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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOSSISTEMAS
Dissertação de Mestrado
William Carvalho do Amaral
INTERAÇÕES DO CHÁ DE AYAHUASCA COM ANTIDEPRESSIVOS:
Estudo bioquímico e comportamental
Santo André - SP
2013
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PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOSSISTEMAS
Dissertação de Mestrado
William Carvalho do Amaral
INTERAÇÕES DO CHÁ DE AYAHUASCA COM ANTIDEPRESSIVOS:
Estudo bioquímico e comportamental
Trabalho apresentado como requisito obrigatório
para obtenção do título de Mestre em
Biossistemas, sob orientação do Professor Doutor Fúlvio Rieli Mendes
Santo André - SP
2013
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A minha MÃE, meu PAI e meus IRMÃOS,
ídolos de verdade.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por proporcionar saúde e força em todos os momentos.
Minha MÃE Teresinha e meu PAI João pelo incentivo, aprendizado, carinho, amor e
todo o apoio durante todos os momentos;
Meus irmãos Emerson, Juliana, Marcelo pelo apoio, incentivo e confiança;
Meu sobrinho Matheus que está a caminho (tomara que puxe ao tio aqui);
A Universidade Federal do ABC e a CAPES pelo apoio financeiro durante esse
tempo dedicado a pesquisa;
Meu orientador Prof.° Dr. Fúlvio Rieli Mendes, por toda paciência, dedicação,
ensinamento, apoio e confiança para que pudéssemos realizar esse estudo;
A Prof.ª Dra. Daniele Ribeiro de Araújo pela confiança, ensinamentos e apoio;
A Prof.ª Dra. Marcela Bermúdez Echeverry por todos os ensinamentos, atenção e
conselhos;
A Prof.ª Dra. Maria Camila Almeida pela atenção, participação e sugestões para
melhorar esse estudo;
Ao Prof.º Dr. Tiago Rodrigues pela atenção, confiança, ensinamentos e apoio;
Ao Prof.º Dr. Sérgio Sasaki pelos ensinamentos e apoio;
A Prof.ª Dra. Ana Carolina Galvão pelo apoio;
A Prof.ª Dra. Patricia Dantoni pelo incentivo e apoio a vida científica;
Aos professores dos programas de Pós-Graduação de Biossistemas, Neurociência e
Engenharia Biomédica que compartilharam seus conhecimentos e contribuíram com esse
estudo;
A aluna de Doutorado do programa de Química Adriana e seu orientador Vani pelo
apoio;
Ao grupo de estudos de Plantas Naturais e Doenças Neurodegenerativas da UFABC
pelo apoio e sugestões;
Ao Prof.º Dr. Ricardo Tabach pelo apoio durante essa jornada;
Ao Prof.º Dr. Roberto Andreatini pelas sugestões e ponderações para melhorar esse
estudo;
Ao Prof.º Dr. Ricardo Augusto Lombello pelo apoio;
A Prof.ª Dra. Cristina da UFSM, pelo apoio;
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As pessoas do Departamento de Psicobiologia da Unifesp e demais áreas que
ajudaram na realização desse estudo, em particular, o Gilbertinho da Bioquímica, e o Lucas
pelo incentivo e apoio;
A Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e a AFIP que contribuíram de
forma significativa para a realização desse estudo;
Aos ratos e camundongos, que não tiveram a opção de escolher entre viver ou servir
à Ciência, mas que foram os seres mais importantes para a realização deste trabalho.
Aos meus AMIGOS-IRMÃOS da GUAPI e suas respectivas famílias, pela eterna
amizade, carinho, respeito, apoio nos momentos mais difíceis e por compartilhar histórias de
vida que até Deus duvida;
Aos amigos da ETE Lauro Gomes, Itautec, Esporte Clube Santo André e da Monday
pelo incentivo, apoio e risadas compartilhadas;
Por fim, mas não menos importante....Aos amigos do Lab 503-3, Manoel, Deyse,
Alisson, Pri, Joyce, Pri (chefa), Vi (Japa), Gemima, Sergiana, Vi, Adriana, Claudete. Pessoas
realmente incríveis que conheci e convivi durante esses dois últimos anos, aprendendo a cada
dia e compartilhando muitas histórias e aventuras....sempre com emoção!!!
OBRIGADO
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“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados
insanos por aqueles que não podiam escutar a música”.
Friedrich Nietzsche
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RESUMO
A ayahuasca é uma bebida preparada na forma de decocto empregando as folhas da
Psychotria viridis e o cipó da Banisteriopsis caapi. O chá apresenta propriedades
alucinógenas devido à presença de N, N-dimetiltriptamina (DMT) nas folhas da Psychotria
viridis. A associação desta com a Banisteriopsis caapi aumenta consideravelmente a
quantidade de DMT absorvida, já que as -carbolinas harmina e harmalina presentes no cipó
são potentes inibidores da monoaminoxidase (MAO), que metaboliza a DMT na luz intestinal.
Estudos recentes revelam que usuários regulares do chá de ayahuasca apresentaram melhora
em relação a problemas psiquiátricos. Entretanto, outros efeitos poderiam ser esperados da
associação do chá com agentes utilizados na psiquiatria, uma vez que estas drogas comumente
alteram os níveis das monoaminas. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar as
possíveis interações entre o chá de ayahuasca e três antidepressivos: a imipramina (tricíclico),
a sertralina (inibidor seletivo da recaptação de serotonina) e a moclobemida (um inibidor da
MAO), por meio do teste da inibição da hipotermia induzida por apomorfina e pelo teste da
natação forçada, in vivo, bem como pelo teste de inibição da MAO in vitro. Os resultados
obtidos não indicaram interação do efeito de doses subefetivas de imipramina, sertralina e
moclobemida pela ayahuasca no teste da natação forçada ao avaliar o comportamento de
imobilidade. A avaliação do número de defecações no mesmo teste revela uma possível
interação entre a ayahuasca e a sertralina, uma vez que essa associação induziu uma redução
no número de defecações dos ratos. Por outro lado, os resultados do teste da inibição a
hipotermia induzida pela apomorfina indicam que houve interação entre doses subefetivas de
ayahuasca e dos antidepressivos imipramina e sertralina, uma vez que as associações
reduziram a temperatura retal dos animais antes da apomorfina, mas preveniram a hipotermia
após a administração desta droga. Não foi observada alteração da temperatura dos animais na
associação com a moclobemida, mas a interação com pargilina se mostrou potencialmente
tóxica. Os testes para avaliar a inibição da MAO in vitro sugerem que a ayahuasca tenha
atividade inibitória seletiva para a MAO-A, com concentração inibitória 50% de
aproximadamente 100 ng/ml.
Palavras-chave: Ayahuasca, antidepressivos, interações medicamentosas, beta-carbolinas,
dimetiltriptamina, inibidor da MAO.
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ABSTRACT
Ayahuasca tea is prepared by boiling the leaves of Psychotria viridis and the
Banisteriopsis caapi liana. Ayahuasca has hallucinogenic properties due to the presence of NN-dimethyltryptamine (DMT) in leaves of Psychotria viridis. Association of Psychotria
viridis with Banisteriopsis caapi increases considerably the amount of DMT absorbed, since
the -carbolines harmine and harmaline present in Banisteriopsis caapi are strongest
inhibitors of monoamine oxidase (MAO) which metabolizes DMT in the intestinal lumen.
Currently studies report that regular users of ayahuasca presents better results related to
psychiatric disorders. However, other effects could be expected from the association of
ayahuasca with agents used in psychiatry, since these drugs usually alter the levels of
monoamines. Thus, the aim of this study was to evaluate the possible interactions between the
ayahuasca tea and three antidepressants: imipramine (tricyclic), sertraline (selective inhibitor
of serotonin reuptake) and moclobemide (selective and reversible inhibitor of MAO-A),
through test of inhibition of apomorphine-induced hypothermia and the forced swimming test,
in vivo, as well by the in vitro inhibition of MAO activity. The results indicated no interaction
effect of inactive doses of imipramine, sertraline and moclobemide by ayahuasca in the forced
swimming test when the immobility behavior was evaluated. Evaluation of defecation number
in this test revealed a possible interaction between ayahuasca and sertraline, because this
association diminished the defecations number of rats. On the other hand, the results in
apomorphine-induced hypothermia test indicated interaction between inactive doses of
ayahuasca and the antidepressants imipramine and sertraline, since these interactions
decreased the rectal temperature of mice before the apomorphine, but inhibited the
hypothermia after apomorphine administration. The moclobemide and ayahuasca association
did not alter the mice’s temperature, but the association of ayahuasca with pargiline seemed
potentially toxic. The tests aimed to evaluate the in vitro MAO inhibition suggest that
ayahuasca has inhibitory activity towards MAO-A, with 50% inhibitory concentration of
approximately 100 ng/ml.
Keywords:
Ayahuasca,
antidepressants,
dimethyltryptamine, MAO inhibitor.
drug
interactions,
beta-carbolines,
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Plantas empregadas no preparo do chá de ayahuasca.......................................................
1
Figura 2. Preparo do chá de ayahuasca por meio de decocção........................................................
2
Figura 3. Estrutura química das β-carbolinas harmina, harmalina e tetrahidroharmina THH e do
alcaloide dimetiltriptamina (DMT)...................................................................................................
4
Figura 4. Cromatograma indicando a presença de moclobemida no material extraído a partir do
medicamento vendido comercialmente como Aurorix®................................................................... 18
Figura 5. Caixa locomotora utilizada para o registro da atividade motora de
camundongos..................................................................................................................................... 22
Figura 6. Formação de 4-hidroquinolina por meio da oxidação da quinuramina pela enzima
MAO, conforme Sant`Anna (2008).................................................................................................. 24
Figura 7. Efeito da administração oral de ayahuasca (aya) sobre a temperatura retal de
camundongos administrados após 30 min com apomorfina............................................................. 27
Figura 8. Efeito da administração i.p. de imipramina (imi) (A) e sertralina (ser) (B) sobre a
temperatura
retal
de
camundongos
administrados
após
30
min
com
apomorfina........................................................................................................................................ 28
Figura 9. Efeito da administração i.p. de moclobemida (moc) sobre a temperatura retal de
camundongos administrados após 30 min com apomorfina............................................................. 29
Figura 10. Efeito da administração de ayahuasca e de imipramina, isoladamente ou em
associação, sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina dada após
30 min do antidepressivo.................................................................................................................. 31
Figura 11. Efeito da administração de ayahuasca e de sertralina isoladamente ou em associação,
sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina dada após 30 min do
antidepressivo.................................................................................................................................... 33
Figura 12. Efeito da administração de ayahuasca e de moclobemida isoladamente ou em
associação, sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina dada após
30 min do antidepressivo.................................................................................................................. 35
Figura 13. Efeito da administração de pargilina isoladamente ou em associação com ayahuasca
sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina ou salina 30 min
depois................................................................................................................................................ 37
Figura 14. Tempo de imobilidade no teste da natação forçada de ratos tratados com
ayahuasca.......................................................................................................................................... 38
Figura 15. Tempo de imobilidade no teste da natação forçada de ratos tratados por via i.p. com
diferentes doses de imipramina e sertralina...................................................................................... 39
Figura 16. Tempo de imobilidade no teste da natação forçada de ratos tratados por via i.p. com
diferentes doses de moclobemida...................................................................................................... 40
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Figura 17. Tempo de imobilidade na natação forçada de ratos tratados por via i.p. com
diferentes doses de pargilina e da tranilcipromina............................................................................ 43
Figura 18. Tempo de imobilidade de ratos no teste da natação forçada. Associação da ayahuasca
com a imipramina.............................................................................................................................. 45
Figura 19. Tempo de imobilidade de ratos no teste da natação forçada. (A) Associação de
ayahuasca com a sertralina; (B) Associação de ayahuasca com a moclobemida............................. 48
Figura 20. Tempo de imobilidade de ratos tratados com ayahuasca e tranilcipromina no teste da
natação forçada.................................................................................................................................. 49
Figura 21. Registro da atividade locomotora de camundongos tratados com ayahuasca,
sertralina, imipramina e moclobemida ou água- grupo controle (ctrl, v.o.)...................................... 50
Figura 22. Ensaios iniciais para a padronização da concentração de substrato, da concentração
de enzima (fração mitocondrial, em mg/ml de proteína) e do tempo de
reação................................................................................................................................................ 52
Figura 23. Ensaios iniciais para avaliar a inibição da atividade da MAO com a pargilina e com a
selegilina. A leitura no fluorímetro foi realizada com excitação de 320/20 e emissão de 460/40
(nm)................................................................................................................................................... 53
Figura 24. Avaliação da fluorescência da ayahuasca isoladamente reproduzindo as mesmas
condições de ensaio, exceto pela adição da fração enzimática e do substrato quinuramina. A
leitura no fluorímetro foi realizada com excitação de 320/20 e emissão de 460/40
(nm)................................................................................................................................................... 54
Figura 25. Ensaios iniciais para avaliar a inibição da atividade da MAO com a ayahuasca
isolada (A) e para avaliar a inibição da atividade da MAO-A pela associação da selegilina 250
nM + diferentes concentrações de ayahuasca (B). A leitura no fluorímetro foi realizada com
excitação de 320/20 e emissão de 460/40 (nm)................................................................................ 55
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Resultado do doseamento do chá de ayahuasca.................................................................. 116
Tabela 2. Doses empregadas na avaliação do efeito dos antidepressivos e do chá de ayahuasca
isoladamente no teste de hipotermia induzida pela apomorfina.......................................................... 20
Tabela 3. Doses utilizadas para avaliação do efeito dos antidepressivos e do chá de ayahuasca
isoladamente no teste da natação forçada............................................................................................ 21
Tabela 4. Número de defecações dos ratos tratados com ayahuasca ou com as drogas
antidepressivas isoladamente no teste da natação forçada.................................................................. 41
Tabela 5. Número de defecações dos ratos tratados com a associação de ayahuasca e diferentes
antidepressivos no teste da natação forçada........................................................................................ 46
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LISTA DE ABREVIATURAS
∆t
Diferença de temperatura
°C
Grau Celsius
µg/ml
Micrograma por mililitro
µl
Microlitro
µM
Micromolar
BDNF
Fato de crescimento derivado do cérebro
BSA
Soro albumina bovina
CI50
Concentração que inibe 50% da resposta
cm
Centímetro
Cmáx
Concentração máxima
CYP
Isoenzimas da superfamília do citocromo P450
D2
Receptor dopaminérgico tipo 2
DMSO
Dimetilsufóxido
DMT
Dimetiltriptamina
g
Grama
g
Força centrífuga relativa
g/ml
Grama por mililitro
HPLC
High performance liquid chromatography
i.p.
Intraperitoneal
IMAO
Inibidor da monoaminoxidase
IMAO-A
Inibidor da monoaminoxidase A
ISRS
Inibidor seletivo da recaptação de serotonina
KCl
Cloreto de potássio
kg
Quilograma
KH2PO4
Fosfato de potássio monobásico
Km
Concentração de substrato para que a enzima atinja metade da sua velocidade máxima
LSD
Dietilamida do ácido lisérgico
m/v
Massa por volume
MAO
Enzima monoaminoxidase
MAO-A
Enzima monoaminoxidase A
MeOH
Metanol
mg
Miligrama
mg/ml
Miligrama por mililitro
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ml
Mililitro
mM
Milimolar
mol/l
Mol por litro
n.s.
Não significativo
Na2HPO4
Fosfato de sódio dibásico
NaOH
Hidróxido de sódio
ng
Nanograma
ng/ml
Nanograma por mililitro
nm
Nanômetro
q.s.p
Quantidade suficiente para
s
Segundos
s.d.
Sem data
SNC
Sistema Nervoso Central
t1/2
Tempo de meia-vida
TCA
Ácido tricloroacético
THH
Tetrahidroharmina
v.o.
Via oral
v/v
Volume por volume
Vmáx
Velocidade da reação máxima
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SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO................................................................................................................
1
1.1
Histórico do Chá de Ayahuasca.........................................................................................
1
1.2
Farmacologia do Chá de Ayahuasca..................................................................................
3
1.3
Depressão e os Antidepressivos.........................................................................................
6
1.4
Modelos Animais de Depressão........................................................................................
11
1.5
Interações do Chá de Ayahuasca com Outras Drogas.......................................................
13
2
OBJETIVOS.....................................................................................................................
15
3
MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................
16
3.1
Chá de Ayahuasca..............................................................................................................
16
3.2
Drogas................................................................................................................................
17
3.3
Animais..............................................................................................................................
18
3.4
Inibição à Hipotermia Induzida pela Apomorfina.............................................................
19
3.4.1
Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente............................................
19
3.4.2
Teste da associação da ayahuasca com os antidepressivos...............................................
20
3.5
Teste da Natação Forçada..................................................................................................
20
3.5.1
Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente............................................
21
3.5.2
Teste da associação da ayahuasca com os antidepressivos...............................................
22
3.6
Medida da Atividade Motora.............................................................................................
22
3.7
Avaliação da Inibição Sobre a Monoaminoxidase (MAO)...............................................
23
3.7.1
Preparação da fração enriquecida em mitocôndrias..........................................................
23
3.7.2
Padronização do ensaio para determinação da atividade da MAO....................................
24
3.7.3
Ensaios iniciais da inibição da monoaminoxidase (MAO) total e MAO-A pela
ayahuasca...........................................................................................................................
25
3.8
Análise Estatística..............................................................................................................
25
4
RESULTADOS.................................................................................................................
27
4.1
Inibição à Hipotermia Induzida pela Apomorfina.............................................................
27
4.1.1
Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente............................................
27
4.1.2
Associação da ayahuasca com os antidepressivos.............................................................
30
4.1.3
Associação da ayahuasca com a pargilina.........................................................................
36
4.2
Teste da Natação Forçada..................................................................................................
38
4.2.1
Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente............................................
38
4.2.2
Associação da ayahuasca com os antidepressivos.............................................................
44
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4.3
Atividade Locomotora.......................................................................................................
49
4.4
Ensaios de Inibição da Monoaminoxidase (MAO)...........................................................
50
4.4.1
Padronização das condições do ensaio..............................................................................
50
4.4.2
Ensaios iniciais da inibição da monoaminoxidase (MAO)...............................................
51
4.4.3
Ensaios iniciais da inibição da monoaminoxidase (MAO) total e MAO-A pela
ayahuasca...........................................................................................................................
54
5
DISCUSSÃO....................................................................................................................
56
6
CONCLUSÃO..................................................................................................................
74
REFERÊNCIAS...........................................................................................................................
75
ANEXO A- Folha de aprovação da Comissão de Ética em Uso Animal......................................
85
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1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Histórico do Chá de Ayahuasca
A ayahuasca é uma bebida preparada em um contexto tradicional na forma de
decocto pela associação de duas plantas primordiais: o cipó (caule) da Banisteriopsis caapi
(Spruce ex Griseb.) Morton (família Malpiguiaceae) e as folhas da Psychotria viridis Ruiz &
Pav (família Rubiaceae) (figura 1) (Tupper, 2008). Embora sua preparação envolva o
cozimento das partes das duas plantas, ou seja, como decocção (figura 2), seu preparado é
chamado vulgarmente de chá (chá de ayahuasca). Ayahuasca é um termo de origem Quechua
(língua do antigo Império Inca) derivado da sobreposição dos termos: Aya “alma”, “espírito
morto” e Huasca “corda”, “videira”, e assim é traduzido livremente como “videira da alma”
ou “cipó dos mortos”. No Brasil, a transliteração desse termo Quechua para o Português
resultou no nome hoasca, sendo aceito também ayahuasca (McKenna, 2004), termo que foi
empregado nesta dissertação.
(A)
(B)
Figura 1. Plantas empregadas no preparo do chá de ayahuasca: (A) Banisteriopsis caapi e (B) Psychotria viridis.
Fonte: Google Images. Acesso em: 07/11/2012.
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2
Figura 2. Preparo do chá de ayahuasca por meio de decocção. Fonte: Google Images. Acesso em: 07/11/2012.
A origem da utilização do chá ocorreu provavelmente em rituais de tribos indígenas
associados ao xamanismo, bem como por vegetalistas curandeiros que praticavam a medicina
popular a base de extratos vegetais nas regiões das bacias do rio Orinoco (Colômbia e
Venezuela) e Amazonas (Bolívia, Brasil, Equador e Peru) em época muito anterior ao
primeiro contato com os europeus (Tupper, 2008; Pires et al., 2010). Nos dias atuais, o chá de
ayahuasca é um importante elemento na etnomedicina e xamanismo praticado entre as
populações mestiças indígenas no Peru, Colômbia e Equador (de Souza, 2011; Bouso et al.,
2012).
Particularmente no Brasil, após o início do ciclo da borracha em 1930, a ayahuasca
começou a ser utilizada em um contexto diferente daquele usado nas tribos indígenas ligadas
ao xamanismo. Isso se deve a um período de urbanização da região norte que permitiu a
interação entre seringueiros e indígenas de tribos xamânicas. Em Rio Branco, capital do Acre,
Raimundo Irineu Serra, ex-seringueiro, conhecido “curador” experimentou a bebida oferecida
por pessoas que tiveram contato com costumes indígenas e começou a ter visões que
mudaram seu comportamento e qualidade de vida (Mac Ray, 1994). Iniciava, então, o
surgimento de movimentos religiosos sincréticos, isto é, a fusão das religiões indígenas com
elementos do Cristianismo, como o Santo Daime, a Barquinha e a União do Vegetal (UDV).
Esses movimentos se assemelham com relação ao preparo do chá, à cerimônia, às regras de
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3
adesão dos membros, a busca de uma facilitação do autoconhecimento e introspecção, bem
como da cura emocional, propósito de vida, e não raro, buscam o abandono de consumo de
drogas de abuso (Winkelman, 2005), porém apresentam diferenças de contexto religioso e
social entre si (Grob et al., 1996). Contudo, foi somente com a adoção da Resolução número
1, de 25 de Janeiro de 2010 do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), que
se estabeleceu um conjunto de regras, normas e princípios éticos a serem aplicados aos usos
religiosos e rituais da ayahuasca. Dentre esses, o estímulo do desenvolvimento de pesquisa
científica sobre os potenciais terapêuticos do uso da ayahuasca (Labate, Cavnar, 2011).
Atualmente, os membros desses grupos sincréticos pertencem a um amplo leque
socioeconômico, que inclui profissionais da área médica e outros profissionais de saúde, bem
como alguns membros com nível menor de instrução, que participam desses movimentos há
mais de 30 anos, sem aparentes efeitos adversos à saúde. Particularmente, as igrejas da UDV
e do Santo Daime são as maiores e as mais conhecidas entre os vários movimentos religiosos
sincréticos que incorporaram o uso da ayahuasca em suas práticas religiosas, com um
destaque ainda maior para a UDV, uma vez que possui uma estrutura organizacional mais
forte, além de membros mais altamente disciplinados (McKenna, 2004). Além disso,
segmentos do Santo Daime, bem como da UDV tem se expandido para além das fronteiras
brasileiras para países como Austrália, Canadá, França, Alemanha, Japão, Holanda, Espanha e
Estados Unidos. Contudo, somente Estados Unidos, Canadá e Holanda possuem leis federais
que protegem o uso religioso da ayahuasca (Tupper, 2008; Bouso et al., 2012), como ocorre
no Brasil.
A necessidade da regularização do consumo do chá de ayahuasca por agências
controladoras de substâncias psicotrópicas, bem como leis federais é decorrente dos efeitos
alucinógenos promovidos pela ação do chá no Sistema Nervoso Central (SNC). Dessa forma,
considera-se fundamental abordar na próxima seção a farmacologia do chá para a
compreensão desses efeitos.
1.2 Farmacologia do Chá de Ayahuasca
A atividade farmacológica da ayahuasca é particularmente interessante e depende do
sinergismo entre as duas plantas: as folhas da Psychotria viridis que possuem o alucinógeno
N,N-dimetiltriptamina (DMT) e o cipó da Banisteriopsis caapi que possui os alcaloides com
estrutura β-carbolina harmina, harmalina e a tetrahidroharmina (THH) - ver figura 3
(Callaway et al., 1999; McKenna, 2004).
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4
Harmina
Dimetiltriptamina
(DMT)
Harmalina
Tetrahidroharmina
(THH)
Serotonina
(5-hidroxitriptamina, 5-HT)
Figura 3. Estrutura química das β-carbolinas harmina, harmalina e tetrahidroharmina THH e do alcaloide
dimetiltriptamina (DMT). Observar grupamento indólico da DMT e semelhança com o neurotransmissor
serotonina (à direita), substrato da MAO. Adaptado de Callaway et al. (1999).
A DMT é considerada um potente alucinógeno quando administrada por via
parenteral em humanos, pois provoca modificações intensas, embora de curta duração, no
