Universidade do Sul de Santa Catarina
História da Educação I
Disciplina na modalidade a distância
Palhoça
UnisulVirtual
2006
historia_educacao_I.indb 1
13/10/2006 15:04:58
historia_educacao_I.indb 2
13/10/2006 15:05:21
Apresentação
Este livro didático corresponde à disciplina História da
Educação I.
O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma,
abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma
linguagem que facilite seu estudo a distância.
Por falar em distância, isso não significa que você estará
sozinho. Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina
também será acompanhada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir
necessidade, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou
Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA. Nossa equipe
terá o maior prazer em atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso
principal objetivo.
Bom estudo e sucesso!
Equipe UnisulVirtual.
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13/10/2006 15:05:21
historia_educacao_I.indb 4
13/10/2006 15:05:21
Karen Christine Rechia
Leonete Luzia Schmidt
Rosmeri Schardong
História da Educação I
Livro didático
Design instrucional
Viviani Poyer
Palhoça
UnisulVirtual
2006
historia_educacao_I.indb 5
13/10/2006 15:05:21
Copyright © UnisulVirtual 2006
N enhum a parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer m eio sem a prévia autorização desta instituição.
370.9
R24 Rechia, Karen Christine
História da educação I : livro didático / Karen Christine Rechia, Leonete Luzia
Schmidt, Rosmeri Schardong ; design instructional Viviani Poyer. – Palhoça :
UnisulVirtual, 2006.
120 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 85-60694-08-0
ISBN 978-85-60694-08-2
1. Educação – História. I. Schmidt, Leonete. II. Schardong, Rosmeri. III. Poyer,
Viviani. IV. Título.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
Créditos
Unisul- Universidade do Sulde Santa Catarina
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Edição --- Livro Didático
ProfessorasConteudistas
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Projeto Gráfico e Capa
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Diagram ação
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Revisão Ortográfica
B2B
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
Palavras das professoras conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
UNIDADE
UNIDADE
UNIDADE
UNIDADE
1
2
3
4
– História da Educação: objetos, abordagens e fontes . . . .
– As práticas educativas medievais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
– Os colégios modernos e a pedagogia jesuítica . . . . . . . . .
– A infância e a pedagogia moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
17
41
65
89
Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Sobre as professoras conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . 119
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historia_educacao_I.indb 8
13/10/2006 15:05:22
Palavras das professoras
Caro estudante,
Os livros de História da Educação estão organizados de
modo a abarcar o estudo dos tradicionais períodos históricos,
começando pela Antiguidade, passando pela Idade Média e
Moderna e chegando à Idade Contemporânea. Por tratar-se
de um período extensivamente longo, acaba-se por fazer um
estudo panorâmico.
Mesmo seguindo alguns desses períodos, optamos em fazer
algumas escolhas. Iniciamos o presente livro apresentando
um pouco das atuais discussões que permeiam o campo de
estudos e pesquisas em História da Educação. Veremos aí
que é possível estudar a História da Educação sob diferentes
abordagens e temas e a partir de diferentes fontes.
Em seguida, você irá conhecer o contexto histórico da
chamada Idade Média Ocidental, para situar e compreender
algumas práticas educativas relacionadas a este período, como
a educação feminina, a educação nas corporações de ofícios, a
formação dos cavaleiros e a constituição das universidades.
Quanto à época moderna, optamos por enfocar aspectos
da cultura escolar presentes nos colégios modernos e na
pedagogia jesuítica, os quais ajudarão a compreender muitas
das atuais características de nossas instituições de ensino.
Para finalizar, discutiremos a infância e a pedagogia moderna,
apresentando alguns aspectos da trajetória histórica da
infância. Também enfatizamos a constituição de uma nova
concepção de infância na modernidade e como esta derivou na
pedagogização dos conhecimentos e no disciplinamento dos
sujeitos.
historia_educacao_I.indb 9
13/10/2006 15:05:22
Quanto às questões educacionais do período contemporâneo,
século XIX e XX, acreditamos que, em outras disciplinas, você
terá a oportunidade de discuti-las com mais propriedade.
Procuramos, no decorrer do livro, indicar fontes extras de
pesquisa para que você possa, na medida do seu interesse e
disponibilidade, aprofundar os temas apresentados.
Boa aprendizagem!
Professoras Karen, Leonete e Rosmeri
historia_educacao_I.indb 10
13/10/2006 15:05:22
Plano de estudo
O plano de estudos visa orientá-lo/la no desenvolvimento da
Disciplina. Nele, você encontrará elementos que esclarecerão
o contexto da Disciplina e sugerirão formas de organizar o seu
tempo de estudos.
O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva
em conta instrumentos que se articulam e se complementam.
Assim, a construção de competências se dá sobre a articulação
de metodologias e por meio das diversas formas de ação/
mediação.
São elementos desse processo:
„
o livro didático;
„
o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA;
„
as atividades de avaliação (complementares, a distância
e presenciais).
Ementa
História da educação: objetos, abordagens e fontes. As práticas
educativas medievais. Os colégios modernos e a pedagogia
jesuítica. Educação e infância na modernidade.
Carga Horária
60 horas – 4 créditos.
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13/10/2006 15:05:22
Objetivos
Identificar as concepções de História que implicam em diferentes
abordagens acerca da História da Educação, bem como analisar
o uso de diferentes fontes de pesquisa nesta área, assim como a
ampliação e multiplicidade de temas ou objetos de pesquisa nas
últimas décadas.
„
Conhecer as práticas educativas medievais e modernas.
„
Identificar as principais características da pedagogia
jesuítica.
„
Analisar alguns modos de tratamento dispensados à
infância em diferentes períodos históricos.
„
Compreender o processo de pedagogização dos
conhecimentos e disciplinarização dos sujeitos na
modernidade.
„
Reconhecer as diferenças entre as formas educacionais no
tempo e em sociedades distintas.
„
Relacionar o panorama histórico com as idéias
pedagógicas e suas aplicações educacionais.
„
Identificar os sujeitos/grupos sociais que foram atingidos
ou excluídos pelas instituições educacionais ao longo do
tempo.
Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o Livro Didático desta
Disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.
Unidades de estudo: 4
12
historia_educacao_I.indb 12
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Nome da disciplina
Unidade 1 - IHistória da Educação: objetos, abordagens e fontes
Nesta unidade, pretende-se discutir concepções de História
que implicam em diferentes abordagens acerca da História da
Educação. Também abordar-se-á o uso de diferentes fontes de
pesquisa nesta área, assim como a ampliação e multiplicidade de
temas ou objetos de pesquisa nas últimas décadas. idéias.
Unidade 2 – As práticas educativas medievais
O estudo desta unidade lhe proporcionará conhecer o contexto
histórico da Idade Média, bem como algumas práticas educativas
desenvolvidas nesse período, como a educação das mulheres, a
educação dos cavaleiros e a educação nas corporações de ofícios.
Você estudará, ainda, a formação das universidades medievais.
Unidade 3 – Os colégios modernos e a pedagogia jesuítica
Esta unidade iniciará discutindo a constituição e as características
dos colégios modernos no século XVI, bem como a pedagogia
jesuítica, sistematizada a partir da Ratio Studiorum (1599), e sua
influência na constituição de um determinado modelo de escola e
sujeito.
Unidade 4 – A infância e a pedagogia moderna
Nesta unidade, você verá as principais características que
a pedagogia e a escola moderna adquiriram em função das
novas concepções sobre a criança desenvolvidas no período.
Para entender a concepção de infância do período moderno,
você iniciará o estudo desta unidade vendo como a infância foi
tratada em diferentes momentos históricos. Verá que a partir do
Renascimento institui-se uma nova concepção de infância que
resultará num processo de pedagogização dos conhecimentos e
disciplinarização dos sujeitos.
13
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Agenda de atividades/ Cronograma
„
Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar
periodicamente o espaço da Disciplina. O sucesso nos
seus estudos depende da priorização do tempo para a
leitura; da realização de análises e sínteses do conteúdo; e
da interação com os seus colegas e tutor.
„
Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço
a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.
„
Use o quadro para agendar e programar as atividades
relativas ao desenvolvimento da Disciplina.
14
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13/10/2006 15:05:23
Nome da disciplina
Atividades
Avaliação a Distância 1
Avaliação a Distância 2
Avaliação Presencial 1
Avaliação Presencial 2 (2ª. chamada)
Avaliação Final (caso necessário)
Demais atividades (registro pessoal)
15
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UNIDADE 1
História da educação: objetos,
abordagens e fontes
1
Objetivos de aprendizagem
„
Identificar as concepções de História que implicam em
diferentes abordagens acerca da História da Educação.
„
Analisar o uso de diferentes fontes de pesquisa nesta
área, assim como a ampliação e multiplicidade de temas
ou objetos de pesquisa nas últimas décadas.
Seções de estudo
Seção 1 Concepções de História e de História da
Educação.
Seção 2 Abordagens teórico-metodológicas para a
escrita da História.
Seção 3 Fontes e objetos para a História da
Educação.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Nesta unidade introdutória, pretende-se discutir com você
algumas questões relacionadas ao debate contemporâneo em
torno da História da Educação. Para isso iniciaremos analisando
os “termos” educação, história e história da educação.
Em seguida, traçaremos um rápido perfil das principais
tendências historiográficas que marcaram e têm marcado o
campo da História da Educação, para, na seqüência, abordarmos
a questão dos possíveis objetos e fontes a serem explorados pela
área.
Acreditamos que é importante para o estudo da História da
Educação situar-se, mesmo que de forma aproximativa, de
algumas questões atuais que têm norteado sua discussão.
Destacamos que a área da História da Educação ou o campo
da História da Educação tem passado, nos últimos tempos,
por profundas discussões que, por um lado, contribuem para o
avanço teórico-metodológico e para as novas possibilidades de
investigação, mas, por outro, dificultam, em função das inúmeras
questões que ficam em aberto.
SEÇÃO 1 - Concepções de História e de História da
Educação
Acreditamos que, para iniciarmos nossas discussões, seja
interessante você refletir um pouco sobre os termos educação,
história e história da educação. Assim, gostaríamos que nos
espaços, a seguir, você registrasse seu conhecimento sobre:
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História da Educação I
O que é educação?
O que é história?
O que é história da educação?
Não temos aqui a pretensão de esgotar a discussão sobre tais
termos, principalmente devido a seus múltiplos sentidos, mas
apenas problematizá-los. Quando realizamos essa atividade de
sondagem com nossas turmas presenciais, é bastante comum
relacionar-se o termo educação com escola e ensino e história
com o estudo do passado. Embora isso não seja incorreto, é
preciso ampliar essa compreensão. Não pretendemos
oferecer respostas prontas e acabadas, já que esses
termos/conceitos são historicamente construídos, ou
seja, ligados à prática social e, portanto, variáveis no
tempo e no espaço histórico-social.
Assim, quanto à educação, podemos dizer, dentre
inúmeras outras formas, que é o processo de
formação do ser humano, um processo que ocorre
no decorrer da sua existência e em diferentes espaços formais e
não formais. Como diria Carlos Rodrigues Brandão, “ninguém
escapa da educação”.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Quanto à História, Ghiraldelli Jr. diz que há, “entre outros,
dois significados básicos. Ele se refere tanto aos processos de
existência e vida real dos homens no tempo como ao estudo
científico, à pesquisa e ao relato estruturado desses processos
humanos.” (1994, p. 11).
Gostaríamos, ainda, de destacar que, embora o ensino tradicional
de história enfatize fatos isolados e apenas alguns indivíduos
como promotores da história, em nosso entender ela é construída
cotidianamente pelos grupos humanos, num tempo e espaço
determinados, componentes do que se chama o processo
histórico.
Nesse sentido, o poema, a seguir, do escritor alemão Bertold
Brecht (1898-1956) nos dá um pouco essa dimensão e nos
alerta para estarmos atentos a outras histórias e a outros sujeitos
históricos.
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída
Quem a reconstruiu tanta vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo
na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
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História da Educação I
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.
(disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/bronze.pdf>)
Mas se a História não é um conjunto de explicações e de certezas
sobre fatos e acontecimentos do passado, há outra(s) forma (s) de
escrevê-la?
Segundo Veiga, historiadores como Jacques Le Goff e Peter
Burke, entre outros, observam que a historiografia que se
consolidou no século XIX foi aquela caracterizada pela narrativa
dos eventos políticos. Isto porque, naquele momento, muitos
Estados/Nação estavam sendo constituídos, criados.
Neste contexto, ainda conforme Veiga, a História como disciplina
escolar foi organizada na perspectiva pragmática da formação
do cidadão, bem como na utilização dos registros oficiais para a
escrita da História, como critério de cientificidade.
Peter Burke diz que, apesar de existirem outros estudos
históricos que contemplassem outros objetos “a história política
era considerada (ao menos no âmbito da profissão) mais real ou
mais séria que o estudo da sociedade ou da cultura”. (apud Veiga,
2003, p. 20).
A Historiografia constituise num campo de estudo
sobre a própria forma
de se produzir e escrever
a História. Esta forma
está associada a quem
escreve e, portanto, leva
em conta a sociedade e
época na qual o indivíduo
está inserido. (verbete
Historiografia, In:
Dicionário de Conceitos
Históricos, 2005, pp. 189193). Para compreender
melhor a trajetória
deste conceito, acessar
<http://eaprender.ig.com.
br/ensinar.asp?RegSel=15
0&Pagina=6#materia>
O Brasil passa a ser
constituído enquanto
Estado/Nação a partir de
1822, com a proclamação
da independência. Anterior
a esta data, ele era uma
colônia pertencente e
administrada por Portugal.
A idéia predominante na época era de que o
conhecimento produzido a partir de fontes oficiais,
com base somente no conteúdo de documentos
escritos, assegurava a História, baseada na escrita dos
historiadores, como verdade absoluta.
Unidade 1
historia_educacao_I.indb 21
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Este tipo de História, voltada predominantemente para os fatos
políticos e organizada de maneira cronológica, tendo como
sujeitos os “personagens ilustres” e os “heróis” eleitos de cada
época (possivelmente aquela História que muitos de nós
aprendemos na escola), vai sendo questionada e dando lugar
a outras concepções.
Isso não significa que a História factual e política tenham
deixado de existir e nem mesmo que não tenham sua
importância. O problema, conforme os historiadores, diz
respeito ao método ou a abordagem utilizada para escrever a
História, questão que você verá na seção 2, desta unidade.
Quanto à História da Educação, uma primeira questão a
destacar é que ela surgiu no final do século XIX, na Europa,
como uma disciplina dos Cursos Normais, ou seja, dos cursos que
formavam professores. No Brasil, também a disciplina História
da Educação foi gerada no interior das escolas normais, estando
sempre acompanhada de perto pela Filosofia da Educação.
Segundo Lopes,
(...)essa associação com a Filosofia da Educação
contribuiu para que uma das vertentes mais pesquisadas
na História da Educação fosse exatamente a história das
idéias pedagógicas e a fonte privilegiada para esse tipo de
investigação fosse a obra dos grandes pensadores. (2005,
p. 28)
Reforça, ainda, Lopes (2005, p, 29) que “o fato de a trajetória
da História da Educação estar relacionada à Pedagogia e ao
ensino dificultou sua constituição como uma área de pesquisa
propriamente dita.”
- Agora, sugerimos que você, antes de dar continuidade à leitura,
reflita um pouco sobre a seguinte questão:
História da educação é um campo que pertence à
História ou à Educação?
22
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História da Educação I
Existem diversos entendimentos entre os historiadores da
educação sobre o lugar da História da Educação em relação à
História. Para uns, ela é definida como uma especialização da
História, para outros como um objeto, para outros, ainda, como
um sub-campo.
Para melhor compreender, a História da Educação foi retirada
do campo da História e convertida em abordagem ou em enfoque.
“O que significou não ter sido instituída como especialização
temática da História, mas como ciência da educação ou como
ciência auxiliar da educação” (WARDE, 1990, p.3-11).
Segundo ela, esse processo que retira a História da Educação do
campo da História e que a inseriu entre as ciências da educação
está associado ao processo que a transformou em disciplina
escolar, nos cursos de formação de professores, a partir dos
anos 30. Nesse processo, ela foi separada do campo da História
e, ao mesmo tempo, colocada em segundo plano no campo da
educação.
O fato de ser transformada em disciplina escolar com objetivos
institucionais e de formação de professores e pedagogos foi o que
impediu, até muito recentemente, a constituição da História da
Educação “como campo de investigação historiográfica capaz
de se auto delimitar e de definir, a partir de sua própria prática
disciplinar, dinâmicas de constituições de questões, temas e
objetos.” (CARVALHO, 1997, p.6).
É importante ressaltar que é muito recente a
consolidação da História da Educação como campo
de investigação científica no Brasil, e que, talvez até
em função disso, exista ainda pouco diálogo entre
historiadores e historiadores da educação.
De acordo com Veiga (2003, p. 19), essa ausência
de diálogo dificulta o entendimento da educação
como objeto de investigação da História e permite
que ela continue a ser vista como sub-campo ou
especialização da História.
Contudo, apesar de se constituir historicamente e inicialmente
como uma disciplina escolar, a História da Educação tem-se
consolidado, nas duas últimas décadas, cada vez mais como um
campo de estudos e pesquisas.
Unidade 1
historia_educacao_I.indb 23
23
13/10/2006 15:05:24
Universidade do Sul de Santa Catarina
Se durante muitos anos essas pesquisas restringiram-se à
análise do pensamento pedagógico e das políticas educacionais,
devido também a grande influência da Filosofia, nos últimos
anos, devido à influência da Nova História, como veremos
na próxima seção, e à aproximação com outras áreas de
conhecimento, como a Antropologia e a Lingüística, outras
temas de pesquisa têm sido investigados e ampliaram nosso
conhecimento sobre a História da Educação.
Figura: Pintura Grega
Fonte: http://paginas.terra.com.
br/arte/mundoantigo/grecia
Auguste Comte (1798-1857)
nasceu em Montpellier, de
família modesta ‘eminentemente
católica e monárquica’, discípulo
e secretário (e depois decidido
antagonista) de Saint-Simon.
Leitor dos empiristas ingleses,
de Diderot, d’Alambert, Turgot
e Condorcet. É o iniciador do
positivismo francês e o pai oficial
da sociologia. Ver mais sobre
Comte e a lei dos três estágios em
<http://socio.tropo.litica.vilabol.
uol.com.br/personalidades/
augustecomte.htm>
Veiga observa que a educação tem apresentado um campo
muito vasto de temáticas e o papel da História da Educação
deve ser o de investigar e tornar visível diferentes objetos: a
escola, o professor, os alunos, materiais escolares, processos e
formas de aprendizagem, entre tanto outros.
Os temas de pesquisa no âmbito da História da Educação
acompanharam e acompanham diferentes correntes teóricometodológicas. Assim, julgamos importante discutir, na próxima
seção, algumas das perspectivas que orientaram e têm orientado
as pesquisas nesse campo.
Seção 2 - Abordagens teórico-metodológicas para a
escrita da História
Para você compreender melhor o que foi falado até agora, é
necessário um breve panorama sobre principais influências na
historiografia, ou seja, na forma de “contar” a História.
A primeira influência que destacamos é o Positivismo.
Doutrina surgida no século XIX e associada a Augusto Comte
compreendia a ciência como domínio da natureza e sinônimo de
progresso. Portanto, o conhecimento científico deveria basear-se
na observação dos fatos e na experimentação, para a elaboração
de leis gerais.
Neste sentido, para demonstrar a evolução do homem na história
da humanidade, elabora a lei dos três estágios: o teológico, o
metafísico e o positivo. No primeiro estágio, a explicação dos
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História da Educação I
fenômenos era atribuída a elementos sobrenaturais, no segundo,
a explicação foi legada a entidades abstratas e no terceiro
e último – o positivo – a fonte para elucidar estes mesmos
fenômenos passaria a ser a razão.
Mas o que nos interessa aqui são algumas características
do Positivismo que vão repercutir na forma de escrever a
História. Como Comte acreditava ser possível compreender a
sociedade e os indivíduos que a compõem através da razão,
acabou projetando lógica semelhante à da elaboração das
leis naturais para a História, atribuindo ao historiador
os critérios de objetividade e neutralidade, utilizados nas
ciências físicas e naturais.
Seguindo essa concepção, o conhecimento do passado
torna-se fundamental para o entendimento do presente e,
conseqüentemente, para a projeção do futuro:
“Assim, o verdadeiro espírito positivo consiste,
sobretudo, em ver para prever, em estudar o que é, a
fim de concluir disso o que será, segundo o dogma
geral da invariabilidade das leis naturais.” (COMTE,
1983, p. 50).
Assim, a noção de História preconizada por esta doutrina
enfatizava as fontes/documentos escritos, pois só eles portariam
a verdade histórica. Grande parte desta documentação remete a
fatos políticos, que por sua vez deveriam ser descritos com base
numa leitura supostamente objetiva do documento. Ou seja, seria
possível compreender os fatos “como eles realmente aconteceram”.
(BURKE).
A História numa abordagem positivista ou tradicional, realça
sujeitos históricos como governantes, grandes homens e “heróis”
selecionados por uma elite política e econômica de cada época.
Os fatos históricos são colocados numa linha de tempo linear,
dividida por períodos políticos.
Uma das características desta concepção de História é que
muitas vezes possibilita um olhar de cima, excluindo-se uma
série de sujeitos, temas e grupos sociais que escapam a esta
abordagem. Então, nesta perspectiva, a História da Educação
estaria associada, devido ao tipo e à forma de trabalho,
Unidade 1
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Figura: Augusto Comte
Fonte: www.si-educa.net
Para conhecer os
diferentes tipos de
fontes/documentos e suas
definições, bem como suas
formas de abordagens ao
longo do tempo, consultar
PINSKY, Carla B. (org.)
Fontes históricas. São
Paulo: Contexto, 2005.
Por História tradicional
entende-se que
“(...) tradicional é a
característica de uma
história de classe
dominante (ou que em
algum momento esteve
no poder do Estado).”
