PROFESSOR: Maria Anna
BANCO DE QUESTÕES - PRODUÇÃO TEXTUAL - 2ª SÉRIE - ENSINO MÉDIO
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Texto 1
A PÁTRIA
"Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis
do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas de tupi, do folklore,
das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O tupi encontrou a
incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não
eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente,
o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via
matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de
decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem
a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do
doutor Campos, a do homem do Itamarati. E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria
levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma idéia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa
cujo império se esvaía? Não sabia que essa idéia nascera da amplificação da crendice dos povos greco-romanos de que os
ancestrais mortos continuariam a viver como sombras e era preciso alimentá-las para que eles não perseguissem os
descendentes? Lembrou-se do seu Fustel de Coulanges... Lembrou-se de que essa noção nada é para os Menenanã, para
tantas pessoas...
Pareceu-lhe que essa idéia como que fora explorada pelos conquistadores por instantes sabedores das nossas
subserviências psicológicas, no intuito de servir às suas próprias ambições... Reviu a história; viu as mutilações, os
acréscimos em todos os países históricos e perguntou de si para si: como um homem que vivesse quatro séculos, sendo
francês, inglês, italiano, alemão, podia sentir a Pátria?
Uma hora, para o francês, o Franco-Condado era terra dos seus avós, outra não era; num dado momento, a Alsácia
não era, depois era e afinal não vinha a ser.
Nós mesmos não tivemos a Cisplatina e não a perdemos; e, porventura, sentimos que haja lá manes dos nossos
avós e por isso sofremos qualquer mágoa?
Certamente era uma noção sem consistência racional e precisava ser revista."
(BARRETO, Lima.Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1986.)
01- O personagem Policarpo Quaresma, no trecho acima, se encontra preso, prestes a ser executado pelo exército de
Floriano Peixoto, por ter escrito uma carta ao presidente protestando contra o assassinato de prisioneiros. Antes de ser
executado, ele reflete sobre a noção de pátria.
 Nos dois primeiros parágrafos, ele parte de suas próprias experiências, o que configura o seguinte método de
raciocínio:
(A) indutivo, pensando do particular para o geral.
(C) dialético, pensando a partir das suas contradições.
(B) dedutivo, pensando do abstrato para o concreto.
(D) sofismático, pensando do geral para o particular.
02- Reviu a história; viu as mutilações, os acréscimos em todos os países históricos e perguntou de si para si: como um
homem que vivesse quatro séculos, sendo francês, inglês, italiano, alemão, podia sentir a Pátria?
A pergunta de Policarpo refere-se a determinado território na Europa que de fato mudou quatro vezes de nacionalidade
em quatro séculos.
 A pergunta permite subentender a seguinte afirmação:
(A) Se a Pátria pode mudar de lugar, então um homem que seguisse o seu percurso histórico se sentiria eterno
imigrante.
(B) Se a Pátria é uma noção histórica, então um homem que acompanhasse as mudanças se perceberia mais humano
do que patriota.
(C) Se a Pátria pode abrigar línguas diferentes, então um homem que nela vivesse teria um sentimento muito mais forte
de patriotismo.
(D) Se a Pátria pode mudar de tamanho, então um homem que crescesse com ela veria o seu sentimento patriótico
alterar-se na mesma proporção.
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03- Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem...
Com essas frases, Policarpo Quaresma critica o sofisma que liga o tamanho dos rios brasileiros à grandeza moral da
pátria brasileira.
 Esse tipo de sofisma ocorre quando se estabelece uma relação arbitrária entre dois elementos independentes que
são apresentados como:
(A) efeito e causa.
(C) generalização e fatos.
(B) opinião e citação.
(D) interrogação e resposta.
04- Certamente era uma noção sem consistência racional e precisava ser revista.
A frase final constitui uma conclusão preparada, ao longo do texto, por idéias que se contrapõem a uma noção de pátria
que o personagem-narrador indica ter cultivado durante a sua vida.
 Um argumento que conduz à conclusão da falta de consistência racional da noção de pátria é:
(A) "O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não."
(B) "As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros."
(C) "A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete."
(D) "Lembrou-se de que essa noção nada é para os Menenanã, para tantas pessoas..."
05- Arme um silogismo categórico válido e verdadeiro cuja conclusão seja a seguinte proposição:
Os analfabetos devem votar.
a) Premissa Maior: ________________________________________________________________________________
b) Premissa Menor: _______________________________________________________________________________
06- Digamos que um político em campanha eleitoral afirme:
"se um partido é mais organizado, devemos votar nele; ora, o meu partido é o mais organizado; logo, vocês devem
votar nos candidatos do meu partido; como um desses candidatos sou eu mesmo, não lhes parece bastante razoável que
vocês votem em mim?"
Para apoiar a tese, ele recorre a um professor de Lógica que, consultado, concorda que o argumento é válido.
