TENDÊNCIA TEMPORAL DAS TAXAS DE OBITOS FETAIS,
NORDESTE (2000-2011)
Lourdes Milagros Mendoza Villavicencio 1
Lára de Melo Barbosa 2
Maria Helena Constantino Spyrides 3
Introdução
Estima-se que mais de 7,6 milhões de mortes perinatais ocorram anualmente no mundo, das
quais 57% são de óbitos fetais, sendo a maioria tanto nos países em desenvolvimento e
subdesenvolvidos. A pesar do elevado número de óbitos fetais, observou-se uma redução da
incidência de natimortos. Estima-se que essa diminuição do número de óbitos fetais no
Mundo foi de cerca de dez vezes nos últimos 40 anos (GOLDENBERG, et al. 2009;
SAMPAIO, et al. 2010). Estudos demonstram que grande parte dos óbitos fetais são
considerados potencialmente evitáveis, fato que requer por parte dos serviços de saúde
atenção e ações que incorporem na sua rotina de trabalho a análise de sua ocorrência, além
de demandar investimentos específicos para sua redução. Nesse sentido, o registro
sistemático é de suma importância para o dimensionamento do problema da ocorrência dos
óbitos fetais. No entanto, estudos mostram a deficiência na notificação destes óbitos, além
do mais, são necessárias informações detalhadas para o apoio às ações de prevenção da
mortalidade fetal (FROEN, et al. 2009). Em escala nacional, o Brasil vem avançando na
redução da mortalidade fetal, mas ainda é preciso um grande esforço para enfrentar as
diferenças regionais e alcançar patamares aceitáveis. Um exemplo disso é a região
Nordeste, a qual apresenta os maiores índices de mortalidade fetal do País, fato que têm
gerado preocupação por parte das autoridades públicas, sendo considerado assim, uma das
metas do governo federal para a redução das desigualdades nessa região do País (MS SVS, 2009). Considerando as informações disponíveis nos Sistemas de Informações sobre
Mortalidade (SIM) e Nascidos Vivos (SINASC), importantes instrumentos de registros das
estatísticas vitais nos municípios, estado e regiões brasileiras, é possível acompanhar as
mudanças na evolução temporal das taxas históricas da ocorrência de óbitos fetais. Nesse
sentido, o objetivo deste trabalho é analisar a evolução temporal das taxas de óbitos fetais
para todos os estados do Nordeste Brasileiro, no período de 2000 a 2011.
Vale salientar também, que a evolução dessas taxas se constitui em um importante estudo,
pois contribui para melhorar o registro dos óbitos e para a implantação de políticas públicas
de saúde no Nordeste do Brasil, possibilitando assim, o desenvolvimento de medidas para
a prevenção de óbitos fetais. Cabe destacar, a necessidade de mobilização não só por parte
1
Mestranda em Demografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. ([email protected]).
2 Professora do Departamento de Demografia da UFRN. Docente do Programa de Pós-Graduação em
Demografia (PPGDEM). Docente do Programa de Pós-graduação em Demografia UFRN. ([email protected]).
3 Professora do Departamento de Estatística da UFRN. Docente do Programa de Pós-Graduação em
Demografia (PPGDEM). ([email protected])
do governo, mas também de toda a sociedade, visto que, uma ação de caráter participativo
na resolução deste problema poderá ser o primeiro passo para a queda nas incidências desse
tipo de mortalidade.
Material e Métodos
Trata-se de um estudo retrospectivo, no qual as taxas de óbitos fetais foram calculadas
utilizando-se como fonte de dados para os óbitos fetais o Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM) e para os dados de nascimentos, o Sistema de Informações sobre
Nascidos Vivos (SINASC), do Ministério da Saúde. Considerou-se para o cálculo das
taxas mensais, os óbitos fetais e os nascimentos notificados segundo o local da residência
da mãe, ambos ocorridos para os nove estados do Nordeste do Brasil, no período de 2000 a
2011. Para definição do óbito fetal, utilizou-se o critério desenvolvido pelo Ministério da
Saúde, o qual se baseia apenas em óbitos fetais ocorridos a partir da 22ª semana completa
de gestação. Além disso, essa definição leva em consideração os fetos com 154 dias e/ou
com peso igual ou superior a 500g, ou estatura a partir de 25 cm, considerando a população
residente em determinado espaço geográfico, no mês e ano analisados (MS-SVS, 2009).
Para o cálculo das taxas mensais de óbitos fetais, usou-se teoricamente a definição proposta
pelo Ministério da Saúde, que considera no numerador a quantidade de óbitos fetais por
local de residência da mãe num determinado tempo (mês ou ano), e no denominador a soma
do número de nascidos vivos e óbitos fetais num determinado tempo (mês ou ano) por cada
1.000 nascidos.
Para cada estado do Nordeste analisou-se a série temporal compreendida entre 2000 a 2011,
utilizando a técnica de decomposição com o objetivo de observar a existência de tendência
e/ou sazonalidade de cada série. Além disso, para analisar a estacionariedade das séries
utilizou-se o Teste de Dickey-Fuller. Outra metodologia utilizada para as previsões, para
cada Estado, foi o método Box-Jenkins, bem como, avaliou-se descritivamente, por meio de
gráficos boxplot o comportamento das taxas mensais para cada um dos Estados
considerados no estudo. Os gráficos e análises foram elaborados utilizando-se o programa
estatístico livre R-project 2.12.