sentido de si mesmo e na percepção da realidade (Strassman et al., 1994). Em preparações
contendo apenas a Psychotria viridis (ou outras plantas com teor de DMT) usadas por via oral
o efeito alucinógeno é muito reduzido ou ausente devido a sua rápida metabolização pela
enzima monoaminoxidase A (MAO-A) (Callaway et al., 1999). Por outro lado, os alcaloides
da Banisteriopsis caapi harmina, harmalina e a THH atuam como inibidores reversíveis da
monoaminoxidase A (IMAO-A) (Herraiz et al., 2010; Wang et al., 2010). Assim, a atividade
alucinógena do chá de ayahuasca ocorre em função do sinergismo entre os princípios ativos
das duas plantas, sendo dependente da inibição da MAO-A na luz intestinal pelos alcaloides
da Banisteriopsis caapi, principalmente a harmina e a harmalina. Essa ação impede a
desaminação/oxidação da DMT, que irá ser absorvida, por conseguinte, aumentando sua
biodisponibilidade por via oral, até alcançar seu local de ação no SNC de forma intacta e em
concentrações que propiciam seus efeitos alucinógenos (Callaway, 2003; McKenna, 2004).
Os efeitos alucinógenos promovidos pela ingestão do chá foram avaliados por meio
da Escala de HRS (Hallucinogen Rating Scale) que permite medir níveis de alucinação, além
de um questionário de autoavaliação e da Escala Visual Analógica. Os efeitos alucinógenos
subjetivos constatados incluem um estado alterado de consciência, variando entre
visualizações de imagens coloridas com os olhos fechados, modificação de processos
cognitivos, perceptivo-sensoriais e afetivos (Callaway et al. 1999; Riba et al., 2003). Estes
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mesmos autores constataram que a duração do efeito alucinógeno coincidiu com os valores
farmacocinéticos plasmáticos obtidos para a DMT e para as β-carbolinas. Especificamente, a
concentração máxima (Cmáx) de DMT foi de 15,8 ng/ml e ocorreu 107 minutos após a
ingestão do chá, com um tempo de meia vida (t1/2) de 259 minutos. Em relação aos alcaloides
da Banisteriopsis caapi harmina e harmalina, a Cmáx foi de 114,8 e 6,3 ng/ml, obtidas após
102 e 145 minutos, respectivamente. Já os t1/2 constatados foram de 115,6 minutos para a
harmina enquanto para a harmalina não foi determinado, provavelmente por diferenças
individuiais na absorção e no metabolismo ou devido à êmese causada pela ingestão da
ayahuasca (Callaway et al., 1999).
Os efeitos alucinógenos da DMT são atribuídos a sua ação agonista com o receptor
serotonérgico 5-HT2A (Pierce, Peroutka, 1989; Smith et al., 1998). Além disso, a DMT age
como um potente agonista nos receptores de serotonina 5-HT1A e também como um agonista
parcial do receptor 5-HT2C (Deliganis et al., 1991; Smith et al., 1998). Por outro lado,
Glennon et al. (2000) constataram que as β-carbolinas ligam-se com uma afinidade modesta
aos receptores 5-HT2A e o 5-HT2C e possuem afinidade muito baixa com o receptor 5-HT1A.
Segundo Pires et al. (2010), as β-carbolinas, por si só, poderiam contribuir com os efeitos
alucinógenos induzidos pela ayahuasca, porém as quantidades de β-carbolinas presentes numa
dose de ayahuasca estão bem abaixo do limiar de sua atividade alucinogênica própria, que
correspondem a 100 mg para harmina e entre 300 e 500 mg para harmalina e para a THH.
Chama a atenção, que apesar dos efeitos alucinógenos induzidos pelo chá de
ayahuasca, estudos clínicos sugerem que o consumo de chá possa reduzir a reincidência do
uso de drogas de abuso, além de não comprometer a saúde mental e a cognição de
adolescentes e adultos (Grob et al., 1996; Doering-Silveira et al., 2005; Barbosa et al., 2009;
Bouso et al., 2012; dos Santos, 2013). Neste sentido, Fábregas et al. (2010) avaliaram dois
grupos distintos que consumiam o chá de ayahuasca regularmente, e não constataram
dependência ao aplicarem o Addiction Severity Index (ASI). Sabe-se que as drogas de abuso
como a heroína, a cocaína, o álcool ou anfetaminas compartilham de um mecanismo comum
denominado como “sistema de recompensa”, induzindo mudanças funcionais em estruturas
cerebrais relacionadas ao prazer, como a área tegmental ventral, de transmissão
dopaminérgica (Camí, Farré, 2003). Riba et al. (2002) apontam que o chá de ayahuasca possui
ação no sistema dopaminérgico, entretanto, um estudo de neuroimagem realizado
posteriormente pelo mesmo grupo constatou que a ayahuasca induziu uma ativação em
estruturas paralímbicas e pré-frontais relacionadas à interocepção e processamento emocional,
moduladas pelo sistema serotonérgico (Riba et al., 2006). Corroborando com esses resultados,
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de Araujo et al. (2012) constataram por meio de técnicas de neuroimagem aliadas a tarefas
visuais que usuários regulares de ayahuasca, ao ingerirem 2,2 ml/kg do chá, apresentaram a
ativação de um conjunto de áreas da região occipital, temporal e frontal relacionadas
respectivamente com a visão, memória e intenção e que são mediadas pela ativação de
receptores serotonérgicos.
Apesar dessas evidências benéficas em relação ao consumo do chá de ayahuasca
apresentadas por Grob et al. (1996), Doering-Silveira et al. (2005), Fábregas et al. (2010) e
Bouso et al. (2012), ainda há uma carência de estudos pré-clínicos e clínicos em relação à
segurança do uso agudo ou crônico do chá de ayahuasca (McKenna, 2004; dos Santos et al.,
2011). Em particular, são carentes as informações sobre a potencial interação dos
componentes ativos do chá com outras drogas (Callaway et al., 1999; Mckenna, 2004; Pires,
2009). Este tipo de abordagem é essencial, considerando que o chá é rico em DMT e carbolinas IMAO-A, e pode ser utilizado por pessoas com problemas de humor, inclusive
pacientes depressivos em tratamento farmacológico com drogas antidepressivas.
1.3 Depressão e os Antidepressivos
A depressão tem sido descrita pela humanidade há milênios. O diagnóstico dessa
patologia, ao contrário de doenças como diabetes e câncer não se baseia em testes
diagnósticos objetivos como exames de bioquímica sérica ou biópsias, e sim, pela avaliação
de um conjunto de sintomas altamente variáveis (Nestler et al., 2002; Krishnan, Nestler,
2008). Esses sintomas se caracterizam por pelo menos duas semanas de humor deprimido ou
perda de interesse, acompanhados por pelo menos cinco sintomas adicionais de depressão,
como: apatia, tristeza, irritabilidade, desesperança, distúrbios do sono e do apetite,
sentimentos de culpa e inutilidade, e nos casos mais graves pensamento recorrente de morte
(Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders, 1994). Atualmente, mais de 350
milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, a qual afeta mais as mulheres do que os
homens. Em longo prazo e com uma intensidade de moderada a severa, a depressão é a
principal causa de incapacidade no mundo, uma vez que afeta negativamente as pessoas no
seu ambiente de trabalho, na escola e no convívio familiar (Organização Mundial da Saúde,
2012).
O tratamento da depressão foi revolucionado há 50 anos quando duas classes de
agentes foram descobertas ao acaso como antidepressivos efetivos: os agentes tricíclicos,
como a imipramina (inibidor não seletivo da recaptação de serotonina e noradrenalina), que
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originalmente surgiram a partir da pesquisa de anti-histamínicos, e os inibidores da enzima
monoaminoxidase (enzima de degradação da serotonina e noradrenalina), como a iproniazida,
que foi originalmente usada para tratar a tuberculose (Nestler et al., 2002). Paralelamente,
outros pesquisadores observaram que a reserpina, um agente usado para tratar a hipertensão,
produzia uma série de sintomas depressivos nos pacientes, devido à depleção dos estoques de
noradrenalina e serotonina no encéfalo (Krishnan, Nestler, 2008). Essas descobertas
forneceram as primeiras pistas para o tratamento da depressão, pois trouxeram à tona as
mudanças neuroquímicas que regulam os sintomas depressivos. Sendo assim, alguns
pesquisadores propuseram a teoria monoaminérgica, na qual argumentavam que a depressão
era uma consequência do déficit funcional das monoaminas noradrenalina e serotonina em
locais específicos do encéfalo (Hindmarch, 2001).
A teoria monoaminérgica foi referência pelos anos subsequentes para o entendimento
da neurobiologia da depressão, bem como serviu de base para a busca de novos medicamentos
antidepressivos, de modo que, após o surgimento destes primeiros medicamentos
antidepressivos ocorreu o desenvolvimento de vários medicamentos de segunda geração,
como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) (Hindmarch, 2001; Nestler et
al. 2002). De forma geral, os antidepressivos apresentam metabolismo de primeira passagem,
o que faz com que sua biodisponibilidade fique em torno de 40 a 70%. Todos eles sofrem
biotransformação no fígado, que pode resultar, em alguns casos, em metabólitos ativos. Além
disso, os antidepressivos apresentam meia-vida longa, o que permite a sua utilização em dose
única diária, de preferência à noite para aqueles com efeito sedativo e pela manhã para os que
apresentam efeito de aumentar o estado de alerta (Rang et al. 2007).
Particularmente, os antidepressivos da categoria dos IMAOs promovem o aumento
das concentrações citoplasmáticas das monoaminas endógenas serotonina, noradrenalina e
dopamina, bem como da amina exógena proveniente da dieta, a tiramina. Isso ocorre, pois a
MAO age na degradação dessas monoaminas, logo é uma enzima crítica na regulação dos
níveis das mesmas (Wimbiscus et al., 2010). A MAO existe em duas formas moleculares
semelhantes codificadas por genes separados, denominadas como MAO-A e MAO-B, e estas
isoformas se distribuem de forma variada pelos tecidos corporais (Youdim et al. 2006). A
MAO-B é encontrada principalmente no encéfalo e no fígado, enquanto a MAO-A é
encontrada principalmente no trato intestinal, fígado e neurônios adrenérgicos periféricos
(glândulas supra-renais, vasos arteriais e os nervos simpáticos), embora esteja presente
também no SNC onde tem papel fundamental. Esta última metaboliza preferencialmente a
serotonina e a noradrenalina e está relacionada mais diretamente com a atividade
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antidepressiva dos IMAOs (Fiedorowicz, Swartz, 2004; Youdim et al., 2006). Os IMAOs
irreversíveis, como a tranilcipromina e a iproniazida, estiveram entre os primeiros fármacos
introduzidos clinicamente como antidepressivos. Entretanto, foram superados pelos tricíclicos
e outros tipos de antidepressivos, cujas eficácias clínicas foram consideradas melhores e com
efeitos colaterais, em geral, menores do que os dos IMAOs (Wimbiscus et al., 2010). Um dos
grandes problemas do emprego dos IMAOs irreversíveis é a interação com aminas
simpatomiméticas, particularmente a tiramina. Essa substância, presente em grandes
quantidades nos queijos fortes, certas carnes e no vinho tinto, atua indiretamente, liberando a
noradrenalina em seus terminais. Normalmente, a tiramina é degradada pela MAO, presente
de forma abundante nas paredes intestinais e no fígado, mas com a inibição dessa enzima
pelos IMAOs sua degradação é inibida e a grande quantidade de tiramina que atinge a
circulação sistêmica pode causar ativação exagerada do sistema simpático, como o
aparecimento de crises hipertensivas (Youdim et al., 2006; Wimbiscus et al., 2010). Estes
efeitos indesejados puderam ser melhor controlados após o desenvolvimento dos inibidores
reversíveis da MAO-A, como a moclobemida. Este composto tem ação curta e a meia-vida de
recuperação da enzima após seu uso é de 16-20 horas. A dose terapêutica efetiva em estudos
de fase mais aguda foi de 300 a 600 mg, divididos em 2 a 3 doses, sendo que nestas condições
não foram relatadas reações significativas devido a dietas ricas em tiramina (Bonnet, 2003).
A escolha do antidepressivo adequado para cada paciente deve ser feita com cautela.
Os efeitos colaterais relatados com a utilização isolada dos IMAOs incluem a hipotensão,
boca seca, visão embaçada, sonolência, tontura, insônia e, em superdosagem, convulsões e
excitação, embora com menor risco do que com os tricíclicos (Fiedorowicz, Swartz, 2004).
Do ponto de vista de interações farmacológicas, os IMAOs podem interagir com a petidina
(um analgésico opiáceo), causando hiperpirexia intensa, com agitação, coma e hipotensão
(Gillman, 2005). Além disso, a interação farmacodinâmica dos IMAOs com a imipramina e
com os ISRS pode ser letal (Richelson, 2001), uma vez que a estimulação excessiva de
receptores serotonérgicos promovidos por tais interações em nível central pode ocasionar
sintomas da síndrome serotonérgica, na qual incluem mudanças no estado mental e motor,
além de uma instabilidade autonômica (Boyer, Shannon, 2005).
Os antidepressivos da categoria dos tricíclicos ainda são amplamente usados. Eles
atuam inibindo a recaptação tanto de noradrenalina como de serotonina por competição pelo
sítio ativo de ligação do transportador dessas monoaminas (Richelson, 2001). Os efeitos
colaterais dos tricíclicos incluem sedação, confusão e falta de coordenação motora em
pacientes com depressão nos primeiros dias de tratamento, mas tendem a desaparecer ou
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diminuir em 1-2 semanas, quando se desenvolve o efeito antidepressivo (Rang et al. 2007).
Dentre os medicamentos dessa categoria, a imipramina apresenta um t1/2 aproximadamente de
28 horas (Richelson, 2001) e a dose diária para o tratamento da depressão é de 75 a 300 mg,
(Fuller, Sajatonic, 1999). A superdosagem está associada a uma grande taxa de morbidade e
mortalidade em decorrência da toxicidade cardiovascular que os tricíclicos apresentam
(Thanacoody, Thomas, 2005). Alguns dados na literatura apontam que tricíclicos
potencializam os efeitos agudos do álcool (Boyce-Rustay et al., 2008), bem como postula-se
que quando aplicados localmente possam potencializar os efeitos de drogas analgésicas por
compartilhar o mecanismo de bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem, fato que
justifica seu uso como adjuvante em anestesias odontológicas (Movassaghian et al., 2013).
Diante disso, existia uma grande necessidade de fármacos que produzissem menos
efeitos colaterais e que apresentassem menos riscos com a superdosagem. Isso levou à
introdução dos ISRS que são o grupo de antidepressivos mais comumente prescritos hoje em
dia, o qual inclui a fluoxetina, a sertralina, a paroxetina, o citalopram, entre outros. Dentre
esses ISRS citados, a sertralina é o segundo mais potente inibidor da recaptação de serotonina,
bem como inibe fracamente o transportador de dopamina (Stahl et al., 2013). Além disso, a
sertralina apresenta sua dose máxima diária de 200 mg, uma vez ao dia ou em doses
fracionadas, com o t1/2 de aproximadamente 26 horas (Hiemke, Härtter, 2000). Os ISRS são
tão eficazes quanto os tricíclicos e os IMAOs para tratar depressão de grau moderado, mas
provavelmente menos eficazes que os tricíclicos em tratar depressão severa (de Silva,
Hanwella, 2012). O uso dos ISRS para o tratamento da depressão em pacientes abaixo de 18
anos de idade necessita de cautela, uma vez que a eficácia desses agentes é duvidosa e podem
ocorrer efeitos colaterais como excitação, insônia, agressividade e um alto risco de suicídio
nas primeiras semanas de tratamento (Oberlander, Miller, 2011). Os efeitos colaterais
promovidos pelos ISRS são náuseas, anorexia, insônia, perda de libido e incapacidade de ter
orgasmo (Richelson, 2001), e em combinação com um IMAO-A ou IMAO inespecífico
(Izumi et al., 2006; Degner et al., 2010) ou com a eletroconvulsoterapia (Okamoto et al.,
2012) os ISRS podem causar a síndrome serotonérgica, caracterizada por tremor, hipertermia,
colapso cardiovascular e causar a morte (Boyer, Shannon, 2005). Além disso, uma
característica importante dos ISRS, como a fluoxetina e a fluvoxamina, é o seu potencial para
interações medicamentosas farmacocinéticas, pois inibem isoenzimas da superfamília do
citocromo P450 (CYPs) como a CYP2D6, responsável pela metabolização de muitas outras
drogas (Hiemke, Härtter, 2000).
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É importante citar que além das drogas antidepressivas existem outras formas de
terapia não farmacológica para o tratamento da depressão como a eletroconvulsoterapia e as
terapias comportamentais e cognitivas, que se mostram eficazes em pacientes com casos de
depressão leve a moderada. Além disso, a combinação de medicação antidepressiva e
psicoterapia pode exercer um efeito sinérgico positivo no tratamento da depressão. Contudo,
embora o tratamento com antidepressivos seja a primeira linha de terapia para o tratamento da
depressão, a ação antidepressiva desses medicamentos surge em torno de 2 a 3 semanas de
tratamento, o que leva muitas pessoas a abandonarem o tratamento (Hindmarch, 2001;
Krishnan, Nestler, 2008).
Pesquisas recentes têm combinado técnicas comportamentais, moleculares e
eletrofisiológicas com o objetivo de melhorar o entendimento da fisiopatologia e da etiologia
da depressão. Essas pesquisas revelaram que certos aspectos da depressão são resultado de
mudanças neuroplásticas inadequadas, induzidas pelo estresse crônico em circuitos neurais
específicos como o hipocampo (Castrén, Rantamäki, 2010; Larsen et al., 2008; Segawa et al.,
2013). O estresse crônico ocasiona uma desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal o
que resulta na síntese e na liberação exacerbada de cortisol que, por sua vez, diminui as
concentrações de neutrofinas, tal como o fator de crescimento derivado do cérebro (BDNF)
(Krishnan, Nestler, 2008). O BDNF é o fator de crescimento mais prevalente no sistema
nervoso central e é essencial tanto para o desenvolvimento como para a plasticidade neuronal
(Autry, Monteggia, 2012). Neste sentido, Larsen et al. (2008) constataram que a imipramina
induziu mudanças na plasticidade neural por meio da regulação do BDNF no hipocampo
durante 14 e 21 dias de tratamento em ratos, o que explicaria, no caso, o fato da ação
antidepressiva da imipramina levar semanas para se desenvolver.
Contudo, o progresso em revelar os mecanismos neuroquímicos da depressão é
limitado pela falta de bons modelos animais, pois a maioria dos sintomas principais da
depressão, como o humor deprimido e sentimento de inutilidade são dificilmente mensurados
em modelos animais de laboratório (Nestler et al., 2002). Apesar destas ressalvas, alguns
procedimentos produzem em animais estados comportamentais típicos da depressão humana e
tem se mostrado adequados para a pesquisa de novas drogas (Cryan et al., 2002). Qualquer
teoria da depressão tem de levar em conta o fato de que os efeitos bioquímicos diretos dos
antidepressivos aparecem muito rapidamente, enquanto o efeito antidepressivo (melhora de
humor) leva semanas para se desenvolver (Krishnan, Nestler, 2008). Nesse sentido, a
utilização de modelos animais comportamentais e farmacológicos de depressão representa
uma importante ferramenta para detectar novas drogas antidepressivas, bem como para
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realizar uma investigação de circuitos neurais envolvidos na depressão (Andreatini et al.,
2006). O próximo tópico discute um pouco sobre os modelos animais de depressão e sua
importância para o estudo da doença e de drogas antidepressivas.
1.4 Modelos Animais de Depressão
Um exemplo da utilidade dos modelos animais é seu uso na investigação dos
mecanismos de ação de drogas, bem como na investigação da neurobiologia dos transtornos
mentais (Andreatini et al., 2006). Embora amplamente utilizados na pesquisa biomédica, seu
uso na psiquiatria, particularmente o dos modelos animais de psicopatologia, é dificultado
pelas características peculiares dos distúrbios mentais, uma vez que, esses modelos são
limitados à observação de alterações comportamentais, enquanto que no ser humano muitas
vezes são os aspectos subjetivos como alucinações, delírios, tristeza e culpa que predominam
nos distúrbios mentais (Guimarães, 1993; Nestler, Hyman, 2010).
Particularmente na depressão, os modelos animais são ferramentas indispensáveis na
busca de identificar novas drogas antidepressivas e fornecer informações com a finalidade de
elucidar os mecanismos da neurobiologia da depressão. Alguns modelos animais com
diferentes graus de sensibilidade aos efeitos de agentes antidepressivos são: o teste da natação
forçada, o teste da suspensão da cauda, o desamparo aprendido, o estresse crônico moderado e
o teste de inibição à hipotermia induzida por doses elevadas de apomorfina (Porsolt et al.
1991; Weiss, Kilts, 1998; Cryan et al. 2002), entre outros. Os critérios mais importantes para
validar tais modelos são: 1) alta sensibilidade a diferentes tipos de antidepressivos (ausência
de falsos negativos) e ao mesmo tempo 2) alta seletividade (ausência de falsos positivos)
(Porsolt et al., 1991). Além disso, as drogas devem apresentar relação de potência entre os
efeitos observados no modelo e na clínica, bem como o modelo deve ser reprodutível em
diferentes laboratórios (McKinney, Bunney, 1969 apud Cryan et al., 2002). Segundo Willner
(1984) e Nestler e Hyman (2010) é possível ainda mencionar três tipos de validade que devem
ser consideradas na elaboração de um modelo animal para os distúrbios neuropsiquiátricos
como a depressão: (1) a validade preditiva (farmacológica), significa que um modelo
responde aos tratamentos de uma forma que prevê os efeitos desses tratamentos em seres
humanos; (2) a validade de face, indica que um modelo recapitula importantes características
anatômicas, bioquímicas, neuropatológicos ou comportamentais de uma doença humana; (3) a
validade de construção (etiologia) refere-se em reproduzir nos animais os processos
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etiológicos que causam a doença em humanos e assim replicar características
comportamentais e neurais da doença.
No teste da natação forçada os ratos são forçados a nadar em tanque cilíndrico onde
não há escape, com isso tendem a adotar rapidamente uma postura de imobilidade, realizando
somente movimentos necessários para manter o focinho fora da água. Porsolt et al. (1978)
sugeriram que a imobilidade reflete um estado de humor depressivo em que os animais
perderam a esperança de encontrar uma saída e desistem de escapar. Segundo Weiss e Kilts
(1998), trata-se de um modelo homólogo de depressão, ou seja, que induz nos animais algum
comportamento que se assemelha ao quadro observado na clínica. Embora muito criticado,
permanece o fato que a imobilidade induzida pelo teste da natação forçada é atenuada por
uma vasta gama de antidepressivos (Porsolt et al. 1991). Por outro lado, o teste da inibição a
hipotermia induzida pela apomorfina é um modelo baseado em interações farmacológicas (do
antidepressivo com a apomorfina). Ao contrário da natação forçada, neste modelo não há
qualquer analogia entre o efeito induzido e a depressão, e sim é baseado na observação de que
drogas antidepressivas de algumas categorias podem inibir ou reverter à hipotermia induzida
farmacologicamente. A apomorfina é uma droga que induz hipotermia, estereotipia e
comportamento de escalar em camundongos colocados em gaiolas de arame, por meio de sua
ação agonista com receptores dopaminérgicos. A hipotermia induzida por doses baixas da
apomorfina (1 mg/kg) é inibida pela utilização de drogas neurolépticas (Neves et al., 2013).
Os antidepressivos, por outro lado, antagonizam a hipotermia induzida por altas doses de
apomorfina (10 e 16 mg/kg) sem afetar a estereotipia ou comportamento de escalar. Com isso
se detecta a atividade do antidepressivo (Puech et al. 1978; Porsolt et al. 1991).
Desse modo, os dois modelos escolhidos para este trabalho podem ser considerados
complementares. O teste da natação forçada permite a avaliação da ação antidepressiva do
ponto de vista farmacológico e comportamental, enquanto no teste da hipotermia induzida
pela apomorfina a avaliação do efeito das drogas se dá por mecanismos que dependem
sobretudo de alteração de respostas fisiológicas. A pré-administração de ayahuasca em
animais tratados com drogas antidepressivas e submetidos aos modelos animais descritos
permite tanto a avaliação de uma possível potencialização de efeito das drogas, como a
investigação de mecanismos fisiológicos envolvidos com este processo. Ainda que este estudo
seja baseado em modelos animais, tais resultados podem fornecer grande subsídio para
futuros estudos clínicos. Saber se a ayahuasca modifica o efeito dos antidepressivos e em que
proporção, é de grande relevância para políticas públicas de saúde, em especial na orientação
de médicos e na medicação de pacientes com transtornos de humor e que são usuários do chá
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de ayahuasca. Nesse sentido, o próximo tópico abordará alguns dados na literatura sobre a
interação dos componentes do chá de ayahuasca com outras drogas.
1.5 Interações do Chá de Ayahuasca com Outras Drogas
Aparentemente, o uso regular e a longo prazo do chá de ayahuasca modula o sistema
de neurotransmissão serotonérgico (McKenna, 2004), pois foi constatado em pessoas que
consumiam o chá regularmente há mais de dez anos uma elevada densidade dos
transportadores de serotonina nas plaquetas e no cérebro (Callaway et al., 1994). Além disso,
foi constatado em estudos de neuroimagem (como já citados anteriormente) que a ayahuasca
induziu a ativação de estruturas específicas no encéfalo moduladas pela ativação de receptores
serotonérgicos (Riba et al., 2006; de Araujo et al., 2012).
Postula-se que o chá de ayahuasca possa ter efeitos positivos e terapêuticos no humor
e psiquismo de pessoas com problemas psiquiátricos (Grob et al., 1996; Doering-Silveira et
al., 2005), uma vez que déficits serotonérgicos (e de outras monoaminas) estão
correlacionados com a depressão (Meyer et al. 2006; Krishnan, Nestler, 2008). Entretanto,
outros efeitos poderiam ser esperados da associação do chá com outras drogas, bem como
medicamentos utilizados na psiquiatria, uma vez que é bem conhecida a ação inibitória da
MAO-A pelas β-carbolinas e pelo fato do alucinógeno DMT ser um potente agonista de
receptores serotonérgicos. Nesse sentido, são carentes as informações sobre a potencial
interação dos componentes ativos do chá com outras drogas (Callaway et al., 1999; Mckenna,
2004; Pires, 2009).
Em um dos poucos estudos encontrados na literatura científica, Pires (2009),
utilizando modelos animais de psicofarmacologia, relata a interação do chá de ayahuasca com
a morfina e o propofol, drogas anestésicas muito utilizadas em cirurgias. O estudo sugere que
a interação possa ter ocorrido na metabolização das drogas estudadas, mas não avaliou o
efeito do chá de ayahuasca sobre a atividade de enzimas de metabolização, seja a MAO-A ou
enzimas do sistema P450. Contudo, a afinidade dos alcaloides β-carbolínicos por isoenzimas
do sistema P450, em especial o subtipo CYP2D6 já é bem documentado (Yu et al., 2003). As
enzimas do sistema P450 são as principais responsáveis pela metabolização da maioria dos
agentes farmacológicos, de forma que interações com este sistema podem alterar
significativamente a biodisponibilidade de drogas (Hiemke, Pfuhlmann, 2012; Rahimi,
Abdollahi, 2012). Várias substâncias de origem vegetal, incluindo algumas presentes em
alimentos e fitoterápicos já foram descritas como inibidores ou indutores de enzimas do
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sistema citocromal, como é o caso do Hypericum perforatum, usado como antidepressivo
(Roby et al., 2000), e com os sucos de “grape fruit” e maçã, entre outros (Nowack, 2008;
Farkas et al., 2008).
Dessa forma, o estudo da interação do chá de ayahuasca com outras drogas, como os
antidepressivos, é de grande importância, pois considerando a ação IMAO-A das β-carbolinas
presentes no chá de ayahuasca, bem como o efeito agonista da DMT sobre o sistema
serotonérgico, é de se esperar que a associação do chá com antidepressivos (IMAO ou outras
categorias) leve a uma potencialização dos efeitos destes. Por exemplo, a estimulação
excessiva de receptores serotonérgicos em nível central e periférico pode induzir a síndrome
serotonérgica, que é caracterizada por uma série de efeitos adversos como mudanças no
estado mental, hiperatividade autonômica e anormalidades neuromusculares (Boyer, Shannon,
2005).
Este estudo em particular, fundamenta-se no fato de que o número de participantes
das religiões ayahuasqueiras tem crescido nos últimos anos, assim como o número de
trabalhos que advertem para a potencial interação do chá com certos agentes farmacológicos.
Ao mesmo tempo, constata-se que a automedicação com agentes utilizados em psiquiatria,
principalmente ansiolíticos e antidepressivos, também tem crescido consideravelmente.
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2 OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo foi avaliar se o chá de ayahuasca interfere no efeito de
drogas antidepressivas de diferentes categorias:

