Segundavisitaaosindígenasemcontatoinicial: “Povo do Xinane”
DouglasRodrigueseEvelinPlácidodosSantos1
Períodototaldetrabalho:5a17deagostode2014
PeríododetrabalhoemCruzeirodoSul:6a9deagostode2014
PeríododetrabalhoemáreanaBasedeProteçãoEtnoambiental(BAPE)Xinane:
10a15deagostode2014
Foto:EvelinPlácidodosSantos,agostode2014
1ProjetoXingu/EscolaPaulistadeMedicina/Unifesp
1
1.Contexto:
EstasegundaviagemdoProjetoXinguinsere‐senocontextodacolaboraçãocom
a SESAI na atenção à saúde do grupo de indígenas isolados, que estabeleceu
contato em junho deste ano no Alto rio Envira (referência No. 30 da CGIIRC,
mapaefotoaéreaisolados).
Na primeira viagem, realizada no período de 5 a 14 de julho passado, foram
cadastrados e tratados sete indígenas: o grupo que havia feito contato com os
AshaninkanaaldeiaSimpatia,noAltoEnvira.2
Naquela ocasião, os indígenas, que apresentavam quadro de infecção
respiratóriaagudapossivelmenteadquiridanocontato,foramacompanhadosna
BAPEXinanepor5dias,sendoliberadospararetornaremaorestantedogrupo,
jáforadoperíododetransmissibilidadedadoença.
O grupo saiu da BAPE Xinane dizendo aos intérpretes que voltariam com os
demais brevemente, em cerca de uma lua (um mês). Cumpriram a palavra e
retornaram. Entre os dias 26/07/2014 e 11/08/2014 mais de 20 pessoas
haviam chegado na BAPE Xinane. A convite da SESAI, deslocamo‐nos para Rio
Branconodia05dejulhopassado,paraumnovoencontrocomos “isolados do
Xinane”agoraconsideradosindígenasemcontatoinicial,ourecentecontato.
2.EquipedetrabalhonaBAPEXinane:
FPEEnvira/FUNAI
GuilhermeSiviero–coordenadordaFrentedeProteçãoEtnoambiental
Envira(FPEEnvira)
FabrícioAmorim–técnicoindigenista
JuanNegret–antropólogoFPEEnvira
MarcusViníciusBoni–auxiliardeindigenismo
AntonioJoséFirminodaSilva–mateirocolaboradoreventual
FranciscoLourençodaSilva(Chicão)–mateirocolaboradoreventual
MariaJaciraSaraivaLima(Moça)–cozinheiracolaboradoraeventual
LulaPereiraLampiãoJaminawa–intérpretecolaboradoreventual
AlmírioJaminawa‐intérpretecolaboradoreventual
JoséKampoJaminawa‐intérpretecolaboradoreventual
SESAI/MS RafaelHenriqueMachadoSacramento–médicoDSEICeará
FranciscodeAssisBrandão–técnicodeenfermagemDSEIARJ
ProjetoXingu/Unifesp
DouglasRodrigues–médico
EvelinPlácidodosSantos‐enfermeira
2Orelatórioestádisponívelemwww.projetoxingu.unifesp.br
2
3.Planodetrabalho:
Comonãonoshaviasidoapresentadoumplanodetrabalhoparaestaviagem,na
manhã do dia 6/08/2014 em Rio Branco,em reunião com a diretora do
DASI/SESAI,DanielleSoaresCavalcante,ecomaenfermeiraMargarethAmorim,
daequipetécnicadoDASI/SESAI,sugerimosoplanodetrabalhoabaixo,enviado
que após discutido e previamente aceito, foi enviado para Danielle Cavalcante,
pore‐mail,em07/08/2014:
3.1Objetivogeral:
ColaborarcomaSESAInaelaboraçãoeimplementaçãodeplanodecontingência
paraatençãoàsaúdedos“isoladosdoXinane3”
3.2Objetivosespecíficos:
 Tratarosindígenasqueestiveremdoentes;
 Fazerocadastromédicoindividualemfichaespecífica;
 Imunizar os indígenas e a equipe da Base de Proteção Etnoambiental
(BAPE)Xinane;
 Sistematizarinformaçõesmédico‐epidemiológicasparaentendimentodo
perfil epidemiológico do grupo, base para o planejamento para as ações
desaúde:
 Fazeroexameclínicoindividualdetodososindígenas;
 Avaliar o estado nutricional individual incluindo a presença ou
ausênciadeanemia;
 Com base em amostras de sangue, estabelecer o perfil soro‐
epidemiológico para algumas doenças infecto‐contagiosas por
meiodadosagemdeanticorpos4para:
 malária
 hepatitesvirais
 sarampo
 varicela
 febreamarela
 toxoplasmose
 lues
 Iniciar a capacitação, em campo, dos profissionais de saúde da
SESAI para a imunização e assistência à saúde em contextos de
contatoinicial;
3Chamaremos “isolados do Xinane” ao grupo em isolamento que entrou em contato com os
AshaninkanaadeiaSimpatia,altorioEnvira,áreadeabrangênciadopolo‐baseFeijódoDSEIAlto
Juruá/SESAIedaFPEEnvira/FUNAI(referêncian.30CoordenaçãoGeraldeÍndiosIsoladosede
RecenteContato‐CGIIRC/FUNAI)
4Osresultadosdadosagemdeanticorposparaasdoençaspreveníveisporvacinaspoderáservir
parafuturaavaliaçãodaeficáciavacinal.