(CERRI, disponível em
<http://www.rhr.uepg.
br/v2n2/cerri.htm>).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
com as fontes/documentos, a um panorama políticoinstitucional no tocante à legislação da política educacional,
ao pensamento pedagógico, etc:
A maneira como a história se organizou enquanto ciência
e disciplina escolar se confunde com a própria história
da educação, que durante muito tempo vinculou-se a
uma interpretação essencialmente política, linearizada,
confundida com a história das idéias pedagógicas, (...).
(VEIGA apud FARIA FILHO, 1998, p. 7)
Essa visão de História, portanto, legitimava/legitima a ordem
vigente.
Mas qual é o seu contexto de surgimento?
É importante conhecermos o contexto histórico para que
compreendamos o significado e o crescimento de tais teorias.
Conforme já falamos no início da seção, o século XIX, ao
menos no Ocidente, foi perpassado por discussões acerca dos
pressupostos da razão e do conhecimento científico.
A classe burguesa, que já havia consolidado seu poder econômico,
almejava conquistar ou garantir também o poder político. Por ser
uma classe que se opunha à velha ordem ou ao Antigo Regime,
possuía a simpatia de alguns pensadores e grupos. A sociedade
européia, no curso da Revolução Industrial, apresentava uma
dicotomia básica, ou seja, a divisão de duas classes sociais: os
capitalistas e os proletários.
Para compreender melhor as
definições sobre Antigo Regime,
Revolução Industrial e Imperialismo
ou Neocolonialismo do séc. XIX,
acesse o site: <http://www.
historianet.com.br>.
O estabelecimento das fábricas nas cidades, a mecanização, bem
como a descoberta de novas fontes de energia, dinamizaram a
produção industrial, promovendo uma concentração de mãode-obra nas cidades. Na busca de matérias-primas e de mercado
consumidor para tal produção, os países europeus expandem-se
para a Ásia e África, configurando o que se denomina como
Imperialismo ou Neocolonialismo do séc. XIX.
Voltando à sociedade européia, percebe-se que essa massa
trabalhadora vivia em condições subumanas, com jornadas de
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História da Educação I
trabalho que poderiam chegar a 18 horas diárias, sem direitos
trabalhistas, com a presença do trabalho infantil e feminino e
precárias condições de moradia, saúde e alimentação. É neste
panorama que surge o Positivismo, legitimando a ordem vigente,
assim como outra corrente teórica, antagônica na maior parte dos
aspectos, com base nos estudos de Karl Marx.
Marx vai estudar profundamente a oposição das classes
ao longo da História – que chamará de luta de classes – e a
constituição do capitalismo. A teoria marxista é chamada de
Materialismo histórico e dialético, toma como objeto de estudo
a sociedade burguesa, porém do ponto de vista do trabalho e dos
trabalhadores. Como explica Aranha (1996, p. 141):
(...) no lugar das idéias estão os fatos materiais: no
lugar dos heróis, a luta de classes. A história se faz
com os fatores materiais, econômicos e técnicos que
correspondem às condições em que os homens se reúnem
para produzir sua existência no trabalho.
Portanto, é nas contradições entre as classes antagônicas e do
desenvolvimento das próprias forças produtivas de cada época,
que se percebe a superação de uma classe sobre a outra, de um
modelo, ou modo de produção sobre o outro.
É claro que estamos simplificando as idéias de tal teoria, no
entanto, o que nos interessa aqui, é compreender a visão de
História advinda de tal teoria. Por isso, podemos compreender
que a História é movimento, pois pressupõe a ação de indivíduos
reais, a partir de certas condições materiais de vida, no sentido
de superá-las. A imagem do passado, portanto, também
é construída a partir dos interesses de uma classe, dessa
forma, a História não é neutra, nem objetiva, como dizia o
Positivismo.
Karl Marx (1818-1883)
nasceu na Alemanha.
Sua existência foi
dedicada à luta da
classe trabalhadora.
A revolução russa de
1917, que criaria a
União Soviética (URSS),
a revolução chinesa
de 1949, a revolução
cubana de 1919 são
alguns exemplos de
revoluções que se diziam
inspiradas em suas
idéias. Disponível em
<http://socio.tropo.
litica.vilabol.uol.com.
br/personalidades/
karlmarx.htm>.
Figura: Karl Marx
Fonte: www.unificado.com.br
Unidade 1
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Tal noção de História, por ser calcada no
desenvolvimento de processos materiais, ou de modos
de produção, traduz-se numa visão economicista
e linear, pois a “linha da História”, numa sucessão
de superação dos modos de produção, levaria ao
Comunismo (esta linearidade também está presente
na lei dos três estágios de Comte).
De qualquer forma, desloca-se o foco do político
para o econômico e ao mesmo tempo, permite-se, ao
considerar a classe trabalhadora como fundamental,
uma “história vista de baixo”.
Assim, a História, como a História da Educação, também
constituiu outros campos de estudo e conhecimento da realidade,
a partir desta teoria. Nessa linha, a educação pode ser vista
como a reprodução da sociedade ou a sua superação, através da
conscientização de uma classe oprimida.
A última corrente que abordaremos aqui, no sentido de
compreender as formas de escrever a História e, portanto, a
História da Educação, como falamos no início da seção, é a Nova
História.
A Nova História e suas derivações, que são muitas e trataremos
apenas de uma delas, a História Cultural – é uma corrente
dentro da própria História, diferente das duas anteriores.
A expressão Nova História passou a ser amplamente
conhecida através da obra “La nouvelle historie”, do
historiador francês Jacques Le Goff (1978).
No entanto, é necessário que voltemos no tempo, pois ela é fruto
de todo um movimento anterior. Na década de 20, do século
XX, um grupo de historiadores franceses promove uma espécie
de reação à História excessivamente política e as suas principais
propostas podem ser assim resumidas:
Em primeiro lugar, a substituição da tradicional
narrativa de acontecimentos por uma história-problema.
Em segundo lugar, a história de todas as atividades
humanas e não apenas da história política. Em terceiro
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História da Educação I
lugar, visando completar os dois primeiros objetivos, a
colaboração com outras disciplinas, tais como a geografia,
a sociologia, a psicologia, a economia, a lingüística, a
antropologia social e tantas outras. (BURKE, 1992, pp.
11-12).
Muitas destas propostas foram apresentadas numa publicação
criada em 1929, chamada Revista dos Annales, tendo a
frente Marc Bloch e Lucien Febvre. Ao privilegiar a História
econômica e social, este movimento, segundo o historiador Peter
Burke, pode ser percebido em três gerações e a última seria a dos
anos 70. Essa geração pode ser vista como uma continuidade, em
certos aspectos, mas também como ruptura com as anteriores.
Quais características são fundamentais nesta nova
forma de ver e escrever a História?
Para saber mais sobre o
movimento dos Annales
e seus desdobramentos,
acesse: <http://www.
ohistoriador.hpg.ig.com.br/
annales.htm> e também
<http://www.historianet.
com.br/conteudo/default.
aspx?codigo=607>
Veja a seguir:
„
Se a História deve considerar todas as atividades
humanas, tudo tem história, portanto, novos temas foram
incorporados à historiografia, como: a morte, as festas, a
infância, o corpo, a alimentação, os odores, a família etc.
„
Uma “história vista de baixo”, que leve em conta as
pessoas comuns, desconhecidas, em seu contexto de
tempo e espaço.
„
A abertura para outros documentos e fontes - não só
os escritos – como fotografias, pinturas, histórias orais,
objetos, etc. Muitos são os registros necessários se
pensarmos nas atividades e experiências humanas.
„
A História é construída a partir do ponto de vista de
quem a escreve e das fontes selecionadas ou disponíveis
no momento. Portanto, não é possível contar a História
como ela realmente aconteceu.
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Não há uma única verdade em um contexto histórico,
assim como também o historiador não é neutro e
detém um ponto de vista (relacionado às idéias de sua
época e ao lugar que ocupa).
Para saber mais acerca das idéias
e pesquisas deste historiador que
tem influenciado muitos trabalhos
em História da Educação no Brasil,
leia estas duas entrevistas: http://
pphp.uol.com.br/tropico/html/
textos/2479,1.shl e <http://www.
multirio.rj.gov.br/portal/riomidia/
rm_entrevista_conteudo.asp?idio
ma=1&idMenu=4&label=Entrevist
as&v_nome_area=Entrevistas&v_
id_conteudo=51218>.
Nesta concepção, vários objetos e abordagens conquistam
espaço, como o cotidiano, as mentalidades, a historia social e,
atualmente, a partir das discussões acerca da cultura no campo
historiográfico e principalmente metodológico, como a História
Cultural. Dentre estes campos de investigação, Pesavento aponta
a História das cidades, da literatura, da imagem das identidades,
do tempo presente, da memória e da historiografia. (apud
FONSECA, 2003, p. 53).
No campo educacional, esta tendência da História está expressa
em recentes pesquisas na área. Um dos historiadores da História
Cultural que tem sido muito utilizada na História da Educação
é Roger Chartier devido as suas pesquisas sobre a História da
leitura e dos impressos. Neste sentido, você já percebeu que a
História Cultural vai influenciar e, até mesmo, renovar os objetos
e abordagens nesta área, como veremos na seção a seguir.
Seção 3 - Fontes e objetos para a História da Educação
O que vem a sua mente quando aparece a palavra
fonte? Registre a seguir:
Se lhe veio à cabeça a palavra nascente ou, até mesmo, o lugar
onde nasce, brota ou emerge a água, ou se você pensou em
algo referente ao mencionado, não está errado(a). Fonte é o
lugar de onde sai algo, ou melhor dizendo, fonte é a origem
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História da Educação I
de alguma coisa. E é por isso que o conhecimento produzido
sobre a História da Educação também sai de alguma fonte,
também tem origem.
Para deixar mais clara esta questão, buscamos junto a alguns
autores que vêm estudando a História da Educação nas últimas
décadas, algumas contribuições sobre seu entendimento sobre
fontes, bem como exemplos de fontes por eles utilizados para
produção da historiografia educacional.
Com relação à palavra ‘fonte’, Saviani (2004, pp. 5-7) diz que
ela apresenta, via de regra, duas conotações. Uma significa ponto
de origem, o lugar onde brota algo que se projeta e se desenvolve
indefinidamente e inesgotavelmente. Outra indica a base, o ponto
de apoio, o repositório dos elementos que definem os fenômenos
cujas características busca-se compreender.
Ele observa que, como ponto de origem, fonte é sinônimo
de nascente que corresponde também à manancial, o qual,
entretanto, no plural, já se liga a um repositório abundante de
elementos que atendem à determinada necessidade. No entanto, a
palavra nascente, assim como manancial, é usada apenas para se
referir ao ponto de origem de um curso ou corrente de água.
O mesmo autor observa que, no caso da História, não se pode
falar em fontes naturais já que todas as fontes históricas, por
definição, são construídas, isto é, são produções humanas (salvo
quando a questão for relativa a uma possível História natural, que
não é o caso aqui – observação do autor). Além disso, é preciso
considerar que, a rigor, a palavra fonte é usada em História com
sentido analógico. Ou seja, não se trata de considerar as fontes
como origem do fenômeno histórico considerado.
As fontes estão na origem, constituem o ponto de
partida, a base, o ponto de apoio da construção
historiográfica que é a reconstrução, no plano do
conhecimento, do objeto histórico estudado. Assim as
fontes históricas não são a fonte da história, ou seja, não é
delas que brota e flui a história. Elas enquanto registros,
enquanto testemunhos dos atos históricos, são a fonte do
nosso conhecimento histórico. (SAVIANI, 2004, p.5)
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Ainda segundo Saviani, a analogia não se limita apenas ao caráter
de origem, também o caráter de inesgotabilidade transpõe-se
analogicamente para a historiografia. Ou seja, sempre que a
elas retornamos, tendemos a encontrar novos elementos, novos
significados, novas informações que nos tinham escapado nas
vezes anteriores.
De acordo com ele, podemos distinguir as fontes entre
aquelas que se constituem de modo espontâneo e
aquelas que produzimos intencionalmente.
As primeiras são aquelas que encontramos nos vários
tipos de acervos com as mais diferentes formas. São
documentos, vestígios, indícios que foram acumulando ou que
foram guardados. Entre eles estão a multidão de papéis existentes
nas bibliotecas e nos arquivos públicos ou privados, as inúmeras
peças guardadas nos museus, dentre muitos outros objetos que
adquirem o estatuto de fonte diante do historiador, na medida em
que estes buscam neles respostas às questões levantadas.
As segundas são aquelas que os educadores ou historiadores
preservam para que, no futuro, novos pesquisadores possam
compreender seu passado que é o nosso presente. Entre estas
fontes encontram-se tanto materiais de trabalho como de
pesquisa. Além disso, há ainda as fontes produzidas a partir de
registros de testemunhos orais, nos quais nos apoiamos em nossa
investigação.
Falando de História de instituições escolares, por exemplo,
Werle (2004, p.14) diz que seus conteúdos resultam, em parte, da
descoberta do pesquisador junto aos arquivos e outras formas de
apropriação obtidas através de depoimentos orais ou escritos e de
outros meios de expressão.
Mas nem sempre foi assim. É importante relembrar, como já
vimos na primeira seção, que a História da Educação configurouse primeiramente como disciplina escolar e, como nos coloca
Fonseca:
(...) teve sua trajetória marcada pelas relações
estabelecidas com o conhecimento produzido em outros
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História da Educação I
campos, como a fi losofia e a Psicologia. Tratava-se de
elaborar um conjunto de saberes sobre a história das
idéias pedagógicas que tivesse função prática na formação
dos professores e pedagogos. (In: VEIGA, 2003, p. 56)
O estudo das idéias pedagógicas acabou caracterizando as
pesquisas nesta área. Um outro tipo de análise, mas na mesma
concepção, ocupa lugar de destaque em obras de História
da Educação no Brasil, por exemplo, que é a organização
dos sistemas de ensino associada às políticas educacionais do
Estado. A fonte ou documento utilizado por esta abordagem
era unicamente o registro escrito, notadamente a evolução da
legislação educacional.
Lembre-se do que já vimos sobre a concepção
positivista e perceba as semelhanças!
Ainda no Brasil, Ghiraldelli jr. aponta que nos anos 80,
Dermeval Saviani e seu grupo na Unicamp, numa perspectiva
marxista, fazem questionamentos à condução dos planos e do
campo de pesquisa da História da Educação:
(...) ora eram construídos a partir de uma visão
determinada, ora seguiam um ecletismo em que
passava-se em revista as instituições educacionais e/ou
doutrinas pedagógicas da Grécia Antiga até a época
contemporânea. (GHIRALDELLI Jr, 2003. p. 242.)
A trajetória da História da Educação é marcada pelas concepções
que esboçamos na seção anterior. Aproxima-se atualmente da
História Cultural, como campo de investigação e muitas vezes
é vista como uma dimensão do universo cultural em estudo.
Alguns historiadores, dentre eles Pierre Nora e Roger Chartier
(que já citamos anteriormente), pesquisaram temas relacionados
a este campo como os livros e a leitura, a escolarização, entre
outros, numa abordagem diferente, tanto da tradição positivista,
quanto da marxista.
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Como exemplos de fontes que os historiadores da educação vêm
se apoiando nos últimos tempos para produzir o conhecimento
sobre a área podem ser citados:
Para saber mais sobre os jesuítas
e sua atuação no Brasil, acesse:
<http://www.pedagogiaemfoco.
pro.br/heb02.htm> e <http://
www.cimi.org.br/?system=news&a
ction=read&id=1643&eid=259>.
Marquês de Pombal é o nome com
que ficou conhecido Sebastião
José de Carvalho e Melo, político e
verdadeiro dirigente de Portugal
durante o reinado de José I, como
1º. Ministro. A partir de 1756,
realizou um programa político
de acordo com os princípios
do Iluminismo, porém às suas
reformas opuseram-se os jesuítas
e a aristocracia. Num atentado
contra a vida do rei em 1758,
conseguiu implicar os jesuítas,
expulsos em 1759. Disponível
em <http://www.netsaber.com.
br/biografias/ver_biografia.
php?c=891>.
„
documentos (oficiais ou não);
„
legislação;
„
arquivos institucionais públicos e privados dentre eles os
escolares;
„
arquivos pessoais (como baú de memórias, ou seja,
informações que uma pessoa guarda como fotos, diários,
correspondências, dentre outros);
„
dados estatísticos;
„
literatura;
„
produção bibliográfica;
„
livros didáticos;
„
pinturas e outras obras de arte; fotografia;
„
memórias (entrevistas e histórias de vida);
„
arquitetura de prédios escolares; objetos escolares (desde
tinteiros até cadernos e mobílias existentes no interior de
uma escola).
Conforme Fonseca, na História da Educação no Brasil, por
exemplo, novos temas têm sido considerados, como a História da
leitura e dos impressos escolares, “a história da profissão docente,
os processos de escolarização, a cultura escolar e as práticas
educativas e pedagógicas.” (FONSECA, 2003, p.61) Em alguns
casos, antigos temas ou pesquisas, como as idéias pedagógicas e o
sistema escolar têm sido revistos.
Um exemplo disto são alguns estudos atuais sobre o período
colonial que, ao invés de focarem apenas na escolarização formal
relacionada à presença dos jesuítas e depois à administração
pombalina, levam em conta outros processos educativos. Estes
processos educativos, que podemos chamar de não formais,
geralmente abarcavam uma população que estava à margem da
escola, por condições financeiras ou preconceito.
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História da Educação I
Este tipo de estudo, ao invés de considerar apenas os
escolarizados formalmente, permite-nos vislumbrar outras formas
educativas relacionadas aos indígenas, mestiços, brancos pobres
e aos negros escravos ou livres. Neste caminho, são trazidas à
tona informações sobre o aprendizado profissional, a circulação
de artistas e artesãos que traziam consigo saberes e técnicas.
A pesquisa sobre este período amplia-se, levando em conta as
especificidades e as culturas que circulavam naquele momento
histórico.
Um outro objeto de investigação tem sido ressaltado, referese à própria História da infância. Um dos trabalhos pioneiros
e marcantes neste sentido é o do historiador francês Philippe
Ariès, “História Social da Criança e da Família”. (1981). Neste
trabalho, ele analisa a trajetória da construção da noção moderna
de infância. Mostra a criação de um “sentimento de infância”,
voltado à proteção e diferenciação em relação ao adulto, o que
antes não ocorria. Ele inova não só na temática, como também
na escolha das fontes. Ao contrário de outras tendências, utiliza a
iconografia (imagens), diários, inscrições de túmulos, etc.
Apesar de algumas críticas, pois o trabalho centrou-se
nesta construção a partir das elites, contribuiu para
chamar a atenção para o conceito de infância e para a
ampliação das fontes e da análise.
Figura: Livro de Philippe
Áries – História Social da
Criança e da Família
Fonte: www.
livrariacultura.com.br
Outros livros organizados nesta temática como “História das
crianças no Brasil (PRIORE, 1991), “História social da infância
no Brasil” (FREITAS, 1997) e “Infância e educação infantil”
(Kuhlmann, 1998), nos mostram os mais diferentes objetos e
fontes para a História da Educação. Em todos estão presentes
diversas visões sobre a infância e os lugares atribuídos às crianças
em cada contexto histórico.
Como exemplo de trabalho com fontes orais, mais
especificamente com histórias de vida de professoras aposentadas,
temos o trabalho organizado por Maria Teresa de Assunção
Freitas, “Memórias de professoras: história e histórias” (2000).
Neste projeto, as histórias de vida foram cruzadas com uma
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história maior, trazendo elementos para a compreensão da
História da Educação local (Juiz de Fora) e nacional.
Assim, os objetos de análise relacionam-se à formação de
professores, à prática pedagógica, à leitura e à escrita, às
bibliotecas e às políticas públicas e à própria vida cultural da
cidade. Os objetos foram definidos a partir de suas falas e
recordações.
Um outro componente que tem sido transformado em objeto
de investigação são os manuais didáticos. Ao invés de serem
utilizados só como fonte para a compreensão de outras questões,
como os processos de escolarização, a construção de culturas
escolares, a história de uma disciplina, têm sido analisado em
seu processo de produção, sua circulação, seu uso e também nas
apropriações que os diferentes grupos sociais faziam deles.
Para estudar a escolarização no século XIX no Brasil, por
exemplo, quando utilizávamos somente as fontes tradicionais,
como a legislação da época, tudo nos levava a crer que havia uma
ausência do Estado, através da falta de políticas públicas para
a educação e infância. No entanto, quando levamos em conta
outras fontes, como cadernos escolares, mapas de matrícula,
relatórios de profissionais envolvidos nesta organização escolar,
percebemos que havia uma tentativa de viabilizar um sistema
público de ensino, ao menos para a população livre.
Você deve ter percebido, até agora, que estes novos
olhares sobre a História da Educação, relacionados
à renovação da historiografia, mas também à
aproximação com outras áreas, como a Antropologia
e a Sociologia (só para citar duas áreas) têm
contribuído com novas fontes e objetos de estudo,
até então desconsiderados. Por isso, podemos
visualizar a educação num contexto mais amplo,
também relacionada a temas que, anteriormente, não
apareciam.
É nesta perspectiva que estaremos conduzindo as demais
unidades deste livro. Agora, para praticar os conhecimentos
conquistados nesta unidade, realize, a seguir, as atividades
propostas.
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História da Educação I
Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e, a seguir, acompanhe as
respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu
estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer
as atividades propostas.
1) Referente ao conhecimento de História da Educação é correto afirmar:
a) ( ) O conhecimento produzido a partir de fontes oficiais era visto, até
muito recentemente, como forma de garantir a cientificidade.
b) ( ) No Brasil, a História da Educação foi transformada em disciplina nos
cursos de formação de professores e de pedagogos a partir de 1930.
c) ( ) A fotografia e as obras de arte nunca foram consideradas fontes
historiográficas.
