. Morfologicamente é
77
caraterizada por um corpo alongado com margens que revelam pontais (spits) móveis ou
estabilizados, dependendo dos condicionantes. Possui profundidades médias em torno
de -3 m podendo chegar na sua porção central SE a -7 m. (Inform. pessoal, Antiqueira).
O nível da Lagoa mangueira durante os levantamentos de campo mostrou-se em torno
de 3 a 4 m acima do NRM atual. Sabe-se que o controle hidrográfico é substancialmente
influenciado plo regime pluvial (épocas mais ou menos chuvosas) bem como taxas de
infiltração e evaporação. No entanto além destes fatores relevantes outro aspecto muito
importante é a conexão com a Lagoa Mirim bem como os controles de vazão entre
ambas (Lagoa Mirim e Lagoa Mangueira) condicionadas pelos pecuaristas e produtores
de arroz da região. O nível das margens também varia localmente já que a lagoa tem
dimensões suficientemente plausíveis (mais de 100 km de comprimento) de represar
porções de águas nas suas extremidades condicionadas pelos regimes de ventos locais
atuantes, no caso o NE e menos frequentes mais não menos importantes S, SE e SW.
Sistema Barreira IV- Barreira Costeira Holocênica
No contexto regional que engloba a área municipal de Santa Vitória do Palmar,
ao sul do banhado do Taim até o Chuí a barreira costeira holocênica dispõe-se na
direção NE-SW. Os limites a NW A porção norte faz com o sistema lagunar
(holocênico), representado nos dias atuais pela Lagoa Mangueira.
Neste sentido na porção sul, limita-se com depósitos de retro-barreira
representados por banhados e ao sul da praia das Maravilhas até a barra do Arroio Chuí
ocorrem afloramentos na linha de costa atual. Sua largura varia próximo ao banhado do
Taim em poucos quilometros e em direção sul preservaram-se depósitos atribuídos a
este sistema larguras de até 5 km. Dados morfológicos de um perfil topográfico a partir
do Farol do Chuí até a praia atual revelam atitudes máximas de 5 m acima do NRM. O
limite SE é marcado pelo contato direto como Oceano Atlântico, Figura 23.
Depósitos Eólicos e Praiais
Procurou-se caracterizar de modo a geral, as morfologias e texturas apresentadas
no período atual dos ambientes eólico e praial, retrocendendo-se até 50 anos, através da
análise de fotografias aéreas (1947, 1964, 1996). É importante ressaltar que a análise de
escala temporal decadal fornece uma interpretação que remete a “situação atual” quando
se retrata da evolução da barreira, desde o início do Holoceno. No entanto, revela-se um
78
importante instrumento de avaliação morfológica resultante dos processos costeiros
vigentes. Foram avaliadas principalmente as diferenciações das morfologias presentes
na barreira holoçênica.
O sistema eólico que cobre grande parte da barreira costeira holocênica,
apresentou variabilidade de morfologias condicionadas principalmente pelos regimes de
ventos da região, bem como pelas taxas de precipitação. Foram caracterizadas por
apresentarem areias finas de bem a muito bem selecionadas, de cores acinzentadas, bege
pouco amareladas (5Y6/4).
A Figura 24 mostra que tanto nas fotografias de 1964 como 1996 os campos
eólicos marcados por dunas e interdunas, bem como drenagens que convergem da
porção mediana da barreira tanto para o ambiente praial oceânico, como ambientes
lagunares. As primeiras observações de comparação entre estes dois cenários mostra
claramente que as porções identificadas como manchas mais escuras de cinza, ou seja
áreas mais úmidas, que normalmente são cobertas por vegetação, aumentam
substancialmente de 1964 para 1996. Pode-se observar nas fotografias de 1964 que os
campos de dunas da porção média da barreira até próximos à margem da Lagoa
Mangueira apresentam, principalmente, alternância entre morfologias de dunas
transversais e interdunas. Mais restrito a porção costeira percebe-se lobos característicos
de dunas que avançam no sentido do continente para áreas mais úmidas pelos contrastes
mais escuros (cinza escuro). Pode-se observar nas fotografias de 1996 que os campos de
dunas da porção média da barreira até próximo à margem da Lagoa Mangueira
apresentam, principalmente, morfologia de dunas transversas. Já nas áreas
intermediárias da barreira em direção costa oceânica percebe-se lobos característicos de
campos de dunas transgressivos avançando no sentido do continente em maior número
que em 1964.
Foram identificadas morfologias de dunas transversas, barcanas e cristas de
precipitação (precipitation ridge), cobertas parcial ou totalmente pela vegetação. Como
já ressaltado anteriormente, áreas úmidas estão mais presentes em 1996 e permitem
maior contraste entre os ambientes de dunas e interdunas. Também neste período
percebe-se aumento em relação ao ano de 1964 do número de feições do tipo
sangradouros, seja migrando no sentido do corpo lagunar seja drenando as áreas médias
da barreira em direção à praia oceânica.
79
A evolução das mudanças no ambiente eólico visto em cinquenta anos tem um
importante aspecto quando se considera mudanças significativas principalmente nas
áreas úmidas. Enquanto em 1947 a barreira se apresenta praticamente sem cobertura
vegetal, já em 1964 começam indícios de áreas vegetadas principalmente associadas a
dunas frontais. Em 1996 já se constatam áreas em um estágio avançado de vegetação
principalmente na parte média da barreira, Figura 25.
Nos dias atuais é possível observar os campos de dunas com amplas áreas
vegetadas onde nas décadas passadas eram completamente desnudos de vegetação.
Ainda em alguns casos ocorrem áreas bastante úmidas com o domínio de banhados.
Locais onde houveram intervenções antrópicas, como o plantio de bosques de vegetação
exótica (Acácias), se desenvolveram de maneira diferenciada, pois revelam uma
paisagem com predominância de alagados interagindo com pequenas e esparsas dunas,
comunmente estabilizadas pela vegetação, Figura 25.
Atualmente, a região encontra-se em uma fase onde as dunas frontais foram
totalmente remobilizadas, formando então uma nova fase de lençóis de areia com cristas
de precipitação, Figura 25.
De conhecimento prévio da literatura, sabe-se que a praia oceânica dos
Conheiros apresenta alta variabilidade textural, bem como morfológica, ajustando-se
morfodinamicamente as condicionantes dos ventos, ondas, e regime pluviométrico pela
erosão de sangradouros que a secciona perpendicularmente. Durante as etapas de campo
o ambiente praial mostraram tanto areias finas muito bem selecionadas (verão), de cores
5Y8/1, 5Y7/2, a areias grossas pobremente selecionadas de cores 5Y2/1, 10YR8/2,
10YR10/5 compostas por bioclastos composta principalmente por uma assembleia de
moluscos com distintos tamanhos, formas, cores e graus de retratrabalhamentos
(inverno). Apesar de não ter o acompanhamento por perfis praiais da região, apresentou
variabilidade na largura de praia, e notou-se principalmente fim do inverno, escarpas de
erosões tanto por ação das ondas, como por sangradouros que cortam o ambiente praial
até alcançar o oceano.
Figura 24: Mosaicos de fotografias aéreas de grande formato do Arroio Chuí ao sul até o sul da Lagoa Mangueira. Levantamentos do ano de 1964 (acima) e 1996 (abaixo)..
Notar no mosaico de 1964 (a própria seta que indica o N) a migração da barra do Arroio Chuí, condicionado pela deriva litorânea resultante para NE.
81
Figura 25: Fotografias aéreas verticais de grande formato do sul da Lagoa Mangueira, cedidas pela
UFPEL, com os levantamentos do Exército Brasileiro em 1947 na escala de 1:40.000, 1964 e
1996 na escala de 1:60.000. Abaixo à direita imagem de satélite de 2013 (Google Earth).
82
II.IV.II Morfologia e Estratigrafia da Barreira Holocênica na região da
Barra do Arroio Chuí
A barreira holocênica na região próxima a barra do Arroio Chuí é caracterizada
em superfície por uma faixa de 30 a 50 m de depósitos praiais, e pequena faixa (200 m)
de depósitos eólicos que recobrem terrenos pleistocênicos caracterizados pelo sistema
deposicional da Barreira III. Assim, a largura entre a praia atual, até os limites com
terrenos pleistocênicos é de cerca de 250 m, Figura 26. Os depósitos praiais e eólicos
são compostos de areias finas areias a muito finas. A face do sistema praial da barra do
Arroio Chuí apresenta areias finas, como também verificado por Calliari & Klein
(1993). Segundo Figueiredo (2005), nas praias adjacentes ao Arroio Chuí a distribuição
dos sedimentos ao longo da praia e seus parâmetros granulométricos não é influenciada
pelo aporte de sedimentos através desta desembocadura, já que esta é inexpressiva. A
praia adjecente a esta localidade pode ser classificada como intermediária, Calliari &
Klein (1993), Tozzi et al. (1999), e com moderada a baixa mobilidade Pereira et al.
(2008).
Os depósitos eólicos nesta região da barreira podem ser caracterizados
primeiramente pelo contato com sistema praial, marcado pela presença de pequenas
dunas embrionárias e dunas frontais com alturas entre de 1 e 4 m, algumas desudas e
outras vegetadas por espécies típicas deste ambiente como Paniccum racemosum,
Spartina ciliatada. Os depósitos eólicos que recobrem o restante da barreira holocênica
até encontrar os terrenos holocênicos são caracterizados pela densa da cobertura vegetal
exótica do tipo Acacia mearnsii.
Os depósitos da barreira holocênica estão em contato direto sobre os depósitos
pleistocênicos, não existindo, neste caso a depressão lagunar na morfologia nem mesmo
depósitos desta origem alforando no pós praia atual, Figura 26.
O estudo elaborado por Caron (2007), que retrata a evolução paleogeográfica na
região do Arroio Chuí durante o Holoceno, identificam-se depósitos de origem lagunar
estuarina datados entre 5 e 6 ka a 2 m acima do NRM atual, sendo atribuídos ao nível de
mar mais alto durante o holoceno médio. O autor atribui que a depressão lagunar de
origem pleistocênica, entre os depósitos mais elevados atribuídos a Barreira II e a
Barreira III onde atualmente corre o Arroio Chuí foi afogada durante neste período no
83
Holoceno, formando estes depósitos. Este conjunto de dados somados a situação atual
sugere que a barreira holocênica durante este período se encontrava segmentada com
uma desembocadura muito próxima a esta região. No entanto os depósitos de retro
barreira correlatos a este evento foram totalmente erodidos com a transladação da
barreira durante o processo transgressivo, preservando apenas os depósitos que ficaram
restritos ao vale pleistocênico.
Portanto, a barreira holocênica na região próxima a desembocadura do Arroio
Chuí pode ser classificada como uma barreira acoplada, ou sensu scrito Roy et al.
(1994) como mainland beach barrier.
Figura 26: A direita, localização pela seta vermelha. Abaixo a esquerda: foto panorâmica com a indicação
da seção. Abaixo centro: foto da realização do perfil topográfico. Esquerda acima perfil
esquemático contendo dados de topografia da região da barra do Arroio Chuí.
84
II.IV.III Morfologia e Estratigrafia da Barreira Holocênica na região da
Praia das Maravilhas
A barreira holocênica na região da praia das Maravilhas é caracterizada em
superfície por uma faixa de cerca de 50 a 70 m depósitos praiais, constituídas de areias
finas, e uma faixa de depósitos eólicos de cerca de 200 m que encobrem terrenos
pleistocênicos caracterizados como Barreira III, Figura 26. Segundo Calliari & Klein
(1993) e Tozzi et al. (1999), as praias adjecentes a esta localidade podem ser
classificada como intermediárias e com moderada a baixa mobilidade Pereira et al.
(2009).
Os depósitos eólicos nesta região da barreira são marcado pela presença de
dunas frontais com alturas entre de 1 e 6 m, na maioria vegetadas por espécies típicas
deste ambiente como Paniccum racemosum e Spartina ciliatada.