imipramina (antidepressivo tricíclico, inibidor não-seletivo da recaptação de
serotonina e de noradrenalina), sertralina (inibidor seletivo da recaptação de
serotonina); e moclobemida (inibidor reversível da MAO-A). Também foi avaliado o
efeito da associação de ayahuasca com as drogas pargilina (inibidor irreversível da
MAO-B) e tranilcipromina (inibidor irreversível não-seletivo da MAO-A e da MAOB).
Para tanto, procurou-se avaliar:

A atividade in vitro da monoaminoxidase na presença do chá de ayahuasca
isoladamente e após pré-incubação com a selegilina (inibidor irreversível seletivo da
MAO-B);

A atividade por si só do chá de ayahuasca e efeito de sua interação com drogas
antidepressivas em modelos animais de depressão.
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3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Chá de Ayahuasca
Foi empregada amostra de ayahuasca gentilmente cedida por ex-integrante da União
do Vegetal (UDV), em São Paulo, preparada por decocção (cozimento do cipó de B. caapi e
folhas de P. viridis). O material em questão já foi utilizado em estudos prévios e submetido à
análise química que confirmou a presença de DMT e de -carbolinas em concentrações
correspondentes àquelas descritas em literatura, conforme mostram os dados da tabela 1
(Pires, 2009). O chá foi liofilizado e armazenada em dessecador à 10 oC para melhor preservar
sua integridade e facilitar a posterior preparação nas concentrações desejadas. Na ocasião dos
testes in vivo, o chá liofilizado foi solubilizado em água destilada e administrado aos animais
por via oral (v.o.), por gavagem. No caso dos testes in vitro o chá liofilizado foi solubilizado
em tampão de incubação, cuja composição será descrita mais a frente.
A escolha da dose unitária do chá de ayahuasca utilizada neste estudo foi baseada nas
doses médias consumidas pelo homem durante um ritual, estipulada em cerca de 70 ml (Pires,
2009). Considerando que a liofilização de 100 ml do chá de ayahuasca produziu um
rendimento de 12 g, ou seja, encontra-se na concentração de 0,12 g/ml, a dose média
consumida nos rituais seria de 8,4 g de sólido (em 70 ml de chá). Para um indivíduo adulto de
70 kg (peso médio) isto equivale a 120 mg/kg (8,4 g/70 kg), dose que foi escolhida como a
dose unitária do trabalho.
Tabela 1. Resultado do doseamento do chá de ayahuasca, conforme Pires (2009).
Quantificação dos constituintes químicos do chá de ayahuasca
Substância
Concentração
Dimetiltriptamina
0,38 mg/ml
Tetrahidroharmina
1,67 mg/ml
Harmina
0,32 mg/ml
Harmalina
0,12 mg/ml
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3.2 Drogas
Os seguintes sais e demais reagentes foram utilizados: fosfato de sódio dibásico
(Na2HPO4) (J.T. Baker), fosfato de potássio monobásico (KH2PO4) (Sigma), cloreto de
potássio (KCl) (Mallinckrodt Chemicals), sacarose (Synth), ácido tricloroacético (TCA) e
hidróxido de sódio (NaOH). Para a determinação da concentração de proteína foi utilizado o
reativo de Biureto e o ácido deoxicólico (Sigma), além de albumina (Sigma) como padrão.
Também foram utilizados os seguintes antidepressivos: cloridrato de imipramina
(antidepressivo tricíclico; inibidor não-seletivo da recaptação de serotonina e noradrenalina –
marcas Cristália e Biosintética), cloridrato de sertralina (inibidor seletivo da recaptação de
serotonina – Biosintética), moclobemida (inibidor reversível da MAO-A – Aurorix®, Roche),
pargilina (inibidor irreversível da MAO-B – Sigma), tranilcipromina (inibidor irreversível
não-seletivo da MAO-A e da MAO-B – Sigma). Cloridrato de apomorfina (agonista do
receptor dopaminérgico D2 – Sigma) foi utilizada como droga indutora de hipotermia.
Selegilina (deprenil hidrocloreto, Research Biochemicals Inc.) foi empregada como inibidor
seletivo da MAO-B nos ensaios in vitro.
Todas as drogas empregadas nos testes in vivo foram solubilizadas em salina a 0,9%
e administradas aos animais por via intraperitoneal (i.p.). A moclobemida, em particular, foi
solubilizada em salina 0,9% contendo 5% de dimetilsulfóxido (DMSO) ou Tween 80. Já nos
ensaios in vitro as drogas foram solubilizadas em tampão de incubação (ver descrição à
frente), com auxílio de DMSO quando era o caso.
A moclobemida foi extraída de comprimidos do medicamento vendido
comercialmente por meio do método de purificação adaptado de Villarinho et al. (2012).
Inicialmente o revestimento do comprimido foi removido com o auxílio de uma espátula,
sendo em seguida os comprimidos triturados. O pó obtido foi solubilizado em solução
contendo água e diclorometano (CAAL) em volumes iguais (± 20 ml) e em seguida foi
realizada a filtração a vácuo para remoção dos excipientes insolúveis. O filtrado foi
transferido para uma proveta e submetido a agitação intensa durante 1 minuto, sendo logo em
seguida transferido para um funil de separação e mantido em repouso por alguns minutos. A
fase aquosa (contendo os excipientes) foi descartada e a fase orgânica (contendo a droga de
interesse) foi reservada. O processo foi repetido quatro vezes e ao final o resíduo seco foi
obtido por evaporação do solvente.
A efetividade do processo e pureza da droga foi avaliada por cromatografia líquida
de alta eficiência (High-Performance Liquid Chromatography, HPLC) (Waters) e indicou que
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o procedimento de extração / purificação foi satisfatório, conforme indicado pelo
cromatograma da figura 4. Para tanto, utilizou-se uma coluna C18 (5 µm, 150 x 4,6 mm);
isocrático; fluxo de leitura 1 ml/min; A detecção foi realizada em 239 nm. A fase móvel
consistiu de 25% de KH2PO4 10 mM com 1% de trietilamina (pH 3,9) e 75% de acetonitrila
(Tedia) + água (83:17, v/v). A amostra (1 mg/ml) foi diluída em metanol (MeOH) (Tedia)
com 10 minutos de leitura. O tempo de retenção do pico principal do cromatograma (1.727)
corresponde a 96% da área sob a curva. A condição cromatográfica descrita foi adaptada de
Plenis et al. (2007) e Rakic et al. (2007).
Figura 4. Cromatograma indicando a presença de moclobemida (Pico 1,727) no material extraído a partir do
medicamento vendido comercialmente como Aurorix®.
3.3 Animais
Foram utilizados ratos Wistar e camundongos Suíços, machos, adultos jovens (2-5
meses), provenientes do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais (CEDEME)
da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O peso dos ratos variou de 250 a 530
gramas e dos camundongos de 32 a 59 gramas. Os testes comportamentais (in vivo) foram
realizados no Departamento de Psicobiologia da UNIFESP, e os animais foram habituados ao
local do experimento pelo menos 7 dias antes das avaliações para evitar interferências
referentes ao transporte e readaptação. Os animais ficaram alojados em caixas com água e
ração ad libitum em salas com ciclo claro-escuro controlado (12h) e controle de temperatura.
As administrações das drogas testadas foram feitas no volume de 0,1 ml/10g (camundongos)
ou 0,1 ml/100g (ratos). O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Uso Animal
(CEUA) da Universidade Federal do ABC (UFABC), sendo registrado sob o número 11/2011
(ANEXO A).
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3.4 Inibição à Hipotermia Induzida pela Apomorfina
Neste teste foram empregados camundongos Suíços (n = 5-9 / grupo) e um
termômetro digital (Temp JKT, Oakton Instruments). O protocolo consistiu primeiramente em
ambientar os animais na sala do experimento por duas horas antes do início do teste, sendo
privados de água e ração. Na sequência, foi realizada a mensuração da temperatura basal por
meio de uma sonda introduzida à profundidade de 2 cm no reto do animal (Rainer et al.,
2012). Foram utilizados no estudo apenas os animais que apresentaram temperatura entre 36,9
e 38,4 °C, a fim de diminuir a variabilidade e facilitar a observação dos resultados (Mendes et
al., 2002). Posteriormente foi avaliada a capacidade de diferentes drogas antidepressivas e do
chá de ayahuasca, isoladas e em associação, quanto à capacidade de inibir ou potencializar a
hipotermia induzida pela apomorfina.
3.4.1 Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente
Em testes independentes, os camundongos receberam por via i.p. salina ou o
antidepressivo a ser testado (moclobemida, pargilina, imipramina e sertralina) ou por v.o.
água ou ayahuasca, e após trinta minutos apomorfina (10 mg/kg, i.p. - dose indutora de
hipotermia) (Menon, Vivonia, 1981). A mensuração da temperatura dos animais foi realizada
antes da administração das drogas (basal), após 30 minutos da administração das drogas em
avaliação e após 30 minutos da administração da apomorfina. As doses utilizadas nesse teste
para a ayahuasca e para cada antidepressivo foram baseadas em estudos prévios da literatura e
estão apresentadas na tabela 2.
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Tabela 2. Doses empregadas na avaliação do efeito dos antidepressivos e do chá de
ayahuasca isoladamente no teste de hipotermia induzida pela apomorfina (10 mg/kg, i.p.).
Tratamento
Doses utilizadas
n
Referências
Doses baseadas em dados do laboratório
(mg/kg)
Ayahuasca
120 e 1200
8
Imipramina
0,5; 1 e 5
5-6 Puech et al. (1978); Menon et al. (1984); Bueno et
al. (2006)
Sertralina
1, 5, 10 e 20
9
Menon et al. (1984)
Moclobemida 5, 10, 20 e 40
8
Villarinho et al. (2012)
Pargilina
5
Abdel-Fattah et al. (1995b); Abdel-Fattah et al.
40
(1997)
3.4.2 Teste da associação da ayahuasca com os antidepressivos
Em um segundo momento, o objetivo era avaliar o efeito da interação de ayahuasca
com os antidepressivos, em doses subefetivas. Para avaliar o efeito das interações, os animais
foram pré-tratados com ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) e após 30 minutos com os
antidepressivos (via i.p.), nas seguintes doses: imipramina 1 mg/kg, sertralina e moclobemida
5 mg/kg e pargilina 40 mg/kg. Foi utilizado como grupo controle água destilada (v.o.) + salina
(i.p.). Após 30 minutos do tratamento com os antidepressivos os animais receberam
apomorfina (10 mg/kg, i.p.). A temperatura retal dos animais foi avaliada antes da
administração da ayahuasca (temperatura basal), após 30 minutos da administração dos
antidepressivos e após 30 minutos da administração da apomorfina.
3.5 Teste da Natação Forçada
Neste estudo foram utilizados ratos Wistar (n = 5-9 / grupo). O protocolo consistiu
em expor os animais a um tanque cilíndrico (50 cm de altura por 30 cm de diâmetro) com
água a 25 °C numa altura de 38 cm por 15 minutos. Em seguida os animais foram removidos
do tanque, secos com toalha e jato de ar morno (secador) e retornaram para suas respectivas
caixas (Mendes et al., 2002). Vinte e quatro horas depois os mesmos animais foram
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recolocados nos tanques com água e avaliados durante 5 minutos por dois avaliadores
(utilizando a média das avaliações) quanto ao tempo tentando escapar da situação imposta e o
tempo de imobilidade, que consistia em realizar apenas os movimentos necessários para
manter o focinho fora da água. Além disso, foi quantificado o número de defecações de cada
animal, uma vez que esta é considerada uma medida de emocionalidade do animal em
situações aversivas (Connor et al., 1999). As drogas foram administradas conforme descrito
por Porsolt et al. (1978), ou seja, uma primeira administração imediatamente após a primeira
sessão de natação, a segunda administração 5 horas antes do teste de avaliação e a terceira
uma hora antes do teste.
3.5.1 Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente
Em testes independentes, os animais receberam por via i.p. salina ou o antidepressivo
a ser testado (moclobemida, pargilina, tranilcipromina, imipramina e sertralina) ou por v.o.
água ou ayahuasca. As doses utilizadas para a ayahuasca e para cada antidepressivo foram
baseadas em estudos prévios da literatura e estão apresentadas na tabela 3.
Tabela 3. Doses utilizadas para avaliação do efeito dos antidepressivos e do chá de ayahuasca
isoladamente no teste da natação forçada.
Tratamento
Doses utilizadas
n
Referências
(mg/kg)
Ayahuasca
120 e 1200
8-9
Definidas a partir de dados do laboratório
Imipraminaa
7,5; 15 e 30
7-8
Guilhermano et al. (2004); Kitamura et al.
(2004); Réus et al. (2011a)
Sertralina
2,5; 5; 10 e 20
8
Rogóz, Szuka (2006); Bilge et al. (2008); Prica
et al. (2008); Espallergues et al. (2012)
Pargilina
1, 5 e 20
5
Paul et al. (1988)
Tranilcipromina 0,5; 2 e 10
5-7
Torregrossa et al. (2005); Reed et al. (2008)
Moclobemida
8
Ferigolo et al. (1998); Wesolowska; Nikiforuk
7,5; 15 e 30
(2008)
(a) = Foram testadas duas marcas de imipramina: Cristália (doses 7,5-30 mg/kg) e Biosintética (30 mg/kg)
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3.5.2 Teste da associação da ayahuasca com os antidepressivos
Num segundo momento, foi avaliada a capacidade do chá de ayahuasca potencializar
o efeito dos antidepressivos, em doses não efetivas. Os animais foram pré-tratados com
ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) ou água e logo na sequência com salina ou os antidepressivos
(via i.p.) nas seguintes doses: imipramina 3,75 (Cristália) e 15 mg/kg (Biosintética), sertralina
2,5 e 10 mg/kg, tranilcipromina 0,1 mg/kg, moclobemida 15 e 30 mg/kg. O grupo de animais
controle recebeu água (v.o.) + salina (i.p.). A associação com pargilina não foi avaliada.
3.6 Medida da Atividade Motora
Foi avaliado o efeito da ayahuasca (120 e 1200 mg/kg, v.o.) e dos antidepressivos
imipramina (30 mg/kg, i.p.), sertralina (20 mg/kg, i.p.) e moclobemida (30 mg/kg, i.p.)
isoladamente sobre a atividade locomotora espontânea de camundongos (n = 7 / grupo).
Como controle foi administrado água (v.o.). O teste consistiu em colocar os animais
imediatamente após a administração das drogas em caixas acrílicas individuais de medida
automática (47,5 X 25,7 X 20,5 cm), contendo 15 pares de células fotoelétricas espaçadas em
2,54 cm (Columbus Instruments, CA) (figura 5). A interrupção de dois feixes de luz
consecutivos corresponde a uma unidade de locomoção (Paro et al. 2008). O número de
interrupções dos feixes de luz foi registrado aos 30, 60, 90, 120 minutos, porém sendo a
contagem não-cumulativa.
Figura 5. Caixa locomotora utilizada para o registro da atividade motora de camundongos. Foto: William
Carvalho Amaral.
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3.7 Avaliação da Inibição Sobre a Monoaminoxidase (MAO)
3.7.1 Preparação da fração enriquecida em mitocôndrias
O tecido encefálico utilizado para a preparação da fração enzimática foi obtido de
ratos que não haviam recebido nenhuma droga experimental. Depois de anestesiados com
hidrato de cloral (2 ml de solução a 30%) o encéfalo dos animais foi perfundido com solução
salina 0,9% e em seguida removido e congelado a -20 oC até o momento do ensaio. Para a
preparação do homogenato, o tecido foi homogeneizado utilizando agitador mecânico (Ika ®)
em 4 volumes (massa/volume) de solução de Na2HPO4 0,0168 M, KH2PO4 0,0106 M e
sacarose 0,32 M; pH 7,4; à 4 oC (tampão de homogeneização). O homogeneizado foi
centrifugado (Thermo Scientific) a 900 x g por 5 minutos, 4 °C, e o sobrenadante obtido
centrifugado a 12.500 x g por 15 minutos. O pellet mitocondrial foi lavado mais uma vez com
tampão de homogeneização e recentrifugado sob as mesmas condições. Finalmente, o pellet
foi ressuspendido em 1 ml de tampão de incubação (Na2HPO4 0,0168 M, KH2PO4 0,0106 M,
KCl 0,0036 M, pH 7,4 à 4 oC) e após dosagem de proteínas estocado em alíquotas à -20 oC
(Soto-Otero et al., 2001; Sant´Anna, 2008).
A dosagem de proteína foi feita por meio do método do reagente de Biureto. Este
método consiste na reação do cobre com a ligação peptídica das proteínas, formando assim
um complexo quadrado planar com duas bandas de absorção, uma em 270 nm e outra em 540
nm, sendo esta última a mais utilizada por não permitir interferência de compostos que
também absorvem na região de 270 nm (Zaia, et al. 1998). Assim, a absorbância obtida no
espectrofotômetro (Thermo Scientific) em 540 nm é diretamente proporcional à concentração
de proteínas na solução analisada. Uma alíquota (10 µl) do homogenato foi misturado a 100
µl de uma solução de ácido deoxicólico 5% (m/v) e água q.s.p. 1,5 ml. A essa mistura foi
adicionado 1,5 ml do reativo de Biureto, composto por sulfato cúprico 0,15 % (m/v), tartarato