2) Construa um quadro síntese com as informações da Seção 2:
TENDÊNCIAS
PRINCIPAIS REPRESENTANTES
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IDÉIAS CENTRAIS
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3) Realize a atividade sugerida a seguir na sua cidade e depois socialize
com o grupo na ferramenta Exposição no EVA:
Visite uma biblioteca ou arquivo público e identifique alguma
fonte/documento referente à educação em outras épocas: notícia
de jornal, cartilhas, livros didáticos, leis.
„ Realize uma entrevista com alguém que você conheça, com mais
idade, acerca da sua vida escolar.
„ Localize fontes iconográficas como fotos, desenhos e outras
imagens relacionadas à sua vida escolar ou à da sua família.
„
Anote suas impressões nas linhas a seguir:
Síntese
Na primeira seção desta unidade, você teve contato com termos
como educação, História e História da Educação.Você pode
perceber que podemos conceituar a Educação, dentre inúmeras
outras formas, como o processo de formação do ser humano, um
processo que ocorre no decorrer da sua existência e em diferentes
espaços formais e não formais.
Podemos dizer, também, que a noção de História sofreu
mudanças ao longo do tempo: desde uma concepção baseada
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História da Educação I
na ênfase aos fatos isolados, dispostos de maneira linear e
cronológica e com apenas alguns indivíduos como promotores
da História, até uma outra perspectiva, na qual ela pode ser
entendida como uma construção de acordo com o ponto de vista
de quem a escreve (o historiador).
Assumida esta imparcialidade na escrita da História, leva-se
em conta a História dos grupos humanos, em tempos e espaços
determinados, compondo o que se chama de processo histórico.
Você também aprendeu que a História da Educação, surgiu no
final do século XIX, na Europa, como uma disciplina dos Cursos
Normais, ou seja, dos cursos que formavam professores. Assim
como no Brasil, cuja disciplina foi gerada no interior das Escolas
Normais, estando sempre acompanhada de perto pela Filosofia
da Educação.
No entanto, devido à aproximação com as novas tendências da
História e de outras áreas do conhecimento, tem-se consolidado,
nas duas últimas décadas, cada vez mais como um campo de
estudos e pesquisas.
Na seção 2, ao apontarmos as correntes que influenciaram/
influenciam a História da Educação, você pode notar as
principais diferenças entre elas e as contribuições na forma de
olhar e escrever a História e a História da Educação.
O Positivismo ao lançar um olhar de “cima para baixo”, exclui
uma série de sujeitos, temas e grupos sociais que escapam a esta
abordagem. Nesta perspectiva, a História da Educação estaria
associada, devido ao tipo e à forma de trabalho com as fontes/
documentos, a um panorama político-institucional no tocante à
legislação da política educacional e ao pensamento pedagógico.
Já no Marxismo, a educação pode ser vista como a reprodução
da sociedade ou a sua superação, através da conscientização de
uma classe oprimida. No campo educacional, esta tendência da
História está expressa em recentes pesquisas na área. No viés da
Nova História, notadamente da História Cultural, a História da
Educação influencia e até mesmo renova os objetos e abordagens
nesta área, apesar de ser um campo ainda muito recente de
estudos.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Por fim, você descobriu que há muitas fontes possíveis de serem
utilizadas nas novas pesquisas em História da Educação, além
dos documentos oficiais e da legislação, como as entrevistas
orais, fotos, diários pessoais, pinturas, a arquitetura escolar, entre
outros.
Também descobriu que, a partir destas novas fontes, é possível
levantar outros objetos de pesquisa, como a História da profissão
docente, os processos de escolarização, a cultura escolar, as
práticas educativas e pedagógicas, o conceito de infância, etc.
Dessa forma, a História da Educação constitui-se como um
campo vasto de pesquisas, incluindo processos educativos
e grupos sociais que, na maior parte das vezes, não eram
mencionados.
Saiba mais
Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você
poderá pesquisar os seguintes livros:
ARIÉS, Philippe. A História Social da Criança e da Família.
2ª. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.
BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a
Escola dos Annales, 1929-1989. São Paulo: UNESP, 1991.
FONSECA, Thais Nívia de L.; VEIGA, Cynthia G. História
e Historiografia da Educação no Brasil. Belo Horizonte:
Autêntica, 2003.
SAVIANI, Dermeval. Breves considerações sobre Fontes
para a História da Educação. In: LOMBARDI, José
Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (org).
Fontes, História e historiografia da educação. Campinas-SP:
Autores Associados, 2004.
40
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UNIDADE 2
As práticas educativas
medievais
2
Objetivos de aprendizagem
„
Compreender o contexto histórico das práticas
educativas medievais.
„
Identificar os sujeitos e grupos sociais, que foram
atingidos ou excluídos pelas instituições ou associações
educativas.
„
Compreender o significado e a importância de situações
pedagógicas não formais.
„
Estabelecer critérios de comparação entre as formas
educacionais do período medieval e as atuais.
Seções de estudo
Seção 1 Idade Média: um breve contexto histórico.
Seção 2 A educação das mulheres.
Seção 3 A educação dos cavaleiros medievais.
Seção 4 A educação nas corporações de ofício.
Seção 5 A educação nas Universidades.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
O estudo desta unidade lhe proporcionará conhecer o contexto
histórico da chamada Idade Média Ocidental, para situar e
compreender as práticas educativas relacionadas a este período.
Você conhecerá lugares e sujeitos das práticas educativas. É
o caso, por exemplo, da educação feminina, nas corporações
de ofícios, na formação de cavaleiros e na constituição das
universidades.
Você perceberá, também, que havia uma definição das classes
sociais bastante rígida e hierarquizada, no entanto, no campo
educacional, muitas vezes elas estavam juntas, como no caso das
escolas monásticas e das universidades.
Muitas vezes, a educação abrange espaços não formais, ou
melhor, não é escolarizada, como é o caso da maioria das
mulheres e dos aprendizes nas corporações de ofício.
Assim, entre diferentes sujeitos e grupos sociais, entre métodos
e materiais pedagógicos, através de diferentes fontes e objetos como você já viu na primeira unidade - esperamos que você entre
em contato e também construa um conhecimento acerca das
práticas educacionais neste período.
42
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História da Educação I
SEÇÃO 1 - Idade Média: um breve contexto histórico
Foi no século IV a.C. que a educação se institucionalizou
com a fundação das primeiras escolas: Isócrates abriu a sua
escola em 393 a.C. e Platão fundou a Academia em
387 a.C.
Ao conquistarem o mundo da Antiga Grécia, os
romanos “absorveram” o melhor da sua cultura,
acrescentando-lhe a disciplina e o respeito pela
lei (tipicamente romana). Construíram escolas de
influência grega (o ginásio, a escola de cálculo e de
gramática) e escolas de direito.
A partir dos finais do século II da nossa era, o Império
Romano, então cristianizado, entrou em decadência devido a
vários fatores (tais como as crises na sucessão imperial, a crise
econômica e social e o “perigo bárbaro”).
Quando, em 476, a autoridade imperial deixou de existir no
Ocidente, os “bárbaros” já se haviam fi xado nas regiões da
Europa que antes devastaram. Estes povos eram, na sua maioria,
pagãos, mas os seus chefes acabaram por se converter ao
catolicismo.
Tendo sido a única que resistiu e sobreviveu às
grandes invasões, mantendo a sua organização e
servindo de apoio às populações aterradas, a Igreja
Católica tornou-se a instituição mais importante da
Idade Média.
Figura: Mural de Palau
– Calades Barcelona
Fonte: www.odesenho.
no.sapo.pt
Os romanos chamavam
de bárbaros todos os
povos que não possuíam
a mesma língua, os
mesmos costumes e
organização política, social
e econômica que eles.
Estas diferenças podem
ser observadas no filme
“Asterix e Obelix contra
César”.
Certamente você já ouviu falar no termo Idade Média, e deve
lembrar de ter estudado na escola, nas aulas de História, ou talvez
por cenas de filmes, com cavaleiros, castelos e donzelas na torre.
Além disso, você pode ter lido sobre a influência e os desmandos
da Igreja Católica neste período,
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Independente da sua fonte de informação, você
é convidado a registrar no espaço, a seguir, suas
impressões sobre o período histórico em questão.
Esse é o momento para fazer uma pausa e refletir
sobre o assunto!
Considera-se o eurocentrismo como
uma visão de mundo que tende a
colocar a Europa (assim como sua
cultura, seu povo, suas línguas, etc.)
como o elemento fundamental
na constituição da sociedade
moderna, sendo necessariamente a
protagonista da história do homem.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/
Eurocentrismo>
Você deve ter percebido que muitas das referências que registrou
acima dizem respeito à história européia, não abarcam o
Brasil, por exemplo, ou outros lugares do mundo. Pois bem,
esta expressão “Idade Média” é bastante eurocêntrica e leva
em conta uma periodização política, conforme a história
positivista, que é uma das formas de escrever a história, como
você viu na Unidade 1 desta disciplina.
Dentro desta concepção de História, os marcos cronológicos do
período conhecido como Idade Média, são os seguintes:
„
Início: 476 d.C. - Queda do Império Romano do
Ocidente, com sede em Roma.
„
Final: 1453 d.C. – Queda do Império Romano do
Oriente, com sede em Constantinopla, tomada pelos
turcos.
Ainda dentro desta classificação, há mais duas divisões,
que muitas vezes são utilizadas: a Alta Idade Média, que
compreenderia a formação dos povos germânicos até a
estruturação do Feudalismo e a Baixa Idade Média, comumente
descrita a partir do movimento das cruzadas, caracterizadas pelo
ressurgimento e expansão das cidades e do comércio.
– Gostaríamos de deixar claro que este recorte cronológico de “mil
anos”, bem como o espaço geográfico (Europa) será levado em conta
nesta unidade, devido às pesquisas e ao material bibliográfico
44
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História da Educação I
para os estudos em Educação. No entanto, não nos ateremos a
uma seqüência cronológica para abordarmos as demais seções desta
unidade e sim, às práticas educativas associadas a temas, como
a educação monástica, nas corporações de ofícios, a educação das
mulheres, dos cavaleiros medievais e a formação das universidades.
Dito isto, vamos compreender melhor o panorama histórico
deste período. Tomando o Século V como ponto de partida
e a Europa como espaço geográfico, identificamos a crise do
sistema escravista como um dos principais fatores da fragilidade
econômica e social em que se encontrava o Império Romano do
Ocidente naquele momento:
A divisão do Império em duas partes no final do século
IV também contribuiu para esse processo: O Império
Romano do Oriente, com capital em Constantinpla
ainda conseguiu manter uma atividade comercial com
outras regiões do Oriente, enquanto que o Império
Romano do Ocidente, com capital em Milão, vivenciou
o aprofundamento constante da crise. (disponível em
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.
aspx?codigo=144)
Algumas medidas administrativas foram empreendidas, como
o estabelecimento das Villae, no entanto, estas unidades eram
voltadas à autosuficência, o que contribuiu ainda mais para a
fragmentação do território do Império e para a ruralização.
Devido a estes fatores, entre outros, a presença dos “povos
bárbaros” constante nas fronteiras do Império Ocidental,
acentuou-se, constituindo-se num movimento migratório de
invasão, até o coração do Império.
Villae eram grandes
residências senhoriais
que possuíam termas
para os banhos,
habitações para os
trabalhadores (com
os seus próprios
banhos), e todos os
edifícios essenciais
ao funcionamento da
exploração (lagares,
olarias, tecelagens,
forjas, estábulos, e
mesmo templos). O ideal
deste tipo de exploração
era a auto-suficiência.
<http://www.geocities.
com/alex221166/h_a_
10_por.html>
Dentre os “invasores bárbaros”, destacamos os povos germânicos
(vândalos, ostrogodos, visigodos, anglo-saxões e francos), devido
à formação de reinos - dentro do que era a área do Império
Romano - e da própria organização econômica e social, que
transplantaram para as áreas ocupadas, mesclando com outros
costumes vigentes. Dentre estes povos, ressaltamos os francos,
por sua importância na formação do Feudalismo e na aliança
com a Igreja Católica, como você verá a seguir.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Quem eram os francos?
A palavra franco significava “livre” na língua franca. Os francos
formavam uma das várias tribos germânicas que adentraram o
espaço do império romano. Era um grupo oriundo do oeste da
Europa, que ocupou a região da Gália (aproximadamente a atual
França).
O reino franco passou por várias partilhas e repartições, já que os
francos dividiam suas propriedades entre os filhos sobreviventes,
e concebiam o reino como uma grande extensão de uma
propriedade privada.
A conversão ao Cristianismo, de um dos reis da Dinastia
Merovíngia, já no século V, facilita a consolidação do Reino
Franco e a ascenção da Igreja Católica. O fortalecimento da
relação entre a Igreja e o Reino caracterizou-se, principalmente,
pelas doações de terra, conversões e proteção. Durante a Dinastia
Carolíngea, o rei franco Carlos Magno (séc. X), é coroado pelo
papa e defende o território europeu do avanço dos muçulmanos
árabes (“os inféis”). Consolidando-se, deste modo, a aliança com
a Igreja Católica.
O que é feudalismo?
Figura: Fases do Feudalismo
Fonte: www.culturabrasil.pro.br
O feudalismo foi um modo de produção baseado nas relações
servo-contratuais (servis) de produção. Tem suas origens na
desintegração da escravidão romana. Com a decadência e a
destruição do Império Romano do Ocidente, por volta do
século V d.C. (de 401 a 500), como conseqüência das inúmeras
invasões dos povos bárbaros e das más políticas econômicas dos
imperadores, várias regiões da Europa passaram a apresentar
baixa densidade populacional e baixo desenvolvimento urbano.
Isso ocorria devido às mortes provocadas pelas guerras, às
doenças e à insegurança existentes logo após o fim do Império
Romano. A partir do século V d.C., entra-se na chamada
Idade Média, mas o sistema feudal somente passa a vigorar em
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História da Educação I
alguns países da Europa Ocidental a partir do século IX d.C.,
aproximadamente.
O esfacelamento do Império Romano do Ocidente e
as invasões bárbaras em diversas regiões da Europa
favoreceram sensivelmente as mudanças econômicas
e sociais que vão sendo introduzidas, principalmente
na Europa Ocidental, e que alteram completamente o
sistema de propriedade e de produção característicos
da Antigüidade.
Em suma, com a decadência do Império Romano e as invasões
bárbaras, os nobres romanos começaram a se afastar das cidades
levando consigo camponeses (com medo de serem saqueados ou
escravizados). Já na Idade Média, com vários povos dominando
a Europa Medieval, foi impossível unirem-se entre si e entre
os descendentes de nobres romanos, que eram donos de
pequenos agrupamentos de terra. No entanto, foi da “mistura”
de instituições romanas e instituições “bárbaras” que surgiu o
Feudalismo.
Surge uma classe social caracterizada como a nobreza
feudal, detentora de terras – a terra representa a riqueza
– cuja manutenção consistia na concessão de terras a outros
senhores, muitas vezes em troca de proteção.
Assim, os que concediam a terra eram
chamados de suseranos, e quem recebia era
chamado de vassalo.
Em grandes propriedades de terra os senhores
feudais estabeleciam-se em locais estratégicos.
Os castelos eram fortalezas que serviam como
quartel-general para cavaleiros antes de seus
ataques aos inimigos. Além de tudo, eram
as moradias dos nobres e os locais onde essas
poderosas famílias se alimentavam, se divertiam e recebiam seus
convidados. Para seus senhores, era uma forma de apresentar aos
demais nobres, ao clero e aos visitantes de regiões distantes toda
a sua riqueza e influência. Além disso, representavam, para os
moradores das vilas ou feudos, um centro de decisões políticas,
cobrança de impostos e justiça. Todo sistema de tributos era
organizado em função do uso da terra pelos servos, mas também
Unidade 2
historia_educacao_I.indb 47
Figura: Castelo de
Dromoland, na Grãbretanha, construído no
século XVI .
Fonte: <http://www.
planetaeducacao.
com.br/new/colunas2.
asp?id=167>
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Pela talha, o servo devia uma parte
da sua produção ao senhor feudal.
A corvéia consistia no trabalho nas
terras do senhor (manso senhorial),
em alguns dias por semana.
Os pagamentos que os servos
faziam aos senhores pelo uso
do forno, do moinho, do celeiro,
chamavam-se banalidades.
(disponível em: http://www.
historiadomundo.com.br/idademedia/feudalismo)
Os vilões eram homens livres que
viviam no feudo, deviam algumas
obrigações aos senhores, como por
exemplo, as banalidades, mas não
estavam presos à terra, podendo
sair dela quando o desejassem.
(disponível em: http://www.
historiadomundo.com.br/idademedia/feudalismo).
do uso das ferramentas e dos locais como os moinhos, serrarias,
carpintaria pertencente ao senhorio feudal.
Os servos não tinham a propriedade da terra. No entanto,
eram obrigados a permanecer nela. Não eram escravos, pois
não podiam ser vendidos. A base do sistema feudal eram estas
relações servis de produção. Os servos deviam várias obrigações
como a talha, a corvéia e as banalidades, entre outras.
Era uma sociedade dividida em grupos com pouca mobilidade
entre eles. Composta fundamentalmente pelos nobres, clero e
servos. Nas camadas pobres, havia também os vilões.
No livro de Paulo Miceli, “O Feudalismo”, observamos que a
nobreza e o clero compunham a camada dominante dos senhores
feudais, ou seja, aqueles que tinham a posse legal da terra e do
servo e que dominavam o poder político, militar e jurídico.
O fator que mais contribuiu para o declínio do sistema feudal foi
o ressurgimento das cidades e do comércio. Muitos camponeses
passaram a comercializar produtos nas feiras e cidades, nas quais,
muitas vezes se estabeleciam, em busca de melhores condições de
vida.
E o papel da Igreja Católica?
A igreja cristã primitiva na região do Mediterrâneo foi
organizada sob cinco patriarcas: os bispos de Jerusalém,
Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Roma.
O Bispo de Roma era tido pelos outros Patriarcas como “o
primeiro entre iguais”, embora o seu estatuto e influência
tenham crescido quando Roma era a capital do império, com as
disputas doutrinárias ou procedimentais a serem freqüentemente
remetidos a Roma para obter uma opinião. Entretanto, quando a
capital se mudou para Constantinopla, a sua influência diminuiu.
Constantinopla tornava-se a residência do Imperador e do
Senado. Uma série de dificuldades entre as partes divididas do
Império (ocidente e oriente), no tocante à religião como disputas
doutrinárias, Concílios disputados, a evolução de ritos separados
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História da Educação I
e se a posição do Papa de Roma era ou não de real autoridade ou
apenas de respeito, levaram à divisão em 1054.
A Igreja dividiu-se entre a Igreja Católica Apostólica Romana
no Ocidente e a Igreja Ortodoxa Oriental no Leste (Grécia,
Rússia e muitas das terras eslavas, Anatólia, Síria, Egipto, etc.).
A esta divisão chama-se o Grande Cisma.
A grande divisão seguinte da Igreja Católica - e talvez a mais
significativa, pois promoveu a fundação de outras igrejas ocorreu no século XVI com a Reforma Protestante, durante a
qual se formaram muitas outras religiões no Ocidente. Durante
a Idade Média, a Igreja enfrentou movimentos contestadores de
sua doutrina, abusos financeiros e despreparo do clero. No início
do século XVI, teve início a Reforma Protestante, movimento
religioso liderado pelo monge alemão Martinho Lutero que
rompeu a unidade da Igreja Católica na Europa. Várias Igrejas
reformadas surgiram na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra
com seguidores entre todas as camadas da sociedade européia.
O período medieval caracterizou-se pela
predominância da Igreja como a maior instituição
feudal do Ocidente europeu, exercendo hegemonia
ideológica e cultural na época. Atuando em todos os
níveis da sociedade, estabeleceu normas, orientou
comportamentos e soube imprimir nos homens e
mulheres deste período uma cultura religiosa.
Acesse o site http://www.
hystoria.hpg.ig.com.
br/reform.html ou
assista ao filme Lutero,
cuja referência está
na atividade de autoavaliação 1. Para saber
mais sobre o Grande
Cisma, acesse: http://
enciclopedia.tiosam.com/
enciclopedia/enciclopedia.
asp?title=Grande_
Cisma_do_Oriente
Essas questões afetaram o sistema de educação. Durante muito
tempo não houve nenhuma instituição educacional, a não ser as
escolas episcopais, mantidas pelos bispos. O propósito da maioria
das escolas era formar monges e clérigos e, desde muito cedo, a
criança era colocada em contato com os textos sagrados. Dessa
forma, a Igreja adquiriu o controle da educação, tendo o clero
como a elite intelectual e suas escolas como as únicas instituições
culturais atuantes.
Por volta dos séculos X e XI, assiste-se às transformações
econômicas e políticas associadas ao renascimento comercial
e urbano. Com o ressurgimento do comércio e o crescimento
das cidades, estas passam a depender dos banqueiros e dos
mercadores. Se, até então, a educação era privilégio dos clérigos
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
e se restringia à formação religiosa, o crescimento das cidades,
exigia uma formação. Os burgueses (habitantes das cidades)
queriam uma escola voltada a seus reais interesses e dificuldades.
O conhecimento passou a ser indispensável à realização de
seus negócios. Aos poucos, as vilas se transformam em cidades
livres, contribuindo para uma vida menos subordinada aos
“desígnios divinos’. Ainda que a Igreja continuasse direcionando
e conduzindo a vida social e religiosa, as cidades passaram a
ter importância como centros irradiadores dos novos valores
culturais, libertando-se pouco a pouco dos domínios religiosos.
SEÇÃO 2 – A educação das mulheres
Para falarmos de educação feminina, precisamos, antes, esclarecer
de que mulheres estamos falando. A mulher das classes populares
não tinha acesso à educação formal, assim como os homens
destes grupos.