Ocorrem diferenças no comportamento da morfologico do sistema eólico ao
longo desta região, pois em alguns locais se encontram sangradouros que drenam as
porções mais altas das quais o sistema eólico esta acoplado, criando morfologias mistas
entre áreas drenadas e coberturas por dunas. Outra característica deste trecho da barreira
é que os depósitos eólicos que se desenvolveram entre o ambiente praial e os terrenos
pleitocênicos são caracterizados principalmente pela agradação local interagindo com a
cobertura vegetal exótica do tipo Acacia mearnsii. Deste modo, a distição do limite em
superfície entre os depósitos eólicos da barreira holocênica e os terrenos pleistocênicos
é difícil de ser reconhecida. Em alguns trechos percebe-se que a cobertura de depósitos
eólicos atuais sobre os terrenos pleistocênicos é de poucos centímetros, em outros
atigem poucos metros.
A característica marcante são os afloramentos da retrobarreira que ocorrem no
pós-praia e que demostram a preservação de um importante registro em superfície da
evolução do corpo lagunar durante a evolução da barreira durante o Holoceno. Estes
afloramentos demostram erosão de longo período neste setor da barreira holocênica
Dillenburg et al. (2004b).
Apoiados em dados de Buchmann et al. (1998) e Tomazelli et al. (1998)
somadas a novas interpretações, sugere-se que os depósitos na base do afloramento, são
caracterizados por paleosolos (38 ka) que foram atribuídos a exposição do substrato
85
pleistocênico durante o período glacial durante o pleistoceno tardio. Recobrindo este
pacote, depósitos de fundos lagunares-estuarinos (4,3 ka) com influência marinha rasa,
demonstrariam a fase que a barreira holocênica ainda estava fragmentada, ou seja com
conexão ao oceano. Os depósitos de turfas com idades de 2,5 ka respresentam uma fase
úmida e de estabilização da margem do corpo em situação lacustre, sem conexão com o
oceano, Figura 27.
Este conjunto de dados somados a situação atual sugere que a barreira
holocênica na região da praia das Maravilhas pode ser classificada como uma barreira
recuada, ou sensu scrito Roy et al. (1994) como recended barrier.
Figura 27: A direita: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: foto da exposição dos
afloramentos de lamas lagunares e turfas no pós-praia da prais das Maravilhas. Acima a
esquerda: perfil esquemático contendo dados de topográficos, estratigráficos e geocronológicos
da barreira holocênica da região da praia das Maravilhas.
86
II.IV.IV Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira
Holocênica na região da Praia do Hermenegildo
A barreira holocênica na região da praia do Hermenegildo é caracterizada em
superfície por depósitos praiais e eólicos que encontram a depressão marcada por zonas
alagadas e banhados (continuação da Lagoa Mangueira) se estreitando ao SW até
encontrar terrenos pleistocênicos. Sua largura entre a praia atual, até os limites com
terrenos pleistocênicos é de cerca de 2 km, Figura 28. Os depósitos praiais são
compostos de areias finas areias muito finas notando-se ser comum a presença de
bioclastos retrabalhados (molusos, coquinas, arenitos de praia, fósseis de vertebrados e
invertebrados) na região do pós-praia, principalmente após a ação de tempestades.
Nestas situações, ou na sequência de eventos de grande poder erosivo, a remobilização
de sedimentos depositados no ambiente praial afloram lamas de origem lagunar neste
ambiente.
O cenário do ambiente praial é marcado pela erosão, com raras porções de dunas
embrionárias e dunas frontais em frente ao balneário. Diversas formas de
enrroncamentos limitam a praia ao sistema urbano que sofre com o processo erosivo. A
ocupação humana, iniciada em 1964, ocorreu sobre as dunas, e hoje as propriedades
sofrem ataque direto das ondas devido ao encurtamento do perfil, estando grande parte
sob a proteção ineficaz de revestimentos de blocos de rocha (Calliari et al. 1998).
Segundo Figueiredo (2005) a mobilidade da praia do Hermenegildo esta
provavelmente relacionada à alta suscetibilidade erosiva podendo ser atribuída aos
depósitos holocênicos de lama observados na face da praia e no pós-praia, e ao seu alto
grau de exposição às tempestades de SE. Segundo Calliari & Klein (1993) e Tozzi et al.
(1999), pode ser classificada como intermediária e com moderada a alta mobilidade
Pereira et al. (2008).
Os depósitos eólicos nesta região da barreira podem ser caracterizados por pelo
menos três setores: o primeiro, marcado pelo contato com sistema praial com presença
de dunas frontais com alturas que variam entre 1 e 4 m, na maioria vegetadas por
espécies típicas deste ambiente como Paniccum racemosum e Spartina ciliatada. Tozzi
(1999) realizou estudos morfodinâmicos nos mesmos pontos monitorados por Calliari &
Klein (1993), encontrando os mesmos comportamentos já observados, no entanto
87
analisando dados morfológicos obtidos entre 1991 e 1996 o autor ressalta pequena
variação na posição da linha de costa e mudança no volume sedimentar subaéreo da
ordem de 50 m3/m, resultando em uma retração de 4 m das dunas frontais.
O segundo setor que recobre quase que totalmente a barreira holocênica é
caracterizada por interações de tipos morfológicos distintos do sistema eólico costeiro.
Notam-se lobos de campos de dunas transgressivos atuais e relíquias (atualmente
vegetadas) interagindo com cristas de precipitação e regiões com baixios alagados e a
preseça de pequenos banhados. Na porção mais próxima aos ambientes de retro barreira
também é notada a presença de campos de dunas livres transversais que alcançam até 7
m de altura. O contato desta região com a depressão lagunar é caracterizado por
depósitos eólicos e de margem lagunar avaçando sobre os banhados.
Estudos detalhados realizados por Lima et al. (2013) elaborados através de
análise dos depósitos em subsuperfície, a partir de dados de GPR e sondagens,
pertimitiu identificar basicamente depósitos da barreira sobrepondo depósitos lagunares,
conferindo caracteríticas tipicamente retrogradantes a este trecho da barreira holocênica,
Figura 28.
88
Figura 28: Acima: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: perfil esquemático da barreira
holocênica da região do Hermenegildo contendo dados topográficos, estratigráficos e
geocronológicos. Abaixo: dados de GPR, indicados no pefil esquemático e sua respectiva
interpretação.
89
II.IV.V Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira
Holocênica na região da Praia dos Concheiros
Os resultados apresentados neste trecho da barreira holocênica tem maior
volume por serem totalmente inéditos e fornecerem importantes subsídeos aos objetivos
propostos neste trabalho.
Figura 29: Vista oblíqua da barreira holocênica na região da praia dos Concheiros. Praia dos Concheiros,
Lagoa Mangueira e depósitos pleistocênicos ao fundo. A: sentido N-S. B: sentido de S-N. Foto:
Francisco S. C. Buchmann.
O procedimento de descrição e análise geomorfológica detalhada deste setor
ocorreu de maneira transversal à barreira holocênica, no sentido SE-NW, iniciando na
praia dos Concheiros até a margem da Lagoa Mangueira, Figura 30: Deste modo foram
utilizados dados morfológicos oriundos de três perfis topográficos (P-PR, P-46, P-14)
90
aliados as descrições morfológicas, características gerais da vegetação e granulometria
de amostras da superfície, Figura 29.
Figura 30: Acima, imagem da área de estudo com a localização em planta dos três perfis topográficos (PPR, P-46, P-14) e suas respectivas amostras sedimentológicas superficiais. Abaixo a legenda
para esta e para as figuras seguintes.
O perfil P-PR descreve o sistema praia-duna, avançando até o campo de dunas
vegetadas. A praia dos Concheiros é caracterizada pela variável morfologia em
respostas aos ajustes morfodinâmicos desta região. O perfil que caracterizou o sistema
foi realizado no período de verão encontrando uma praia com uma largura de 130 m, e
variabilidade topográfica da cota 0 até 1,2 m na presença de uma berma bem definida. A
amostra coletada entre a zona de estirâncio e a berma caracterizou-se por uma fácies
arenosa grossa pobremente selecionada com presença de bioclastos. Esta composição
biodetrítica é composta principalmente por uma assembleia de moluscos com distintos
tamanhos, formas, cores e graus de retrabalhamento. Ainda compondo a porção
91
biodetrítica, são encontrados clastos de arenitos de praia e coquinas, fragmentos fósseis
de invertebrados e vertebrados. Da berma até o pé da duna frontal, o sistema apresentou
uma variabilidade topográfica de 1,2 a 2,3 m, sendo marcada pela presença de pequenos
montes isolados com vegetação do tipo Spartina ciliata e pequenas dunas embrionárias
colonizadas pelas espécies Senécio crassiflorus, Blutaparon portulacoides, Spartina
ciliata, associações vegetais típicas destas feições na região. Esta zona do pós-praia foi
caracterizada por uma fácies arenosa média pobremente selecionada que também
apresentou bioclastos de origem biogênica muito semelhante aos descritos na amostra
anterior.
A duna frontal apresentou variações altimétricas entre 2,3 a 3,4 m. A morfologia
foi caracterizada por um talude frontal vegetado predominantemente por Spartina
ciliata culminando em uma crista, pouco vegetada. O dorso da duna frontal foi
caracterizado por vegetação esparsa encontrando um pequeno vale e uma nova crista,
menor, projetando-se para uma região mais baixa, totalmente vegetada. Em seguida
ocorre uma região marcada por uma depressão conhecida como “slack”, que em
períodos mais úmidos se encontra totalmente alagada. Amostras referentes a esta zona
demonstraram, uma fácies arenosa fina, bem selecionada. Uma importante característica
desta feição morfológica é que em um trecho lateralmente de cerca de 5 km, não se
apresentou contínua, e sim por muitas vezes seccionadas por sangradouros. Em alguns
trechos praticamente não se apresentam como feição típica “duna frontal”,
predominando lençóis de areia com montículos vegetados por Spartina ciliata
encontrando áreas mais planas densamente vegetadas predominantemente por Juncus
acutus, Figura 31.
Por problemas na aquisição de dados entre os perfis P-PR e P-46, não foi
possível caracterizar a topografia deste trecho. No entanto a morfologia pode ser
descrita por cotas estabelecidas dentre 2,3 e 5,1 m tratando-se de uma área dominada
por dunas de 1 a 1,5 m de altura, isoladas e irregulares, sem padrões e direções
preferenciais de migração. Encontra-se em um estágio de parcial a totalmente vegetadas
em sua grande maioria, principalmente por Spartina ciliata e Juncus acutus. Percebeuse na porção final deste trecho uma feição que se estende lateralmente com alturas
regulares entre 4 e 6 m, caracterizada por um lobo que representa uma crista de um
92
sistema de dunas transgressivas remanescentes, que nos dias atuais também encontra-se
vegetada.
Figura 31: Acima perfil topográfico PR caracterizando o sistema praia-duna com detalhes da textura
superficial (histogramas e fácies) e abaixo fotografias (A, B e C) correspondentes a cada
segmento.
93
O perfil P-46 descreve o sistema interdunas marcado predominantemente por
uma região plana com pouca variabilidade topográfica (entre 5,5 e 7 m) apresentando
em épocas úmidas que totalmente alagada, caracterizada típicamente como banhados,
que em períodos mais secos persiste em pequenos alagados e um campo vegetado.
Associada a esta área plana, apresenta a continuidade de um bosque de Acacias
(vegetação exótica) que se estende a partir de 10 km a SW da barreira holocênica.
Encontram-se fácies marcadas por areias finas bem selecionadas a muito bem
selecionadas, Figura 32.