de sódio e potássio 0,6 % (m/v) e NaOH 0,75 mol/l. Após 10 minutos, a absorbância foi
determinada em espectrofotômetro a 540 nm contra um branco de reagentes e a concentração
de proteínas foi determinada a partir de uma curva de calibração utilizando soroalbumina
bovina (BSA) como padrão (Cain, Skilleter, 1987). Por ocasião dos ensaios o homogenato foi
diluído com tampão de incubação para uma concentração aproximada de 2,5 mg/ml de
proteína, correspondendo a concentração que produziu melhor resultados em ensaios-piloto.
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3.7.2 Padronização do ensaio para determinação da atividade da MAO
Para a determinação da atividade da MAO, foram realizados inicialmente
experimentos a fim de estabelecer as melhores condições para os ensaios, como concentração
de enzima (expressa em proteína total), concentração de substrato e tempo de ensaio. Os
ensaios foram realizados conforme os métodos de Soto-Otero et al. (2001) e Sant´Anna
(2008), com algumas modificações. O método é baseado na oxidação de quinuramina em 4hidroxiquinolina pela MAO com ciclização espontânea completa do intermediário aldeído,
conforme descrito pela seguinte reação (figura 6):
Figura 6. Formação de 4-hidroquinolina por meio da oxidação da quinuramina pela enzima MAO, conforme
Sant`Anna (2008).
Após a padronização das condições ideais, as frações mitocondriais (2,5 mg/ml de
proteína, o que corresponde a 0,71 mg/ml no ensaio) foram pré-incubadas à 37 ºC por 5
minutos com a pargilina (0,1; 1; 10; 100 µM e 1 e 10 mM) e com a selegilina (0,25; 2,5; 25;
100; 250; 500 nM e 2,5 e 25 µM). Após a pré-incubação a quinuramina foi adicionada como
substrato não-seletivo na concentração de 60 μM no ensaio com a pargilina ou 90 μM no
ensaio com a selegilina. O homogenato contendo as drogas foi incubado por mais 30 minutos
a 37 ºC, quando ao fim deste período, adicionou-se TCA 10% para paralisar a reação. As
amostras foram centrifugadas a 16.000 x g por 5 minutos e 800 µl de sobrenadante foi
transferido para outro microtubo juntamente com 1 ml de NaOH (1M). Finalmente, 200 ou
300 μl (a depender do ensaio) de cada tubo foi pipetado em microplaca, em triplicata, e
levado para quantificação. A concentração do produto gerado pela MAO, 4-hidroxiquinolina,
foi medida espectrofotometricamente (Biotech – software Gen5 versão 2.01.14) pelo método
fluorimétrico (excitação 320/20 nm e emissão: 460/40 nm), utilizando para comparação uma
curva padrão do produto. Nos dois ensaios, um tubo extra contendo apenas as drogas testadas,
na maior concentração empregada, foi incluído para verificar se havia interferência destas na
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leitura. A porcentagem de inibição da MAO foi calculada utilizando o valor de leitura do tubo
sem o inibidor como 100% de atividade enzimática.
3.7.3 Ensaios iniciais da inibição da monoaminoxidase (MAO) total e MAO-A pela
ayahuasca
Antes de avaliar o efeito da ayahuasca sobre a atividade da MAO foram medidas as
leituras no fluorímetro para concentrações crescentes do chá: 10; 100 ng/ml, 1; 10, 100 e
1000 µg/ml (sem adição da fração enzimática ou substrato). Este teste foi realizado com a
finalidade de verificar se a ayahuasca por si só interferia na leitura com tais concentrações.
Em um segundo momento, foi avaliado o efeito inibitório da ayahuasca sobre a MAO
total. Para tanto, foram pipetados em microtubos diferentes concentrações de ayahuasca (10;
100 e 250 ng/ml e 1; 2,5 e 10 µg/ml), em seguida a fração enzimática e 90 µM de
quinuramina. As amostras foram incubadas à 37 oC por 30 min e o ensaio conduzido
conforme descrito anteriormente.
Finalmente, foi realizado um ensaio para avaliar a inibição específica da ayahuasca
sobre a monoaminoxidase do tipo A (MAO-A). Para isso, foi feita uma pré-incubação (37 oC
por 5 min) dos tubos contendo a fração enzimática com 250 nM de selegilina e na sequência
pipetada a ayahuasca (10; 100 e 250 ng/ml e 1; 2,5 e 10 µg/ml), 90 µM do substrato
quinuramina e incubação de 30 min à 37 oC. Os demais passos do ensaio foram realizados
conforme descrito anteriormente, utilizando 300 µl das amostras em triplicata. Para o cálculo
da inibição específica da MAO-A o valor de leitura do tubo contendo 250 nM de selegilina
sem ayahuasca foi considerado como 100% de atividade.
3.8 Análise Estatística
Os resultados estão apresentados como média ± erro padrão da média. Dados
paramétricos foram analisados estatisticamente pela ANOVA de uma via (ou ANOVA de
duas vias, no caso de medidas repetidas), seguida pelo teste de Duncan, quando havia
diferença entre os grupos. Por outro lado, os dados não-paramétricos foram analisados
estatisticamente pelo teste de Kruskal-Wallis seguido pelo Mann-Whitney. Foram realizados
testes de normalidade (Shapiro-Wilk) e homogeneidade de variâncias (Levene) para verificar
se os dados eram paramétricos. Quando houve conflito entre dados paramétricos e nãoparamétricos no mesmo teste da inibição a hipotermia induzida pela apomorfina foi avaliado a
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homocedasticidade dos dados para a escolha do teste estatístico mais apropriado. O nível de
significância foi estipulado em 5% (p < 0,05). Os dados foram analisados usando o software
Portable Statistica 8.
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27
4 RESULTADOS
4.1 Inibição à Hipotermia Induzida pela Apomorfina
4.1.1 Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente
Na medição da temperatura basal, isto é, antes da administração das drogas, nenhum
grupo diferiu entre si, indicando que os animais foram distribuídos de forma homogênea.
Além disso, a administração de ayahuasca ou dos antidepressivos sertralina e imipramina não
modificou a temperatura dos animais (figuras 7 e 8). Em todos os ensaios, o grupo controle,
tratado com água ou salina e 30 minutos depois com apomorfina, apresentou hipotermia. Já a
avaliação da temperatura dos animais após 30 minutos da apomorfina revelou que as
administrações de ayahuasca (figura 7) na dose de 1200 mg/kg [F(2,21) = 5,74; p = 0,010295]
(Duncan, p < 0,01) e imipramina (figura 8A) na dose de 5 mg/kg [F(3,19) = 6,90; p = 0,0025]
(Duncan, p < 0,01) inibiram a hipotermia induzida pela apomorfina. Por outro lado, nenhuma
dose de sertralina [F(4,40) = 0,79; p = 0,5357] inibiu a hipotermia quando comparada ao
T e m p e r a t u r a R e t a l (°C)
grupo controle salina (figura 8B).
água (ctrl)
aya 120 mg/kg
aya 1200 mg/kg
38
36
*#
34
#
#
32
30
AYA

APO
0
30

60
Tempo (min)
Figura 7. Efeito da administração oral de ayahuasca (aya) sobre a temperatura retal de camundongos
administrados após 30 min com apomorfina (10 mg/kg, i.p.). Cada ponto e barras representam a média ± erro
padrão da média (n = 8).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle (ctrl) água ou salina. Anova de uma via, seguida pelo
teste de Duncan.
(#) = p < 0,05. Estatisticamente diferente da respectiva temperatura basal. Anova de medidas repetidas, seguida
pelo teste de Duncan.
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salina (ctrl)
imi 0,5 mg/kg
imi 1 mg/kg
imi 5 mg/kg
T e m p e r a t u r a R e t a l (°C)
(A)
38
*
36
#
#
#
34
32
30
IMI

APO

0
30
60
Tempo (min)
T e m p e r a t u r a R e t a l (°C)
(B)
salina (ctrl)
ser 1 mg/kg
ser 5 mg/kg
ser 10 mg/kg
ser 20 mg/kg
38
36
#
#
#
#
#
34
32
30
SER

0
APO

30
60
Tempo (min)
Figura 8. Efeito da administração i.p. de imipramina (imi) (A) e sertralina (ser) (B) sobre a temperatura retal de
camundongos administrados após 30 min com apomorfina (10 mg/kg, i.p.). Cada ponto e barras representam a
média ± erro padrão da média (n = 5 – 9).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle (ctrl) água ou salina. Anova de uma via, seguida pelo
teste de Duncan.
(#) = p < 0,05. Estatisticamente diferente da respectiva temperatura basal. Anova de medidas repetidas, seguida
pelo teste de Duncan.
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29
No teste com a moclobemida a temperatura dos animais dos diferentes grupos foi
mensurada até 2h30 min após a administração de apomorfina, já que seu efeito neste teste é
bem distinto do observado com outras classes de antidepressivos, em especial os tricíclicos. A
moclobemida por si só, nas doses de 20 e 40 mg/kg, diminuiu a temperatura dos animais tanto
em relação aos valores basais (Anova de medidas repetidas) como na comparação com o
grupo controle [F(4,35) = 15,08; p = 0,0000] (Duncan: p < 0,001 para doses de 20 e 40
mg/kg) (figura 9). Com a administração de apomorfina, houve pronunciada hipotermia em
todos os grupos, mantendo-se até os 120 min de observação (e em menor intensidade até os
180 min para grupos das doses 10 e 20 mg/kg) (ANOVA de medidas repetidas). Por outro
lado, somente os animais tratados com a dose de 40 mg/kg diferiram do grupo controle, na
observação aos 120 min [F(4,35) = 4,31; p = 0,0061] (Duncan, p < 0,05), indicando
Temperatura
R e t a l (°C)
potencialização do efeito da apomorfina (figura 9).
salina (ctrl)
moc 5 mg/kg
moc 10 mg/kg
moc 20 mg/kg
moc 40 mg/kg
38
#
#
36
*
#
*#
34
32
30
MOC APO


0
30
#
#
#
#
#
#
# #
60
#
#
#
*#
#
# #
90
120
150
180
Tempo (min)
Figura 9. Efeito da administração i.p. de moclobemida (moc) sobre a temperatura retal de camundongos
administrados após 30 min com apomorfina (10 mg/kg, i.p.). Cada ponto e barras representam a média ± erro
padrão da média (n = 8).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle (ctrl). Anova de uma via, seguida pelo teste de
Duncan.
(#) = p < 0,05. Estatisticamente diferente da respectiva temperatura basal. Anova de medidas repetidas, seguida
pelo teste de Duncan.
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30
4.1.2 Associação da ayahuasca com os antidepressivos
No teste da associação da ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) com a imipramina (1 mg/kg,
i.p., dose subefetivas na avaliação com a droga isoladamente) os tratamentos experimentais
produziram por si só diminuição da temperatura dos animais (tempo 60 min no gráfico)
quando comparada às respectivas temperaturas basais (Anova de medidas repetidas), sendo
que no caso do grupo da associação das drogas a queda de temperatura também foi
estatisticamente diferente do grupo controle água + salina [F(3,28) = 8,50; p = 0,0004]
(Duncan, p < 0,001) (figura 10A). Com a administração de apomorfina, o grupo que recebeu
apenas imipramina e o de animais tratados com ayahuasca + imipramina apresentaram
inibição da hipotermia induzida pela apomorfina (figura 10A), quando comparados ao grupo
controle água + salina [F(3,28) = 3,98; p = 0,017697] (Duncan: p < 0,05 para água +
imipramina; p < 0,01 para ayahuasca + imipramina).
Com a finalidade de melhor analisar a interação dos efeitos tratamento e tempo,
optou-se também em avaliar a diferença de temperatura (∆t) das medições feitas 30 minutos
após a administração dos antidepressivos (tempo 60) em relação à temperatura basal [∆t(60´Basal)]. Esta avaliação revelou que a associação da ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) + imipramina
(1 mg/kg, i.p.) induziu uma ∆t estatisticamente significativa de -2,9 ± 0,5 °C (figura 10B) em
relação ao grupo controle que recebeu água + salina onde a ∆t foi de -0,6 ± 0,3 °C [F(3,28) =
8,9580; p = 0,000254] (Duncan, p < 0,001). Por outro lado, os tratamentos com as drogas
isoladas não induziram uma variação de temperatura estatisticamente significativa em relação
ao grupo controle.
Quando avaliamos a ∆t das medições feitas 30 minutos após a administração da
apomorfina (tempo 90) em relação à temperatura após administração do antidepressivo
[∆t(90´- 60´)] foi constatado que os grupos administrados com as drogas isoladas não foram
diferentes entre si (figura 10B), mas foram diferentes do grupo controle [F(3,28) = 12,21792;
p = 0,00003] (Duncan: p < 0,05 para ayahuasca + salina; p < 0,01 para água + imipramina).
No caso da associação de ayahuasca + imipramina houve elevação da temperatura retal dos
animais, com ∆t de 0,8 ± 0,6 °C diferindo significativamente da ∆t do grupo controle, de -4,3
± 0,4 °C (Duncan, p < 0,001). Além disso, a ∆t do grupo tratado com a associação das drogas
foi diferente do grupo ayahuasca + salina (Duncan, p < 0,01) e do grupo água + imipramina
(Duncan, p < 0,05). Dessa forma, considera-se que houve interação entre os efeitos da
imipramina e da ayahuasca.
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31
água + salina (ctrl)
aya 120 mg/kg + salina
água + imi 1 mg/kg
aya 120 mg/kg + imi 1 mg/kg
T e m p e r a t u r a R e t a l (°C)
(A)
38
#
#
36
*#
*#
*#
34
#
#
32
30
AYA

IMI

APO

0
30
60
90
Tempo (min)
t 60'- Basal)
V a r i a ç ã o d e T e m p e r a t u r a (°C)
(B)
t 90'- 60')
*&
1
0
-1
-2
*
-3
-4
-5
*&
*
água + salina
aya 120 mg/kg + salina
água + imi 1 mg/kg
aya 120 mg/kg + imi 1 mg/kg
Figura 10. Efeito da administração de ayahuasca (aya 120 mg/kg, v.o.) e de imipramina (imi 1 mg/kg, i.p.),
isoladamente ou em associação, sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina (10
mg/kg, i.p.) dada após 30 min do antidepressivo. (A) Temperatura retal dos camundongos nos intervalos
indicados. B) Diferença de temperatura (∆t) entre as medições realizadas nos tempos 60 e 0 (60’- Basal) ou entre
os tempos 90 e 60 (90’- 60’) do gráfico do painel A. Cada coluna ou ponto e respectivas barras representam a
média ± erro padrão da média (n = 8).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle água + salina. Anova de uma via, seguido pelo teste
de Duncan.
(#) = p < 0,05. Estatisticamente diferente da respectiva temperatura basal. Anova de medidas repetidas, seguido
pelo teste de Duncan.
(&) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo ayahuasca + salina e do grupo água + imipramina. Anova de
uma via, seguido pelo teste de Duncan.
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32
No caso do experimento com a sertralina foi empregada uma dose intermediária na
associação, já que nenhuma dose empregada isoladamente inibiu o efeito da apomorfina. A
administração de sertralina (5 mg/kg, i.p.), ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) ou da associação
destas produziu queda de temperatura em relação às respectivas temperaturas basais, ou seja,
as drogas modificaram por si só a temperatura dos animais (tempo 60 min na figura 11A)
(ANOVA de medidas repetidas), bem como as temperaturas dos grupos experimentais
diferiram em relação ao grupo controle [F(3,32) = 14,59; p = 0,000004] (Duncan: p < 0,01
para ayahuasca + salina; p < 0,001 para água + sertralina e para ayahuasca + sertralina). Com
a administração de apomorfina, todos os grupos passaram a ser estatisticamente semelhantes,
ou seja, a hipotermia induzida pela apomorfina não foi inibida pelas drogas isoladamente ou
em associação, como observado no tempo 90 min no gráfico [F(3,32) = 2,76; p = 0,05848]
(tempo 90 min na figura 11A).
Quando foram avaliadas as diferenças de temperatura (∆t) do intervalo 60´ - Basal
(figura 11B) novamente os grupos experimentais foram diferentes do controle [F(3,32) =
13,5664; p = 0,000007] (Duncan: p < 0,01 para ayahuasca + salina e para água + sertralina; p
< 0,001 para ayahuasca + sertralina). Quando avaliamos a ∆t das medições feitas 30 minutos
após a administração da apomorfina (90 min) em relação à temperatura após administração do
antidepressivo (90’- 60’) foi constatado que os grupos administrados com as drogas isoladas
não foram diferentes entre si, mas foram diferentes do grupo controle [F(3,32) = 16,7206; p =
0,000001] (Duncan: p < 0,05 para ayahuasca + salina; p < 0,001 para água + sertralina). Além
disso, o tratamento com ayahuasca + sertralina elevou a temperatura retal dos animais, com ∆t
de 0,2 ± 0,6 oC diferindo significativamente da ∆t de -4,5 ± 0,5 oC observada para o grupo
controle (Duncan, p < 0,001). Somado a esse fato, a ∆t do grupo tratado com a associação das
drogas foi diferente da ∆t dos grupos tratados com ayahuasca (Duncan, p < 0,001) ou
sertralina (Duncan p < 0,01) isoladamente (figura 11B). Dessa forma, considera-se que houve
interação entre os efeitos da sertralina e da ayahuasca.
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33
água + salina (ctrl)
aya 120 mg/kg + salina
água + ser 5 mg/kg
aya 120 mg/kg + ser 5 mg/kg
T e m p e r a t u r a R e t a l (°C)
(A)
38
36
*#
*#
34
*
#
#
#
#
#
32
30
AYA