Neste sentido, a Igreja exerce um forte papel pedagógico ao
formar cristãos. A catequização por meio de livros ilustrados, o
interior das igrejas com suas pinturas sacras e vitrais, a utilização
da poesia e da música (canções populares) cujo enfoque é os
temas religiosos, as inúmeras festas de santos do calendário
anual, são algumas das constatações que permitem identificar
uma educação informal direcionada para os homens e mulheres
destas classes.
As moças das classes mais abastadas poderiam receber aulas
domiciliares. Além dos trabalhos manuais, as aulas centravamse em conteúdos de religião, música e artes. Quanto às mulheres
da burguesia, mais ao final deste período, ascendem à educação
escolar, quando do surgimento das escolas seculares.
As escolas seculares significavam
escolas do mundo, não religiosas.
Apenas na formação das mulheres religiosas, nos
mosteiros, observavam-se diferentes segmentos
sociais, a partir dos seis anos de idade. Ali aprendiam
a ler e escrever e estudavam línguas como o latim e o
grego, além de filosofia e teologia.
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História da Educação I
As opiniões acerca da educação feminina dividiam-se, porém
os discursos também eram dirigidos às mulheres. Via de
regra, os discursos eram enunciados por vozes masculinas
como os pais, clérigos e mestres. Exaltavam a castidade,
a humildade, o silêncio, o trabalho entre outros temas.
Estavam fortemente vinculados ao casamento e às relações
familiares. De acordo com Opitz:
A doutrina do casamento por consenso defendida pela
Igreja não podia opor-se às relações de poder vigentes
na sociedade-e no fundo também não o queria: a relação
entre marido e mulher não podia doravante ser de
amizade e pressupor a igualdade de direitos (...). Um bom
casamento era a comunhão entre o homem e a mulher
mas, segundo os ensinamentos morais da Igreja, ele só era
realmente bom quando o homem ‘governava’ e a mulher
obedecia incondicionalmente. (Quotidiano da Mulher no
Final da Idade Média. In: DUBY, George e PERROT,
Michelle. História das Mulheres: A Idade Média, v.2,
p.356.)
É nesta relação entre Igreja, Direito e família que a “educação”
feminina vai se configurando, na lógica da obediência e do
controle social. Desta forma, foi somente no final da Idade
Média que as mulheres tiveram acesso aos manuscritos e às
universidades. Isso representou uma grande conquista apesar dos
estudos de cunho oficial continuarem a ser monopólio masculino.
Nesta fase, destacou-se, no campo das letras, a escritora francoitaliana Cristine de Pisan. Nasceu em Veneza, em 1364, e com
o pai - que era astrônomo na corte de Carlos V - aprendeu o
latim e a filosofia, “conteúdos” que não faziam parte da educação
de uma mulher. Casou-se aos quinze anos de idade (algo comum
para a época), tornou-se viúva aos 25 anos de idade e responsável
pelo sustento da família com a escrita.
Chamamos atenção para esta escritora, pois, em um universo
masculino, ela escreveu vários livros e manuscritos sobre e para
as mulheres. A obra que nos chama a atenção é um manual de
educação moral, chamado de “O Espelho de Cristina”, no qual
procura mostrar a situação da mulher no final da Idade Média.
A escritora procurou concentrar a sua atenção em mulheres de
diversos níveis sociais, ou seja, mulheres que viviam ao lado de
reis, de nobres, de mercadores, artesãos e trabalhadores, que
Unidade 2
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Para saber mais sobre a
vida e obra desta escritora,
consulte <http://www.
historiaehistoria.
com.br/materia.
cfm?tb=alunos&id=35>
Figura: Christine de Pisan.
Fonte: http://www.
historiaehistoria.com.br
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Universidade do Sul de Santa Catarina
trabalhavam dentro e fora do espaço da casa, cultas ou iletradas,
ricas ou pobres.
Veja, a seguir, alguns atributos que a escritora considerou como
importantes para as mulheres da nobreza
ser devota a Deus;
„ temperada em tudo: no comer, vestir e falar;
„ rir baixo e não sem motivo;
„ manter distância de jogos, danças, caçadas;
„ visitar os doentes para lhes dar nova esperança;
„ não contrair dívidas maiores do que pode pagar;
„ dar esmolas e ser caridosa e sem cobiça;
„ mostrar-se séria e contida em público, falando pouco e
mantendo o olhar honesto e baixo;
„ deve usar roupas e toucados ricos, pois fazem parte do
seu estado;
„ nunca se mostrar áspera nem má para suas mulheres e
servidores;
„ ter cuidado com as suas rendas e despesas e saber a soma
de suas rendas e possessões, o valor de suas contas e o
andamento de tudo na sua casa;
„ toda princesa e toda mulher deve ser cobiçosa de buscar
honra e bom nome mais do que qualquer outro tesouro
por que a faz reluzir em boa nomeada, a qual fica para
sempre a seus filhos.
„
<disponível em http://www.historiahistoria.com.br/materia.
cfm?tb=alunos&id=34>
Figura: Execução na fogueira por
ordem do tribunal da inquisição.
Inglaterra, 1314.
Fonte: http://www.
saberhistoria.hpg.ig.com.br/
nova_pagina_156.htm
Você pode perceber que os conselhos estão atrelados ao seu
papel de submissão ao marido e aos costumes da época, mas
também pode vislumbrar, a partir destas prescrições, que elas
eram participantes ativas na criação dos filhos e na administração
do reino e de suas terras, pois deviam se preocupar com a sua
educação e com as suas posses.
Para as mulheres do povo também são direcionados conselhos
semelhantes aos da nobreza, como a prudência no agir e no
gastar os bens do seu marido, reafirmando que a mulher deve
conhecer os seus direitos para que não a enganem.
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História da Educação I
As especificidades da sua condição social são tratadas em outros
capítulos, como a maneira de vestir, a administração do seu lar e
do seu trabalho.
Neste momento, é importante ressaltar que os Tribunais do
Santo Ofício da Inquisição tiveram um papel fundamental
ao promover o afastamento das mulheres das universidades e a
proibição de exercerem saberes populares específicos ou práticas
referentes à medicina - como a realização de partos, abortos e
processos curativos em geral através da utilização de plantas.
Os processos de bruxaria incluíam homens e mulheres, porém
as mulheres representavam a maioria dos réus e sentenciados dos
processos inquisitoriais.
Podemos observar, então, que, em relação à
educação feminina, esta também se revestia de
um caráter não formal, pois havia conhecimento
feminino e um aprendizado a ser compartilhado, com
reconhecido poder pela Igreja Católica.
Para obter a confissão,
o religioso da Inquisição
contava sempre com o
apoio de outros clérigos
preparados para a função
e utilizava instrumentos
que causavam dor, medo
e grande sofrimento.
Em muitos casos, esses
interrogatórios se
encerravam em função
da morte do inquirido.
Acompanhe no filme O
nome da Rosa a atuação
do inquisidor dominicano
Bernardo Gui.
SEÇÃO 3: A educação dos cavaleiros medievais
A formação das cavalarias medievais dizia respeito às classes
nobres. A cavalaria tem suas origens em grupos armados, que
passam a compor exércitos de defesa, com códigos de honra
relacionados à fidelidade e ao exercício da guerra.
Como já vimos, a Igreja possuía forte influência no ordenamento
desta sociedade. Assim, a partir do século X, a Cavalaria
institucionaliza-se e, por meio da sua cristianização, define suas
condutas e ideais, tomando como base os valores morais da Igreja.
A trajetória educacional na formação de um cavaleiro
iniciava-se aos sete anos de idade, quando era enviado a outro
castelo para servir de pajem, aprender montaria e participar
de torneios e combates. Paralelamente a este aprendizado,
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Sobre o amor cortês na literatura
da época, mais especificamente na
obra Tristão e Isolda, acessar http://
www2.ufpa.br/ceg2005/webceg/
tc20000116.htm
iniciava-se a educação das boas maneiras, do código de
honra, do amor personificado na mulher idealizada, ou seja,
uma educação cortês.
Uma outra etapa educativa inicia-se quando o aprendiz é alçado à
condição de escudeiro. O seu mestre é um cavaleiro a quem deve
servir. Assim, ele inicia-se no exercício das armas, das caçadas,
dos torneios, preparando-se para as guerras.
A formação estava completa mais ou menos aos vinte anos
de idade com uma cerimônia que culminava com a entrega
das armas e a sua sagração como cavaleiro. Com o passar do
tempo, foram incorporados outros ritos, como as vestes brancas
e vermelhas (passagem), o banho purificador, a vigília de oração,
até o juramento em público. Tornava-se cavaleiro participante
de uma sociedade que comungava os ideais cristãos, como um
“iniciado”.
Figura: Um cruzado ajoelhado
em prece.
Fonte: http://www.
saberhistoria.hpg.ig.com.br/
nova_pagina_142.htm
Como você viu, os cavaleiros desenvolviam as habilidades
relacionadas às lutas e às guerras, aliadas a uma formação
religiosa e cortês. Os significados e os valores da Cavalaria
podem ser encontrados nas fontes literárias da época, que, por sua
vez, viravam canções de grande disseminação e apelo popular.
Talvez os feitos mais conhecidos que envolveram os cavaleiros
medievais e suas ordens foram as Cruzadas.
Você sabia?
No século XI, os muçulmanos conquistaram a cidade
sagrada de Jerusalém. Com o objetivo de expulsar
os “infiéis” (árabes) da Terra Santa, o papa Urbano
II convocou a Primeira Cruzada (1096). Batalhas
entre católicos e muçulmanos duraram cerca de dois
séculos. Ao mesmo tempo em que eram marcadas
por diferenças religiosas, também possuíam caráter
econômico. Ao retornarem para a Europa, saqueavam
cidades árabes e vendiam produtos nas estradas,
nas chamadas feiras e rotas de comércio. Assim,
contribuíram para o renascimento urbano e comercial
a partir do século XIII. Após as Cruzadas, o Mar
Mediterrâneo foi aberto para os contatos comerciais.
Disponível em: http://www.suapesquisa.com/
idademedia/
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História da Educação I
A partir dos movimentos conhecidos como Cruzadas, foram
fundadas várias ordens cavalheirescas destinadas a combater os
“infiéis” (muçulmanos), com reflexos diretos no renascimento
comercial e urbano europeu.
Esta formação do cavaleiro, associada aos princípios cristãos,
pode ser sintetizada nos mandamentos a seguir:
I - Acreditarás em tudo o que a Igreja ensina e observarás
todos os seus mandamentos.
II – Protegerás a Igreja.
III – Defenderás todos os fracos.
IV – Amarás o país onde nasceste.
V – Jamais retrocederás ante o inimigo.
VI – Farás guerra aos infiéis até exterminá-los.
VII – Cumprirás com teus deveres feudais, se estes não
forem contrários à lei de Deus.
VIII – Nunca mentirás e serás fiel à palavra empenhada.
IX – Serás liberal e generoso com todos.
X – Serás o defensor do direito e do bem, contra a injustiça
e contra o mal.
(Extraído de : http://marged.vilabol.uol.com.br/medieval_knights.html)
Você pode identificar a observância a um código de conduta
e de honra, a proteção e defesa da Igreja e aos seus princípios
cristãos e institucionais, bem como ao combate aos não-cristãos.
Pelo menos em teoria, estas eram as diretrizes “pedagógicas” na
formação desta classe.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
SEÇÃO 4: A educação nas corporações de ofício
As corporações de ofício foram
associações que surgiram a partir
do século XII para regulamentar
o processo produtivo artesanal
nas cidades. Agregavam pessoas
que exerciam o mesmo ofício e
eram responsáveis por determinar
preço, qualidade, quantidade
da produção, margem de lucro,
aprendizado e hierarquia de
trabalho. Existiam também
corporações intermunicipais,
chamadas hansas, cujo objetivo
era defender os interesses de
mercadores de um grupo de
cidades.
A educação das classes menos abastadas era fundamentalmente
constituída pelo trabalho. Os profissionais dedicados às
atividades artesanais nas cidades medievais, organizavam-se em
associações, denominadas corporações de ofício, que detinham
as técnicas de trabalho de tal atividade, configurando-se também
como espaços educativos de formação profissional.
O aprendizado constitui-se no aprendizado técnico, com também
na vivência da corporação, no respeito aos estatutos e às regras,
que se estendiam ao comportamento social e individual. Veja dois
artigos do estatuto dos “curtidores de couro branco”, do século
XIV:
[4] E se qualquer aprendiz se comportar impropriamente
para com seu mestre, e agir de forma rebelde para
com ele, ninguém do dito ofício lhe dará trabalho, até
que tenha feito as reparações perante o Alcaide e os
Intendentes.
[6] Ninguém que não tenha sido aprendiz e não tenha
concluído seu termo de aprendizado do dito ofício,
poderá exercer o mesmo. (BLAND, BROWN E
TAWNEY apud HUBERMAN, 1985, p. 65).
Observam-se, anteriormente, as regras disciplinares à sua
condição de aprendiz, assim como a legitimidade da formação
profissional a partir, obrigatoriamente, do aprendizado na
corporação.
Para se ter uma idéia do poder destas associações, elas
determinavam a matéria-prima a ser utilizada, o processo
de fabricação, o preço do produto, como também o horário
de trabalho, as condições necessárias à aprendizagem,
entre outras coisas.
Figura: Oficina de alfaiate
Fonte: http://www.
saberhistoria.hpg.ig.com.br/
nova_pagina_144.htm
As corporações disseminaram-se em toda a Europa,
desempenhando um papel educativo importante junto aos
habitantes das cidades, diferentemente do que já vimos sobre
as condições servis nos feudos, cuja educação era pautada na
reprodução, tanto das habilidades técnicas quanto das classes e
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História da Educação I
relações sociais, associada a uma pedagogia religiosa, através das
missas, dos ritos e das festas.
Em que condições dava-se este aprendizado?
Durante todo o aprendizado, os aprendizes ficavam na casa do
mestre, recebendo gratuitamente a estadia e a alimentação. O
passo seguinte, determinado pelo mestre, era a submissão a um
exame, para tornarem-se oficiais ou companheiros, podendo
empregar-se por conta própria.
Por fim, se quisesse ser dono de uma oficina, precisava ter algum
capital e mostrar habilidade em seu ofício, através de um exame
prático na sua corporação. Mediante aprovação, ele pagava uma
taxa, obtendo o título de mestre e a licença para abrir o seu
negócio.
SEÇÃO 5: A educação nas Universidades
Os alunos mais capazes, do ponto de vista dos seus mestres,
dirigiam-se às universidades. A maioria das universidades
surgiu de escolas monásticas, voltadas para a formação do
clero, mas não somente. Os alunos viviam em regime de
internato, sendo educados tanto em conhecimento quanto em
valores morais. No entanto, estes centros de saber firmavam
sua autonomia através da formação de associações corporativas
de mestres. Muitos destes mestres eram clérigos nãoordenados, como Pedro Abelardo.
Pedro Abelardo (10791142) era mestre livre, não
sacerdote, famoso por sua
oratória e por promover
a aliança entre fé e razão,
renovando os estudos
da Sagrada Escritura.
Envolveu-se com Heloísa,
sobrinha do Cônego
Fulbert, sofrendo várias
perseguições e punições,
incluindo a sua castração.
Sobre esta história de
amor, tendo como pano
de fundo a educação
medieval, assista ao filme
Em nome de Deus.
Eram as universitas, originadas a partir dos saberes oferecidos
pelas corporações de ofício intelectual. Os mestres possuíam suas
especialidades e os alunos recorriam a eles de acordo com seus
interesses intelectuais.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Como tornaram-se associações de grande importância, tiveram
seu controle disputado pela Igreja. Institucionalizadas pelo
papado, ligavam-se às escolas monásticas e episcopais, estas
regidas pelos bispos, como as universidades pelo Papa.
Muitos historiadores consideram
a bula Parens Scientiarum lançada
pelo Papa Gregório IX, em 1231,
como o documento de fundação
da Universidade medieval. Em
1215, no Papado de Inocêncio
III, o caráter de associação é
reconhecido por estudantes e
mestres.
As chamadas artes liberais
compreendiam Retórica, Gramática
latina, Dialética (Trivium) e
Geometria, Música, Aritmética,
Astronomia (Quadrivium).
Tomás de Aquino nasceu em 1224
ou 1225 num castelo perto da
cidade de Aquino, no reino da Sicília
(hoje parte da Itália). Para saber
mais sobre São Tomás de Aquino
e sua importância para a filosofia
medieval, acesse http://www.
mundodosfilosofos.com.br/aquino.
htm e http://revistaescola.abril.
com.br/edicoes/0183/aberto/mt_
74923.shtml
Estas instituições possuíam características eclesiásticas, como nos
coloca Régine Pernoud:
(...) os professores pertencem todos à Igreja, e as duas
grandes Ordens religiosas que a iluminam no século
XIII, Franciscanos e Dominicanos, conheceram aí
grandes glórias, com um São Boaventura e um São
Tomás de Aquino. Todos os alunos são chamados de
clérigos, mesmo quando não se destinam ao sacerdócio e
alguns recebem a tonsura. (Disponível em http://www.
permanencia.org.br/revista/historia/luz2.htm)
Além de Teologia, ensinava-se dialética, gramática, geometria,
música e disciplinas relacionadas às ciências e Filosofia. A
organização curricular foi sofrendo mudanças ao longo do tempo,
mas, a princípio, as chamadas artes liberais funcionavam como
um estudo preparatório para cursos mais especializados como
Teologia, para os que queriam seguir o sacerdócio ou Medicina
e Direito, entre outras. A partir do século XV, os colégios vão
assumindo o ensino das artes liberais, ficando as universidades
com a formação profissional mais especializada.
Os alunos vinham de vários lugares, assim como seus
professores, no entanto, em meio a esta diversidade,
todos deveriam falar uma língua comum: o latim,
o qual facilitava a comunicação e o acesso ao
conhecimento.
Os métodos de ensino baseavam-se na Escolástica, em cujos
procedimentos os estudantes exercitavam a dialética, debatendo
proposições controversas. Tal método tem fundamento nas idéias
de Aristóteles, tornando-se São Tomás de Aquino um de seus
principais seguidores e cujos estudos associaram fé e razão.
Estas instituições disseminaram-se na Europa Ocidental.
Destacam-se as mais antigas como a de Paris (França), a de
Bolonha (Itália), Salamanca (Espanha), Oxford e Cambridge
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História da Educação I
(Inglaterra). Estes locais de saber movimentavam as
cidades, que, por sua vez, mantinham o interesse pelas
atividades docentes. Numa entrevista, a professora da USP e
pesquisadora, Maria Lúcia Hilsdorf, afirma: “a atuação deles
atraía estudantes e, consequentemente, intensificava as atividades
sociais e econômicas da cidade nascente.”
E como seria o ambiente universitário nesta época? Segundo
Pernoud, o mundo letrado era um mundo itinerante. Os
estudantes partiam para as universidades escolhidas, seguiam
mestres de renome ou disciplinas oferecidas somente em
outras cidades. Eram responsáveis, juntamente com os
comerciantes e os peregrinos religiosos, pela movimentação
nas estradas medievais.
Em cartas endereçadas à família, por exemplo, as preocupações
relacionavam-se aos estudos, às provas, à necessidade de dinheiro
e de comida.
Figura: A educação na
Idade Média estava
diretamente ligada aos
estudos junto às igrejas.
Fonte: http://www.
saberhistoria.hpg.ig.com.
br/nova_pagina_161.htm)
Percebeu alguma semelhança com a realidade atual?
Os estudantes com poucos recursos pediam isenção das taxas
de matrícula nas universidades e trabalhavam para manter os
estudos, muitas vezes como copista ou encadernador de livros.
Como funcionava a organização didático-pedagógica?
Geralmente, as aulas eram expositivas e, a partir da lição (sempre
em latim), mestres e alunos debatiam os temas. Não havia
séries e classes e todos estudavam nas classes de mestres até que
pudessem obter a titulação.
Havia alunos a partir de 12 anos no mesmo espaço que alunos
mais velhos. Os mais novos poderiam passar da Faculdade de
Artes para as formações específicas (Direito, Medicina, Teologia)
aos 15 anos e alcançarem a titulação de mestre e a licença com 20
anos.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Como diz André Petitat:
Com sua pedagogia oral, seus cursos esparsos, sua
ausência de graduação sistemática e de exames metódicos,
sua mistura de idades, o ensino universitário da Idade
Média guarda poucas semelhanças com o colégio que se
seguirá, no século XVI. (...) Estamos assistindo ao nascer
de uma nova pedagogia e de uma nova instituição. (1994,
pp. 60-61).
A seguir veja as imagens de duas universidades criadas durante o
período medieval.
Figura: Universidade de Oxford, do
séc. XI.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Universidade_de_Oxford
Figura: Universidade de Paris, do
séc. XII.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Universidade_de_Paris
Agora, para praticar os conhecimentos adquiridos nesta unidade,
realize, a seguir, as atividades propostas.
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História da Educação I
Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e acompanhe as respostas e
comentários no final do livro didático. Para melhor aproveitamento do
seu estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de
fazer as atividades propostas.
1) Escolha um dos filmes sugeridos registre os aspectos relacionados ao
tema da Unidade e comente com seus colegas na ferramenta Exposição.
O feitiço de Áquila (EUA, 1985, 117 min., Dir.: Richard Donner).
„ O nome da rosa (ALE/FRA/ITA, 1986, 130 min., Dir.: Jean Jacques
Annaud).
„ O incrível exército de Brancaleone (ITA, 1965, 90 min., Dir.: Mário
Monicelli).
„ Em nome de Deus (Iugoslávia/Grã-Bretanha, 1988, 115 min., Dir.:
Clive Donner).
„ Cruzada (EUA, 2005, 144 minutos Dir.: Ridley Scott).
„ Rei Arthur (EUA, 2004, 144 min., Direção: Antoine Fuqua).
„
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
2) Em relação às práticas educativas das classes e grupos sociais que você
viu nesta unidade, qual lhe chamou mais a atenção?
a) Indique características deste grupo ou classe.
b) Identifique a forma de aprendizado.