O perfil P-14 descreve a transição das áreas planas ainda com domínio da
vegetação exótica passando para um sistema de dunas vegetadas chegando até a
margem SE da Lagoa Mangueira. O início do perfil é marcado pela presença de uma
duna com variações topográficas entre 4,5 e 8 m. A duna se mostrou praticamente
vegetada (Spartina ciliata, Juncus acutus), e foi interpretada como parte de uma crista
de duna transversa. A cerca de 5 km a NE desta área ocorre um campo dunas
transversais livres, portanto esta feição foi atribuída ainda como remanescente deste
sistema que em um tempo anterior, encontravam-se ativas neste ponto. Este trecho
apresentou uma fácies arenosa fina muito bem selecionada. O próximo trecho que liga
este campo de dunas é marcado por pequenas ondulações típicas de dunas estabilizadas
pela vegetação com variações altimétricas de 4 a 5 m. A continuidade deste perfil
também inclui uma pequena depressão (de 4 para 5,5 m), que corta um canal que drena
as partes médias da barreira (banhados) até a Lagoa Mangueira. Neste trecho, as fácies
se apresentaram como arenosa fina muito bem selecionada, marcado muitas vezes ela
presença de matéria orgânica (até 13%). Em seguida é caracterizado pela margem que
apresenta uma pequena duna associada a praia lagunar, que na ocasião do levantamento
se preservou bastante reduzida, provavelmente pelo acúmulo de água proporcionado
pelo vento NE que incidia por 3 dias contínuos. As fácies foram caracterizadas como
arenosa fina bem selecionada. O nível da lagoa ficou em torno de 3,4 m acima do NRM
atual, Figura 33.
94
Figura 32: Acima perfil topográfico Perfil 46 caracterizando a porção média da barreira, com detalhes da
textura superficial (histogramas e fácies) e abaixo a fotografia (A) correspondente a este
segmento.
Também foram realizados 22 perfis altimetricos partindo da margem lacustre até
a porção mediana da barreira holocênica, Figura 34. Ao longo dos 22 perfis é possível
perceber uma tendência das maiores altitudes (5 e 6 m) da porção mediana diminuírem
em direção a margem lacustre de 4 a 4,5 m acima do nível do mar.
As características gerais deste perfil mostram a grande variabilidade de alturas
associadas as cristas de precipitação, muitas fazem parte de fragmentos de lobos de
lençois de areiastransgressivos (relíquias) e/ou dunas transversais ambas atualmente
vegetadas. Em algumas exceções encontram-se topos de cordões de precipitação que
chegam a 8 m (Perfis 14 e 22) e baixios causados pela erosão de sangradouros que
drenam a barreira com 2 a 3 m (Perfis 10, 16 e 18).
95
Figura 33: Acima perfil topográfico Perfil 14 caracterizando a margem lacustre da barreira, com detalhes
da textura superficial (histogramas e fácies) e abaixo a fotografias (A, B e C) correspondente a
cada segmento.
96
Figura 34: Acima imagem com a localização e abaixo perfis topográficos detalhados da porção média da
barreira até a margem lacustre.
97
II.IV.IV.I Geometria Deposicional
A geometria deposicional da barreira holocênica pode ser representadas por
terminações de refletores, superfícies, e os padrões reconhecidos nos registros de GPR.
Primeiramente, as observações foram realizadas a partir de uma única linha,
denominada linha PL (porção média da barreira-margem lacustre) que imageou a
barreira de modo transversal SE-NW. Nesta linha foram identificados os principais
tipos e ocorrências nas terminações de refletores, e os padrões (denominadas radarfácies) que subsidiaram bases para as interpretações de outras linhas regionais e de
detalhe, Figuras 35 e 36.
A penetração do sinal GPR foi variavel entre 5 e 10 m. O sinal distinguido por
apresentar reflexões, foi interpretado como corresponder aos depósitos holocênicos, já
que foram calibrados a partir da litologia e geocronologia. A partir da interpretação dos
registros de carater regional e detalhe, foram denominadas três importantes superfícies
(SI, SII e S3) e cinco radar radarfácies (RA, RB, RC, RD, RE), abaixo descritas. As
superfícies foram reconhecidas e interpretadas a partir da terminação enquanto as
radarfácies pelos padrões internos dos refletrores.
SI: Esta superfície foi reconhecida pela incidência de refletores simoidais
oblíquos do tipo “down-lap no topo de refletores paralelos ou subparalelos. Ocorre em
uma profundidade de -4 a -2 m, em linhas regionais perpendiculares a barreira
holocênica, esta superfície mostra-se contínua por até 1.700 m. Marca uma importante
referência progradacional de um sistema deposicional subaquoso (margem lagunar,
deltas, pontais) migrando em direção ao continente, sob o fundo lagunar.
SII: Esta superfície foi reconhecida pela incidência de refletores simoidais
oblíquos do tipo “top-lap no topo de refletores paralelos ou subparalelos. Ocorre em
uma profundidade de -1 a 0 m, em linhas regionais perpendiculares a barreira
holocênica, esta superfície mostra-se contínua por até 1.500 m.
SIII: Reconhecida pela incidência de refletores oblíquos do tipo “down-lap no
topo de refletores paralelos ou subparalelos. Ocorre profundidades de 0 a 1 m. em linhas
regionais perpendiculares a barreira holocênica, esta superfície mostra-se contínua por
até 1.700 m.
98
RA: Fundo lagunar estuarino
Revela
refletores
horizontais
contínuos
plano-paralelos,
uniformemente
espaçados, por vezes com baixo contraste. Esta Radarfácies tem um comportamento
diferenciado ao longo do registro. Em perfis na parte média da barreira holocênica,
apresenta-se segmentada e em alguns casos praticamente imperceptível. Já em registros
próximos na margem lagunar, apresenta-se totalmente contínua. O limite inferior é
marcado por atenuação de sinal tanto nas turfas que ocorrem na base quanto com os
depósitos pleistocênicos.
RB: Margem lagunar estuarina
Acima da Radarfácies A, é possível identificar da parte mediana da barreira com
2 a 3 m de espessura, por pelo menos 1.000 m de distância até se extinguir
completamente da margem lagunar atual. Trata-se de uma estrutura formada por uma
série contínua de refletores sigmóides-oblíquos que migram no sentido do continente.
Os refletores possuem terminações em downlap, que caracterizam uma
progradação no sentido do continente. A geometria deste padrão deposicional sugere
interpretar que estes sedimentos foram depositados através de dois principais
mecanismos atuando de modo induvidual, ou sobrepostos: migração do sistema eólico
em direção as margens lagunares e aportando sedimentos para a lagoa; e/ou através da
progradação da porção subaquosa das margens lagunares sobre o fundo lagunar. Esta
progradação é condicionada pelas drenagens da porção média da barreira (interdunas)
em direção à margem, formando pequenos sistemas fluviais (sangradouros) que quando
encontram o corpo lagunar, resultam em pequenos deltas.
Como as porções finais desta feição deposicional intercala com sedimentos do
fundo lagunar e demonstra claramente um cavalgamento sobre os terrenos
pleistocênicos sugere-se que este processo foi forçado pela elevação do nível do mar no
entre 7 a 6 ka AP.
RC: Fundo lacustre
Acima da Radarfácies B, ocorrem refletores plano-paralelos por vezes pouco
ondulados, se apresentando contínuos a subcontínuos. Variam entre 1 e 3 m na sua
espessura, sendo mais espessos, principalmente na parte mediana da barreira. É possivel
99
sugerir que esta radarfácies represente um fundo lacustre correspondente ao momento
após o fechamento da desembocadura lagunar. A radarfácies plano paralela indica
agradação deste sistema, já que o regime deposicional foi controlado pelo aporte de
areia pelo regime eólico e pelas variações de nível da lagoa através das variações
pluviométricas. Quando observada em escala regional, percebe-se que muitos refletores
seriam a continuidade da margem lacustre descrita logo abaixo.
RD: Margem lacustre
Radarfácies D possui 4 m de espessura e é formada por refletores contínuos e
oblíquos. Alguns refletores contínuos e truncados encontram-se com médio a alto
ângulo de mergulho, demonstrando variação na aplitude de reflexão, com maior ou
menor sinais de reflexão. É comum a presença de terminações em downlap. O ângulo de
mergulho da maioria dos refletores diminui verticalmente em direção à base. Ao longo
dos radargramas de regionais é possivel perceber refletores de pequena amplitude (0,5
m) mas grandes dimensões em comprimento (200 m) que segmentam praticamente
todas as seção em planos obliquos, representando o registro da margem lacustre em
tempos distintos.
O conjunto destes refletores representados por esta Radarfácies foi interpretado
como a progradação da margem lacustre através do aporte de areia eólica através da
interação com as dunas que margeiam a lagoa. Também este aporte possui a
contribuição de influxos dos sangradouros que drenam as partes mais altas da barreira
até a Lagoa Mangueira.
O menor ângulo de refletores basais é uma consequência de ambos, do ângulo de
repouso de areia, da água saturada, e da dispersão de areia devido à ação das ondas e
correntes lagunares.
RE: Eólico
Radarfácies E possui 2 a 4 m de espessura, com reflexões paralelas descontínuas
e subparalelas. Na grande maioria foram interpretadas como superfícies que
representariam interdunas e planícies de deflação dos campos de dunas. Estruturas
onduladas representam pequenas dunas ocorrem dispersas no registro.
RF- Backshore-Foreshore
100
Radarfácies E possui 3 a 6 m de espessura e os refletores tem terminações em
downlap, caracterizam uma progradação no sentido do oceano. Série contínua de
refletores com baixo ângulo de mergulho oblíquos com terminações em downlap que
migram no sentido do oceano.
Abaixo a tabela 3, que resume o padrão encontrado das Radarfácies.
Tabela 3: Radarfácies reconhecidas nas seções através da geometria deposicional:
Figura 35: Abaixo o mapa indicando os segmentos da seção de GPR denominada Perfil PL que representa uma única seção perpendicular a barreira holocênica na região da
Praia dos Concheiros e as sondagens SCO1 e SCO2. Inicia na margem da Lagoa Mangueira (A), até a porção média marcada por uma crista de precipitação (D).
Acima em sequência os segmentos A-B, B-C, C-D e D-E.
Figura 36: Abaixo o mapa indicando os segmentos da seção de GPR denominada Perfil PL e as sondagens SCO1 e SCO2 e legendas. Inicia na margem da Lagoa Mangueira
(A), até a porção média da barreira marcada por uma crista de precipitação (D). Acima em sequência os segmentos A-B, B-C, C-D e D-E e suas respectivas
interpretações.
103
II.IV.IV.II Estratigrafia
Os dados estratigráficos são apresentados a partir dos dados obtidos nas
sondagens profundas (SPT) SCO1 e SCO2, Figuras 37 e 38 e posteriormente a partir de
seções esquemáticas que contêm o perfil altimétrico aliado às sondagens realizadas
sobre o mesmo. Portanto perfis P-PR, P-46, P-14 P-16, já apresentados com relação à
morfologia agora revelam as sondagens rasas em detalhes, respectivamente nas Figuras
40, 41, 42, 43. Optou-se apresentar as sondagens profundas anteriormente com as
associações de fácies interpretadas da base para o topo. Posteriormente a organização
faciológica foi realizada na forma de uma tabela simplificada contendo as principais
características de cada associação faciológica e os ambientes deposicionais
correspondentes. Por fim, apresentou-se uma seção que intergra, com os dados
estratigráficos simplificados a composição e interpretação dos depósitos encontrados.
Abaixo a descrição das associações faciológicas reconhecidas:
P1: Depósitos Eólicos e Praiais Pleistocênicos
Os depósitos foram caracterizados por uma associação faciológica de pelo menos
5 m de espessura já que não foram reconhecidas fácies abaixo desta. Foram
identificadas a partir de registros obtidos na base das sondagens SCO1 e SCO2, Figuras
37, 38 e 44. Caracterizados por fácies areno-quartzosas finas a muito finas, de
moderadas a bem selecionadas, com alta compactação, de cores amareladas, alaranjadas
e acinzentadas (10YR 5/4, 10YR 6/2, 5YR 6/6). Nesta fácies notou-se a presença de
conchas de moluscos na qual não foi possível a identificação dos taxa, devido à
ausência nas condições de preservação. No entanto foram observadas características de
retrabalhamento. A quantidade de finos de (6 a 12%) e as diversas colorações
apresentadas nesta associação foram atribuídas às distintas condicionantes diagenéticas
preservadas nestes depósitos. A presença de camadas de moluscos retrabalhados
imersos em uma matriz areno-quartzosa sugerem um ambiente praial/eólico
relacionados ao sistema deposicional pleistocênico Barreira III de Villwock et al. (1986)
que pode ser reconhecido na região, na margem NW da Lagoa Mangueira e muito
próximo a linha de costa atual entre as praias das Maravilhas e da barra do Arroio Chuí.