3
Quadro1.Esquemadeimunizaçãopropostoparaaprimeiracampanhade
multivacinaçãoentreosisoladosdoXinane,agostode2014. 5
Vacina
DPT+HiB+HB(Pentavalente)
dT
HB
HAInfantil
HAAdulto
Faixaetária
Até6anos11mesese29dias
>=7anos
>=7anos
<=17a
>17a
SCR(TrípliceViral)
Varicela
SCRV(TetraViral)
VOP
Pn10
>=12m
>=12m
>=12maté<12a
Até6anos11mesese29dias
<2a
Pn23
MeningocócicaC
>=2a
<2a
HPV
Fem>=9a
Influenza
>6m
Esquemavacinal(doses)
d1+d2+d3Int.mín.=30dias
d1+d2+d3Int.mín.=30dias
d1+d2+d3Int.mín.=30dias
d1+d2Int.mín.=30dias
Doseúnica(recomendador1comintervalomínimo
de6m)
d1+d2Int.mín.=30dias
d1+d2Int.mín.=30dias
d1+d2(sendod2=TV+Varicela)Int.mín.=30dias
d1+d2+d3Int.mín.=30dias
d1+d2+d3Int.mín.=30diasr1aos15mesesou
comint.
d1comreforçoapós5anos
d1+d2er1atécompletar2a;sed2our1ocorrer>
2anãofazeredeixarsócomd1
d1+d2+d3Int.mín.=30diasentred1ed2;ede5
anosentred1ed3
d1+d2para<9a;dupara>9a
Nestaprimeiraabordagem,nãoforamaplicadasasseguintesvacinas:
a) Vacina contra a Febre Amarela: contraindicada em primo‐vacinação
simultâneacomsarampo.Optamosporpriorizarsarampo;
b) Vacina contra o Rotavírus: restrições de faixa etária (estreita) e intervalos
entredoses(fixos);
c)VacinaOralcontraaPoliomielite(Sabin):dadasascondiçõesdesaneamento
ambientaloptamosporretardaraaplicaçãodaVOP.
d)Vacinaanti‐pneumocócicaadultoPn23–nãofornecida.
4.Cronogramaedescriçãodasatividades
4.1EmRioBranco:
Dia 6/08/14: reunião com Danielle Cavalcante e Margareth Amorim para
definição do plano de trabalho e checagem do material solicitado previamente
porcorreioeletrônico.
5Oesquemadeprimovacinaçãodosindígenasadotadotevecomoreferênciaocalendáriovacinal
indígena e as idades seguras (mínimas e máximas) para administração de cada vacina, com o
objetivo de administrar o maior número possível de vacinas para cada indivíduo, evitando a
perdadeoportunidadesvacinais.
4
4.2EmCruzeirodoSul(CZS)
dia 6/08/2104– Chegada em Cruzeiro do Sul às 15:30 h. Reunião com o
coordenador do DSEI ARJ, Mario Jr., com a enfermeira Maria Madalena Costa
responsávelpelaimunizaçãonoDSEIARJecomTatianeMorbech,farmacêutica
do DSEI ARJ. Nessa reunião soubemos que os insumos solicitados, incluindo
vacinas, medicamentos e materiais médicos e de enfermagem não estavam
disponíveis em sua totalidade e nem embalados para a viagem. Ficou decidido
quenamanhãseguinteaEnfermeiraEvelinjuntamentecomaenf.Madalenaea
farmacêutica Tatiane preparariam o material de trabalho. As 18 horas
recebemos a ligação do Coordenador de Índios Isolados da FUNAI, Carlos
Travassos,queseencontravanaBAPEXinane,informandoqueasituaçãoestava
tranquila, com alguns indígenas apresentando quadro de tosse. O médico
enviadopelaSESAI,Dr.Rafael,jáseencontravaemárea.
dia7/08/2014.Aofinaldamanhãasvacinasestavamprontasparaoembarque,
tendosidofornecidaspordiferentesUnidadesBásicasdeSaúdedomunicípiode
CruzeirodoSul6.SoubepelafarmacêuticaTatianequealgunsdosmedicamentos
solicitados não seriam disponibilizados, entre eles os colírios para as
conjuntivites,aivermectina,osantimicóticoseoPPD.Fomossemeles.