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História da Educação I
Síntese
No estudo desta unidade, foram apresentados alguns elementos
que, acreditamos, lhe possibilitaram compreender a forma e os
métodos gerais das práticas educativas formais e não-formais,
exercidas durante a Idade Média.
Procuramos abranger desde o contexto histórico medieval,
passando pela educação das mulheres, dos cavaleiros, das
corporações de ofício, até a educação nas universidades.
Ao falarmos de educação feminina, pontuamos as diferenças
entre as classes sociais, mostrando que a mulher das classes
populares não tinha acesso à educação formal, assim como os
homens destes grupos. Os princípios educativos eram enunciados
por instituições masculinas e voltados para as mulheres da
burguesia e da nobreza.
A formação das cavalarias medievais dizia respeito às classes
nobres. A cavalaria tem suas origens em grupos armados, que
passam a compor exércitos de defesa, com códigos de honra
relacionados à fidelidade e ao exercício da guerra. A Igreja exerce
forte influência nesta formação.
Nas corporações de ofício, o aprendizado constitui-se na
aprendizagem técnica, como também na vivência da corporação,
no respeito aos estatutos e às regras, que se estendiam ao
comportamento social e individual.
A maioria das universidades surgiu de escolas monásticas, porém
firmaram sua autonomia através da formação de associações
corporativas de mestres. A organização didático-pedagógica
centrava-se mais no mestre que no aluno.
Pensamos que, assim, você pode construir um conhecimento
significativo sobre este assunto, instrumentalizando-se para fazer
algumas comparações com a realidade atual.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais
Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você
poderá pesquisar os seguintes livros:
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP,
1999.
HUBERMAN, Leo. A história da riqueza do homem. 20 ed.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985.
MICELI, Paulo. O Feudalismo. São Paulo: Atual, 1994.
OPTIZ, Claudia. O quotidiano da mulher no final da
Idade Média (1250-1500) In: DUBY, Georges e PERROT,
Michelle. (Org.). História das Mulheres. Volume 2. Porto:
Afrontamento, 1998.
PERNOUD, Régine. O ensino na Idade Média. Disponível em:
http://www.permanencia.org.br/revista/historia/luz2.htm
PETITAT, André. Produção da escola / produção da
sociedade: análise sócio-histórica de alguns momentos decisivos
da evolução escolar no ocidente. Trad.: Eunice Gruman. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994.
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UNIDADE 3
Os colégios modernos e a
pedagogia jesuítica
3
Objetivos de aprendizagem
„
Compreender a constituição dos colégios modernos.
„
Conhecer aspectos da ordem religiosa da Companhia de
Jesus e de suas ações referentes à educação.
„
Identificar as principais características da pedagogia
jesuítica.
„
Conhecer a ação dos jesuítas no Brasil colonial.
Seções de estudo
Seção 1 A secularização do pensamento.
Seção 2 Os colégios modernos.
Seção 3 O surgimento da Companhia de Jesus.
Seção 4 A Ratio Studiorum (a pedagogia jesuítica).
Seção 5 A ação dos jesuítas no Brasil colonial.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Nesta unidade, você estudará alguns elementos referentes aos
colégios modernos e, mais especificamente, a educação jesuítica.
Muitos autores situam nos séculos XVI e XVII o berço
do modelo de escola atual, quando da criação dos colégios
modernos. Por isso, você verá nessa unidade alguns pensadores
dessa época e a organização desses colégios.
Os colégios jesuítas, criados nessa época, representam bem esse
novo tipo de escola. Você verá, ainda nessa unidade, como surgiu
a Companhia de Jesus e quais as principais características da
pedagogia jesuítica, expressas em um documento lançado em
1599 e denominado Ratio Studiorum. Além disso, verá um pouco
da ação dos jesuítas no Brasil no período colonial.
SEÇÃO 1 – A secularização do pensamento
O período compreendido entre o final do século XIV e o fim do
século XVI é marcado pelo movimento do Renascimento.
Renascimento é o nome que se
dá a um grande movimento de
mudanças culturais, que atingiu
as camadas urbanas da Europa
Ocidental entre os séculos XIV e XVI,
caracterizado pela retomada dos
valores da cultura greco-romana,
ou seja, da cultura clássica. Esse
momento é considerado como um
importante período de transição
envolvendo as estruturas feudo
capitalistas. <Fonte: http://www.
historianet.com.br>
No caderno de Fundamentos Filosóficos, você pode ver
algumas de suas características, decorrentes de acontecimentos
em diferentes áreas. Foi o período das grandes navegações,
da chegada à América, da invenção da pólvora, da bússola, da
imprensa e do papel, da Revolução Comercial, da formação dos
Estados Nacionais, da Reforma Protestante e da Contra-reforma.
Essas mudanças geraram, portanto, novas formas econômicas,
políticas, artísticas, religiosas e educacionais. É o período do
Humanismo, “que significa a procura de uma imagem do homem
e da cultura, em contraposição às concepções predominantemente
teológicas da Idade Média” (ARANHA, 1996, p. 86).
O Teocentrismo dá lugar ao Antropocentrismo, embora
os valores religiosos e morais continuem com força. Segundo
Aranha (1995, p. 87), busca-se a “secularização do saber, isto
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História da Educação I
é, desvesti-lo da parcialidade religiosa, para torná-lo mais
propriamente humano”. Os principais interessados nesses novos
valores são oriundos da nascente burguesia.
Em termos pedagógicos, destacam-se, nesse período,
as idéias de pensadores como Vives, Erasmo de
Rotterdam, Rabelais e Montaigne.
Juan Luiz Vives (1492-1540), humanista espanhol, deu
particular atenção aos aspectos psicológicos do ensino. Este
ensino deveria “partir das impressões ou sensações para chegar à
imaginação e desta à razão” ou dizendo de outra forma, defendia
que devia-se “partir dos objetos sensíveis, naturais, para chegar às
idéias”. Recomendava também que o ensino das línguas clássicas
fosse realizado na língua materna (LUZURIAGA, 1985, p. 102).
Erasmo de Rotterdam (1465-1536), holandês, viajou por
vários países europeus e dedicou inúmeros de seus trabalhos à
educação. Defendia as línguas clássicas, latim e grego, desde
que não reduzidas ao estudo da gramática. Para ele a educação
sistematizada deveria começar desde o terceiro ano de vida
respeitando-se as características naturais da criança e utilizandose do jogo. Não fez referência em seus textos, diferentemente de
seus contemporâneos, a questão da língua nacional.
O francês François Rabelais (1494-1553) é considerado
o precursor do realismo e do naturalismo na pedagogia.
Defendia o estudo das ciências, não através de livros, mas
na natureza e pregava que o ambiente educativo fosse
de liberdade e atraente, com métodos intuitivos e ativos
(LUZURIAGA, 1985, p. 105-6).
Michel de Montaigne (1533-1592), francês, também pregava
o realismo e o naturalismo, onde as disposições naturais da
criança fossem respeitadas. Criticava o uso dos castigos e
o ensino livresco e propunha uma educação onde o aluno
participasse ativamente. Percebe-se, em linhas gerais, uma crítica
à educação predominante até então e a defesa de uma pedagogia
mais humana. Destaca-se, ainda, nos escritos destes autores, a
preocupação com a moralização dos comportamentos infantis
e prevêem-se roteiros de civilidade para orientar as ações das
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
famílias e dos educadores. Veja-se, a seguir, a fala de Erasmo, de
1530:
A arte de educar as crianças divide-se em diversas partes,
das quais a primeira e a mais importante é que o espírito,
ainda brando, receba os germes da piedade; a segunda,
que ele se entregue às belas-artes e nelas mergulhe
profundamente; a terceira, que ele se inicie nos deveres
da vida; a quarta, que esse se habitue, desde muito cedo,
às regras de civilidade. (...) Convém, portanto que um
homem preste atenção à sua aparência, aos seus gestos e
à sua maneira de vestir, tanto quanto à sua inteligência.
(ERASMO, apud FREITAS e KUHLMANN Jr.,
2002, p. 18).
Essa nova civilidade tem a ver com os valores almejados pela
nova classe burguesa que busca se diferenciar dos trabalhadores e
se aproximar da aristocracia.
Seria assim essa conduta refinada, a polidez, o bom
comportamento, a moralidade e também uma educação
clássica, enciclopédica que formaria os filhos da burguesia e da
aristocracia renascentista.
Para isso, serão necessárias
(...) práticas de controles minuciosos e ordenados sobre o
corpo: controles que visam a obtenção de autocontroles;
censuras internalizadas e automação de gestos para o
convívio público, de tal maneira que se passa a ensaiar
um roteiro supostamente universal de como se comportar.
São padrões da corte (cortesia), que preparam as regras
de convívio das multidões das cidades (urbanidade), que
retomam a cordialidade da antiga polis (polidez), e que
constituem feixes encadeados de conduta para com os
outros específicos da vida civil (civilidade). (FREITAS e
KUHLMANN Jr., 2002, p. 22).
Busca-se adequar os sujeitos a “padrões de urbanidade”, (...) “a um
modelo de distinção”. É neste contexto que ocorre a “extensão da
freqüência escolar” e crianças são transformadas em alunos. E
os colégios, como veremos a seguir, serão a “moderna expressão
de como tratar as crianças mediante códigos das boas maneiras
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História da Educação I
requeridos pela cultura moderna”. (FREITAS e KUHLMANN
Jr., 2002, p. 22-23).
Os autores anteriormente citados (Vives, Erasmo
Rabelais e Montaigne) expressam em suas teorias
ideais educativos decorrentes de uma nova maneira
de compreender a educação e a criança.
Contudo, nem todos esses ideais foram de imediato incorporados
nas práticas escolares. Como veremos na próxima seção, no
estudo dos colégios, a predominância do latim e o recurso aos
castigos físicos, por exemplo, permanecem por longo período.
SEÇÃO 2 – Os colégios modernos
Segundo Ariès (1981, p. 110) “no século XIII, os colégios eram
asilos para estudantes pobres, fundados por doadores. (...) Não se
ensinava nos colégios”. Mas, a partir do século XV, esses colégios
tornaram-se instituições destinadas ao ensino.
Se na Idade Média misturavam-se, nas escolas e colégios,
crianças, jovens e adultos de diferentes idades, em pequenos
grupos, a partir da constituição dos colégios modernos, teremos
um número maior de colegiais, agrupados por idades mais
próximas, organizados em classes ordenadas com graduação nos
estudos e sujeitos a uma disciplina rígida.
Assim, aos poucos, os colégios vão sendo organizados em torno
de seis ou sete classes sucessivas, com um mestre para cada
uma e os exames são instituídos para estabelecer a aprovação ou
reprovação. (PETITAT, 1994, p. 78).
Embora muitos desses colégios se organizassem na forma de
internatos, os alunos externos eram em grande número. Mas
ambos, internos e externos, ficavam sujeitos ao espírito de
isolamento e controle dessas instituições.
Claude Baduel, diretor de um colégio no século XVI, defende
“que se deve agrupar em classes os alunos grandes e sujeitá-los
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
a um maior respeito pelos professores e a uma maior docilidade
em tudo o que se refere aos seus estudos. (...) Deve-se ter uma
lista com os nomes dos alunos e proceder a uma chamada na
abertura das aulas” (apud PETITAT, 1994, p. 79). Vêem-se aqui
algumas formas de controle que permanecem até hoje em nossas
instituições de ensino.
Exemplo de um dia de estudos num colégio
protestante do século XVI
Ele principia às seis horas no verão e às sete horas no
inverno. Pela manhã, oração, chamada, punições dos
retardatários, aula durante uma hora e meia, oração,
desjejum em aula, oração, aula mais longa ou menos longa
conforme fosse verão ou inverno, oração dominical e breve
ação de graças; os alunos são reconduzidos aos respectivos
alojamentos para a refeição (às 10 horas); à tarde: retorno
à classe às 11 horas, canto de salmos até ao meio-dia, uma
hora de aula, oração, lanche, oração e tempo livre para
estudos até às 14 horas; aula durante duas horas; às 16
horas, reunião de todos os alunos na sala comum, castigos
públicos e “admoestações” para os “delitos notáveis”, leitura
da oração, da confissão de fé e dos dez mandamentos,
dispensa acompanhada de benção.
Fonte: Petitat, 1994, p.103.
Vê-se que o espaço e o tempo escolar passam a ser amplamente
controlados. Quanto ao tempo, Petitat destaca que nas escolas
medievais “o tempo do aluno dividia-se em largos períodos”. Já
nos colégios modernos,
(...) este tempo é repartido em períodos anuais; horários
estritos e bem carregados dividem as matérias pelos dias
e horas. Relógios e sinetas, já presentes no século XV
e muito difundidos no século XVI, marcam agora as
atividades escolares. Os alunos dispõem de um tempo
limitado para assimilar determinadas matérias, para
entregar os temas e para apresentar-se aos exames. É
o princípio dos prêmios pelo desempenho escolar, das
censuras e das recompensas, dos alunos brilhantes e dos
preguiçosos. (PETITAT, 1994, p.79).
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História da Educação I
Há, portanto, uma “nova temporalidade”, ditada pelo relógio
mecânico, o “tempo da ciência”. Assim como os colégios
controlam o espaço e o tempo dos alunos, visando gerir a vida
dos mesmos, as manufaturas da época, de acordo com Petitat,
também, organizam-se de forma a controlar o assalariado.
Diferentemente da oficina artesanal medieval, onde o artesão
produz no seu próprio ritmo, a manufatura impõe um outro
tempo de trabalho, sincronizado, subdividido e vigiado.
Assim, como o colégio, a manufatura acentua as
rupturas no interior das atividades sociais. O aluno
se vê distante dos locais de socialização espontânea e
privado, em grande parte, de suas relações com a vida
adulta usual. O artesão, despojado de sua lojinha, está
concomitantemente afastado da família, dos vizinhos,
dos clientes, o que restringe a vida do bairro e reduz as
funções da família. (PETITAT, 1994, p. 93).
Essa nova forma de organização e funcionamento dos colégios
está ligada a uma nova maneira de conceber a infância e a
adolescência. Estas precisam ser afastadas do mundo adulto.
Segundo Petitat (1994, p. 90), “a separação entre o mundo dos
adultos e do das crianças e adolescentes está na base da pedagogia
moderna”.
Poderíamos perguntar, ainda, qual a origem dos
alunos que freqüentavam os colégios e qual o
conteúdo essencial aí aprendido.
Segundo Petitat (1994, p. 88), há poucos trabalhos ainda sobre
a questão da origem social dos colegiais e destaca ainda que
esta origem “apresenta uma face mais ou menos heterogênea
de acordo com as cidades: minoria mais considerável ou menos
importante de filhos de artesãos, presença variável, embora
sempre majoritária de funcionários, comerciantes, burgueses
e nobres”. Enfatiza, também, que a maioria dos colegiais não
termina os estudos.
Quanto ao conteúdo, destacam-se, entre outros, o estudo do
latim e do grego, da gramática, de obras literárias e filosóficas da
Antiguidade, de eloqüência e boas maneiras, ou seja, a aquisição
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Universidade do Sul de Santa Catarina
de uma cultura geral, onde os exercícios escritos substituem cada
vez mais os orais.
Essa cultura geral, mais do que contribuir para a ascensão social
dos que freqüentam os colégios, servia antes para manter as
diferenças de classe, para consolidar uma determinada posição
social.
Petitat (1994, p. 100) conclui que
(...) o colégio, embora particularmente destinado a certas
camadas, é produto de uma estrutura de conjunto das
relações de força e de sentido dentro da sociedade e de
um nível elevado de trocas econômicas, para as quais
a cultura escrita escolarizada, uniformizada, serve de
referência, de enraizamento e de distinção.
Essa cultura escrita escolarizada foi difundida nos diversos
colégios que surgiram e se consolidaram nesse período. Colégios
criados por diferentes iniciativas e congregações religiosas, como
os oratorianos, os doutrinários e os jesuítas.
- Nesta disciplina, você irá se deter nos últimos colégios citados, por
causa da influência que tiveram na educação brasileira. Antes de
você conhecer a prática pedagógica jesuítica, você é convidado a
conhecer como surgiu essa ordem religiosa.
Seção 3 – O surgimento da Companhia de Jesus
A criação da Companhia de Jesus por Inácio de Loyola (14911556) ocorreu em 1534. A mesma foi reconhecida pelo papa
Paulo III em 1540.
Companhia de Jesus é a denominação de uma ordem religiosa
da igreja católica e os membros dessa ordem são denominados
jesuítas. Para compreender melhor o seu surgimento, é preciso
lembrar que os novos ares oriundos do movimento renascentista
afetaram não somente as artes e a ciência, mas também a religião.
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História da Educação I
Neste período, alguns integrantes da igreja católica manifestam
posições contrárias ao monopólio da Igreja sobre a religiosidade e
contra o comportamento imoral do clero. Martinho Lutero lidera
um movimento de crítica a estrutura da Igreja Católica, dando
origem à Reforma Protestante.
Para ele, Deus não era como um contador com quem devia
barganhar ou um juiz severo a ser aplacado com boas ações.
Cristo viera para salvar os pecadores, a salvação não seria
alcançada com esforços insignificantes, mas com a fé no próprio
Deus. Assim, muitos dos princípios da Igreja pareceram
irrelevantes e blasfemos a Lutero. Especialmente suspeitos eram:
a noção de que Deus recompensa um cristão na proporção das
orações, peregrinações ou contribuições; o culto dos santos e de
suas relíquias e a venda de indulgências.
De acordo com Pedro, Lutero protestou violentamente contra
as indulgências a ponto de, em 1517, afi xar na porta da igreja de
Wittenberg, onde era mestre e pregador, 95 proposições onde,
entre outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de
indulgências. O papa Leão X exigiu uma retratação e, tendo ele
recusado, foi expulso da Igreja. (Pedro, A, 1995).
Martinho Lutero Nasceu
em 1483, na cidade de
Eisleben, Alemanha.
Iniciou os estudos de
direito em 1505 e os
abandonou no mesmo
ano, trocando-os pela vida
religiosa, sem o apoio do
pai. Tornou-se monge e
depois padre. Apesar de
dedicado à Igreja, sempre
esteve atormentado por
duas grandes dúvidas:
o poder da salvação
atribuído a lugares santos
e, posteriormente, a venda
de indulgências.
As 95 proposições mencionadas são, na verdade,
afirmações ou idéias defendidas por Martinho Lutero
e seus seguidores contra práticas ou determinações
da igreja católica naquele momento. Também são
conhecidas como as 95 teses de Martinho Lutero.
Como a Igreja Católica perdeu muitos fiéis com esse movimento
de protesto (daí o termo “protestante”) liderado por Lutero pela
Reforma da Igreja Católica, iniciou outro movimento que ficou
conhecido como Contra-reforma.
A reação da Igreja Católica a esse movimento
protestante é conhecida como Contra-reforma.
Figura – MARTINHO
LUTERO.
Fonte: <http://www.
saberhistoria.hpg.ig.com.
br/nova_pagina_104.
htm>
Entre as ações desencadeadas pela hierarquia católica para
combater esse movimento, podemos destacar:
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Concílio de Trento
O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi
convocado pelo Papa Paulo III. O objetivo era assegurar a
unidade de fé e a disciplina eclesiástica. A sua convocação
surge no contexto da reação da Igreja Católica à Reforma
Protestante. O Concílio de Trento foi o mais longo da
história da Igreja: é chamado Concílio da Contra-Reforma.
Figura: Venda de indulgências
Fonte: <http://www.saberhistoria.
hpg.ig.com.br/nova_pagina_104.
htm>
Lista de livros proibidos (Index)
Segundo o historiador alemão Hubert Wolf, a censura
eclesiástica se tornou uma instituição em 1571 e intensificou
seus trabalhos nos séculos seguintes, como reação à reforma
protestante e ao Iluminismo.
Acirramento das ações da Inquisição
Uma boa opção para compreender
melhor o período e a Santa
Inquisição é assistir o filme O Nome
da Rosa, de Umberto Eco.
A Inquisição foi criada na Idade Média (século XIII) e era
dirigida pela Igreja Católica Romana. Ela era composta
por tribunais que julgavam todos aqueles considerados uma
ameaça às doutrinas (conjunto de leis) desta instituição. Todos
os suspeitos eram perseguidos e julgados, e aqueles que eram
condenados, cumpriam as penas que podiam variar desde
prisão temporária ou perpétua até a morte na fogueira, onde os
condenados eram queimados vivos em plena praça pública. Esta
perseguição aos hereges e protestantes foi finalizada somente
no início do século XIX.
Assim, é nesse contexto que Inácio de Loyola, militar espanhol,
cria a Companhia de Jesus. Com muita rapidez os jesuítas se
espalham pela Europa, Ásia, África e América (chegam ao Brasil
em 1549), pregando a fé e combatendo heresias.
Embora não fosse o intento inicial dos jesuítas, logo
eles passaram a dedicar-se à criação de escolas
devido, principalmente, à necessidade de formar os
futuros quadros da congregação.
Esses colégios passaram a receber também alunos externos. O
Colégio de Messina, em 1548, foi o primeiro a recebê-los. Em
1551, foi o fundado o Colégio Romano, em Roma, onde seriam
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História da Educação I
realizadas as principais experiências educativas que se tornariam
modelares para os demais colégios inacianos.
Segundo HANSEN (2001, p.14), visando assegurar uma
uniformização das práticas educativas desenvolvidas nos colégios
jesuítas espalhados pelo mundo todo, os jesuítas, liderados pelo
Superior Geral da Companhia, Pe. Cláudio Acquaviva, no ano
de 1581, desencadeiam um processo para elaboração de um
Plano de Estudos a ser adotado em todos os colégios.
Isto para que as determinações e práticas fossem
iguais em todas as instituições da companhia.
O mesmo autor coloca que, inicialmente, Acquaviva nomeou
uma comissão composta de doze padres para “formular a ordem
de estudos que se deva guardar a Companhia”. Este grupo tinha
como compromisso, através de cartas, conseguir informações
das práticas efetivadas em todos os Colégios e, partir dessas
informações, elaborar os Planos de Estudos.