As idades de depósitos associados a este sistema são atribuídas ao estagio isotópico do
oxigênio 5, em torno de 120-125.ka AP (Villwock et al., 1986, Villwock & Tomazelli,
104
1995, Tomazelli & Dillenburg, 2007). No litoral médio do Rio Grande do Sul, no Farol
da
Conceição,
depósitos
relacionados
a
este
sistema
foram
datados
por
termoluminescência apresentando uma idade de 109.000 +/- 10 anos AP, Buchmann &
Tomazelli (2000).
P2: Depósitos de Paleosolos Pleistocênicos
A associação faciológica atribuída a estes depósitos foram identificadas a partir
de duas fácies reconhecidas nas sondagens SCO1 e SCO2, atingindo de 2 a 3 m de
espessura, Figuras 37, 38 e 44. Na base foi reconhecida uma fácies classificada como
siltosa, de média a fina muito pobremente selecionada, compactação média, com
coloração esverdeada mosqueada com marrom escuro (5G4/1 e 5G2/1) e a presença
marcante de concreções ferruginosas. E sobrepondo esta, uma fácies siltosa média a
grossa, muito pobremente selecionada, de compactação média e colorações cinza
esverdeada, por vezes amarelada e marrom clara (5Y8/1, 5Y6/1) contendo nódulos
carbonáticos esbranquiçados (N3) de diversos tamanhos e marcas de raízes aparentes.
As porcentagens de argila nesta fácies variam de 10 a 30%. Nas duas fácies percebe-se
que houve processos diegenéticos e pedogenéticos diferenciados, permitindo sugeri-los
como paleosolos de idades pleistocênicas. Estes paleosolos podem ser associados a
depósitos encontrados nos trabalhos de Delaney (1962), Bombim & Klam (1971),
Soliani (1973), Lopes et al. (2001), associados ao Sistema Laguna-Barreira III de
Villwock et al. (1986), e também decorrente como substrato pleistocênico identificados
nos trabalhos de Caron (2007), Lima (2008) e Tomazelli (2008) na porção sul da PCRS.
Este paleossolos são correlacionaveis a um clima continental mais seco do último
estágio glacial, como afirma Delaney (1962) e Bombim & Klam (1971).
H1: Depósitos de Turfas
Esta fácies foi reconhecida apenas na sondagem SCO2 caracterizada por
sedimentos carbonosos com espessura máxima de 1 m, Figuras 38 e 44. Apesar de
análises granulométricas não caracterizarem muito bem este tipo de ambiente, esta
fácies foi classificada como siltosa fina pobremente selecionada, sendo 40% argila, com
colorações de marrom escuro a preto (N4), de baixa compactação, contendo 35% de
matéria orgânica. Uma amostra desta matéria orgânica foi datada revelando uma idade
de 10.630 ± 110 cal. anos AP a -6 m abaixo do NRM atual. Esta fácies foi então
105
interpretada como um ambiente deposicional que representava regiões mais baixas
(banhados) e protegidas com razoável acúmulo de matéria orgânica. Esta idade também
permitiu interpretar que depósitos abaixo destes são relacionados ao Pleistoceno.
As associações de fácies P1, P2 e H1, não foram possíveis de serem identificadas
nos radargramas, pela total ausência no sinal. Este fato foi atribuído à composição
textural, diagênese, e presença de sedimentos finos (silte e argila). Para tanto a resposta
de não haver características de reflexão, serviu como ferramenta de rastrear esta
superfície, funcionando como limítrofe entre os paleosolos (P2) e/ou depósitos de turfas
de depósitos de fundo lagunares estuarinos a seguir descritos.
H2: Depósitos de Fundo Lagunar Estuarino
Esta associação faciológica foi reconhecida nas sondagens SCO1 e SCO2,
atingindo uma espessura de 1 a 2,5 m Figuras 37, 38 e 44. Foram representadas por
fácies classificadas como arenosas finas a muito finas, com seleção moderada a pobre,
baixa compactação, com cores acinzentadas claras a escuras (5Y2/1, 5Y4/1, 5Y6/1)
variando na concentração de sedimentos finos (de 2 a 7%) e bioclastos (de 3 a 7%). Na
base desta, foi identificada uma pequena camada de 3 cm de cascalho biodetrítico,
composta predominantemente de moluscos retrabalhados.
Nesta fácies foi identificada uma assembléia biogênica composta por moluscos,
(Adrana sp, Amiantis purpuratus, Anachis isabellei, Bucciamops sp., Cylichna
bidentata, Cylichna discus, Corbula patagônica, Corbula cariabaea, Cadulus sp
Heliobia australis, Mactra isabelleana, Núcula semiornata, Núcula uruguaiensis,
Ostrea equestris, Parodizia uruguayensis, Venericardia tridentata), foraminíferos
(Ammonia beccaarii parpinsoriana, Elphidium depressulum, Elphidium galostones,
Miliolinella subrotunda, Quinqueloculina lamarckiana, Quinqueloculina seminulum) e
ostracodes (Callistocythere litoralensis, Cyprideis sp., Cytherella sp., Loxoconcha sp.),
muitos em posição de vida e se apresentando em distintos estágios de desenvolvimento,
caracterizando um ambiente estuarino a marinho raso, Tabela 5 e Figura 39. Três
amostras, consideradas em posição de vida “in situ” foram selecionadas e datadas: um
exemplar de Corbula caribaea, situada a -4,5 m do NRM datada em 7.580 ± 100 cal.
anos AP, um exemplar de Buccianops sp., situada a -3,0 m datada em 6.540 ± 140 cal.
106
anos AP, e um exemplar de Adrana sp., situada a -2,6 m datada em 5.755 ± 155 cal.
anos AP.
Esta associação de fácies correspondem a radarfacies A. Este conjunto de
características geométricas, litológicas, paleontológicas e geocronológicas desta
associação permite sugerir um paleoambiente lagunar estuarino, relativamente
protegido, mantendo uma conexão com o ambiente marinho raso (desembocadura)
representando a fase de elevação do nível do mar durante o Holoceno.
H3: Depósitos de Margem Lagunar Estuarina
Esta associação de fácies foi identificada a partir, das sondagens SCO1 e SCO2,
com uma espessura de 1 a 2 m, Figuras 37, 38 e 44. Foi caracterizada por fácies
arenosas finas bem selecionadas, alta a média compactação, de cor cinza clara (5Y2/1,
5Y4/1), por vezes com intercalações material fino (silte, argila) e presença de
fragmentos vegetais. Esta associação faciológica corresponde a Radarfacies B,
pemitindo sugerir pelo comportamento geométrico que a margem subaquosa lagunar
migra sobre o fundo estuarino, ainda conectado com o ambiente marinho controlado
principalmente pela elevação do nível do mar durante o Holoceno.
H4: Depósitos de Fundo Lacustre
Esta associação faciológica foi identificada a partir de registros nas amostras da
sondagem SCO1, SCO2, 14-1, 16-2, 16-4 e a espessura varia entre 1 e 2 m, Figuras 37,
38, 42, 43 e 44. É caracterizada por areias finas de bem a muito bem selecionadas, de
cores cinza (5Y3/2, 5Y5/2, 5Y7/2) a bege e marrom clara (10YR4/2) com pouca a
média compactação. Devido à sondagem 14-1 ter amostragem contínua, foi possível a
identificação na base de uma pequena camada (0,3 m) com acúmulo de matéria orgânica
e logo acima, laminação de sedimentos finos e estruturas plano paralelas. Esta
associação faciológica corresponde a Radarfacies C.
H5: Depósitos de Margem Lacustre
Esta associação de fácies foi identificada a partir de registros nas sondagens
profundas SCO1, SCO2, e nas rasas 14-1, 14-5, 16-2, 16-4, 46-7, possui 2 a 4 m de
espessura, Figuras 37, 38, 41, 42, 43 e 44. Foi constituída de areias finas de bem a muito
bem selecionadas, de cores cinza (5Y5/2, 5YR5/2) a bege e marrom clara (10YR4/2)
107
com pouca a média compactação. Nas sondagens rasas foi possível a identificação de
diversos detalhes por se apresentarem contínuas. São visíveis estruturas plano paralelas
e cruzada planar, acumulações de matéria orgânica (3 a 5 cm), marcas de raízes, e
concentrações de minerais pesados na forma de lentes. Esta associação faciológica
correspondem a Radarfacies D, que são representadas por reflexões inclinadas migrando
em direção ao corpo lagunar. As variações nas espessuras e composição desta
associação pode ser explicada pela dinâmica sedimentar (preservação e erosão) da
margem lagunar. Este sistema é constantemente alterado por fatores como: ventos,
ondas, variações de nível do corpo lacustre, disponibilidade de sedimentos, via eólica,
transporte induzido por ondas (refração) e influxos, na forma de sangradouros que
drenam a parte mediana barreira (mais alta) até a margem lagunar.
H6: Depósitos Eólicos de Dunas e Interdunas
Esta associação de fácies foi identificada a partir de registros nas sondagens
profundas SCO1, SCO2, e nas rasas 14-1, 14-5, 16-2, 16-4, 46-7, PR-1, possui 2 a 5 m
de espessura, Figuras 37, 38, 40, 41, 42, 43 e 44. Foi constituída de areias finas de bem
a muito bem selecionadas, de cores que variaram de cinza a bege com muitas
tonalidades (5Y6/1, 5Y6/4, 5Y7/2, 5YR3/2, 5YR6/4, 10YR4/2, 10YR6/2, 10YR7/4)
com pouca compactação. Nas sondagens rasas foi possível a identificação de estruturas
plano paralelas acumulações de matéria orgânica em forma de lentes de 2 a 3 cm,
presença e marcas de raízes, e concentrações de minerais pesados na forma de lentes.
Esta associação pode ser interpretada próxima à praia oceânica como representativa de
depósitos de dunas vegetadas, caracterizados por dunas do tipo precipitação, já na parte
mediana da barreira predominam regiões planas com depósitos de interdunas e perto da
margem lagunar estes dois ambientes se alternam.
H7: Depósitos Praiais atuais
Esta associação de fácies foi identificada a partir de registros apenas nas
sondagens rasa PR-2 e possui 3 m de espessura Figuras, 41 e 44. É constituída de pelo
menos três fácies: na base areias finas muito bem selecionadas, de cores 5Y8/1, 5Y7/2
contendo bioturbações, na sequência, areias finas bem selecionadas gradam para areias
grossas pobremente selecionadas na forma de lentes e cores 5Y2/1, 10YR8/2,
10YR10/5 compostas por bioclastos composta principalmente por uma assembleia de
108
moluscos com distintos tamanhos, formas, cores e graus de retratrabalhamentos,
estruturas plano paralelas e concentrações de minerais pesados. Acima desta fácies
arenosa media pobremente selecionada também com presença de bioclastos,
apresentando predominantemente a cor 5YR5/4. A variabilidade nas fácies praiais em
um pequeno espaço de deposição pode ser atribuída aos ajustes morfodinâmicos
condicionadas pelos ventos, ondas, marés meteorológicas, disponibilidade de
sedimentos, influxos e erosões causadas por sangradouros que drenam a parte mediana
barreira (mais alta) para o sistema praial oceânico adjacente.
Tabela 4: Principais características das associações de fácies reconhecidas nas sondagens.
109
Figura 37: Perfil detalhado da sondagem SPT, SCO1.
110
Figura 38: Perfil detalhado da sondagem SPT, SCO2.
111
Tabela 5: Registro paleontológico da assembléia biológica dos depósitos lagunares estuarinos facies H2.