SER

0
30
APO

60
90
Tempo (min)
V ar i a ç ã o d e T e m p e r a t u r a (°C)
t 90' - 60')
t 60' - Basal)
(B)
*&
1
0
-1
-2
-3
*
*
*
*
-4
-5
*
&
água + salina
aya 120 mg/kg + salina
água + ser 5 mg/kg
aya 120 mg/kg + ser 5 mg/kg
Figura 11. Efeito da administração de ayahuasca (aya 120 mg/kg, v.o.) e de sertralina (ser 5 mg/kg, i.p.)
isoladamente ou em associação, sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina (10
mg/kg, i.p.) dada após 30 min do antidepressivo. (A) Temperatura retal dos camundongos nos intervalos
indicados. B) Diferença de temperatura (∆t) entre as medições realizadas nos tempos 60 e 0 (60’- Basal) ou entre
os tempos 90 e 60 (90’- 60’) do gráfico do painel A. Cada coluna ou ponto e respectivas barras representam a
média ± erro padrão da média (n = 9).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle água + salina. Anova de uma via, seguido pelo teste
de Duncan.
(#) = p < 0,05. Estatisticamente diferente da respectiva temperatura basal. Anova de medidas repetidas, seguido
pelo teste de Duncan.
(&) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo ayahuasca + salina e do grupo água + sertralina. Anova de
uma via, seguido pelo teste de Duncan.
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34
Para o teste de associação da ayahuasca com a moclobemida, optou-se pela utilização
da dose 5 mg/kg desta última, pois tal dose não produziu queda de temperatura quando dada
isoladamente e tampouco interferiu no efeito da apomorfina. Na avaliação da temperatura 30
minutos após a administração do antidepressivo, houve diferença estatística no grupo
ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) associada a moclobemida (5 mg/kg, i.p.) em relação a sua
temperatura basal, ou seja, a associação das duas drogas induziu queda de temperatura nos
animais (figura 12A, ANOVA de medidas repetidas). Por outro lado, a avaliação da
temperatura dos animais 30 minutos após a administração de apomorfina revelou que nenhum
dos tratamentos experimentais inibiu a hipotermia induzida pela apomorfina quando
comparados ao grupo controle [F(3,32) = 1,09; p = 0,369030]. Ou seja, o efeito da
apomorfina foi similar e todos os grupos apresentaram diferença estatística em relação às suas
respectivas temperaturas basais (ANOVA de medidas repetidas).
A avaliação da ∆t após 30 min do antidepressivo (tempo 60 min) e os valores basais
confirmou que a associação de ayahuasca e moclobemida produziu queda de temperatura nos
animais [F(3,32) = 3,15088; p = 0,038307] (Duncan p < 0,05). Por outro lado, as variações de
temperatura após a administração de apomorfina foram semelhantes entre todos os grupos
avaliados [F(3,32) = 0,5181; p = 0,672829] (figura 12B).
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35
água + salina (ctrl)
aya 120 mg/kg + salina
água + moc 5 mg/kg
aya 120 mg/kg + moc 5 mg/kg
38
#
36
34
#
#
#
T e m p e r a t u r a R e t a l (°C)
(A)
#
32
AYA

30
0
MOC

APO

30
60
90
Tempo (min)
V ar i a ç ã o d e T e m p e r a t u r a (°C)
(B)
1
t 60' - Basal)
t 90' - 60')
0
-1
-2
*
água + salina
aya 120 mg/kg + salina
-3
água + ser 5 mg/kg
aya 120 mg/kg + moc 5 mg/kg
-4
-5
Figura 12. Efeito da administração de ayahuasca (aya 120 mg/kg, v.o.) e de moclobemida (moc 5 mg/kg, i.p.)
isoladamente ou em associação, sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina (10
mg/kg, i.p.) dada após 30 min do antidepressivo. (A) Temperatura retal dos camundongos nos intervalos
indicados. (B) Diferença de temperatura (∆t) entre as medições realizadas nos tempos 60 e 0 (60’- Basal) ou
entre os tempos 90 e 60 (90’- 60’) do gráfico do painel A. Cada coluna ou ponto e respectivas barras representam
a média ± erro padrão da média (n = 9).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle água + salina. Anova de uma via, seguido pelo teste
de Duncan.
(#) = p < 0,05. Estatisticamente diferente da respectiva temperatura basal. Anova de medidas repetidas, seguido
pelo teste de Duncan.
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36
4.1.3 Associação da ayahuasca com a pargilina
O efeito da administração da pargilina (40 mg/kg, i.p.), IMAO-B, e de sua associação
com ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) também foi avaliado, como forma de estimar a potencial
interação de inibidores da MAO com ações distintas. Após a administração de ayahuasca ou
água, todos os grupos receberam pargilina, exceto o grupo controle (ctrl), o que resultou em
expressiva queda de temperatura (tempo 60 no gráfico) em relação às respectivas
temperaturas basais (ANOVA de medidas repetidas) (figura 13A), bem como em relação ao
grupo controle [F(4,20) = 11,47; p = 0,000053] (Duncan, p < 0,001 para todos os grupos em
relação ao grupo controle).
Curiosamente, após a administração de apomorfina, todos os animais que receberam
previamente pargilina, principalmente aqueles tratados com ayahuasca + pargilina, tiveram
elevação de temperatura, ou seja, uma inversão do efeito observado na medida anterior. No
caso da associação ayahuasca + pargilina + apomorfina, houve inclusive hipertermia,
constatada no tempo 120 min, quando a temperatura medida neste grupo foi diferente da sua
temperatura basal (Anova de medidas repetidas). A diferença entre a temperatura do grupo da
associação + apomorfina parece ter perdurado até os 240 minutos, quando houve recuperação
da temperatura dos animais do grupo controle; mas a ANOVA de medidas repetidas para os
demais tempos de observação não foi feita, pois a associação de pargilina e apomorfina levou
a óbito vários animais a partir dos 120 minutos, inviabilizando a análise estatística nos
intervalos entre os tempos 180 e 300 min. Esta ocorrência de mortes revela ainda o risco
elevado da associação da apomorfina com a pargilina.
A avaliação da ∆t (60’ – Basal), ou seja, antes da administração de apomorfina,
confirmou que a administração de pargilina produziu queda na temperatura dos animais
(figura 13B), só não manifestada no grupo controle água + salina (que não recebeu pargilina)
[F(4,20) = 12,0458; p = 0,000038] (Duncan, p < 0,001 para todos os grupos em relação ao
grupo controle). Já a ∆t entre 30 min após a apomorfina e antes desta droga (90’ – 60’) mostra
que o grupo de animais que recebeu previamente a associação de ayahuasca e pargilina teve
elevação da temperatura superior a todos os demais grupos, indicando interação distinta
quando as três drogas foram administradas [F(4,20) = 69,57029; p = 0,000000] (Duncan, p <
0,001 em relação a todos os outros grupos).
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37
(A)
água + salina + apo (ctrl)
água + par 40 mg/kg + salina
água + parg 40 mg/kg + apo
aya 120 mg/kg + par 40 mg/kg + salina
aya 120 mg/kg + par 40 mg/kg + apo
T e m p e r a t u r a R e t a l (°C)
42
40
*
38
#
* # *#
*
*#
36
#
#
#
#
*
**
*
34
#
#
32
30
*#
#
#
AYA PAR APO