14:00.Chegamoscom osmateriais noaeroportode CZS.Otempofechadonão
permitiu a decolagem em tempo hábil para o retorno do helicóptero. A viagem
ficouparaodiaseguintecedo,jáqueaaeronavepernoitariaemCZS.
dia 8/08/2014. Soubemos, pelo coordenador do DSEI que o helicóptero havia
saídodeCZSas6:30hpararemoverumaurgênciaemoutrolocal.Aguardamos
seuretornodurantetodoodia.PermanecemosemCZS.
dia 09/08/2014. Saímos cedo para o aeroporto, recarregamos o helicóptero e
decolamosparaaBAPEXinane.Apóscercadeumahoradeviagemencontramos
mautempoeohelicópteroretornouparaCZS.Permanecemosnoaeroportoaté
as 15 h aguardando uma posição da empresa de taxi aéreo. Em seguida fomos
informados que não haveria mais tempo para a viagem. Descarregamos o
helicópteroeretornamosaohotel.
dia 10/08/2014. Com bom tempo e com o helicóptero disponível decolamos
novamenteparaaBAPEXinane,láchegandoas10:30hs.
4.3NaBAPEXinane–10a15/08/2014
InicialmentefoirealizadaumareuniãocomaequipedaFPEEnvira,osertanista
Meirelles,eaequipedaSESAI,RafaelSacramento,médicodoDSEICeará/SESAIe
6Abuscapor vacinaspelasUnidadesdeSaúdedo município,emboratenharesolvido temporariamentea
situação, deve ser evitada, porque dificulta o controle e registro das vacinas aplicadas, pois foram
disponibilizadasvacinascomlotesevalidadesdiferentes. 5
Francisco de Assis Brandão, técnico de enfermagem do DSEI ARJ, expondo a
todos o plano de trabalho e tomando conhecimento das regras de convivência,
manejodosdejetosedolixo.
Foifeitaachecagemdomaterialeaarrumaçãodolocaldearmazenamentodos
medicamentos e insumos. Optamos por deixa‐los no quarto que ocupamos, a
enfermeira Evelin e eu, numa prateleira exclusivamente disponibilizada para
esse fim. Decidimos que ali seria o lugar mais seguro para a guarda dos
medicamento.
Figura1.Farmácia‐quartonaBAPEXinane,agostode2014.
Foto:DouglasRodrigues
Emseguidafomosverificararededefrio.Ogeradorfoiconsertadopelaequipe
daFUNAIeofreezer7desocupadoelimpoparapoderreceberasbobinasdegelo
reciclável.
4.3.1ImunizaçãodaequipedaBAPEXinaneedoindígenaXinatxakai
Estefoiummomentodelicadoefundamental.Comovacinarindígenasquenunca
foram vacinados anteriormente. Qual seria sua reação? Aceitariam ou não as
injeções?Comoexplicaraelesoquesãovacinas?Suaimportâncianaprevenção
dedoençasàsquaisestarãoexpostosapósaquebradeseuisolamento?
Com as vacinas devidamente armazenadas nas caixas térmicas, munidas de
termômetros para registro das temperaturas máximas e mínimas, iniciamos a
vacinaçãodaequipedaBAPEeosintérpretes(deacordocomsuascarteirasde
vacinação),tendochamadoosindígenasparapresenciaremsuaadministraçãoe
buscandoexplicar,comajudadostradutores,arazãodetudoaquilo.
7Na falta de um freezer específico para a manutenção da rede de frio utilizamos um freezer
adquirido com uma “vaquinha” feita pelos indigenistas da FPE e pelosertanistaMeirellescoma
finalidadedeguardaralimentosperecíveis(peixes,caçaetc)paraalimentaçãodaequipe. 6
Oquadro2.VacinasadministradasparaoscomponentesdaequipedaFPEeda
SESAI,BAPEXinane,agostode2014.