Resultados
O dado coletado na base do SIM notificou 141.485 óbitos fetais e no SINASC foram
registrados mais de 10 mil nascimentos para toda a região Nordeste, resultando numa taxa
de 12,83 por cada mil nascidos vivos, além disso, observou-se um decréscimo das taxas,
para a região Nordeste, de forma gradual no decorrer do período estudado. Essas reduções
começaram a partir do ano 2005 estendendo-se a 2011, apresentando sazonalidade (Figura
1). Para os estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas observou-se uma leve
redução das taxas ao longo dos anos, enquanto que, Sergipe houve uma tendência forte de
redução passando do início do período de 16,68 a 12,54 por mil nascidos vivos. O estado
do Rio Grande do Norte foi o que apresentou menor taxa no último ano estudado (11,24 por
mil nascidos). Um processo inverso aconteceu nos estados do Maranhão, Paraíba, Piauí,
Bahia e Ceará. O estado da Bahia apresentou as maiores taxas e uma tendência crescente no
período, iniciando no ano de 2005, passando de 12,13 em 2000 e chegando ao final do
período com 14,48 por mil nascidos vivos (Figura 2).
Analisando as séries temporais de cada Estado, percebeu-se a presença da componente
sazonal. A análise detectou uma elevação das taxas de óbitos fetais nos meses de dezembro,
janeiro e fevereiro.
Figura 1. Gráficos de decomposição das séries temporais das taxas dos óbitos fetais para o Nordeste Brasileiro
Nordeste, Brasil, 2000 -2011
16
12
13
1.10
1.00
1.1
0.9
0.7
random
1.30.90
seasonal
11
trend
15 8
observed
20
Decomposition of multiplicative time series
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
Time
Figura 2. Gráficos de decomposição das séries temporais das taxas dos óbitos fetais dos estados de Sergipe e
Bahia
Bahia, Brasil, 2000 - 2011
Serie Mensal, Estado de Bahia 2000-2011
20
15
T axa de O bitos F etais
10
12
1.05
1.2 0.95
5
1.0
0.8
random
seasonal
10
trend
14
observed
10 12 14 16 18
Decomposition of multiplicative time series
Janeiro
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
2012
Time
Sergipe, Brasil, 2000 - 2011
Serie Mensal, Estado de Sergipe 2000-2011
18
14
T a x a d e O b ito s F e ta is
10
15
20
10
15
1.10
1.00
1.4 0.90
5
random
1.0
0.6
seasonal
13
trend
17
observed
22
Decomposition of multiplicative time series
2000
2002
2004
2006
Time
2008
2010
2012
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro Dezembro
Conclusões
No decorrer do trabalho, a análise dos dados permitiu observar que no período de 2000 a
2011, houve uma diminuição das taxas de óbitos fetais com a maior redução, ocorrendo nos
estados de Pernambuco e Sergipe, enquanto que no Maranhão e Bahia apresentaram uma
tendência de elevação em comparação aos outros estados do Nordeste ao longo dos anos
avaliados. O uso da técnica de séries temporais é uma inovação para pesquisas de
prognóstico de ocorrências de óbitos fetais, pois permitiu observar a existência de
tendências e uma marcada sazonalidade nos registros ao longo do período estudado, com
aumento nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Considerando que o óbito fetal é uma
morte evitável, as observações podem contribuir no sentido de fornecer subsídios a futuras
análises sobre a temática, no cenário de modelagem e, além disso, ampliar o entendimento
do comportamento da ocorrência dos óbitos fetais buscando alternativas que levem a
redução e controle destas causas de morte diminuindo a desigualdade existente entre as
regiões do Brasil.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Manual de vigilância do óbito infantil e fetal e do Comitê de Prevenção do Óbito
Infantil e Fetal / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.
Fonseca SC, Coutinho ESF. Fatores de risco para mortalidade fetal em uma maternidade do
Sistema Único de Saúde, Rio de Janeiro, Brasil: estudo caso controle. Cad Saude Publica.
2010;26(2):240-52. DOI:10.1590/S0102 311X201000020000
Froen JF, Gordijn SJ, Abdel-Aleem H, Bergsjo P, Betran A, Duke CW, et al. Making
stillbirths count, making numbers talk: issues in data collection for stillbirths. BMC
Pregnancy Childbirth. 2009;9:58. DOI:10.1186/1471-2393-9-58
Goldenberg RL, McClure EM, Belizán JM. Commentary: reducing the world’s stillbirths.
BMC Pregnancy Childbirth. 2009;9 Suppl 1:S1.
Programa R. Disponível em: <http://www.r-project.org/cran-r.c3sl.ufpr.br>. Acessado em
10 Jun. 2013.
Sampaio, AG; Souza, ASR, Indicação de cesarianas em óbito fetal. Serviço de Obstetrícia
do Hospital Barão de Lucena – HBL – Recife (PE), Brasil; Centro de Atenção à Mulher do
Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira – IMIP – Recife (PE), Brasil.
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