DESENVOLVIMENTO DO TEMPO DE REAÇÃO DE ESCOLHA EM CRIANÇAS
Aquiles Johnson Milhomem Xavier
Rodolfo Novellino Benda
Grupo de Estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora / GEDAM - EEFFTO / UFMG
Introdução
Tempo de reação (TR) é o intervalo de tempo entre um estímulo não antecipado (repentinamente
apresentado) e a resposta, indicando a velocidade e a eficácia da tomada de decisão. O TR tem início quando
o estímulo é apresentado e termina quando a resposta do movimento tem o seu início (SCHMIDT, 1993).
MAGILL (1984, p. 80) conceitua que o TR é simplesmente “o lapso de tempo entre o início de um estímulo,
uma campainha ou uma luz, e o início de um movimento ou resposta”. De forma mais ampla, há uma
classificação em TR: simples, de escolha e de discriminação. Segundo SCHMIDT & WRISBERG (2001, p.
76), o TR simples é o “intervalo de tempo que decorre da apresentação de um estímulo não-antecipado ao
início da resposta” e o TR de escolha é o “intervalo de tempo entre a apresentação de um dos vários estímulos
possíveis não-antecipados e o começo de uma das várias respostas possíveis”. O TR discriminação é
classificado como o TR no qual é apresentado ao indivíduo mais de um sinal, mas há somente uma resposta
(MAGILL, 2000). Nessa situação, o indivíduo deve “discernir” entre o estímulo correto a responder, e o
incorreto. Ao sujeito é apresentado mais de um estímulo, mas deve responder apenas a um desses. Segundo
SCHMIDT & WRISBERG (2001, p. 75), o TR de escolha é “o intervalo de tempo entre a apresentação de um
dos vários estímulos possíveis não-antecipados e o começo de uma das várias respostas possíveis”. Quando o
estímulo é apresentado, o indivíduo escolhe a opção desejada e executa a ação (pressionar uma tecla, por
exemplo). Nesse sentido, o TR de escolha é entendido como o intervalo de tempo necessário para o
executante detectar um estímulo, escolher a resposta certa e iniciar sua resposta. O estudo teve como objetivo
comparar o TR de escolha entre crianças (6, 8, 10 e 12 anos) e adultos.
Materiais e métodos
A amostra para a realização do estudo foi composta por 65 sujeitos de ambos os sexos entre crianças
e adultos, divididos em 5 grupos de acordo com a idade. Três grupos com 15 integrantes (adultos, 12 anos e
10 anos) e dois com 10 integrantes (8 anos e 6 anos). Esse estudo utilizou como instrumento a Unidade de
Determinação de Sistema de Testes de Viena, que é composto por um aparelho que mede o TR de escolha e o
registra em um computador ligado ao sistema.
Nesse instrumento, a apresentação dos estímulos é realizada numa seqüência de forma cíclica a partir
do consentimento do sujeito e do pesquisador. O subteste utilizado foi o número 1, contendo 5 blocos de 10
tentativas (total de 50 estímulos), com duração total de 150 segundos.Essa escolha foi feita após certificar que
crianças de 6 anos fossem capazes realizar o teste. O teste é composto de 9 estímulos (7 visuais e 2 sonoros)
apresentados de forma aleatória aos sujeitos, que deveriam responder de forma correta o mais rápido possível,
pressionando teclas ou pedais correspondentes aos estímulos apresentados.
Os resultados obtidos foram: número total de respostas, número de respostas corretas, atrasadas,
erradas e omissas, TR de escolha e desvio padrão do tempo de reação (DPTR). O total de respostas é o
somatório de todas as respostas apresentadas pelo sujeito. As respostas corretas foram aquelas em que o
sujeito respondeu ao estímulo apresentado dentro do tempo previsto. Foram consideradas atrasadas as
respostas aos estímulos adequados que demoraram acima do tempo pré-determinado. Quando o sujeito
pressionou a tecla que não correspondia ao estímulo apresentado, a resposta foi considerada errada. As
respostas omissas foram aquelas cujos estímulos não foram respondidos. O TR de escolha é o tempo que o
sujeito demorou para responder ao estímulo apresentado e a medida de dispersão desse tempo é o DPTR.
Apresentação e discussão dos resultados
Os resultados do estudo estão apresentados na TABELA 1.
TABELA 1 - Número total de respostas (C+I), respostas corretas, atrasadas, erradas e omissas, TR e DPTR
(s) de acordo com a faixa etária.
C+I
CORRETAS ATRASADAS ERRADAS
(TOTAL)
OMISSAS
TR
DPTR
(s)
1,7
4,7
1,61
0,358
0,4
3,7
0,6
1,4
0,343
47,3
0,4
3,6
0,73
1,3
0,367
51,06
48,26
0,66
2,13
0,4
1,13
0,306
52,2
48,6
0,13
3,46
0,2
1,05
0,306
Idade
(anos)
n
6
10
45,9
36,9
2,3
8
10
51,8
47,7
10
15
51,33
12
15
Adultos 15
Para a análise dos dados, estabeleceu-se o risco α em p < 0,05.
Observou-se, por meio do teste de Kruskal-Wallis, diferença significante entre os grupos para o total
de respostas [H (4, N=65) = 14, 177, p=0,007]. Através de análise do gráfico e da soma dos rankings, a
diferença parece ser entre o grupo de adultos e o grupo de 6 anos, ou seja, entre os dois extremos (FIGURA 1)
Número total de
respostas
54
52
52,20
51,80
51,30
51,06
8
10
12
50
48
45,90
46
44
42
6
adultos
Idade
FIGURA 1 - Número total de respostas para os grupos de 6, 8, 10, 12 anos e adultos.