Nome
Data
Vacinasadministradas
GuilhermeSiviero
10/08/14 HA;HB;Influenza
FabricioAmorim
10/08/14 HA;Influenza
JuanNegret
10/08/14 Influenza
MarcusViníciusBoni
10/08/14 HA;HB;Influenza
AlmiroJaminawa
10/08/14 HA;HB;TrípliceViral
FranciscoLourençodaSilva
10/08/14 HA;HB;Influenza
(Chicão)
AntonioJoséFirminodaSilva
10/08/14 HA;HB;Influenza
MariaJaciraSaraivaLima(Moça)
10/08/14 HA;HB;Influenza;TrípliceViral
FranciscodeAssisBrandão
10/08/14 HA;Influenza
Meirelles
10/08/14 HA;Influenza
LulaPereiraLampiãoJaminawa
10/08/14 HA
JoséKampoJaminawa
10/08/14 HA;HB;Influenza
Aoencerrarmosavacinaçãodaequipe,oindígenaXinatxakai,quefizerapartedo
grupo que iniciou o contato, pediu para ser vacinado. Interessante seu pedido,
demonstrando entender que deveria ajudar no convencimento dos demais a
aceitarem a vacinação. Foi vacinado e nós o visitamos por duas vezes em sua
rede, à noite, para verificação de reações adversas, que felizmente não
ocorreram.Xinaqueixou‐sededornolocaldeaplicaçãodaDuplaadulto.
Todas as vacinas administradas foram registradas nas carteiras e no mapa de
vacinação.
Figura2.EquipedaFPEEnvira.FotoDouglasRodrigues
7
4.3.2 Cadastramento, exame médico individual e vacinação dos indígenas
emcontatoinicial
Iniciamos o trabalho as 7 horas do dia 11/08/2014, num cômodo de uma das
casasexistentesnaBAPEXinane.
Figura2.CasadaBAPEXinanedisponibilizadaparaotrabalho.Foto:DouglasRodrigues
Antesdoiníciodotrabalho,aindaduranteocafédamanhã,explicamosatodosa
metodologiaeoprocessodetrabalhoque utilizaríamos,distribuindoastarefas
entreoscomponentesdaequipedesaúdeeintérpretesindígenas:
 Enf. Eveline Técnicode EnfermagemAssis:administraçãodas vacinas e
cuidadoscomarededefrio;
 Dr.RafaelSacramento:examemédicoindividualefotosdeidentificação;
 Dr. Douglas Rodrigues: coordenação do trabalho, preenchimento das
fichas médicas, registro das vacinas aplicadas e discussão de casos e
achadosdeexamecomoDr.Rafaelecomotec.enfermagemAssis.
Figura 3. Antes e depois da montagem da sala de trabalho. Fotos: Douglas Rodrigues e Rafael
Sacramento
8
Iniciamosaimunizaçãonosindígenasmaisvelhosdoprimeirogrupo,quehavia
feito contato na aldeia Simpatia. A imunização de um grupo de contato inicial
requer a administração de várias vacinas simultaneamente, como descrito
abaixo:
 homensmaioresde7anosdeidade:dT,SCR,Varicela,HB,HAeInfluenza
=seisinjeções;
 mulheresacimade9anosdeidade:dT,SCR,Varicela,HB,HA,Influenza,e
HPV=seteinjeções;
 criançasmenoresde7anosdeidade:SCRV;DPT+HiB_HB(Pentavalente)
eInfluenza=3injeções.
Aaceitaçãofoiboa.Mesmoreceosososindígenasaproximaram‐see,comcalma,
logramos vaciná‐los com certa facilidade. Provavelmente a boa relação
estabelecida no primeiro contato com a equipe de saúde, com o tratamento e
melhora dos casos de infecção respiratória aguda foi importante para essa
aceitação. O recado passado pelos intérpretes, de que a administração das
vacinasosprotegeriadedoençasperigosasquesurgemapartirdaintensificação
docontato,parecetersidoentendido.
Apenas duascrianças de aproximadamenteume dois anosdeidade nãoforam
vacinadas.Osadultosdisseramquetantasinjeções seria “muito forte” para elas e
queascriançasnãoaguentariampoiserammuitopequenas.
Todas as vacinas aplicadas foram registradas nas fichas médicas individuais
(anexas ao relatório) que contém o cartão espelho da situação vacinal. Foram
abertascarteirasdevacinaçãoqueficaramcomaequipedesaúdedoDSEIARJ,
enfermeiroEduardoeTécnicadeEnfermagemAna.
Umadascrianças,No.22–Nuyumaha,apresentoufebre(T=39C)cercadeoito
horas após ter sido vacinada. Respondeu bem ao antitérmico e o caso foi
notificado como efeito adverso da
vacina(provavelmentedaSCRV).
Figura4.Imunizaçãoeexameclínico
Foto:Rafael Sacramento
Foto:DouglasRodrigues
9
OsformuláriosdoPNI,deimunobiológicosedecontroledaredede frio,foram
preenchidos e enviados ao DSEI ARJ, aos cuidados do Sr. Paulo Roberto e da
farmacêutica Tatiane Morbech. O quadros 3 e 4, a seguir, contém informações
individuais do grupo: número de registro, sexo, idade presumida, dados
antropométricos, dosagem de hemoglobina, vacinas administradas e
observações médicas relevantes.Foramcolhidas 15 amostras de sangueparao
perfil soro‐epidemiológico do grupo e avaliação da eficácia vacinal. Após a
separaçãodosoro,asamostrasforamcolocadasemtubospróprios,identificadas
com o número de registro do indígena e em seguida congeladas. Todas as
amostras foram entregues, em caixa térmica, para o motorista do DSEI, no
aeroportoemCruzeirodoSul,poucoantesdenossoembarqueparaRioBranco.