Hansen coloca ainda que, por causa de vários problemas, o grupo
de doze padres não levou o projeto adiante, tendo Acquaviva, em
dezembro de 1584, nomeado outra comissão de seis membros,
composta por padres de vários países, sendo todos eruditos e
experientes no ensino (HANSEN, 2001, p.16).
Em 1591, Acquaviva, mandou para toda a companhia uma versão
da Ratio que tinha em conta as críticas e sugestões recebidas
das diferentes instituições existentes, contendo 466 regras e
estabelecia que ficasse em experiência durante três anos.
Finalmente, em 1599, foi publicada a edição definitiva
da Ratio Studiorum que regula com grande detalhe
o modelo de ensino praticado durante séculos pela
Companhia de Jesus.
Sendo os jesuítas precursores da educação institucional no
Brasil, é de fundamental importância conhecermos um pouco
de sua prática pedagógica para compreendermos o processo de
escolarização desenvolvido no país. Sendo assim, convidamos
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você para conhecer aspectos dessa pedagogia através da leitura de
alguns componentes estabelecidos na Ratio Studuorum.
Seção 4 – A Ratio Studiorum (a pedagogia jesuítica)
Sendo a Companhia de Jesus uma ordem religiosa não
contemplativa, como a maioria das ordens religiosas da época,
que viviam recolhidas em mosteiros, a Ratio Studiorum, de 1599,
orienta o ensino das letras, das artes e teologia no sentido de
desenvolver nos educandos as capacidades de assimilar, transferir
e aplicar conhecimentos como intervenções nas questões do
presente.
Considerando o momento contra-reformista daquele momento,
essas intervenções na prática cotidiana não poderiam estar
dissociadas das práticas das virtudes cristãs. Nesse sentido,
Hansen observa que o sentido final das normas e das práticas da
Ratio Studiorum “é o da ortodoxia, seguindo-se com a máxima
fidelidade a tradição e os textos canônicos autorizados pela Igreja
a partir do Concílio de Trento” (HANSEN, 2001, p.18). Para
cumprir estas determinações a Ratio
Prescreve Santo Tomás de Aquino em teologia
escolástica, evita as interpretações averroísticas de
Aristóteles, segue em teologia positiva os doutores
aprovados pelas universidades católicas, sempre cuidando
(...) (não ser nem curioso nem temerário nos estudos nem
defensor de opinião própria) mas visando, ao contrário,
à humildade, modéstia, simplicidade e outras virtudes
cristãs (HANSEN, 2001, p.18).
A Ratio Studiorum, publicada em 1599, é um regulamento
interno da Ordem Jesuítica, composto por 467 regras, agrupadas
em 30 conjuntos, dirigidas aos agentes e instituições escolares
dos colégios jesuítas. Esse conjunto de regras trata de questões
administrativas, planos de estudos, método e as disciplinas
escolares.
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História da Educação I
As mesmas regras são válidas para todos os cursos que eram
divididos em Estudos Inferiores (retórica humanidades e
gramática) e Faculdades Superiores (filosofia e teologia).
Os estudos inferiores eram divididos em séries: Retórica,
Humanidades e Gramática, sendo que esta era subdividida em
inferior, média e superior.
Segundo Dallabrida, aproximadamente um terço das regras
da Ratio normatizavam os conteúdos e as práticas escolares
dos estudos inferiores. A Ratio determinava que as cinco
séries (Retórica, Humanidades, Gramática inferior, Gramática
média e Gramática Superior) não deveriam misturar-se e que
as promoções de uma série para outra deveriam ser realizadas
anualmente, mas nas classes de gramática somente quando
o aluno demonstrasse domínio do conhecimento estipulado
(DALLABRIDA, 2001, p.138).
Para este autor,
O objetivo central das classes inferiores era proporcionar
ao estudante jesuíta um sólido conhecimento gramatical,
como auxílio e fundamento para os estudos de filosofia e
principalmente de teologia. O núcleo central do currículo
das classes inferiores fi xado pela Ratio era o ensino das
línguas e literaturas clássicas, que eram ministradas em
todas as classes em grau crescente de complexidade e
aperfeiçoamento (DALLABRIDA, 2001, p. 139).
Figura - Ratio Studiorum
Societatis IESU, 1598.
Fonte: <http://
en.wikipedia.
org/wiki/Image:
Ratiostudiorum.jpg
Mas todo o ensinamento deveria ser trabalhado de forma
descontextualizada da mentalidade pagã das sociedades antigas.
A maior preocupação dos jesuítas era em eliminar qualquer
possibilidade de contato dos alunos com livros que continham
“escritos impuros” e os “perniciosos e inúteis”.
A regra número 34, intitulada de “Proibição de livros
inconvenientes”, dizia:
Tome todo o cuidado, e considere este ponto como
da maior importância, que de modo algum se sirvam
os nossos, nas aulas,de livros de poetas ou outros,
que possam ser prejudiciais à honestidade e aos bons
costumes, enquanto não forem expurgados dos fatos e
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Universidade do Sul de Santa Catarina
palavras inconvenientes; e se de todo modo não puderem
ser expurgados, como Terêncio, é preferível que não leiam
para que a natureza do conteúdo não ofenda a pureza da
alma (apud Dallabrida, 2001, p. 139).
Além de afastar obras e escritos pagãos dos educandos, os jesuítas
também produziam obras didáticas próprias, como a Gramática
do Padre Manuel Álvares, recomendada às classes de gramática,
onde predominava a mentalidade católico-tridentina.
Os alunos ao final dos Estudos inferiores deveriam dominar
perfeitamente o Latim, língua preferida sobre as demais, inclusive
sobre o grego. Para Dallabrida (2001), o ideal a ser perseguido
era o domínio oral e escrito do latim clássico, a partir de alguns
escritores romanos, de preferência Cícero, que deveria ser, não
somente aprendido, como imitado, de forma progressiva, durante
as cinco séries dos Estudos inferiores.
A predominância da língua latina sobre as demais
está relacionada ao seu caráter utilitário, já que nas
estruturas políticas e culturais do Antigo Regime, ela
era a língua oficial da Igreja Católica e dos Estados
absolutistas. Além disso, tinha a função de distinção
social, sendo uma forma das elites cortesãs e
burguesas distanciarem-se tanto da antiga nobreza
guerreira como das classes populares.
De acordo com a Ratio (apud. DALLABRIDA 2001, p. 141)
era preciso “moldar a alma plástica da juventude no serviço e
no amor a Deus”, o que requeria uma metodologia que incluísse
estratégias e táticas voltadas para este fim dentro e fora da sala
de aula, durante o período em que o educando permanecia no
colégio. Para isso, era preciso absoluto controle sobre o tempo e
o espaço, ou seja, o aluno devia ter todo o tempo ocupado com
atividades propostas pelos professores, bem como definição
de horários e lugares para cada atividade. Deveriam realizar
atividades escritas todos os dias, com exceção de sábado, que era
dia da sabatina.
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História da Educação I
A Ratio detalhava ainda, os passos da preleção (lição)
para todos os professores das classes inferiores: leitura
do texto, análise sintética do texto, leitura detalhada
de cada período e, por último, apresentação de
observações detalhadas a cada classe (DALLABRIDA,
2001, p.143).
Outro componente da metodologia jesuítica previsto na Ratio
era a emulação e a competição entre alunos, grupos e classes.
Esta era considerada uma forma de manter os educandos em
permanente estado de alerta e desafiados a provar sua maior
capacidade em relação ao outro.
Segundo Dallabrida, a emulação estava conjugada a um sistema
individualizado de controle, avaliação, classificação e premiação
dos alunos, que propunha uma rígida hierarquia escolar.
Esta hierarquia estava pautada na autoridade e na obediência, à
semelhança do que ocorria na estrutura da própria Companhia
de Jesus. Os Reitores dirigiam os colégios, assessorados pelos
Prefeitos Gerais dos Estudos a quem estavam submetidos os
Prefeitos de Estudos inferiores, os professores e os alunos.
Nos estudos superiores, de acordo com Hansen, o Curso de
Filosofia era dividido em três anos: no primeiro, estudava-se a
lógica, metafísica geral e matemáticas elementares. No segundo,
estudava-se cosmologia e outras ciências e no terceiro ano,
teodicéia e ética, astrologia e matemáticas superiores. Já o Curso
de Teologia, dividido em quatro anos, além de finalizar todos os
cursos anteriores, seguia o sistema de Santo Tomás de Aquino:
teologia patrística ou positiva; teologia escolástica moral; Sagrada
Escritura; Instituições canônicas; hebreu, siríaco e outras línguas
bíblicas. No curso de teologia, “somente podiam ensinar os
padres que tinham demonstrado conhecimento pleno de Santo
Tomás de Aquino” (HANSEN, 2001, p.22).
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Seção 5 – A ação dos jesuítas no Brasil
Nesta seção, faremos um breve relato sobre a ação dos jesuítas
no Brasil, desde sua chegada em 1549 até sua expulsão em 1759,
pelo fato de na disciplina de História da Educação II, da 2ªfase,
a prática pedagógica dessa ordem religiosa, no Brasil, ser tema
bastante detalhado.
Já em 1549, ou seja, apenas nove anos após a criação oficial da
Companhia de Jesus, chegaram ao Brasil os primeiros padres
jesuítas, liderados pelo Pe. Manoel da Nóbrega. Dedicaram-se
desde cedo à divulgação da fé cristã e ao trabalho educativo.
Iniciaram criando escolas de primeiras letras, onde ensinavam a
ler e escrever, a fim de facilitar o trabalho de catequese.
Para maior conhecimento sobre
aldeamentos e missões dos jesuítas
no Brasil, assista o filme A Missão,
de Roland Joffé.
Tendo em vista algumas dificuldades no projeto de catequização
e conversão dos índios, como a dispersão e mobilidade de muitas
tribos, os jesuítas criaram os aldeamentos ou missões, retirando
os indígenas da selva e impondo-lhes um outro modo de vida,
onde havia tempo determinado para cada atividade cotidiana.
A introdução dessa racionalidade na vida dos nativos
sem dúvida revolucionava os seus hábitos e reorganizava
o seu cotidiano. À indiferença da oca, onde as famílias
realizavam, sem qualquer privacidade, as suas atividades
de trabalho e de lazer, deu lugar à vida regrada imposta
pelos jesuítas. Havia que ter lugar e tempo próprios para
o sono, as refeições e as diversões, assim como lugar
e tempo adequados para o trabalho e para a devoção.
(XAVIER, 1994, p. 43)
Segundo Ferreira Jr. e Bittar (1999), para manterem-se
financeiramente, devido às dificuldades em receber as verbas
repassadas pela coroa portuguesa, os jesuítas reivindicaram terras
(sesmarias) que foram transformadas em fazendas altamente
produtivas. Nestas empregava-se o trabalho escravo negro.
Assim, as práticas escolares jesuítas destinavam-se a crianças
de várias origens raciais: indígenas, brancas (filhas de colonos
e da elite portuguesa), mamelucas, mulatas e negras (filhas dos
escravos das fazendas).
Além das escolas elementares de ler, escrever e contar, os jesuítas
implantaram também colégios. Em 1570, já havia cinco escolas
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História da Educação I
de instrução elementar localizadas em Porto Seguro, Ilhéus, São
Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga e três colégios
localizados na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Buscava-se seguir, nestas escolas e colégios, o
que estava prescrito na Ratio Studiorum. Contudo,
conforme indicação de alguns autores, foram
necessárias algumas concessões devido à realidade
brasileira apresentar características bastante
diferenciadas da realidade européia.
Toleraram-se alguns hábitos indígenas, como um vestuário
mais tropical; utilizou-se menos o latim, dando preferência
ao português e às línguas nativas (inúmeras orações e músicas
católicas foram traduzidas para a “língua geral” (tupi), bem como
se elaboraram gramáticas nessa língua); o teatro e a música,
principalmente, foram amplamente utilizados como estratégias
pedagógicas para a catequização e moralização dos nativos.
Ao final dos 210 anos (1549-1759), de predomínio
educacional jesuítico quase exclusivo, a Companhia
de Jesus possuía em território brasileiro além de
inúmeras escolas elementares, 25 residências, 36
missões e 17 colégios e seminários.
Os jesuítas foram expulsos de Portugal e de seus domínios em
1759 e dos demais países europeus nos anos seguintes, até que,
em 1773, o papa Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus.
Em 1814, ela foi novamente restabelecida, sendo que os primeiros
jesuítas retornaram ao Brasil na década de 1840, abrindo, em
1845, um colégio em Desterro, atual Florianópolis, dando
prosseguimento à sua ação educacional.
Quanto à expulsão dos jesuítas de Portugal e de seus domínios
pelo Marquês de Pombal, primeiro ministro português,
aprendemos, de modo geral, que a razão principal decorre da
perspectiva conservadora do ensino jesuítico, o que estaria
gerando atrasos para a cultura portuguesa. Contudo, há
outros motivos, principalmente políticos e econômicos, que
desencadearam a expulsão. Entre eles, podemos destacar
que a política administrativa de Pombal se contrapunha ao
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Universidade do Sul de Santa Catarina
poder temporal (civil) exercido pelos jesuítas nos territórios
guaraníticos, por exemplo.
Pombal queria reduzir o poder dos jesuítas ao plano
espiritual.
Os jesuítas também haviam adquirido um considerável poder
econômico que ameaçava os interesses de Pombal que defendia
a criação de Companhias de Comércio, visando controlar as
relações comerciais.
Como mencionamos no início dessa seção, na 2ª. fase do curso,
você terá oportunidade de aprofundar algumas questões aqui
expostas, brevemente, a título de contextualização, bem como
conhecer inúmeros outros aspectos da ação jesuítica no Brasil e
das razões para a sua expulsão.
De qualquer modo, é bom deixar claro que não
há de um lado apenas heróis e de outro apenas
vilões, nessa história. Tanto a imagem heróica ou
vilã do Marquês de Pombal, quanto dos jesuítas, são
imagens historicamente construídas que atendem a
determinados fins.
Agora, para praticar os conhecimentos conquistados nesta
unidade, realize, a seguir, as atividades propostas.
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História da Educação I
Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e, a seguir, acompanhe as
respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu
estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer
as atividades propostas.
1) A que classe social os colégios modernos atenderam e ajudaram o
forjar?
2) Quais os objetivos principais dos jesuítas ao elaborar um Plano de
Estudos (Ratio Studiorum) que deveria ser seguido em todas as
instituições de ensino jesuíticas?
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3) Para você, ainda permanecem resquícios da pedagogia jesuítica nas
nossas instituições educativas? Justifique sua resposta.
4) Coloque (V) para Verdadeira e (F) para Falso:
a) ( ) A Ratio Studiorum constitui-se num conjunto de regras que trata
de questões administrativas, planos de estudos, método e as
disciplinas escolares.
b) ( ) A elaboração do texto da Ratio Studiorum, publicado em 1599, é
resultado do trabalho da comissão de seis membros, composta
por padres de vários países, nomeados pelo Padre Acquaviva, em
dezembro de 1584.
d) ( ) A Ratio era um conjunto de regras com determinações diferentes
para cada instituição de ensino da Companhia de Jesus.
e) ( ) O núcleo central do currículo das classes inferiores era o ensino
das línguas e literaturas clássicas, ministradas em todas as classes
em grau crescente de complexidade e aperfeiçoamento.
f) ( ) Cada instituição da Companhia de Jesus poderia elaborar seus
próprios planos de estudos.
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História da Educação I
Síntese
Na primeira seção desta unidade, você teve oportunidade de
conhecer características do período marcado pelo movimento
do Renascimento. Movimento este que gerou novas formas
econômicas, políticas, artísticas, religiosas e educacionais. É
do período do Humanismo, em contraposição, as concepções
predominantemente teológicas da Idade Média. O teocentrismo
dá lugar ao antropocentrismo, embora os valores religiosos e
morais continuem com força.
Percebe-se, em linhas gerais, uma crítica à educação
predominante até então e a defesa de uma pedagogia mais
humana. Destaca-se ainda, nos escritos destes autores, a
preocupação com a moralização dos comportamentos infantis
e prevêem-se roteiros de civilidade para orientar as ações das
famílias e dos educadores.
Na seção 2, você pôde verificar o surgimento dos colégios
modernos onde os alunos passam a ser agrupados por idades mais
próximas, organizados em classes ordenadas com graduação nos
estudos e sujeitos a uma disciplina rígida. O tempo e o espaço
passam a ser totalmente controlados.
Entre os conteúdos destacam-se, entre outros, o estudo do latim
e do grego, da gramática, de obras literárias e filosóficas da
Antiguidade, de eloqüência e boas maneiras, ou seja, a aquisição
de uma cultura geral, onde os exercícios escritos substituem cada
vez mais os orais.
Na seção 3, você pôde perceber que a criação da Companhia
de Jesus ocorreu em meio aos protestos liderados por Martinho
Lutero contra algumas práticas da Igreja Católica do período e
que as ações dos jesuítas fizeram parte do movimento da igreja
católica contra a reforma protestante.
Na seção 4, você aprendeu que a Ratio Studiorum, publicada em
1599, é um regulamento interno da Ordem Jesuítica, composto
por 467 regras, agrupadas em 30 conjuntos, dirigidas aos
agentes e instituições escolares dos colégios jesuítas e que esse
conjunto de regras trata de questões administrativas, planos de
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estudos, método e as disciplinas escolares. Além disso, aprendeu
que as mesmas regras são válidas para todos os cursos que
eram divididos em Estudos Inferiores (retórica humanidades e
gramática) e Faculdades Superiores (filosofia e teologia).
Você aprendeu ainda, que o processo de aquisição de
conhecimento pelo método jesuítico ocorria da seguinte forma:
o primeiro passo consistia na repetição do texto, seguido da
memorização, que colocava o aluno em condições de competição
e, por último, a realização dos exames levando-o à premiação ou
reprovação.
E que, nesse processo, a obediência e disciplina, aliadas às boas
maneiras, à moralidade, à civilidade, ao bom comportamento,
eram valores a serem incorporados pelos alunos.
Por último, você tomou conhecimento que os jesuítas chegaram
ao Brasil logo após o descobrimento e que aqui, além de trabalhar
na conquista de novos fiéis para igreja católica através das missões
e aldeamentos, criaram escolas de primeiras letras e colégios
e que foram expulsos em 1759, pelo Marquês de Pombal,
Ministro de D. José, que, na época, era rei de Portugal.
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História da Educação I
Saiba mais
Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você
poderá pesquisar os seguintes livros e sites:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Renascimento_(movimento_
cultural)
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São
Paulo: Moderna, 1996.
DALLABRIDA, Norberto. Moldar a alma plástica da
juventude: a Ratio Studiorum e a manufatura de sujeitos letrados
e católicos. Educação Unisinos, vol. 5, n.8, p. 133-150. 2001.
HANSEN, João Adolfo. Ratio Studiorum e Política Católica
Ibérica no Século XVII. In: VIDAL, Diana Gonçalves e
HILSDORF, Maria Lúcia Spedo (Org.). Brasil 500 anos:
Tópicos em história da educação. São Paulo: Ed USP, 2001.
PEDRO, Antônio. História: Compacto, 2º Grau - Ed. Atual.,
ampl. e renovada. São Paulo: FTD, 1995. Texto on-line
disponível em <http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/nova_
pagina_105.htm>
PETITAT, A. Produção da escola/produção da sociedade:
análise sócio-histórica de alguns momentos decisivos da evolução
escolar no ocidente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
Unidade 3
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UNIDADE 4
A infância e a pedagogia
moderna
4
Objetivos de aprendizagem
„
Identificar alguns modos de tratamento dispensados à
infância em diferentes períodos históricos.
„
Identificar as principais características da pedagogia
moderna.
„
Conhecer aspectos do processo de redefinição do
espaço da criança na família e na sociedade a partir do
Renascimento.
„
Compreender o processo de pedagogização dos
conhecimentos e disciplinarização dos sujeitos na
modernidade.
Seções de estudo
Seção 1 A infância na Antiguidade
Seção 2 A infância na Idade Média
Seção 3 A infância a partir do Renascimento
Seção 4 A pedagogização dos conhecimentos e o
disciplinamento dos sujeitos
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Como as crianças foram vistas e tratadas em outras épocas? O
mundo infantil sempre se diferenciou do mundo adulto? Que
tipo de escola/pedagogia foi organizada para as crianças e
adolescentes na modernidade? Estas são algumas das questões
que nortearam a elaboração desta unidade.
O objetivo primordial desta unidade é destacar as principais
características que a pedagogia e a escola moderna adquiriram
em função das novas concepções sobre a criança desenvolvidas
no período. Para entender a concepção de infância do período
moderno, você iniciará o estudo desta unidade vendo como a
infância foi tratada em diferentes momentos históricos. Verá
que a partir do Renascimento institui-se uma nova concepção
de infância que resultará num processo de pedagogização dos
conhecimentos e disciplinarização dos sujeitos.
SEÇÃO 1 - A infância na Antiguidade
Ainda são poucas as pesquisas históricas voltadas para analisar
a infância nas sociedades da Antiguidade. Apresentaremos aqui
breves considerações encontradas esparsamente em algumas
obras.
Na sociedade romana, por exemplo, as crianças
estavam totalmente subjugadas ao poder do pai e era
comum abandoná-las, conforme veremos com mais
detalhes na próxima seção.
Quanto às crianças abandonadas, em seu livro “História social da
criança abandonada”, Maria Luiza Marcílio destaca que a prática
de abandonar bebês é bastante comum, desde longa data, nas
civilizações ocidentais. A autora inicia destacando a situação de
abandono de bebês na tradição judaica, fazendo referência, por
exemplo, ao abandono de Moisés e na mitologia grega destaca o
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História da Educação I
caso de Édipo, abandonado pelo pai. Aponta, ainda, como Platão
e Aristóteles defendiam o abandono. Na Grécia “a deformidade
da criança ou a pobreza da família bastavam para que a justiça
doméstica decretasse sua morte ou seu abandono. O aborto era
legítimo, e o infanticídio admitido”. (MARCÍLIO, 1998, p. 23).