O teste de Kruskal-Wallis registrou diferença significante entre os grupos para respostas corretas [H
(4,N=65)=11,41, P=0,022], respostas atrasadas [H(4,N=65)=13,63, p=0,008] e respostas omissas
[H(4,N=65)=11,32, p=0,023]. Através da análise do gráfico e da soma dos rankings, acredita-se que a
diferença possa ser entre o grupo de 6 anos e o grupo de adultos. Não foram observadas diferenças
significantes entre os grupos para respostas erradas [H(4,N=65)=3,98, p=0,41] (FIGURA 2).
60
6
50
8
10
12
adultos
40
30
20
10
0
correta
atrasada
errada
omissa
FIGURA 2 - Número de respostas corretas, atrasadas, erradas e omissas para os cinco grupos
experimentais.
Foi realizada Análise de Variância a um fator (grupos) para o Tempo de Reação que detectou
diferença significante entre os grupos [F(4,65)=27,04, p =0,000]. O teste de Scheffe indicou diferença entre os
seguintes grupos: 6 e 10 anos (p=0,0002), 6 e 12 anos (p=0,000), 6 anos e adultos (p=0,000), 8 anos e 12 anos
(p=0,0014), 8 anos e adultos (p=0,000017), 10 anos e 12 anos (p=0,048), 10 anos e adultos (p=0,00082)
(FIGURA 3).
2
TR (s)
1,5
1
0,5
0
6
8
10
12
adultos
Idade
FIGURA 3 - Tempo de reação de escolha para os grupos experimentais
Com base em TANI (1995), assume-se, inicialmente uma hierarquia nas respostas. As corretas são
melhores que as atrasadas, que por sua vez, são melhores que as erradas. Por fim, as respostas erradas são
melhores que as respostas omissas. Essa premissa vem reforçar a idéia de que é melhor atrasar uma reposta e
responder corretamente do que responder rapidamente de forma errada. Da mesma forma, as respostas erradas
são preferíveis que a omissão. De acordo com os resultados obtidos, os grupos com maiores faixas etárias
responderam com maior número de acertos e menos atraso e omissão do que o grupo de 6 anos. Segundo
SANTOS & TANI (1995), o TR muda em virtude das modificações estruturais e funcionais do organismo. Os
resultados obtidos no estudo corroboram essa afirmação, visto que os grupos com maior faixa etária
conseguiram resultados cada vez melhores no TR do que os grupos mais novos.
É possível agrupar os indivíduos em três categorias: um primeiro grupo formado pelas crianças de 6
e 8 anos que possuem características de respostas semelhantes, o grupo de 10 anos (intermediário ou de
transição) e o grupo de 12 anos e adultos com respostas semelhantes, indicando que as crianças com 12 anos
já têm seu comportamento semelhante a adultos no que se refere ao TR de escolha.
O gráfico da evolução do TR de escolha, portanto, seria uma linha na qual, à medida que a idade
aumenta, a tendência é que o TR de escolha diminua, atingindo seu pico a partir dos 12 anos (FIGURA 3).
Conclusões
Os resultados obtidos através desse estudo levam a identificar algumas variáveis importantes no
estudo do TR de escolha. Os resultados foram analisados de forma qualitativa, conforme a hierarquia na
apresentação das respostas. Ao analisar o total de respostas, os indivíduos de 6 anos apresentaram
comportamento diferente dos adultos. Esse resultado vem corrobar a afirmativa de SCHMIDT & WRISBERG
(2001), de que o TR de escolha é influenciado pela quantidade de prática, sendo que os adultos teoricamente
possuem maior experiência anterior, mesmo que não seja na tarefa proposta. A antecipação, que segundo os
autores seria uma forma de se evitar o atraso na resposta, foi anulada pelo fato de que os estímulos foram
apresentados de forma aleatória aos sujeitos. Ao analisar as respostas corretas, nota-se também características
diferentes entre adultos e crianças de 6 e 8 anos. SANTOS & TANI (1995) apontam para algumas
características que podem indicar a superioridade dos adultos no total de respostas corretas, entre elas a
capacidade de processar a informação e capacidade de ignorar informações irrelevantes ou mesmo a
habilidade na tomada de decisão.
Finalmente, encontramos o TR de escolha se comportando de forma semelhante quando comparamos
crianças de 6 e 8 anos. Adultos e crianças de 12 anos também se assemelham, nos sugerindo que estes dois
grupos possuem características semelhantes. De acordo com este dado podemos supor que a partir dos 12
anos de idade as crianças teriam o TR de escolha similar ao dos adultos, diferindo, no entanto, dos outros
grupos de 6, 8 e 10 anos.
Necessita-se, no entanto, de novos estudos sobre o tema abrangendo outras populações, comparando
também gêneros, modalidades esportivas e formas de treinamento para otimização do TR de escolha.
Referências bibliográficas
MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: Conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1984.
MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. 5ª ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2000.
SANTOS, S; TANI, G. Tempo de Reação e a aprendizagem de uma tarefa de “timing” antecipatório em
idosos. Revista Paulista de Educação Física, v. 9, nº 1, p. 51-62, 1995.
SCHMIDT, R. A. Aprendizagem e performance motora: dos princípios à prática. São Paulo: Editora
Movimento, 1993.
SCHMIDT, R. A . , WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da
aprendizagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
TANI, G. Hierarchical organization of an action program and the development of skilled actions. Sheffield,
Department of Psychology / University of Sheffield, 1995. (Technical report).
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Desenvolvimento do TR em Crianças