SCO2 #10 (-4--4,50)
TAXA
SCO2 #9 (-3--3,50m)
REGISTROS
SCO1 #7 (-2-2,50m)
FUNDO
Praia
Enseada
Baia
Estuarios Lagunas
Arenoso
Areno -lamoso
Lamoso
Rochoso
AMBIENTE
MOLLUSCA
Adrana sp/
X
X
X
X
Amiantis purpuratus / Lamarck,1818 /
X
X X X
X X X
Anachis isabellei / Orbigny, 1841/
X
X
Buccianops. sp
X
X
Cadulus sp./ Philippi 1844/
X
X
Braquiodontes sp.
X
Corbula cariabaea / Orbigny,1842/
X
Corbula patagonica / Orbigny, 1846/
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X Cylichna discus Watson, 1883/
X
X
X Cylichna bidentata / Orbigny, 1842 /
X
Heliobia australis / Orbigny, 1835/
X
Mactra isabelleana / Orbigny, 1842/
X
X
X
X
X X
X
X X
X X X
Núcula semiornata / Orbigny, 1846 /
X X
X X X
Núcula uruguaiensis / Smith, 1880 /
X Ostrea equestris / Say, 1834 /
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X X X X
Parodizia uruguayensis/ Medina, 1959 /
X
X X
Venericardia tridentatata/
X
X
FORAMINÍFERA
Ammonia beccaarii parpinsoriana
Elphidium depressulum/ Cushman, 1933
X
X
Elphidium galostones/
Miliolinella subrotunda/ Montagu, 1803
X
X
Quinqueloculina lamarckiana/ Orbgny, 1842
Quinqueloculina seminulum / Linnaeus, 1758
X
X
X
X
X
X
X
CRUSTACEA / OSTRACODA
X
Callistocythere litoralensis/ Rossi de Garcia, 1966
Cyprideis sp. / Jones, 1856
X
X
Cytherella sp./ Jones, 1849
X
Loxoconcha sp. / Sars, 1866
X
X
112
Figura 39: Prancha com fotografias dos moluscos identificados na associação de fácies H2: A- Anachis
isabellei, B- Heliobia australis, C- Cadulus sp., D- Braquiodontes.sp., E-Corbula cariabaea, FAmiantis purpuratus, G- Núcula semiornata, H- Núcula uruguaiensis, I- Ostrea equestris, JCylichna bidentata, K- Buccianops sp., L- Corbula patagônica, M- Venericardia tridentata, NParodizia uruguayensis, O- Cylichna discus, P- Mactra isabelleana, Q- Adrana sp. Escala em
branco representa 2 mm.
113
Figura 40: Acima a esquerda: localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagens PR-1 e PR-2. Abaixo, legenda e decrição estratigráfica em detalhes da
sondagens PR-1 e PR-2. Acima a direita fotos correpsondentes.
114
Figura 41: Acima a esquerda : localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagem 46-7. Abaixo, fotos, legenda e decrição estratigráfica em detalhes da
sondagem 46-7.
115
Figura 42: Acima a esquerda: localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagem 46-7. Abaixo: fotos, legenda e decrição estratigráfica em detalhes da
sondagens 14-1 e 14-5.
116
Figura 43: Acima a esquerda: localização em planta e logo abaixo perfil topográfico correspondente com
locação da sondagens PR-1 e PR-2. Abaixo: legenda e decrição estratigráfica em detalhes das
sondagens 16-2 e 16-4. Acima a direita: fotos correpsondentes.
117
Após a análise faciológica procurou-se compreender a distribuição estratigráfica
geral das associações faciológicas e geocronologia obtida através de uma única seção
em relação ao NRM, Figura 44. Deste modo teve-se a compreensão da disposição dos
depósitos ao longo de toda a barreira holocênica na região dos Concheiros.
A integração dos dados das sondagens as seções de GPR, Figuras, 45, 46, 47, 48
possibilitou compreeender em detalhes a geometria juntamente com os dados
estratigráficos e será abordada na discussão de forma comparativa.
Figura 44: Abaixo a direita: localização da topografia, sondagens e legenda. Acima: perfis topográficos com a localização das sondagens. No centro: seção estratigráfica da
região da Praia dos Concheiros.
Figura 45: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR. Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem SCO2 com a
combinação das Radarfácies, associações faciológicas e datações.
Figura 46: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR. Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem SCO1 com a
combinação das Radarfácies, associações faciológicas e datações.
Figura 47: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR. Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem 14-5 com a
combinação das Radarfácies, associações faciológicas.
Figura 48: Abaixo a esquerda: localização, topografia, locações das sondagens e dos registros de GPR. Acima: Integração do registro de GPR e da sondagem 16-1 com a
combinação das Radarfácies, associações faciológicas.
123
II.IV.IV.III Resumo da Morfologia, Geometria Deposicional e
Estratigrafia da região da Praia dos Concheiros
A barreira holocênica na região da praia dos Concheiros é caracterizada em
superfície por depósitos praiais e eólicos e de margem lagunar, associados à Lagoa
Mangueira. A largura entre a praia atual, até os limites com terrenos pleistocênicos é
entre 2 e 3 km.
Os depósitos praiais são compostos de areias finas a médias sendo marcante a
concentração de bioclastos retrabalhados (molusos, coquinas, arenitos de praia, fósseis
de vertebrados e invertebrados) na região do pós praia, principalmente após a ação de
tempestades. As diferenças de tamanho de grãos e o zoneamento sedimentar na face da
praia dos Conheiros foram relacionados diferenças na densidade de sedimentos. Quando
ondas se espraiam sobre a face da praia, e sedimentos quartzos calcáreos iniciam o
movimento ao mesmo tempo. No entanto, a densidade de grãos de carbonato é inferior a
um quartzo, portanto requerer menos energia das ondas para ser transportado. Assim, os
grãos de areia grossa calcárea são depositados em conjunto com os grãos de quartzo
mais finos na parte intermédiaria da face de praia, Nuber et al. (2004).
Este sistema praial apresenta características típicas, segundo Calliari & Klein
(1993) e Pereira et al. (2008), praias na área de abrangência dos Concheiros podem ser
classificadas como praias intermediárias com tendências reflectivas.
Os depósitos eólicos nesta região da barreira podem ser observados por pelo
menos três setores: o primeiro, é marcado pelo contato do sistema praial e a presença de
dunas frontais com alturas que variam entre de 1 e 4 m, na maioria vegetadas por
espécies típicas deste ambiente como Paniccum racemosum, Spartina ciliatada e dunas
transgressivas. O segundo setor que recobre quase totalmente a barreira holocênica é
caracterizado por interações de tipos morfológicos do sistema eólico costeiro. É possível
observar lobos de campos de dunas transgressivos relíquias, (atualmente vegetadas)
intercaladas com planícies de deflação, cordões do tipo “preciptation” e regiões com
baixios alagados e banhados. Na porção mais próxima aos ambientes de retro barreira
também é notada a presença de campos de dunas livres transversais que alcançam até 7
m de altura. O contato desta região com a depressão lagunar é marcado por depósitos
eólicos e de margem lagunar avaçando sobre a Lagoa Mangueira. Este avanço é notado
124
pela alternância entre depósitos eólicos de dunas que avançam sobre a lagoa, e a
presença de dezenas de pequenos deltas formados a partir de sangradouros que drenam
as porções mais altas da barreira em direção ao corpo lacustre. Quando estes se
aproximam da margem lacustre, lobos deltáicos são mantidos preservados e/ou são
retrabalhados pela dinâmica litorânea lacustre, distribuindo lateralmente os sedimentos
formando as praias e pontais.
A análise dos depósitos em subsuperfície a partir de dados de GPR e sondagens,
pertimitiu identificar basicamente depósitos da barreira representados por margens
lagunares e lacustres sobrepondo depósitos de fundo lagunar e lacustres conferindo
caracteríticas tipicamente retrogradantes a este trecho da barreira holocênica, Figura 49.
Figura 49: A direita acima, localização pela seta vermelha; esquerda acima GPR e interpretação; centro, foto da praia dos Concheiros; abaixo perfil esquemático da região dos
Concheiros.
126
II.IV.V Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira
Holocênica da região do Farolete Verga
A intenção de apresentar dados da porção NE (farolete Verga e Farol Sarita) da
barreira holocênica é a comparação do comportamento evolutivo deste setor em relação
a região ao SW (barra do Arroio Chuí até a praia dos Concheiros).
A barreira holocênica na região do farolete Verga apresenta características
diferenciadas quando comaparada ao setor SW. Em superfície sua morfologia é
caracterizada por depósitos eólicos, praiais e de margem lagunar e alcança cerca de 5,3
km de largura.
A praia adacente ao farolete Verga tem larguras que variam de 50 a 120 m, é
constituída de areias finas a muito finas concordando com Calliari & Klein (1993).
Segundo Pereira et al. (2008), as praias adjacentes ao Farol Sarita, foram classificadas
como intermediárias com moderada a baixa mobilidade.
O sitema eólico inicia no sitema praial através de um cordão de dunas frontais
onde em diversos locais não é muito bem definido, mas sim interagindo com áreas de
deflação e lençóis de areia compostos por pequenas dunas (0,5 a 1 m) ocasionalmente
vegetadas, evoluíndo para dunas um pouco maiores (até 2,5 m) por cerca de 300 m de
distância em direção a Lagoa Mangueira. Da porção média da barreira até a margem
lacustre percebe-se uma área caracterizada pela cobertura vegetal em quase sua
totalidade por cristas de precipitação. Nesta área também são encontrados lobos de
campos de dunas transgressivos totalmente estabilizados pela vegetação, e ainda alguns
fragmentos de dunas transversas também vegetadas. Outra característica deste setor são
as grandes extensões do cultivo de espécies exóticas, como o Pinus e o Eucalipto.
A margem lacustre deste setor é caracterizada pela presença de grandes pontais
totalmente vegetados e na sua retaguarda banhados, que denotam estabilização e
processo de colmatação nesta região da Lagoa Mangueira. A estabilização das margens
é diferenciada do setor SW que apresenta pontais densudos de vegetação e torna as
margens caracterizadas por praias com grande mobilidade sedimentar. Os deltas que
caracterizam as margens SW e porção média da Lagoa Mangueira, são formados pela
drenagem das porções mais altas da barreira em direção ao corpo lagunar na forma de
sangradouros que encontram o corpo lacustre. Já a porção NE é diferenciada por se
127
verificar as marges totalmente estabilizadas pela vegetação e formação de canais que
encontram o corpo lagunar, sem formar feições deltaicas típicas, encontrando os
banhados e porções vegetadas na retaguarda dos pontais.
Com os dados de subsuperfície desta porção da barreira holocênica
representados pelo perfil de GPR foi possível identificar tanto o registro transgressivo
como o registro regressivo.
O registro transgressivo é representado por margens lagunares e lacustres
sobrepondo os fundos lagunares e lacustres, como também visto no setor SW, Figura
50. Já o registro regressivo é marcado por refletores inclinados que migram em direção
ao oceano. Este fato é de grande relevância uma vez que este padrão não tinha sido
identificado até então na área de estudo. Pelos padrões de reflexão, comparando com
trabalhos que mapearam este tipo de registro na barreira holocênica, na PCRS, estes
refletores com “downlap” em direção ao oceano foram interpretados como porções do
“backshore-foreshore”, ou seja, o ambiente praial e de zona de arrebentação, portanto
representando um padrão progradacional, caracterizando tipicamente a porção
regressiva da barreira, Figura 51.
Na sequência é apresentado um resumo da situação da barreira holocênica na
região do farolete Verga, Figura 52.
Figura 50: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR, Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima:
registros de GPR da região do farolete Verga com radarfácies identificadas.
Figura 51: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR, Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima:
registros de GPR da região do farolete Verga com radarfácies identificadas.
Figura 52: Acima: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: perfil esquemático da região do farolete Verga com dados topográficos e a interpretação através de
dados de GPR. Abaixo: dados de GPR indicados no perfil acima e suas interpretações a partir das Radarfácies.