Em Roma essas práticas também eram comuns.
Ricos e pobres abandonavam filhos na Roma Antiga.
As causas eram variadas: enjeitavam-se ou afogavamse as crianças malformadas; os pobres, por não terem
condições de criar os filhos, expunham-nos, esperando
que um benfeitor recolhesse o infeliz bebê; os ricos,
ou porque tinham dúvidas sobre a fidelidade de suas
esposas ou porque já teriam tomado decisões sobre
a distribuição de seus bens entre os herdeiros já
existentes. (MARCÍLIO, 1998, p. 25).
Para Costa (2003) “a tradição cristã abriu..., uma nova
perspectiva à criança”. Vários mosteiros abriram suas portas
para receber crianças abandonadas. Também, segundo
Marcílio (1998, p.28), vários concílios e patriarcas da Igreja,
inclusive alguns deles que haviam sido abandonados pelos pais,
faziam a “apologia da caridade em relação ao enjeitado”.
De modo geral, é possível dizer que as crianças gregas e romanas
que sobreviviam tinham seus brinquedos e brincadeiras, e as
da elite iam para escola por volta dos sete anos, enquanto a
grande maioria era educada no espaço doméstico e coletivo, logo
entrando no mundo do trabalho. E quanto mais pobres, mais
cedo isto ocorria. A infância era, portanto, bastante curta.
SEÇÃO 2 - A infância na Idade Média
Por muito tempo, acreditou-se na ausência de uma noção de
infância no período medieval, ao menos no Ocidente. Isto se
deve, principalmente, à ausência de fontes para a pesquisa deste
tema, ou melhor, à ausência da criança, nas fontes pesquisadas.
Unidade 4
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Philippe Ariès, historiador francês, em seu estudo “A História
Social da criança e da família”, analisa obras iconográficas e
identifica a não presença da criança ou uma representação que
mostrava os pequenos como “adultos em miniatura”.
Figura: Mulher nobre com filho
Fonte: www.artehistoria.com/
historia/contextos/1334.htm
Neste sentido, há uma cena no filme
“Cleópatra” que ilustra bem esta
questão: Júlio César, imperador
romano, tem um envolvimento
amoroso com Cleópatra, a rainha do
Egito (apesar de ter uma esposa em
Roma). Cleópatra dá à luz um filho
do Imperador e este, após o parto,
levanta a criança, num gesto que
simboliza o reconhecimento como
filho legítimo.
Neste estudo, o autor demonstra que as crianças participam
ativamente de todas as atividades sociais, das mesmas festas,
dos mesmos jogos e das mesmas brincadeiras. Suas vestimentas
também não se diferenciavam muito da dos adultos. Por isto,
Ariès relaciona a emergência de um olhar para a infância, a partir
da constituição das cidades e da classe burguesa, correspondendo
ao segundo momento do período medieval, a Baixa Idade
Média (de acordo com a divisão referente aos períodos históricos
apresentados na Unidade 2).
No entanto, o professor e pesquisador Ricardo da Costa, em suas
pesquisas sobre esse período, encontrou algumas evidências sobre
a infância em período anterior ao pesquisado por Ariès (Alta
Idade Média), e as publicou em seu artigo “A Educação Infantil
na Idade Média”.
Como você já viu na Unidade 2, a Idade Média Ocidental é
forjada a partir de duas grandes referências culturais: a Romana
e a Germânica.
Em relação às crianças, os romanos legavam ao pai (pater
familias) o poder de vida ou de morte. Mesmo sendo filho
legítimo (de sangue), o pai poderia reconhecê-lo ou rejeitá-lo.
Caso o pai não o reconhecesse publicamente, a
rejeição significava, na maioria dos casos, a morte.
Por outro lado, os germanos apresentavam algumas diferenças.
Não havia a prática do infanticídio, pois os rejeitados eram
assumidos pela linhagem materna, as mulheres amamentavam
as crianças, as crianças tinham uma educação comum até
certa idade. É importante lembrarmos que, diferentemente
dos romanos, em que todo poder e as decisões eram legadas ao
pai, entre os germanos as mulheres também possuíam papel
de destaque. Assim, podemos identificar um poder patriarcal
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História da Educação I
relacionado à política e à organização social e um poder
matriarcal em relação à família.
É certo que, naquela época, as taxas de mortalidade infantil
eram altíssimas, no entanto, Costa diz que isto não impedia que
os pais chorassem a morte de seus filhos, como esta citação de
Fredegunda, esposa do rei franco Chilperico:
Esta epidemia que começou no mês de agosto atacou
em primeiro lugar a todos os jovens e adolescentes e
provocou sua morte. Nós perdemos algumas criancinhas
encantadoras e que nos eram queridas, a quem nós
havíamos aquecido em nosso peito, carregado em
nossos braços ou nutrido por nossa própria mão, lhes
administrando os alimentos com um cuidado delicado
[...]Nós perdemos agora os nossos fi lhos, eis que as
lágrimas dos pobres, as lamentações das viúvas e os
suspiros dos órfãos os matam e não nos resta esperança de
deixar os bens para ninguém. Nós entesouramos sem ter
para quem deixar. (Disponível em: http://www.hottopos.
com/videtur17/ricardo.htm)
No entanto, segundo os estudos de Costa, é o cristianismo que
traz novos elementos às relações familiares. É na educação
preconizada nos mosteiros que encontramos práticas
pedagógicas para além dos ensinamentos da guerra, assim
como crianças de vários grupos sociais, tópico visto na Unidade
2, que lá podiam permanecer até os quinze anos de idade.
De toda forma, havia condutas disciplinares que incluíam
castigos. Um dos principais conjuntos de normas era a Regra de
São Bento. Por um lado pedia cuidado na aplicação de castigos,
por outro prescrevia castigos como jejuns ou pancadas com varas,
de acordo com o caso.
O que podemos salientar é que a falta de
reconhecimento de algumas especificidades da
infância não necessariamente eliminava o afeto para
com as crianças e, nem mesmo, alguns cuidados.
Alguns autores como Gélis afirmam que houve certa
individualização da criança, a partir de uma relação entre público
Unidade 4
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Universidade do Sul de Santa Catarina
e privado. Ele afirma a existência de uma dependência em relação
à linhagem e à solidariedade de sangue:
(...) Nesse imaginário, a criança era considerada
um rebento do tronco comunitário, uma parte do
grande corpo coletivo que, pelo engaste das gerações,
transcendia o tempo, pertencendo, assim, à linhagem
tanto quanto aos pais: a criança era uma criança
pública. (1991, p. 312).
Levando em conta esta associação entre público e privado, o autor
exemplifica que, se o seu nascimento ocorria num local privado
(quarto), este acontecia na presença de um grupo de parentes e
vizinhas que transformavam o nascimento em ato público.
Para o mesmo autor, a educação em comum deveria direcionar
a criança às funções dentro de uma hierarquia familiar e social,
formando indivíduos para o papel que deveriam ocupar na
sociedade.
De acordo com Franco Cambi, a família medieval tem como
extensão a vida social, participando com todos os seus membros
dos eventos sociais e das festas “até a morte”. (1999, p. 176).
Exemplo disso é a ausência de representações de
cenas domésticas nas imagens do período, bem como
do grupo familiar.
Dessa forma, o autor afirma, com base também no trabalho de
Ariès, que a criança não está no centro da vida familiar. Cambi
infere que as crianças eram representadas como “pequenos
homens”, como já dissemos anteriormente, participando
das mesmas festas, usando os mesmos trajes ou os mesmos
brinquedos.
Quanto aos trajes, através da análise de inventários da época,
Duby destaca que havia um vestuário variado e abundante para
as crianças das famílias abastadas. Já nas famílias humildes, este
vestuário era bastante restrito:
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História da Educação I
Um peteleiro, por exemplo, segundo seu inventário, não
dispõe para os dois fi lhos, senão de um manto e de quatro
túnicas pretas, das quais apenas uma forrada, e a filha de
um oficial público comum só tem em seu guarda-roupa,
além de quatro camisas, um vestido de interior, duas
túnicas simples e uma pequena saia, tudo de lã muito
comum. (DUBY, 1990, p. 225).
Sobre as práticas educativas medievais Cambi diz:
A educação da criança era depois confiada à oficina
e ao aprendizado ou à Igreja e às suas práticas de
vida religiosa: a primeira ensinava uma técnica e um
ofício, a segunda, uma visão do mundo e um código
moral. (1999, p. 177).
Ao final do período medieval percebe-se uma crescente
valorização da criança em si mesma, uma reorganização do
modelo de família e o estabelecimento de outros vínculos afetivos
entre os familiares, movidos, principalmente, pela preocupação
com a mortalidade infantil.
Quanto ao reconhecimento da infância, este se
manifestou a partir do Renascimento, consolidando-se
na Modernidade.
Assim, interessam-nos os estudos de Ariès para compreendermos
o surgimento de um sentimento da infância, principalmente a
partir do século XVII, no qual a criança passa a ser o centro das
atenções na família que aos poucos se organiza em seu entorno.
Uma nova sensibilidade em relação às crianças vai implicar
também, numa nova forma de tratá-las e educá-las.
Também, devemos lembrar do papel do Estado, com a
consolidação das monarquias nacionais, que passa a se interessar
pela formação das crianças dentro e fora da família, criando
instituições que têm como objetivos separá-las do mundo adulto,
incluída aí, a escola.
Unidade 4
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SEÇÃO 3 - A infância a partir do Renascimento
Vimos, tanto na seção 1 como na 2, da Unidade 3, que com o
Renascimento difunde-se uma literatura humanista e moralista
preocupada com a família e a infância, assim como, nos últimos
parágrafos da seção anterior, que é neste período que a criança
começa a ser valorizada no meio social. Além disso, que a
família começa a assumir uma feição mais privada onde a
criança torna-se o centro.
Neste sentido, a partir da segunda metade do século
XVIII (1750 em diante), começa a ser produzida na
Europa uma série de estudos sobre o problema da
conservação das crianças.
Donzelot (1986, p. 15), em seu livro sobre “A polícia das
famílias”, diz que, inicialmente, essas produções resultavam de
observações e registros que médicos vinham realizando sobre o
alto índice de mortalidade infantil e suas possíveis causas. Logo
em seguida aparecem, também, estudos de administradores
e de militares. Estes estudos giram em torno de três questões
relacionadas aos cuidados com as crianças naquele momento: a
prática dos hospícios de menores abandonados; a criação dos
filhos por amas-de-leite; e a criação artificial das crianças
ricas. Para o autor “essas três técnicas engendrariam, tanto o
empobrecimento da nação, como o enfraquecimento de sua
elite” (Donzelot, 1986, p.16).
Esses estudos mostram que os menores abandonados naquele
período eram alojados em locais denominados de hospícios que
eram mantidos, pelo menos em parte, com recursos vindos do
Estado.
No entanto, em função dos cuidados oferecidos,
90% (noventa por cento) morriam antes do final da
adolescência.
Em conseqüência disto, começou-se a questionar os gastos
empreendidos com estas instituições e o pouco retorno que o
Estado retirava. Alegava-se que a conservação ou salvação destes
“bastardos” seria muito útil, pois o Estado poderia designá-los a
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História da Educação I
cumprir tarefas nacionais como colonização, milícia, marinha,
“tarefas para as quais eles estariam perfeitamente adaptados,
pelo fato de não possuírem vínculos de obrigações familiares”
(Donzelot (1986, p.16). Para este autor, o alto índice de
mortalidade ocorria pela dificuldade da administração encontrar
nutrizes, pela sua má vontade e incompetência.
Na época, era comum as crianças serem criadas por nutrizes. As
que moravam em aldeias próximas das cidades eram contratadas
pelos ricos para amamentar e cuidar de seus filhos, e para as
crianças pobres ficavam as nutrizes de aldeias mais distantes.
Para garantir o recebimento e maior remuneração, muitas destas,
com a conivência do agenciador, assumiam várias crianças ao
mesmo tempo. Nessas condições, já no período de amamentação,
“a mortalidade das crianças colocadas em nutriz era enorme: por
volta de dois terços no que diz respeito as nutrizes distantes e um
quarto quanto às mais próximas” (Donzelot,1986, p.17).
Nutrizes eram as mulheres
responsáveis pela
amamentação e demais
cuidados das crianças.
As crianças ricas contavam com uma nutriz exclusiva, o que não
assegurava carinho ou bondade para com as crianças. Donzelot
observa que, de acordo com esses estudos médicos, é nesta relação
que está a explicação das manifestações, desde os primeiros anos
de vida, de comportamentos de baixeza e maldade em crianças
de pais honestos e virtuosos.
Buch em seu livro sobre medicina doméstica, diz que “não há
dúvida de que essas crianças tiram todos os seus vícios de suas
nutrizes. Eles teriam sido honestos se suas mães os tivessem
amamentado” (Buch, apud Donzelot, 1986, p.17). Outros
médicos também chegaram a essa conclusão de que, pela
amamentação, a nutriz passaria todos os seus sentimentos para
as crianças, e como estava quase sempre arrasada pelo cansaço do
trabalho, pela condição de sujeição a que era submetida, nutria
geralmente um sentimento de ódio. Além disso, segundo estes
estudos, as crianças ricas confiadas às serviçais recebiam uma
educação resultante de opressões e de intimidades impróprias
para assegurar seu desenvolvimento. Incluíam certas práticas de
educação corporal como, modelagem do corpo com ataduras com
vistas à estética, desconsiderando os males que estas poderiam
causar. Donzelot observa ainda que
Unidade 4
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Universidade do Sul de Santa Catarina
(...) para as adolescentes acrescenta-se a isso o
confinamento debilitante em que são mantidas até
a idade de sua primeira entrada no mundo, reclusão
enfraquecedora que, freqüentemente, torna-as inaptas
para as tarefas da maternidade reproduzindo, assim, a
necessidade de serviçais (Donzelot, 1986, p.18).
Nessas publicações resultantes dos estudos médicos,
percebe-se que toda uma discussão em torno da
criança começa a se fazer presente no período,
mudando, com isto, o sentimento em relação à
infância.
No entendimento desse autor sobre a extremidade mais pobre do
corpo social, é denunciada a má administração dos hospícios e
o pouco benefício do Estado em função da alta mortalidade das
crianças. “Trata-se, neste caso, da ausência de uma ‘economia
social’”. No lado oposto, ou seja, na extremidade mais rica, a
crítica maior recai sobre a educação do corpo a que as crianças
são submetidas através das nutrizes e/ou serviçais. “Trata-se,
neste caso, da ausência da ‘economia do corpo’”.
De acordo com Donzelot,
(...) conservar as crianças significará por fim aos
malefícios da criadagem, promover novas condições
de educação que, por um lado, possam fazer frente à
nocividade e seus efeitos sobre as crianças que lhes são
confiadas e, por outro lado, fazer com que todos os
indivíduos que tem tendência a entregar seus filhos à
solicitude do Estado ou à indústria mortífera das nutrizes
voltem a educá-los (DONZELOT, 1986, p.21).
Nesse sentido, o século XVIII é considerado como um período
de revalorização das tarefas educativas, a ponto de se dizer,
conforme Donzelot, que “a imagem da infância mudou”.
De acordo com este autor, o que ocorre nesta época “é uma
reorganização dos comportamentos educativos em torno de dois
pólos bem distintos cada qual com estratégias bem diferentes”: o
primeiro diz respeito às discussões sobre a medicina doméstica
e as possibilidades de retirada das crianças das influências
negativas das serviçais; e o segundo diz respeito à filantropia ou
“economia social”, ou seja, organizar a vida dos pobres de modo
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que diminuísse os custos sociais e produzisse trabalhadores com o
mínimo de gastos públicos (DONZELOT, 1986, p.22).
Esse mesmo autor coloca que, entre o final do século
XVIII e o fim do XIX, os médicos elaboraram para as
famílias burguesas uma série de livros sobre a criação,
a educação e a medicação das crianças. Da mesma
forma, uma série de publicações foram impressas,
informando de modo especial às mães sobre a arte de
cuidar de crianças na primeira infância, assim como
guias e dicionários de higiene para uso das famílias.
Segundo Donzelot (1986, p. 23), essa ligação entre o médico e
a família mexeu profundamente na vida familiar induzindo sua
reorganização em pelo menos três dimensões:
1. o fechamento da família contra as influências
negativas do antigo meio educativo, contra os métodos
e os preconceitos dos serviçais, contra os efeitos das
promiscuidades sociais;
„ 2. a constituição de uma aliança privilegiada com a mãe,
portadora de uma promoção da mulher por causa deste
reconhecimento de sua utilidade educativa;
„ 3. a utilização da família pelo médico contra as antigas
estruturas de ensino, a disciplina religiosa, o hábito do
internato.
„
Os médicos, ao mesmo tempo em que estabelecem uma nova
relação com a família, no sentido de modificar a educação e os
sujeitos envolvidos na educação das crianças na esfera privada,
ou seja, em casa, também chamam atenção para os problemas
na esfera pública, ou seja, nos colégios. Assim como nas casas
o amontoamento de crianças, a má ventilação dos cômodos,
a ausência de exercícios, a promiscuidade nos dormitórios,
o risco de depravação das crianças pela criadagem, também
nos internatos havia estes problemas, além dos regulamentos
conventuais dos liceus, os programas excessivos, considerados
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Universidade do Sul de Santa Catarina
como ‘educação homicida’. É sobre estes que os médicos alertam
os pais e propõem uma cruzada contra tais modelos.
O nome Roda – dado por extensão
à casa dos expostos – provém
do dispositivo de madeira onde
se depositava o bebê. De forma
cilíndrica e com uma divisória no
meio, esse dispositivo era fixado no
muro ou na janela da instituição.
No tabuleiro inferior da parte
externa, o expositor colocava a
criancinha que enjeitava, girava a
Roda e puxava um cordão com uma
sineta para avisar à vigilante – ou
Rodeira - que um bebê acabara
de ser abandonado, retirando-se
furtivamente do local, sem ser
reconhecido. In: MARCÍLIO, 1998,
p. 57.
Figura: Casa da roda dos expostos
Fonte: www.megagaleria.com/
pictures/pic
Com esse movimento, segundo Donzelot, é que surge
gradativamente a educação mista (escolar e familiar), “onde os
pais preparam a criança a aceitar a disciplina escolar, mas ao
mesmo tempo, velam pelas boas condições da educação pública”
(1986, p. 26).
Todavia, a educação para as crianças pobres não ocorria desta
maneira. Aparentemente, tratava-se igualmente da preocupação
de garantir a conservação das crianças e de estender os mesmos
preceitos higiênicos, porém, com economia social (1986, p.27), já
que as crianças pobres teriam seus gastos custeados pelo Estado.
Donzelot afirma que nada mais exemplar nessa reviravolta da
relação Estado-família do que a história dos hospícios para
menores abandonados. E com a preocupação em unir respeito
à vida e respeito à honra familiar, a retomada da Roda merece
destaque. A Roda foi criada, inicialmente, por volta
do século XII e retomada a partir do século XVII, de
forma que, em pouco tempo, estava instalada em toda
a Europa, chegando ao Brasil durante esse mesmo
século.
Segundo Marcílio (1998, p. 51), em 1203, fora do
hospital do Santo Espírito in Saxia (ao lado do
Vaticano) “em seu longo muro lateral, foi instalada
uma ‘Roda’, com um pequeno colchão, para receber
os bebês, mesmo em pleno dia, estando rigorosamente
vedada a busca de informações sobre quem os havia trazido”.
Esta foi, seguramente, a primeira Roda dos Expostos
da cristandade, que serviu de modelo para as que
surgiram posteriormente”.
O sistema de Rodas ou Casas de expostos difundiu-se
praticamente por todo território europeu, principalmente nos
países católicos, até o século XIX. Nestas instituições, as crianças
aprendiam a ler e recebiam uma formação moral, religiosa e
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História da Educação I
“profissional”, e permaneciam até completarem em torno de 12 a
15 anos.
Além do sistema de Rodas, outras instituições de caráter
caritativo e filantrópico foram criadas, no decorrer da Idade
Moderna, para atenderem as crianças abandonadas e pobres. Ou
seja, a criança, tanto a rica (nos colégios e escolas) como a pobre
(nas instituições de caridade e filantrópicas), passa a ser alvo
de proteção e controle, “cuidando-se” do seu corpo e da sua
educação.
Além destas questões apontadas nesta seção, a iconografia
também revela importantes fatos sobre a vida das crianças
naquele período. Neste sentido, se a iconografia medieval,
essencialmente religiosa, se restringe a expor imagens
infantis do Menino Jesus, da Virgem Maria e do nascimento
e infância de alguns santos, imagens essas assexuadas e de
crianças com feições de adultos; a iconografia renascentista
começa a representar mais as crianças junto de suas famílias e
não apenas no espaço público, mas também no interior das casas.
Se na Idade Média as crianças participam ativamente
de todas as atividades sociais, não se diferenciando
muito dos adultos, participando das mesmas festas,
dos mesmos jogos e das mesmas brincadeiras, a
partir do período renascentista começarão a haver
diferenças, principalmente, nas classes favorecidas.
Figura: Madona e Santos,
de Duccio di Buoninsegna
National Gallery, Londres,
séc XIII
Fonte: http://www.
historiedade.com.br/
idademedia.htm
Quanto ao vestuário infantil, por exemplo, se até o século XIV
era bastante comum a criança se vestir como o adulto (usando
inclusive perucas e sapatos de salto), a partir do século XVII
haverá trajes cada vez mais definidos e apropriados para cada
idade. Segundo Ariès (1981, p. 71), essa diferenciação entre o
vestuário adulto e infantil ocorrerá inicialmente com os meninos.
As meninas continuarão, por algum tempo ainda, sendo vestidas,
desde cedo, como “mulherzinhas”.