Entretanto, o argumento do candidato pode ser questionado.
 Este questionamento, segundo os mesmos princípios da Lógica, deve defender que:
(A) Quando se admite a validade de um argumento, não se admite ao mesmo tempo a sua verdade.
(B) Uma vez que o professor de Lógica é humano, ele pode estar tão errado quanto o candidato.
(C) Já que o exercício da democracia exige compromisso político, não se pode pautar o voto apenas pela lógica.
(D) Como o argumento do candidato beneficia todos os candidatos do seu partido, tanto faz votar nele como nos outros.
07- Sociedade doente, Estado omisso
Relacione os elementos da proposição em um raciocínio dedutivo (silogístico), considerando os seguintes
questionamentos:
I. Qual é o papel do Estado?
II. O que é uma sociedade doente?
R.: _____________________________________________________________________________________________
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Texto 2
SILOGISMO
Um salário-mínimo maior do que o que vão dar desarrumaria as contas públicas, comprometeria o programa de
estabilização do Governo, quebraria a Previdência, inviabilizaria o país e provavelmente desmancharia o penteado do
Malan. Quem prega um salário-mínimo maior o faz por demagogia, oportunismo político ou desinformação. Sérios,
sensatos, adultos e responsáveis são os que defendem o reajuste possível, nas circunstâncias, mesmo reconhecendo que
é pouco.
Como boa parte da população brasileira vive de um mínimo que não dá para viver e as circunstâncias que o
impedem de ser maior não vão mudar tão cedo, eis-nos num silogismo bárbaro: se o país só sobrevive com mais da
metade da sua população condenada a uma subvida perpétua, estamos todos condenados a uma lógica do absurdo. Aqui
o sério é temerário, o sensato é insensato, o adulto é irreal e o responsável é criminoso. A nossa estabilidade e o nosso
prestígio com a comunidade financeira internacional se devem à tenacidade com que homens honrados e capazes,
resistindo a apelos emocionais, mantêm uma política econômica solidamente fundeada na miséria alheia e uma admirável
coerência baseada na fome dos outros. O país só é viável se metade da sua população não for. (...)
(VERÍSSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000.)
08silogismo. S. m. Lóg. Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma
terceira, nelas logicamente implicada, chamada conclusão.
(FERREIRA, A. B. de Holanda. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)
 Considerando a definição do dicionário Aurélio, pode-se concluir que o silogismo a que se refere o título do texto é
encontrado em:
(A) Boa parte da população sobrevive com apenas um salário-mínimo e o salário-mínimo não dá para viver; então, há
circunstâncias que impedem o salário de ser maior.
(B) Precisamos manter nosso prestígio com a comunidade financeira internacional; temos homens honrados e capazes;
então, é preciso resistir a apelos emocionais da sociedade.
(C) Um salário-mínimo maior prejudicaria o país; o salário-mínimo impõe miséria a grande parte da população; então, o
país necessita da miséria de grande parte da sua população.
(D) O salário mínimo não garante vida digna para a maioria da população; o salário não aumenta mais por exigência do
mercado internacional; então, é preciso alterar esse modelo econômico.
09- O texto apresenta um ponto de vista crítico, construído, dentre outros, pelo recurso da ironia.
 A qualidade que constitui uma ironia, no texto, é:
(A) "político" (linha 03)
(C) "emocionais" (linha 11)
(B) "perpétua" (linha 08)
(D) "admirável" (linha 11)
10- O encadeamento entre parágrafos – um dos aspectos a serem observados na construção de textos argumentativos –
pode se fazer de maneiras diversas.
 No texto de Luiz Fernando Veríssimo, o segundo parágrafo liga-se ao primeiro por meio do seguinte mecanismo:
(A) retomada, por oposição, dos argumentos já apresentados;
(B) sequenciarão, pelo emprego de conectivo, das idéias discutidas;
(C) reafirmação, por uma ótica diferenciada, das informações já levantadas;
(D) extensão, por referência a novos exemplos, das afirmações da introdução.
Gabarito
01- (A)
02- (B)
03- (A)
04- (D)
05- a) Premissa Maior: Todos os cidadãos de um país devem votar.
b) Premissa Menor: Os analfabetos são cidadãos de um país.
06- (A)
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07- Todo Estado deve cuidar de sua sociedade, para que ela não tenha problemas com saúde, educação, segurança,
transportes, alimentação etc. Uma sociedade que passa por tais problemas encontra-se doente. Logo, se uma
sociedade está doente, é porque o Estado tem sido omisso no cumprimento de seu dever.
08- (C)
09- (D)
10- (A)
FM/1210/BANCO DE QUESTOES/2011/PRODUCAO TEXTUAL/ 2ª SERIE - ENSINO MEDIO - 3a ETAPA - 2012 - MARIA ANNA - PARTE 1.DOC
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