Quadro 3. Vacinas aplicadas nos indígenas recém contatados, de acordo com o
sexo,idadeetipodevacina,BAPEXinane,agostode2014.
No. Nome S Idade (anos) dT DPT+HiB+HB (Pentavalente) SCR HB Varicela VAG HA HPV Coleta de sangue 1 Dyky M 18 X X X X X X X 2 Xinatxakai M 19 X X X X X X X 3 Pôwo F 20 X X X X X X X X 4 Shirimaku (Pánaro) M 18 X X X X X X X X X X X X X 5 Káda M 20 X 6 Toshku (Tosku) F 13 X X X X X 7 Hainunu/Kurumi M 14 X 8 Rütü M 40 X X X X X X X 9 Toshpi F 40 X X X X X X X X 10 Huinani M 16 X X X X X X X 11 Xamishta F 17 X X X X X X X 12 Tunushta M 36 X X X X X X X X X X X X 13 Purushta M 37 X 14 Wadu F 24 X X X X X X X X X X X X X 15 Shima M 39 16 Kamanatxiui M 28 X X X X X X X 17 Raiushta M 24 X X X X X X X X X X X X X X 18 Shuri M 18 19 Huku F 38 X X X X X X X X X X X X X X 20 Shaya F 45 X 21 Vacaciesta F 12 X X X X X X X SCRV X X 22 Nuyumaha M 6 23 Sem nome M 2 24 Sem nome F 1 Fonte:Fichasmédicas 10
Quadro4.Distribuiçãodogrupodeindígenasisoladosdeacordocomosexo.idade,valordehemoglobinasérica,peso,alturaeobservaçõesmédicas,BAPEXinane,agostode2014.
No.
Id*
(anos)
altura(cm
)
Nome
S
1
Dyky
M
18
ndn*
2
Xinatxakai
M
19
ndn
14,9
3
Pôwo
F
20
ndn
12,9
4
Shirimaku(Pánaro)
M
18
ndn
12,2
5
Káda
M
20
ndn
14,7
6
Toshku(Tosku)
F
13
ndn
10,4
7
Hainunu/Kurumi
M
14
ndn
11,5
15,9
53000
163
19,9
‐
‐
‐
Diagnóstico/Observações
HB(g/dl)
14,1
peso(g)*
65200
53200
58200
61900
‐
32700
167
155
161,5
165
‐
144
IMC
23,4
Condutamedicamentosa
nenhuma
Médicoresponsável
‐
22,1
nenhuma
‐
nenhuma
‐
22,3
nenhuma
‐
22,7
nenhuma
‐
‐
15,8
nenhuma
nenhuma
8
Rütü
M
40
conjuntivitepurulenta
Azitromicina500mg(3dias)
9
Toshpi
F
40
ndn
13,1
50400
166
18,3
Amoxacilina500mg3Xdia(5dias)
nenhuma
‐
‐
Rafael
‐
10
Huinani
M
16
Iraleve+ausênciatestículoD
12,3
11
Xamishta
F
17
ndn
12,2
42000
144,5
20,1
nenhuma
‐
12
Tunushta
M
36
ndn
12,3
57000
178
18,0
nenhuma
‐
13
Purushta
M
37
Iramoderada
13,4
47200
165
17,3
Amoxacilina500mg3xdia(5dias)
Rafael
14
Wadu
F
24
OtiteMédiaAguda+doràpalpaçãodoBV
11,5
52700
156
21,7
Cipro500mg/dia5dias+Azitromicina1gdu
Rafael
15
Shima
M
39
Suspeita Tb ‐ BK negativo. Diagnóstico
finalIRAmoderada
11,7
52800
154,5
22,1
Azitromicina500mg/dia5dias
Rafael
16
Kamanatxiui
M
28
ndn
14,2
56700
163
21,3
nenhuma
‐
17
Raiushta
M
24
ndn
13,5
61000
166
22,1
nenhuma
‐
18
Shuri
M
18
Iramoderada+reaçãourticariforme
11,7
63000
175
20,6
Azritromicina+dexametasona+dexclorfeniramina
19
Huku
F
38
Iraleve
12,3
49900
140
25,5
Dipirona+observação
20
Shaya
F
45
ndn
11,7
52000
151
22,8
nenhuma
‐
21
Vacaciesta
F
12
‐
‐
‐
‐
nenhuma
‐
22
Nuyumaha
M
6
ndn
Efeito adverso vacinal: T= 38,5C 6 horas
apósvacinação
11,4
21400
114
16,5
23
Semnome
M
2
nãotomouvacina
‐
nenhuma
Douglas
24
Semnome
F
1
nãotomouvacina
‐
nenhuma
Douglas
Dipirona+observação
Rafael
Rafael
Rafael+Douglas
Rafael+Douglas
*ndn=nadadignodenota
11
Figura5.Examefísicoeregistrodeinformações
Fotos:RafaelSacramento
5.Característicassócio­demográficasdogrupoexaminado
Foram examinados e cadastrados 17 indígenas que, somados aos sete iniciais
totalizam 24 pessoas com a seguinte distribuição por sexo e idade (quadro 5).