131
III.IV.VI Morfologia, Geometria Deposicional e Estratigrafia da Barreira
Holocênica da região do Farol Sarita
A barreira holocênica na região do Farol do Sarita apresenta características
diferenciadas quando comaparada ao setor sul. Em superfície sua morfologia é
caracterizada por depósitos eólicos, praiais e de margem lagunar e alcança cerca de 5,3
km de largura.
A praia adacente ao Farol Sarita tem larguras que variam de 50 a 100 m, é
constituída de areias finas a muito finas concordando com Calliari e Klein (1993) que
também apresentam esta granulometria. Segundo Pereira et al (2008), praias adjacentes
ao Farol Sarita, foram classificadas como intermediárias com moderada a baixa
mobilidade.
O sitema eólico é caracterizado pelo contato do sistema praial com uma área de
dunas pequenas e esparsas, vegetadas principalmente por Paniccum racemosum,
Spartina ciliatada (não desenvolvendo um típico cordão de dunas frontais) que
interagem com áreas de deflação e lençóis de areia evoluíndo para dunas maiores (até
2,5 m) por cerca de 600 m de distância em direção a Lagoa Mangueira. Também estão
presentes cristas de precipitação com áreas baixas totalmente vegetadas, que em
períodos mais úmidos, tornam-se totalmente alagadas. Nesta área também são
encontrados lobos de campos de dunas transgressivos atualmente totalmente
estabilizados pela vegetação. Também como na região do farolete Verga são marcantes
as grandes extensões do cultivo de espécies exóticas (reflorestamentos), como o Pinus,
Eucalipto e Acácia.
A margem lacustre deste setor é caracterizada pelo contato com um grande
complexo de banhados, totalmente estabilizados e em processo de colmatação,
conhecida como Banhado do Taim, ao norte da Lagoa Mangueira.
Em superfície os cordões litorâneos são muito bem representados na região ao
sul da desembocadura da Lagoa dos Patos se estendendo até as proximidades do Farol
Sarita, e representam a progradação da barreira holocênica (regressiva). No setor do
Farol Sarita assim como ocorre próximo ao farolete Verga, percebe-se que a
progradação composta por cordões litorâneos esta recoberta por campos de dunas
132
transgressivos, fragmentos de dunas transversas, cristas de precipitação e áreas de
florestamento por espécies exóticas.
Com os dados de subsuperfície desta porção da barreira holocênica
representados pelo perfil de GPR, também como na seção mais a SW desta foi possível
identificar tanto o registro transgressivo como o registro regressivo.
O registro transgressivo é representado por margens lagunares e lacustres
sobrepondo os fundos lagunares e lacustres, como também visto no setor SW, Figura
53. Já a porção regressiva é marcada por refletores em downlap que migram em direção
ao oceano, como na região do Farol Sarita. Estes conjunto de refletores foram
interpretados como porções do backshore-foreshore, ou seja, o ambiente praial e de
zona de surfe, representando, portanto um padrão progradacional e caracterizando
tipicamente a porção regressiva da barreira, Figura 54. Neste mesmo registro, Figura 54
é possível identificar o contato entre a barreira transgressiva (retrogradante) Radarfácies
B e a barreira regressiva (progradação), Radarfácies F, marcando portanto, a superfície
de ravinamento que correponde a inversão do comportamento transgressivo para o
regressivo da barreira.
Na sequência é apresentado um perfil esquemático da barreira holocênica na
região do Farol Sarita, Figura 55.
Figura 53: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR, Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima:
registros de GPR da região do Farol Sarita com radarfácies identificadas.
Figura 54: Centro: Localização em imagem orbital (Google Earth) do perfil topográfico e dados de GPR, Abaixo perfil topográfico e localização dos dados de GPR. Acima:
registros de GPR da região do Farol Sarita com radarfácies identificadas.
135
Figura 55: Acima: localização e indicação pela seta vermelha. Centro: perfil esquemático da região do
Farol Sarita com dados topográficos e a interpretação através de daos de GPR. Abaixo: dados
de GPR indicados no perfil acima e suas interpretações a partir das Radarfácies.
136
III.V – DISCUSSÃO
O mapa geológico-geomorfológico da área de trabalho demonstra que a
topografia pré-existente, representada pela configuração dos terrenos pleistocênicos,
teve grande importância quanto à distribuição e preservação dos depósitos holocênicos
enfocados neste estudo. Os terrenos mais elevados da porção emersa, constituídos pela
Barreira III condicionaram a distribuição espacial e preservação dos depósitos
holocênicos. Os depósitos relacionados ao sistema deposicional da Barreira III, são
encontrados dispostos lateralmente em toda margem NW da Lagoa Mangueira no
sentido NE-SW, reconhecidos em superfície quando aflorantes e descobertos pela
vegetação, alcançando entre 10 e 15 m em relação ao NRM atual. Associados a estes,
também são encontrados paleosolos que afloram em superfície associados ao Sistema
Laguna Barreira III.
A depressão lagunar ocupada pela Lagoa Mangueira, na região do Farol do
Albardão alcança cerca de 10 km de largura e à medida que se projeta ao SE, diminui
progressivamente. Na região da praia dos Concheiros a largura é de 3,5 a 6 km e
caracteriza-se por compor a porção final ao Sul do corpo lagunar. Na sua continuidade
na direção SE a depressão lagunar afunila-se entre a barreira holocênica e os terrenos
pleistocênicos formando banhados e por fim drenagens que atingem até a porção da sul
da retrobarreira na até praia do Hermenegildo. Na sua continuação a barreira holocênica
solda-se aos terrenos pleistocênicos e a depressão extingue-se. Nota-se que a diminuição
do espaço da depressão lagunar é progressiva, no entanto após a extinção da depressão
em menos de 10 km depósitos da barreira holocênica sobrepõem diretamente terrenos
holocênicos.
Durante o último interglacial, há cerca de 120 ka, o espaço atualmente ocupado
pela desembocadura do Arroio Chuí correspondia, provavelmente, a um canal de
ligação (inlet) que conectava o Sistema Lagunar III com o mar. Existem evidências
morfológicas de que, nesta parte sul da PCRS e avançando pelo território uruguaio, a
Barreira III apresentava uma configuração de barreira segmentada (barrier island)
Barboza et al. (2005, 2006), Caron (2007), também verificado na região do Taim,
Tomazelli et al. (2008). Com o posterior rebaixamento do nível do mar que se seguiu ao
máximo de 120 ka estabeleceu-se, nos terrenos de retrobarreira antes ocupados pelo
Sistema Lagunar III, uma planície fluvial. Vales incisos foram entalhados na paisagem,
137
em resposta ao nível de base baixo, e, entre eles, o vale precursor do atual Arroio Chuí,
Caron (2007), Lopes et al. (2010), também identificado no Taim por Tomazelli et al.
(2008).
O panorama acima descrito permaneceu, pelo menos, até cerca de 17,5 ka,
quando, durante o Último Máximo Glacial o nível do mar situou-se em torno de -120 m
abaixo do nível atual, desenvolvendo sistemas deltáicos na borda da plataforma,
(Dillenburg, 1987; Corrêa, 1990).
Com o degelo das calotas glaciais iniciou-se a Transgressão Pós-Glacial com um
rápido deslocamento da linha de costa em direção ao continente, através da plataforma
continental. Durante este período iniciou-se o preenchimento dos vales incisos por
ambiente estuarinos e lagunares, com o deslocamento dos sistemas costeiros
perpendiculares a linha de costa (Tomazelli et al., 2008, Rosa, 2012) e o
desenvolvimento de barreiras transgressivas.
A elevação do NRM até seu ápice (entre 2 e 3 m acima do atual) em torno de 6
ka foi principal condicionante na evolução das barreiras costeiras, no entanto, e após seu
rebaixamento até o nível atual, o balanço de sedimentos teve papel fundamental no
controle evolutivo das mesmas. (Dillenburg et al., 2000, 2004, 2009; Hesp et al., 2005,
Martinho et al., 2009).
Portando pode-se assumir que a barreira holocênica da região costeira de Santa
Vitória do Palmar possui diferenciações mofológicas, geométricas e estratigráficas que
permitem classificá-la de modo geral sob dois aspectos: uma configuração tipicamente
transgressiva com padrão de empilhamento retrogradacional, ao longo de toda barreira
(da barra do Arroio Chuí – ao Farol Sarita) e que foi preponderantemente forçada pela
elevação do NRM. E outra configuração com características transgressivas na porcão
SW (barra do Arroio Chuí até a praia dos Concheiros) e características regressivas com
um padrão de empilhamento progradacional na porção NE (farolete Verga e Farol
Sarita) ambas condicionadas pricipalmente pelo balanço de sedimentos. Figura 56.
O início do processo transgressivo relatado na região de estudo se deu a partir do
desevolvimento de uma barreira transgressiva francamente condicionada pela elevação
do nível do mar durante a Transgressão Pós-Glacial que se desenvolveu a partir de 17.5
ka. Depósitos de turfas datados no vale do Arroio Chuí (10.905 ± 365 anos cal. AP), a -
138
1 m do NRM, Caron (2007) na praia do Hermenegildo (9.855 ± 305 anos cal. AP) a -2
m do NRM, Lima et al. (2013) e na praia dos Conheiros (H1), (10.630 ± 110 anos cal.
AP), a -6 m do NRM, neste trabalho, representariam o melhoramento climático e a
preservação de ambientes alagados que posteriormente foram recobertos por sedimentos
lagunares.
Estes depósitos servem de referência do controle da topografia antecedente já
que todos estão depositados sobre o substrato pleistocênico, Figuras 28, 38, 44, 46, e 56.
A variedade na composição da matéria orgânica preservada e da posição altimétrica
destas fácies, pode ser explicada pela própria variabilidade da morfologia do substrato
pleistocênico, no entanto a similaridade das idades sugere-se como excelente ferramenta
de controle da topografia antecedente. Estes depósitos não puderam ser verificados nas
seções de GPR, pois os depósitos que sobrepõem este registro atenuam totalmente o
sinal.
A associação faciológica H2, caracterizada por sedimentos arenosos muito finos
rica em conteúdo fossilífero, representariam os depósitos de fundo lagunar. Moluscos de
espécies marinhas rasas e estuarinas em posição de vida mar datadas entre 7.580 ± 100
cal anos AP a -4,5 m do NRM., 6.540 ± 140 cal anos AP a -3,5 m do NRM. e 5.575 ±
100 cal anos AP situada a -2,6 m do NRM, corroboram com esta interpretação. Estes
depósitos com espessuras entre 1 e 2,5 m e os registros de GPR representados pela
Radarfacies A (reflexões plano paralelas) representam e as dimensões que este corpo
lagunar evoluiu condicionado pela elevação do nível do mar. Estudos desenvolvidos por
Lima et al. (2013) na praia do Hermenegildo, Tomazelli et al. (1998) e Buchmann et al.
(1998) na praia das Maravilhas, encontram depósitos com associações faciológicas com
assembléia de moluscos muito semelhantes interpretadas também como fundo
lagunares. Datando moluscos em posição de vida desta assembléia os mesmos autores
encontraram idades de 6,8 ka (entre -5 e -3 m do NRM), e 4,9 - 4,3 ka (ao NRM atual)
respectivamente. Registros de GPR encontrados por Lima et al. (2013) também foram
atribuídos a este sistema.
Sobrepondo o fundo lagunar (H2 e RA) uma nova associação faciológica
denominada H3 foi caracterizada por areias finas bem selecionadas, intercalações de
material fino (silte, argila) e presença de fragmentos vegetais. Esta associação
faciológica corresponde a Radarfácies RB, que pelo comportamento geométrico
139
(downlaps) permite sugerir estruturas de margens lagunares subaquosas (deltas e ou
pontais) migrando sobre o fundo lagunar/estuarino, conectado com o ambiente marinho,
controlado principalmente pela elevação do nível do mar durante o Holoceno, Figuras
36, 45 e 46. Lima et al. 2013, também constatam na praia do Hermenegildo este
comportamento
Uma informação importante deste conjunto de dados é o momento que esta
margem lagunar cessa sua migração. Este período coincide, provavelmente, como o
nível de mar mais alto no Holoceno na região (entre 6.540 ± 140 cal anos AP e 5.575 ±
100 cal anos AP), Figura 46. Apesar de não ter-se obtido idades na porção NE da
barreira holocênica (Farol Sarita) é correlacionável a Radarfácies RB migrando em
direção ao corpo lagunar representando a porção da barreira transgressiva neste
segmento, Figura 53. Um registro que pode ser utilizado como referência para
corroborar esta hipótese são as cotas que estas paleomargens lagunares sobrepõem o
fundo lagunar, cerca de -3 a -4 m abaixo do NRM.