Temos assim, a partir do Renascimento, uma nova concepção
da infância, gerando gradativamente uma separação maior
entre o mundo dos adultos e o das crianças. Esta separação é
maior e mais imediata nas classes abastadas, pois entre as classes
humildes ela demorará mais a se efetivar.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para essa nova infância, tanto a rica como a pobre, serão
criadas novas formas e espaços de educação. Os colégios, por
exemplo, para a primeira, como vimos em outros momentos
desta disciplina, e as instituições de caridade e filantropia para a
segunda. Na próxima seção, você verá outras conseqüências dessa
nova forma de ver as crianças e os adolescentes.
SEÇÃO 4 - A pedagogização dos conhecimentos e a
disciplinarização dos sujeitos
Como você pôde ver na seção anterior, no final da Idade Média
a criança começa a ser valorizada, o sentimento da família em
relação à infância muda, e o Estado passa a se ocupar também da
educação das crianças com a criação de diferentes instituições,
entre elas a escola.
Mas estas mudanças não ocorrem num passe de
mágica, há todo um processo de percepções e
questionamentos por parte de alguns membros
da sociedade na época que provocam gradativas
alterações no modo de entender, educar e cuidar a
criança.
A partir do Renascimento, as crianças e os adolescentes
passam a ser educados em espaços cada vez mais fechados e
os saberes são controlados e organizados para se adequarem às
capacidades infantis, o que Varella chama de pedagogização dos
conhecimentos.
Varella (1994, p. 89) indaga em seu texto sobre “quais foram os
efeitos mais visíveis desta pedagogização dos conhecimentos que
surgiram e se aperfeiçoaram nos colégios jesuítas e que, através
de transformações e reinterpretações, estenderam-se a outras
instituições educacionais de sua época e de épocas posteriores”. A
seguir, transcrevemos os três efeitos apontados pela autora:
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História da Educação I
1. Em primeiro lugar, a aquisição desses saberes
moralizados não exigia uma cooperação – como
acontecia, por exemplo, com a aprendizagem de ofícios
– entre mestres e aprendizes, destinada a materializarse numa obra bem feita. Os mestres passaram a ser os
únicos detentores do saber e os estudantes viram-se
relegados a uma posição de subordinação, converteramse em sujeitos destinados a adquirir os ensinamentos
dosificados, transmitidos por seus professores para
convertê-los, como também a eles próprios , em seres
virtuosos.
2. Os saberes que possuíam os professores jesuítas eram
saberes verdadeiros, que não remetiam a processos
sociais, mas a outros saberes, sempre em consonância
com a reta doutrina na Igreja e a tradição católica. Eram
saberes desvinculados das urgências materiais, dos
problemas sociais, saberes que se pretendiam neutros e
imparciais. Deste modo, os saberes ligados ao mundo
do trabalho, às lutas sociais, às culturas de determinados
grupos ou classes sociais, começaram a ficar marcados
pelo estigma do erro e da ignorância. Eles viram-se
desterrados do recinto sagrado da cultura culta, uma
cultura que, com o passar do tempo, converteu-se na
cultura dominante e reclamou para si o monopólio da
verdade e da neutralidade.
3. Por último, este processo de pedagogização dos
saberes implicou a instauração, progressivamente
aperfeiçoada, de um aparato disciplinar de penalização
e de moralização dos colegiais, que ligou a aquisição da
verdade e da virtude à ascese e renúncia de si mesmo. Foi
deste modo que a disciplina e a manutenção da ordem
nas salas de aula passaram a ocupar um papel central no
interior do sistema de ensino até chegar praticamente a
eclipsar a própria transmissão de conhecimento.
Ascese, segundo o
dicionário Aurélio, é
exercício prático que leva
à efetiva realização da
virtude, à plenitude da
vida moral.
Com referência a este processo de disciplinarização que vai
sendo implantado nas instituições, Michel Foucault observa
que, no decorrer dos séculos XVII e XVIII, as disciplinas se
tornaram fórmulas gerais de dominação, diferentemente das
disciplinas de tipo monástico, que tinham por função realizar
Unidade 4
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Universidade do Sul de Santa Catarina
renúncias e como fim principal um aumento de domínio de cada
um sobre seu próprio corpo,
(...) esse momento histórico é o momento que nasce
uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o
aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar
sua sujeição, mas a formação de uma relação que no
mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto
é mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política
de coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma
manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos,
de seus comportamentos (1989, p.127).
Temos que ter presente, no entanto, que a disciplina inicialmente
presente nos colégios, passa também para as escolas primárias,
para o espaço hospitalar e, mais tarde, para o militar, enfim todos
passam a ser disciplinados, treinados para transformarem-se em
corpos “dóceis” e submissos.
Mas como esta disciplina se manifesta ou é constituída
numa classe escolar?
Segundo Foucault, a partir de 1762, o espaço escolar se desdobra;
a classe torna-se homogênea, ela agora só se compõe de
elementos individuais que são colocados uns ao lado dos outros
sob o olhar atento do mestre.
A ordenação por fileiras, no século XVIII, começa a
definir a grande forma de repartição dos indivíduos na
ordem escolar: filas de alunos na sala, nos corredores, nos
pátios; colocação atribuída a cada um em relação a cada
tarefa e cada prova; colocação que ele obtém de semana
a semana, de mês a mês, de ano a ano; alinhamento das
classes de idade umas depois das outras; sucessão dos
assuntos ensinados, das questões tratadas segundo uma
ordem de dificuldade crescente (1989, p. 134).
Foucault diz, ainda, que a determinação de lugares individuais,
tornou possível o controle de cada criança individualmente e
o trabalho simultâneo de todos. Com uma nova organização
do tempo e do espaço, a escola passa a funcionar como “uma
máquina de ensinar, mas também de vigiar, de hierarquizar,
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História da Educação I
de recompensar” (1989, p.134). Sendo assim, o autor afirma
que “a primeira das grandes operações da disciplina é então a
constituição de quadros vivos que transformam as multidões
confusas, inúteis e perigosas em multiplicidades organizadas”
(1989, p.135). Ou seja, a escola com seus horários, regras,
conteúdos, enfim toda a organização, incute virtudes e valores a
serem seguidos na sociedade.
Agora, para praticar os conhecimentos conquistados nesta
unidade, realize, a seguir, as atividades propostas.
Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e, a seguir, acompanhe as
respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu
estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer
as atividades propostas.
1) Aponte uma razão para que, na Idade Média, os mosteiros abrissem
suas portas para as crianças abandonadas.
Unidade 4
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Universidade do Sul de Santa Catarina
2) A civilização germânica e a civilização romana possuíam modos
distintos de tratar a criança. Com base no texto da seção 2, construa um
quadro síntese a respeito do entendimento/tratamento de cada uma
sobre a criança.
Romanos
Germanos
3) Durante o século XVII, surgiram estudos sobre a infância que
provocaram uma reorganização nos costumes das famílias sobre o
modo de cuidar e de educar as crianças. Aponte uma mudança que
ocorreu em relação ao modo de educar as crianças.
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História da Educação I
4) Quais as principais características presentes nas práticas escolares para
disciplinar os sujeitos e torná-los dóceis e submissos?
Síntese
Nesta unidade, você teve oportunidade de entrar em contato com
informações sobre a infância em diferentes períodos históricos.
Na primeira seção, você pôde perceber que, na Antiguidade, a
prática de abandonar crianças pequenas era bastante comum nas
civilizações ocidentais. Neste período, também, vários mosteiros
abriram suas portas para receber crianças abandonadas e se inicia,
com isto, a “apologia da caridade em relação ao enjeitado”. Viu,
também, que as crianças que sobreviviam, muito cedo eram
iniciadas na vida do trabalho, principalmente as pobres.
Na seção 2, você teve oportunidade de conhecer duas
grandes referências culturais, a romana e a germânica,
que agiam de forma diferenciada com suas crianças. Os
romanos legavam ao pai (pater familias) o poder de vida ou
de morte sobre as crianças. Mesmo sendo filho legítimo (de
Unidade 4
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Universidade do Sul de Santa Catarina
sangue), o pai poderia reconhecê-lo ou rejeitá-lo. Caso o pai
não o reconhecesse publicamente, a rejeição significava, na
maioria dos casos, a morte. Os germanos não praticavam o
infanticídio, pois os rejeitados eram assumidos pela linhagem
materna, as mulheres amamentavam as crianças e as crianças
tinham uma educação comum até certa idade. Nesta época,
as taxas de mortalidade infantil eram altíssimas, no entanto,
já havia sentimento em relação às crianças tanto que os pais
choravam a morte de seus filhos.
Na seção 3, você pôde perceber que com o Renascimento
difunde-se uma literatura humanista e moralista, preocupada
com a família e a infância, provocando, com isto, uma
reorganização nos costumes e modos de educar as crianças. A
preocupação com o alto índice de mortalidade infantil e com
o modo como as crianças eram educadas fez com que Família
e Estado passassem a conduzir os processos educativos tanto
na vida privada (na casa) como na pública (colégios). A
introdução da medicina doméstica é a responsável por grande
parte das modificações desses costumes, principalmente nas
famílias mais ricas.
Na seção 4, você pôde perceber como a disciplina, que passa
a fazer parte das práticas dos colégios e das escolas primárias,
busca formar um sujeito dócil e submisso. A escola, com sua
organização, seu espaço, o controle dos saberes e do tempo, a
definição de modos de conduta, buscava a formação de um sujeito
disciplinado.
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13/10/2006 15:05:42
História da Educação I
Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos sobre as questões abordadas
nesta unidade, você poderá realizar leituras nos seguintes livros e
sites:
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981.
CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: Ed. da UNESP,
2000.
COSTA, Ricardo. A Educação Infantil na Idade Média.
Disponível em: http://www.hottopos.com/videtur17/ricardo.htm
DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. Tradução de M.
T. da Costa Albuquerque. 2. ed., Rio de Janeiro: Edições Graal
Ltda, 1986.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão.
Tradução de Ligia M. Pondré Vassalo. 7. ed. Petrópolis: Vozes,
1989.
GÉLIS, J. A individualização da criança. 1991. In:
CHARTIER, R.; FEIST, H. História da Vida Privada 3: da
Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das
Letras, 1991.
HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: da Idade
Média a época contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MAGALHÃES, Solange Martins de Oliveira; BARBOSA,
Ivone Garcia. Do topo de uma montanha temos um ótimo
ângulo de visão das coisas... mas será que podemos ver tudo?
Uma reflexão sobre as políticas públicas para a educação da
infância. Disponível em: http://www2.uerj.br/~revispsi/v5n1/
artigos/a03.htm
Unidade 4
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13/10/2006 15:05:42
Universidade do Sul de Santa Catarina
MARCÍLIO, Maria Luiza. História social da criança
abandonada. São Paulo: Hucitec, 1998.
VARELA, Julia. O estatuto do saber pedagógico. In: SILVA,
Tomaz Tadeu da (Org.). O sujeito da educação: estudos
foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994.
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13/10/2006 15:05:42
Para concluir o estudo
Tendo em vista a impossibilidade de abarcar todos os
tradicionais períodos históricos, optamos em focar certos
elementos de alguns desses períodos e, a partir destes,
evidenciar como cada época (tempo/espaço) construiu
suas idéias pedagógicas e, principalmente, suas práticas
educativas.
Mesmo dentro dos períodos priorizados para análise,
foram escolhidos determinados temas que julgamos
serem fundamentais para sua formação como
pedagoga(o).
Quanto ao período contemporâneo, compreendendo
os séculos XIX, XX e XXI, não o tomamos como foco
de análise, pois as demais disciplinas do curso trarão
discussões pertinentes e direcionadas a estes contextos
educativos.
Sem dúvida, o recorte espacial e temporal remeteu ao
contexto europeu, de onde se origina e se constitui, em
muitos aspectos, o nosso modelo escolar.
Contudo, na disciplina de História da Educação II, que
tratará da educação no Brasil, você poderá ver como
vários aspectos aqui pontuados se desenvolveram na
realidade brasileira. Por exemplo, como foram tratadas
as crianças no nosso contexto e como se constituíram as
instituições educativas e as idéias pedagógicas em nosso
país.
Retomando Bertold Brecht, são muitas as histórias e
muitas as questões a serem formuladas. Procuramos aqui
levantar algumas delas, mas poderiam ter sido outras.
Esperamos que você tenha sido provocado a desvelar
outras histórias, outros sujeitos, outras fontes, outras
questões.
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Embora você tenha estudado o quanto as instituições até hoje
disciplinaram os saberes e os sujeitos, gostaríamos de deixar claro
que é possível constituir instituições com outras configurações,
que colaborem na formação de pessoas.
Sucesso na continuidade dos estudos!
Professoras Karen, Leonete e Rosmeri
historia_educacao_I.indb 112
13/10/2006 15:05:42
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São
Paulo: Moderna, 1996.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981.
BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola
dos Annales, 1929-1989. São Paulo: UNESP, 1991.
BURKE, Peter (Org.) A escrita da história: novas perspectivas.
São Paulo: UNESP, 1992.
BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: UNESP, 2002.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. História da Educação: notas
em torno de uma questão de fronteiras. Espaço em Revista, Belo
Horizonte, n.26, dez/1997.
COMTE, A. Discurso sobre o Espírito Positivo (e outros).
Tradução por José Arthur Gianotti. 2ª ed., São Paulo, Abril
Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores).
COSTA, Ricardo. A Educação Infantil na Idade Média.
Disponível em: http://www.hottopos.com/videtur17/ricardo.htm
DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. Tradução de M. T.
da Costa Albuquerque. 2. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal Ltda.,
1986.
DUBY, Georges (Org.). História da privada, 2: da Europa feudal
à Renascença. Tradução Maria Lucia Machado. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de (org.). Educação modernidade
e civilização: fontes e perspectivas de análise para a história da
educação oitocentista. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
FERREIRA Jr, Amarildo e BITTAR, Marisa. Educação jesuítica e
crianças negras no Brasil colonial. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, Brasília, v. 80, no. 196, p.472-482, set/dez, 1999.
FONSECA, Thais Nívia de L.; VEIGA, Cynthia G. História e
Historiografia da Educação no Brasil. Belo Horizonte:
Autêntica, 2003.
historia_educacao_I.indb 113
13/10/2006 15:05:42
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de
Ligia M. Pondré Vassalo. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1989.
FREITAS, Marcos Cezar de (Org.). História social da infância no Brasil. 3ª.
ed., São Paulo: Cortez, 1997.
FREITAS, Marcos Cezar de e KUHLMANN Jr., Moysés (Orgs.). Os intelectuais
na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.
GÉLIS, J. A individualização da criança. 1991. In: CHARTIER, R.; FEIST, H.
História da Vida Privada 3: da Renascença ao Século das Luzes. São
Paulo: Companhia das Letras, 1991.
GHIRARDELLI Jr., Paulo. História da Educação. 2ª. ed., São Paulo: Cortez,
1994.
GHIRALDELLI Jr., Paulo. Filosofia e história da educação brasileira.
Barueri, SP: Manole, 2003.
HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: da Idade Média a época
contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2004.
HUBERMAN, Leo. A história da riqueza do homem. 20. ed. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1985.
KUHLMANN, Jr., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem
histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.
LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre (Orgs.) História: novos objetos. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1976.
LOPES, Eliane Marta Teixeira. História da Educação. 2ª. ed., Rio de Janeiro:
DP&A, 2005.
LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 16ª. ed. São
Paulo: Ed. Nacional, 1985.
MAGALHÃES, Solange Martins de Oliveira; BARBOSA, Ivone Garcia.
Do topo de uma montanha temos um ótimo ângulo de visão das
coisas... mas será que podemos ver tudo? Uma reflexão sobre as políticas
públicas para a educação da infância. Disponível em: http://www2.uerj.
br/~revispsi/v5n1/artigos/a03.htm
MARCÍLIO, Maria Luiza. História social da criança abandonada. São
Paulo: Hucitec, 1998.
OPTIZ, Claudia. O quotidiano da mulher no final da Idade Média (12501500) In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle. (Org.). História das Mulheres.
Volume 2. Porto: Afrontamento, 1998.
PERNOUD, Régine. O ensino na Idade Média. Disponível em: http://www.
permanencia.org.br/revista/historia/luz2.htm
historia_educacao_I.indb 114
13/10/2006 15:05:42
PETITAT, André. Produção da escola / produção da sociedade: análise
sócio-histórica de alguns momentos decisivos da evolução escolar no
ocidente. Trad.: Eunice Gruman. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
PRIORE, Mary Del (org.). História das crianças no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1999.
SAVIANI, Dermeval. Breves considerações sobre Fontes para a História
da Educação. In: LOMBARDI, José Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel
Moura (org). Fontes, História e historiografia da educação. CampinasSP: Autores Associados, 2004.
VARELA, Julia. O estatuto do saber pedagógico. In: SILVA, Tomaz Tadeu da
(Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes,
1994.
XAVIER, Maria Elisabete S. P. História da Educação: a escola no Brasil. São
Paulo: FTD, 1994.
WARDE, Mirian Jorge. Contribuições da história para a educação. Em
Aberto, Brasília, INEP, Ano 9, n. 47, 1990.
WERLE, Flávia Obino Corrêa. História das instituições escolares: de que se
fala?. In: LOMBARDI, José Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel Moura
(org). Fontes, História e historiografia da educação. Campinas-SP:
Autores Associados, 2004.
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13/10/2006 15:05:43
historia_educacao_I.indb 116
13/10/2006 15:05:43
Sobre as professoras conteudistas
Karen Christine Rechia
Graduada e Mestre em História pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi professora da
rede pública e privada de ensino, nos níveis fundamental
e médio, e na Educação de Jovens e Adultos. Atuou
como professora de nível superior na UNIVILLE,
UDESC e UFSC. É professora do curso de Pedagogia
e Letras da Unisul desde 2001, lecionando as disciplinas
de História da Educação, História para as Séries
Iniciais, Geografia para as Séries Iniciais e Fundamentos
Sociológicos. É autora de artigos nos livros: História de
Santa Catarina: estudos contemporâneos, História das
Mulheres de Santa Catarina e na revista Perspectiva
(CED-UFSC).
Leonete Luzia Schmidt
Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) e mestre em Educação também
pela UFSC, onde defendeu dissertação intitulada “A
constituição da rede pública de ensino elementar em
Santa Catarina – 1830/1859”. É doutoranda do programa
de Pós-Graduação em Educação: História, Política e
Sociedade, da PUC/SP. Atuou como professora de séries
iniciais nas redes municipal de Florianópolis e estadual
de Santa Catarina e em instituições particulares e no
ensino superior da UDESC e UFSC. Há dez anos é
professora do curso de Pedagogia da Unisul, lecionando
as disciplinas de História da Educação, Estágio
Supervisionado e Pesquisa e Prática Pedagógica.
Rosmeri Schardong
Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) e mestre em Educação também
historia_educacao_I.indb 117
13/10/2006 15:05:43
Universidade do Sul de Santa Catarina
pela UFSC, onde defendeu dissertação intitulada “A instrução
pública secundária em Desterro – o Atheneu Provincial (18741883)”. Atuou como professora das séries iniciais na rede estadual
catarinense durante dez anos. É professora do curso de Pedagogia
da Unisul desde 1998, lecionando as disciplinas de História da
Educação e Estágio Supervisionado.
118
historia_educacao_I.indb 118
13/10/2006 15:05:43
Respostas e comentários das
atividades de auto-avaliação
Unidade 1
1) Itens A e B são verdadeiros.
Item C é falso.
2) Orientações para elaboração do quadro: na coluna Tendências
você deve indicar o nome das três tendências e /ou teorias
abordadas na seção 2; na coluna Principais Representantes
você deve escrever o nome dos autores que escreveram/
escrevem sobre cada tendência; na coluna Idéias Centrais
você deverá pontuar as principais idéias de como cada
tendência entende a história, como esta pode ser escrita e
que temas e fontes prioriza.
3) Resposta subjetiva. Caso tenha dúvidas como realizar as
atividades você poderá obter maiores informações com o
tutor da disciplina.
Unidade 2
1) Sobre os filmes: Os aspectos relacionados a Unidade
dependem do filme. De maneira geral é importante observar
as práticas educativas, o papel das mulheres, a relação entre
as classes sociais, o papel da Igreja e da religiosidade, as
formas de trabalho, o ambiente social etc
2) Nesta questão os dois tópicos já indicam o que se quer atingir.
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13/10/2006 15:05:43
Universidade do Sul de Santa Catarina
Unidade 3
1) Em linhas gerais, pode-se dizer que os colégios atenderam aos
interesses de uma burguesia nascente/renascentista, que possuía
poder aquisitivo, mas carecia dos conhecimentos clássicos que a
nobreza até então detinha. Os colégios forneceriam a seus alunos, além
dessa cultura geral clássica, um padrão de civilidade e polidez que os
distinguiria dos trabalhadores.
2) Garantir a uniformização que facilitaria o controle sobre as práticas e
conteúdos desenvolvidos e evitaria desvios dos princípios defendidos
pela Ordem Jesuítica.
3) Resposta subjetiva.
4) Itens A, B e E são Verdadeiros.
Itens D e F são Falsos.
Unidade 4
1) Muitos membros da Igreja haviam sido abandonados pelos pais e por
isso buscavam abrigar os que passavam pela mesma situação, além
disso a Igreja passa a pregar a caridade para com os abandonados,
também filhos de Deus.
2) Resposta livre.
3) A educação passa a ser mista, Família e Estado assumem a educação
das crianças. Ou a mãe passa a participar mais da educação dos filhos.
4) A classe torna-se homogênea, as crianças colocadas umas ao lado das
outras sob o olhar atento do mestre. Ordenação por fileiras: filas de
alunos na sala, nos corredores, no pátios. Colocação atribuída a cada
um em relação a cada tarefa e cada prova. Alinhamento das classes de
idade umas depois das outras. Sucessão dos assuntos ensinados, das
questões tratadas segundo uma ordem de dificuldade crescente.
120
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