Nãodetectamosgravidezentreasmulheres,oquenãoexcluiapossibilidadede
gravidezemestágioinicial.
Quadro5.DistribuiçãodogrupodeindígenasisoladosnaBAPEXinane,de
acordocomosexoeafaixaetária,agostode2014.
FaixaEtária(anos)
Masc
Fem
Total
0a4
1
1
2
5a9
1
0
1
10a14
1
1
2
15a19
5
2
7
20a24
2
2
4
25a29
1
0
1
30a34
0
0
0
35a39
3
1
4
40a44
1
1
2
45a49
0
1
1
Total
15
9
24
Fonte:Fichasmédicas
12
Figura6.PirâmideEtáriadogrupode24indígenasdopovodoXinane,agostode
2014.
Mulheres
Homens
45a49
40a44
35a39
30a34
25a29
20a24
15a19
10a14
5a9
0a4
‐3
‐2
‐1
0
1
2
3
4
5
6
Afigura4nosdáumavisãográficadadistribuiçãodogrupoporsexoeidade,e
deveserinterpretadacomcuidadoporcontadopequenonúmerodapopulação
analisada (24 pessoas). Entretanto, é marcante a falta de idosos e o pequeno
número de crianças menores de 5 anos de idade. Outro aspecto importante de
ser registrado é a desproporção entre homens e mulheres. Uma das mulheres
parece ter dois maridos. Se estamos, como sugerem os dados, possivelmente,
frenteaumfragmentodeumpovo,suareproduçãosócio‐cultural,emsuaforma
tradicional,podeestarcomprometida.Esseachadocorrobora depoimentosque
tem sido registrados pelos indigenistas da FPE Envira. Segundo os indígenas
maisvelhos(Rütü,Shima,Puru),delongadataogrupovemfugindodeataques
denãoíndiospossivelmentedoladoperuanoonde,deacordocomrelatóriosda
FUNAI, ocorre a exploração de madeira e também a presença narcotraficantes.
Um dos relatos diz respeito a um ataque na aldeia, no qual as casas foram
incendiadas, lembrando as “correrias” 8do início do século passado. Contam
também mortes em brigas com outros grupos indígenas (referem‐se a pelo
menosoutrostrêsgruposisolados(?)namesmaregião).Comrelaçãoàsdoenças,
referem mortes por febre, tosse, diarreia e vômitos. Nenhum dos adultos,
aparentemente,tempaisvivos.Aoquetudoindicaogrupoépequeno,restando
ainda pessoas no interior da floresta, que deverão chegar em breve. Este é o
cenárioqueatualmentepareceseromaisprovável.Umgrupodesobreviventes,
extremamentevulneráveis,querequerematençãoespecialdeformacontinuada.
8Para
saber sobre as correrias ver Iglesias, Marcelo Manuel Piedrafita. Os Kaxinawá de
Felizardo:correrias,trabalhoecivilizaçãonoAltoJuruá.Brasília:Paralelo15,2010. 13
Os indígenas iniciaram a derrubada de um tabocal na margem oposta à BAPE
Xinaneetemfaladoemfazercasas(aldeia?)umpoucomaisabaixo.AFUNAIestá
qualificando o diálogo a cada dia e deve ter informações mais detalhadas e
consistentes,fundamentaisparaoplanodetrabalhoemsaúde.
Com base nas fichas médicas e anotações do antropólogo Juan Negret, da FPE
Envira, foi possível traçar uma primeira genealogia do grupo (anexo 2) 9.
Entenderasrelaçõessociaisefamiliaresdogrupoéfundamentalparaqualificar
a comunicação, o diálogo intercultural e as ações de saúde, obtendo melhores
resultados.Deondevieram?Quantosmaisexistem?Oqueaconteceucomoresto
dogrupo?Porquenãoandamnosol?Quaisoscuidadoscomascrianças?Ecom
asgestantes?Oquesepodeenãosepodecomer?Comotomamdecisões?Quem
decide?Porquebuscaramocontato?Oquepretendem?