0
30
60
90
120
150
180
210
240
270
300
Tempo (min)
t (90'- 60')
V a r i a ç ã o d e T e m p e r a t u r a (°C)
(B)
*&
4
3
2
1
* *
t (60'- Basal)
0
*
-1
-2
-3
-4
-5
*
* * *
água + salina + apo
água + par 40 mg/kg + salina
água + par 40 mg/kg + apo
aya 120 mg/kg + par 40 mg/kg + salina
aya 120 mg/kg + par 40 mg/kg + apo
Figura 13. Efeito da administração de pargilina (par 40 mg/kg, i.p.) isoladamente ou em associação com
ayahuasca (aya 120 mg/kg, v.o.) sobre a temperatura retal de camundongos administrados com apomorfina (10
mg/kg, i.p.) ou salina 30 min depois. (A) Temperatura retal dos camundongos nos intervalos indicados. (B)
Diferença de temperatura (∆t) entre as medições realizadas nos tempos 60 e 0 (60’- Basal) ou entre os tempos 90
e 60 (90’- 60’) do gráfico do painel A. Cada coluna ou ponto e respectivas barras representam a média ± erro
padrão da média (n = 5).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle (ctrl) água + salina + apomorfina. Anova de uma via,
seguido pelo teste de Duncan.
(#) = p < 0,05. Estatisticamente diferente da respectiva temperatura basal. Anova de medidas repetidas, seguido
pelo teste de Duncan.
(&) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo água + pargilina + salina, água + pargilina + apomorfina e do
grupo ayahuasca + pargilina + salina. Anova de uma via, seguido pelo teste de Duncan.
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38
4.2 Teste da Natação Forçada
4.2.1 Avaliação dos antidepressivos e da ayahuasca isoladamente
A figura 14 mostra que a administração de ayahuasca por via oral nas doses de 120 e
1200 mg/kg não reduziu o tempo de imobilidade dos animais em relação ao grupo controle
[F(2,23) = 3,0440; p = 0,6717]. Além disso, não foi constatada diferença estatisticamente
significante quanto ao número de defecações dos animais tratados com a ayahuasca, na
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
comparação com o grupo controle [F(2,23) = 0,7676; p = 0,475659] (tabela 4).
300
250
200
150
100
50
0
água
(ctrl)
120
1200
ayahuasca (mg/kg)
Figura 14. Tempo de imobilidade no teste da natação forçada de ratos tratados com ayahuasca (120 e 1200
mg/kg, v.o.). Não significativo. Anova de uma via. As colunas e barras representam a média ± erro padrão da
média (n = 8 – 9).
Nos testes com a imipramina [F(4,34) = 2,4329; p = 0,066270] e com a sertralina
[F(4,35) = 0,9704; p = 0,4360], ao contrário do que era esperado, nenhuma dose administrada
reduziu o tempo de imobilidade dos animais quando comparadas aos seus respectivos grupo
controle salina (figura 15).
Já em relação ao número de defecações, nota-se que a dose de 30 mg/kg de
imipramina (das duas marcas testadas) induziu uma redução do número de defecações dos
animais em relação ao grupo controle [H(4,39) = 11,7754; p = 0,0191] (Mann-Whitney, p <
0,05 para ambas as drogas). Por outro lado, embora o teste de Kruskal-Wallis tenha detectado
diferença estatisticamente significativa no número de defecações entre os grupos no teste com
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39
a sertralina [H(4,40) = 9,6439; p = 0,0469], nenhuma dose do antidepressivo induziu mudança
estatisticamente significativa no número de defecações dos animais em relação ao grupo
controle (tabela 4).
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
(A)
300
250
200
150
100
50
0
salina
a
7,5
(ctrl)
a
15
a
30
b
30
imipramina (mg/kg)
(B)
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
300
250
200
150
100
50
0
salina
(ctrl)
2,5
5,0
10
20
sertralina (mg/kg)
Figura 15. Tempo de imobilidade no teste da natação forçada de ratos tratados por via i.p. com diferentes doses
de imipramina (A) e sertralina (B). Não significativo. Anova de uma via. As colunas e barras representam a
média ± erro padrão da média (n = 7 – 9). (a) = Imipramina Cristália; (b) = Imipramina Biosintética.
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40
No teste com a moclobemida, nenhuma dose administrada reduziu o tempo de
imobilidade dos animais em relação ao grupo controle salina [H(3,32) = 0,3644; p = 0,9475]
(figura 16). Além disso, nenhum dos tratamentos induziu uma mudança estatisticamente
significativa no número de defecações dos animais em relação ao respectivo grupo controle
[F(3,28) = 2,36003; p = 0,092832] (tabela 4).
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
300
250
200
150
100
50
0
salina
(ctrl)
7,5
15
30
moclobemida (mg/kg)
Figura 16. Tempo de imobilidade no teste da natação forçada de ratos tratados por via i.p. com diferentes doses
de moclobemida. Não significativo. Kruskal-Wallis. As colunas e barras representam a média ± erro padrão da
média (n = 8).
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41
Tabela 4. Número de defecações dos ratos tratados com ayahuasca ou com as drogas
antidepressivas isoladamente no teste da natação forçada. Para cada droga avaliada, notar o
controle correspondente.
Teste
Ayahuasca
Imipramina
Doses utilizadas
(mg/kg)
controle (água)
Número de defecações
(média ± EPM)
3,5 ± 0,7
n
120
4,4 ± 0,6
9
1200
4,7 ± 0,9
8
controle (salina)
2,7 ± 0,9
9
7,5 a
1,7 ± 0,7
8
a
0,7 ± 0,3
7
30 a
0,1 ±0,1§
8
30 b
0,2 ± 0,3§
7
controle (salina)
2,5 ± 0,9
8
2,5
2,5 ± 0,3
8
5,0
1,5 ± 0,8
8
10
0,8 ± 0,4
8
20
0,8 ± 0,4
8
controle (salina)
3,4 ± 0,9
8
7,5
3,6 ± 0,5
8
15
3,0 ± 0,9
8
30
1,3 ± 0,5
8
controle (salina)
3,9 ± 1,0
7
0,5
4,4 ± 0,9
7
2
0,4 ± 0,2*
5
Controle (salina)
4,6 ± 0,7
5
1
3,6 ± 1,2
5
5
3,6 ± 0,9
5
20
1,4 ± 0,5
5
15
Sertralina
Moclobemida
Tranilcipromina
Pargilina
9
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle. Anova de uma via, seguido pelo teste de Duncan.
(§) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle. Kruskal-Wallis, seguido pelo teste de MannWhitney. (Análise por teste não paramétrico porque não houve homogeneidade das variâncias)
(a) = Imipramina Cristália; (b) = Imipramina Biosintética.
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42
Outras duas drogas com ação inibidora sobre a MAO foram também avaliadas no
teste da natação forçada, a pargilina (IMAO-B) e a tranilcipromina (IMAO inespecífico). Em
teste realizado com a pargilina nenhuma das doses utilizadas reduziu o tempo de imobilidade
dos animais quando comparadas com o grupo controle salina [F(3,16) = 0,3196; p = 0,8110]
(figura 17A). Da mesma forma, a tranilcipromina não reduziu o tempo de imobilidade dos
animais nas doses utilizadas (figura 17B) comparativamente aos animais do grupo controle
salina [F(2,16) = 1,7263; p = 0,2095]. Não foi possível avaliar o efeito de doses maiores da
tranilcipromina, que se mostraram tóxicas, ocasionando a morte dos animais antes da
realização do teste de 5 minutos.
Em relação ao número de defecações (tabela 4), a tranilcipromina na dose de 2
mg/kg (i.p.) induziu uma redução estatisticamente significativa no número de defecações dos
animais comparado com o grupo controle salina correspondente [F(2,16)= 5,56990; p =
0,014592] (Duncan, p < 0,05). Já no teste com a pargilina, não houve diferença entre os
grupos, embora a dose de 20 mg/kg (i.p.) visualmente tenha reduzido o número de defecações
dos animais [F(3,16) = 2,40351; p = 0,105553].
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43
(A)
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
300
250
200
150
100
50
0
salina
(ctrl)
1
5
20
pargilina (mg/kg)
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
(B)
300
250
200
150
100
50
0
salina
(ctrl)
0,5
2
tranilcipromina (mg/kg)
Figura 17. Tempo de imobilidade na natação forçada de ratos tratados por via i.p. com diferentes doses de
pargilina (A) e da tranilcipromina (B). Não significativo. Anova de uma via. As colunas e barras representam a
média ± erro padrão da média (n = 5 – 7).
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44
4.2.2 Associação da ayahuasca com os antidepressivos
No teste de associação dos antidepressivos e ayahuasca o objetivo era avaliar a
interação entre doses subefetivas destas drogas. Para a ayahuasca foi empregada a dose de 120
mg/kg (v.o.), pois embora a dose de 1200 mg/kg não tenha diferido estatisticamente do
controle, visualmente houve uma diminuição do tempo de imobilidade com esta. Para as
demais drogas, uma vez que não houve doses efetivas, foram avaliadas duas doses
intercaladas, para aumentar as chances de encontrar uma possível interação.
Nos testes de associação da ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) com a imipramina na dose
de 3,75 mg/kg (i.p.) [F(3,23) = 1,1201; p = 0,3614] e na dose de 15 mg/kg (i.p.) [F(3,25) =
1,3723; p = 0,274144] (figura 18) não foi verificada nenhuma diferença estatisticamente
significativa entre os grupos experimentais e seus respectivos grupos controle (água + salina),
ou seja, nenhuma dose avaliada dos antidepressivos reduziu o tempo de imobilidade dos
animais, seja isoladamente ou em associação com a ayahuasca. Com relação ao número de
defecações, no teste da associação da ayahuasca com a imipramina (3,75 mg/kg, i.p.), os
tratamentos com ayahuasca + imipramina (Duncan, p < 0,001), água + imipramina (Duncan, p
< 0,01) e ayahuasca + salina (Duncan, p < 0,05) reduziram o número de defecações dos
animais em relação ao grupo controle água + salina [F(3,30) = 7,6011; p = 0,000635] (tabela
5). Quando foi avaliada a associação da ayahuasca com a imipramina (15 mg/kg, i.p.) houve
redução do número de defecações nos grupos tratados com água + imipramina (Duncan, p <
0,05) e com ayahuasca + imipramina (Duncan, p < 0,01) [F(3,25) = 4,18924; p = 0,015632].
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45
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
(A)
300
250
200
150
100
50
0
AYA
IMI
-
AYA
IMI
-
120
-
3,75
120
3,75
Dose
(mg/kg)
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
(B)
300
250
200
150
100
50
0
120
-
15
120
15
Dose
(mg/kg)
Figura 18. Tempo de imobilidade de ratos no teste da natação forçada. (A) Associação da ayahuasca (AYA, 120
mg/kg, v.o.) com a imipramina (IMI, Cristália, 3,75 mg/kg, i.p.); (B) Associação da ayahuasca (AYA, 120
mg/kg, v.o.) com a imipramina (IMI, Biosintética, 15 mg/kg, i.p.). Não significativo. Anova de uma via. As
colunas e barras representam a média ± erro padrão da média (n = 6 – 9).
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46
Tabela 5. Número de defecações dos ratos tratados com a associação de ayahuasca e
diferentes antidepressivos no teste da natação forçada. Para cada droga avaliada, notar o
controle correspondente.
Teste
Ayahuasca + Imipraminaa
Ayahuasca + Imipraminab
Ayahuasca + Sertralina
Ayahuasca + Moclobemida
Doses utilizadas
(mg/kg)
ctrl (água + salina)
Número de defecações
(média ± EPM)
6,3 ± 0,7
n
120 + salina
3,8 ± 0,8*
8
água + 3,75
2,9 ± 0,7*
9
120 + 3,75
1,8 ± 0,6*
9
ctrl (água + salina)
3,4 ± 0,8
8
120 + salina
2,5 ± 0,6
8
água + 15
1,0 ± 0,5*
7
120 + 15
0,7 ± 0,5*
6
ctrl (água + salina)
4,8 ± 0,6
8
água + 2,5
3,1 ± 1,0
8
8
água + 10
1,3 ± 0,4
§
8
120 + 2,5
2,4 ± 0,6§
8
120 + 10
0§
7
ctrl (água + salina)
3,3 ± 0,6
8
120 + salina
4,8 ± 0,8*
8
água + 15
2,3 ± 0,6
8
120 + 15
2,3 ± 0,6
8
120 + 30
1,0 ± 0,3*
5
3,9 ± 1,0
7
120 + salina
3,2 ± 0,6
5
água + 0,1
2,4 ± 0,5
5
120 + 0,1
3,5 ± 0,6
6
Ayahuasca + Tranilcipromina ctrl (água + salina)
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle. Anova de uma via, seguido pelo teste de Duncan.
(§) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do grupo controle. Kruskal-Wallis, seguido pelo teste de MannWhitney. (Análise por teste não paramétrico porque não houve homogeneidade das variâncias).
(a) = Imipramina Cristália; (b) = Imipramina Biosintética.
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47
Nos testes de associação da ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) com a sertralina (2,5 e 10
mg/kg, i.p.) [F(4,34) = 1,0760; p = 0,3836] e com a moclobemida (15 e 30 mg/kg, i.p.)
[H(4,34) = 6,6224; p = 0,1572] a associação das drogas, bem como a administração das
drogas isoladas, não reduziu o tempo de imobilidade dos animais (figura 19). Na avaliação do
número de defecações, os seguintes tratamentos reduziram o número de defecações dos
animais em relação ao grupo controle: ayahuasca + sertralina 2,5 e 10 mg/kg (Mann-Whitney,
p < 0,05 e p < 0,01, respectivamente); água + sertralina 10 mg/kg (Mann-Whitney, p < 0,01)
[H(4,39) = 21,4309; p = 0,001], bem como o grupo tratado com ayahuasca + moclobemida
30 mg/kg [F(4,29) = 5,48931; p = 0,002044] (Duncan, p < 0,05) (tabela 5). Por outro lado, o
grupo de animais tratado com ayahuasca + salina, no teste da associação da ayahuasca com
moclobemida, apresentou um aumento do número de defecações em relação ao grupo controle
(Duncan, p < 0,05).
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48
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
(A)
300
250
200
150
100
50
0
AYA
SER
-
2,5
AYA
MOC
-
120
-
10
120
2,5
120
10
Dose
(mg/kg)
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
(B)
300
250
200
150
100
50
0
15
120
15
120
30
Dose
(mg/kg)
Figura 19. Tempo de imobilidade de ratos no teste da natação forçada. (A) Associação de ayahuasca (AYA, 120
mg/kg, v.o.) com a sertralina (SER, 2,5 e 10 mg/kg, i.p.); (B) Associação de ayahuasca (AYA, 120 mg/kg, v.o.)
com a moclobemida (MOC, 15 e 30 mg/kg, i.p.). Não significativo. Anova de uma via (A) / Kruskal-Wallis (B).
As colunas e barras representam a média ± erro padrão da média (n = 5 – 8).
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49
Foi também realizado um teste da associação da ayahuasca (120 mg/kg, v.o.) com a
tranilcipromina na dose de 0,1 mg/kg (i.p.), com a finalidade de avaliar o efeito de uma
possível interação com um inibidor inespecífico da MAO neste modelo animal. Contudo, não
foi constatada diferença estatisticamente significativa entre o grupo tratado com ayahuasca
associada a tranilcipromina em relação ao grupo controle água + salina [F(3,19) = 0,6830; p =
0,5733], ou seja, a associação das drogas não diminuiu o tempo de imobilidade dos animais
(figura 20). Na avaliação do número de defecações (tabela 5) também não foi constatada
diferença estatisticamente significativa entre os diferentes grupos [H(3,23) = 1,6722; p =
T e m p o d e I m o b i l i d a d e (s)
0,6431].
300
250
200
150
100
50
0
AYA
TRA
-
120
-
0,1
120
0,1
Dose
(mg/kg)
Figura 20. Tempo de imobilidade de ratos tratados com ayahuasca (AYA 120 mg/kg, v.o.) e tranilcipromina
(TRA 0,1 mg/kg, i.p.) no teste da natação forçada. Não significativo. Anova de uma via. As colunas e barras
representam a média ± erro padrão da média (n = 5 – 7).
4.3 Atividade Locomotora
Os dados da figura 21 mostram os resultados do teste de atividade motora. Houve
diferença estatísticamente significativa entre o grupo de animais tratados com sertralina (20
mg/kg, i.p.) em relação ao grupo controle (água, v.o.) nos tempo 60 [F(5,36) = 5,68376; p =
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50
0,00058] (Duncan, p < 0,05), 90 [F(5,36) = 3,54384; p = 0,010448] (Duncan, p < 0,01) e 120
minutos [F(5,36) = 2,75205; p = 0,033206] (Duncan, p < 0,05), indicando que esta dose
induziu um aumento da atividade locomotora dos animais. Os demais tratamentos –
ayahuasca (120 e 1200 mg/kg, oral), imipramina (30 mg/kg, i.p.) e moclobemida (30 mg/kg,
i.p.) – não alteraram a locomoção dos animais.
água (ctrl)
aya 120 mg/kg
aya 1200 mg/kg
ser 20 mg/kg
imi 30 mg/kg
moc 30 mg/kg
Número de interrupções
5000
*
*
4000
*
3000
2000
1000
0
30
60
90
120
Tempo (min)
Figura 21. Registro da atividade locomotora de camundongos tratados com ayahuasca (aya, 120 e 1200 mg/kg,
v.o.), sertralina (ser, 20 mg/kg, i.p.), imipramina (imi, 30 mg/kg, i.p.) e moclobemida (moc, 30 mg/kg, i.p.) ou
água- grupo controle (ctrl, v.o.). As colunas e barras representam a média ± erro padrão da média (n = 7).
(*) = p < 0,05. Estatisticamente diferente do respectivo grupo controle. Anova de uma via, seguido pelo teste de
Duncan.
4.4 Ensaios de Inibição da Monoaminoxidase (MAO)
4.4.1 Padronização das condições do ensaio
Em um primeiro momento, foram feitos testes-piloto para padronizar as condições
ótimas do ensaio. A figura 22 mostra os resultados dos testes onde foram avaliadas: (A)
concentração de substrato, (B) a concentração de enzima (fração mitocondrial, em mg/ml de
proteína) e (C) tempo de reação. Como pode ser notado na figura 22A, ocorreu um platô na
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51
fluorescência entre as concentrações de 90 a 720 µM, o que indica que a partir da
concentração de 90 µM do substrato não há mais formação significativa do produto 4hidroquinolina. No painel B da figura 22 observa-se um aumento proporcional da
fluorescência com o aumento da concentração de proteínas (enzima), sendo esse efeito mais
pronunciado com a incubação de 30 minutos. Diante desses resultados, optou-se pela
concentração de 2,5 mg/ml de fração enzimática (equivale a 0,71 mg/ml na incubação)
associada a concentração de 90 µM de substrato (quinuramina) para avaliação do efeito do
tempo dessa reação. Sendo assim, observa-se na figura 22C que houve pouca formação do
produto da reação com incubações de até 15 min, ao passo que incubações de 30 e de 60
minutos mostraram-se adequadas para quantificar a formação do produto 4-hidroquinolina.
4.4.2 Ensaios iniciais da inibição da monoaminoxidase (MAO)
Após padronização da concentração de proteínas - 2,5 mg/ml (0,71 mg/ml no
ensaio), concentração de substrato (90 µM) e tempo de incubação (30 min) foram feitos
alguns ensaios iniciais com a pargilina e a selegilina, inibidores seletivos da MAO-B. Como
era esperado, a pargilina inibiu a atividade da monoaminoxidase, mas provavelmente fez isso
de forma inespecífica, já que em concentrações a partir de 100 µM houve inibição
praticamente total da MAO (figura 23A). Já a selegilina, apresentou duas curvas de inibição,
mostrando um platô de resposta em concentrações entre 250 e 2500 nM indicando que nestas
concentrações houve provavelmente inibição total da isoforma MAO-B, enquanto
concentrações superiores provavelmente passaram a inibir também a isoforma MAO-A
(figura 23B). Para a pargilina, não foi possível sugerir uma concentração que inibisse 100%
da MAO-B sem interferir com a MAO-A, o que inviabilizou a utilização desta droga nos
estudos com a ayahuasca.
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52
(A)
80
Fluorescência
70
60
50
40
30
30 minutos de incubação
20
10
0
22,5
45
90
180
360
720
(B)
500
Fluorescência
[Quinuramina] (
400
10 min de incubação
30 min de incubação
300
200
100
0
0
0,5
1
2,5
5
10
[Proteína] (mg/ml)
Fluorescência
(C)
140
2,5 mg/ml de proteína
120
100
80
60
40
20
5
10
15
30
60
Tempo (min)
Figura 22. Ensaios iniciais para a padronização da concentração de substrato (A), da concentração de enzima
(fração mitocondrial, em mg/ml de proteína) (B) e do tempo de reação (C). A leitura no fluorímetro foi realizada
com excitação de 320/20 e emissão de 460/40 (nm). No experimento mostrado em A foi empregada a
concentração de 1 mg/ml de proteína e em C 2,5 mg/ml (concentrações antes da pipetagem nos tubos).
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53
I n i b i ç ã o d a M A O (%)
(A)
100
80
60
40
20
0
0
0,1
1
10
2
10
10
3
10
4
[Pargilina] (M)
I n i b i ç ã o d a M A O (%)
(B)
100
80
60
40
20
0
0
0,25
2,5
25
100
250
500
3
2,5.10
3
25.10
[Selegilina] (nM)
Figura 23. Ensaios iniciais para avaliar a inibição da atividade da MAO com a pargilina (A) e com a selegilina
(B). A leitura no fluorímetro foi realizada com excitação de 320/20 e emissão de 460/40 (nm). Em (A) foi
utilizado a concentração de 60 µM do substrato quinuramina. Em (B) foi utilizado a concentração de 90 µM do
substrato.
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54
4.4.3 Ensaios iniciais da inibição da monoaminoxidase (MAO) total e MAO-A pela
ayahuasca
Inicialmente foi realizado um ensaio com concentrações crescentes de ayahuasca,
sem a presença da enzima ou do substrato, para ver se as diferentes concentrações do chá
interferiam na leitura do fluorímetro. Os dados da figura 24 mostram que concentrações acima
de 10 ug/ml de ayahuasca produziram um aumento da leitura no fluorímetro, sendo, portanto
inapropriadas para o teste. Ao avaliar o efeito da ayahuasca sobre a metabolização do
substrato quinuramina pela MAO observa-se que ela foi capaz de inibir parcialmente a MAO
total em concentrações acima de 100 ng/ml (figura 25A). Por fim, a pré-incubação da fração
enzimática com 250 nM de selegilina, ao inibir seletivamente a MAO-B, permitiu que fosse
avaliado no ensaio o efeito inibitório da ayahuasca sobre a MAO do tipo A. Os resultados da
figura 25B mostram que nestas condições, a ayahuasca na concentração de 100 ng/ml inibe
em aproximadamente 50% a MAO-A, enquanto a concentração de 1 ug/ml inibiu em
aproximadamente 80% esta isoforma. Não foi possível estimar a porcentagem de inibição da
MAO-A com concentrações maiores de ayahuasca, uma vez que elas já interferiam com a
fluorescência.
1200
Fluorescência
1000
800
600
400
200
0
10
-2
10
-1
1
10
10
2
10
3
[Ayahuasca] (g/ml)
Figura 24. Avaliação da fluorescência da ayahuasca isoladamente reproduzindo as mesmas condições de ensaio,
exceto pela adição da fração enzimática e do substrato quinuramina. A leitura no fluorímetro foi realizada com
excitação de 320/20 e emissão de 460/40 (nm).
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55
I n i b i ç ã o d a M A O (%)
(A)
100
80
60
40
20
0
0
10
100
250
1.10
3
2,5.10
3
2,5.10
3
1.10
4
[Ayahuasca] (ng/ml)
I n i b i ç ã o d a M A O - A (%)
(B)
100
80
60
40
20
0
0
10
100
250
1.10
3
1.10
4
Selegilina 250 nM + [Ayahuasca] (ng/ml)
Figura 25. Ensaios iniciais para avaliar a inibição da atividade da MAO com a ayahuasca isolada (A) e para
avaliar a inibição da atividade da MAO-A pela associação da selegilina 250 nM + diferentes concentrações de
ayahuasca (B). A leitura no fluorímetro foi realizada com excitação de 320/20 e emissão de 460/40 (nm).
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56
5 DISCUSSÃO
O objetivo desse estudo foi avaliar o efeito da interação do chá de ayahuasca com
antidepressivos de mecanismos de ação diferentes. Para tal propósito foram utilizados dois
modelos animais de depressão: a inibição a hipotermia induzida pela apomorfina e o teste da
natação forçada. Estes modelos foram escolhidos por serem de simples execução e por
avaliarem o efeito de drogas antidepressivas por mecanismos distintos.
A escolha das doses de ayahuasca para os testes in vivo levou em consideração o que
seria a dose média consumida pelo ser humano, calculada em 120 mg/kg, e em uma dose 10
vezes maior (1200 mg/kg). No entanto, vale ressaltar que não existe uma correlação direta
entre doses clínicas e doses pré-clínicas, mas por meio de cálculos alométricos que
consideram a espécie e seu peso corporal é possível sugerir a correspondência de uma dose do
humano para um roedor. O objetivo prático mais evidente, do cálculo alométrico, é a
extrapolação das doses de drogas entre animais de formas, tamanhos e massas diferentes
(Pachaly, 2006). Assim, a dose de 120 mg/kg de ayahuasca consumida pelo ser humano com
peso de 60 kg corresponderia a uma dose aproximada de 315 mg/kg em ratos, considerando
um peso médio de 350 g (Reagan-Shaw et al., 2007). No caso dos camundongos, com peso
médio de 40g, a dose humana corresponderia a aproximadamente 800 mg/kg (Reagan-Shaw
et al., 2007), portanto estas doses estão dentro do intervalo empregado no presente estudo.
Soma-se a esse fato, que ao contrário do uso ritualístico, normalmente caracterizado pelo
consumo do chá de ayahuasca em sessões com intervalos de uma a três semanas (McKenna,
2004), neste estudo optou-se por realizar um tratamento agudo (ou de até três doses agudas no
teste da natação forçada). Assim, não se pode descartar que o uso ritualístico, da forma como
ocorre, pode induzir efeitos diferentes daqueles observados neste estudo.
Para a escolha das doses também levou-se em consideração os resultados do estudo
de Pires (2009) realizado com a mesma amostra de ayahuasca, onde foram empregadas doses
de 12, 120, 1200 e 2400 mg/kg de ayahuasca em camundongos. Em tal estudo, a
administração do chá por v.o. (120 e 1200 mg/kg) não provocou alterações no teste do rotarod, enquanto no teste da atividade motora os animais que receberam a dose de 1200 mg/kg
apresentaram efeito bifásico, com diminuição inicial da ambulação (até 30 min), seguida de
aumento entre 2 e 4 horas. Entretanto, esse efeito não foi observado no nosso estudo, pois o
tratamento com a ayahuasca na dose de 1200 mg/kg não alterou a atividade locomotora dos
camundongos em relação ao grupo controle durante as duas horas de observação. É natural
que os animais do grupo controle, ao serem colocados na caixa de atividade motora,
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57
apresentem de início uma grande ambulação, correspondente à atividade exploratória de um
ambiente novo, e em seguida redução da ambulação, pois acabam se ambientando à caixa.
Pires (2009) relata ainda que no teste do screening farmacológico a ayahuasca na
dose de 2400 mg/kg induziu diminuição da ambulação, do número de defecações e micções