As
Radarfacies
RF
que
denotam
a
progradação
de
ambientes
de
foreshore/backshore em direção ao oceano, representam a porção da barreira regressiva,
que pode é encontrada no setor NE (farolete Verga e Farol Sarita). Especificamente na
região do Farol Sarita é possível visualizar nas seções de GPR o momento desta
inversão, ou seja, a passagem do padrão de empilhamento retrogradacional para o
progradacional da Barreira.
Considerando que o NRM entrou em declínio a partir do seu máximo (entre 6 e
5 k.a), o balanço de sedimentos se torna um importante fator a ser considerado para
explicar como os setores da barra do Arroio Chuí, praia das Maravilhas, praia do
Hermenegildo, praia dos Concheiros, continuaram demostrando características
transgressivas (padrão de empilhamento retrogradacional) e farolete Verga e Farol
Sarita características regressivas (progradacionais), como já discutido nos estudos de
Toldo Jr. et al. (1999, 2004, 2005); Lima et al. (2001); Esteves et al. (2006); Dillenburg
et al. (2000, 2005, 2009).
A associação faciológica H4, constituídas por areias finas com acúmulo de
matéria orgânica, correspondendes a Radarfacies RC (plano-paralelas) foi atribuída ao
fundo lacustre, que marca o isolamento da Lagoa Mangueira em relação ao Oceano. Os
140
elemetros estratigráficos e geométricos sugerem que a estabilização e preenchimento
deste espaço de acomodação se deu apenas através do controle pluviométrico da lagoa
que se mantinha conactada ao Sistema Mirim, Figuras 47, 48.
A associação fácies H5, constituída por areias finas e estruturas plano paralelas e
cruzadas planares, acumulações de matéria orgânica (3 a 5 cm), marcas de raízes e
concentrações de minerais pesados na forma de lentes é corresponde a Radarfacies D,
representada por reflexões inclinadas (downlap) migrando em direção ao corpo lagunar.
As variações nas espessuras e composição desta associação pode ser explicada pela
dinâmica sedimentar (preservação e erosão) da margem lagunar. Este sistema é
constantemente alterado por fatores como: ventos, ondas, variações de nível do corpo
lacustre, disponibilidade de sedimentos via eólica, transporte induzido por ondas
(refração) e influxos, na forma de sangradouros que drenam a parte mediana barreira
(mais alta) até a margem lagunar, Figuras 47, 48.
Esta associação de fácies juntamente com os registros de GPR foram
interpretados como a migração das margens lacustres, sobre o fundo lacustre (H4 e
Radarfácies RC), condicionados principalmente balanço sedimentar através dos
processos costeiros vigentes. É possível notar no registro que as progradações das
margens lacustres foram fortemente influênciadas pelas variações do nível da Lagoa
Mangueira. Superfícies de erosão e reativação são identificadas e mapeadas nos
registros de GPR, Figuras 47, 48.
As associações facialógicas H4, RC e H5, RD, foram identificadas nos registros
desde o setor da praia dos Concheiros até o farolete Verga, provavelmente devido ao
maior estoque sedimentar disponível.
Neste trabalho, não se procurou a distinção em subsuperfície do ambiente eólico,
todos foram incluídos na associação faciológica H6 e Radarfácies RE. Nos registros do
GPR interpretados, a Radarfácies RE apresenta grande alteração na espessura relativas a
este depósito.
Sugere-se que o aporte de sedimentos ao ambiente praial de cada setor analisado
da barreira holocênica está diretamente ligado à disponibilidade da porção submersa.
Comparando os dados percebe-se que as distinções na granulometria e composição da
porção submersa se refletem na porção emersa da barreira. Em alguns setores estas
141
distinções são evidentes, como os fragmentos de arenitos que são encontrados no pós
praia do Hermenegildo correspondentes a erosão dos altos topográficos consolidados
que são evidenciados na antepraia adjacente. Da mesma forma, na região dos
Concheiros onde é comum a ocorrência de fragmentos de bioclastos, que são
transportados da porção submersa à porção emersa deste setor da barreira. Os demais
setores onde o aporte de areias litoclásticas é mais significativo, da mesma forma este
setor da barreira é composta por este material.
O comportamento morfodinâmico ao longo dos sistemas praiais entre o Farol
Sarita e o Chuí também refletem a transição para o ambiente eólico adjacente,
principalmente na diferenciação morfológica das dunas frontais e, por conseguinte na
sua continuidade até a margem lacustre.
Um conjunto de fatores ambientais atuam simultaneamente em diferentes escalas
temporais e espaciais, e acarretam em mudanças na morfologia das dunas ao longo do
tempo, condicionando as características das dunas costeiras em escala local. Tais fatores
são: a morfodinâmica da linha de costa, a sedimentologia, que influência nas taxas de
suprimento sedimentar e no tipo de praia (largura e declividade), as direções e
velocidades dos ventos, a quantidade e sazonalidade da precipitação, e os padrões de
distribuição e abundância das espécies vegetais (Short & Hesp, 1982; Carter et al.,
1990a; Costa et al., 1996; Seeliger et al., 2000).
Como no ambiente praial, também a evolução dos sistemas eólicos (dunas
frontais e campos de dunas), através da análise expedita da topografia, imagens orbitais,
fotos aéreas e análise de campo, compondo as características morfológicas encontradas
em cada setor, sugerem importantes pistas quanto ao disponibilidade sedimentar
acumulada na porção emersa da barreira holocênica. Enquanto no extremo sul, na região
do Chuí encontramos dunas acopladas à barreira pleistocênica, nos Concheiros
verificamos um vasto campo de dunas transversas e na região dos farolete Verga e
Farole Sarita apresentam-se feições do tipo cordões litorâneos por vezes recobertos, por
fases de lençóis transgressivos.
Esta distinção é visível quanto a diponibilidade de sedimentos na formação das
dunas, com franca erosão no Chuí e progradação no forelete Verga e Farol Sarita, já
apontado por Dillenburg et al. (2000) e fundamentado pelo conjuntos de dados de
142
geocrolologia, estratigrafia e geometria, dos trabalhos de Tomazelli et al. (1998, 2008),
Buchmann et al. (1998), Lima et al. (2013) em conjuto com dados apresentados neste
trabalho.
As margens lacustres atuais, além de ser condicionadas pelo sistema eólico
adjacente são fortemente influênciadas pelas drenagens dos interdunas através de
sangradouros que encontram as margens lagunares e formam pequenos deltas. Estes
podem ser retrabalhados pela dinâmica local, de ondas e correntes e os sedimentos
serem redistribuídos nas praias e pontais. Variações do nível lacustre (pluviosidade) e a
da vegetação das margens, também tem importante participação nestes sistemas
possibilitando afogar e/ou fixar as mesmas. A evolução das margens da Lagoa
Mangueira após ser isolada do Oceano (a cerca de 4 ka) bem como sua morfodinâmica
são encontradas no trabalho de Antiqueira (no prelo).
Figura 56: Resumo da evolução entre os setores da barreira costeira holocênica emersa de Santa Vitória do Palmar.
144
III – INTEGRAÇÃO DOS RESULTADOS DOS PARA O SETOR SW DA
BARREIRA HOLOCÊNICA COSTEIRA DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR
Aliando os dados da porção submersa com a porção emersa da região SW da
barreira holocênica da região de Santa Vitória do Palmar, Figura 57 podemos ressaltar
os seguintes aspectos:
As diferenças morfológicas e sedimentológicas entre os perfis batimétricos
analizados sugerem que os ajustes morfodinâmicos de larga escala, condicionadas por
processos costeiros (ondas e correntes) resultam em diferenças que também são notadas
na barreira holocênica emersa adjacente.
As principais evidências são: setores onde há menor estoque de sedimentos tanto
na antepraia como na porção emersa da barreira, como no caso do Hermenegildo;
setores onde a composição atual da barreira é a mesma da antepraia, caso dos
Concheiros, e setores onde a disponibilidade de sedimentos é maior na antepraia,
ocosionando o desenvolvimento da barreira cm maiores larguras, e consequentemente
maior volume, caso da praia dos Concheiros.
A topografia antecedente controlou de maneira incisiva a evolução da barreira da
região de Santa Vitória do Palmar durante o Holoceno através da presença de altos
topográficos consolidados que alteram os padrões de migração, podendo também servir
como pontos de ancoragem e/ou estabilizações da barreira.
A diferenciação da morfologia e estratigrafia da barreira do setor SW (da barra
do Arroio Chuí até a praia dos Concheiros) se dá principalmente pela preservação e ou
erosão dos depósitos da barreira e retro-barreira. Portanto este setor da barreira pode ser
classificado como de características tipicamente transgressivas que foram inicialmente
controlados pela elevação do inel do mar e após o seu rebaixamento controlados
principalmente pelo balanço sedimentar.
Figura 57: Resumo da evolução entre os setores SW da barreira costeira holocênica emersa e submersa de Santa Vitória do Palmar.
146
IV – MODELO EVOLUTIVO
A integração dos resultados propõe um modelo evolutivo da barreira costeira
holocênica no setor sul da PCRS. O modelo é apresentado em sete estágios. O estágio I
desenvolveu-se durante o Pleistoceno. O estágio II representa o desenvolvimento de
regiões húmidas com o melhoramento do clima no final do Pleistocêno e no início do
Holoceno. O estágio III é marcado pela inundação provocada pela ascensão do nível do
mar durante o Holoceno. O estágio IV é relativo ao máximo eustático holocênico. O
estágio V é atribuído ao fechamento do corpo lagunar (Mangueira), e o estágio VI
representa o processo transgressivo atual da barreira holocênica.
Anterior ao estágio I pode se caracterizar a área de estudo pela associação
faciológica P1 que atinge pelo menos 5 m de espessura com a presença de conchas de
moluscos com características de retrabalhamento. Sugerem um ambiente praial/eólico
relacionados ao sistema deposicional pleistocênico Barreira III de Villwock et al. (1986)
reconhecido na região, em toda margem NW da Lagoa Mangueira e muito próximo à
linha de costa atual entre a praia das Maravilhas e o Chuí. As idades de depósitos
associados a este sistema são atribuídas ao estagio isotópico do oxigênio 5, em torno de
120-125.000 anos AP (Villwock et al. 1986, Villwock & Tomazelli 1995, Tomazelli &
Dillenburg 2007) e, 109.000 +/- 10 anos AP de Buchmann et al (2000).
147
ESTÁGIO I (< 10 ka)
EXPOSIÇÃO DA REGIÃO COSTEIRA EMERSA E SUBMERSA DURANTE O
ULTIMO MÀXIMO GLACIAL PLEISTOCÊNICO
Este estágio é representado pela associação faciológica P2 que atinge de 2 a 3 m
de espessura. Percebe-se que houve processos diagenéticos e pedogenéticos
diferenciados, permitindo defini-los como paleosolos de idades pleistocênicas. Estes
paleosolos podem ser associados a depósitos encontrados nos trabalhos de Delaney
(1962), Bombim & Klam (1971), Soliani (1973), Lopes et al. (2001), associados ao
Sistema Laguna-Barreira III de Villwock et al. 1986, e também decorrente como
substrato pleistocênico identificados nos trabalhos de Caron (2007), Lima (2008) e
Tomazelli (2008) na porção sul da PCRS. Estes paleossolos marcam um clima
continental mais seco do último estágio glacial, Figura 58.