9FoiutilizadoosoftwareGenopro®
14
Figura7.GenealogiainicialdopovodoXinane
Wateshi
Shima Wadu
Rete
Toshpi
Puru
Shirimaku
Shaya
Sem
Nome
Shinataka Pow o
Huinani
Kurumin
Tunu
Xami
Hayu
Kamanatxui
Vacaciesta Nuyumaha
Tosku
Kada
Sem
Nome
Huku
Fonte:FichasmédicaseanotaçõesdecampodoantropólogoJuanNegret,daFPEEnvira,
agostode2014
6.ConclusõeseComentáriosIniciais
Osobjetivosdoplanodetrabalhoforamatingidos:
 A meta vacinal foi de 91,6%, vacinando 22 dos 24 indígenas. O pouco
tempo em área dificultou a abordagem das duas crianças menores, as
únicasqueaindanãoreceberamvacinas;
 Foramcolhidasamostrasdesanguede15dos21indígenasmaioresde15
anos de idade (72%), número suficiente para um primeiro perfil soro‐
epidemiológico;
 Foramabertasfichasmédicasindividuaisparatodososindígenas(anexas
aesterelatório);
 Osindígenasdoentesforamtratadosepermaneceramdoiscasosde IRA
leve em fase final, que foram reportados ao enfermeiro Eduardo, na
passagemdeplantãonaBAPEXinane;
 Foram abertos dois livros‐ata, sendo um para registro de informações
médicas e de enfermagem (tratamentos, traumas, administração de
medicamentos) e outro para o controle de estoque de medicamentos e
insumos. Os livros estão atualizados para a data de 15/08/2014 e
deverãoserutilizadospelaequipedesaúde.
Infelizmente,devidoaoatrasonaprogramação,Dr.Rafaelficouapenasdoisdias
conosco. Ainda assim foi possível que ele participasse do exame clínico
individual, do cadastramento e imunização, e assim entender melhor o
Shuri
15
funcionamento das fichas médicas, da metodologia de multivacinação e busca
ativadeagravosàsaúde,tendootrabalhocomoprincípiopedagógico.Otécnico
deenfermagemFranciscodeAssisBrandãoparticipoudaorganizaçãoeregistros
dos medicamentos, sendo possível discutir a importância do manejoe controle
dosprazosdevalidade,assimcomoosprincipaismedicamentoseinsumosmais
utilizados. Com relação à rede de frio tivemos oportunidade de discutir e
fazermos juntos a montagem das caixas térmicas para armazenamento dos
imunobiológicos e o monitoramento da temperatura. Também conversarmos
sobre a vigilância dos Eventos Adversos pós Vacinação (EAPV) e sobre as
técnicasdeadministraçãodevacinas,principalmente,sobreaplicaçãodevacinas
emedicamentosnaregiãoventroglúteaeautilização da técnica em “Z” 10.
Novamente estava circulando na BAPE um vírus respiratório, que como da
primeira viagem, era de baixa patogenicidade, sugerindo algum rinovírus ou
adenovírus. As manifestações clínicas, entretanto, são mais intensas nos
indígenas,queapresentamtemperaturasmaisaltasebastantesecreçãonasvias
aéreas,evoluindofrequentementeparainfecçõesbacterianas.Destaveznãofoi
precisoadministrarantibióticosatodos,comonoprimeirocontato,poisalémde
seremcasosleves,foipossíveloacompanhamentomédicoportemposuficiente.
Optamos por tratar parasitoses intestinais somente dos integrantes da BAPE
Xinaneantesdeadministrarmaisumadrogaaosindígenas,quenãosabemosse
estãoparasitadosounão,dadoseuisolamento.Medidasparaodestinoadequado
dos dejetos humanos foram tomadas e devem ser permanentemente
incentivadas. Um inquérito parasitológico de fezes, fácil e barato, pode melhor
subsidiarotratamentodosindígenas,alémdefornecerinformaçõesimportantes
sobreseuperfildemorbidade.
É importante estar atento para o princípio da intervenção mínima, evitando a
alta medicalização e dependência de serviços de saúde que observamos em
diversasáreasindígenasnopaís.
Durante apequenapermanênciacom ogrupopudemosobservarapresençade
vários tipos de plantas utilizadas para banhos e beberagens, além de rezas de
cura,bastantefrequentes.Éimportanteprestaratençãonaspráticastradicionais
decuraecuidado,quealémdeestreitarovínculocomogrupo,colaboraparao
usoracionaldemedicamentosporpartedasequipesdesaúde.