de maneira considerável, além de produzir tremor e aumento da sensibilidade a estímulos
sonoros nos animais. Portanto, esta dose foi descartada já que se demonstrou relativamente
tóxica, e assim, optou-se pela administração da ayahuasca por via oral nas doses de 120 e
1200 mg/kg, de modo que a dose unitária média consumida pelo ser humano, a partir de
cálculos alométricos, estaria incluída neste intervalo.
A hipotermia induzida pela apomorfina é um teste baseado em interações
farmacológicas entre a apomorfina e os antidepressivos. Neste teste não há qualquer analogia
entre o efeito induzido e a depressão, e sim ele é baseado na observação de que drogas
antidepressivas de algumas categorias podem inibir ou reverter à hipotermia induzida
farmacologicamente, sem afetar a estereotipia ou comportamento de escalar induzido pela
apomorfina (Puech et al., 1978; Porsolt et al., 1991). A hipotermia é o resultado do efeito
agonista da apomorfina sobre o receptor pré-sináptico dopaminérgico D2, localizados na
região pré-óptica anterior do hipotálamo, área que integra as informações térmicas
provenientes do SNC e da periferia para gerar as respostas termorregulatórias mais
apropriadas para o ambiente (Cox et al., 1981; Menon et al., 1984; Boulant, 2000). A
hipotermia induzida por uma dose baixa de apomorfina (1 mg/kg) é inibida por neurolépticos
com ação antagonista no receptor dopaminérgico D2, ao passo que, a hipotermia induzida por
doses elevadas de apomorfina (10 e 16 mg/kg) é inibida, especialmente, por drogas
antidepressivas relacionadas ao sistema β-adrenérgico (Puech et al., 1978).
Nesse sentido, postula-se que uma diminuição da neurotransmissão noradrenérgica
na região pré-óptica anterior do hipotálamo tenha um papel predominante para o
desenvolvimento de hipotermia induzida por doses elevadas de apomorfina. Corroborando
com essa análise, Redrobe et al. (1998) relatam que a ação agonista da apomorfina sobre o
receptor pré-sináptico D2, situado nas terminações nervosas noradrenérgicas (Langer, 1977;
Galzin et al., 1982), pode inibir a liberação de noradrenalina, uma vez que receptores D2
localizados em terminais pré-sinápticos provocam uma diminuição na síntese e na liberação
do neurotransmissor, bem como inibem o potencial de ação do neurônio (Bourin, 1990; Boyd,
Mailman, 2012). Contudo, esses receptores são sensíveis somente a altas doses de apomorfina
devido ao seu número limitado na região pré-óptica anterior do hipotálamo.
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Logo, drogas capazes de aumentar a neurotransmissão noradrenérgica são capazes de
bloquear ou reverter o efeito da apomorfina. Neste sentido, os antidepressivos da categoria
dos tricíclicos, como a imipramina, que atuam na inibição da recaptação das monoaminas
serotonina e, principalmente a noradrenalina, são mais efetivos em inibir o desenvolvimento
da hipotermia quando comparados aos antidepressivos de outras categorias, como os
inibidores seletivos da recaptação de serotonina e os IMAO (Puech et al., 1978; Menon et al.,
1984; Porsolt et al. 1991; An et al., 2008).
No presente trabalho foram empregadas 3-4 doses de antidepressivos baseadas em
estudos da literatura ou estudos prévios do grupo. O tratamento com a imipramina na dose de
5 mg/kg inibiu a hipotermia induzida pela apomorfina, como era esperado para um
antidepressivo tricíclico. O mesmo efeito também foi obtido com a administração de
ayahuasca por via oral na dose de 1200 mg/kg, mas não na dose de 120 mg/kg. Contudo,
nenhuma dose de sertralina e de moclobemida utilizada inibiu a hipotermia induzida pela
apomorfina em relação ao grupo controle, apesar de observarmos uma pequena redução do
efeito da apomorfina no grupo tratado com a maior dose de sertralina. Como o objetivo do
estudo era avaliar em uma segunda fase a interação entre doses subefetivas da ayahuasca e
dos antidepressivos, foram selecionadas as doses de 1 mg/kg de imipramina e 120 mg/kg de
ayahuasca, enquanto para a sertralina optou-se por uma dose intermediária (5 mg/kg). No caso
da moclobemida foi escolhida a dose de 5 mg/kg, pois doses maiores produziram por si só
queda de temperatura nos animais.
No que se refere aos estudos de associação da ayahuasca com os antidepressivos foi
observado efeito da interação das drogas tanto no teste com a imipramina como no estudo
com a sertralina. No estudo da associação da ayahuasca com a imipramina, a imipramina
inibiu o desenvolvimento da hipotermia, na comparação com o grupo controle. No caso da
associação de ayahuasca e imipramina além de inibir o desenvolvimento da hipotermia pela
apomorfina, a associação das drogas levou a um efeito temporal distinto, produzindo
inicialmente queda de temperatura nos animais (efeito da associação de ayahuasca e do
antidepressivo) e posteriormente aumento (recuperação) da temperatura (efeito da associação
anterior, isto é, ayahuasca + imipramina, com a apomorfina). Dessa forma, considera-se que
houve uma interação farmacodinâmica entre imipramina e ayahuasca que induziu
provavelmente a um aumento da neurotransmissão noradrenérgica pela somatória da ação
IMAO-A da ayahuasca com a inibição da recaptação de noradrenalina promovida pela
imipramina. É bem estabelecido na literatura que o aumento da neurotransmissão
noradrenérgica inibe o desenvolvimento da hipotermia induzida pela apomorfina (Puech et al.,
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1978; Menon et al., 1984; Porsolt et al. 1991; An et al., 2008). Assim, postula-se que o
predomínio da ação agonista da serotonina na área pré-óptica anterior do hipotálamo pela
associação da ayahuasca com a imipramina, tenha produzido queda de temperatura, uma vez
que dados na literatura apontam a participação de receptores serotonérgicos como o 5-HT1A, o
5-HT3 e o 5-HT7 nos mecanismos de hipotermia (Bill et al., 1991; Naumenko et al., 2011).
Por outro lado, os níveis elevados de noradrenalina bloquearam o efeito da apomorfina na
região pré-óptica.
No teste da associação da ayahuasca com a sertralina os grupos que receberam
ayahuasca ou o antidepressivo tiveram queda de temperatura induzida por tais tratamentos,
mas não foram capazes de inibir o efeito da apomorfina. Por outro lado, ao analisarmos o
efeito ao longo do tempo, observa-se que a associação da ayahuasca com o antidepressivo
induziu um comportamento diferente, com pequena elevação de temperatura na medida 30
min após a administração de apomorfina em relação ao tempo anterior. Para os demais
grupos, especialmente o grupo controle, houve queda de temperatura após a administração de
apomorfina. Este resultado também sugere interação entre os efeitos da ayahuasca e sertralina.
Alguns dados na literatura apontam que o aumento da neurotransmissão serotonérgica está
relacionada ao mecanismo de hipertermia via receptores 5-HT2 (Gudelsky et al., 1986; AbdelFattah et al., 1995b; Abdel-Fattah et al. 1997) e a inibição da hipotermia induzida pela
apomorfina (Menon et al., 1981), desde que esse aumento de serotonina seja
significativamente superior ao aumento serotonérgico que induz hipotermia, mediado
principalmente pelo receptor 5-HT1A. Assim, o efeito observado provavelmente se relaciona
com um aumento significativo da neurotransmissão serotonérgica, por consequência de uma
interação farmacodinâmica via receptor 5-HT2, pois o chá possui a DMT, um potente agonista
do receptor 5-HT2, assim como as β-carbolinas com ação IMAO-A, que contribuem para a
diminuição da metabolização da serotonina. Uma vez que a sertralina é um inibidor seletivo
da recaptação de serotonina é possível supor que com a associação das duas drogas seus
efeitos tenham se somado e determinado os efeitos observados sobre a temperatura dos
animais.
Estudos que compararam a fluoxetina (um outro inibidor seletivo da recaptação de
serotonina) com drogas tricíclicas, como a imipramina, a desipramina e a venlafaxina,
sugerem que a fluoxetina seja menos eficaz ou quase ineficaz em inibir o desenvolvimento da
hipotermia induzida pela apomorfina, quando comparada aos antidepressivos tricíclicos
(Menon et al., 1984; Artaiz et al., 2005), confirmando que este teste é mais adequado para a
avaliação de antidepressivos tricíclicos. Apesar desta ressalva, o objetivo do nosso trabalho
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era avaliar as possíveis interações da ayahuasca com antidepressivos de diferentes classes,
razão pela qual a interação com a sertralina foi investigada.
Também fez parte deste estudo avaliar o efeito da interação de ayahuasca com a
moclobemida, um inibidor reversível da MAO-A utilizado clinicamente como antidepressivo.
No teste realizado com a moclobemida isoladamente, nenhuma dose utilizada inibiu a
hipotermia induzida pela apomorfina, mas ao contrário, as doses de 20 e 40 mg/kg induziram
queda de temperatura nos animais de maneira dose-efeito. Esse fato se deve, provavelmente,
ao aumento da neurotransmissão serotonérgica e dopaminérgica em decorrência do
mecanismo de ação IMAO-A da moclobemida. Conforme já mencionado, ambos os sistemas
de neurotransmissão possuem papel fundamental nos mecanismos de hipotermia em animais,
principalmente pela interação serotonérgica com o receptor 5-HT1A (Gudelsky et al., 1986) e
pela interação dopaminérgica com os receptores dopaminérgicos pré-sinápticos D2
(Zarrindast, Tabatai, 1992). Neste sentido, pode-se especular que o pré-tratamento com a
ayahuasca permitiu que uma dose menor de moclobemida (5 mg/kg) fosse capaz de induzir
queda de temperatura dos animais, comparado ao grupo controle, pela sua ação serotonérgica.
Entretanto, a combinação das duas drogas não foi suficiente para inibir a hipotermia induzida
pela apomorfina, o que de certa forma já era esperado, já que este teste farmacológico não é
indicado para avaliação de drogas IMAO, dentro de seu contexto como modelo para
investigação de antidepressivos.
Não se deve esquecer que a própria administração de ayahuasca induziu queda de
temperatura nos animais, registrada antes da administração de apomorfina. Abdel-Fattah et al.
(1995a) apresentam evidências que sustentam esse resultado. Os autores constataram que as
β-carbolinas harmina e harmalina extraídas das folhas da Peganum harmala induziram um
quadro de hipotermia dose-dependente em ratos (2,5 – 20 mg/kg, via i.p.), onde a queda de
temperatura foi mais significativa entre 30 e 60 minutos após a administração dos alcaloides.
Adicionalmente, o pré-tratamento com um inibidor da síntese de serotonina (pclorofenilalanina, 100 mg/kg/dia, durante 3 dias) inibiu significativamente a hipotermia
induzida pelos alcaloides totais (5 mg/kg, i.p.) e pela harmina isolada (10 mg/kg, i.p.). Além
disso, o pré-tratamento com 2 mg/kg do pindolol (antagonista parcial do receptor
serotonérgico 5-HT1A e antagonista do receptor β-adrenérgico), bem como sua associação
com o haloperidol, um antagonista do receptor dopaminérgico D2 (5 mg/kg subcutâneo 24
horas antes e 2 mg/kg i.p. 2 horas antes do teste), inibiram completamente a hipotermia
induzida pelos alcaloides. A partir desses resultados, Abdel-Fattah et al. (1995a) concluíram
que a hipotermia promovida pelos alcaloides ocorre por meio de três mecanismos: (1) sua
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ação IMAO induz um aumento da neurotransmissão serotonérgica, e, por conseguinte, a
serotonina torna-se disponível para interagir com o receptor 5-HT1A que participa do
mecanismo de hipotermia em camundongos; (2) sua ação IMAO induz um aumento da
neurotransmissão dopaminérgica, e, por conseguinte, a dopamina torna-se disponível para
interagir com o receptor D2 que também está envolvido no mecanismo de hipotermia em
camundongos; (3) harmalina por si só interage com os receptores serotonérgicos promovendo
a hipotermia.
Tanto a ayahuasca como a moclobemida atuam inibindo preferencialmente a MAOA. Para verificar o efeito da interação da ayahuasca com outros inibidores da MAO, foi
realizado um teste-piloto com a pargilina, um inibidor irreversível e seletivo da MAO-B, não
empregado clinicamente como antidepressivo. Neste teste a administração de pargilina
induziu hipotermia nos animais, porém com a injeção posterior de apomorfina houve um
quadro de hipertermia prolongada. A associação de ayahuasca e pargilina acentuou o quadro
de hipertermia, indicando um efeito potencialmente tóxico desta combinação.
Nesse teste com a pargilina a temperatura e o estado geral dos animais foram
avaliados de hora em hora até 4 horas após a administração da apomorfina, a fim de verificar
se os efeitos produzido pela interação das drogas eram reversíveis. Contudo, com a evolução
do tempo observou-se a morte dos animais. Em um estudo com a pargilina realizado por
Abdel-Fattah et al. (1995b), embora não tenha sido administrada a apomorfina, os
pesquisadores relataram que após um breve período de hipotermia, os camundongos
apresentavam um período prolongado de hipertermia que evoluía para a morte dos mesmos.
No nosso estudo, a associação de ayahuasca e pargilina acelerou o tempo de morte dos
animais, na comparação com os demais grupos. Esse fato se justifica, provavelmente, pelo
aumento significativo e permanente de serotonina e noradrenalina em decorrência da inibição
irreversível da MAO-B pela pargilina, e que neste caso foi potencializado pelo efeito de
inibição adicional da MAO-A pelas β-carbolinas do chá. Conforme já comentado, aumentos
significativos, tanto de serotonina como de noradrenalina em nível central, estão relacionados
com quadros de hipertermia (Abdel-Fattah et al., 1997) e com a inibição da hipotermia
induzida pela apomorfina (Puech et al., 1978; Menon et al., 1984; Porsolt et al. 1991; An et
al., 2008).
O outro modelo animal de depressão utilizado nesse estudo foi o teste da natação
forçada, também conhecido como teste do desespero comportamental e que consiste no
modelo mais utilizado para a avaliação de drogas antidepressivas. Este teste baseia-se na
observação de que ratos colocados para nadar em um tanque de água onde o escape é
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impossível, quando reexpostos a tal situação apresentam um grande período de imobilidade,
que representaria a “desistência” frente à situação imposta. Este comportamento representa
uma diminuição da capacidade de lidar com situações de estresse e dificuldade, como ocorre
com o paciente com depressão. Drogas antidepressivas diminuem o tempo de imobilidade dos
animais, assim como o eletrochoque e privação de sono, terapias não farmacológicas
utilizadas no tratamento da depressão (Porsolt et al., 1978; Porsolt et al., 1991; Weiss, Kilt,
1998).
O propósito deste estudo era determinar as doses efetivas e subefetivas de três
antidepressivos (imipramina, sertralina e moclobemida) e então avaliar o efeito da associação
de ayahuasca com tais drogas, em suas doses subefetivas. Esperava-se com isso que a
ayahuasca pudesse induzir diminuição de imobilidade em animais tratados com estas doses
dos antidepressivos, agindo de modo sinérgico, como demonstrado em outros estudos de
associação (Poleszak et al., 2005; Rogóz, Skuza, 2006; Wesolowska, Nikiforuk, 2008; Réus et
al., 2011b). Contudo, nenhuma dose testada dos antidepressivos isoladamente reduziu o
tempo de imobilidade dos ratos em relação aos respectivos grupos controle. As doses
empregadas dos antidepressivos imipramina, sertralina e moclobemida foram baseadas em
dados da literatura (Ferigolo et al., 1998; Réus et al, 2011a; Espallergues et al., 2012) e
estudos prévios do laboratório, nas quais as doses superiores haviam sido efetivas. É
importante ainda ressaltar que não foi viável a utilização de doses superiores destas drogas,
pois as maiores doses empregadas já se mostraram limítrofes, induzindo extrema irritação nos
animais e alguns sinais de toxicidade.
Também foi objetivo do trabalho avaliar o efeito isolado da ayahuasca, e desta forma
estimar seu potencial como agente antidepressivo, uma vez que é relatado entre integrantes
dos grupos ayahuasqueiros que o chá promove melhora de humor em indivíduos deprimidos.
O chá, nas doses de 120 e 1200 mg/kg não alterou o tempo de imobilidade dos animais na
natação forçada, indicando ausência de atividade nesta faixa de dose. Lima et al. (2006)
também avaliaram o efeito da ayahuasca sobre a natação forçada de ratos, porém as doses
utilizadas não estão claramente descritas no trabalho. Aparentemente os autores avaliaram
doses correspondentes a 2,5; 5 e 10 mg/kg de DMT no chá de ayahuasca, que administrado
por via oral, reduziu o tempo de imobilidade dos animais em relação ao grupo controle, sendo
o efeito mais pronunciado com a dose menor. No nosso trabalho as doses foram baseadas em
estudos prévios do grupo com outros modelos animais (Pires, 2009), sendo que a dose de 120
mg/kg corresponde a dose média consumida por humanos, segundo a pessoa que cedeu o chá.
Considerando o teor de DMT dosado no material utilizado em nosso estudo (0,38 mg/ml) e a
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concentração de ayahuasca (120 mg/ml) temos que a DMT representa aproximadamente
0,32% do resíduo seco. Ao se calcular a quantidade de DMT no chá (0,32% de 120 mg/kg dose unitária) temos a dose de 0,38 mg/kg, ou seja, como a dose é igual a concentração inicial
os valores de concentração e dose dos constituintes também são coincidentes). Para a dose de
1200 mg/kg do chá (10 vezes maior) a dose de DMT foi de 3,8 mg/kg, o que está dentro da
fase de doses com efeito positivo utilizadas por Lima et al. (2006). Contudo, como estes
autores não mencionam a concentração de DMT no chá, não é possível calcular a dose total
de ayahuasca utilizada naquele estudo e assim não é possível estimar a participação de outras
substâncias, como as β-carbolinas com ação IMAO, o que torna inviável comparar nossos
dados com tais resultados. Estudo de Fortunato et al. (2009) demonstrou que a harmina, em
doses de 10 e 15 mg/kg, diminuiu o tempo de imobilidade de ratos no teste da natação
forçada, enquanto a dose maior induziu ainda aumento dos níveis de BDNF no hipocampo
dos animais. Já no nosso estudo, considerando o teor de harmina de 0,32 mg/ml (que
representa 0,27% do resíduo seco), calcula-se que na dose de 120 mg/kg do chá temos 0,32
mg/kg de harmina, o que corresponde a doses mais de 30 vezes menores que as utilizadas por
Fortunato et al. (2009).
Apesar dos estudos com os antidepressivos isoladamente não terem indicado
nenhuma dose efetiva, foram conduzidos experimentos de associação da ayahuasca com estas
drogas, até porque o intuito do trabalho era verificar a interação entre doses que sozinhas não
são efetivas. Nos testes com a imipramina isoladamente ou na associação com a ayahuasca
utilizou-se o antidepressivo de dois laboratórios diferentes, como uma tentativa de obter o
resultado esperado. A dose de 3,75 mg/kg (Cristália) foi escolhida, uma vez que a dose 7,5
mg/kg desta marca induziu menor tempo de imobilidade comparada com as outras doses
utilizadas de imipramina do mesmo lote. Por outro lado, optou-se pela dose de 15 mg/kg de
imipramina (Biosintética), pois a dose de 30 mg/kg desta marca induziu uma redução no
tempo de imobilidade dos animais em relação ao grupo controle, embora não tenha sido
estatisticamente significativo.
A imipramina é uma das principais drogas empregadas como controle positivo em
estudos que utilizam a natação forçada para avaliar outras substâncias ou interações entre elas.
Dados da literatura mostram que doses de 5, 10, 15 e 30 mg/kg são efetivas em diminuir o
tempo de imobilidade em relação ao grupo controle (Chaviaras et al., 2010; Kitamura et al.,
2004; Réus et al., 2011a). Estudos-piloto do grupo haviam indicado que a imipramina é eficaz
na dose de 30 mg/kg, produz um pequeno efeito (não estatístico) na dose de 15 mg/kg e não
modifica a imobilidade dos animais em doses de 7,5 mg/kg ou inferiores (dados não
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publicados). No presente estudo, as drogas isoladamente (3,75 a 30 mg/kg), assim como a
associação da imipramina com ayahuasca, não modificaram o tempo de imobilidade dos
animais, indicando ausência de interação neste teste.
Existem diversos estudos de associação da imipramina com outras drogas no teste da
natação forçada, com objetivos semelhantes ao do nosso estudo. Réus et al. (2011b) avaliaram
a associação da imipramina com a cetamina, uma droga antagonista do receptor NMDA do
glutamato e os resultados mostraram que a associação de doses subefetivas da imipramina (10
mg/kg) + cetamina (5 mg/kg) produziu uma ação sinérgica positiva, ou seja, diminuiu o
tempo de imobilidade dos animais em relação ao grupo controle. De modo similar, Poleszak
et al. (2005) constataram que a associação de doses subefetivas da imipramina (10 e 15
mg/kg) com o magnésio (5 e 10 mg/kg) reduziu o tempo de imobilidade de camundongos de
forma significativa comparada ao grupo controle. Os autores do estudo relatam que a
interação farmacodinâmica, ao invés da interação farmacocinética, é a responsável pelo efeito
encontrado da associação da imipramina com o magnésio, uma vez que não detectaram
alteração nos níveis de magnésio, imipramina ou desipramina (metabólito ativo da
imipramina), em nível central e periférico, após a administração conjunta da imipramina e do
magnésio.
No caso do estudo com a sertralina optou-se por testar a interação da ayahuasca com
duas doses do antidepressivo (2,5 e 10 mg/kg), já que as quatro doses empregadas
isoladamente não foram efetivas em diminuir o tempo de imobilidade dos animais. Procurouse com isso aumentar as chances de observar uma possível interação da sertralina com a
ayahuasca. Mesmo assim, não foi observada alteração no tempo de imobilidade dos animais
para nenhum grupo, seja da sertralina isolada ou em associação com ayahuasca.
É importante destacar que a avaliação de antidepressivos inibidores seletivos da
recaptação de serotonina pelo teste de natação forçada requer certos cuidados, segundo a
literatura. Nesse sentido, é possível discriminar três comportamentos distintos do rato exposto
ao teste: natação – movimentos ativos com as patas dianteiras e traseiras, mais do que
necessários apenas para manter a cabeça acima da água; climbing – movimentos ativos e
vigorosos com as patas dianteiras, normalmente dirigidas contra as paredes do cilindro; e
imobilidade – flutuação na água sem luta, fazendo apenas os movimentos necessários para
manter a cabeça acima da água (Detke et al., 1997). Conforme, Detke et al. (1995) o
comportamento de climbing dos animais aumenta nesse teste em decorrência de uma maior
neurotransmissão noradrenérgica, enquanto o comportamento da natação aumenta em
decorrência da neurotransmissão serotonérgica. Contudo, como a distinção entre estes
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comportamentos não é clara, e para facilitar a mensuração dos dados, optamos por medir
apenas nado versus imobilidade. A decisão também foi subsidiada pelo fato de que em um
teste-piloto não se evidenciou diferença de natação ou climbing com o uso de sertralina
(dados não publicados).
Cryan et al. (2005) apontam que o tratamento crônico com antidepressivos diversos,
produz resultados mais significativos em relação ao tratamento agudo (tratamento utilizado
nesse estudo). Esses autores constataram que doses aparentemente inativas de três
antidepressivos com mecanismos de ação diferente apresentam efeito potencializado no
tratamento crônico de 14 dias em relação ao tratamento agudo de 3 dias em um teste adaptado
da natação forçada. Em outras palavras, constataram que a reboxetina, um potente e altamente
seletivo inibidor da recaptação da noradrenalina, produz aumento do climbing; enquanto a
fluoxetina, um inibidor seletivo da recaptação de serotonina, aumentou a natação.
Há vários outros estudos demonstrando que a associação de drogas antidepressivas
diversas com outros agentes farmacológicos permite que doses menores do antidepressivo
passem a ser eficazes. Por exemplo, Rogóz e Skuza (2006) avaliaram a interação de uma dose
subefetiva de pramipexol (0,1 mg/kg) com doses subefetivas de sertralina (2,5 e 5 mg/kg). O
pramipexol é um potente agonista do receptor dopaminérgico D3. Os resultados obtidos
mostram que o grupo de animais que recebeu a associação pramipexol 0,1 mg/kg + sertralina
5 mg/kg apresentou menor tempo de imobilidade em relação ao grupo controle, enquanto a
associação da mesma dose de pramipexol com 2,5 mg/kg de sertralina não foi efetiva. Os
autores do estudo justificam que a eficácia da associação entre pramipexol e sertralina em
reduzir o tempo de imobilidade esteja relacionada com a ligação da sertralina com o receptor
específico de serotonina 5-HT1A e com o receptor σ1, e da ligação do pramipexol com
receptores dopaminérgicos D2/3, pois constataram que a administração de drogas antagonistas
desses receptores diminui a eficácia da associação. Vale ressaltar ainda, que a sertralina além
de atuar como um potente inibidor da recaptação de serotonina atua também, em menor nível,