Figura 58: Estágio I do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
148
ESTÁGIO II (+/- 10 ka)
DESENVOLVIMENTO DE REGIÕES HÚMIDAS COM O
MELHORAMENTO DO CLIMA NO INÍCIO DO HOLOCENO
À medida que o clima começa a melhorar no Holoceno por volta 10.630 ± 110
anos AP, a vegetação costeira inicia a ocupação do substrato pleistocênico, preservando
sob sua superfície um material orgânico e gerando um horizonte que é representado por
turfas.
No decorrer da Transgressão Marinha Pós-Glacial (TMP) o substrato
pleistocênico foi progressivamente inundado pelo lençol freático que acompanhava o
nível do mar em elevação, transformando este horizonte de paleosolos em ambientes
pantanosos. Estes ambientes deposicionais tiveram origem na margem continental do
sistema lagunar, associado à barreira costeira transgressiva e nos preenchimentos de
vales escavados durante o máximo regressivo, representando o primeiro registro da
inundação sob a topografia antecedente, Figura 59.
Figura 59: Estágio II do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
149
ESTÁGIO III (de 7,5 a 6,5 ka)
INÍCIO DA INUNDAÇÃO PROXIMA A REGIÃO COSTEIRA
PROVOCADA PELA TRANSGRESSÃO MARINHA PÓS-GLACIAL (TMP)
DURANTE O HOLOCENO
Este estágio marca a inundação marinha da retrobarreira, quando ambientes
lagunares/estuarinos recobrem os pântanos por volta de 7.580 ± 100 cal. anos AP
evoluindo até 6.540 ± 140 cal. anos AP. Este estágio condicionados pela elevação do
NRM, desenvolveu-se sob alta taxa de migração da barreira transgressiva em direção ao
continente, representada pela progradação das margens lagunares (pequenos deltas,
pontais, praias) e/ou do sistema eólico sobre depósitos de fundo lagunar-estuarino.
Sugere-se que neste estágio, a barreira transgressiva apresentava-se segmentada
por pelo menos dois canais de ligação: um na localidade do Taim (Buchmann et al.,
1997; Tomazelli et al., 2008); Rosa, 2012 e Lima et al., 2013) e outro no Chuí, Caron
(2007), que promoviam o desenvolvimento de um amplo ambiente lagunar estuarino na
retro-barreira incluído o afogamento de vales pleistocênicos, Figura 60.
Figura 60: Estágio III do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
150
ESTÁGIO IV (de 6.5 a 5.7 ka)
MÁXIMO EUSTÁTICO HOLOCÊNICO E INÍCIO DA PROGRADAÇÃO NA
REGIÃO NE DA BARREIRA
Com o nível do mar ainda em elevação atingindo a posição relativa ao nível do
mar mais alto (máximo eustático) a cota de pelo menos +2 m acima do NRM, foram
preservados depósitos de ambientes estuarinos/lagunares com amplas espessuras
colmatando a retrobarreira. Este estágio indica o estabelecimento em subsuperfície da
porção indicada pela radarfácies RB, correspondente a margem lagunar subaquosa
recobrindo em seu último estágio fundo lagunar a 5.755 ± 155 cal. anos AP.
As cotas topográficas estabelecidas nestes ambientes junto à margem lagunar
(moderna) da Lagoa Mangueira indicam que a retrobarreira encontrava-se com
dimensões e profundidades maiores que as atuais da referida Lagoa.
Apesar de não se obterem dados geocronológicos, a partir da identificação nas
seções de GPR do contato entre a fase transgressiva/regressiva ocorrerem na mesma
profundidade, propõe-se que neste estágio a porção NE da barreira (Verga-Sarita) o
início da progradação ocorreu junto ao máximo eustático, Figura 61.
Figura 61: Estágio IV do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
151
ESTÁGIO V (5.7 até 4.3 ka)
INÍCIO DO FECHAMENTO DO CORPO LAGUNAR, ATUAL LAGOA
MANGUEIRA
Este estágio desenvolveu-se na fase final da transgressão da barreira
condicionada pela elevação do nível do mar e provável o fechamento da porção NE da
barreira (Taim) na Lagoa Mangueira. Datações de moluscos em posição de vida,
realizadas por Tomazelli et al. (1998) e Buchman (1997) em depósitos lagunares
estuarinos na praia das Maravilhas, e de Caron (2007) no vale do Arroio Chuí, sugerem
que nas proximidades desta região ainda se mantinha uma conexão com o ambiente
oceânico, Figura 62.
Figura 62: Estágio V do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
152
ESTÁGIO VI (< 4.3 e 2,5 ka)
ISOLAMENTO DO CORPO LAGUNAR, ATUAL LAGOA MANGUEIRA
A evidência do fechamento da Lagoa Mangueira não pode ser datado neste
trabalho devido a ausência de matéria orgânica. Estudos anteriores (Tomazelli et al.,
1998; Buchmann et al., 1998 e Lima et al., 2013) datam amostras de depósitos
correlacionáveis a estes obtendo as idades aqui propostas. Os refletores plano paralelos
representados pela radarfácies RD atestam que após a progaradação da margem lagunar
cessada, acima desta, houve estabilização do fundo lacustre atribuída ao fechamento do
corpo lagunar. Desta forma, o controle da margem lagunar foi estabelecido unicamente
pela variação do regime pluviométrico local, ondas e correntes atuantes no sistema
lacustre, com a migração de pontais e deltas intralacustres, Figura 63.
Figura 63: Estágio VI do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
153
V.VII ESTÁGIO VII (Situação atual)
TRANSGRESSÃO AO SW E REGRESSÃO AO NE DA BARREIRA
Na região SW da Barreira são identificados na morfologia do terreno cristas de
precipitação associadas aos lençóis de areias transgressivos recobrindo a margem
lacustre. Esse recobrimento é verificado através dos registros de GPR. Em
contrapartida, na região NE, as cristas de cordões litorâneos, formadas durante a
regressão, são recobertas por fases de lençóis de areias transgressivos. Esses cordões são
formados por dunas frontais/prais que progradam em direção ao oceano representando a
regressão da Barreira nesta região, Figura 64.
Figura 64: Estágio VII do modelo evolutivo da barreira costeira holocênica de Santa Vitória do Palmar.
154
V – CONCLUSÕES
A interpretação dos registros morfológicos e texturais da parte emersa e
submersa, a Estratigrafia e a geometria deposicional possibilitou uma visão ampla e
detalhada dos ambientes deposicionais encontrados bem como sua organização
faciológica.
A variabilidade batimétrica e sedimentologica deste trecho da plataforma do Rio
Grande do Sul é marcante, principalmente pelos depósitos biodetríticos associados aos
altos topográficos e seu retrabalhamento em situações de tempestades e sua
incorporação no ambiente praial da barreira holocênica.
A diversidade das fácies superficiais de distintas composições e texturas na
porção submersa (antepraia) da barreira holocênica, principalmente entre o trecho da
praia do Hermenegildo até as proximidades do Farol do Albardão evidenciam um
processo evolutivo diferenciado durante o Holoceno, quando comparado a outros
setores da costa do RS.
Os altos topográficos desnudos de sedimentos que se apresentam rígidos
(arenitos) atualmente afogados, principalmente pela proximidade com este mesmo
sistema em relação a zona costeira adjacente, foram considerados como parte do
Sistema Pleistocênico III.
Estes altos certamente contribuiram de modo incisivo na evolução da barreira
durante o Holoceno, uma vez que serviram de ancoragem, e ou estabilizações de linhas
de costa com a subida do NRM durante este período.
O registros da antepraia mostram claramente que a evolução da Barreira foi e
atualmente está, fortemente controlada pelas diferenças morfológicas e texturais entre a
zona “A” (Chuí - Hermenegildo) e a Zona “B” (Concheiros - Albardão).
O mapeamento das unidades faciológicas através dos padrões das geometrias
internas, externas e seus limites, pela terminação de refletores obtidas através dos dados
de GPR, subsidiaram a compreessão da complexidade das fácies e suas relações com os
processos que originam estas unidades.
155
Os depósitos associados a barreira arenosa foram, inicialmente, fortemente
controlados pela subida do nível do mar durante o holoceno médio (7 a 5,5 ka AP).
Posteriormente, estes depósitos foram influênciados tanto pelo balanço sedimentar
através dos processos costeiros vigentes (ondas, correntes). Conjuntamente, através da
queda do nível do mar, registros de GPR sugerem estabilizações da margem lagunar.
Na base do registro holocênico, foi identificado um ambiente continental costeiro
pré-transgressão representado por turfas datadas 10.630 ± 110 anos cal. anos AP. Estes
ambientes deposicionais tiveram origem nas margens do sistema lagunar associado à
barreira costeira transgressiva, representando o primeiro registro da inundação da
topografia antecedente pelo lençol freático que acompanhava o nível do mar em
elevação. O estabelecimento de um ambiente lagunar/estuarino sob franca elevação do
nível do mar recobriu os estes ambientes rasos alagados por volta de 7.580 ± 100 cal.
anos AP.
Dados paleontológicos sugerem que a barreira costeira apresentava-se conectada
ao oceano através canais de ligação, e os ambientes de retrobarreira deveriam ser
também abastecidos por um importante canal ao norte (Taim) através das drenagens dos
sistemas lagunares pleistocênicos (Lagoa Mirim) e possivelmente, um ao sul (Chuí).
O registro de fundo lagunar/estuarino datado em 5.755 ± 155 anos AP. anos AP
cal. anos AP indica os paleoníveis estuarinos de máxima inundação são vinculados a
fase transgressiva da barreira costeira forçada pela subida do nível do mar durante o
Holoceno.
A transferência de sedimentos arenosos em direção ao continente, durante a fase
transgressiva da barreira, ocorreu pela progradação das margens lagunares em direção à
Lagoa Mangueira através de pequenos deltas alimentados por sangradouros, e pela a
entrada de areia via eólica. O truncamento dos refletores associados a Radarfácies da
margem lagunar sobre o fundo lagunar evidenciam os últimos eventos desta deposição
datados em 5.755 ± 155 anos AP, indicando o máximo da migração da barreira
transgressiva forçada pela subida do NRM.
Os refletores plano paralelos representados pela Radarfácies RD atestam que
após a progaradação da margem lagunar cessada, acima desta, houve estabilização do
fundo lacustre atribuída ao fechamento do corpo lagunar. Desta forma, o controle da
156
margem lagunar foi estabelecido unicamente pela variação do regime pluviométrico
local, ondas e correntes atuantes no sistema lacustre, com a migração de pontais, e
deltas intralacustres.
Neste tempo a morfologia do sistema eólico começa a ser preservada em
subsuperfície com avanço dunas frontais sobre os depósitos de margem lagunar, e a
presença de lençóis de areia que atualmente ocupam a superfície da barreira
transgressiva. Ainda percebem-se cristas de precipitação relíquias associadas a paleo
lençóis de areias transgressivos, atualmente vegetados que avançavam barreira adentro
no sentido do continente na região SW. Em contrapartida, na região NE, cristas de
cordões litorâneos, progradam em direção ao oceano representando a regressão da
barreira nesta região.
Portanto, a evolução da barreira holocênica da região costeira de Santa Vitória
do Palmar do Rio Grande do Sul envolveu a implantação de uma fase da barreira
transgressiva controlada pelo nível do mar e outra fase da barreira transgressiva ao SW
e regressiva ao NE controladas pelo balanço sedimentar.
A fase transgressiva controlado pelo nível do mar ocorreu atrelado a Última
Transgressão Marinha Pós-Glacial, gerando a retrogradação da barreira. A fase também
transgressiva, controlado pelo balanço de sedimentos, concomitantemente com a queda
relativa do nível do mar gerou a transgressão campos eólicos e da margem lagunar sobre
o fundo da Lagoa Mangueira, na porção SW e a progradação de ambientes
foreshore/backshore em direção ao oceano na região NE.
Finalmente, conclui-se que a integração de dados da plataforma interna com o
registro de superfície e subsuperfície da barreira, na região emersa da mesma, corrobora
alguns modelos propostos por outros autores e apresenta novos dados acerca da
evolução deste setor da PCRS.
157
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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