7.OcasodacriançaAshaninka
Nodia12/08,nofinaldatarde,FernandoKampa,professordaaldeiaSimpatia,
entrou em contato por rádio com a BAPE, relatando estar com uma criança
recémnascidaemestadograve.AcriançaeraprovenientedaaldeiaCoco‐Açuou
Kokaçu, que fica abaixo da aldeia Simpatia. Ele pedia socorro médico para a
10Parasabermaissobreadministraçãoparenteralutilizandoaregiãovetroglúteaver Menezes
AS.Popostadeummodelodedelimitaçãogeométricaparainjectoventroglútea.RevBrasEnf,
2007,pag.552‐558.
16
criança e optamos por mandar que ele viesse para a BAPE Xinane, onde
poderíamostratá‐lae,senecessário,solicitarsuaremoção.
Acriança,decercade2mesesdeidade,chegounaBAPEemtornode20:00hdo
mesmodia,trazidadebarcopeloFernando.Vinhamcomelaamãe,Mariaeuma
irmã de cerca de 6 anos de idade. O marido, segundo Fernando, “estava para
Feijó para receber os benefícios”.
A criança encontrava‐se em mau estado geral, desidratada com dificuldade
respiratória. Iniciamos o tratamento com hidratação oral, lavagem nasal,
inalação e ceftriaxonana dose de 50 mg/kg. No dia seguinte, ao comunicar‐me
com o Sr. Paulo Roberto, chefe do DIASI do DSEI ARJ, fui informado que não
havia disponibilidade de aeronave para a remoção da criança naquele dia.
Permanecemos com Ivânia (esse é o nome da criança) por mais três dias, com
discreta melhora do estado geral porém mantendo dificuldade respiratória
importanteearetiramos,comsuamãeeirmã,parainternaçãoemnoHospital
do Alto Juruá, em Cruzeiro do Sul, com hipótese diagnóstica de IRA grave e
possívelcardiopatiacongênita.
Descrevo o ocorrido com o objetivo de alertar que a presença constante de
equipes (da SESAI e da FUNAI) pode tornar a BAPE Xinane uma alternativa de
assistência para algumas das aldeias na calha do Alto Envira, que devido às
grandes distâncias de Feijó,dizemreceberpoucas visitas dasequipes de saúde
do DSEI. Ao se transformar num pronto atendimento para a região, a BAPE
Xinane passará a ser um lugar onde circulam doenças, levando ao aumento do
riscodecontágioparaosindígenasdecontatoinicial,opovodoXinane.Mesmo
com todas as precauções que tivemos para isolar ao máximo a família, a
estrutura local é inadequada e a curiosidade dos indígenas recém contatadosé
enorme.Oriscodecontágiofoireal.
8.Recomendações
 Detalhar o Plano de Trabalho da BAPE Xinane, que ao que tudo indica servirá
comobaseparaaequipedesaúdequeatenderáosindígenasrecém‐contatados;
 Aelaboraçãoe detalhamentodoPlanode Trabalhodeveráserfeitaporequipe
mistaFUNAI/SESAI(comassessorias,senecessário),especificamentedesignada
paraessefim,possibilitandoassimaçõesconjuntasecoordenadas,eatrocade
experiências indigenistas (FUNAI) e sanitárias (MS/SESAI), com apoio
antropológicoelinguístico,fundamentaisparaosucessodotrabalho;
 Melhoraroacessodosindígenascontatadosquecompartilhamterrascomosde
contato inicial, para que a BAPE Xinane não se transforme numa referência de
saúdeparaacalhadoAltoEnvira,aumentandosobremaneiraoriscodecontágio
paraosindígenasdecontatoinicial;
 Reestruturar a BAPE Xinane, com instalações para atendimento à saúde e
alojamentodeprofissionaisdesaúde;
 Disponibilizar sistema de comunicação eficiente na BAPE Xinane (radiofonia,
internetetelefonesatelital);
17
 InstalarrededefriodasaúdenaBAPEXinane,exclusivaparaarmazenamentode
imunobiológicos,incluindosoroanti‐ofídico;
 Disponibilizarosmedicamentosnecessáriosemquantidadesadequadasao
tamanhodogrupo;
 Disponibilizarosequipamentosmínimosnecessáriosparaotrabalhodasaúde
comocompressoresparainalação,balanças,antropômetros,fitaspara
urodiagnósticoetc.
 CapacitarosprofissionaisdesaúdedaSESAIeosindigenistasdaFPEEnvira
paraatuaçãoemsaúdedegruposisoladoseemsituaçõesdecontato;
 Manterocadastramentomédicoatualizadoutilizando‐sefichasindividuaiscomo
asqueseguemanexadasaorelatório.
 Planejarasegundaetapadeimunizaçãodogrupo;
 Nasegundaetapa,antesdeadministraravacinaBCG‐ID,fazerotestede
Mantoux(PPD),parareferênciadiagnóstica.
EvelinPlácidodosSantos
DouglasRodrigues
SãoPaulo,26deagostode2014.
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