como um inibidor dos transportadores dopaminérgicos (Stahl et al., 2013). Assim, estes dados
sugerem que a estimulação de diferentes sistemas monoaminérgicos no teste de natação
forçada contribua para o efeito positivo no mesmo. Como uma forma de avaliar esta
possibilidade, investigamos o efeito da associação da ayahuasca com a tranilcipromina, um
inibidor irreversível das enzimas MAO-A e MAO-B (Youdim et al., 2006). Tal interação, em
teoria, levaria a um expressivo aumento das concentrações de dopamina, noradrenalina e
serotonina. Entretanto, os resultados mostram que o grupo de animais que recebeu a
associação ayahuasca 120 mg/kg + tranilcipromina 0,1 mg/kg não apresentou redução no
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tempo de imobilidade comparado ao grupo controle. Não foi possível trabalhar com doses
superiores, pois a tranilcipromina, sendo um inibidor irreversível da MAO, produziu sinais
evidentes de toxicidade com doses maiores que 10 mg/kg.
Dados da literatura mostram o efeito da tranilcipromina de forma isolada no teste da
natação forçada. Num desses estudos, Reed et al. (2008) observaram que as doses de 0,5; 1;
2,5 e 10 mg/kg (i.p.) diminuíram o tempo de imobilidade de ratos com 21 dias de idade em
relação ao grupo controle salina. As doses de 1; 2,5 e 10 mg/kg aumentaram o tempo de
natação, enquanto o climbing foi aumentado somente no grupos de animais que receberam a
dose de 0,5 mg/kg. Os autores ressaltam que o aumento do comportamento da natação e do
climbing, ocorreu devido ao aumento das concentrações de serotonina e de noradrenalina,
respectivamente. Já Torregrossa et al. (2005) constataram que o tratamento crônico de
tranilcipromina (total de 21 dias, sendo 7 dias na dose de 7,5 mg/kg e 14 dias com 10 mg/kg,
i.p.) diminuiu o tempo de imobilidade de ratos. Entretanto, conforme mencionado
anteriormente, a tranilcipromina (via i.p.) se mostrou potencialmente tóxica em nossos
estudos, o que inviabilizou o estudo com doses superiores a 10 mg/kg.
Em relação à pargilina (IMAO-B, irreversível) foi realizado apenas um teste-piloto
com a droga isolada (1, 5 e 20 mg/kg) e nenhuma destas doses reduziu o tempo de
imobilidade dos ratos em relação ao grupo controle. Além disso, a pargilina é uma droga
empregada com fins experimentais e atualmente não é mais utilizada na clínica médica para o
tratamento da depressão. Soma-se ainda, que devido à toxicidade observada na associação de
ayahuasca e pargilina no experimento da hipotermia induzida pela apomorfina, foi decidido
que essa droga não seria mais utilizada no nosso trabalho; sendo planejado o emprego da
moclobemida como droga IMAO nos dois modelos de depressão.
No teste com a moclobemida isoladamente (doses de 7,5; 15 e 30 mg/kg) nenhuma
dose utilizada diminuiu o tempo de imobilidade dos animais em relação ao grupo controle,
não sendo possível discriminar entre uma dose ativa e aquela subefetiva. Este resultado
contrasta com dados da literatura que mostram o efeito da moclobemida no teste da natação
forçada em doses próximas àquelas empregadas no presente estudo. Num desses estudos,
Weinstock et al. (2002) constataram que a administração de 20 mg/kg (v.o.) de moclobemida
reduziu o tempo de imobilidade dos animais e aumentou o tempo de natação tanto no
tratamento agudo (conforme Porsolt et al., 1978) como no tratamento crônico (2 semanas de
tratamento, 20 mg/kg, v.o., uma vez ao dia). Em outro estudo Cryan et al. (2005) utilizaram
minibombas osmóticas para a liberação de moclobemida. As concentrações da droga foram
ajustadas de acordo com o peso corporal médio dos animais, consistindo em tratamentos com
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as doses de 2,5 e 15 mg/kg por 3 ou 14 dias. Ambas as doses reduziram o tempo de
imobilidade e aumentaram o tempo de climbing, sendo os efeitos mais pronunciados com a
dose maior e o tratamento de 14 dias. Em ambos os estudos, os efeitos constatados pelos
diferentes tratamentos com a moclobemida no teste da natação forçada é justificado pelos
autores devido a ação IMAO-A da moclobemida que afeta de modo não-seletivo a
neurotransmissão serotonérgica (relacionada ao tempo de natação), bem como a
neurotransmissão noradrenérgica (relacionada ao tempo de climbing).
A associação da moclobemida em doses subefetivas com outros fármacos já foi
avaliada por alguns autores, empregando o teste da natação forçada. Ferigolo et al. (1998)
constataram que a moclobemida isoladamente (30 mg/kg) bem como a associação de uma
dose subefetiva do antidepressivo (10 mg/kg, i.p.) com feniletilamina (10 mg/kg, i.p.)
reduziram o tempo de natação dos animais em relação ao grupo controle. Segundo os
pesquisadores, a redução do tempo de imobilidade pela interação das duas drogas, ocorreu,
provavelmente, por mudanças significativas dos níveis das monoaminas serotonina,
dopamina, noradrenalina ou da feniletilamina, que induzem um aumento no tempo de natação
e/ou climbing. No nosso estudo, o teste de associação foi feito utilizando as doses de 15 e 30
mg/kg, mas tais associações não alteraram o tempo de imobilidade dos animais, comparados
ao grupo controle. Wesolowska e Nikiforuk (2008) investigaram a associação de uma dose
subefetiva de moclobemida (20 mg/kg, i.p.) e de um antagonista do receptor serotonérgico 5HT6 (SB-399885, 3 mg/kg, i.p.) sob a justificativa que esse receptor pós-sináptico tem papel
fundamental na depressão devido a sua localização em áreas corticolímbicas relacionadas ao
humor, como o hipocampo. Os autores constataram uma acentuada redução no tempo de
imobilidade dos animais em relação ao grupo controle, devido provavelmente ao aumento da
neurotransmissão serotonérgica e das catecolaminas. Por fim, os autores desses estudos
compartilham a ideia que os diferentes resultados obtidos com a moclobemida no teste da
natação forçada possivelmente ocorreram devido a variações no teste, bem como pela
utilização de diferentes doses e vias de administração. Vale lembrar que nessa dissertação, a
moclobemida foi extraída a partir do medicamento comercial Aurorix® e embora a extração da
substância ativa tenha sido confirmada por HPLC, não foi possível estimar o grau de pureza
da droga e, portanto a fidedignamente das doses utilizadas no presente estudo.
Destaca-se ainda, que a conclusão sobre a ausência de efeito da associação da
ayahuasca com os antidepressivos no teste da natação forçada fica prejudicada, uma vez que,
o tratamento com as drogas isoladas também não surtiu efeito nesse teste, isto é, nenhum dos
tratamentos com as drogas isoladas diminuiu o tempo de imobilidade dos animais. Assim,
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considera-se que esse modelo não foi sensível aos tratamentos, bem como há a necessidade de
uma maior investigação de diferentes doses de ayahuasca no teste da natação forçada para
uma melhor compreensão dos efeitos da mesma nesse teste.
O outro parâmetro avaliado durante o teste da natação forçada foi o número de
defecações, já que este é considerado uma medida de emocionalidade do animal em resposta a
uma exposição estressora (Masur, 1970; Archer, 1973; Connor et al. 1999). De fato, alguns
tratamentos utilizados no nosso trabalho reduziram o número de bolos fecais dos animais
avaliados, sendo que este efeito foi mais consistente com a imipramina. Esse fato sugere que a
imipramina seja mais eficaz do que os outros antidepressivos na redução da reatividade
emocional do animal em uma situação estressora. Contudo, Connor et al. (1999) advertem que
a redução do número de defecações no teste da natação forçada promovidas por drogas que
aumentem a biodisponilidade de noradrenalina, como é o caso da imipramina, pode ser devido
a ativação dos terminais sinápticos simpáticos do trato gastrointestinal, que por sua vez,
induzem a um estado de constipação no animal. De qualquer forma, os resultados apontam
para uma interação entre a ayahuasca e a sertralina, pois os tratamentos com a sertralina
isoladamente não induziram uma redução no número de defecações, enquanto que no teste da
associação das drogas o tratamento com ayahuasca e sertralina (doses de 2,5 e 10 mg/kg)
induziu redução do número de defecações. Neste teste, o tratamento apenas com sertralina (10
mg/kg) também reduziu o número de defecações, mas esta queda foi estatisticamente menor
do que a observada após a associação, o que, hipoteticamente indica que a associação da
ayahuasca e sertralina foi mais eficaz em reduzir a reatividade emocional dos animais durante
o teste.
Uma recomendação importante em estudos que utilizam o teste da natação forçada é
certificar-se de que eventuais aumentos observados na natação (ou seja, diminuição da
imobilidade) não se devem a um efeito inespecífico de drogas estimulantes do sistema
nervoso central (Porsolt et al., 1991). Embora nenhum dos tratamentos experimentais no
nosso estudo tenha reduzido o tempo de imobilidade dos animais, foi feito a avaliação da
atividade locomotora em camundongos com a ayahuasca (120 e 1200 mg/kg) e com as doses
maiores dos antidepressivos avaliados. Contudo, nossos resultados revelaram que somente os
animais tratados com a dose de 20 mg/kg de sertralina (ISRS) apresentaram uma
hiperatividade locomotora quando comparados ao grupo controle, em 60, 90 e 120 minutos de
avaliação. Postula-se que esse efeito ocorra provavelmente por meio de dois mecanismos: (1)
a sertralina em doses elevadas atua como um inibidor dos transportadores dopaminérgicos
(Stahl et al., 2013), e assim, provavelmente induz um aumento dos níveis de dopamina no
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circuito mesocortical, o qual influencia a atividade motora; (2) o aumento serotonérgico em
regiões
dopaminérgicas
centrais
específicas
pode
influenciar
indiretamente
a
neurotransmissão dopaminérgica e consequentemente a atividade motora. Nesse sentido,
Sasaki-Adams e Kelley (2001) constataram que a infusão bilateral de 5 µg de serotonina no
núcleo accumbens (volume total de 1 µl) induziu uma hiperatividade locomotora em ratos
avaliados na caixa de medida automática durante duas horas. Entretanto, essa resposta foi
atenuada pela administração prévia de antagonistas de receptores dopaminérgicos D1 e D2 (D1
– R(+)-SCH-23390, 0,1 mg/kg, i.p.; D2 – S(-)-raclopride-L-tartrate, 1,0 mg/kg, i.p.). Mais
recentemente, Herin et al. (2013) constataram que o aumento da expressão do receptor 5HT2A na área tegmental ventral (por meio da técnica de transferência gênica por vetor viral),
aumentou a hiperatividade locomotora de ratos induzida por cocaína (15 mg/kg) no teste do
campo aberto (60 min de avaliação). Além disso, constataram que sem o desafio da cocaína,
os ratos que expressaram de forma significativa o receptor 5-HT2A na área tegmental ventral,
não apresentaram uma hiperatividade locomotora. Somado a isso, constataram em outro
estudo que a microinfusão isolada de um agonista seletivo do receptor 5-HT2A (1-(2,5dimethoxy-4-iodo)-2-aminopropane) na área tegmental ventral foi suficiente para evocar a
hiperatividade de ratos. Dessa forma, os pesquisadores concluem que a ativação do receptor
5-HT2A na área tegmental ventral tem um papel fundamental em mediar a hiperatividade
locomotora evocada pela cocaína no circuito dopaminérgico mesocortical.
Diante disso, era de se esperar que o tratamento com ayahuasca na dose de 1200
mg/kg e moclobemida na dose de 30 mg/kg (IMAO-A) induzissem uma hiperatividade
locomotora nos camundongos, devido ao aumento da neurotransmissão serotonérgica e
dopaminérgica induzidas pelas mesmas, o que não ocorreu. Estes resultados indicam que, de
modo geral, as doses empregadas das diferentes drogas foram adequadas, já que não
interferem na locomoção dos animais.
Para melhor subsidiar os resultados dos estudos in vivo, planejava-se avaliar a
atividade inibidora in vitro da ayahuasca sobre a MAO e verificar o efeito da associação deste
chá com antidepressivos de diferentes categorias, como ocorreu nos modelos animais. Além
disso, os modelos in vitro caracterizam-se por serem menos complexos que os estudos in vivo,
o que poderia aumentar as chances de observar interações mais sutis, não quantificáveis nos
estudos com animais, notadamente complexos e com alta variabilidade. Ainda assim, é
necessário cautela ao estabelecer comparativos de resultados obtidos em modelos in vitro e in
vivo, já que no primeiro caso não é possível reproduzir toda a complexidade que envolve
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processos de absorção, distribuição, metabolização, excreção, além de mecanismos de ação
secundários (Fisar et al., 2010).
É importante esclarecer que os dados bioquímicos apresentados nesta dissertação
ainda são preliminares. Inicialmente foram realizados ensaios para padronizar as condições
ideais de reação, que consistiam em determinar a concentração da fração enzimática (medida
pela concentração total de proteínas), concentração de substrato (quinuramina) e tempo de
incubação. O ponto de referência para nossos estudos foram os trabalhos do grupo da UFSM,
com o qual mantivemos estreita comunicação e que foi importante fornecendo dicas sobre o
estudo (Sant´Anna, 2008; Acker et al., 2009). Sant´Anna (2008) utilizou a concentração de 1
mg/ml de proteína (ou 0,14 mg/ml no ensaio) para a realização dos seus ensaios, bem como as
concentrações de 60 µM de quinuramina para avaliar a atividade da MAO-B e 90 µM para
avaliar a atividade da MAO-A, correspondendo, segundo a autora, aos pontos de Km
(concentração de substrato para que a enzima atinja metade da sua velocidade máxima) e Vmáx
(velocidade da reação máxima) obtidos pela análise de uma curva de concentração de
substrato realizada para MAO-A e para MAO-B, em cérebro e fígado de ratos. Contudo,
nossos ensaios mostraram uma baixa formação do produto quantificável (4-hidroxiquinolina)
com a concentração correspondente a 1 mg/ml de proteína, de forma que resolveu-se adotar a
concentração de 2,5 mg/ml (concentração final de 0,71 mg/ml nos tubos) nos ensaios
subsequentes. Quanto ao substrato, a concentração de 90 µM pareceu adequada e foi mantida,
até mesmo para manter as condições de ensaio mais próximas possíveis daquelas utilizadas
como referência nos nossos estudos (Soto-Otero et al., 2001; Sant´Anna, 2008). Já o tempo de
reação mostrou-se diretamente proporcional a quantificação do produto da reação, e desta
forma, procuramos utilizar nos ensaios iniciais duas medidas, aos 30 e 60 min, padronizando
posteriormente as incubações em 30 min.
Para avaliar a atividade inibidora da MAO, Sant´Anna (2008) utilizou a clorgilina
como inibidor seletivo irreversível para a MAO-A, na concentração de 250 nM, e a selegilina
como inibidor seletivo irreversível para a MAO-B, na concentração de 250 nM, uma vez que
essas concentrações representam a menor concentração que garante 100% de inibição da
isoforma da MAO correspondente para cada antidepressivo (Soto-Otero et al., 2001).
Neste estudo testamos a pargilina e a selegilina como inibidores seletivos da MAOB. Concentrações superiores a 100 µM de pargilina inibiram em mais de 50% a formação do
produto da reação, quantificado fluorimetricamente, enquanto a concentração de 10 mM
parece inibir perto de 100% da atividade enzimática. Embora a pargilina seja considerado um
inibidor seletivo da MAO-B, alguns estudos demonstram que em condições in vitro ela inibe
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as isoformas MAO-B e MAO-A com seletividade moderada para a primeira (Fisar et al.,
2010; Passos et al., 2013). Em estudo de Passos et al. (2013) a CI50 da pargilina sobre a
MAO-B foi de 0,13 µM e para a MAO-A de 4,07 µM, ou seja, uma diferença de 30 vezes. No
mesmo estudo os autores mostraram que o CI50 da clorgilina (inibidor seletivo da MAO-A)
foi aproximadamente 2750 vezes mais potente para a MAO-A (CI50 de 0,004 µM contra 4,96
µM para a MAO-B). Já a selegilina se mostrou aparentemente mais seletiva em nossos
ensaios, o que pose ser constatado pelo platô obtido entre as concentrações de 250 nM até
quase 2,5 µM. Em concentração superior, a seletividade da droga parece se perder. A
concentração de 250 nM é justamente aquela sugerida pela literatura para bloqueio específico
da MAO-B (Soto-Otero et al., 2001) e portanto foi aquela empregada nos ensaios posteriores
para a determinação da inibição da MAO-A pela ayahuasca.
Segundo a literatura, a ayahuasca tem ação predominantemente IMAO-A por meio
da ação das β-carbolinas harmina, harmalina e da THH (Herraiz et al., 2010). Em um ensaio
onde foi avaliada a ação da ayahuasca sobre a atividade da MAO total, ou seja, sem bloqueio
da MAO-B, observou-se uma leve inibição na formação do produto quantificável em
concentrações a partir de 100 ng/ml. Já no ensaio onde foi feita uma pré-incubação com a
selegilina (250 nM), com a finalidade de bloquear a MAO-B, o efeito da ayahuasca foi bem
mais pronunciado. Este resultado sugere, a princípio, que a ayahuasca de fato seja seletiva (ou
predominantemente seletiva) para a MAO-A, no entanto, isso só poderá ser avaliado num
ensaio onde seja feita a pré-incubação da enzima com um inibidor seletivo da MAO-A (por
exemplo, a clorgilina), e assim, o efeito a ser medido indicará a inibição do chá sobre a MAOB. Além disso, a baixa inibição da ayahuasca sobre a MAO total indica que a preparação
utilizada seja rica principalmente na isoforma MAO-B. Ambas as isoformas da MAO estão
presentes no SNC, assim como no fígado, plasma e outros tecidos (Benedetti, Dostert, 1992),
entretanto, há um predomínio de MAO-B em relação a MAO-A no SNC (Wimbiscus et al.,
2010). Dentro das condições utilizadas, a CI50 da ayahuasca sobre a MAO-A parece ser
próxima de 100 ng/ml, porém é necessária a realização de outros ensaios para que esse
resultado seja confirmado. A concentração 10 vezes maior de ayahuasca (1000 ng/ml) inibiu
em torno de 80% a atividade da MAO-A, porém não foi possível avaliar o efeito IMAO-A de
concentrações superiores a esta, uma vez que essas concentrações já interferiram por si só nas
leituras no fluorímetro, conforme constatado em teste onde foi feita a leitura da ayahuasca
isoladamente.
Samoylenko et al. (2010) relatam que durante a mensuração da inibição da atividade
da MAO pela Banisteriopsis caapi houve fortes interferências na fluorescência com
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concentrações superiores a 5 µg/ml com a leitura feita em 460 nm. Dessa forma, utilizaram
um protocolo onde a leitura da fluorescência foi realizada com emissão em 380 nm (Parikh et
al., 2002) e assim determinaram a porcentagem de inibição da MAO-B e da MAO-A, sendo
que a inibição da MAO-A nestas condições foi similar à medida feita em 460 nm. No nosso
estudo não foi possível realizar a leitura na fluorescência com uma emissão em um
comprimento de onda menor que 460 nm (por limitações do aparelho), o que poderia ser útil
para estabelecer um comparativo de dados e quem sabe diminuir a interferência de
concentrações elevadas de ayahuasca na leitura.
De qualquer forma, os resultados obtidos no nosso estudo confirmam a atividade
IMAO-A para a amostra de ayahuasca utilizada em concentrações que parecem próximas
daquelas descritas na literatura para preparações isoladas das plantas. Schwarz et al. (2003),
utilizando um homogenato de fígado de rato, constataram uma ação IMAO-A com o CI50 de
1,24 µg/ml para o extrato de Banisteriopsis caapi e de 4,54 nM para a harmina. Em termos
de equivalência, os autores relatam que o extrato apresentou uma potência de inibição da
MAO-A superior a da harmina, pois a concentração do CI50 do extrato correspondeu a 0,0011
nM do princípio ativo, o que sugere o sinergismo de outros componentes presentes no extrato.
Em outro estudo, Samoylenko et al. (2010) constataram que as β-carbolinas harmina e
harmalina foram mais potentes na inibição da MAO-A em relação a MAO-B (CI50 2,0
nM/2,5nM; 20 µM/25 µM, respectivamente). Além disso, constataram que a atividade dos
extratos obtidos do caule (seco ou fresco) ou do cipó sem casca da Banisteriopsis caapi
também foram mais potentes na inibição da MAO-A (CI50 0,02–0,05 µg/ml) em relação a
MAO-B (CI50 ∼100 µg/ml). No entanto, os autores ressaltam que há diferentes espécies da
Banisteriopsis, que não são conhecidas devido à escassez de coleções férteis e a carência de
estudo taxonômico detalhado. A variação dos teores de β-carbolinas e de DMT no cipó e
folhas das espécies que compõem o chá de ayahuasca em diferentes localidades, ou na mesma
localidade em diferentes momentos, é bem conhecida.
Há ainda na literatura um estudo recente onde os autores avaliaram a atividade
inibitória da MAO-A e da MAO-B pelos alcaloides da Psychotria laciniata Vell., pertencente
ao gênero Psychotria, o mesmo da P. viridis, que possui DMT em sua composição e é
utilizada no preparo do chá de ayahuasca (Passos et al., 2013). Os pesquisadores constataram
que alguns alcaloides da P. laciniata apresentaram uma atividade inibitória da MAO-A
variando a CI50 entre 0,85 a 7,41 µM, mas ao comparar com os valores de CI50 da harmina
obtidos por Samoylenko et al. (2010) constataram que a inibição da MAO-A pelos alcaloides
da P. laciniata foi 1000 vezes menos potente. Não foi encontrado na literatura nenhum estudo
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que avaliou a atividade inibitória da Psychotria viridis sobre a MAO-A e a MAO-B, e assim
não há como saber se esta espécie contribuiria com uma ação sinérgica na inibição da MAO
in vitro.
Considerando nossos resultados como um todo, faz-se necessário a realização de um
maior número de estudos pré-clínicos in vitro e in vivo para avaliar as possíveis interações
existentes entre a ayahuasca e os antidepressivos, uma vez que os resultados obtidos nesse
estudo apontam a interação de doses subefetivas da ayahuasca com os antidepressivos
imipramina e sertralina no teste da hipotermia induzida pela apomorfina. No caso de
interações com drogas que inibem de forma irreversível a MAO, como é o caso da pargilina, a
interação mostrou-se extremamente perigosa. Um ponto importante a se considerar na
realização de estudos futuros com a ayahuasca isolada, bem como sua interação com os
antidepressivos em modelos animais de depressão, é o tempo de tratamento. Deste modo,
sugere-se a avaliação após tratamento crônico, visto que a ação dos antidepressivos na clínica
médica surge por volta de 2 a 3 semanas de tratamento (Hindmarch, 2001; Krishnan, Nestler,
2008), assim como o uso de ayahuasca, embora não seja diário, também se dá de forma
repetida.
Finalmente, espera-se que as informações obtidas nesses estudos pré-clínicos sejam
úteis para a realização de estudos clínicos que visem avaliar a ação antidepressiva da
interação entre a ayahuasca e os antidepressivos. Esta seria uma possibilidade interessante,
permitindo ocasionalmente que doses menores dos antidepressivos fossem empregadas com
sucesso.
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6 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste trabalho não indicaram interação do efeito de doses
subefetivas agudas de sertralina, imipramina e moclobemida com a ayahuasca no teste da
natação forçada ao avaliar o comportamento de imobilidade, relacionado a uma ação
antidepressiva. Além disso, o fato dos antidepressivos não terem produzido os efeitos
esperados com nenhuma dose sugere que o modelo não funcionou adequadamente. Desta
foram, sugere-se estudos em que se avalie o tempo de imobilidade em ratos submetidos a um
tratamento crônico de doses subefetivas da associação da ayahuasca com os antidepressivos, o
que melhor reproduziria a condição real e aumentaria a possibilidade de sucesso no teste. No
que se refere ao número de defecações dos animais neste teste, um parâmetro de
emocionalidade, nota-se uma aparente interação entre a ayahuasca e a sertralina, uma vez que
a sertralina de forma isolada não surtiu efeito na redução do número de defecações, enquanto
na associação tal fato foi constatado.
Por outro lado, os resultados do teste da inibição à hipotermia induzida pela
apomorfina indicam a provável existência de interações da ayahuasca com a imipramina e
com a sertralina, uma vez que em ambos os testes a associação das drogas induziu uma
elevação da temperatura retal dos animais após a administração de apomorfina (comparada à
temperatura imediatamente anterior a administração desta), enquanto os tratamentos com as
drogas isoladas não produziu este efeito. Embora não tenha sido observada uma interação
significativa com a moclobemida, a interação com a pargilina produziu efeitos tóxicos que
revelam que a associação de ayahuasca com drogas IMAO irreversíveis deve ser evitada.
Finalmente, no que se refere ao teste de inibição da MAO in vitro, os resultados
obtidos, embora preliminares, confirma a atividade inibidora seletiva sobre a MAO-A pela
ayahuasca.
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ANEXO A - Folha de aprovação da Comissão de Ética em Uso Animal
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